O_conceito_de_sonho_na_china_antiga.pdf

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Sistemas de crenças, mitos e rituais na Antiguidade

Editor-chefe Pablo Rodrigues Selo Pórtico de Estudos sobre a Antigudade Direção Científica Anderson de Araujo Martins Esteves – UFRJ Carlos Eduardo da Costa Campos – UFMS Conselho Editorial Carolina Kesser Barcellos Dias – UFPel Claudia Beltrão – UNIRIO Fábio Vergara Cerqueira – UFPel Luiz Karol – UFRJ Conselho Consultivo Alexandre Moraes – UFF Alice da Silva Cunha – UFRJ Dolores Puga – UFMS Moisés Antiqueira – UNIOESTE Assessoria Executiva Bruno Torres dos Santos – UFRJ Carlos Eduardo Schmitt – UFRJ Luis Filipe Bantim de Assumpção – UFRJ Luiz Karol – UFRJ Revisores Arthur Rodrigues – UFRJ Bráulio Costa Pereira – UFRJ

Arlete José Mota e Carlos Eduardo da Costa Campos (orgs.)

Sistemas de crenças, mitos e rituais na Antiguidade

Copyrigth © 2019 by Arlete José Mota, Carlos Eduardo da Costa Campos e Desalinho Grafia atualizada segundo o Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa de 1900, que entrou em vigor no Brasil em 2009. Capa e projeto Gráfico Pablo Rodrigues Organização Arlete José Mota e Carlos Eduardo da Costa Campos Financiamento para esta publicação Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES) Programa de Pós-Graduação de Letras Clássicas – UFRJ

Dados internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) Mota, Arlete José; Campos, Carlos Eduardo da Costa. Sistemas de Crenças, Mitos e Rituais na Antiguidade. / Arlete José Mota e Carlos Eduardo da Costa Campos. – São João de Meriti [RJ]: Desalinho, 2019. [livro digital] ISBN 978-85-92789-20-6 [livro fisíco] ISBN 978-85-92789-21-3 1. Crença. 2. Religião. 3. Mito. 4. Rituais. 5. Antiguidade. I. Título. CDD 930

[2019] Desalinho Rua Caricó. São João de Meriti, RJ. Telefone: (21) 994428064 www.desalinhopublicacoes.com.br www.blogdadesalinho.wordpress.com [email protected]

Sumário Prefácio Leandro Hecko

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Apresentação Arlete José Mota Carlos Eduardo da Costa Campos

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O conceito de sonho na China Antiga André Bueno 19 Las deliciosas Niñas del Certero María Cecilia Colombani

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O cotidiano expressando a ação divina: uma análise do símile homérico (Ilíada v, 770-2) citado por Longino em Do Sublime (IX, 5) Ricardo de Souza Nogueira 47 Killing riddles and secrets – a letalidade de segredos e de enigmas (não) decifrados nos mitos helênicos Rainer Guggenberger 69 Nomes para os deuses: os hinos órficos e a recepção homérica e hesiódica Rafael Brunhara 85 Mythos e Thoma em Heródoto: os relatos fantásticos no Livro II da obra Histórias Nathalia Monseff Junqueira 101 Esparciatas e periecos: identidade comum em torno do culto a Apolo Márcia Cristina Lacerda Ribeiro 117 A relação de Esparta e Héracles – discursos, representações e legitimidade política Luis Filipe Bantim de Assumpção 145

Bellum Iustum e os rituais romanos: o caso de Sagunto na Segunda Guerra Púnica (218-202 a.C.) Carlos Eduardo da Costa Campos e Anderson de Araújo Martins Esteves 167 Reflexões acerca da elegia II.1 de Tibulo Arlete José Motta 185 Cultuando divindades solares: Apolônio de Tiana versus Heliogábalo (Século III EC) Semíramis Corsi Silva 209 Sol Invicto Comiti: reflexões sobre a imagem dos deuses nas moedas de Constantino I Thiago Brandão Zardini 235 Notas biográficas

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Prefácio Viver entre mitos, ritos e crenças “Deus está no particular”. Aby Warburg

É difícil não ter em mente as palavras de Warburg quando se pensa em mitos, ritos e crenças. Malgrado tais questões se relacionem a elementos institucionais das sociedades no tempo, as nuances mais preciosas se encontram em detalhes contidos em registros escritos, em fragmentos da cultura material deixados como herança sem intencionalidade, em imagens diversas e escritos não oficiais. Desta forma cabe dizer que, ecoando e intenção de Warburg, os deuses, os homens, sua relação com o mundo e sua interpretação e tentativa de ação sobre o mundo estão no particular. Nesta linha de raciocínio, quando voltamos nossos olhos a antigas civilizações do Oriente ou Ocidente e quando vislumbramos suas realizações culturais, somos arrebatados pelo interesse em compreender as particularidades de como egípcios, gregos, romanos, chineses e hindus, entre outros, se colocavam diante de suas existências. Buscamos entender suas ações diante do sagrado e do profano, de que forma erigiram sistemas explicativos para o mundo, como o pensamento mítico serviu de conhecimento explicativo e como tentavam intervir nas realidades que lhes eram apresentadas. Neste ínterim, o livro aqui composto expõe um pouco desse interesse de compreensão dos antigos sistemas de crenças de povos das Antiguidades. Reflete o interesse antigo e moderno de compreender o universo, os deuses e os homens a partir de múltiplas perspectivas, possibilitadas pelos resquícios do passado onde se assentam detalhes importantes para o entendimento do espírito humano, dentro de seus precisos contextos de análise sobre mitos, ritos e crenças. Para os povos das Antiguidades, os mitos correspondiam a uma realidade. Os mitos se configuravam num anseio de explicação, num comportamen7

to mental diante do desconhecido tentando atribuir uma organização para o mundo, um sentido para o mundo e para as ações humanas na terra. Não é à toa que ainda hoje os mitos em toda sua riqueza nos atraem, transitam em nosso cotidiano pelo anseio que temos de tornar o passado presente de distintas formas, seja em objetos do cotidiano, literatura ou ainda nas telas do cinema. Em complementação ao fascínio pelos mitos, o interesse pelas práticas cotidianas dos seres humanos do passado atrai igualmente a atenção dos contemporâneos. Desta forma, da relação humana com o mundo temos como forma de ação os ritos, os quais representam a tentativa de garantir a continuidade da organização do que existe, a continuidade de sentido e, primordialmente, o interesse de produzir efeitos sobre o mundo real para aqueles inseridos num sistema de crenças. No presente livro, questões relacionadas a este campo de ação ritual são também abordadas, de forma a possibilitar vislumbres em casos específicos conforme apontam os autores nos resultados de suas pesquisas. Por fim, e em linhas mais gerais, sobra dizer algumas palavras sobre aquilo que creem os antigos e por que acreditavam naquilo que observamos nas entrelinhas das fontes ou ainda nas evidências que compõe sua natureza diversificada. As crenças englobam, num complexo sistema do pensamento humano, tudo o que existe de contraditório e que se deseja que faça sentido para além da razão do ponto de vista da comprovação, firmando o ser no mundo e o agir diante de tal mundo. Se observados esses fatores diante do mundo contemporâneo poderemos ver em nós mesmos tais características no sentido de que hodiernamente ainda somos muito capazes de acreditar em coisas contraditórias e, para além disso, realizar ações contraditórias diante de nossas formas de vida, de nossas crenças de vida e vivências religiosas ou não. Desta forma, olhando para antigos e modernos, talvez possamos humanisticamente concluir que tudo o que parece contraditório compõe nossa própria natureza humana, o que nos liga diretamente com as culturas das Antiguidades. Nesta obra que temos em mãos, há um pouco de tudo isso: um reflexo de todas essas preocupações humanas que faziam e fazem parte do nosso cotidiano! Tudo isso revelado no particular de fontes diversas, já que não era preocupação dos antigos declinar descritivamente como hoje o fazemos por meio de tratados. A preocupação se assentava em contar aquilo que em ou8

tros tempos já contaram configurando diversos momentos entre a oralidade e o escrito, entre o que se vê e a imagem que se pinta, entre possibilidades de documentação hoje apropriadas pelos investigadores no sentido de extrair de fragmentos sistemas de crenças, questionar os antigos sobre seus mitos e ritos, sobre sentidos de mundo estabelecidos pelos povos das diversas Antiguidades espalhadas pelo mundo. Tem-se em mãos, portanto, uma aventura investigativa sobre algumas culturas das Antiguidades, exploradas frente a interesses contemporâneos, buscando dar respostas, fazer perguntas, proceder análises do espírito de homens no tempo transcorrido, lançando luz ao que pensavam e a como viviam. Ao ler os capítulos que seguem é importante então considerar o que de humano está por trás das linhas, ao que de vida está por trás dos detalhes das fontes.

Leandro Hecko Professor Adjunto de História da UFMS/CPTL

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Apresentação Houve, em 2017, um evento do Laboratório ATRIVM – Espaço Interdisciplinar de Estudos da Antiguidade, filiado ao Programa de Pós-graduação em Letras Clássicas da Universidade Federal do Rio de Janeiro, o IV Encontro Nacional de Pesquisadores do ATRIVM, intitulado “Sistemas de crenças, rituais e magia na Antiguidade”. Logo, destacamos que os sistemas de crenças, de rituais e de magia são fenômenos religiosos multifacetados que integram o cotidiano e perpassam todo o tecido social desde a Antiguidade. Tal temática forma um amplo campo de tensões, negociações e conflitos nas sociedades Antigas e Contemporâneas. O sagrado e as suas manifestações encantam, fascinam e produzem temores ao longo da trajetória humana. Nesse sentido, o IV Encontro Nacional de Pesquisadores do ATRIVM, teve como objetivo debater aspectos referentes ao campo do mágico, do religioso e da ritualística do Mundo Antigo, assim visando a desenvolver um espaço interdisciplinar de reflexão sobre as práticas religiosas como expressões culturais do imaginário coletivo de uma época. E quando se fala em evento, se revela, etimologicamente, o sentido de resultado, de bom resultado. Em termos funcionais e práticos, trata-se de divulgação de pesquisa. Ao se referir à individualização do pesquisador, do palestrante ou mesmo do ouvinte, o ganho de um simpósio é incomensurável. A abordagem da temática central, inédita na instituição, quando se fala de um evento específico, proporcionou uma experiência importante na área de estudos clássicos: um foco interdisciplinar e interinstitucional permitiu aos participantes considerável apoio para pesquisas em desenvolvimento. Além disso, como acorreram pesquisadores de distintos níveis, de alunos de graduação a pós-doutores, novos projetos, no âmbito do estudo das religiosidades ente os povos da Antiguidade, puderam ser iniciados. Assim, reconhecendo o valor dos projetos apresentados, decidiu-se publicar, em um primeiro momento, os trabalhos dos conferencistas e de professores convidados que abordaram aspectos relativos ao tema. Chegou-se à presente edição. Há muito o que descobrir nos textos ora divulgados, porém, para despertar a 11

sempre presente curiosidade do leitor (e do pesquisador), oferece-se um brinde inicial. Não se fazem pesquisas sem reflexões e ponderações. Assim como não se concretizam textos, produtos finais, sem elementos motivadores e um alto grau de gáudio. É o que se percebe nos textos que foram incluídos aqui. Falar de atmosfera mítica e religiosa é também falar de sonho. É o que traz à lembrança do leitor o capítulo “O conceito de sonho na China Antiga”, de André Bueno. As primeiras reflexões do autor, acerca do sonho como um caminho para o conhecimento, desperta sobremaneira a atenção de quem se depara com o interessante tema. Percorrendo os espaços da China Antiga – fato que amplia as áreas de interesse da presente publicação –, usufrui-se e compartilha-se de um olhar preciso acerca do que os pensadores, confucionistas ou daoístas, consideravam a respeito do ato de sonhar. O autor detém-se, primeiramente, em questões pertinentes às mudanças que o conceito de sonhar sofreu ao longo do tempo na China clássica, observando desde suas bases xamânicas até o desenvolvimento em crenças religiosas. Parte em seguida para uma detalhada análise acerca do confucionismo, esclarecendo o contexto de inserção das ideias de Confúcio (século VI AEC) e destacando, dentre os textos importantes para o entendimento do tema, a coleção denominada Rituais de Zhou. André Bueno comenta, como exemplo, o capítulo 24, onde se trata da morfologia dos sonhos. Seguindo as considerações acerca da expressão da religiosidade dos chineses à época, o autor atém-se à escola Daoísta (século IV AEC), uma concorrente da escola de Confúcio. Tem-se aqui uma instigante análise da passagem conhecida como “O Sonho da borboleta”. Pondera-se a respeito do lugar do sonho na vida humana. Outros aspectos do sonho e mais um texto base analisados vêm, ao final do capítulo, confirmar o deleite inicial provocado pelas primeiras observações do autor. A leitura do capítulo “Las deliciosas niñas del certero”, de Maria Cecília Colombani, traz , mais uma vez, a noção de brinde, de saudação ao leitor. O texto de Colombani é, de fato, um regalo que se oferece àquele que, ao mesmo tempo em que aprende, se encanta com a difícil arte de unir linguagens e formas de expressão bem distintas: a frieza dos conceitos teóricos e a beleza da forma. A autora tece o texto a partir de reflexões iniciais a respeito da relação entre o homem da Antiguidade e suas crenças. Colombani acentua 12

aspectos importantes a serem considerados pelo estudioso dos povos antigos: deve-se sublinhar a complexidade e a riqueza das crenças. Deve-se por em destaque que tais crenças se interpõem em todas as atividades cotidianas, o que demonstra o quão fortes são os vínculos entre homens e divindades. Tendo como objetivo comentar uma dimensão festiva de Apolo, encontrada no Hino Homérico dedicado ao deus grego, apontando perspectivas de estudo divergentes, a autora desenvolve seus argumentos a partir de um excerto do Hino III, versos 127 a 178, onde o deus assume, além de outras funções, a incumbência de ser o condutor do Coro das Musas. Ao final da leitura, tem o leitor a oportunidade de ponderar a respeito do quadro contrastivo que a autora apresenta: um aspecto sorridente e encantador do deus, que ela tão bem exemplifica, ao lado de uma outra imagem que Apolo oferece, terrível e hostil. No capítulo “O cotidiano expressando a ação divina: uma análise do símile homérico (Ilíada V, 770-2) citado por Longino em Do sublime (IX, 5)”, de Ricardo de Souza Nogueira, debruça-se o leitor em um texto de qualidade excepcional, onde o autor, de forma clara e objetiva, trata do símile ou comparação. Destaca, em especial, um símile homérico, extraído da Ilíada, e a relação com o comentário de Longino para o excerto trabalhado. Com argumentos precisos e exemplos convenientemente selecionados, trata-se de um texto de leitura mais do que recomendada, é indispensável. Para a surpresa do leitor já um pouco saciado de proveitosas leituras e pesquisas inovadoras, chega o momento dos enigmas e dos segredos – encantamentos de todas as épocas e espaços geográficos. Depara-se com o importante capítulo “Killing riddles and secrets – a letalidade de segredos e de enigmas (não) decifrados nos mitos helênicos”, de Rainer Guggenberger. O autor volta-se para dois enigmas e três segredos, percorrendo a narrativa poética arcaica e o começo da época clássica grega, e aponta para os efeitos possíveis da decifração ou não desses segredos e enigmas. Chama-se a atenção aqui, como forma de provocar o leitor desta breve apresentação, o enigma da esfinge no mito de Édipo e o conhecimento secreto e enigmático de Prometeu. O texto literário sempre representa para o estudioso um grande desafio, associado a um sempiterno prazer – na realidade indissociável de qualquer outro aspecto que se possa apresentar. Há distintas formas de proceder a uma 13

análise e diferentes modos de abordar as questões do valor documental de alguns dos textos. O capítulo “Nomes para os deuses: os Hinos Órficos e a recepção homérica e hesiódica”, de Rafael Brunhara, bem o demonstra. Mais do que isso: em texto de agradabilíssima leitura, o autor procede a uma bem elaborada análise de aspectos estilísticos dos hinos. Ao fazê-lo, deixa encantado o leitor, como encantadores, em variados pontos de vista, são os Hinos. Nas duas sessões do texto, Rafael Brunhara, tece seus apontamentos, que conduzem a profundas reflexões, como as formas de estruturação da invocação aos deuses, os ambientes de performance dos hinos e Apolo e a sua autoridade no canto. Tem-se, assim, uma importante abordagem da forma como os hinos dialogam com as tradições da poesia hexamétrica, caminha-se agradavelmente por estruturas dos Hinos Órficos, dos Hinos Homéricos e da Teogonia, apuradamente confrontadas. Com o inspirador artigo de Nathalia Monseff Junqueira, “Mythos e thoma em Heródoto: os relatos fantásticos no Livro II da obra Histórias”, chega-se aos relatos daquele que é considerado o pai da História. Muito já se disse a respeito de Heródoto, mas o texto fluido, claro e bem exemplificado da autora, lembra ao leitor da perenidade das produções literárias clássicas: é sempre possível descobrir aspectos novos, com novos olhares. O olhar diferenciado aqui se volta aos relatos fantásticos, observados no Livro II, em Histórias, parte da obra dedicada à descrição geográfica e histórica do Egito. Apontar a forma como Heródoto construiu alguns relatos fantásticos e a relevância de suas escolhas para a obra representam o propósito do texto. Partindo de um necessário comentário geral a respeito do historiador e da obra, Junqueira tece importantes considerações acerca de duas estruturas de composição das Histórias: Thôma e mythos. Com isso, chama a atenção do leitor para a forma como Heródoto dirigia seu olhar aos povos por ele visitados. As narrativas sobre o deus Apolo sempre despertam o interesse por sua atuação, tanto no campo bélico quanto no poético (como se verá, por exemplo, na cultura latina), e o capítulo “Eparciatas e Periecos: identidade comum em torno do culto a Apolo”, de Márcia Cristina Lacerda Ribeiro, vem de encontro ao leitor, já movido pela curiosidade e um certo fascínio pelo mito. E aquele que se dedica ao texto se surpreende com uma prosa clara, precisa, e 14

que desde o início traz importantes dados a respeito do culto ao deus. Embora se apresentem dados localizados em uma temporalidade e um espaço específicos, aprende-se – e muito – a respeito de cerimônias e de implementação de identidade religiosa. A fim de convidar à leitura de um excelente trabalho, seguem abreviadamente alguns dos assuntos tratados. Partindo de considerações a respeito da forma como Esparta procedeu a uma organização territorial, em que amalgamou um imenso território formado por aldeias de diferentes dimensões, formando um Estado Lacedemônio, e de questões acerca do culto a Apolo, divindade preponderantemente militar em Esparta, a autora explana as cerimônias do Festival de Apolo e Jacinto (Hyakinthia), as Gimnopédias, de caráter iniciático, e as Carneias, onde o deus era representado com uma cabeça de carneiro. O capítulo “A relação de Esparta e Héracles – discursos, representações e legitimidade política”, de Luis Filipe Bantim de Assumpção, leva o leitor a observar a figura do herói. Um herói por excelência, Héracles. O viés de análise apresenta-se instigante e move o pesquisador para além das narrativas dos grandes feitos, que despertam a curiosidade. O autor percorre caminhos que conduzem à Esparta, no período clássico e pondera as relações que esta manteve com Héracles, chamando a atenção para a documentação literária, destacando-se Heródoto e Xenofonte, onde aparecem tais ligações. Para tecer suas considerações Luis Assumpção, parte de uma análise do personagem mitológico e sua representatividade na Hélade. Segue a argumentação apontando a relação entre o herói e Esparta e suas prerrogativas na região. Prossegue o texto, chamando a atenção para os rituais em honra a Héracles. Deixa-se agora como estímulo à leitura, a curiosidade sobre as conclusões do autor. O leitor é tomado de agradável surpresa ao se dedicar à leitura do capítulo “Bellum Iustum e os rituais romanos: o caso de Sagunto na Segunda Guerra Púnica (218-202 a.C.)”, de Carlos Eduardo da Costa Campos e Anderson de Araújo Martins Esteves. Os autores, já em suas palavras iniciais, chamam a atenção para o conceito de guerra justa (Bellum Iustum) e para os juízos de valor agregados. Valendo-se de refinado e preciso referencial teórico e de fontes latinas imprescindíveis, o trabalho faz acurada análise do conflito conhecido com Segunda Guerra Púnica (218 a.C. – 202 a.C.), onde Roma 15

apoia Sagunto, uma cidade aliada. Pesquisadores ou neófitos encontram no texto relevantes observações sobre as implicações que o uso do termo Bellum Iustum acarretam: valorização do mérito e sacralidade do conflito. Têm-se as esferas da lei e da religião. O texto incita, então, dos argumentos iniciais até as considerações finais, a reflexão; provoca o leitor a considerar um dos aspectos que definem o perfil do homem romano, suas práticas religiosas, que marcam todas as suas atividades, de ações privadas a atos públicos, como as guerras. No capítulo intitulado “Reflexões acerca da elegia II.1 de Tibulo”, Arlete José Mota, valendo-se de uma análise literária, salienta aspectos relativos aos festejos campesinos dedicados a Baco e a Ceres, apontando, do mesmo modo, o lugar do temática amorosa, ponto chave das composições dos poetas elegíacos. A autora dá relevo dessarte às possíveis situações que envolvem um relacionamento amoroso, que estariam presentes no poema escolhido. Ao dividir o texto em passagens, que denomina “passos”, ressalta, utilizando vocábulos-chave, um passo a passo dos rituais narrados por Tibulo. Não poderiam faltar no livro os relevantes e respeitáveis estudos de Semíramis Corsi Silva acerca de religiosidades. A autora presenteia o leitor com um estudo a respeito da divindade solar Elagabal, em “Cultuando divindades solares: Apolônio de Tiana versus Heliogábalo (século III EC)”, onde analisa a biografia apologética a Apolonio de Tiana, A vida de Apolonio de Tiana, de Filóstrato, onde o autor apresenta Apolônio como filósofo pitagórico. Detém-se a autora em um tema não explorado: a relação entre os cultos à divindade solar, realizadas pelo protagonista da obra de Filóstrato e o contexto de escrita da obra, período da dinastia dos Severos. Frisa a autora o período de maior culto a Elagabal em Roma, época do imperador Heliógábalo (218-222), possuidor de imagem bastante negativa nos textos produzidos então. Observando as críticas de Filóstrato a Heliogábalo, Semíramis Silva tece importantes considerações sobre essas críticas. A força da imagem. Esse é o convite à reflexão que apresenta Thiago Brandão Zardini, no capítulo “Sol Invicto comiti: reflexões sobre a imagem dos deuses nas moedas de Constantino I”. O autor inicia suas cogitações a partir da ideia de sacralização do soberano no século IV d.C. Em texto de agradabilíssima leitura e preciso na forma, trata, com propriedade, os panegíricos 16

latinos e as moedas, esclarecendo que faziam parte da cerimônia do aduentus (a visita do imperador a um determinado local). O leitor encontrará conjecturas importantíssimas ao estudioso do período: a adoção do deus Apolo por Constantino e a construção de sua imagem nas moedas. Em suma, os textos organizados nessa coletânea refletem o estado atual das pesquisas sobre Antiguidade, principalmente, com o foco nos estudos religiosos. Por isso, ratificamos o nosso compromisso de divulgação do saber histórico e trabalho em conjunto, em tempos em que se valorizam os estudos interdisciplinares e interinstitucionais. Assim, desejamos aos leitores uma fasta e gratificante reflexão a partir dos escritos contidos nessa obra. Boa leitura! Arlete José Mota Professora Associada do curso de Letras Clássicas ATRIVM / PPGLC / UFRJ Carlos Eduardo da Costa Campos Professor Adjunto do curso de História ATRIVM / UFMS

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O conceito de sonho na China Antiga André Bueno

O sonho tem um importante lugar no pensamento religioso de diversas sociedades antigas. Seja por seu caráter premonitório, mediúnico ou simbólico, o sonho foi tratado, usualmente, como uma via iniciática para outras possíveis dimensões da existência, um caminho transcendental de conhecimento. A China clássica nos oferece algumas informações significativas sobre como o conceito de sonhar transformou-se ao longo do tempo, desde suas bases xamânicas até o seu desenvolvimento nas crenças religiosas (oportunamente criando um modelo teórico que pode vir a ser utilizado como contraponto para outras civilizações). A influência da análise antropológica sobre este tópico ainda é forte, posto que ela se baseia nas experiências realizadas com culturas ditas “primitivas” que, ainda hoje, praticam alguma espécie deste mesmo xamanismo – mas o problema, neste caso, é saber se estas observações podem ser efetivamente aplicáveis a contextos mais antigos. Eventualmente, encontramos fragmentos sobre a interpretação dos sonhos no Egito, Mesopotâmia e Índia que sobreviveram, mas todos se tratam de chaves para a decodificação de premonições – nenhum deles propõe, necessariamente, uma interpretação da atividade ou da morfologia do sonhar (CAILLOIS, 1978). O caso chinês apresenta uma possibilidade razoável de nos conduzir pelo tema através de referências textuais clássicas, estabelecendo uma possível continuidade entre a perspectiva dita “primitiva” e a evolução de concepções religiosas antigas através de outro sistema interpretativo, cujo fundamento se assenta na estreita relação entre o mundo físico e o espiritual como realidades relativamente distintas. Mas no que constitui esta contribuição chinesa? Na possibilidade de demonstrar o processo de concatenação entre a experiência do Sonho (夢 Meng) e a ideia de Espírito (aqui entendido como o princípio fundamental e 19

individual subjacente à vida corpórea, em chinês: 魂 Hun). Os chineses desenvolveram um profundo interesse pela atividade de sonhar como um meio de explicação para as mais diversas questões – tanto metafísicas quanto das atividades cotidianas. O que faremos aqui, portanto, é uma apresentação de algumas dessas passagens, onde o sonho é analisado conceitualmente, centrando principalmente nas visões de Confúcio 孔夫子 (551-479), Liezi 列子 (séc. V-IV AEC) e Zhuangzi 莊子 (séc. IV AEC). Por meio desses três autores, buscaremos compreender o papel do sonho na China Antiga, delimitando o tempo de análise entre os séculos VI e III AEC, quando ocorrem profundas transformações no pensamento chinês, no que se denominou, na historiografia clássica dessa civilização, como período das “Cem Escolas de Pensamento” (Zuzhi Baijia 諸子百家) (BUENO, 2004).

A Análise Confuncionista No século VI AEC, a China estava imersa nas complicadas injunções políticas da dinastia Zhou 周, que apontavam para um período de crise social e política iminente. Confúcio, provavelmente o maior intelectual de sua época, estava detidamente preocupado com esses problemas, buscando elaborar um método educacional pelo qual pudesse resgatar o conceito de Harmonia ( 和 He) que permearia a perfeita ordenação e equilíbrio da atividade humana junto à natureza. Uma idéia fundamental nesse processo era o conhecimento do passado. De modo a estabelecer uma ligação entre o sentido de civilização (surgido entre os ancestrais) e atualidade, Confúcio era um defensor inato do ensino de História e da manutenção das tradições. Grande parte de seu trabalho consistiu em editar e promover textos históricos, culturais e sociológicos, nos quais apresentava um conjunto dos valores fundamentais do pensamento chinês. Dentre esses textos, uma coleção importante é o Zhouli 周禮 (Rituais de Zhou), composta de trechos e tratados sobre os mais diversos tipos de rituais de cunho religioso, que nos fornecem importantes informações sobre 20

as antigas crenças chinesas. Como esse livro é extenso e variado, trataremos especificamente das passagens ligadas à questão do sonhar. No capítulo 24, é a apresentada a seguinte morfologia dos sonhos: Ele [o auxiliar do imperador] lida com as estações do ano em relação aos sonhos. Ele examina os momentos da reunião do céu e da terra. Ele distingue as emanações dos dois princípios, yang e yin. Pelas posições do sol, da lua, dos planetas, ele adivinha os presságios felizes ou desafortunados dos seis tipos de sonhos. Os seis tipos de sonhos são: primeiro, os sonhos regulares; em segundo lugar, sonhos terríveis; terceiro, sonhos de reflexão ou vigília; quarto, os sonhos de assistir; quinto, belos sonhos; sexto, os pesadelos. No final do inverno, ele visita solenemente o imperador para perguntar se ele teve um sonho. Ele apresenta ao imperador os presságios deduzidos de sonhos felizes. O imperador cumprimenta-os com saudação. Ele coloca os novos brotos de grãos na direção das quatro regiões, para oferecê-los aos maus sonhos (para os espíritos que enviaram os maus sonhos). Imediatamente o imperador ordena que se inicie a cerimônia de purificação, para expulsar o miasma pestilento.

Os chamados “sonhos regulares” são aqueles em que não há excitação, o sonho se desenrola em silêncio e de forma calma. Nos sonhos “terríveis”, sentimos como se estivéssemos acordados, e podemos receber avisos. Nos sonhos de vigília, sonha-se com acontecimentos do dia, preocupações, situações tensas que requisitam resolução. Os sonhos de assistir são semelhantes, mas possuem uma diferença: neles, a pessoa se vê na ação, se coloca como assistente, mas não interfere. Os “sonhos belos” são aqueles dos felizes e despreocupados. Por último, os pesadelos seriam os sonhos assustadores. (ZHOULI, 1871, Nota 136). Notemos que a preocupação fundamental do texto é a identificação dos possíveis presságios contidos nos sonhos. O auxiliar encarregado pelo imperador deveria ser capaz de interpretar os sinais contidos nos sonhos, de maneira a saber como proceder. Outro elemento fundamental é que, no sonho, o es21

pírito fica livre e encontra com outros espíritos, recebendo deles orientações, avisos ou ataques. Isso ocorria porque, na mentalidade religiosa chinesa, herdeira ainda das tradições xamânicas, o sonho era uma via de acesso ao mundo espiritual, junto com o transe e o mediunismo. A religiosidade chinesa dessa época é denominada, de fato, como “Ensinamentos dos Espíritos”, ou Shenjiao 神 教 (BUENO, 2017). Os chineses teriam compreendido a existência da alma por meio, justamente, dos sonhos. Assim, no estado de “quase-morte” (sono), o sonho era interpretado como a reminiscência dos passeios que alguém fazia quando desprendido de seu corpo físico. Ao retornar, essas lembranças eram impregnadas pelas sensações físicas; e, por isso, dificilmente era possível recordar com absoluta clareza o que se havia sonhado. Daí, a necessidade de um intérprete de sonhos. Um dos exemplos mais notáveis pode ser visto nesse poema do Shijing 詩經: Com um macio tapete embaixo, com os bambus finos acima, Aqui pode ele repousar no sono! Que ele durma e acorde [Dizendo] Adivinhe para mim meus sonhos! Que sonhos são sortudos? Eles foram de ursos e ursos terríveis; Eles foram de cobras e [outras] serpentes. O adivinho chefe os adivinhará. Os ursos e ursos terríveis, São as sugestões auspiciosas de filhos. As cobras e [outras] serpentes São as sugestões auspiciosas de filhas. (SHIJING, 189)

Confúcio estava ciente de que essa era uma crença importante entre os chineses, motivo pelo qual ela ficou registrada no Zhouli. Ele defenderia, con22

tudo, sua preferência pela conexão entre os dois mundos por meio da prática ritual, através da manutenção de um canal institucionalizado de comunicação entre os vivos e os espíritos. Sua abordagem consagrava-se na execução das atividades devocionais descritas minuciosamente nos manuais de ritos, e admitia, ainda, que o uso oracular do Yijing 易經 (o Tratado das Mutações) possibilitava a atuação dos ancestrais por meio de avisos, conselhos e presságios. Sua opção, pois, era de um contato consciente com o outro mundo, legando a atividade do sonhar uma condição espontânea do momento na existência corpórea; “Estou ficando assombrosamente velho. Passou-se muito tempo desde que vi o duque de Zhou em sonhos pela última vez” (LUNYU, 7.5). Confúcio dizia que antes de nos preocuparmos com os mortos, devíamos saber servir aos vivos (LUNYU, 11.12). Com isso, ele não descartava a ação dos espíritos, mas insistia que discutir sua presença e atuação seria uma questão extremamente problemática. O encontro com os ancestrais se dava em ocasiões apropriadas, durante cerimônias que determinavam o trânsito entre os mundos. No Zhong Yong 中庸, Confúcio disse: “O poder das forças espirituais no Universo – como se faz sentir por toda a parte! invisível aos olhos, e impalpável aos sentidos, é inerente a todas as coisas e nada escapa à sua influência” (ZHONG YONG, 16). No entanto, seriam as forças materiais que regeriam o mundo físico – e o Tratado das Mutações cumpriria devidamente este objetivo, servindo como mediador entre o mundo espiritual e as necessidades imanentes.

Zhuangzi e o Sonho da Borboleta Uma das escolas que concorriam com Confúcio era a chamada “Escola Daoísta” (Daojia 道家), que defendia um desprendimento do mundo materialista, um afastamento da cultura estabelecida e um gradual retorno ao estado mais próximo de uma “natureza primitiva” (Ziran 自然). Isso não impediu, porém, que os daoístas fizessem exames apurados dos conceitos e práticas do pensamento tradicional.

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Zhuangzi (séc. IV AEC), um dos principais expoentes do Daoísmo, destacou-se, entre outras coisas, justamente, por uma análise do papel do sonho na realidade humana. Numa famosa passagem, intitulada “O Sonho da borboleta”, bastante conhecida na tradição chinesa, e que se popularizou ao redor do mundo, chegando a virar letra de música no Brasil, pelas mãos do compositor Raul Seixas (“O Conto do sábio chinês”, 1980), Zhuangzi procurava entender o que é a alma através da dinâmica do sonho. Observemos: Um dia eu Zhuang zhou, sonhei que era uma borboleta voando aqui e acolá, sendo somente uma borboleta. Só tinha consciência de minha felicidade como borboleta sem saber que eu era Zhuang zhou. Depressa acordei e ali estava eu, eu mesmo, na verdade. Agora não sei se eu era um homem sonhando ser borboleta, ou se eu sou uma borboleta sonhando ser um homem. Entre um homem e uma borboleta há, naturalmente, uma distinção. Isso se chama a transição das coisas materiais. (ZHUANGZI, 2)

Qual é, pois, a realidade do ser humano? Em que plano ela se situa? No sonho, Zhuangzi descobre que há uma outra realidade alternativa à vida material; um outro plano, no qual ele percebe que há uma individualidade que subjaz e transcende, ao mesmo tempo, o molde simples do corpo. Esta realidade é o espírito, o “eu real” por trás do corpo. Seu domínio é justamente o mundo espiritual, de onde ele provém, ao qual ele visita em sonho e de onde ele retira ideias (espíritos de coisas) que irá materializar na forma de objetos neste mundo material. No “mundo do sonhar” (um sinônimo para o mundo espiritual), os chineses se encontram com os ancestrais mortos, recebem mensagens e adquirem poderes inusitados para o mundo material. É por isso, pois, que este mundo seria tão real quanto o mundo material. O sonho de Zhuangzi mostra, pois, que o estado de consciência em que se encontra uma pessoa acordada é, tão somente, um momento em que o espírito se encontra plenamente ligado ao corpo. Mesmo num momento de devaneio, em que alguém não está dormindo, mas “se perde em pensamento”,

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sua alma se transporta para outro lugar, obliterando–lhe os sentidos (mesmo com os olhos abertos), e só retorna mediante o estímulo ou a vontade própria. Todavia, no momento do sonho, o corpo relaxa seus laços e a alma pode movimentar-se para fora. E para onde ela vai? A teoria de Zhuangzi se torna complexa, neste ponto. Podemos ser uma alma que, ao dormir, transporta-se para outro corpo (no caso, o da borboleta), que está em outro mundo – o do sonho. Porém, podemos também estar acordados neste mesmo mundo, mas apenas em outro corpo – o fato de dormirmos à noite não significa que não seja dia em outro lugar. O sonho, pois, é tão somente a percepção de alguém que está acordado em algum lugar e dormindo alhures. Isso significa que podemos estar, inclusive, adormecidos, agora, em outra instância, enquanto escrevemos; do mesmo modo, estar acordado equivaleria simplesmente a estar sonhando. Mas podemos ir além: se sonhamos ser um tigre, uma outra pessoa, ou mesmo nós numa realidade alternativa, então, podemos ser mais que uma alma; podemos ser várias consciências que operam, paralelamente, em realidades distintas. Se aceitarmos que há um mundo dos sonhos, então, a questão ficaria resolvida: e lá seremos o que quisermos ser. Mas, se supusermos ser uma borboleta sonhando ser gente, deste modo, somos de fato ente, borboleta, o tigre, eu agora, outra pessoa e eu mesmo em um outro lugar cuja única distinção é aquela da consciência que predomina num dado momento. Logo, só estamos tendo a impressão de estarmos acordados enquanto desempenhamos uma atividade qualquer, porque esse eu de agora não fugiu para nenhum outro lugar ou está dormindo em outras formas corporais. Contudo, se esse eu parar tudo e começar a se imaginar em outro lugar, ele estarei lá, e o corpo permanecerá parado, aguardando sua presença. Por esta razão, podemos concluir que, na visão de Zhuangzi, o que quer que sejamos, somos a nossa mente. A distinção das realidades conscientes é uma teorização do escapismo, mas enquanto nos encontramos em um certo mundo, precisamos viver nele. Após a morte do corpo, podemos acordar em outro lugar, mas tal suposição não nos isenta da necessidade de sobreviver agora. No plano do sonhar, portanto, poderíamos acessar uma outra realidade supra-dimensionada, no qual o verdadeiro propósito da existência se revela em 25

suas sutilezas. Eis a razão fundamental pela qual, no mundo material, torna-se difícil perceber o princípio subjacente (Li 理, forma, estrutura) das coisas; como afirma novamente Zhuangzi: Certo carpinteiro Shi viajava para o Estado de Qi. Ao chegar ao Círculo Sombrio, viu uma árvore li sagrada no templo do Deus da terra. Ela era tão grande que sua sombra podia abrigar um rebanho de vários milhares de cabeças. Tinha centenas de palmos de circunferência e subia a oitenta pés antes de abrir os ramos. Uma dúzia de botes poderiam ser cortados de seu tronco. Em multidões as pessoas paravam para olhá-la, mas o carpinteiro nem a notou e prosseguiu em seu caminho sem mesmo lançar um olhar para trás. Entretanto, o aprendiz olhou-a bem e quando alcançou o mestre disse – “Desde que manejo a machadinha em seu serviço nunca vi uma peça de madeira tão esplêndida. Por que razão o senhor, Mestre, nem mesmo se deu ao trabalho de parar para olhá-la?” – “Esqueça-se dela. Não merece que conversemos a tal respeito”, replicou o mestre. “Não serve para nada. Transformada num bote, afundaria; num caixão de defunto apodreceria; em mobília, quebrar-se-ia facilmente; numa porta, racharia; numa coluna seria devorada pelos vermes. Não é madeira de qualidade e não é útil: por isso chegou aos nossos dias presentes. A chegar em casa, o carpinteiro sonhou que o espírito da árvore lhe aparecia e lhe falava do seguinte modo: – “Com que pretendeu comparar-me? Com madeira suave? Olhe para uma cerejeira, uma pereira, uma laranjeira, uma ameixeira e outras árvores frutíferas. Mal seus frutos amadurecem são esbulhadas e tratadas com indignidade. Os grandes galhos são retirados, os pequenos ficam quebrados. Assim, devido ao próprio valor dessas árvores, elas sofrem enquanto vivem. Não podem viver o período de vida que lhes é concedido, mas perecem prematuramente porque destroem-se pela (admiração do) mundo. O mesmo se dá com todas as coisas. Além disso, eu tentei durante longo tempo ser inútil. Muitas vezes estive em risco de ser decepada, porém finalmente alcancei o que desejava e assim tornei-me excessivamente útil a mim mesmo. Tivesse eu prestado para alguma coisa e não teria chegado à altura a que cheguei. Demais tanto 26

você como eu somos coisas criadas. O que adianta criticarmo-nos mutuamente? Um sujeito que não presta para nada em perigo de morte iminente e uma pessoa indicada para falar de uma árvore que não presta para nada?” Quando o carpinteiro Shi acordou e contou o sonho que tivera, o aprendiz disse: “Se a árvore ansiava por ser inútil como foi que conseguiu tornar-se uma árvore sagrada?” – “Psiu!” Volveu o mestre. “Fique calado. Ela simplesmente refugiou-se no templo para fugir ao abuso dos que a não apreciavam. Se não tivesse se tornado sagrada quantos não teriam desejado cortá-la! Além disso, os meios que adota para sua segurança são diferentes dos outros, e criticá-los pelos padrões ordinários será ficar bem longe do objetivo”. (ZHUANGZI, 2)

A historieta de Zhuangzi tinha um fim explicativo: no mundo disputado e violento da China dessa época, tornar-se inútil ou inofensivo era um meio eficaz de sobreviver. Devemos levar em conta, ainda, que algumas dessas passagens podiam ser lidas de forma literal no momento, transformando essa aparente parábola numa “história real”. A diferença entre a analogia e a realidade se desfaz, na mentalidade chinesa, quando o sentido do texto se tornava eficaz (BUENO, 2011).

Liezi e os Sonhos O livro de Liezi é outra peça importante, no pensamento daoísta, para compreender o papel dos sonhos no imaginário chinês antigo. Liezi teria sido, supostamente, mestre de Zhuangzi. Todavia, sabemos hoje que seu livro só foi produzido séculos depois, provavelmente na dinastia Han 漢 (séc. III AEC-III EC). O texto é uma coletânea de histórias diversas, e um de seus capítulos é inteiramente dedicado aos sonhos. O mais conhecido dos episódios descritos nesse capítulo é o sonho do Rei Mu, em que esse soberano mítico se desdobra do corpo físico e viaja por outros lugares distantes, sob a orientação de um xamã. (LIEZI, 3): 27

O rei Mu de Zhou foi visitado por um estranho do extremo oeste. Tratava-se de um feiticeiro que era capaz de caminhar sobre o fogo e a água, penetrar a pedra e o metal, voar pelos ares e mover montanhas e rios. O rei Mu ficou sobejamente impressionado com as habilidades do feiticeiro e tratou-o como a um deus. Construiu-lhe um palácio, enviou-lhe os melhores pratos que tinha no reino, e providenciou-lhe as melhores cortesãs. Todavia o feiticeiro não levou tais oferendas em grande consideração. Achou o palácio desconfortável, a comida desagradável e as cortesãs feias, malcheirosas e incultas. [...] Todos os dias lhe oferecia vestimentas caras e as melhores iguarias e convocou os melhores músicos para tocar a melhor música alguma vez composta. O feiticeiro ainda se sentia insatisfeito, mas ao ver que o rei tinha dado o seu melhor, de má vontade aceitou as oferendas. Passado não muito tempo, o feiticeiro convidou o rei Mu para viajar com ele à sua terra no oeste. Dizendo ao rei para fechar os olhos e para se agarrar à manga da veste dele, alçou-se ao céu. Assim que o rei abriu os olhos deu por si na terra do feiticeiro. Ao entrar na área do palácio viu que os edifícios se achavam decorados com prata e ouro. Jade, pérolas e outras joias preciosas adornavam as paredes e as janelas. O palácio situava-se num leito de nuvens que ficava acima da chuva e das tempestades. Tudo quanto viu, ou viu, experimentou, era desconhecido no seu mundo. Foi então que o rei Mu percebeu que os deuses deveriam ter apreciado tais luxos nos seus palácios celestes. Comparado com aquilo, o seu próprio palácio parecia um mero casebre. O rei Mu disse para consigo próprio: “Jamais vi coisa assim. Não me importava de aqui ficar dez ou vinte anos.” O seu devaneio foi interrompido pela aproximação do feiticeiro que o levou a visitar ainda um outro reino. Desta vez, quando o rei Mu chegou, não conseguiu vislumbrar sol nem lua, montes nem mar. Para onde quer que olhasse a luz era de tal modo deslumbrante que tudo quanto conseguia divisar era um caleidoscópio de cores que o deixavam estonteado. Os sons que escutava eram estranhos e misteriosos e logo ficou com os sentidos desorientados. O corpo tremia-lhe e sentia a mente ofuscada; sentia-se enjoado e pensou que ia adoecer. Rapidamente pediu ao feiticeiro que o levasse dali ou enlou28

queceria. O feiticeiro deu-lhe um leve empurrão, e o rei Mu viu-se de volta ao seu palácio. Ao abrir os olhos verificou que se encontrava sentado na sua cadeira, que jamais tinha deixado. O vinho que tinha na taça ainda não tinha sido ingerido, e a comida no prato ainda se encontrava tépida. Os seus assistentes permaneciam na mesma posição anterior. Quando lhes perguntou o que tinha acontecido, os assistentes responderam que permanecera sentado na sua cadeira e que fechara os olhos por breves instantes. O rei Mu achava-se de tal modo chocado com aquilo que levou quase três meses a recobrar de toda aquela experiência. Por fim decidiu perguntar ao feiticeiro o que tinha realmente sucedido e o seu distinto convidado respondeu-lhe: “Fizemos uma jornada pelos domínios do Espírito. Foi por isso que o teu corpo permaneceu imóvel e não sentiste passagem de tempo. Experimentaste um mundo que te é desconhecido enquanto permanecias sentado no seu próprio palácio. Existirá mesmo alguma diferença entre os lugares que visitaste e aquele a que chamar “lar”? Ficaste chocado e desorientado por te sentires confortado com o que designas por permanente, e sentiste-te – nervoso com as coisas que consideras transitórias. As reações que sofreste são o resultado das partidas que a tua mente te provocou. Quem poderá asseverar quando e com que rapidez uma situação pode mudar numa outra e qual será real e qual não será?” Após ouvir aquilo o rei Mu decidiu retirar-se da política. Ordenou aos assistentes que preparassem a sua carruagem e os cavalos a partiu numa longa viagem pelo seu reino. [...] O Rei Mu não era divino. Ele desfrutou por completo da sua vida e morreu quando chegou a hora. Mas toda a gente acreditava que se tinha tornado num deus e que tinha ido para o céu.

Como podemos observar aqui, o livro de Liezi aprofundara a especulação de Zhuangzi, propondo o sonho como um vínculo direto entre o mundo material e o espiritual. A manipulação da arte de sonhar poderia proporcionar conhecimentos diversos sobre ambas as realidades, tornando-se um poder notável. 29

Outro aspecto dessa relação era que, quando acordamos do sonho, temos sensações físicas reais e profundas. Todavia, ao longo do sono, nosso corpo se aproxima de um estado de quase morte, que é a inação total; para onde foi o nosso “eu real”? Porque, aos que observam (acordados), ao chamá-lo, ele não responde? E quando o espírito retorna, ele conta que esteve em outro lugar, em outro mundo. Disso poderia se extrair a concepção de que o mundo espiritual e o material estão interligados, são indissociáveis – e, confirmando o que já fora dito por Zhuangzi, quando estamos acordados em uma realidade, estamos “dormindo” em outra. Conta-nos novamente o Liezi; Havia em Zheng um lenhador que encontrou no campo um gamo assustado, alvejou-o e matou-o. Temeroso de que outras pessoas o vissem, escondeu-o em uma moita e cobriu-o com lenha picada e ramos de árvores, ficando muito satisfeito. Logo depois, no entanto, esqueceu onde havia escondido o gamo e acreditou que tudo deveria ter acontecido em sonho. Como sonho contou-o a todos nas ruas. Entre os ouvintes um houve que, ouvindo a história desse sonho, foi à procura do gamo escondido e encontrou-o. Trouxe o gamo para casa e disse à esposa: – Há um lenhador que sonhou ter matado um gamo, esquecendo onde o escondera, e eis que o encontrei. Esse homem é realmente um sonhador. – Tu mesmo deves ter sonhado que viste um lenhador que matara um gamo – disse a mulher. – Acreditas verdadeiramente que exista esse lenhador na realidade? Mas agora realmente tens um gamo, de modo que teu sonho deve ter sido verdadeiro. – Encontrei o gamo – respondeu o marido. – De que vale discutir se foi ele quem sonhou, ou se fui eu? Naquela noite, o lenhador foi para casa, ainda a pensar em seu gamo, e realmente teve um sonho; e nesse sonho tornou a sonhar com o lugar em que escondera o gamo, e também com quem o encontrara. Ao amanhecer, bem cedo, foi à casa de quem o encontrara e achou o gamo. Ambos, então, discutiram e foram ter ante o juiz, para que decidisse a questão. E o juiz disse ao lenhador: – Mataste realmente um gamo e pensaste que foi sonho. Depois, realmente sonhaste e pensaste que era realidade. Ele realmente achou 30

o gamo e agora o disputa contigo, mas sua mulher pensa que ele sonhou que havia encontrado um gamo que outra pessoa matara. Assim, ninguém, na realidade, matou o gamo. Como, porém, temos o gamo diante de nós, pode ele ser dividido entre os dois. Essa história foi levada aos ouvidos do rei de Zheng, e o rei de Zheng disse: – Ah! Não tornou esse juiz a sonhar que está dividindo o gamo entre os outros?

A Vida como Sonho Podemos, por fim, redimensionar o último trecho de Liezi em novo sentido: de que os daoístas supunham, de certo modo, que o mundo material era “relativamente” ilusório. “Relativamente”, pois buscamos nos afastar aqui de uma concepção de “ilusão das formas”; o mundo material pode ser uma cópia imperfeita ou pouco sutil dos princípios espirituais, mas nem por isso deixa de ser “real”. E, se de fato, a ideia de Zhuangzi prevaleceu, então, a distinção espiritual X material desaparece, pois cada estado de consciência diz respeito a uma realidade perceptível – e por isso, cada “realidade não-perceptível” seria o “mundo espiritual” no qual a consciência está desperta. A própria vida, enfim, pode ser mesmo um grande sonho – e, no entanto, ela será tão real quanto a existência verdadeira do espírito no plano do sonhar, posto que ambos não podem ser dissociados. Retomando Zhuangzi: Os que sonham com uma festa acordam para se lamentar pesar. Os que sonham com os lamentos e os pesares acordam para reunir-se aos que vão caçar e se divertir. Enquanto sonham, não sabem que estão sonhando. Alguns até interpretarão o sonho mesmo que estavam tendo; e apenas quando acordam compreendem que estavam no sonho. Pouco a pouco aproximam-nos do grande despertar e então verificamos que esta vida foi realmente um grande sonho. Os tolos pensam que estão acordados agora e ficam convencidos de que tudo sabem – este é um príncipe e aquele é um pastor. Que estreiteza de espírito! Confúcio e 31

você são ambos sonhos; e eu que afirmo que são sonhos – eu não passo de um sonho também. É um paradoxo. Amanhã um Sábio talvez se erga para explicar isso; mas o amanhã não virá senão depois que se tiverem passado dez mil gerações; e, no entanto, [se tudo é um sonho] você poderá encontrá-lo amanhã, por acaso, em qualquer lugar. (ZHUANGZI, 3)

Considerações Finais Para os chineses antigos, portanto – fossem confucionistas ou daoístas – o sonhar era um espaço nítido de intercâmbio entre realidades, e que podia ser acessado por meio de técnicas específicas – fossem essas analíticas, como no caso da interpretação de sonhos, ou extáticas, como no caso da atuação consciente nos sonhos, praticada pelos xamãs. Assim sendo, os chineses desenvolvem a crença no espírito devido ao sonho; o espírito está para o corpo material assim como “yang” está para “yin”. Na oposição complementar em que se funda a realidade, a existência dos dois mundos é uma circunstância, uma condição da existência indispensável à manifestação das coisas. O indivíduo é composto e está ligado ao corpo por “duas almas” ou corpos espirituais, Hun 魂 (seu princípio material-espiritual) e Po 魄 (sua manifestação material-corporal). Para os daoístas, a via real do espírito conduz-se pelo desenvolvimento e pela depuração das condições de acesso ao outro plano da existência. As capacidades sensoriais devem ser estimuladas e sensibilizadas o suficiente para atingirmos de modo consciente o mundo espiritual – e conseqüentemente, a imortalidade plena. Posteriormente, os daoístas resgataram as práticas xamânicas e passaram a acreditar que podiam dominar as funções do corpo espiritual e material através de uma prática meditativa calcada na modulação do sono e na investigação do sonho. No ato de dormir, pois, um conjunto de procedimentos era realizado para assegurar que o praticante entrasse de forma consciente no sonho. Percebendo-se livre das amarras corpóreas, ele teria condições de exercitar práticas espirituais necessárias à melhoria do seu corpo, viajar por longas 32

distâncias, visitar ancestrais, imortais ou deuses e por fim, ativar a conexão entre os dois mundos através do seu próprio corpo espiritual-material (WILSON, 2004). Ademais, a experiência do sonho premonitório, curativo ou revelador já havia sido experienciada pelos xamãs chineses e siberianos (ELIADE, 1978). O que os daoístas fazem, porém, é desenvolver estas técnicas, não somente aprimorando os métodos de entrada no mundo do sonho como ainda, mapeando as divisões do plano espiritual (céus, infernos, zonas intermediárias), suas criaturas, potencialidades, etc., e projetando-as no imaginário religioso chinês. O aperfeiçoamento do sonho extático favorecia, igualmente, o controle do transe mediúnico (o “sono acordado”, onde o praticante sai de si para enxergar o mundo espiritual). Tais experiências seriam fartamente descritas pelos daoístas como meios de acesso e prática da alquimia interior. No sonho extático, pois, os chineses encontram uma via de acesso ao plano espiritual, uma forma de alcançar a unidade plena das faculdades intelectuais e físicas nos dois planos. Do sonho, advém a idéia do espírito; por ele, reencontrava-se com o real, com a existência plena.

Documentação CONFÚCIO. Lunyu. In: Chinese Texts. Disponível em https://ctext. org/analects _____. Les Tcheou-Li; rites des tcheou (Zhouli). Trad. Edouard Biot. Paris: Imprimerie nationale, 1851. _____. Shijing. In: Chinese Texts. Disponível em: https://ctext.org/ book-of-poetry/decade-of-qi-fu _____. Zhong Yong. In: LIN, Yutang. Sabedoria da Índia e da China. Rio de Janeiro: Ponguetti, 1957. LIEZI. O Tratado do Vazio Perfeito. São Paulo: Landy, 2000. ZHUANGZI. In: LIN, Yutang. Sabedoria da Índia e da China. Rio de Janeiro: Ponguetti, 1957.

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Notas biográficas ANDERSON DE ARAÚJO MARTINS ESTEVES possui graduação em Ciências Jurídicas e Sociais pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (1998), mestrado em Letras (Letras Clássicas) pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (2004) e doutorado em Letras (Letras Clássicas) pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (2010). Atualmente é professor adjunto do Departamento de Letras Clássicas da Universidade Federal do Rio de Janeiro e atua no Programa de Pós-graduação em Letras Clássicas. Desde 2012, é coordenador-geral do grupo de pesquisa ATRIVM – Espaço Interdisciplinar de Estudos da Antiguidade. É membro associado da UMR 8210 ANHIMA (Anthropologie et Histoire des Mondes Antiques), do Lhia – Laboratório de História Antiga, vinculado ao Instituto de História da UFRJ e pesquisador do grupo Gêneros da prosa greco-latina, vinculado ao Departamento de Letras Clássicas e Vernáculas da USP; ANDRÉ BUENO é professor de História Oriental da Universidade do Estado o Rio de Janeiro (UERJ); fundador do Projeto Orientalismo, de difusão de História e Cultura Asiática na rede. É membro da Associação Europeia de Estudos Chineses e da Associação Europeia de Filosofia Chinesa; Colaborador no Laboratório de Estudos da Ásia (LEA) da USP; membro do grupo Leitorado Antiguo (UPE; membro do Alaada – Associação Latino Americana de Estudos Asiáticos; membro da Rede Iberoamericana de Sinologia (Ribsi); membro do LHER – Laboratório de Experiências Religiosas da UFRJ; membro do Council for Research in Values and Philosophy (CRVP); membro do LAPHIS/UNESPAR. ARLETE JOSÉ MOTA possui especialização em Língua e Literatura Latina, pela UFRJ. Pelo Programa de Pós-graduação em Letras Clássicas da UFRJ, possui Mestrado em Letras Clássicas (concluído em 1991) e Doutorado em Letras Clássicas (concluído em 1998). Atualmente é Professora Associado da 255

Universidade Federal do Rio de Janeiro. Trabalha em especial com os seguintes temas: literatura latina, cultura romana, língua latina, comportamento, personagem, riso e história romana. Professora do Programa de Pós-graduação em Letras Clássicas da UFRJ. Líder do Grupo de Pesquisa NVMINA – Crenças, Rituais e Magia na Roma Antiga/Cnpq até 2017. Coordenadora Adjunta do Laboratório ATRIVM – Espaço Interdisciplinar de Estudos da Antiguidade, que integra o PPGLC da Faculdade de Letras da UFRJ. Substituta Eventual do Coordenador do Programa de Pós-graduação em Letras Clássicas, da UFRJ (PPGLC/ UFRJ). CARLOS EDUARDO DA COSTA CAMPOS é Professor Adjunto da Universidade Federal do Mato Grosso do Sul e coordenador do grupo de pesquisa ATRIVM / UFMS. O referido pesquisador é Doutor (2014-2017) e mestre (2011-2013) em História Política, na linha política e cultura, do Programa de Pós-Graduação em História da UERJ. Campos possui estágios supervisionados de pesquisa no ANHIMA (Anthropologie et Histoire des Mondes Antiques), sob a direção da Professora Dr.ª Violaine Sebillote Cruchet e supervisão do Prof. Dr. Anderson Martins (2018), na Universidade Paris I, Sorbonne; na École francaise d’Athènes (2012); na Universidade de Coimbra, sob supervisão da Professora Doutora Carmen Soares (nos anos de 2012 e 2014), além da atividade de pesquisa no Centro Arqueológico de Saguntum/Valência, Espanha (2012). Campos atuou como secretário do Grupo de Trabalho em História Antiga do Rio Grande do Sul e do ATRIVM-UFRJ, ambos entre 2016 e 2018. Membro do LECA-UFPel; GEMAM – UFSM; Leitorado Antiguo-UPE. A área de atuação do pesquisador é: República Tardia e Principado em Roma; Religião, Magia e Rituais de Roma; História das Cidades; Educação Patrimonial; Ensino de História; Teoria e Metodologia de Pesquisa Científica. LEANDRO HECKO é graduado (UEL), mestre (UFRGS) e doutor (UFPR) em História, sendo professor adjunto do curso de História da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul, atuando no campus de Três Lagoas – MS, onde atua nas disciplinas de História Antiga e Estágios Obrigatórios. Coordena no momento o Grupo de Pesquisa « História Antiga e Usos do Passado: novas 256

perspectivas entre o passado e o presente» onde desenvolve dois projetos de pesquisa: «As Antiguidades e os Usos do Passado: sobre a presença do passado na vida prática das pessoas» e «História e Cultura da Alimentação: a função social da cerveja na história». LUIS FILIPE BANTIM DE ASSUMPÇÃO é Doutorando pelo Programa de História Comparada da Universidade Federal do Rio de Janeiro, sendo orientado pelo Prof. Fábio de Souza Lessa (UFRJ). Assumpção é pesquisador no Laboratório de História Antiga (LHIA) e no Espaço Interdisciplinar de Estudos da Antiguidade (ATRIVM), ambos nesta universidade. O referido pesquisador é Mestre pelo Programa de Pós-Graduação em História da Universidade do Estado do Rio de Janeiro e realizou estágio supervisionado de pesquisa na Universidade de Coimbra (2012; 2014), na École francaise d’Athènes (2012) e no ANHIMA – Anthropologie et Histoire des Mondes Antiques (2018). A sua pesquisa lida com inúmeros aspectos da política, cultura e sociedade de Esparta no período Clássico, tendo organizado os livros “Esparta: Política e Sociedade” e “Líderes Políticos da Antiguidade” – este em conjunto com os Professores Anderson Martins Esteves (UFRJ) e Ricardo de Souza Nogueira (UFRJ). MÁRCIA CRISTINA LACERDA RIBEIRO é Doutora em História Antiga pela Universidade de São Paulo (USP). Professora Adjunta do curso de História da Universidade do Estado da Bahia (UNEB/campus VI). Pós-doutoranda em Arqueologia Clássica pelo Museu de Arqueologia e Etnologia da Universidade de São Paulo (MAE/USP). Pesquisadora do Laboratório de Estudos sobre a Cidade Antiga (Labeca/MAE/USP). Coordenadora do Grupo de Pesquisa Núcleo de História Social e Práticas de Ensino (NHIPE/CNPq/ UNEB). Editora da Revista: perspectivas e Diálogos: Revista de História Social e Práticas de Ensino. Membro do Conselho Editorial da Editora da Universidade do Estado da Bahia (UNEB). MARÍA CECILIA COLOMBANI é Doctora en Filosofía por la Universidad de Morón. Profesora Titular Regular de Problemas Filosóficos y de An257

tropología Filosófica (Universidad de Morón) Coordinadora académica de la Cátedra Abierta de Estudios de Género (Universidad de Morón). Directora de la carrera de Filosofía (Universidad de Morón). Profesora Titular de Filosofía Antigua y Problemas Especiales de Filosofía Antigua (Universidad Nacional de Mar del Plata). Profesora del Instituto Superior de Formación Docente Ricardo Rojas, Moreno. Investigadora principal por la Universidad de Morón. Codirectora del Proyecto de Investigación “Mundo Antiguo y Cultura Histórica; formas de dominación, dependencia y resistencia”. Facultad de Humanidades. Universidad Nacional de Mar del Plata. NATHALIA MONSEFF JUNQUEIRA é graduada (UNICAMP), mestra (UNESP), doutora (UNICAMP) em História, sendo professora adjunta do curso de História da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul, atuando no campus do Pantanal – MS, onde atua nas disciplinas de História Antiga e Medieval, assim como Ensino de História. Membro do Grupo de Pesquisa: “Espaço Interdisciplinar de Estudos da Antiguidade – ATRIVM / UFMS” onde desenvolve o projeto de pesquisa: “Para além dos clássicos: leituras e debates sobre autores e tópicos contemporâneos das ciências sociais”. RAFAEL BRUNHARA é Professor de Língua e Literatura Grega na Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Metre e Doutor em Letras Clássicas pela Universidade de São Paulo. É autor de As Elegias de Tirteu: Poesia e Performance na Esparta Arcaica (São Paulo, Editora Humanitas, 2014) e tradutor dos Hinos Órficos (Goiânia, Editora Martelo, no prelo). RAINER GUGGENBERGER nasceu em Tulln (Áustria), mas vive no Rio de Janeiro e trabalha como Professor de Língua e Literatura Gregas na UFRJ. Fez formação na Universität Wien (doutorado em Letras Clássicas, mestrado em Filosofia, Italiano e Grego Antigo)e pesquisou e estudou na Itália (Università degli Studi di Firenze, Istituto Nazionale di Studi sul Rinascimento), no Brasil (UFRJ), na Inglaterra (Durham University, Institute of Classical Studies Library, University of Cambridge) e na Alemanha (Bayerische Staatsbibliothek, Bibliothek für Klassische Philologie der Ludwig-Maximilians-U258

niversität München). Ministrou palestras na Áustria, no Brasil, na Inglaterra e na Alemanha. Os seus últimos projetos abordam as citações e alusões poéticas nas obras de Platão, Xenofonte e Aristóteles, a métrica grega, a Vida de Alexandre de Plutarco e a auto-representação de helenos e a sua visão de povos não considerados helenos. RICARDO DE SOUZA NOGUEIRA possui Bacharelado em Português-Grego, pela Universidade Federal do Rio de Janeiro, se deu no período de 1993 a 1996, e a Licenciatura em Português-Grego no período de 1997-1999 pela mesma universidade. Nogueira possui Mestrado (1997 – 2002) e Doutorado (2006 – 2011) pela Universidade Federal do Rio de Janeiro, no Programa de Pós-Graduação em Letras Clássicas. Atualmente é Professor Adjunto de Língua e Literatura Grega e faz parte do Programa de Pós-Graduação em Letras Clássicas. Nogueira é vinculado aos Grupos de Pesquisas: DAG (Discurso na Antiguidade grega) e ATRIVM – Espaço Interdisciplinar de Estudos da Antiguidade (UFRJ e UFMS). SEMÍRAMIS CORSI SILVA é Professora do Departamento de História e do Programa de Pós-graduação em História da Universidade Federal de Santa Maria – UFSM. Possui Doutorado (2014), Mestrado (2006) e Graduação (2003) em História pela Universidade Estadual Paulista – UNESP/Franca. Realizou estágio de doutorado na Universidad de Salamanca, Espanha, sob supervisão da Profa. Dra. María José Hidalgo de la Veja. Também realizou estágio de pesquisa na École des Hautes Études en Sciences Sociales de Paris – EHESS – Centre ANHIMA, sob a supervisão do Prof. Dr. Jean-Michel Carrié. Coordenadora do Grupo de Estudos sobre o Mundo Antigo Mediterrânico da UFSM – GEMAM/UFSM. Atualmente desenvolve pesquisa sobre o governo e as representações negativas do imperador Heliogábalo (218-222) dentro do projeto Barbaridade: identidades e alteridades em representações do outro por escritores romanos, com auxílio financeiro da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Rio Grande do Sul (FAPERGS). Possui experiência na área de História, com ênfase em História Antiga, pesquisando principalmente os seguintes temas: Magia e Poder no Império Romano; Identidades, 259

barbaridades, fronteiras e integração no Império Romano; Usos dos prazeres, Gênero e Poder no Império Romano; Heliogábalo e a Dinastia dos Severos. THIAGO BRANDÃO ZARDINI possui graduação em História pela Universidade Federal do Espírito Santo (2005), com experiência na área de História de Roma. É mestre em História, na área de pesquisa de História Social das relações políticas, pela Universidade Federal do Espírito Santo (2008). É doutor pelo Programa de Pós-Graduação em Letras / UFES (2015), na área de pesquisa de Estudos Literários, orientado pelo professor Doutor Gilvan Ventura da Silva, com bolsa da CAPES. Integrou a equipe editorial da Romanitas – Revista de Estudos Grecolatinos e fez parte do Laboratório de Estudos sobre o Império Romano (Leir/UFES). No ano de 2016, coordenou o grupo de estudos “Cultura Material e Cultura Literária no Mundo Antigo” (NUPES/ Saberes). Atualmente é integrante do ATRIVM – Espaço interdisciplinar de estudos da Antiguidade (UFRJ e UFMS) e professor dos cursos de História, Letras e Pedagogia da Faculdade Saberes / ES, onde coordena o Grupo de Pesquisa: Cultura e Literatura no Mundo Clássico e na Antiguidade Tardia (NUPES/Saberes).

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