O Sopro Do Vento

  • May 2020
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  • Words: 4,116
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The Blow Of The Wind

O Sopro do Vento Julyte

1. Olhos Azuis Mais um dia de chuva. Não que eu me preocupasse com isso. Eu gosto muito da chuva, mas também gosto do sol. Acho que foi uma coisa que herdei da minha mãe... Quer dizer, quando ela podia aparecer no sol sem que a sua pele refletisse seus raios, fazendo com que ela pareça um grande diamante cintilante. Mas, como eu disse, a chuva não me incomodava muito. Mas nos dias de chuva eu não podia ver o Jacob. Mamãe não se importava e papai, bem, papai já tinha deixado de odiar o Jake por algo que ele fez à mamãe que ninguém teve a decência de me contar. Mas tia Rose não gostava quando o Jacob entrava em casa molhado. - O cheiro do Fido já é ruim suficiente quando está seco. Molhado, fica insuportável. Eu faço o esforço de ouvir as piadas dele todos os dias por você, Nessie. Mas, por favor, não me faça sentir o cheiro de cachorro molhado dentro da nossa própria casa. Eu sabia que ela daria qualquer desculpa para que Jake ficasse pelo menos um dia fora de casa. Acho que se não fosse por ficar tanto tempo longe de mim, ele sentiria alívio em estar fora da nossa casa. Afinal, ele se queixava do cheiro. Muito doce, ele dizia. Eu me perguntava, certa vez, se eu tinha o mesmo cheiro para ele. Acho que ele percebeu o meu ar de dúvida e comentou comigo, diante do meu silêncio:

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- Sabe que você me faz lembrar a sua mãe? – ele disse, de repente, enquanto nós contornávamos o rio. Ele nunca me deixava andar sozinha, apesar de eu já ter o tamanho de uma criança de seis anos. Sempre me colocava em suas costas. Eu odiava isso. - É? E porque? - Primeiro – ele disse, me colocando no chão – você não gosta de depender de ninguém. Eu sei que você odeia que eu a coloque em minhas costas, ou que eu a proteja enquanto caça, mas isso faz parte de mim. É meu dever protegê-la. - Pensei que você abominasse esse tipo de comportamento, Jacob Black. – eu dizia, enquanto sentava em baixo da minha árvore preferida. – Afinal, uma das únicas coisas que sei antes da transformação da mamãe é que você condenava o modo exagerado como o papai a tratava. - Claro, claro... Mas seu pai não sofre com a impressão. - Sim, mas ... - Você também é bastante teimosa, Nessie. – ele me interrompeu, rindo do meu recém-formado beicinho. – Faz o beicinho igual ao de Bella, enruga a testa quando se irrita e... – ele olhou além do rio, como se buscasse algo no horizonte. - E o que, Jake? - O seu cheiro. Com tantos vampiros naquela cara, o seu cheiro se sobressai. Tem o mesmo cheiro de flores que a sua mãe tinha, antes de virar... han... o que é.

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- Pensei que só os vampiros pudessem sentir o cheiro do sangue. - Não é o cheiro do sangue. Nós sentimos cheiros de uma forma diferente. Nosso contato maior é com a pele. Sua pele tem cheiro de flores. Ele riu enquanto eu cheirava o meu braço. Pra mim, não cheirava a nada, exceto a colônia que tia Alice insistia em passar depois de me arrumar. Sempre a mesma história de que não lembrava como a vida de humana era, e que não lembra se teve bonecas quando criança. Mamãe disse que ela fazia isso com ela quando era humana. Acho que temos mais alguma coisa em comum. A chuva caia e eu lembrava desse dia com Jake à beira do rio. Estava sentada na escada, olhando a parede de vidro à minha frente, desejando que por um momento a chuva parasse de cair. Papai tinha ido caçar com vovô Carlisle, tio Emmett e tio Jasper. Tio Jasper também fazia falta quando Jake não estava. Ele matinha uma atmosfera de alegria enquanto Jake não estava por perto. Hoje ela seria essencial. Tia Rose estava vendo tv. Ouvi o som da voz de tia Alice tentando convencer mamãe a usar um vestido de seda cor-de-rosa que tinha acabado de comprar. - Isso é desnecessário, Alice, nós só vamos até Port Angeles. Não vamos a Milão para um desfile de moda. Posso usar jeans e uma camisa branca... - Nem pensar. Eu comprei um guarda-roupa novo em folha pra você. Eu juro pra você, Isabella Marie Cullen, 4

que eu queimarei todos os seus jeans se você não usar esse vestido esta noite. - Alice, você... você... é absurda. Edward tem razão. Não entendo como alguém tão pequena pode ser tão chata. - É um talento nato. – respondeu, rindo, tia Alice. – Agora, vire-se. Tenho que ajustar no seu corpo... Vovó Esme estava no telefone, conversando com vovó Renée. Eu não conheço a vovó Renée e mamãe falou que por um bom tempo não iremos vê-la. Talvez eu nunca a conheça. Mamãe me falou tudo sobre ela. Ela não tem olhos cor de chocolate iguais aos meus. São azuis. Nunca vi olhos azuis, a não ser pela televisão. Vovô Charlie tinha olhos iguais aos meus. Os da Sue eram pretos, quase iguais aos do Jake. Eles eram os únicos humanos que eu mantive contato. Escutei vovó Esme dizer à vovó Renée que mamãe e papai ainda não tinham entrado de férias da faculdade. Ela insistia em dizer que estava tudo bem, que logo mamãe entraria em contato. Mamãe ligava às vezes, mas sempre com pressa, pra não falar demais. Quando desligava, sentia que seu rosto mudava. Como se alguém tivesse feito alguma coisa de muito ruim para ela. Se mamãe tivesse lágrimas, como eu, choraria. Como chovia, as mulheres da casa decidiram ir ao cinema em Port Angeles. Sabia que era uma tentativa de me distrair. Tia Alice havia previsto chuva durante cinco dias. Queriam manter minha cabeça ocupada para não sentir tanto a falta de Jake. Eu podia ligar a hora 5

que eu quisesse, mas estava proibida de ir a La Push. Jacob não pertencia mais ao grupo de Sam, mas era bem vindo à sua aldeia sempre que quisesse. É claro, o convite não se estendia aos Cullen. Por mais que houvesse uma trégua, os mais antigos não confiavam na gente. Então, eu não podia ir à La Push com Jake. O caminho para Port Angeles foi rápido e calmo. Chegamos em menos de cinco minutos. - Um novo recorde – disse tia Alice. - Por Deus, Alice, se nós pudéssemos morrer... – disse mamãe, me tirando do banco de trás do volvo prata. - Mas não podemos. Nem nós, nem Nessie – tia Alice disse enquanto me dava um beijinho na bochecha. - Renesmee – mamãe falou. – Maldito Jacob Black, eu tive tanto trabalho pra escolher esse nome... - Tudo bem mamãe, eu gosto de Nessie. – Eu disse, tentando parecer convincente de que estava animada com a sessão de cinema. Mamãe percebeu, mas respeitava a minha tristeza. Ela me contou que sentia falta do papai quando ele estava fora. Não que fosse a mesma coisa. Eu não amava Jake da mesma forma que ela amava papai. Eu jamais beijaria Jake na boca. Eca! Sempre que pensava nisso, fazia uma careta. Desta vez, mamãe sorriu. Acho que ela já sabia no que eu pensava. Papai estava por perto certa vez que eu pensei sobre isso. Um cavalheiro com as irmãs, mas se tratando da própria filha, não sabia guardar segredos. Vampiro fofoqueiro...

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O filme foi muito chato. Vovó Esme sugeriu que comêssemos alguma coisa. Isso, é claro, se restringia a mim. Das cinco, só eu devia comer comida humana. Era extremamente desagradável. - Eu não quero comer. – Eu dizia, enquanto elas me passavam um copo de milkshake, batatas e um hambúrguer. Eu pude ver algumas crianças me olhando como se eu não estivesse raciocinando direito. Recusando tudo o que qualquer criança gosta de comer? - Renesmee, – disse mamãe, calmamente – você sabe, Carlisle já te falou, você precisa de substâncias que não são encontradas no sangue. Só sangue não adianta. Você precisa comer comida de humanos. - Mas é muito ruim, mamãe. - Não importa, meu amor, você vai ter que comer. - Eu como, com duas condições. - Nada que inclua o cachorro. – disse tia Rose. - Não tia Rose, isso não envolve o JAKE. – eu disse, friamente. – Primeiro, eu comerei se... - Não... Isso não. – tia Alice se antecipou. – Ela quer que a gente também coma. - Renesmee... você sabe que a gente não precisa comer... - Eu também não, mas já que tenho que comer... - Eu acho que nós podemos, cada uma, dar uma mordida em alguma coisa. – disse vovó Esme, pegando uma batata. – Afinal, não é o fim do mundo...

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Cada uma delas pegou uma batata. Olharam umas para as outras e comeram. Mastigaram cuidadosamente comida. Mamãe foi a primeira a cuspir. - Isso é horrível! – Ela gritou. - Bem vinda ao clube. – Eu disse, com um sorriso triunfante. - Renesmee, você está cada dia mais parecida com Edward. – mamãe disse com seriedade, mas não conseguiu ficar séria por muito tempo. Ela e as demais estavam rindo da situação. Uma garçonete se aproximou e perguntou. - Algum problema com a comida, senhoras? - Não, me desculpe pelo espanto da minha nora, - vovó disse, calmamente, parando o riso. – mas é que ela não está acostumada a esse tipo de comida. Nossa família segue um dieta diferente e havia um bom tempo que ela não comia batatas fritas. - Daí, minha prima aqui – mamãe disse, apontando para mim. Ela sempre me apresentava como irmã ou prima, afinal, não era muito comum uma mãe de dezoito anos com uma filha que aparentava seis – fez uma pequena aposta de que eu não conseguiria me acostumar a esse tipo de comida. Aparentemente, ela estava certa. - Sei... – disse a garçonete, enquanto saia. Ela não pareceu muito convencida. - Pronto, Nessie, agora coma. – Tia Rose se dirigiu a mim. - Acho que ainda falta a segunda condição. - E qual seria ela? 8

- Eu quero freqüentar uma escola. – eu disse, pela milésima vez, já esperando a resposta de sempre. - Nessie, você sabe que é perigoso. - Mas por quê? - Por que você sabe que com os humanos é diferente. – Mamãe disse. - Mas vovô Charlie... e Sue... - Charlie e Sue têm uma idéia do que somos, meu amor, mas o resto deles, não. – mamãe respondeu calmamente, mas pude ver a aflição em seus olhos. - Você tem medo que eu os ataque. – Isso não era uma pergunta. - Acidentes acontecem, meu anjo. – vovó me falou – Carlisle é o único de nós que consegue se controlar na presença de sangue... Não vamos expor você a um perigo desnecessário. Você pode aprender tudo em casa. Você já sabe ler com perfeição. - Mas eu não tenho amigos além de vocês, Jake, Seth, vovô e Sue. – disse, tristemente. Claro, não poderia deixar de lembrar de todos os vampiros que ajudaram a nossa família quando precisamos de testemunhas para provar que eu era meio humana. Mas os via tão pouco e eu queria parecer normal. - Meu amor, filha, veja bem. Você cresce rapidamente. Ninguém cresce tão rápido. Em menos de três anos, você já vai ter atingido sua idade máxima. Aí sim, se você puder controlar seus instintos, poderá ir a uma escola humana. – mamãe colocava seu braço em minha

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volta. – Mas até lá, me perdoe, você terá que aprender as coisas em casa. - E isso não seria problema, sabe, aprender as coisas em casa. – Tia Rose se manifestou. – Seu pai tem dois diplomas de medicina, fala perfeitamente qualquer idioma que se atreva a existir e já passou pelo ensino médio que poderia lecionar. - Tudo bem... Já entendi. – eu acabei desistindo. – Então, será que eu... – hesitei – poderia ao menos brincar um pouco? Aqui, na supervisão de vocês. Não farei nada de mal. - Eu não sei... – disse mamãe. – É seguro, Alice? - Não vejo nenhuma decisão que prove o contrário. – Tia Alice confirmou. – Pode ir, mas tome cuidado, estamos observando você daqui. Eu sorri, radiante. Seria a primeira vez que eu falaria com uma criança humana. Sai da mesa sem dizer nada. Me preparava pra correr quando minha mãe falou: - Sem correr... Sabe que corremos mais rápido do que eles. Tinha esquecido. Por um momento, repassei na aminha cabeça o que tinha aprendido sobre os humanos: quentes, lentos e fracos. Quentes, lentos e fracos. Quentes, lentos e fracos, eu repetia dentro de mim. Não poderei tocar em ninguém. Isso. Eu estava ciente de que esse primeiro contato seria restrito, mas, melhor do que nada. Dirigi-me a um lugar que eu sabia que se chamava playground. Tio Emmett tentou construir um pra mim, 10

mas mamãe não achou viável eu ter um brinquedo de humanos, para brincar com outras crianças humanas, sendo que a possibilidade era nula. Vi uma garotinha sentada perto de uma rampa, sozinha. Tentei me aproximar. - Oi, - eu tentei ser amigável. – meu nome é Renesmee, mas pode me chamar de Nessie. Ela olhou para baixo, tentou sorrir. Suas bochechas ficaram levemente rosadas. Então era isso que papai sempre dizia que sentia falta na mamãe humana. Eu achei engraçado. Sua pele era quase tão branca quanto a minha. Seu cabelo era igual ao da tia Rose, loiro, porém mais curto. Quando finalmente olhou pra mim, percebi que seus olhos eram azuis. Azuis... Iguais aos da vovó Renée. Acredito que se eu não tivesse herdado a boa audição da minha família de vampiros, não teria a escutado e seu sussurro ao dizer seu nome: - Virgínia... – ela me respondeu. - Quantos anos você tem, Virgínia? – eu quis saber. - Seis... e você? - Seis também. – menti. - Você mora aqui? – ela quis saber. - Sou de Forks, e você? - Sou de Seattle. Vim ver minha avó. – ela respondeu. Por um minuto eu senti uma coisa dentro de mim que eu não sabia o que era. Mas fiquei triste por ela poder visitar sua avó e eu, bem... eu não. Ela não pareceu reparar e me perguntou – Aquelas moças estão com você? – e apontou para minha mãe, tias e avó. 11

- Sim, é minha família. Meu pai, meu avô e meus tios estão... – tentei lembrar a palavra que vovó Esme usava quando ligavam do hospital procurando pelo vovô – viajando. - Elas são bonitas. Parecem minhas bonecas. – Ela sorriu, dessa vez, sem timidez. Eu sorri de volta. Estava sendo fácil ser amigável com Virgínia. Ela era uma menina muito educada. - Vamos brincar naquela coisa vermelha ali? – apontei para a rampa vermelha atrás dela. - Isso é um escorregador. Nunca brincou em um? – ela me olhou, confusa. - Não... É a primeira vez que minha mãe deixa eu brincar em algo assim. - Sua mãe é a de verde, não é? – apontando para a vovó. - Han... Sim... É sim. – menti outra vez. Mamãe tinha idade para ser minha irmã. - A mais bonita é a de cabelos longos e escuros. – ela falou enquanto apontava à minha mãe. – Como ela se chama? - Bella. – senti uma pontada de orgulho. – É a minha favorita, também. Vamos brincar? - Vamos. Estávamos subindo na pequena escada que nos levaria ao topo do escorregador. Ela desceu primeiro. Do alto pude vir mamãe balançar a cabeça, aprovando que eu descesse. Um menino um pouco mais alto do que eu mandou eu me apressar. Sentei, com cuidado para não amassar meu vestido. Sabia que tia Alice me vigiava. 12

Então, tomei o impulso e desci. A sensação de liberdade foi melhor do que a descida. Corria mais rápido do que a velocidade que desci, mas a sensação foi demais. Não tinha percebido que o menino tinha decido logo atrás de mim. Senti os seus pés em minhas costas. Mas eu nem me movi. - Ei, cuidado, você pode machucar alguém. – eu me virei, falando com ele. - Você nem se moveu. – ele me olhou, desconfiado. – Nem um pouquinho. - Eu... Eu... Eu apenas estava concentrada em não cair. – pensei na primeira coisa que me veio à cabeça. - Então, se eu te tocar assim... – e ele me tocou, no ombro que estava descoberto pela alça do vestido. – Nossa! Você está gelada. – ele arregalou seus olhos. – Que tipo de coisa é você? - Sai de perto de mim. – Ele estava se aproximando. - Vamos ver se você consegue se equilibrar com isso. – E então, ele partiu pra cima de mim... Quando menos percebi, mamãe já tinha aparecido, me pegando no colo, antes que o garoto tocasse em mim. - De onde você saiu? – o menino perguntou. - Não ouse tocar em minha filha. – mamãe rosnou, um pouco mais baixo do que da última vez, quando soube que Jacob tinha tido a impressão, seja lá o que isso signifique, comigo. - Ela é gelada. E não se abalou quando eu... - Chega. Renesmee, vamos embora daqui.

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Mamãe me colocou nos braços e saiu. Pude ver, de relance os olhos assustados de Virgínia. Será que seria assim se vovó Renée me visse? Me tocasse? Ficaria assustada, como Virgínia ficou? Mamãe não parou até chegar no carro. Sua cara não estava muito boa. - Eu sinto muito. – tia Alice disse. – Eu realmente não vi nada, só quando o garoto resolveu mexer com ela. - Eu sinto muito, mamãe, eu não devia... – mas antes que eu dissesse algo, mamãe me interrompeu. - Você percebeu porque não pode ter contato com crianças humanas? Você, ainda sendo mais quente do que nós, é mais fria do que eles. Você é mais forte, mais rápida. Deus sabe o que teria acontecido aquele menino se ele tivesse te empurrado. Meus instintos não estão preparados para isso. Não é o mesmo que caçar. Não sei se eu poderia ter me controlado... - É o instinto materno, Bella. – disse vovó. – Você teria agido pelo mesmo impulso sem ser vampira. Toda mãe quer proteger sua cria. - Mas uma mãe normal não rosnaria pra uma criança, nem teria vontade de... – Mamãe baixou a cabeça, acalmando-se. Por um momento, respirou fundo, um velho hábito, já que agora não precisava mais respirar com tanta freqüência. Soube que os humanos faziam isso sobre momentos de tensão. Li sobre isso em algum livro no escritório do vovô. Sabia que mamãe estava preocupada, então, não disse mais nada.

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Foi um longo caminho até nossa casa. Chegando a Forks, tia Alice parou o carro com tanta força que todas nós nos assustamos. - Alice, o que houve? Mais uma visão? – Mamãe quis saber de imediato. - Nessie... Ela olhou para mim... Você... não... Você não comeu, mocinha. Você nos enganou. Opa, que ótimo. Pensei que depois do incidente, elas teriam esquecido. Eu estava enganada. - É... Acho que eu... Esqueci. - Direto para o mercado. – vovó Esme falou. – Bella, você ainda lembra como cozinhar? - Acho que sim. Acho que cozinhei tanto para Charlie que faria de olhos fechados. - Mas, mamãe... – eu tentei fazê-la mudar de idéia, mas ela me interrompeu. - Nada de “mas”, mocinha... Cumprimos nossa parte. É sua vez de honrar sua promessa. - Ta bom! – eu fiz o beicinho que havia puxado ao dela. - Seu pai diria que você puxou a mim na teimosia. – ela suspirou, e logo, sorriu. Mamãe não guardava rancores. Isso era bom. Logo estávamos em casa. Não pude ir com vovó Esme ao mercado. As outras da minha família também não, já que deviam estar na faculdade. Eu queria poder ter ido ao mercado com a vovó, mas mamãe disse que eu já tinha todo contato com humanos o suficiente por um dia. Uma vez em casa, mamãe foi para a cozinha preparar algo para eu comer. 15

- Vou fazer lasanha para você, Renesmee. - Super! – Falei sem entusiasmo, mas mamãe não estava me ouvindo. Fui para a sala de televisão, onde tia Rose assistia um concurso de beleza. - Reles mortais, - disse ela – que chance teriam se eu me inscrevesse nesse concurso? - Rosalie, você é tão cheia de si. – tia Alice falou em seguida, enquanto sentava em seu computador. – Por favor, quando Edward não está, aproveite e guarde alguns pensamentos pra você. Tia Rose sorriu com sarcasmo para tia Alice e se virou para a televisão. Tia Alice tagarelava sobre meu novo guarda-roupa, já que em poucas semanas eu já não vestiria roupas de seis anos. Talvez dez, doze... Não sabíamos a proporção do meu crescimento. - Aquele estilista do qual eu falei vai lançar a nova coleção em Milão, semana que vem. – disse tia Alice. – Poderia dar uma ligadinha pra ele e ele as mandaria antes de começar, o que você acha, Nessie? - Claro, claro. – eu disse a resposta que aprendi com Jake. Opa, Jake! Eu disse que ligaria assim que eu chegasse. Rapidamente, corri para o telefone da cozinha e disquei o telefone da casa de seu pai, em La Push. Não conhecia Billy Black, pessoalmente, mas ele sempre era bastante caloroso quando eu ligava para Jake. - Nessie, sua lasanha está quase pronta. Não quer se lavar antes de comer? – mamãe perguntou.

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- Só um minuto, mãe, vou ligar para o Jake e avisar que cheguei. – falei, enquanto discava o número. – Alô? - Oi Nessie. – respondeu a voz de Billy Black. – Como vai? - Muito bem, obrigada. O Jake está? - Dois e dois são quatro? – perguntou-me, enquanto gargalhava. - Como? - Claro que está, vou passar o telefone antes que ele arranque da minha mão. Dê lembranças à Bella por mim. - Nessie? – a voz de Jake parecia aflita. - Sou eu. Aconteceu algo? - Não, fiquei preocupado. Você não ligou mais cedo e já são nove horas. Pensei que algo pudesse ter acontecido a você. - O que me aconteceria com quatro vampiras me protegendo? – perguntei, omitindo o que realmente poderia acontecer e aconteceu. - Claro, claro. – ele deu a resposta que eu aprendi com ele. – E então, como foi em Port Angeles? - Divertidíssimo. – eu tentei fingir um pouco de entusiasmo. Mamãe estava na cozinha. - Bella está na cozinha, não é mesmo? - Sim. E cozinhando. – eu disse, enrugando a testa. Mamãe riu e Jacob também. - Eu acho justo você comer alguma coisa além da sua... dieta preferida. – ele respondeu. Ele não era muito fã da minha dieta a base de sangue. Mas, o que eu podia 17

fazer? Eu era meia-vampira também. – Então, o que Bella está fazendo? - Lasanha. – eu respondi. – Uma bomba calórica de queijo, presunto, massa, molho e orégano. - E desde quando você se preocupa com calorias? – ele perguntou, dando risada. - Desde que eu tenha que ingeri-las. - Bom, então é melhor você desligar e ir comer alguma coisa. Estarei aqui se precisar falar comigo. - Está bem. - Te vejo em quatro dias. – ele falou, se despedindo. - É... até mais. – eu falei, enquanto desligava. - Sabe, - mamãe disse, enquanto tirava a lasanha do forno – fica mais fácil se você não contar o tempo que estão separados, mas sim o tempo que falta pra vocês estarem juntos. - É assim que você faz com papai? - Sim. – ela suspirou. - Ficou mais fácil depois da transformação? - Para ele, sim. Ele não se preocupa em me deixar sozinha. Mas eu prefiro quando vamos com ele. – ela disse. - Mas eu tenho certeza que para ele é difícil ficar longe de você. - Assim como para Jake. É difícil para ele estar longe de você. - Mas não é a mesma coisa. Eu não beijaria Jake quando ele chegasse em casa. – eu disse, enquanto fazia uma careta. 18

- Ai, Renesmee... – mamãe disse, enquanto sorria. - O quê? – eu perguntei. - Um dia... bem... nada. – ela me disse, enquanto passava o prato de comida para mim. – Agora, coma sua lasanha.

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