O7

  • May 2020
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Cartografia da Agricultura nos Atlas Escolares Brasileiros Valéria Trevizani Burla de Aguiar1 e Maria Aparecida de Almeida Gonçalves2 Os conhecimentos cartográficos surgiram em diferentes épocas e em diferentes lugares sempre norteados pelo objetivo de representação de eventos espaciais. Esses conhecimentos aparecem atualmente compilados e organizados em compêndios, em livros técnicos e didáticos e nos Atlas. Este estudo tem um foco específico nas representações cartográficas dos eventos geográficos contidas nos Atlas escolares publicados no Brasil, com o objetivo de avaliar como a organização do espaço agrário brasileiro foi inserida na Geografia Escolar, ao longo do tempo. Para a elaboração do estudo foram selecionados dez Atlas destinados ao uso das escolas no Brasil e avaliados os mapas que tratam do tema agricultura. Foram excluídos os Atlas escolares que não retratam a temática em questão, mas foram citados na bibliografia. Os Atlas foram selecionados privilegiando uma abordagem histórica, buscando avaliar os referenciais que nortearam a elaboração dos mapas de agricultura, desde o primeiro Atlas escolar publicado no Brasil em 1868, até os mais recentes, publicados neste século. No Atlas mais antigo não foram encontradas referências à agricultura brasileira. A avaliação dos mapas foi norteada pela seleção das informações cartografadas, ou seja, quais os referenciais da agricultura brasileira foram inseridos nos Atlas escolares em diferentes momentos históricos? O Atlas escolar mais antigo que inclui informações sobre a agricultura brasileira é o de FREIRE (1906). O autor utilizou mapas políticos dos estados brasileiros (exceto o Acre) onde estão grafadas as atividades agrícolas desenvolvidas na época, não demonstrando a preocupação com a localização precisa das informações; talvez o propósito fosse o de informar os principais produtos agrícolas de cada estado, passando a idéias de grandes espaços destinados a cada produto indicado; a Figura 1 retrata o mapa do Estado do Rio de Janeiro onde aparecem seis indicações de cultura de café ao longo do vale do Paraíba; de cana-de-açúcar, nas proximidades da cidade de Campos e da cidade de Parati; cereais, nas proximidades de “Itaguahy”; cereais e algodão na região de “Macahé”. Na região de Petrópolis, não há menção à pecuária, mas consta a produção de queijos e de manteiga.

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Professora Doutora do Departamento de Geociências da Universidade Federal de Juiz de Fora Professora Mestre do Departamento de Geociências da Universidade Federal de Juiz de Fora

Figura 1 – Mapa do Estado do Rio de Janeiro Publicado na década de trinta, do século XX, o Atlas elaborado por SOARES (1934), apresenta dois mapas do Brasil, em pequena escala (1: 50.000.000), com o título de “Productos Vegetaes”. No primeiro mapa estão representadas as áreas de extração de borracha, ao longo da bacia Amazônica, de cacau, no baixo curso do rio Amazonas e litoral baiano, algodão no nordeste e interior de São Paulo; áreas de cultura de café, no sudeste brasileiro. No segundo mapa, com o mesmo título do anterior, a legenda é organizada por quatro componentes, sendo o primeiro “lenha para construção”, referindo-se a uma imensa mancha que corresponde a uma grande área da Floresta Amazônica; “arroz”, ocupando uma área litorânea que vai do estado do Rio de Janeiro até o Pará, adentrando pelas margens do rio Amazonas, até as proximidades de Manaus; “tabaco”, na bacia do Rio São Francisco, ao longo das divisas dos estados da Bahia e Pernambuco e nas proximidades de Cuiabá-MT. A “cana-de-açúcar” ocupa a faixa litorânea que se estende desde a Bahia até o Rio Grande do Norte e em torno das regiões de São Luís (MA), Belém (PA) e Ilha de Marajó. A figura 2 retrata um dos mapas mencionados onde se constata que não havia política de preservação das matas brasileiras, até pelo contrário, sendo um Atlas escolar, podemos deduzir que as escolas até incentivavam o corte de árvores para o aproveitamento da madeira.

Figura 2 – Mapa de Productos Vegetaes

A elaboração desses dois Atlas se pauta na simples localização, não permitindo uma comparação mais ampla entre as informações cartografadas e a posterior elaboração de síntese é prejudicada pela carência ou pela imprecisão dos dados incluídos nos mapas. Um Atlas de amplo uso durante décadas nas escolas é o de PAUWELS, haja vista as inúmeras edições publicadas. Utilizamos neste trabalho a 21ª edição, de 1963. Esse Atlas se caracteriza pela enorme nomenclatura relativa aos acidentes naturais, conforme era norteada, equivocadamente, a Geografia de memorização, ao longo de décadas, no Brasil. Entretanto, nesse Atlas, não encontramos nenhum mapa de agricultura. Ao final há uma tabela com produtos agrícolas brasileiros. O Atlas Nacional do Brasil, publicado pelo IBGE e Conselho Nacional de Geografia em 1966, inova pelo formato e pelo conteúdo, embora não possa ser considerado propriamente um Atlas escolar. O tamanho da folha (54 x 40 cm) foi utilizado para 50 mapas do Brasil na escala de 1:12.500.000, com encartes na escala de 1:32.000.000, acrescidos de gráficos, tabelas e /ou perfis, segundo o tema, acompanhados de textos no verso. Reflete um esforço de compilação das pesquisas realizadas através da linguagem cartográfica e de textos concisos. Busca também atender fins de planejamento e administração. Em sua Introdução, há o registro de propósito da geografia, naquele contexto político. “... fazer com que a ciência geográfica colabore, através de seus ensinamentos, para o desenvolvimento harmônico do território nacional – único capaz de promover o bem-estar da Nação, o fortalecimento do poder nacional, a concretização do Brasil em grande potência e sua projeção no campo internacional”.

Considerando a dinâmica dos dados geográficos, o Atlas Nacional foi publicado em capa dura, com folhas perfuradas, sem encadernação permanente; a fim de que folhas com dados atualizados pudessem ser acrescidas ou substituíssem as anteriores. Esse volume, relativo ao Brasil – Parte Geral- tem cinco conjuntos de cartas: I – Brasil Político-Administrativo; II – Brasil Físico; III – Brasil Demográfico; IV – Brasil Econômico e V – Brasil Sociocultural. No conjunto III - Brasil Econômico, de 22 pranchas, 11 são dedicadas ao setor primário, detalhados a seguir: 1. Extrativismo Vegetal e Mineral Mapa do Brasil acompanhado de encarte de ampliação do Quadrilátero Ferrífero e sete gráficos de produção e exportação de destaques no setor; 2. Áreas Agro-Pastoris Brasil; encarte temático com áreas das lavouras e 3 gráficos da produção agrícola 1950-1960 dos 12 principais produtos; Lavoura Brasil – Área de Lavoura; encarte temático: Área de lavouras – variação absoluta e relativa – 1940 a 1960; 2 gráficos relacionando as áreas dos estabelecimentos e os tipos de lavouras por estado e no país; Pastagens Mesmo tratamento dado às lavouras; 3. Estrutura fundiária Brasil: Distribuição dos estabelecimentos rurais segundo grupos de área; encarte temático com a área média dos estabelecimentos rurais; diagrama triangular que compara o tamanho das propriedades e superfície ocupada; no

mapa principal são apontadas 10 áreas que contemplam todas as regiões, que têm gráficos relacionando o número de estabelecimentos por classe e a superfície ocupada; 4. Produção Agrícola Coleção de 9 mapas com 26 produtos representados; 10 gráficos na porção inferior apontam o desenvolvimento da produção e área cultivada; 5. População Pecuária Brasil: número de cabeças, encarte de ampliação da Bacia Leiteira do Sudeste; 3 gráficos relativos à produção de manteiga; leite em pó e queijo e requeijão; 6. Agricultura Coleção de mapas: Pessoal ocupado; Regime de Explotação; Rendimento da produção; Implementos agrícolas e pessoal ocupado; Número de arados (1950 e 1960); Número de tratores (1950 e 1960); 7. Agricultura: Produção Absoluta e Relativa Dois mapas do Brasil, colocados lado a lado, com o valor absoluto em cruzeiros e a quantidade em toneladas. O país é representado a partir do meridiano 52 o W, excluindo parte das regiões Norte e Centro-Oeste; 2 tabelas referentes aos mapas e 3 gráficos sobre a capacidade de armazenagem e ensilhagem no país e na rede portuária; 8. Uso da Terra (Figura 3) Brasil com 5 áreas apontadas, transformadas em encartes de ampliação;

Figura 3: BRASIL – USO DA TERRA 9. Rotas dos Rebanhos

Brasil com encarte temático dos principais mercados de consumo de carne bovina; 7 gráficos relativos à produção pecuária e beneficiamento dos produtos; A agricultura também aparece nos mapas referentes à Organização Regional da Economia (IV – 20); O Brasil na ALALC (IV – 21). No conjunto Brasil Demográfico: População Urbana e Rural (III – 2); População Rural (III – 4.2); população Ativa (III – 5) e Regime de Exploração Agrícola (III – 5.1.): coleção de mapas: Pessoal não remunerado; Empregados Permanentes e Temporários; Parceiros; Terras Arrendadas. Esse material merece citação pelo volume e qualidade das informações disponibilizadas pelo IBGE. Não há dados sobre a tiragem do mesmo, contudo é observada a sua utilização nos Atlas escolares atuais, embora de modo reduzido. Em muitas publicações somente o mapa sobre o Uso da Terra serviu de referencial aos diversos autores. Publicado em 1968, o Atlas Contemporâneo, do autor francês Pierre Gourou, foi traduzido para o português pelo Prof. Nilo Bernardes, com o apoio de outros renomados geógrafos, e difundido nas escolas brasileiras. No prefácio ao Atlas, registrase o seu objetivo: “Atendendo a ênfase dada ao nosso país pelos programas de ensino médio e, também, ao crescente interesse do público pelos aspectos geográficos dos problemas nacionais, foi dada importância especial à parte referente ao Brasil.” (p.3).

Conforme mencionado, nele foram incluídos diversos mapas com representações dos quadros físico e político nacionais e regionais; os mapas temáticos, ainda conforme o autor, “procuram traduzir as tendências contemporâneas”, apontando para uma proposta de renovação do estudo de Geografia no Brasil. Na escala de 1: 18.000.000, o mapa intitulado “Brasil: Agricultura” retrata as atividades agrícolas e extrativas. Na legenda estão detalhadas as áreas de lavouras perenes e temporárias, classificadas conforme os sistemas produtivos (primitivos e melhorados) e as áreas destinadas à criação de gado, classificadas de acordo com o tipo de pasto (natural ou plantado) e delimitadas as bacias leiteiras do país. O Atlas ainda contém outros cinco mapas temáticos, em escala menor, 1: 36.000.000; três deles, com representações dos diferentes produtos agrícolas brasileiros, incluindo o total da produção em toneladas (dados de 1966); outro com a espacialização da pecuária incluindo a totalidade de cabeças de bovinos, suínos e ovinos (dados de 1963) e no quinto (Fig. 4) estão representadas diferentes utilizações das terras (lavouras, pastagens, matas e terras improdutivas), percentual por estado, em gráficos de setores, inserindo as áreas dos estabelecimentos.

Figura 4 – Brasil – Agricultura – Utilização das Terras Pelo exposto, pode-se deduzir que esse Atlas introduz inovações no que diz respeito à utilização dos mapas de agricultura para escolares uma vez que permite ao usuário estabelecer comparações e analisar o quadro agrário brasileiro, conduzindo à elaboração de sínteses sobre diferentes lugares acerca do assunto. A sua proposta ultrapassa a cartografia tradicional que se atém à localização dos lugares. Para a organização das legendas foram utilizados símbolos e cores que às vezes dificultam a legibilidade dos mesmos. O Atlas Escolar da Fundação Nacional de Material Escolar (FENAME) foi elaborado com o apoio do IBGE e substituiu o Atlas Geográfico Escolar, com utilização bastante difundida e publicado durante vários anos (de 1956 a 1980), com uma tiragem de 2.958.000 exemplares ao longo do tempo3. Publicado em 1983, o Atlas Escolar resgata informações de seu antecessor e as amplia, incluindo amplo mapeamento sobre a agricultura brasileira, contando, nessa parte, com a consultoria do Prof. Nilo Bernardes. No mapa dedicado à ocupação territorial, remete à evolução histórica, representando as áreas de extração de pau-brasil e cultivo de cana-de-açúcar, no século XVI; as áreas de pecuária e de extração das drogas do sertão nos séculos XVII e XVIII e, no século XIX, as áreas de cultura de café. 3

Na apresentação do Atlas Geográfico da FENAME há considerações sobre o Atlas que o antecedeu e das mudanças propostas para o novo Atlas.

No Atlas foi incluída uma página dedicada à agricultura, com três mapas. O principal, na escala de 1: 22.000.000, apresenta o zoneamento agrícola do espaço brasileiro, de forma generalizada, destacando áreas de policultura, de cultura de grãos, monocultura, culturas diversificadas e pecuária, sem definir o tipo de produto de cada área demarcada. Apresenta como encartes temáticos, visando à ampliação das informações do mapa principal, dois mapas coropléticos, na escala 1: 50.000.000; o primeiro apresenta a distribuição por porte do rebanho (pequeno, médio e grande) e o segundo a especificação das culturas por estado. O Atlas contém o mapeamento das regiões brasileiras, reservando três mapas para cada região: físico/político, vegetação, agricultura e indústria, sempre na mesma escala. Nos mapas de agricultura e indústria estão demarcadas as áreas de criação e de produção agrícola, de forma zonal. Dentro das manchas que correspondem à policultura, há destaque dos produtos predominantes, anotadas dentro dos próprios mapas, portanto, não incluídas nas legendas. Na forma de encarte temático, um mapa coroplético indica a pecuária, especificando se é de grande ou pequeno porte e a agricultura, se é industrial ou de consumo (alimentar). Constata-se a riqueza de informações sobre a agricultura brasileira que possibilitam a utilização do Atlas de diferentes maneiras, seja através de uma leitura ampla do quadro agrário brasileiro, seja através da superposição de informações, o que permite a comparação, a análise e a síntese voltada para informações acerca de produção. Ao lado dos mapas de cada região brasileira estão incluídos gráficos sobre a composição da população, o que possibilita analisar a produção agrícola com a população rural, mas não há dados suficientes que permitem uma compreensão da ocupação social diferenciada do espaço. Publicado em 1998, os autores do Atlas Geográfico do Estudante incluíram seis mapas contendo informações sobre a agricultura brasileira. Entre os mapas, dois estão em uma escala maior (1: 30.000.000), “Agropecuária” e “Estrutura Fundiária”. No primeiro estão representadas, em grandes áreas, a agricultura e a pecuária de forma similar ao mapa contido no Atlas Escolar da FENAME; os mapas são seguidos de outros dois, na mesma página, um com dados relativos à produção agrícola para exportação e o outro com a principal produção pecuária. A escala dos mapas, 1: 60.000.000, não permite boa legibilidade, sobretudo quando há a superposição das informações. O mapa da estrutura fundiária, também na escala de 1: 30.000.000, contém a representação de informações das propriedades pequenas, médias e grandes, número de propriedades e área ocupada. As informações foram organizadas em gráficos de setores dispostos sobre o mapa. Na parte inferior da folha, foram incluídos outros dois mapas na escala 1: 60.000.000 (Fig. 5); no primeiro estão representados, pontualmente, os municípios com assentamentos rurais e no segundo, conflitos de terra e principais lugares de violência no campo. A análise comparativa entre os mapas possibilita o cruzamento de informações sobre a organização social do espaço agrário, entretanto, a escala dos mapas dificulta uma análise mais detalhada, posto que não há possibilidade de identificação dos municípios e dos lugares indicados. Vale ressaltar que a inclusão desses mapas apresenta um viés diferenciado de análise do espaço agrário brasileiro, não encontrado nos Atlas escolares anteriormente mencionados.

Figura 5 – Estrutura Fundiária, Assentamentos Rurais e Conflitos de Terra. O GeoAtlas é, sem dúvida, um dos mais utilizados nas escolas brasileiras, atualmente. Nessa análise utilizamos a edição de 2001, atualizada em relação às anteriores, com a inclusão de novos mapas sobre a agricultura brasileira. O Atlas aponta para a possibilidade de uma leitura do quadro político e social da agricultura brasileira. Além de apresentar mapas que aparecem em outros Atlas, como “Brasil – Uso da Terra”, similar ao inserido no Atlas da FENAME de 1983, na escala de 1: 25.000.000 (as escalas são gráficas), com atualizações na legenda, a saber: agricultura predominantemente comercial, pequena lavoura comercial e de subsistência, pecuária primitiva e pecuária melhorada, demarcando as áreas de pecuária leiteira. O mapa também inclui as áreas de extrativismo vegetal. Na página ao lado, na escala de 1: 50.000.000, estão quatro mapas que registram informações acerca dos assentamentos rurais de 1985 a 1997, mortes em conflitos no campo de 1985 a 1996, ocorrências de quilombos e concentração de terras (Fig. 6). Os mapas não estão na mesma escala, mas há possibilidade de fazer uma superposição das informações construindo uma imagem mais detalhada da organização do espaço agrário brasileiro. Desta forma, os alunos podem romper com uma visão idílica do campo que permeou durante muito tempo os livros didáticos de Geografia4 e retratada da mesma forma nos mapas se levarmos em consideração que o espaço rural foi considerado unicamente como um espaço de produção e sem conflitos, de acordo com Atlas analisados e publicados até os anos oitenta do século XX.

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Avaliação didáticos – ver referência

Figura 6 – BRASIL Uso da terra e Tensão no campo Em 2002, o IBGE publicou o Atlas Geográfico Escolar contendo diversos mapas sobre a temática em estudo. Apresenta um capítulo intitulado: Espaço Econômico em que há o privilégio da representação de dados referentes ao espaço agrário brasileiro. Nesse capítulo há um total de treze títulos de mapas abordando informações variadas que permitem a superposição, configurando uma leitura mais pormenorizada do espaço agrário brasileiro. Tais mapas contêm informações sobre: Concentração da Terra, Ocupação da Terra pela agropecuária, Distribuição da soja em diferentes domínios fitoecológicos, Usos da terra (1995-1996), Produtos Agrícolas (1995-1996) – laranja, cana-de-açúcar, algodão, arroz, milho, feijão, Café (1995-1996) – encartes: 1980 e 1985, Rebanho bovino (1995-1996), Mecanização (1995-1996), Modernização da Agricultura (1995-1996) – encartes: eletrificação rural e controle de pragas e doenças, Agrotóxicos (2000) – Figura 7, Fertilizantes (2001), Assentamentos rurais (1995-1999) e, por fim, seis mapas sobre Agroindústria, com dados de 1999. Vale ressaltar que os dados censitários sobre a agricultura brasileira foram amplamente aproveitados ao longo da concepção e elaboração desse Atlas, incluindo diferentes formas de organização do espaço agrário salientando a formação econômica, política e socialmente diferenciada. Inova também na abordagem, pois, além de ressaltar a importância econômica da agricultura e destacar os conflitos no campo, insere indicadores de qualidade de vida, como a eletrificação rural e a questão ambiental, com o acesso ao uso de adubos, agrotóxicos e o controle de pragas e doenças.

Figura 7. ESPAÇO ECONÔMICO: Agrotóxicos e Assentamentos rurais. O Atlas Geográfico: Espaço Mundial inclui o mapeamento da produção agrícola brasileira, num total de doze mapas com valor da produção do estado em relação ao valor total do país em % (rendimento kg/ha. = gráfico ao lado dos mapas), com um mapa de cada produto dando uma visão da produção agrícola do país. Brasil – Uso da Terra, com mapeamento idêntico ao do IBGE e da Simielli, com alteração na legenda. A legenda é utilizada como encarte de localização. Traz ainda um encarte temático sobre assentamentos rurais e uma coleção de mapas sobre a dimensão dos estabelecimentos rurais. Aborda o tema mais sobre o enfoque econômico do que social ou político. Figura 8.

Figura 8: BRASIL - Produção Agrícola e Uso da Terra Publicado em 2003, o Atlas Geográfico. Natureza e Espaço da Sociedade inclui um único mapa relativo à agricultura, na escala de 1: 24.000.000, com uma legenda intitulada Atividades Agropecuárias, subdividida em menos modernizadas e mais modernizadas, representação do rebanho bovino, diferenciando aquele destinado para o corte e o destinado para a produção de leite. No mesmo mapa ainda constam informações sobre a produção agrícola total por estado e dois vetores, um indicando a expansão das novas fronteiras agrícolas e o outro os principais produtos agrícolas de exportação. Considerando a escala do mapa e a quantidade de informações que foram incluídas num só mapa, a leitura e compreensão do mesmo ficam comprometidas. O autor ainda inclui a produção agropecuária mais importante em outros três mapas que retratam as regiões geoeconômicas brasileiras (Amazônia, Nordeste e Centro-Sul). Nesses mapas estão registrados os principais produtos de cada região. Qual? Ou quais foram os sistemas gráficos de signos utilizados para comunicar as informações? Constatamos que nos Atlas publicados mais recentemente há uma preocupação dos autores em “limpar” as legendas, diminuindo a quantidade de informações fazendo com que seja facilitada a leitura dos mapas. Paralelamente, analisamos a legibilidade da informação a partir da opção cartográfica feita pelos diversos autores, contextualizando-a de acordo com a técnica gráfica disponível em cada época. Não resta dúvida que não há possibilidade de se fazer uma leitura das diversas dimensões da realidade agrária brasileira (local e regional) visto que as escalas utilizadas generalizam muito as informações postas. Vale ressaltar que foram igualmente contextualizadas as informações cartografadas conforme a orientação política de cada momento histórico e conforme a disponibilidade das informações a partir dos levantamentos dos dados no Brasil. A respeito, ao longo da elaboração da pesquisa, constatamos que a evolução da forma de cartografar as informações sobre a agricultura no Brasil evoluíram significativamente, mas o interesse em constar nos Atlas representações do espaço agrário brasileiro não foi proporcional ao peso que ele teve como principal elemento formador da sociedade brasileira. Registramos também que a obtenção e difusão da informação podem ser constatadas através da análise dos Atlas Escolares, ou seja, em todos os censos elaborados no Brasil há informações sobre a população rural e urbana e dados sobre a produção agrícola brasileira, entretanto não houve a apropriação desses dados para serem mapeados e divulgados para os escolares. Cabe ressaltar que, as discussões sociais acerca do espaço agrário brasileiro têm sido postas desde a década de 1930, como se pode constatar nas obras de Josué de Castro, Gilberto Freyre, Caio Prado Júnior entre outras que tanto influenciaram os geógrafos brasileiros, mas seus ensinamentos não foram incorporados no processo de mapeamento do espaço. Nos Atlas mais antigos havia o privilégio da localização em detrimento de outras possíveis abordagens feitas a partir dos mapas; nos atuais, as informações permitem aos usuários estabelecer correlações e análises entre as diferentes pranchas possibilitando uma visão mais holística do quadro agrário brasileiro. O enfoque sobre o tema, sem dúvida, mudou e tornou-se mais rico quanto às informações contidas nos Atlas o que permite ao professor um trabalho diferenciado sobre a questão agrária no Brasil, voltado para a compreensão da espacialização das desigualdades socialmente construídas. Entretanto, cabe ressaltar que as novas atividades desenvolvidas no meio rural brasileiro não foram incorporadas aos Atlas como aquelas relacionadas ao turismo

e recreação no meio rural, nem as novas atividades agrícolas que ganham gradativo mercado urbano: piscicultura, criação de aves nobres, floricultura, fruticultura de mesa, entre outras. Conhecer um pouco dessa história da Geografia brasileira e saber como a produção dos mapas de agricultura foi se transformando é de grande valia para que os jovens percebam que, apesar da aparente neutralidade, os mapas correspondem a intenções de controle do território, ao mesmo tempo em que refletem concepções culturais e técnicas de diferentes épocas.

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