O Espiritismo A Luz Da Razao Padre Pacoal Lacroix.pdf

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P e . PASCOAL LACROIX < 0. F. M. BUENO DE SEQUEIRA

O ESPIRITISM O À LUZ DA RAZÃO

1941 F fli.l: Rua São Jo ié , 38 - T el.fone 4 2 -8 7 8 7 RIO DE JANEIRO

N IH IL O BSXAT. T a u b a tö , ln festo C o rp o ris C h risti, 1 940. P . Ferd. Baumhoff S. C. J. lib r. c en so r a d -h o c.

N IH IL O BSTA T . Rio, 17 d e J u lh o de 1940. Padre ] . Bat. da Siqueira.

IM P R IM A T U R V ig. G eral. Mons. R. Costa Re go R io, 2 3-7-1940.

IM P R IM I P O T E S T . T aubatO , in te sto A ssu m p tio n is B. M. V, a n n l 1940 P . P . Storms P ra e p . p ro v . b rasll.

ÍNDICE Prefácio .

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Introdução — Plano Geral — Cristianismo — M ateria­ lismo — Espiritismo — Noções preliminares . . P R IM E IR A P A R T E : FE N Ô M E N O S O U FA T O S A L E G A D O S .................................................................31 Cap. 1." — Relatório dos fenômenos supranormais . A ) — Fenômenos experimentais ou provocados 1.*) Telccinésia — Levitação —Transporte 2.°) T e l e p a tia .................................................... 39 n) As pancadinhas ou tiptologia . . b) Toque com membros invisíveis . . c) Fenômenos telecinéticos . . . . d) Fenômenos lu m in o so s....................... 64 B) — Fenômenos espontâneos.............................76 Série 1.* — Fatos cujos autores preternaturais parecem bem definidos . . . . 1.” — Cenas b a r u lh e n ta s ........................ 2.° — Telccinésia — transportes . . 3.° — Idem — em Paris, Berlim, na Bélgica, em Java, etc.....................82 4." — Fenômenos ligados a pessoas . . Série 2.* — Fatos cujos autores preternaturais parecem mal d e fin id o s .....................89

9 18

33 33 33 61 63 64

81 87

— 6 — C — O Espiritismo no B r a s i l ........................ ...... Cap. 2° — Realidade dos fenômenos supranormais . — Estado da q u e s t ã o .................................... A ) — Critérios g e r a i s .................................... 1) Confiança que merecem os observa­ dores de fenômenos ocultos . . . 2) Confiança que merecem os médiuns B ) — Verdadeiros fenômenos do último te m p o ........................................................ C) — A grande objeção contra a realidade . D ) — Resumo das deduções obtidas . . Cap. 3.“ — Causalidade dos fenômenos supranormais — Estado da q u e s t ã o .............................. A ) 1.* Proposição — Os fenômenos supra­ normais excedem as forças humanas . A rt. I — Fenômenos parapsíquicos do telccinésia c de lelcplástica A rt. II — Fenômenos paraíísicos . . A rt. I I I — Fenômenos espontâneos B ) 2,a Proposição — Os fenômenos supra­ normais uão são produzidos pelos des­ encarnados ................................................ I : P ela doutrina Católica — Filosofia — T e o lo g ia .......................................... I I : Pela doutrina dos E spiritas — T eo­ ria do perispírito — Não-idcntificação dos espíritos — Fatos — Con­ fissão de sábios espiritas e de mé­ diuns — Comunicação na teoria ang lo s a x ô n ic a ........................................... C) 3." Proposição — Os fenômenos supra­ normais são produzidos por espíritos e estes só podem ser os maus espíritos ou demônios da concepção católica . ■. . Estado da q u e s tã o .................................... I : Fenômenos e s p o n t â n e o s ........................ I I : Fenômenos e x p e r im e n ta is ........................ a ) Fenômenos psíquicos ou parapsíquicos . b) Fenômenos físicos ou parafísicos .

10-11 104 106 106 108 115 121 129 131 133 133 152 157

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C |P . 4.» — Em que sentido entendemos a interven­ ção diabólica no Espiritism o . . . . a) pelo ambiente das sessões . . . b) pelas circunstâncias de lugar e tem­ po que envolvem as sessões . . c) pela instituição do médium . . . ........................ Conclusão .

198 208 208 ' 208 231

Cap. 5.“ — A ) Sinais diabólicos que os fenômenos trazem c o n s ig o ..................................... 233 B) Ação diabólica através dos tempos — Relação do Espiritismo com a necroinância c a m a g i a ............................... 241 C o n c l n s ã o ............................................. 253 SE G U N D A P A R T E : CO M U N IC A Ç Õ E S OU M E N ­ SA G E N S .......................................................................... Cap. 1.° — H istórico do Espiritismo moderno . . Cap. 2.° — Mensagens de caratcr profano . . . Cap. 3.° — Mensagens de carater religioso —A re­ ligião e s p i r i t a Cap. 4.° — Ainda as mensagens — A rcencarnação

259 262 272 287 314

T E R C E IR A P A R T E : C O N S E Q U Ê N C IA S LÓ G I­ CA S v í . . . . 335 337 Cap. 1.° — Superstição c cepticismo . . . 342 Cap. 2° — I m o r a l i d a d e ...................................... 356 Cap. 3.”— I.oucura e suicidio . . 379 Cap. 4.” — Condenação . . . . 379 I : Pela autoridade religiosa . . . . 383 I I : Pela autoridade c i v i l ............................... 386 C o n c lu sõ e s......................................................... E xortação f i n a l ....................................................... 403

PREFÁCIO O E spiritism o apresenta-se-nos com o um a congérie d e coisas m isteriosas. E ntre estas p a ­ rece h aver fatos incontestáveis ao lado de frau des inúm eras e inegáveis. Com o distin ­ gu ir uns dos outros? C om o d iscern ir a reali­ dade da frau de? O m eio seguro que nos assiste para conhecerm os a verdade c distin guirm o-la da frau de, da ilusão e do erro, é a nossa ra­ zão. P ela razão iios distan ciam os dos an i­ m ais. Nós não conhecem os a ve rdade inlultivaniente. In tu itivam en te apenas percebe­ m os os prim eiros princípios u niversais e. d es­ tes nos servim os para chegarm os ao alcance das verdades m ediatas. Os nossos sen tidos lam bem são m eios que nos levam à posse da verdade, m as eles não nos proporcion am logo plena certeza da ob jetivid a d e daqu ilo que percebem os por m eio deles. A preen dem e tran sm item sim ­ plesm en te as prim e ira s im pressões do que acontece fora e den tro de nós, im pressões es­ sas que devem os su jeitar ao exam e da razão para apurar-lhes o conteúdo d e verdade, de falsidade ou d e ilusão. Seria insu ficiente e su perficial estu dar o E spiritism o som ente À LUZ DOS FATOS. O físico que procede cien tificam en te não se

— 10 — conten ta com os contornos e as aparências dos fatos. Procura descobrir a causa intim a e até as leis que dirigem a produ ção dos fe ­ n ôm enos que se lhe oferecem ao exam e. Com esta análise chega a estabelecer a realidade dlos fatos físicos. S em elh an tem en te, tem os de p roceder com respeito ao E spiritism o. Para não ser­ m os taxados de su perficiais e incienlificos, in­ cu m be-nos indagar qu al a n atu reza intim a dos fenôm en os espiritas, qual a causa que os p ro ­ duz, e, con sequentem ente, indagar se êles a creditam ou não as M ENSAGENS que o E s­ piritism o oferece a seus crentes. E’ só pelo raciocínio que conseguim os apu rar a verda(io a esse respeito. E is ai o terren o firm e, porque neutro, em o qu al só é p ossível aceitarem -se discu s­ sões sobre o E spiritism o; é o único terreno em que podem os terçar arm as com espiritas para apu rarm os a natu reza e a o b jetivid a d e dos fenôm en os e m ensagens. V erifican do o absoluto acordo dos fatos espiritas com essas prim eiras verdades, conseguirem os concluir para a realidade deles e afirm ar a sua ín ti­ m a natureza. A p ró p ria ciência exige conhecim ento das coisas pelas causas. Onde não há conhecim en­ to das causas íntim as, onde só se consideram os fenôm en os externos, não há ciência. Q uerendo, pois, tratar do E spiritism o cientificam en te, escolhem os para este livro um titu lo que m ais correspondesse à nossa fin alidade:"O ESPIRITISMO À LUZ DA R A ­ ZÃO," De-fato, preten dem os exam inar, den -

— 11 — tro d esta oficina das ciências, os dados do ESPIRITISMO. A tirá-los-em os para den tro do cadinho da razão e os irem os distribu in ­ do em secções logicam en te concatenadas. Só assim esperam os restabelecer a verdade. Só assim esperam os e v ita r a im ensa confusão a que os espiritas arrastam os seus a d ve r­ sários. Não será im odéstia nossa se afirm arm os que o nosso esforço represen ta um progres­ so na literatu ra an ti-espirita em lingua p o r­ tuguesa. Geralm ente, os au tores que nos p re ­ cederam fizera m obra de polêm ica; e é sabi­ do que as polêm icas nunca obedecem a um plano preestabelecido, -porque, em regra, um con ten dor atrai o outro para terren o im p re­ visto. A lem disso, os nossos predecessores tra ­ çaram -se um program a restrito: ou o estu­ do cientifico de um a só parte do problem a espirita, ou um estudo geral, mas sem feição cientifica. E assim , no prim eiro caso, estu ­ dam apenas um lado da questão, — ou os fenôm en os, ou as m ensagens, ou as causas, ou as consequências, ou a teoria. E, no segundo caso, escrevem livros despidos de aparato científico, sem notas, sem citações au toriza­ das, e, não raro, recheados de an edotas inverídicas c de h istórias insulsas. Procu ran do ev ita r todos os escolhos, to ­ m am os ainda o ensejo de ensinar a doutrina católica nos pon tos em que ela é negada ou con trovertida pelos espiritas. A ssim , não nos conten tam os em refu tar o erro espirita: forn ecem os arm as para a defesa do catecis­

— 12 — m o e dem on stração do dogm a católico. De ver que a S agrada E scritura, neste particular, é o nosso m aior arsen al de provas. S obretudo, esten dem o-nos na refutação dos érros m ais dissem inados e, para serm os com pletos, nos valem os da B íblia, assim co­ m o da F ilosofia. D este m odo, aí ficam três categorias de argu m entos: teológicos, filo só ­ ficos e populares, estes tom ados de em p résti­ m o à lógica n atural, ao bom senso. Isto, de acordo com as várias categorias de leitores que nos lerem a obra. Sc tiverm o s conseguido estabelecer a verdadeira origem dos fenôm en os; se tiver­ m os redu zido a seus ju stos lim ites o valor das m ensagens; se tiverm os m ostrado os desas­ trados efeitos do E spiritism o, ju lgam os ter al­ cançado o nosso escopo: glória de D eus, ser­ viço do Brasil, p réstim o à sociedade. Tudo isso pelo êxito, m aior ou m enor, com que ti­ verm os afastado do perigo espirita tantos m i­ lhões de alm as que se acham en redadas cm suas m alhas constritoras. E algum êxito esperam os, fiados na p ro­ teção d a Mãe da Graça, MARIA, a quem d e­ dicam os este trabalho. Tudo para m aior gló­ ria de Deus! Os A utores.

INTRODUÇÃO Plano Geral Inegável é a existência de dois mundos bem distintos c separados, — isto é, dois tea­ tros em que há cenas e personagens de or­ dem com pletam ente diferente: 0 Mundo VI­ SÍVEL e o Mundo INVISÍVEL. Inegável é tam bém a relação existente entre esses dois mundos. Seus habitantes po­ dem com unicar-se entre si. Sobre o m odo, porem , das com unicações, não estão de acordo os sistem as doutrinários conhecidos. Reduzim os a três pontos a questão sobre as com unicações: O C ristianism o, — admite com unicações razoaveis, restritas, espontâneas; O M aterialism o, — não admite com uni­ cações. O E spiritism o, — adm ite com unicações am plas, contínuas e provocadas. Exam inem os as afirm ações ou ensina­ m entos de cada sistem a.

CRISTIANISMO Deus, — espírito puro, ato puríssim o, en­ te necessário e eterno, — criou: a) E spíritos, ou substâncias incorpóreas intrinsecam ente independentes da matéria, criados inocentes, dos quais uns perm anece­ ram bons, são os anjos, — e outros se torna­ ram maus, e são os dem ônios. São invisíveis uns e outros. b) Corpos, ou substâncias corpóreas, — uns organizados, ou vivos; outros, inorgâni­ cos ou inanim ados; os prim eiros, sem pre com­ postos, e os segundos ou elem entares ou com­ postos; todos são m udáveis, ponderáveis, estensos, e caem sob a ação de um ou m ais dos cinco sentidos do homem . c) O hom em , que participa das duas substâncias precedentes, por ser com posto de corpo, — ou substância corpórea, e alm a, — ou substância incorpórea. Pela m orte, o corpo se resolve nos seus elem entos m ateriais prim itivos, e a alm a, que é espirito, segue um destino definitivo, pas­ sando a fazer parte do Mundo Invisível. Tudo que Deus criou c contingente c re­ lativo. Só Deus é Ente necessário e absoluto. E xistem relações ou com unicações entre o Mundo V isivel, — o homem , e o Mundo In­ visível, — Deus c os anjos. Mas essas relações, ordinariam ente, são invisíveis. Só extraordinariam ente, — c por modo de m ilagre, — c que poderão ser visí­ veis. D este m odo se explica que os espíritos se tornam visiveis ao homem .

Os ensinam entos do Cristianismo tem por base a R evelação D ivina e a razão hum ana. A prim eira é contida na Escritura Sagrada e na Tradição. A segunda, em uso no homem são, é dirigida pela Lógica, natural ou cien­ tífica. MATERIALISMO “E’ o sistem a filosófico que considera a m atéria com o a única realidade no m u n do.” (1) Nega com unicações entre o Mundo V isí­ vel e o Invisível, porque só adm ite o Mundo Visivel. Afirm ando que tudo no U niverso é resul­ tado das condições ou da atividade da m até­ ria, o M aterialismo nega a existência de Deus e da alma. P ode-se dizer que D em ócrito, o inventor do atom ism o e que viveu no V século antes de Cristo, foi o prim eiro escritor m aterialista; p elo m enos, foi o prim eiro que negou a exis­ tência da alma. T eve por contin uad ores: E picuro, na Grécia, Lucrécio, cm Roma. Para eles, tudo se resum e nos átom os, c estes são eternos e cegos. Nos tem pos m odernos, Jordano Bruno foi o pioneiro dos m aterialistas. “A matéria, — disse ele, — é a m ãe de todos os viven tes.” Mas a idade clássica do M aterialismo co­ m eça com La M eifric (1709-1751) e o barão H olbach (1723-17S9). Segundo eles, tudo o que (1) CONSTANTJN OUTBEKLET, In T he CntlioUc E n «•yclopeilín, Xe«- York. ai t. Moterialliim. vol. X.

— 16 — se supõe existir fora da natureza visivel é criação da im aginação do hom em . Foram se­ guidos por V oltaire e pelos E nciclopedistas. Mais tarde, B uechner (1824-1895), M oleschott (1822) e Vogt (1817) tiraram as últim as con­ sequências deste sistem a. “ 0 pensam ento, — afirm a Vogt, — é m era secreção do cérebro, com o a b ilis o é do figad o.” 0 p o sitivism o, de A ugusto C om te, que se abstem de afirm ações sobre o m undo invisivel, e o tran sform ism o ou darw in ism o, de D arw in, que faz o homem vir do m acaco, são apenas feições m odernas do m aterialism o, porque, em últim a análise, negam a ação de Deus no m undo, e negam a espiritualidade da alma. N otem os, por fim , que o Materialismo se opõe a toda doutrina filosófica espiritualista ou idealista. ESPIRITISMO “É um conjunto de doutrinas e de práti­ cas encam inhadas a obter a com unicação do hom em com os espíritos do outro m undo.” (2) 0 Espiritism o adm ite os dois m undos, o visivel, constituído dc hom ens, e o invisivel, constituído de espíritos. Admite tambem co­ m unicações contínuas c sensíveis entre os ho­ mens e os espíritos. Estes se m anifestam por fatos ou fenôm enos estraordinários, quase sem ­ pre m ediante um rito especial com que o hom em provoca a m anifestação. E é justa(2)

R evista ••Juvcnttid CnUWkn”, PB- 41.

— 17 — m ente pela existência desses fenôm enos ex­ traordinários ou transcendentais, supostos reais, que o Espiritism o entende demonstrar a realidade das com unicações dos espíritos com os hom ens, com unicações de toda ordem : pueris ou sérias, individuais ou gerais; sobre assuntos profanos: receitas m édicas, literatu­ ra, ciência; ou sobre assuntos religiosos; tal é, por exem plo, a revelação de uma religião toda nova. Tais com unicações, que form am quase to­ do o sistem a espirita, são provadas, assim afirm am , pelos fenôm enos transcendentais que se verificam nas sessões. Esquecem -se os es­ piritas de p ro v a r que, de fato, as causas desses fenôm enos são os espíritos ou alm as desen­ carnadas, com quem pretendem com unicarse. É o que iremos verificar. Antes, porem, de chegarm os lá, cumpre exam inem os os m esm os fenôm enos em si, cumpre indaguem os se, de tantos fenôm enos estupendos, ao m enos al­ guns são reais, autênticos, provados, inegá­ veis. N D aí a tríplice divisão desta obra: I - FENÔMENOS OU FATOS ALEGA­ DOS. II - COMUNICAÇÕES OU MENSAGENS III - CONSEQUÊNCIAS LÓGICAS * No Prim eiro P on ts porem os os fenôm e­ nos, exam inarem os a sua realidade, indaga­ rem os a causa, procurando saber se esta é

— 18 — D eus, os anjos, os dem ônios ou as alm as dos defuntos. No Segundo, verem os se as com unicações, com o nova revelação sob o ponto de vista religioso, m erecem fé. No Terceiro, verificada a realidade e pro­ cedência dos fenôm enos, assim com o a natu­ reza das com unicações, discorrerem os sobre as consequências do Espiritism o com o reli­ gião e com o sistem a, isto é, verem os qual o resultado prático que ele oferece para o in­ divíduo, para a fam ilia, para a sociedade, em relação a esta e à outra vida. NOÇÕES PRELIMINARES ESPIRITISMO E OCULTISMO. Os fen ô­ m enos espiritas, considerados em globo, são m ultíplices e sum am ente com plexos. Muitos, é claro, não m erecem a atenção do estudioso, porque estão ao alcance da habilidade hum a­ na ou explicam -se pelas leis conhecidas da psicologia. Quanto a outros, nem todos pre­ cisam de exam e porm enorizado, visto como um exam e genérico explica os casos particu­ lares. E stabelecidos alguns fatos de com uni­ cação com os mortos, fatos certos e provados, está dem onstrada a possibilidade de outras com unicações nas m esm as circunstâncias. Os fenôm enos rasteiros, reais ou im agi­ nários, devidos, m uitas vezes, à fraude, per­ tencem ao B aixo E spiritism o, — o chamado Espiritism o de Terreiro ou M acum ba, — e já foram esm iuçados e até ridicularizados por escritores de toda classe.

— 19 — Dirigirem os nossa critica para os fenôm e­ nos extraordinários, notórios, relatados por sábios e pessoas fidedignas. O Espiritism o vu lgar não passa de uma explicação pronta e côm oda de fenôm enos ocultos. Verdade é que tais fenôm enos são, às vezes, exam inados; com o, porem , nas ses­ sões de baixo espiritism o, falta, por com ple­ to, o rigor da verificação científica, deles não nos ocuparem os. Para termos noções claras acerca do Es­ piritism o, — científico ou vulgar, — cumpre que digam os algo sobre o OCULTISMO que, através dos tempos, fo i o antecessor e prepara­ dor do atual Espiritism o. O O cultism o pode ser: a) Prático, lam bem denom inado CABA­ LA ou MAGIA. b) Científico. O prim eiro é péssim o, pernicioso. A m a­ gia negra sem pre se caracterizou pela prátitica de todos os m alefícios e pelo com ércio com os defuntos, com o se pode ver já em H o­ rário (3) e A puleio (4). O cientifico não trata de práticas religio­ sas. Ocupa-se da in \estigação dos fatos, pro­ cura determ inar as causas dos fenôm enos, busca a verdade; não invade o terreno da re­ ligião. Seus cultores, m uito num erosos na Ale­ m anha, não adm item reencarnação e absteem-se de evocar os mortos. O Ocultismo científico assem elha-se m uito ao E spiritism o (3) (4)

HORÁCIO, Sat. c o n tra CnutiUn. Epôdos, V. M etam orfoses ou Aninus AnrenH, pnsslm .

— 20 — E xperim en tal. Am bcs fazem sessões, ditas ex­ perim entais; os espiritas procuram , antes de tudo, satisfazer sua curiosidade, e os ocultistas se em penham em estabelecer a verdade objetiva do fatos. SESSÕES ESPIR ITA S, (4-a) — Seus agen­ tes. Tratam os das sessões fam iliares, on de se po d e su por haver algum a sinceridade e nas quais, p o r hipótese, falta a razão de fraude e o desejo de enganar. Sessões espiritas, pois, são reuniões fam iliares de crentes, que que­ rem entrar em com unicação com os habitan­ tes do Alem , — os espíritos, isto é, com os desencarnados, com o afirm am eles. São as se­ guintes as figuras principais de uma sessão: a) M édium , que é o agente principal, é o elem ento in term ediário entre os crentes e os espíritos. É o m eio de que se servem os es­ píritos, para se porem cm com unicação com os vivos. S egundo a afirm ação dos espiritas, o m édiu m é a pessoa capaz de fornecer ao es­ pírito parte de seu fluido, sem o que o espíri­ to não pode m anifestar-se. “ O espírito, sepa­ rado, pela m orte, da m atéria grosseira, não pode atuar m ais sobre esta, nem m anifestarse com o m eio hum ano, sem o concurso de um a força ou energia que o organism o de um ser vivente lhe proporcione. T oda pes­ soa susceptível de subministrar, exteriori­ zando-a, esta força, é m édiu m ”. (5) A Cons(4-a) L im itam o-nos a rep ro d u zir o que escrevem os autores. (5) AI.LAN KARDEC. In strn etio n s prn«lqncn Hur le SpIrUIsmc. a rt. íncdium. E Livro dou m édiuns, piiHxlui. — LÉOX DENIS, Dniw 1’inviaiblc, pg. G2-G3, donde tiram os a citação supra.

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21 —

tituição físico-psiquica ou organização espe­ cial, — inata, natural, — pela qual uma pes­ soa tem o privilégio de ser m édium , chamase m ediu nidade. A m ediunidade, afirm am ainda, é susceptível de desen volver-se, d im i­ nuir-se e perder-se. Pode ser dom hereditário. c) Guia ou operador. É o espírito do Alem , que se com unica com os presentes por m eio do m édium . Este, dizem, trabalha sob o im pério ou inspiração do espirito guia. O' espirito é a causa prin c ip a l; o m édium , a cau­ sa instru m ental. E’ uso em pregar-se a p ala­ vra In teligência, em vez de espírito guia ou operador. (6) TRANSE. — Agindo, geralm ente, sob o im pério do espírito operador, o m édium passa para um estado m ental especial, cham ado transe. De todos os fenôm enos espiríticos, é o m ais im portante, sem dúvida. E ’ um estado de arrebatam ento em o qual o m édium pare­ ce não pertencer m ais a si; age com o uma m áquina, sob a direção do espirito com uni­ cador. O transe resulta num a dupla m od ifi­ cação da pessoa do m édium : a) Quanto ao corpo, este se torna insen ­ sível, ou quase insensível, devido ao estado de letargia em que caiu e, sob este aspecto, o transe é um estado que arremeda o êxtase dos santos. (D iabolus est D ei sim ius). b) Quanto à m ente, a im aginação do m é­ dium é superexcitada, e a exaltação, afirm am (6) O «splrltlam o lnglOs, segundo M alnage, adm ite um e sp irito cham ado controle, o qual servo de Interm e­ d iário e n tre os esp írito s e os m em bros de um a sessáo. E ’ um a espécie de m édium de lá p a ra cá, um pouco d ifere n ­ te do gnln dos e sp irita s co n tin en tais.

— 22 — os espiritas, transporta-a para um mundo sup ra-sensivel; ao mesm o tempo, a inteligên ­ cia do m édium não funciona e a vontade é tolhida ou mesm o com pletam ente abolida. Para operar, o m édium ordinário deve cair em transe, no qual ou entrará espontanea­ mente, ou hipnotizado pelo experim entador ou por outro assistente; o médium forte, porem, pode funcionar m esm o sem estar em tran­ se. O estado de transe m uito se parece com o sonam bu lism o hipn ótico e tem algum a coi­ sa do sonam bulism o natural. (7) Como o transe sonam búlico da hipnose, o transe mediúnico pode ser p a ssivo ou ativo : no pri­ meiro caso, o m édium está com pletam ente im ovel; no segundo, m ovim enta-se, em obe­ diência ao guia. A razão fisiológica do transe explica-se, segundo Grasset, pela dissociação dos centros nervosos. O Psiquism o S uperior ou Centro “O ” dissocia-se do P siquism o In ferior ou Polígo­ no a que M yers chamou Sublim in al, c outros cham am Subconciente. Pela dissociação, o centro “ O” paralisa-se. Só o sub-lim inal ou subconciente é que age. (8) Os espiritas dão outra explicação da fi­ siologia do transe. O m édium cai ein transe, dizem, desde que seja obrigado a abandonar uma parte m aior ou m enor de seu fluido, a favor de um espirito livre no espaço. (9) (7) BOIRAC, I,'a v e n ir des .science* pHj-ehologl.nie«, pg. 261. Cf. tam bem “ O espiritism o, ucls conferen cias", do Pc. dr. V alérlo A. Cordeiro, pg. 13. (8) Dr. GRASSET, Idée* m édicales, llbr. Pion. Paris, pg. 4 e 13. (9) Dr. POODT. Lo* fenômeno* m isterioso* dcl psluulsm o, pg. 282.

— 23 — A lgum as condições particulares. — Todo indivíduo, afirm am os espiritas, pode ter o dom da m ediunidade; umas pessoas, porem, são m ais aptas do que outras, visto com o a m e­ diunidade depende da constituição individual. O m édiu m , em geral, é um indivíduo m uito sen­ sível, — an orm al, nevrosado; p ode-se dizer que a m ediunidade é sem pre uma m odalida­ de do h isterism o. Se é certo que nem todo histérico é m édiu m , é certo que todo m édiu m é histérico. Os m édiu n s m ais célebres foram , desde crianças, sujeitos à auto-hipnose; de uma fantasia excessiva, próxim a da halucinação, bem cedo produziram fenôm enos es­ pontâneos de m ediunidade. (10) Ligada a uma disposição fisiológica e, ao mesmo tempo, p sicológico-idiosincrásica, a m ediu n idade é ainda segredo em p sicolo­ gia. (11) P retende-se até que seja d ote here­ ditário, c, a-propósito, cilam -se casos de crian­ ças de nove dias (V alentina K irkup), de seis meses (K alie F ox) e de dois anos (Essie Mott), as quais, sendo filhas de m édiu ns, m a­ nifestaram fenôm enos de m ediunidade pre­ coce. (12) Os m édiuns distribuem -se em três gru­ pos: a) Físicos, — os que, de preferência, são instrum entos para a m anifestação de fen ô­ m enos fisicos: levitação, transportes, etc. b) Psíquicos, — os que o são de fenôm e(10) MAN'S ARNOLD, SeNsOes E sp irita» , Pgr. 23-66, E d ito ra “O P en sa m en to ”, S. Paulo. (11) Id, Ibid.. Cap. Sonam bulism o, pg. 34. (12) Id, Ibid.. SenfiüeH E sp irita s, pg\ 28-39 e p*\ 61. E ditora "O Pensam ento". S. Paulo.

— 24 — nos m entais: vista dupla, telescopia, psicom ctria, epigaslria, etc. c) Físico-psíquicos, — os que fazem os dois grupos de fenôm enos, ou os fenôm enos de natureza m ista, com o escrita automática, etc. A uma destas três classes pertencem quaisquer dos m édiuns geralm ente citados: videntes, sensitivos, pneum atógrafos ou es­ creventes, psicógrafos, tiptológicos, audientes, ou ouvintes, psicôm etras, xenoglóticos (xe n oglossia), etc. CONDIÇÕES PRÁTICAS D A S SESSÕES ES­ PIR ITAS. — Para a organização de um cír­ culo. afirm am os espiritas, exigem -se condi­ ções quanto a local, pessoas, t e m p o ... Pessoas, — que sejam sim páticas aos e s ­ píritos. O fluido com um de todos os assisten­ tes aum entará a força do m édium . H á-de ha­ ver a direção do pensam ento de todos para iun m esm o fim . (13) N ú m ero de pessoas — D evem ser poucas. Segundo Gijcr (14), hão-de ser, no m áxim o, 10. T odavia, conform e a força do m édium , pode-se aum entar o núm ero dos assistentes da sessão. (15) Local, — que seja reservado e silencioso. H averá um gabinete à parte; é ai que o m é­ dium se isola e se concentra antes das sessões. (13) HANS HARNOLD, Senates E sp trlta s, pg. 105-108. R dltora “O PcnBamento". S. Paulo. (11) Dr. E. GYEL, EapirltlHmo, pg. 42. L lv ra rla G ar­ nier. Rio. (15) HANS HARNOLD, SessCes E ap lrltas, pg. 97-98.

— 25 — T em peratu ra do am biente: fresca. N un­ ca dem asiado quente. L uz, — fraca. Pod e ser aum entada de acordo com a força do médium . F enôm enos à plena luz só se dão em ca­ so de grande força mediúnica. O Dr. Gatterer cita vários casos de escri­ ta, a lapis, verificados com D. Silbert, sob luz elétrica intensa e até d e dia. (16) (C om o j á disse m os, lim ita m o -n o s a q u i a r e la ta r o qu e escrev e m os a u to re s , som e n tra r m o s em a p re c la ç 5es h is tó ric a s e f ilo só fic a s).

DIVISÃO Deixando de parte o que pode ser exp li­ cado pelo subconciente do m édium e dos as­ sistentes, assim com o tudo o que poderia ser atribuído a truque ou fraude, conciente ou inconciente, irem os tratar apenas de fen ô­ m enos certos; e não de quaisquer fenôm enos, que talvez pudessem ler explicação natural, m as sim de fenôm enos “m aravilh osos”, — a que cham am os transcen den tais ou supranorm ais, isto é, que parecem exceder todas as forças hum anas, e devem ser atribuídos a in ­ teligências exíra-terrenas. Verem os:

(16)

Pg. 83 do livro citado adiante.

PRIM EIRA

PARTE

FENÔMENOS OU FATOS ALEGADOS Tratando dos fenôm enos transcendentais, exam in arem os: A - RELATÓRIO DOS FENÔMENOS SUPRANORMAIS. B - REALIDADE DOS FENÔMENOS SUPRANORMAIS. C - CAUSAS DOS FENÔMENOS SUPRANORMAIS. NO TA : H e re d ia (1 7 ) e o u tro s ( 1 8 ) p r e te r e m o n o m e de F e n ô m e n o s P s íq u ic o s p a ra os F e n ô m e n o s S u p e rio re s o u s u p ra n o rm a ls . O te rm o p síq u ico n o s p a re ce Im p ró ­ p rio ; p rim e iro p o rq u e n ão d e n o ta , p o r si, o c a r a te r m a ra v ilh o so e d e p r e te r n a tu r a lld a d e q u e re v e s te ta is fen ô m e n o s, e, se g u n d o , p o rq u e p o d e r e f e r ir -s e a q u a l­ q u e r fa to re la tiv o & in te lig ê n c ia h u m a n a e é, n e ste se n ­ tid o , qu e se e m p re g a g e ra lm e n te , d a m e sm a fo rm a q u e o s o u tr o s te rm o s da m e sm a ra iz , com o p siq u ism o , p s i­ c o lo g ia. Se d isse rm o s fo rç a p síq u ica , n in g u é m e n te n ­ d e rá q u e fa la m o s de fo rç a o c u lta o u e x tra - te r r e n a . (17) O E spiritism o e o Bom Senso. (18) D. OTÁVIO CHAGAS D E MIRANDA, “ Os fenô­ menos pslquteos e o E sp iritism o ”. E ' o titu lo do livro.

— 28 — A e x p re ssão F e n ô m e n o s S u p ra -n o rm a is d u sa d a pelo d r. P o o d t e o u tro s. ( 1 9 ) G ra s s e t e os o c u ltis ta s em g e ra l p re fe re m d iz e r F a to s o c u lto s. E sta ex p re ssão ta m b e m n ã o é e x a ta , p o rq u e o s fe n ô m e n o s n ã o são o c u lto s; a c a u sa d e le s é q u e é o c u lta . R ic h e t c rio u a ex p re ssã o F a to s M e tap síq u ico s, — isto é, — fenO men o s q u e e3tão a le m d o a lc a n c e d a in te lig ê n c ia h u m a n a . E sta é q u e se ria a e x p re ssão p re c isa , m a s e v itam o s em p re g á -la , n ã o 6ó p o rq u e é pou co c o n h ec id a, como ta m b em p o rq u e se pod e a p lic a r fo ra do te rr e n o do E sp iritism o . E ’ m u ito g e ra l. R e fe rin d o -n o s, pois, a F e n ô m e n o s T ra n sc e n d e n ­ ta is , F e n ô m e n o s S u p r a -n c rm a is ou F e n ô m e n o s U ltraF fsicos, q u e re m o s f a la r d o s F e n ô m e n o s P s íq u ic o s dos o u tro s a u to re s , isto é, o s fe n ô m e n o s q u e te m : * a ) com o in s tru m e n to o m é d iu m , b ) com o c a u sa p rin c ip a l, u m e n te in te le c tu a l oc u lto , c) com o fo rg a d e q u e se se rv o o a g e n te in te le c tu a l, a lg u m a e n e r g ia g e ra lm e n te d e sco n h e cid a . Os fen ô m e n o s m e ta p s íq u ic o s se d iv id e m e m : a ) F e n ô m e n o s p a ra p síq u ic o s, b ) F e n ô m e n o s p a ra ffsic o s. Os p r im e iro s são os d e o rd e m p u r a m e n te p s íq u i­ ca, com o a te le p a tia , e se d izem a ssim p a ra se d is tin ­ g u ire m do s fen ô m e n o s p síq u ico s c o m u n s. Os se g u n d o s s ã o os de o rd e m físic a , e s e d izem a ssim p a ra se d is­ tin g u ire m d os fen ô m e n o s físico s n o rm a is o u n a tu ra is , com o os d a le i d a g ra v id a d o , etc. P a r a n o s o rie n ta r m o s n e ste la b ir in to q u e é o E s ­ p iritism o , v a lem o -n o s de u m a c e n te n a d e o b ra s esp e ­ c ia liz a d a s, ta n to a n tig a s com o m o d e rn a s. (10) Dr. POODT, Loa fenOmenos m isteriosos de] Pal. qtilNmo, versilo espanhola de Joaq u im F u ster, pp. 222 e paeslm . Ed. Sucessores Ju a n GUI, B arcelona.

— 29 — P a r a a v e rific aç ão d o s fe n ô m e n o s u ltra -físic o s, — q u e é a b a se d e to d o tr a b a lh o do fe itio do n o sso , — se g u im o s p rin c ip a lm e n te o liv ro a lem ã o W lsse n ch a ftlic h e r O cc u ltism u s, — se in V e r h a e ltn is z u r P h ilo so plile, do sá b io je s u ita U r. G a tte r e r , 192 7 . N o B ra sil n ã o e sta m o s em c o n d içõ es d e v e rif ic a r p e sso a lm e n te o q u e se p a ssa n o E sp iritism o . A s n o ssa s U n iv e rsid ad e s não se p reo c u p am com e ste s a s su n to s. P e lo qu e , fom os o b rig a d o s a se rv ir-n o s d e tr a b a lh o s e s tr a n g e iro s e te re m o s de, rto d e cu rso d e ste tr a b a lh o , m e n c io n a r a lg u n s f a to s q u e o d r. G a tte r e r te v e o ca­ siã o d e v e rif ic a r p e sso a lm e n te , em c o m p a n h ia de o u ­ tr o s o b se rv a d o re s fid ed ig n o s e h a b ilita d o s c ie n tific a ­ m e n te p a ra isso.

P R IM E IR A

FENÔMENOS

P A R T E

OU FA T O S

ALEGADOS

CAPÍTULO

I

I - RELATÓRIO DOS FENÔMENOS SUPRANORMAIS: Passarem os em revista dois GÊNEROS de fenôm enos: EXPERIMENTAIS e ESPO N­ TÂNEOS. PRIMEIRO GÊNERO: FENÔMENOS EX­ PERIMENTAIS ou PROVOCADOS. Estes se dividem em duas espécies: 'O bjetivos, ou Parafisicos, e S ubjetivos, ou Parapsiquicos. A — FENÔMENOS EXPERIMENTAIS:

1) - TELECINÉSIA, ou m ovim ento à dis­ tância, LEVITAÇÃO, ou suspensão -no ar, TRANSPORTE, ou adução de objetos. Aos fenôm enos ordinários das sessões ex­ perim entais pertencem os m ovim entos de objetos ponderáveis, sem con tad o do m édi­ um ou de qualquer pessoa presente. É o cha­ m ado m ovim en to à distân cia, fenôm eno que

— 34 — C harles R ichet denom inou com o nome grego de T ele d n é sia (20). Quando os objetos ou o próprio m édium não só se levantam no ar, m as ate perm anecem algum tempo suspen­ sos, com o a pairar, sem apoio, e cm franca infração da lei da gravidade, o fenôm eno sc chama, propriam ente, L evitação. Se os obje­ tos não são do recinto, m as procedem de fo­ ra, o fenôm eno se chama transporte, em francês " a p p o rt”. Os m ovim entos não se desenvolvem con­ form e as leis físicas ordinárias. Os objetos fazem percursos com plicados, às vezes vaga­ rosam ente, às vezes rapidam ente, com o trans­ portados por uma força inteligente. As nossas fon tes dc inform ação, a respei­ to desta espécie de fenôm enos, são os livros do D r. G atterer, jesuila, de C harles Richet, fisiólogo francês, e do barão S chrenk-N otzing, psiquiatra alem ão. As obras deste últim o au­ tor foram acrem ente criticadas por diversos sábios, m as os fatos por ele narrados foram, em gran de parte, exam inados e autenticados p ela S ociety fo r Psychical Research (S. F. P. R. ou S. P. R .), de Londres. Aceitam o-los com a reserva que deve fazer quem só quer a ver­ dade. Por agora, deixando dc parte o exam e desses fatos, apraz-nos citar os m édiuns que (20) T elcelnéüla 6 composto de Tcle, de longe, I íineln, mover. Richet, Ignorando as leis da tran sllto racu o . escreveu T eleltlnesln, com k. Mas 0 sabido que o k grego se tra n s llte ra p a ra c em latim , r o r exemplo, com , c lro . cfnemn. clulsm o, cético, etc. que em g rego se escrevem k ero , k lrlo s, klnem n, klnlsniog, skcptlcox, etc.. Q uanto ít pronúncia, profer.m os dlzcr telccluéxia, em bora reconheijainos que lambem telcclnexln ê certo.

— 35 — m ais se notabilizaram nesta espécie de fenô­ m enos. E stan islaw a T om czyk, polaca, de Varsó­ via. A sua mediunidndc se m anifestou aos 20 anos de idade, estando ela fraca, doente, em estado de extrem a nervosia. Quando o m édi­ co lhe fazia um a receita, o tinteiro com eçou de m over-se com grande espanto dc todos. D esde então Estanislaw a se deu ao espiritis­ m o, operando sob a direção do Dr. J. Ochoroloicz, em Varsóvia, e de Von Schrenk-Notzing, em Munique. Durante a elevação dos objetos, veem -se form ações filam entosas no espaço, o que faz pensar em frau des. As sessões são realizadas em am biente claro, à luz branca. O m édiu m está sem pre cm estado de sonam bulism o, e diz-se dirigido pelo seu guia in visível Olga, espírito de uma m enina que falecera aos dez anos de idade. Ensúpia Palladin o, italiana, 1854-1918, en­ tregue ao espiritism o desde os 12 anos, atri­ buía os seus fenôm enos telccincticos à m ísti­ ca personalidade de “John K in g ’’. De n e­ nhum a instrução, quase analfabeta, Eusápia, entretanto, era de grande sagacidade natural. Muito viva, foi apanhada cm fraude duran­ te as experiências de Gambridge, na Inglater­ ra. Operou, por m uito tempo, sob a direção dc vários cientistas, com o C ourtier, E. B ranly, P. Curie, 3. Perrin. G. V. S ch iaparelli, Lom broso e outros. D o protocolo das investigações dos exp e­ rim entadores salientam os os seguintes fatos: D eslocam ento e levitação de objetos pesados.

— 36 — D iferença de peso do m édium durante as experiências, diferença para m ais e para m e­ nos, registada autom aticam ente por uma ba­ lança sobre a qual Eusápia se encontrava. Fenôm enos de natureza não definida. Toques e apalpadelas denunciados por alguns assis­ tentes. (21) Tendo sido descobertas algum as frau des da parte de Eusápia, a S. P. R. suspendeu as experiências; m as tantos foram os testem u­ nhos posteriores, que a Sociedade resolveu reassum ir o serviço, chegando, enfim , segun­ do afirm am , a estabelécer a realidade de m u i­ tos fenôm enos ocultos. E usápia trabalhava quase sem pre em transe, abrangendo a sua esfera de ação um raio de um m etro apenas. Luz m uito fraca. De uma feita, conseguiu levitar uma m áquin a -de-escrever que pesava quinze kilos. Os ob­ jetos em m ovim ento seguiam direção em zizue-zague, cam inhos tortuosos, com o para evi­ tar ferir os assistentes. (22) K athleen Coligher, americana, num am­ biente fam iliar conhecido com o nom e de Cir­ culo Coligher, operou sob a direção do engenlhciro W . J. C raw ford. (23). T endo-se este suicidado em .30 de julho de 1920, encarregou previam ente, por carta, o seu am igo F ournier

— 37 — d ’A lbc, dc continuar as experiências. Fourn ier descobriu frau des, devidas à cooperação da fam ília do m édiu m c, em vista disso, não só concluiu que as suas experiências pessoais não acharam fenôm enos supranorm ais, como lam bem que Grawford tinha lido confiança dem asiada nas pessoas do circulo. (24) Crawford chama “op eradores” aos espí­ ritos serviçais. O fenôm eno principal foi sem ­ pre a elevação da mesa, sem contacto. Varia­ ção de peso do m édium , com dim inuição até de vinte kilos. Crawford supôs que os opera­ dores form avam um mem bro m ediím ico, — a “alavanca p síq u ica ”, — com m atéria tirada do corpo do m édium , e era essa alavanca que m ovia a mesa. Pedindo ele, uma vez, aos o pe­ radores que dim inuíssem o m áxim o de peso do m édium , sem prejudicar-lhe a vida, veri­ ficou que Coligher perdeu, na experiência, 21 kilos, quase a m etade do peso total de seu cor­ po. A perda não foi uniform e. Até 13 kilos foi vagarosa c ritm ada; daí por diante rápida e com contrações m usculares. W illi S ch neider e R u di S chneider, irmãos, apresentaram as m ais recentes experiências sobre m ovim ento à distância. Estes m édiuns eram filhos de um tipógrafo, José Schneider, de Braunau, Alem anha. (25) W illi, segundo dizem, m anifestou faculd a­ des m ediúnicas desde 16 anos de idade. De de­ zembro de 1921 até fevereiro de 1922 realizou (24) PAUI-. HEUSI5, Oíi o» o.xt In M(-tnii.iycIil
— 38 — 104 sessões em Munique sob a direção de Von Schrenk. Vive ainda. Interessantes são algum as observações de Von Schrcnk acerca das qualidades pessoais deste m édium : “W illi é inclinado à mentira, ao desperdício, à dissipação, à vida perdulá­ ria, à basófia. Gosta de vestes elegantes, de lu­ xo; frequenta cinem as e teatros. É im oderado no uso de charutos. Às vezes, m ostra-se amavel e m odesto. Bem que norm al, revela dis­ posições um tanto histéricas.” (26) Quando em transe, W illi se diz dirigi­ do pelo espírito cham ado “Mina.” Em tran­ se e na vigília, o m édium denuncia duas per­ sonalidades m uito diferentes, em flagrante contraste uma com a outra. W illi deu sessões experim entais peran­ te a U niversidade de Munique (A lem anha), a Universidade de Viena (Áustria) e com is­ sões da S. P. R., de Londres. R udi, irm ão de W illi, e no qual se incor­ porava o espírito cham ado Olga, realizou tambem m uitas sessões positivas, das quais relatarem os algum as daqui a pouco. Ainda sobre telecinésia e transporte m e­ recem lem bradas as experiências de Zõllner com o m édium Slade, e as sessões das Senho­ ras V ollh art e M aria S ilbert. (27)

SiSÍ*Si

-

39 —

A-niiutlc, a telecinésia é acom panhada de fenôm enos lum inosos e auditivos. 2)

TELEPLASTIA, ou M aterialização.

O fenôm eno m ais surpreendente e, m es­ mo, o mais discutido e posto cm dúvida, do hodierno ocultism o, c o cham ado Teleplaslia ou e c lo p la s m ia .. . (28). Surgem form as fantásticas, m em bros, m ãos e até fantasm as inteiros, vivos e anim ados. Iiá, prim eiro, um sim ples filam ento, uma form ação esponjosa e indistinta, que se avolum a e se condensa até form ar o membro ou o fantasm a. E’ o periodo de MATERIALIZAÇÃO. Depois, a for­ m a fantástica se dilui, se sutiliza, regride: é o período de D esm aterialização. Num caso e noutro, o espectro é ligado ao corpo do m é­ dium, e parece estar em sim biose com ele, p ercebendo-se a ligação, entre o m édium e o fantasm a, por m eio de um filam ento a que chamaram “cordão u m bilical.” A 'desmate­ rialização é, quase sem pre, rápida, e feita por obscurecim ento dos contornos ou por reabsorção no corpo do m édium . N otabilizaram -se nesta espécie de fe n ô ­ m enos os m édiuns seguintes: F lorence Coolc a qual, em 1873, durante quatro m eses, trabalhou com o sábio C rookes, em Londres. Em presença do m édium pbysIkallRchen Phaeuom ene d e r r r o u e n Medlen, pg. J25-273. (28) Tclei>liiN«ln, do grego, q u e r dizer form oçao no longe: _ te lc - longe, plmaso, . fo rm ar. E cto p ln sm la. - fo rm aoáo dc dentro pa ra fo ra: e x tes, — fora. Uxtoplnsiun, como term o de zoologia, já era usado a n tes de IUchot. S ignifica: zona perifé ric a do p ro to p lasm a da ameba.

— 40 — aparecia um fantasm a fem inino, m uito pa­ recido com o m édium , e que se dava o nome de Iialie King. Esse fantasm a-fêm ea ca­ m inhava no recinto, conversava com os as­ sistentes, oferecia presentes. Oito anos mais tarde, Florence Cook, tendo trocado de nome e passando a cham ar-se Comer, foi apanhada em fraude. Ela, e o fantasm a que pretendia m aterializar, eram uma só pessoa. (29). Além disso, o m édium Douglas H om e, que, durante m uitos anos, tinha trabalhado sob a direção de Crookes em sessões experim en­ tais, afiançou a C am ilo F lam m arion que a en­ cantadora e gentil senhorita Florence Cook havia ludibriado o bom de Crookes no epi­ sódio de K atie King. (30) Tudo isso fez crer que as cenas de Katie King não passavam de uma farça pregada a um velho, dem asiado crédulo, por uma moça, bastante esperta. Não obstante, Crookes, que era m íope c que nunca tocou no fantasm a, eslava convencido da realidade deste. “Tenho absoluta certeza, — disse ele, — que K atie K in g e Florence

Cock, são duas individu alid ad es com pleta­ mente d iferentes.” EVA CARR1ÈRE, francesa, nossa con­ temporânea, e cujo nom e verdadeiro é M arta B éraud, realizou m em oráveis sessões na Vi­ la C arm en, em Argel (Á frica), em presença do G eneral N oel e sua esposa, em 1905. O cientista francês C harles R ichet foi a princi­ pal figura entre os assistentes. Durante as sessões apareceu o fantasm a de B ien Boa, antigo grão sacerdote de Golconda, c que era frequentem ente acom panhado pelo fan tas­ ma de sua irmã B ergolia. Tais sessões foram em 1905, e já em 190G o c/r. Roubij, após in­ quérito rigoroso, chegou à conclusão de que a jovem Marta Béraud havia representado, perante Richet, um a im pagavel com édia. Tu­ do não passara de um grotesco conto-do-vigário. Rouby cita o testem unho dos árabes Aleski e Mary, criados do General Noel, e que haviam sido com parsas ou cúm plices da m istificação. Cita ainda o testem unho de Mme. Cochet, do sr. e da senhora P ortal, todos eles presentes às sessões. A liás, o pai de Marta, e ela própria, de­ clararam a Mme. M ersault que, tanto Bien B oa com o B ergolia, tinham sido produto de uma brincadeira. Fora tudo uma m istifica­ ção. Declararam isto a diversas pessoas, em ­ bora a protagonista, Marta Béraud, para não desconcertar o sábio Richet, sem pre lhe ga-, rantisse a realidade do fantasm a. (31) (31) PAUL HEUSÊ, Oú cn eat la M etnp.ychlqne, psr. 115 e seguinte«.

— 42 — Mais tarde, Marta Bérautl, já então Eva Carrière, tornou-se m édium de Mme. B isson e realizou sessões experim entais com Richcl, em Paris, com Sch ren k-N olzing, em Muni­ que, com G. G eley e perante com issões da S. P. R., de Londres (1920), e da Sorbona. G. Geley confessa ter visto m em bros m ateriali­ zados, — dedos, m ãos e cabeças. D iz ele: “Vi u m crâneo vivo cujos ossos toquei debaixo do cabelo denso. “ (32) E, com excessivas m i­ núcias, descreve o resultado de todas as ses­ sões, em que apareceram ectoplasm as ou fantasm as. Observemos, porem , que o relatório da Sorbona sobre as experiências com Eva Carriere foi “in teiram en te n e g a tivo " e que o da S. P. R. ficou reservado, por só se terem da­ do fenôm enos sem im portância. (33) F ranek K luski, polaco, de Varsóvia, p oe­ ta, entregou-se ao espiritism o e trabalhou junto à S ociedade Polaca para P esquisas Psí­ quicas. O fenôm eno m ais singular que dizem ter-se dado com Franek foi a m aterialização de um espírito, em form a de anim al. Tratase de um m onstro, — cara de macaco, corpo de cachorro, — que passeou no recinto, lam ­ bendo e faTejando os assistentes. Chamaramlhe an tropopiteco, nome criado pelos trans­ form istas para designar o hipotético inter­ m ediário entre o hom em e o m acaco. (32) RICH ET, GrnndzueBC (H‘r PHrniiHycholojglc der PnrapcjoliophjM lk, pg. 315. G. GELEY, D le sog. »uprnnorm nle Physlologie tiud dle Phnciiom ene d er Idcoplnatle, 1920. (33) PAUL HEUSC. obra cilada, pag. 12G e seguintes. V eja-so no fira o re la tó rio da Sorbona, assinado por Louis Laplcque, G eorges Dum as, H en rl P lóron e H enrl L auglcr.

— 43 — Vindo para Paris, em 1920, Franek tabalhou no In stituto M etapsiquico, sob a di­ reção de R ichet, A. de G am ont e Geleij. Aí, alem de provar as m aterializações fotografica­ m ente, Franek obteve dos espíritos que eles deixassem a im pressão dos mem bros em d e­ pósitos de parafina colocados junto do m é­ dium. Dessas m oldagens tiraram-se reprodu­ ções positivas, em gesso, representando m ãos e pés dos espíritos. (!) E’ de ver que a novi­ dade fez época; é de ver tambem que a frau ­ de se insinuou facilm en te no novo processo de provas das m aterializações, e isto não só nas sessões científicas com o nos centros sus­ peitos. (34) M aria S ilbert trabalhou com o barão Von Schrenk, com Oesterreich, H arler e Auer, (1921-1922.) As sessões de D. Maria Silbert tem aspecio assom brador e deprim ente, p or­ que são caracterizadas, sobretudo, pela fre­ quente visita de fantasm as m aterializados. Para com pletar a nossa exposição, e dis­ tinguir o que pode ser real, do que é franca­ m ente produto da fan tasia ou da frau de, tra­ duzim os os relatórios de algum as sessões fis ­ calizados pelo Dr. G atterer, jesuita, e por ou­ tros, reservando para ulterior capítulo o exa­ m e crítico dos fenôm enos alegados.

(34) O. GEL73Y, M nlcrjnllxatloonphuenniiiciie F rn u c k K lunkl. LelpziK. 1022. G. GKLER, Hc-llcsehen-TeIcpustlk, vs. 177. SCHRENK-NOTZING, M aterlnllxatlons Phucnom cne, vs. 030.

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EXPERIÊNCIAS PESSOAIS DO P. DR. G ATTERER S. J. As investigações sobre o ocultism o en­ tram pela m aior parte no cam po das ciências 'çxperim entais. Para estas, são indispensá­ veis observações e experiências. Sendo pro­ fissional em ciências naturais, o Dr. G alterer timbrava em ap roveitai-se de toda ocasião para fazer indagações, ç estabelecer observa­ ções cientificas acerca dos fenôm enos ocul­ tos. A idéia de que a investigação católica es­ tava, neste terreno, alc hoje, quase abando­ nada às referências alheias, o estim ulava m uito à experiência própria. Acolheu por isso, gratam ente, os convites que recebeu de várias partes, para convencer-se de visa da realidade dos fenôm enos ocultos. Da bem ri­ ca experiência que adquiriu, escolhem os ape­ nas alguns trechos e resultados m ais notá­ veis; m as, para serm os exatos, referirem os nesta secção as próprias palavras do relator, devidam ente traduzidas. FE N Ô M E N O S COM R C D I SO H N E ID E R E m 17 (le ja n e ir o de 1925 a n u í ao c o n v ile a m av e l do D r. A. B a rã o (lo S c h rcn k -N o tzin g , p a ra a s s is tir, no seu la b o ra tó rio , em M un iq u e, a u m a se ssão com R iid i. A -fim -de d a r id é ia e x a ta do q u e se ja u m a se s­ são, vou r e la tã -la m a is e s te n s a m e n te , de m o d o q u e, n a s s e g u in te s, possa re s trin g ir- m e ao essen c ia l. N a ta rd e do d ia m a rc a d o fu i á casa do B a rão S c h ren k , bem a n te s d a h o r a d a se ssão . D epois de brev e c o n v ersaç ão 110 e sc ritó rio , fo m o s a o la b o ra tó ­ rio p a ra exam in á -lo m in u c io sa m e n te . E ’ lo c al q u a d ra -

do, de ta m a n h o r e g u la r . C o n fo rm e in d ic a o d esen h o a nex o, um c a n to d a sa la é s e p a ra d o com o g a b in e te p o r c o rtin a p r e ta , q u e se p ode a b r ir e fe c h a r. T a m ­ bém a s p a re d e s in te r n a s do g a b in e te são c o b e rta s com p ano p re to . P o r e xam e cu id ad o so , c o n v en cí-m c de q u e n ão h a ­ v ia n as p a re d e s acesso se c re to q u e p u d e sse p e rm itir a e n tr a d a de cúm p lic es. U m a p a re d e do g a b in e te é e x te r io r ; o fu n d o d a secgão p u d e v e rific árlo do c o r­ re d o r c o n tíg u o . Ao la d o d ir e ito d a c o rtin a , jà fo ra do lo c al escu ro , e n c o n tra -se u m a p o r ta fe c h a d a , s e la d a

G ráfico n.o 1

— 46 — com u m a ti r a de pa p el, n a q u a l e s tá le g ív el a in d a o no m e D in g w al, m e m b ro d a S. P . R ., le m b ra n ç a d e u m a se ssão a n te r io r . N a f re n te d a c o rtin a , a c h a m -s e d u a s m e sas com o b je to s, q u e d evem se rv ir p a ra o p e ra çõ e s de te le c in é sia , m o v im en ta çõ e s à d is tâ n c ia : v io lin o , ta m b o ril, b a stõ e s fo sfo re sc e n te s , c a m p a in h a , a rg o la s, m a rim b a , c o n c e rtin a , etc. T o d o s sã o r e v e stid o s d e m a­ té r i a f o rte m e n te fo sfo re sc e n te , d e m odo q u e p o ssa s e r n o ta d o , com b a s ta n te se g u ra n ç a , o sitio d e les, m e s­ m o em c o m p leta escuT idão. E m r e d o r d a s m e sin h a s, p a ra a fre n te , h á u m a e spécie de b iom bo , f o rra d o de v éu p re to , m a s tr a u s p a re n te , o q u a l de v e im p e d ir, n ã o a o b se rv a çã o , m a s sim , q u a lq u e r in tro m issã o f ra u d u le n ta d o s e sp ec tad o d o res. E sse biom bo é, de um la d o , lig a d o com a p a­ red e , de o u tr o fica c e rc a d e 50 c tm s. d is ta n te d ela. Em r e d o r do biom bo, p o r* fo ra , e stã o os a sse n to s dos esp ec tad o re s. * Às o ito d a n o ite , n a h o r a d e te r m in a d a , fu i à a n ­ te -s a la , o n d e v á rio s c o n v id ad o s j á e sta v a m re u n id o s : o G e n e ra l P e d ro , con h ec id o e s c r ito r e s p ir ita , v á rio s p ro fe sso re s d a U n iv e rsid a d e d e M u n iq u e, e n fim o ve­ lh o S c h n e id e r com o filh o R u d i, d e 16 a n o s, q u e v ai f u n c io n a r com o m é d iu m . R u d i d á a im p re ssão de r a ­ p az sa d io , v ig o ro so , e te m a p a r ê n c ia sim p á tic a , m o ­ d e sta . D epois de c u m p rim e n ta r a to d o s oã c o n vid ad o s, o B a rã o von S c h r e n k c h am a os q u e v ie ra m p e la p ri­ m e ira vez, ju n ta m e n te com o m é d iu m , p a ra se u g a ­ b in e te d e tr a b a lh o , o nd e R u d i, so b c o n tro le m in u c io ­ so, v e s te o tr a j e d e te rm in a d o p a ra a s sessõ es. C o n sis­ te em c a lç a s la rg a s e p a le tó lev e, im p re g n a d o , n as a rtic u la ç õ e s do s p és o m ão s, de m a té r ia fo sfo re sc e n te , p a rn q u e o c o n tro le do m é d iu m p o ssa s e r feito a té no e scu ro e p o r to d o s os e sp e c ta d o re s. D epois de e sta rm o s co n v en c id o s de q u e R u d i n ã o te m co n sig o q u a lq u e r m eio ou a p a r e lh a m e n to m ecâ n ico d e f ra u d e , e n tra

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47 —

ele, a co m p a n h a d o po r uóa, n a a a la d a se ssão , In sp ec­ c io n ad a pouco a n te s . Som os em n.° de 12; c ad a u m to m a lu g a r: S c h ren k N o tz in g no a sse n to n.° 1 ; n o q u a d ra d o p r e to , o m é ­ d iu m ; em S e 9 os c o n tro la d o re s. A lu z c la r a e b r a n ­ ca é s u b s titu íd a p e la v e rm e lh a , r e d u z id a p o r um reó sta to . D epois dc poucos m in u to s, cai o m é d iu m em tr a n s e com a lg u n s e stre m e c im e n to s . Os c o n tro la d o re s se g u ra m a s m ã o s e os pés do m é d iu m . I m e d ia ta m e n ­ te a n u n c ia e ste, co ch ic h an d o , q u e c h eg o u a “ in te li­ g ê n c ia ”, d a q u a l se c rê p o ssu id o e d o m in a d o em tr a n ­ se. " O lg a ” a n u n c ia -s e , p e la voz do m é d iu m , com “ D eus te s a lv e ” , o q ue é resp o n d id o pelos p re se n te s. S c h re n k já m e tin h a e x p lica do a n te s q u e, com o os m é d iu n s são e s p ir ita s , — c o n seq u ê n cia d e s u a e d u ­ cação e rr a d a , — d evem os, b om o u m a u g r a d o , con­ d e sc e n d e r com s u a s id é ias, se q u ise rm o s o b te r r e s u l­ ta d o n a s se ssõ es; q u a n to a ele, e sta v a c o n v en c id o de q u e niso n ão se tr a t a v a d e in te rv e n ç ã o do v e rd a d e i­ ro s e sp írito s, m a s d e m a n ife sta ç õ e s m ú ltip la s d a p e r ­ so n a lid a d e , pelo im p é rio d a c h a m a d a su b c o n clê n cia. P o r e sse m o tiv o , o d ir e to r d a s e x p e riê n c ia s d irig e a “ O lg a ” v e rd a d o iro d isc u rso d e sa u d a ç ã o ; u m a m i­ go tin h a tra z id o a té u m ra m a lh e te d e v io le ta s. E m se g u id a, são a p re s e n ta d o s os a s s is te n te s , u m p o r u m , p a ra q u e “ O lg a ” q u e ira m o s tra r os se u s b elo s fe ito s, s e r g e n til p a ra com o s no v o s h ó sp e d e s e não n o s d e ix a r e s p e r a r m u ito . D ep ois de u m a h o r a in te ir a , d u r a n te a q u a l n a d a se deu d e im p o r ta n te , d e s e ja “ O lg a ” q n e q u a tr o s e n h o ­ re s d e ix em n snln, e n tr e e les ta m b é m o g e n e r a l P e d r o e S c h n e id c r p a i. A sse n tam o -n o s, u m p e rto do o u tr o e, a d e sejo do m é d iu m , fo i-se a lte r n a n d o u m a c o n v ersaç ão a n i­ m a d a a o som do g ram o fo n e . A d v ertid o p elo v iz in h o , perc eb o qu e o p a n o p re to q u e c o b ria o s in s tru m e n to s

— 48 — d a m e sa e s ta v a se n d o tir a d o ; n o to a in d a o m o v im en ­ to d a c o rtin a do g a b in e te , re c o n h ec ív el pelo b a lan ç am e n to d a s tir a s fo sfo re sc e n te s a ta d a s a e la. D u ra n te a m a rc h a a le g re , m a rc a v a “ O lg a " o c o m p asso com o b a stã o fo sfo re sc e n te . F in a lm e n te m o v im en ta -se o v io ­ lino, à m in h a f re n te ; v ai su b in d o e d e scen d o p o r ci­ m a d a m e sa e to c an d o a m a rc h a com to q u e s r e tu m ­ b a n te s. Com tu d o isso, n ã o p erco d e v is ta o m é d iu m ; os b a rb a n te s de m ã o s e pés e sta v a m em seu lu g a r. D os e sp e c ta d o re s ouv e m -se a c la m aç õ e s se m p re m ais a n im a d o r a s ; o e x p e r im e n ta d o r e sfo rç a -se p o r te m p e ­ r a r o e fe ito . D ebalde. S e m p re m a is r e tu m b a n te s se to r n a m a s p a n c a d in h a s. P e rce b e-se, pelo som , q u e o in s tru m e n to e s tã a c h a ta d o ; c o n tin u a , p o rem , a m a r ­ c a r o c om passo e x a ta m e n te , e m b o ra com ta n ta v io­ lê n c ia q u e , em d a d o m o m e n to , cai em p ed aç o s. O u­ tr o s fe n ô m e n o s p ro d u z id o s sã o ; f o rte m o v im en ta çã o d a c o rtin a , to q u e fra co d a c o n c e rtin a , to q u e do ta m ­ b o ril, o e rg u e r e p a lra r n o a r, d a c a m p a in h a , q u e é to c a d a e, em se g u id a , a tir a d a p o r c im a do b io m b o , ao pé de u m a a s s is te n te . F in a lm e n te o u v e-se g r a n d e b a ­ r u lh o a tr á s do b iom bo, no re c in to de e x p e riê n c ia . T o­ d os os o b je to s d e ita d o s cm c im a d a s d u a s m e sin h a s 6ão la n ç a d o s u n s p o r cim a do s o u tr o s ; a s p ró p ria s m e sin h a s fin a lm e n te d e rr u b a d a s , a c o rtin a e o b io m ­ bo v io le n ta m e n te p u x a d o s em se n tid o c o n trá r io . E m luz c la r a v e rific o u -se o h o r r o r d a d e v asta çã o . D u ra n te um in te r v a lo , d e sen ro lo u -se e n tre o B a­ rã o S c h re n k c m im u m a p e q u e n a c o n v ersa, o u v id a pe­ lo m é d iu m , q ue tin h a v o lta d o ao e sta d o n o rm a l. E m se g u id a , c o n tin u a m o s a se ssão com lu z v e rm e lh a ; m as, nã o a p a re c e n d o m a is o u tr o s fen ó m e n o s, fo i te rm in a d a a sessão. S e g u e o p ro to co lo ex ato d a se ssão , o q u a l fo i d ita ­ do d u r a n te a m e sm a pelo B a rão S c h re n k a u m a esten ó g r a f a , lo c a liz a d a n o fu n d o d a sa la.

SESSÃ O D E 17 D E JA N . D E 1 0 2 5 Com R u d i S c h n c id c r, 110 la b o ra tó r io do D r. B a rã o Ton S c lire n k -N o tz in g , em M u n iq u e. P R E S E N T E S : D r. K a e m m e re r, m ed ico , p ro f. n a U n iv e rsid a d e de M u n iq u e ; D r. K a r l G ru b e r, p ro f. de z oo lo g ia n a P o lité c n ic a d e M u n iq u e ; D r. K u r t S lerp , p ro f. o rd . de b o tâ n ic a n a U n iv e rsid a d e d e M u n iq u e ; D r. em filo so fia A. G a tte r e r , p ro f. no I n s titu t o d e fi­ lo so fia , le n te a g re g a d o n a U n iv e rsid ad e de In n s b ru c k ; G e n e ra l P e d ro ; D r. em m e d ic in a e filo so fia K rle g , le n ­ te a g re g a d o ; S tu d ic n r a t L a m b e r t ( S t u t t g a r t ) ; p in to r E b e r s ; e s c r ito r S c h u lte - S tr a th a u s ; c o n d essa A .; S ch n eid e r, p a i; d ir e to r d a s e x p eriên c ia s. O sr. P ro f. G a tte r e r , d e I n n s b ru c k , à s 3 e m e la h o ra s, p ro ce d eu a ex am e m in u c io so do la b o ra tó r io , in ­ c lu siv e d a s p a re d e s, e c o n v en c eu -se de q u e n ã o h a v ia a ccesso po ssíve l ao g a b in e te , n e m d e fo ra , n em d e d e n tro , n e m p o r c im a do te lh a d o . O CO N T RO L E PR É V IO DO M ÉDIUM fo i e fe tu a ­ do no g a b in e te d e tr a b a lh o do d ir e to r d a s e x p e riên c ia s pe lo Sr. P r o r . S lerp ., P ro f. G a tte r e r e D r. K rie g . O m é d iu m foi m in u c io sa m e n te e x am in a d o e m to d o o c o r ­ po, a té n a c av id a d e d a bo ca, in c lu siv e n a riz e o u v i­ d os. D a m e sm a f o rm a os v e stid o s do m é d iu m , n a s d o b ra s e c o stu ra s. R e su lta d o n e g a tiv o . R u d i c alç a b o ­ tin a s com a ta c a d o r e s ; u sa m e las, c am isa, cu eca, co la ­ r in h o e g r a v a ta . P o r c im a d a p r ó p ria c alç a, v e s te a in ­ d a c a lç a e c a s a q u in h o p e rte n c e n te s ao d ir e to r d a s ex­ p e riê n c ia s, a m b o s g u a rn e c id o s com b a rb a n te s fo sfo ­ r e sc e n te s em r e d o r d a s a rtic u la ç õ e s d a s m ã o s e pés. CO NDIÇOES DAS E X P E R IÊ N C IA S : O b io m b o q u a d ra n g u la r s e p a r a , com o d e c o stu m e , o re c in to d e e x p e riê n c ia s do d o s e sp e c ta d o re s. A a b e r tu r a , do la d o do m é d iu m , e n tr e o b io m b o tr a n s p a r e n te e a c o rtin a do g a b in e te , é de cinco c e n tím e tro s. D e n tro do c am ­

— 50 — po de e x p eriên c ia s e n c o n tra m -se d u a s m e sin h a s, colo­ c ad a s n m a ao la d o d a o u tr a . S o b re a p e q u en a m e sa do f u m a r e s tá o ta m b o r il e u m b a stã o fo sfo re sc e n te . So­ b re a m e sa d e 4 p é s e n c o n tra m -se c o n c e rtin a , v io li­ no, a rg o la s fo sfo re sc e n te s , c a m p a in h a , a lem de u m r a ­ m a lh e te de v io le ta s, tr a z id o pelo sr . S c h u lte - S tr a th a u s p a ra "O lg a " , e to r n a d o v isiv el p o r um b a rb a n te fo sfo ­ r e sc e n te em re d o r d a s h a ste s . Ao la d o d a m e sin h a h á u m cesto d e pa p éis. A d is tâ n c ia do m é d iu m ( o m b ro s) a té a a b e r tu r a (m eio ) d a c o rtin a é de l,m .2 0 . A s 8,40 h o ra s, Inicio d a se ssão . A 6 ala d e expe­ riê n c ia s fica f e c h a d a p o r d e n tro , à ch av e. A p ag a -se a luz b ra n c a . O R D E M D E A SS E N T O S : C O N T R O L E DO M áD IU M : P ro f. G ru b e r, no c an ­ to d ire ito , S c h u lte - S tr a th a u s , d ep o is D r. K rie g , E b ers, C on d e ssa A., P r o f . G a tte r e r , S t u d le n r n t L a m b o rt, P ro f. Sierp , e x p e rim e n ta d o r. 2.* F IL E IR A — G en e ra l P e d ro , S c h n o id e r, pai. O p ro f. K a e m m e re r, c h eg a d o com p e q u en o a tra s o , à s 8,44 h o r a s e n tra no circ u lo . 8,4 5 : com eço do tr a n s e , p rim e iro com fra co , dep o is c&m f o rte e stre m e c im e n to . S ,4 9: “ O lg a ” a n u n c ia -s e com “ D eu s v o s s a lv e ! ” 8 ,5 0 : “ O lg a " d e s e ja p a u sa de 16 m in u to s, a -fim de q u é p o ssa s e r v e n tila d a a sa la , d e m a sia d a m e n te a q u e n ta d a . 8,6 2 : o m é d iu m a c o rd a. P a u s a d e 16 m in u to s. 9 ,0 5 : O s a s s is te n te s re to m a m os se u s lu g a re s nos a s s e n to s a n te s a ssin a la d o s. A lu z b ra n c a é a p a g a d a , a p o r ta f e c h a d a p o r d e n tro . 9 .0 8 : O m é d iu m cai em tr a n s e com f o rte e stre m e ­ cim en to . E ’ a p a g a d a a lu z v e rm e lh a . T o d o s os p re se n ­

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te s c o n tro la m -se m u tu a m e n te , se g u ra n d o -s e p e las m ão s e fo rm a n d o c o rre n te s. A lem d isso , e stã o a sse n ta d o s tã o p e rto u n s dos o u tro s, q u e n in g u o m d e fo ra p ode p a s s a r a c o rre n te . 9.0 9 : “ O lg a ” p e d e c o n v ersaç ão v iv a , 9 .4 0 : " O lg a ” d e s e ja que o Sr. G e n e ra l P e d ro , P ro f. S lerp ., U r. K rlc g e S c h n e id er, p a i, a b a n d o n e m , p o r e n q u a n to , a, sa la . 9 .4 2 : T ro c a de c o n tro le . P ro f. J a e m m e r e r su b stlt u e o P ro f. G ru b e r. A c o rr e n te é .r e d u z id a , de m o ­ do qu e o s a s s e n to s do s a u s e n te s fiq u em o c u p a d o s p e ­ lo s p re se n te s. 9 .5 0 : A d e se jo de " O lg a ”, a 6 e c r c tá r la fnz o g r a ­ m o fo n e to c a r v á ria s p e ça s (m a r c h a s e d a n ç a s) com r itm o m u ito d is tin to . 1 0 .0 5 : N ov a tr o c a d e c o n tro le . 1 0 .2 2 : L ev e s m o v im en to s d a c o rtin a . O p a n o p r e ­ to , com q u e o s o b je to s d e cim a d a s m e sas fo ra m co­ b e rto s , p a ra d im in u ir o s e u e fe ito fo sfo re sce n te, fo i t ir a d o p o r m ã o Invisível. 1 0 .2 6 : O sr . E b e r s a n u n c ia s e n tir c o rr e n te f ria d e a r. 1 0 .2 7 : O b a lan c eio d a c o rtin a , m o rm e n te da m e ta d e do la d o do m é d iu m , é m u lto v iv o ; m a io re s e x cu rsõ es do s b a rb a n te s fo sfo re sce n tes . 1 0 .2 8 : “ O lg a ” m a rc a , com o b a stã o fo sfo re sc e n ­ te , o com p asso p a ra a m a rc h a to c a d a pelo g ra m o ­ fo n e. 1 0 .3 0 : O v io lin o co m eç a a m o v im e n ta r-se . T o ­ qu e co m p assad o , com c re sc e n te fo rç a. O v io lin o cal ao chão. 1 0 .3 1 : O P r o f . S ierp r e o c u p a o lu g a r a n te r io r . 1 0 .3 1 : N o v a tr o c a do c o n tro le . E m lu g a r do sr. E b e rs, a c e ita de novo o c o n tro le o s r. K am m e re r. “ O lg a ” e s ta b e le c e n o v a o rd e m d e a sse n to s. E n q u a n to e sse d e se jo é c o m p rid o , o s r . S c h u lte - S tr a th a u s e n tra

— 52 — no re c in to d e e x p eriên c ia s, p a ra re c o lo c a r o v io lin o so ­ b re a m e sa, de ta l fo rm a q u e o cab o do in s tru m e n to fica sse v ira d o p a ra a a b e r tu r a d a c o rtin a . 1 1 .0 8 : A s o n d u la sõ e s d a c o rtin a reco m eg am . 1 1 .1 0 : T o q u es c o m p assad o s e c re sc e n te s do v io ­ lino. 1 1 .1 2 : M o vim ento s c o n tin u a d o s d a c o rtin a . vio lin o m a rc a c om passo fo rtíssim o .

O

1 1 .1 3 : V ee m e n tes b a lan c eio s d a c o rtin a . 1 1 .1 4 : O m é d iu m se n te-se a n im a d o a p e d ir m a io ­ re s fe ito s ; dep o is disso , o to q u e c o m p assad o do v io ­ lin o v a i s e m p re cre sce n d o a té d a r g o lp es v io le n to s. C o n tín u a s su g e stõ e s a o m é d iu m , d a p a rte do s a ssis­ te n te s , faz em c re sc e r a in d a d e v io lê n cia os fen é m en o s. A fo rç a d e se n c a d e a d a se d e sen v o lv e e d e sp e d a ç a o in s tru m e n to , a té q u e d ele n ã o r e s ta se n ão o cab o , co­ m o r e s u lta d a v e rific aç ão p o ste rio r. 1 1 .1 6 : T o q u e su a v e do ta m b o ril. 1 1 .1 7 : C om eçam to q u e s m a is su rd o s so b re a pele do ta m b o ril, com o com u m o b je to m eio d u ro , q u e po­ d e ria s e r um m e m b ro h u m a n o . A a la d a p o rtin h o la v ir a d a p a ra o m é d iu m m o v e-se p a ra tr á s ; os b a rb a n ­ te s f o sfo re sc e n te s c o m p rid o s são p u x a d o s, fo rte m e n te , p a ra o in te r io r do g a b in e te . 1 1 .1 9 : F a z -se e n tã o o u v ir a c a m p a in h a ; e le v a n ­ do-se no a r, é la n ç a d a p o r cim a do b io m b o , e cai ao pé da c o n d e ssa A. 1 1 .2 0 : A c o n c e rtin a m o v e-se; o u v e m -se a lg u n s so n s, a ssim com o um g o lp e de in s tru m e n to n a m esa. O p ro f. S ierp e o d ir e to r d a s e x p eriên c ia s e rg u e m -se p a ra m e lh o r o b se rv a r os fe n ô m e n o s p o r c im a do biom bo. 1 1 .2 1 : O ta m b o ril, d e ita d o n a m e sin h a d e p a lh a , é to c ad o , d e a c ô rd o co m o ritm o d a m ú sica , e, depois, a tir a d o ao chão.

— 53 — 1 1 .2 2 : O uve-se, dep o is, u m b a ru lh o e x tra o r d in á dio a tr á s do b iom bo, no re c in to d as e x p e riên c ia s. T o ­ do s o s o b je to s d e ita d o s n a s m e sas sáo a tir a d o s , co n ­ f u sa m e n te , u n s em c im a do s o u tro s, e a s m e sas, fin a l­ m e n te, to m b a m no chão. 11 .2 4 : E ’ lig a d a a lu z b r a n c a p a ra se v e rif ic a r o re s u lta d o d e ssas f o rte s in flu ê n c ia s. 11 .2 5 : k lu z c la r a , v e m o s a s d u a s m e sas v ira d a s no c h ã o ; por a{, em to d o s o s se n tid o s, os p ed aço s do v io lin o . A lem d isso, v e rific a m o s q u e o b io m b o , do la ­ do do m é d iu m fo i p u x a d o a té p e rto d a c o rtin a . No e n ta n to , n ã o p u d e m o s a p u r a r se esse f e c h a m e n to se d e u a n te s o u a p ó s d o ú ltim o fen ô m e n o . O d ir e to r p u x a a m esa m a io r p a ra tr á s d a c o r ti­ na, d e n tro do g a b in e te , e, so b re a m e sin h a de f u m a r, c oloca u m a c a ix in h a de m ú sic a de c ria n ç a , o ta m b o ril, a c a m p a in h a e u m a a rg o la fo sfo re sce n te. O e x p e rim e n ta d o r to r n a a f e c h a r o c am p o d e ex­ p e riê n c ia s, de m odo qu e a b e ira do b io m b o 'se u n a à ti r a fo sfo re sc e n te d a c o rtin a . 1 1 .3 0 : S egue p e q u e n a p a u sa , à s e s c u ra s, d u r a n te a q u a l o m é d iu m fica so b c o n tro le e p o d e d e sc a n sa r. O s a s s is te n te s fica m to d o s em se u s lu g a re s. 1 1 .4 2 : Os m o v im en to s d a c o rtin a rec o m eç am . 1 1 .5 0 : “ O lg a ” p e d e u m a p a u s a d e 1 8 m in u to s. C o n tin u a ra m d e p o is a s e x p e rin c la s n a s m e sm a s c o n ­ dições. 1 1 .5 5 : R u d i a c o rd a . 18 m in u to s d e p a u sa. D u ra n te e s te rec re io , no lo c al c o n tíg u o , e n tre te m se os p re se n te s so b re o r e s u lta d o ; e u m e sp e c ta d o r, q u e p e la p r im e ira vez em su a v id a a s s is tiu a u m a se s­ sã o , e x te rn o u a p o ssib ilid a d e d e u m do s p r e s e n te s te rs e in tro d u z id o no g a b in e te , e te r , fra u d u le n ta m e n te , p ro d u z id o to d o s esses fen ô m e n o s. Com e ssa f a l t a d e c o m p re e n s ã o d o v a lo r c ie n tífic o d o m é to d o , e r a d e ro -

— 54 — c c a r q u e a c o n v ersa, n m ta n to Im p ru d e n te , p u d e sse d e p rim ir o to lh e r a s disp o siçõ e s d o m é d iu m . 1 2 .1 2 :R e in fc io d a se ssão , com o d e co stu m e . 1 2 .2 2 : T ra n se . N ão se d a n d o , p o rem , m a is fen ô ­ m eno a lg u m , foi le v a n ta d a a se ssão à 1 h o ra . A c a u sa do fra c a sso d a ú ltim a p a n o d eve so r a trib u íd a à p e rd a d e d isp o siçã o d o m é d iu m , p ro v o ç a d a p e la o b se rv a ç ã o m e n c io n a d a so b re a po ssiv e l fra u d e . B a se ad o n a su a e x p e riê n c ia de m u ito s a n o s, S c h n e id er, p a i, p e n sa q u e o m é d iu m e sta v a h o je p a rtic u la rm e n te fo rte , e q u e te r i a d a d o r e s u lta d o ta m b e m a ú ltim a p a rte , se tiv e s s e sid o o m itid a n q u e lq c o n v ersa. 1 .0 6 : R u d l a c o rd a . O B SER V A Ç Õ ES F IN A IS DO D IR E T O R DAS E X P E R IÊ N C IA S O d e s e n r o la r d e s ta se ssão fo i s a tis f a tó rio , típ ico e a n á lo g o ao da s p re c e d e n te s . A d e stru iç ã o d o v io lin o , em ta n to s fra g m e n to s, p ro v o u q u e , p o r c o n tin u a s a n i­ m ações, são p ro d u zid o s e fe ito s v io le n to s e a té b r u ­ ta is ; e ste s podem d e g e n e ra r n u m a ta l c o n fu sã o d ç fe ­ n ô m e n o s, q u e to r n a Ilu só ria a so lu ç ão c e r ta d e fe n ô ­ m e n o s p re d e te rm in a d o s . N esse p a r ti c u la r p o d e-se m e ­ lh o r a r a in d a a d isposição d a s e x p eriên c ia s. N ão s e rá prec iso s a lie n ta r q u e a d isc u ssã o a c a ­ d ê m ica d a q u e stã o so b re se a lg u m do s p re se n te s te n h a f r a u d u le n ta m e n te c o o p erad o é sem fu n d a m e n to ; p a ­ r ec e a b s o lu ta m e n te excu sa d o q u e u m d o s p re se n te s te n h a p o did o p a ssa r, d e sp e rc e b id a m e n te , do se u lu g a r a té a tr á s d a c o rtin a . E x cu sad o , p rim e iro p o rq u e os a s s is te n te s e ra m to d o s p e sso as s é ria s , e , se g u n d o , p o r ­ q u e to d a tr a n s fe rê n c ia de lu g a r s e ria p e rc eb id a . A -fin a l é de n o ta r q u e o c irc u lo d e o b se rv a d o re s m u d a em c a d a se ssão e e m c a d a lu g a r. Com Isso se liq u id a e ssa o b je çã o te ó ric a .

— 55 — D epois de exam inado o protocolo, o Dr. Galterer enviou ao Barão von Sclirenk um su­ plem ento em que fazia várias objeções con­ tra os resultados obtidos, alegando certas p os­ sibilidades de frau des. Posteriorm ente, p o­ rem, em outras experiências, viu que suas objeções careciam de fundam ento, e aceitou com o reais os fatos telecinéticos aqui nar­ rados. SESSÃ O D E 5 D E O U TU B RO D E 1 0 3 5 COM RU D I, N A CASA DOS P A IS , E M BRAU N A U O s r . J. S c h n e ld e r, p a l do m é d iu m , p a ra tir a r- m e a s d ú v id a s, te v e a b o n d a d e, d e c o n v ld ar-m e m a is v ezes p a ra B r a u n a u . D u as sessõ es d lstln g u lra m -se p a rtic u ­ la rm e n te p e la rlq u o za de fe n ô m e n o s d e te le c in é sia e m a te ria liz a ç ã o . P o r isso p a sso a f a z e r o r e la tó r io d e las. A S S IS T E N T E S : M e d lc ln a lra t D r. E . R e h , C a p i­ tã o K o g eln ik , S. R lb el, o sr . e s r a . R a m sb a c h e r, p a i e m ã e do m é d iu m , a ssim com o o irm ã o m a is v elho, C a rlo s, com s u a m u lh e r R o sa , e o r e la to r D r. G a tto re r. A n te s d a se ssão tiv e b a s ta n te o c asiã o p a ra e x a ­ m in a r tu d o , m in u c io sa m e n te , no lo c al, m o rm e n te no c a n to do q u a rtò q u e d e v ia s e rv ir d e g a b in e te . D e m o ­ do a lg u m p u d e d e sc o b rir alg o d e su sp e ito . E m m in h a p rese n ça , S c h n e id er, p ai, p r e p a ra o g a b in e te . O so a lh o do c a n to e sq u e rd o do q u a rto é c o b erto com p an o p r e ­ to, d e K a té K v a i u m a c o rtin a p r e ta p e n d u ra d a , q u e s e a b re com c o rd a s, a p a r ti r do m eio. J a n e la I ( d e n ­ tr o do g a b in e te ) e ja n e la I I f o ra d ele, (a m b a s dão p a ­ r a a p r a ç a m u n ic ip a l) , sã o ig u a lm e n te c o b e rta s com p a n o p re to , a -fim -ú e qu e a lu z d a p ra ç a n ão p e n e tre no lo c al d a sessão . C ad a p a n o é p o r m im m in u c io sa -

— 56 —

m e n te e x am in a d o . A lim p a d a , em f re n te ao g a b in e te , e stá se n d o e m b a c ia d a com p ap el v e rm e lh o . De u m la ­ do d a c o rtin a ( K l ) , to r a d e la, o m é d iu m R u d l; à f re n ­ te d ele, o M e d ic in a lra t D r. E . R e h , q u e s e g u ra a s a r ­ tic u la ç õ e s d a s m ã o s d e R u d i e a p o rta a s p e rn a s con­ t r a a s s u a s ; se g u em e n tã o o s d e m ais a s s is te n te s ; q u a n ­ to a m im , floo no so fá ( K ) ,e m f re n te a R u d l. A dls-

— 57 — tã n c la d e ste à m e ta d e d a c o rtin a é d e l,m .5 0 . D epois de a c e sa a lu z v e rm e lh a , R u d l c al, p o r sl só, em t r a n ­ se. E m voz c o ch ic h ad a , a n u n c la -s e a " in te lig ê n c ia " qu e é s a u d a d a p o r to d o s, em c o ro : “ D eu s t e sa lv e, O lg a ! ” S c h n e ld e r p a i, a e x em p lo do B a rão v o n S c h ren k , faz u m d isc u rso d e b oas v in d a s. “ O lg a ” p cd o e n tã o 12 m in u to s do p a u s a . L u z b ra n c a . F a ç o q u e stã o de que n ln g u e m e n tr e no g a b in e te . R e com eça a se ssã o ; tr a n s e . N ad a su c ed e . P e r g u n ­ ta d a p elo m o tiv o , r e s p o n d e “ O lg a ” q u e o g a b in e te não e s tá s u f ic ie n te m e n te e sc u re c id o . E n tr o n o g a b in e te em c o m p an h ia do sr. C a rlo s S c h n e ld er. Iso la m o s a lu z b ra n c a e to rn a m o s a s a ir ju n to s . O lga p e d e m ú sic a e c o n v ersaç ão . C a n ta m -s e d iv e rs a s c a n tig a s p o p u la re s. A lg u n s do s p r e s e n te s d e c la ra m p e r­ c eb e r f ig u r a b r a n c a ; q u a n to a m im , n a d a en x erg o . C a rlo s c a l em tr a n s e , com o m é d iu m s e c u n d á rio . “ Ol­ g a " d e s e ja u m a p o ltr o n a ( c a d e ir a sem e s p a ld a r ) com c a m p a in h a . Coloco a m b o s em f re n te d a c o rtin a . D e-rep e n te , p õ e-se e s ta em m o v im en to v iv az, e n q u a n to a p o ltr o n a e s tá se n d o p u x a d a p a ra to d o s os s e n tid o s ; a c a m p a in h a m a rc a o cam p a sso p a ra a c an ç ão q u e 6e v a i e n to a n d o . Os m o v im en to s, a v iv a d o s p e las a c la m a ­ ções d os e sp e c ta d o re s, to r n a m -s e m u lto v e e m e n te s e desen v o lv e m -se à m in h a f re n te . C o n tin u a a c a m p a i­ n h a a s e r s a c u d id a , com o p o r m ão In v isív el, c o rtin a a d e n tro . D e -rep e n te é jo g a d a p o r cim a dos m e u s o m ­ bro s, to c an d o -m o ao de lev e. P o r in d ic aç ão do m é d iu m , " O lg a ” e n c o n tr a - a logo, a tr á s de m im . “ O lg a ” d e se ja q u e e u a se g u re em cim a d a p a lm a, p a ra tlr á - la d a í. S e g u ro , po is, a c am p a in h a em c im a d a p a lm a d a m ão, deb aix o d a lâ m p a d a . N a p o sição em q u e m e a c h a v a n ão p o d ia d e ix a r de a v is ta r q u a lq u e r do s p re s e n te s q u e te n ­ ta s s e c h e g a r p a ra p e rto de m im . A p ro x im an d o m in h a m ã o m a is um p ouco (1 0 cm .) d a c o rtin a , v ejo a p a ­ rec e n d o , d e -c h o fre, em d ire ç ã o à. fle c h a , u m a p e q u en a

— 58 — m ão. V ejo -a , pelo m ano s, tã o c la ra m e n te com o a m i­ n h a p ró p ria , à lu z v e rm e lh a , m a s m u ito p e q u e n a e de­ lic ad a . P e rce b o q u a tro d ed o s s e p a ra d o s, se m o p o le ­ g a r. A m ão e ra v isív el só a té a a rtic u la ç ã o . U m ta n ­ to tím id a e p rec av id a , fo i a m ão a p a lp a n d o , ao de le ve, a m in h a , s e n tin d o e u alg o d e frio h ú m id o . D e-rep e n te a p a n h a a m ã o zin h a a c am p a in h a e r e tira -a , jo ­ g a n d o -a com ra p id e z. F e ito isso, d e sap a re ce . A m a te ­ ria liz a ç ã o f o ra visiv el p elo e sp aço de 3 a 4 se g u n d o s. O dr. R e h c ertific o u -m e d e q u e c o n tin u a v a s e g u ra n d o R u d i. Os d e m a is e sp e c ta d o re s e ra m to d o s te s te m u n h a s d a a p a riç ã o , e não p o d ia m , n a s c o n d içõ es d á d a s, tô -la p ro d u zid o p o r f r a u d e ; a m ão sa iu p o r d e trá s d a co r­ t in a e e ra a n o rm a lm e n te p e q u e n a ; a d is tâ n c ia d o s a s ­ s is te n te s e ra m in lm a. E m s e g u id a , q u e r " O lg a ” to c a r o a la u d e . O in s ­ tr u m e n to e s tá p reso ao pescoço com a caix a d e re sso ­ n â n c ia . Com o a fisc aliz aç ã o se m e a fig u r a in su fic ie n ­ te , to m o e u e se g u ro o in s tru m e n to . A d e s e jo d a “ in te ­ l ig ê n c ia " , a p ro x im o -m e d a c o rtin a , e in c lin o e n tã o o in s tru m e n to p a ra m e u la d o e sq u erd o , em se n tid o co n ­ tr á r io ao do c írc u lo do s a s siste n te s, d e m odo q u e as c o rd a s fiq u em bem j u n ta s à c o rtin a . S eg u em -se e n ­ tã o puxões no in s tru m e n to , a o s q u a is re sisto p a ra v e ­ r if ic a r o g r a u de in te n s id a d e . D epois, a rr a n h õ g s n a s co rd a s, com o se a lg u e m p a ssasse a s u n h a s so b re e las b r u ta lm e n te . A clam ações a “ O lg a ”. N a ja n e la II, d e -re p e n te , to q u e s v e em e n tes . D e­ se ja -se c e rto n u m e ro de p a n c a d a s, e isso se faz e x a ta ­ m e n te . E u so lic ito : 2 g o lp e s rá p id o s e 3 v a g aro so s, o q u e , a p ó s p e q u e n a d e m o ra , se e x e c u ta p ro n ta m e n te . A o m esm o m odo f u i c o rresp o n d id o q u a n d o p e d i q u e se b a te ss e n a ja n e la I. E m se g u id a a ssu m o eu p ró p rio a fisc aliz aç ã o , m as, te n d o -s e v e rific a d o só m o v im en to s d a c o rtin a , e n c e r ­ r a m o s a se ssão , à s 11 h o r a s d a n o ite .

— 59 — S e m e lh a n te m ão m a te r ia liz a d a a p a re c e u m a is t a r ­ d e, v á ria s vezes, em o u tr a s o casiõ e s, com o n a se ssão d e 12 d e a b ril d e 1926. Com o e s ta a p re s e n ta m a is o u ­ tr o s p o rm e n o re s in te r e s a n te s , d e la faço a se g u ir, u m a de scriç ão , de a c o rd o com o p ro to co lo . SESSÃ O D E 1 2 D E A B R IL D E 1 0 2 « COM R U D I S C H N E ID E R , em casa d o s p ais. M EM BR O S D A SESSÃ O : P r o f . B e u le r ( Z u e r lc h ) , Sr. K ., c a p itã o K o g e ln lk e s r a . P o ld i O fe n m u e lle r, F r a n z C llli, R a n sb a c h e r, R o sa e C a rlo s S c h n e id er, os p a is do m é d iu m e o r e la to r D r. G a tte re r. P a r a o b te r c o m p le ta c e rte z a , fo i e x e c u ta d o pelo ú ltim o , a u x ilia d o pelo sr. K ., e x am e m in u c io so de to ­ dos os o b je to s do lo c al d a s sessõ es e do s q u a rto s co n ­ tíg u o s ; n a d a foi o m itid o , n e n h u m a g a v e ta , o u caixa, ou c am a , fica n d o de p o is a s p o r ta s f e c h a d a s e la c r a ­ da s. A in d a a ssim c o n tin u a m o s a e x a m in a r c u id a d o sa ­ m e n te , com a lâ m p a d a e lé tric a , to d o s o s d e m a is c a n ­ tin h o s. I n ício da se ssão à s 8.26 h o r a s . S eg u em 12 m in u ­ to s de p a u sa . R e in ic io à s 8 .3 7 . T ra n se . C o n tro le (p elo c áp itã o K o g e ln ih ), com o se m p re . " O lg a " * p e d e a p o l­ tr o n a . P u x o u -a em d iv e rs o s se n tid o s, d ep o is fê -la c air. C olocada n o v a m e n te em pé, foi c o b e rta com b rin q u e d o s p a ra " O lg a " ( ta m b o ril, c a m p a in h a ) . C a rlo s S c h n e id e r cai ta m b e m em tr a n s e . “ O lg a ” to c a o ta m b o r il, c o n ti­ n u a a to c a r o ta m b o r n a ja n e la I I e, a p e d id o , ta m b e m n a ja n e la I. O uvem -se e n tã o p a n c a d in h a s n o e s p a ld a r do so fá e n a p a re d e , a tr á s do m é d iu m . A s c o rtin a s são le v a n ta d a s p a ra o a r, a té fic a re m q u a se p a ra le la s ao chão. A c a m p a in h a é le v a n ta d a e to c a d a . “ O lg a ” p e d e q u e o g ra m o fo n e s e ja co lo cad o em c im a d a p o ltro n a . Com o o m a is pró x im o , q u e é o s r . K ., n ã o c o n seg u e faz ê-lo fu n c io n a r , d e c la ra g I n te lig ê n c ia : “ V ou faz ê-lo

— 60 — eu p r ó p r i a ” . A p arec e o u tr a vez, b em v isív el, ã lu z v e r­ m e lh a, a m ão m a te r ia liz a d a ; je ito s a m e n te faz o in s­ t r u m e n to to c a r, p e g a do ta m b o ril, e m a rc a com e le o c om passo. M a n ife sta m e n te m a l s a tis f e ita com a m ú ­ sic a, m a n d a " O lg a ” : “F o r a com a v e lh a p e ç a ! ” O P ro f. B e u le r, o s r. K . e D r. G a tte r e r e n tre g a m le nços. P e g a d o s com m u lto je ito p e la m ão d e “ O lg a ”, d e sa p a re c e m a tr á s d a c o rtin a , e de lá r e a p a re c e m c heios d e nó s, se ndo r e e n tr e g u e s a se u s p ro p rie tá rio s . Ao s r. K ., p o ssu id o r de b e la b a rb a c o m p rid a, lh e p e ­ dem se a p ro x im e u m pouco d a c o rtin a . A p en a s feito Isso, r e a p a re c e , d e t r á s d a c o rtin a , a m ão m a te r ia li­ zad a , e p u x a -lh e v io le n ta m e n te a b a rb a . C o m eça “ Ol­ g a ” e n tã o a o c u p ar-se com o “ a n jo fo s fo re s c e n te ” ( fi­ g u r a d e c a r tã o ) . Com o e ste é fix a d o com a lfin e te de se g u ra n ç a em cim a d a c o rtin a p r e ta , e sta , d e -c h o fre, se r a s g a p o d e ro sa m e n te , n o m esm o fio, de b aixo p a ra cim a, d e m odo q u e o a n jo fica liv re , m o v e n d o -se a le ­ g re m e n te no a r e c ain d o fin a lm e n te no c h ão . O re la ­ to r o rec o lh e , m a s “ O lg a ” lh o t i r a d a m ã o c o m e x tra ­ o r d in á r ia v io lê n cia. E m to d a s e ssas m a n ip u la ç õ e s, a p e q u e n a m ão m a te r ia liz a d a e ra m u lta s v ezes b e m v lslv el. A lém d is­ so, a p a r e c e u u m f a n ta s m a in te ir o ; o r e la to r v iu a fi­ g u r a n e b u lo sa , bem c o n fu sa , q u e o r a foi c re sce n do , o r a d im in u in d o , ta n to n o ta m a n h o , com o n a clarez a. A s m ln u d ê n c ia s n ã o s e p o d ia m d is tin g u ir . No fim d a se ssão " O lg a ” e n sa ia v a a in d a e fe tu a r u m a le v ita ç ã o do m é d iu m . A fo rç a, p o rem , lh e p a re c ia e sg o ta d a , d e m odo q u e o r e la to r n ã o p o d e d is tin g u ir o fen ô m e n o . FE N Ô M E N O S COM M A R IA SELB ER T (D o G ra z — Á u stria ) A s m a n ife sta ç õ e s q u e se d e ra m com e s ta s ra . e ra m de e spécie e sse n c ia lm e n te d if e r e n te d a s q u e se

— 61 — d e ra m com R u d l S c h n e id er. M m e. S llb e rt, a tu a lm e n te qu a se de 70 a n o s d e id a d e, ó v iu v a de fu n c io n á rio do M in istério d a F a z e n d a , fale cid o em 191 4 . Com o e s­ po sa e m ã e de f a m ília n u m e ro s a , te m a tr á s de si u m a v id a c h e ia de tr a b a lh o e c u id ad o s. A im p re ssão q u e eu p e sso a lm e n te tiv e d e Mme. S llb e rt, tã o so cial, n a ­ tu r a l e le a l em tu d o , d e v e s e r a p o n ta d a com o a b so lu ­ ta m e n te fa v o ra v e l. O q u e n a s sessõ es com e la é c o n ­ s id e ra d o com o e x tra o r d in á r io e p a rtic u la rm e n te a g rn d nv el, é a c irc u n s tâ n c ia d e q u e o “ a p a r a to ” d e le i ( e ti­ q u e ta s ) u sa d o com os d e m a is m é d iu n s, d e sa p a re c e c o m p le ta m e n te . S o b re tu d o , n ã o e x iste a q u i v e stíg io d e g a b in e te m is te rio so , q u e , p a r a u m cép tic o , c o n tin u a a s e r se m p re p e d ra d e tro p eç o . A q u i, a g e n te se a s s e n ta sim p le sm e n te & m e sa , co m lu z c la r a n a tu r a l, o u a r ­ tif ic ia l, e a s m a n ife sta ç õ e s co m eçam . A n te s, po rem , de r e f e r ir os p ro to co lo s d a s sessõ es m a is im p o r ta n te s , dou, b a sea d o n a p r ó p ria e x p e riê n ­ cia, u m a b rev e d e scriç ão do s fe n ô m e n o s m a is co m u n s q u e se c o stu m a m p ro d u z ir com e la. a ) A S P A N C A D IN H A S (R a p s ) o u TEPTO LO GIA (8 5 ) A s p a n c a d a s m e d lú n lc a s sã o , de c erto , o fen ô m e ­ no m a is fre q u e n te com d. S ilb e rt. P o d e m s e r v e rif i­ c ad a s em q u a se to d a v isita , e a c a d a h o ra do d ia . A s i c o n tin u a m e n te , q u a n to ao lu g a r, à e ritm o . As m a is d a s vezes, paí o o u v id o em c im a ra p s f o r t e s ) , a v ib ra . S ilb e rt se a s s e n ta à js p a ra a fre n te , v isi-

,'n£ ,0,s To M

X

, d£ er.rd:

— 62 — de. O uvem -se no p la n o e no e s p a ld a r d a c a d e ira , em q u e c a d a q u a l e s tá se n ta d o . As v ezes dão um so m b ran d o , com o se g o ta s de a z e ite c aissem d e p o u c a a ltu r a ; o u ­ t r a s vezes, som f o rte , oco e a g u d o , com o d e o b je to p o n tu d o . N ão ra r o , a s p a n c a d a s são e s tr o n d o s a s e r e ­ tu m b a n te s , com o m a rte la d a s . T am b em v a ria o com ­ passo. O ra é le n to , c a d a se g u n d o u m a p a n c a d a ; o r a a v iv am -se a s p a n c a d a s, q u e c h eg a m a um c om passo fu rio so , com o d e u m ra d io te le g ra m a ex p re sso . P e rce be-se q u e os rn p s r e p r e s e n ta m o u tr o s ta n to s sin a is ex­ pressiv o s. A p e rg u n ta d e " N e ll” ( a I n te lig ê n c ia ) se q u e r d ita r , se g u e u m a f o r t e p n n c ad a q u e sig n ific a a fir m a ­ ção, ou d u a s q u e e x p rim em a n e g a tiv a . Um d ita d o in ­ te iro , (e x ig e p ro lo n g a d a p r á tic a ) re a liz a-so , ju n ta n d o-se a s le tr a s , c o n fo rm o o n ú m e ro de p a n c a d a s q u e lh e s c o rre sp o n d e n a se q u ê n c ia n a tu r a l do a lfa b e to : U m a s ig n ific a a , 2 = b , 3 = c e tc. A recep ção d e co m u ­ nic aç õ es é, p o r isso , m u ito p e n osa e c o m p rid a, com p e ­ rigo de eng an o n a c o n ta , o q u e c a u sa d ú v id a s. Mas “ N e ll” c o rrig e a d ú v id a e x iste n te , se lh o p e d ire m e s­ p e c ia lm e n te . Q uando h á in c e rte z a se e ra ra o u n , p e r ­ g u n ta -s e pelo m . Se g u e e n tã o sim (u m a p a n c a d a ) ou n ã o ( d u a s p a n c a d a s) À s v ezes, a b re v ia -se o p enoso p rocesso, p e la p resu n ç ã o o u p rev e n çã o . C o n je tu ra -se o qu e liá -d e v ir, o q u e se q u e r, fo rm a n d o -se e n tã o s íla b a s o u palavT as c o rr e sp o n d e n te s, a s q u a is “ N ell" a c e ita ou re c u sa s u m a r ia m e n te , p o r u m a o u d u a s p a n ­ c ad a s. A n tig a m e n te , r e fe re d. S llb e rt, u sa v a-se ta m b em o u tr o m odo m a is c ôm odo d e co m u n ica çã o , a c h a m a d a e s c r itu r a p o r “ c h a p a s ”, n a q u a l a r e sp o sta e s c r ita e ra d a d a p r o n tln h a . M uito in te r e s s a n te é o In stin to d e im itaç ão d a s m is te rio s a s p a n c a d a s. U m r itm o m a rc a ­ do n o ta m b o r é logo im ita d o ; à s vezes, u m ritm o co­ m e ça d o é c o n tin u a d o d lre ltin h o . Isso d á -se a té com m e lo d ia s pouco c o n h ec id as, com o com m e lo d ia s b r a s i­ le ira s, e tc. Os fen ô m e n o s do s r a p s n ã o d e p en d e m d a

b ) T O Q U E COM M E M B R O S IN V IS ÍV E IS T cm an d o -se lu g a r ju n to a u m a m e sa, e à lu z de u m a lâ m p a d a d e 50 ve las, um ou o u tr o a s s is te n te d e ­ c lara-se logo s u r p re s o o u e sp a n ta d o : a lg u e m m e to ­ cou. O rd in a r ia m e n te te m -se a Im p ressã o de um m e m ­ b ro m ole, e m b o tad o . Âs vezes, se n te -se ta m b em , b em d is tin ta m e n te , um a b ra ç o o u «aperto n a p a rte su p e ­ r io r ou in f e r io r d a coxa, ou do s jo e lh o s. A p e d id o , o to q u e m u d a de c a r a te r . E ste n d e n d o -se , d e -re p e n te , a m ào, p o r baixo d a m e sa, e p ed in d o -se a “N e ll” a p e r tá -la , c o stu m a s e r e n tã o sa c u d id a fo rto ou le v em e n te . D á-se ta m b em f re q u e n te m e n te a se g u in te e x p e riê n c ia : o m é d iu m e a p e sso a f ro n te ir a u n e m u m a d a s m ão s em cim a d a m e sa, e p ro c u ra m J u n ta r , ig u a lm e n te , as o u tr a s debaixo d a m esa. No m o m e n to em q u e se to ­ cam , ju n ta -s e -lh e s , não ra r o , so b u m v islu m b re , o u tr o m e m b ro m is te rio so . E ’ I n te r e s s a n te q u e a té d. S ilb e rt se s e n te se m p re to c ad a , q u a n d o o u tr o s o são. N a tu ra lm e n te , com to d a s e ssas e x p eriên c ia s, su s­ p e ita -se d a e x istê n c ia de u m se creto m eca n ism o , do q u a l o m é d iu m se se rv e h a b ilm e n te . U m ex am e m i­ n uc ioso, po rem , conv en ce lo g o d a c o m p leta in o c ên c ia do rú stic o e p e sad o m o v ei d e c a rv a lh o . P re su m e -se , em se g u id a , q u e d. S ilb e rt te n lia p o d id o , com seu pé, p ro d u z ir e sses to q u e s fra u d u le n ta m e n te . T am b em e sta obje çã o se d e sfa z p o r si m e sm a . E m si, Já é im ­ possíve l q u e u m a sra ., id o sa e d o e n tia , fize sse p o r b a i­ xo, com os pés, se m e lh a n te s a rtifíc io s a cro b á tic o s, sem m o v e ria p a rte s u p e rio r do co rp o . A d em ais, liq u id a -se a o b je çã o pelos to q u e s de p a rte s s u p e rio re s ; e o m é ­ diu m p e rm ite q u a lq u e r v e rific a ç ã o do s pés com lâ m p a ­ d a e lé tr ic a ; su a s m ã o s fica m , q u a se se m p re, p o r cim a

— 64 — e bem v isiv eis. O r e la to r , q u e fa z ia m u lto uso d a lâm p nd a e lé tric a , e re c e b ia m u ito s to q u e s, n u u c a p o de p e rc eb e r m otivo p a ra a m ín im a su sp e ita . c)

FE N Ô M E N O S T E L E C IN im C O »

São os se g u in te s q u e so o b se rv a m : le v a n ta m e n to , p a rc ia l o u to ta l, d a m e sa p e sad a d e se ssã o ; to q u e b re ­ ve d os In s tru m e n to s q u e se e n c o n tta i$ 110 q u a rto o à b oa d is tâ n c ia do m é d iu m ( a té 4 m e tr o s ). F r e q u e n te ­ m e n te são m ovidos, te le c in e tlc a m e n te , o b je to s c o lo ca­ dos d ebaixo d a m e sa de se ssão . C a ix in h a s de c ig a rro s, reló g io s, ta m p a s e fo lh a s , c a m p a in h a s , tu d o isso é c a r ­ reg a d o e a rr a s ta d o pelo ch ão , e n i c irc u ito s c o m p rid o s, pelo m is te rio so “ a lg u é m ” . N ão ra ro , esses o b je to s s a l­ ta m bem a lto e a té a c im a d a m e sa. Às vezes, d e sa p a ­ rec em d e -sú b ito , e m b o ra o b se rv a d o s com m a io r a te n ­ ção, e v o lta m d e -rc p e n te pelo a r, “ tr a z id o s " p o r in ­ te rm é d io do m é d iu m , a -p e sar-d o e ste se m p re c o n se r­ v a r a s m ãos v isiveis, em cim a da m e sa. A té c h lca ra s c h e ia s fazem essas v ia g en s m e d iú n ic a s, se m d e ra m n r u m a g o ta 6 e q u er do c o n teú d o . E m s e m e lh a n te s “ tr a n s ­ p o r te s ” c ai o m é d iu m em tr a n s e ; a luz é d im in u íd a . A e xp re ssão e o ge sto n o tr a n s e são m is te rio so s e um ta n to te a tr a is . O e n to a r d o can ç õ es inclodiQ 6as, e a declam a çã o d e poe sias q u e se re f e r e m ao m u n d o d o s e s­ p ír ito s (tó p ic o s de F a u s to , e tc .) , fav o rec em m u ito a p ro d u çã o de fen ó m e n o s. d)

FE N Ô M E N O S LU M IN O SO S

P o s to q u e e fe ito s lu m in o so s a q u i se r e la te m ( a n ­ te rio re s a 1 9 2 2 ), r e strin g e -se , a m in h a e x p e riê n c ia pessoa], a fen ô m e n o s m en o s im p o r ta n te s d e 3 t^ g ô n e ro . N a p ro x im id a d e do m é d iu m a p a re c e m , Içe q u e n te m e n te, fa ix a s c la riv e rd e s ou raio s q u e, com o m e te o ro m i­ n úsc ulo, tra ç a m u m a lin h a d e fogo. T am b em dos de-

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65 -

d os do m é d iu m irro m p e m , à s vozes, no e s t i r o , ra lo s a u riv e rd e s . * * Pe lo que m o in fo rm a m ^ o s c o m p a n h e iro s d a se s ­ sã o , ta m b e m d^o corpo do m é d iu m s a S n n e v o eiro s f r a ­ c a m e n te lu z e n te s, fo rm an d o m a te ija liz a ç õ s s m à is d e n ­ sa s. O r e la to r n u iic u c h eg o u a v c rlfia a r, co m c e rte z a , e sse (p n ô m en o . » B e p çis d e s ta «xplic liç ão , p o d e rã o os p ro to co lo s, e m s u a f e r ^ a b re v e e e s c a ssa , d a r u m a id é ia c la r a e c o m p re en sív el - d o s fen ô m e n o s. M ais o u tr a s o b se rv a ­ çõ es c rític a s so b re a fisc aliz aç ã o e x ercid a se rã o r e la ­ ta d a s n a II p a rte destar jsecção. D u ra n te a s sessõ es, ío r a m ^ s e m p r e to m a d o s A p o n ta m en to s, e, lo g o n a se­ g u in te m a n h ã , re d ig id o o p ro to co lo . Só a s se ssõ es m elh o r* su c c d id a s é q u e sertio a q u i m e n cio n a d as .

S E S S â O D E 2 5 DIO G U T üB K O D E 1 0 2 5 c om D .*M nrla S ilb e rt, c m s u a c asa , em tir a z . A S S IS T E N T E S : P ro f. D r. J o ã o U de e se u p rim o . D. S ilb e r t o o re la to r . Com eço d a se ssão à s 8 h o r a s d a n o ite . C om g local s e rv e u m q u a rto a ssaz eepaço so , rota u g u t . QyaOe no m eio se a c h a u m a mêsa. p e sad a , de m a d e ira , c u jo s q u a tro pés se U £am p o r tra v e ssa s c ru z a d a s; em cim a, a lâ m p a d a e lé tr ic a (5 0 .* e la 6 ) ; m e ­ d ia n te c e rto didfeositivo p ode s e r re d u z id a a luz. C ada qu a l to m a a sse n to o o u tro lad o efe m esa. Im e d ia ta m e n te se fazem o u v ir p a n c a d in h a s. Co­ m eça um d ita d o . Sai, com o p rim e ira p a la v r a : “ Cocm c te iiu m ” . A d m iram o -u o s do la tim . Seg u e o d ita d o : “ Si pa cc m d c d e r ltis , lu x o r . . . “ D c d e ritis” fo i p a rc ia l­ m e n te d e cifrad o p o r m im . O a b r ir d a p o r ta in te r ro m ­ pe o d ita d t. E m vez de c o n tin u a r o te x to , b a te-se “ e jo n y ” e, à p e rg u n ta , so e stã ex ato , re sp o u d e -s e: sim . Segue d e pois: T u l se m p re lu x , ov io tx m ” . P o r m im , o r lc t dcv la se r c o m p letad o pela silab a “ u r ; d o u , po-

— 66 — rem , d e -p ro p ó slto , a s le tr a s e rr a d a s “x ” e “ m ”. F o Tam a fir m a d a s a m b a s. E m se g u id a b a te ••NeU”, em a le m ã o : “ E u nãó e n g an o , não e n g a n e is ta m b e m v ó s” . D epois s e g u e “e x tltlt” . " O u v is te -n o s ,' a c r e d ita s te na n ossa e x is tê n c ia ”. O p rim o do P ro f. U de p e rg u n ta : "Q ue m a c r e d ita ? Meu t io ? ” “ N ã o ”. " P r o f. G a t te r e r ? ” “ N ã o ” . “ E u ? ” “ S im .". A m e sa com eça a m o v o r-se e. a e rg u ê r-se de um lado. Com m u ita s u r p re s a n o ssa , p a re ce , à s vezes, m o ­ dific a r-s e o seu peso. D estes fen ô m e u o s, p o rcin , n ã o te n h o c e rte z a a b s o lu ta . T o q u es p o r m e m b ro s in v isí­ veis. B a te -se n a m e sa, e rec eb e -se o m esm o n ú m e ro do p a n ca d as, com o re sp o sta. R eco m eça o d ita d o : “ H o je não e sto u so z in h o , in ­ te rro m p e s e m p r e ”. L ig u e i, p rim e iro , sem se n tid o . F u i co rrig id o . O m é d iu m q u e ix a-se d e q u e tu d o v ai h o je tã o d e so rd e n a d a m e n te ; p a re c e q u e u m a in te lig ê n c ia e sto rv a a o u tr a . Às vezes, re sso a d e to d o s os lad o s v e rd a d e iro c o n ce rto de p a n ca d as. V em e n tã o a co m u ­ nic aç ão : “ b tp tn ro so m n in lo ” , n a q u a l a lg u m a s le tr a s

Sllbeit

G ráfico n .“ 3

— 67 — fo ra m ta lv ez p o r n ó s m al novo um la tim m u tila d o : m im ” . T alv ez a te n ta tiv a c oelo ln n e te r m u n ” . F im d a se ssão à s 11

e n te n d id a s. A -fin a l c h eg a d e “ D co s i t le p o e lo m ln e ttc r de p ro d u z ir: D eo s lt ln u s ln h o ra s.

SESSÃO D E 2 6 D E O U TU B RO D E 1 0 2 5 com D. M a ria S ilb e r t, cin s u a c a sa . P A R T IC IP A N T E S : Sr. E. J . D in g w all (S .P .R . de L o n d re s) e su a esp o sa, C a p itã o S c h a rl, P ro f. D. W alte r , m é d iu m e re la to r . Com oço d a sessão à s 9.12 h o ra s d a n o ite . S a u d a ­ da a “ I n te lig ê n c ia " p elo s o u tro s. V em o s e g u in te d i­ ta d o : “ F i r m a i v o ssos se n tid o s, e r r a r e i s se ” — Es-» tro n d o , com u n ica çã o in te rro m p id a , tr a n s fe rê n c ia n o ­ tá v e l d a m e sa. 9.30 lio ra s. F o rm a ç ã o d a c o rre n te , e sc u rec im e n to d a luz. D. S ilb e rt p a re ce e s ta r em tr a n s e . D ita d o : “ O s in a l a p a r e c e r á , q u a n d o a m issão fo r c u m p rid a ”. Os a s s is te n te s se n te m fo rte s to q u e s. N a çru z q u e e s tà sob a m e sa, e n c o iitra m -se os o b je to s em q u e ‘‘N e ll" d ev e a tu a r : 1 c a ix in h a ( p a r a g r a v a r ) , 2 a rg o la s d e p a p el p a ra se c o m p e n e tra re m , c a r ta bem fe c h a d a (com la p isin h o d e n tro p a ra e sc ri­ tu r a d ir e ta , a m b o s m e u s ) , u m a ta m p a em fo lh a, um violino. ’ D. S ilb e rt descrev e o a p a re c im e n to d e u m f a n ta s ­ m a e s p ir itu a l. D en tro d a m e sa, fo rte s e stro n d o s. V á­ rio s p u xões no v io lin o ; ta m p a , v á ria s vezes a b a tid a no chão. Às 10,45 resso a m tr ê s sé rie s d if e r e n te s de p a n ­ ca d in h a s. D ita d o s: “ A c re d ita re is, q u a n d o fa la r d e s ( ? ) s in a is e m ila g r e s ” ( o rá c u lo ). M aio r re d u ç ã o da lu z. A m e sa le v a n ta -se p o r do is la d o s. O s r . D in g w all se n te f o rte to q u e no braç o su p e rio r; P ro f. W a lte r e M me. D in g w all ta m b e m rec eb e m to q u e s. A ta m p a é a tir a d a

— 68 — ao a r. D ita d o : “A c e ita o sin a l, e te r n a é tu a a lm a ” . O r e la to r s e n te fo rte to q u e n a s p e rn a s. “ N e ll”, p o r m eio d e tr ê s p a n c a d a s f o rte s, d á si­ n a l de q u e re r te rm in a r a se ssão . M in lia c a r ta (ab str a in d o -s e de um s in a l de la p is no e n v elo p e ) fico u em bran c o . M as, com s u r p re s a do to d o s, e n c o n tra m o s, g r a ­ vado n a ta m p a de fo lh a, n u m tr iâ n g u lo : “ X e’.l" . Com o c u n ã o tiv e sse e x a m in a d o o o b je to a n te s , n a d a p o sso a flr m n r a c e rc a d a r e a lid a d e d o fe n ô m e n o .

SESSÃO D E 3 D E A B R IL D E 1 9 26 C om a S ia . M . S ilb ev t, c m s n » c asa , e m G raz. P A R T IC IP A N T E S : P ro f. D r. M lc h elitsc b , M inistc r i a lr a t , D r. M inibeck, D r. H o b e n w a rte r, s r . R h o d e n , R . M achado, m é d iu m e re la to r . ( 3 6 ) . O B JE T O S A PO N TAD O S P A R A E X P E R IÊ N C IA : I — Um reló g io “ O m e g a", a lem d a m a rc a d a fá ­ b rica , le v a : S. I., g u a rd a d o em e n v elo p e fecliád o . I I — R elógio “ A ra m is ”, se m g ra v a ç ã o n o tá v el, fe c h ad o com selos. I II — D e sp e rta d o r fo sfo re sc e n te , d e aço. IV — C a ix in h a d e r a p é , n o v a ; d e n tro , p a p el q u a ­ d ra d o com p o n to d e a g u lh a em c a d a c a n to . — L a p ise i­ r a de m e ta l se m g rav a çã o . — E s to jo de c ig a rro s do re ­ la to r , fe c h ad o com b a rb a n te c ru z ad o e c o lad o em p re ­ se n ça do s srs. R h o d e n e M achado. V — C a rta fe c h a d a e la c r a d a com 3 p e rg u n ta s c m p o rtu g u ê s , cu jo c o n teú d o só é c o n h ecid o d o s 2 in ­ te rr o g a d o re s . P a p e l p e rf u ra d o com H .R .; n o s c an to s, com M; in c lu so , la p isin h o . (36) M achado G o nome de um Ilu stre je su íta portuguBs. Uhoden é o nosso p atrício P ad re H u b erto Rhoden, que hoje reside no Rio de Ja n eiro e que então se achava na A lem anha aperfeiçoando os seus estudos eclesiásticos.

— 69 — S ílb e tt

M íelUfckcft

Às 9.15, Inicio d a se ssão . E sp e ra m o s a in d a o s e ­ n h o r M in iste rln lrn t. A m e sa p e sa d a de c a rv a lh o p a s­ sou a se r, em se g n id a , e x a m in a d a , se n d o a g a v e ta tir a d a . C olocam os os o b je to s p re p a ra d o s so b re a s d u a s tra v e s s a s c ru z a d a s em b aixo d a m e sa: os re ló g io s I I I - III , - reló g io de o u ro do sr. M ic h elltsc h , e sto jo s de c ig a rro s. Às S.30, c h e g a d a do M in ls te r ia lr a t M ln ib eck . S a u ­ da çã o g e ra l d a I n te lig ê n c ia p o r "D e u s te 6 a lv e ! ” S e ­ guem v á ria s p a n c a d in h a s. O r itm o de can ç õ es a sso b ia ­ d a s (asso b io d e c anções e b a tid a s de ta m b o r ) é im i­ ta d o . O sr. R h o d e n se n te v á rio s to q u e s. E ’ e x ec u tad o n o ta m b o r il o R ig o le tto , d e Y erd i. “ N e ll” d e se ja d i­ ta d o : T exto do m e sm o : g o ta a lg u m a c ai c m v ão so b ra a te r r a se d e n ta . Sr. R h o d e n e P ro f. M ic h elitsc h p e rc e ­ bem v á rio s fen ó m e n o s lu m in o so s s to q u e s. S eg u e o d ita d o : te m p o o e spaço sã o d e sfa v o rá v e is. À p e rg u n ta : ‘‘P o r q u e ? ” não se d á re s p o s ta c la ra . A In te lig ê n c ia “ N e ll" in fo rm a q u e o d ita d o se d irig o a o sr. R h o d e n. E rg u e -se a m e sa d e -re p e n te , do la d o e s tr e ito (d e G atte r e r e H o h e n w a rte r, c o n fo rm e , esboço a n e x o ) .

— 70 — E ’ v e la d a a l& m pada (5 0 v e las) com a v e n ta l a zu l. M as a fo rç a ilu m in a tiv a p e rm ite le r a in d a b em o es­ c rito a la p is. P a r a se s a tis f a z e r ao d e sejo de “ N e ll”, e stab e le ce -se c o m p le ta e sc u rid ã o . O sr. M in iste ria lv a t r e c ita a lg u n s tre c h o s d e F a u s to . Seg u em f re q u e n ­ te s p a n c a d in h a s, s o b re tu d o com tó p ic o s m ístic o s, e e n ­ tã o de to d o s os la d o s. D. S ilb e r t é c o n tro la d a em m ã o s o pés pelo P ro f. M ic h elltsc h e peio r e la to r .L e v a n ta -se e la v á ria s vezes, e m tr a n s e . S u s s u rr a p rim e iro , rá p id a e im p e rce p tlv e lm e n te , a p r im e ira p e rg u n ta d a c a r ta em p o r tu g u ê s : “ Q ual é o p rim e iro v e rso do s L u s ía d a s ? ” R esp o n d e d epois, bem p e rc e p tiv e lm e n te , v o lta n d o -se p a ra o sr. M achado: "A s a rm a s e o s b a rõ e s a s s in a la d o s ”, re p e ­ tin d o v á ria s vezes a p r im e ira p a rte da ú ltim a p a la v ra e, não c h e g a n d o a te rm in á - la bem , s u s s u r r a : “ N ão co­ nheço is s o ” . O sr. R h o d e n não e n te n d e a c ita ç ã o com ­ p le ta m e n te . O r e la to r o u v e bem p e rc e p tiv e lm e n te o ti­ q u e -ta q u e do reló g io
— 71 — o u tro , se g u ra -o com a m ão e sq u e rd a e faz, com a d i­ re ita , p o r c im a d ele, um sin a l. P a re c e g r a v a r no a r um tr iâ n g u lo . S e n ta -s e, e n tã o , e p r o c u ra , m a n if e s ta ­ m e n te, o p r o p rie tá rio do reló g io , a c e rta n d o com o sr. R h o d e n ; q u e ro n d o d e ita r - lh o n a m ão a b e r ta , deix a-o , p orem , c a ir. T o d o s os p o rm e n o re s do a c o n te c im e n to f o ra m o b se rv a d o s p o r to d o s. D. S ilb e rt d e c la ra te r re c eb id o g r a n d e in flu ê n c ia do s r . F h o d e n . O s r. M ichelitsc h faz a p ro p o sta de tr o c a r o lü g a r, fica n d o o P ro f. se n ta d o à d ir e ita e o sr. R h o d e n à e s q u e r d a d a s ra . S ilb ert. L uz fra c a , sem tr a n s e . A s ra . S ilb e r t faz u m a e xcla m aç ã o c o n fu sa , e ste n d e a m ão le n ta m e n te p a ra os o m b ro s do sr. R h o d e n . E s te p e rc eb e , s o b re o seu om bro d ire ito , um reló g io . E la o a p a n h a e lh o e n tr e ­ ga . E ’ o reló g io do P ro f. M ic h elitsc h . O e sto jo d e c i­ g a rr o s a p a re c e e n tã o ao la d o do m é d iu m , s a lta n d o , com o p o r si p ró p rio , so b re a m e sa. Um b a rb a n te de p a p el d e sa p a re c e ; o se g u n d o , com a m a rc a d e selo, e s tá a in d a no lu g a r. G ra v aç ão , n e n h u m a . O sr. R h o ­ den p e rc eb e , no c a n to d a m e sa, ra io fo rte ; o sr. M a­ ch ad o n o ta a lg u n s to q u e s fo rte s, re p e tid o s. O ú ltim o p e rg u n ta , em p o r tu g u ê s e a le m ã o , se p o d e f a la r em p o rtu g u ê s . Seguem d u a s m ã o s. P e rg u n ta -s e , s e p ode h a v e r d ita d o em la tim , a le m ã o , g reg o . V em , c ad a vez, a re s p o s ta ; não. S e g ue o d ita d o la tin o : “ D o lo rcs m ia i n a te r r a ” . P e r tu r b a ç ã o no d ita d o . F a z -se e sc u rid ã o co m ­ p le ta . D. S ilb e r t p a re c ç o b se rv a r f o rte s r a lo s e n tre s u a s m ã o s e a s do sr. R h o d e n . Seg u em d o is ra io s extr a - f o rte s , c la ra m e n te p e rc eb id o s p o r to d o s, p a re c e m p r o m a n a r d a s p o n ta s do s d ed o s. D. S ilb e r t m o v e a s m ã o s em c im a d a ch ap a , e sfre g a n d o . O b serv a q u e se fo rm a n e v o eiro lu m in o so . O s r . R h o d e n s e n te p o n ta d a f o r t e n u m lado. L ig a -se a lu z e lé tr ic a . E x a m in a -se o reló g io e o e sto jo d e c ig a rro s. A -p e sa r-d e re p e tid a s p e rg u n ta s a

— 72 — “ N e ll” , e r e p e tid a s a firm a ç õ e s d e la, n ã o se d esco b re g ra v a ç ã o a lg u m a . “ N e ll” p r o te s ta c o n tra o a b r ir do relógio do r e la to r , d e n tro do e n v elo p o . E le é a b e rto , não o b s ta n te . S e g ue -se u m a lig e ir a d isc u ssã o a re sp e i­ to d a in flu ê n c ia dos e sp trito s so b re a m a té ria . As 12 .1 5 , e n c e rra m e n to d a se ssão .

SESSÃ O D E 4 D E A B R IL D E 1 0 26 . C om D . M a ria S ilb e r t, em s u a c a sa , e m G ra z. P A R T IC IP A N T E S : Os m e sm o s d a se ssão p rec e ­ de n te. O B JE T O S A PO N TA D O S: R eló g io I, I I, III , e sto jo do c ig a rro s c o n te n d o : c ig a rro s, ped aço d e p a p el e lá ­ pis, a ssim com o c a r ta com p e rg u n ta s , c a m p a in h a . O RD EM D E A SSE N T O S: com o no esboço d a se s­ sã o p re c e d e n te . * As 8,35 h o r a s , com eço d a se ssão . E x am e do s sa ­ p a to s. C onversa-so so b re os f e n ô m e n o s d e D. S ilb ert em L o n d res, e e x a m in a m -se os r e tr a to s de “ e s p ír ito s ”, rec e b id o s de lá. As 9,00, “ D eus te s a lv e ” . P r o f . M ieh elitsch fisc a ­ liz a rig o ro s a m e n te os p és, e v e rific a v á rio s to q u e s do lado c o n trá r io . D iv e rs a s ' p a n c a d in h a s, bem fra c a s, in sig n ific a n te s . P a re c e f a lt a r e n e r g ia , p o rq u e D. Sllb e rt se a c h a um pouco in d is p o sta e a ta c a d a . A sso b iam se c c a n ta m -se d iv e rs a s m e lo d ia s; a s m e sm a s sã o e x a­ ta m e n te to c ad a s no ta m b o ril e c o n tin u a d a s. T am b cm tim n c an ç ã o b r a s ile ir a . C a n ta -se e m co ro : “ Z u M antu a in B a n d e n ” , “ S te ir c r- ld e d e r ” , “ S a n ta L u c in ” . F o r ­ m ação de c o rre n te . D. S ilb e rt cai em tr a n s e . Ilu m in a ç ã o re d u z id a p o r a v e n ta l a z u l, em r e d o r d a l& m pada. Sr. M in ls te r ia lr a t d e c la m a “ D io K ra n ic h c d e s Ib ic u s ” , e faz a lg u n s risc o s m a g n é tic o s p o r cim a d e D. S ilb ert, pelos q u a is e la se s e n te b em re f rig e r a d a . A lg u n s lo-

— 73 q u e s. R e ca i em tr a n s e , le v a n ta -se , a v a n ç a , a n d a com o p a ra o p ia no, e faz, n a d ire ç ã o d a p o r ta fro n te ir a , g e stic u laç õ es p ro ib itiv a s, com o se tiv e sse em su a f r e n ­ te um f a n ta s m a pav o ro so . O s r . M in is tc r ia lr a t d e slig a a lu z p o r u m m o m e n to , m a s n e n h u m d e n ó s p e rc e b e a a p a riç ã o . D. S ilb e r t tr a n q u iliz a - s e e p ro p õ e-se te rm i­ n a r d e -p re ss a a se ssão , d ev id o a g r a n d e can sa ço . R e s­ soam e n tã o , com o p ro te s to , f o rte s p a n c a d in h a s, e o m é d iu m rec ai em tr a n s e à s 1 0 ,3 0 . L e v a n ta -se , e ste n d e a s m ã o s, como p ro c u ra n d o a lg o , e s fr e g a - a s u m a c o n tra a o u tr a . Logo de p o is a p a re c e cm su a s m ã o s o reló g io do re la to r . A brim o-lo, se m e n c o n tr a r g rav a çã o . A c a m p a in h a , co lo ca d a n a s tr a v e s s a s c ru z a d a s d a m e sa, r e tin e v á ria s vezes. V eem -se e rg u e r v á rio s re ló g io s e r e c a ir, com o se a fo rç a n ã o d e sse p a ra su stê -lo s. O r e ló g io do P ro f. M ichelltch , co lo cad o p e rto dos pés d ele, fo i e n c o n tra d o do o u tr o la d o e n tr e o m é d iu m e o sr. R h o d e n , m elo m e tro d is ta n te d a m e sa e com o v id ro p a ra baixo. E ste n d e m -se a s m ão s d eb aix o d a m e ­ sa. S en te m -se, p o r d u a s vezes, to q u e s de u m te rc e iro m e m b ro . E n c e r ra m e n to à s 1 1 ,1 6 . SE SSÃ O D E O D E A B R IL D E 1 0 2« Com D. M a ria S ilb e rt, c m s u a casa , e m G raz. P A R T IC IP A N T E S : P r o f . D r. J . U de, P r o f . D r. A. M ic helitsc h, D r. A u er, sr. M ach ad o , s r. R h o d e n , r e ­ la to r. O B JE T O S A PO N T A D O S: reló g io do s r. R h o d e n , lig a d o n u m fio de lin h o c u ja p o n ta g u a rd a s e m p re n a m ã o ; reló g io do P ro f. M ic h elitsc h ; d u a s c h a p a s u ltr a r á p id a s de H a u ff, g u a rd a d a s e m p a p el p ró p rio , do r e ­ l a to r ; u m a c a m p a in h a , d o is v id r in h o s a ta d o s u m a o u tr o , v á ria s c a r ta s do P io f. U de. E x am e d o s calç ad o s a b o to a d o s do m é d liim , p elo sr. M achado.

— 74 — O RD EM D E A SS E N T O S : c o n fo rm e o esboco an ex o. As 8 ,3 7 : L e v a n ta m e n to su r p re e n d e n te d a m esa, do lado do sr. R h o d e n . A lu z f o rte fica d im in u id a p o r a v e n ta l a zu l. Às 9 ,00 : C h e g ad a do P ro f. U de. P a n c a d in h a s. D uas m e lo d ia s são bem im ita d a s p o r “ N e ll”. E s te d i­ t a : S e m p re se p r e f e r e a h o r a « o d ia . " D ev eis faz e r isso ? " P e r g u n ta s a N ell p ela o rd e m d e a sse n to s. De­ te rm in a q u e o P ro f. M lc h elltscli tro q u e com o r e la to r , o que so e x e c u ta . O P ro f. M ic h elitsc h p e d e q u e o la p ls do Dr. G a tte r e r s e ja tir a d o de d eb aix o d a m e sa. V erifica m -se v á rio s to q u e s do la p is. A p ed id o do P ro f. M ic helitsc h, a s p a n c a d in h a s to rn a m -s e cad a v ez m a is f o rte s. D ão-se a s m ã o s d eb aix o d a m e sa, ju n ta n d o - s e à do m é d iu m . O P ro f. U de e o sr. M achado v erife am to q u e s de um te rc e iro . S eg u e d ita d o : “ A te n ta n o sin a l q tie te re v e la r á m u ita s c o u sas q u o t e sã o e s c u r a s a in ­ d a ” . P e r g u n ta - s e a qu e m isso se d irig e . A r e sp e ito d e R h o d e n o M ach a d o a re s p o s ta 6 d u v id o sa ; p a ra c om o D r. A u er, n e g a tiv a .

G o ã le X í

t Silbext

— 75 — 9,55. A c am p a in h a é d e rr u b a d a d eb aix o d a m e sa e la n ç a d a ao chão. se n te m -se v ã rio s to q u e s. 10,00. D. S ilb e r t cai em tr a n s e , a c c rd a e rec ai. O P ro f. U de to m a a d ireç ão d a se ssão . 1 0 ,35 . T r a n s e p ro fu n d o . O m é d iu m m u r m u r a , le ­ v a n ta -se v á ria s vezes e faz d iv e rs o s m o v im en to s. C a n ­ ta m os p a rtic ip a n te s “ S a n ta L n c la ” , “ A m B r u n n e n v o r


76-

do m é d iu m . C o n fo rm e a v iso d e N ell, d e v ia lia v e r g r a ­ v ação p o r d e n lro d a ta m p a , m a s n ã o se e n c o n tr a n a d a . 1 1 ,15. D eixa o sr. A u e r a se ssão . A m e sa se le ­ v a n ta , v e e m e n te , d e u m la d o e re c a i com e stro n d o . O r o la to r a s s e n ta -s e a lg u m te m p o n o c h ão , p a r a m e lh o r o b s e rv a r o qu o se p a s s a d e b aix o d a m e sa. O s fen ô m e ­ n o s to r n a m -s e v isiv ilm e n tc m a is f ra c o s. O b serv a , p o­ r em , ju n ta m e n te com o P ro f. M ic h elitsc h , u m f o rte fen ô m e n o lu m in o so , u m a c la rid a d e , d e b aix o d a m e sa, p e la s p e rn a s do m é d iu m . N ovo tr a n s e é su g e rid o ao m é d iu m p eio p ro f. U de. D iz a d. S ilb e r t: " P r o c u r o q m a te r ia liz a ç ã o " . O m é ­ diu m le v a n ta -se , a -fin a l, e v a i p ro c u ra n d o e a p a lp a n ­ do no c írc u lo “ R e co lh e fo rç a com os srs. M ach ad o e R h o d e n ” . A -fin a l, c h eg a à, p o r ta q u e le v a ao q u a rto d e d o rm ir, cal a li, e sp a n ta d o , com o q u e m v iu um e sp ec tro a m e a ç a d o r, e ste n d e os b raç o s com o p a ra se d e fe n d e r: d e -re p e n te , dá-se um fo rte e sto u ro de r a io lu m in o so v e rde . A su g e stiv a in flu ê n c ia do m é d iu m lo g ra efe ito m a is d u a s vezes, d a n d o com o r e s u lta d o o m esm o fe n ô ­ m eno de a n te s . A os poucos a c o rd a o m é d iu m . L u z fo rte . D. S il­ b e rt, os sr s . R h o d e n e M ach ad o d e ita m a s m ão s ju n tin h a s s o b re a m e sa. D. S ilb e rt n o tific a q u e receb e e n e rg ia . O s r . R h o d e n te m se n saç ão de p a ra lis ia no b raço s u p e rio r. D e-rep e n te, põe-se a m e sa em m o­ v im e n to e se g u e todo m o v im en to d a s m ã o s. Os.' pés do m é d iu m c o n tin u a m v ig ia d o s pelo re la to r . E n c e r ra m e n to d a sessão ã s 12,0 0 h o ra s.

B.

— FENÔMENOS ESPONTÂNEOS

A S ociedade Inglesa para Investigação Psíquica, ou S. P. R., possue rica coleção de relatos sobre fenôm en os ocultos espon­ tâneos, cientificam ente garantidos e realm en­



77 —

te acontecidos. A essa Sociedade pertence grande núm ero de professores universitários ingleses. Depois de sua fundação, em 1882, foi designada uma com issão para exam inar, criticam ente, a realidade dos fenôm enos ocul­ tos espontâneos, por ela narrados e acredi­ tados. Cerca de 10 anos após a sua fundação, pode escrever o sr. P odm ore, um dos seus fundadores, o seguinte: “Possuím os já uns duzentos relatórios sobre aparições de cha­ m ados espíritos, que foram vistos em diver­ sos tempos, por diversas pessoas, no m esm o lugar, ou por diversas pessoas ao m esm o tem ­ po, ou por uma só p essoa, mas em circuns­ tância tal que exclue a hipótese de halucin ação.” Essa prim eira coleção de fenôm enos es­ pontâneos, de que fala Podm ore, só se refe­ re a aparições de fantasm as, e não conside­ ra os dem ais fenôm enos, sendo isso devido aos preconceitos iniciais da S. P. R. a qual li­ nha sido fundada para m anter indagações so­ bre fenôm enos ocultos psíquicos, m as não fí­ sicos; este program a se resum e no próprio nome da Sociedade. B ozzano, porem , em seu “F enôm enos de A ssom bram en to", estabeleceu uma estatísti­ ca am pla e com pleta de fenôm enos espon­ tâneos, referindo som ente aqueles em que via condições cientificas suficientes. Entre fenô­ m enos supranorm ais espontâneos, psíquicos e físicos, que encontrou, contam -se 532, sen d o :

— 78 — 374 psíq u ico s, de n a tu re z a im a te ria l, in c lu siv e os d a 9. P . R .; 168 flslcos, de n a tu re z a m a te r ia l.

E ntre os físicos, Bozzano distingue: 46 c h u v as de c a sc alh o s ou de p e d ra s; 39 c asos d e to q u e s e sp o n tâ n e o s de sin o s; 7 d e in c ên d io s e sp o n tâ n e o s; 7 d e voz d ir e ta .

_ Os dem ais fenôm enos referem -se a m o­ vim entos de objetos não tocados. Citaremos abaixo apenas alguns fatos, materiais e im a­ teriais, — criteriosam ente escolhidos, que possam proporcionar um conhecim ento exa­ to do que se. entende por fenôm enos ocul­ tos espontâneos. E nfeixarem os o nosso elenco em duas sé­ ries bem distintas: na prim eira irão fatos que não podem ter por agentes alm as do outro m undo, m as sim espíritos sabidam ente maus e m alfeitores; na segunda entrarão fatos cujos autores preternaturais não estão bem defi­ nidos. Chamamos desde já a atenção do leitor para o ponto seguinte: Às vezes, os f e n ô m e ­ nos estão ligados a lugares, e aí são presen­ ciados ou verificados por qualquer classe dc p essoas, m as só nesses lugares; são fen ôm e­ nos locais. Outras vezes, os fenôm enos são li­ gados a certas pessoas e acom panham essas pessoas se elas m udam de lugar: são fenô­ m enos m ediais ou m ediúnicos.

— 79 — PRIM EIRA SÉRIE:

Fatos cujos autores preternaturais parecem bem definidos

Cenas barulhentas O sr. Illig , e d ito r do d lú rio D er H o h c n s ta u fe n , d e G o e ttin g c n , A le m a n h a , c o n ta o q u e lh e a c o n te c e u a ele p e sso a lm e n te . N o te m o s, a n te s de tu d o , q u e o sr. Illig , so g u n d o s u a p ró p ria c o n fissão , f o ra rac lo n alis.ta d u r a n te m u ito s a n o s. O se u p ra z e r, d iz e le, e ra d e s­ p r e s tig ia r , iro n ic a m e n te , tu d o o q u e c h e ira s se a d o g m a . Com e ssa d isposição e s p ir itu a l, fixou re s id ê n c ia n u m a c ld a d e z in h a d a F lo re s ta N eg ra, n a m e ia -ã g u a d e u m a c asa, c u jo se n h o rio o a v iso u logo de q u e, no q u a rto que s e ria p o r elo o c u p ad o , s e d a v am c en a s e s ­ tr a n h a s ; to d o s sa b ia m , a fir m o u ele, q u e o ch am a d o “ L o ts c h e r ” ro n d a v a p o r ai. I llig a c o lh e u e sta n o tic ia com h ila r id a d e , a f ir ­ m a n d o q u e em b rev e h a v ia -d e se e n te n d e r bem com esse e sp irito d a casa . A p rin cíp io a coisa p a re c ia in o fe n s iv a ; m a s, a o s poucos, a s Im p o rtu n a ç õ e s do L o tc h c r to r n a r a m -s e in ­ su p o rtá v e is. E ’ o p ró p rio I llig q u e m d e sc re v e os h o r ­ ro re s de u m a n o ite ; “ N a n o ite de 23 p a ra 24 d e fe v e re iro de 1 892, m eu v iz in h o de q u a rto e s ta v a d e v ia g em , e n ão h a v ia o u tr o m eio se n ão “ e n te n d e r-m e so zin h o com o L o ts­ c h e r ” . Isso n ã o m e e ra a g ra d a v e l. D e p rev e n çã o , só p ro c u re i o m e u q u a rto m ela h o r a d ep o is d e m e ia n o i­ te . F e c h ei e a fe rr o lh e i bem to d a s a s p o r ta s e ja n e la s . N ão a p a g u e i, p o rem , a lu z e d e ix ei a v e la so b re a c a ­ d e ira , ao la d o d a c am a. No e n ta n to , a e x cita çã o d a e s p e c ta tiv a nã o m e p e rm itiu d o rm ir.

“ D e-fato , com eçou L o tsc lic r d e -p ress a o se u tr a b a ­ lho. O ra fo i com o s e q u e b ra se c esm agas© b o tõ e s, b e n ­ g a la s, g u a rd a -c h u v a s ; o r a a tir a v a u m a b o la c o n tra os p a u s, a q u a l cho ca v a c o n tra a p a re d e e re s s a lta v a . M ui­ ta s vezes, o “ d e sco n h e cid o ” p a re c ia d e rr u b a r le n h a e m p ilh a d a . D ep ois d e u m a h o r a d e b a ra fu n d a in f e r ­ n a l, q u e m e c an so u a té ao d e se sp e ro , d ir-se -ia q u e ia d e ix ar-m e em paz. P r o c u re i d o rm ir. A p en a s p e g u ei no p rim e iro sono, a liá s m u ito le v e, logo fu i d e sp e rta d o p o r e s tr a n h o s son id o s, ja m a is o u v id o s p o r m im . E r a coino um r e s p ira r, s u s p ir a r e g e m e r, p ro v in d o d e g u e la p ro fu n d a . N âo se i d e screv ê-lo . O uvi-o c la ro e te rr ív e l d e m a i s .. . O uvi p a sso s, c a d a q u a l a c o m p a ­ n h a d o d e go m ld o s e ran g id o s , v in d o s do p ro fu n d e z a s. P e rc e b i d is tin ta m e n le q u e o fa n ta sm a se a p ro x im a v a de m éu le ito . Q ue fa z e r? H av ia e u d e a b a la n ç a r-m e a in d a g a r a c au sa ? R e f le ti nisso u m m o m e n to , m a s n ã o tiv e c o ra g em d e e x ec u tá-lo . E u m e a c h a v a d e i­ ta d o do la d o e sq u e rd o , v ir a d a a cab e ça p a ra a p a re ­ de. O f a n ta s m a se a p ro x im a v a p o r d e trá s de m in h a s c o stas. C he g ad o q u e foi ao m eu le ito e b u fa n d o p o r c im a d e m im , s e n ti n a n u c a u m v e n to g e lad o . T al se n sa ç ã o n ão e ra , a b s o lu ta m e n te , c o n seq u ê n cia d e ex­ c ita ç ã o e de su sto , p o rem e fe ito d a re a lid a d e . No m es­ m o m o m e n to e m que o f a n ta s m a tin h a c h eg a d o , ge­ m e ndo e b u fa n d o , sa c u d iu v á ria s vezes o m eu le ito , com o a sig n ific a r q u e a v is ita e ra e sp e c ia lm e n te p a ra m im . A s p a n c a d a s e ra m sin g u la re s , s o n o ra s, se ca s e o c a s. . . D a m e sm a f o rm a q u e se tin h a a p ro x im ad o d o m eu le ito , a ssim ta m b e m se foi, a fa sta n d o -se , p a s­ so a pa sso, d a n d o g e m id o s h o rrív e is. D irig iu -se p a ra a p o r ta e s a iu do q u a r to ” .

Aqui parece não ter havido fraude nem engano. N ão foi só o sr. Illig que observou estes fatos, nem foi deles a única testem u­ nha: outras pessoas garantem a realidade das

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81 —

aparições contadas pelo sr. Illig. Este con­ seguiu m esm o demonstrar, m ediante docu­ m entos seguros, que o fantasm a do Lotscher já se vinha m anifestando na m esm a casa ha­ via m ais de cem anos. (E w iges Schweigen, de Illig, Stuttgart, 1924. pg. 155). —

2 —

Telecinésia — Transportes, etc.



Ainda para o caso seguinte, lhnilar-n osem os a resum ir o relatório do sr. Illig. A casa com os c u rr a is cm q u e se p a ssa ra m os a c o n te c im e n to s , e s tá s itu a d a a o pé d a a ld e ia de G o s-, se rla c li, — W u e r ttc n b c r g , A le m a n h a . E ssa casa p e r­ te n c ia a R o sin e K le in k n e c h t. Seu m a rid o e r a c a r te iro e m o rre u n a G ra n d e G u e rra , em 1-915.’■No te m p o em q u e se d e ra m os p r e se n te s fenO m enos, m o ra v a n a ca§g d a v iuva , em c o m p a n h ia d e tr ê s f ilh a s m e n o re s, — a m a is v e lh a tin h a 11 a n o s, — e u m s o b rin h o d e 14 a n o s, quo a a ju d a v a n o s tr a b a lh o s p e sad o s. O s fenO m enos c o m eç aram em 31 de a b ril d e 1 9 16. N a m a n h á d esse d ia , os a n im a is do s c u rr a is m a n if e s ta r a m e sp a n to s a in q u ie ta ç ã o . S u a v a m com o se tiv e sse m d e rra m a d o á g u a so b re eles. F o r a m d e sa ta d o s v á ria s vezes p o r m ãos in v is ív eis, p o d e n d o -se o b se rv a r p e rf e ita m e n te o pro ce sso : a s c o rr e n te s tin h a m sid o a tir a d a s ao c hão. Os m e sm o s fenO m enos se r e p e tir a m no s d ia s 1 e 2 de m aio. No ú ltim o d ia co m eço u ta m b em o b a ru lh o d e n tro d e casa. A s c ria n ç a s d e c la ra r a m v e r f a n ta s m a s d e a n im a is. No d ia 13 de m aio h o u v e o p o n to c u lm in a n te : “ U m a a c h a de le n h a s e pOs a d a n ç a r em c im a do fo g ão " .

— 82 — U m la v ra d o r d a a ld e ia v iz in h a a tir o u a a c h a p e la ja ­ n e la ; e la v o lto u , p o rem , ra p id a m e n te , sem q u e n in ­ g u é m pu d e sso ve r com o. Isso se r e p e tiu v á ria s vezes. A a c h a p a ssa v a do c o rr e d o r p a ra o p rim e iro a n d a r e vo lta v a . Logo depois, novo fen ô m e n o : Um toco voou p e la c o zin h a . À ta rd e , cin co boiõcs de le ite c a lra m da p r a te le ira , q u e b ra ra m -se e d e rr a m a r a m o co n teú d o . De 15 de m a io em d ia n te , os fe n ô m e n o s d e d e n tro da c a sa a n d a r a m d e -p a r com os d o s c u rr a is . Os a n im a is fo ra m ta m b e m e sp an c ad o s. Os p o te s d e g o rd u ra , le ite e ^ ç id ra , a s f rig id e ir a s , os p r a to s e b a ld es, s a lta ra m de se u s lu g a re s, vo a n d o p elo q u a rto e a té p e la p o rta d a e n tra d a ; m u ito s d e sses o b je to s fo ra m m e sm o la n ­ çad o s c o n tra v á ria s pesso as. C e rto la v ra d o r , q u e p r e ­ te n d e u d o m in a r o fe n ô m e n o a c h ico te , sa lu -se m u lio m a l. A b a ix ela q u e se a c h a v a com co m id a, so b ro a m e sa ou n a copa, le v a n to u -se n o a r e c aiu no chão. ’ Um p e sado toco, d e r a c h a r le n h a , fo i d e rru b a d o . Os p o te s c h eio s le v a n ta r a m - s e no a r sç m d e rr a m a r u m a g o ta se q u e r. U m d o s p re se n te s to m o u um p o te d e ci­ d r a e o fo i re p o r n o se u lu g a r, so b re a m e sa, m a s r e ­ c ebeu, a to c o n tín u o , u m a f o rte p a n c a d a n a c ab e ça , p ro ­ v e n ie n te do p o te d e le ite . T u d o o q u e h a v ia n a s ca­ m a s ío l a tir a d o fo ra e d a n ifica d o . Os p ró p rio s le ito s se le v a n ta r a m , a a lg u m a a ltu r a , a c im a do c h ão . P a r a c o m p le ta r o caso, s a ir a m a -ftn a l a s p o r ta s do s g onzos e c a lra m p o r c im a dos d e stro ço s. A lem disso tu d o , a l­ g u m a s p e sso as fo ra m fe rid a s pelo s o b je to s v o la n tes. A c asa f a tíd ic a foi, e n tã o , a b a n d o n a d a e fe c h ad a em 15 de m aio.

T E L E C IN É S IA — T R A N S P O R T E , c tc. C h u v a s d e c a sc alh o s o u d c p e d ra s

Eis um a das m aravilhas cm m atéria de fenôm enos supranorm ais espontâneos: As

— 83 — chuvas de pedras. Há chuvas de pedras ao ar livre, e há outras que penetram até em luga­ res fechados, através das paredes. Estas se confundem , pois, com os “ transportes” de que falam os autores. Das 50 chuvas de pedras, — coleção Puis, — uns 25% são transportes. Alem das chuvas de pedras propriam ente di­ tas, são conhecidas tam bem: 3 chuvas de ex­ crem entos, uma de água quente, uma de car­ vão e uma de m oedas. Das chuvas de pedras só relatarem os algum as. E M P A R IS N a "Gaascttc d es T r ib u u a u x ” , — o rg ã o o ficial d a p o líc ia fra n c e sa cm o n.o de 2 de fe v e re iro d e 1 8 4 6 , lê-se: “ F a to e x tra o r d in á r io q u e n a s tr ê s ú ltim a s se m a ­ n a s se r e p e tiu to d a ta rd e e to d a n o ite ,- s e m q u e a s m a is a tiv a s in v e stig a çõ e s, a m a is e s te n s a e c o n sta n te v ig ilâ n c ia , fossem c apazes d e lh e d e sc o b rir a c au sa . Tc-m sido m u ito a g ita d o o p o p u lo so b a irr o d e L a M on(a g n c -S a ln te G cnevièvc, d a S o rb o n a e d a P la c e S a in t M icliel. O q ue, pois, a co n te ce u ê o s e g u in te : N a re g iã o d a s d em olições, e m p re e n d id a s p a ra a b r ir n o v a ru a , q u e deve lig a r a S o rb o n a com o P a n té o n , e n c o n tra -se um p á te o com m a d e ira m e n to e c arv ão , p e rte n c e n te a u m a c asa de um só a n d a r . E ssa casa, q u e fica a p o u ­ ca d isâ n c ia d a r u a , e é s e p a r a d a d a s d e m a is c asa s p o r la rg a s excavagões, to d a s a s ta rd e s e d u r a n te as n o i­ te s, te m sido a ta c a d a com c h u v a d e p r o je te is, os q u a is, em c o n seq u ê n cia do n ú m e ro e d a v e em ê n cia com que sã o a tir a d o s , p e rf u ra m a s p a re d e s em v á rio s lu g a re s, e d e stro g am p o rta s e ja n e la s com su a s g u a rn iç õ e s , co­ m o se a li tiv e sse h a v id o um cerco re a liz a d o com b a ­ te ria s de p e d ra s e tiro s d e g ra n a d a s.

— 84 — E sse s p r o je te is c o n siste m em p a ra le le p íp e d o s o f ra g m e n to s d a s p a re d e s d e rr u b a d a s , e em p e d ra s In ­ te ir a s de c o n stru ç ã o , que, a ju lg a r pelo p eso e p ela d is tâ n c ia d on d e são a tir a d a s , só o p o d e m s e r à m ão. Do o n d e p r o c e d e ria m e les? A re sp o sta fica a in d a à e s p e r a de so lu ç ão . D eb a ld e h o u v e v ig ilâ n c ia d ia e n o i­ te , so b a d ireç ão p e sso al do c o m issá rio d e p o líc ia . E m v ão ficou no lo c a l o c lièfe d e se rv iço d e se g u ra n ç a . E ra vão fo ra m so lto s c ães p o lic ia is n a s v iz in h an ç as . N ad a p ode e x p lic a r os fen ó m e n o s, a trib u íd o s pelo po­ vo a a u to r e s m is terio so s. Os p r o je te is ch o v iam c o n ti­ n u a m e n te , com g ra n d e r u id o , s o b r e a c a s a . e o ram a tira d o s^ d e a ltu r a c o n sid e rá v e l, so b re a cab e ça d a ­ q u e le s q u e se tin h a m p o sta d o n o s te to s d a s c asa s v i­ z in h a s m a is ba ixas. A s p e d ra s p a re cia m v ir de g r a n d e d istâ n c ia . N ão o b s ta n te , a tin g ia m o alv o com p rec isã o m a te m á tic a , se m se d e sv iare m de s u a c u rv a p a ra b ó ­ lica. N ão q u e re m o s e n tr a r em to d o s os p o rm e n o re s d e ste s fa to s , q ue, se m d ú v id a , re c e b e rã o e sc la re c im e n ­ to rá p id o , g ra ç a s à a te n ç ã o g e ra l q u e p ro v o ca ra m . No e n ta n to , é de n o ta r q u e , cm c irc u n s tâ n c ia s a n á lo g a s, q u e d e s p e r ta ra m em P a r is g ra n d e a te n ç ã o , se v iu u m a c h n v n d e d in h e ir o qu e a tr a ía os v a d io s de P a r is , to d a s a s ta rd e s , p a ra a R n a M o n te sq n ie n ; ao m esm o te m p o, a s c a m p a in h a s d e u m a c asa d a r u a d e M a lte fo ra m p u x a d a s p o r m ão in v isív el. E sa b e -se q u e fo i im p o s­ sív e l d e sc o b rir a lg u e m o u a lg u m a c a u sa ta n g iv e l p a ra e x p lic a r os fen ó m e n o s. Q u erem o s e s p e r a r q u e , d o sta vez, c h eg u e m o s a um r e s u lta d o m e lh o r ”. D ois d ia s d e p o is escrev e u o m esm o jo r n a l: “ O fato s in g u la r n ão p o de a té h o jo s e r e lu cid a d o , te u d o -s e re p e tid o a c h u v a d e p e d ra s, a -p e s a r d a co n ­ tín u a v ig ilâ n c ia sob qu e se a c h a to d a a re g iã o . P o r ­ ta s e ja n e la s da c a sa fo ra m s u b s titu íd a s p o r tá b o a s, p re g a d a s de d e n tro , p a ra p r o te g e r os m o ra d o re s co n ­ tr a a s p e d ra s q u e d e s tr o ç a ra m to d o s os m o v e is”.

— 85 — O s r. M lrv ille p ublic o u em se u liv ro “ D es e sp rits e t le u rs m a n if e s ta tio n s ” m a is o u tr a s p a rtic u la rid a d e s , que lh e fo ra m c o m u n ica d as p elo p r o p rie tá rio d a casa. C on fo rm e re la ta , c o n tin u a ra m os fe n ô m e n o s d u r a n te u m a s t r ê s se m a n a s, a pó s a s q u a is tu d o c esso u e o p ú ­ blico se fo i tr a n q u iliz a n d o . N a v is ita q u e fez, v iu M lrv ille os d e stro ço s dos m a is d if e r e n te s o b je to s de uso. O p r o p rie tá rio d a c asa m o stro u -lh e u m q u a rto cheio de p e d ra s e de f ra g m e n to s d e tijo lo s c h a to s e co m p rid o s. P e r g u n ta n d o M irv llle q u a l a raz âo d a f o r ­ m a s in g u la r d e sse s tijo lo s, d e c la ro u o in te r ro g a d o : “ P a r a p ro te g e r-n o s c o n tra a s p e d ra d a s, fec h am o s a j a ­ n e la, de ix an d o a p e n a s u m a fen d a , c o m p rid a e e s tr e i­ ta . F e c h a d o que o r a o b a te n te d a ja n e la , to d a s a s p e ­ d r a s v ie ra m com e s ta fo rm a e a ssim p u d e ra m p a ssa r pe la f e n d a , do m esm o ta m a n h o q u e e la s ” .

As últim as esserções do proprietário tor­ nam o caso particularm ente estranho, e o se­ param das chuvas de cascalhos m ais com uns. N otem os ainda que aqui fa lta qualquer liga­ ção do acontecim ento com a pessoa de algum m édium . E M B E R L IM M enos im p o r ta n te é o caso re la ta d o p o r P u is, de a co rd o com os n ú m e ro s 33-35 do Bci-linei- L okulanz.cig c r, de 1887. E m ja n e ir o e fe v e re iro de 1 887, n a casa n.° 55 d a R o a E lls a b e th , B e rlim , d u r a n te q u a tro se m an a s, to ­ d a s a s ta rd e s , a s v id ra ç a s d a s ja n e la s, q u e o lh a v am p a ­ r a o p á te o , e ra m q u e b ra d a s p o r p e d ra s a rre m e s s a d a s . A -p e sa r-d e to d o s os e sfo rço s d a po líc ia , foi im p o s3 iv el d e sc o b rir os c u lp ad o s. E s te caso, com o ta n to s o u tro s , p a re c e u m a p ilh é r ia de v a g a b u n d o s; m as, d e sd e q u e fo ­ ra m in ú te is to d o s o s e sfo rço s d a po lic ia n o se n tid o de

se d e sc o b rir o c rim in o so , n ão d e v em o s r e c u s a r a p o s­ sib ilid a d e d e um fa to p r e te r n a lu r a l . O caso, a liá s , é m u ito se m e lh a n te ao d e P a r is , n o q u a l se ch eg o u à con clu sã o d e se t r a t a r de um fen ô m e n o s u p ra n o rm a l, d evido n ão a u m a , m a s a m u ita s c irc u n stâ n c ia s.

N A BÉ L G IC A ( J a n e ir o e fe v e re iro d e 1 9 1 3 ) O sr. V on Z a n te n , m o ra d o r de u m a c asa d a r u a C e sa r d e F a iy e , d e c la ro u , em 3 d e fe v e re iro de 1913, a o r e d a to r de um jo r n a l de A n tu é rp ia , a n o tíc ia que h a v ia colh id o n ^ p o líc ia lo c al: "O qu e no s cau so u m a io r a d m ira ç ã o fo i q u e nem u m a d as tr e z e n ta s p e d ra s a tir a d a s fe riu u m a só pes­ soa. No p rim e iro d ia, m eu filh o e sta v a n a h o r ta , e m i­ n h a filh ln h a d o rm ia em seu b e rç o ; n e n h u m foi m o ­ le sta d o . A p en a s a c ria d a rec eb e u u m p ed aço d e tijo lo n a cabeça, m a s se m f ic a r f e rid a . T en d o m e u so g ro sido a tin g id o p o r u m a p e d ra n a c ab eça, e x cla m o u : " E essa! N ão s e n ti n a d a ! ” O e x tra o r d in á r io d e ste fa to é q u e a s p e d ra s, não te n d o m a g o ad o a s pesso as, fiz e ra m e m p e d aç o s to d o s os o b je to s q u e b rá v eis . A liás, é e s te u m c a ra c te rístic o dos fe n ô m e n o s o c u lto s: e v ita m c u id a d o sa m e n te to d o e q u a lq u e r fe rim e n to h u m a n o . C o n firm a n d o isso , d is­ se o X a tlo n a lr a t J o l l e r : “ M u itas vezes fo ra m a tir a d a s p e d ra s do a lto d a c h am in é sem n a d a d e s tr u ir ou f e r ir . A té a s p e d ra s q u e cairo m so b re u m a ou o u tr a d a s p e sso as p re se n te s, rico c h e ta ra m qu a se lm p e rc e p tiv e lm e n te ”. E M .TAVA Se os c ita d o s fe n ô m e n o s sã o m a ra v ilh o so s , m ais ex q u islto s a in d a 6 o u tr a c a te g o ria d e c h u v as d e p e­

— 87 — d ra s, em qu e p a re c e te r h a v id o p e n e tra ç ã o d a m a té ­ ria . U m dos m a is im p o r ta n te s caso s d e s ta e sp écie d e u se no a n o de 1S31, n a I lh a d e Ja v a , n a casa do sr. V an K ess in g e r, a ss is te n te n a s R e g ê n c ia s d e P r a n g e r . U m a v e rd a d e ir a c h u v a d e p e d ra s c aiu a lí, d u r a n te 16 d ia s, d a s cinco d a m a n h ã à s o n z e d a n o ite , d e n tro e f o ra d a re sid ê n c ia , a -p e sa r-d e to d a s a s p rec au ç õ es to ­ m a d a s pelos 6oldados. D este a c o n te c im e n to m u ito s d o c u m en to s e x iste m a in d a . O r e la tó r io d e V an K e ss in ­ ge r, d irig id o ao e n tã o g o v e rn a d o r g e ra l e c o n serv ad o no a rq u iv o do d e p a r ta m e n to c o lo n ial h o la n d ê s, foi t r a ­ d u z id o , em 18S7, p o r A. I. R lk o d è H a a g , e p u b lic ad o em a lem ã o no s “ P sy ch isc h e S tn d ie n ” .

N. B. — Antes de passarm os à segunda série de exem plos elucidativos, referirem os aqui um caso típico, em o qual os aconteci­ m entos m isteriosos parecem estar ligados a uma pessoa determinada. É o que poderíam os denom inar fenôm eno oculto m edial.

F e n ô m e n o s lig a d o s a p esso as Jo a n a P ., n a tu r a l d e G raz, n a Á u stria , tin h a 19 a n o s q u a n d o , em fin s de 1 9 21 , se e m p re g o u n u m h o ­ te l de S isre g g , — K a e rn te n . A i se d e ra m com é la os p r im e iro s fe n ô m e n o s: m o v im en to s e sp o n tâ n e o s d e o b ­ je to s , lu z e iro s e m a te ria liz a ç õ e s. A lg u n s a b u so s, d e s­ o rd e n s e p re ju íz o s q u e com isso lh e a d v ie ra m , o b r i­ g a ra m -n a a e m p re g a r-se em o u tr a casa. E m m a rç o d e 1922 e m p re g o u -se n a c asa do c a p itã o de n av io d e lin h a , J . K o g eln ik , em B r a u n a u . E ste , ju n ta m e n te com s u a esp o sa, o b se rv o u m u i a te n ta m e n te os fe n ô m e n o s e

pu b lic o u o r e s u lta d o n a “ P s y ch ic S c ie n ce ". (D ezem ­ b ro de 1 9 2 2 ) ( 3 7 ) . A p rin cip io , a e n tid a d e e s tr a n h a m a n ifesto u -se m o d e ra d a m e n te ; m as, d e sd e q u e e n tro u n a m e sm a c asa u m a c e r ta c o z in h e ira , o s fen ô m e n o s to r n a r a m -s e v io le n to s, tp m a n d o a té u m c a r a te r a m e a ç a d o r. M uitos o b je to s de uso fOTam q u e b ra d o s o u d a n ific a d o s; o u ­ tr o s d e sa p a re c e ra m , de m o d o in e x p lic áv e l, e r e a p a r e ­ c eram do m esm o m odo . A s m a n ife sta ç õ e s a tin g ir a m o p o n to c u lm in a n te em S de m aio de 1 922. “ F o m o s a c o rd a d o s, — diz K o g e ln ik , — p o r b a ru lh o s e s tr o n d o ­ s o s q u e v ie ra m da d ireç ão d a c o zin h a , e v im o s q u e co­ lh e re s , g a rfo s, b a ix ela , ta m p a s , c h ic a ra s, pás, — n u m a p a la v ra , — to d o s os o b je to s m o v eis, v o a v am p e la co­ z in h a c o n tin u a m e n te . J á m e e n e rv a v a esse e sta d o de c oisas, m a is n e n h u m e sfo rço d e u re s u lta d o no se n tid o de p o r fim aos fen ô m e n o s. M uito pelo c o n trá rio . D u as f a c a s fo ra m a rr e m e s s a d a s n a m in h a d ireç ão , p o r te r e u , im p ru d e n te m e n te , p ro fe rid o p a la v r a s de h o r r o r ”. A c o z in h e ira , n e sse d ia , fico u tã o f o ra d e si que a m a ld iç o o u o in v isív el a u to r d e ssa s tro p e lia s. M as, a p e n a s ta is m a ld iç õ es tin h a m sa id o d e se u s láb io s, c om eçou a d a r g rito s la n c in a n te s, s e n tin d o fo rte a b a ­ lo n a c ab e ça . A p arec eu -lh e a í u m in c h aç o e u m a f e r id a de c o rte fre sco , a v e r te r sa n g u e . H . M ac-K enzie, v in d o a c o n h e c e r a J o a n a P ., m é ­ d iu m d e sta s m a n ife sta ç õ e s e sp o n tâ n e a s , lev o u -a p a ra L o n d re s c o nsigo, e m fin s d e 1 9 2 2 . C o n fo rm e r e la to u a esp o sa de M ac-K enzie, n a P s iq u ic S c ien ce, ja n e iro de 1923, ta m b e ra em L o n d re s se d e ra m fen ô m e n o s p a ­ rec id o s, p osto q u e m a is fra co s.

(37) A. LUDW IG.L n n g jn eh rig e B e u n ru h ig u n g einen Hnnxen ilureh Spnkphnenom ene, F e stn c h rift von P a ru p■ycl». (1929). Pag. 23-89.

— 89 — SE G U N DA 6'JÉRIE:

Fatos cujos autores preternaturais parecem mal definidos Ruidos — Luzes — Fantasm as 0 caso de Oels, na Silésia F o i no a n o d e 1916 q u e se p a s s a r a m co isas o stra n h a s em O els, n a Silésia, ( 3 8 ) . O sa rg e n to F e n sk e , a d m in is tra d o r d e u m a o la ria , m o ra v a com s u a m u ­ lh e r e d o h filh o s n u m a casa a lu g a d a , n a r u a K a ise r 1-b. A in q u ie ta ç ã o d e q u e a f a m ília fo i o b je to n e ssa casa a tin g iu ta l g r a u , q u e o ch efe r e q u e re u ju d ic ia l­ m e n te a resc isã o do c o n tra to d e a lu g u e l, e a r e s t itu i­ ção do p a g a m e n to fe ito a d ia n ta d a m e n te . A se n h o ra F e n s k e c o n ta os a c o n te c im e n to d a m a n e ira se g u in te : “ E m 20 d e ja n e ir o p rin c ip io u o b a ru lh o e n ig m á ­ tico, o q u a l foi o u vido, ao m esm o te m p o , em to d o s os q u a rto s . N os p rim e iro s te m p o s d a v a -se só d e n o ite , n a e sc u rid ã o , à h o r a de n o s d e ita rm o s. E m fin s de fe v e re iro h a v ia-o ta m b sm d e d ia ou de n o ite , d. luz d a lâ m p a d a . C ad a s e m a n a se g u ia o u tro p ro g ra m a . O ra o u v ia m o s p a n c a d in h a s ou e sta lid o s, o r a u m a espéc ie d e c h ilr e a r o u s ib ila r. O u v im o s m a s­ tig a r , com o de ru m in a n te g ig a n tes co . O u tra v ez to c a ­ ra m ta m b o r, e b a te r a m n a p a re d e com m aT telo, como um p e d re iro q ue d e sm a n c h a o m u ro ; m a is o u tr a vez, e ra o c a n to do cuco o u o to q u e de v io lin o q u e tiv e m o s de o u v ir. P e rce b em o s, p o rem , u m e s g ra v a ta r h o rrív e l, com o se fos6e de u m a b e sta d e g a r r a s e n o rm e s. O u­ vim o s ta m b e m u m a esp éc ie de m ia r ; u m a vez o e sto u -

(38) Dr. GRABINSKI.Spnk GeUterachelnuiigeii oder wna aonat? — B orgm elr, H lldoshelm , 1922, pg. 178. Ou: Paych. Studlen, 191«. Cadarno 6.

— 90 — ro, com o se a b ris se m u m a g a r r a f a de c h am p a g n e, o um tiq u e -ta q u e , com o se pro v iesse d e u m reló g io n a p a ­ red e . O uvim os b a te re m fo rte m e n te os n o sso s reló g io s d e bolso. O b a te r d a s h o r a s do n o sso reló g io d e p a re ­ de foi a c o m p a n h a d o d e o u tr a s ta n ta s p a n c a d a s. O m esm o se d eu u m a v ez com o reló g io d a to r r e . B a te ­ r a m ta m b e m n a p o r ta , com o p e d in d o e n tra d a . N as p a n c a d in h a s se n tía m o s, d is tin ta m e n te , c o rr e n te s frias. E u e o caixa O patz, do la z a re to d e cav a lo s de Oels, p e rc eb e m o s n a è sc u rid ã o u m a c en te lh a p a ira n ­ do no q u a rto , a q u a l d e sa p a re c e u ; d e -re p e n te , no m e s­ m o m o m e n to , b a te r a m n a p o rta . A fla m a z ln h a e ra a au lveT m elha. M eu m a rid o e n o sso s filh o s a v ir a m ig u a l­ m e n te . Às vezes, h a v ia v á ria s c e n te lh a s q u e se g u iam a s m oças. M eu m a rid o d e c la ra t e r v isto c larõ es como de d e sc a rg a s e lé tric a s. Os b a ru lh o s no s p e rse g u ia m , o b rig a n d o -n o s a fu g ir d e u m q u a rto p a ra o u tro . N ão p o d e nd o f ic a r de c am a , d e ita m o -n o s no c h ão , e, n ão a g u e n ta n d o m a is, p e d im o s resc isã o do c o n tra to d e in ­ q u ilin o s d e ssa c a s a ”. P e r a n te o T r ib u n a l, 5 te s te m u n h a s a fir m a ra m , sob ju r a m e n to , te re m o u v id o e sse s b a ru lh o s e v isto a s faisca s. O p ró p rio s e c r e tá r io do tr ib u n a l, O e rte r, te s te m u n h o u te r v isto v á ria s vezes a faisca p e rse g u i­ d o ra d a s filh a s. O Q U E A C O N T EC E U A UM V IG Á RIO M uito sig n ific a tiv o s são os fe n ô n e n o s obseT vados n u m a c asa p a ro q u ia l w u o rtte m b e rg e n se , q u e se dão desdo o in v e rn o d e 1902 a té os ú ltim o s a n o s. C o n fo r­ m e a in fo rm a ç ã o do p ro fe so r A. L u d w ig ( F r e i s ln g ) , o c u ra c a tó lico w u e r te m b e r g e n s e q u e n o s v a i r e f e r ir o s a co n te c im e n to s é u m a f ig u ra im p o n e n te , de 50 a n o s. A m o stra v iv a de sa u d e e fo rç a. Ao vê-lo, d isse d e si p a ra si o p ró p rio L u d w ig : " E s te h o m e m n ão s o f re de h a lu c ln a ç õ e s p a to ló g ic a s ! ”

— 91 — “ A s im p o rtu n a ç õ e s p rin c ip ia ra m no in v e rn o de 1902, em cim a do m eu q u a rto d e d o rm ir. Cena a s s u s ­ ta d o ra . De cim a p a ra b aixo, d a e s c a d a ria do a n d a r s u p e rio r ao té rr e o , d e sen c ad e iam u m a b a ru lh a d a in ­ fe r n a l, com o se u m caixão ch eio d e pod aço s de v id ro s fosse a tir a d o p a ra baixo, com fo rç a in c rív e l, v iran d o 3 vezes. C o rren d o p a ra f o ra e e x am in a n d o , n a d a v im o s. M ais f o rte se to r n a v a o b a ru lh o q u a n d o re z áv a m o s em co m u m p e la lib e rta ç ã o d e ssa p r a g a ; b a tla -se n a p o r ta to d a vez qu e re z áv a m o s a la d a in h a de N. S ra ., com o se h o u v e sse d ia n te d a casa u m h o m e m fu rio so . M ui­ ta s v ezes fo i a c am p a in h a p u x a d a p o r m ã o s in v isiv els, m a s e ra “ com o se o som v ie sse do o u tr o m u n d o ”. A m ãe do v ig á rio e a c ria d a v ia m , em seu q u a rto de d o rm ir, u m a b o lh a v e rm e lh a , a rd e n te , q u e se m o v ia d a p o r ta p a ra a ja n e la , o n d e d e sa p a re c ia . H av ia coi­ sa s p io res . “ T e n h o ”, d isse o v ig á rio , " m u lto bom so n o. M u itas vezes, po rem , fu i a c o rd a d o , com o p o r m ão in ­ visív el, e eu d iz ia: a g o ra e s tá e le no m e u q u a ito . D u ­ r a n te a lg u m te m p o , o u v ia -s e u m b a ru lh o s u r p re e n ­ d e n te , so m p re no m esm o m o m e n to . E r a com o e s ta m ­ pid o d e e s p in g a rd a . P o r 15 d ia s fu i a c o rd a d o a lg u n s se g u n d o s a n te s do A n g elu s, se m p re p o r u m e sto u ro da do n o m esm o lu g a r. U ltim a m e n te , d ep o is d e a c o r­ d a d o , fu i s u rp re e n d id o p o r u m la tid o a b o m in a v e l. E r a com o se c a c h o rro e n o rm e m e la d ra s s e ao ro sto . Ao m esm o te m po s e n tia , p e rtin h o do m o n stro , u m a c o r­ r e n te d e a r g e lad o , d a n d o -m e no ro sto . A co isa n ão e ra j á n e n h u m b rin q u e d o . F e liz m e n te , rec eb i de D eus n e rv o s com o c o rd a s; n ão o b sta n te , se n tia q u e to d o s os m e u s n e rv o s e sta v a m te n síssim o s, como p a ra r e b e n ta r ”. E ’ p a ra n o ta r q u e os fen ô m e n o s a p a re c ia m e s­ p e c ia lm e n te q u a n d o o c u ra , p e la b e n ção do r itu a l, t i ­ n h a liv ra d o d e se m e lh a n te s In q u ietaç õ es a lg u m a c a sa dos se u s p a ro q u ia n o s.

— 92 — P o r u m a a titu d e in tim o r a ta e e n é rg ic a , e d a n d o o rd e n s em n o m e de D eu s, co n seg u iu re s ta b e le c e r a paz, p e lo -m e n o s pov a lg u m te m p o . O caso é tã o e v i­ d e n te q u e .u m a e x plicação p o r ír a u d e o u ilu s ã o p a re ce im possível.

O OASO D E UMA R E L IG IO S A A os a c o n te c im e n to s m a is in te r e s s a n te s do cam p o dos fe n ó m e n o s e s p o n tâ n e o s p e rte n c e m os e x em p lo s d e sin a is d e ix ad o s im p re sso s n u m o b je to . A lg u n s de sses c aso s e stã o so lid a m e n te c o m p ro v a ­ dos o n ão d eixam p a lr a r d ú v id a raz o av e l so b re su a r e a lid a d e . T r a ta -s e do f a n ta s m a d e u m m o rto que, p a r a p r o v a r a re a lid a d e d a s u a v o lta , im p rim e a m ão e n c a n d e c id a em pa n o , m a d e ira , p a p el & a té em m e ta l. Com o exem plo s ir v a a a p a riç ã o d a f r e ir a M a rg a ­ r id a G esta. O a co n te c im e n to v e rific o u -s e, se g u n d o se a fir m a , em 16 d e no v e m b ro de 1 8 6 9 , no co n v en to das I rm ã s te rc e ira s f ra n c isc a n a s em F o lig n o . (3 9 ) D epois d e v id a s a n ta , fale ce u a m e n c io n a d a irm ã a 4 de n o v e m b ro d e 1 8 5 9 . T ré s d ia s d ep o is d e su a m o rte , o u v iram -se , n a p ro x im id a d e do se u q u a rto , so ­ luços c o n tín u o s a que n in g u é m d e u a te n ç ã o . A 16 do m ês, indo a ir m ã A n a F e llc e M e n g h in i, d e -m a n h ã ce­ do, à ro u p a r la , ouv iu váriaB v e ze s a m esm a voz, e n ­ q u a n to a b ria o s a rm á r io s . M ui d is tin ta m e n te p e rc eb e u , e n tã o , a s p a la v r a s d a fa le c id a a b a d e ssa : “ O’ m eu D eus, qua g ra n d e d o r ! ” M esm o c h eia d e te m o re s, re ­ solv e u p e rg u n ta r o m o tiv o . E n q u a n to a fa le c id a d av a in fo rm aç õ es, p a re c ia m o v e r-se , em fo rm a de so m b ra , n a d ireç ão d a p o rta . C h e g ad a a li, d isse , em a lta voz: " Q u e eu te a p a re ç a é u m a g ra n d e g ra ç a . N u n ca m a is

(39) GRABINSKI, Spnk G< sonstT Fg. 389-385.

— 93 — v o lta r e i, e, com o sin a l, d eix o -te isa o ” — U m g o lp e f o r ­ te n a p o r ta , e a so m b ra d e sa p a re c e u . V iu -se e n tã o , p r o fu n d a m e n te im p re ssa d e n tro d a p o r ta , a m ão d a fale cid a, e m u ito m a is d is tin ta m e n te do q u e se fo sse a im p re ssão g ra v a d a a fe rro q u e n te . E s te f a to , dizem , é co m p ro v a d o p o r d o c u m en to s. F a to s se m e lh a n te s são c ita d o s com o a co n te cid o s em o u tr o s lu g a re s. E n tr e m u ito s, b a s ta le m b ra rm o s os d e P flo g sb a c h , F u c h sm u e h l, P r e s s b u r g , H a ll u n d T. M erl, V in n e n b e rg , T h a u r b. H a ll, etc.

C — O ESPIRITISMO NO BRA SIL O espiritism o é o m esm o em toda parte. Ao lado de investigadores sérios m ovim en­ tam -se macum beiros; m esm o as sessões diri­ gidas por pessoas distintas se caracterizam p e­ la incerteza, capricho e m istura de fenôm enos estupendos com fenôm enos naturalm ente ex­ plicáveis. Nem sem pre é facil distinguir entre fraude e realidade. O Brasil não faz exceção à regra. Há aqui muita pantom im a, m uita com édia e, sobretu­ do, m uita discursòira insulsa. T odavia, sessões há, principalm ente em S. Paulo, que não d ife­ rem m uito das sessões européias, relatadas por nós no corpo desta obra. Vam os dar uma amostra. Pura isso, ser­ vim o-nos de apontam entos concienciosam enle organizados por um cavalheiro distinto que, sem adm itir o espiritism o com o religião, o tem estudado sob o ponto de vista científico. Tra­ ta-se do dr. S halders. O dr. Shalders é brasileiro, m as filho de pai inglês; estudou na Europa e form ou-se



94 —

em engenharia pela Politécnica do Rio. Con­ ta atualm ente 77 anos de idade e é engenhei­ ro da Light desde 1899. E ’ tambem diretor da Sociedade M ctapsiquica B rasileira. A costum ado a redigir relatórios, — pois trabalha na Secção de Superintendência, — o dr. Shalders tem observado escrupulosa­ mente o que se passa nas sessões a que assis­ tiu, e essus passam de um milhar. Opina que há fenôm enos reais, de natureza preternatural, m as abstem -se de se pronunciar sobre as causas dos m esm os, pois até hoje não chegou a form ar um juizo definitivo sobre o espiri­ tismo. Adem ais, em sua opinião, é dificil in ­ dagar as causas dos fenôm enos, porque, nas sessões, os assistentes perdem toda liberdade de julgam ento, alheiam -se do am biente e tor­ nam -se fanáticos. Poucos hom ens, diz ele, conseguem guar­ dar firm e e lúcido o juizo habitual. Todavia, espirita a seu m odo, o dr. Shalders aceita pa­ ra os fenôm enos uma interpretação que em nada difere da teoria espirita geral. Como, porem , esta discussão é tratada em outra parte do livro, lim itam o-nos a copiar, data vertia, alguns apontam entos dos cadernos do dr. Shalders. SE SSÃ O D1D 11 D E MA IO D E 19S9 C asa (lo Cap. V alen ç a — A ssistê n c ia : U m a s doze pe sso as — M é diuns: O rcem y e d. N en e n ; d ep o is, E u nic e, filh a de d. N enen. P r e n d i o a n e l de d. N en e n com uin co rd ã o do m a is de 5 m e tro s de c o m p rim en to . Com o c o rd ã o , do­

— 95 — b ra d o a o m oio, p r e n d i a a lia n ç a ao p u lso do m é d iu m , d a n d o n ó cego. L ev e i o c o rd ã o ao e s p a ld a r d a c a d e ira o a m a rro i-o a li, ta m b em com n ó cego. F iq u e i com a o u tr a e x tre m id a d e p r e s a em m in h a m ão d ir e ita . F o ito escu ro no a m b ie n te , o a n e l c a iu no c h ão em m e n o s de u m m in u to , — o tem p o e x ato q u e b a s­ to u p a ra eu c o n ta r a té seis. N ão v e rifiq u e i se o c o r­ dão te r i a sido a rr e b e n ta d o p a ra p e rm itir a sa ld a do a n e l. M as, a in d a q u e o fo sse, n ã o o te r i a sid o p o r d. N en e n , p o is e s ta n ã o t e r i a fo rç a p a ra ta n to . D eixei c a ir o c o rd ã o no p a v im en to . ' Os e sp írito s q u e c o stu m a m m a n ife sta r-se , d e n u n ­ c ia ra m a s u a p re se n ç a com o s sin a is h a b itu a is . São os e s p ír ito s F r a n c is c o B a r re to , F r a n c is c o S o u sa e D eolin d o . F ra n c is c o a sso b io u , com o d e co stu m e . F in d a a se ssão , que d u ro u m u ito p ouco, e stav a m c s m é d iu n s a m a r r a d o s um ao o u tro , a b ra ç a d o s. D eixou-se a um dos e sp irito s a ta re f a d e d e sa m a r­ r a r o s m é d iu n s, o quo e le fez em p o u co s se g u n d o s. V erific o u -se e n tã o q u e o co rd ã o , te cid o d e a lg o ­ dão f o rte , n ão a ta v a m a is o m é d iu m , n em a c a d e ira , m a s e s ta v a no c hão, picad o em p e d ac in h o s de u n s 10 c e n tím e tr o s c ad a . D u ra n te a se ssão , u m e s p ir ito s o f re d o r in c o rp o ­ ro u -se no m é d iu m M a ria, m a s foi d o u tr in a d o e a c a l­ m a d o p elo e s p ir ito F ra n c is c o S o u sa, in c o rp o ra d o uo m é d iu m O rcem y ( s e n h o r ita ) . R e tira n d o -se de O rceray, F ra n c is c o a sso b io u c a r a c te r is tic a m e n te . O u tro e sp irito , p e sso a d a fa m ília do C ap. V alen ça, in c o rp o ro u -se n u m dos m é d iu n s e com eçou a con­ v e rs a r com o c a p itã o , te n d o tid o , p rim e iro , o cu id ad o do p r o v a r su a Id e n tid a d e . F o i le v ita d a u m a c o rr e n te lu m in o sa q u e e sta v a ao lo n g e e d lrlg iu -ae p a ra m im , tra z e n d o n a p o n ta u m

— 96 — c ada rgo, tam isem lu m in o so , q u e m e a c a ric io u a s m ãos d e m o ra d a m e n te . E m se g u id a , o e sp irito m e e n tre g o u a c o rre n te , e eu, de pé, s e g u re i- a bem a lto . M as n e g o u -se a le v a r a c o rr e n te a té o te to , c o n fo rm e p e d id o m e u . D eixei e n tã o c a ir a c o rr e n te n a m e sa, e e n c e rro u -s e a se ssão . Os m é d iu n s O rcem y e N en e n e sta v a m d e ita d o s n o c hão, a b ra ç a d o s. P e d lu -se ao e sp irito q u e a c o r d a s ­ se a s d u a s s e n h o ra s e a s fize sse v o lta r a s u a s c a d e i­ ra s , — o q u e fo i f e ito . D o n a E u n ic e , m e lo a c o rd a d a , m o stra v a -se m u ito n e rv o sa e In c lin a d a a c h o ra r. O s r . G astão d e sp e rto u -a e a c a lm o u -a. SESSÃO D E 2 4 D E M A IO D E 1 0S9 E m c asa do s r . G astão — A ssistê n c ia : 35 pes­ so a s — ÍM édluns: D. N en en , d. Z ild a e s e n h o rita O r­ cem y. Os m é d iu n s O rcem y e Z ild a fo ra m a m a r r a d o s , com o de co stu m e , á s s u a s c a d e ira s, O rcem y pelo d r. Jo ã o D ias e d. N en e n p o r m im . P r e n d i a a lia n ç a d e sta de ta l f o rm a q u e e la n ã o p u d e sse tir á - la d e n e n h u m m odo. F e z -se e scu ro e, em m eio m in u to , c aiu o a n e l d e d. N en e n . M a n ife sta ra m -se oa e sp írito s F ra n c is c o B a rre to , F ra g o so , J o a q u im e D eo lin d o , c a d a q u a l pelo sen s in a l p ró p rio . F ra n c is c o a sso b io u d u r a n te a se s­ sã o in te ir a ; a m e u p e d id o , e p a ra s a tis f a z e r o d r. Jo ã o D ias, a sso b io u L a D o n a é m o b ile e o H in o N ac io n a l. A s c o rn e ta s lu m in o sa s fo ra m le v ita d a s sim u lta ­ n e a m e n te e d e sc re v e ra m no e sp aço m o v im en to s in te ­ re s s a n te s , um a em to rn o d a o u tr a . N o fim da se ssão e sta v a d. N en e n fo rte m e n te a m a r r a d a a s u a c a d e ira , com c o rd a n ova q uo fo ra le ­ va d a p o r m im .

— 97 — O rcem y a ch a v a-se a s s e n ta d a em c im a do g ra m o ­ fo n e, no c hão, to d a e n v o lta , in c lu siv e a cab eça, n a to a lh a d a m e sa. A m a rra d a p o r d e n tro da to a lh a . P o r fo ra desta', à a ltu r a do p escoço, e n ro la ra -s e u m a c o r­ da. O a ssob io, e ra e v id e n te , n ã o p o d ia p a r ti r d e la. D u ra n te a se ssão, o e s p ir ito a cio n o u o g ra m o fo ­ n e ; a b riu 2 caix a , esco lh e u o disco, fez fu n c io n a r d e u m la d o e d epois, e x p e rim e n ta n d o o o u tr o la d o e n ão g o sta n d o , e sco lh e u o u tr o disco . F in a lm e n te , d e s a r ­ ra n jo u o m e ca n ism o d a p a ra d a a u to m á tic a . D eixando-se a o s e s p írito s a ta r e f a d e a c o r d a r os m é d iu n s, e les tro u x e ra m O rcem y p a ra cim a d a m esa, a s s e n ta r a m - n a em c im a do g ram o fo n e , so b re u m a c a ­ d e ira . A c o rd a ra m -n a , e n fim , d e p o is d e h a v e re m -lh e tir a d o a to a lh a d e so b re a cab eça. D. N en e n , d epois d e d e s a m a r ra d a , fo i le v a n ta d a do c hão e co lo ca d a em s u a c a d e ira . Z ild a fo i e n co n ­ tr a d a , ao f u n d o do sa lão , a m a r r a d a a u m b an co , ju n ­ to & p o r ta d e sa ld a . F o i d e p o is a c o r d a d a com o a s o u ­ tr a s .

G ra n d e p a r te d a a ssistê n c ia fico u em d ú v id a so ­ b r e se a s m ú sic a s do g ra m o fo n e p a rtia m d ê le m esm o o u d e a lg u m a c aix a f e c h a d a . . . A n o ta c a r a c te r ís tic a d a n o ite fo i a v a ria d a a p re ­ se n ta ç ã o de q u a d ro s v iv o s com os d o is m é d iu n s. P a r ­ te d esse tr a b a lh o foi feito ã m e la-lu z q u e o p ró p rio e sp irito se e n c a rr e g o u de fo rn e c e r. A lu z a p ag o u -se p o r fim , c o n tin u a n d o a e n tr a r no r e c in to a fra c a lu z d a n o ite e s tr e la d a . J á q u a se a o fim d o s tr a b a lh o s , um e sp irito se d iv e rtiu em fa z e r cóceg as a u m a m oça q u e se a c h a v a n a v iz in h a n ç a do s r . G astão . E ssa m o ça, d u r a n te m i­ n u to s, deu g o sto sa s g a rg a lh a d a s .

— 98 — SESSÃ O D E 3 D E JU N H O D E 1 0 8 0 C asa do sr. G astão — A ssistê n c ia : M ais de 120 p e ssoas — M éd iu n s: D. N en en , d. M aria, se n h o rita O rcem y. F in d a a se ssão, o sr. F a lc ã o d e u p e la f a lt a d e seu reló g io . C o n su ltad o o e sp irito F ra n c is c o , e ste d e cla ­ ro u q ue o h a v ia lev ad o p a ra a c asa d e O rcem y. O sr. F a lc ão o fere c e u -se p a ra a c o m p a n h a r O rce­ m y a té casa , e logo um g ra n d e g ru p o se r e u n iu a a m b o s: fom òs, p o r ta n to , a té a c asa de O rcem y, eu, o cap. V alen ç a, d. N en e n , u m a s u a filh a , sr. A rm a n ­ do Sales, s e n h o ra e irm ã o , e o s a rg e n to M esq u ita , a lém do sr. F a lc ão . A p ag a m o s a luz, e im e d ia ta m e n te o e sp irito F r a n ­ cisco com eçou a a s s o b ia r a n te s m esm o q u e O rcem y e n tra s s e em tr a n s e . S e n te i-m e em u m a c am a, ao la d o d e d. N en en . E s ta e n tro u logo em tr a n s e , in c lin a n d o -se p a ra tr á s com a cab e ça a p o ia d a n a p a re d e. D a l a pouco o e sp irito a b riu o m e u g ü a rd a -c h u v a , qu e e s ta v a so b re a c am a , e o d eu a d. N en en , p a ra se ­ g u r a r ; fica m o s a m b o s c o b e rto s p elo g u a rd a -c h u v a . O e s p ír ito F ra n c is c o , to c an d o -m e , c olocou em m e u s b ra ç o s u m c a c h o rrin h o d a c asa e o lev o u d ep o is As o u tr a s pessoas. P e r g u n ta n d o - lh e eu p o r q u e n ã o p u d e ra r e ti r a r o nuel do c o fre, re sp o n d e u q u e e ra p o r s e r o c o fre d e m e tal. D ai a pouco F ra n c is c o se e n c o rp o ro u em O rcem y e confe sso u s e r êle qu e m tr o u x e r a o re ló g io p a ra d e­ baixo do tr a v e sse iro . P e r g u n te i-lh e p o rq u e a b r ir a o m e u g u a rd a -c h u v a e resp o n d e u -m e : — P a r a você n ã o se m o lh a r. O b serv a n d o eu q u e e stá v a m o s d e n tro d e casa , ele

— 99 — d isse q ue, se q u ise sse , p o d e ria d e ita r á g u a em cim a de m im . E m se g u id a , d e sp ed iu -se com um b o a -n o lte e sa iu , asso b ia n d o . O rcem y v o lto u a si.

SESSÃ O D E 7 D E JU N H O D E 1 0 3 9 C a sa do s r . G astão — A ssistê n c ia : U m as s e te n ta p e sso as — M é d iu n s: D. Nfenen, M a ria, O rcem y. S essão m u lto p a re c id a com a s o u tr a s . O e sp irito D eolindo m a n ife sto u -se , b a te n d o » p a lm a s f o rtíssim a s. F ra n c is c o e u tro u com o se u a c o stu m a d o a sso b io . L ogo dep o is c a n to u com igo o h iu o a le m ã o : ' ‘H eilig e N a c h t" . SESSÃ O D E 2 8 D E JU N H O D E 1 9 3 9 E m casa do s r . G astão — A ssistê n c ia de 70 p es­ so a s — M é diu m : se n h o rita O rcem y F r a g a . O e sp irito , a p edid o d e a lg u e m , e s c r e v e ^ se u n o ­ m e n u m c a r tã o d a d o pelo s r . F r a g a , te n d o tir a d o ~àô b olso d e ste o la p is. E m se g u id a , e n tre g o u o c a r tã o ao a s s is te n te , q u e lb o h a v ia p ed id o . V erific o u -se , depo is, h a v e r o e sp írito e sc rito : ‘‘D eus o a ju d e , Jo sé P a s s a r e lll”. E s te é o n o m e c o rr e ­ to do a s s is te n te . N o te -se q u e e s te e ra d esco n h e cid o d e to d o s os o u tr o s a s siste n te s. N u m a se g u n d a se ssão , a m e n in a L íg ia , n e ta do sr. G astão , fo i tr a n s p o rta d a p a ra cim a d a m e sa. T i­ n h a aB m ãos a m a r r a d a s a tr á s d a s c o stas. C o n fesso u q u e h a v ia sido le v ita d a a té p e rto do fo rro . O bservo q u e a m e n in a n ã o f o ra a d o rm e c id a n em a n te s n em d e­ pois do fen ê m en o .

— 100 — SESSÃ O D E 15 D E S E T E M B R O D E 1 9 3 » E m casa do sr. Jo ã o C a ia ffa. D. E lv ir a C a ia ff a e d. H ild a Bouclxer m a n if e s ta ­ vam ã tá b o a p sic ó g ra fa , c o n serv an d o os o lh o s fec h a ­ dos d u r a n te to d o o te m p o . O a p a re lh o la à s le tr a s e om p rec isã o e se m e rr o d e o r to g r a f ia .

(D iálo g o so b re a s s u n to s b a n a is, do in te r e s s e p a r ­ tic u la r de a lg u n s dos a s s is te n te s ). S u s p e n sa a se ssão , foi Teaberta d epo is d e um p e ­ que n o in te rv a lo . A s m e sm a s pe sso as, de o lh o s fec h ad o s, m a n e ja ­ ra m a tá b o a . D isse o e sp írito : — ‘‘Boa n o ite ” . P e r g u n ta d o pelo no m e, re sp o n d e u : — “ P e d ro ”. — " P e d ro , q u e m ? ” p e rg u n ta m o s. R e sp o n d e u : — “ P e d ro , c h av e iro do Céu. V ou d a r u m a c h av e p a ra o velh o a b rir o p u r g a tó r io ” . V endo q u e no s h a v ía m o s com um e s p ir ito zom ­ b e te iro , d e sp ed im o-lo. SESSÃ O D E 2 4 D E S E T E M B R O D E 1 9 3 9 E m c a sa do sr. V a ld e m a r d a Silva. E m u m a se ssão de in c o rp o ra ç ã o , se n d o m é d iu m o sr. M ichel, d e u -se u m “ tr a n s p o r te ”. A p arec eu um p e q u en o ta llsm a n , u m a e sp écie d e m e d a lh a d o u ra d a , de f o rm a c irc u la r, te n d o d e n tro do circ u lo o n ú m e ro 13; p re n d ia -se a u m a p e q u e n a a rg o la , pelo la d o de fo ra do c írc u lo . F o i p re se n te a d o a d. A lz ira , u m a d as p e sso as p re se n te s. D. M ary A lvim e o sr. P a tro c ín io d isse ra m q u e tin h a m v isto o o b je to c a ir. E u e a s d e m a is p e sso as p r e se n te , se is a o to d o , n ã o v im o s, m a s o u v im o s cia-

— 101 — r a m e n te o so n id o d a m e d a lh a q u a n d o c aiu so b re a m esa. I n te r r o g a d o o e sp irito a c e rc a d e se u n o m e, r e s ­ pondeu: — “ E d u a r lo C a rlo s P e r e ir a ”. P e r g u n te i com o e ra po ssív e l e s ta rm o s a li como e s p ír ita s , e le, m in istro p r e s b ite r ia n o o u tr o r a , o s r. V ald em a r, ta m b e m p r e s b ite r ia n o e e u , m e to d ista . R e s­ pondeu: “ Os c a m in h o s são d if e r e n te s , m a s o d e stin o é o m esm o. H o je , irm a n a d o s n a m e sm a fé o v e rd a d e , s e ­ g u im o s de c ab e ça e rg u id a e p e ito a b e r to . N ão te m o s luz, m a s viv e m o s d e refle x o . N ão c o n d u zim o s; som os con d u zid o s em b u sc a do m esm o id e a l”. P e r g u n ta n d o - lh e o sr. V a ld e m a r se o N ovo T es­ ta m e n to não e n c e rr a a sín te s e d a v e rd a d e relig io sa , resp o n d eu : — “ M eus a m ig o s, a v e rd a d e é u m a -s ó — D eus. Os e sc re v in h a d o re s (sic ) do N ovo T e s ta m e n to fo ra m m é d iu n s e x tra o r d in á r io s , q u e ta m b e m :tr a b a lh a ra m p a ra a tin g ir o m á x im o d e p e rfe iç ã o ; m a s h á co isas q u e n ã o podem s e r r e v e la d a s. T u d o c h e g a rá a seu te m ­ po p a ra a h u m a n id a d e , p a ra a s u a e v o lu ção n a tu r a l" . SESSÃ O D E 17 D E JA N E IR O D E 1 9 4 0 E m c a sa do sr. G astão — A ssistê n c ia : 50 p e sso as — M é d iu m : C a ro lín a. A c a d e ira do m é d iu m fo i le v ita d a p a ra c im a d a m e sa, e C a ro lin a , se m s a b e r com o, a ch o u -se se n ta d u n a c a d e ira , com a s m ã o s a m a r a d d a s . V iu -se a c a d e ira su b ir no a r e, em se g u id a , d e s­ c er v a g a ro s a m e n te a té o c h ão , com u m p e q u en o ru id o a o to c a r no p a v im en to . O m é d iu m e ste v e se m p re a s ­ se n ta d o so b re a c a d e ira d u r a n te to d o s esseg m o v i­ m e n to s. M ãos se m p re p resa s.

— 102 — T rê s vezes su b iu a c a d e ira no a r, d istin g u in d o -se c la r a m e n te q u e e n tre e la e a m e sa h a v e r ia o espaço de m e tro e m eio. O m é d iu m a co m p a n h o u a in d a a ca­ d e ira no espaço, fica n d o s e n ta d o d a p r im e ira vez, do pé n a se g u n d a e de jo e lh o s n a te rc e ira , — q u a n d o , e n ­ fim , re p o u so u a c a d e ira d e fin itiv a m e n te . N u m se g u n d o te m p o , a c a d e ira foi d e novo lev i­ ta d a a té o fo rro d a s a la , o n d e fico u b a te n d o p o r a l­ g u n s in s ta n te s , o u v in d o -se o b a ru lh o . D escendo dep o is, v a g a ro sa m e n te , g iro u em to r ­ no do si m e sm a , p rim e iro bem d is ta n te de m im e go, em se g u id a , ju n to a m im , n a m in h a f re n te . Seu m o v im en to , v a g a ro so a p rin cip io , fo i-se to r n a n d o c ad a vez m a is ráp id o , de s o r te q u e a tin t a lu m in o sa dos pés fa z ia círc u lo lu m in o so pelo ch ão . J D u r a n te todo e sse tem p o , o m é d iu m co n serv o u se d e ita d o s o b re a m e sa, de m ã o s se m p re a m a r r a d a s .

C O N C L U S Ã O

De todo o im enso material que nos con­ fiou o dr. Shalders. procuram os transcrever apenas, resum indo-o, o relato de algum as sessões em que houve fenôm enos objetivos. Nessas sessões, com o em todas, aliás, não houve o controle rigorosam ente cientifi­ co que observam os nas sessões européias a que estiveram presentes o dr. Gatterer e o ba­ rão Schrenk-Notzing. E ’ natural. Foram reuniões de adeptos fervorosos, que dispensam provas. Por isso, torna-se d ificil verificar, nas sessões paulis­ tas relatadas, a dosagem de realidade ou a estensão de fraude que, por ventura, haveria nelas. Acham os, porem , que o dr. Shalders, criterioso com o é, seria o prim eiro a denun­

— 103 — ciar as fraudes das sessões a que assistiu, se houvesse notado algum a. De-fato, em seu relatório, o dr. Shalders a-m iude chama a atenção para a fraqueza de certos fenôm enos. N ão raro, acha, para alguns, explicação natural. D e-propósito, transcrevem os dois peque­ nos diálogos, — fenôm enos subjetivos, — em que a feição anti-católica e anti-religiosa do espiritism o c evidente: as palavras do espíri­ to Eduardo Carlos Pereira e as do espírito P e­ dro, pseudo-chaveiro do Céu. Vim os tambem, num a sessão, a inconve­ niência de um espírito, fazendo cócegas nu­ ma moça. Fatos que tais não são raros em sessões espiritas.

Quanto às sessões do B aixo E spiritism o ou Espiritism o de Macumba, em que predo­ m inam ritos africanos, refertos de termos bárbaros, temos tambem copiosa docum enta­ ção relativa ao Brasil. N ão relatam os, porem , neste livro, as sessões de m acum ba, pelo sim ­ p les motivo de elas fugirem a todo controle cieniifico: com efeito, a fiscalização ou o exa­ m e conciencioso não tem lugar nessas ses­ sões, não só por causa da finalid ade delas, — despachos e conlra-despachos, — com o tam­ bem p ela qualidade das pessoas que tomam parte nas mesmas. A liás, seria d ificil verificar se, no baixo espiritism o, há fenôm enos extra-norm ais reais, — üuico escopo a que visam os nesta secção de nossa obra.

CAPÍTULO II REALIDADE DOS FENÔMENOS SUPRANORM AIS E stado da questão Na relação dos fenôm enos verificam os o grande interesse qu!e, anos atrás, se tinha p e­ lo ocultism o. Encontram os num erosos nomes de im portantes investigadores, com o H. Driesch,’ K. Grubcr, K. Zimmer, M. Dessoir, J. Maxwell, R. Baerw ald, E. Becher, H. Thirring, O. Kraus, A. Messer, O. Lodge, etc. Nos últim os 20 anos, tambem entre os ca­ tólicos, so com eçou a dar atenção sem pre crescente a essas questões. Salta à vista a sua im portância, tanto para a teologia co­ mo para a vida religiosa do povo. Convem mencionar, pelo m enos, os seguintes nom es de escritores católicos: O. Gutberiet, A. Ludwig, N. Bruehl C. Ss. R.. Staudenm aier, A. Mager O. S. B., J. Udde, M. Ettlinger. W . Schneider, Fr. W alter, A. Seitz, W . Kaesen S. J., J. Bessmer S. .T., G. Beyer S. J., H. Thurston S. J., W . Ellerhost, H. Mainage O. P., H. Malfatti. A té hoje não se chegou a com pleto acordo na questão fundam ental: a da reali­ dade de tantos fenôm en os apresentados com o

— 105 — su pranorm ais. Disto trataremos nesta secção. Cumpre-nos verificar, peran te a razão, a rea­ lidade desses fenôm enos, ou, por outra, se os cham ados fenôm enos telecinéticos e teleplásticos, são fatos realm ente acontecidos; se, rea­ lizados em sem elhantes condições, podem os aceitá-los com plena confiança, ou, por outra, se são ou não produtos de fraude ou de ilusão. Quanto aos fenôm enos ocultos da telepa­ tia e televisão, com o de vez em quando são produzidos em exibições públicas, quase não se duvida já da sua realidade. Não é preciso exam iná-la particularm ente aqní. O desacor­ do continua, até hoje, só quanto à supranorm alidade dos fenôm enos de ordem física, co­ mo os citados atrás. (Rudi Schneider e Mme. Silbert.) Isso é aplicavcl não só aos circulos pro­ fanos, onde grupos m onistas-m aterialistas, com o B aerw aldi, K linchowstroem , H. Rosenbusch, W . G ulat-W ellenburg, M. D essoir, A. Moll, etc., tom aram posição negativa, m as tam­ bém aos m eios católicos. Tambem entre os católicos alguns há que não querem admitir a realidade dos fenôm en os supran orm ais. Ou­ tros há, todavia, que a reconhecem franca­ mente. O motivo geral da atitude negativista é o juizo teórico que se faz, com a alegação de que os casos não foram ve rificados p ra ti­ cam ente. Na n egativa encontramos nom es co­ m o: J. Bessm er S. J., G. Beyer S. J., Bruchl C. Ss. R., H ercdia, S. J., Patrick Gearon, Paul H eusé, Pe. Mainagc, Liljenkrantz S. J., D. Otá­ vio Chagas de Miranda e outros. E na afirm a ­ tiva, outros autores salientes: A. W . Kaesen

— 106 — S. J., H. Thurston S. J., os teólogos Fcrrères, Tanquerey, Perrone, Sabatti, Aertnys, Ojetti, Noldin, B allerini-Palm ieri, Garrigou-Lagrange, Thurston, S. J. Franco S. J., o m édico Dr. José Lapponi e, entre nós, o dr. F elicio dos Santos, o dr. Lucio José dos Santos, D. Fer­ nando Taddei, e outros. No Brasil existem os dois pontos dc vis­ ta europeus. Há quem afirm e tudo. E há quem tudo negue. Os negativistas parecem ter m e­ do de afirm ar a verdade toda, com todas as suas consequências. Quanto a nós, entende­ m os que há exageros de parte a parte, c, por isso, procuram os apurar o que há de real. D e-fato, considerando a im ensidade de m aterial positivo, assim com o a qualidade científica de tantos investigadores, acham os que nem tudo pode ser fraude, e que, pelo m enos certa porcentagem , deve ser realidade. Antes, porem, de passarm os adiante, de­ vem os estabelecer algum as diretrizes e nor­ m as para nossa investigação. A — CRITÉRIOS GERAIS D ois pontos a elucidar: 1.® Que confiança m erecem os relatores e observadores no terreno oculto? 2.® Que confiança merecem os m édiuns nas suas produções? 1.“ — CONFIANÇA QUE MERECEM OS OBSERVADORES DE FENÔME­ NOS OCULTOS. Em toda investigação desta natureza, de-

— 107 — ve-se ter em vista a qualidade ciêntifica, concienciosidade e experiência do observador c do relator. Por isso não tem nenhum valor os rclátorios de círculos vulgares espiritas. Tratando-se ainda de investigações sérias, é preciso, com o é costum e entre os cientistas, su por e a d m itir a honestidade e a boa fé no investigador, o qual deve referir, fiel e concienciosainente, o que observou, ou que, pelo m enos, acreditava observar. Sem elhante su­ posição seria inadm issível a respeito de qual­ quer observador que, anteriorm ente, já hou­ vesse dado m otivo a desconfianças, ou con­ tra o qual existissem m otivos atuais de sus­ peita. Os que negam a realidade dos fenôm enos costum am apontar a excessiva credulidade dos espiritas e ocultistas. D izem : “As afirm a­ ções de espiritas convictos não tem valor.” Nesta afirm ação há sem duvida m uita verda­ de. A convicção arraigada faz que não p er­ cebam pontos im portantes e leva os espiri­ tas a interpretar violentam ente os fenôm enos, no sentido dos próprios sentim entos. Con­ form e a afirm ação de m édiuns fraudulentos, pode-se fazer crer, aos iniciados, tudo quanto se quiser, sem encontrar contradição. Mas, a-pesar disso, é falsa a afirm ação supra, na form a em que é dada. Tais convicções podem fundar-se em sólidos m otivos. Desde que exis­ tem bases suficientes, a convicção nada perde de seu valor. Deste critério é que nos servim os na apreciação de fatos reputados m iraculosos. E ntretanto, a confiança no investigador

não depende apenas da sua capacidade cien­ tífica ou da sua seriedade, m as tambem das condições sob que hão-dc se observar e fazer experiências. R calizam -sc, nas sessões espiri­ tas, as condições, de m odo que se possa falar de observação realm en te científica? N esse particular, parece o problem a m uito m ais di­ fícil. A escuridão relativa, a luz fraca verm e­ lha, que parecem ser condição para haver fe ­ nôm enos, podem tornar-se ocasião de faltas graves. Quem trabalhou em gabinete escuro de fotografia, sabe dizer quão dificil é operar em am biente pouco ilum inado. Tam bem as chapas fosforescentes e os preparados enga­ nam m ui facilm ente. Até de relatores concienciosos se podem esperar frequentes erros e enganos na própria observação. Faz-se m is­ ter m uita cautela e paciência da parte do ex ­ perim entador, para se chegar a resultados se­ guros. Outro exagero seria negar a p ossibilida­ de de se conseguir resultado cientifico. T am ­ bem à luz verm elha se pode distinguir, com se­ gurança, o lado de um vidro e o das chapas fotográficas, verificar a exposição, a densida­ de e a som bra do negativo revelado. Basta a prática antecedente e prolongada. H avendo de ocupar-nos ainda com as condições da observação, passam os à outra questão. 2.° — CONFIANÇA QUE MERECEM OS MÉDIUNS Tambem a este respeito há m uitas diver-

— 109 — gcncias. Ocultislas entusiastas e, m ais ainda, espiritistas ferrenhos garantem que os m édi­ uns merecem absoluta confiança. Irritam-se, quando se ventila a questão da possibilidade de engano. Os representantes da opinião con­ trária com prazem -sç em enumerar então a série intérm ina de desm ascarações, e con­ cluem : “ Isto e aquilo foi reconhecido com o engano on fraude; o que ainda não foi desco­ berto, sê-lo-á certam ente m ais tarde. Logo, tudo é fraude e en gan o!” Quem tem razão? A nosso ver, ambas as partes desconhecem o estado real das coisas. No que se segue, procurarem os discutir o pró e o contra da questão, e verem os o que se háde concluir. A prim eira questão é, pois, a seguinte: Pode-se, na verificação cientifica dos fenôm e­ nos, confiar na honestidade de qualquer m é­ dium ? A isto se responde com um "Não” ca­ tegórico. Eis a linguagem inequívoca dos fa ­ tos! Foram ve rificados m uitas vezes, nas cha­ m adas desm ascarações, frau de intencional com pleta, frau de não intencional, e até gros­ seiros em bustes. Não se trata aqui de sim ples falh as peí^ante com issões de inquérito, m as de positi­ vas fraudes. E num erem os alguns casos m ais notáveis. E is a lg u n s c asos de e n g a n o g ro sse iro . O m é d iu m H . B n stia n tiro u c ópias d e m ão s c éle b re s h a b s b u rg u e n se s. A d e sm as ca ra çã o pelo K ro n p r in z R o d o lfo é co­ nh e cid a . F lo rc n c e C ook, c é le b re m é d iu m d e e x p e riê n ­ c ia de W . C ro o k e s, ío i m a is ta r d e d e sm a s c a ra d a , q u a n ­

do U3ava o pse u d ô n im o de C ôm er. (4 0 ) T am b em o fa ­ m oso H . S lad e e m p re g a r a a rtifíc io s bem e n g e n h o ­ sos. ( 4 1 ) . A p an h a d o em f ra u d e s, fo i c o n d en a d o a t r a ­ b a lh o fo rg a d o . B u g n e t, o fo tó g ra fo d e e sp írito s, foi ob rig a d o a c o n fe ssa r que su a s c h ap a s tin h a m sid o s u b m e tid a s a d u a s exposições, p a ra sim u la re m p re ­ se n ça de e sp írito s. ( 4 2 ) . O a m e ric a n o I. G o d fre y R a u p e rt, a n te r io r m e n te m e m b ro d a S. P .R ., tin h a o b tid o , com um fo tó g ra fo d e L o n d res, so b c o n diçõ es a p a r e n ­ te m e n te se v e ra s, r e tr a to s de e sp írito s. R a u p e r t faz ia tir a r , em c h a p a s p ró p ria s, à lu z do d ia , r e tr a to s seu s, e a p a r e c e r a m e n tã o , p e rto dele, c la ro s f a n ta sm a s. P a ­ r a e x c lu ir to d o e n g a n o , d a v a, à s vezes, m in u to s a n te s, o rd e n s in e sp e ra d a s a o s se re s m a te r ia liz a d o s p o r ele. ( 4 3 ) . A -p e sa r-d e to d o c u id ad o , d o is e sp írito s fo ra m rec o n h ec id o s com o p e sso as v iv as, pelo q u e fico u c la r a ­ m e n te d e m o n s tr a d a a fra u d e . A c éle b re E u s â p ia P a lla d in o e n g a n a v a s e m p re q u e podia. A su a f ra u d e foi d e sc o b e rta , in d u b ita v e lm e n te , em C a m b rid g e, p o r R . H o d g so n . E u s á p ia te v e a m á so r­ te de p e rd e r em P a r is um p e d ac in h o d e f e rro c é rlu m , com qu e m a n if e s ta m e n te p ro d u z ia fe n ó m e n o s lu z en ­ te s . ( 4 4 ) . P o r f o to g r a f ia in s ta n tâ n e a foi v e rif ic a d a a f ra u d e de V on G u zik ( 4 5 ) . Is lo p r o d u z ia “ E c to p lasm a ’ de a lg o d ã o e g o r d u ra e tc. (4 G ). Com o c o n clu são g e ra l de I n ú m e ra s e x p eriên c ia s, p o d e -se a f ir m a r q u e to d o s os f e ito s de m é d iu n s p r o fissio n a is fo ra m r e s u l­ ta d o s de e m b u ste . Ch. R ic h e t (4 7 ) e screv e o se g u in te ; “ M iller B a ile y , Jlm c . W illia m s S n m b o r, A n a R o th e fo(10) R. FISCHNBR, Genchlel»«e d e r occu ltist. F o r■chung. Pg. 16 e 167.

— 111 ra m d e sm as ca ra d o s. E ld r c d e sco n d ia , no e s p a ld a r g ro s­ so d e u m a p o ltro n a , tu d o q u a n to p re c isa v u p a ra su a s a p re se n ta ç õ e s. O fo tó g ra fo d e e s p ir ito s B o u rsn e ll foi c o n d en a d o pelo T rib u n a l. M m c. 'W illiam s f o i d e sm a s­ c a r a d a em P a r is , e tin h a e m se u p o d e r d lv e rsfssim o s o b je to s que e m p re g a v a , (co m o E ld r e d ,) p a ra a p r o ­ d ução de fa n ta sm a s. O caso d e S a m b o r é n o tá v e l. U m a m ig o , a p a r e n to m e n te m u ito h o n e sto , o a u x ilia v a . A firm a G ra ssc t, q u e E b s tc ln r e p r e s e n to u u m f a n ta s ­ m a com um g ru p o de m e m b ro s su p e rp in ta d o s . B a lle y , q u e p r e te n d ia p ro d u z ir tr a n s p o rte s , fo i su rp re e n d id o , em G ren oble, no a to d e c o m p ra r os p a s s a r in h o s q u e , c o n fo rm e a fir m a v a a n te s , lh e v in h a m d ir e ta m e n te d a ín d ia , p o r T ia tr a n s c e n d e n ta l. M ed d o k fo i c o n d en a d o p o r fra u d e . “ E u , ( fa la R ic k e t), p u d e p r o v a r a fra u d e de A n a R o th e : é fa to q u e e sc o n d e ra a s flo re s d e b a i­ xo do se u v e stid o . A n te s d a e x p e riê n c ia p e so u 58 K g. e, d epois, 57; a s flo re s a p a re c id a s p e sav a m e x a ta m e n ­ te 1 K g .” M axw ell c ita o caso d a s d a m a s s u sp e ita s, W oo d e F a ir la in b . P a u l H cu sé r e la ta a in d a os se g u in te s c aso s de f ra u d e s d e sc o b e rta s: C ru d d o c k , S n r ia k , L ú c ia S o rd i, M U ler, C n rn n c in i, L in d a G nzzcrn, E lis a b c t T o m so n . C ra d d o ck tin h a co­ m o cú m p lic e s u a p r ó p ria e sp o sa, q u e , d u r a n te a s se s­ sões, lh e p a ssav a os o b je to s n e c e ssá rio s p a ra a “ c a r a ­ c te r iz a ç ã o ”. D e sm asc arad o pelo c o ro n e l M n rk M nyhew , foi c o n d en a d o . L ú c ia S o rd i fo i d e s m a s c a ra d a pelo b a ­ rã o S c h rcn c k -X o t/.ln g . C n rn cin i faz ia, com o E u sá p ia , a “ s u b s titu iç ã o ’’ d a s m ão s. L in d a G azzern , id e m . E li­ s a b c t T o m so n s e e n v o lv ia em gaze d e se d a , p a ra si­ m u la r e sp e c tro s; um m oço d e sm as ca ro u -a, d a n d o v a ­ le n te d e n ta d a no p re te n so e cto p la sm a . ( 4 8 ) . T am b em H ax b y e n g a n a v a d e sv e rg o n h a d a m e n te . (48) 142-143.

PAUL HEUSÉ, Ou cn eat Ia U etap srclilq n e. Pg.

— 112 — Alem dessas fraudes engenhosam ente preparadas, deve-se contar ainda com a frau­ de m ais ou m enos inconcientc, que resulta do estado hipn ótico do m édium . No transe, que acarreta estado anorm al da personalidade, desaparecem m uitos em pecilhos, próprios de pessoa acordada e conciente. O m édiu m é pre­ so pela idéia fixa, de que deve produzir de qualquer m odo. Se não bastam as forças supranorm ais, para produzirem os fenôm enos desejados, é então levado, instintivam ente, a supri-las fraudulentam ente, o que faz, m ui­ tas vezes, até de m odo m uito grosseiro, desa­ jeitado. Sem elhantes fraudes podem esperarse tam bem de p essoas que, no estado normal de vigília, m erecem toda confiança. R. Fischner, representante desapaixonado e sóbrio do ocultism o, diz isto m esm o, nas seguintes p alavras: Um m édiu m h onesto não existe e, falan ­ do paradoxalm ente, podem os afirm ar: não é su speito o m édiu m que engana, m as o que não engana." Queria dizer: se um m édium nunca for apanhado em fraude, será, ou porque a sua força m edial é anorm alm ente desenvolvida, ou porque se tem na frente um em busteiro de alta marca, que sabe esconder os seus truques. E com isso parece termos chegado, em a nossa análise, ao ponto morto, anulando toda tentativa de p rovar cientificam ente a não-realidade dos fenôm enos ocultos. De fa ­ to, m uitos autores tiram esta conclusão, co­

— 113 — mo 7. B appert (49), A. Moll., M. Dessoir, A. S cilz, V. Bruehl, etc. T al conclusão, porem , não nos parece logicam ente justificada. Sem dúvida, esse estado do coisas não c agradavel para o investigador e deve aconselhá-lo a to­ m ar grande cautela. Isso não tira a esperan­ ça de êxito positivo. P rocure-se que h aja to­ das as condições d e observação e de experiên ­ cia, excluindo-se, com certeza científica, toda frau de, intencion al ou não, m orm ente da par­ te do m édiu m . Certam ente há, neste terreno, num erosos exem plos, em que, provadam ente, ou pelo m enos, com grande probabilidade, interveio fraude m aldosa ou jocosa. Mas devem por isso todo os fenôm enos espontâneos ser con­ siderados com o sim ples em buste ou ilusão?Não o afirm am os. Se há observações bem fe i­ tas e concienciosas, devem ser aceitas sem res­ trição. Se, por exem plo, ante num erosos e sé­ rios expcctadores, com o em G rosserlach (W ucrtem bcrg), uma acha de lenha por si própria desaparece pela janela, e isso se re­ pete várias vezes; se pratos e boiões por si próprios saltam do seu lugar, caem no chão ou voam pela porta; se, finalm ente, diante de tantas testem unhas, as portas saem dos gon­ zos e se atiram ao chão, sem causa visivel, tais fenôm enos devem ser aceitos com o fatos. Ora, o juizo que vale sobre fenôm enos espontâneos, vale também, com o norma razoavel, para a experiência. Se m uitos enga(49) I. BA PPERT, K ritik de» O kkultlsm m i. — P a tmosverlaff. F r a n k fu r t a. U„ 1921.

— 114 — nani, nem por isso diremos que todos enga­ nam. E ’ m uito razoavel pensar que. com o m esm o m édium , andem, de-par, fenôm enos genuínos c fenôm enos fraudulentos. Mor­ m ente vale isso para a fraude, m ais ou m e­ nos concientc, no transe. Dirão talvez: “ Onde está o critério certo, para distin­ guir verdadeiros fenôm enos de fenôm enos fraud u lentos?” Responde-se: Tudo se reduz à habilida­ de e sagacidade, não do m édiu m , m as do ex­ perim entador; dev em os fenôm en os ser produ du zidos e observados, sob condições que sim ­ p lesm en te excluam a frau de. Eis aqui, com o resultado prático do que foi exposto, algum as d iretrize s orientadoras, no terren o oculto, de alto valor, tanto para os ocultistas, quanto para os an li-ocultistas. a) Se, a-pesar-de cuidadosa observação, não se verificar fenôm en o frau dulento algum , p or isso só não fica cientificam en te pro va d a a realidade. R esta ainda a p o ssibilidade ou m es­ m o a pro b a b ilid a d e de um truqu e desco­ nhecido. b) Se, cm caso particular, ficou provado, com certeza, engano ou fraude, ter-se-á, n is­ so, o aviso de se tom ar todo cuidado na inves­ tigação. Mas, nem p or isso direm os que todos os d em a is fenôm en os do m édiu m sejam frau ­ des; nem isso anula o valor d e verificações an­ teriores bem eviden tes. c) P ara se p ro vocar a realidade d e fen ô­ m enos ocultos, com sériedade científica, o úni­ co cam inho é dem on strar ^que, debaixo de se­

— 115 — m elh antes condições d e experiência, se torna im possível a frau de. Essas declarações e diretrizes estão de p leno acordo com as excelentes explanações de R. L am bert (50) e Ch. R ichet (51) B — VERDADEIROS FENÔMENOS DOS ÚLTIMOS TEMPOS A investigação oculta dos últim os anos p a ­ rece, de-fato, ter provado a realidade de fen ô­ m enos supranorm ais. Quanto a fenôm enos es­ pontâneos, conhecem -sc fatos do nosso tem­ po, com provados com rigor e aceitos, mesm o por tribunais. (C/r. os relatados na parte pre­ cedente). Mas, os resultados de m uitas sessões ex­ perim entais m odernas, não são m enos garan­ tidos. Esta opinião supõe a circunstância de que a m aioria dos m édiu ns que trabalham com êxito produziram , anteriorm ente, fe n ô ­ m enos espontâneos, que trairam a sua capaci­ dade m edial. Pode-se apelar aqui para as ob­ servações m ais antigas e exalas. E xistem de E usápia P aladino tantos fenôm enos tclccinéticos c telcplásticos, otim am ente acreditados, que só um crítico que se esquivar da leitura

— 116 — dos relatórios poderá chegar a um resultado totalm ente negativo, ou ao côm odo “non liquet", não é claro. Tomo-se, p. ex., conheci­ m ento dos relatórios de M orselli, Vassalo, Venzano, B o ta zzi; exam in em -se os protoco­ los da com issão inglesa de prestidigitadores, (C arrington, Feilding, B azza lly), cuja conclu­ são é absolutam ente positiva. Nas m ãos de M orselli e B ottazzi, desfizeram -se, várias ve­ zes, mem bros m aterializados. As condições de verificação desses fenôm enos excluem toda fraude, intencional ou não, às quais Eusápia era indubitavelm ente m uito inclinada, em consequência de sua índ ole hisiérica. No que lhe diz respeito, encontram-se, portanto, ao lado de fenôm enos fraudulentos, outros cer­ tam ente reais. Muito em particular, porem , devem os apontar as m ais recentes e exatas indagações dos irm ãos R u di e W illi S chneider, de Braunau. Como já declaram os atrás, W illi Schnei­ der, d esd e princípio de dezembro de 1922 ate fin s de fevereiro de 1923, operou em 104 ses­ sões, 16 delas no Instituto Psycológico da Uni­ versidade de Munique. Após as experiências de m ovim entos à distancia, foram convoca­ dos 27 intelectuais, na maioria professores de Munique, c 29 outros observadores cientifica­ m ente interessados. Com excepção de alguns céticos, atestam todas as testem unhas, clara e insofism avelm en te, a realidade da telecinésia, acom panhada m uitas vezes de m ateriali­ zações. R epetidas vezes afirm am que a fiscalisação nada d eixava a desejar. Assim se ex­ terna o Prof. D r. G ru b er:

— 117 — " F o i fe ita , d u r a n te a se ssão , a v e rific a ç ã o d ecisi­ va , c o n tra a h ip ó te se de fra u d e , pelo flsc a llz a d o r p rin c ip a l. C o n sistiu em q u e u m a s s is te n te so a s s e n ­ to u em f re n te ao m é d iu m , a p e r ta n d o - lh e a s p e rn a s com a s p ró p ria s, e se g u ra n d o -lh e , a le m d isso, a s m ão s. O u tro a s s is te n te , — o s u p e rc o n tr o la d o r , a sse n ta d o ao la d o do m é d iu m , fisc aliz o u , p o r c o n tín u a o b se rv a çã o , a p ró p ria fisc aliz aç ã o . F m n e n h u m a d a s n u m e ro s a s se ssõ es foi o b se rv a d o o caso d e q u e o m é d iu m tiv e sse , u m a só vez, p r o c u ra d o ou p o d id o lib e r ta r q u a lq u e r m ão ou pé. “ A in d a que e s ta s d isp o siçõ e s de v ig ilâ n c ia to r ­ n a ssem Im possível to d a f ra u d e , sem e m b arg o , fo i r e ­ fo rç a d a a v ig ilâ n c ia , em se ssõ es s u b se q u e n te s. Coloca­ ra m o m é d iu m n u m a g a io la d e g aze, em c u ja fre n te h a v ia , n a a ltu r a de um m e tro , u m a e s tr e ita a b e r tu r a p o r o n d e o m é d iu m p a ssa v a a s m ão s, s e g u ra s pelo fisc al. T am bo in n e ste caso s e d e ra m fen ô m e n o s te le cin ético s, a ssim com o no caso in v e rso de se c o lo ca re m os o b je to s d e n tro d a g a io la, e o m é d iu m , fo ra . E , f in a lm e n te , h o u v e a in d a fe n ô m e n o s te lec in é tic o s, q u a n d o m é d iu m é a s s is te n te s fica v am s e p a r a ­ d o s do cam po d e a çã o m e d ial, p o r u m b io m b o d e g a ­ ze de l.m .SO d e a ltu r a . E s s a a lte r a ç ã o d a s c o n d içõ e s m a is se v e ra s de fisc aliz aç ã o n u n c a p u d e ra m Im p e d ir a p ro d u çã o de fe n ô m e n o s te le c in é tic o s. E is, po is, a p ro ­ va c la r a em fa v o r d a r e a lid a d e do s fen ô m e n o s. E l-la c ie n tific a m e n te p r o v a d a ”.

ção ber, que p ois

Costuma-se aludir à grande desm ascarade “W)7/í”, pelo sr. Seeger (52). K. Gruque não nega a fraude, salienta, porem , nessa ocasião não havia sessão científica; essas só com eçaram um ano e m eio m ais

(52) W. VON GULAT — WELLENDURO. C. von KLINICOWSTRÔM. — H. ROSENBUSCH. — IJer pliyxlU. HedlnnlxmaH. U lsteln, B erlln, 1925, pg. 414,, etc.

— 118 — tarde, razão por que esse episódio não entra em questão. Alem disso, contestam a garantia cientí­ fica de S ch ren k-N otzing, diretor das expe­ riências. Dizem que, nas indagações com Eva Carrière, foi ele vítim a de uma em busteira e que, com a edição de "Fenôm enos d e m a te­ ria liza ç ã o ”, perdeu a sua fam a científica. Quem acom panhou a literatura dos ú lti­ m os vinte anos. sabe suficientem ente que as experiências com E va C arrière foram su jei­ tas a ataques violentos. M. von K em itz, W. von G ulat-W ellenburg e G. K afka abriram o debate contra a realida­ de. Mais extensam ente expõe G ulat os seus argumentos no “D reim aennerburch" (Livro dos T rês), no qual dedica ao caso E va C arriè­ re oitenta e sete páginas. Adm itam os que todos esses fenôm enos sejam engano ou fraude. Daí, em absoluto, não se segue que o m esm o devam os conceder quanto aos fenôm en os de W illi Schneider. Sc os que negam a existência da telecinésia e da m aterialização não dão im portância ao juizo de S chrenk-N otzing, todavia, não p o­ dem, no caso dos irmãos Schneider, ignorar os num erosos pareceres p ositivos de notáveis experim entadores e cientistas, os quais ates­ tam que, nas experiências, processaram com científica exatidão e severidade, pelo que fi­ cou afastada toda p ossibilidade de fraude. Em m ais de um a centena de sessões pro­ duziu W illi, sob a m elhor veiúficação e em diversíssim as condições exteriores, fenôm e­ nos telecinéticos e teleplásticos, em B raunau,

— 119 — M unique, Viena e L ondres. Seria p ossível que todos os cientistas, m édicos c prestidigitadores do a descobrir os seus truques e falcatruas? E ’ fato. confessam os, que certos observas foram enganados m ui­ tos im postores; m as quase t repetição prolongada das im postores acabai por ser definitivam ente desm ascarados. E ’ o que se não dá no caso vertente. A convicção da realidade afirm a-se pelas continuas investigações. O qu e disse m o s s o b re AVilli S c lm c ld c r, v a le q u a n ­ to à m e d iu n id a d e d e M a ria S ilb c rt, s o b re tu d o no q u e to c a a fen ô m e n o s te le c in é tic o s, a te s ta d o s com to d a e x a tid ã o p o r n u m e ro s a s e c o m p e te n te s te s te m u n h a s , e n tre a s q u a is se e n c o n tr a o c o n h ecid o p r e s tid ig ita d o r R . A V interri. ( 5 3 ) . E m c o m p araç ão com o g r a n d e n ú ­ m e ro d e sses p a re c e re s, fa v o ra v e is, em p alid ec e a a le ­ g a çã o d a q u e la s p o u c as te s te m u n h a s , a d u z id a s pelo p ro fe sso r B c n n d o rf, c o n tra a re a lid a d e do s fen ô m e n o s de Mine. S ilb e rt. ( 5 4 ).

Quanto às investigações e experiências do Padre Dr. G atterer, coloca a m inuciosa repro­ dução dos protocolos que fizem os o leitor em condições de form ar jüizo sobre a realidade ou irrealidade dos referidos fen ôm en os.'A n ­ tes de m ais nada, avulta, com segurança, a in­

— 120 — consistência da teoria halucinatória. Se, em plena luz, um violin o se despedaça, se mesas são derrubadas e cam painhas atiradas ou ar­ rancadas da m ão, e se esses efeitos são con­ firm ados por todos os assistentes, é que aqui não há ilusão nenhuma. Mas teria sido o Dr. G atterer, a-pesar-dc tudo, iludido ou enganado? Em vista dos refe­ ridos relatórios, replica ele o seguinte: “ N as se ssões com R u d i S c h n e id e r e M n rla S llb c rt n u n c a Be e n c o n tro u n a d a d e s u sp e ito , n ão o b s ta n te a m a is rig o r o s a in v e stig a çã o . V á ria s vezes, e com s u f i­ c ie n te ilu m in aç ão , re a liz a ra m -s e m o v im en to s te lec in é tic o s d ia n te dos m e u s o lh o s e à p e q u e n a d is tâ n c ia de m im , com o, p o r e xem plo , o d e sp e d a ç a r do v io lin o ju n ­ to do S c lirc n k -N o tz ln g . Do m esm o m odo p u d e v e rific a r e m B r a u n n u , com to d a calm a , o a p a re c im e n to d e p e­ q u e n a m ã o m a te r ia liz a d a , a q u a l a rr a n c o u a c a m p a i­ n h a de m in h a m ão. í.lo stro u -se , a in d a , v á ria s v ezes, n a s m a is d iv e rs a s fu n çõ e s e com s u f ic ie n te c la rid a d e . Isso a co n te ce u em c la r id a d e p e rf e ita m e n te s u fi­ c ien te , e posso g a r a n tir q u e n ã o e r a a m ã o d e R u d i o u d c a lg u m m e m b ro d a se ssão . A s c o n d içõ e s de o b se r­ v ação e de fisc aliz aç ã o e ra m ta is q u e devo q u a lific á la s de Irre p re e n sív e is. N as se ssõ es com M a ria S ilb e rt, o m a is c la ro fen ô ­ m eno fo i a m e n sag e m d ita d a p o r p a n c a d in h a s, e isso fo i o b se rv a d o in ú m e r a s vezes, com a m a is c la r a luz d e lâ m p a d a , e m e sm o d e d ln , e eu p ró p rio p u d e ve­ r if ic a r esse fen ô m e n o , em c a d a se ssão . A3 c irc u n s tâ n ­ c ia s q u e ro d e a ra m o fen ô m e n o , e x clu em , a m e u v er, to d a fra u d e . N o s r e la tó r io s fo ra m , r e p e tid a s v ezes, m e n cio n a ­ d o s ta m b e m tr a n s p o rte s q u e p u d e ra m se r v e rific ad o s p o r v á rio s o b se rv a d o re s, em to d a s a s su a s fase a. A lem

— 121 — d isso, re a liz a ra m -se e m co nd içõ e s d e v e rific a ç ã o ta is , q ue e xcluem p ro d u ç ã o m e d ia n te p re stid ig ita ç ã o o u fra u d e . T am b em p u d e v e rif ic a r fe n ô m e n o s lu z e n te s qu e se r e a liz a r a m n a s p ro x im id a d e s do m é d iu m , sem u tiliz a ç ã o do s se u s m e m b ro s .N ão c h eg u e i, p o rem , a p e rsu a d lr-m e d a r e a lid a d e d a m a te ria liz a ç ã o , n e ste ú ltim o caso. N . B r u c h l e A. S e ltz n o ta ra m f a lh a s n a red a çã o do3 r e la tó r io s . M as e ssas f a lh a s , se e x iste m , são m a is d e c u n h o lite r á r io , e n ão d e stro e m o v a lo r d a s exper ié u c ia s pesso ais m in h a s e d e o u tro s o b s e rv a d o re s sa ­ gazes. Q u an to ao v a lo r do c o n tro le , no p ró x im o c a p itu lo v e n tila re m o s a q u e stão . N ão h e sito em e x p rim ir, n e s te lu g a r, a m in lia c o nv lcçoã p e sso al no s fe n ô m e n o s p a ra -flsico s. No e n ­ ta n to , isso n ã o d isp e n sa to d o ex am e p o s te r io r e to d a c o n firm a çã o dos fato s. P e lo c o n trá rio , u m ju iz o c ien ­ tific o deve e s tr lb a r - s e , em p rim e iro lu g a r, n u m rico m a te r ia l de fato s , o q u e m o f a lta a in d a q u a n to à ex­ p e riê n c ia p ró p ria . C relo-m e, p o rem , a u to riz a d o a p r e e n c h e r ta l la ­ c u n a, com a s j á m e n c io n a d a s in d a g aç õ es de o u tro s in v e stig a d o re s, ao m e n o s p e la m a io r p a r te . Q uem , liv r e d e p rec o n ce ito s, d e r a o m eu h o n e sto te ste m u n h o a lg u m a im p o rtâ n c ia , n a v e g a rá n a m e sm a e s te i r a dos n u m e ro s o s in v e stig a d o re s q u e já , p o r m u i­ to s a n o s, se oc u p am , c ie n tific a m e n te , com esses fe ­ n ô m e n o s; e c o n c lu irá q u e, ta m b e m no n o sso te m p o , h á v e rd a d e iro s fe n ô m e n o s o c u lto s, — a ssim e s p o n tâ ­ n eos com o e x p e r im e n ta is ”.

C — A GRANDE OBJEÇÃO CONTRA A REALIDADE E ’ pedida ao desastre de m uitos m édiuns, m orm ente perante com issões científicas, e à

— 122 — luz clara. Aos adversários da realidade, esse desastre parece fornecer a prova evidente, de que todos os fenôm enos ocultos são produtos da fraude. O desastre de m uitos m édiuns é um fato. Dc vez em quando se dá o mesm o a respeito de fenôm enos esponiáneos. Prim eiram ente, havia um barulho, um grande barulho; de­ pois, sobrevindo a invostigação funcionária ou p olicial, a paz se restabeleceu. Às vezes, nem c preciso tanto. Num circulo sim pático, realizam -se coi­ sas m aravilhosas. Chegando, porem , uma co­ m issão científica ou um verdadeiro cético, quase sem pre a glória se desvanece e, quanto m ais rigorosas e científicas forem as condi­ ções de verificação, tanto m ais fracos ou nu­ los se tornam, em regra, os fenôm enos. Willi Sclmeider m anifestou, junto ao la­ boratório psicológico da Universidade de Mu­ nique, um gradual decréscim o de sua capaci­ dade m ediúnica. Os fenôm enos de ambos os irm ãos Sclmeider dão o m elhor resultado no círculo familiar de Braunau. Von GuziU, que trabalhou m uito bem sob G. Geley, falhou com pletam ente na investigação da Sorbona. tendo sido apanhado em fraude pela Com is­ são Investigadora. N ão será uma prova m anifesta dc que, em todas as suas produções, os médiuns em ­ pregam fraudes, se precisam ente em frente de observadores científicos, tantos, desastrosa­ mente, falham ? Do fato de nada conseguir o médium quando trabalha à luz clara, o observador su­

— 123 — perficial é levado a declarar que fenôm enos p arafísicos não existem ; q u e todos são frau­ dulentos. Sem dúvida, a m aioria dos m édiuns só produzem fenôm enos m aiores, m ais certos e rápidos, ou em com pleta escuridão, ou em am ­ biente ilum inado por luz verm elha, que é a regra. À luz branca, e até .de dia, poucos há que produzem , c m enos ainda que produzem fenôm enos notáveis. A o que parece, o único m otivo disto é que a luz branca, intensa, im pede aos médiuns, mais ou m enos astutos, em pregarem truques para produzirem certos fenôm enos. A favor da explicação pela fraude in vo­ cam ainda outro fato experimental: os maio­ res médiuns foram surpreendidos cm fraude, para não falar dos m édiuns vulgares, cuja ar­ te parece ser quase exclusivam ente baseada em engano propositado. T ais os argumentos de que se servem os adversários da realidade. Pretendem negar até a m ínim a porcentagem de fenôm enos m ediúnicos reais. A fraude, auxiliada pela cre­ dulidade dos assistentes, c quanto lhes basta para explicarem tudo, e tirarem ao ocultism o todo fundam ento real. C. von Klinckoivstroem , por exem plo, em sua citada obra, enum e­ ra prosaicam ente todos os grandes e pequenos truques, como se pode ver no livro “ Confessions of a médium." (55) E com o von Klinckowstroem pensam H. Rosenbusch e GulatWcllenburg. (55)

D er pbyaicalU che M adlunlamnx, pg. 76-95.

— 124 — Para anular a grande objeção, basta evi­ denciar que as provas em que ela se apoia são dois so fism a s: Prim eiro, — concluir-se da pos­ sibilidade da fraude para sua realidade; se­ gundo, — indevida generalização, concluindose de muitos casos de fraude para todos sem excepção ou com excepção raríssima. O que se deveria inferir da possibilida­ de de fraude, é a suspeita de que ela possa ocorrer nos casos vertentes, e a prevenção contra ela, tendo-se os olhos abertos para' desm ascará-la, tão pronto seja descoberta. Do fato da impotência de m uitos médiuns, evidenciada perante com issões c à luz clara, só concluirem os que eles fraudaram sem pre, se provarm os que as precauções tom adas con­ tra a fraude a im pediram . Mas isso só se pro­ varia, dem onstrando-se que a única exp lica­ ção dos desastres é a im possibilidade de en­ ganar em que se encontram os médiuns. Ha várias explicações da falên cia even­ tual do poder m ediúnico. Entre outras, cita­ m os duas, — um a da parte da causa instru­ mental, outra da causa intelectual. Para m elhor elucidar a questão, obser­ vem os que a produção de uma série de efei­ tos só se poderá exigir com rigor, quando se trata de causas e efeitos m ecânicos, e is­ so m esm o nem sem pre com absoluta certeza, m as só na suposição de que a máquina esteja em perfeito estado de funcionam ento. Na sua crítica, os adversários da realidade se esque­ cem de que a energia que produz os fenôm e­ nos ocultos não é nem força m ecânica, nem força natural, que sem pre produz os m esm os

— 125 efeitos com necessidade física. Nos fenômenos ocultos atuam energias vivas, espontâneas, sensitivo-espirituais, p rim eiro no próprio mé­ dium, — o que já torna incerta a produção ou

repetição do m esm o fenôm eno, — e segundo, fora do m édium . Com efeito, outro fator im portantíssim o dos fenôm enos transcendentais, do qual tra­ taremos adiante, c que, nesses casos, estão em cena não só o organism o e a psicologia do mé­ dium, m as, probabilissimamente tambem, t muitas vezes, outro agente, i. é, algum a po­ tência espiritual, que transcende a vontade do médium, e intervem arbitrariam ente no cur­ so dos acontecim entos. Desta form a, torna-se com preensível que os fenôm enos ocultos experim entais apresen­ tem, com o os fenôm enos espontâneos, o ca­ racterístico de capricho, travessura e m alda­ de, porque os prim eiros com o os segundos são, frequentem ente, o produto de sem elhan­ tes poderes. Nestas condições parece sum am ente d ifí­ cil, senão im possível, prom over experiências regulares. Não é p ossível aum entar arbitra­ riam ente as condições de fiscalização e exigir, em todos os casos, resultado infalível. O po­ der superior recusa-se simplesmente e aban­ dona o médium à sua miséria.

Pelo m esm o m otivo, fica explicado por­ que é que tantos grandes prêm ios oferecidos para a produção de determ inados fenôm enos ocultos, sob determ inadas condições, não en­ contraram pretendentes. Como notam os, o médium não pode confiar incoDdicionalm en-

— 126 — mente em sua capacidade supranorm al, nem pode dispor dela à vontade e por capricho próprio ou alheio. O segundo m otivo apontado por nós, é a indevida generalização, que consiste em con­ cluir da fraude de m uitos casos, para a fraude em todos os fenôm enos ocultos, ou concluir para a nulidade dos fenôm enos por causa da falha de m uitos médiuns, perante com issões cientificas, e à luz do dia. Com efeito, se alguns fraudam , não é ló­ gico afirm ar que todos fraudem . Se m uitos m édiuns não podem produzir senão à luz ver­ m elha, não se segue que não haja outros que produzam , perfeitam ente, á luz clara do dia. Existe bom número de casos em que não há o mínimo sinal de impostura, p a r a p ro v a r a ú ltim a a firm a ç ã o , b a s ta a p o n ta r ­ m os a s e x p e riê n c ia s de AVilli S c h n e id er. O m é d iu m te ­ v e m ã o s e pés a m a r r a d o s p o r p e sso as de c o n fia n ça , de m odo q u e ficou se g u ro com o n u m to rn o . N ão o b s­ ta n te , a p a re c e m os fe n ô m e n o s: v á ria s v ezes le v a n to u se a c e stln h a de p a p éis e, a m a n d a d o , so o u a c aix a de m ú sica . Como o a u x ílio f ra u d u le n to d a p a rte dos a s­ s is te n te s e s tá a fa s ta d o , p o r v á rio s m o tiv o s, ( s e p a ra ­ ção do c am po d e a çã o p o r u m b iom bo de g a z e ), s e ria prec iso q u e AVllU e fe tu a s se e sses m o v im en to s com b a s­ tã o co m p rid o , d o b rav e l, sa in d o d a boca p o r si p ró p rio , se se q u ise sse s a lv a r a te o ria d a fra u d e . Im p o ssív e l, is­ so. Um p r e s tid ig ita d o r a q u em se p re n d e sse m m ão s e pés te r i a e n c e rr a d a a su a c a r re ir a , a in d a q u e fosse um g ênio.

Com razão diz K. Gruber : “ Q u eira m in d lc a r-m e u m p r e s tid ig ita d o r , q u e, em

— 127 — tr a n s e , com a s m ã o s e p és s e g u ro s e a té u a e scu rid ã o , visível po r a lfin e te s fo sfo re sc e n te s , o c o rp o In te iro em c o n tín u o s calftfrio s, p ro d u z a c a lm a m e n te fen ô m e n o s com o p u d e m o s o b se rv a r com W1UI m ilh a r e s de vezos. Q uem tiv e r c o m p re en d id o com ju s te z a to d o o c o m p le­ xo do u m a se ssão p o sitiv a, vê, sem m a is, a ln s u s te n ta b llid a d e da h ip ó te se d e p r e s tid ig ita ç ã o " . ( 5 6 ).

Para quem , nesle assunto, m ais valem os pareceres de prestidigitadores, lem bram os aqui (57) um tópico do discurso (13-7-1922) de E. J. D in gw alls, Secretário da S. P. R. (L ondres), especialista neste terreno. “ P o r fim " , — d e c la ra e ste in v e stig a d o r p e ra n te a S. P . R ., — “ q u e ria le m b ra r-v o s q u e e ste caso ( W llll) é únic o n a h is tó ria do m e d iu n ism o . Com E u sA p la P a llnriino a fiscaliz aç ã o e ra m u lto d lfic ll, e os fen ô m e n o s m a n lfe sta ra m -se , o r d in a r ia m e n te , a m u ito p e q u en a d is tâ n c ia d e la. Com E v a C a r rlè r e a fisc aliz aç ã o a in d a m a is dlfic ll. Com C n th le ln C o lig h er, em B e lfa st, o D r. C ra iv fo rd e n sa io u fiscuU zor, ao m esm o te m p o , se te m é d iu n s, e a ca b o u po r n ão t e r fisc aliz ad o n e n h u m . Com L in d a Guzzci-n a fisc aliz aç ã o e ra m a is c o m p lic ad a do q u e com E v a C n rriè rc , e com K u sk l, tã o d lfic ll co­ m o com L in d a G az ze ra . D e-fato , n ão p osso le m b ra rm e de m é d iu n i a lg u m q u e se s u b m e ta a se m e lh a n te fisc aliz aç ã o com o W llll S c h n c ld er. N ão é p re c iso le r c o n h ec im en to do p re s tid ig ita ç ã o , e n q u a n to p ro d u z os se u s fe n ô m e n o s c o stu m e iro s . S e g u ro p o r d u a s p esso as e m a rc ad o com a lfin e te s fo sfo re sc e n te s , é-lh e im p o ssív el e sq u iv a r-se , e fo ra lh e in u til, se fo sse p o ssív e l”. (56) Die p h jeleallxch en Phaenoniene d e r g r o u e i Me­ dien, pg. 219-220. . (57) SCHRENK-NOTZING E x p erim e n te der Trul!wcBung,, pg. 272.

— 128 — T ais fe n ô m e n o s g e n u ín o s m a n if e s ta r a m - s e fre ­ q u e n te m e n te , não só com AVilli S c h n e id er, m a s ta m b ém com o u tro s m é d iu n s con h ec id o s m a is a n tig o s.

Alegam ainda que o sim ples uso dos sen­ tidos da vista e do lacto não é suficiente para uma verificação cientifica. A objeção vem de R. IV. Schulte que pro­ vou. experim entalm ente, que enganos podem dar-se sob a influ ên cia de fadiga, espanto re­ pentino, etc. (58). Responder-se-á que ninguém contestará a possibilidade de uma ilusão. Nós m esm os já apontam os isso expressam ente. Contra o que, porem , temos de protestar é o exagero, que consiste em querer negar todo valor científi­ co das experiências feitas até hoje, com ob­ servância de todos as boas e cuidadosas con­ dições óticas e tácteis de verificação e exigir que se execute tudo à luz do Sol. Uma últim a observação: Quando é que uma fiscalização é p erfei­ ta? Não se trata de uma perfeição absoluta, mas relativa; quer dizer: de acordo com a es­ pécie de fenôm enos que se devem verificar no médium. Se, por exem plo, numa sessão em que são seguras as m ãos e os pés do médium por pessoas de confiança, um violino se m o­ vim enta no ar com veem ência, marcando o com passo, de acordo com a m úsica tocada, a distância de um metro e vinte centím etros do médium, e finalm ente se quebra na mesa em m il pedaços, não se p odia exigir, para ve(58) A. SEITZ — Zum so g e n an n te n w lssenachafllchen O k kultism us — St. B eilage z. B ayr. K u rier (1927), n.° 19.

— 129 — rificar isso, um exam e ginecológico, ao qual dona Silbert se recusou term inantem ente. Apresentando-se bem ludo isso, chega-se facilm en te à conclusão de que essa senhora produziu, nas citadas sessões, não poucos fe ­ nôm enos sob fiscalização perfeitam ente su fi­ ciente. Efetivamente, comeiendo-se a falta de ignorar todos os casos onde boa luz e boas condições de experiência permitem excluir, com segurança, toda fraude, é facil para uma critica severa rejeitar a realidade de fenôm e­

nos ocultos, com apelar para a onipotência da prestidigitação. É o que, infelizm ente, foi fe i­ to no já citado "L ivro dos Três”, razão por que não pode ser considerado com o obra sé­ ria, a-pesar-do precioso m aterial que ajuntou, inas sim com o fautora de erro. Cfr. Psychol. Studien de Schrenk — Notzing e R. Lambert (1925, p. 625-649), Beuler "D ie physisch. Fhacnomene der grossen Medien”.

D. — RESUMO DAS DEDUÇÕES OB­ TIDAS. Da exposição supra resulta o seguinte: o problem a dos fatos do m ediunism o fisico não é, de-certo, sim ples, mas, ao contrário, m uito dificil e com plicado. O aspecto jocoso dos fe ­ nôm enos ocultos tam bein dificulta, c m uito, uma verificação severam ente cientifica. Gran­ de parte dos referidos fenôm enos deixa de ter, conform e notam os, o carater da genuini­ dade, c apoia-se na inexata observação, ou na concicnlc fraude da parle dos m édiuns. —

— 130 — Outra parte subtrai-se, pelo m enos hoje, a um jugam ente científico definitivo e cai na cate­ goria do “Non liquet", não é claro. — O resto, a nosso ver, engloba os fenôm enos que satis­ fazem às justas exigências da crítica científi­ ca e devem , portanto, ser considerados reais. C atólicos há, que rejeitam , sistematica­ mente, a realidade de quaisquer fenôm enos ocultos. Vem aqui a propósito a palavra de pro­ fundo conhecedor do ocultism o físico, H erbert Thurston, S. J., m embro da S. P. R. de Londres. Esse guia de confiança dos católicos ingleses, neste terreno, escrevendo ao Pe. Dr. Gatterer, disse o seguinte sobre a atitude dos católicos acerca do ocultism o: “A meu ver, a opinião segundo a qual Io­ dos os fenômenos ocultos físicos devam atri­ buir-se à impostura, não só é inveridica co­ mo tambem perigosa para a sã apologética."

E’ este o resultado a que nos levou tambem a nossa investigação cientifica.”

CAPITULO III CAUSALIDADE DOS FENÔMENOS SUPRANORMAIS Estado da questão

N as duas prim eiras secções do nosso tra­ balho vim os que existem realm ente fenôm e­ nos supranorm ais; que liá fatos inegáveis que ficam por explicar. Nesta terceira secção, in­ cumbe-nos indagar da causalidade desses fe­ nômenos; se são produzidos naturalm ente pe­ los hom ens, em torno dos quais se m an ifes­ tam; se são produzidos pelo médium só ou com auxilio de outra pessoa; ou se os fenô­ m enos excedem toda força hum ana c recla­ mam a intervenção direta de uma causa pretcrnatural: Deus ou dc qualquer espírito, bom ou mau. Os fenôm enos do espiritism o apresentamse ao espírito hum ano investigador do m esm o modo com o os fenôm enos do hipnotism o. Quanto a estes, a ciência já reconhece que são, m aterial ou instrum entalm ente, produzi­ dos pelo hipnotizado, m as provocados e diri­ gidos, m oralm ente, pelo hipnotizador. Assim



132 —

tam bém os fenôm enos do espiritism o expe­ rim ental parecem ser produzidos pelo m e­ dium. Incumbe-nos, pois, indagar se os fenôm e­ nos ocultos excedem as forças naturais, e só podem ser produzidos com o auxilio de espí­ ritos, e, caso se verifique esta últim a hipóte­ se, se são esses espiritos as alm as dos mortos, ou são os puros espíritos, anjos ou demônios. Para poderm os m elhor discutir estes pon­ tos, convem separá-los uns dos outros e apre­ sentar cada um por si só. Daí a divisão desta secção toda nas seguintes afirm ações: A - Os fenôm enos supranorm ais exce­ dem as forças hum anas. B - Os fenôm enos supranorm ais não são produzidos pelos desencarnados. C - A verdadeira causa dos fenôm enos supranorm ais. Este ponto é tratado em três capítulos: I

- Os fenôm enos supranorm ais são produzidos por espíritos, e estes só podem ser os m aus espíritos da con­ cepção católica.

II

- Em que sentido entendem os a in­ tervenção diabólica no espiritism o.

III - Sinais diabólicos que os fenôm enos espiritas trazem consigo, e a ação diabólica através dos tempos.

— 133 — A — PRIMEIRO PONTO OS FENÓMENOS SUPRANORMAIS EXCEDEM AS FORÇAS HUMANAS. Art. I. FENÔMENOS PARAPSÍQUICOS DE TELEVISÃO E DE TELEPATIA. C riptestesia Sendo o espiritism o, antes de tudo, cená­ rio de m anifestações supranorm ais, e queren­ do nós indicar as causas profundas de tais m anifestações, claro está que os fatos físicos são m ais im portantes, a este respeito, do que os psíquicos, porque são sensíveis e exteriores. É m ais facil verificar a preternaturalidade c o extraordinário de um fato físico, do que de fato psiquico. Por isso, o espiritism o, para sua propaganda entre o povo rude. m ais se vale dos fenôm enos físicos, apresentados nas sessões. Não obstante isto, os fenôm enos psíqui­ cos são parte integrante e, até, essencial do espiritism o. E m édiu ns há, — os que denom i­ nam os físico-psiquicos no p rincípio desta obra, — que se notabilizaram nas duas clas­ ses de fenôm enos. Pela razão acim a exposta, isto é, por serem exteriores os fenôm enos fí­ sicos, estes foram sem pre tratados, com m ui­ ta m inúcia e desenvolvim ento, em todos os relatórios, ao passo que, para os fenôm enos

— 134 — psíquicos, só se m encionam os m ais im por­ tantes e estupendos, os que são indiscu tivel­ m ente de natureza transcendental. Os fenôm enos do dom ínio puram ente psiquico são tratados debaixo do nome geral de C riptestesia, palavra grega form ada pelo prof. R ichet e que significa sen sibilidade oculta. (59) A Criptestesia é uma sensação anormal, que leva ao conhecim ento de coisas secretas, ou que atua à distancia, nos espíritos alheios, provocando neles processos psíquicos análo­ gos aos do agente. A criptestesia é uma sensação anormal, prim eiro porque é adquirida sem o auxilio dos m eios perceptores ordinários, — olhos, ouvidos e dem ais sentidos, — e, segundo, por­ que é produzida à distancia. Com para-se com a telegrafia sem fio, onde há um aparelho transm issor, — o agente, — e um aparelho receptor, — o sujeito. A única diferença está em que, na telegrafia, o m eio transm issor é conhecido, a m ensagem é feita por sinais convencionais, e os aparelhos obedecem à di­ reção hum ana. Na criptestesia, porem , faltam tais elem entos. A criptestesia desdobra-se em Telepatia e T elevisão, e a estas duas espécies se subor­ dinam todas as m odalidades de sensibilidade oculta, com o: lucidez m etapsíquica, clari-vi(ff9) D« grege cryptoü, — oculto, — e neetixéM*. — sonslbllldade. No mesmo sentido se em prega o term o METAGNOMIA, form ado de m eta. — alem. — e asiomela. — eonheelnpeBte.

— 135 — dência, m onição, premonição.- cum berlandisino, psicom etria, rabdom ância, etc. TELEPATIA Telepatia c, propriam ente falando, a atuação à distancia, de uma m ente em ou­ tra. (60) Para que se dê, o agente deve con­ centrar suas faculdades nos elem entos concientes que quer transm itir; transm issor e re­ ceptor devem harm onizar-se, apresentando afinidade espiritual. A influência telepática é favorecida pela h ipnose do receptor. Fenôm eno extraordinário, de d ificil ex­ plicação, a telepatia está hoje cientificam ente provada. E’ fato que não m ais se discute. Mes­ m o aqueles que não adm item outros fen ô­ m enos ocultos, aceitam a realidade da tele­ patia. E xperim entalm ente e em sessões públi­ cas, às vezes a telepatia se apresenta sob duas m odalidades: a) As duas pessoas não estão cm com unicação direta; b) As duas pessoas se tocam. No prim eiro caso, temos tran sm is­ são de pen sam en tos; no segundo, leitura m us­ cular ou cu m berlandism o. (61) R ich et fez nove experiências telepáticas com uma sonâm bula, distante dele 500 me(60) MYERS preferia dizer Tclestesla (tele acath esis), de sua c riação. .. (61) Cum berlandism o d eriva-se do nome do sábio n o r­ te-am ericano S iu u rt C um berlnnd. Tam bein se diz W illlHR-Knme (jogo da vo ntad e), em vez de cum berlandism o. O suje ito passivo, no cum berlandism o, cham a-se b nrnam , derivado tam bém de um nome próprio. Cf. G rasset, Idées m édicales, pg. 190.

— 136 — tros, tentando hipnotizá-la telepaticamente, através dessa distância. Duas vezes obteve êxito com pleto; quatro vezes, êxito m édio, — sim ples sonolência; três vezes, resultado nulo. (62) Outros experim entadores conseguiram hipnotizar sujeitos a dez k ilom etros de dis­ tância. Mais dificilm ente se transm item ordens relativas à ação. Esta experiência, — que pou­ cas vezes teve resultado pleno, — consiste em encerrar o paciente num quarto; estando aí, incom unicável, o paciente deverá executar um desenho determ inado, uma casa, um ani­ mal, segundo a ordem que o agente lhe trans­ m itirá de longe, m entalm ente. Até aqui estam os vendo fatos da telepa­ tia dirigida. O que, porem, torna a telepatia fato notado por todos, não é a sua produção experim ental, m as sim a sua espon taneidade. E ’ fenôm eno espontâneo por excelência. Os m emhros da Sociedade para Pesquisas P sí­ quicas (S. R. P. R.) relatam núm ero prodi­ gioso de fenóm enos telepáticos, hoje cons­ tantes das atas dessa sociedade, c que podem ser consultados por todos os interessados. Aqui se agrupam todo3 os casos trágicos, os avisos dados por moribundos, ou pelas v i­ tim as de naufrágios e de desastres, a parentes ou am igos distantes. Sendo os fenôm enos telepáticos fatos m ais espontâneos do que experim entais, deles (G2) I.OEV EN FELD — Sonam bulism o c E spiritism o. W iesbaden, 1900, ps- 41.



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trataremos especialm ente na secção se­ guinte. Mas, conquanto sejam m ais num erosos os fatos de natureza espontânea, existe todavia farto m aterial de experiências cientificam en ­ te verificadas. Recordem os apenas as expe­ riências feitas por R. Fischner e V. Wosieleski com a senhorita B. (63 e 64), por A. Chowin (65) com a sta. M. Merecem m enciona­ das tambem as experiências de K. Krall (66) com o leitor de pensam ento N. Ninoff (67) e G. Geley com Ossowiecki. (68) Muitos ou­ tros autores apresentaram trabalhos sobre es­ te assunto. D eixam os de citá-los por amor à brevidade. TELEVISÃO É a percepção ou conhecim ento supranormal de coisas objetivas. Reporta-se, pois, a objetos reais, colocados fora do sujeito. A te­ levisão é local, se o sujeito vê ao longe, sim ples­ m ente, através de objetos opacos, às escuras, sem auxílio dos olhos; é a esta televisão que se costum a dar o nome de clari-vidência. A televisão se diz temporal quando descobre acontecim entos futuros, sobretudo trágicos, (C3) a (04) — U. FISCH N ER — T elep ath ie a n d H elleHchen — Bergm ann, Munique, 1921 — V. von W OSIELEAVSKI — T elep a th ie nnil HelledehCn. E. MARKOLD, H alle a <1. Saale, 1922. (05) A. N. CHOWIN — E x p erim en telle U n tersu ­ chungen a u f dem G ebiete dev rncum llehen Hellcoehenu — R ein h a rd t, M unlque, 1919. (06) K. KRALL — D en k n e b ertrag u n g bol Blenoeh u. T ier, Z eitsch rift f. Farnpoyehologle, 152G. (67) G. GELEY — H elleoehen u nd Tclopnthle. alemfto de R. L am bert, Union d. V erlags. S t u ttg a r t s 1926.

— 138 — e chama-se especialm ente vista dupla ou se­ gunda vista. Tam bem a televisão é frequentem ente es­ pontânea. Os fatos abundam e são inegáveis,

E existem mesmo, no globo, regiões geográ­ ficas, nas quais é frequente esse dom entre pessoas do povo: tais são, na Europa, a W estfália, a E scócia e o Tirol. (68) Muitas previsões feitas por essas pessoas realizaram se nas suas linhas gerais. Anunciadas que fo­ ram com m uita antecedência não se podiam deduzir de causas conhecidas. Os professores Ch . Richet, francês, e Sidgwick, inglês, fize­ ram experiências em torno da televisão, e concluíram que ela existe realm ente, posto que seja m uito irregular. E xperiência notável foi a de Richet com um sujeito que descreveu um instrum ento com plicado. — o podômetro, — escondido no bolso de Richet, e que o su­ jeito nunca tinha visto. Conhecida é tam bem a segu inte exp e­ riência de Crookes: U m a s e n h o ra e sta v a e sc rev e n d o com a p ra n c h e ­ ta . C ro o k e s, qu e tin h a a tr á s de si u m n ú m e ro do T i­ m es, p e rg u n to u à d ita s e n h o ra se e la e r a cap az d e le r o jo r n a l, se m vê-lo. A u m a re sp o sta a fir m a tiv a , C ro o ­ k e s p e d iu q u e lesse a p a la v r a q u e e le c o b ria com o dedo. D e-v ag a r, e com g r a n d e d ific u ld a d e , sa iu a p a ­ la v ra hovvever ( e n tr e ta n to ) , q u e e ra ju s ta m e n te a p a ­ la v ra c o b e r ta pelo dedo do p ro fe sso r.

À televisão se reduzem os sonhos profé­ ticos. A previsão, quer seja cm sonho quer na (6S) Cf. ZURBKNSE>T:A S eguuda.V lata. Baden, ColO-

— 13# — vigília, cham a-se m onição quando é sim u l­ tânea com os acontecim eutos, e prem onição, quando precede os acontecim entos. O nosso a m ig o M ngld B n ru c h , d e S. G onçalo do Sa p u c aí, r e f e r e v á rio s fato s d e m o n iç ão e d e p re m o ­ n iç ã o su c ed id o s em s u a v id a . U m a vez, n o M onte L ibano, e sc o n d e ra -s e n u m a g r u ta , d u r a n te h o r ro r o s a te m p e s ta d e : d e -re p e n te , sem s a b e r p o rq u e, d esco n fio u do local e reso lv eu c o n tin u a r a v ia g em , a -p e s a r d a c h u ­ v a e d a v e n ta n ia . M as, o m esm o fo i p o r o p é fo ra da g r u ta e a fa s ta r- s e u m pouco, q u o v ê-la d e sa b a r im e ­ d ia ta m e n te , com o se h o u v e sse u m m o v im en to sism ico n a m o n ta n h a .

O se g u in te f a to lh e su c e d e u em S. G onçalo, e v á ria s te s te m u n h a s sã o a in d a v iv as. F o i em 1923. O sr. M ngid tin h a negócio d e fa z e n d a s e m u m a c asa, à R u a R u i B a rb o sa, e m o ra v a co m a fa m ília em o u tr a casa , n a R u a R a im u n d o C o rrê a . U m a n o ite , so n h o u q uo v ia dois in d iv id u o s ro u b a n d o -lh e o n egócio. V iu os la d rõ e s d is tin ta m e n te , te n d o n o ta d o a e s ta t u r a , os sin a is de c ad a u m e a s ro u p a s. Um e ra b ra n c o , e o u ­ tro , n e g ro . À co rd an d o , so b re ss a lta d o , d isse è. e sp o sa: “ F o m o s ro u b a d o s: vi os la d rõ e s em s o n h o ”. L ogo d e -n ia n h â cedo, a o ir a te n d e r a u m irm ã o q ue lh e b a tia á p o rta , o sr. M a g id d isse : “ J á se i o que vem fa z e r: V ocê vem d a r-m e n o tíc ia d e q u e fo m o s r o u b ad o s. ‘‘E ’ isto m e sm o ”, — c o n firm o u o irm ã o . C ie n tific a d a a políc ia , e s ta co m u n ico u o fa to a o s d e leg a d o s dos m u n ic íp io s v iz in h o s e, d e p o is d e v á ria s b a tid a s , fo ra m d e sc o b e rto s t p re so s o s d o is la d rõ e s, se n d o a p re e n d id a s a s m e rc a d o ria s. A p risã o d e u -se no d is trito de C areassA . O ito ou d ez p esso as, c o n v id ad a s p e la po lic ia , fo ra m e n c a rr e g a d a s d e e sc o lta r os p r e ­

— 140 — sos p a ra S. G onçalo. E ’ d e n o ta r q u e , u esse te m p o , co­ mo não lia v ia po líc ia n o s d is trito s , os d e le g a d o s I n ti­ m a v am p o p u la re s p a ra s e rv ire m de so ld a d o s em caso de n e ce ssid a d e. S ab e n d o d a p risã o do s g a tu n o s , a p o ­ lic ia de S. G ongalo fo i ao e n c o n tro d e les, n a e s tr a d a de C a ren ssú . F o r c u rio s id a d e , o sr. M a g id q u is a co m ­ p a n h a r os so ld a d o s. U m a h o r a d e p o is, com o a e sco lta que c o n d u z ia os p re so s j á e ra v is ta a o lo n g e , o sr. M agid disse p a ra o c o m a n d a n te do d e s ta c a m e n to : “ Sou capaz de in d ic a r os d o is la d rõ e s e n tre os h o m e n s d a e s c o lta ”. D e-fato , q u a n d o a p o líc ia se a p ro x im o u , os la ­ drõ e s e se u s g u a rd a s , (e s te s à p a is a n a ) , e sta v a m a s ­ se n ta d o s a m eio d a e s tr a d a . “ O sr. M agid v a i in d ic a r-n o s os la d rõ e s " , — d is­ se o c o m a n d a n te . N ote-so qu e ta n to os la d rõ e s com o os g u a rd a s e ra m d e sco n h e cid o s de M agid. E m v is ta d a o rd e m do c o m a n d a n te , o sr. M agid a p ro x im o u -se e, o lh a n d o p a ra o g ru p o , d is tin g u e lo ­ go um dos p re se n te o d iz: — “ E s te é o b ra n c o q u e e u v i no so n h o ”. D epois, a p o n ta n d o u m p r e to : — “ O n e g ro q u e eu vi é a q u e le ”. D e-fato, o s do is in d ic ad o s e ra m os la d rõ e s.

O u tro c u rio so caso de m o n ig ão c o n to u -n o s o sr. M a g id : U m a vez, c h e g a n d o ao se u n eg ó cio , n o to u f a lta de u m a caix a de g r a v a ta s c a ra s. O ra, n a p ra ç a f ro n ­ te ir a , e s ta v a a rm a d o u m c irco d e c av a lin h o s, e velo lo go a M a g id a id é ia de q u e a lg u m e m p re g ad o do c ir­ co lh e h o u v e sse ro u b ad o a m e rc a d o ria . E ra m seis h o r a s d a ta rd e . Sem to m a r o ch ap é u , sem p e d ir lic en g a a o s p r e se n te s, M ag id sa iu a p re ssa d o ,

— 141 — se m i-in co n c ie n te, com o um so n â m b u lo , d irig iu -se p a ­ r a o c irco, e n tro u p o r ele a d e n tro , foi a té à b a rra q u in h a dos a rtis ta s , to m o u de u m a e sca d a, su sp e n d e u -a , s u b iu p o r e la e, e ste n d e n d o o b raç o , e n c o n tro u , a tr á s de u n s e m b ru lh o s, a c aix a d e g r a v a ta s . D escen d o com e la n a m âo, e só e n tã o n o ta n d o a p re se n ç a de e s tr a ­ nhos, d isse : — “A lg u e m tr o u x e e s ta c aix a, p o r e n g a n o do m eu n egócio. E ’ m in h a ”.

*

À criptestesia reportarem os os estranhos fenôm enos que se ligam à rabdomância ou radiestesia. Cham am -se eleclromotores ou radiestesistas os indivíduos dotados de sensi­ bilidade extraordinária, que, sem au xílio dos sentidos, percebem a existência dc veios de água, fontes, jazidas de metais, espaços va­ zios, galerias subterrâneas, etc.

Para suas pesquisas, os rabdom antes ser­ vem -se ora de um pêndulo, ora de um a vari­ nha flexivel, que pode ser m etálica ou de m a­ deira. É a vara divinatória, baguette em fran­ cês, e virga divinatória em latim . P o i g ra ç a s ao se u d om c rip te sté slc o q u e os r a b ­ d o m a n te s P o . M a rm c t e P e . B a u llt p r e s ta r a m ao g o ­ v e rn o fra n c ê s in e stim á v e l se rv iço , lo c aliza n d o os o b u ­ se s q u e os a lem ã es h a v iam d e ix ad o o c u lto s, n o t e r r e ­ no fra n c ê s, após o a rm istíc io q u e pós fim â G ra n d e G u e rra . N otem os o u tr o s se rv iço s p r e s ta d o s p o r elec to m o to re s c é le b re s: O p ro f. Bcrit R e e s e d e sco b riu os m a n a n c ia is de p e tró le o de R ookfcU cr. M. B o u le n g c r, p r o fe sso r b elg a, d e sco b riu os m a n a n c ia is de á g u a q u e se rv e m o H os­ p ita l B ru g in a n ii, de .T olte-St. P íe r r e . E m ilio Jan.só d e s­ c obriu ja z id a s de p e tró le o n a s p ro p rie d a d e s d a p rin c e ­

— 142 — s a R a d z iw l » ja z id a s d e c arv ão n a s te r r a s do conde P o to c k i, n a P o lô n ia. M o ln e au d e sco b riu m a n a n c ia is d e á g u a a b u n d a n te com que a c id a d e de T o u lo n , n a F ra n g a , p o d e a u m e n ­ ta r o a b a ste c im e n to p ú b lico . O c o n d e B e au s o lell, a p ri­ sio n a d o n a B a s tilh a e m 164 1 , p o de, g rag a s a s u a v a ­ r in h a m e tá lic a , d e sc o b rir n a F r a n g a 172 ja z id a s de v á ­ rio s m e ta is, a lg u m a s d a s q u a is são e x p lo ra d a s a in d a ho je . O u tro ra b d o m a n le do sec. X V II, Ja c q u e s A y m u rd , fo i tid o p o r feitic e iro p o r c au sa d a s g r a n d e s c o rre n te s d e á g u a q u e d e sco b riu . (6 9 )

À criptestesia referirem os ainda a psicom etria. É a faculdade que tem certas pes­ soas de, vendo um objeto, determ inar-lhe a história bem com o a de seus possuidores ou dons. E xem p lo clássico de p sic o m e tria é o d a S e n h o ra P lp c r , c u ja s d e m o n stra ç õ e s c o n sta m d e m u ito s v o lu ­ m e s d a S .P .R ., quo podem s e r c o n su lta d o s em se u s a rq u iv o s . O P e . G era ld o B i n n c n n d ljk , T e d e n lo rista re s id e n ­ te no B ra sil, m a n d o u p a ra s u a fam ília , em A m ste rd ão , um d e n te d e on ç a q u e h a v ia g a n h o em M in as G erais, e tr o u x e r a consigo d u r a n te m u ito te m p o . U m a psicôm e tr a h o la n d e sa , b oa c a tó lic a e a m ig a d a fa m ília do Pe. G erald o , po d e d e sc re v e r o fisico do s a c e rd o te , d a r a lg u m a s d a s su a s q u a lid a d e s m o ra is, e re c o n s titu ir m u ita s de su a s v ia g e n s m is sio n á ria s, peio só r e c u r ­ so d e s e g u ra r n a m ão o d e n te d e o n ç a e, de o lh o s fe­ c h ad o s, c o n c e n tra r o p e n sa m e n to n a pe sso a q u e po s­ s u ír a ta l o b je to . N. B. — A te le p a tia ta m b em se m a n if e s ta so b fo r­ m a d a tra n s m is s ã o de p e n sa m e n to s e d e te lev isão . (69) Dr. POÓDT. — Loh fcnOracno* m isterioso s dei psiquism o. T raduzido do holandês de Joaquim F u ster. B a r­ celona. Sucessores de Ju a n Gili, 1930.

— 143 — Um exem plo d e s ta lê-se n a o b r a d e T h o m so n J a g H u d lso n , “ A le i d o s fenC m eu o s p síq u ic o s” . O a u to r o u ­ v iu , um d ia , de u ra m é d iu m , a d e scriç ão q u e fiz e ra d a oc u p aç ão de u m a x a m ln a d o r, no d e p a r ta m e n to d e p a ­ te n te s d os E sta d o s-U n id o s. M é d iu m e e x a m in a d o r n u n ­ ca se tin h a m v isto . F o i em se ssão . Os m e m b ro s d a r e u n iã o , e n tre os q u a is o p ró ­ p rio H u d iso n , in tro d u z ira m -se com n o in e s su p o sto s , e f a la r a m com o m é d iu m so b re h ip n o tism o a té q u e se e s­ ta b e le c e ra m " c o n d iç õ es h a rm ô n ic a s ”. O m é d iu m , e n ­ tã o , c om eçou: "V e jo um g r a n d e e d ifício , com m u ito s q u a rto s . N um d e le s fica um s e n h o r, a sse n ta d o ju n to a u m a g ra n d e c a r te ira , em q u e h á g r a n d e p a p e la d a . V ejo d e ­ se n h o s, a o q u e p a re ce , de m á q u in a s , e ste n d id o s em c im a d a c a r te ira , o su sp e ito q u e se tr a t e d e p a te n ­ te s" . A u m a o b se rv a çã o dos a s s is te n te s so b re a e x a ti­ dão de su a s in fo rm a ç õ e s, o m é d iu m a c re sc e n to u : , " M as nã o é a ú n ic a o c u p aç ão do s e n h o r q u e eu vejo. E i-lo a g o ra no se u e s c r itó r io , em c asa, ro d ea d o de m a n u sc rito s e liv ro s. P a re c e e screv e r. Sim , e screv e u m liv r o ”. D ep ois disso, descrev e u os m oveis, a s e s ta n te s de liv ro s e o s m oveis do e sc ritó rio .

E ntende-se por transmissão de pensamen­ to a faculdade de descrever o que se passa na m ente de outra pessoa, sem auxilio dos orgãos corpóreos conhecidos. Assaz notório é o caso de Ludovico de Angers, exposto por Mons. Albert Farge, em sua obra Phénomèncs Mystiques. L udovico, filh o do D r. X ., tin h a a fa c u ld a d e d e le r os p e n sa m e n to s do s u a m ã e, e e sta p o d ia s u g e rirlh e r e sp o sta s á3 m a is v a ria d a s p e rg u n ta s . L u d o v ico ,

— 144 — tin h a a p e n a s se te a n o s. E r e sp o n d ia e x a ta m e n te a to ­ d a s a s q u e stõ e s , de sd e q u e e sta s fo ssem c o n h ec id as de su a m ã e. A m ã e s u g e ria a L u d o v ico , com o p e n sa ­ m e n to e se m co n cu rso d a voz o u dos o u tr o s se n tid o s, a re s p o s ta q u e ele c icria d a r à s p e rg u n ta s fe ita s. E r a o filh o q u e p a re c ia le r o p e n sa m e n to de s u a m ã e e não e sta a do filh e . O u tr a s v ezes a m ã e a b ria um liv ro , ta p a v a coin o d edo u m a p a la v r a o u ura a lg a rism o , e a re s p o s ta e ra in v a ria v e lm e n te c e rta . A la rm a d o com o fen ô m e n o o te m en d o qu e seu fiih o , d evid o a e ssa p a s­ siv id a d e n a tiv a , se 1 am asse im b e cil, o p ai se a p re sso u em s e p a r a r o filh o d e s u a m ã e. D esd e e n tã o o fen ô ­ m eno cessou d e p ro d u z ir-se . (7 0 )

D iferente da transm issão de pensam ento é a leitu ra m uscular, feita pelos m úsculos, e exibida às vezes em sessões públicas. Uma p essoa diz os pensam entos de outra, seguran­ do-lhe o pulso ou tocando-lhe em algum membro. Para chegarm os a m elhor discernir quais os fenôm enos da criptcstesia que excedem as forças hum anas, reduzim os a questão a 4 per­ guntas e respectivas respostas. 1.® P E R G U N T A : — B asta, para a aquisi­ ção d e sem elh antes conhecim en tos, um au­ m en to an orm al d as funções das faculdades cognoscitivas atuais, ou são necessárias ou­ tras facu ldades especificam en te n ovas? E ’ fato que a cham ada clarividên cia en­ contra sua próxim a explicação numa ativida­ de sensória extraordinária, excitada, aguça­ da e anorm alm ente desenvolvida. (70)

Apud Dl'. POODT, ibidimi, pg. 205-20G.

— 145 — E ’ conhecido o aum ento da percepção sensitiva, quer por dom natural, quer por exercício continuo, ou pela concorrência de vá­ rias circunstâncias exteriores. O sentido da vista e o do olfato são naturalm ente desenvol­ vidos em m uitos anim ais. Adm iram os o tacto m aravilhoso de m uitos cegos, o qual pode quase suprir a falta da vista. Por encurta­ m ento hipnótico do cam po da conciência, é p ossivel m ultiplicar esses resultados estupen­ dos, desconhecidos no estado norm al. Quan­ do, pois, um médium vidente pretende ver fantasm as que, nos prim eiros m om entos, nin­ guém pode ver ainda, m as que, logo depois, são distintam ente vistos por todos os assisten­ tes, temos então, em sem elhante clarividência, apenas um caso de hiperestesia. Trata-se da promoção da linha percepliva, ou da divisa seusóría. 2." P E R G U N T A : — Podem talvez todos, ou quase todos os casos de criptestesia, ser reduzidos a semelhante acuidade das facul­ dades sensitivas comuns? Alguns investigadores parecem sim pati­ zar com este m odo de explicar os fenôm enos. Assim, por exem plo: A. N. Couvin (71) e Ch. Richet (72). O últim o pretende explicar to­ da espécie de clarividência por uma extraor­ dinária hiperestesia do tacto. No entanto, concede, francam ente, que sua opinião apre(71) E r n e r lm c n ld le U nter*uchun,ruiiK en, pc;. 31. (73) RICH ET — Grundrliui d e r ParnpMycliolOKic der Parnpsyohophyfiik, pgr. 147. — G. G1CLEY — H cllexehcnTeleplnsM k, pg. 72.

— 146 — senta falhas. E ’ uma hipótese provisória. 0 médium seria determ inado para a clarividên­ cia por finas vibrações. Esta hipótese encer­ ra vários elem entos: a) Admite a existência de certas vibra­ ções que partem das coisas anim adas ou ina­ nim adas, e determ inam o conhecim ento ou a visão supranorm al. Seria o caso dos raios vi­ tais (O d), ou das vibrações cerebrais ou ner­ vosas. b) O orgão receptor dessas vibrações é o orgão do tacto com um , em bora m uito aper­ feiçoado ou excitado. A essa explicação da criptestesia opõemse insuperáveis dificuldades. Alem das pou­ cas m atérias rádio-ativas, a ciência natural conhece ainda irradiações electrom agnéticas e as de luz e calor, em itidas por coisas inani­ madas. N ão está dem onstrada a existência de outras irradiações, espontâneas e sutis, n e­ cessárias na hipótese dc Richet. Permanece, porem , uma certa possibilidade de virem a ser descobertas no futuro. Não demonstram os constantes resultados, já mencionados, com a bagueta mágica c o pêndulo, a probabilissima existência de emanações ou irradia­ ções desconhecidas, seja no observador, seja nos objetos visados?

Mas, ainda supondo a existência de vibra­ ções sutis, m esm o assim terem os adquirido o conhecim ento apenas de uma pequena par­ te dos próprios fenôm enos de clarividência. Quem poderá, com éfêito, aceitar essa expli­ cação, no caso em que um clarividente consiga descobrir, com sua faculdade, o conteúdo de

— 147 — um grosso tubo de chumbo, fechado à solda,

com o o conseguiu, deTato, O ssoviecki? (73). Mais im provável ainda é a hipótese de irradiações, quando provas, escritas à mão, são várias vezes dobradas ou enroladas e o resultado se obtem da m esm a m aneira. (74) E quanto à visão real do passado ou do futu­ ro, de nenhum modo d p ossivel, por m eio de raios em itidos pelas coisas vistas, a não ser que se arquitetem teorias inadm issíveis sobre a realidade do tempo. Menos absurda parece a hipótese de “On­ das cerebrais”. Todas as operações psíquicas são acom ­ panhadas de especiais processos no cérebro e no sistem a nervoso. E* bem p ossivel que es­ tes processos sejam físico-quím icos e que, sob certas condições, possam ser irradiados num m édium predisposto. Sem elhante opi­ nião parece ter encontrado recentem ente a confirm ação experim ental direta. No 1.° e 2.° cadernos (1926) da “Zeitschrift fuer Pa­ rapsychologie”, F. Cassamalli, professor da Universidade de Milão, refere-se à ação de ondas cerebrais em fenôm enos lelepsíquicos. Suas experiências, porem , não encontraram aplauso, conform e se vê de uma exposição critica de R. Fischner (75) na m esm a revista (4 e 10). Contra a teoria de ondas telepáticas



148 —

levantaram-se dificuldades muito sérias. H. Driesch (76), por exem plo, observa: se a co­

m unicação telepática se fizesse pelo m odo de em issor e receptor de ondas, o estado m en­ tal do receptor deveria ser idêntico ao do em issor, o que em absoluto não acon­ tece. Um hom em em perigo de m orte, pensa "ier. Esta, no m esm o m om ento, nte a im agem do m arido, mas lecim ento algum das idéias que > o agitam. Seja como for, o que ficou exposto acon' i dar simples analogias como exü íficas de valor. Mas nem por is-

icusar à teoria de ondas todo va­ lor explicativo. Que se liá-de entender do “ tacto” de que

faja Richet? A nosso ver nem o tacto com um , por de­ senvolvido e excitado que seja, dá explicação nceitavel. O próprio Richet tira-lhe o sentido geral. D iz ele: “ No m a is, dev em o s e n te n d e r-n o s so b re a p a la v ra i é tã o fu n d a m e n ta lm e n te u e p a re c e m esm o s e r um . 7 3 ) . T ra ta -s e , pois, a q u i sta d o n o rm a l, n ã o e x iste, tão f a n tá s tic a é in ú ti l” .

m suma, se há quase só probabilidades í existem ondas em itidas por certos ob-

— M9 — jetos, e que possam im pressionar alguns indi­ víduos, é m ais razoavel recorrer à hiperestesia para explicar os casos de telepatia. Assim, teriam os m écliuns o sensório bastante sen sí­ vel para os casos mais sim ples de criptestesia, m as não para casos transcen den tais. 3.» P E R G U N T A : — Qual a relação da te­ lepatia com a televisão? P oderá um a redu zirse à outra? D e-fato, isso acontece m uitas vezes. 0 di­ retor das experiências ou outras pessoas ne­ las participantes conhecem quase sem pre o conteúdo de envoltórios fechados, ou de car­ tas; conhecem tam bém m ais ou m enos a prehistória dos objetos apresentados fora ou den­ tro de en voltórios. Clarividência e psicom etria explicam -se, em sem elhante caso, por uma transm issão telepática de pensam entos. Ainda m a is : para que esta se realize, nem p a­ rece absolutam ente necessário que o experi­ mentador, ou os participantes, estejam real­ m ente cientes desses conhecim entos. O viden ­ te pode tambem “ler” no subconciente. N es­ tes casos tem os apenas clarividência aparen­ te ou psicom etria aparente. O m édiu m entra com os seus consulèntes ou correligionários cm contacto aním ico, e participa, assim , de al­ gum m odo, de suas esperanças, apreensões e suspeitas acerca do futuro. Por isso a pergun­ ta acim a se reduz à seguinte: 4.* P E R G U N T A : — Serve a telepatia co­ m o explicação universal p a ta todas as espé­ cies de criptestesia?

— 150 — A grande m aioria dos investigadores res­ ponde negativam ente e com plena razão. Em todo caso. nunca direm os que há aqui verda­ deira profecia. Adem ais, os fatos psicom étricos de Mrs. P ip er e O sson viecki são tão estu­ pendos, que só hipóteses fantásticas podem querer explicá-los pela telepatia. Sem elhante tentativa encontra-se, por exem plo, com B aern w ald (78). Segundo esse autor, um te­ lepata pode tirar, do subconciente alheio, con­ teúdos que nunca foram concientes. Absurdo manifesto. Esta hipótese tenta desvirtuar as tentati­ vas, sobre clarividência, de W asileneski, Richel e Geley. (79) Sem elhante subconciência é, a nosso ver, mera fantasia — Indem onstrada e indem onstravel. Ao lado de uma hiperestesia larga, ex ­ tensa, serve, apenas, a quem pretende negar o “m aravilh oso” ou o preternatural dos fenô­ menos. Sua base é fraquissim a. Outros adm i­ tem que o m édium fiq ue em relação telepáti­ ca com todos os contem porâneos vivos, a-pesar da distância. F. K. O esterreich parece sim ­ patizar estranham ente com sem elhantes idéias extravagantes. Vai m ais adiante. F ala de uma “ tradição telepática”, continua, desde a origem da hum anidade. As perspectivas se­ riam então m agníficas. “Um m édium perfeito poderia referir-nos os acontecim entos de Rham sés ou de Alexandre. Poderia ser teste(78) H. BAISRNWAJLD — Dlc In tellck tn ellen PJinenomene. D er Okknltlnm un In U rkm iden II. U istein, Berlin, 1925. (79) Id., Ibidem . PB- 194.

— 151 — m unha espiritual da construção das pirâm i­ des e da querela dc Júpiter Amon, e a histó­ ria teria contacto im ediato com o passado, des­ pertando, os grandes médiuns, nas alm as dos hom ens, os traços dos tem pos idos. Que pers­ pectiva! Supor que um a pessoa abism ada, em transe, possa descrever-nos a batalha de Ma­ ratona, ou o julgam ento de Sócrates!. . . E se um médium se m ostrasse capaz de fazer m ais ainda, descrever os acontecim entos ante­ riores à história hum ana? Se nos revelasse todo o passado? 0 pensam ento é fantástico, m as não sabem os onde fica o lim ite da^psicom etria”. (80) Até aqui Oesterreich. Dc-fato, sem elhantes pensam entos são ad­ miráveis, m as não p assam de rom ance, as­ sim como romance e fantasia será sempre a telepatia universal. Outra h ipótese para explicar a psicometria: é a de “ sopro v ita l”. Os objetos h istóri­

cos ficam penetrados de influência e, por elas, a m ente do médium se orienta, com o o cão pelo faro. Há ainda a das “qualidades psíq u icas” (A ura), invisíveis aos mortais comuns, mas que envolvem todos os objetos. Por últim o, a teoria das “Remanescências da memória", à qual se deve reduzir, conform e alguns, a continuação da existência de perso­ nalidades psíquicas.

(80) T. K. O ESTERREICH — D er O kkulílsmuB Im M odernen W eltbild, Slbyllen-V erlng. D resda, 1028, p*. 81.

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152 —

Art. II. FENÔMENOS PARAFÍSICOS DE TELECINÉSIA E DE TELEPLASTICA. Quais as hipóteses que se nos apresentam para explicar fenôm enos tão estupendos que se realizam a-pesar-de inúm eras d ificul­ dades? Com ecemos pelos “ transportes”, m uitas vezes verificados cientificam ente, não por m eio de prestidigitação, pois os m édiuns es­ tavam im obilizados. Como se explica que de­ sapareça, de-repente, por exem plo, o relógio do bolso e dai a poucos segundos desça do teto, pelo ar? Várias hipóteses explicativas foram excogiladas, que nos colocam no m eio das questões m ais d ificeis da ciência natural. M encionemos algum as. 1.° — A hipótese da 4.a dim ensão local, segundo Zoeln er; 2.° — Desm aterialização e im ediata m a­ terialização do objeto transportado; 3.° — Tudo isso com ou sem form ação de orgãos m ediú nicos para efetuar o serviço. Quanto à hipótese de Zoelner, pai-ece absurdo que, ao lado das três dim ensões lo­ cais, acessíveis aos m ortais com uns, possa existir uma quarta, na qual sejam introdu­ zidos, por m om entos, certos objetos, tirados até de recintos inteiram ente fechados. Com is­ so seria explicada a com penetração que, não raro, anda de-par com fenôm enos de transporles. Mas nem toda possibilidade se pod#

taxar de hipótese científica; esta exige tam­ bém algum a confirm ação na experiência. Im a­ ginada, porem , com o essa foi, especialm ente para explicar transportes, não tem base al­ gum a na realidade, e não encontra, hoje-em dia, senão poucos partidários. A 2." explicação, peio processo d e m a te­ rialização, conta presentem ente com m ais adeptos; m as oferece m aiores dificuldades ainda. O objeto deve ser desm aterializado, is­ to é, reduzido aos seus elem entos primários (átom os etéreos), ser levado neste estado, in ­ visivelm ente, para certo lugar, c aí ser ins­ tantaneam ente rem aterializado, isto é, re­ constituído no prim itivo estado quím ico-fisico. Quase nada destas ousadas afirm ações é com preensível ou aceitavel para um químico ou físico. Essas “ p rofundas” análises e sínte­ ses deveriam produzir, de acordo com as ho­ diernas opiniões teóricas sobre átom os, pro­ cessos m onstruosos de energia, em com para­ ção com os quais até os estupendos processos rádio-ativos seriam brinquedos de crianças. N ada disso, entretanto, existe. A única coisa que se sente no local on­ de se efetuam esses fenôm enos é a im ponde­ rável “ Corrente fr ia ”, conhecida pelos fre­ quentadores de sessões experim entais, e, cm consequência desse frio, o abaixam ento da temperatura ambiente. Mencionemos ainda um terceiro ponto. Quando o m édiu m realiza um transporte, fálo, quer pela energia espiritual da sua vonta­ de,. sem instrum ento algum , quer mediante orgão m aterial. A prim eira suposição é ex-

— 154 — tremam entc inverossím il e, presentemente, não a defende conhecedor algum desta m até­ ria. A últim a exige m aterialização de orgãos do médium, seguida de im ediata desm ateria­ lização dos m esm os, processo esse que, por inverossím il que pareça à prim eira vista, é menos absurdo do que o prim eiro, com o ve­ remos adiante, nas reflexões psicológicas que seguem . Entretanto, nem a últim a suposição traz, para o nosso caso, explicação satisfató­ ria. Que adianta a form ação de orgãos mediúnicos, quando são trazidos os objetos de uma distância de cem m etros e m ais, ou até de m ilhares de quilôm etros? Vê-se que um problem a escuro acarreta outro ainda mais escuro. A questão das ações à distância ou telecin ésia sugere quase as m esm as hipóteses ora ventiladas. De alguns destes fenôm enos, em particular, falarem os adiante. CONCLUÍ­ MOS : Fenômenos parafísicos distinguem-se dos fisicos normais não porque a alma do médium opera diretamente em duas; maté­ rias ( dentro e fora do organismo vivo ), mas porque exerce diretamente, na mesma ma­ téria, diversas influências. N o médium efetuase, sob a direção de qualquer principio inteli­ gente, uma transformação carateristica de sua substância orgânica.

Eis ai realidades estupendas do ocultis­ mo e do espiritism o que se apresentam ao nos­ so exam e, para que lhes indaguem os e estabele­ çam os a causa ou as causas. Trata-se, repeti­ m os, de saber, se os fenf nenos parafísicos são produzidos só pelo médium, auxiliado ou não, por outras pessoas, ou se excedem todas

— 155 — as forças hum anas, de m odo que sua causa eficiente deva ser uma entidade inteligente colocada fora do mundo visivel. E aqui chegam os aos dois sistem as ge­ rais em matéria de interpretação dos fenôm e­ nos: METAPSÍQU1CA e ESPIRITISMO. A M etapsíquica quer explicar todos os fe­ nôm enos pelo ANIMISMO, isto é, pelo concur­ so das forças naturais. O Espiritism o, ao contrário, quer expli­ cá-los todos pelas COMUNICAÇÕES, isto é, pela intervenção de espíritos do OUTRO MUNDO, os quais, devidam ente evocados, se com unicam com os homens. Os espiritos seriam a causa única ou principal, e operariam ou sós, ou em conjun­ to com o m édiu m , sendo eles, neste caso, os agentes principais, e o m édiu m a causa ins­ trumental. Assim sendo, poderia o Anim ism o ^er cham ado “teoria im anente", e o espiritism o, “ teoria transcendental”. A diferença entre um e outro sistem a é sim plesm ente a que há entre a explicação na­ tural e a pretexmatural. Para chegarm os a uma solução, faz-se m ister sujeitem os as teorias, representadas ca­ da uma por cientistas notáveis, a um exam e m etódico. Neste capitulo falarem os da pri­ meira, isto é, do anim ism o. Segundo essa teoria, o m édium efetua, so­ zinho, em transe e subconcientem ente, a m is­ teriosa transform ação da sua matéria corpo­ ral, exterioriza-a, form a mem bros m om en­

tâneos e até fantasm as, e os reabsorve fin al­ mente no corpo. O anim ism o pretende estribar-se nestes fatos: 1.° - O pequeno raio de ação da energia m ediúnica. 2.° - O enorm e esforço fisico do médium, durante as produções, m ovim ento sincrônico dos m úsculos do médium durante os fenôm e­ nos telecinéticos, desaparecim ento aparente ou real da matéria corporal, paralisação m us­ cular. 3.° - Em conexão com isto, forte m odifi­ cação do peso próprio, nos fenôm enos teleci­ néticos e fantasm agóricos. Eis aí os m otivos pelos quais os autores do anim ism o pretendem provar ser o m édium a causa eficiente dos fenôm en os experim en­ tais. Espantosa pobreza de argumentos! Que c que dem onstram os m otivos enum erados? A penas que, em m uitos casos, os fenôm enos ocultos dependem do médium, no que esta­ mos de acordo. Mas demonstram eles, com a mesm a certeza, que a força natural do mé­ dium é a causa única dos fenôm enos? Certa­ m ente que não. Com sem elhantes argumentos, ambas as teorias, anim ism o e espiritism o, ficam longe de resolver o problem a da causalidade. Sem dúvida, devemos encarar sempre, com sim­ patia, uma explicação natural, moderada, que rejeita a intromissão de causas super-humanas, quando bastam as já conhecidas e apon­ tadas.

— 157 — Para, enfim , chegarm os a um resulta­ do bem fundado, devem os, antes de tudo, atender a duas coisas. Em prim eiro lugar, não se liá-de separar uma parte pequena do m ate­ rial de fatos, para form ar com eles uma teo­ ria. E ’ preciso, na investigação, atender ao com plexo inteiro dos fatos. Quem fizesse o co n tr á rio , assem elhar-se-ia a um investiga­ dor que se esforça por estabelecer a diferen­ ça entre o anim ado e o inanim ado, restringin­ do, porem, a sua indagação às bactérias pri­ m itivas, que só podem ser exam inadas por meio dos m ais perfeitos m icroscópios. Em segundo lugar, deve-se com eçar com uma categoria de fenôm enos, cuja explicação não encontra dificuldade e está garantida deantem ão. Partindo desta base certa, pode-se subir, como por degraus, para os fenôm enos claros. Art. III. FENÔMENOS ESPONTÂNEOS Como já vim os, na parte dos respectivos relatórios, existem duas categorias destes fe ­ nôm enos: Uma, a dos ligados a lugares; e outra, a dos que se ligam a pessoas. Esta è tratada com os dem ais casos m ediúnicos, por­ que nela entra um m édiu m , embora inteira­ m ente passivo, ou mais passivo do que ativo. Serve de transição entre os fenôm enos espontâneos c os experim entais. Da categoria dos fenôm enos pro p ria m e n ­ te espon tâneos é preciso dizer, desde já, que

— 158 — nela falh a com pletam ente a teoria do Ani­ m ism o, visto com o aqui não existe m édiu m algum. Mas de sua existência dão testem unho centenas de fatos bem averiguados e incon­ testáveis, com o provam os respectivos rela­ tórios da S. P. R., as coleções de E. B ozzam o (81), Dr. G vabinski (82) J. llleij, (83). R. L am bert (84), M. K em m erich e outras, (85). t Em determ inados casos pode-se, incon­ testavelm ente, provar que os fenôm enos de objetos inanim ados, form ação de fantasm as, vozes m isteriosas, foram verificados durante m uitos decênios, no m esm o lugar, do mesm o m odo característico, a-pesar das diversas pessoas que sc sucederam nesses lugares. Pa­ rece, portanto, de-antem ão, excluida toda coo­ p eração m edial, a não ser que se arquitetem hipóteses fantásticas, como seria supor exis­ tirem m édiu ns que, durante 70 anos e mais. p roduzissem os m esm os fenôm enos, no m es­ m o lugar, de uma distância de m uitos quilô­ m etros. H ipótese até inutil, porque lugares houve onde os fenôm enos continuavam du­ rante vários séculos. P ara explicação destes casos, apresen­ tam -se algum as hipóteses m uito interessan­ tes, não porque nos levem à solução, m as uni(Sl) E. BOZZANO — Le« phénom ènes de H nntlse — Alcan., Pai ls, 1920. (82) BR. BRABINSKI — Spuk-GclHterscbelnunK. H il­ desheim , 1922. (83) J. ILLE Y — E w ig es Schw elgen? — Union D eu ts­ che V erlagsges. S tu ttg a rt, 1924. (84) R. LAMBERT — Spnk, Gepennter, A pportpliiieuo. mene. Pyrnm idenverl, Berllm , 1923. (Su) M. KEMMERICH — Gepenuter. Spuk. L udw lgstanfen, 1921.

— 159 — cam ente por sua originalidade. Dedicar-lheem os poucas palavras a m odo de refutação. Vem prim eiro a hipótese de Podmore, um dos chefes da S. P. R. 0 expectro de um m orto seria projetado, telepaticam ente, por um contem porâneo seu, ainda vivo, para o lugar onde aparece ou pa­ ra o lugar em que viveu. Sem elhante fantasia é contra a regra fu n ­ dam ental de telepatia, segundo a qual toda pessoa só pode projetar, telepaticam ente, a sua própria im agem , e não a de outrem. A segunda hipótese é a fonográfica. Os seculares acontecim entos ficariam im ­ pressos, como num a chapa fotográfica ou fo ­ nográfica, nas paredes e m obílias das ca­ sas onde se deram, reproduzindo, em dadas ocasiões, os barulhos e espantalhos, com o se aí estivesse fuiicionando um fon ó­ grafo ou uma lanterna-m ágica. que projetas­ se fantasm as, visiveis ou invisíveis. Vivos ou inanim ados, esses fan.tasmas causariam toda sorte de espantos, m aldadcs e desordens. Mais absurdas são a hipótese psicom étrica e a biom agnética. São fantásticas em de­ m asia. Não m erecem discussão. Do que acim a expusem os, resulta evidenm ente: o princípio dirigente dos fenômenos espontâneos locais não é a mente de um mé­ dium vivo. l3 to m a is e v id e n te se to r n a , q u a n d o a s a p a riç õ e s m a n ife sta m te n d ê n c ia p e rse g u id o ra ou d e s tr u id o ra . P e lo s r e la tó r io s c itad o s , co n h ec em o s o caso d e O els (S ilé sia ) do an o de 1 916. O a lv o d a p e rse g u iç ã o e ra m

— 160 — d u a s f ilh a s do o le iro F e n s c k e ; e tã o p e rs is te n te se to r ­ n o u , q u e a s p o b res m e n in a s , d e e sp a n to , se r e f u g ia ­ v a m o r a n u m q u a rto , o r a em o u tr o . O a co n te cim en to se T ep e rcu te n o tr ib u n a l, o n d e F c n s c k e e x ig iu a d ev o ­ lu ç ão do a lu g u e l pago a d ia n ta d a m e n te , re tira n d o -s e im e d ia ta m e n te da c asa . Q uem ir ia su p o r q u e a m b as e ssa s c ria n ç a s tiv e sse m p e rse g u id o , c ru e lm e n te , a si p ró p ria s, d u r a n te um m ês, p e la in fe liz " d e s c a r g a '’ de se u su b c o n c ie n te ? ! M ais f a n tá s tic a a in d a se to r n a a e x p lica çã o an im is ta , q u a n d o in im iza d es d e g e n e ra m em d istú rb io s com o v en te s, com o, p. ex:, em G ro s sc rla g C W uertem b c rg ) , n a casa da s ra . K lc in k n c c h t, m a io d e 191G. Sem q u e se p u d e sse v e rif ic a r q u a lq u e r lig a çã o com p esso a a li p re se n te , o d u e n d e tra n s fo r m o u e d e v a sto u tu d o , deix an d o só r u in a s e d eso laç ão . P o d e r ia o su b c o n cie n ­ te de a lg u m m é d iu m desco n h e cid o c a u s a r ta n to s e s tr a ­ gos, c h e g a n d o a té a a r r a n c a r a s p o r ta s do s go n zo s e a tir á - la s em c im a do s d e stro ç o s? !

E para continuar nos absurdos, seria pos­ sível ao subconciente incendiar objetos, dei­ xar a im pressão de mão incandescente, em pano, madeira e até m etal? A teoria de sub­ conciente tem, de-certo, direito na explicação dos fenôm enos aním icos. A-m iude, porem , é um “R efu gium ign oran tiae”, que só serve pa­ ra encobrir ignorância, cepticism o e m á von­ tade de conhecer a verdade. N ada m ais ridí­ culo do que explicar pelo subconciente sem e­ lhantes fenôm enos. O próprio Schren k-N otzing, anim ista entusiasta, se vê forçado a con­ fessar : “ E m v is ta d a a n á lis e c o m p arattV ft do m a te r ia l a té lio je a d q u irid o , deve-se c o n ce d er q u e o m é to d o ex-

— 161 — p lic atlv o a n im ls la só é su f ic ie n te p a ra d e te rm in a d o s c asos, niio se n d o de n e n h u m m odo a p lic a r e i a n u m e ­ ro so s o u tr o s " .

Já podem os concluir, sem m ais delongas, que a explicação razoavel. pelo m enos desta categoria de fenôm enos, não se pode deduzir da alma hum ana ou do seu subconciente. Por isso, somos forçados a concluir que semelhan­ tes fenômenos excedem as forças humanas

Eis aí o eixo da nossa tese. Da com para­ ção dos fenôm enos supranorm ais, pelo m e­ nos físicos, com os espontâneos, é que havem os-de concluir para a natureza íntim a de todos eles! Se os fenômenos supranormais es­ pontâneos são preternaturais, e transcenden­ tais, tambem o hão-de ser os fenômenos su­ pranormais fisicos. Porque a analogia entre

uns e outros é flagrante. Num caso com o no outro, há o apareci­ m ento de diversos fenôm enos de sonidos, o espontâneo m ovim ento de objetos inanim a­ dos, a característica correnteza de ar frio no inicio dos fenôm enos, a sensação de toque por membros invisíveis e certos fenôm enos luzentes. S em elhantem ente, observa-se que a m eiaescuridão ou a pouca luz favorece os fenôm e­ nos de ambas as categorias. Tam bem os fe­ n ôm enos experim entais fantasm agóricos (por exem plo, os de Maria Silberl) oferecem com os fenôm enos espontâneos perfeita analogia. Schrçnk-Notzing chega ao m esm o resul­ tado quando escreve:

— 162 — “ Do to d a p a rte vem o s os m e sm o s fen ô m e n o s d© m o v im en to , com o p u d e ra m s e r o b se rv a d o s em D ie tc rs h e im , a in d a que em fo rm a p r o p o rc io n a lm e n te fra ca . E ste s são fen ô m e n o s d a m e sm a n a tu re z a q u e o s v e ri­ fic a d o s com os m e n cio n a d o s m é d iu n s: n u m caso, m a ­ n ife s ta m -se q u a se se m p re em p re se n ç a de p esso as m e­ d ia is; n o o u tro , são p ro v o ca d o s, a rtific ia lm e n te , n a s e x p e riê n c ia s com e ssa s p e s s o a s ”. ( 8 6 ) .

E m vista de tão perfeita sem elhança de efeitos, não é çazoavel se conclua que as cau­ sas são as m esm as? Pois bem : E feitos iguais só podem provir de uma causa eficiente comum. Ora, vim os que só duas fontes de causas são apresentadas para a explicação dos fenôm enos: O A nim ism o, que os atribue a forças na­ turais, conhecidas umas, desconhecidas ou­ tras: O Espiritism o, que os atribue à inter­ venção de espiritos. Ora, Os fenôm enos es­ pon tân eos não podem ser explicados pelo Ani­ m ism o. Mas os fenôm enos experim entais ou provocados tem a m esm a natureza que aque­ les. Logo os fenôm enos experim entais, quer parafísicos quer parapsiquicos, não podem ser explicados pelo anim ism o, isto é, pelas forças naturais. Resta, pois, que o sejam p ela intervenção de espiritos. E starem os, pois, de acordo com a teoria do espiritism o? Em parte, som ente. Convi­ m os em que ha fenôm enos produzidos por (86)

Cf. Paych. Studlen, 1921, pg. 257.

— 163 — espíritos, m as não adm itim os que esses espí­ ritos sejam as alm as dos desencarnados. É o que provarem os em seguida. B — SEGUNDO PONTO OS FENÓMENOS SUPRANORMAIS NÃO SÃO PRODUZIDOS PELOS DESENCARNADOS Estado da questão.

Como argum entam os com os espiritas, som os obrigados a servir-nos de termos de sua doutrina. Assim, deve o leitor saber que eles cham am desencarnados àqueles que já morreram. A alma, uma vez desencarnada, — ou se reencarna, indo habitar em outro corpo, na Terra ou em outros planetas, — ou fica em estado de erraticidade. E ste estado de erraticidade é o a que outros escritores cham am de sobrevivência ou sobre-vida. A alm a desencarnada tem o nom e de espirito. N a teoria espirita, os desencarnados é que são a causa dos fenôm enos ocultos. Daí o enunciado de nossa tese. Para provarm os que OS FENÔMENOS NÃO SÃO PRODUZIDOS PELOS DESEN­ CARNADOS, servim o-nos de duas espécies de provas: uma, m inistrada pela D outrina Ca­ tólica; outra, pela Doutrina dos próprios es­ piritas.

— 164 — I.

— PELA DOUTRINA CATÓLICA.

a)

PELA FILOSOFIA.

A alm a e o corpo form am um só indiví­ duo; assim com o o corpo precisa da alm a, — anima, — para ser m atéria viva ou animada, assim a alm a precisa do corpo para adquirir conhecim entos das coisas. A ciência hum ana, pois, só tem duas origens naturais: sentidos orgânicos e raciocínio. Todo o conhecim ento que a alma possa ter das coisas ou foi adqui­ rido por m eio dos sentidos naturais, ou foi deduzido de outros conhecim entos. Mas estes, cm últim a análise, tambem lhe vieram pelos sentidos do corpo. N ão há outra fon te natu­ ral de conhecim entos. É vendo uma áruore, é tocando uma pedra, m esm o sem vê-la, isto é, é pondo em função um dos cinco sentidos, que eu tenho idéia de áruore ou de pedra. A alm a que habitasse um corpo privado dos cin­ co sentidos, desde o nascim ento, não saberia o que é coisa algum a, — cor, extensão, chei­ ro, calor, dores, sons, g o s to s ... Só poderia ter conciência de sua própria existência, porque, conform e, Santo Tom az, o conhecim ento de si m esm a, para a alm a, é intuitivo: seipsam cognoscit directe, suam essentiam intuendo. (81) O cego de nascença pode saber o nome das cores; nunca terá idéia de cor, nunca sa­ berá o que é cor.

A razão disto é que “o conhecim ento exi(87) SANTO TOMAZ — Som a TIicol. Q. DIspos. De Aulnia» Qa. unlca» a* 17» c.

-

165 —

ge a união do objeto conhecido com a facu l­ dade que conhece. Mas o objeto não pode unir-sc à faculdade, por m eio dc sua própria substância. Logo, precisa unir-se a ela por m eio de uma imagem que o represente, e es­ sa im agem só pode ser apreendida ou reco­ lhida pelo orgão corpóreo.” (88) Essa im a­ gem é que se chama idéia, noção, espécie inIcligivel ou. conform e o caso, fantasma. Ora, a alm a separada do corpo não m u­ da de natureza. Portanto, só pode conhecer por m eio de espécies inteligíveis. E essas espé­ cies, — ou são as que a alm a adquiriu en­ quanto estava unida ao corpo, — ou são ou­ tras que Deus lhe infunde, necessárias então para o exercício do novo estado que passa a viver. Sendo assim, a alma separada só possue duas espécies dc idéias: umas, antigas, ad­ quiridas por si m esm a enquanto era unida ao corpo; outras, novas, infundidas por Deus. Não possue, portanto, idéias novas adquiri­ das por si m esm a. Num a palavra: A alma separada conhece os espíritos, as causas im ateriais do m undo corpóreo e os objetos m ateriais singulares, — parentes, am igos, pátria, — ou por meio das idéias an­ tigas, adquiridas, ou por m eio das idéias no­ vas, infusas. Mas não conhece os acontecim entos hu­ m anos, — porque estes se deram depois de sua separação do corpo, e não estão incluidos nas idéias infusas ultim am ente. É o que diz (88) SINIBALDI — K leiuentoa dc Filoaoflu. A ntropo­ logia, n.» 222.

— 166 — o Doutor A ngélico: Ea quae apu d nos aguntu r ignorant (anim ae separatae). (89). Podem os agora fechar o nosso argu­ m ento: A alm a separada do corpo só tem ciên­ cia das coisas, ou p or m eio de idéias antigas, adquiridas em vida, ou por m eio de idéias novas, infusas por Deus; m as os aconteci­ mentos hum anos não se deduzem das idéias antigas, porque são posteriores a elas, nem se deduzem das idéias infusas, porque estas en­ volvem coisas e não fatos. Logo, a alm a hu­ m ana separada não tem ciência do que se passa nas sessões espiritas, — preces, evoca­ ções, perguntas e outros fatos. Mas os fenô­ m enos ou são fatos ou se relacionam com os fatos; logo a alm a não tem com eles nenhum a ligação. E s tá c laro q u e a q u i n o s r e fe rim o s ao co n h ec i­ m e n to n a tu r a l d a a lm a se p a ra d a , — à q u e le q u e com ­ p e te à a lm a se g u n d o a e x ig ên c ia d a n a tu re z a , e n ão ao c o n h ec im en to so b r e n a tu r a l, — à q u e le q u e o s bem a v e n tu r a d o s te m d e tu d o , In tu itiv a m e n te , p e la V isào B e a tífic a d a E ssê n c ia D iv in a. (9 0 )

Quanto aos fenôm enos de levitação e de outros, com contacto do espírito, devem os acrescentar o seguinte: A alm a hum ana, sendo substância in­ com pleta e destinada naturalm ente a anim ar um corpo, que a com pleta, só pode m over os corpos enquanto ela vivifica ou anima o seu (8!)) ST. TOMAZ — Sunimn T hcol. — Q u artu s Scnt., .lispo.s. ([. 1.*. a. 1. q. 3. c. CIO) SINIBAT.DI — Antroiiol.. n.° 222 o seguintes.

— 167 — próprio corpo; por outras palavras: a alm a só m ove os corpos por m eio de seu próprio corpo. E’ o que ensina Santo T om az: “A a lm a s e p a r a d a n ã o p o d e ria m o v e r u m c orpo po r s u a p r ó p ria v ir tu d e n a tu r a l. E ’ m a n ife sto q u e, q u a n d o a a lm a e s tá u n id a a o co rp o , n ã o p o d e m o v e r o u tr o corpo, se n ão a q u e le q u e e la v iv ific a ; e s e u m m e m b ro do corpo m o rre , e le n ão ob ed ece m a is & a lm a se g u n d o o m o v im en to lo c al. O ra, é c e rto q u e a a lm a s e p a r a d a nã o v iv ific a n e n h u m c o rp o ; p o r c o n seg u in te, n e n h u m c o rp o lh e ob e d ec e s e g u n d o o m o v im e n to lo ­ c a l” . ( 9 1 ) .

Os espiritas estão de acordo com esta doutrina. Adm item que a alma separada n a­ da pode, por si, no m undo físico. Foi p o r is­ so que, para explicarem a intervenção da al­ ma, inventaram a teoria do perispirito, que exam inarem os adiante; e puseram em cena a indefectível pessoa do m édiu m . (92). b)

PELA TEOLOGIA.

As Sagradas Escrituras nos dão inform a­ ção exata do que se segue após a m orte: pri­ m eiro, o ju izo particu lar: ” E ’ facU p a r a D eu s r e tr ib u ir a c a d a u m n o d ia d a m o r te ” . (L iv ro do E c le siá stic o , 1 1 :2 8 ) . “ E s tá d e c re ta d o qu e o s h o m e n s m o r r a m ü m a só vez; d e p o is d a m o rte , p o rem , v e m o ju lz o ” . (A o s H e ­ bre u s, 9 :2 7 ) . ^ (91) SANTO TOMAZ — Sum nia T heologlcn — IA qu.

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F eilo ou processado o julgam ento, a al­ m a segue para um dos três destinos: IN F E R ­ O U PAR A ÍS O . Mas re­ pugna que a alm a saia de um desses três lu­ gares e venha, a cham ado de um hom em , — o m édium , — intervir no m undo visivel.

NO, P U R G A T Ó R IO

1.° - Não sai do inferno. O inferno, com efeito, é com parado a um lago em que a al­ ma está sepultada: "Q ue m n ã o foi e sc rito no liv ro d a v id a , foi m a n ­ d a do p a ra o la g o d o f o g o ". (A p o c alip se , 2 0 :1 5 ) .

Alem disso, e este é o ponto principal pa­ ra o nosso escopo, as alm as dos réprobos estão em imobilidade absoluta: “ L ig a d a s a s m ã o s o os pós, m a u d al-o s p a ra as tr e v a s e x te r io r e s ” . (S. M ateu s, 2 2 :1 3 ) .

O inferno é um a prisão: “S e rã o fec h ad o s no c á r c e re ” . (Isa la s, 2 4 :2 2 ) .

O rico avarento m orreu e fo i sepultado no infern o. Não podendo vir a este mundo, pede a Abraão que m ande Lázaro a casa do pai dele, rico, a-fim -de avisá-lo do que se passa com ele no inferno: Rogo te, pater ut mittas eum in domum patris mei.” (S. Luc., 16:28). 2.° - A alma não sai do purgatório. Este tambem é um cárcere: “ R e c o n c ilia -te d e -p re ss a com te u a d v e r s á r io en ­ q u a n to e s tá s de v ta g em com e le ; n ão su c e d a acaso q ue te u a d v e rs á rio te e n tre g u e ao Ju iz e e ste ao m i­ n is tro , e s e ja s m a n d a d o p a ra o c á r c e re ; n a v e rd a d e te

— 169 — d igo q u e não s a ir á s d a i e n q u a n to não p a g a r e s o ú lti­ m o c e itil" . (S . M at., 5 :2 5 ) .

Ora, todo encarcerado, enquanto cumpre a pena, não pode sair da prisão, à sua vonta­ de. Que o citado texto se refere ao purgató­ rio é ce rto : prim eiro, porque, no caso, não se trata de culpa grave, m as só venial, — uma sim ples inim izade, que, portanto, não pode­ ria ser castigada com as penas do inferno; segundo, porque a pena a que alude o texto não é eterna, m as tem porária. 3.° - Enfim , as alm as dos bem -aven tura­ dos. Estas poderiam com unicar-se com os vi­ vos; é o que pensa Santo Tom az: “ S a n c ti, c u m v o lu c rin t, n p p n rc re p o s s u n t v iv en tlb u s , n o n n u te m d n m n a ti” . ( 9 3 )

Mas, m esm o no caso de alm as bem -aven­ turadas. falta um a razão suficiente para que se deem com unicações constantes e p rovoca­ das. Prim eiro, da parte das m esm as alm as: a felicid ad e delas é com pleta e não precisam do com ércio hum ano: ‘‘E ia , se rv o bom , e n tr a n o gozo d e te u S e n h o r ”. (M ateu s, 2 5 :2 1 . C o n fira-se a in d a : S. P a u lo ao s Cor in tio s, P r im e ir a , 2 :2 9 ) .

Segundo, da parte dos que vivem neste mundo. Deus proporcionou aos hom ens m eios ordinários e perm anentes de salvação e, as­ sim, tornou desnecessário o com ércio com as alm as boas. É o que nos ensina ainda a pará­ bola do rico avarento: (93) SANTO TOMAZ — Seat., q u artu a, dist. 46,a.l. q. 3, c.

— 170 — " A b ra ã o resp o n d e u (ao rico s e p u lta d o 110 In fe r­ no e qu e p e d ia m a n d a ss e L á z aro em m issão e sp ec ial a e ste m u n d o ) : Os viv o s te m a le l d e M oisés e do s p ro ­ fe ta s. O lgam a e stes . Se n ã o o u v ire m a M oisés e aos p ro fe ta s, n e m a c r e d it a r ã o 'em a lg u m m o rto q u e re s s u s ­ c ite .” (S. M ateus, 5 -2 9 ).

O católico, pois, com 0 livro dos Evan­ gelhos em punho, não pode adm itir a inter­ venção dos m ortos neste m undo. D iz o Pe. H er ed ia : "D e u s pode, em c aso s esp ec iais, p e rm itir q u e u m a a lm a a p a r e ç a p o r s u a d iv in a d isp o siçã o . P o re m , n e­ n h u m c ris tã o , q ue te n h a r e sp e ito a D eu s e a s u a D i­ v in a P r o v id ê n c ia , a c r e d it a r á q u e ele p e rm ita à s a l­ m a s dos b e m -a v e n tu ra d o s ou à s a lm a s do P u r g a tó r io p a lra r e m so b re a T e r r a , p r o n ta s à s in tim a ç õ e s do s d i­ v e rso s m é d iu n s d e c a r a te r d u v id o so , a sso clarem -se à s tr a v e s s u r a s de u m a se ssão e s p ir ita , m o v e re m m esas, to c a re m tr o m b e ta s ou g u ita r ra s , a g ita r e m p a n d e iro s, co n v e rsa re m so b re a s s u n to s to lo s, c o m u n ica rem m e ra s n in h a ria s e, à s v ezes, a té p ro fe rire m b la sfê m ia s. E , te n d o em v is ta a id é ia c a tó lic a do infeT no, p a re ce im ­ possível q u e D eus p e rm ita à s a lm a s dos c o n d en a d o s a s s is tire m , a p e dido, à s o rg ia s d e u m a se ssão o r d in á ­ ria ”. (9 4 ).

II.

— PELA DOUTRINA DOS ESPIRITAS

a) TEORIA DO PERISPÍRITO Definição.

Os espiritas, indo na esteira dos ocultistas, adm item um a com posição ternária do ho(91) Po. HERED IA — O CHplrltlHmo e o. bom sen«», T rad. b rasileira, ps, 175.

— 171 — m em : corpo, alma e perispirito. O perispírito é o laço que prende o espírito ao corpo. Os próprios autores espiritas não estão de pleno acordo quanto à definição do perisp i­ rito. Copiamos D. Otávio, que nos fornece uma boa explicação: “ O perispirito é um envoltório sem i-material da alma. uma substância vaporosa, for­ m ada de fluido universal, participando, ao m esm o tempo, da eletricidade, do flúido magnético e, até certo ponto, da m atéria iner­ te. Poder-se-ia dizer que é a quintessência da m atéria. D esenvolve-se e progride com a al­ ma, tornando-se tanto m ais sutil e m enos m aterial, quanto m ais elevado é o espirito. “ O perispirito pode irradiar-se fora do corpo encarnado, form ando a chamada au­ ra. P ode m esm o separar-se m om entaneam en­ te do corpo, ao qual fica unido por um laco fluídico, cham ado por alguns cordão umbili­ cal. N este caso de desencarnação relativa, a pessoa pode tom ar conhecim ento de aconteci­ m entos distantes e m ostrar faculdades anor­ m ais. Se, neste êxodo, o perispirito levar con­ sigo m oléculas m ateriais em grande número, poderá im pressionar a vista e outros senti­ dos das pessoas que encontrar. Em tais con­ dições, form ará ele o duplo de seu corpo. “ As pessoas capazes deste desdobram en­ to constituem os médiuns, que servem de in ­ termediários aos desencarnados, para que estes possam com unicar-se com os vivos. “ Nos casos de m aterialização, o espirito serve-se do perispirito do médium, para ti­

rar do corpo carnal deste os elem entos neces­ sários à m aterialização.” (95). O dr. E. Gyel, escritor espirita, pg. 19-22, não difere m uito da exposição de Dom Otávio. SINÔNIM OS V im os, a cim a , q u e o p e rls p írito ta m b em s e c h a ­ m a a u r a , q u a n d o ir r a d ia d o fo ra do co rp o , e d u p lo , qu a n d o c o n d en sa d o n a s m a te ria liz a ç õ e s. A lem d e ste s n om es, m u ito s o u tr o s lh e dão os v á rio s a u to re s que c o n su lta m o s. A ssim 6 q u e, com o sin ô n im o s de p e rlsp ir lto , a c h a m o s a s s e g u in te s e x p re ssõ e s : C o rp o a s tr a l, f lu id o p e ris p iritu a l, f lu id o h u m a n o , c o rp o ó dico, od, fo rç a e c tê n ic a ( 9 6 ) , c o rp o p sfq n ic o ( 9 7 ) , c c to p la sm a . S eg u n d o G ra sse t, o s o c u ltis ta s fo ra m os p rim e iro s q u e u sa ra m a e x p re ssão c o rp o a s tr a l. M e d iad o r p lá s ­ tic o ô d e C u d tv o rth . E c to p la s m a fo i d ad o p elo p ro f. R ic h e t a o p e rls p frlto m a te ria liz a d o . T o d as e sta s d e n o ­ m in a çõ e s do p e ris p írlto se d ife re n c ia m e n tre si c o n fo r­ m e a m e n te ou c o n cepção d o s v á rio s a u to re s . E m s u b s ­ tâ n c ia , p o rem , vem a s ig n ific a r a m e sm a coisa. ( 9 8 ) .

IMPORTÂNCIA. “ O perispirito, — diz o dr. Poodt, — é a chave do espiritism o m od erno”. (99). M ainage tam bem escreve: “ O perispirito

— 173 — derantc no sistem a. Graças a ele, os fatos m ais prodigiosos perdem o seu segredo”. ( 100 ). O corpo astral é uma espécie de “segun­ do e u ”, que poderia ser despedido pelo ho­ m em , voluntária ou involuntariam ente. Em veem entes abalos nervosos, em graves peri­ gos de vida, na hipnose e, sobretudo, à noite, ficaria afrouxado o liam e do corpo astral com o corpo físico, e aquele poderia separarse deste, indo aparecer em outros lugares, — com o provam frequentes anúncios de m ori­ bundos ou sinistrados. Marcinoivski pensou levantar, sobre a base do duplo, uma teoria de todos os fen ô­ m enos ocultos. Tudo fantasia, posto que en­ genhado com talento e poesia. (101). HISTÓRICO. A doutrina do perispirilo não constitue novidade. É apenas uma renovação da teoria do corpo astral dos Ocultistas. Mas nem es­ tes inventaram essa teoria. Já Cudworth, teó­ logo inglês (1617-1688), lembrara a hipótese do mediador plástico, hipótese que o francês Leclerc perfilhou m ais tarde. (102) Mesmo alguns Padres da Igreja, com o S. Basilio e S. Cirilo de Alexandria, haviam já pensado na existência de uma substância corpórea (100) MAINAGE — La rcU rfon «pirite, pgr. 96. (101) R. MARCIXOWSKI — D er O kkultlrau*. P . von rarap.sych., 1926 .caderno 11-12.. (102) Cf. D ictionnaire LnroasRe, médio s. v. Cudw orth, e Slnlbaldl, A ntropofogln, n.° 46, n o ta 1, D.

— 174 — inerente aos anjoá e à s a Imas. (103) E vários filósofos, antigos e m odernos, com o A hrens, Occam, Bacon, Gassendi, Guenther, B altzer e outros, adm itiram no hom em du as alm as, das quais uma é o princípio da vid a intelectu al e outra o é da vida ve getativo-sen sitiva. (104) Assim , a alm a superior ou im aterial cham ar-se-ia espirito, e a alm a inferior ou m aterial, perisp irito . Mas a origem da teoria é m ais antiga: “ C e rto s le c tu a l possue p o r n a tu re z a , ca, — e pelo tiv e l”. ( 1 0 6 ).

p la tô n ic o s a fir m a ra m q u e a a lm a in te ­ um c o rp o in c o rr u tiv e l q u e lh e e stá u n id o — c o rp o tle q u e c ia uiio se s e p a r a n u n ­ q u a l e s tá u n id a ao co rp o h u m a n o c o rru -

Enfim , direm os, com o Pe. M ainage, que o corpo astral é um produto da p sicologia ru­ dim entar de todos os tempos. E ’ o K a egípcio, o M anas do Veda, o Linga C harira pre-búdico, (10(j), o Koma dos leósofos (107). ü s ocultistas, depois dos já citados filó­ sofos, entenderam provar a existência do cor­ po astral pela existência das operações orgâ­ nicas, que são distintas das operações intelcctivas e concientes. “O corpo astral, — diz Papus, — sendo a alm a no ente hum ano, pre­ side à elaboração de todas as forças orgâni­ cas.” (108) Isto equivale a dizer que o hom em (lUZ) I. BERTRAND — Le» «norts rev len n cn t-il» ? Citado por d. Otávio, Oh (cnCmcno* pxfqnlcoH, pg. G8. (104) S1NIBALDI — A ntropologia, n.» 49, n o ta 1. (105) SANTO TOMAZ — Sumnm Tlieologlcn, Qu. a rt. 7. (106) MAINAGE — Ba rellg lo n «pirite, pg. 112. (107) Dr. POODT — Lo» fenómeno« mixtcrioHOH. dicionário Inicial, a rtig o “cuerpo a s tr a l”. (108) PAPUS — One é o ocultlxm o — E d ito ra P en sa m en to ”, S. Paulo, pg. 13-14.

— 7G, no “O

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175 -

tem duas almas, — uma im aterial e outra m a­ terial. DEMONSTRAÇÃO. Postas estas noções prelim inares e neces­ sárias, argum entam os: NO DIZER D E TODOS OS AUTORES E S­ PIRITISTAS, É POR MEIO DO PERISPÍRITO QUE OS DESENCARNADOS SE COMU­ NICAM COM O MUNDO VISÍVEL. MAS O PERÍSP1R1TO NÃO E XISTE. LOGO OS DE SEN­ CARNADOS NÃO SE COMUNICAM COM OS VIVOS, e portanto, não são os autores dos fe ­ nôm enos supranormais. Provem os as prem issas. Quem afirm a que o p erisp irito é o m eio de com unicação en tre os m ortos e os viv o s são os próprios autores espiritas: D iz A U an K a r d e c : “ P o r c a u sa de s u a n a tu re z a e té r e a , o e sp irito n ã o p ode a t u a r so b re a m a té r ia p r i­ m itiv a se m um in te r m e d iá r io , isto é, se m o laço q u e o lig a & m a té r ia . E sse laço, fo rm a d o pelo q u e se c h a ­ m a p e ris p irito , d á a ch av e d e to d o s o s fe n ô m e n o s espir ític o s m a te r ia is " . ( 1 0 9 ). T h . F lo n m o y : “ P a r a q u e a a lm a p o ssa a g ir e im ­ p re s s io n a r os n o sso s se n tid o s fislco s, é n e ce ssário um in te r m e d iá r io s e m l-m a te rla l. E sse in te r m e d iá r io é o p e ris p irito , no m e dado a o e n v o ltó rio flu id ic o d a a lm a , o q u a l é in v isív el e im p o n d e ráv e l. N a s u a ação se h a de b u sc a r o se g re d o do s fen ô m e n o s e sp ir ita s " . ( 1 1 0 ). (109) ALLAN K A RD EX — L ivro ilon m éd iu m , 2.* p arte, c. IV. CllO) FLOURNOY —De» Inde» à ln P ln n étc Mor», c i­ ta do por Poodt. Los fenóm enos m isteriosos, pgr. 272.

— 176 L éo n D en is: " 0 m é d iu m é o a g e n te In d isp e n sá ­ v el e com a a ju d a do q u a l se re a liz a m a s m a n if e s ta ­ ções do m u n d o I n v is ív e l. . . P e lo se u e n v o ltó rio fln íd lco p a rtic ip a d a v id a do esp aço , o p o r seu co rp o físi­ co, dff v id a te r r e s tr e : a ssim , e le é o in te r m e d iá r io , in d is p e n sá v e l e n tre o s do is m u n d o s. “ O e sp írito , se p a ­ ra d o d a m a té r ia g ro s s e ira p e la m o rte , n ã o p o d e a tu n r sob ro a m a té r ia n e m m n n ifc sta r-se n o m e lo h u m a n o , se m o con cu rso de u m a fo rç a ou e n e r g ia q u e o o rg a ­ n ism o do m é d iu m lh e p r o p o rc io n a ” . ( 1 1 1 ).

Assim, é por m eio de seu próprio perispírito, com binado ou sincronizado com o perispíto do m édiu m , que o espírito se m anifesta: “ O corpo a s tr a l do e sp irito se in s ta la n o corpo a s tr a l do m é d iu m o se rv e -se d e ste com o um o r g a n is ta e x ec u ta u m a m e lo d ia no te c la d o d e se u in s tru m e n to . No caso d a m a te ria liz a ç ã o , o m o rto se se rv e do corpo a s tr a l vivo, p a ra to m a r , no co rp o c a rn a l d e ste, os ele­ m e n to s n e c e ssá rio s à m a te r ia liz a ç ã o " . ( 1 1 2 ).

MAS O PER1SP1R1T0 NÃO EXISTE, dis­ sem os nós. Com efeito, a Filosofia, a experiên­ cia e a Sagrada Escritura provam que o perispírito não existe. l.o) A FILOSOFIA. a) Se o hom em tivesse espirito e perispírito, — isto é, dois princípios de operações v i­ tais. essas operações seriam com pletam ente in­ dependentes entre si; m as a biologia atesta que elas não são independentes. L ogo proce(111) LÉON DENIS — DniiN 1’lnrim ble. S p lrltl.m * et M édiniunlté. Pfif. 02. (112) MA1NAGE — La rellg lo n «pirite. Pg. 97.

— 177 — d cm de um só princípio, — que é o espiritual. — a alm a única. Com efeito, as funções vegetalivo-sensitivas dependem do psiquism o; o psiquism o de­ pende daquelas funções, E ’ sabido com o as secreções, a digestão, a fagocitose, a função do coração, dos intestinos, dos m úsculos, dos orgãos sexuais e outras funções dependentes do grande sim pático e do sistem a espinal, podem ser favorecidas, dificultadas e até im pedidas pelo psiquism o. E, vice-versa, o psiquism o está intim am ente ligado à fisiologia orgânica. Há síncopes cardíacas m otivadas por em oções v io ­ lentas. b) A conciência atesta que, em nós, o su­ jeito que pensa é o mesm o que sente e vegeta', idem hom o p e rc ip it se sen tire et in telligit se intelligere. (113) Ora, se 110 hom em existissem dois principios de vida, — espírito e perispírito, — o sujeito que pensa, sendo distinto do sujeito que sente e vegeta, — não poderia sen­ tir nem vegetar, pois as operações vitais, por isso que são im anentes, tem o term o no mesm o sujeito em que tem o com eço. Mas o sujeito que pensa é o m esm o que sente e vegeta. Logo o hom em tem um só princípio de vida. E este princípio, ou c o perispírito ou o espírito; se é 0 perispírito,o espírito é uma ficção; se é o espírito, o perispírito é que é uma ficção. O hom em não teria conciência da dor física na hipótese absurda de haver dois principios dis­ tintos de vida. c) Alem disso o perispírito c dado como (113) SANTO TOMAZ — Sanimn, l . \ 76, Cf. GARRIGOU-LA.GRANQE, T h e o lo tla F undam ental!*, v. II, p?. 9.

— 178 interm ediário entre a alm a e o corpo. “Mas a alm a, — anim a, — é, sem interm ediário, a for­ ma substancial do corpo, pois, ao contrário, o corpo não se poderia dizer an im ado; logo, o principio radical da vida intelectiva e o da vi­ da sensitiva e vegetativa é o m esm o.” (114). Por conseguinte, os espiritas afirm am gra­ tuitam ente a existência do perispirito. O que gratuitam ente se afirm a, gratuitam ente se ne­ ga. O perispirito seria um am ontoado de con­ tradições, seria um absurdo crasso. " A d m itir o p e ris p irito , d isse L u c lc n R o u r e , é im a ­ g in a r u m a su b s tâ n c ia q u e s e ja , a o m esm o te m p o , eate n s a e ln e s te n s a , m a te r ia l e im a te ria l, com f ig u r a e se m f ig u r a . A h ip ó te se im p lica d e sc o n h e cim en to d a n oção d e e s p ir itu a lid a d e ”. ( 1 1 5 ) . E sc re v e T ia g o S in ib n ld i: “ S e e x istiss e u m a su b s­ ta n c ia e n tr e a a lm a e o co rp o , d e v e ria p o ssu ir, ao m esm o te m p o , to d o s os a trib u to s do co rp o e to d o s os a tr i b u to s d a a lm a , e, p o r isso , d e v e ria s e r sim p le s e co m p o sta , c o rp ó re a e in c o rp ó re a , r a c io n a l e irra c io ­ n a l, e isto re p u g n a " . ( 1 1 6 ).

2.°) A EXPERIÊNCIA. A experiência é contra a existência do p e­ rispirito. De-fato, a existência do corpo pro­ va-se pelos sentidos; a da alm a demonstra-se pelas suas operações e pela conciência. Mas a do perispirito não tem nenhum a prova. Ob­ serva o dr. P o o d t: (ll-l) GARRIGOU-LAGRANG1S — T heologln Fnm lnm cntnlls, c. II, pg. 9. (115) Apud Dr. POODT — Los fenóm enos m isteriosos, pag. 276. (116) SINIBALDI — A ntropologia, -16, nota 1, D, b.

— 179 — "A te o ria do flu id o v ita l n ão d e sc a n sa em n e n h u ­ m a b a se c ie n tific a , não se a p o ia em n e n h u m a expe­ r iê n c ia d e m o n s tra tiv a , em n e n h u m feito rig o ro sa m e n ­ te c o m prova d o. “ Sondo flu id o o u s u b s tâ n c ia s e m i-m a te rla l, o perls p ír ito p o d e ria s e r re g is ta d o p o r a p a r e lh o s se n sib ilíssim os. P o is bem . T e n to u -se Isto . M as to d a s a s te n ta ­ tiv a s f r a c a s s a ra m ”. ( 1 1 7 ).

Lem brem os os principais aparelhos tenta­ dos. O Pe. F ortin inventou o seu m agnetôm etro; B araduc, o seu biôm etro; P au l Joire, o seu esten ôm etro; Puifontaine, o seu g a lva n ô m etro ; F ayol, o seu cilindro. G rasset acrescenta ainda os biôm etros de Louis Lucas e de A ndollen t. (118). Nenhum aparelho, porem , por m ais sensí­ vel que fosse, conseguiu “iso la r” o perispírilo. De duas um a: ou o perispirito é im aterial, e então não é distin to da alm a; ou é, de algum m odo, m aterial, e então deveria ser sentido de qualquer m aneira. E isto nunca foi provado. Logo não existe. Notem os que as experiências do barão d e R eichenbach sobre os eflúvios ódicos, e as do coronel De R ochas sobre a “exteriorização da sen sibilidad e”, alem de infrutíferas, nada tem que ver com o perispirito. (119). Enfim , posta de parte a natureza do ho­ m em , consultem os a:

(117) Dr. POODT — I,on fenúmcnn» m ister psiqnlMmo, pg. 274. ~ (U S ) GRASSET — Idée« inédlcnlex. pg. 15: (119) MAINAGE — La relig io n «pirite, pg. :

— 180 — 3.“) S AG RADA ESCRITURA. Onde, na Bíblia, uma alusão ao perispí­ rito ou a qualquer coisa que se lhe pareça? 0 que se lê nos Santos Livros c que o homem é com posto de corpo e alm a. O corpo foi for­ mado da terra: F orm avit D eus hom in em de lim o terrae; e a alm a lhe fo i infundida à sem e­ lhança de um sopro: et in spiravit in faciem eju s spiracu lu m vitae. Observem os que a B í­ blia fala spiraculum , — alm a, no singular, e não spiracula, — alm as, no plural. (Gênese, 2:7 ). NOTAS sobre a dou trin a do perispírito. a ) A in d a m esm o q u e o p e ris p írito e x istisse, n ão fic a r ia p ro v ad o que os e sp írito s p rec isa m d e le p a ra se m a n if e s ta r e m . Ma3, com o o s e s p írito s a firm a m Isto, e a c h a m que, se m o p e ris p írito , n ão h á m a n ife sta ç õ e s, n ó s no s se rv im o s da p ró p ria d o u tr in a e s p ir ita p a ra d e rr u b á - la . Diz G rn s sc t: “ P u is , c e ttc d e m o n stra tio n sc ra U -e llc fa lte , r le n n e p r o u v e r a it q u e c e tte n o u v c llc fo rc e p â jc h iq u e c o n stitu o v r a iin e n t u n o g c n t d e c o m n u in ic n tio n d ir e c ­ to e n tr e d e u x psy c h lsm c s sé p n ré s" . ( 1 2 0 ).

O m esm o sente Lucien R oure. (124). b ) O P e . M a inng c o b se rv a , m u i ju d ic io sa m e n te , que, se e x istiss e p e ris p írito , to do s os fen ó m e n o s p ode­ r ia m se r a trib u íd o s ao p e ris p írito d o m é d iu m , e a ssim p o d e ria m e x c lu ir a h ip ó te s e da in te rv e n ç ã o do e sp i­ rito . T a l in te rv e n ç ã o se ria d e sn e c e ssá ria , p o rq u e o p e ris p írito do m é d iu m s e ria b a s ta n te p a ra e x p lic a r os (120) GRA3SET, Op. C ltatum , pg. 159. (121) TAJCIEN ROURE — Le M ervelllcux .pa*- 92.

«pirite,

— 181 — fen ô m e n o s, e te ría m o s e n tã o r a l. ( 1 2 2 ).

u m a ex p lica çã o n a tu ­

CONCLUSÃO. “ Segundo os espiritas, a revelação nova está estreitam ente ligada à sorte do perispírilo. Mas este não existe.” Provem, portanto, antes de tudo. a existência deste estranho per­ sonagem . (123). b) NÃO IDENTIFICAÇÃO DOS E SPÍRITOS 1.) - FATOS. A com unicação dos desencarnados esbar­ ra num a d ificu ld ad erirr em o v iv el: a identifi­ cação dos espíritos. Suponham os que uin es­ pirito se com unique, Suponham os que afirm e ser o espirito de Sócrates. Como saberem os que, d e-falo, é Sócrates que se com unica? Os espiritas, em todos os tempos, tentaram resol­ ver essa dificuldade. Tentaram , até, recorrer a experiências e verificações. O m étodo é sim ­ ples: Basta que alguem, antes de morrer, nos prom eta aparecer depois de morto e, uma vez morto, venha conversar conosco sobre assunto p reviam en te com binado. H o d g so n te ria feito à P sy cliica l So cio ty u m a p r o ­ m e ssa d e s ta n a tu re z a . E , te n d o m o rrid o logo dep o is, te ria vindo c u m p rir n p ro m e s sa : islo 6, v ie ra d a r as su a s im p re ssõ es so b re o A lem . E ste fa to ,q u e P o o d t (122) MAINAGE — I.n r e lltlo n »plvitc. P n Bs. 99 c sontes. (123) MAINAGE — Ibltlem, pff. 118.

su p õ e v e rd a d eiro ( 1 2 4 ) , não o é. ' b a lela . O p ro f. H y slo p des do. E . F u n k d e c la ro u q u e " a n o tíc ia <5 a b so l f a ls a ” . K o d g so n n u n c a a p a re c e u . (1 2 5 ). O u tro caso. P a r a P e sq u isa s P s íq u ic a s, de de seu e sp irito , dep o is veu u m a com unicação, tó rio espesso e se lad o , e qi p o r in te rm é d io d e O liv c r m e m b ro d a m e sm a Soci< 1891. D eve ria s e r a b e r ta d epo is < e de p o is q u e a lg u m m é d iu m decl m u n ic aç ão com o e sp írito

cação. m o rre u (1 2 G ). > e s p ir ita a d re m é d iu m sen h o i to d a s a s p rec au ç õ es dos m e m b ro s d a S .P .R ., v e rific o u -s e “ q u e n ã o h a v se m e lh a n ç a a lg u m a e n tr e o c o n te ú d o d a c a r ta e o < e s c r ita a u to m á tic a de V c rra ll, q u e p r e te n d ia e s ta r e com u n ica çã o com o d e se n c a rn a d o M y e rs em pe s o a ”. ( 1 2 7 ). ido, O liv e r E o d g e te v e d e a le g a r qu s h o u v e sse e sq u ec id o , no A lem , o q u e e

— 183 — c re v e ra n a c a r ta , q u a n d o vivo. E d o d d c ita u m a c a r ­ t a de E v e le e n M ye rs, v iu v a do filó so fo , d e c la ra n d o que o e sp írito de se u m a rid o n ã o se c o m u n ic a ra n u n c a, n e m com e la n e m com se u filh o . ( 1 2 8 ). M esm o a n te s da v e rific a ç ã o d e fin itiv a , j á S ir O liv e r D odge tin h a te n ta d o , In u tilm e n te , u m a co m u n ica çã o e n tr e o e s­ p ír ito do M ye rs e o m é d iu m s e n h o rita P lp e r . ( 1 2 9 ).

Nós católicos acreditam os que a prova não seria definitiva, ainda que a com unicação fo s ­ se verdadeira, porque o dem ônio poderia reve­ lar ao m édiu m o mie se continha na carta, Mas D eus não perm itiu que o espirito das trevas tivesse aqui a m ínim a intervenção, e assim o espiritism o ficou desm ascarado por iniciativa de seu s.próprios fautores. 2.) - CONFISSÃO DE SÁBIOS ESPIRI­ TAS E DE MÉDIUNS. Muitos m édiu ns notáveis, assim com o m uitos cientistas que foram adeptos do esp i­ ritism o. confessam que a prova da identi­ dade dos espíritos nunca foi dada. Mais. Em vista das com unicações frivolas e cretinas, atribuídas a espiritos de hom ens que foram verdadeiros sábios nesta vida, dizem que es­ sas com unicações provam justam ente o con­ trário da identidade. Oiçamos algum as des­ sas con fissões: C a m ilo F la m m a r lo n : “ De q u e esp éc ie são esses se re s? N e n h u m a id é ia p o d e m o s t e r a ta l re sp e ito . A l(128) CI.ODD — T he Onentlon, pp. 220, citado por H eredla. (129) PA TRICK .T. GEARON. — T.e Splriflsm ci Sn fn in itc . Pari». P. T.ollilellcnx. T .lbrnhc-Pdltcur. Pp. 88-84. (180) IA.'CIEN ROURE — J,e mcrvcU lcnx »pirite, PP83:1-82-1.

— 184 — m a s d os m o rto s? E sta m o s m u lto lo n g e de d a r a p ro v a disso. M in h a s o b se rv a çõ e s de m a is d e q u a re n ta a n o s pro v am o c o n trá r io . N e n h u m a id e n tific a ç ã o j á so foz s a tis f a to ria m e n te ” . ( 1 3 1 ). li. P . J a c k s , p ro fe sso r d e O xfo rd , p r e s id e n te d a S. P. R .: “ N a m in h a o p in lá o , o p ro b le m a d a id e n tid a ­ de p e sso al c o m p leta de v e s e r e x am in a d o e p e sad o d e­ tid a m e n te , a n te s q u e co m ecem o s a p ro d u z ir p ro v as em fa v o r d e ssa id e n tid a d e " . ( 1 3 2 ). A r t u r C o nan D oyle, co n h ec id o r o m a n c is ta : “ V ós e s ta is n u m a e x tre m id a d e do te le fo n e , se se p ode re ­ c o rr e r a e s ta c o m p a ra ç ã o ; m a s n ão sa b e is com c e r te ­ za qu e m e stá na o u tr a e x tre m id a d e " . ( 1 3 3 ). A ksA kof, c ie n tis ta ru sso , diz q u e a s p ro v as d a id e n tid a d e não se podem d e d u z ir com se g u ro d a s m a ­ n ife s ta ç õ e s e sp irita s , po is o q u e um m o rto diz, o u tro e sp irito p o d ia sa b e r e im ita r o p rim e iro . E c o n clu e : “ A p ro v a a b s o lu ta d a id e n tific a ç ã o p a ra as p e rso ­ n a lid a d e s q u e se m a n ife sta m é im p o s sív e l” . ( 1 3 4 ). D an iel D u n g la s H o m e , o c éle b re m é d iu m do p ro f. C ro o k c s e qu e , p a ra C o n a n D oyle, fo i o m a io r ho m em depo is do s A p ósto los, ( 1 3 5 ), d e c la ro u ao d r. F e lip e D avid, pouco a n te s de m o r r e r : “ D epo is de tu d o , a v e rd a d e é q u e e ssa m u ltid ã o d e e sp írito s, a n te os q u a is se a jo e lh a m a s a lm a s c ré ­ d u la s e su p e rstic io sa s, n u n c a e x istira m . E u , pelo m e­ nos, n ã o os e n c o n tre i n u n c a em m e u c am in h o . Se rv im e d e le s p a ra d a r a ra in h a s e x p e riên c ia s e s s ^ a p a ­ r ê n c ia d e m is té rio , q u e se m p re a g ra d o u à s m a ssa s e, so b re tu d o , à s m u lh e r e s : n u n c a a c r e d ite i n a in te rv e n -

(131) CAMILO FLAMMARION — As F o rcas X nturnla D esconhecidas, 1906. pg. 563. (132) Apud D. TADDEI — O Moilcrno E sp iritism o , pag. 21. 0.33) CONAN DOYLE — T he New R evelation. pg. 21. (134) AKSAKOF — A nlm linic e t Spiritism e, Pg. 623. (135) Segundo refere Ilere d ia — “ O E sp iritism o e o Bom Senso” pg. 90, nota.

— 185 — çâo d e le s n o s f e n ô m e n o s . . . N ão ! Um m é d iu m não p ode c r e r no s e sp irito s. E ’ o ú n ico q u e n ã o pode c re r n e le s ” . ( 1 3 6 ). G astuo M cry: “ S e rá p o ssiv el q u e u m e sp irito e v o­ cad o dê p ro v as da su a id o n tid a d e ? N ão o ju lg o p o s­ sív e l”. ( 1 3 7 ). C nm ilo F ln m m a rlo n : " E m vão p ro c u re i a té a q u i p ro v a c e r ta d e id e n tid a d e n a s co m u n ica çõ e s m e d lú n i­ c a s ”. ( 1 3 8 ).

3.) - A COMUNICAÇÃO NA ANGLO-SAXÔNICA.

TEORIA

Oulro aspecto interessante da não-intervenção dos desencarnados é o que se inclue, im plicitam ente, no espiritism o europeu em geral. A doutrina corrente entre os europeus, pelo m enos ingleses e alem ães, é que os desen­ carnados não intervem diretam ente neste m undo. Conforme esses espiritas, os desen­ carnados, para se com unicarem conosco, se servem de um espírito in term ediário, cha­ m ado guia ou controle. E’ este que recolhe as m ensagens de lá, e as transm ite ao m é­ dium de cá. O m édium hum ano é aparelho em geral. Cada m édium tem um guia ordi­ nário. D e-fato, com o vim os, o guia ou contro­ le de Stainton Moses, era o espirito “ Imperator” ; e de E usápia P alladino, “John K ing” ; o de P iper, “Dr. P h in u it”; o de R udi Schneider, “ Olga”, etc. (136) PH1LIPPJC DAVID — Ln Mn
— 186 Assim, o guia é um m édiu m no outro m undo; os vivos se servem de um m édium vivo, e os desencarnados de um m édium -espirito. Portanto, as com unicações são feitas de m édiu m a m éd iu m ; os assistentes de uma sessão e os desencarnados evocados ficam estranhos uns aos outros. N esta teoria, o espírito guia pode m uito bem não ser um “ desencarnado.” E m esm o que o fosse, os outros desencarnados nunca se com unicariam conosco, já que a com uni­ cação c p r iva tiva do guia. O içam os um p a­ ladino do espiritism o europeu, O liver Lodge: “ No e sta d o de tr a n s e , su rg e u m a c a ra c te riz a ç ã o d ra m á tic a , com o a p a re c im e n to d a e n tid a d e c h a m a d a "C O N T R O L E ”, que, n a a p a r e n te a u sê n c ia d e se u do­ no, o c u p a o corpo do m é d iu m ”. ( 1 3 9 ). “ O tip o de m e d iu n id a d e a q u e n e s te liv ro re c o rr i, é o em q u e o m é d iu m fa la ou e screv e , so b a d ireç ão de u m a in te lig ê n c ia te c n ic a m e n te c h a m a d a “ c o n tro le ” ou “ g n la ” . “ O g u ia ou a te rc e ira p e rs o n a lid a d e q u e fa la d u ­ r a n te o tr a n s e , p n rec e e s ta r m a is e m c o n ta c to com o q n e 6 v u lg a rm e n te c h a m a d o o “ o u tr o m n n d o ” e, p o r ­ ta n to , to m a - s e c a p a z d e tr a n s m itir m e n s a g e n s d e P E S SO A S M O RT A S” . ( 1 4 0 ).

(139) OLIVER LODGE — “ Iln jin o n ü ". Trad. de Mon­ teiro Lobato, pg. 5G e pcgulnles. (140) Id. Il>„ pg. 56.

— 187 — TERCEIRO

PONTO

OS FENÔMENOS SUPRANORM AIS SÃO PRODUZID OS POR ESPÍRITOS, E E S ­ TES SÓ PODEM SER OS MAUS-ESPIR ITOS OU DEM ÔNIOS DA CON­ CEPÇÃO CATÓ LICA. E stado da questão N o capítulo precedente dem os as teorias do anim ism o e espiritism o como opostas e exclusivas. Assim, o prim eiro significa que a personalidade do m édiu m é a única causa efi­ ciente dos fenôm enos supranormais. O espi­ ritism o, porem , afirm a que energias inteligen­ tes e invisiveis, diferentes do hom em , quer so­ zinhas nucr juntam ente com as forcas inter­ m ediárias mediais, produzem esses fe n ô ­ m enos. Essas duas denom inações, porem , não se em pregam sem pre em sentido tão absoluto e oposto. Entendem -se tam bem em sentido lar­ go e até com pletivo: o anim ism o, com o sis­ tema que atribue às forças psíquicas e fisio ­ lógicas da alm a a m aioria dos fenôm enos supranorm ais; o espiritism o, coni© sistem a que atribue aos espíritos do outro m undo a p rodução dos dem ais fenôm enos supranor­ mais. Neste sentido, ambos os sistem as se com pletam m utuam ente, e isso não é de cau­ sar estranheza, já que os conhecim entos atuais, neste terreno escuro, não perm item dem ar­ car uma linha divisória definitiva. Tanto entre os partidários de um sistem a

com o entre os sequazes de outro, há m an ifes­ to exagero. Adm itindo que há fenôm enos reais, os partidários do anim ism o pretendem que quase todos eles são produzidos pela for­ ça psíquica do m édiu m e dos seus auxiliares; os sequazes do espiritism o, ao contrário, acre­ ditam que todos ou quase todos os fenôm e­ nos ocultos são produzidos pelos espíritos do Além. Verem os ao depois, o que se apura de um a e outra opinião. Posto isto, entrem os a provar a afirm a­ ção: A)

SAO PRODUZIDOS POR ESPÍRITOS.

A verdade desta prim eira afirm ação re­ sulta do que se expôs, atrás, na secção B. Com efeito, excedendo os fenôm enos supranorm ais as forças hum anas, forçoso é que sejam pro­ duzidos por seres extra-m undanos. Alem diso, sendo os fenôm enos experim entais da m es­ ma natureza que os fenôm enos espontâneos e sendo estes, evidentem ente, produzidos por espíritos, tam bem aqueles o devem ser. São consequências rigorosam ente lógicas. Estas provas indiretas poderiam bastar. Mas, dada a singular im portância da presen­ te tese, para tantos céticos que se recusam a adm itir a intervenção dos espíritos nos ne­ gócios deste m undo, convem trazer, em apoio dela, algum as provas diretas c sólidas. I — FENÔMENOS ESPONTÂNEOS A prova, realm ente convincente, de que são espíritos do outro mundo que produzem

— 189 — os fenôm enos espontâneos, c o fato de que es­ ses fenôm enos, principalm ente quando são lo­ cais, se encontram longe de qualquer influ ên ­ cia hum ana. Todos os casos que referim os na Prim eira Série denunciam um autor com duas caracte­ rísticas, que o colocam acim a das contingên­ cias hum anas: a) F orça invulgar, capaz de atirar gran­ des pedras de grandes distâncias, sem o em ­ prego dos conhecidos m eios de propulsão; b) Inteligência prim orosa, — que zom bou de todas as pesquisas p oliciais, e só se m anisfestou cm condições estranhas c desconcertan­ tes. Essa inteligência revelou tambem muita astúcia c m uita intenção preconcebida; é que o autor, ou autores dos fenôm enos, — que­ rendo, naturalm ente, ocultar-se ou despistar, — só apareceram em lugares onde, anterior­ m ente, tinha havido m orte trágica ou violen ­ ta. Assim, julgando apenas pelos anteceden­ tes, seriam os hom ens levados a atribuir tais fenôm enos aos espíritos das pessoas falecidas em tais lugares. Os casos de Oels e G rosserling fornecem acertadas instruções. Em 'Oels foi verificado que, naquela casa mal-assom brada. vivera um hom em perverso, que costum ava arm ar insí­ dias a crianças. Tem endo perseguição da po­ lícia. suicidara-se e, desde então, com eçaram os fenôm enos espontâneos ali. D o que até aqui expusem os, duas conclu­ sões se tiram. Prim eira: O prin cípio teleológico d iri­ gente d a gran de m aioria dos fenôm en os es­

— 190 — pontân eos não é, pelo m enos exclusivam en te, a m en talidade du m m édiu m viv o ; Segunda: O prin cípio teleológico dirigente da gran de m aioria dos verdadeiros fen ôm e­ n os espontâneos, é exclusivam en te um espí­ rito do outro m undo. Mas será que esse principio espiritual, que se m anifesta tão visivel nos fenôm enos espontâneos, se m anifesta tam bem nos fenô­ m enos experim entais, quer sejam físicos, quer psíquicos? R espondam os. II.

- FENÔMENOS EXPERIMENTAIS

a)

Fenôm enos psíquicos ou parapsíquicos.

Serão tam bem inteligências extra-m undanas, de natureza superior à do m édiu m , a principal causa de certos fenôm enos p síqui­ cos? Ou por outra: A interpretação preterna­ tural, tambem neste terreno, será possivel e até necessária? Muito im porta à nossa questão a lingua­ gem , a expressão e o com portam ento do m é­ dium “in sp irad o” ; nem havem os-de por de parte o conteúdo das m ensagens, que, sendo geralm ente sem im portância, não raro reve­ lam um carater íntim o e pessoal. Mas, uma das provas m ais valiosas para a explicação preternatural de certos atos de clarividência, c, sem dúvida, a visão do fu tu ­ ro, no caso de serem profetizadas ações livres, em circunstâncias im previsíveis pelo espírito hum ano. A visão certa de decisões livres da vonta-

— 191 — dc só é possivel a Deus, razão por que, no ca­ so de se realizar a profecia, a inspiração háde ter vindo dele. (141) As atas referentes à realização de verdadeiras profecias, feitas por m édiu n s e p essoas profanas, não são dignas d ^ f é . Muitas das conhecidas p rofecias não p assam de conjeturas. Outras são atribuídas falsam ente a dadas personagens. Assim, por balela deve ser tida a conhecida profecia de L enine; outra célebre m istificação é a “pro­ fe cia ” de S. M alaquias sobre os papas até o fim do m undo (142); não merece, tam pouco, ser citada a coleção de profecias do fam igera­ do N ostradam us, cuja única força persuasiva é devida à interpretação elástica e capricho­ sa dos discípulos daquele feiticeiro. Mais atenção merecem , talvez, alguns ca­ sos de segunda vista: a predição do dr. Gallat, a do m édiu m polaco Sra. Przybylska. E s­ ta vidente fez con jetu ras bastante exatas so ­ bre a guerra entre a Polônia e a Rússia; as suas previsões, exaradas em escritos e coloca­ das antes da realização, nos arquivos da So­ ciedade para Investigação Psíquica, de V arsó­ via, despertaram verdadeira consternação. (141) Cf. A. ZEITZ — OkknltlHmuN, WiHNCiiHchnft, Rellglon, pg. 117 e A. LUDWIG: Okkulti.im u», Splritl*iuuh, per. 18. (142) E. VACANDARD — ÉtiulcH de Critique llêllg lciiKC, 1923, pg. 43-63. Cf., eobre Lenine. A. ZEITZ: “DIe LcnlniHche KloHterwclMiinguiig”, 1919, 20, pg. 146-162, 182193, 227-233. Sobre S. M alaquias, o mesmo a u to r: “ IÍIe PnpgtwelnKagung nnch MnlnchinM” , 1920, 20, pg. 336-367. e 1921, pg. 137. O Pe. M ENESTKIER. S. J. (1689), o Pe. PA PEBROECK, e, ultim am en te, DE BUTE (1SS5), ADOLF IIARNACK c o Pe. THURSTON, S. J., d em o n straram quo a fam osa profecia dc S. M alaquias foi fo rjad a e n tre 1686 e 1590. E ' seu a u to r provável o beneditino A rnold W lon, e a finalidade da profecia e ra fav o recer a a lg u n s c a r­ deais papavels, por ocasião do Conclave que se seguiu ã m orte de U rbano V II. 1690.

— 192 — b) Fenôm enos físicos ou parafísicos Os fenôm enos físicos bem desenvolvidos, não raro são tais que excluem uma explica­ ção natural para sua realização. Como é pos­ sível existir uma causa, p lausivelm ente natu­ ral, que, em tempo brevíssim o, pudesse efe­ tuar, no m édiu m , a enorm e perda de peso de até vinte e cinco kilos? Por que leis fisioló­ gicas ou biológicas poderá ser dim inuída, em poucos m inutos, quase a m etade da substân­ cia viva do organism o e, em seguida, ser re­ constituída, sem que o todo sofra prejuizo perceptível? Esta dim inuição atinge bilhões de células. Que são, junto dela, as inocentes ruborizações da epiderm e e as borbulhas que, às vezes, podem ser produzidas em pessoas histéricas, após vivas sugestões? Estas ú lti­ mas m odificações físicas nunca nascem es­ pontaneam ente, e nunca tkisapareccm im e­ diatamente. Como encontrar uma causa natural, quando se trata de m aterializações e de re­ constituição anatôm ica de certas form as vi­ vas, — membros ou fantasm as inteiros? Qualquer investigador im parcial, sobretu­ do quando puder ler em vista experiências pessoais, reconhecerá a total im potência da teoria do subconciente. Nem vale apelar para processos análogos, naturais e biológicos, co­ mo o fato da geração. Analogias pouco pro­ vam e, adem ais, em nosso caso, a analogia é puram ente exterior. Na verdade, am bos os processos tem de com um que, por eles, é for­ mada uma espécie de figura viva. Mas o ser



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vivo natural e o fantasm a espirita são total­ mente diferentes em todas as suas fases. B) E ESTES SO’ PODEM SER OS MAUSESPÍRITO S OU DEMÔNIOS DA CONCE­ PÇÃO CATÓLICA. Quanto aos fenôm en os psíquicos. Aceitando, com o certos, os casos de co­ m unicações sem m eios naturais e, sobretudo, os casos de p revisões do fu turo, ninguém es­ tá obrigado a atribui-los à inspiração divina. Conquanto a razão hum ana não possa prever os acontecim entos futuros, podê-lo-á. com grande probabilidade, uma inteligência supe­ rior, — criada, — que poderá tambem revelar o futuro próxim o a qualquer pessoa de seu agrado. A circunstância de se tratar, às vezes, de atos livres, não é de sum a im portância. Conforme nos ensina a experiência, m es­ m o esses atos estão, a-m iude, tão intim am en­ te ligados à índole do individuo, e tão cone­ xos com as condições externas, que podem ser previstos com certeza m oral e fundam entar uma certa estabilidade estatística. E’ pelo estu­ do desta estabilidade e daquela certeza m oral, que a História é considerada uma Ciência e não uma sim ples narração de fatos. Ora, quem, acima de nós e abaixo de Deus, percebe incom paravelm ente a conexão das coisas, — causas e efeitos, — são os espí­ ritos. bons ou m aus, angélicos ou diabólicos. Uns com o outros estão em condições de pre­ ver esse futuro prev isív el, e de revelá-lo aos

— 194 — homens, havendo perm issão divina. Portanto, conform e forem as circunstâncias, poder-se-á concluir, acerca de certas profecias profanas, que houve inspiração diabólica ou angélica. Da m esm a form a, a respeito de certos casos de segundo vista: se as revelações superam a inteligência hum ana, hão-de ser interpreta­ das segundo este critério. A liás, alguns visionários parecem possuir p re-vidência puram ente natural. Sonhos pro­ féticos e casos extraordinários de psicom etria devem ser julgados de acordo com as normas supra. N em se dirá que, para explicar tais f e ­ nôm enos, bastam as causas naturais. Porque as forças naturais tem um lim ite. E aqui, co­ m o é evidente, esse lim ite já fo i ultrapassado p elos fatos, em que pese aos sim patizantes da teoria pan-telepática. (143) E acerca de m uitos fatos da vida dos san­ tos, um estudo exato mostra que só poderão ter explicação razoavel se se admitir inspira­ ção divina, m ediata ou im ediata. Q uanto aos fenôm en os físicos. Os fatos verificados em sessões experi-

— 195 — capitulo antecedente, são tão estupendos que, por força, conduzem a esta conclusão: o prin­ cipio inteligente, que for a causa eficiente deles, há-de superar, de m uito, qualquer es­ pirito hum ano, m ediú nico ou não, e só pode ser um espírito. Postas estas considerações prelim inares, podem os argum entar da m aneira seguinte: Os fenôm enos supranorm ais só podem re­ conhecer dois gêneros de causas: uma, — natural, — outra, — cxtra-natural. Mas vim os, 110 capítulo segundo, que tais fenôm enos excedem as forças naturais. Logo, só podem ser produzidos por forças extra-naturais. Ora, a causa cxtra-natural só pode ser uma das três seguintes: Deus, as alm as e ou­ tros espíritos. Ninguém , nem m esm o os espiritas, ousa atribuir os fenôm enos à intervenção divina. Não os católicos: a m ajestada de D eus é obs­ táculo a que ele intervenha, direta ou indi­ retam ente, em reuniões inteiram ente p rofa­ nas, de caratcr particular e, às vezes, m an ifes­ tam ente suspeito. Nem os espiritas: o Deus deles ê um deus longinguo e indiferente; se­ gundo eles, os espíritos agem com inteira in ­ dependência do cham ado “ Criador.” Resta, portanto, que os fenôm enos são causados pelas alm as ou por outros espíritos. Mas não o são pelas almas, com o o vim os 110 capitulo anterior. Logo, lião-de ser causados por outros es­ píritos. Mas os espíritos, — causa dos fenôm enos

— 196 — supranorm ais, — só podem ser os m aus-espírilos da concepção católica ou biblia. Com efeito, os espiritas tambcm adm item a inter­ venção de m aus espíritos; m as o mau espírito da concepção cardecista não existe. D e-fato, nessa concepção, o espírito só pode ser mau "provisoriam ente." E ’ que os espíritos, dizem os cardecistas, estão em evo­ lução, e aqueles a que se dá o nome de maus são apenas inteligências grosseiras e im per­ feitas; ora, ninguém vê nexo necessário en­ tre esses dois con ceitos: inteligência im perfei­ ta e m aldade intrínseca ou conciente. Os espíritos-m aus, — ou são m aus visceral e per­ m anentem ente, conform e a concepção b íbli­ ca, — ou não são maus de form a algum a. No mundo espiritual, não há grau interm ediário de m aldade. Ou o espírito é bom, defin itiva­ mente. isto é, sem possibilidade de perder a bondade ou é mau definitivam ente, isto é, sem esperança de tornar-se bom. Logo, se espiritos m aus intervem na cau­ salidade dos fenôm enos transcendentais, só podem ser os espíritos maus da concepção bí­ blica. Eis com o, por exclusão, chegam os a des­ cobrir o dem ônio na base do sistem a espirita. Mas lemos tambem p rovas d ir e ta s : é que a ação do dem ônio é conhecida. Devem os, pois, indicar os sinais que caracterizam a ação diabólica, quer sob influência física, quer sob influ ên cia moral. Dovem os ainda exam inar se a ação do dem ônio se lim ita a uma época histórica ou se exerce através dos tempos. Antes, porem , de tocarmos esse derradei­

— 197 — ro assunto, temos obrigação de definir o nos­ so diabolism o. Daí os dois capítulos se­ guintes: A. - Em que sentido entendem os a inter­ venção diabólica no Espiritism o; B. - Sinais diabólicos que os fenôm enos espiritas trazem consigo, c a ação diabólica através dos tempos.

CAPÍTULO IV EM QUE SEN TIDO ENTENDEM OS A IN­ TERVENÇÃO DIABÓLICA NO ÈSPIRITISMO I No tratarem do espiritism o, dividem -se os autores não-espiritas em duas grandes cor­ rentes : a) Uma que atribue os fenôm enos supranorm ais a forças naturais, conhecidas ou des­ conhecidas; b) Outra, que os atribue a inteligências do outro mundo, que só podem ser os maus espíritos, — os demônios. Quanto à realidade dos fenôm en os: To­ dos os autores estão dc acordo nestes pontos: a) A m aioria dos fenôm enos é produto da fraude, do em buste e do truque. Quer di­ zer que não são fenôm enos reais, mas pseu dofenôm en os. b) A realidade de um pequeno núm ero de fenôm enos supranorm ais é incontestável. Quer dizer que há fenôm enos supranorm ais reais.

— 199 — Praz-nos citar, em com provação, os auto­ res m ais céticos que trataram do assunto: F a d r e H e rc d la , S. J .: “N ão p r e te n d o q u e to d o s os fen ô m e n o s s e ja m f r a u ­ d u le n to s ” (1 4 4 ). “ H a v e rá fe n ô m e n o s r e a lm e n te su p r a n o r m a is ? E m p re se n ç a de to d o o m a te r ia l a c u m u la d o d u r a n te s é ­ culos, p a re ce q u e se deve re s p o n d e r q u e s im ” . ( 1 4 5 ).

P adre Mainagc: “ C onfesso, sim p le sm e n te , e se m e s p e r a r o v e re d ito d e fin itiv o d á ciôncia, c o n fe sso a c r e d it a r n a o b ­ je tiv id a d e dos fe n ô m e n o s e s p ir ita s . H á m e sa s q u e g ira m e q u e fa la m . A e s c r itu r a m e d iú n ic a n ã o é in v e n ­ ção de im a g in a çõ e s em d e lírio . N em to d a s a s a p a r i­ ções são o r e s u lta d o de h a lu c in a ç õ e s fa ls a s, n e m to d a s a s m a te ria liz a ç õ e s o b tid a s pelo D r. G eley sã o p u ra s q u im e r a s " . ( 1 4 6 ). “ Sob a condição d e não e n c a ra rm o s o e x am e do s fe n ô m e n o s com a id é ia p rec o n ce b id a de n e g a r tu d o , e sem se rm o s, d e n e n h u m m od o , o b rig a d o s a p a r ti lh a r o p o n to d e v ista e s p ir ita , p o d em o s c o n ce d er u m lu ­ g a r, no e stu d o filosófico d a so b re v iv ê n c ia d a a lm a , a e s te c o n ju n to de f a to s sin g u la r e s , a g ru p a d o s h o jo sob o te rm o de m e ta p s lq u ic a ” . ( 1 4 7 ). IiU clcn H o u re : “ J á se d isse r e p e tid a m e n te que. os f a to s e s tr a n h o s , d e sc o n c e rta n te s, do e sp iritism o e do p siq u ism o , sob to d a s a s su a s f o rm a s, são tã o n u m e ­ ro so s e a te s ta d o s p o r te s te m u n h a s tã o g rav e s q u e, não a d m ití-lo s, é r e n u n c ia r a to d a c e rte z a h is tó ric a . A tr i­ b u ir to d o s e sses f a to s a u m a co lo ssa l m is tific a ç ã o , d e(144) Pe. H ERED IA — O .Euplridumo e o Bom Senbo. T rad. da L iv raria Católica, Rio dc Ja n eiro , 1926, pg. 98. (145) Id., ibidein. pg. 136. (146) TH. MAINAGE — La R ellglon S p lrlte — Editlon de la Revue des jeunes. Pg. 87. (147) TH. MAINAGE — L ’Inunort«U té — Passlm .



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se m b a ra ç a r-se de les, em bloco, com a s p a la v r a s d e e m b u ste ou h a lu c in a ç ã o , n&o é p ro cesso q u e a razão de v a a p ro v a r. T al é o n osso s e n tim e n to ”. ( 1 4 8 ).

Agora, se é fa lo que há tanla fraude no espiritism o, é fato tam bem que nem tudo é fraude. Resta, pois, saber a percentagem que sc apura de fenôm enos reais. Antes de tudo, afirm am os que os fenôm en os reais são m uito poucos. Lucio José dos Santos, repetindo quase as palavras de Lucien R oure, acima citadas, é da m esm a opinião que nós: " E x iste m fen ô m e n o s e s p ir ita s ? A lg u m a s p esso as a c e ita m tu d o ; o u tr a s T ejeitam tu d o . N em u n s n em o u ­ tr o s te m raz ão . A tr ib u ir to d o s esses fe n ô m e n o s a u m a c olossa l m is tific a ç ã o , sob o fu n d a m e n to de q u e a m a io r ia d e le s e s tá n e sse caso, n ã o é p o ssiv e l" . ( 1 4 9 ).

Conforme notou Lucien R oure, o grande prestidigitador R em y adm itia um pequeno nú­ mero de fenôm enos reais: “ P a re c e im p o ssív el d iz e r q u e tu d o , n o e sp iritism o , se ja f ra u d u le n to ou im a g in a d o ” . ( 1 5 0 ).

Apenas P au l H eusé se recusa a admitir fenôm enos reais de m etapsiqu ica objetiva. E assim , coerentem ente, aceita só os fenôm enos supranorm ais psíquicos (m etapsiquica subje­ tiva) e rejeita os supranorm ais físicos. (151). (148) LUCIEN ROUKE — Le M erveilleux SplrHe — P aris. G abriel Beauchesno, édlt., 1919, pp. 182. (149) LUCIO JO SE' DOS SANTOS — Uma sOrle do a rtig o s do DIArio, de Belo H orizonte, sobre O E spiritism o. O trecho c itado é do núm ero de 18-10-1939, q u a rta -fe ira. (150) LUCIEN ROURE — Le M erveilleux Splrlte. pg. 218. (151) PAUL HEUS1Î — Où en cat Iq M étapsyclilqne. G au th ier-V lllara. Parle, pg. 84.



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O já citado prestidigitador R em y, “ após 29 anos de estudos, de controvérsias, de ob­ servações e de experim entos pessoais, afirm a que não é possivel cepticism o absoluto ante os resultados.” Julga que se pode atribuir à frau­ de, concientc ou inconciente, cincoenta por cento (50% ) dos fenôm enos espiritas. Quan­ to ao resto, refere quarenta por cento (40% ) a causas fisicas naturais, e reserva apenas dez por cento (10% ) ou m esm o uns cinco por cento a agentes preter-natu rais. (152). O Padre H eredia, com lodo o seu cepticis­ m o, ainda supõe um ou outro fato que requer explicação p re le r n a tu r a l: “ Por conseguinte, ficarão apenas poucos casos que não adm itirão facilm ente a possibi­ lidade de uma explicação natural.” (153). Os próprios espiritas reduzem m uito o âm bito dos fenôm enos reais. Geley diz que os bons m édiu ns são raros. O m esm o sentem R ichet ç outros. (154). Portanto, chegam os à conclusão de que uns poucos fenôm enos reais, uns dez por cen­ to quando m uito, não tem explicação natural. N ão tiveram, até aqui, explicação natu­ ral satisfatória. Mas poderão tê-la um dia? A l­ guns autores respondem afirm ativam ente. Com efeito, os autores an im istas e anti-diabolistas afirm am , com visos de verdade, que ainda não conhecem os todas as forças da na­ tureza e apelam para as m aravilhas da eletri(152) HOUIÍE — Le M ervelllenx S ulrlte. Pag. 218-21D. (153) Pe. C. M. DE H E RE D IA — O EHpIrltlsino c o n « n Senso, pg. 101. (154) Cf. CARLOS IMBASSAHY — “ O E sp iritism o à lo* do« fato«”, L iv ra ria E d lt. d a FedcraçUo, 1935, pe.

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cidade, — desconhecidas até há pouco tempo. E assim, — concluem. — o que se não explica hoje, explicar-se-á daqui a anos. Quanto a nós, acham os que os poucos fe ­ nôm enos reais, irredutíveis hoje, nunca po­ derão ser explicados por forças naturais. E’ que as forças naturais tem um lim ite. E esse lim ite nos é conhecido. A força de atração, por exem plo, com preendida na lei de gravi­ dade, só pode ser contrariada por um a força fisica maior. N inguém poderá nunca fazer parar um pedra no ar só com um ato da von­ tade, ou só com a força do olhar. Alegam as m aravilhas do rádio. Mas, an­ tes de ser conhecido, ninguém enviava m ensa­ gens pelo ar, em pregando uma força então desconhecida, e atribuindo o efeito a fatores preternaturais. Se a força era desconhecida, tambem não havia fatos produzidos por essa força. O contrário se dá nos fenôm enos ocul­ tos. Há fatos sem força. O argum ento: “N ão conhecem os todas as forças naturais, e estas forças, uma vez co­ nhecidas, explicarão muitos segredos,” é usa­ do pelos racionalistas para rejeitarem os m i­ lagres de Cristo. “Jesús andou sobre as on­ das; entrou, a portas fechadas. 110 cenáculo; curou enferm os incuráveis” . . . M ilagres. Mas não conhecem os todos os segredos da na­ tureza, d izem eles. A ciência explicará tudo m ais tarde. Quem não vê aqui, em jogo, o sofism a dos racionalistas? Sim . Fatos há, irredutíveis, hoje e sem ­ pre, às forças naturais, conhecidas ou desco-

— 2©3 — nhecidas. É a opinião dos m estres. Ouça­ m o-los : “ N ão é p ossív e l e s p e ra r q u e v e n h a m to d o s e sses f a to s a e n c o n tr a r e x p licação n a tu r a l, u m a vez que m u ito s a tiv e ra m já ; p o rq u a n to , m esm o se m c o n h e ­ c e r to d a s a s fo rç a s n a tu ra is , é p o ssiv el c o n h ec er o li­ m ite , a lem do q u a l n ã o p o d em ir. H á f ra u d e s. H á fe­ n ô m e n o s n a tu ra lm e n te e x p licáv eis. H á f a to s ir r e d u tí­ ve is à s le is n a tu ra is " . ( 1 5 5 ). “ O e sp iritism o a g e n a o b s c u rid a d e m a is ou m e ­ n o s c o m p leta, no m eio d e u m a a ssistê n c ia in ic ia d a e fa v o ra v e l. ^ H á , p o rem , f a to s re a is. Com o in te r p re tá lo ? H á p ro p rie d a d e s In te re s s a n tís s im a s do c o rp o h u ­ m a no, que só f o ra m c o n h ec id as u ltim a m e n te , e c ad a d ia se d e sco b rem n ovas. O ra, p o d e re m o s e s p e ra r do f u tu r o a e xplica çã o? D u v id a m o s. C e rto s fen ô m e n o s ap a re c e m de ta l m odo c o n trá r io s à s le is n a tu ra is , q u e a s u a orig em p r e te r n a tu r a l é, pelo m en o s, v cro ssim U ” . ( 1 6 6 ).

Portanto, uns poucos por cento de fen ô­ m enos não podem ser causados por forças na­ turais. Logo, a causa deles só pode ser um agente e x tra -te rre stre: “ A d m ito , pois, qu e, em a lg u n s fen ô m e n o s, m u i poucos, se m a n ife ste u m a in te lig ê n c ia , o u tr a q u e n ão a do m é d iu m ou a dos a s s is te n te s ”. ( 1 5 7 ).

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Befo )Ho?lzoiUe"I
— 204 — II QUEM É ESSE AGENTE EXTRA-TERRES­ TRE OU ESSA INTELIGÊNCIA? N ão pode ser Deus, nem os anjos bons, nem as almas. Logo ó o dem ônio. A esta con­ clusão, para os poucos fenôm enos, chegaram os próprios autores anti-diabolistas. Alguns d e le s: “ N e sta q u e stã o do p r e te r n a tu r a l , n ã o se h á-d e a d m itir u m a c a u sa p r e te r n a tu r a l se n ão n o s c aso s em que to d a e x plicação n a tu r a l f o r im p o s sív e l”. ( 1 5 S ) . “ O u tro s a u to re s a firm a m q u e a p e n a s u m c erto s u b s tr a tu m , s e rá d evid o à in te rv e n ç ã o d ia b ó lic a ” . ( 1 5 9 ). “ D o q u e fica d ito não se s e g u e q u e a e x p licação d ia b ó lic a de v a s e r s is te m a tic a m e n te r e je ita d a ” . ( 1 6 0 ). “ N in g u é m d u v id a q u e o e sp iritism o s e ja u m t e r ­ ren o pro p ício à in te rv e n ç ã o d o s e sp írito s. Os p ró p rio s e s p ir ita s se g a b am d e e s ta r em r e la ç ã o com o m u n d o dos e s p ír ito s d e se n c a rn a d o s, q u e, j á o v im o s, só p o ­ d e rá s e r o m u n d o dos e s p írito s m a u s . . . C e rto s fa to s dos - m a is p e rtu r b a d o re s d a h is tó ria do e sp iritism o te n d em a d e m o n s tr a r q u e e s ta ação do s e sp írito s ( m a u s ) foi, a lg u m a s v ezes, r e a l ”. ( 1 6 1 ). “ U m a p a rte d os fe n ó m e n o s deve s e r a trib u íd a & in te rv e n ç ã o de a g e n te s so b re-liu m an o s, q u e, se g u n d o o que foi d ito , só podem se r e s p írito s m a u s. C oncebe-se m esm o, d a p a rte de les, u m a in te rv e n ç ã o m a is la rg a ... q u a n d o se tr a t a de e s tim u la r c e r ta s p r á tic a s q u e (158) Rev. PA TRICK J. GEARON, O. C. C. -A Splrltlxraci Sn F n llllte ”. Paris, ed. L cthlellcux, pa (159) Id„ Ibldcm . (160) D. OTÁVIO CHAGAS D E MIRANDA — «O»? 9 ndnw noi Pxlqulcon e o Explrltlxm o p ern n te n I*cri 1926, pç. 40-41. (161) LUCIEN ROURE — “ I.e M ervelllenx Splx PST. 336-337.

— 205 — de s e r p a ra os h u m a n o s a f o n te de ta n ta s decepções, de d e so rd e n s e de d is tú rb io s ” . ( 1 6 2 ).

CONCLUSÃO. Os espíritos que aparecem nas sessões são os m aus espíritos da con­ cepção católica. São os dem ônios. Aliás, os próprios espiritas adm item que, se algo há de real nos fenôm enos, deve ter por autor o dem ônio. Com efeito, confessam que m aus espíritos se im iscuem com os bons na escuridão das sessões. Esta é a doutrina de K ardec. E o sr. Im bassahy, espirita brasileiro, vai m ais longe ainda. Diz ele: “ O s d e m ô n io s, o s e s p ír ito s im p u ro s d a B íb lia , os á u g u re s do p a g an ism o , os d e u ses (q u e fa la v a m p e ­ l a boca d a s e s tá t u a s ) , o s g ô n io s são sim p les no m es d a d o s à s e n tid a d e s m a n if e s ta n te s ”. ( 1 6 3 ). “N ão im p o rta o no m e com q u e c ad a um b a tiza o fato s u p r a n a tu r a l” . ( 1 6 4 ).

A divergência, pois, entre os espiritas e nós está no sentido ligado às palavras alm a e espirito. Para nós, espírito é gênero e alm a é espé­ cie. Assim, a alm a é espírito num sen tido, e o dem ônio o é em outro. Ou m elhor: a alma e o dem ônio (ou os anjos) são espíritos, mas não no m esm o conceito ou em toda a extensão. E xplicam os tambem a diferença, dizen­ do que os anjos e os dem ônios são puros es­ píritos, e a alm a, não. A alm a é form a subs­ tancial da m atéria organizada, é p a r te do ho(152) LUCÍEN K O riíE — “ I.c Spirltixm c «Vnujour(l'hul e t «1’hler", ed Uccichesnc, pp. 92 e pg. 121. (103) CARLOS IMBASSAHY — ” 0 E xplritlxino à luz üox futos», pg. 229. (101) Id., Ibidcm, pg. 229-230.

— 206 — mem, ao passo que os espíritos puros não são form as substanciais nem são partes de ne­ nhum todo. P ara os espiritas, ao contrário, alm a e dem ôn io são espíritos no m esm o sentido. A lem disso, na doutrina católica, o de­ m ônio é um espírito decaido e irrem ediavel­ m en te perdido. Na doutrina espirita, todos os espíritos estão em evolução, e serão salvos ou aperfeiçoados um dia. Mas os espiritas estão em erro. Para provar que a alm a e o dem ô­ nio são espiritos de n atu reza diversa, temos a fiiosofia. E para provar que o dem ônio é es­ pirito decaido c irrem ediavelm ente perdido, temos a Bíblia. Assim , é doutrina filosófica assente que, se o espírito puro pode naturalm ente m an ifes­ tar-se, a alm a não o pode. (165). Baste-nos, p.orcm, a confissão dos espiri­ tas: “ As entidades m anifestantes são os de­ m ônios, os espiritos im puros da B íb lia.” Mas será que o dem ônio intervem siste­ m aticam ente nas sessões, pela força de um rito? Não. Adm itir isso seria admitii', em lar­ ga escala, um grande sistem a de possessões diabólicas. A-propósito, diz m uito bem o teó­ logo P atrick Gearon: “Julgam os que é impossivel adm itir a teoria diabólica cm geral, sem adm itir, ao mesmo tempo, quo

1

?vrs. i*«s

— 207 — Espírito enganador, de poder apenas re­ la tivo dentro da criação, o dem ônio é capri­ choso. Tendo .ambiente preparado, intervem quando lhe apraz e se Deus lh’o perm ite. É o que pensam os Padres do Segundo Concílio de Baltim ore e os senhores B ispos do N or­ te do Brasil. D izem os prim eiros: “Vix clubltandum tam en videtur qunedam saltem cx ©ls a Satanlco ln terventu repetenda esse, cuin vix alio modo satis explicarl possint; isto é: Dificilmente se poderá duvidar que ao menos alguns desses fenô­ menos devam ser atribuídos à intervenção de Sataáaz, já que dificilmente se poderão explicar de outro modo”. (166).

E os segundos confessam : “Não nos custa pensar que, de-fato, algum a vez, nas sessões espiritas, se faça sentir a intervenção diabólica”. (167).

Mas repugna-nos adm itir que o dem ônio esteja ligado a um rito, de modo que apareça, sem pre que seja invocado, com o nom e de “evocação de tal espírito desencarnado.” Custa-nos adm itir isto. Prim eiro, porque, em tal hipótese, o dem ônio estaria sujeito aos homens, e, segundo, porque o dem ônio não precisa intervir fisicam ente para ter os h o­ m ens em sua sujeição. Adm itim os, pois, um m eio termo entre as teorias extrem as. Em resu m o: O dem ôn io in tervem m as os assistentes não sabem , previam en te, quando (1GC) Apud. H E R E D IA — O E sp iritism o e o Dom Senão, pç. 195. (167) Senhores Bispos do N orte do B rasil, « P a sto ra l”,

— 208 — é que ele vai intervir. A intervenção só se tor­ na conhecida post factu m , depois do evento. T odavia, m èsm o que a presença física de Satanaz não possa sem pre ser provada, o ESPIRITISMO É SEMPRE DIABÓLICO, por­ que o dem ônio cxcogitou m eios de estar pre­ sente, — fisicam ente, algum as vezes, — moralm enle, as outras vezes. O ESPIRITISMO É D IA B Ó L IC O : a) Pelo am biente das sessões, — am bien­ te de nervosism o, de hipnose coletiva, de te­ mores; b) Pelas circunslâncias de lugar e de tem ­ po que envolvem as sessões; c) P ela instituição do médium. Tratarem os dos dois prim eiros itens num só artigo, e do terceiro ein artigo separado. Art. I. a) Quanto ao am bien te. Haja m édium ou não, o fato de algum as pessoas se reunirem cm torno de um a mesa, e esperarem com uni­ cações com o invisível, cria um estado nervo­ so nos assistentes em geral, estado que pre­ d ispõe para a loucura, para o suicídio, para todas as aberrações, e, sobretudo, para o trans­ torno da Lógica N atu ral c negação das doutri­ nas religiosas puras e tradicionais. O espirita tem um a lógica diferen te d a dos outros ho­ m ens, e seu cérebro se torna im perm eável aos raciocínios faceis e sadios. É um homem

— 209 — evadido do senso com um . Daí, a dificuldade de um espirita vir a abandonar as suas prá­ ticas supersticiosas. b) Quanto às circunstâncias. É certo que a luz ou as trevas m ateriais não podem ter nenhum a influ ên cia no p oder do espírito do outro m undo. Da luz m ais intensa às trevas m ais opacas não há m ais do que uma ques­ tão de graus. Mesmo entre os anim ais, o que é escuro para uns, é claro para os olhos de outro. Para o espírito, portanto, não há d ife­ rença entre a luz e a treva deste mundo. Por conseguinte, o dem ôn io iião precisa da treva para agir. Pod e aparecer tanto de noite com o de dia, tanto em m eia claridade com o à luz viva. Entretanto, fez crer a seus adeptos que a escuridão ou a pouca claridade são condi­ ções necessárias para a produção dos fen ô­ m enos. Conseguiu convencê-los de que o m é­ dium só pode em prestar o seu flu id o ao es­ pírito, se agir à noite e com pouca luz. E os im becis acreditaram . Compararam m esm o os fenôm enos espiritas com certos fenôm enos quím icos que só se realizam à noite, ou na au­ sência da luz direta; por exem plo: o despren­ dim ento do gás carbônico, das plantas. Por que essa tática de Satanaz? Sim ples­ m ente porque a luz preju d ic a os seus inte­ resses, e as trevas os favorecem . As sessões noturnas, portanto, realizadas quase ao escuro, com prom iscuidade de m a­ chos degenerados e dc fêm eas histéricas, são dc criação nitidam ente diabólica. 0 diabo aí

— 210 — está sem pre presente, em bora nem sem pre apareça. Art. II. QUANTO AO MÉDIUM O dem ônio, teoricam ente falando, não precisa de interm ediários. Provam -no as suas aparições espontâneas, a Cristo no deserto, e aos hom ens, várias vezes, com o consta da his­ tória. Para a organização, porem , de uma Re­ ligião ou Sistem a de com unicações, a Insti­ tuição do M édium foi necessária. O m édiu m : Prim eiro, serve para ocultar Satanaz; c, segundo, é o seu procu rador bastante no ca­ so da ausência do Chefe. Assim, podem os definir o m édium : PESSOA EM PRESENÇA DA QUAL OU POR MEIO DA QUAL O DEMÔNIO OPERA FENÔMENOS TRANSCENDENTAIS. O m édiu m é: A — Pessoa em presença da qual o de­ m ônio opera fenôm enos transcendentais. M axw ell tam bem entendia que o agente dos fenôm enos era outro que o m édiu m , sen­ do este apenas um a condição para os fen ô­ m enos : “M édium , — diz ele, — é a pessoa em pre­ sença da qual p odem ser observados os fenô­ m enos psíq u icos.” (168) (168) Citado por CARLOS IMBASSAHY — «O E sp iri­ tism o & lu s do« Fa to « ”. PÇ. 165.

— 211 — Neste caso, o m édiu m não opera. Fica im ó­ vel, com o extático, no seu gabinete, ou no m eio dos assistentes. Quem realiza os fenôm enos é o demônio em pessoa, e os fenôm enos, então, excedem as forças naturais. É assim que a força da gravi­ dade, a lei da inércia e o poder de percepção dos orgãos sensoriais do hom em são im pedi­ dos por forças contrárias, acionadas por agente in visível: é o caso de E usápia Palladino, R udi Schneider, M aria S ilbert, etc. O estado de inconciência e inibição m en­ tal em que cai o m édiu m , é efeito da união :oom o espírito do Alem. É o que se chama, geralm ente, transe; o m édiu m é um quase possesso, senão um possesso total. Os pró­ prios espiritas confessam que a possessão dia­ bólica, cujos sinais são descritos no Ritual Ro­ m ano, está m uito próxim a do estado de tran­ se. (Cf. Ritual Rom ., Tit. XI, c. I, n.° 3. Carlos Im bassahy escreve: "P or esse fenômeno o espírito so incorpora ao médium, por cujos sentidos se m anifesta”. (1G 9). E, à pagina 3S0, descreve a mediunidade do médium MirnbclU como verdadeira pos­ sessão diabólica, tanto assim que a aproximação do exquisito personagem causa a todos verdadeira re ­ pulsa.

T odavia, som os levados a declarar que vem os algum a diferença entre o transe mediúnico e a possessão diabólica do Ritual. 0 transe não traz, geralm ente, o sofrim ento fí­ sico que, às vezes, acom panha a possessão. O (169)

CARLOS IMBASSAHY, opus c ltatu m , pg. 427.



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transe é fenôm eno passageiro da parte do es­ pirito, e voluntário da parte do m édiu m , o que se não dá na possessão. Por isso, o tran ­ se deveria cham ar-se antes uma usurpação e o sujeito usurpado, pois o espirito não está com o quem julga ter direito de posse (posséssio). (170). Do que ficou dito acim a se conclue que, na presença do m édiu m , entregue a este esta­ do de transe m ediúnico, o dem ônio realiza fenôm enos que, evidentem ente, excedem as forças naturais. Mas alem desses fenôm enos, ainda existe outro m ais estupendo: o da m a­ terialização. Sobre este devem os notar o se­ guinte: As aparições das alm as e dos espíritos podem explicar-se de dois m odos: a) O espirito age na im aginação do vi­ sionário, e este julga ver externam ente o que, na realidade, só existe na sua fantasia. É o que se cham a Visão Im agin ativa; b) O espírito se m anifesta externam ente por m eio de um a form a material que im ­ pressiona os orgãos visuais do vidente. É o que se diz Visão Corpórca-R eal. Este segundo m odo está m ais de acordo com as faculdades psíquicas do hom em , so­ bretudo quando a visão é prolongada, e quan­ do são m uitas as pessoas que veem o fanlas(170) Diz PATJIICK GEAIION: "Os esforços do m6dium podem ftcarreUir esg o tam en to nervoso: mas, g e ra l­ m ente. nilo lid. nenhum sinal de sofrim en to agudo, nenhum traço de torm ento. Não se lhe veem e ssas ferozes contorsões da face que, de o rd in ário , acom panham a posses­ são. “ I.e Splritl.sme: Su F n lllite ”, pg\ 1:)2.



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ma. D eve ser o caso da m aterialização espi­ rita. (170, a). Neste caso, com o o espírito, n atu ralm en ­ te. não pode ser visto, deve servir-se de m até­ ria criada, preexistente, para form ar com ela o invólucro m aterializado, para form ar um corpo m om en tân eo ou som ente membros, m ãos, cabeça, etc. É o que Lucien R oure diz com estas palavras: “A visão dos mortos não-ressuscitados e a dos pures espíritos é um aparecimento que consiste em certo arranjo de raios lum inosos”. (171) e 171-a).

E Santo Tom az já havia dito o mésmo, nestes term os: “Neste caso, os anjos tomam verdadeiram ente as aparências hum anas: o que pode dar-se por ceita con­ densação da atm osfera, sob a ação divina". (172).

Portanto, nas m aterializações espiritas temos duas h ipóteses a considerar: a) O dem ônio tom a m atéria orgânica do m édiu m , desagrega-lhe, por uns instantes, al­ guns m ilhões de células e com estas form a os m em bros da m aterialização. Toma células e não flu ido, — a existência deste não está pro­ vada, — e isto explicaria a m odificação so(170-a) N a B íblia tem os m uitos exem plos de a p a r i­ ções corpflrens-reais, como: Aparlçilo do an jo a Tobias, dos anjos à s 660 pessoas logo apôs a A scen sio de Cristo, S. G abriel a M aria SS., etc. (171) LUCIEN ROURE, In Cnthollc E ncyclopedlo, New Y ork, sub voce Vlalon. (171-a) B a lta za r viu t r í s dedos de um a mâo invisível, escrevendo na parede as p alav ras Mané. Tocel, F arés. Cf. Daniel, 5:20. ^ (17£) SANTO TOMAZ DE AQUINO — »ummn Theol.

— 214 — m ática do m édium , inclusive a dim inuição do peso. b) 0 dem ônio toma m atéria orgânica fo ­ ra do m édiu m , o que Santo Tom az exprim iu com a expressão “ condensação atm osférica.” É a hipótese que está m ais dç acordo com a natureza decaida do dem ônio e o respeito de­ vido à pessoa hum ana do m édiu m . N este ca­ so, o m édiu m é com pletam ente alheio à m a­ terialização. O dem ônio não precisa do or­ ganism o do m édiu m . Não obstante isto, a presença do m édiu m continua necessária. O dem ônio fez crer, a seu adeptos, que o espírito só pode agir, ajudado por um m édiu m . Convenceu-os de que o m édiu m em presta flu id o ao espírito e é por isso que cai em transe. É para fazer acreditar tudo isso, que o dem ônio teria, então, dim inuido o peso físi­ co do m édiu m , durante as operações. O dem ô­ nio, com efeito, para materializar-se, no caso da segunda hipótese por nós estabelecida, não precisa de m atéria orgânica do m édiu m . Nem este poderia perder quase m etade de seu peso, sem sofer desequilíbrio molecular. Uma pessoa que, num instante, perdesse vin­ te ou m ais kilos de peso, m orreria de inib i­ ção. Logo, — conclusão forçada, — a perda de peso seria só aparente e não real, seria só na balança e não no corpo. É facil ao de­ m ônio temperar as conchas ou os braços de um a balança, e fazer aparecer o peso, para m ais ou para m enos, que bem lhe aprouver. Neste caso, o transe ou êxtase m ediú nico

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seria consequência da presença ou da visão do dem ônio, e não condição prévia para ela. O m édiu m , ante a presença do Malvado, so­ fre forte abalo no seu psiquism o e, em segui­ da, cai em transe. A presença do m édiu m , portanto, disse­ m os atrás, continua necessária ainda nos ca­ sos em que o dem ônio age por si. Porque es­ tes casos, que são rarissim os, acreditam os outros casos, — cotidianos e costum eiros, — em que o m édiu m age sozinho, e em que o de­ m ônio não está presente fisicam ente, como verem os daqui a pouco. Observações. 1.°) O dem ônio fez crer ainda, a seus adeptos, que, nas m aterializações, se alguem tocar nestas, pode prejudicar a saude do m é­ dium , pode, até, causar-lhe a morte. (173). “ . . .o neófito, para apanhar o em buste, co­ m eteria erros graves, que poderiam , até. acarretar a mortç do sen sitivo.” (174). O dem ônio não quer que alguem tente des­ m ascarar as frau des, porque estas tam bem fazem parte do plano diabólico. Daí a proi­ bição de se tocar nas m aterializações. Puro engano. Seja o fantasm a m aterializado real, ou não, não tem nenhum a ligação fisica com o corpo do m édiu m . Não se cita nenhum caso de m édiu m que m orresse em sessão, em vir­ tude da infração deste preceito, em bora, al(173) IMBASSAHY, “ O E rp lrillsm o à luz doa F n to a”, pg. 180. (174) Id„ lbldem, pg. 109.

gum as vezes, houvesse desabusados que ten­ taram segurar as m aterializações. Quando muito, algum a dor de cabeça, efeito do desapon to. 2.°) Dizem tam bem que a boa saude do m édiu m ajuda os fenôm enos, e a saude má os prejudica: L e m ediu m do it être en bonne santé, — é regra de Geleij. (175). Tudo isso, em buste de Satanaz. Tais im ­ p osições rituais tem por fim , justam ente, fa ­ zer crer que os fenôm enos dependem do m é­ diu m . A instituição do m édiu m era util e ne­ cessária à N ova Religião c, por isso, Sata­ naz tudo fez para tornar indispensável, ao m enos no conceito de seus sequazes, a presen­ ça do cham ado sensitivo. B — O m édium é, as m ais das vezes, pes­ soa por m eio da qual o dem ônio opera fen ô­ m enos transcendentais. Q ueremos dizer que aqui o dem ônio não intervem pessoalm ente. F ica de longe, ou es­ tá ausente, m as o m édiu m o representa, e o m édiu m que aqui opera é o m esm o que apa­ receu, com o condição sine qua non, nos casos verdadeiram ente supranorm ais. Por conse­ guinte, os fenôm enos praticados aqui pelo m édiu m , sem o deçmônio, são atribuídos à m esm a causa que os fenôm en os praticados ali, pelo dem ônio, na presença do m édiu m .

(175) Apud CARLOS IMBASSAHY — “ O E sp iritism o à Inz dos Futoa”, pgs. 1S2 e 186.

— 217 — Por conseguinte, o m édiu m é pessoa que, devido à sua constituição fisiológica especial, produz fenôm enos sem recurso a um poder fora da natureza. Esses fenôm enos não são propriam ente transcendentais. São, todavia, an orm ais. porque são atos da psicologia anorm al. Esse ponto deve ser explicado: Em casos p sicológicos anorm ais, dá-se, no homem , a dissolução dos psiquism os. (176) O psiquism o superior, dissociado, anu­ la-se, e o psiquism o inferior passa a dirigir sozinho os atos m entais. Então, o hom em faz, inconcien tem en te, coisas que nunca poderia fazer no estado de conciência, ou que só faria im perfeitam ente. R esolve problem as m ate­ máticos, com põe m úsicas inspiradas, faz p oe­ sias adm iraveis. D evido à dissociação dos psiquism os, em estado de sonam bulism o natural, F artini com pôs a sua sonata “Diabo", La F ontaine a sua poesia “Les den x P igeon s” e V oltaire m o­ dificou todo um canto da sua H enriade. (177) Em sonam bulism o m ediúnico, A n d rew Jackson D avis ditou o seu livro “ The P rincipies of N a tu re” (1847), que é todo feito de rem i­ niscências de Swendenborg. (178) Em consequência da dissociação dos psi­ quism os, o hom em age por instinto, e é sabi­ do com o o instinto é, m uitas vezes, m ais sábio do que a inteligência. É neste caso de psiquis(176) Cf. GRASSET — Iiléea Médlcnlea, de p as. 1 a 27. (177) GRASSET, Ibidem, PS. 5. (178) Cnthollo U ncyclopedla — New Y ork — s. voe. BpIrltUm.

— 218 — m o inferior dirigindo o hom em , que as idéias e os sentim entos, até então em repouso no subconciente, vem para o plano da frente e passam a governar o homem . O subconciente, p lano inferior da conciência. “ andar-terreo” da m entalidade, foi reconhecido pelos antigos neo-platônicos e, .ultimamente, reto­ m ado por F reu d e seus discípulos. (179) A dissociação dos psiquism os se dá em vários casos, sendo, umas vezes, parcial, e, ou­ tras vezes, total. É parcial em estados m en­ tais de anorm alidade não aguda, com o em certos delírios febris, e em m om entos em que o sujeito não se esforça por unir os dois psi­ quism os, — por exem plo, na distração, na abs­ tração, na atenção intensam ente dirigida para um dado assunto. Foi assim que N apoleão, no fragor da batalha de W agran, desceu do ca­ valo e, esquecido do m om ento, se pôs a co­ lher flores distraidam ente. (180) É total, so­ bretudo, no SONAMBULISMO, quer natural, quer artificial. O Sonam bulism o artificial é o que se chama, em linguagem técnica, hipnose. (17D) Foi P a tric k Genron, crem os nós, quem prim ei­ ro notou que a doutrin a do subconciente Já tin h a sido e xposta por Santo A gostinho e ou tro s. D isse Santo Agos“E n tro nos vastos dom ínios e nos vasto s palácios de m inha m em ória onde estão os teso u ro s de In fin itas Im­ pressões traz id a s por objetos sensíveis de to d a espécie. AI dormem todas as reflexões feitas p or nós: todo desen­ v olvim ento, toda redução, toda m odificação das coisas que os sentidos a tin g iram e que o esquecim ento a in d a não nhsorven nem sepultou”. Confissões, llv. 10, c. 8. S. B er­ nardo, em T rata d o da Concléncla, c. I. diz a m esm a coi­ sa. P o rta n to , só o nome de subconciente ê que é novi­ dade. E mesmo quanto ao nome não h á com pleto acordo e n tre os modernos. Myers p referia dizer enb-U m lnal. Cf. PA TRICK J. GEARON — Le S p trltlsm e. 9a r*IU K e, — pg. 97-98. (180) Apud GRASSET, op. clt., pg. 7.

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Ora, ninguém ignora que o transe é uma hipnose. É, m uitas vezes, hipnose espontânea, devida à constituição mórbida do sujeito, c, outras vezes, provocada. Quando o m édiu m custa a cair espontaneam ente em hipnose, es­ ta lhe é im posta ou provocada; depois disoso, cairá espontaneam ente nela, desde que concorram as m esm as circunstâncias que cer­ caram o primeiro transe: expectativa dos pre­ sentes, silêncio, luz apoucada ou luz verm e­ lha, m úsica, religiosa ou profana, etc. Então, ou quase sem pre, o transe é uma AUTO-HIPNOSE. Um dos diretórios de sessões espiritas, que temos em m ão, consagra capítulo inteiro ao S onam bu lism o. É daí que colhem os estas preciosas confissões: “ E' de máxima Importância, pois, que as faculda­ des mediúnicas de qualquer pessoa se.jam elevadas sempre, constantem ente, p ara a mais a lta esfera da força psíquica por meio do sonambulismo. “Daqui resulta que é de grande vantagem para os círculos espiritas procurarem tran sp o rtar p ara o estado sonâmbulico, não só o médium, como tan tas pessoas, quantas seja possível’’. (181). “ O hipnotismo tambem oferece vantagem p ara o desenvolvimento da mediunidade, pois que, como no magnetismo, tambem pode o sonambulismo elevar-se, por meio dele, ao seu mais alto g ra u ”. “Dal se çonclue que é de máxima im portância a (181) HANS HA RN OLD — SessSes E sp irito » — T rad da E m presa Ed. "O Pen sa m en to ”. S. Paulo, 1938. Pg. 30 e seguintes.



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existência de um m agnetizador ou de um hipnotizador, nos cfrculos espiritas em form ação”. (182).

O m ais erudito dos espiritas brasileiros, Carlos Im bassahy, tambem identifica transe com hipnose; diz ele: "O transe vai do simples desprendimento ao so­ no profundo. E ’ nos graus adiantados da hipnose, e com sujeitos especiais que se verificam, em via de re­ gra, os bons fatos espiritas.” (183)

Portanto, conhecidas as m aravilhas da PSICOLOGIA ANORM AL, e sabendo-se que esta é que governa e domina as sessões espiri­ tas, nada de adm irar que se deem , nessas sessões, casos assom brosos de telepatia, de psicom etria, de televisão, de m em ória regres­ siva, etc. As idéias sub-concientes dom inam todo o âm bito da vida m ental. E disto temos exem plos fartos e com probantes. Heleno Smith, o médium do prof. Flom noy, com­ põe, em transe, toda um a curiosa linguagem, que atribue aos habitantes do planeta Marte. Essa linguagem, entretanto, nada mais é do que um francês tran sfo r­ mado. Helena lera, em tempos idos, uma antiga histó­ ria da índia, escrita por Marlès, em 1822. (184). Isto lhe inspirou, em transe, um complicado romance so­ bre a princesa Simandlnl, que fora esposa de Sivronka Nayaka, príncipe de K anara, em 1400 de nossa era. Como fizera a respeito dos marcianos, H elena atribue (182) Idom, ibidem, p*. 38. (183) CARLOS IMBASSAHY — “ O E ap lrltlam o A lua do» F a to a ” — P a. 234. (184) MARLÉS — H U tolre de l'In d e A nelcnne — P a ­ ris, 1828.

— 221 — aos Indús uma linguagem difícil e incompreensível, o que bem prova a intrujice de um m édium espirita, pois é sabido que todas as línguas da índia, ainda a3 mais remotas, são bastante conhecidas dos filólogos modernos.

Tendo na m ente, em estado de vigília, à crença da reencarnação, vários m édiu ns hip ­ notizados criaram rom ances relativos a suas “pretendidas” existências passadas. Foi assim que Mndnnie J., hipnotizada pelo coro­ nel A lbert do Rochas, descreveu dez vidas anteriores “ que ela teria vivido''. H elena Smitli, tambem, hipno­ tizada por Flournoy, diz ter sido prim eiro a princesa Simnndini, no século XV, e, depois, Maria Antonicla, no século XVIII, e, fantasiosa, refore coisas interes­ santíssim as que se teriam dado nesses tempos idos.

Estes, com o todos os casos de regressão d a m em ória, observados pelos hipnotizadores M arata, B ou vier e tíertra n d , nada m ais são do que criações que o sub-conciente arqui­ teta com elem entos confusos, arm azenados no estado de vigília. Queiram ou não os espiritas, o sub-coneiente, posto em atividade durante o tempo dc dissociação dos psiquism os, dá a chave de quase todos os fenôm enos su bjetivos. Explica muitos casos tidos por assombrosos pelos lei­ gos em psicologia anorm al. Esses casos, se fo s­ sem realizados por um Santo, não poderiam , hoje-em -dia, ser tidos com o m ilagícs; se fos­ sem , tam bem, realizados por um a pessoa qualquer fora de uma sessão espirita, seriam anormais, mas não supranormais. Praticados, porem , num a sessão espirita, tem ligação m o­

— 222 — ral com os fenôm en os transcen den tais que aí, por ventura, se praticaram em outras oca­ siões. 0 m édiu m , portanto, não passa de uma pessoa de psicologia anorm al, pessoa que, pe­ lo hábito ou por estado mórbido congênito, fa ­ cilm ente dissocia os seus dois psiquism os. Quando em transe, isto é, quando caido em auto-hipn ose, o m édiu m é um cérebro per­ m eável aos pensam entos dos presentes. Lê nos pensam entos. O dem ônio não está pre­ sente fisicam ente, nem isto lhe é necessário, porque ele tem o seu representante-capaz, — o m édiu m . Os próprios autores espiritas notaram que a cham ada m ediunidade pode ser, m ui­ tas vezes, estado m ental natural. É de Léon D e n is: “Em certos casos, vê-se aparecer em nós um ser muito diferente do ser normal, possuindo não apenas conhecimentos e aptidões mais estensas que as da per­ sonalidade comum, mas, alem disso, dotado de mo­ dos de percepção mais poderosos e variad o s. . . ” “ Cumpre fazer bem a distinção entre esses casos e os fenômenos de “Incorporação de defuntos”. (1S6).

A literatura espirita está cheia de episó­ dios interessantes, — m aravilhosos para um espirita, porem naturais para um psicólogo m oderno. Este caso, por exem plo: Hodgson, australiano, tendo sido noivo de uma moça com quem não pudera casar-se, vai para a Ingla(185) LÊON D ENIS — Le Problém e de 1’Ê tre e t de la D eatlnée, citado por Im bassah y , o E aplrltlam o. pg. 388-389.

— 223 — terra. Um dia, em sessão espirita, a senhora Piper, em transe, lê na m ente de Hodgson toda a história de sou antigo noivado. O interessante é que, contan­ do essa história, P ip er se julg a em comunicação com a própria noiva de Hodgson, e dos relatos não consta certo que essa noiva já houvesse falecido. Mesmo, po­ rem, que esta últim a hipótese se houvesse realizado, a presença de Hodgson na sessão é suficiente para ex­ plicar a leitura de seus sentimentos pelo médium hipnotizado. (186).

O bservação. É com um ouvir-se falar em m édiu m fo r ­ te, em bom m édiu m , ele. D e-fato, os m édiu ns não são todos iguais. Quanto m ais facilm en ­ te puder um m édiu m dissociar os seus psi­ quism os, e quanto m ais profu n dam en te cair na hipnose, tanto m elhor m édiu m e m ais fo r­ te será, porque realizará fenôm enos m ais es­ tupendos e com m ais prontidão. Tam bem na hipótese da intervenção do dem ônio nos fenôm enos, ainda é exata a ex­ pressão m édiu m fo rte ou fraco. O demôuio tem os seus m édiu ns prediletos, — os m ais sensitivos, — os que se lhe entregam sem re­ serva nenhum a, mesm o sem terem conciência disso. E sses são os bons m édiuns. Já que identificam os o transe com a h i­ pnose, e dissem os que ele não p assa de um a auto-hipn ose, cumpre digam os algo sobre o HIPNOTISMO. (ISO CARRINGTON — The llU to ry of Paychlc Scien­ ce, citado por Im bassay.

— 224 — Por h ipn otism o ou h ipn ose entendem os u m “sono nervoso in du zido p o r m eios artifificiais e extern os.” (187) A tribuem -se-lhe dois gêneros de efeitos: A ltos e com uns; os prim eiros constituem o HIPNOTISM O TAUM ATURGO e parecem re­ querer um autor preternatural; entre eles es­ taria a xisão à distância, a autoscopia e a lieteroscopia (ver os orgãos internos próprios ou alheios), a visão através de corpos opacos, a epigaslria ou transposição dos sentidos, co­ mo ver com o ventre, ouvir com as m ãos. Os efeitos com uns constituem o HIPNOTISM O FISIOLÓGICO e p arecem não exceder as for­ ças naturais: obediência total, halucinação, so­ no hipnótico, etc. O hipnotism o foi estudado por dois gru­ pos de sábios: a E scola de P aris ou de La Salpêtrière, chefiada por Charcot, e a E scola de Nancy, chefiada por B ernheim . N ão confundam os M agnetismo com Hi­ pnotism o. O prim eiro adm ite que o sono é provoca­ do p or um flu ido hum ano, que sai do corpo do agente e penetra no cérebro do paciente. E ’ tam bem cham ado m agnetism o anim al, zoom agnetism o ou m esm erism o. (188) O segundo ensina que o sono induzido por sugestão ou auto-sugestão. Leva tambem (187) SURBLED, In Cntholic E ncyclopedia, a rt. H yp. (188) Z oom agnetlsnio, do gr. zoon, — .m im ai. Mcxmcrlsrao 0 derivado do nome próprio Mcsmer. F ra n z Mcsmor, a u to r dn teoria do m agnetism o, nasceu em 1733, cm Viena, A ustria. M orreu em 1815.

o nom e de n eu ro-hipn otism o ou braidism o. (189) Já os antigos conheceram os fenôm enos principais do hipnotism o. A cris talo m aneia nada m ais era do que o hipnotism o praticado m ediante a visão atenta de um copo de cris­ tal. 0 livro do Gênese se refere a um a taça de cristal que servia para augúrios (190) O m agnestism o ou m esm erism o parece destituído de base cientifica e está hoje aban­ donado. A existência do flu ido an im al não foi ainda demonstrada. O hipnotism o adm ite três fases: L etargia, — sono profundo, im obilidade; C atálepsia, — inflexibilidad e do corpo, rigi­ dez m uscular; e S onam bu lism o, — vigilia aparente. O sonam bulism o, a que reduzim os o tran ­ se, de acordo, aliás, com a própria confissão dos espiritas, é uma vigília aparente. O su­ jeito anda, fala, opera, — tudo sob o im p é­ rio do hignotizador. E ’ um autôm ato. Um vi­ sionário. Vê com os olhos fechados. Vê, entre m uitas pessoas, apenas aquela ou aquelas que o hipnotizador quiser. O hipnotism o é um caldo de cultura apto para todos os fenôm enos da PSICOLOGIA

— 226 — ANORMAL. É. sobretudo, o clim a natural da TELEPATIA. Já vim os, com efeito, que a te­ lepatia experim ental, ate aqui, só deu resul­ tado quando praticada com hipnotizados, is­ to é, com m édiu n s em transe. Os casos de icom zação (francês: E n voû tem en t), (191) de psicom etria, de exteriorização da sen sibilida­ de, — dem onstrados pelo cel. D e R ochas e por outros, só o foram em pacieutes hipn otiza­ dos, e isto evidencia o poder estranho que há no hipnotism o. Iuutil quererm os com preender a naturezaza intim a do hipnotism o. P a trick tíearon con­ fessa que, m esm o sem ter nada de diabólico, o hipnotism o constitue ainda h oje um m isté­ rio. (192) “O sono nervoso, com os ostranlios e múltiplos fenômenos que o acompanham, não é compreendido à luz de nossos atu ais conhecim entos”. Surblcd acrescenta: “E ’ prática perigosa, senão m oralmente detestável. Todavia, a Igreja, sempre pru­ dente nos seus julgam entos, só condena os abusos do hipnotismo, deixando caminho aberto para as pesqui­ sas cientificas. (193).

O HIPNOTISMO FISIOLÓGICO, portan­ to, conquanto seja fenôm eno natural e nada tenha de diabólico, c o m aior e o m ais eficaz au xiliar d o espiritism o. Graças ao liipnotis(191) E nvoûtem ent, cm francês, 6 a tran s fe rê n cia da sensibilidade de uma pessoa p a ra a su a Imngem , em cera, geralm ente p a ra In tuitos maléficos. Criamos, p a ra e sta noção, o term o grego Iconlznçüo, de leon, — Imagem. E n ­ voûter, — Iconlzar. (192) PA TRICK GEARON, opus cltatu m , pg. 10S. (193) SURBLED, ln Cotholic E ncyclopedla. — New York, s. v. U vpnotlam .

— 227 — mo, — provocado coletivam ente nas sessões, — estas se enchem de fantasm as, de espíritos, de ectoplasm as, e se am bientam de nervosismos e “p resenças” fantásticas. Graças a ele, a telepatia aí reina. Graças a ele o DESDOBRAMENTO DA PERSONALI­ DAD E do m édiu m e dos assistentes faz pro­ dígios. Em todas as p ersonificações que se di­ zem aparecer nas sessões, já M axw ell acredi­ tava encontrar a m entalidade do m édiu m e da assem bléia, ou as suas conciências, am al­ gam adas e intercom pcnetradas, — graças à hipnose coletiva c frequente ” (194) Até aqui temos estudado duas hipóteses relativas à instituição do m é d iu m : a) Uma em que o m édium é pessoa c/n presença da qu al o dem ônio opera fenôm enos su pran orm ais; b) outra em que o m édium é pessoa p or m eio da qual o dem ônio opera os m esm os fenôm enos. Tanto num a hipótese com o na outra, o m édium -pessoa pode ser substituído por uma Mesa. Então, a m esa é que é o m édiu m . F araday (1853) e G arpenler foram os pri­ m eiros que se lembraram de explicar o fen ô­ m eno das m esas girantes pelos m ovim entos m usculares inconcientes (m uscular action ), m ovim entos provindos do m édiu m e das pes­ soas que tom am parte na operação. (195) Es­ ta teoria conquistou terreno em m eios cien(194) LUCIEN ROURE — Le M erveilleux S p lrlte — pg. 193. (195) Cnthollc Encyclopedlo» New -York, a rt. Splrltlam .

— 228 — tíficos. Mas hoje é tida com o insu ficiente pa­ ra explicar os com plicados fenôm enos da m e­ sa. Observa Lucien R onre: “Enquanto os movim entos só eram obtidos me­ diante contacto, tínham os o direito de explicá-los pe­ la teoria dos movimentos inconcientes. Hoje, tal teo­ ria já não pode ser considerada como suficiente, e é claro que, no caso das mesas girantes, intervem fre­ quentem ente uma força ainda mal definida”. (196).

Para nós, que não temos medo de expres­ sar alto o nosso pensam ento, essa força está bem definida. Com efeito, é sabido que, m ui­ tas vezes, a m esa dá oráculos, até em língua estrangeira, sem a presença do m édiu m -pessoa, mas apenas suscitada pela “ corrente” das m ãos dos crentes. Portanto, ou diremos que todos os presentes são m édiu ns ou que o m édiu m é a m esa. E ’ verdade que quase to­ dos os m édiu ns operam com mesa. m as há casos cm que dispensam a mesa, e, vice-ver­ sa, a m esa pode operar sem a presença de um m édiu m . A llan Iíardec tentou resolver uma dúvi­ da que ocorre a m uitos autores católicos: “ Por que m esa e não outro m ovei qualquer, por exem plo, um banco, um a canastra? E por que m esa de m adeira e não de outra ma­ téria, por exem plo, pedra, m etal?” “E’ porque, — diz ele, — a m esa, e m e­ sa de m adeira, é o m ovei mais com um , que nunca falta, nem m esm o num a casa de gente pobre. Assim, sem pre haveria facilidade, pa(196) pg. 105.

LUCIEN ROUHE — Le M erveilleux S p lrlte —

— 229 — ra todos, dc se porem em com unicação com o A stral.” Isto, porem , observou aquele corifeu, não obsta a que se possam obter fenôm enos com uma m esa de m etal, ou com um banco de p e­ dra, com o aconteceu com ele m esm o no w s o da cesta. O seguinte episódio da vida de Eusápia P alladin o é referido por escritores espiritas. Não lhe garantim os a autenticidade, mas, se tiver sido real, prova duas coisas: que não é só com m esas de m adeira que se obtem fen ô­ m enos, e que o autor destes é um espirito mau. “Sucedeu, então, um fato extraordinário. Em pleno dia, viram todos, na sala, duas longas linhas de m atéria branca sairem das mãos de E usápia, e es­ tenderem -se até alcançarem a mesa. Quando as linhas esbranquiçadas tocaram a mesa, esta começou a balan­ çar. E ra uma m esa grande, pesadíssima, formada a parte superior de um a só peça de m árm ore de Carrara. “A princípio, mexeu-se fracam ente, depois rapi­ dam ente; e, com espanto geral, parecia im pelida, por força irresistível, na direção do m ajor Davis. “Palladino não se movera da posição que tom a­ ra, no centro da sala: estava ali como uma estátua, suas mãos estendidas na direção da mesa, porem com uma expressão vaga nos olhos, como se não a inte­ ressasse o que se estava passando. “A mesa aproximou-se rapidam ente do m ajor I)nvis. E ste ainda estava soprando as fumaças de seu enorme charuto, com uma expressão de incredulidade estam pada no rosto. A extrem idade da mesa alcançou-o e começou a imprensá-lo de encontro a uma

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outra m esá de carvalho, que estava atrá s dele. O ma­ jor Davls não se deixava vencer facilm ente. Lutou enquanto pode para livrar-se da pressão, a té que pediu socorro. Sir Fletch er Moulton, — o em inente advogado e eu, — diz Cheiro; — fomos em seu auxi­ lio. Esforçamo-nos por afastar a mesa, foi tudo lnuttl. Chamamos, então, quatro criados, homens fortes, des­ tem idos; eles lançaram -se & tarefa, porem a pressão contra o m ajor se tornava cada vez mais forte. "Não sabemos o que teria acontecido, — conclue o professor Cheiro, — se eu não tivesse agarrado Ensápla, e, arrastando a fragil figura, não a colocasse entre a mesa e o m ajor. Ela parecia estar em transe, porem, desde que pfls as mãos no movei, começou a operar-se uma ação reversa: a m esa entrou a moverse vagarosam ente p ara trás, até que alcançou o ponío em que estava antes, e a l p arou”. (197).

Quanto a nós, acham os que o dem ônio escolhe, d e preferên cia, m esa de m adeira, p e­ la mesm a razão por que escolheu o m édiu m pessoa, a saber: P ode ser que a mesa de m adeira produ­ za efeitos que não excedam as forças natu­ rais. P od e ser que os raps seiam , portanto, p rovocados pelo flu id o dos “correnteiros”, através das m oléculas da m esa, flu id o esse que seria o hipotético flu id o hum ano, ainda não identificado. N esse caso, ela reproduzirá o que está no sub-conciente dos ou de alguns dos presentes Fenôm eno natural, portanto. Mas, para acreditar este fenôm eno na­ d o ? 1 Prof. CHEIRO — M ynterlea nnd Romnnpca nf th e W orld’» Grcr.(e„t O ccultists, L lg h í, 21-2-36. Citado DOr Im bassahy, pg. 338-339.

— 231 — tural e dar-lhe as aparências de preter-natn ralidade, para fazê-lo seu, o dem ônio inter­ vem algum as vezes, e assim fic a parecendo que a mesa é sempre um norta-voz do Alem. — tanto nos casos raríssim os de fenôm enos transcendentais, — com o nos casos, corriquei­ ros, que parece não excederem as forças na­ turais. Portanto, o pedir oráculos às m esas, con­ quanto seja prática antiquíssim a, já do tem ­ po de Tertuliano, é um culto diabólico, m ero capítulo da necrom ância. & CONCLUSÃO. Há, no E spiritism o, fenôm enos anorm ais reais. Desses fenôm enos, alguns, — pouquís­ sim os. — são su pran orm ais. Quer dizer que excedem as forças naturais conhecidas e as “ possibilidades m esm as” dessas forças. A n a­ tureza fisica não os explica, nem os explicará iam ais. Portanto, com o repugna apelar para Deus e os Anjos, e com o as alm as não podem intervir, força é adm itir a intervenção diabó­ lica. Esta intervenção não é apenas um a h i­ pótese, com o querem alguns (198), m as, em nossa opinião, um fato p ositivo, dem onstrá­ vel e demonstrado. Os outros fenôm enos anormais, — num e­ rosíssim os e quase cotidianos, — não são su­ pranormais. Pertencem ao terreno da Psico(108) Pc. H E R E D IA « todos os do sua escola,

— 232 logia A norm al e explicam -se naturalm ente. Mas, — realizados no E spiritism o, — tem co­ nexão com os supranorm ais ou diabólicos e, por isso, são aproveitados pelo dem ônio e ser­ vem a seus desígnios. PORTANTO, O ESPIRITISMO É SEM­ PRE DIABÓLICO, já que o DEMÔNIO IN­ TERVEM NELE. — raras vezes, fisicam en te, e nas restantes vezes, m oralm ente.

CAPÍTULO V SINAIS DIABÓLICOS QUE OS FENÔMENOS ESPIRITAS APRESENTAM, E A AÇÃO DIABÓLICA ATRAVÉS DOS TEMPOS A. - Sinais diabólicos dos fenôm en os es­ p iritas. Entre as m anifestações divinas c as dia­ bólicas vai tanta diferença com o entre a luz e as trevas. Deus é o Criador, infinitam ente sábio, verdadeiro, justo, santo e poderoso. O contrário de tudo isso c o dem ônio, o anjo prevaricador, criatura rebelde e em pederni­ da, astuto, m entiroso e hispócrita, alem de toda im aginação, inim igo im placavel de Deus e dos hom ens. É evidente que tudo o que faz, deve espelhar a origem, a perversidade c in ­ capacidade diabólica. Pelos frutos se conhece a árvore. Vale dizer que o fruto traz a m arca de seu prin­ cípio causal. Quem estudar os prpeessos e os resultados do espiritism o, não terá nenhum a dúvida quanto ao princípio causal dos fe n ô ­ m enos reais, que por ventura se apurem em toda a feitiçaria moderna. Os processos: m entira, em buste, perfídia, astúcia, ação nas

— 234 — trevas. Resultados: loucura, nervosism o, obcecação, ódio contra a Igreja Católica. Tudo isso denuncia um autor m oral crue há-de ser o m esm o au tor físico dos fenôm enos espi­ ritas. Alem disso, as obras do dem ônio trazem outras marcas que servem para identificar, sem receio de errar, o autor fisico dos fen ô­ m enos. Citemos alguns sinais da ação dia­ bólica. 1.° Prodígios e não m ilagres. Como é sabi­ do, só D eus pode operar verdadeiros m ila­ gres: m as esse poder, exclusivo da D ivinda­ de, D eus costum a delegá-lo a seus hum ildes servidores; nunca, porem , a seus inim igos. O d em ônio bem o sabe, e consola-se de sua im ­ p otência. im itando os m ilagres com tal prodi­ giosa habilidade que chega a enganar os pro­ fanos. Mas os “prod ígios” diabólicos não p as­ sam de sim ples contrafacções dos m ilagres divinos, c, se nos causam adm iração, é por ignorarm os as forças escondidas da natureza e a dos próprios anjos decaidos, — força do Mundo Invisivel. Como distinguir o m ilagre divino do prodígio diabólico? P ela causa instrum ental, nelo processo e pela cstensão da força expendida. A causa in stru m en tal do m ilagre é, em geral, pessoa de costum es puros. É um Santo, conform e o termo consagrado pelo . uso. A causa instrum ental dos prodígios, — e tais são os m édiuns, no caso vertente, — pode ser um velhaco qualquer, ou qualquer indivíduo de m aus costum es. Os próprios autores espiritas.

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— Kard.ec, R ichet, F lam m arion, Im bassahij e outros. — confessam que os m édiuns, na im ­ possibilidade de produzirem verdadeiros fe ­ nôm enos. lançam m ão da fraud e: são trapacpiros. pois. E, conform e disse Im bassahij, não raro são rivais uns dos outros. Injuriamse. São cium entos. (199). O processo do milamre é sim nles: haven ­ do necessidade. — m anifestação do poder di­ vino. glorificação do nom e de D eus, prova da origem de um a m issão celeste, — o Santo invoca o nom e de D eus, e faz o m ilagre em nom e de D eus. Nunca em seu próprio nom e. Tam pouco procura as trevas. Nem am biente sim pático. N em circulo de ooucas pessoas. 0 Santo não alardeia poder. Muitas vezes, nem dá pelo milagre. S. João Bosco, conform e nos contou o Pe. João Scotti, de Itam on te, distri­ buiu uma cesta de avelãs, — (um as vinte ave­ lãs), a trezentos alunos, dando um a avelã a cada um. O Santo fez um a m ultiplicação de frutas e nem percebeu o m ilagre. F oi o Pe. João Scotti, então aluno,quem cham ou a aten­ ção ao fato. Nada disso se verifica nos prodígios. Pri­ meiro, o m édiu m não atribue o “ fato” a Deus; não opera “ em n om e” de D eus; evita a luz. Seja ou não praticado no espiritism o, o prodigio diabólico é sem pre espetaculoso. O “in s­ trum ento” prepara o terreno. Chama a aten-

— 236 — rim entais de “prod ígios”, — com o fez Simão Mago e com o fazem os m édiu ns atuais. E stensão da força. O poder do dem ônio é lim itado. Deus, — criador das forças, — po­ de suprim ir a força natural, pode suspendêla. Pode criar forças novas e contrárias. Deus só não po d e fazer o que é “contraditório” : um circulo quadrado, por exem plo. Quanto ao dem ônio, este só pode servir-se das forças naturais existentes. E assim, o “p rodígio” nun­ ca atingirá a estensão de um m ilagre: o de­ m ônio não poderá nunca ressuscitar um m or­ to, nem fazer que o fogo não queim e. O dem ônio pode “ transform ar”, m as não pode “ transsubslanciar”. Pode, por ex., trans­ fo rm a r uma estátua de Júpiter em estátua de Venus, m as não pode “m udar" uma está­ tua de m adeira em estátua de pedra. Não po­ de “m udar” água em vinho, com o fez Cristo em Caná. L eiam os o texto sagrado: “ A arão , pe g an d o n a v a ra , e s te n d e u a m ão e fe­ r iu o pó d a te rr a , e os m o sq u ito s c a ira n i s o b re os h o­ m ens e so b re os a n im a is ; to d o o p ó d a t e r r a se co n ­ v e rte u c m m o sq u ito s p o r to d a a te n -a d o E g ito . E os m agos fize ram s e m e lb a n te m e n te com se u s e n c a n ­ ta m e n to s p a ra p ro d u z ir m o sq u ito s, e n ão p u d e ra m . . . E n tã o os m agos d isse ra m a F a r a ó : O d ed o d e D eus e s tá a q u i”, (ftxodo, 8 :1 G -1 9 ). ( 2 0 0 ).

Vê-se, pois, que os magos, agentes do de­ mônio, puderam im itar as duas prim eiras pragas, m as não puderam im itar as outras, (200) A tradução do João de Alm eida tra z “piolho”, em vez de “m osquito”.



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embora o tentassem. Isto prova que o poder do dem ônio é lim itado. 2.° - A ação divina é m arcada pelo carater de seriedade e de sobriedade. “Não ten­ tarás ao Senhor teu D eu s.” Por isso, o m ila­ gre é raríssim o. Deus só o faz quando há uti­ lidade “ real”, c para ensino dos homens. E isto, quando não é m ais possivel o recurso às forças naturais. Dai, este outro característico da ação dia­ bólica : Quanto m ais insensato e, ao m esm o tem ­ po, ridículo é o fenôm en o, tanto m ais é cer­ tam en te diabólico. Nesta categoria devem entrar os inúm e­ ros fenôm enos espiritas, que não tem motivo razoavcl dc se produzir, e que só servem para entreter curiosidades m alsãs, com o acontece com as m esas girantes, os raps, as m ateriali­ zações. 3.° - llogism o e im oralidades. As ações di­ vinas tem, entre si, uma ligação consequente. A sã razão e o respeito da ética presidem à sua realização. Deus é a sum a verdade, digni­ dade e santidade. O dem ônio é m entiroso, iló ­ gico, indigno e im oral. Tudo o que vem de Deus ou do dem ônio deve trazer os caracte­ rísticos de um e de outro. Ora, o espiritism o é um am ontoado de contradições e im oralidades. Se, pois, de se­ m elhante prática, nascem fenôm enos trans­ cendentais, estes só podem ser produzidos p e­ lo demônio. 4.® - A instan tan eidade é um carater da ação divina. Exceto os casos em que Deus

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deixou a ação secundária ao encargo das cau­ sas segundas, — geração, fecundação, frutifi­ cação, evolução, etc., — sem pre que Deus in­ tervem na natureza visivel, é instantanea­ m ente. As m aterializações angélicas são realiza­ das sem perda de tempo. O anjo aparece a Maria e, em seguida, desaparece, suavem en­ te, como se isso lhe fosse natural. A ação do dem ônio, ao contrário, é, qua­ se sem pre, sujeita a condições em baraçosas, com o vem os a cada passo. As m aterializações, obtidas pelo espiritism o produzem -se, fre­ quentes vezes, gradativa, e tão lentam ente, que Delaune cita um caso em que um homem não pode reconhecer a figura do espírito, da­ do com o de sua esposa, senão após a sessão quadragésim a terceira. B racket, de seu lado, refere ter visto, nu­ ma sessão, um m oço alto que se dizia irmão de uma dama presente. T endo-lhe esta ob­ servado: “ Como poderia eu reconhecê-lo, se só o conheci com o criança?”, a figura dim i­ nuiu logo paulatinam ente de talhe, até tor­ nar-se o rapazito conhecido antigam ente por essa dama. Dir-se-ia que o dem ônio, para reconhe­ cer a sua inferioridade, só tem o poder de se m anifestar gradativam ente e com o por saltos. Só assim se explicam as im precisas m anifes­ tações do Perverso. 5.° - A arma predileta do dem ônio é a m entira, o engano, o disfarce. Apresenta-se com o anjo da luz e, o que apresenta, reveste-o com a aparência de verdade, de beneficência,

— 239 — de caridade, de consolo e até de ternura. Atrai, sobretudo, por m eio daquilo que lison jeia os sentidos. Só assim consegue prender os h o­ m ens, firm á-los no seu serviço e arrastá-los, enfim , para o abism o. E screve S. P a u lo : “ Os se u s fals o s a p ó sto lo s são o p e rá rio s e n g a n a ­ d o re s, que se tr a n s fig u r a m em a p ó sto lo s de C risto . O q u e n ã o é de a m ir a r : p o is o p ró p rio S a ta n a z s e tr a n s ­ f ig u r a em a n jo de lu z . P o r ta n to , n ão é g r a n d e m a ra ­ v ilh a se os se u s m in istro s se tra n s fig u r e m com o m i­ n is tro s d a c a rid a d e ( ju s tiç a ) . O fim d e les s e rá co n ­ f o rm e a s su a s o b r a s " . ( 2 0 1 ).

Usando de sua arm a predileta, o dem ô­ nio “su bstitue” a Deus a cada passo, e faz-se passar por ageute diviuo. Im ita, grosseiram en­ te, as obras divinas, o que fez a Santo A gosti­ nho cham ar-lhe o m acaco d e D eus: sim ius D ei. Para enganar, tenta im itar a D eus, tauto na ordem fisica, com o na ordem espiritual; na ordem física, fazendo prodígios; na ordem espiritual, “in ventand o” os seus “san tos.” E assim, trabalha por contrafazer as obras divi­ nas, não só as externas, com o os próprios dons internos e extraordinários. Quer ser um deus às avessas, a antítese de Cristo. D o m es­ mo m odo que D eus tem os seus estigm atiza­ dos e extáticos, Satanaz procura ter os seus, aos quais com unica dons perm anentes, e tão estupendos, que viriam a ser tidos com o de (201) “ Nam ejus pBeutlo-npoHtoll sunt opcrnrll NubiloII, tranHflKurantcs He In npoHtolOH ChrlKtl. Et non minimi Ipue cnim Sntnnnn triinHfigurnt He In nngelum InclH. Non out ergo magnum nl mlnlntrl ejaii trnnHflgnrentur velut mlnlHtrl JUHtltlnc: quorum flnl» erlt »eeundum opern Ipnorum. (II aos C orlnttos, 11-14).

— 240 — Deus se, por fim , não acabassem sem pre por denunciar a sua origem. É o que se verificou no exem p lo seguinte: E m m e lad o s do sé cu lo X V I fala v a-se , n a E sp a ­ n h a , q u a se só d a v id a , d a s a u s te r ld a d e s , rev e laç õ es, ê x tase s o m ila g re s de u m a r e lig io s a c la rissa , c h a m a ­ d a M a d ale n a d a C ruz. P rín c ip e s, re is , b isp o s a co n su l­ ta v a m sob ro o s negó cio s do se u s e sta d o s e d e su a s dioceBes. R e v e la v a -lh e s se g re d o s, a p a r e n te m e n te im p e n e ­ tr á v e is , d e sc o b ria -lh e s a c o n te c im e n to s d is ta n te s , e p re d is se que F ra n c is c o I e n tre g a r ia su a e sp a d a a P a v la , e R o m a s e ria p ilh a d a p e lo s Im p e ria is. S u a s p re ­ diç ões e ra m a c o m p a n h a d a s de p ro d íg io s q u e p ro v o ca ­ vam a d m ira ç ã o , sem , to d a v ia , e sc la re c e re m a s a lm as, nem fo rta le c e re m o s c o ra çõ e s. A m u ltid ã o , se d u zid a , não se c a n sa v a d e m a n lf e s ta r -lb e , d e to d o s o s m eios, a su a v e n e ra ç ã o . N os d ia s de gT andes f e sta s, c a ia a f re ir a em ê x ta ­ se e e lev a v a-se f re q u e n te m e n te d o is o u tr e s pés acim a do clião. Q uan do la ii c ap e la p a ra c o m u n g a r, a n te s de a p ro x im a r-s e da s a n ta m e sa, m o stra v a , tr iu n f a n te , no s lá b io s, a h ó stia , q u e a m ão de u m a n jo , — d iz ia ela, — h a v ia tir a d o do s a c e rd o te p a ra tra z e r-lh a . T a is e ra m a s m a ra v ilh a s q u e eco av am e n tã o n a E s p a n h a e a lem . P a ssa ra m -se m u ito s a n o s se m q u e M a d a le n a s e d e sm e n tisse . U m sa n to relig io so , p e rc e ­ ben d o n e la, um d ia , u m fu n d o d e a m o r p ró p rio , p o u ­ co c o m p a tív e l com a s a n tid a d e a p a r e n te , a p e r to u - a com p e rg u n ta s . T o ca d a p e la s e x o rta çõ e s, la n ço u -se e la aos p é s d e sse re lig io so o, d e sfiv ela n d o a m á sc a ra d a h i­ po c risia, confe sso u , p a ra c o n ste rn a ç ã o g e ra l, q u e, por s u a s a s tú c ia s sa c ríle g a s & c o n iv ô n cias com o d em ô n io , tin h a in d ig n a m e n te ilu d id o a c o n fia n ç a de to d o s os q ue se a p ro x im a v a m d ela.

— 241 — P r e s ta ra -s e , v o lu n ta r ia m e n te , à s se d u çõ e s do e s­ p irito d a m e n tir a . C ria n ça a in d a , tin h a a c e ita d o , com d isc e rn im e n to b a s ta n te , a s fa ls a s v isõ es, a s a le g r ia s se n sív e is que lh e p ro p o rc io n a ra . M ocinha, tin h a a s s i­ n a d o um p a cto odioso, e e n tre g a r a co rp o e a lm a a Satana(z, a -fim -d e o b te r d ele rev e laç õ es , o d om de p r o ­ dígios, e a fo rç a d e e x e c u ta r m a c e ra çõ e s p a v o ro sa s. E m c o n seq u ê n cia d e s u a s co n fissõ es, q u e fize ram e s tr e m e c e r to d a E sp a n h a , d iz um h is to ria d o r , M ada­ le n a foi c o n d u zid a p a ra f o ra d a c id ad e e, lo n g e do con v en to que tin h a d e sh o n ra d o , aca b o u os d ia s n a p e­ n itê n c ia . ( 2 0 2 ).

B - AÇÃO DIABÓLICA ATRAVÉS DOS TEMPOS. — RELAÇÃO DO ESPIRITIS­ MO COM A NECROMÂNCIA E A MAGIA. Como dem onstram os, as almas dos m or­ tos nada tem que ver com a fenom enologia espirítica, nem com as m ensagens, nem eom as sessões. Se, pois, algo existir de real nos fen ô­ m enos ou nas com unicações, isso se há-de atribuir ao espirito mau e não às alm as. Ora, o com ércio com as alm as do outro mundo, antes do espiritism o m oderno, cham ava-se necrom ân cia; e o com ércio com os espíritos, magia. Por isso, com o o agente preterualural que aparece na necrom ância é o m esm o que aparece na m agia, vem o-nos na necessidade de identificar n ecrom ân cia e m agia, — os dois sistem as de com ércio com o outro mundo, que precederam o espiritism o. A necrom ância pode reivindicar origens (202) HistOrla dc Santa T eresa de Jesfis — Bolnndlatns, 1285, PB. 145.

— 242 — antiquíssim as. 0 povo da B abilônia cria em espíritos que davam golpes. Os historiadores e filósofos, — H eródoto (484 antes de Cristo), Sócrates, Platão, A ristóteles e outros, — fa ­ lam de com unicações com as almas dos de­ funtos. (203) No cabo Tênaro, C alondas evocou a alma de A rquilau, que ele assassinara (204). Entre os rom anos, H orácio alude à evocação das al­ mas. (205) C icero afirm a que seu amigo Á pio prati­ cava a necrom ància (206) e que V atínio cha­ m ava as alm as do m undo inferior. O m esm o se diz de Druso (207), de N ero (208) e de C aracala; S exto P om peu consultou o m á­ gico E ricto, da Tessália, pará saber, dos m or­ tos, o resultado da lula entre seu pai e Cesar. (209). A Bíblia várias vezes m enciona a necrom ância, proibin do o seu uso, e censurando aqueles que a ela recorrem. Os espíritos dos mortos, — pithon es, na Vulgala, — eram consultados em ordem a predizerem o futuro, (210) e davam respos­ tas por m eio de certas pessoas den tro das quais residiam (211), justam ente com o acon­ tece no espiritism o moderno. Nos prim eiros séculos da era cristã, a pai(203) POODT — L on FenAmcno» Mlatcrloiioa dei P hI“ (201) PLUTARCO — “ De ser» Nnmini» v ln d le ín ”, 17. (205) Q. FL. IIORÀCIO — SAtlrnis — I, 8. 25. (206) CÍCERO — T uhcuI. — quaest. I, 10. (207) TÁCITO — Annl* — II, 28. (208) SUETONIO, 24, e PLÍNIO SÊNIOR — IIlstA rln Nnt„ 30, 5. (209) DION CASSIO, 77, 15. LUCANO, FiimAUn, 6. (210) D enteronOm lo, 18:10 e I UelH, 28:8. (211) LEV1TICO, 20:27 e I Rela, 28:7.

— 243 — xão do m aravilhoso existia em todos os m eios sociais. Apareceram seitas de ilum inados que pretendiam com unicar-se com os mortos. Da m esm a form a que nos antigos m istérios de E leusis, tambem aqui a luxúria e a impudicícia se entrem earam com as práticas evocadoras dos espíritos. Os ginosofistas da índia, quase nus, entregavam -se à contem plação das belezas da natureza, realizando a evocação das alm as por m eio de m esas falan tes. Tertuliano, século II, descreve cenas da m agia de seu tempo, em termos tais, que bem lem bram o espiritism o atual. Fala de fan tas­ m as (ou m aterializações), fala da evocação dos defuntos; fala do h ipn otism o ou transe, isto é, sono provocado; fala da interven ção do dem ôn io na adivinhação pelas m esas falan ­ tes: ph anlasm ata e d a n t ... defun ctoru m infam an t a n im a s ...; som nia im m ittu n t. . . ; m ensae (per daem on es) devinare consuerunt. (212). A bruxaria subjuga o m undo durante a Idade-M édia, até o século XVIII. N essas epi­ dem ias de feitiçaria de salões, os maus espí­ ritos desem penham o papel principal. No sé­ culo XVIII, os m aus espíritos encarnavam -se nos tremedores ou convulsivos de C evennes, e inspiravam as penitentes do cem itério de |5. M edardo. (213) . Se a necrom ância mascara todos os espí­ ritos do outro mundo com o nom e de almas dos mortos, o m esm o não sucede a respeito da m agia. O com ércio desta é com os espíri(212) TERTULIANO — A pologctlcum . c. X III. (213) Dr. POODT — Lo» Fenôm enos, pg. 250.

— 244 — tos invisíveis, — bons ou m aus, quaisquer que sejam ; nunca diz que evoca alm as dos m or­ tos, m as sim espíritos independentes. É, a bem dizer, a religião de Satanaz, por antítese da Religião D ivina. Os seus sacerdotes são os m agos ou feiticeiros. Já M axw ell definiu a m agia com o sendo a sujeição da vontade a seres sobren aturais (214) Os filósofos de A lexandria admitiram duas espécies de m agia: G oelia e Teurgia. (215). Goetia é a m agia m alfeitora, cujos efei­ tos são atribuídos aos dem ônios. Teurgia, a m agia benfeitora, cujos efeitos se atribuem a gênios bons, am igos dos hom ens. A goetia era praticada, sobretudo, de noite, e por isso é ho­ je conhecida com o nome de Magia Negra. A teurgia, em oposição a esla, é cham ada Magia Branca. A distinção entre espíritos bons e maus, na m agia, é apenas teórica. Porque, m esm o os espiritos m aus podem fa ze r um benefício atual, com vista a um m al rem oto, mediato e real. Usando desta tática, os espiritos até revelam inteligência, com o o fazem os ho­ m ens perversos neste mundo. O benefício é, apenas, um engodo, — isca para apanhar in­ cautos. * É dificil julgar da autenticidade de todos os docum entos existentes sobre magia e ne(211) MAXWELL — Mngle, PB. 3. (215) G oetia. gr. e oete la, vem (lo gr. g o í» (-éton) que signific a feiticeiro, — T eu rg ia quer dizer nçfio divina, theoM, deus, e ergon, trab alho .



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cromância. Mais dificil ainda pronunciar-nos acerca da realidade de tantas aparições de alm as do outro m undo, e de intervenções vi­ síveis de demônio. Na m cgia e na necrom ância há uma co­ mo fam iliaridade entre este m undo c o ou­ tro. Os magos tem o espiritual sob o seu poder. Ninguém , de bom senso, acreditará nessa vizinhança dos dois mundos, e, m uito menos, na facilid ade com que os espíritos acodem ao cham ado dos homens. Todavia, algum as aparições de alm as pa­ recem inegáveis. Aparições há espontâneas e reais. A própria Escritura refere o caso da evocação da alm a de Sam uel, pela pitonisa de Endor. Na vida dos santos da Igreja referem -se aparições de alm as e de dem ônios. Muito co­ n hecido é o caso que sucedeu a Santo Tom az. E le e seu amigo R eginaldo haviam com binado que o primeiro que morresse viria dar ao ou­ tro inform ações sobre o m undo espiritual. Morto R eginaldo, este apareceu a Santo T o­ m az e entreteve com ele, em cum prim ento do com prom isso passado, uma rápida palestra so­ bre o Céu. Ainda m ais. De tempos a tempos, há co­ m unicações telepáticas, de natureza pouco de­ fin id a, com uns entre um m oribundo e seus am igos e parentes próxim os. É ainda de nos­ sos dias o que aconteceu com M onsenhor Lanyi, que tinha sido professor do Arquiduque da Áustria, assassinado em Serajevo, em 1913. Na manhã da tragédia, Mons. L an yi viu, em

— 246 — sonho, todo o desenrolar dos acontecim entos e, ainda em sonho, recebeu um a carta em que D. F ernando, o príncipe assassinado, lhe co­ m unicava os fatos lam entáveis. A carta era deste teor: “ E m in ê n c ia , eu v o s a n u n cio q u e aca b o d e se r, com m in h a m u lh e r, em C e raje v o , v ítim a de u m c rlm o p olítico. “ N ós n os re c o m en d a m o s à s v o ssa s p rec es. S e ra je vo, 23 de ju lh o d e 1914 , à s 4 h o r a s d a m a n h ã ” . ( 2 1 6 ).

EM CONCLUSÃO. — Adm itim os que as alm as se m anisfestam algum as vezes: espontâneam ente, porém , e só por m otivos que uni­ cam ente Deus conhece. E adm itim os tambem a introm issão do dem ônio, neste m undo, através dos tempos. Não. porem , uma introm issão constante e visivel. O pretendido com ércio ou fam iliaridade que alguns hom ens do passado teriam tido com o dem ônio, nasceu, em parte, da crendi­ ce popular, e em parte, da esperteza e ambi­ ção de alguns velhacos, que sem pre os houve. É im oossivel que o D outor F austo histórico do M édio-Evo. e Paracelso, e N ostradam us, c Cagliostro, e esse fantástico H cinrich C o m e­ tia A gripa, de N ettesh eim , e outros, tenham tido tantos colóquios com o dem ônio quan­ tos lhes aprouve entreter. Mas o que adm itim os, à Juz da fé e da h is­ tória, é uma introm issão in v isív el perm anen(11*) niC U E T — “ T.’A v«i!r ei ln Prém o n itlo n ". c ita ­ do por Tmbassahy, pg. 491. O* jo rn ais da época m uito fa­ laram do caso.

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te, de todos os instantes, e um a introm issão visivel, esporádica, uma vez que outra. Quanto à introm issão in visível, isso é fa ­ to incontroverso. As Sagradas Escrituras dão testem unho da guerra sem trégua que o de­ m ônio faz aos homens. B asta ler S. Pedro p a­ ra se ter disto uma prova irrefragavel: " Ir m ã o s . Sedo só b rio s © e s ta i v ig ila n te s , p o rq u e o (lcm ô nio, vosso In im ig o , v o s a sse d ia , à m a n e ir a de le ão fu rio so . A e le d ev eis r e s is tir , fo rta le c id o s p e­ la f é ”. ( I P e tr . 5 :8 ) .

A introm issão visivel, dissem os nós, é esporádica. É rara, m as existe. À luz da fé, ninguém duvidará do seguinte: Que o dem ônio, servindo-se da serpente, apareceu visivelm ente a Adão e Eva no P a­ raíso. e mudou o curso da História da H um a­ nidade. Assim, a serpente fo i o prim eiro m é ­ dium que existiu no m u n do; (217) Que o dem ônio, introm etendo-se na scoisas hum anas, foi o causador de toda a tra­ gédia do Santo Jó: m atou-lhe os filhos, pérdeu-Ihe a fortuna, corrom peu-lhe a saude; (Jó, 1:6 e 12). Que os m agos do Egito, por arte diabólilica. puderam im itar alguns m ilagres de Aarão, não todos: assim , p o r encantam ento, fizeram as águas do N ilo tornarem -se de san­ gue e, logo depois, fizeram aparecer um gran­ de num ero de rãs que cobriram a terra. (218) (217) A expressíio 6 do Pe. DUHAULT — Trnltó deH Démonn — na Introduqilo. Olisnrveinns que íi Btblla nflo fala, expressam ente. que a serp en te 6 o demônio ou que este se se rv ira da serpente. Mas todos os expositores, nnllrros r modernos, nsslm o entenderam . (21S) Êxodo: 7:22 e 8:7.



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Que o diabo tentou apoderar-se do cor­ po de Moisés (S. Judas, 1:9-10); Que um espírito, vindo do Senhor, per­ turbou a m ente de S aul; (1. Rcg. 19:9); Que a ação do dem ônio A sm odeu, do livro de T obias (3:8), m atando os sete primeiros m aridos de Sara, foi uma ação visiuel e ne­ fasta. A sm odeu é, ao que parece, o m esm o de­ m ônio A baddon, ou Destruidor, do Apoca­ lipse, 9:11. Que, no tempo de Cristo, sobretudo na Galiléa, eram frequentes os casos de posses­ são. A ação do dem ônio era visivcl nos efei­ tos físicos. As vítim as, m uitas vezes, eram pri­ vadas da vista e da fala (S. Mateus, 12:14) ou só da vista (Mat., 9:32 e Luc., 11:14); outras' vezes, horrivelm ente atorm entadas: (Marcos, 9:17-21). E ssas pessessões, na m aioria, não podem ser confundidas com “ doenças n ervosas”, pois, não raro, o possesso ostenta força sobre-hu­ m ana, com o no caso referido por S. Marcos, 5:2-4. Algum as vezes, o possesso é séde de m ui­ tos dem ônios (Mat., 12:43 e Marcos, 16:9) ou de m ilh ares, (Marcos, 5:9 e Lucas, 8:30), Ainda no caso das tentações de Cristo, a ação do dem ônio só pode ter sido “visive l e atu a l’’, com o disse E. Gigot. (219) Comparemsc entre si os textos dos Sinóticos: Mateus, 4:1-11 e Lucas, 4:1-13. Nos Atos dos Apóstolos, lauto na Pales­ tina com o, sobretudo, no mundo pagão, en(219) E. GTGOT — Cnthollc E nojclopcdln, New -York, s. voc. T em ptatlon of Chrlvt.

— 249 — contramos os representantes do dem ônio fa ­ zendo prodígios estupendos. Na ilha de Chi­ pre, S. Paulo encontrou o m ago E lim as ou B arjesu, que procurou em baraçar-lhe a pre­ gação. S. P aulo cham a-lhe pseuclo-profela c, para castigá-lo, pede a Deus que o torne cego usque ad tem pu s. (Atos, 13:4-12). E m F ilipos, na Macedônia, S. Paulo hou­ ve de expulsar o dem ônio do corpo de uma m oça que o seguia, im portunando-o c procla­ m ando, alto, a m issão divina de S. Paulo c seus com panheiros. Diz o texto sagrado que essa moça, em a qual habitava o espírito pitão, era para seus senhores uma verdadeira fon te de renda, por causa de suas adivinha­ ções. (Atos, 16:16-18). Saindo do cam po das Letras Divinas, en ­ contram os por toda a parte, na história dos povos, traços da ação visivel do demônio. S i m ão Mago, cuja história é iniciada nos Atos dos Apóstolos (8:9-29) .e com pletada p e­ la tradição (220), teria deslum brado Rom a com seus prodigios estupendos, o últim o dos q uais foi o fenôm eno de levitação. Junto ao Forum , na Via Sacra, foi erigida aos apósto­ los uma igreja, no m esm o local em que se esborrachou o corpo de Simão, quando p re­ tendia voar ao Céu. Claro é que, se algum fe ­ nôm eno foi real na vida de Sim ão Mago, o autor só pode ter sido o dem ônio. Ainda no prim eiro século de nossa era, o pitagórico A polônio de Tiana, segundo nar(220) S. JUSTINO — Prim . Apologl-tic-n, 26. Tam bem nas Pseudo-C lem entinas e nos A tos de S. Pedro, ap ó cri­ fos.

— 250 — ram, aterrorizara o m undo pagão com sua vi­ da de prodígios os m ais assom brosos. E xpli­ cam o-los pela ação diabólica. (221). N esse tempo, ao dizer de T ertuliano, o dem ônio dava oráculos, e falava pela boca das estátuas dos deuses: " Q u a n d o o p ossesso é le v ad o a o s trib u n a is , o m a u e sp irito , in tim a d o p e lo s s e g u id o re s d e C risto , co n fe s­ s a q u e é um d e m ô n io ; e é e sse m esm o e s p ir ito que, h o ra s a n te s , h a v ia d e c la ra d o q u e e le é u m d e u s. A se ­ g u n d a c o n fissão é q u e r e p r e s e n ta a v e rd a d e , Isto é, q u e e le é d e m ô n io ” . ( 2 2 2 ).

Santo Agostinho, na C idade de Deus, ex­ planando o texto da Escritura. — que todos os deuses das nações são dem ôn ios, — acha que m uitas vezes os dem ônios falaram pela boca dos ídolos, ou pelos oráculos das pito­ nisas. Alem dos casos históricos de possessão, a introm issão do dem ônio no m undo visivel, através dos séculos, é atestada pela vida dos Santos do Cristianismo. Tornaram -se célebres as aparições do de­ m ônio a Santo A ntão, no deserto. (223) - O dem ô n io a p a r e c e u u m d ia a S. M a rtln h o d e T o u rs, n a f ig u r a de jo v e m fo rm o so , v e stid o de p ú r ­ p u r a e c o b erto d e p e d ra ria s fin a s , e lh e d isse : “ E u so u o te u a m ig o e se n h o r. R eco n h e ce q u e sou Je sú s-C rlsto em p e s s o a ”. O sa n to re f le tiu u m p o u co e ,em se g u id a, o b je to u : " J e s ú s p ro m e te u q u e v o lta r ia a e ste m u n d o so b ra ç a d o com s u a c ru z . R e co n h e ce rei q u e é s Je sú s(221) FTT.OSTRATO _ Opera Oninln. Lolpzlg, 170B. (222) t e r t u l i a n o — Apoio*., tr.-d. Inglesa. pg. 23. (223) SANTO ANASTACIO — V ltn Snuctl A ntonll.

— 251 — C risto se m e a p a r e c e r e s com a c ru z à s c o stas, e o s te n ­ ta n d o n a s m ã o s e pé s os e s tig m a s d a p a ix ã o ” . A e sta s p a la v r a s o d e m ô n io d e sa p a re c e u , d e ix an d o a c ela do sa n to lm pO gnada de o d o r in to le rá v e l. ( 2 2 4 ).

N os nossos dias, S. João B atista V ianney, cura d’Ars, teve de desm ascarar o espírito das trevas, que ora se lhe m anifestava sob form as horrendas, ora.sob anarências encan­ tadoras. (225) O m esm o se lê na vida de S. G eraldo e de outros santos. Mas não foi só aos bons que o Malvado se mostrou visivelm ente. Tam bem a seus repre­ sentantes e instrum entos. No século XVI, L u tero feria lançado um tinteiro contra o dem ônio, um dia que este lhe apareceu visivelm ente, com o reclam ando o que era seu. M aspero, Len orm ant, W ard, R oberts e D oolittle descrevem os casos de possessão dia­ bólica, com m anifestações visiveis do dem ônio, não só entre os povos antigos, com o entre os pagãos atuais, — Chineses, Indús, Persas, etc. (226). Comuns, sobretudo, são as m anifestações dem oniacas nas regiões onde, ainda hoje, ha­ bitam povos grosseiros que não receberam os benefícios da R evelação D ivina. (224) V ila Snncti M nrtlnl, n a coWção r a t r e s L ntlnl, XX, 174. (225) A LFRED MONNIN — Vida do Cura d ’Ar» — passim. (226) MASPERO — H isto ire A ncienne dc» Peuple» dc 1’O rlent, pg. 41 — LENNORMANT — L» Single cher le» ChnMôen». — WARD — H isto ry of th e Hindoo», v. I, 2. — ROBERTS — O rlentnl Illn atrn tlo n » of th e Scriptures. — DOOLITTLE — Social L ife o f th e Chinese.

— 252 — N o referente à Africa, pode-se consultar W ilson (227) e W affelaert (228). Tam bém entre algum as tribus selvagens da Am érica, certas práticas denunciam , senão a presença visivel, pelo m enos a influência de Satanaz. E ’ o que está su ficientem ente docu­ m entado, quanto aos B ororos do Brasil, pelos m issionários Pe. D r. C arlette e Pe. A ntônio C olbacchini, salesianos. (229). E ntre os Bororos o bari é o hom em tem i­ do. Acreditam os selvagens que ele tem con­ tacto com o vciire (espirito m au, em geral) e com o búpe, que é um dem ônio particular. As relações entre o bari (feiticeiro) e o espírito m au tem algo que lembra o transe dos m é­ diuns espiritas: P a r a o p e ra r a s su a s c u ra s, o b a ç i c h a m a o seu v a ire em voz a lta e com g ra n d e s g rito s p ro lo n g ad o s. Q uando diz que o e s p ir ito já. o o u v iu e q u e j á vem vin d o , e n tr a em m o v im en to s c o n v u lsiv o s do corp o, a c o m p a n h a d o s d e tr e m o re s im p re ssio n a n te s: a rq u e ia o c orpo p a ra tr á s , e rg u e os b raç o s, b e rr a , u r ra , e scu ­ m a p e la b o c a . . . E ’ u m a c en a h o rriv e l, a sq u e ro sa ! P a re c e um v e rd a d e ir o p o sse sso ”. ( 2 3 0 ).

PORTANTO, a AÇÃO do DEMÔNIO, — invisível quase sem pre, — VISIVEL às vezes, é m anifesta em toda p arte e em todos os tem pos. (227) WILSON — W enleni Afrlcn, pg. 217. (22S) W A FFELA ERT. in U ictlonnlre A pologíU .m e «lo In F oi Cnthollqnc, sub voc. PosseNslon Dlnbol. (229) Pe. Dr. E. CARLETTE — IIcrtH« AntCntlcos — Ed. Vozes de Potrópolls, 1939. — Pe. ANTONIO COLBACCHINI — A Inz do C rnzelro do Snl, E scolas Saleslanas, S. Paulo, 1939. (230) Pe. A. COLBACCHINI — A Inz do Cruzeiro do Sul, pg. 27-31.



253 —

CONCLUSÃO. Da exposição rápida que fizem os ressal­ ta a relação do ESPIRITISMO MODERNO com a MAGIA e a N ecrom ância de todos os tem pos. A identidade entre a magia e o espiritis­ m o m oderno evidencia-se pelos processos e ritos usados por um e outro. E videncia-se tambcm pelos resultados, que são sem pre nefastos, tanto na magia co­ m o no espiritism o. Aliás, os próprios autores espiritas confessam que m agia e espiritism o é uma só coisa. Diz C arlos Im bassahy, o chefe m en tal dos espiritas brasileiros contem po­ râneos: ‘‘Os c h in ese s c onhec em a d iv isão de e sp írito s, em su p e rio re s e in te r io re s , e n ã o lh e s é e s tr a n h a a n o ­ ção do p e ris p írito . OS SE U S F E IT IC E IR O S E Q U IV A ­ L IA M E E Q U IV A LE M , — COMO EM TO DA A P A R ­ T E , — AOS NOSSOS M É D IU N S”. (2 3 1 ).

Portanto, o que se apura de real na m a­ gia tem por autor o m esm o autor do que se apura de real no espiritism o. APARIÇÕES DE ALMAS Segundo observam D u bray e outros, a Igreja não nega a realidade de algum as apa­ rições espontâneas das almas. Estas, por m is­ são de Deus, podem, às vezes, vir a este m un­ do, e até m anifestar aos vivos coisas desco(231) CARLOS IMBASSAHY — O Eifplrltlamo k lua doa Fato», pg. 223.



254 —

nliecidas. Mas a necromância, entendida co­ m o arte de evocar as almas dos mortos, é ti­ da, por todos os teólogos, com o prática dia­ bólica. Santo T om az e os dem ais teólogos são explícitos. D eclaram eles que os fatos reais de aparições de alm as, quando se em pregam ritos especiais evocativos, são devidos à in­ tervenção diabólica. Quem aparece não são al­ m as, m as dem ôn ios. (232) T ertuliano, século U, é categórico: “ Os c ris tã o s d evem a c a u te la r -s e c o n tra a s p r á ti­ c as n e c ro m â n tic a s, n a s q u a is os d e m ô n io s sc a p re s e n ­ ta m c om o se n d o a s a lm a s d o s m o r to s ” . ( 2 3 3 ).

N ão negamos, pois, que haja casos reais de aparições espontâneas. Casos há, supostos reais, referidos nas A tas de S ta. P erpétua, nos escritos de S. C ipriano, nos D iálogos de S. fíregório e outros. (234) S. P edro de A lcân ­ tara, depois de morto, apareceu a Santa T e­ resa, conform e ela m esm a relata. (235) T ais aparições, porem, são sem pre es­ pon tân eas. Não se trata de evocações. E San­ to A gostinho, que, com o nós, não adm ite co­ m unicações visiveis, diz que m esm o as apari­ ções espontâneas são excepcionais e raríssimas. (236) (232) SANTO TOMAZ — Sumnin T heologien, II-II, Qu. 95, a. II. (233) TERTULIANO — De Anlmn, 57, na coleção P a ­ troa L atinl, II, pp. 793. (231) Cf. LUCIEN ROURE — I.c Splrltlem e d ’no jo rtl'hitl e t d’h ier, pg. 119. (235) SANTA TERESA — A utoblogrnfln, c. 27. (236) SANTO AGOSTINHO — Dc enrn pro m o rtale gerendR, c. 26, ln col. P atro a L atlni, t. 60, pg. 600.



255 —

Quanto ao fam oso caso de Sam u el, cuja alm a foi evocada pela sibila de Endor (237), notem os: T en d o S aul c o n su lta d o o S e n h o r, n ão o b te v e r e s ­ p o s ta n e m p o r so n h o s n e m p o r p ro fe ta s. E n tã o , d e ses­ p e ra d o , foi a E n d o r , a u m a m u lh e r q u e “ tin h a o e sp í­ r ito a d iv in h a d o r ”, e p e d iu -lh e q u e c h a m a sse a a lm a de S a m uol. E s te nã o a p a re c e u a S a u l. Só a m u lh e r é . q u e viu o p ro fe ta , m a s S a u l, p e la d e scriç ão q u e a f e i­ tic e ira fez d a s ò m b r a q u e v ia , rec o n h ec eu tr a t a r - s e d a p e sso a de S a m u e l. E S a u l, m esm o se m v e r, d irig iu a p a la v r a a o “ in v is ív e l”, e o u v iu d ele a p ro fe c ia r e la ­ tiv a a s u a p ró p ria d e rr o ta e m o r te p ró x im a .

T al narrativa tem tido m uitas e diferen­ tes explicações. S. Jerôn im o e Teodoreto ju l­ gam a aparição falsa. Saul fo i enganado e a p rofecia teria sido feita por algum anjo, p a­ ra confusão do próprio Saul. S. B asílio, S. Gregário d e N issa (240) e T ertuliano atri­ buem a aparição ao dem ônio, o qual tomou a aparência de Sam uel e, com pelido por Deus, para castigo de Saul, fez a predição certa. Porem a m aioria dos escritores supõem real o fato. Assim Josefo, S. Justino, 'Orígenes, S anio A m brósio e outros. Nesse caso, en­ tão, D eus teria perm itido a aparição da alm a de Sam uel, com o faz crer o livro do E clesiás­ tico, 46:23. (cf. 1 Reg. 2 8 ,7 ...) .

(237) I RcIh, 28:7. (238) S. H IE R . — In Inalam, col P. L atln l, 24, 108. (239 In Ianlnm, P ad res G regos, 30, 497. (240) S. GREG. NISSENO — P a d res Gregos, 4G, 107.

— 256 — EM CONCLUSÃO: Aparições de alm as dos mortos, — p ro­ vocadas, — não existem . Aparições espontâneas, raras, podem darse. Mas, m esm o estas continuam no rol da­ queles casos de causalidade m al defin ida, a que aludim os no princípio do livro, pois, se­ gundo S anto T om az, ninguém terá certeza de que se trata de alm as dos m ortos: podem, conform e o caso, ser anjos bons, — e tais se­ riam as vozes de Santa Joana d’Are., — ou dem ônios, com o nos casos de infestações ou m alfeitorias. (241)

R azão teve, pois, Nosso Senhor JesúsCristo de, na única fórm ula de oração que com pôs, concitar-nos a que, cotidianam ente, p eçam os a Deus-Pai nos livre do Dem ônio, p ois a lula contra este há-de ser sem tréguas: s ed libera nos a Maio. N O TA — O P iulre-X o sso n ã o e s tá b em tr a d u z id o na6 lín g u a s m o d e rn a s. A tr a d u ç ã o le g itim a do la tim s e d lib e r a n o s a M aio deve s e r: M as liv ra i-n o s d o M au e nã o “ liv ra i-n o s do M n l” . Com e fe ito , em lib e r a n o s a M aio, e s ta ú ltim a p a la v r a é n b la tiv o d e M n lu s, o m a u , o p e rv e rso , e não d e M a lu in , o m a l, o c o n tra ­ te m p o . H o rb c r t T h u r s to n e screv e : “ D eve-se n o ta r q u e a o p in iã o g e ra lm e n te a c e ita s u s te n ta q u e a tra d u ç ã o da ú ltim a c lá u s u la deve s e r “ liv ra i-n o s do m a u (d eIlv cr u s f ro m tlic e v il o n o ) “ , tra d u ç ã o q u e ju s tific a o (241) 91, n. 3.

SANTO TOMAZ — Suma T heolcg., I P ars, qu.

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uso de " s e d ”, (m a s ) e c o n v e rte a s d u a s ú ltim a s c lá u ­ s u la s n u m a só $ m e sm a p e tiç ã o . ( 2 4 2 ). O o rig in a l g reg o é m a is c la ro do q u e a V u lg a ta la tin a . N ele te m o s o a d je tiv o p o n ó ro s, q u e, no caso, só podo s e r a d ju n to de possoa. P a r a sig n ific a r o m a l t e ­ ría m o s p o n e ría c não p o n é ro s. Os c ris tã o s do O rien te sã o fié is ao te x to p r im iti­ vo do P a d re-N o sso . A v e rsã o á ra b e te m c h a r r i r , — o fa z e d o r do m al, — p a la v ra a n tig a q u e, n a lin g u a a tu a l, só se a p lic a a o d e m ó n io . C lia r r ir é o a d je tiv o com q u e o A lcorão se m p re d e sig n a o diab o . N a lin g u a a ra m á lc a , a in d a h o je e m p re g a d a no r ito m a ro n ita o q u e e ra a lín g u a f a la d a p o r N. S. Je sú s-C risto , te m o s a p a la v r a b ic h o o n d e o la tim te m m a io . O ra, bic h o é a d je tiv o e s ig n ific a , p ro p ria m e n te , m a u ; c o rr e n te m e n te , p o rem , é o te rm o com q u e se d e sig n a o d e m ô n io . T a n to o á r a b e c h a r r i r com o o a ra m áioo biciio c o rresp o n d e m a o lie b rá ic o ral>, do ig u a l sig n ific aç ão .

N ão sabem os a razão por que as tradu­ ções m odernas do Padre-Nosso suprim iram o nom e do PERVERSO e, em lugar dele, p use­ ram uma palavra que indica o efeito da ten­ tação e não o a u tor dela. (242, a). Os prim eiros cristãos, ao reduzirem a siinbolo a últim a petição do Padre-N osso, (242) Re. H E H E E R T THURSTON, S. J. — C atkollc Kncyclopcdia, New -York, sub voce L ord’n p ray e r. (212-a) Com entando e sta c láusula, escreve C ornéllu a Lápide. (Mat. V i). - Sed libcrn nos n m aio: p rlnielranicuto da tentação, do que se falo u ; cm segundo lu g a r do dlnbo, artífic e da tentaç ão ; em terceiro lu g a r, do m al gcrul, que nos a tra i ao pecado., ou Impede a v irtu d e o a perfeição. Sobre o mesmo a ssunto escreve FIL.LION — Scd lib e r a ... lis ta s 'p a la v ra s são g eralm en te, e com razão, consideradas como um a petição d istin ta . ORIGINES. S. JOÃO CRISÓS­ TOMO etc. a s consideram como um a p a rte In teg ra n te do que procede; por Isso, traduzem o su b sta n tiv o m aio, como se e stiv e ra no m asculino o designasse o dcmOnlo, mas m uito m elhor ê traduzf-lo pelo n e u tro — o m al em g e ra l:

em pregaram tam bem o substantivo concreto e não o abstrato: P er signum crucis, de inim icis nostris, libera-nos, Deus nosler. P elo si­ nal da santa cruz, livra-nos, D eus, dos nossos INIMIGOS

SEGUNDA

PARTE

COMUNICAÇÕES OU MENSAGENS

COMUNICAÇÕES OU MENSAGENS Como vim os, os fenôm enos m etapsiquicos se dividem em dois grandes grupos: os objetivos, ou físicos, e os su bjetivos, ou p sí­ quicos. Entre estes últim os, ocupam o prim ei­ ro lugar as MENSAGENS do Alem . O E spi­ ritism o apresenta-se com o sendo uma m ensa­ gem enviada, pelos desencarnados aos h o­ m ens deste planeta. As m ensagens, ora são sim ples revelações de ordem individual, — conselhos, consolações, receitas terapêuticas, etc., — ora revestem o carater de um a gran­ de c nova R evelação R eligiosa, e contem en ­ sinam entos éticos e dogm áticos que consti­ tuem a R eligião E spirita. Vam os, pois, exam inar a natureza e o va­ lor dessas m ensagens, tanto as de carater pro­ fano com o as de carater religioso. Como, p o­ rem, tais m ensagens teriam sido feitas a pes­ soas históricas conhecidas, devem os dizer al­ go dos iniciadores do m ovim ento. D ai a tríplice divisão desta parte: 1) História do Espiritism o Moderno; 2) Mensagens de carater profano; 3) Mensagens de carater religioso.

CAPITULO I H istórico do E spiritism o M oderno. O Espiritism o data de 1847 e teve com e­ ço no sitio de H ydesville, perto da cidade de A rcádia, Condado de W ayne, Estado de Nova-Y orque, nos Estados-Unidos. Ai morava a fam ília do dr. João Fox, constituida dos m em ­ bros seguintes: Margarida Fox, esposa do dr. João, e as filhas Margarida ou Margaretta. cujo apelido fam iliar era Maggie, e Catarina, apelidada K atie; Maggie devia ter 16 anos, quando, inconcientem cnte, iniciou a conversa­ ção com os espíritos. Nascera em 1840. O casal Fox tinha dois filhos que m ora­ vam fora da casa paterna: David e Ana Leah (ou L ia), esta m ais velha do que Maggie 23 anos. Notem os ainda que os F ox eram protes­ tantes (243) e deviam ser de origem alemã, visto com o o nom e prim itivo da fam ília cra Voss (pronuncie fó s). Maggie e Katie F ox foram as iniciadoras da negregada superstição. Morava a fam ília F ox numa casa tida com o assombrada. De tempos im em oriais notava-se ai algo de anor(243) P ro te sta n te» , m etodlatas. segundo T an q u ery — T h to l. D ogm atlca.



263 —

mal que obrigava os moradores a m udar de residência. 0 últim o inquilino anterior à fa ­ m ília F ox fbra um tal W eekm an , o qual, em 1847, tendo várias vezes ouvido baterem à porta e não lendo descoberto quem fosse, re­ solvera deixar a casa. (244). Uma noite, estando as irmãs F ox pales­ trando, descuidadas, num cios aposentos da casa, ouvem ruidos estranhos na parede ou na porta, os m esm os ruidos que haviam ater­ rorizado o sr. W eekm an. Maggie, então, dan­ do pancadas com uma das m ãos, lem bra-se de convidar o ru ido a lhe dar reposta. O ruido, de-fato, responde. L ogo em seguida sobre­ vem a m ãe das duas m eninas, e, sabedora do que se passa, inicia uma conversação m edian­ te golpes com binados: “ Se és espírito, dá duas p ancadas.” Resposta afirm ativa, m ediante dois gol­ pes na parede. “Morreste de m orte violen ta?” D uas pancadas, isto é, sim . De pergunta em pergunta, as Fox vieram a saber que o espírito era a alma de C arlos R ayn, assassinado naquela casa em tempos idos e enterrado na dispensa. Brevem ente chegaram, de acordo com o espirito, a com bi­ nar um sistem a de abreviaturas que perm itia conversar m ais de-pressa. Avisada a polícia, esta prom oveu rigoro­ sa investigação em todos os côm odos da casa e não conseguiu descobrir os ossos do supos(244) ERNEST BERSOT, citado por Luclen R oure — Le Mervelllenx Splrlte, pg. 7.

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to Carlos Rayn, nem vestígio algum de crime com etido, donde se conclue que a história do assassinato era um a fábula. 0 espirito m en­ tira. Não obstante, as relações entre esse su ­ posto espirito e as irm ãs F ox continuaram . E tal fo i a intim idade estabelecida entre elas e ele que, quando a fam ília F ox transferiu residência para R ochester, o espírito houve por bem acom panhá-las. A elas veio juntarse então a irm ã m ais velha, Lia, casada com um sr. Fish, e esta, espírito prático e interes­ seiro, viu logo no espiritism o um a fonte de lucros. Foi Lia a prim eira que se lem brou de atribuir as pancadas das m esas aos diversos espíritos do outro m undo. (Gearon, 23-24) (245) 0 espiritism o, assim, assum ia a sua fe i­ ção definitiva. Após quatro m eses de residência em R o­ chester, os F ox vão para Nova-Yorque e o espiritism o em breve se dissem ina. Margarida casou-se com o Dr. Kane, ca­ tólico, explorador dos m ares árticos, e Cata­ rina com o sr. Jencken, protestante. Vem o-las assinar, respectivam ente, Margaretta F ox Kanc (Maggie) e Catherine F ox Jencken (Ka­ tie). Em junho de 1853, o navio W ashington leva a epidem ia de Nova-Yorque para Bremen, de onde ela invade a Alem anha e a Fran­ ça. (246). (245) PA TRICK J. GEARON — De S p lrltism ct Sn PntlU tc. pg. 23-24. (246) CD REU BEN DAVENPORT — T he D eath Blow to Spiritualism , pg. 89. — LUCTEN ROURE — I.c Mervcll-



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Entretanto, desde a sua origem , o espiri­ tism o suscitou duvidas quanto à intervenção dos espíritos. Já no com eço, os cientistas A gos­ tinh o Flint, Lee e Coventry, de B úfalo, que haviam exam inado a questão, declararam que as pancadas p o diam provir facilm en ­ te dos m ovim entos das articulaçções de Katic c Maggie. (247). Mas fo i só em setem bro de 1888, — qua­ renta anos depois do episódio de H ydesville, — fo i só então que Margarida, num a entre­ vista ao jornal N ew -Y ork H erald, se lembrou de declarar que, desde o princípio, ela e Katie haviam sido vitim as da esperteza da ir­ m ã m ais velha e da idiotice da mãe. Im ita­ vam pancadas com estalidos dos dedos. D e sua parte, Catarina confirm ou, logo depois, esta confissão de sua irmã. (248). Por fim , a 21 de outubro desse m esm o ano, 1888, Margarida apresentou-se na Aca­ dem ia de Música de Nova-Yorque e, “peran­ te um grande auditório, m anifestou o m éto­ do que tinha usado para produzir os estra­ nhos estalid os.” (249). T odavia, as m esm as irmãs Fox, um ano depois, retrataram publicam ente a confissão

— 266 — que haviam feito. Declararam que. atribuin­ do os fenôm enos espiritas a uma fraude in ­ tencional, haviam agido a pedido de pessoas hostis ao m ovim ento, e tinham sido bem pa­ gas para isso. (250). Margarida fo i m ais longe ainda: disse que altas personalidades católicas queriam encerrá-la num convento. De tais contradições das irm ãs Fox, o Pe. Thurston, jesuita, conclue o seguinte: 1.°) Margarida Fox Kane, com o todos os m édiuns, em pregou algum as vezes a fraude para produção das pancadas; 2.°) E ambas, Maggie e Katie, quando atribuiram tudo a uma fraude interessada e conciente, ainda m entiram , porquanto nem sem pre haviam em pregado fraude. Quer di­ zer: Nas sessões das irm ãs Fox, os espíritos um as vezes intervieram , outras não. Catarina Fox Jencken morreu em março de 1893, vítim a de excessos do álcool. E is co­ m o o jornal W ashington D a y ly S tar descreve os últim os m om entos de K atie: “ A c a sa n.o 456 O este d a R u a 57, N o v a-Y o rq u e, se e n c o n tr a a tu a lm e n te q u a se d e s e r ta . A p en a s um de se u s q u a rto s e s tá o c u p a d o ; h a b ita -o u m a m u lh e r q u e o rç a p elos se u s 60 a n o s : v e rd a d e ir a r u in a m e n ta l e físic a, e ssa m u lh e r vive d a c a rid a d e p ú b lic a e só tem a p e tite p a ra os lic o res In to x ic a n te s. O ro sto , em q u e se perc eb e m os tr a ç o s d a id a d e e d e u m a v id a de p ra zeres, m o s tra que essa m u lh e r fo i b e la u m d ia. “ E ’ a r u in a v iv a d e u m a m u lh e r q u e f re q u e n to u os p a lác io s e a s c o rte s. As fa c u ld a d e s d esse e sp irito . (250)

PA TRICK J. GEARON — opus c llatu m , pg. 26.

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c aído a g o ra n a im b e cilid a d e, fo ra m a d m ir a d a s e e s­ tu d a d a s pelos sá b io s d a A m é ric a e d a E u ro p a . O n o ­ m e dessa m u lh e r to rn o u -se a lte r n a tiv a m e n te c é le b re : c a n ta d o , r id ic u la riz a d o n u m a d ú z ia d e lín g u a s. E sse s lá b io s que, h o je , só a rtic u la m b a n a lid a d e s , p ro m u l­ g a ra m o u tr o r a a d o u tr in a d e u m a “re lig iã o n o v a " q u e c o n ta a in d a se u s a d e r e n te s e se u s a d m ir a d o r e s p o r d e ­ z e n a s de m il h a r e s ”. (7 d e m a rc o d e 1 8 9 3 ).

Margarida, que se casara com o sr. B elisha, tornou-se católica, recebeu o batism o e abjurou o espiritism o durante a vida de seu m arido. Mas, dez anos depois de enviuvar, voltou à prática da nova religião, c veio a fa ­ lecer em junho de 1892. em condições tão de­ ploráveis quanto as de sua irmã. Sobre sua morte, nada m ais eloquente do que o necroló­ gio de seu correligionário James Burns, p u ­ blicado no jornal espirita M édium an d D a ybreak: “ T em os a q u i d ebaix o d e n o ssa s v is ta s u m e s p e tá ­ culo d u p la m e n te su r p re e n d e n te : u m a m u lh e r q u e tr a n s m ite a o s o u tr o s m a n ife sta ç õ e s e s p ir itu a is e que, em si m e sm a , e s tá , sob o a sp ec to e s p ir itu a l, p e rd id a e e x tra v ia d a . J á n ão te m n e m sen so m o ral, n e m d o ­ m ín io so b re se u s p e n sa m e n to s, n e m d e sejo s. E m t$tls c irc u n stâ n c ia s, — sem fa la rm o s d a e m b ria g u e z , d a se n su a lid a d e , d a d e g e n e re sc ê n c ia m o ra l so b to d a s a s su a s fo rm a s, — s e rá de a d m ir a r q u e e ssa e sp écie d e co isa te n h a m u ltip lic a d o os e sc â n d a lo s e te n h a d e i­ xado, no d e cu rso de se u s 45 a n o s, u m m o n tã o d e I m u n d íc ie s? " (2 8 de a b ril d e 1 8 9 3 ) ( 2 5 1 ).

Maggie, com o r,ua irmã e com o seu pai, (251) LUCIEN ROURE — De Spfrltlam e d’onjord’hnl et d’hier, pg. 88-89 e PA TRICK J. GEARON — De Splrttlam ei 6a FalUlte, pg. 166-167.

— 268 — morreu vítim a dos excessos do álcool. O al­ coolism o, pois, foi o triste legado de um pai degenerado. Segundo Lucien Roure, o con­ vento cm que quiseram encerrar Margarida nada m ais era do que um asilo para m u lhe­ res alcoólicas, asilo que ela tom ava por um convento. (252). Mas o verdadeiro “Am érico V espucci” do Espiritism o, — aquele que codificou os ensinam entos religiosos transm itidos pelos espiritos cm diversos lugares, — é o francês A llan Kcirdec. Pode-se m esm o dizer que ele c o fundador do Espiritism o com o religião. Chamava-se L éon -H ippolyte-D en izart Rivail e nasceu em L yon, cm 1804. F oi educado na Suiça, na Escola de P estalozzi, em Yver­ dum. Da m esm a form a que todos os iniciad o­ res do espiritism o, tainbem ele se deixou in ­ fluenciar pelas idéias liberais, hauridas no pro­ testantismo. De 1835 a 1843 m anteve em Paris um curso gratuito de ciências naturais e astrono­ mia. Publicou, ao m esm o tempo, obras didá­ ticas sobre aritm ética e gram ática francesa. Em 1855, R ivail ouve falar das m esas girantes. E, em 1855 assiste, pela prim eira vez, a uma sessão espirita. Desde então, achandose m édium , dedica-se ao espiritism o, sob a direção de um espírito-guia cham ado Zéfiro, sucedido por um outro cham ado V erdade. Em abril de 1856, um a cesta (corbeille) (2í>3) LUCIEN ROURE — Le SpIrKI.ime d ’nnjorrt’hnl «Uhler. pp. 8"J.

— 269 — revelou a Leão H ipólilo R ivail a grande m is­ são que teria de cumprir. Acreditando no es­ pírito que falava por m eio da cesta, R ivail deixou-se consagrar Pon tífice da nova reli­ gião. D aí por diante, ajudado por m ais de dez m édiuns, recolhe os ensinam entos dos E s­ píritos Superiores e, em 1857, publica a pri­ m eira edição do L ivro dos E spíritos. E ntre­ m entes, R ivail passou a cham ar-se A llan K ardec; é que, instruído pelos espíritos, R i­ vail soube que havia vivido oulrora na p es­ soa de um velho p oeta celta cham ado Allan Kardec, poeta esse que, provavelm ente, nun­ ca existiu. (253) Ao Livro dos E spíritos seguiram -se ou­ tros, do mesm o gênero e estilo. Kardec faleceu ein 14 de m arço dc 1869, vítim a da ruptura de um aneurisma. Confor­ me revelações posteriores, o espírito de Kar­ dec se reencarnou. no Havre, em 1897. Mas, não obstante estar reencarnado, apareceu cm 1898 numa sessão regida pelo m édium Mine. Maia, e continuou a intervir em outras sessões, sem pre com o desencarnado. Para terminar, observem os que R ivail era m au pagador. Em 1840, m orando na casa n.° 35 da rua de Sèvres, de propriedade dos je ­ suítas, fôra obrigado a despejar o im ovel, por estar em atraso com os aluguéis; rnas, talvez por vingança, talvez por incúria, deixou o prédio em péssim o estado de conservação. (253) Tam bem PITAGOKAS, o in tro d u to r da m etem p­ sicose na E uropa, dizia que tin h a sido, em tem pos idos, um dos liorúls de H om ero — Euforbion. — M oderna­ mente, porem, ficou provado que esse herói nunca oxis-

— 270 — T endo por auxiliares, na confecção dos E nsinam entos dos Eppiritos, a F lam m arion e outros, R iv a il deu com o com unicação dos Espíritos as idéias científicas m ais em m oda nesse tem po: o evolucionism o de Darwin, a origem sim iesca do hom em , etc. Os espíritos, neste particular, cederam a palavra aos sábios ainda vivos. Outro colaborador valioso de Ri­ vail foi V ictorien S ardou. " E r a no m o m e n to d aa p r im e ira s e x p eriên c ia s de e sp iritism o em P a r is ; S a rd o u d e v o ra v a os liv ro s de filo so fia e de m e ta físic a , o c u p av a -se de a stro n o m ia , e s tu d a v a e p e rf ilh a v a a s te o ria s de J o ã o R e y n a u d . F o i no sa lã o d a sra . J a f e t q u e e le e n c o n tro u A llan K a rdec. O p ró p rio S a rd o u c o n fe sso u : “ Q u an d o , de com um aco rd o com A lla n K a rd c c , p ed im o s ao e s p ir ito p re se n ­ te d e te rm in a s s e a ba se do d o g m a e s p ir ita , fu i eu que, g u ia d o p o r m in h a s le itu r a s , re s ta b e le c i o s e n tid o d as re s p o s ta s m a l I n te r p r e ta d a s ou o b sc u ra s do e s p ir ito ; o a ssim , em trõ s se ssões, p u d e d ita r o c en á rio d a d o u ­ tr in a que A lla n C ardec, ao d ep o is, d e v ia d e sen v o lv eT ”. ( 2 5 4 ).

O sucesso dos livros de Kardec há-de ser atribuído, crem os nós, à clareza de seu estilo c à convicção com que escreve. O seu siste­ ma é de afirm ar, sim plesm ente. Allan Kardec fundara a R evu e S pirite, em cuja direção lhe sucedeu L eym arie. Aparceirando-se com o fam igerado Buguet, fo­ tógrafo de espíritos, Leym arie acabou sendo processado, com o trapaceiro, pelos tribunais francesses. (255). Num a das sessões rcaliza(254) 346, no ta 2.

LUCIEN ROURE — Le M erveilleux Spirite, pg.

das para fotografar espíritos, L aym arie fo to ­ grafou o espírito de Allan Kardec, e presen­ teou a viuva do Patriarca com essa im pressio­ nante fotografia. Viu-se, depois, pelo proces­ so judicial, que tudo era truque. (256).

Depois de Allan Kardec, m uito contribuiram para a sistem atização do espiritism o: Léon Denis, G abriel D elanne e C am ilo F lam ­ m arion, na França, O liver L odge e o rom an­ cista Conan D oyle, na Inglaterra. Todavia, a difusão do espiritism o, alto ou baixo, doutrinário ou experim ental, não con­ tou só cem o valor intelectual de seus funda­ dores. Os seus principais fatores de êxito tem sido: As pretensas curas dos m ales físicos, — terapêutica barata e facil, em confronto com a carestia dos rem édios alopáticos e das re­ ceitas m édicas, em geral; a exploração da sensibilidade hum ana, fazendo crer aos re­ centem ente viuvos ou orfãos que eles estão conversando com os parentes falecidos; a in­ sinceridade dos espiritas, os quais ocultam os intuitos do espiritism o c dizem, a princípio, que não é religião, mas apenas sistem a filo ­ sófico próprio para conciliar todos os crentes espiritualistas.

(25G) LUCIEN ROURE, Ibidem, pg. 51.

CAPÍTULO II MENSAGENS DE CARATER PROFANO. As com unicações dadas com o transm iti­ das pelos defuntos podem considerar-se quan­ to ao tempo, ao assunto, ao destinaiário, à causa eficiente. Referem -se, em geral, ao tempo presen­ te e ao passado. Quando, porem , se repor­ tam a acontecim entos futuros, tem o incsm o valor das “p rofecias” das cartom antes e dos astrólogos: são vagas, im precisas e com uns a toda classe de pessoas. Qualquer que seja o agente transm issor dessas m ensagens, temos que elas nunca pas­ sam de sim ples conjeturas, visto com o só Deus pode prever os futuros contingentes, co­ mo são os que dependem do ato livre da von­ tade hum ana. O próprio A llan K ardec, no L i­ vro dos M édiuns, confessa que os espíritos não podem revelar o futuro, “porque, se o hom em conhecesse o futuro, negligenciaria o presente.” (257). Em 1899, a senhorita P ieper fez aparecer o “esp irito” de M oisés que pre­ disse a Grande Guerra e profetizou que o dr. (257) L.UCIEN ROUBE, Ibid«iu, Pg. 222.



273 —

H odgson viveria bastanle para ver as hostili­ dades. A profecia de M oisés era um tanto in­ teressante: predizia com efeito que, nesse con­ flito, a Rússia e a França se aliariam contra a Inglaterra e a Am érica, ao passo que a A le­ m anha ficaria praticam en te neutra. (258). E são assim as outras profecias. Nada m ais fá ­ cil do que prever uma gu erra. . . Há tantas guerras todos os a n o s ! ... Quanto ao destinatário das m ensagens c ao assunto, m uito teríam os que dizer. Geral­ m ente, as m ensagens são de ordem in d ivi­ d ual: assuntos relativos a alguem da sessão, uma receita m édica, um as palavras de conso­ l o . . . Às vezes, algum a intriga ou calúnia e, não raro, algum a im o r a lid a d e ... De Irês fontes podem provir as m ensa­ gens: do em buste ou trapaça, do psiquism o dos presentes c de uma inteligência preterna­ tural. Para evidenciarm os o alegado, bastan­ te é que exam inem os as próprias m ensagens e, querendo julgá-las, não precisarem os lou­ var-nos cm autores católicos: espiritas e sim ­ p atizantes do espiritism o dir-nos-ão do valor da m aioria das com unicações.

I Antes de tudo, convem firm ar que a m aio­ ria das m ensagens são forjadas pela esperteza dos m édiu ns e diretores dos círculos. Esses es­ píritos vagabundos que aparecem, — um, o de (25S) liti-, pê:. S-l.

PATRICK J. GEAUON. l.e S p irltism c: Sn F n ll-

— 274 — um filho que vem consolar o pai ou a mãe, outro, o do m arido, que vem consolar a espo­ sa sobrevivente, — e outros, tudo isso não passa de uma com édia insossa e canalha. O m édiu m ou o seu dirigente agiu por vias traversas, tom ou inform ações clandestinas, “pes­ co u ” e, assim , chegou a conhecer os hábitos do falecido, e, habilm ente, consegue im itarlhe a voz, o sotaque, o estilo. O sr. Franscisco R eed, m édiu m norteamericano, revelou os truques usados na A m éri­ ca para a “p esca” de inform ações. D iz ele: "Em cada cidade, pelo mundo Inteiro, há alguns médiuns praticando estas diferentes fases de medlunidade, e, a-fim -de m anterem o favor de que gozam, é muito essencial que tenham , à mão, um bom deposito dessas informações; assim, cada m édium faz um “canhenho” e conserva-o para servir-se dele a qualquer hora que p re c is a r.. . Um médium está sempre alerta, e faz memornnduus da conversação dos assistentes. Tambem corre os diários, procurando noticias de fa­ lecimentos . . . e apanha boa parte de informações fa­ zendo inquirições indiretas. Alguns desses médiuns, sob pretexto de Indagar acerca de amigo que p artiu ou dasapareceu, visitarão o ofício de registos onde se conserva a nota de todos os que falecem ”. (259).

No Brasil os processos podem variar, m as a “ p esca” sem pre se faz. Os tais m édiuns curadores são sim plesm ente pessoas que en ­ tendem um pouco de h om eopatia, — m edi­ cina inócua, — e que se põem a receitar em (250) J. FRANCES RE E D — T ru th anil Foot* p e rta i­ n in g to Siilrltiinlliim, pg. 27-28. Cf. Pc. H E RE D IA — O E aplrltlwmo e o Bom Scnuo, pg. 120. a sagulnl.ee.

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275 —

nom e de grandes m édicos falecidos. O exquisito é que os m édicos do espaço são quase sem pre hom eopatas, m esm o que, quando vi­ vos, fossem inim igos da hom eopatia. Estran havel é tam bem que, a-m iude, os farm acêu­ ticos se veem obrigados a corrigir a receita de um M iguel C outo ou de um T orres H om em ... D epois de desencarnados, os grandes médicos esqueceram a arte de réceitar. . . II A segunda fon te das m ensagens há-de ser buscada na sub-conciência do m édiu m ; este, quando em transe, ou diz o que os assis­ tentes, sem o saberem, lh e transm item por telepatia, ou reproduz o que ouviu ou leu an­ teriorm ente, em estado de vigília. Os próprios espiritas confessam isto. Diz Oliver Lodge:

Só assim se explica a infantilidade das m ensagens, os lugares com uns c, não raro, as tolices m ais grosseiras; é que as m ensagens corresponcfem adm iravelm ente ao n ivel intcctual do m édiu m e dos seus ouvintes. Ora é o espirito de um notável p oéta que vem di­ zer versos medíocres, ora é o espírito de um sábio legitim o que vem repetir coisas sabidas até pelos alunos prim ários de um a escola ru­ ral. (261) Em todo caso, o que os espíritos “ com un icam ”, quase nunca excede a in teli­ gência com um de qualquer “ encarnado”. Os próprios espiritas se veem em baraçados para explicar a degeneração m ental que devasta a mente dos grandes homiens que se desencar­ nam : "Alem disso, o osplrito, em consequência do obs­ curecimento relativo da conciência e da diminuição da vontade livre, sofrerá facilmente as sugestões, mais ou menos voluntárias, dos assistentes, cujos pensa­ mentos muitas vezes reproduzirá". (262). “Outras vezes há uma curiosa m istura de ele­ mentos originais e de elementos evidentem ente saidos do médium ou dos assistentes”. “Em certos casos. . . as comunicações são um re­ flexo do pensamento e dos conhecimentos dos evocadores”. (263).



277

Espanta-nos a ginástica m ental que faz C arlos Im bassahy, para explicar a pobreza de ideias de que sofrem os desencarnados: “Quando o médium tem opiniões firm adas sobro determinado assunto, repele, conciente ou inconcientemente, as opiniões espirituais contrárias. Repelido, o mensageiro afasta-so, e o m édium fica falando ou es­ crevendo por conta própria. Há mais os casos em que muitos são os seres que se querem comunicar; uns procuram tom ar o lugar dos outros; as comunicações saem então truncadas, Ininteligíveis; há pontos ad­ miráveis, que causam surpresa e estupefação, ao lado de trivialidades e até d isparates”. (264).

Adiante, o espirita brasileiro vem a res­ ponsabilizar os próprios espíritos: "Em suma, a lucidez do espirito manifestante nem sempre é completa. . . A perfeição das respostas d e p e n d e ... da perfeição do e s p ír ito ... (265).

Adm iram os a boa vontade de Im bassahy que, m esm o sem ter procuração bastante, ten­ ta defender a im becilidade dos desencar­ nados. A verdade é que, a-m iude, “os fatos, tes­ tem unhados até pelos próprios espiritas, p ro­ vam que as m ensagens do espiritism o não passam do reflexo do m édiu m ou dos assis­ tentes.” (266) Em 7 de maio de 1S99, num artigo que foi am ­ plam ente transcrito por toda a im prensa, Camilo F la m (264) CARLOS IMBASSAT — O E sp iritism o & Ims «lo» F a to s, PR. 179-180. (2G5) Idem. Ibldem, pp. 259. (266) P . OTÁVIO CHAGAS DE MIRANDA — Os F c nOmcnos F stçnleos e o Espiritism o perante a Icreja, pgr. .7.



278 —

m arlon exprim ia a opinião de que o espirito que, em Jersey, se entretinha com Vlctor Hugo, sob o nome de Sombra do Sepulcro, era o próprio Vlctor Hugo, dan­ do respostas a si mesmo”. (267).

Para estudar as m ensagens, F lournoy rea­ lizou um inquérito; obteve 42 respostas e 81 observações, de várias partes do m undo. “Es­ tudou-as c publicou os resultados. Tudo ba­ nal! Se tais m ensagens vem do outro mundo, concluiu ele, esse outro m undo pouco vale.” (2G8). R ichet, tido com o espirita, escreve: “As manifestações dos desencarnados contem tan­ tos erros, infantilidades e deslembranças, que ó im­ possível aceitar que se tra ta de alm as que voltani a este mundo. Nada nos obriga a supor que os mortos tenham os mesmos sentimentos e juizos que tinham em vida. Os personagens do outro mundo gostam de pilhérias ridículas e de trocadilhos infantis. Os desen­ carnados esquecem coisas essenciais, e se ocupam com ninharias de que, nesta vida, não se ocupariam sequer um minuto. Alguem disse: “Se a o utra vida hà-de con­ sistir em ter a m entalidade de um desses desencarna­ dos, prefiro então continuar a viver aqui mesmo. "Com algumas excepções, o que os desencarnados apresen­ tam são fragm entos de uma inteligência paupérrim a. Voltar à T erra por causa de um a abotoadura é su­ mamente improvável”. (269). (2G7) “A nnales politique* e t pnrlnm entnlreH ”. Cf. a in ­ da «L ’A n-D elà e t le« force« Inconnue*” , por Ju le s Bols, pg. 256, c ltados por Lucien Boure — Le M erveilleux Splrltc, pg-. 231. (268) Dr. LÜCIO JO SE ’ DOS SANTOS — “O D iário ”, de Belo H orizonte, núm ero de o u tu b ro de 1339, a trá s citado. (269) CHARLES RICH ET — G ru n d rlss d e r P a rap sy ­ chologie, pg. 472.

— 279 — 0 mesm o sentem F elipe D avis e M aurí­ cio M aeterlin ck : "P osbo dizer de m inha parte que, em vinte anos do estudos. . . nunca obtive, nem vi obter por outros, uma única comunicação que possa realm ente merecer a atenção de um filósofo ou de um sãbio”. (270). “A menor revelação astronôm ica ou biológica, o menor segredo de outros tempos, por exemplo, uma particularidade arqueológica, um poema, uma estátua, um remédio que se encontrasse, seria um argum ento mais decisivo do que centenas de reminiscências mais ou menos lite rá ria s”. (271).

Conhecidas são as tolices que um m é­ dium im pingiu a S ir O liver Lodge, dando-as com o com unicações de seu falecido filho R aim undo. Enfim , para concluir, um autor católico: “So as comunicações vem dos espíritos, como ad­ m itir que alm as bem educadas, incapazes de uma men­ tira durante a vida, desçam a dizer m entiras e tra p a ­ ças? Como é possível que um suposto comércio de oitenta anos com os espíritos do mundo Invisível, não tenha esclarecido nenhum fato novo da ciência, ou descoberto nenhum a verdade nova, para o bem e o consolo da hum anidade? “Não há sesssão espirita a que não compareçam Shakespeare ou Aristóteles, os quais parece até pos­ suírem várias personalidades, pois são encontrados ao mesmo tempo em diversas reuniões. “Como é possivel que sábios, homens de gênio (270) LUCIEN ROURB — Le M ervclllenx S plrlte, pg. 230. — FE L IP E DAVIS — Ln (In dii m onde de» Euprlt», pg. 166. (271) MAURÍCIO MAETERLINCK — La m o rt, pg. 13S, eitacR^pelo Dr. T. Poodt — Lo» FenOmeno» Mtaterloao»

— 280 — que, nesta Terra, tanto contribuíram para difundir a l u z . . . como é possivel que esses sábios, esses gênios, voltando a visitar-nos, se mostrem tão cretinos e lou­ cos?”. (272).

E um autor nem espirita nem católico: “Porque é que não percebem que essas elucubra­ ções, mesmo quando apresentem combinações inteli­ gentes, são, om essência, horrivelm ente e s tú p id a s ... Corneille, quando fala pela boca dos médiuns, só faz versos de calloiro, e Bossuet subscreve sermões de que se envergonharia qualquer vigário da roça. W undt, de­ pois de ter assistido a uma sessão de espiritism o, quei­ xa-se am argam ente da degenerescência que atingiu, depois da morte, o espirito das maiores personagens... Deia-so o depoimento de J o b a r d ... do príncipe Ouran, o ver-se-á que esses valentes espíritos não estão melhor informados do que nós, sobre qualquer assun­ to. Realmente, deveríamos renunciar à vida fu tu ra se fosse preciso que a vivêssemos ao lado de individuos dessa espécie". (273). O fato mais notável de reminiscência literária é o que aconteceu ao médium T. P. Jam es. Dizem que term inou o romance Edwin Drood, de Charles Dickens, cm dezembro de 1872, romance que o autor deixara Inacabado. Sob ditado do espirito de Dickens, teria o médium escrito todo um volume de 4 00 páginas. Posteriorm ente, porem, descobriu-se que esse sr. Jam es passou dois anos estudando o estilo do escritor inglês, e só então conseguiu concluir “a seu modo” o romance começado. B crnhardt, amigo que fora de Charles Dickens, tendo sido consultado pelo dr. Surbled, (272) 1'ATRICK J. GEARON — Lc SpIHGi.ni«-: Sn F n tlllte. pp. 124-5. (273) PXERRE JANET, citado peio dr. G rassct, Idíea .Méillcnlex, pp. 45-40.

— 281 — declarou que não foi apenas o sr.Jam cs que tentou completar o romance; outros pasUclies apareceram, todos indignos do autor de Edivin Drood. E outro escritor, o sr. Fnirbnnkg, provou que, nos papéis de Dickcns, foi encontrada toda uma cena destinada a figurar no romance, cena essa que em vão se procura no romance do médium; isso prova que o espirito de Dickcns nenhum a intervenção teve no acabamento póstumo de seu romance. (274).

III Enfim , dentre m ilhões de pretendidas m ensagens enviados do Alem, fraudulentas umas, naturalm ente explicáveis outras, apa­ rece, de quando em quando, uma ou outra co­ m unicação que pode ter sido transm itida por um agente intelectual extra-terreno; uma que outra com unicação enexplicavel pelas forças naturais. Entre elas, — se o fa to fo r ad m itid o co­ m o real, — devem os colocar em prim eiro lu ­ gar a chamada correspondência cru zada, — "Cross correspon den ce” dos ingleses, a que F lournoij cham ou “M ensagens com plem enta­ res.” (275). “Trata-se de respostas dadas por diversos médiuns m ediante escrita autom ática. São m ensagens Incom­ preensíveis quando tom adas isoladamente, mas, apro­ ximadas umas das outras, se esclarecem e se comple­ tam como fragm entos de um mosáico”. (276). (274) LCCIEN ROURE — Le M crvclllcux Snlrlte, pgr. 186-138. (275) FLOURNOY — E sp rlts e t Medlniu«, pg. 459.

— 282 — Os m édiu ns podem estar em diversos paises, falar linguas diferentes e até desco­ nhecidas de alguns deles e, alem disso, não ter nenhum entendim ento entre si. Está visto que o caso não pode ser explicado pela telepatia, porque, se uma pessoa viva trans­ m ite a outra, telepaticam ente, um pensam en­ to, é razoavel que lho transm ita com pleto e inteligível. Portanto, se tais m anifestações existem , só podem vir do outro mundo. Mensagens há ainda que, pelo com plexo de sua contextura, não terão nunca uma ex­ plicação natural; confessem os, porem, que se trata de casos raríssim os. São as Mensagens que sa em parelham com este m odelo: “Um médium, em transe, escreve autom aticam en­ te esta comunicação: Vejo um homem de uns sessen­ ta anos, um tanto robusto, barbado e usando óculos de arco metálico. Acaba de m orrer em um desastro do automovel, em Melbourne, A ustrália. O seu nome, — diz ele, — é Thomas J. Queen, e estava antes em I,os Angeles. Quer que o snr. se comunique com seu filho João que está agora era S. Francisco”. O especta­ dor investiga o caso. Acha que existe um tal João Queen em S. Francisco; que o pai dele, Thomas Queen, estava em Melbourne, A ustrália, e que foi morto no mesmo dia em que o médium lhe fez a comunica­ ção". J277).

O próprio P adre H eredia, que propõe a telepatia para solucionar todos os casos de (27G) LUCIEN ROURE — I.e M ervcllleux S plrlte, pg. 254-266. (277) Pe. H E R E D IA — O Eoplrltlom o e o Bom Senão, pg. 139.

— 283 — com unicações, confessa que “ neste caso hi­ potético a telepatia não tem pronta explica­ ção de com o o m édium conheceu a fision o­ m ia do hom em ”, etc. (278) Em seguida, com uma tanta incoerência, dá explicações que não satisfazem nem m esm o a ele, m as conso­ la-se com dizer que o futuro há-de esclare­ cer m uita coisa. Nestes casos com plexos, assim com o nou­ tros, todos eles decorrentes do estado de tran ­ se, o m ais razoavel é admitir, logo de inicio, a intervenção de um agente intelectual. Esta é, aliás, a opinião do próprio P adre H eredia, e não sabem os a razão por que os auto­ res que se estribam no jesuita m exicano, para verem em tudo fenôm enos naturais e te­ lepáticos, não prestaram atenção nesta p as­ sagem lum inosa de seu livro: “Nesses casos (de tran se), o médium m uitas ve­ zes tala ou escreve autom aticam ente, ou faz ambas as coisas, m anifestando um conhecimento de que, em seu estado normal, nilo tem experiência. Conforme certas relações, ESTE CONHECIMENTO E ’ DE TÃO EXTRA­ ORDINÁRIO CARATER QUE NÃO ADMITE EX PLI­ CAÇÃO SATISFATÓRIA, A NÃO SER A DE UMA TER­ CEIRA INTELIGÊNCIA". (273).

Enfim , há ainda certas com unicações que exigem , ua outra extrem idade da linha, um transm issor intelectual: são aquelas que se

— 284 — transm item em lingua que o m édium não co­ nhece. Chama-se g lotolalia ou xenoglossia (280) a esta ordem de com unicações em lín­ gua estrangeira. Ouçamos a experiência pessoal do dr. Felicio dos Santos. D iz ele: "E n tre muitos fatos estupendos de mediunismos diversos, por mim observados, referl-lbe (a Carlos de Laet) as comunicações em latim , do falecido dr. L., que fora nosso amigo e professor, meu e dele. “Contei-lhe que, exigindo eu como prova de iden­ tidade uma comunicação em latim bom, e não macarrOnico, como me dera outro espírito; que, sendo assunto da atualidade a pastoral de Leão X III aos bis­ pos franceses, fora eu surpreendido por esta comuni­ cação, em Ictrn própria do dr. L., que me era bem conhecida: C om m ovlt P etrum g a llu s, p lo ra v it e t illc; N unc P ctr u s g a llu n i oorrigit, illc negat.

Isto é: um galo comoveu a Pedro e ele chorou; agora, Pedro corrige o galo e este nega. Note-se o tro­ cadilho de gallus, — o galo, e gallus, — o francês. Como se sabe. Leão X III aconselhara aos católicos franceses aceitarem a república como governo de-fato, e cuidarem em cristianizá-la. Não foi ouvido pelo maior número. “E contel-lhe mais que, estando presente m inha esposa, depois de o pretenso espirito do dr. L. se ma­ nifestar por sinais inequívocos e particularidades que, entre os assistentes, só eu e ela lhe havíam os conhe­ cido, ofereceu tambem a ela um autógrafo, Indican­ do onde devia colocá-lo. E foi este:

(280) T erm os form ados do grego: G lotolalia, de glosaC ou glnttt, — lingua. — e Inlein, — fala r. Xenogloailn, do xenos, — e strangeiro, o glossê, — lingua.'



285 —

“Heus! vintor: hlc vir e t uxor non Iitigant. (Olá, viandante! Aqui marido e mulher não disputam ). E agradecendo eu o m adrigal, apareceu outra co­ municação, — essa era português, a qual nos fez pas­ sar do prazer ao despeito: Isto é um dístico que copiei da pedra de um se­ pulcro. ' “Realmente, dentro dele podiam estar marido o m ulher sem brigas. “En tre o utras comunicações curiosas, citarei es­ ta: Pedindo eu um pensamento em inglês, sobre W a­ shington, ao mesmo dr. L., que tambem ensinara essa lingua, apareceu este autógrafo: Hc was a sworcl whoso blado h as ncver bccn wet but in Iibevty’s foc. (Ele foi uma espada cuja lâmina jam ais se molhou em outro sangue senão no dos inimigos da liberdade). “Não se pode contestar a tal ciência do verdadei­ ro Espírito do espiritism o; se é um serafim decaído é chefe de legiões angélicas. . . Perdendo a inocência, não perderam eles a inteligência; aplicam -na para su­ gerir o mal, — a sujidade e a m entira principalmen­ te ”. (281). (Casos Reais a Registar, em presa E ditora A. B. C. lim itada, 1937, pág. 185-7).

** O dr. F elicio dos Santos não fora hom em tido com o dem asiado crédulo; p olítico notá­ vel na m onarquia e na república, hom em de ciência, m édico notável, abandonara a reli­ gião católica, que era a de sua fam ilia, e tor­ nara-se, prim eiro, m aterialista e, depois, es­ pirita praticam ente. Voltando ao grêm io da (2S1) CnxoH ItcalH n ReglN tiir — E in p rssa ed. A.B.C., 1927, PB. 185-187.

— 286 — Igreja, recuperando a fé, escreveu o seu Ca­ sos R eais a R egistar, e ninguém lhe contestou as declarações que fez sobre o que vira no es­ piritism o.

CAPITULO III M ENSAGENS D E CAR A TE R RELIGIOSO. A RELIGIÃO ESPIRITA. A RELIGIÃO ESPIRITA Os espiritas, quanto ao modo de encara­ rem a religião cristã, dividem -se em dois g ru p os: a) Os grandes teóricos, — Grupo A; b) Os praticantes, — Grupo B. Os prim eiros são negativistas. Negam tu­ do. A julgá-los p e k s suas palavras, diremos que em nada diferem dos m aterialistas. Os segundos dizem -se cristãos. Citam os Evange­ lhos. Adm item , pois, os Livros Santos com o fonte uutorizada de ensinam entos religiosos. Adm item , portanto- de acordo com os Evan­ gelhos, a existência hum ana de Jesús-Cristo. Pretendem que a doutrina espirita é em im entemente cristã. (282). Julgarem os os dois grupos num só capí­ tulo. Já que o grupo B cita a Bíblia e se diz (282) ALLAN KAKDEK — Lo Livre des EprI«*, pg.



288 —

cristão, quer dizer que adm ite a Bíblia como palavra de Deus. Aceita os ensinos de Cristo. Vam os provar, contra esse grupo, que to­ da a doutrina “ dos esp íritos” c contra a dou­ trina da Biblia. Como o grupo A nega as m esm as verda­ des negadas pelo grupo B, refutado este, esta­ rá refutado aquele. Mostraremos qufe^o E spi­ ritism o nega todos os dogmas da Religião Ca­ tólica, dogmas estes contidos, explicita ou im ­ plicitam ente, na Bíblia. Procederem os por partes. DEUS. a) Para a R eligião Católica, há um só Deus. (Deut., 6 :4 ). Mas esse D eus é pessoal, visto com o se distingue das coisas que criou. (Gen., 14:19). E ’ eterno, é ato puro, é ens a se, necessário, espirito puríssim o. O que fez, podia não fazer. Quer dizer que agiu livre­ mente, criou livrem en te: “Fez tudo o que quis fazer, no Céu, na Terra, no m ar e cm todas as p rofundezas.” (283). “ E D eus criou no tempo c não na eterni­ dade, visto com o ele “criou no principio (Gen., 1 : 1 ) ” e a eternidade não tem princi­ pio. b) Os espiritas, grupo A, afirm am que a m atéria é eterna e que Deus não se distingue da m atéria; a m atéria é deus. Pan teism o, por conseguinte. N ão existe um Deus pessoal. Mas um Deus, que não seja pessoal, não é (233) “ Omni» qtiiicouniquc v o lu lt feclt ln coelo, ln te rrn , lu m arl ct ln ouinlbux iiIij-hhI*'’. Salmo 134:0.



289 —

Deus. Logo, por ilação, negam a existência de Deus. São ateus: “ Para nós, a idéia de Deus não exprime a idéia de um ser qualquer, mas a idéia do ser, que contem todos os outros se re s. . . O mundo renova-se incessan­ temente em suas partes: o todo é eterno". (284). “A ciência já destruiu as concepções ancestrais do universo, como: Divindade exterior ao universo, C é u .. . ” (28B). “O Ser Supremo não existe fora do mundo, mas é parte integrante e essencial dele.” (286).

Outros espiritas, — grupo B, — adm item Deus, m as negam -lhe atributos essenciais: a justiça, a providência, a necessidade, a onipo­ tência. Assim, o Deus desses espiritas ou é a m atéria, o grande T odo, ou é um Deus m u­ tilado, sem atributos essenciais. (287) Para eles, Deus não é criador no sentido de enle necessário, que tudo tirou do nada: “A palavra criar, dizem, deve desaparecer dos di­ cionários, porque é uma palavra sem sentido. Deus não criou; produziu. Não criou, porque tudo é m até­ ria; mas condensou as m atérias imponderáveis, que ti­ nha eni seu poder, e animou-as pela sua força e von­ tade. Estas moléculas em suspensão. . . são precisa­ mente os m ateriais de que se serviu, e é esta conden­ sação m aravilhosa que constitue a sua o b ra.” (288).

Alem disso, afirm am que Deus criou ne­ cessariam ente, c assim negam a liberdade de

(284) LÉON D ENIS — A prio In Mort,pg. 144-145. (2S5) Dr. E. GYEL — EHpIrKIxnio, passim . (28G) LÉON DENIS — Ln g ran d e Ê nlgm c, pg. 1G. (287) Dr. E. GYEL, opus clt., pg. 115. (2SS) CH, D'ORlNO — Ln ge n

— 290 — D eus. Por conseguinte, se Deus criou neces­ sariam ente, criou desde que é Deus; por isso, todo o criado é eterno, inclusive a m atéria: "A produção (de Deus) é eterna, porque Dous, por existir sempre, também sempre produziu. Deus n3o pode estar nunca sem a g ir”. (289). “Forçoso é supor o universo co-eterno com a di­ vindade”. (290).

Em conclusão: a doutrina espirita leva para o p an leism o, para o a teísm o e para o m ais radical dos m aterialism os. SAN TÍSSIM A TRINDADE. a) Para a R eligião Católica existe um só Deus. Mas em Deus há três pessoas, Pai, F ilho e Espírito-Santo. Isto é, D eus é uno em essência e trin o em pessoas. E’ o grande dogma da Santíssim a Trindade. (Mateus, 28:19). “Três são que dão testem unho no Céu: o Pai, o Verbo e o Espírito-Santo; e estes três são um só .” (I Jo., 5:7). b) Os espiritas, de ambos os grupos, ne­ gam que em D eus haja três pessoas. Não ad­ mitem, portanto, a Santíssim a Trindade. E s­ tão contra os E vangelhos de Nosso Senhor Jesús-Cristo. “Quantas pessoas há em Deus? pergunta Xatalinl. E responde: Uma só. Deus criador, Deus salva­ dor”. (291). (289) CH. D'ORINO. op. clt„ p s. 15. (290) MARTINS VELHO — Aa potCnclaa ocultr.H iln n lmn, pk. 345. citado por V alérlo Cordeiro, O E sp iritism o , Pg' (291) UMBERTO NATAL1NI — Glt S plrltl e II loro Mondo, PB. 82.



291 —

JESÜS-CRISTO. a) Para a Igreja Católica, Jcsús é o F i­ lho de Deus feiio lioniem : ‘‘O Verbo fez-se carne” (S. João, 1:14). E ’ a segunda pessoa da Santíssim a Trin­ dade: “B atizando-os em nom e do Pai, e do Fi­ lho e do E spirito-Santo” (M ateus, 28:19). “Nasceu de Maria V irgem ” : (Evangelhos Siuóticos). “N ão teve pai, segundo a carne, m as foi concebido por obra do E spirito-Santo.” (Lu­ cas, 1 :35). E ’ D eus, com o o Pai e o E spirito-Santo. Só Deus tem o poder de perdoar c pe­ cado, porque o pecado é ofensa de Deus e só o ofendido pode perdoar a ofensa; ain­ da m ais: só Deus pode fazer m ilagres em seu p róprio n om e, porque o m ilagre é uma suspensão particular da lei natural, e só o le­ gislador pode suspender a sua lei. Orn, Jesús perdoa pecados e, para provar que p o­ de fazê-lo, opera m ilagres em seu próprio n o­ me. (M ateus, 9 :6). Logo Jesús é Deus. Alem disso, o E vangelho de S. João decla­ ra explicitam ente que Jesús, o Verbo de Deus, é Deus e que, com o Deus, já existia quando as coisas com eçaram a exislir; portanto, vindo para o mundo visivel, veio para o que era seu, porque por ele tudo se fez que foi feito. “No princípio existia o V erbo. . . O Verbo era junto de Deus, o Verbo era Deus. Tudo por ele foi feito. Velo para o que era seu, e os seus não o quise­ ram reconhecer”. (João, 1:1-15).



292 —

Assim, Jcsús é Deus; m as d hom em tam­ bém, descendente de Adão, por Maria. (Ma­ teus c Lucas, G enealogias). Como D eus, os seus atos tem valor infi­ nito; com o hom em , Jesús representa o ofensor na obra da Reparação do pecado. (292). Veio a este mundo para salvar os homens, para dar-lhes a graça da salvação: João, 1 0 : 10 .

F oi assassinado, m as sua m orte teve por fim salvar os hom ens: Isaias, 57:7 e II Cor., 5:15. Ninguém pode salvar-se a não ser em nom e de Jesús-Cristo — : “N on est in alio aliquo salus, nec aliu d nom en est sub caelo da­ tum Iw m inibus, in quo opporteat nos salvos fie r i.” (Atos, 4:12). b) O espiritism o nega toda esta doutrina relativa a Nosso Senhor Jesús-Cristo. Para os espiritas, Jcsús não é Deus; é, quando m ui­ to. um deu s da Terra, expressão que nada significa. (293) É um m édiu m , — um espí­ rito superior que se encarnou para in stru ir os hom ens; é um filósofo, um grande homem , m as sim ples homem . " . . .espírito superior, colocado por suas virtudes, muito acima da hum anidade terrestre, Jesús era o módium de Deus”. (194).

Sc Jesús-Cristo não c D eus, os seus m ere­ cim entos não são infinitos, não tem valor de resgate divino. Aliás, todos são unânim es em dizer que Jesús se encarnou, não para salvar (202) r c . D r. VALÉRIO CORDEIRO — O E sp iritis­ mo, pp. 61. (203) CIT. D’ORINO — Lo pènese de 1’flme, pp. 3G5. (201) ALDAN KARDEC — Genesis, c. 15.



293 —

os hom ens, mas para ajudá-los a progredir inleciual e moralm ente. (295) Logo, os hom ens podiam prescindir da vinda de Jesús. Assim, o espiritism o nega os dogmas da Incarnação e da R edenção, segundo o conceito biblico. Depois, nada havia a resgatar, porque, conform e verem os, o espiritism o nega tam ­ bém o fato do pecado origin al.” O espiritis­ m o, destruindo a divindade de Cristo, negan­ do o pecado original, a Redenção e a Graça, leva os seus adeptos ao racionalism o.” (296) Até aqui tínham os visto já duas conse­ quências perniciosas do espiritism o: p an teís­ m o e ateísm o. Junte-se m ais esta: raciona­ lism o. O HOMEM. a) A Religião Católica ensina que o cor­ po do hom em não foi criado im ediatam ente, mas form ado de m atéria preexistente, signi­ ficada pela palavra barro ou lim o: “F orm auit igitu r D eus hom in em de lim o le r r a e — ” (Gen., 2:7). Isto não quer dizer que o corpo hum ano seja o resultado da evolução lenta de corpos anim ais inferiores. A R eligião C atólica, se não condena o evolucion ism o aplicado aos anim ais, condena-o, quando aplicado ao h o­ mem, porque este foi objeto de uma ação di­ vina direta e especial; a respeito da produção dos anim ais a B íblia diz que a terra se encar­ regou de realizá-la: “Produza a terra a alm a vivente, — gado e repteis, e bestas-feras.“ (Gen., 1:2-1). (295) LÉON D ENIS — CaterhlM ue Spirlte, pg. 89. (296) Po. CORDEIRO, op. cit., pg. 64.

— 294 — Mas a respeito do homem , De. s aparece agindo por si: “Façam os o hom em à nossa im agem e sem elhan ça.” (Gen., 1:26). Isto a respeito do corpo. Quanto à alma, é certo que esta não foi form ada de matéria preexistente, m as criada em prim eira mão, im ediatam ente: “Inspirou Deus na face dele um sopro de vid a .” (Gen., 2:7). Para a prim eira m ulher temos isso m es­ mo, com diferença de que o seu corpo foi for­ m ado já de m atéria viva, e não de elem entos inanim ados. É pelo lado da alma e não pelo lado do corpo que o hom em foi criado à im agem e sem elhança de Deus (Gen., 1:26), pois Deus não tem corpo. Por ai conhecem os algo da na­ tureza da alma. E la é sim ples, isto é: não tem parles integrantes; é im aterial, isto é. in ­ corpórea; é espirito, isto é, intrinsecam en te independente da m atéria; é im ortal, porque, sendo sim ples e incorpórea, é incorrutivel, e, sendo espirito, não depende da matéria, para existir. Do prim eiro par, — Adão e Eva, — pro­ cedem todos os hom ens. O corpo aparece por via de geração e as alm as são criadas, direta­ m ente, por Deus, à m edida que os corpos vão sendo con cebid os: “ D e u m só ho m e m f iz e ra D eu s d e sc e n d e r to d o o gô n e ro h u m a n o q u e h a b ita so b re a T e r r a in te ir a ” . ( 2 9 7 ). (297) “ F e c it e s uno oiunc jçenus kom lnnm in h n b ltn re m p e r u nlversam f e d e m te rra e ”. (Atos dos A póstolos, 17:26).

-

295 —

0 prim eiro casal fo i criado inocente e, não sendo isso exigido pelas condições da na­ tureza pura, foi elevado à ordem sobrenatu­ ral. por extrem os da bondade de Deus; dai, duas ordens de dotes que devia transm itir a seus descendentes: os d otes naturais, — a vida e seus benefícios, e os dotes preter-natu rais, que constituíam um privilégio da esp é­ cie hum ana: isenção de dores, saude perpé­ tua, im ortalidade. Tendo, porem , pecado, Adão e Eva perderam os dotes preter-naturais. O seu pecado foi pessoal e represen tati­ vo. Enquanto pessoal, foi-lh es perdoado; mas enquanto represen tativo da espécie, privou-os tem porariam ente do Céu e, alem disso, pas­ sou para todos os seus descendentes. É o que se chama pecado orig in a l: “A ssim com o, pelo p e cad o d e u m eó h o m em , fi­ c a ra m to d o s s u je ito s à c o n d en a çã o , a ssim , p e la ju s tiç a de u m só, Je sú s-C risto , veio p a ra to d o s a ju stific a ç ã o q ue d á v id a “ (R o m ., 5 :1 8 ) . " P e lo que, com o p o r u m h o m e m e n tro u o p ecad o no m u n d o , e pelo peca d o a m o rte , a ssim ta m b e m a m o r te pa sso u a to d o s os h o m e n s, p o r isso q u e to d o s p e c a ra m n e le ”. (R o m ., 5 :1 2 ) .

b) Tudo isso é negado pelo ESPIRI­ TISMO. Quanto ao corpo, o espiritism o nega a. sua form ação im ediata por D eus; adm ite o transform ism o rigoroso, não só quanto ao corpo, m as ainda quanto à alm a: "A noção d a e v olu ção a n ím ic a u n id a à n oção d a E v o lu ç ão o r g â n ic a . . . ex p lica tu d o ”. ( 2 9 8 ). (298)

Dr. E. GTEL, — E»pirltUmo, Dff. 10S.



296 —

As form as teriam aparecido espontanea­ m ente; evolucionaram , em seguida, até o apa­ recim ento do homem . Isto é diam etralm ente oposto ao ensino de Cristo. A Bíblia diz, cla­ ram ente, que o hom em foi feito por Deus já cm estado adulto, e dotado de sexo. 0 sexo foi dado para a transm issão de um ser especi­ ficam ente igual ao pai, e em estado orgânico perfeito, sem necessidade de posterior evolu­ ção. E isto desde o primeiro homem . Portan­ to, nada de evolucionism o. Mas o espiritis­ mo dogmatiza o contrário. D iz ele: “ E ’ v e rd a d e q u e to d o s n ó s p a ssam o s p elo s o rg a ­ nism o s in te r io re s . . . e o s a n im a is ta m b em e stã o d es­ tin a d o s a c h e g a r à h u m a n id a d e ”. ( 2 9 9 ). “ A a lm a v a i p rim e iro e n c a rn a r no m in e ra l, d e­ pois no v e g e ta l, e n fim n o a n im a l p r e c u rs o r d a h u m a ­ n id a d e, p a ra , u ltim a m e n te , a f e ta r o c orpo do h o ­ m e m ”. ( 3 0 0 ).

Logo, os hom ens descendem dos anim ais. (301) Dos espiritas, uns afirm am que Adão não foi o prim eiro hom em , outros lhe negam existência, e relegam -no para o terreno dos m itos. (302) Sendo assim, os hom ens não pro­ cedem de um casal único. Vim os que o corpo precede à alm a; não só para o prim eiro hom em com o para os seus descendentes, a alm a foi criada diretam ente por D eus, depois de o corpo estar form ado: “ F o rm o u o h o m e m . . . e ln sp iro u -lh e u m e sp iri­ to , — s p irn e u lu m v itn c ” . (G en ., 2 :7 ) . (299) Idem, Ibidcm. pg. 132. (300) CH. D ’ORINO, op. cit., pg. 23. (301) Dr. E. GYEL,. op. clt.. pg. 88-87. (302) ALLiAN KARDEC — Lc» Livre» de» E«prl(», n.o» 43 a 50.



297 —

Para o espiritism o, porem , a alma sem ­ pre existe an tes do c o r p o : “ A a lm a su b s is te à d e stru iç ã o do o rg a n is m o , co­ m o p re e x iste à s u a f o rm a ç ã o " . ( 3 0 3 ). “ Com a p re e x istê n c ia d a a lm a tu d o se ex p lica ló ­ gic a e n a tu r a lm e n te ”. ( 3 0 4 ).

Na Bíblia, a alma é criada. N o espiritis­ mo, é produto de evolução da m atéria: “ H á e v olução p a ra o p rin cip io p síq u ico . No co­ m eço d a e v oluçã o, a a lm a é sim p les e le m e n to de v id a , um a in te lig ê n c ia p o te n c ia l”. ( 3 0 5 ). “ A a lm a h u m a n a nã o foi c ria d a c o m p leta, com to d a s a s fa c u ld a d e s q u e a p ro u v e d a r- lh e o C ria d o r. F o r m a - s e e d e sen v o lv e -se p o r s i ”. ( 3 0 6 ).

Sobre a natureza da alm a, o espiritism o confessa a sua ignorância. (307) Tudo, pois, que afirm a sobre a alm a é apenas hipótese. Numa coisa, porem , estão de acordo quase todos os teóricos espiritas: no negarem a im a­ terialidade da alm a. Para eles, a alm a não é im aterial nem sim ples: “ N ão sa b em o s se o p rin c íp io in te lig e n te te m a m e sm a o rig e m q u e a m a té r ia . . . o u se é u m a e m a n a ­ ção d a D iv in d a d e " . ( 3 0 8 ). E m to d o caso, “ é m e n o s e i a to d iz e r q u e os e sp írito s sã o i m a te r i a is . . . p o rq u e o e sp irito , se n d o u m a c ria çã o , d e v e s e r a lg u m a co isa: é a q u in ta -e ssê n c ia d a m a té r ia ”. ( 3 0 9 ).

130.

(303) (301)

(305) (30G) (307) teehlNine (30S) 12. (309)

Dr. GYEL, op. clt., pg. 8. ALLAN K AR DEC — Le Livre deH Eeprltn, n.» Dl'. GYEL, op. clt., pg. 13. Dr. GYEL, op clt., pg. 116. Dr. GYEL, op. clt., pg. 28 e LÉON DENIS, CnSplrlte. passlm. ALLAN KARDEC — Le Livre deg Egprltg, pg. Idem, Ibldem, n.og 78 • 82.

— 298 — "A nosso v e r, a s d u a s e x p re ssõ es e s p ír ito e m a té ­ r ia d e v e ria m se r b a n id a s. E m v ez d e las, e m p re g a r ía ­ m os a p e n a s a p a la v r a su b s tâ n c ia p a ra d e sig n a r a es­ sê n cia da s c o i s a s . . . D esta s o r te a c a b a ria to d a d iv e r­ g ê n c ia e n tre m a te r ia lis ta s e e sp ir itu a lis ta s , p o rq u e a m a té r ia e o e sp írito p a ssa ria m a s e r sim p les m o d a li­ d a d es ou e sta d o s de s u b s tâ n c ia ” . ( 3 1 0 ).

Portanto, alem de levar ao atéism o, ao pan teísm o e racion alism o, o espiritism o leva tambem ao m aterialism o. Errando sobre a origem da alm a hum a­ na, os espiritas erram ainda sobre o seu des­ tino, pois, com o verem os adiante, origem e destino são coisas conexas. F RA TE R N ID A D E HUMANA — PECADO ORIGINAL. . Vim os que o espiritism o não adm ite a origem m onogenética dos homens. Para ele, os hom ens foram aparecendo na Terra, em consequência de uma evolução lenta e pro­ venientes de germ es esparsos. Por conseguinte, se os hom ens não proce­ dem todos de Adão e Eva, o pecado original é uma fábula. É isto, de-fato, o que vocife­ ram os autores espiritas: " D e sa p a re c e u o do g m a do pecad o o r ig in a l com su a s c o n seq u ê n cia s I n ju s ta s e b á rb a ra s " . ( 3 1 1 ).

Negaram , pois, o pecado original, mas, não podendo negar as suas consequências, — a existência do m al, os sofrim entos, as pena­ lidades, — tentaram explicar estas de um (310) Idcm, ibldem, pg. 35. (811) Dr. G TEL — E aplrltlam o, pg. 114.

— 299 — modo grotesco: ressuscitando o velho absur­ do da reencarnação. Outra consequência do erro espirita: o desaparecim ento da fraternidade hum ana. Com efeito: se os hom ens se dizem irm ãos, não é por terem sido todos criados pelo m es­ mo Deus, não; aliás, todas as criaturas se­ riam irm ãs umas das outras, porque todas foram feitas por um m esm o Deus. 0 burro seria irm ão do homem . A ped ra seria nossa irmã. Isto é erro. Na doutrina da Bíblia, som os todos ir­ m ãos, porque som os todos filh os de um m es­ mo pai rem oto, segundo a carne: Adão. Se cha­ m am os a D eus "Pm nosso que lestais no Céu”, é porque D eus é pai desse nosso pai. Adão procede diretam ente de Deus e não de m a­ cacos ou de causas m ateriais fortuitas— : “Jesús, conform e julgavam , era filh o de Jo­ sé, ie este veio de H eli, e este de Matat, e este de L e v i .. . e este de Set, e este de A dão, e es­ te de Deus." (S. Lucas, 3:23-48). Portanto, o conceito de fraternidade, hu­ m ana não existe no espiritism o. Se ós espiri­ tas se dizem irm ãos é com im propriedade de linguagem ; força do hábito som ente, por estarem acostum ados com os termos cristãos. ANJOS. a) D e negação*em negação, toda a dou­ trina dê Jesús se esboroa no ensino espirititico. A Bíblia adm ite três categorias de cria­ turas:



300 —

1.°) As criaturas materiais, com suas 'energias c propriedades; 2.°) As criaturas im ateriais, ou espíritos; 3.°) As criaturas m ixtas, — que são os homens. Quanto às coisas materiais e às mixtas, isto é, quanto à criaçãço do m un do visivel, bas­ te consultar os dois prim eiros capítulos do G ên ese: “ No principio D eus criou o Céu c a Herra.” Mas Deus não fez só o m undo visivel; fez tam bem o invisível:

" N e le fo ra m c ria d a s to d a s a s c o isas, n o s C éu s e n a T erra, — a s c o isas in v isív eis e a s v isiv eis, — q u e r os tro n o s, q u e r a s d o m in a çõ e s, q u e r os p rin cip ad o s q u e r a s p o te s ta d e s ” . (C o lo sse n se s, 1 :1 6 ) .

Nas Escrituras Sagradas, temos ainda dois ensinos im portantes relativos ao anjos: 1.°) Os anjos não são as alm as dos ho­ m ens; 2.°) Os anjos são bons, uns, e m aus, ou­ tros; mas, no princípio, todos foram bons. A alma distingue-se do anjo, primeiro, porque a alm a foi criada no corpo e em or­ dem ao corpo, ao passo que o anjo não; este foi criado separado e independe dle corpo; se­ gundo, porque o anjo exerce m isteres especi-: ais dcLerminados por D eus, — com o ser en­ viado em baixador junto aos hom ens, ser guarda de indivíduos, cidades, reinos. E is ­

— 301 — so não se lê das alm as. Cf.: Lucas; Atos, 12:11; Mat., 1:11. Grande é o p o d er do anjo no mundo visivel: (4.° li v. dos Reis, 9:35; 2.° dos Mac., 15:22); o da alma separada do corpo é nulo. Morrendo Lázaro, “ a sua alma fo i levada p e ­ los anjos ao seio de Abraão” ; isso prova que a natureza da alma é diferente da do anjo, e que a alma e anjo são seres diferentes e dc poderes diferentes; são espíritos, m as em sen­ tido diverso. (Lucas, 16:22). O anjo m au, a quem cham am os dem ônio, que quer dizer gênio, ou diabo, que significa caluniador, não se distinguie do anjo bom quanto à n atureza, mas sim quanto ao esta­ do. Os anjos m aus foram criados bons c, de­ pois, tornaram -se maus e foram condenados, sein rem issão possivel: “ Com o c a iste do Céu, ó L ú c ife r? ” (Is a ia s , 1 4 :1 2 ) . “ D eus não p e rd o o u aos a n jo s q u e p e c a ra m ” . (2.* de P e d ro , 2 :4 ) . “ E u v ia a S a ta n a z c a ir do C éu com o re lâ m p a g o ”. (L u c., 1 0 :1 8 ) . “ J e s ú s s u b ju g o u n a s c a d e ia s e te r n a s , so b a s tr e ­ vas, o s a n jo s q u e n ã o c o n se rv a ra m o se u p rin cip ad o , m a s a b a n d o n a ra m a s u a lia b lta g ã o " . (S. J u d a s , 1 :5 - 7 ) .

A Sagrada Escritura ensina a existência dc um agente real, pessoal e não m etafórico, inim igo dc D eus, espírito im undo, cujo ofício é guerrear a Deus e perverter os corações dos hom ens. No Levitico Deus proibe oferecer sa ­ crifícios aos dem ônios: “ E n u n c a m a is im o la rã o su a s v ítim a s a o s d em ó ­ n io s." (L ev. 1 7 :7 )



302 -

Alhures, Deus se queixa de que seu povo oferece sacrifícios aos dem ónios: (D eutcronôm io, 32:17). “ Im o la ra m ao s d e m ô n io s os se u s filh o s e a s su a s f ilh a s .” (S a lm o 105, 3 7 ) .

b) O espiritism o batalha todas estas no­ ções. Para ele, não há anjos bons nem dem ô­ nios. Os anjos bons são alm as boas desencar­ nadas. Os diemônios são tam bem alm as de­ sencarnadas, que ainda não atingiram a per­ feição. E, com o as alm as desencarnadas se cham am espíritos, segue-se que anjo, d em ô ­ nio e alm a são a míesina coisa, porque tudo é espírito. “ Seg u n d o o d o u tr in a e s p ir ita , os a n jo s n ã o são se re s à p a rte e de n a tu r e z a e sp e c ia l; são os e sp írito s de p r im e ira o rd e m , isto é, a q u e le s q u e a tin g ir a m o e sta d o de p u r o s e s p ír ito s , dopois d e te re m p a ssad o p o r to d a s a s p r o v a ç õ e s”. ( 3 1 2 ).

Contrariando a doutrina divina, exara­ da nas Sagradas Letras, ensina Allan Kardec: “ S a ta n a z é e v id e n te m e n te a p e rso n ific aç ão do m al, sob u m a f o rm a a le g ó r ic a ; p o rq u e n ã o se p ode a d m i­ t i r um s e r m a u q u e lu ta , p o tê n c ia c o n tra p o tê n cia , com a D iv in d a d e, e c u ja ú n ic a o c u p aç ão é c o n tra r ia r os se u s d e síg n io s. ( 3 1 3 ). “ Os e s p ir ita s n o s e n sin a m q u e D eus n ã o pode c ria r s e re s v o ta d o s a o m a l o in fe liz e s e te r n a m e n te . Se­ g u n d o * e le s,n ã o h á dem ô n io s n a ace p çã o a b s o lu ta e r e s t r it a d e ste te rm o ; o q u e h á sã o e s p ír ito s im p e rfe l(312) ALLAN KARDEC — In etrn c tlo ii P ra tiq u e «nr les M aulfeutntlonn «pirites, s. v. nnge, pg. 8. P a ris 1923. (318) Idem — Lc L ivre des E sp rlta , pg. 39.



303 —

to s q u e podem , to d o s, to r n a r - s e m e lh o res p elo s se u s e sfo rço s e p o r s u a v o n ta d e " . ( 3 1 4 ).

A confusão cardecista é m anifesta. Há m á fé da parte de Kardec. A Igreja nunca ensinou que Deus criou seres votados ao mal. D eus não criou ninguém destinado ao infer­ no; não criou o dem ônio para o inferno, mas sim o inferno para o dem ônio, segundo o te x to : "A fa sta i-v o s de m im , m a ld ito s , e Ide p a ra o fogo e te r n o que fo i p re p a ra d o p a r a o d ia b o e p a r a se u s se­ q u a z e s ”. (M at., 2 5 :4 1 ) .

NOVÍSSIM OS. a) A alm a hum ana, separada do corpo, segue para um dos três destinos: purgató­ rio, que é temporal, Céu e inferno, que são eternos. Nada há m ais certo, segundo o texto b í­ blico. Quanto ao Céu e inferno, se conside­ rarmos, no segundo, o tormento íniim o do condenado, — o rem orso, a pena de dano, — e, no prim eiro, a felicidade perfeita dos bem -aventurados, — podem os dizer que são dois estados, e, com o tais, são independentes de lugares. Mas não há dúvida que, tanto o Céu com o o inferno, são tam bem dois luga­ res determ in ados, onde as alm as gozam ou sofrem o seu estado definitivo. Quanto ao Céu, consulle-se, por exem ­ plo, S. Marcos, 16:19; aí se lê que Jesús su­ biu para o Céu, onde está sentado à m ão di(311) ALLiAN KARDEC — In stru ctlo n p ratiq u e, s. v. demon, pg. 10.



304 —

reita de Deus Pai. Veja-se ainda Gen.; 28:17. etc., etc. Quanto ao inferno, a Escritura o descrieve com o lugar d e torm entos (315) e dele fa ­ lam os E vangelhos 17 vezes. Aqui se diz que o rico, m orrendo, foi sepu ltado no inferno; ali sentencia Jesús: “Ide, m alditos, para o fo g o » Em resum o: Os m aus irão para o suplí­ cio ieterno, os bons para a vida sem fim . (S. Mateus, 25:46). Quanto ao Purgatório, dele há menção bastante clara nos Livros Santos. Alem do 2.° livro dos M acabeus, 12:44, leia-se: Ma­ teus, 5:26 e 12:32, F ilip. 2:3, la. P etri, 3:19 je: “ . . . o fogo provará qual seja a obra de cada um; se a obra de alguem se queimar, sofrerá detrim ento; p orem o tal será salvo, todavia com o pelo fogo.” 1.“ aos Cor., 2:14-15. b) Os espiritas põem por terra toda es­ ta doutrina de Jesús; negam a Justiça D i­ vina. T odas as religiões querem uma sanção condigna após a vida terrena. O espiritism o prescinde dessa sanção. Com efeito, exam i­ nando o sistem a íespirita, encontram os nele esta série de afirm ações: 1 .') Céu e In fe ru o , n o s E v a n g e lh o s, sã o n lcg o r in s; 2.°) Céu c I n te r n o são e s ta d o s d a a lm a , e n ão lu ­ g a re s de p rêm io e c a stig o ; 3.°) F o g o e te rn o é u m a m e tá f o r a e n ão u m a r e a ­ lid a d e ; 4.o) A e te r n id a d e d a s p e n as n ã o e x iste ; (315) I.ociim tormentoriim, Lucan, 1G:23.



305 —

5.u) O P u r g a tó r io é n e ste m u n d o, p a ra o q u al a a lm a v o lta , re e n c a rn a n d o -s e . “N ão h á in fe rn o lo c aliza d o no se n tid o v u lg a r li­ ga d o a e s te te rm o ; c a d a q u a l o tr a z em si m esm o p e­ los s o frim e n to s q u e to le r a ”. (3 1 G ). “ Os e s p írito s r e je ita m o d o g m a d a e te r n id a d e d a s p e n a s ”. (3 1 7 ).

“A localização absoluta da região das penas e das recompensas só existe na imaginação do ho­ m em ”. (318). “ O p u r g a tó r io e x iste n o s m u n d o s de ex p iaç ão co­ mo a T e r r a , ond e os h o m e n s ex p iam o p a ssa d o e o p r e se n te , em p ro v eito do f u tu r o ”. ( 3 1 9 ). "A d o u tr in a e s p ir ita nos m o s tra a h a b ita ç ã o do3 bons, nã o n u m lu g a r c irc u n sc rito , m a s o n d e q u e r q u e h a ja b o n s e sp írito s, — r.o e sp aç o p a ra a q u e le s q u e são e rr a n te s , no s m u n d o s m e n o s p e rfe ito s p a ra os q u e e stã o e n c a rn a d o s " . ( 3 2 0 ) . Cf. a in d a D ’O rin o , L a g c n cso d e r â m e , p. 318, e D énis, C a té c h ism e S p iritc , p. 31. e tc.

OUTRAS VERDADES. Indo dc negação em negação, os espiri­ tas destroem toda a doutrina de Nosso Se­ nhor Jesús-Cristo: N egam a econom ia da Graça, — porque a graça dc Deus c in u til; N egam a ressu rreição da carne, — por­ que o corpo é apenas uma roupa que a al­ ma veste e despe, à vontade; a alm a não tem m ais relação com o corpo de uma encarna(31G) ALLAN KARDEC — IiiH truction P ra tiq u e aur ManlfcHtatloiiu Splrltcn, |)g. 13. (317) Idem, Ibldem, pg. 41, 31 e 36. (31S) e (310) ALLAN KARDEC — O C íi i e o In fern a, c. 3 c seguintes. E O Livro dos KsptrlloM, p a rte 4.*, c. 2. (320) Jdem. In stru c tlo n p ratiq u e sn r Ich aian lfc stn tloiiN Spi-Ut-x. ps. 33 o 34.

— 306 — ção anlericv desde que se reencarnou num oulro; N egam os S acram en tos. No espiritism o não há batism o, porque não existe pecado original; ,e este n ão existe, porque os ho­ m ens não procedem de Adão e Eva. Não há confirm ação, nem m atrim ôn io, nem ordem , nem penitên cia, nem extrem a-un ção, porque a fin alid ade dos sacramientos c a infusão da graça, que o espiritism o não admite. Negam a SS. E ucaristia, porque o fundam ento desta c a p alavra in falível de Jesús-Cristo, — Deus ie H om em , — m as Jesús não é Deus no sis­ tema espirita; N egam a D ivin a M atern idade de Maria e os dogmas relativos a Maria porque, se Je­ sús não é D eus, Maria não é Mã;e de Deus. N egam a ressu rreição de Cristo. Como já dissem os, negam a ressu rrei­ ção dos corpos. Ou im plicitam ente, ensinan­ do que a alm a não retorna nunca para seu próprio corpo, m as para outro. Ou exp lici­ tam ente: “ Os corp o s fica m to ia lm e n te d e stru íd o s, nem h á p o ssib ilid a d e a lg u m a d e a lg u m d ia re s s u s c ita r e m " . ( 3 2 1 ).

Os E vangelhos, porem , afirm am , a cada passo, o falo “ da ressurreição” dos corpos: “ E eu o r e s s u s c ita r e i no ú ltim o d ia ”. ( J o ã o , 6 :5 3 ) . “ B em se i qu e h a -d e re s s u s c ita r n a re s s u rre iç ã o do ú ltim o d ia ” . (J o ã o , 1 1 :2 1 ) . Cf. a in d a : Jo ã o , 5 :2 3 -2 9 . A tos, 1 7 :2 3 :2 4 ) , C or., 2 5 :5 1 e 42, etc. (321) n.o 1010.

ALLAN KARDEC — O Livro

do*

EapfrMoa,



307 —

E no S ím bolo dos A póslolos: “ Creio na ressurreição da carne, na vida eterna. A m em .” Negam a necessidade de oração e o valor do arrependim ento: "A p rec e se rv e so m e n te p a ra n o s fo rtaleceT em n o sso s s o f rim e n to s ” e a s fa ltas. pão r e p a ra d a s , n ã o p e­ lo a rr e p e n d im e n to , mas " p e la p r á tic a do bom”. (322).

MORAL. Segundo o espiritism o, a lei divina con­ siste apenas “na m áxim a do am or do pró­ x im o .” (323) Fazer o bem c o único diever do hom em . O hom em deve abster-se som en­ te do prazer que prejudica o próxim o. (324) Assim , portanto, “não deverá rejeitar os prazeres da existência, nem considerá-los com o p ecad os.” Dentro desta moral ampla e im precisa, cabem todas as patifarias, — o adultério, a prostituição, a avareza, os vícios solitários, o hom o-sexualism o, .etc. É o hedonism o de Epicuro em ampla escala. Adem ais, o espi­ ritism o não aceita o decálogo com o moral inspirada. A moral espirita condena o celibato e as m ortificações do corpo. (325) “Não enfraqueçais o corpo com privações inúteis e macerações desnecessárias”. (32G). (322) (323) (324) (325) (32G) piritism o,

LÜON D ENIS — C ntechísm c S plrlte, pg. S e 9. Idem — Cntcnul»«>c Splr., pg. 11. Dr. E. GYEL — E sp iritism o . pg. 128. Dr. E. GYEL, Ibidom, pg. 128. ALLAN KARDEC — O E v u ngelho scgnndQ o E s­ c. 6.

-

308 -

Na indissolubilidade do m atrim ônio es­ tá fundada a existência e santidade da fam í­ lia cristã. Jesús-Crislo afirm a que a indis­ solubilidade do vinculo c lei d iv in a : “ O que D eus uniu, o hom em não sep are.” (S. Ma­ teus, 19:6). O divórcio c condenado. O espiritism o, porem, ensinando que a indissolubilidade é contrária à lei natural, justifica o divórcio onde existe, e autoriza um cônjuge a abandonar o outro, onde não há divórcio. (327). Conforme observou F elicio dos Santos, — que foi espirita, — o espiritism o reprova o suicídio. Mas tal reprovação é apenas teó­ rica; na prática, o suicídio é aprovado pe­ lo espiritism o, não só porque o estado m en­ tal, criado pelas sessões, leva ao suicídio, com o porque a doutrina da reencarnação autoriza a desejar e procurar uma encarnação nova, m ais perfeita do que a atual, e isto se pode conseguir pelo suicídio. Alem disso, qual o castigo que aguarda a alma do suicida? Nenhum . “ N áo h á p e n as d e te r m in a d a s p a ra o su ic id a . H á, p o rem , u m a c o n seq u ê n cia a q u e o su ic id a n ão pode e sc a p a r: é o d e sa p o n to " . (3 2 S ).

Para resum ir, direm os que a moral dos espiritas c uma doutrina fragm entária, im ­ perfeita e infantil. Como m uito bem notou o Pe. Cordeiro, o espiritism o conservou, da

15

11

(327) ALLAN KARDEC — I.e Livre 7, ) . 297. — FIG U IEK — H lntolre dn M ervelllcuv, pE. ‘ (32S) I.c L ivre iIch E sprllx, n.-> 937, p E. 397.



309 —

moral evangélica, apenas o que é suave c in­ dulgente. (329) Podem os, enfim , dizer que toda a dou­ trina espirita, — dogma c moral, — se sin ­ tetiza nisto: plágio am plo e vergonhoso. T u­ do o que o espiritism o afirm a ou nega, já foi afirm ado ou negado por algum sistem a religioso antigo. É o que, inconcientem ente, confessa um escritor espirita, — o dr. E. Cyel; diz ele: “ P re te n d e m os e s p ir ita s q u e os p rin c ip a is e le ­ m e n to s de s u a d o u tr in a e s tã o in c lu íd o s em to d a s a s g r a n d e s re lig iõ e s d a a n tig u id a d e , d issim u la d o s sob sím b o lo s e em m a n ife sta ç õ e s e x te r io r e s do c u lto . C ons­ tit u ír a m um e n sin o se cre to , re se rv a d o a o s in ic ia d o s s u p e rio re s. E n c o n tra m -se e sses e le m e n to s n a s re lig iõ es do s D ru id as, n a s d a ín d ia e, s o b re tu d o , n a s do E g i­ t o ”. (3 3 0 ).

Uma coisa, é certo, avulta no sistem a es­ pirita, m as sem originalidade: o seu ódio im ­ placável à Igreja Católica, fundada por N os­ so Senhor Jesús-Cristo, e aos ministros dessa Igreja. Oiçamos a hipocrisia com que fala Kardec: “ E s ta nova relig iã o ó c h a m a d a a e x erce r u m a g r a n d e jn flu ô n c ia n a so c ie d a d e . . . E ’ e la q u em h i- d e r e s t a u r a r a re lig iã o d e C risto , a g o ra tã o re b a ix a d a p elos p a d re s a u m a e sp e c u laç ão c o m e r c i a l.. . E ’ e la a r e lig iã o n a tu r a l, q u e b r o ta do c o ra çã o e v a i d ir e ta ­ m e n te a D eus, sem te r p o r in te r m e d iá r io s a s b a tin a s ou os d e g ra u s do a l t a r ”. ( 3 3 1 ). (329) Pe. Dr. VALÊRIO CORDEIRO — O E sp irltlsino, pg. 73. (330) Dr. E. GYEL — E sp iritism o , pg. 109. (331) Stmlles, cltndo p o r V nlérlo C ordeiro — O E sp i­ ritism o, pg. 66.

— 310 — Em bora finjam não ser inim igos do Cris­ tianism o, todos os espiritas se m ostram hos­ tis ao Catolicismo. “ O espiritism o, — vocifera o sr. D e N oyes, — vai ser a m orte de todas as superstições, que serão destruídas como fum o; o credo de Santo Atanásio será abolid o.” (332) A prescnta-se, pois, o espiritism o como uma N ova R eligião. Mas em que se baseia? Quais as credenciais dos seus fundadores? Afirm am que sua doutrina representa uma terceira revelação feita por Deus aos ho­ m ens: “ A le i do A ntigo T e s ta m e n to e s tá p e rso n ific a d a e m M oisés, a do N ovo T e s ta m e n to no C risto . O e s p ir i­ tism o é a te rc e ira rev e laç ão da le i de D eu s; m a s não a p e rso n ific a in d iv íd u o a lg u m , p o r s e r o p r o d u to do e n sin o da d o em to d o s os p o n to s d a T o rra , n ão p o r um liom em , m a s p e lo s e sp írito s, q u e são a s v ozes do Céu, e p o r u m a m u ltid ã o in u m e rá v e l d e in te r m e d iá ­ rio s. ( 3 3 3 ).

Mas esta pretensa revelação é nula: fa l­ ta-lhe base, visto com o os espíritos evocados não podem provar se vem de Deus ou de Sutanaz. A revelação judeo-crislã foi feita em plena luz, e a m issão dos interm ediários ou apresentadores foi provada por m ilagres autênticos, praticados em presença de teste­ m unhas inúm eras e em pleno dia. Em con­ traste com esta clareza m eridiana, a cham a­ da “revelação dos espíritos” é dada com o feita nas trevas, a uma m eia dúzia de his(332) Apud Cordeiro, pg. 56. (333) ALLiAN KARDEC — O Evangelho negando o EnpIrltUmo, c. 1.

— 311 — téricos e por espíritos desconhecidos, isto é, não identificados. Depois, e este ponto m erece frisado, a pseudo-revelação ensina doutrina contrária à doutrina de Cristo: é, pois, com o vim os, anti-cristã. Não há espiritism o cristão. Quem o qui­ sesse defender, defenderia uma tolice. D irem os, enfim , que o Doutor das Gentes, — São Paulo, — prevendo que, no decurso dos tempos, herejes se apresentariam com o novos interm ediários entre D eu s e os h o­ m ens, antecipadam ente condenou toda nova revelação que estivesse em contradição com a revelação prim eira, em bora se inculcasse com o provinda de Deus. “Ainda que nós ou um anjo do Céu vos anuncie outro evangelho, diferente do que vos tenho anunciado, seja anátem a. (Aos Gálatas, 1:8) B. - O espiritism o científico-indigena. Há um grupo de espiritas nacionais que se intitulam , m odestam ente, científicos, ra­ cionais e cristãos. Constituem, entre nós, a ala esqu erda do espiritism o. R eferim o-nos aos sócios do “C entro E spirita Redentor." D e cristãos nada tem. São tão científicos e cristãos com o os m ussulm anos e os bu­ distas. A fii’mam que Jesús-Cristo é sim ples hu­ m ano: “ E ’ sab id o q u e e le fo i C rish m a n a fn d la , H erm e s

no E g ito , C onfúcio n a C h in a, P la tã o n a G récia, e o q uo e le preg o u n e ssa s e n c a rn a ç õ e s d e v ia s e r c o n ti­ n u a d o n a ú ltim a " . (3 3 4 ).

O que caracteriza a gente do “ Centro Re­ d entor” é o ódio rubro que vota à Igreja Ca­ tólica. Na pena de seus escribas, os papas são hom ens corrutos e venais (335), os cardiais uns- ignorantes. O Vaticano person ifi­ ca a vaidade e a .prepotência. (336). Os im pagaveis dirigentes do “ Centro R e­ dentor”, notando que a dou trin a cristã, con­ tida nos E vangelhos, está em franca contradi­ ção com o espiritism o cristão, pregado pelo Centro, resolveram a dificuldade de m aneira sim ples e sum ária: Condenam os Evan­ gelhos. D izem que os E vangelhos estão ch eios de falsidad es; que foram organizados pelo con­ cilio de Nicéia. Que esse Concílio rejeitou ou­ tros 54 evangelhos autênticos, só porque os tais não falavam na divindade de Jesús. Que foi, portanto, esse Concílio quem “prom ul­ g ou ” n divindade de Jesús. (337). É isso. Porque os E vangelhos estão em desacordo com as patifarias espiritas, os E vangelhos são falsos. Mas. senhores do “ Cen­ tro R edentor”, a vida de Cristo só nos é co­ nhecida pelos textos dos E vangelhos. Sc, pois, os E vangelhos são falsos, Cristo não existiu. E ’ uma lenda. Se Cristo não existiu, o epí(334) Confci-Onelaa nobre Ciencin o Rellglllo, ed. do C entro E sp irita R edento r, 1027, pg. 26 a 218, (335) Idom, Ibldem. pe. 124. (336) Idem. pe. 127. (337) Idem, pe. 216.

teto “ cristão”, usurpado, aliás, por m uitos “ Centros R edentor”, nada significa. Uma consolação. Os mem bros do “ Cen­ tro R edentor” não constituem perigo para ne­ nhum a religião a que se oponham : Porque a ignorância nunca fez m edo a ninguém. E na literatura dos escritores do espiritism o cien­ tífico cristão se depreende, sobre qualquer assunto, uma ignorância tão com pacta, tão crassa, que causa piedade. Esses “ cicntistas-cristãos” seriam de todo ponto inofensivos se não fossem tão odien ­ tos e truculentos.

CAPITULO IV A INDA A S M ENSAGENS A REENCARNAÇÃO O espiritism o tem dois ensinam entos centrais: a com unicação com os mortos e a reencarnação. E ’ por isso que, tratando da doutrina espirita, deixam os para um artigo especial a refutação deste erro. a)

TEORIA ESPIRITA DA REENCAR­ NAÇÃO.

A reencarnação é a volta do espírito à vida corpórea. Separando-se do corpo, a al­ m a passa a chamar-se espírito. Fica algum Tempo em estado de erraticidade, no espaço, e então, por sua livre vontade, procura um fe ­ to hum ano em form ação, no qual se reencarna para com eçar outra vida na Terra. Diz Iía rd ec: "A r e e n c a rn a ç ã o p o d e d a r-se im e d ia ta m e n te d e ­ pois d a m o rte , ou d e p o is de te m p o m ais ou m onos lon g o , d u r a n te o q u a l o e sp irito é e rr a n te . Po d e r e a ­ liz a r-se n e s ta T e r r a ou em o u tr o s p la n e ta s, m a s se m ­ p r e n um c orpo U um ano e n u n c a no d e u m a n im a l. E ’

— 315 — p ro g re ssiv a ( 3 3 8 ).

ou

e s ta c io n á ria .

N u n ca

é

r e tr ó g r a d a ”.

F in alidade d a reen carn ação: progresso ou evolução do espírito, e expiação de faltas com etidas em existência anterior: “ O fim o b je tiv a d o com a re e n c a rn a ç ã o é a ex­ p iação ou m e lh o ra m e n to p ro g re ssiv o d a h u m a n id a ­ d e ”. ( 3 3 9 ). " A tin g id a a p e rfeiçã o , o e s p ir ito n ão se re e n c a rn a m a is: to rn a -s e p u ro e s p ir ito " . ( 3 4 0 ). " O s su ic id a s ex p iam a f a lta n u m a n o v a e x istê n ­ cia q u e s e rá p io r do qu e a p r im e ir a ”. ( 3 4 1 ).

b)

NOMES DA REENCARNAÇÃO:

A ricencarnação foi adm itida em outros sistem as filosóficos, sob diversos nom es: PALINGENÉSIA ou nova existência, p a­ ra os Pitagóricos, METEMPSICOSE, ou transm igração das almas, M ETASOM ATOSE, ou m udança de corpo. O nome que, nos sistem as antigos, se dá a cada uma das encarnações é AVATAR ou AVATARA. (342).

(338) ALLAN KARDEC — In n trn ctlo n p rn tlq n e «nr le s BlnnlfeMntlon* Splrltes. pg. 42. (339) Idem, I,e L ivre deu E sp rit» , n.° 167. (340) Idem, n.» 170. (341) Idem — Le Livre den E p rlt» , n.» 957. (342) Dr. POODT — Lon Fenôm eno» M isterioso» dei Psiquism o, pg. 349.



c)

316 -

DIFERENÇAS.

N os sistem as antigos, a alma hum ana desencarnada podia ir habitar no corpo de um anim al irracional. No espiritism o, não. Só se reencarna em corpo hum ano. (343). d)

HISTÓRICO.

Entendida neste sentido, a rccncarnação contitue o fundo de todas as crenças religio­ sas não-reveladas por D eus. É o sistem a gros­ seiro encontrado pelos povos prim itivos co­ mo o m elhor mieio dc explicar alguns fatos tidos com o certos, m as de d ificil explicação: 1.°) E ntidade da alma com o ser distinto do corpo, 2.°) A sobre-vivência ou im ortalidade da alm a, 3.°) A necessidade de um a retribui­ ção futura, de recom pensas e castigos, de acordo com o bom ou m au procedim ento nesta vida e 4.°) Desejo de explicar, por qual­ quer form a, os fenôm enos da hereditarieda­ de, hoje esclarecidos pela em briologia, pelo atavism o, pelo m endelism o, etc. A ssim , por estes m otivos ou por outros, a m etem psicose foi adm itida pelos selvagens do Brasil, pelos aztecas do Mexico, pelos bárbaros da Germânia, pelas tribu s célticas, pelos aborígines da Austrália, da Nova-Zelândia e das ilhas Sandwich, c por vários po-

(343) ALLAN KARDEC — In slrn ctlo n p ratiq ue, otc. pg. 30-31, s. v. R éencnrnntlon.



317 —

vos da África. (344) Os druidas, das Gálias. conform e observou Cesar, ensinavam “que as alm as não perecem , mas passam dc uns para outros, depois da m orte.” (345). N a índia, adm itiram a m etem psicose: prim eiro, o B ram anism o e, depois, o B udis­ mo. Para o budism o, porem , quem se rccncarna não é a alm a, m as o karm a ou a ação, isto 6, a som a das ações do hom em , o resul­ tado ético de sua vida anterior. Para os egípcios, a m etem psicose tinha uma feição própria: só os m alfeitores é que eram condenados a uma nova existência lernena, — feição que parece ler vindo do bra­ manism o. Na Grccia, foi Pitágoras quem propa­ gou o sistem a, no sentido m ais largo; e. as­ sim, com o os anim ais eram sede de alm as reencarnadas, os Pilagóricos, à sem elhança dos Indús, abslinham -se de com er carne. Antes, porem , de Pitágoras, já Museu e Orfeu haviam ensinado a m etem psicose. E ’ o que nos diz Píndaro, na II V. Ode. Empédocles, Platão e os platônicos continuaram a m esm a doutrina. Entre os judeus, a seita dos Fariseus ad­ mitia a m etem psicose e é por isso que di­ ziam ser Jesús algum dos antigos profetas, redivivo. A m etem psicose judáica, porem , adm itia que só os bons podiam renascer. A recncar

IlUf (1(1 IlllUM".

— 318 — nação, portanto, não era para expiação do reencarnado, e sirn para edificação e exem ­ plo dos não-reencarnados. Os bons, — os pro­ fetas, sobretudo. — voltariam a este m undo para pregar e -d a r bons exem plos. Nisto, a reencarnação judáica era diferente de todas as outras. (346). Já nos tem pos cristãos, a m etem psicose ainda encontrou defensores: Origines, os Maniqueus. os A lbigenses, os Cálaros. Origines achava que a existência corporal é condição penal, extra-natural, — punição de pecados. Modernamente, professaram a m etem psi­ cose Lessing, na Alem anha, F ournier, na França, S oam e Jcnnyns, na Inglaterra. (347). E nfim , o erro m ulti-secular foi readm i­ tido, nas suas linhas gerais, pela m aior par­ te dos espiritas. N otem os, todavia, que os es­ piritas ingleses restringem o num ero das existências, e alguns chegam m esm o a rejei­ tar, por obsoleta .e absurda, toda a doutrina da reencarnação. (348). e)

REFUTAÇÃO.

I - PELA SAG RA DA ESCRITURA. Segundo a D ou trin a R evelada, há, no fim (:t4C) Idem, lbidcm, a rt. MetcmpsychoHl». (347) Cf. a B lblografla c itad a pela R e v ista “ B rotérln ”. vol. 7.®, 1928, p rin cip alm en te: R o b c rt Falko, — Die Seelenw nndcrnng, T heodor D ev aran n e — Seelonvrnndernng, Den Stcln, — U n tcr den N uturvocIU eru Z cntrnlBrnNlllenM, Berlln, 1894, H erm ann, — X ordlschc M ythologlc, Joseph Huby, — CliriHtti», 192G, Frledorlcli Ueberweg, — G ruiidrl»» de r Gcwoliichte der P h ll. de» A ltertum », 1920. (348) Pe. MAINAGI3 — Ln R cllglon Splrlte, pg. 1G7168.

— 319 — da carreira m ortal do homem , duas coisas certas, ind iscutíveis: 1.°) A m orte é um fato definitivo, — que se dá um a só ve z; 2.°) Após a m orte, a alm a segue um des­ tino im ediato, que é tam bem d efinitivo, — e será ou alm a ben dita (Purgatório, Céu) ou alm a m aldita (Inferno). Sendo assim , não há ocasião para uma nova existên cia corporal. E ’ por isso que os textos sagrados salientam a im portância da presente vida, e nos advertem da necessida­ de d,e m orrermos bem, de estarm os prepara­ dos para a m orte e termos por certo que, da m orte, depende o futuro eterno do hom em . Tudo isso seria inutil se o hom em devesse ou pudesse morrer m ais de uma vez. Lem bre­ m os alguns textos: 1.") “ E m to d a s a s tu a s o b ra s le m b ra -te d e te u s nov íssim o s e n u n c a p e c a rá s ”. (E c le siá stic o , 7 :4 0 ) . 2.°) “ E s tá d e c re ta d o q u e os h o m e n s m o r r a m u m a só v e z ; e d e p o is d isso se g u e-se o ju iz o ” . ( H e b re u s, 9 :2 7 ) . 3.o) “ V igiai, p o rq u e não sa b eis o d ia nem a h o ­ r a ” . (M at., 2 4 :4 2 e 2 5 :1 3 ; M arcos, 1 3 :3 5 ) . 4.“) " E n q u a n to te m o s te m p o , o p e re m o s o b e m ”. ( G a ia ta s , 6 :1 0 ) . 5.») “ F e liz e s o s m o rto s q u e m o rre m no Se n h o r. Sim , d iz o E s p ir ito ; p a ra q u e d esca n sem do s se u s t r a ­ b a lh o s e a s su a s o b ra s os s ig a m ”. (A p o c alip se , 1 4 :1 3 ) . 6.°) “ O m e n d ig o m o rre u e fo i le v ad o pelos a n jo s p a ra o selo d e A b ra ã o . E m o rre u ta m b e m o rico , e fo i s e p u lta d o no I n fe rn o . D isse A b ra ã o ; L e m b ra -te d e q u e

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320 —

re c eb e ste 03 te u s be n s em tu a v id a e L áz a ro so m e u le m a les ". (L u ca s, 1 G:2 2 - 2 õ ).

O m au rico, portanto, não voltou a reencarnar-se para reparar a m á vida anterior. 7.°) "N o ú ltim o d ia h e i-d e re s s u s c ita r e, d e novo, s e re i re v e stid o com m in h a pele, e v e re i a D eu s n e s ta c a rn e , e o v e rã o os m e u s o lh o s, c n ã o o u tr o s ” . (Jó , 1 9 :2 5 ) .

Portanto, a ressurreição, no m esm o cor­ po, exclue a existência em outros corpos. 3 .o) ‘- v ir á a n o ite em q u e n ln g u e m p o d e rá o p e ­ r a r ”. (S. Jo ã o , 9 :4 ) . 9.°) " H o je e s ta r á s co m ig o no P a r a ís o ”, d isse J e ­ su s ao bom la d rã o a rr e p e n d id o . (L u c. 2 3 :4 3 ) . P o r ­ ta n to , a q u i te m o s u m la d rã o e a ssa ss in o q u e n ã o se re e n c a rn o u p a ra e x p ia r se u s c rim es. N O TA : Os e s p ir ita s c o stu m a m c ita r , a fa v o r da ree n e a rn a ç â o , a lg u m a s p a ssa g e n s d a B íb lia . N o tem o s, po rem , qu e eles fa ls e ia m e to rc e m o se n tid o d o s te x to s. Um a d e ssa s p a ssa g e n s é a q u e la em q u e J e s ú s f a ­ la a N icod em os: “ Se a lg u é m n ã o n a s c e r d e n o vo , n ã o podo v e r o r e in o d e D e u s” . ( Jo ã o , 3 :1 -G ). E ’ c laro , po rem , é e v id e n te q u e N osso S e n h o r n ã o fa la d e um re n a s c im e n to físico, no se n tid o d a re e n e a rn a ç â o , m a s sim de um re n a s c im e n to e s p ir itu a l, c o n fe rid o p elo snc rn m c n to d o b a tism o . Q u eira m le r a p a ssag e m to d a , e nã o tr u n c a d a : “ Se a lg u o m não r e n a s c e r p e la A gua e p e lo E sp írito -S n n to , nã o pode e n tr a r no r e in o d e D e u s ”. O u tra passag e m 6 a q u e la em q u e o E v a n g e lh o d iz q u e S. Jo ã o B a tis ta " ir á d ia n te d e lo ( J e s ú s ) no e s p ír ito e n a v ir tu d e de E lia s ” e q u e S. Jo ã o “ E ’ E lia3, q u e há-d e v i r ” . (L u ca s. 1 :1 7 e M a teu s, 1 1 :1 4 ) .



321 —

Os te x to s não dizem re sp e ito com a re e n c a rn a ç ã o . S. J o ã o ir á no e s p ír ito cio E lin s, p o rq u o a m issão de Jo ã o te m alg o da m issão d e E lia s. A p a la v r a e sp írito e s tá e m p re g a d a n u m dos se u s se n tid o s m e tafó rico s . A liá s, E lia s nã o p o d ia e s ta r rc c n c a rn » d o em Jo ã o , p ois a re e n c a rn a ç ã o su põ e m o r te a n te r io r , e a E s c ri­ tu r a a fir m a q u e E lia s a in d a n ã o m o r r e u : 5.° liv ro dos R e is, 2 :1 1 . J e s ú s m esm o s e e n c a rr e g a d e d iz e r q u e J o ã o n ã o é E lin s, p o is Jo ã o e ra se u c o n te m p o râ n e o e E lia s b á -d e v ir ; p o r ta n to , a in d a n ão veio. Os ju d e u s e sp e ra v a m , com o nó s e sp e ra m o s, a v o l­ t a de E lia s, não com o rc c n c n rn a d o , m a s com o v ivo q u e a in d a nã o m o rre u . Jo ã o B a tis ta p a s s a r a a in fâ n c ia f o ra do c onvívio do s fa r is e u s . P o r isso , q u a n d o a p a re c e u n o m eio d e jes, ju lg a r a m qu e ta lv e z fo sse o p r o fe ta E lia s, qu e v ie ra c o m p le ta r o ciclo d a v id a te rr e n a . T en d o e les, p o rem , p e rg u n ta d o a J o ã o s e e le e ra E lia s, Jo ã o r e sp o n d e u : “N ão s o u ” . (J o ã o , 1 :2 2 ) .

II - PELA FILOSOFIA. a)

N atu reza d a alm a.

1.°) A alm a se singulariza por ter rela­ ção para um corpo determinado, do qual é form a substancial. Sè a alm a não tivesse re­ lação para um corpo determ inado, n ão seria singular ou individual, e assim , em vez de ha­ ver m uitas alm as, com o há, haveria um a só alm a universal para todos os corpos, — o que seria absurdo. Ora, na teoria da reencarnação, a alm a deixa de ter relação para um de­ term inado corpo, e torna-se indiferente p a­ ra anim ar este ou aquele corpo. Logo, nessa teoria, não haveria alm a singular, isto é, não haveria alma. A reencarnação, portanto, des-



322 —

trói a natureza da alm a, pois a alm a, ou é una ou não é alm a. L ogo a reenearnaçâo é ab­ surda. Pondera Santo Tom az: "A p ro p o rç ão q u e e x iste e n tre a a lm a do h o m e m e o corp o do h o m e m , e ssa m e sm a p ro p o rç ã o e x iste en ­ t r e a a lm a d e s te h o m e m e o co rp o d e s te h o m e m . P o r ­ ta n to , n ã o é possíve l q u e a a lm a d e s te h o m e m e n tre p a ra o u tr o corpo q u e n ã o s e ja o c o rp o d e s te h o ­ m e m " . ( 3 4 9 ).

2.°) N a teoria da reenearnaçâo, a alma d everia ser anterior ao corpo. Mas se a alma fosse anterior ao corpo, seria substância com ­ pleta, com o o seria tam bem o corpo. Mas se a alm a e o corpo fossem substâncias com pletas, a união dos dois seria um agregado de sub­ stâncias e não um com posto substancial e, assim , a alma e o corpo não form ariam um só indivíduo ou u m a só pessoa, m as dois in­ divíduos acidentalm ente unidos. O que é fa l­ so. (350). b)

Psicologia experim ental.

D esde Aristóteles sabem os que há no ho­ mem duas m em órias: uma, sensitiva, com um aos anim ais, e que reside no conjunto ani­ m al; outra, intelectual, que é função da in ­ teligência, e que reside na alm a, exclusiva­ m ente. Ora, se a alma tivesse tido outras existências antes da atual, poderia ler per­ dido a lem brança das coisas m ateriais, por (349) SANTO TOMAZ — C ontra G en l, 1. II, c. 73. n. 3. (350) D. TIAGO SINIBALDI — FU oh., A ntropologia, n.» 190. no ta 1. a.



323 —

ter perdido a m em ória sensitiva, m as nunca teria perdido a lem brança das coisas abstra­ tas, porque estas estão gravadas na inteligên­ cia, que tem sede na alm a e não 110 corpo. Mas a alm a não tem nenhum gênero de lem ­ brança, nem de coisas m ateriais, nem de coi­ sas abstratas relativam ente a um a existência anterior à atual. Logo a alm a não teve ou­ tras existências. Escreve o dr. H uddleston S la ter: “ Se fosse re a lid a d e a ree n c a rn a ç ã o , o m e n in o em q u e se r e e n c a rn a s s e a a lm a d e u m m a te m á tic o , p o r exem plo a do E u c lld e s, ao v e r um triâ n g u lo , a in d a que fosse p e la p r im e ira vez, p o d e ria logo c o m p re e n d e r q u e a so m a dos â n g u lo s se ria lf O g r a u s , e d isto se le m b r a r ia im e d ia ta m e n te , se m en sin o , se m d e m o n stra ­ ção. E a ssim d a s o u tr a s c iên c ias. T o d o d ia e s ta r ía m o s vendo m e n in o s q ue, ao s se is a n o s d e id a d e , e sp o n ta ­ n e a m e n te se re v e la ria m g r a n d e s m édicos, g r a n d e s m a ­ te m á tic o s , g r a n d e s ju r is c o n s u lto s , e tc .” ( 3 5 1 ).

N o argumento supra, concedem os, m as só para argumentar, que a alma poderia ter perdido a lem brança das coisas m ateriais. A verdade, porem , é que todos os conhecim en­ tos, m esm o os das coisas m ateriais, se arm a­ zenam na alm a, depois de sc tornarem abs­ tratos ou im ateriais; e a prova disto é que nos lem bram os de coisas passadas conosco há vinte ou trinta anos atrás, quando é cer­ to, pelos dados científicos, que as células do cérebro se renovam continuam ente, de tal (351) Dv. JACOB HUDLESTON SLATER — A C lin d a enndena u EMplridnmo, pg. G2, c Mons. MIGUEL MAR­ TINS — ProtextanllMnio c Exoirltiam o, passim .



324 —

modo que, oito ou dez anos depois, não só o cérebro, m as o corpo todo, está com pleta­ m ente outro. Um sexagenário, pois, nada tem, histologicam ente falan do, do que tinha aos vinte anos dc idade. Portanto, o hom em de­ via ter lem brança de sua vida anterior, se sua alm a tivesse vivido anteriorm ente. III - PELA TEOLOGIA. A trib u to s de D eus. 1.°) A reencarnação c contra a justiça di­ vina. Ora, negar a justiça de Deus é negar o próprio Deus, porque em Deus os atributos não se distinguem realm ente da essência di­ vina. Logo a reencarnação é uma doutrina ím pia. Provem os que a reencarnação é contra a justiça divina. Duas hipóteses se apre­ sentam : A) A alm a reencarna-se para expiar cri­ m es de uma existência passada; B) A alm a reencarna-se para seguir o processo da evolução e aperfciçoar-se. a) Na prim eira hipótese, temos que Deus nos im pôs a condição dc nos rccncarnarmos para expiar faltas com etidas numa existência anterior. Mas, pode Deus im por-nos castigos por faltas dc que não temos lem brança nem conciência? N ão é isto indigno dc sua ju s­ tiça? Logo, é falso que estejam os expiando faltas passadas. T odos os Códigos Penais adm item que

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325 -

a base da responsabilidade é o conhecim ento do fato com o coisã proibida em lei. E ’ por isso que as circuntâncias que im pedem esse conhecim ento constituem d irim e n te 'em D i­ reito Penal. (Cf. Consol, das L eis Penais Bras., art. 27) Mas a responsabilidade não sc lim ita ao tempo da transgressão: deve estar presente à mem ória até o tempo do prêm io ou do castigo, c, por isso, se alguem , côncio da responsabilidade no alo da transgres­ são, viesse a perder a m em ória dessa trans­ gressão, perderia tambem a responsabilidade do ato perpetrado. Assim dispõem todas as jurisprudências a respeito dos desm em o­ riados. Deus, juiz justo, não podia, pois, disso­ ciar a nossa mem ória de atos com etidos em outra vida, porque isso acarretaria a perda da responsabilidade. E se. não obstante, im ­ pusesse penas por aqueles atos, seria juiz in ­ justo. Mas isto é indigno de Deus. Logo, a existência atual não tem razão de castigo e não se relaciona a uma existência anterior. b) Seria indigno die Deus caotigar-nos por faltas de que não nos lem bram os. Com efeito: A pena tem duas fin alid ades: é expiató­ ria ou vin dicativa, c m edicin al ou corretiva. No caso de pena vindicativa, o crim inoso de­ ve saber o m otivo por que é castigado, por­ que, ao contrário, acusará o Juiz de injusto, arbitrário e perverso; no caso de pena correti­ va, o crim inoso deve ainda saber o motivo de sua condenação, a-fim -de evitar recair nas

— 326 — mesm as faltas que m otivaram o castigo, pois, ao contrário, a pena torna-se in ú til e má. Portanto, se Deus nos castiga, sem saber­ m os porque, D eus é juiz injusto, arbitrário, irracional e mau. c) Outros espiritas, porem , dizem que “ Deus criou todos os espíritos grosseiros e im p erfeitos”, e que as reencarnações são n e­ cessárias para o aperfeiçoam ento de cada es­ pírito. Nesta teoria, temos que Deus ainda é in ­ justo, porquanto o hom em não tem culpa de ter sido criado im perfeito e grosseiro. Suponham os, todavia, que, atualm ente, o homem está sendo castigado por faltas co­ m etidas num a existência anterior. Como, p o­ rem, o hom em não é eterno, segue-se que ele com eçou a existir; portanto, um a de suas existências foi prim eira, tanto na hipótejse A) com o na hipótese B ). Se houve, pois, uma prim eira existência, esta não fo i iniciada p a­ ra castigo de faltas com etidas anteriormente. Logo, uma existência houve que não tem razão-de-ser segundo a teoria da reencarnação. E se adm itirm os que a existência é sem pre um castigo de erros pessoais, tem os que D eus foi injusto essa prim eira vez, infligindo p e­ nas a quem ainda não tinha existido c que, por isso, ainda não tinha praticado faltas. E que o h om em com eçou a existir, ao m enos neste planeta, isto se prova com as estatísticas. N ascem m ais hom ens do que m or­ rem. Logo, ao m enos no principio das eras, apareceram na Terra espíritos que aqui nun­ ca tinham estado, — espíritos que se encar-

— 327 — nararn pela prim eira vez. Logo, um dia se m a­ nifestou uma prim e ira existên cia que não te­ ve razão-de-ser, a m enos que o ’espírito p r i­ m eiro escarnante viesse pagar na Terra fa l­ tas que com eteu em outros planetas — su po­ sição gratuita, 2.°) A personalidade hum ana é o com pos­ to todo, e não só a alm a ou só o corpo, por­ quanto pessoa “é substância com pleta, sub­ sistente em si e racional.” (352). “ 0 eu é um todo substancial, que nem é corpo nem é espírito, m as ambas as coisas ao m esm o tem po.” (353). Alem disso, as operações atribuem -se à pessoa, e não só à alma ou só ao corpo, pois, conform e um axiom a corrente, "operar é p r ó ­ prio do suposto ou p essoa.” Portanto, se a alm a tiver de receber cas­ tigos ou p iêm ios unida a um corpo, este cor­ po só poderá ser aquele com que ela m ereceu ou desmereceu. Mas a reencarnação adm ite que a alma com eta faltas, unida a um corpo, num a existência, e pague essas faltas, unida a outro corpo, em outra existência. Logo, a reencarnação injuria a sabedoria divina, por­ que esta faria um a person alidade pagar por outra. 0 m esm o diz d. Otávio, nestes term os: “ Outro asp'ecto injusto da doutrina da reencarnação está em que as provas expiató­ rias das existências posteriores não atingi­ riam m ais a mesm a personalidade: pagaria (352) SINIBALDI — PrlIOH., O ntologia, 108. b. (353) Rnlon
assim o holandês pelo mal que não f e z . . . ” (354). Monsabrc tam bem assim se exprim e: “ Se o ho m e m de v e p a s s a r d a p ro v a d e s ta v id a à p ro v a do o u tr a v id a , é p reciso q u e e s ta ú ltim a se r e a ­ liz e n o m e sm o in d iv íd u o , com to d a a s u a n a tu re z a e to ­ dos os se u s h á b ito s a d q u irid o s, p o rq u e , ao c o n trá rio , u m a se g u n d a e x istê n c ia n ã o s e r á e q u ita tiv a . Q uem pecou ío l o ho m e m to d o ; p o r ta n to , é o h o m e m todo q ue se d eve a rr e p e n d e r p to r n a r a D eu s“ . ( 3 5 5 ). "A o p a s s a r a a lm a p a ra o u tr o c o rp o d is tin to do q u e I n fo rm a v a a n te s , r e s u l ta r ia q u e fo rm a r ia o u tr a pe sso a d is tin ta d a a n te r io r . P o r ta n to , se ria falso que, p e la re e n c a rn a ç ã o , e ra o m e sm o h o m e m q u e se iria a p e rfe iç o a n d o . S e ria, pois, in ju s to q u e e sse n o v o ho­ m em , q u e se c h a m a ria , p o r e x em p lo , N ero , r e s u lta n ­ te de u m a n o v a ree n c a rn a ç ã o , sa tis fiz e s s e p o r fa lta s c o m e tid a s p o r o u tr o h o m e m , q u e se te r i a c h am a d o , p o r ex em p lo , S ó c r a te s ”. ( 3 5 6 ). " A a lm a é q u e é resp o n sá v el p e lo s se u s e rr o s . P o rq u e não p o d e rá , po is, sem u n ir - s e a o u tr o co rp o , r e p a rá -lo s s o z in h a ? ”. ( 3 5 7 ).

Na hipótese da reencarnação evolucionista, o problem a é o m esm o: um corpo iria so­ frer para o progresso de um espírito que lhe seria inteiram ente estranho. 3.°) A reencarnação é contrária ao po­ der infinito de Deus. Deus é o Supremo Se­ nhor, e a ele se subm etem todas as criaturas. (354) D. OTÁVIO CHAGAS D E MIRANDA — O» F í nOmeno.H PnlnulvoM, p s. 72. (.755) MONSABRE’ — Conferenclna. conf. 94, A Vldn



329 —

Ora, dizendo os espiritas que a alm a se reencarna livrem en te, sem term o fix o quanto ao núm ero das rcencarnações, im plicitam ente afirm am que a alma é in depen den te de Deus. O que repugna. (358). IV.

- PELA MORAL.

1.°) A doutrina reencarnacionista adm ite que os bons c os m aus, depois de uma série de­ sigual de reencarnações, (os bons m ais cedo, c os m aus m ais tarde), terão a-fin al os m es­ m os direitos. Ora, repugna à Moral que os bons e os m aus tenham iguais direitos a uma felicid ad e futura. " C o e re n te com s u a d o u tr in a , o e s p ir ita p o d e d iz er a si m esm o q u e , p o r m a io re s c rim es q u e co m eta , c h e ­ g a r á cedo ou ta r d e à p le n a felicid a d e, d a m e sm a fo r­ m a que seu v iz in h o h o n e sto e v irtu o so , d a m e sm a fo rm a q u e a in o c en te v itim a d e se u s v íc io s”. ( 3 5 9 ).

2.°) A esperança de reencarnações fu tu ­ ras para expiar os atos maus da presente vi­ da, estim ula o hom em a perseverar no p eca­ do. Mas toda doutrina que auxilia, direta ou indiretam ente, a prática do m al, c uma dou­ trina im oral. Tal é a teoria da reencarnação. 3.°) A reencarnação destrói os laços de fam ília, pois, segundo os espiritas, a pessoa pode mudar de sexo ao passar de uma encar­ nação à outra. Assim, aquela que ontem,

r4.

(358) RnloM «lo Sol, 1.* sírie , 1931, pg. 63. (359) LUC1RN ROURE — I,e M crvelU eox SpirHc, pg.

— 330 — quando viva, era tua avó, pode ser hoje, de­ p ois de reencarnada, o p a i de teu vizinho. Como irás, pois, cultuar a m em ória de tua m ãe, que h oje é um m enino do sexo m asculi­ no, ou a de teu pai, que hoje é, talvez, uma m enina recem -nascida? 4.°) A reencarnação é contrária ao livre arbítrio, e destrói a responsabilidade de nos­ sos atos. Com efeito, se os m ales desta vida são in ­ fligidos para expiação dos pecados antigos, o m alfeitor não é m ais do que um executor das ordens divinas, e, portanto, não é responsá­ vel pelos seus atos maus. Quem mata, aplica o m erecido castigo a uin indivíduo que foi as­ sassino em existência anterior. Se, quem m or­ re m atado, expia um crime antigo, quem m a­ ta é apenas um instrum ento de expiação. L o­ go não é responsável. Por conseguinte, quem matar e não pagar nesta vida, nem em outra deverá pagar, porque, na verdade, não deve nada. Matou em virtude de ordens superiores. Assim, a doutrina da reencarnação leva para o FATALISMO. D e-fato, m esm o sem quererem tirar as últim as consequências de seus erros, os autores espiritas cam inham diretam ente para a negação do livre arbítrio. Im bassahy é claro: “ O q u e n o s p a re ce , e n tre ta n to , é q u e os In cid e n ­ te s da v id a j á e stão p re v ia m e n te e s c rito s ; e le s o b e d e ­ cem a d e síg n io s qu e n e m s e m p re p o d em o s p e rs c ru ­ t a r ” . ( 3 6 0 ). (360) CARLOS IMBASSAHY — O E ap lritlaiu e à In* doa Fatoa, Pff. 477.

— 331 — Puro FATALISM O! Eis o resultado hor­ roroso da doutrina reencarnacionista. 5.°) A doutrina da reencarnação conde­ na a prática da caridade. Com efeito, “ os m ales do corpo .são efei­ tos dos m ales do espírito.” (361). 0 que o h o­ m em sofre é m erecido, é um a dívida sagra­ da, contraída em outras existências. Portan­ to, não devem os procurar aliviar os sofrim en­ tos do próxim o, porque, com isso, irem os im ­ pedir que ele pague o que deve. N ós é que es­ taremos sendo injustos perante a Justiça D i­ vina. O nosso papel estará sendo igual ao da­ quela pessoa que dá liberdade a um presi­ diário que cum pre penas justas e merecidas. Portanto, na doutrina espirita, quem cura, quem dá esm olas, quem distribue caridade, está im pedindo o progresso do próxim o, porque im pedindo o sofrim ento, necessário e merecido. O hom em sofre, porque deve. D eixem os que sofra. 6.°) A reencarnação ó inutil, porque, ou o núm ero das reencarnações é lim itado ou ilim itado. Se é lim itado, a alma poderá che­ gar à últim a reencarnação tendo ainda cri­ mes e im perfeições que, então, só poderá ex­ piar em algum lugar de castigos, determ ina­ do por Deus. Se é lim itado, a alm a nunca poderia chegar ao termo da prova, porquan­ to o núm ero das reencarnações dependeria de seu esforço; mas, ignorando ela quais as faltas que com eteu anteriorm ente, recairá sem pre nas m esm as faltas. E assim , a Jus(361) Idem, Ibidem, ps- 437.



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liça D ivina seria im potente para im por uma sanção a suas leis. A alma viveria sem pre, — sem pre expiando e sem pre pecando, sem nunca ser com pelida a deixar de pecar. V.

- A REENCARNAÇÃO E A IGREJA.

A lem de ser condenada indiretam ente, visto que se opõe ao valor do arrepen dim en 1 to, e ao dogma do pecado original, a doutri­ na da reencarnação foi condenada, direta­ m ente, pela Igreja, no Concílio Particular de Braga (362). O canon do C oreilio de Constantinopla assim reza: " S e a lg u é m if ir m a o u c rê q u e a s a lm a s do s h o ­ m ens p r e e x is tlr im . . . e q u e . . . fo ra m p a ra c astig o s in tro d u z id a s r.os c o rpos, se ja e x c o m u n g a d o ” .

S. Leão Magno tambem condenou a teo­ ria da preexistência das alm as, teoria a que ele cham a de “fab u la.” (Epist. 15. c. 10). E L actan d o, escritor do século IV, opina que tal teoria nasceu de cérebros delirantes e é tão ridícula que só merece cscárneo. (363) N otas fin ais: D e nada vale dizer que a teoria da reen­ carnação explica a existência dos monstros dos im becis, dos tarados, ou que é uma res­ posta aos sofrim entos da vida. (362) DENZIGER. 236. (363) LACTANCIO — IimtKuHone» Dlvlnnc, Uv. VII, c. 12.



333 —

M o n stru o sid a d e s, a le ijõ e s, Im b e c ilid a d e . . . são p r o d u to s d e c au sa s se g u n d a s, — n a tu ra is , — com o sí­ filis, alco o lism o , h e re d ita rie d a d e , c o n sa n g u in id a d e , etc. E é sa b id o q u e D eus n ão c o n tra r ia a a çã o d a s c a u sa s se g u u d a s se n ão era caso s e x cep cio n ais. O q u e se n o ta n o s h o m e n s ta m b em se vê no s a n im a is, o n d e liá tip o s a n o rm a is ou d e g e n e ra d o s. H á m o n stro s a té n o s r e i­ n o s v e g e ta l e m in e r a l: “ As ro sa s m a is b o n ita s d e no sso s ja rd in s são , se­ g u n d o no ssos b o tâ n ico s , m o n stro s v e g e ta is" . “ E p a ra c o m p le ta r . . . re c o rd e m o s q u e os g eó lo ­ gos, p rin c ip a lm e n te B e a u d a n t e H au y, d e sc o b rira m c e rto s m o n s tro s m in e ra ló g ic o s, com o os géo d o s, cu jo m odo de fo rm aç ão c o n tra r ia to d a s a s le is d a c ris ta li­ z aç ão ". ( 3 6 4 ).

As causas segundas são o que cham a­ m os Natureza. E Deus não contraria, ordi­ nariam ente, as leis naturais. Na doutrina católica, o hom em sofre p a­ ra receber no futuro. Na metem psicose, so­ fre para pagar um passado hipotético. Quão sábia e conform e à razão c a doutrina da Bí­ blia, revelada por Deus!

A reencarnação não é aceita por todos os espiritas. “ Certas escolas espiritistas com ba­ tem, ostensivam ente e não sem êxito, a dou­ trina oficial do espiritism o.” (3C5). No Congresso Espirita Internacional, que se reuniu em Liège, em 1923, D roiw ille propôs a seguinte dúvida: (3G4) Dr. POODT — Los Fenôm enos Mlsjerloso.n dei Psiquism o, pg. 3G7. (3G5) Dr. POODT, Ibldem, pg. 3G1.

“ E m g e ra l, diz -se q u e a R e e n c a rn a ç ã o ó u m a le i g ra ç a s à q u a l o e s p ir ito e v o lu c io n a e se e lev a , ex­ p ia n d o a s f a lta s c o m e tid a s em e x istê n c ia s p re c e d e n ­ te s. O q u e e u q u e ria sa b e r 6 a ra z ã o p o r q u e o es­ p ir ito te m n e c e ssid a d e d e m a té r ia p a ra e v o lu c io n a r e e lev a r-se , e, s o b re tu d o , com o p o d e s e r a d m itid o p o r algunB q u e , e sta n d o a p a g a d a a id é ia do p a ssad o , se ­ j a p o ssív e l a e x p ia ç ã o ” .

A . D ragon respondeu: " P o sso d iz e r: A R e e n c a rn a ç ã o , ta l com o te m sid o e x p o sta a té h o je , n ã o p a ssa d e u m a te o ria b o a p a ra m e n in o s d e esco la p r im á r ia ” . (3 6 G ).

R ichet tam bém escreveu: “ S o b re a R e e n c a rn a ç ã o só te m o s d a d o s tã o f rá ­ g e is e tã o In co m p leto s q u e, sob o p o n to de v is ta c ien ­ tífic o , p odem os d iz e r qu e e stã o n o v á c u o ” . ( 3 6 7 ).

T E R C E I R A

P A R T E

CONSEQUÊNCIAS LÓGICAS

CAPÍTULO I SUPERSTIÇÃO E CEPTICISMO Há propriedades que dim anam da pró­ pria essência das coisas. Assim, o Sol pro­ jeta luz, m as um corpo opaco, interposto, in­ tercepta-lhe essa luz: porque é da essência do Sol ser lum inoso e dos corpos opacos se­ rem im penetráveis. As árvores tambem pro­ duzem frutos conform e sua própria nature­ za: as boas, bons frutos; as más, m aus. O espiritism o não é boa árvore. Como ciência, falta-lh e base cientifica: experim en­ tação m etódica e p rincípios certos, axiom áti­ cos, para alicerce de dem onstrações poste­ riores. Como religião, falta-lh e origem d ivi­ na. Seus fundadores visíveis fo ra m um as m oças alcoólatras, e os fundadores invisíveis são os dem ônios da B iblia ou uns espíritos vagabundos, segundo o conceito espirita. Assim, de acordo com sua essência, o es­ piritism o só produz efeitos desastrosos, para a alm a e para o corpo, para o indivíduo c para a sociedade.

— 338 — 0 espiritism o arruina a m ente do ho­ mem. Todo aquele que se entrega às práti­ cas da seita danada, torna-se um vizinho in­ côm odo: só fala em espíritos, fantasm as, ec top lasm as. . . O espirita não raciocina. Não investiga. Não procura “soluções natu­ rais” para as coisas. Os p rincípios naturais, para ele, não existem . A Física, a Química, a Medicina são “ tapeações” . . . Se a pedra cai não é pela lei de N ewton; se o fogo queim a, não é por uma virtude inata: insila vis, com o falou Vergílio; se a strienin a convulsiona, se o cianeto de potássio inibe, se o bicloreto de m ercúrio corrói, nada disso se realiza pela natureza das coisas; se alguem adoece, nem é por cau­ sa da fabricação de toxinas por um germe infeccioso, nem por causa de um desequilí­ brio m o le c u la r ... N ada disso. Tudo são espíritos obsesso­ res. Por conta desses velhacos correm as doenças dos hom ens e dos anim ais, a loucu­ ra, o sofrim ento físico ou moral. T udo é castigo por faltas com etidas em outra existência. A im becilidade é um espí­ rito; a pobreza, outro espírito; a aleijão, ain­ da outro espirito. Se nascem m onstros, não vá a ciência dizer que foi porque uma causa intercorrenle im pediu o desenvolvim ento norm al do o viim ; os m onstros explicam -se pela doutrina da reencarnação. Os espíritos, bons ou m aus, im pregnam as coisas, e dão-lhes forças inatas, — Repugna aos espiritas a “ciência o ficia l”, (a que cha­ m am de m íope e retrógada), quando afirma

— 339 — que há causas proporcionais ç efeitos neces­ sários. Os espiritism o, m atando a razão, m ata a ciência. E aqui surgem duas consequências, — aparentem ente contraditórias, — a que o espiritism o leva o h om em : SUPERSTIÇÃO E CEPTICISMO. Superstição, em sentido largo, — o cul­ to religioso sem m otivos intelectuais ponde­ rosos, o respeito que se consagra a coisas e fa ­ tos, que não tem nenhum a ligação com a R e­ ligião Revelada, ou que a razão reprova. Cep­ ticism o, — a dúvida a respeito de tudo, — no terreno da ciência e no cam po da religião. Coisas digna de notai O católico, quando instruido na sua religião, é um verdadeiro filósofo, que, se presta assentim ento a uma verdade religiosa, é porque sua razão achou nisto m otivos de credibilidade. R ejeita o que a razão não aprova. A própria fé deve estribar-se, direta ou indiretam ente, em argumen­ tos racionais: O católico instruido, portanto, é o que se pode chamar um “ hom em supe­ rior”, — realização desse herói intrépido de que fala H orácio num a de suas odes: " J u s tu m a c tei>:.eem p ro p o siti v lrn m n o u c iv iu m a r d o r p r a v a ju b c n tlu m , iio n v u ltu s lu s tn n tls ty r n n n i in e n te q u n tit s o lid a . . . n e q u e fu lm in a n tis Jo v ig mauus: S I FR A C T U S IliL A B A T U R O R B IS , IM PA V I DUM F E R IE X T U U IN A E . ( 3 6 8 ) (3GS) “O varão ju sto e ten az em su as resoluções, nilo o sacu d irá o Ímpeto dos cidadãos que ordenam lie-

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340 —

O espirita, — o m esm o direm os do ateu c do m aterialista, — ainda que seja homem instruído, não passsa, por vezes, de um su­ persticioso tipo hotentote: acredita nas m aio­ res tolices, crê em feiticeiros, em adivinhos, cm cartomantes. A isto se reduz o incrédulo: não crô em Deus, m as crê em latidos de cães e em can­ tos de aves agoireiras. Vam os aos fatos. Faz pena ver, por exem plo, um hom em do estofo de Carlos Imbassahy defender a crença na bruxaria. Is­ to está escrito no seu livro: “ O h om em tra z e scrito o se u lu tu r o ! E esse fu ­ tu r o lê -se-lh e n a s lln lin s
Alem disso, a R eligião de Katie c Maggie Fox desnorteia o hom em quanto às condi­ ções da vida. Dá ao hom em um destino falso. Levanta um castelo de m ensagens sem base, ridículas, galldades, nilo o a b ala rá , com su a fera cata d u ra , o rosto do tira n o presente, nem a in d a o com overão as m io s de Ju p lte r (|uando despede os seus ralo s: Se o mundo, dospodnçando-se, vier abaixo, p oderá esm agá-lo, m as há-de encontrá-lo de pá, Im pávido”. Horáclo, Odes, III, 3. (3GD) CARLOS IMBASSAHY — O E sp iritism o à luz dos F ulos, pg. 522-523.



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fantasiosas, e coloca o hom em no vazio desse castelo. Cria um m undo subjetivo, sem reali­ dade, destituído das regras do bom senso, e situa o indivíduo 110 centro desse mundo. A fé cristã, a crença cm Jesús-Cristo, os ensinos do Mestre D ivino dessipam -se, tor­ nam-se ilusões quando entregues à interpre­ tação dos novos fariseus, cham em -se estes es­ piritualistas ou espiritas, Allan Kardec ou Oliver Lodge. 0 Deus verdadeiro, tão próxim o do h o­ mem, am igo cotidiano e fam iliar, distancia-se deste m undo, na doutrina espirita. É um deus distante e indiferente. Os espíritos c que, bem ou m al, governam o m undo desses doutrinadores ingênuos. Deus evapora-se. Como que não existe. Que será feito do hom em , — sem Deus, sem luz, sem força? T orna-se um desgraçado, presa facil do desespero e do incontentam ento. A bandonado o culto esplêndido e os ri­ tos eficazes que a R eligião Cristã oferece ao hom em , o espirita entrega-se às experim en­ tações, às práticas ilusórias e im orais. Daí a cair no cepticism o vai um só passo. Desde que as práticas religiosas a que se afez não lhe trazem uma gota sequer de felic id a ­ de, o espirita, no fim da carreira, c um cadaver m oral, que não crê em Deus nem nas coi­ sas da Outra Vida. O excesso de contacto com o invisível, criou-lhe na alma o desgosto do invisível.

CAPÍTULO II IM ORALIDADE O espiritism o, desligando o hom em dos laços da Religião Cristã, libertou-o das peias da moral perfeita. As leis da m oral, dadas por Deus a Moi­ sés prim eiro, aos cristãos depois, ficam sujei­ tas a uma nova h om ologação de uns espíritos desconhecidos. Estes, umas vezes, aprovam, outras censuram os preceitos divinos. Dessa libertação é facil deduzir as conse­ quências fatais: a porta aberta a toda im ora­ lidade. Im oralidade tom am os cm sentido objeti­ vo: desrespeito aos ditam es da Ética natural, confirm ados e tornados explícitos pelos orá­ culos divinos. Pois a im oralidade è o alvo a que visam os espíritos do espiritism o. Queremos supor bem de m uitos espiri­ tas bem intencionados, hom ens filantrópicos e cidadãos prestim osos. Mas não julgam os a religião pelos hom ens. Julgam o-la em si, nos seus ritos e na su a doutrina. Os ritos ou as práticas do espiritism o fa­ vorecem a im oralidade. A doutrina espirita justifica a im oralidade.

— 343 — PRÁTICAS. Círculos estreitos de pessoas que se reunem em plena escuridão. Misturas dc hom ens com mulheres. Não só m istura: nim ia aproxim ação e até contactos. O m édiu m , m uitas vezes, é uma m ulher, e, nem sem pre, m ulher normal, m entalm ente sadia. Não ra­ ro, é uma histérica, atacada de ninfom ania. E ssas pessoas que se reunem em tais cir­ cunstâncias, podem estar bem intencionadas a principio, m as a ocasião faz o ladrão. D OU TRIN A. Os autores espiritas confes­ sam que, de perm eio com espíritos bons, com ­ parecem , nas sessões, espM tos depravados. Qual pode ser a fin alid ade dessa6 aparições m acabras? F acilm ente se adivinha. “ Persuadidos os hom ens de que não tem de tem er castigo algum na outra vida, pelos crim es e m ás obras praticadas nesta vida, não haverá jam ais freio capaz de os conter e de os desviar de com eter toda classe de m aldad es.” (370). Melhor, porem, do que argumentar, de­ duzindo, é argumentar com os fatos concre­ tos, e com as confissões dos doutrinadores es­ piritas. É o que farem os. Kardec ensina que “ os espíritos levianos pululam em volta de nós, e se aproveitam de todas as ocasiões para se m eterem nas com u­ n icações. Estas não d ifere m absolu tam en te das que poderiam ser dadas por hom ens vi­ ciosos e grosseiros. São com unicações que repugnam a to­ da pessoa de sentim entos delicados, porque <370) “Ralos 4* S«l" — prim eira Bêrle, pgf. 86.



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procedem de espíritos triviais, dcshoncstos, obscenos, insolentes, arrogantes, m aléficos e, até, ím pios. (371). E liphas L evy confessa: "N a s a sse m b lé ia s v u lg a re s, c e rto s e sp írito s d e se ­ n h a m fre q u e n te m e n te , n a s lo u sa s e no p ap el, o b sce­ n id a d e s im u n d a s e vis, com q u e os m o le q u es vicio sos s u ja m a s p a re d e s da s c a s a s ”. ( 3 7 2 ).

O m esm o E liphas Levy, falando de ses­ sões a que assistira com o espirita fervoroso: "M ão s v lsiv eis e ta n g ív e is sa em ou p a re ce m s a ir d a s m e s a s . . . M o stra m -se p rin c ip a lm e n te n a e s c u r i­ dão . . . O s c irc u n s ta n te s se n te m -se to c a r e a p e r ta r p o r m ã o s in v isív eis. E s te s c o n ta c to s p a re ce m d a r p r e f e r ê n ­ c ia à s d a m a s, c arec em d e s e rie d a d e e m esm o d e de­ c ê n c ia ” . ( 3 7 3 ).

O professor F alcom er fala de um caso cm que, depois de piedosas m anifestações, se fez ouvir “uma linguagem im pia, ditada pe­ los golpes do m édium , dirigida a três senho­ ras e a uma jovem . Essa linguagem , era a de um ser im pudico e feio, que não se pode trans­ crever.” (374). Im bassahy confessa: “ A m ã a m b lê n c ia a tr a i se re s in fe rio re s , só p o d e n ­ do os r e s u lta d o s r e d u n d a r em d e sm o ra liz a ç ã o e m a le ­ fício p a ra o e s p ir itis m o ”. ( 3 7 5 ). (371) ALLAN KARDEC — O L ivro dos Médiuns, 2.* pa rte , c. 10. (372) ELIPH A S LEVY — La c lef des g rn n d s m y stère», Pa ris, 1861, pg. 248. (373) Idem. ibldom, pg. 145. (374) FALCOMER — Phénom énologlc. apud Dr. POODT, Los Fenôm eno» M isteriosos, pg. 353. Na R cvne Splrlte. 1902. (375) CARLOS IMBASSAHY — O E sp iritism o * loa dos Fntos, pg. 181.



345 ~

Falando, porem , de im oralidade, con­ vem distingam os duas espccies: a) Crimes contra a integridade fisica, b) Crimes contra a honra. O am biente das sessões espiritas, os dis­ cursos inflam ados de m édiu ns inescrupulosos, as com unicações vindas de espíritos m aus ou de subconcientes deshonestos, tem, não ra ­ ro, levado certos “ irm ãos” à prática do cri­ me. Ainda não houve, entre nós, trabalho es­ tatístico, acerca de todos os fatos delituosos, oriundos das sessões espiritas. Entretanto, os jornais, a cada passo, dão notícia dos crimes espiritísticos levados a juizo e devidam ente apurados. D. Otávio Chagas de Miranda, tratando do assunto, colheu vários casos ocorridos no curto espaço de três m eses, só no Estado de S. Paulo. Citemos: O a ssa ss in a to de d. M a ria A d élia B a tis ta p o r seu p ró p rio m a rid o , em 192 6 . D. M a ria A d élia e ra e sp i­ r i t a e, n u m a se ssão , um e sp irito lh e co m u n ico u q u e se u m a rid o A ntó n io h a v ia c o m etid o v á rio s c rim es an to s de c asa r-se . A n tô n io L u iz p ro v o u s u a in o c ên c ia, m as, m esm o a ssim , M a ria A d élia d e sq u ito u -se d e le e, n a s re p e tid a s v is ita s q u e (a z ia a o s filh o s, p ro c u ra v a se m p re d e s p e r ta r n e le s s e n tim e n to s d e ó dio c o n tra o pai. E m c o n clu sã o : A n to n io L u iz, ira d o c o n tra a m u ­ lh e r p e rv e rsa , m a to u -a com se is tir o s d e rev o lv e r. T u res.

( 3 7 6 ).

— 346 — E m deze m b ro d e 192 5 , n a c id ad e de J a ú , S e b a s­ tiã o G onça lv e s m a to u a c a c e ta d a s o seu p ró p rio tio , Jo sé C am ilo. S e b a stiã o fre q u e n ta v a o e sp iritism o e, a ssistin d o à s sessões, v ie ra a c o n v en c er-se d e q u e seu tio lh e p u n h a a g o u ro s m a u s, ( 3 7 7 ).

Célebre é o caso do indivíduo J. A. de L., relatado por H eitor Carrilho, do M anicômio Judiciário, do Rio: E sse su je ito , ao re g r e s s a r de u m a se ssão e sp iri­ ta , em S a n ta C ruz, m a to u a s u a a m a sla A. C., a fac a ­ da s, deven d o -se n o ta r a u e a m b o s v iv ia m em g r a n d e ha rm o n ia , e q u e n ã o h o u v e e n tre eles, a n te s do c rim e, n e n h u m a d e sin te lig ê n c ia . C o n su m ad o o a to d e litu o so , o crim in o so põs-se a p r o fe rir p a la v r a s de a rr e p e n d i­ m e n to e a c h o ra r; e m se g u id a , to m a n d o d e u m a v ela, colocou-a, a ce sa, à m ão d a m o r ib u n d a , se g u n d o o uso relig io so . ( 3 7 8 ).

O dr. Xavier de Oliveira, no seu livro Es­ p iritism o e Loucura, refere ainda dois casos im pressionantes: um, acontecido em C am pi­ na Grande, Estado da Paraíba, outro no Rio. O d e C a m p in a G ra n d e é r e la tiv o ao b á rb a ro a s ­ sa ssin a to de u m a se n h o ra , d. L id la , p elo s co m p o n en ­ te s de um c n nd oblé, os q u a is, n a rc o tiz a d o s pelo e sp i­ r ita T en ó rio , lh e o b e d ec eram c e g a m e n te , tru c id a n d o a “ I r m ã ” d. L id la a socos, p o n ta -p é s, m u rro s, d e n ta ­ d a s e p a u la d a s. ( 3 7 9 ). O s e g u n d o caso diz re sp e ito ao crim e de L u iz de O liv e ira, no R io de J a n e ir o . N u m a se ssão e s p ir ita , (378) LEON1DIO RIBEIRO e MURILO CAMPOS — O E aplrltIn:..o no B rasil, Cia. E d it. N acional, S io Paulo, 1931, ps. 138-142. (379) o (380) Dr. XA VIER DE OLIVEIRA — “ Eoplritlnnio e L oucura” , A. Coalho F ra n ce , editor, 1931. ps. 264-266 s 267-273.

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L u ls c o n seg u iu h ip n o tiz a r C a ro lin a R ib e iro e D esdôm o n a G ra n ad o , e sp a n c a n d o -a s em se g u id a , b a rb a ra ­ m e n te . D en u n c ia d o , o ré u fo i c o n d en a d o , em p rim e ira in s tâ n c ia , pelo ju iz F ru c tu o s o M oniz B a r re to , e, em se g u n d a in s tâ n c ia , pelo tr ib u n a l d e a p e la ç ã o d a C ap i­ ta l d a R e p ú b lic a, em tn a rç o de 192 7 . ( 3 8 0 ).

N ão precisam os ir longe. Os próprios fu n ­ dadores do espiritism o confessam que “espí­ ritos inferiores, às vezes, dom inam e subju­ gam as pessoas fr a c a s ... Em certos casos, o dom ínio desses espíritos assum e tais propor­ ções que p odem levar as suas vítim as até o crim e e a loucura.’’ (381). O espiritism o baixo, nom e m oderno com que se m ascara a feitiçaria antiga, só se tor­ nou conhecido pelos seus processos de fazer mal ao próxim o. “D espacho” é o termo em ­ pregado para indicar o m alefício. Diz o dr. Xavier de Oliveira: “ P e d a ço s d e v e las, d e c h a ru to s, f o lh a s d e a le c rim o d e o u tr a s e rv a s, c o n ta s de ro sá rio , f a r ó fia d e f u b á com a z e ite m a l c h e ir o s o . . . tu d o p o d e s e r co locado n u m a e n c r u z ilh a d a q u a lq u e r, a lta s h o ra s d a n o ite . O u­ tr a s vezes, la n ç a d o ã casa d a v itim a , só o m é d iu m c u ra d o r pode in u tiliz a r o s se u s e fe ito s d a n o so s” , pg. 241. ( 3 8 2 ).

A O dr. B. Ilatch, m arido de Cora Hatch, célebre m édiu m am ericano, declara que o es­ piritism o nenhum a couta faz do que se cha(381 LÉON D ENIS — Apre» la Mort, pg. 330. (382) XA VIER DE OLIVEIRA — E sp iritism o e Lou­ e ur«, pg. 241.



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ma " fidelidade con jugal.” Em poucas obser­ vações, conseguiu identificar uns setenta m é­ diuns que haviam abandonado com pletam en­ te os seus deveres co n ju g a is.. . Outros tinham mudado de “ C om panheiras” . . . (383). A vida dos m édiu ns e dos praticadores do espiritism o confirm a, a cada passo, a ob­ servação do dr. Hatch, m arido de um a sacer­ dotisa espirita. O m édiu m Slade, quando esteve no Rio de Janeiro, com etera inconveniências tais e tantas que, para não ser preso e processado, houve de deixar precipitadam ente o nosso pais. (384). “N ão h á m u ito , — escrev e d. O táv io , — a po lic ia c a rio c a v a re jo u o “ C e n tro E s p ir ita S. J o r g e ”, e p r e n ­ d e u o p r e s id e n te do c e n tr o com to d o s os a ssiste n te s. E n tr e e s te s e n c o n tra v a m -se q u a tro m o ças m e n o re s, q u e so diz iam d e sh o n e sta d a s p elo p r e s id e n te do C en ­ tro . A po líc ia a p u ro u q u e o m esm o in d iv id u o a b u s a v a r e a lm e n te de m e n o re s q u e fre q u e n ta v a m o c e n tro " . (3 S 5 ). L eo n id io R ib elro -M u rilo d e C am p o s a b rig a r a m no se u liv ro “ O E s p iritism o n o B r a s il” o caso de d e ­ flo ra m e n to , p u b lic ad o p o r A frã n io P e ix o to , em 1909. I d a lin a , de 16 a n o s de id a d e , fo i le v a d a p e la p ró p ria m ã e ao e s p ir ita B om fim e e ste, d e sc o b rin d o n a m e n o r q u a lid a d e s d e m é d in m , co m eçou a in s tru i- la e p rese n te á -la a té q u e c o n seg u is se p e r p e tr a r o c rim e . . . D esv irg in o u -a . A frã n io a c r e s c e n ta : “ A lem d isso, p u d e v e rific a r q u e, n o e s ta d o d e C.-ÍS3) Cf. “ Ralos de .Sol”, 1.* série, pg. 29. (3S4) JUSTINO MENDES — Médiuns e F n k lrea, Llvr. Católtcn. A. Campos, S. Paulo, 192S, pg. 48. Slade velo ao B rasil n convite do proí. A lexandre, do Colégio Pedro II,

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p a ssiv id a d e a u to m á tic a ao q u a l red u z s u a s m é d iu n s f e m in in a s, n a s se ssõ es p ú b lic a s e p riv a d a s, é fac il a b u ­ s a r d e la s se m d ific u ld ad e , q u a n d o n ã o h á te s te m u ­ n h a ” . ( 3 8 6 ).

Falando do espiritism o, alto e baixo, es­ creve Xavier de O liveira: "O c om plexo se x u a l e m p o lg a a q u a se to ta lid a d e dos m é d iu n s qu e te n h o o b se rv a d o . C o nh eci, a té , um d e p u ta d o fe d e ra l, e s p e c ia lis ta n e s ta m a té r ia . D iziase e s p i r i t a . . . . e cerca v a-se d e s e n h o ra s c ré d u la s , em g e ra l p ra tic a n d o nos h o té is o n d e m o ra v a . D epois de c e rto te m p o , a lg u m a s h ó sp e d as, m a is d a d a s à s e ita de K a rd e c , j á n ã o po d ia m s u s te n ta r o o lh a r d e le, d e ­ p u ta d o . “ O p rocesso f a lh a v a m u ito ; m as, à s v ezes, d av a certo . “ U m a po b re in sa n a d eu e n tr a d a no P a v ilh ã o , com in ú m e r a s eq u im o se s, to m a n d o -lh e m e ta d e do corp o . “ F o i a p e rv e rsid a d e d e u m m é d iu m q u e ju r o u v in g a r-se d ela, e v in g o u -se , d e -fato , p o r n ão te r ela q u e rid o a c e ita r a s p r o p o sta s d e a m o r q u e lh e fize ra. “ E l a . , não te v e m a is s o s s e g o . . . a té q u e, em f ra n c a e fo rte c ris e n e rv o sa , lh e foi c a ir a o s p é s ” e e le a c o n tu n d iu to d a p a ra tir a r - lh e o e sp írito m a u q u e se a p o s s a r a d e la ” . ( 3 8 7 ). E m a is: “ As d a n ça s se n su a is, q u a se se m p re , fec h am e ssas a s se m b lé ia s de e x p lo ra d o re s e e x p lo ra d o s, a q u e n em fa lta a n ó d o a d a la sc iv ia im u n d a , q u e é u m a d a s su a s c a r a c te r ís tic a s p rin c ip a is. “N os tr e je ito s d e se u s p asso s se n su a is, v ê -se bem (3S5) D. OTÁVIO CHAGAS DE MIRANDA, opus clt., PB. 89. . • (386) LEONIDIO RIBEIRO-M URILO CAMPOS — O E splrltlxni» uo Brnsll, pg. 136-138. (3S7) Dr. XA VIER DE OLIVEIRA — E sp iritism o e

— 350 — o in s tin to b r u ta l d a b e s ta q u e te m d e n tro d e s l c ad a conviva d e ssa s o r g ia s m a c a b ra s. “ U m eteiTO carnaval satânico, com todo o seu cortejo de m isérias e com todas as su as consequ ên cias lastim áveis. “ E é a isto q u e c h am a m u m a c iên c ia, u n s, e u m a re lig iã o , o u t r o s . . . “ E sp iritism o , LO UC U RA E P ID Ê M IC A , q u e o r a d e v a sta a h u m a n id a d e , d ig o eu. “ N em o fu n d o Ín tim o d a s u a c a u sa p re c ip u a d i­ v e rg e , h o je , d a que se m p re foi in e re n te à c lá ss ic a h is­ te ria de S y d e n h a m : o CO M PL EX O S E X U A L ”. ( 3 8 8 ).

É de notar que as perversões do instinto sexual andam , m uitas vezes, de-par com as sevícias praticadas contra a pessoa “que se d eseja”. A necrofilia e o sauism o, em que se celebrizaram os Febrônios e, m esm o, certas pessoalidades de alto conturno, a-m iude se revelam na prática do b aixo espiritism o. É no paroxism o de uma crise nervosa que “o p ervertido” se sente com tendências necrófilas ou sádicas. Aliás, o nivel de im oralidade a que che­ gou, entre nós, o espiritism o, já foi denuncia­ do pelos próprios espiritas. L uiz de M atos, p r e s id e n te do " C e n tro R e d e n to r ”, e n tid a d e e s p ir ita q u e se in s u r g e c o n tra a “m o d e ra ­ ç ã o ” d a d o u tr in a de A lla n K ard e c , e d ito u , em v o lu ­ m e, a s CA RTA S O PO R T U N A S q u e o jo r n a l “ A P á t r i a ” p u b lic a ra em 1924. N essas c a r ta s , o sr. L u iz de M ato s a ta s s a lh a a fa ­ m a d e se u s “ ir m ã o s ” d iv e rg e n te s. N u m a lin g u a g e m c ru a e v io le n ta , la rd e a d a de te rm o s so ezes, v e rg a s ta (38S) X A V IE lt DE OLIVEIRA, o p iu cU., Pg. 241-242.

— 351 — a q u e le s q u e e le d e n o m in a “ p r a tic a d o re s d a fe itiç a ria c a r d e c is ta ”. D e n u n c ia o q u e d e a b je to v a i p e la s te n ­ da s e c e n tro s. P õ e a d e sco b e rto o la m a ç a l d e poi-néln, q u e c o n s titu e o s u b s tr a tu m e a p ró p ria raz ã o -d e -se r do E sp iritism o . Do o u tr o la d o , — a g o ra u m c a rd e c ista , — C a r­ los Im b a s sa h y a ta c a ta m b em o s c e n tro s " m a l a fa m a ­ d o s ” d<“ *iaixo e sp iritism o . E ’ v e rd a d e q u e e sses a u to re s faz em r e ssa lv a a re sp e ito de se u s re sp e ctiv o s g ré m io s: L u iz d e M ato s, de fe n d en d o o e sp iritism o a n ti- c a rc e d is ta ; Im b a s sa h y , o e sp iritism o c a rd e c ista . N a o p in iã o d e u m e d e o u tro , e x iste um e sp iritism o p u ro e u m e sp iritism o d e g en e ­ ra d o .

O que vem os, na polêm ica, é que os pró­ prios liom ens de bem, — que ainda os há no espiritism o, — se assustam com o resultado da doutrina espirita, tenha ela origem em Kardec ou alhures. Reproduzam os, porem , com o pratinho delicioso oferecido ao leitor, alguns trechos da verrina de L uiz de Matos: “ D a fre q u ê n c ia a ta is s e s s õ e s . . . r e s u lta o a la s ­ tr a m e n to de sse v e n en o a s tr a l q u e p ro d u z su ic íd io s, a s ­ sa ssin a to s, d e s h o n ra de d o n z ela s, p re v a ric a ç ã o d e m u ­ lh e re s c asa d as, a o s m ilh a r e s , q u e os jo r n a is m e n cio ­ n a m no se u n o tic iá rio ”. ( 3 8 9 ).

Mais: “ Se ta is m u lh e re s q u e q u e re m p a s s a r p o r s e n h o ­ r a s v ir tu o s a s e r a in h a s do la r, com o m u ita s ex iste m p o r to d a p a rte , tiv e sse m v e rg o n h a , n ão d e sc e ria m a p o n to de se n iv e la re m com b o ç allssim o s p a is d e m esa (389) LUIS D E MATOS — Cnrtns O portunns. Edlç&o do Centro E sp irita R edentor, 1924, pg. 34.

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e m é d iu n s tovp íssim o s do s a n tro s q u e fre q u e n ta m , de q u e são “ f re g u e s a s ” e q u e p a g a m ” . ( 3 9 0 ).

A dispula entre espiritas cardccistas e anti-cardccistas, ou entre os sequazes do alto espiritism o e os do espiritism o baixo, não tem razão-dc-ser. Parece mais uma briga de ofi­ ciais do mesm o ofício. Rivalidade, e nada mais. D e-feito, as práticas religiosas decorrem, sem pre e necessariam ente, da doutrina teó­ rica. Ora, a doutrina do cham ado espiritism o racional-cristão, quanto aos pontos essenciais, cm nada difere da doutrina de Allan Kardec. Logo, as práticas de cardecistas c anticardecistas são iguais. São IMORAIS TODAS ELAS. Esta é que é a verdade. E os fatos aí estão, registados c docum entados, nos autos policiais, nas colunas dos jornais e nos livros dos cientistas. Para serm os justos, som os forçados a de­ clarar o espiritism o “ racional-cristão,” do C entro R eden tor, mais perigoso do que o espi­ ritism o de qualquer outra feição. Já Leonidio Ribeiro c Murilo de Campo observaram que o espiritism o do fam igerado C entro R eden tor é “fundam entalm ente anti-religioso.” Os fu ­ riosos mem bros desse Centro chegam até a insurgir-se contra a nom enclatura religiosa, e aconselham a substituição do nom e de Deus pelo de Grande Foco e zom bam da expressão “N osso S enhor Jesú s-C risto”, tão cara aos ou­ vidos dos católicos. (391). (390) LUIS DE MATOS, Ibidem, pg. 40. (391) LEONIDIO RIBEIRO-MURILO CAMPOS, opu» clt>, pg. 100.



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0 ódio desses hom ens contra a Igreja Ca­ tólica parece antes dc energúm enos. Passando, porem , da teoria à prática, os mem bros do Centro R eden tor aconselham o castigo físico contra os seus inim igos (392) e, no terreno da terapêutica, lançam m ão dos m étodos m ais violentos: “O C entro E spirita R edentor" faz o alie­ nado voltar à situação de p o ssu id o . . . pelo espírito mau, e, nessas condições, prescreve a “lim p e za psíquica, as am arrações” c os casti­ gos corporais.” (393). O livro E spiritism o C ientífico e C ristão, m anual ritualistico desse Centro, não se en­ vergonha de exibir fotografias de instrum en­ tos de suplicio, usados na terapêutica espirita “i’acional-cristã.” Assim, num a fúria de inconoclastas, os “espiritas racionais-cristãos e científicos”, ne­ gam as m ais claras verdades do Evangelho, e tentam destruir os próprios Evangelhos. Rancorosos e dem olidores. Podem os, portanto, igualar todas as m o­ dalidades de espiritism o. As pequenas d ife­ renças, entre elas, são apenas acidentais. Não passam de necessárias evoluções do sistem a, porque a prática de uma doutrina está sujeita a acom odações várias, dc acordo com o nivel m ental dos crentes, desde que a doutrina se preste a isso. " M ú ltip la s sã o a s v a rie d a d e s de e sp iritism o , pois vem d e sd e o q u e dizem s e r a s u a feição c ie n tific a , a té (392) LUIZ D E MATOS — CnrtnH OpordmnH, pB. 140. (393) LEON1DIO RIBEIRO-MURILO CAMPOS, opus cit., per. .

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— 354 — a b a ix a f e itiç a ria que a s s e n ta a s su a s b a ses n e le ta m ­ bém , D E A CORDO COM O N IV E L M E N T A L E A CUL­ T U R A IN T E L E C T U A L do s se u s s e c tá r io s ”. ( 3 9 4 ).

Toda doutrina espirita, qualquer que se­ ja, leva a práticas imorais. A im oralidade parece ser a fin alid ade do espiritism o neste m undo. Im oralidade e des­ respeito ao corpo, porque o espiritism o reduz a zero o valor ou a im portância do corpo no com posto hum ano. N a doutrina da Igreja, o corpo é cercacado de lodo respeito, e isto pelo papel im por­ tante que o corpo representa no com posto. A alm a sem o corpo, vimos, é incapaz de adquirir conhecim entos, que são colhidos m ediante os sentidos corpóreos. Alem disso, a união da al­ ma com o corpo é uma união substancial. P e­ la m orte, estabelece-se, entre a alma e o cor­ po, uma separação de-fato, m as não uma se­ paração de-jn re. A alm a continua a ter direi­ to à posse de seu corpo e este à posse de sua alm a, de m odo que esta não se unirá nunca com outro corpo que o seu. Assim doutrina Santo Tomaz. E a união de-fato se restabelecerá um dia. A ressurreição dos corpos é dogma de fé. O corpo é a m orada da alm a, e se esta esti­ ver em graça, o corpo c m orada da graça. Por isso disse São Paulo que o corpo do cristão é templo do D ivino Espírito Santo. O corpo, portanto, — belo ou feio, fisi­ cam ente, — tem uma im portância enorm e na (394) XA VIER D E OLIVEIRA — E sp irltU m o e Lou­ cu ra , p s . 196-196.

— 355 — doutrina da Igreja. Os sacram entos san tifi­ cam a alma, m as se exercem no corpo e pelo corpo. Por isso é que são “sinais sen síveis.” Mas o espiritism o reduz o corpo humano, vivo ou morto, a uin punhado de sais. O cor­ po não passa de uma casca da alm a. É apenas um a vestim enta temporária que, depois de gasta, será trocada por outra ou por outras. Ruinoso para a alm a, o espiritism o o é tam bem para o corpo. Até as belas artes per­ dem com a adoção dessa religião funesta. O ESPIRITISMO É O INIMIGO DO HO­ MEM, do hom em todo.

CAPÍTULO III LOUCURA E SUICÍDIO Ninguém desconhece o parentesco de grau próxim o, que há entre a prática do espiritis­ m o e a loucura. Os casos de espiritas que en­ louqueceram são tão com uns, que chegaram a preocupar os próprias representantes da ciência oficial, e os responsáveis pela saude do povo. Já não som os nós, — os sacerdotes católicos, — que estudam os o problem a sob este aspecto. Sobre nos faltar com petência, julgam os desnecessária toda investigação nos­ sa, uma vez que o assunto já fo i tratado, p ro­ ficientem ente, pelos m aiores psiquiatras bra­ sileiros. Lim itar-nos-em os, pois, a seguir as pegadas desses especialistas. Antes de m ais nada, m anda a sincerida­ de confessem os que o espiritism o não é uma causa fa ta l de loucura. É, apenas, uma causa coadju van te, uma concausa. Neste particular, equipara-se à sifilis e ao álcool. Mesmo por­ que, assim dizem os especialistas, não ex is­ te fator especifico de loucura: esta é uma nevrose, aguda ou não, e a etilogia da neuro­ se é ainda ponto obscuro em m edicina. Isto, porem , pouco im porta ao caso. 0



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certo e indiscutível c que o espiritism o leva para a loucura. X a vier de O liveira reduz a loucura dos espiritas a um sin drôm io histeróide, e diz que ela se m anifesta, via de regra, nos indivíduos de constituição m itopática. A m itopatia, no caso, nada m ais é do que a “facil sugestibilid ade” dc Bernheim. (395). O espirita, diz o dr. Xavier, é um ind iví­ duo ainda não declaradam ente enferm o, m as que tem a sua m eiopragia n ervosa, sua tara, c é, assim, um receptivo m ental, terreno pre­ parado, que, dedicando-se ao espiritism o, aca­ ba por adoecer, m entalm ente, dc uma psicose que se liga aos fenôm enos espiritas. (396). D esta form a, o espiritism o d “ um gênero de ocupação que concorre, não som ente para a m odelagem dos sintomas, com o tambcin pa­ ra a provocação da loucura.” (397). Entre as perturbações m entais, produzi­ das pelo espiritism o, um as, — os delírios epi­ sódicos, — são curáveis, e outras são incurá­ veis. Mas “em todas, ocorrem perturbações graves, inclusive o suicídio, porem sem gran­ de repercussão no estado som ático. (398). Melhor, porem , do que todas as afirm a­ ções, falam as estatísticas. O dr. X a vier de O liveira é professor de psiquiatria na U niversidade do Rio de Janei­ ro e, nessa qualidade, observou m ais dc de­ zo ito m il loucos no Parvilhão de Assistência a (395) (39C) (397) plrltlnm o (398)

Idem. Ibidem, pg. 191. Idem, Ibidem, pg. 195. I.EONiDIO RIBEIRO-MURILO Campos — O no Brnail, pg. G4. Idem, Ibidem, pg. G7-C8.

— 358 — Psicopatas, da Faculdade de Medicina. Conclue ele: " N u m a e sta tís tic a d e doze a n o s, p o r n ó s a lí le­ v a n ta d a , de 1917 a 192 8 , n u m to ta l de 1 8 .2 8 1 e n tr a ­ da s, e n c o n tra m o s 1 .723 In san o s, p o r ta d o r e s de p si­ coses c a u sa d a s, só c e x c lu siv a m e n te , pelo e sp iritism o , e q ue, a lí, se re g is ta m so b a d e n o m in aç ão g e ra l d e — D e lírio e p isó d ic o ” . “ E ’ d iz e r q u e 9 ,4 % d a s e n tr a d a s a lí sã o d e v id as à s p r á tic a s e s p ír ita s , d e o n d e c o n c lu ir q u e, a p ó s a s ífilis e o alco o l, é o e sp iritism o o te rc e iro f a to r d e a lie n a ç ã o m e n ta l no R io de J a n e ir o ”. ( 3 9 9 ).

Portanto, as três principais causas de loucura, na capital da República, foram , de 1917 a 1928: 1.*: A SÍFILIS. 2.a: O ALCOOL. 3.■: O ESPIRITISMO. Segundo H enrique R oxo, estes três fato­ res concorrem com 90% dos casos de alien a­ ção m ental, ficando apenas 10% para outras causas de loucura. (400). E’ a eloquência dos fatos! E note-se que ai estão quase que só os loucos m iseráveis. Os outros, em grande parte, hão-de ter ido para casas de saude particulares, ou foram tratados dom iciliarm ente. E no interior do país? Pelas nossas obser­ vações pessoais, podem os afirm ar que os es­ tragos m entais do espiritism o não são nada (399) X A VIER DE OLIVEIRA, lbldem, pg. 197-198. (400) IIEN RIQ U E ROXO — Modern.is «enrtOncin» de pnlqnlntrln, cit. peloa dra. Leonldlo e M urilo, opus cit., pag. 61.

— 359 — inferiores aos do Rio de Janeiro. Serão, até, maiores. “ O liv ro dos m é d iu n s, d e A lla n I ía r d e c , é a co caí­ n a d03 d e b ilita d o s n e rv o so s q u e se dão à p r á tic a do esp iritism o . “ E com u m a a g ra v a n te a m a is: é b a ra to , e s tá ao a lc a n c e de to d o s e, p o r Isso m esm o , le v a m a is g e n te , m u ito m ais, a o s b o spicios, do q u e a " p o e ir a do d ia b o ”.

Os seus efeitos funestos para a mentalir dade do hom em , o E spiritism o os com eçou a produzir, desde que apareceu. Já em 1852, o jornal The B oston P ilot, cm seu núm ero de 1.° de julho, notava o grande contingente de doidos fornecido pelo E spiritism o: “ A m a io r p a rte dos m é d iu n s a c a b a m , com o (em ­ po, p o r to r n a r - s e in tr a tá v e is , lo u co s, id io ta s, e o m e s­ m o su c ed e la m b e m a o s se u s o u v in te s. N ão p a ssa se ­ m a n a em que nã o te n h a m o s o c asiã o d e v e r a lg u m de sses d e sg ra ç a d o s su lc ld a r-se , o u e n tr a r p a ra a lg u m a c a sa de sa u d e . Os m é d iu n s d ão s in a is in e q u ív o co s d e um e sta d o a n o rm a l d e su a s fa c u ld a d e s m e n ta is, e n ã o poucos d e le s a p re s e n ta m s in to m a s bem p ro n u n c ia d o s de v e rd a d e ir a posse ssã o d ia b ó lic a " . ( 4 0 1 ) .

Segundo Mirville, grande núm ero de lou ­ cos foram internados em Bicêtre (França), em 1881, todos eles vitim as das práticas espi­ ritas. (402). Em 1877, o dr. L. S. W inslow escreveu: “ D ez m il p e sso a s e stã o a tu a lm e n te e n c e rr a d a s em (101) FIG U IE R — H isto ire d a M erveilleux, 1881, v. IV, pg. 343. (402) MIRVILLE — a n cx tlo n de« E sp rits, 1885, pg. 65, clt. pelos “R alos de Sol”, pg. 28.



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iuanlcO m ios do s E sta d o s U n id o s, p o r s e te re m im iscu í­ do com o s o b r e n a tu r a l”. (4C3,.

Os próprios autores espiritas reconhecem a grande contribuição de dem entes que sua religião fornece aos hospícios. É verdade que procuram explicar o fenôm eno a seu m odo; mas, em todo caso, confessam o fato e isto nos basta. , Diz o sr. Carlos Im bassahy: “ A d e b ilid a d e dos n e rv o s é, a lg u m a s vezes, tã o so m e n te e fe ito , c o n seq u ê n cia d o e sg o ta m e n to físico do p a cie n te, e s g o ta m e n to p ro d u zid o pelo e sfo rço e m ­ p re g a d o , p e la p e rd a c o n s ta n te d e flu id o s, pelo ab u so d a s sessõ es e x p e r im e n ta is ”. ( 4 0 4 ).

Gibier, tambem espirita, observa: “ E ’ n e c e ssá rio d e sa c o n se lh a r a s p r á tic a s do e sp i­ ritism o e x p e r im e n ta l a c e r to s I n d i v í d u o s . . . E ’ do nosso d e v er a s s in a la r o p e rig o in e re n te à s e x p e riê n ­ c ias de p siq u lsm o s, com a s q u a is, e n tr e ta n to , se b r in ­ ca, sem p e n s a r no g r a n d e risc o q u e o ferec em . ( 4 0 5 ).

De Léon Denis, já citam os o trecho em que ele confessa que o dom ínio dos espíritos pode levar as suas vitim as até aò crime e à loucura. (406). Allan Kardec, em linguagem prolixa, ex­ plica os pejggos do fenôm eno a que chama obsessão, fascinação e su bjugação e que, na (403) FORBES W INSLOW — L ouenrn EKpIrltunlIatn» cit. pelos “Raios dc Sol”, pg. 29. (104) CARLOS IMBASSAHY — O E sp lrltlsu io h Ia* ilos Falou, pg. 182. (405) Dr. G IB IE R — Le Splrltlnm c, pg. 3S5. citado por D. Otávio, «Os FenOmenos P síq u ico s”, pg. 78. (406) LÉON DENIS — A p rís In in o rt, pg. 230.



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sua opinião, os espíritos exercem contra os ex ­ perim entadores c m édiu ns : “ E n tr e os e sco lh o s q u e a p re s e n ta a p r á tic a do e sp iritism o , c u m p re p o r em p r im e ira lin lia a o b sessão , isto é, a posse, q ue c e rto s e s p írito s sa b e m to m a r de c e r ta s pessoas. O e sp irito d irig e , com o a u m cego, a pe sso a de q u e co n seg u iu a p o d e ra r-s e , e p o de f a z e r-lh e a c e ita r d o u tr in a s e x tra v a g a n te s e a s m a is a b su rd a s. P o d e ta m ­ bém in d u z ir a a çõ e s rid íc u la s, q u e lh e c o m p ro m eta m a h o n r a e a c a rr e te m p e rig o s. "A o b sessão a p re s e n ta tr ê s g r a u s : o b se ssão sim ­ p le s, fn scin n çã o e s u b ju g a ç ã o ” . ( 4 0 7 ).

Com estes termos, Kardec entende expri­ m ir os vários graus de loucura individual ou coletiva. O dr. Seabra, espirita brasileiro, escre­ veu: “ O a sp ec to relig io so q u e o e s p iritis m o a ssu m e n a s sessõ es c o rr e n te s p o d e rá te r se rv id o de c o n so lo a m u l­ ta g e n t e . . . m a s expõe m u ito s d e se u s p r a tic a n te s a d e so rd e n s m e n ta is o n e rv o sa s, e, com s e m e lh a n te s d e ­ sa g re g a ç õ e s, d e sa p a re c e a paz, a tra n q u ilid a d e , o c o n ­ solo q u e h a v ia m e n c o n tra d o em o u tr o s te m p o s ”; ( 4 0 8 ).

No afan baldado de defender um siste­ ma religioso prejudicial à sanidade m ental do indivíduo, os espiritas alegam que p ro d u z ir loucura não é só próprio do espiritism o, m as tam bém de todas as grandes preocupações hu­ manas; e retrucam que, dentro m esm o do ca(407) ALLAN K A ltD EC — L ivro dos Médian*, c. 23. (408) Dr. SEABRA — “ A nlmn c o n u b -co n d e n te ”, pg. 94, citado por D. Otávio, Os FcnOmcno* P alqulcoi,

— 362 — tolicism o, existem as vítim as da m isticom ania ou m ania religiosa. (409). A evasiva é futil. Nunca a Medicina des­ cobriu que o excesso de práticas religiosas do católico o levasse à loucura; excessos, quando os haja, já são efeito dc perturbação m ental, causada por um m otivo profano qualquer. No espiritism o, a loucura é consequência das prá­ ticas religiosas, isto é, da assistência a sessões e leituras. Fora do espiritism o, o fervor religio­ so vem depois da m anifestação de loucura. Não raro, uma pessoa que adquire m ania religio­ sa era um ateu ou incrédulo antes de enfra­ quecer mentalm ente. Por outras palavras: no espiritism o, a sua prática faz loucos; fora do espiritism o, a loucura costum a fazer m isticos. A

D enunciada a confissão, explícita ou im ­ plícita dos próprios autores espiritas, citem os agora a opinião valiosa dos hom ens de ciên­ cia. O problem a da espiritopatia ou loucura espirita tem preocupado a todos. N a França, são notáveis os trabalhos de A. Vigouroux, de A. Marie et V iollct, de Duhen e de outros. (410). Entre os prim eiros que se preocuparam , em França, com os desastrosos efeitos do es­ piritism o, salienta-se o dr. Mareei V iollet, m é­ dico dos asilos de alienados de Paris. Sua (409) ALLAN KARDEC — “O livro doa capfrltoa», e o u tro s autoros. (410) V eja bib lio g ra fia «m Leonfdlo R ibslro-M urllo Campos, opas cltntnm , pg. ST.

— 363 — opinião sobre o perigo 'espirita nas palavras seguintes:

sintetiza-se

“ Os e le m e n to s q u e e n tra m n a c o n stitu iç ã o e s p i­ r itis t a são a n á lo g o s a o s e le m e n to s q u e e n tra m n a co n stitu iç ã o do d e lírio : a o-rigem em f a to s m ir a c u ­ losos, a e s tr u tu r a p u r a m e n te h ip o té tic a . A d o u tr in a e s p ir itis ta a b re la rg o cam p o a to d a s a s h ip ó te se s; e s ­ s a d o u tr in a n ã o c o nhece lim ite s ; é o In fin ito q u e se p ro p õ e com o p r o b le m a ao f in ito ; so b e ste p o n to de v ista , O E S P IR IT IS M O CO N ST IT U E UM ÓTIMO CA L­ DO D E CU L T U RA P A R A TODOS OS E R R O S , PA R A TO DA E S P É C IE D E D E S E Q U IL ÍB R IO E PA R A T O ­ DA E S P É C IE D E LO UC U RA . A ssim , pois, n ã o p o d e ­ m os d e ix a r de a d m itir v e rd a d e iro s caso s d e lo u c u ra e s p ir ita ” . ( 4 1 1 ).

No Brasil, onde a doença espirita se vai tornando epidêm ica, não há um só psiquiatra que se não tenha m anifestado contra as prá­ ticas necrom ânticas do espiritism o, pródom os da vesania. E aqui há unanim idade. Todos os m édicos alienistas condenam o culto espirita, e são acordes em o apontarem à sociedade com o o perigo negro. De notar é que os cientistas, espontanea­ m ente uns, consultados outros, tem em itido a sua opinião de-público. Vários inquéritos já foram organizados, e neles depuseram os m ais n otáveis sociólogos. D esses inquéritos o m ais antigo foi o prom ovido pelo dr. JOÃO TEI­ XEIRA ALVARES, distinto m édico mineiro, residente em Uberaba. Isto em 1914. O dr. João T eixeira form ulou os dois que­ sitos seguintes: (411) Dr. MARCEL VIOLLET — Le SplrltU m e dono •eu ra p p o rts nvec la F olie ”, pg. 38.



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a) Que idéia fa z V. S. do espiritism o co­ m o fa to r d a loucura e outras pertu rbações nervosas? b) O m édiu m , prin cipalm en te o vidente, p o d e ser con siderado um tipo norm al? Responderam os seguintes m édicos, todos eles práticos no tratamento de loucos. FRANCO DA ROCHA, diretor do H os­ pício de Juquerí, S. Paulo; JULIANO MOREIRA, diretor do H ospí­ cio N acional, RIO; JOAQUIM DUTRA, diretor do H ospício de Barbacena. Minas; HOMEM de MELO, diretor de uma casa de saude, S. Paulo; ANTONIO AUSTREGÉSILO, conhecido psiquiatra, e professor da Faculdade de Me­ dicina, do Rio de Janeiro. Eis as respostas: D r. F r n n c o d a R o c h a : a) Q u an to ao p rim e iro q u e sito , lê-se em liv ro s do a u to r : “ A -p ro p ó slto d a s re u n iõ e s e sp irita s , n u m tr a b a lh o re c e n te e sc re v e ra m S o lier e B o lssie r: “ E m b en efício d a p ro fila x ia , s e ria d e c o n v en iê n cia d iv u l­ g a r os a c id e n te s c au sa d o s p e la fre q u ê n c ia à s sessõ es e sp irita s . C h a rco t, F o re l, V ig o u ro u x , H e n n e b e rg e o u ­ tr o s p u b lic a ra m e xem p lo s d e p e sso as, so b re tu d o m o­ ç as, A N T E R IO R M E N T E SANS, Q U E SE TO RN A RA M H fS T E R O -E P IL É P T IC A S , em c o n seq u ê n cia d a p r á tic a do e sp iritism o . A qui a s se ssõ es fazem e x p lo d ir o u a g r a ­ vam a n e v ro se , a c o lá d e sp e rta m e s iste m a tiz a m a te n -

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d ê n c la & V esa n la , que u m a v id a r e g u la r e bem d ir i­ g id a te ria e v ita d o ”. ( 4 1 2 ). b ) “ O m é d iu m v id e n te , em m in h a o p in iã o , n ã o é um tip o n o r m a l; é q u a se s e m p re u m d e se q u ilib ra d o . D evo-lhe d iz e r q u e eu, pelo m en o s, n u n c a v i u m m é ­ d iu m qu o fo sse in d iv íd u o n o rm a l. P o d e s e r q u e e x ista ; e u , po rem , n ã o o vl a in d a . * D r. J u lin n o M o re ira : a ) T en h o visto m u ito s c aso s d e p e rtu r b a ç õ e s n e r ­ vosa s e m e n ta is e v id e n te m e n te d e s p e r ta d a s p o r se s­ sõ e s e s p ir ita s . No H O S P IT A L N A CIO N A L, n ão r a ro , vem te r ta is c aso s". b ) “A té h o je a in d a n ão tiv e a f o rtu n a de v e r um m é d iu m , p r in c ip a lm e n te d o s c h a m a d o s v id e n te s , q u e n ã o fosso n c v ro p a ta ” . D r. J o a q u im D u tr a : “ A s p r á lic a s e s p ir ita s e stã o in c lu íd a s, e eom c e r­ ta p ro e m in ê n c ia , e n tr e e ssa s c a u s a s e e fe ito s, in f lu in ­ d o d ir e ta m e n te , p e la s p e rtu r b a ç õ e s e m o tiv a s, com o um C O E F IC IE N T E AVOLUMADO p a ra a p o p u la çã o dos m an icô m io s. “ E x a g e ra d a s, a tó se to r n a r e m p reo c u p aç ão d o m in a n ­ te , e la s p r e p a ra m a lo u c u ra , q u a n d o n ã o sã o m esm o u m a d e n ú n c ia d a s u a e x istê n c ia . “ P o r im p re ssio n á v eis, ta is p r á tic a s c o n co rre m p a ­ r a a h a lu c in a ç ã o . . . e tc .”. D r. H o m e m d e M elo: a) “ C on sid ero o e sp iritism o , com o o p ra tic a m , um g r a n d e f a to r d e p e rtu r b a ç õ e s m e n ta is e n e rv o sa s; a tu a lm e n te o e sp iritism o c o n c o rre com a h e ra n ç a , com a sífilis e com o álco ol, no fo rn e c im e n to dos h o s(412) FRANCO DA ROCHA — Esboço de PsIqulntrJo Forense, pg. 32, c itado pelo dr. Jotto T eixeira.

— 366 — pícios o casa s de s a u d e ; a ch o tã o f o r t e o s e n c o n tin ­ g e n te , q u e a le i d e v ia to lh e r -lh e a m a rc h a ” . b) “ O m é d in in 6 u m tip o d e g e n e ra d o ” .

O Dr. A ustregésilo, em resposta ao dr. João T eixeira, exprim iu a sua opinião assim : "O e sp iritism o é, no R io d e J a n e ir o , u m a das c au sa s p re d ls p o n e n te s m a is c o m u n s d a lo u c u r a ”. ( 4 1 3 ).

D epois do inquérito do Dr. João T eixei­ ra, outro houve prom ovido pelo “O Jorn al”, do Rio, em 1926, cm form a de entrevistas. Das opiniões então em itidas, duas merecem destacadas, porque em anam de dois cientis­ tas de nom e: H enrique R oxo e Juliano Mo­ reira. D isse o dr. HENRIQUE ROXO: “ O e sp iritism o é, p o d e-se d iz e r se m e x ag e ro , u m a v e rd a d e ir a f á b r ic a d e lo u c o s. E n tr e os d e m e n te s que, d ia ria m e n te , dão e n tra d a n o H o sp icio , g r a n d e p a rte , — a m a io ria m esm o, — vem de c e n tro s e sp irita s . “ C om pre en d e -se, p o rem , q u e eu não d ig o q u e o e sp iritism o possa, so z in h o , p e r tu r b a r o c éreb ro d e um in d iv íd u o n o rm a l e são. A firm o , to d a v ia , g r a ç a s à ex­ p e riê n c ia q u e possuo, q u e ele é u m a g e n te p ro v o ca ­ d o r dè d e lírio s p e rig o síssim o s, q u a n d o p ra tic a d o , co­ m o o é v u lg a rm e n te , p o r p e sso as d e p o u c a c u ltu r a . E ’ fac il im a g in a r, de re s to , o e fe ito q u e deve te r n u m es­ p ir ito já n a tu ra lm e n te f r a c o . . . E ’ c la ro q u e e sse e fe i­ to só ó tã o f o rte e d ecisiv o n o s in d iv íd u o s j á p re d is­ p o sto s; em to d o caso, n ã o m e p a re c e m e n o s c la ro , ta m ­ bém , qu e , se esse e s tim u la n te in d e se já v e l n ã o se íl(413) D r. JoAO T E IX E IR A ALVARES — O Espiri­ tismo, artig o s publicados n a " L av o u ra e Com ércio'’, da U beraba, enfeixados em livro, tlp. Ja rd im , U beraba, 1914.

— 367 — zesse E eutir, ta lv ez a d e m ên c ia, em ta is in d iv íd u o s, ja ­ m a is se m a n ife sta sse , ou e n tã o d e m o ra r ia a se m a n i­ fe s ta r . O e sp iritism o , p o r ta n to , é u m a fá b ric a de io u cos, se n d o , d e sse m odo, n e f a s to ”. ( 4 1 4 ). O d r. JU L IA N O M O R E IR A a ssim s e e x p re sso u : “ Tom r a z ã o o d r. H e n riq u e Roxo q u a n d o d iz q u e o e sp iritism o p o r a i p ra tic a d o é u m a v e rd a d e ir a fá ­ b ric a d e loucos. R e a lm e n te , é g r a n d e o n ú m e ro de d o e n te s, p r o c e d e n te s de c e n tr o s e s p ir ita s , q u e vão b a ­ te r à s p o rta s do H o sp ício N ac io n a l d e A lie n ad o s. “ E ’ c laro , e n tre ta n to , q u e o e sp iritism o n ã o é, p o r si só, c a p a z d e p ro d u z ir a d e so rd e m n u m e sp irito são e e q u ilib r a d o . . . a p r á tic a do e sp iritism o , p o r co n­ se g u in te , e s tá m u ito lo n g e d e s e r In o fe n siv a , c o n fo rm e se a p re g o a g e ra lm e n te ”. ( 4 1 5 ).

. Por fim , o m ais recente e, ao m esm o tem ­ po, o mais autorizado inquérito que houve entre nós acerca do espiritism o, fo i o que a Sociedade de Medicina e Cirurgia, do Rio de Janeiro, por iniciativa do dr. L eonídio Ri­ beiro, prom oveu entre especialistas brasilei­ ros, depois de 1927. Esse inquérito reduziu-se a quatro que­ sitos, dois sobre a parte teórica do espiritis­ mo, e dois sobre as suas consequências para o indivíduo e para a sociedade. Pelo visto, só os dois últim os quesitos interessam a esta par­ te de nosso trabalho. D iziam : (414) Cf. “O J o r n a l”, do Rio, 12 da m arço da 1*26. (415) Cf. "O J o r n a l”, 25 da da m arço de 1926.

— 368 — 3.° - A prática do espiritism o pode trazer danos à saude m en tal do indivídu o? 4.° - O exercício abusivo da arte d e curar pelo espiritism o acarreta perigos para a sau­ de pú blica? R e sp o n d e ra m os se g u in te s e sp e c ia lista s: ANTONIO A U ST R E G É SIL O , c a te d rá tic o d e c lin i­ ca n e u ro ló g ic a , d a F a c u ld a d e d e M ed icin a, d a U n iv e r­ s id a d e do R io d e J a n e ir o ; H E N R IQ U E ROX O , c a te d rá tic o da c lín ic a p siq u iá ­ tr ic a da m e sm a F a c u ld a d e ; E S P O Z E L , s u b s titu to de c lin ic a p s iq u iá tr ic a e n e u ­ ro ló g ic a d a m e sm a F a c u ld a d e ; T A N N E R D E A B R E U , c a te d rá tic o de m e d icin a le g a l d a F a c u ld a d e d e M ed icin a do R io d e J a n e ir o ; JU L IO PO R TO C A R R E R O , c a te d rá tic o d e M edi­ cina p ú b lic a da F a c u ld a d e d e D ireito d a U n iv e rsid ad e do R io de J a n e ir o ; JOÃO F R O IS , c a te d rá tic o d e m e d icin a p ú b lic a d a F a c u ld a d e de D ireito d a B a ia ; C A RLO S SE ID L , c a te d rá tic o d e m e d icin a p ú b li­ ca d a F a c u ld a d e de D ireito d a U n iv e rsid a d e do R io de J a n e ir o ; R A U L L E IT Ã O DA CUN H A, c a te d rá tic o de a n a ­ to m ia p a to ló g ic a d a F a c u ld a d e d e M ed icin a d a U ni­ v e rsid a d e do Rio de Ja n e ir o ; FR A N C O DA RO CH A , e x -d ire to r do H o sp ício do J u q u e ri, S. P a u lo ; PA C H E C O E SIL V A , d ir e to r do H o sp ício de Ju q u e ­ r i, S. P a u lo ; P E R N A M B U CO F IL H O , d o c e n te d e p s iq u ia tr ia d a F a c u ld a d e d e M edicin a, do R io d e J a n e ir o ; E V E R A R D O B A C K E U SE R , p ro í. d a E sc o la P o li­ té cn ic a e sociólogo;

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M IG U E L OSÓRIO D E A L M E ID A , p ro fe sso r d a F a ­ c u ld ad e de M edicina, e ste n a se ssão d a S o c ie d ad e de M edicin a, a 19-4-27.

* P ro c u ra n d o , p o r a m o r à b r e v id a d e , c in g ir-n o s só ao q u e d ir e ta m e n te se re f e r e a o q u e sito , o m itim o s a s d iv a g aç õ es que p rec ed e m ou se g u em c e rta s re sp o sta s. R e p ro d u z im o s o q u e sito . 3.« — A PR A T IC A DO E S P IR IT IS M O PO D E T R A ­ Z E R DANOS A SA U D E M E N T A L DO IN D IV ÍD U O ? A u s tr e g é s ilo : “ Sim . E s to u c o n v en c id o q u e a s p r á ­ tic a s e s p ir ita s te m p ro d u z id o , em p re d is p o sto s, v e rd a ­ d e ira s p sicoses e a g ra v a d o m u ito s e s ta d o s m e n ta is j á In ic ia d o s p o r p e q u e n o s d is tú rb io s p síq u ic o s”. H e n r iq u e R o x o : “ O n ú m e ro d e a lie n a d o s, e m q u e a s p e rtu r b a ç õ e s m e n ta is s u r g ir a m em c o n seq u ê n cia de fre q u ê n c ia s de p r á tic a s e s p ir ita s n ã o te m d im in u íd o , e sim , pelo c o n trá r io , a u m e n ta d o ”. E sp o z c l: “ A in flu ê n c ia d a p r á tic a do e sp iritism o n a p ro d u çã o de d is tú rb io s m e n ta is é in c o n te s tá v e l; b a s ta u m a p e q u e n a v id a c lín ic a n a e sp e c ia lid a d e p a ra se te r oc asiã o de o b s e rv a r n u m e ro s o s c aso s, em q u e a s p e rtu r b a ç õ e s p síq u ic a s g ir a m em to rn o d e f a to s o c o r­ rid o s n a s se ssõ es e s p ir ita s . A ssim se n d o , re p ito , co n si­ d e ro a p r á tic a e s p ir ita p o ssív el d e p ro d u z ir d e s a r ra n ­ jo s m e n ta is, m a x im é n a s p esso as p re d is p o sta s , a s q u a is devem e v itá -la p o r p e rig o s a " . T a n n e r do A b re u : “ Sim . B a s ta c o m p u lsa r os re ­ g isto s d e nosso H o sp ita l N ac io n a l d e P s ic o p a ta s, p a ra te r a s e g u ra n ç a de q u e n ã o r a r o f ig u r a com o e lem e n to e tio ló g lc o d a s d o e n ça s m e n ta is a p r á tic a do e s p ir itis ­ m o p e la c o m p a rê n c ia à s re sp e c tiv a s se s s õ e s ”. “ E sse c once ito é, a d em a is, firm a d o p o r m o stre s d a p s iq u ia tr ia . B a s ta rá c ita r o m a io r d e les, o sa u d o so

— 370 — p ro fe sso r d a U n iv e rsid a d e d e M u n iq u e, E M IL IO K R A E P E L IN , q u e , d epo is d e a lu d ir ao s c aso s do lo u ­ c u ra c o m u n ic a d a ou de c o n tá g io p síq u ico , a c e n tu a q u e d e les p ode m s e r a p ro x im a d o s o s d is tú rb io s m e n ta is... em c o n se q u ê n c ia e sob a in flu ê n c ia d e se ssõ es h ip n ó ­ tic a s ou d e E S P IR IT IS M O ” . P o r to C a r rc ro : “ A ssim , e sp iritism o e n e u ro se te m o m esm o c am in h o e e n c o n tra m -se , é b em d e v e r, o r a no com eço, o r a no fim do tr a j e to . “ Os h o s p ita is d e p slc o p a ta s e stã o r e p le to s d esses caso s; e, em se m ió tica p s iq u iá tr ic a , é de re g r a , h o je , a p e sq u isa de a n te c e d e n te s c s p ir itic o s ”. J o ã o F r o is : “ C e rta m e n te a p r á tic a do e s p ir itis ­ mo pode t r a z e r e te m p ro d u zid o d a n o s à, sa u d e m e n ­ ta l d o s a d e p to s e fre q u e n ta d o r e s de sessõ es c h a m a d a s e s p ir itis t a s ”. F r a n c o d a R o c h a : “ No in d iv íd u o n o rm a l, e q u ili­ b ra d o , ta is p r á tic a s não p ro d u ze m d a n o . A os d e seq u i­ lib ra d o s, n a s c lasses de m e n ta lid a d e in fe rio r, p o d e f a ­ z er d a no , p ois q u e n ã o sa b em I n te r p r e ta r a s co isas co­ m o a s pesso as e q u ilib r a d a s e a s d e m e n ta lid a d e s u ­ p e rio r. “S o b esse p o n to de v ista , a p r á tic a do e sp iritism o , e n tre g e n te de b a ix a m e n ta lid a d e , é r e a lm e n te um g r a n d e m a l”. L e itã o d a C u n h a : "S im , e tã o g ra n d e s, a m e u v e r, qu e ju lg o In d isp e n sáv e l e u r g e n te q u e s e e stab e le ça m le is q u e r e g u le m e sse c a s ó ”. P a c h e c o e S ilv a : “ Sim . A c red ito q u e o e s p ir itis ­ m o e x erça In flu ên c ia so b re a s a u d e m e n ta l do in d i­ v íduo. E s ta é ta m b e m a o p in iã o do m eu e m in e n te m e s­ tr e e a n te c e ss o r. F r a n c o d a R o c h a, — q u e, a re sp e ito , e screv e u v á rio s tr a b a lh o s ” . P e rn a m b u c o F ilh o : “ E ’ e v id e n te . T o d os a q u e le s q u e se d e d ica m a o e stu d o de d o e n ça s m e n ta is , te m

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371 —

o b se rv a d o im im ero s c aso s d e d e so rd e n s p síq u ica s p ro ­ d u z id a s p e la p r á tic a do e s p ir itis m o ”. E v e r a rd o B n c k o u sc r d e ix a d e r e sp o n d e r, p o r n ão s e r m édico. Q u an to ao 4.o q u e sito : O E X E R C ÍC IO A BU SIV O DA A R T E D E CU RA R P E L O E S P IR IT IS M O A C A R R E T A P E R IG O S PA R A A SA U D E PU B L IC A ? A u strc g ó silo : “ Sim . Os p re ju íz o s sã o re s u lta n te s dos e rr o s ou c o m issão, n ã o só a tin e n te s ao in d iv íd u o com o à c o le tiv id a d e " . "A p lau d o , c a lo ro sa m e n te , a a titu d e d a d ig n a So­ cied a d e d e M edicina, n e s ta c a m p a n h a de s a n e a m e n to p síquico, e envio a lg u m a s liu h a s q u e e sc re v i s o b r e o a s s u n to : O e sp iritism o é u r n a p sic o -n cu ro se, se m e lh a n ­ te ã h is te r ia , e tc .”. H e n riq u o R o x o : “ F in a lm e n te , ao ú ltim o q u e sito resp o n d o : o e x ercício d a a r t e de c u ra r p elo e s p ir itis ­ m o a c a r r e t a p re ju iz ó s p a ra a S a u d e P ú b lic a ”. E sp o z c l: “ In c o n te s ta v e lm e n te ”. T a n n e r d e A b re u : "S im . A esse r e sp e ito convem le m b r a r a o m issão do tr a ta m e n to c o n v en ie n te, e n ão c u m p rim e n to d a d isp osição re g u la m e n ta r , q u e im p õ e o d e v er de n o tific a ç ã o c o m p u lsó ria de d e te r m in a d a s d o e n ça s tr a n s m is s ív e is ”. P o r to C n rre ro : “ Os p re ju iz ó s q u e o e sp iritism o tr a z à S a u d e P ú b lic a são e v id e n te s. P r im e ir o , m e tem se os e s p ir ita s a c u ra n d e iro s, c ria n d o a m b u la tó rio s e h o sp ita is, o n d e tr a t a m o s p sic o p n ta s a p a n c a d a s ».ve­ ja m -se a s p u b lic aç õ es do p ró p rio “ C e n tro R e d e n to r" ) , e o n d e m e d ica m p e la h o m e o p a tia , — te ra p ê u tic a n e m se m p re inó c u a. “ Com isso , p re ju d ic a m a o d o e n te, a g in d o se m c o n h ec im en to de c au sa , com m ed ica çã o in s u f ic ie n te ou c o n tra -in d ic a d a , e c u ltiv a n d o a te n d ê n c ia pqsftlciosa p a r a o m a ra v ilh o s o ”.

— 372 — Jo ã o F r o is : “ N ão h á p o ssiv el d ú v id a em a fir m a r q u e o e xercíc lp a b u siv o d a a r te de c u ra r pelo e s p ir i­ tis m o a c a r r e t a p re ju íz o s & S a u d e P ú b lic a " . L e itã o d a C u n h a : “ In q u e stio n a v e lm e n te , p o is o c a r a te r m is te rio so , q u e te m e s s e e x ercíc io , d if ic u lta a a p lica çã o d a s m e d id a s p ro filá tic a s, fa c ilita n d o o e n ­ tr e te n im e n to d a s e n d e m ia s e a d ifu sã o d as e p id e m ia s ”. F r a n c o d a R o c h a : “ A cho q u e sim , com o em g e ra l a p r á tic a do c u ra n d e lre sm o , q u e r s e ja e s p ir ita q u e r não. “VI m u ito s d o e n te s m e n ta is, c u ja afe cç ão ex p lo ­ d iu logo d epois d a s p r á tic a s d o e sp iritism o . M as n ã o se deve a tr i b u ir e x clu siv am e n te a o e sp iritism o o m a l q u e se te m o b s e rv a d o ”. P e r n a m b u c o F i lh o : “ Sim . O s p re ju íz o s v em não só d a d e fic iê n c ia ou e rr o de tr a ta m e n to , com o ta m b e m p e la f a lt a de n o tific a ç ã o d e d o e n ça s c o n ta g io s a s, o q u e, so b o p o n to d e v ista p ro filá tic o , é u m g r a n d e m a l” . P a c h e c o e S ilv a: “ No m eu e n te n d e r, é u m a p r á ti­ ca p e rn ic io sís sim a , q u e d e v e rá s e r c o m b a tid a a to d o tr a n s e , p o r isso que, so b re p r e ju d ic a r a S a u d e P ú b lic a , c o n trlb u e p a r a a r u ln a de m u ito s la re s e d á m a rg e m a e x p lo ra çõ e s a s m a is ig n ó b e is" . O D r. C a rlo s S e id I d eu u m a bó re sp o sta a o s d o is q u e sito s: “ F r is o e n tre ta n to , q u e o p in o se re m c o n d e ­ n á v e is a s p r á tic a s q u e se re a liz a m n a s sessõ es e s p ir i­ ta s , com p r e te n s o s fin s te ra p ê u tic o s , e a s c h a m a d a s evocações. A m in h a q u a lid a d e d e c a tó lico n ã o a d m ite e s ta s ; e os m e u s e s tu d o s m é d ico s d e sa c o n selh am a q u e la s ”. O D r. M ig u e l O só rio d e A lm e id a a ssim se re fe re , r e la tiv a m e n te ao m a g n o p ro b le m a : “ A in te rv e n ç ã o do e sp iritism o no tr a ta m e n to de q u a lq u e r n e v ro se é s e m p re p r e ju d ic ia l. . . O e s p ir itis ­ m o é. n n d e-so d iz e r se m e x ag e ro , u m a v e rd a d e ir a fá bvica V tic o s. E n tr e os d e m e n te s q u e d ia ria m e n te



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dão e n tra d a no H ospício , a m a io ria v e ri do s c e n tro s e s p ir ita s ” . ( 4 1 6 ) .

Um a das m anifestações ordinárias da lou­ cura c a m ania de su icídio ou desgosto da v i­ da. É por isso que os casos de suicídio são tão com uns no espiritism o: são uma com o consequência lógica da doutrina da reencarnação e do nervosism o gerado nas sessões. Aliás, espiritas houve que chegaram mesm o a fazer a m ais descarada apologia do suicídio. H aja vista o barão Du P otet, espirita de m ar­ ca, de quem são estas palavras: " F e liz e s a q u e le s q u e m o rre m d e u m a m o rte r á ­ p id a , de u m a m o r te q u e a I g r e ja C a tó lica rep ro v a ! T o d o s os q u e sã o g e n ero so s 6e m a ta m ou se n te m d e ­ s e jo de m a ta r - s e ! ” ( 4 1 7 ). **

Para corroborar tudo o que até aqui le­ m os exposto com respeito ao espiritism o — causa de loucura, devem os agora referir al­ guns casos concretos. A dificuldade está em escolher, entre m ilhares, aqueles que mais im ­ pressionem . Para serm os breves, vam os ci­ tar alguns fatos, porem despidos das circuns­ tâncias e incidentes. Mas, por isso m esm o, in ­ dicam os as fontes em que os colhem os; se o leitor se interessar pelas circunstâncias, po(416) LEONÍDIO RIBEIRO c MURILO CAMPOS — O E sp iritism o no B rnsll, co n trib u irã o no seu estudo Cllnico-L egal, Cia. Ed. Nacional, 1931. (417) BARAO DU POTET — Ensino do M ngnctlsm o. PS. 107.

— 374 — derá servir-se de nossos dados e ir às fontes, próxim a ou remota, ambas aqui registadas. EXEM PLOS DE LOUCURA ESPIRITA Loucura coletiva num a sessão de espiri­ tism o em Taubalé, em 1885. É um dos m ais antigos e, ao m esm o tem­ po, dos m ais deploráveis casos de dem ência causada pela seita de Kardec no Brasil. Um advogado e toda a sua fam ília, enlouquecen­ do, procederam a uma cerem ônia a que cha­ maram “Construção da A rca de N oé.” “ E s ta v a a sse n ta d o q u e, n a q u e le d ia , h a v ia d e s e r im o lad o um dos c re n te s : seu sa n g u e d e v e ria s e r b e ­ bido p o r to d a a c o m u n id a d e ” . C ria n ç a s e ra m s u b m e tid a s a to r tu r a s . F o i prec iso q u e a p o lic ia I n te rv ie sse p a ra e v ita r a c o n tin u a ç ã o d a s d e s a g ra d a b llls s lm a s c en as.

Este caso é descrito m inuciosam ente pelo Dr. Franco da Rocha, em seu livro “ O E spiri­ tismo e a loucim a”, pg. 22. Tam bem o refere o dr. João Teixeira, louvando-se num a carta de testem unha ocular, carta reproduzida no seu livro. U m a s e n h o ra a m e r ic a n a , d a m a is a l t a so c ied a d e do R o sto n , c n lo n q u cc en d o , p r a tic a a to s rid íc u lo s, p o r ord e m d o s e sp írito s. “ U m d ia o s in v isiv eis c o n v id a ra m -n a a ir ao p o ­ rã o da casa , se m lh e e x p lica rem p o r quê. E la a ce d eu , c o n tra a v o n ta d e . L á c h eg a n d o , m a n ­ d a ra m - n a q u e v ira s se u m a tin a d e f u n d o p a ra b aixo e

— 375 — se m e tes se d e n tro d e la. S e m p re r e lu ta n d o , e la a ca b o u p o r o b e d ec er". I n te r n a d a n u m hosp íc io , s a ro u , a b a n d o n a n d o , em s e g u id a , a s p r á tic a s e s p ir ita s . ( B r a c k e t, n a R e v ista e s­ p ir ita Iilg h t, 1 8 8 6 ). ( 4 1 8 ). U m a c p ld e in la d e lo u c u ra , n a v ila d e A lg e zu r ( P o r tu g a l) , p o r c n u sa do e sp iritism o . E n lo u q u e ce m h o m e n s, m u lh e re s e c ria n ç a s. Isto o b rig a a p o lic ia a f e c h a r os c e n tro s. ( J o r n a l d o B r a ­ sil, 28-4 -1 9 2 9 ) ( 4 1 9 ). O jo r n a l “ A N o ite ", de 1 5 -7 -1 9 2 9 , d á n o tic ia do e n lo u q u e c im e n to de to d a a la m llia F a r q u lm d e A l­ m e id a, de G u a ra p u a v a , P a r a n á . ( 4 2 0 ). O u tra fa m illa , c o m p o sta d e onze p e sso as, em Co­ lô n ia , P a r a íb a , e n lo u q u ec eu to d a , p o r c au sa do e sp i­ r itis m o . U m d ia , e ssa s onze p e sso as, em e sta d o la s ti­ m á v e l, e n tra r a m em G u a ra b ira , a m a r r a d a s e e n to a n ­ do c â n tic o s re lig io so s. V id e “A U n iã o ", o rg ão o ficial do G overno d a P a r a íb a , 1 8 -1 -1 9 3 0 . ( 4 2 1 ).

O “ Correio da M anhã”, de 9-12-1924, na secção Declarações, traz uma noticia curiosa: U m s e n h o r F . R. T., a v isa a se u s irm ã o s e sp iri­ ta s q u e , te n d o sido e sco lh id o p a ra r e p r e s e n ta n te do S e r S u p re m o n e s te p la n e ta , e te n d o 6xercld o ta l e n ­ c arg o p o r 25 a n o s, não q u e r m a is c o n tin u a r a m issão .

(419) CARLOS IMBASSAHY, opiiH clt„ pg. 183. (419), (420), (421) o (422) NATHANIEL SCHWARTZ, MnrnvIlhnN «lo EuplrltU m o, A C ruzada E d ito ra, Rio de Jan eiro , 1931, de pgs. 12 a 15.



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“ P r e firo a m o rte , d iz ia, a s e r re p r e s e n ta n te do S e r Su p re m o um só m in u to " .

Os seguintes casos pertencem à coleção do dr. João Teixeira, páginas 1G5-117, do seu livro “ O E spiritism o” : A f a m ília do s r . J o ã o d a S ilv a L u ca s, c o m p o sta de 12 p e sso a s e n lo u q u e c e u to d a , em c o n seq u ê n cia d a s p r á tic a s e s p ir ita s . E s s a fa m ília r e s id ia n o R io, à R u a A le g ria , n.° 171. P o d e -se le r, n a “ G az eta d e N o tíc ia s ”, d e 8 de N o v em b ro de 1 913, a n a rr a ç ã o d a s c en a s m a is com o­ v e n te s a q u e fic a r a m s u je ita s e ssas doze m is eráv e is pe ssoas. Jo s e fln a R o d e s, m ã e d e t:>4s f ilb o s m e n o re s, d a d a à p r á tic a do e sp iritism o , e n lo u q u ec e, e , em c o n seq u ê n ­ cia, su c ld a -se , a te a n d o fo g o à s v e ste s . (C id a d e de C a m p in a s" , se m In d ica çã o d e d a ta ) . U m e s tu d a n te de M ed icin a, d a F a c . do R io, rap a z d istin tíss im o , e n lo u q u ec e, p o r t e r a ssistid o a u m a ú n ic a se ssão e s p ir itis ta . (N o tícia, d e p r im e ira m ã o , do d r. F e lic lo d os S a n to s ) . U m a c a rin h o sa e sp o sa, d e sv a ira d a pelo e s p ir itis ­ m o, a s s a s s in a se u m a rid o a g o lp e s d e m a ch a d o . ( " J o r ­ n a l do C om ércio ” ). U m velh o p ro fe sso r p ú b lic o , n a Id ad e d e 60 a n o s, e n fo rc a -s e , lev ad o p e lo e stu d o do e sp iritism o . ( “ A P a la v r a ”, d e B elem do P a r á ) . C ristia n o A lves F e o , de J u n d la í, so b e ao fo rro d e u m a c asa e e n fo rca -s e, d ep o is de s e te r e n tre g a d o

— 377 —

a praticas espiritas. ("O Lábaro”, de 23-4-1914, e “A Cidade de Campinas", de 19-4-1914). Distinto rapaz, no verdor dos anos, deixa a casa paterna e vai viver dentro de um lamaçal, por se ju l­ g a r um porco, idéia m acabra que, lhe havia sido su­ gerida por um espirito, em sessáo. (Cidade de Cam­ pinas”, 3 de Agosto de 1908). O chefe da estação ferro-viárla de Ribelrãozinho, Estado de S. Paulo, começando a frequentar as ses­ sões espiritas, enlouquce. (Jornais do Matão, 1914). Em S. José de Alem Paraíba, Minas, um a m ulher, dada à p rática do espiritismo, enlouquece, e, em conse­ quência, vai à ig re ja m atriz em dia de domingo, e ten­ ta, a toda força, celebrar missa em vez do vigário. Es­ tava convencida da que era homem e sacerdote. ( “O Movimento”, de 22-3-1914). Mais dois casos lamentáveis, uin de suicídio e ou­ tro de uxorlcídio, são relatados pelo “O Movimento”, 22-3-1914 e 19-3-1914). Distinto professor, inteligente o cheio de espe­ ranças, arrebenta os miolos com um tiro de carabi­ na, levado pelas práticas do espiritismo. ( “Jornal do Comércio, 10 de Março de 1914). O dr. Carvalho Ramos, juiz de direito da capital do Goiaz e notável jurisconsulto, enlouquece, e, logo depois, m orre no Hospiclo Nacional, em consequência das pTáticas do espiritismo. (423). Outro caso de loucura espirita

e eonsequente

(123) Dr. JOAO TEIXEIR/V, opus elt., In fine.

— 378 — suicídio vem narrado pelo "Estado de S. Paulo", de 28 de abril de 1914.

Como viu o leitor, os exem plos colecio­ nados pelo dr. João T eixeira referem -se a acontecim entos que se agrupam nas im edia­ ções de 1914. data em que ele escreveu o seu livro. Não quisem os tom ar o trabalho que esse ilustre m edico se deu, — o de anotar fa ­ tos próxim os de nós, — porque acham os isso desnecessário. O escopo de nosso livre é ou­ tro. E a questão da loucura entra aqui apenas para sermos com pletos. Aliás, cada qual co­ nhece exem plos sobejos e não seria d ificil, com o fez o dr. Carlos de Laet e, m ais recen­ te, o dr. Xavier de Oliveira, apontar cada um os casos de que tem ciência própria.

CAPÍTULO IV CONDENAÇÃO I.

- PELA AUTORIDADE RELIGIOSA

Tratando-se do espiritism o em face da autoridade religiosa, isto é, com respeito à B í­ blia e à Igreja, som os obrigados a distinguir as duas feições do espiritism o através dõs tem pos: A N ecrom áncia A ntiga e a N ecrom ância M oderna ou E spiritism o. 1.° - E spiritism o an tigo ou NECROMÃNC1A. Em vários tópicos do Antigo Testam en­ to, encontram os a condenação form al da evocação das alm as; vale dizer: condenação da Necrom áncia. Citemos alguns textos: “Nem se ache entre vós quem pretenda purificar seu filho ou sua filha, fazendo-os passar pelo fogo, nem quem consulte adivinhos ou observe sonhos ou agouros, nem quem seja feiticeiro ou encantador, nem quem consulte pitonisas ou adivinhos, nem quem in­ dague dos m ortos a verdade: porque todas estas coisas abomina o Senhor”. (Deuteronômio, 18:10-11). “A alm a que se desvia p procurar mágicos e adi-



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vinlios. . . Porei a m inha face contra ela e a destrui­ rei do meu povo”. (Levlt., 2 0 :6 ). “ F e itic e iro * n ã o p e rm itir á s q u e v iv a m ” . (Ê xodo, 2 2 : 1 8 ).

D epois da vinda de N osso Senhor Jcsús-Cristo, a necrom ância ficou sendo su­ perstição circunscrita a algum as zonas mais atrasadas. Nunca foi prática generalizada. Por isso, a condenação dessa form a de es­ piritism o veio apenas prolatada em concílios particulares. Segundo o Pe. H eredia, o espiri­ tismo antigo vem condenado pelos seguintes concílios: Quarto de Cartago, Segundo de Tours; Sexto de Paris; Prim eiro de A ncira; Quarto, Quinto, D uodécim o, D écim o-Sexto e Décim oSétim o. de Toledo. 2.° - E spiritism o m oderno. Sem entrar na discussão da teoria, e sem se pronunciar sobre a realidade ou natureza dos fenôm enos, a Igreja tem condenado por diversas vezes as práticas espiritas. Já em 23 de junho de 1840 e 28 de julho de 1847, o Santo Oficio, regulando o uso do hipnotism o, proscreveu o em prego de princí­ pios e m eios puram ente físicos ultilizados pa­ ra explicar “coisas e efeitos verdadeiram en ­ te sobren atu rais.” Em 30 de julho de 1856, a E ncíclica Sancti officii explicando as anteriores deter­ m inações acim a citadas, reporta-se m ais di­ retam ente ao espiritism o e estabelece: “In lilsco omnlbus, quncumqtie d e n n u n n ta n tu r nrfco vcl lllnsionc, ctim ordlnatur m ed ia plijslca ad ef-

— 381 fccius iicn nnturnleg, re p crltu r dcccptio omnino illlcitn et contra honcstatem m oruin” . A sabor:

empregam moios físicos para se obterem efeitos na­ turais, há um engodo inteiram ente iliclto e dirigido contra a honestidade dos costum es”. (424).

Em 1898, a m esm a Sagrada Congregação do Santo Ofício declarou novam ente que “ não c licito consultar as alm as dos m ortos ainda quando se exclua o pacto com o espírito m a­ lig n o .” (42ó). Por últim o, em 1917, dando resposta a uma consulta que se lhe fez, o S anto Ofício foi m uito m ais explicito e declarou: “Não é lícito, nem com a intervenção do médium nem sem essa intervenção, assistir a quaisquer falas ou manifestações espiritistas, nem mesmo às que tenham aparências de honestidade e piedade, quer pretenden­ do interrogar alm as ou espíritos, quer ouvindo res­ postas, quer sim plesm ente assistindo, ainda que haja protesto tácito ou expresso contra a comunicação co:n os espíritos m alignos”. (426).

Alem destas condenações em anadas di­ retam ente da Santa Sé, há as proibições par­ ticulares, dadas com o normas diretivas pa­ ra os católicos. V ejam -se as atas do Segundo Concilio de B altim ore (E stados-U nidos), II, n.° 36, e as do Concílio Plenário L atino-Am e­ ricano, sob o n.° 164. Entre nós: a Pastoral

íils; S sãs

— 382 — Coletiva dos B ispos do Sul do Brasil, sob os n.°s 6Í e 63. o Aviso n.° 89 da Cúria Metropo­ litana do B io de Janeiro e diversas cartas pastorais, com o a do sr. B ispo de Uberaba, d. fr. Luiz de Sant’Ana, a de d. Fernando Taddci, bispo de Jacarezinho, etc. *** O que ai fica refere-se principalm ente às práticas espiritas. Mas existe tambem a con­ denação canônica relativa à parte dou trin á­ ria do espiritism o. D e-fato, com o vim os em outro lugar, a doutrina religiosa dos espiri­ tas é a reafirm ação de m uitas heresias já con­ denadas pela Igreja, antes de aparecer o es­ piritism o moderno. Os espiritas, por conseguinte, são equipa­ rados aos herejes e, assim, estão incursos na pen a de excom unhão, com inada pelo canon n.° 2314, § 1.°, n.° 1, do Código de Direito Canônico. Não podem receber os sacram en­ tos da Igreja, a não ser que, prim eiro, se re­ conciliem com a Igreja, pela abjuração do erro, de acordo com o estatuído no art. 731, § 2.° do Código Canônico. Alem disso, há a pena de excom unhão reservada, speciali m o­ do, à Santa Sé, contra todos os que lerem ou guardarem consigo livros espiritas, pena es­ sa em que incorrem tambem os ediiores ou defensores de tais livros. A-propósito, já o Concilio Plenário La­ tino-Am ericano havia resolvido: “Visto como os sequazes do e s p iritis m o ... fre­ quentem ente admitem e promovem operações diabó-

— 383 — lieas o espalham m ultas h e r e s ia s ... não podem ser reconciliados, nem no foro interno nem no externo, apenas como pecadores ordinários, mas devem ser ju l­ gados como herejes ou fautores de heresias; nem po­ dem ser adm itidos aos sacramentos, a não ser que re­ parem o escândalo, façam abjuração do espiritismo e omitam a profissão de fé, segundo as norm as presGritas pela teologia”. (N.* 104).

2.“ - PELA AUTORIDADE CIVIL O H ipnotism o, que é o principal auxiliar do espiritism o, tem sido proibido, ou restrin­ gido quanto ao uso, em diversos paises. A s­ sim , a Áustria, a Itália e a B élgica proibi­ ram sessões públicas. Na D inam arca e na Alem anha só pode praticar hipnotism o quem for m édico diplom ado. O m esm o se deu com o espiritism o, cu­ ja prática foi proibida ou lim itada por di­ versos Códigos Penais. No Brasil, conquanto as nossas Constituições tenham garantido a liberdade de culto, todavia o em prego largo do espiritism o em atividades alheias ao cul­ to religioso foi tambem proibido. Assim estatue o art. 157 da Consolidação das Leis Penais b rasileiras: Al t. 167. — P ra tic a r o espiritismo, a magia © os seus sortilégios, usar talism ans e cartom âncias, para despertar sentim entos de ódio ou amor, incnlcar coras de moléstias curáveis ou incuraveisi enfim, para fasci­ nar e subjugar a credulidade pública; Penas: Prisão celular por um a seis meses e mul­ ta de 1009000 a 6009000.

— 384 — § l.o — Se, por Influência ou consequência de qualquer destes meios resu ltar ao paciente privação ou alteração tem porária ou perm anente das faculdades fisicas: Penas: Prisão celular de um a seis anos e m ulta de 200$000 a SOOÍOOO. § 2.o — Em igual pena, e mais na privação do exercido da profissão por tempo igual ao da conde­ nação, incorrerá o MÉDICO que diretam ente p raticar qualquer dos atos acima referidos, ou assum ir a res­ ponsabilidade deles. O sentido exato da lei foi esclarecido pelo co­ m entário de Macedo Soares, e existe um acordão do Supremo Tribunal, 6ob o n.° 4.055, negando habens corpus, em grau de recurso, ao farmacêutico Francis­ co Nery dos Santos, que te n tara infringir o dispositi­ vo do Código Penal, em Santa M aria Madalena, E sta­ do do Rio. (427).

É lam entavel que o praxism o da ju ris­ prudência e a tolerância policial tenham con­ corrido para que esta lei, com o outras muitas, se tornasse letra m orta entre nós. A propó­ sito observa d. O távio: “E ntretanto, a tolerância dos poderes públicos é geralm ente m uito grande nesta m atéria, sendo raros ou quase mal sucedidos os processos instaurados con­ tra os violadores deste artigo do Código. “Em consequência, os charlatães e exploradores proliferam por toda a parte, enganando o pobre povo, a distribuírem garrafadas de água fluidificada, — le­ gitima água de pote, — por esta form a atraindo os (427) MACEDO SOARES — Coillgo Penal, cd. de 1910. PET. 31 C. (42S) D. OTÁVIO CIIAGAS DE MIRANDA, opnM cl(.,



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simples e ignorantes para as suas baiucas de perdiç&o”.

RESUMINDO. O ESPIRITISMO É CONDENADO, e suas práticas são proibidas, NÃO SÓ PELAS LEIS DIVINAS, MAS AINDA PELAS LEIS HU­ MANAS.

CONCLUSÕES I Objetivo é de nossa obra abrir os olhos aos católicos e a m uitos que, sugestionados pelo m aravilhoso, em boa fé se deixam ar­ rastar por esta antiga superstição chamada, hoje, espiritism o. Seguindo a ordem lógica, depois de ter­ m os apresentado as noções indispensáveis sobre Cristianism o, Materialismo e E spiritis­ mo, dem os um relatório dos fenôm enos pro­ vados ou espontâneos, considerados supranormais. Antes de entrarmos na questão filo só fi­ ca sobre a causa eficiente de tais fenôm enos, resolvem os, à luz de critérios gerais, a ques­ tão histórica sobre a sua realidade. Quanto à questão principal: “ Qual a causa eficiente de tais fenôm en os?”, cumprenos declarar que não ignoram os a tendência m oderna de tudo explicar naturalm ente, mas sabem os tambem que reputados católicos, fi­ lósofos e escritores estão pela explicação pre-

— 387 — ternaltural. Alem dos autores citados atrás, outros ainda poderíam os alinhar aqui, co­ m o Zacchi. Oldrá, etc. (429). Chegando à ultim a conclusão, afirm am os citados autores que tais fenôm enos tem por causa o eterno inim igo do hom em . L e­ m os em H orácio M azella: “Fenômenos há no magnetismo, no espiritism o e no hipnotismo só explicáveis por uma causa p reterna­ tural, que o utra não é que o dem ônio”. (430).

T anquerey, m ais explicito escreve: "Os fenômenos do magnetismo, do hipnotismo e do espiritism o que envolvem manifestações de coisas ocultas, rem otas e futuras (futuros livres), são dia­ bólicos. Os demais não parecem transcender as leis natu rais”. (431).

A C iviltà C attôlica, depois de ter lido e exam inado tudo que fora escrito, em sentido naturalístico, pelos autores m odernos, v o l­ ta a repetir e sustentar o que, com m uito bom senso c ponderação, haviam escrito os seus predecessores. (432). Os próprios autores que defendem o naturalism o adm item a intervenção diabóli­ ca em alguns fatos espiríticos. (433). Conclue O ldrá o seu livro, reproduzindo a gravíssim a observação que o calm o e dou­ (429) ZACCHI — Lo Splritlum o, pref. V III - X, Roma, F e rra ri. 1922; C lvlltà CaUollcn, 1917, vol. II, pg. BC8. • (430) HORACIO MAZELLA — Thcol. D o p n ., vol. I, da 4.* edlç&o. pg. 42C. (431) TANQUEREY — T hcol. Dogra., 13.* ed. 1911, PS. 49C.

to L epicier faz ao dr. L iljencrants sobre a vertente questão: “Observe-se que o só fato de apresentar como possivel uma explicação diversa da que, quase unani­ memente, dão os teólogos católicos, isto é, uma ex­ plicação que vai de encontro aos princípios comumente recebidos pela Igreja, equivale a abandonar a tr a ­ dição e é um a aberta adesão às novidades de palavras e & oposição da ciência de falso nome, que S. Paulo fortem ente condena. (I Tím., G:20). (434).

Seguim os, pois, a opinião tradicional. E m capítulo especial, explicam os o senti­ do em que entendem os a intervenção diabóli­ ca no espiritism o. N ão deve o critico católi­ co separar os fenôm enos espiritas do conjun­ to de circunstâncias que os acom panham : o am biente das sessões, o lugar e o tempo em que se realizam , a intervenção de um m é­ d ium e, sobretudo, a doutrina que ensinam os agentes invisiveis. Perfeitam ente confirm ada ficou a nossa proposição principal pelo estudo da ação dia­ b ólica através dos tem pos e pelo cotejo que fizem os com a necrom ância e m agia antiga. D epois de um breve estudo sobre o espiritis­ m o m oderno, analisam os as m ensagens de carater profano e religioso, sobre as quais se apoia a religião espirita. Mereceu-nos espe­ cial estudo a fam osa reencarnação que, so­ bre ser um erro filosófico, é form alm ente oposta à doutrina católica. (422) CivllOi Cnttollrn, fn«cl. 17, Dez., 1921, pg. 549561; fase. 21 de Jan. 1921, pg. 143-151). (433) Cf. OLDRA, S. J. — Op. Clt.» pg. 396. (434) D E riC IK R — II mondo InvlHlblle Splrltc. VIconza. 1920, App., pg. 237.

— 389 — II Ao claríssim o autor Th. M ainage, tão ze­ loso pelo bom nom e da Igreja, aqui damos a resposta sobre o ponto que atinge os defen­ sores da sentença m édia. E screve: “Ah’ Quel soutire e t quel dédain su r les lèvreg des hommes atten tifs A surprendre les faux coups de bnrro du nantonier qui dirige ici-bas la barque divi­ ne, si un jo u r venait où les faits spirites seraient clas­ sés sans appel dans la catégorie des effets naturels! Ils m épriseraient l’Église”. (435).

Estas palavras equivalem a uma congra­ tulação com a Igreja pelo fato de não se ter ela pronunciado ainda sobre a causa eficien ­ te dos fenôm enos espiríticos. R espondem os: Sc um dia ficar provado que todos os fenôm enos considerados supranorm ais são naturalm ente explicáveis, nem assim haverá lugar para o desdem dos hoftiens m alévolos. Próprio é de quem verdadeiram ente ama a verdade im itar o grande Santo Agostinho que, para ed ificação dos hom ens superiores, escreveu o seu livro D as R etratações. Vem aqui a-propósito uma observação de Van d e r E ls t: "Il semble qu’on puisse avec H uysmans s’étonner, A bon droit, q u ’ après avoir vu le diable partout, on ne le reconnaisse aujo u rd ’hui nulle p a rt” . (436). (433) TH. MAINAGE — Ln R eligion S p lrltc, cd. 3.» 1921, p s. 182. M odificou M alnago sua oplnlso? (436) VAN D ER ELST, In D lct. Apol. do a u to r d'A lès, a rt. occultism e, fase. XVI, pg. 1128.

— 390 — E ’ esta, aliás, a artim anha do inim igo in­ fernal. Ele opera nas sessões espiritas, mas, com o sem pre, habilm ente se oculta. Vê-se que seu ideal é a destruição do Cristianismo. C onfiados em Deus, que é a Verdade, e na Virgem Im aculada, que esm agara a cabe­ ça do pai da m entira, esperam os que estas pá­ ginas abram os olhos a m uitos iludidos e, m ais uma vez, lhes mostrem , através dos fatos e da doutrina espirita, a influência do eterno inim igo de Cristo. Quanto ao valor histórico dos fatos espiríticos, narrados por m ilhares de pessoas, sub­ screvem os o que, a-respeito, escreve Oldrú, S. J.: "Opor-se a todas ns testificações gravíssimas e num erosas é, pelo menos, inqualificável ousadia, ain­ da que se apresente com o a r e o tom da mais severa crítica". (437).

III Já não é m ais possivel negar os progres­ sos do espiritism o 110 Brasil. O erro procede dos grandes centros urbanos, cujos habitan­ tes não se envergonham de om brear com os tabaréus em m atéria de superstição. A capi­ tal da Republica dá o exem plo. Os morros, os bairros longínquos e até algum as ruas cen­ trais p ovoam -se de templos, de candoblés e de tendas. Ha livrarias iespecializadas em obras espiritas. Há m esm o casas com erciais que sc encarregam de vender objetos de cul­ (437 OLiDRA’, S. J. — Op. C lt, Pff. 103.

— 391 — to espirita, am uletos, artigos de em prego for­ çado nos despachos e m alefícios. Niterói rivaliza com o Rio. No interior do país, seja no norte seja no sul, prospera esta praga social. S. Paulo tem m ais de trezentos centros ^espiritas. O D iário O ficial, desse Estado, é um a amostra disto. Basta ler a lista das sociedades espiri­ tas que ali publicam seus estatutos para ob­ tenção de personalidade jurídica. Contam-se por m ilhares. Ultim am ente, na linda cidade bandei­ rante, instalou-se também uma estação radioem issora, — a Radio Piratininga. Ótimo pro­ grama artístico. Mas francam ente espirita. O ataque à R eligião Cristã faz-se abertamente. A teoria cardecista é inculcada aos radio-esculas, sob aparências sedutoras. Os próprios publicistas estrangeiros já observaram que as publicações espiritas, no Brasil, são em m uito m aior núm ero do que em qualquer outro país da Am érica ou da Eu­ ropa. E is aí os fatos. IV Como explicar a dissem inação rápida e ampla de uma religião tão nefasta? Muitos são os fatores que respondem p e­ lo progresso do espiritism o entre nós. Citemos os principais. E ’ na própria índole do brasileiro que va­ m os encontrar o prim eiro m otivo de sua ade­ são a um crcdo diam etralm ente oposto à Re­

— 392 — ligião Cristã: o brasileiro é. por índole, sen­ tim ental, e, por form ação, supersticioso. As­ sim, diante da prom essa de poder falar com os queridos defuntos, e, na presença de prá­ ticas im pressionantes, o hom em do p ovo não resiste à tentação: dá-se ao espiritism o. Alem da receptividade própria do brasi­ leiro, respeito à aceitação do espiritism o, de­ vem os lem brar ainda, com o fator de êxito, os m étodos dos propagadores da doutrina. E, em prim eiro lugar, citem os a hipocrisia dos falsos profetas, a m á-fé e o cálculo dos m é­ diuns e experim entadores. Com eçam por apresentar a seita como um “ passa-tem po” uma “ cu riosidade”, uma “inocente conversa com os m ortos”, uma “ciên cia” e não uma religião. Negam , sistem aticam ente, o carater religioso do espiritism o. D e inicio, chegam até a pedir m issas em sufrágio dos espíritos sofredores. Só com o tempo é que irão desfivelando as m áscaras, acabando, por fim , num ataque desleal c acre à Igreja Católica. O espirita reçum a ódio aos sacerdotes ca­ tólicos e a tudo quanto c caro ao coração dos católicos. Outra fase do m étodo de conquista con­ siste no exercício ilegal da m edicina. A vai­ dade hum ana afasta a idéia da morte. O h o­ m em não sc convence de que deve morrer um dia; se, pois, nas suas enferm idades, não consegue m elhoras, dentro da ciência verda­ deira, recorre aos raizeiros, aos macum beiros, aos exploradores. O espiritism o vem , então, ao encontro dos que sofrem . D á-lhes um consolo falso e m o­

— 393 ~ m entâneo, m as m uito de acordo com a estul­ tícia hum ana. Aqui avultam duas vantagens da cham a­ da “m edicin a” do espaço: a) Consultas e re­ m édios gratis; b) Prom essa de curas inau­ ditas. Entre nós, com efeito, os m édicos são ca­ ríssim os; os rem édios, custosos. E doenças que a m edicina considera incuráveis, a inconciência dos m édiuns garante debelar graças ao receituário dos m édicos do Alem. Ultim am ente, até, conform e observa d. Otávio c conform e nosso conhecim ento p es­ soal, os m édicos do espaço deram para pra­ ticar cirurgia. Em S. Pau lo conhecem os ilustre senhora que se diz curada de um a calculose biliar depois de ter sido operada por um “ in­ visível ”. Outra, e esta é n otável: Já houve quem consultasse “ advogados do esp aço” a respei­ to de litígios ju diciais. Alem de clínicos e ci­ rurgiões, o Alem possue ainda os seus rábu­ las e causídicos. V Como rem ediar a tantos inales, a tanta perfídia? N ão é facil com bater o espiritism o neste terreno, porque, aqui, nem sem pre podem os opor m étodo a método, já que não podem os praticar o charlatanism o e exercer a m edici­ na com infração das leis. T odavia, tentemos apontar algum a terapêutica. A prim eira refere-se à educação. No lar,

— 394 — antes de tudo, e, depois, na escola, é que se h á-de torcer a índ ole sentim entalista do bra­ sileiro. E ’ preciso form ar espíritos práticos e lógicos, gente acostum ada a viver no real e não no fantástico. < A literatura infantil tem m u ito que fazer neste terreno.

VI As pretensas curas espiríticas explicam se pelas forças curativas do espírito. Trata-se da influência do moral sobre o físico. São as cham adas forças psíquicas, a que ilu d ia Grassett num a de suas conferências. A té autores espiritas são unânim es em afirm ar que m u iios “m ilagres” se devem ao poder da “su gestão”. Em todo caso, convem não esquecer que liá m uito charlatanism o de perm eio com algum conhecim ento de hom eopatia entre os m édiuns curadores. As doenças que os m édicos deste mundo não curam , tam bem não conseguem curá-las os m édicos do “ esp aço.” Quando foi que o es­ piritism o sarou um tuberculoso, um m orfético, um canceroso? Isto prova que os desen­ carnados nada progrediram ; não merecem , pois, nenhum a preferência. O que é m ais cer­ to é que os diagnósticos e receitas de origem espirita são apenas produto da im aginação e da esperteza dos m édiuns. Ainda há pouco ficou evidenciado, pela justiça especial, que os m édicos desencarna­

— 395 — dos não sc im iscuem nas coisas deste mundo. O caso m erece lem brado. CONDENADO TJM “MÉDIUM CURADOR” "O Juiz do Tribunal de Segurança, alm irante Le­ mos Bastos, julgou ontem o farm acêutico W istrem undo Alves Simões, desta capital, denunciado sob a acu­ sação de explorar o público com anúncios em que a fir­ mava que o Centro Amor e F é em Deus fornecia gra­ tu itam ente diagnósticos de qualquer m oléstia m edian­ te a remessa do nome, profissão e residência. “O fato foi denunciado pelo dr. José Segadas Viana, que, enviando oito cartas ao médium invisível, todas com nomes de pessoas supostas, como supostos eram os demais informes, recebera respostas acompa­ nhadas de dirgnóstlcos e receitas. “A defesa foi feita pelo advogado Frederico Mueller e a acusação pelo procurador adjunto Clovls K ruel de Morais. “O juiz, findos os debates, lavrou a sentença, em que, depois de vários consideranda, condenou o acusado a seis meses de prisão e à m ulta de dois con­ tos de ré is”. ( “Correio da M anhã”, 30 de Dezembro de 1939).

No processo, pois, ficou provado que os “m édicos do esp aço” receitam para doentes que não e x is te m ... Quanto às intervenções cirúrgicas, pude­ m os verificar que elas existem só na im agi­ nação dos fa n tá s tic o s ... Os pacientes, con­ vencidos, m om entaneam ente, de que fo ­ ram “ operados in visivelm ente”, experim en­ taram m elhoras passageiras. D epois, com o recrudescer da m oléstia, acabaram na sepul-

— 396 — tura, se, a tempo, não procuraram os cirur­ giões em carne e osso. * ** T odavia, tanto no terreno da clínica co­ m o no da cirurgia, não nos repugna admitir a p ossibilidade de algum as curas extraordi­ nárias, devidas à intervenção de fatores preternaturais. Aos espiritas, porem, incum be provar, cientificam ente, a realidade de tais curas. Deviam , em tais casos, adotar a pra­ xe da Igreja no referente aos m ilagres adm i­ tidos para a canonização dos Santos, isto é, a produção de duas séries de próvas: 1.°) Atestados, firm ados por m édicos n ão-espiritas, com provando o carater incurável das doen­ ças; de m édicos que teriam exam inado os doentes antes da cura; 2.°) Atestados, da m es­ m a natureza, provando a cura. O fato histórico de uma doença incurá­ vel e o de sua cura extraordinária não per­ tencem ao dom ínio da religião: pertencem à H istória. Como tais, devem ser provados por pessoas não interessadas na crença religiosa. D e nada valem puras alegações. Tam ­ bém não valem afirm ações de m édicos espi­ ritas, por m ais honestos que pareçam. Fora do espiritism o é que se hão-de analisar os fatos passados lá dentro. Aqui, com o alhures, opom os a clássica condicional: “ S e.” Se os fatos alegados fo ­ rem reais, valem , para explicá-los, os p rin d pios expostos neste livro.

— 397 — Sobre as consultas jurídicas, podem os in ­ form ar o seguinte: O sr. Carlos Monteiro de Barros, herdeiro pre­ suntivo do Barão de Paraopeba, resolveu reivindicar a fazenda do Xicão, município de S. Gonçalo do Sapacai, fazenda que pertencera a seu avô, mas que, fa­ zia mais de cincoenta anos, já tinha sido vendida a diversos. Antes de propor a agão, o sr. Carlos consul­ tou o jurisconsulto francês Cujas ou Cujácio, faleci­ do em 1590. O espirito de Cujas, evocado, proferiu um parecer por escrito, opinando pela liquidez dos direitos de Carlos Monteiro. Aconselhou-o, mesmo, a demandar, garantindo-lhe que a vitória era certa. Carlos Monteiro, louvando-se na ciência do es­ pirito, demandou com a Companhia Xicão e com o coronel Manuel Alves de Lemos. Resultado: O sr. Carlos perdeu a dem anda em todas as instâncias.

O que prova que os desencarnados são tão maus juristas com o m aus m é d ic o s ...

VII Um m eio prático para contrabalançar a propaganda espirita será opor m étodo a m é­ todo, dentro da perm issão de nossas leis. As Ordens Terceiras, as Irm andades, as Conferências de S. V icente de Paulo ç outras instituições de caridade, poderiam , neste in­ tuito, organizar ambulatórios e serviços de assistência m édica e farm acêutica dom ici­ liária.

— 398 ~ Assistência sanitária gratuita, correndo as despesas com m édicos e farm acêuticos por conta das Instituições C a tó lic a s... Seria, até, preferível que as Ordens Ter­ ceiras e Irm andades cortassem nas suas des­ pesas com o esplendor do culto em beneficio da salvaguarda da fé e da propaganda da re­ ligião de Cristo. No interior, os vigários seguiriam o m es­ m o programa. Poderiam , de acordo com os próprios m édicos, estudar um pouco de m edi­ cina prática c ser os m elhores auxiliares da saudc pública, sem prejuizo da dignidade sa ­ cerdotal e sem prejuizo dos interesses dos m édicos. Meras sugestões, já se v ê . . . VIII A polícia deve saber que, em m uitas so­ ciedades espiritas, se está fazendo propagan­ da com unista velada. No “ Centro da Juven­ tude E spirita”, de São Paulo, largo do Riachuelo, um de nossos colaboradores assistiu à defesa de uma tese francam ente com unis­ ta. Ilouve debates. Alguns espiritas rebate­ ram a opinião do orador, m as outros acei­ taram -na sem restrição algum a. IX Acautelem -se os católicos contra os esta­ b elecim entos de caridade m antidos pelos es­ piritas. A caridade, é, apenas, um chamariz

— 399 — de necessitados, que serão, em breve, conta­ m inados pelo v im s doutrinário. O dem ônio, para enganar, inspira a fa ­ zer boas obras. Esse é o seu velho estrata­ gema. E ’ um erro auxiliar, pecuniariam ente, as instituições espiritas. E ’ pecado grave dar o dinheiro para o levantam ento e o custeio de hospitais e asilos que servem de m eios para a destruição da fé, a corrupção dos costum es e a perdição das almas. X Para cúm ulo da hipocrisia, e em obedi­ ência aos estratagem as de Satanaz, é vezo dos espiritas usurparem os nom es dos nos­ sos santos para o batism o dos seus Institutos: “Abrigo T eresa de Jesú s”, “H ospital Vicente de P a u lo ”, etc. Por que é que não dizem “Asilo Camilo F lam m arion ”, “Orfanato Conan D oyle”, etc. P ensando bem, aí temos os espiritas con­ fessando que a sua doutrina não produz San­ tos. Os espiritas roubam os heróis da R eli­ gião Católica. Apresentem -nos os seus Santos. A doutrina é a m oral dos santos católi­ cos estiveram em oposição absoluta com as práticas espiríticas. Portanto, hom enageando os nossos santos nas fachadas dos seus hospi­ tais e asilos, os espíritas confessam que a dou­ trina dos espíritos é falsa e que sua moral é im oral. Para alguém ser santo tem de prati­ car a religião católica, receber os sacram en­

— 400 — tos, confessar-se, com ungar, ouvir missas, m orrer no seio da Igreja. Isto é que aceitam, sem o pensarem , os espiritas. É o dem ônio, forçado pela evidência, clam ando a Jesús: “Vós sois o filho de D avi.” XI Nos grandes centros, sobretudo em São Paulo e no Rio, há católicos dem asiado in ­ dulgentes no que diz respeito à religião es­ pirita. Zeladoras do Apostolado da Oração as­ sistem a sessões espiritas e se dizem, inocen­ temente, espiritas católicas. Pode haver m aior absurdo? É que não conhecem nem a doutri­ na católica nem a espirita. Cúmulo da igno­ rância ! XII E’ nos escritores espiritas que encontramos as m aiores acusáções contra a honra dos m é­ diuns. São “feiticeiros”, “ velh acos”, “rivais”, “invejosos”, “ trapaceiros”, (438). T om em nota os católicos á-fim -de não se m eterem entre essa gente. XIII Cumpre evitar certos m odos de dizer to­ m ados da doutrina espirita. Católicos há que (438) Cf. C. IMBASSAHT — Obra citad a, pgs. 181, 228. 348. 187, «tc.

— 401 — d iz em : “Em outra encarnação eu farei isso, evitarei aquilo.” É fazer concessão tácita a respeito da m e­ tem psicose. Está errado. Para o católico não h á reencarnação; só haverá a ressurreição fin al, única e definitiva. XIV O espirita, em geral, não se converte. T em o cérebro endurecido, a lógica transtor­ nada. Por isso, o com bate ao espiritism o háde ser m ais preventivo do que curativo. A cam panha anti-espirita deve ser com o a cam ­ panha em preendida contra as doenças con­ tagiosas consideradas incuráveis, — a tuber­ culose, a m orféia, etc. D eve ser antes profi­ lática do que terapêutica. F alc-sc, desde o púlpito, contra o perigo do contágio. Fale-se aos católicos, não aos es­ piritas, aos sãos e não aos doentes. Para que a cam panha surta efeito have­ m os m ister conhecim ento de causa. Não va ­ m os atribuir tudo a causas naturais, nem tu­ do ao demônio. No prim eiro caso, não se com ­ preenderia bem a razão do com bate nem a razão por que a Igreja condenou repetida­ m ente a prática do espiritism o. A razão do estudo c de pesquisa científica justificaria a assistência a sessões espiritas. No segundo caso, teriam os contra nós a psicologia, que ex­ plica quase todos os fenôm enos subjetivos.

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XV Seria de todo conveniente que se instituisse nos Sem inários um pequeno Curso de Es­ piritism o, onde se estudassem as teorias, os erros dogm áticos, os m eios de combate. Nós chegam os a esta situação aparente­ m ente contraditória: temos de com bater o pa­ ganism o nas regiões não-pagãs, temos de pre­ gar Cristo aos cristãos. Podem os e devem os auxiliar a cristianização da África e da Ásia, m as não podem os afrouxar a re-cristianização do Brasil. Não basta rezar. N ão adianta lastim ar. É preciso lutar. Quem fin ge desconhecer a devastação operada p elo espiritism o é porque não saiu nunca de seus alcáçares, de suas casas, de seus lazeres. N ão percorreu, com o nós, os bairros pobres de S. Paulo e do Rio, nem perlustrou o interior do país. N ão feriu o as­ sunto no seio de certas fam ílias elegantes que, a-pesar-de tudo, ainda vão a m issas de sétim o dia e ainda toleram a existência dos sacerdotes católicos. (439).

EXORTAÇÃO FINAL V ia o Apóstolo os prim itivos cristãos em ­ penhados num a luta perene contra os pode­ res que se m anifestam nos ares e não se can­ sava de anim á-los a que perseverassem na lu ta : “Mortos éreis em vossos crim es e peca­ dos, quando cam inháveis segundo o espírito deste m undo, segundo o príncipe dos ares, que ainda não cessa de operar entre os filhos da d esob ediência.” N ão ha negar. Poder som brio, horrível e devastador vagueia em torno de nós. Príncipe poderoso infesta os ares que respiram os e em que nos m ovem os. Não c de carne e osso, esse príncipe. N ão tem a form a que os poetas lhe em prestam e com que o vestem os pintores. Invisível, age assim m esm o por toda parle. T em m ilhares de fauces e m ilhares de olhos. Servem -no m inistros sem conta, ásseclas de todos os m atizes; por m eio deles, espreitanos, arm a-nos insídias, procura perder-nos em todos os instantes. Riem -se os hom ens deste nosso linguajar. Com ares de “ilum in ados” asseveram que no “século das lu zes” já não há lugar para o es­ pirito das trevas. Mas enganam -se. Descrendo do poder in-

— 404 — visivel, tornam -se as prim eiras vítim as do Dragão Infernal. A m ais retum bante vitória de Satanaz, nos tem pos que correm, é esta: fazer crer aos hom ens que ele, — Satanaz, — não existe. Como disse GOETHE, esse profundo co­ nhecedor dos homens, “Não percebe a gentinha ao diabo, Inda que a tenha toda no g a s n e te ...” Os surtos do pensam ento hum ano confir­ m am as verdades em que, de pequeninos, fo ­ m os instruídos nas aulas de História Sagrada. O cepticism o sistem ático não m odifica o curso das coisas. Conforme disse Fenelon, no T elêm aco, as coisas são com o são e não como querem os que sejam . Queira ou não queira o MATERIALISMO m oderno, as Sagradas Letras não deixam , por isso, de atestar a sinistra atividade da “ ser­ p en te”, do “ hom icida desde o in ic io ”, do “ ad­ versário nosso que, leão fam into, nos anda farejando, buscando quem d evore.” E Crisio, o nosso amigo, nos está sem pre alertando, não venham os a cair nas m alhas do “inim icus h om o” que, pelas caladas da noite, sorrateiro e m anhoso, sói espalhar a erva daninha no cam po das almas. A História da Igreja atesta a ação oním oda de Satanaz, esse Proteu real e perver­ so. Uma das m anifestações de sua atividade foi e será sem pre concretizada na form a c!c heresias. A heresia é o joio abafador da se­ m ente divina, plantada por Cristo no terreno das alm as boas e generosas.

— 405 — O INIMIGO não dorme. Quando uma he­ resia se desvanece, ele suscita outras. Aí está a últim a em ordem cronológica: o ESPIRITISMO. Os seus fautores foram uns viciados. Os seus crentes são, via de regra, hom ens nevrosados, — alm as doentias que re­ negam os ensinam entos de Cristo e despre­ zam as norm as da SÃ RAZÃO. Leitores! Estai alerta. Não vos deixeis co­ lher nas redes do Grande Sofista, cujos argu­ m entos capciosos tanto se traduzem na elo­ quência de um m édium com o no h álito de uma serpente. N unca podereis prescindir daquele que c “ o Caminho, a Verdade e a V ida.” Não podeis passar sem Cristo, assim nas horas amargas com o nos m om entos de alegria. Quereis baralhar os ensinam entos dos Evangelhos com as m ensagens do Inferno? E ’ o que m uitos estão fazendo. Contemplai, porem , vós-outros, o olhar tão m eigo de Jesús e ouví-lhe a q ueixa dorida e an sio sa : “E vós? Quereis tam bem deixar-m e?” N ão! Como Pedro, com o todas as alm as bem nascidas, com o todos os predestinados, respondei do im o do p eito: “ SENHOR! PARA ONDE IREMOS NÓS? Vós tendes palavras de VIDA ETERNA.” O. A. M. D. G.

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