O Movimento Dos Grandes Livros

  • November 2019
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O MOVIMENTO DOS GRANDES LIVROS: um retorno aos clássicos PATRICK S. J. CARMACK O Movimento dos Grandes Livros, sendo um movimento ou uma mudança, inicia um lugar e termina outro. O movimento não é físico, mas intelectual e, espera-se, também decisório (envolvendo arbítrio). Além do que, a experiência daqueles no Movimento dos Grandes Livros denota que a mudança envolvida é geralmente para melhor, e de fato, de maneira marcante. A seguir estão quatro das questões iniciais básicas, e respostas, sobre as bases do Movimento dos Grandes Livros. Questões iniciais Por que um movimento de livros? Porque ler é bom para a mente: requer do indivíduo adquirir habilidades intelectuais básicas; a arte da leitura; a arte de falar sobre o que é lido; a arte de pensar sobre o que é lido e discutido. Além disso, a leitura de livros aumenta a oportunidade para a mente ganhar introspecção, discernimento e sabedoria. Ler e discutir sobre o que é lido, fornece condições propícias para a aquisição dessas qualidades mentais favoráveis. ---------"Se existe alguma razão nas coisas que fazemos... não tem o conhecimento dessa razão uma grande influência na vida? Não devemos nós, como arqueiros que possuem um alvo para mirar, acertar aquilo que devemos? Se sim, devemos tentar, ainda que superficialmente, determinar o que é" - Aristóteles. ---------Por que grandes livros? Porque grandeza significa excelência - os maiores e melhores materiais que a mente humana pode explorar para que obtenha introspecção, discernimento e sabedoria. Obviamente, materiais inferiores diminuem a oportunidade para tais ganhos, ao ponto - de pobres a péssimos materiais - de que nada é adquirido e muito pode ser perdido. Ninguém pode mais ler todos os livros, ou mesmo a maioria dos livros, mas apenas uma pequena porcentagem do número total dos livros. Assim, para maximizar os ganhos a serem feitos através da leitura, os melhores devem ser lidos - os grandes livros. ---------"Ele [Adler] percebera que a mera leitura não era o suficiente. Ele descobrira que a utilidade da leitura era de alguma maneira relacionada à excelência do que era lido e o plano para a leitura. Eu sabia que leitura era uma coisa boa, mas até agora tinha a impressão que não fazia qualquer diferença o que você lê ou como isso estava relacionado a qualquer outra coisa que você leia” - Robert M. Hutchins. ------------------"Contato com os escritores geniais nos concede a vantagem imediata de nos elevar a um plano mais alto; somente por sua superioridade eles nos conferem um benefício mesmo antes de nos ensinar qualquer coisa...eles nos acostumam ao ar do topo das

montanhas...Naquele mundo de pensamento sublime a face da verdade parece ser revelada; a beleza brilha adiante” - A.G. Sertillanges, O.P., The Intellectual Life. ---------A leitura torna alguém bom, ou pelo menos melhor? Não, ao menos não diretamente, mas pode representar uma grande ajuda no final. Ser bom, nesse sentido, é uma qualidade da vontade, não da mente. Entretanto, como Aristóteles apontou acima, se possuir conhecimento e sabedoria é uma vantagem para um homem, então ler grandes livros pode melhorar a mente e auxiliar um homem na busca da felicidade e na execução das suas responsabilidades. Mas a mera leitura, mesmo dos grandes livros, não torna os homens melhores. Entretanto, fornece a melhor oportunidade para o crescimento da mente, e se esta oportunidade é aproveitada, e outros fatores cooperarem (incluindo uma boa vontade), o resultado pode ser um melhor homem e uma melhor sociedade. ---------"Se então o poder do discurso é uma dádiva grandiosa como muitas que podem ser nomeadas, - se a origem da linguagem é por muitos filósofos considerada nada menos que divino, - se pelo significado das palavras os segredos do coração são trazidos à luz, a dor da alma é aliviada, mágoas internas são expulsas, a simpatia conduzida, os conselhos concedidos, a experiência gravada e a sabedoria perpetuada, - se por grandes autores o todo é reduzido à unidade, o caráter nacional é fixado, uma pessoa fala, passado e futuro, o Leste o Oeste se comunicam, - se tais homens são, em uma palavra, os porta-vozes e profetas da família humana, - não irá responder para fazer a luz da Literatura ou para negligenciar seu estudo; ao invés, nós devemos assegurar que, em proporção à nossa especialização sobre ela, em qualquer língua, e absorver seu espírito, nós devemos nos tornar na nossa própria medida os ministros dos mesmos benefícios aos outros, sejam eles muitos ou poucos, estejam eles nos obscuros ou radiantes caminhos da vida, - que são unidos a nós por laços sociais, e estão dentro da esfera nossa influência pessoal” - John Henry Cardinal Newman. ---------Tendo estabelecido alguns dos valores de maior importância na leitura de grandes livros (e as suas limitações), nós agora estamos diante da quarta questão mencionada acima: Quais critérios devem ser empregados para a seleção dos grandes livros a serem lidos? A resposta para essa questão nos leva a rever o Movimento dos Grandes Livros, que começou quando um homem - John Erskine -, tendo chegado em alguma semelhança às conclusões mencionadas acima, em resposta às três primeiras perguntas, teve que encarar esta quarta questão. A primeira resposta é que existem muitas respostas - os homens têm discordado na compilação dos grandes livros. No Século XIX, as Universidades de Oxford e Cambridge, cada uma, uniu cursos clássicos e pequenas listas de clássicos, mas nenhuma lista compreensiva. Ao final daquele século, também na Inglaterra, Sir John Lubbock publicou sua lista de “os 100 melhores livros”. Em 1901, Charles M. Gayley compilou sua lista de grandes livros para seu curso de mesmo nome em Berkeley. Em 1910, Charles W. Eliot, Presidente de Harvard, editou uma extensa lista de grandes livros intitulada Os Clássicos de Harvard que ficou conhecida como “A estante de livros de 2 metros do Dr. Eliot”. Essa

era uma maravilhosa coleção, e ainda é impressa. Entretanto, como a descrição implica, era apenas a lista pessoal de Dr. Eliot (bem como a de Sir John), e faltou qualquer tipo de consenso amplo em relação à sua seleção. Outras listas compiladas por indivíduos ou diferentes casas publicadoras (e.g. as séries Modern Library, Everyman's Library, os Clássicos Mundiais da Oxford Press, Penguin Classics, Book-of-the-Month Club) sofriam da mesma deficiência (bem como interesses comerciais). De fato, o Movimento dos Grandes livros originalmente sofria do mesmo defeito, resultando em influências essencialmente pessoais na lista do que era razoavelmente desejado e rejeitado. Isso foi posteriormente minimizado com a expansão do movimento. O começo do Movimento O relevante curso na Columbia University de Nova York primeiramente lecionado por John Erskine, um músico, autor e professor de literatura, que se especializara em Literatura Elizabetana, era originalmente chamado General Honors e os livros que ele juntava eram chamados de “Os Clássicos da Civilização Ocidental”. A primeira lista de Erskine era simplesmente sua própria lista de 52 livros. Se tivesse parado por aí, o movimento não teria prosperado - ou pelo menos se estagnaria. Mas Erskine combinou sua lista de clássicos com um grupo de discussão - agora comumente chamado de Grupo de discussão socrático (ou Seminário ou Tutorial socrático). Aos alunos era recomendada a leitura de um clássico por semana e então, uma vez por semana, eram convocados para uma discussão de duas horas, sentados em volta de uma grande mesa oval. Quando isso começou em 1921, havia apenas um grupo de discussão, que Erskine conduzia sozinho (ele também era solista de piano, na Filarmônica de NY). Para resgatar um pouco do sabor de seu curso, aqui estão duas pitadas de conselho sobre a leitura dos clássicos que Erskine escreveu e deve ter falado, em substância, naquela classe: ---------"O fato de um livro ser famoso é o suficiente para espantar algumas pessoas que, se tivessem coragem de abrir as páginas, encontrariam prazer e recompensa. Nós cometemos o erro de temer que as coisas imortais da arte precisam ser abordadas através de estudos e disciplinas especiais, e nós nos confortamos no "princípio da uva azeda", decidindo que mesmo se estivéssemos preparados para ler os clássicos, nós os acharíamos estúpidos. Mas uma justificativa para qualquer grande fama é que ela é merecida, e os homens que escreverem estes livros poderiam se horrorizar se descobrissem que você e eu pensamos neles apenas como assunto para cursos educacionais e acadêmicos. Eles escreveram para serem lidos pelo público em geral e presumem em seus leitores experiência de vida e interesse na natureza humana, nada mais..." ------------------"É recomendável que se prove tanto dos grandes livros quanto for possível, ainda que os primeiros possam não ser aqueles que nos refletem completamente. Mas assim que descobrimos nosso autor, nós temos apenas que lê-lo mais e mais, e depois de um tempo ler sobre ele nos autores que possuam espíritos familiares. Quando o leitor se descobre em dois grandes autores, ele é prontamente lançado. Mas os livros devem ser relidos e relidos. Até

que entendamos que certos livros crescem com nossa experiência e maturidade e outros livros não, nós ainda não aprenderemos como distinguir um livro de um grande livro” John Erskine [The Delight of Great Books, 1928]. Em 1921 Mortimer J. Adler ingressou no curso como estudante. O curso era popular e em 1923 o número de General Honors cresceu e eram ministrados por dois instrutores cada, para assegurar um amplo conhecimento entre os dois moderadores, já que os grupos discutiam uma vasta gama de livros em várias disciplinas. Foi quando Adler foi selecionado para co-moderar um grupo com o poeta Mark Van Doren. Van Dorer posteriormente ganhou o prêmio Pulitzer (1943) por seu Collected Poems, e sucedeu Erskine para lecionar o curso sobre Shakespeare em Columbia. Os filhos de Van Doren, Charles e John, posteriormente trabalharam com Adler em várias incursões para promover o Movimento dos Grandes Livros. Adler continuou a participar nestes grupos até o presente - 79 anos. Por que essa devoção a um curso? "Muitos profissionais ensinam pela prosa; apaixonados, dentre os quais Sócrates era o arquétipo, ensinam pelo questionamento.” Adler escreveu essas linhas para explicar a diferença do método de ensino de Sócrates - e Erskine. Não era apenas a excelência do material que Erskine havia selecionado - haviam existido cursos de clássicos antes de Erskine - mas também a excelência do método socrático de ensino. Foi a afortunada combinação dos dois que emplacou: leitura de excelente material e então discussão sobre ele. Adler escreveu sobre isso: ---------"Nossas mentes, diferente dos nossos corpos, são capazes de crescer até que a morte nos tenha. A única condição para esse crescimento contínuo é que ela seja alimentada e exercitada. Como alimentada? Através da leitura de grandes livros ano após ano. Como exercitada? Discutindo sobre esses livros.” ---------Erskine promoveu algo que funcionava e seus estudantes eram estimulados, deliciados e iluminados por isso. Um movimento havia nascido, ainda que ninguém tivesse se dado conta no momento. Erskine lecionou em Columbia de 1909 a 1937, mas depois de escrever um bestseller (Helena de Tróia) em 1925 ele usou os procedimentos para alcançar seus outros interesses. Ele escreveu 45 livros e se tornou presidente da Julliard School of Music e diretor da Metropolitan Opera Association. Erskine (nascido em 1879) morreu em 1951. Em 1925 o General Honors havia crescido para doze ministrantes. Rexford Tugwell era o conselheiro e em 1927 ele apontou Adler para reconsiderar a lista de clássicos de Erskine. O resultado das sugestões que Adler solicitou de outros ministrantes e dele mesmo, foi uma lista revisada de 176 autores a serem votados pelo conselho da General Honors. 19 autores foram aprovados por unanimidade com mais 76 autores - o índice de aprovação total foi de aproximadamente 90%. Vários autores - como Shakespeare - foram selecionados por mais de um trabalho.

A revisão da lista por Adler aumentou para 130 o número de autores. Finalmente, em 1947, o Senador William Benton pediu a Hutchins, Adler e os demais que fornecessem uma lista definitiva para publicação na Encyclopaedia Britannica como uma coleção dos Grandes Livros do Mundo Ocidental. Erskine, Hutchins, Adler, Van Doren, Scott Buchanan, Stringfellow Barr e Alexander Meikljohn constituíram o corpo editorial – todos eles agora com anos de experiência dentro do Movimento dos Grandes Livros. Depois de muitas consultas, reexame das listas existentes, muitos votos, reconsiderações e aí por diante, uma lista final incluindo 74 autores (433 obras) foi publicada em uma coleção de 54 volumes, incluindo 1 volume introdutório escrito por Hutchins e um índice de grandes idéias em 2 volumes (o Syntopicon) editado por Adler. Claro, qualquer lista de livros muda ao longo do tempo. Mas pode-se dizer que considerando a data limite apontada pelo corpo editorial (1900), a lista da Britannica certamente foi o produto de um amplo consenso de consultores especialistas em diversas áreas, aplicados no campo da leitura, comparação e discussão dos clássicos. Em 1990 a Britannica pediu que Adler atualizasse a lista e o resultado foi uma compilação de 130 autores (517 obras) publicados em 60 volumes (incluindo 6 volumes de trabalhos do séc. XX [até 1950] e 2 volumes atualizados do Syntopicon). Essa é a lista definitiva? Não, mas não pode ser negado que é um começo tão promissor quanto - quando você faz sua própria lista de leitura - o que possa se encontrado em qualquer lugar, e possivelmente muito melhor. Os critérios de seleção desenvolvidos pelo corpo editorial são interessantes: 1.) Relevância contextual - não confinada exclusivamente a uma era histórica, um apelo atemporal e universal; 2.) Releiturabilidade - livros qualificados como "relíveis" muitas vezes e de valia devido à sua beleza, percepções e inteligência; 3.) Extensiva relevância para as grandes idéias - cada autor selecionado tem algo significante a dizer sobre um grande número de grandes idéias; sua contribuição para a grande conversação corrente da civilização ocidental. Scott Buchanan também introduziu o critério de 4.) Indispensabilidade para a educação de qualquer pessoa, que foi aceito. Era possível atingir quase a unanimidade na seleção dos clássicos pré-1700, mas com a aproximação dos períodos modernos se tornava mais difícil alcançar o consenso de 90%, que foi, entretanto, finalmente alcançado com a lista de 1990. A Grande coversação, as Grandes idéias e o Syntopicon Hutchins e Adler, bem como os outros, gradualmente descobriram em seus grupos de discussão que também estavam participando de um grupo de discussão bem maior, um que compreendia séculos. Os autores dos clássicos geralmente escreviam sobre o que seus predecessores tinham a dizer sobre essa idéia ou aquela, esse tópico ou aquele e respondiam a isso comentando sobre eles ou contestando-os. Os tópicos que escreviam tendiam a ser os mesmos, e normalmente os autores era bem atentos ao que os seus predecessores haviam escrito para que pudessem levar a discussão um ou mais passos adiante. Esse fato era tão importante, que Adler posteriormente compilou evidências sobre isso em índices AutorAutor e Autor-Idéia, que conectavam os autores, demonstrando as intensas interrelações entre as atividades clássica e intelectual dos autores ocidentais ao longo dos cerca de 3000 anos em que escreveram. Através de seus livros, o pensamento dos autores dos clássicos

continuamente influenciava a vida, em cada geração até os dias de hoje, na extensão em que eram lidos e discutidos. Até hoje, nenhuma geração no ocidente negligenciou ou esqueceu por completo esses autores, apesar de algumas vezes isso quase ter acontecido (e.g. nos Tempos Negros depois das invasões bárbaras na Europa e em nosso tempo). Por outro lado, estudos renovados dos clássicos iniciaram inúmeros afloramentos culturais (por exemplo, a Renascença). Hutchins foi tomado pela idéia e escreveu um trabalho intitulado “A Grande Conversação” celebrando essa marcante e única (tanto em longevidade como escopo) realização da civilização ocidental na qual ele refere como a “Civilização do Diálogo”. A noção não era inteiramente nova, mas Hutchins e Adler a desenvolveram e a transformaram em um nó que juntava a coleção. ---------"A leitura de todos os bons livros é como uma conversação com os mais nobres homens dos séculos passados, que foram os autores desses livros, uma conversação cuidadosamente estudada, onde eles revelam nada além do que o melhor dos seus pensamentos” - René Descartes, Discurso do Método, I. ---------As "grandes idéias" foram desenvolvidas como uma resposta de Adler à relutância de Hutchins em trabalhar em uma coleção que pensou ser apenas um amontoado de poeira nas bibliotecas. Ocorreu a Adler, durante uma pesquisa sobre o que todos os autores tinham a dizer sobre uma única idéia (que requisitou releitura de todos os livros sob o ímpeto daquele problema ou questão - muito parecido como uma busca por palavra-chave na Internet), que se essas idéias discutidas durante esses três mil anos de Grande conversação pudessem ser identificadas e referenciadas aos leitores, eles poderiam se motivar a integrar a conversação. Então Adler e uma equipe, a que depois somaram-se 90 co-autores, iniciaram um esforço de dez anos para indexar e cruzar referências dos grandes livros a um conjunto de idéias pivôs. Depois de dois anos, 105 idéias-chave foram selecionadas, posteriormente reduzidas para 102 e chamadas de As Grandes Idéias. Adler desenvolveu a noção de idéias sendo como constelações, com idéias menores circulando ao redor das grandes e cruzando caminhos agora e então com outras constelações, em um ordenado universo de verdade (novamente, a noção não era inteiramente nova, São Bonaventura tinha anjos similarmente nomeados e guiando estrelas representando uma virtude ou idéia de grande ou menor correspondência de valor). 163.000 referências aos Grandes Livros, organizadas em 3.000 tópicos, representando aproximadamente 400.000 horas de leitura, foram indexadas. Adler cunhou o termo Syntopicon para o resultado: um índice de assuntos das Grandes Idéias, indexadas nos Grandes Livros. Referências a outros estudos também foram incluídas. Isto completou a unidade nuclear do Movimento dos Grandes Livros. As Grandes Idéias (e a Grande Conversação sobre elas), contidas nos Grandes Livros, foram enfatizadas - e reconhecidas por todos os que, sem elas, os Grandes Livros eram apenas perfumaria. Crescimento

Scott Buchanan e Alexander Meiklejohn são ambos originários da Amherst College. Buchanan havia sido um pesquisador sobre Ródes em Oxford onde encontrou Stringfellow Barr e Jerry McGill. Todos menos McGill (que escrevera "A Idéia de Felicidade" para o Instituto para Pesquisa Filosófica) estavam na Conselho Tutelar da Britannica, e todos posteriormente foram grandes personagens no movimento que Buchanan e Stringfellow Barr criaram para iniciar o Novo Programa (dos Grandes Livros) no St. John's College em Annapolis, Maryland, que alterou toda uma estrutura falida e falha que existia lá anteriormente. St. John criou um segundo campus em Santa Fé, Novo México. Hutchins era Presidente da University of Chicago quando convidou Adler para iniciar um programa de grandes livros na universidade, que ele co-moderava. O programa se efetivou na University College. Um programa de grandes livros para adultos e a Fundação dos Grandes Livros foram lançados em Chicago, ambos ainda promovendo ativamente a filosofia dos grandes livros na educação. De lá o movimento se espalhou a inúmeras outras faculdades. Adler passou muito tempo promovendo grandes discussões sobre os livros com adultos, fora da educação institucionalizada, ao redor dos Estados Unidos. As vendas da coleção Britannica Great Books começaram a ganhar impulso e por volta dos anos de 1950 foram vendidas aproximadamente 50.000 coleções por ano, 1 milhão de coleções vendidas no total. Os Estados Unidos estavam pesquisando e encontrando suas raízes. Nos anos de 1960 o movimento continuou a crescer, mas nunca atingiu mais do que uma pequena minoria de faculdades e lares antes da reação progressista começar. Declínio O estrago criado pelo pragmatismo de Dewey, espalhou ceticismo, relativismo antropológico e positivismo lógico, que combinaram com a prosperidade crescente nos Estados Unidos pós-guerra e acompanhando o materialismo, transformaram as cabeças de nossa juventude, tornando-os um joguete fácil para todos os de cima. Os anos de 1960 marcaram a morte do Movimento dos Grandes Livros. Naquele contexto, ser morto, europeu, autor do sexo masculino (como os autores dos clássicos ocidentais quase todos eram), era irrelevante. Apenas os vivos eram considerados plausíveis. O Método socrático, assim como Sócrates, fôra condenado à morte. A educação foi cada vez mais direcionada aos "progressistas" radicais, que ainda dominam por completo a educação, e cujos resultados trágicos hoje nos apavoram. Mas aqui e lá o Movimento dos Grandes Livros sobreviveu e o próprio Adler nunca desistiu da luta. No começo dos anos de 1980, um grupo de educadores chamados de Grupo Paidea (grego para elevação das crianças) publicou a Proposta Paidea, estabelecendo reformas necessárias nos níveis fundamental e secundário, particularmente a introdução do Método socrático, treinamento em habilidades de ensino e leitura dos clássicos. A Fundação dos Grandes Livros continuou a publicar as coleções de clássicos juvenis e a promover grupos de discussões socráticas entre adultos nas escolas. Grupos de discussão dos Grandes Livros para adultos continuaram em várias cidades, e Nina Houghton do Aspen Institute promove os "Seminários Encontros Adler" todos os anos, assistidos por Charlene Costello, enquanto Max Weismann, no Centro de Estudos para as Grandes Idéias, conduz grupos de discussão online sobre os Grandes Livros. No total, mais ou menos 37 faculdades e universidades ainda possuem algum tipo de programa de grandes livros e sinais de novos interesses sobre

os clássicos continuam a aparecer em faculdades em um lugar e outro (exemplo, Wilbur Wright College, Chicago). Mas apenas duas faculdades possuem o programa completo de quatro anos dos Grandes Livros, ministrados por Adler, Buchanan et al.: St. John's Colleges e Thomas Aquinas College, Santa Paula, California . Renascença 2000 anos ec, 79 anos depois de participar de seu primeiro grupo de discussão dos grandes livros, Adler acaba de aprontar mais uma, e vive para ver o movimento entrar em uma nova arena, a educação domiciliar. Tendo testemunhado e experimentado os resultados que a educação progressiva e a deconstrução da cultura ocidental tiveram sobre as instituições educacionais nos Estados Unidos, os pais estão garantindo - em números jamais vistos, entre 1,6 e 2 milhões de crianças - que seus filhos sejam educados em casa. De alguma forma em paralelo a como o St. John (sem filiação religiosa [apesar de originalmente Anglicana, no séc. XVII]) e o Thomam Aquinas College (católica) se relacionam, a recente mudança indireta para a inclusão de materiais especificamente do magistério católico - dois novos programas de grandes livros domiciliares são da mesma forma baseados inteiramente no contexto dos grandes livros em seus programas de ensino médio, e nas Propostas Paidéia em seus programas elementares: a Academia dos Grandes Livros (sem filiação religiosa) e a Academia Angélica (católica). Na luz da ausência do progressismo educacional e resistência institucionalizada para reforma no movimento de educação domiciliar, o ano 2000 tem tudo para ser o ano do início de um reavivamento do Movimento dos Grandes Livros na educação, ou como um autor disse: a Renascença da Escola Domiciliar dos Grandes Livros. Os autores dos Grandes Livros Adam Smith, Ésquilo, Aquino, Arquimedes, Aristófanes, Aristóteles, Agostinho, Austen, Bacon, Balzac, Barth, Beckett, Bergson, Berkeley, Bohr, Boswell, Brecht, Calvino, Cather, Cervantes, Chaucer, Tchekhov, Conrad, Copérnico, Dante, Darwin, Descartes, Dewey, Dickens, Diderot, Dobzhansky, Dostoiévski, Eddington, Einstein, Engels, Epicteto, Erasmo, Euclides, Eurípides, Faraday, Faulkner, Fitzgerald, Frazer, Freud, Galeno, Galileo, George Eliot, Gibbon, Gilbert, Goethe, Hardy, Harvey, Hegel, Heidegger, Heisenberg, Hemingway, Henry James, Heródoto, Hipócrates, Hobbes, Homero, Huizinga, Hume, Huygens, Ibsen, J.S. Mill, Joyce, Kafka, Kant, Kepler, Keynes, Kierkegaard, Lavoisier, Lawrence, Levi-Strauss, Locke, Lucrécio, Maquiavel, Mann, Marco Aurélio, Marx, Melville, Milton, Moliére, Montaigne, Montesquieu, Newton, Nicômaco, Nietzsche, O'Neill, Orwell, Pascal, Pirandello, Planck, Platão, Plotino, Plutarco, Poincare, Proust, Ptolomeu, Rabelais, Racine, Rousseau, Russell, Schrodinger, Shakespeare, Shaw, Sófocles, Spinoza, Swift, T.S. Eliot, Tácito, Tawney, Tucídides, Tocqueville, Tolstoi, Twain, Veblen, Virgílio, Voltaire, Waddington, Weber, Whitehead, William James, Wittgenstein, Woolf. Patrick S. J. Carmack Tradução de Moreno Barros ______________________________

CARMACK, Patrick S. J. O movimento dos grandes livros: um retorno aos clássicos. ExtraLibris, 2005. Disponível em: . Acesso em: 10 out. 2005. Original: CARMACK, Patrick S. J. The Great Books Movement: a return to classics. Homeschooling, 2000. Disponível em: . Acesso em: 03 out. 2005.

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