O Criador, O Universo E As Criaturas

  • October 2019
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CAPÍTULOS DO LIVRO “CONSCIENCIOSOFIA PRÁTICA”, DE JOSENILTON KAJ MADRAGOA

O CRIADOR, O UNIVERSO E AS CRIATURAS DEUS SABIA, OU NÃO, QUE EVA IRIA DAR UMA BOCADA NO FRUTO PROIBIDO? .................2 DEUS E O DIABO NA TERRA DOS MITOS............................................................................................4 A ESPERANÇA EM MITOS ABSTRATOS E IDEOLÓGICOS .......................................................8 OS PODERES DE DEUS EM NÓS, DEUSINHOS ..................................................................................12 RELIGIÃO VERSUS CIÊNCIA OU COM CIÊNCIA? ............................................................................15 NINGUÉM SAI DA SUPERMATRIX. ESTAMOS FADADOS A INTERVIVER .................................18 PARA LÁ E PARA CÁ ENTRE OS DOIS MUNDOS. É A ROTINA.............................................21 ESPIRITUALIZAR-SE NA MATERIALIDADE. EIS O JOGO. .....................................................25

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CAPÍTULOS DO LIVRO “CONSCIENCIOSOFIA PRÁTICA”, DE JOSENILTON KAJ MADRAGOA

DEUS SABIA, OU NÃO, QUE EVA IRIA DAR UMA BOCADA NO FRUTO PROIBIDO?

Como uma conversa puxa ou repuxa outra, vamos voltar para a velha questão da gênese da Gênesis(!). Vossa Mercê não acha que o Deus do Jardim do Éden tinha certeza de que Eva iria comer do fruto proibido? Foi, de certa forma, um jogo para Eva? Deus jogou dados com Eva? Partindo do pressuposto de que aquele Deus javista pintado por Moisés é o verdadeiro Deus, a auto-resposta é não! Deus não pode ter jogado, porque o resultado do jogo era uma certeza para Ele. Ele não tinha precisão de jogar. Ele poderia não ter criado o fruto proibido, nem a cobra e nem as leis do livre-arbítrio (pré-ativa, subjetiva a Eva) e da proibição de se comer do fruto (proibitiva, objetiva a Eva). Mas quis testar o livre-arbítrio de Eva, mesmo tendo certeza de que ela iria descumprir a lei. Ou Ele não tinha certeza? Foi um investimento para Ele, ainda que com resultado garantido?(!) Será que foi por isso que Deus se arrependera(!) mais adiante (mais especificamente em Gênesis, 6:6) de ter criado os seres humanos? Por questões desse jaez é que existe uma corrente chamada “Teísmo Aberto” 1, que propaga que Deus não detém os atributos da onipresença, onisciência e onipotência. Logo, ele não é o Todo-Poderoso e, conseqüentemente, não pode se responsabilizar pelas maldades humanas.

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O Teísmo Aberto é uma corrente filosófico-teológica iniciada em 1980, a partir do livro “O Deus em Aberto” (“The Openness of God”) dos teólogos e escritores estadunidenses Richard Rice, John Sanders, Clark H. Pinnock e William Hasker. É uma extensão da “versão deísta”, que entende que Deus apenas criou o Universo e suas leis, mas que não interfere em sua mecânica. 2

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Já no final do século IV, surgiu uma doutrina chamada Agnoitismo, que era contra a idéia da onisciência de Deus. Segunda ela, Deus só pode conhecer o passado por meio da memória e o futuro, pela inferência do presente . E Você? O que acha? Ou opinar quanto a isso já é um sacrilégio ou uma apostasia2, na sua opinião ou na opinião da sua fé? Em princípio, todo investimento é sempre um negócio de risco. E eu sou capaz de apostar com Vossa Mercê que Deus é o único Senhor dos tempos passados, presentes e futuros de cada um de nós. O problema é escolhermos quem vai apurar essa aposta. Ou será que a onisciência ou capacidade cognitiva de Deus só alcança até o tempo presente de cada um de nós? Você, por exemplo, não tem certeza absoluta do que vai fazer amanhã pela tarde, mesmo que já tenha planejado isso em sua agenda ou mesmo que já seja um compromisso repetido todo dia. Ou Você tem essa pré-certeza absoluta? E Deus? Ele sabe do seu futuro, ainda que Você não o tenha sequer planejado ou pensado? E, além de saber, ele tem também o atributo da multirrelacionalidade vertical descendente (onipotência), ou seja, ele pode impedir que Você faça ou deixe de fazer alguma coisa, em seu benefício ou em benefício de outrem? E nós, seres humanos? Temos algum poder efetivo, dado por Deus, de antever nosso futuro? Ou Você tem um “pré-conceito” contrário acerca dessa nossa oniscienciazinha? Acho que isso não é uma questão de achar. É uma questão de lógica. Se cremos que Deus seja onipresente, onisciente e onipotente, então ele présabia que Eva não iria resistir a dar uma bocada na fruta da (cons)ciência do certo e do errado. As questões, contudo, que Moisés não esclareceu direito para muitos de nós, lógicos e pseudológicos, foi por que Deus criou a regra, sabendo que Eva iria descumpri-la. Por que Ele criou a árvore proibida bem no meio do Jardim do Éden? E a tal da cobra que serviu de meio para o “Mal” tentar Eva? Qual é a verdadeira utilidade, então, da Lei do Livre-arbítrio, se o pecado original já estava prescrito ou pré-escrito no caderno de Deus, que presumivelmente não gosta de jogos? Será que Deus já deixa “prepreparados” futuros condicionais para uso de acordo com as escolhas de caminhos que fazemos a toda hora? Existem futuros paralelos já pré-delineados, à disposição apenas das nossas escolhas, de modo que um deixe de existir se ingressarmos no outro? Existe um algoritmo divino para uso em relação a nossas ações futuras sobre resultados futuros ou em relação a resultados futuros sobre nossas ações futuras? Ainda que eu daqui não saiba quais estão sendo suas respostasjulgamentos, prefiro encerrar, por ora, meus encaminhamentos de quesitos neste sentido. Sem mais perguntas, meritíssimo leitor! 2

Apostasia: renegação a crença religiosa; abandono de uma fé ou religião sem autorização superior. 3

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DEUS E O DIABO NA TERRA DOS MITOS

Considerando que Deus detém os três atributos exclusivos (onipresença, onisciência e onipotência), é de se entender que a sua antropomorfização por Moisés foi útil apenas para dar uma idéia simples da existência do próprio Deus e da formação do mundo e de suas criaturas. É mais crível que efetivamente Deus tenha nos criado a sua imagem e semelhança do que nós o termos criado à nossa. Como não podemos idealizar nada sem referências, precisamos reduzir Deus um pouco à condição humana (com sentimentos de júbilo, tristeza, arrependimento, ira, além de ter sido ele o primeiro alfaiate de roupas do mundo etc), para podermos raciocinar acerca do que devemos fazer ou não fazer para “agradar ao Pai”. A intenção de Deus não é nos testar por testar. O que Ele quer é que evoluamos com o suor do nosso rosto. O fim inicial da criação do homem é a evolução, ainda que para um fim infinito. Hoje, temos de repensar que símbolos subjazem no multiinteligente mito judaicomosaísta sobre a Criação. Excesso de crença cria e cega. Hipostasiar3, nos dias atuais, numa imagem mítica criada há mais de três mil e seiscentos anos para explicar fenômenos naturais, como se tal imagem tivesse ocorrido de verdade é não ter noção de limites de imaginação. É desconhecer totalmente os conceitos da semiótica, além de ignorar totalmente as técnicas de datação pelo carbono 14. Eu sou dos que acreditam que, abstraindo toda e qualquer mistificação ou mitificação, existem o universo material e o universo espiritual, interativos, subdivididos em várias dimensões graduadas conforme níveis vibracionais, povoados de seres inteligentes, também em vários níveis evolutivos. E creio na existência de 3

Acreditar piamente numa abstração, conceito ou ficção como realidade concreta, como algo que existe ou que existiu no mundo tangível. 4

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uma inteligência suprema no comando central de todas as outras inteligências. Porém, reforçando, por outro lado, não é questão de criticar sistematicamente as figuras criadas no livro da Gênesis. Não se trata ali de uma mera ficção religiosa. Temos que abstrair a forma e até a antropomórfica ou humaniformiana imagem de Deus, criada para sedimentar o entendimento da existência do Deus único e seus poderes criacionais, regenciais e correcionais. Temos que captar a eterna sabedoria da aula magna proferida pelo grande historiador Moisés, na inauguração da Universidade Humana na Terra. Ele merece os nossos mais calorosos aplausos! Desqualificar conceitos e preconceitos alheios, como costumam fazer os homens de pouca fé e de pouca inteligência imaginária, é fácil. Difícil é dizer qual é o verdadeiro conceito. Muitos céticos e ateus preferem simplesmente negar por negar a existência de qualquer grandeza incognoscente, da mesma forma que muitos crédulos insistem em afirmar por afirmar a existência real de fatos meramente simbólicos. - O importante não são os símbolos. O importante são as forças reais que por eles são mobilizadas, manipuladas e veiculadas, bem como os destinos que eles vão ajudando a chegar na jornada existencial de cada um. – Jorge, filosofante e vendedor de livros e artigos religiosos, em argumentação com um evangélico que lhe acusava de idolatria, na Praça Imaculada Conceição, em Juazeiro-BA, num domingo de 1973. A inidolatria ou anarquia objectual-simbólica é impossível. Todo mito tem seu quê de mediatidade. Ninguém vive sem intermediações para percepção das verdades essenciais da vida. As idéias são símbolos. A língua é um símbolo. Nenhuma linguagem espelha a essência nem das descobertas graduais da verdade. Daí a importância dos símbolos lingüísticos, principalmente a metáfora, a metonímia e a parábola. Tais figuras de linguagem, juntamente com as palavras especiais, são imprescindíveis em qualquer texto discursivo ou argumentativo, seja religioso, filosófico, artístico e científico. As ocorrências humanas são símbolos. Nós, seres humanos, enquanto coberturas feitas de corpos e personas da nossa identidade essencial, também somos símbolos. Muitos seres da dimensão imaterial manifestam-se para nossa sensorialidade física através dos próprios símbolos de que são por nós revestidos. São os mitificados fazendo papel de mitos. Daí a importância de defendermos as idéias que achamos mais próximas da essência da vida e de respeitarmos as idéias uns dos outros sobre a mesma essência, já que a essência da vida não se manifesta para ninguém frente a frente. Para quem é difícil pulular no mundo mais quintessenciado das idéias, já é válida a defesa de formações sociais e seus eventos, como o conhecimento, a língua e a cultura. Por fim, quem não tem propensão a essa socialidade, a idéia mais essencializadora e transmitificadora seja talvez a própria interação com outros seres humanos, através do amor em suas várias manifestações. O deus e o diabo personificados pelas religiões, seitas e formações evangélicas são os dois maiores mitos de todos os tempos no universo religioso. Dão-nos uma idéia dualizada e reducionista de que nada mais existe de inteligente entre o céu (outro mito), a Terra e o inferno (outro mito) que não essas duas entidades iconizadas. É uma mitificação maniqueísta e simplificadora das relações nossas com as outras forças inteligentes e transdimensionais cósmicas e suas interinfluências com o nosso mundo terráqueo sensorial. É como se todo pensamento e todo sentimento bons que se 5

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manifestam proviessem de uma única fonte boa e como se todo pensamento e todo sentimento maus proviessem de uma única fonte má. Bate de frente com o Pluralismo, que defende a tese de que o universo é composto de uma pluralidade de elementos fundamentais heterogêneos, mas interconexos. Contrapõe-se também ao Monismo, que reconhece que tudo provém de uma única fonte, de um princípio único a que tudo é redutível. Os avanços da Astronomia e das pesquisas ufológicas têm cada vez mais nos conduzido à convicção de que não estamos sozinhos no universo material. A ciência materialista sempre buscou provas de vida inteligente em outros pontos do universo intergaláctico, a custos altíssimos. A ciência espiritualista, mais exitosa, já detectou de há muito, e vive a interagir com vida inteligente, não necessariamente de outros pontos do universo sideral, mas, sim, de outras dimensões do mesmo universo em que habitamos, a custos relativamente baixíssimos. A Transcomunicação Instrumental (principal ciência nessa área) tem se valido, inclusive, das pesquisas e descobertas incessantes da Física Quântica e do crescente desenvolvimento dos aparelhos eletrônicos e magnetelétricos de comunicação interdimensional computadorizados. Qual a lente que Você usa para pesquisar ou alcançar o mais profundamente possível a essência dessas e de outras verdades mitificadas? Ou Você já enjoou de manter contatos de quinto grau (telepáticos) com seres extraterrestres, sem qualquer aparelho especial, seja na sideralidade, seja na interdimensionalidade? Ou acha que tudo no universo se resume apenas a Deus, Diabo e seres humanos, com suas infinitas formas de manifestação física e intelectual e suas múltiplas denominações? Quando a Igreja construiu o conjunto de seus mitos-dogmas, incluiu a figura do demônio como o representante e fomentador eterno da maldade do mundo. Foi um erro taxinômico brutal, porquanto a palavra demônio foi importada da cultura grega clássica, mas lá ela significava espírito-guia ou mentor espiritual situado entre Deus e os homens, no plano invisível4. Como o dogmatismo eclesiástico não aproveitou a cultura grega, especialmente o pensamento socrático, então a palavra demônio passou a significar o anjo rebelde contra Deus, voltado eternamente para a maldade. Foi uma estratégia para afastar o povo do pensamento socrático e liberar espaço na mente coletiva para a catolicização dos raciocínios. O sinônimo satanás, igualmente, é uma deturpação etimológica, considerando que o mesmo se referia originalmente apenas a adversário ou oponente. A questão mesmo que se auto-eflui disso tudo é a seguinte: o que não é símbolo, simbolizado ou simbolizável neste mundo, quer física, quer intelectual, quer imaginariamente? Às vezes, precisamos recorrer para algum poder externo a nós, mesmo sob crostas icônicas ou míticas, para podermos alquimiar o poder que há dentro de nós mesmos. 4

Sócrates sempre se referia a seu demônio, ou daimónion, a quem sempre recorria em busca de ensinamentos. 6

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Não podemos desconhecer, contudo, que há instrumentos, meios, posições e posturas corporais e materiais que facilitam ou intensificam a condutividade das energias do plano imaterial, com suas energias sutis, para nosso plano, com suas energias mais densas. O próprio Jesus deu-nos exemplos disso, quando promoveu curas superpondo as mãos sobre alguns doentes. As mãos são antenas receptoras e transmissoras de energias, principalmente quando posicionadas de forma adequada. O Cristo é o único ser espiritual que passou pelo planeta Terra e não deixou mitos. Ele trouxe uma ética bem precisa e coesa, que bem que poderia ser adotada largamente pelos indivíduos de todo o planeta, como norma cristalina de conduta fraterna. Mas por que essa ética cosmo-existencialista ainda não vingou de forma ampla no coração das pessoas e dos povos e nunca fez parte abrangente de estudos científicos e acadêmicos? O problema é que a principal corrente do Cristianismo puro foi apropriada e “patenteada” pela Igreja Católica, recém-formada, que lhe deu roupagens dogmatizantes e até lhe reduziu a importância histórica e universal ao emparelhá-la, em peso, com outros ensinamentos velhos pré-crísticos (o Velho Testamento). “Católico” vem do grego “katholikós”, que quer dizer “universal”. Logo, numa tradução aportuguesada da igreja romana, poderíamos chamá-la de “igreja universal”. Isso porque o Catolicismo abrigara inicialmente várias religiões cristãs congêneres, ainda que sob a batuta do mesmo chefe comum. Como essa tradução não se aportuguesou na época própria (mesmo porque não existia sequer a língua portuguesa) agora não pode mais, porque já há concorrente na praça com esse nome registrado em cartório. Ainda reina, inapropriadamente, nos discursos teológicos, filosóficos e acadêmicos de todo o mundo a pacífica confusão entre cristianismo e catolicismo e cristianização e catolicização. É que historicamente o cristianismo imposto como sistema religioso obrigatório aos povos mais subdesenvolvidos ou dominados de todo o mundo trouxe no seu arcabouço a doutrina católica, já que foram os católicos que sempre se esmeraram em expandir seu império religioso mundo afora. Ademais, foram os próprios católicos os primeiros a sistematizar o cristianismo, ainda na origem da chamada “igreja primitiva”. Hodiernamente, algumas seitas evangélicas é que tomaram para si o título de “cristão” ou “evangélico” para seus adeptos. Tais formações neo-cristãs não são necessariamente dissidências de religiões tradicionais específicas, mas, sim, de todo o universo religioso judaico-cristão clássico, embora mantendo a Bíblia como livro sagrado.

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A ESPERANÇA EM MITOS ABSTRATOS E IDEOLÓGICOS

Muitos mosaístas, no fundo, nunca quiseram mesmo que a mensagem do Cristo vingasse, porque ainda esperam o advento de um messias vingador. A ênfase do velho discurso ou Lei Hebraica (a Torah), personalizada na figura de Moisés, simpaticíssimo para muitos, era a justiça5. A justiça era condizente com o povo da época dele, acostumado a um Deus que se irava, que se revoltava e até que se arrependeu(!) de ter criado os homens (Gênesis, 6:6) e que só não exterminou tudo o que fizera, em consideração ao ponderoso Noé. “Mas Noé adquiriu graça nos olhos do Eterno” (Gênesis, 6:6). Viu aí nas duas palavras (“ponderoso Noé”) o poder da letra “n”?). Por isso, eu considero Noé o primeiro diplomata da Humanidade! Se isso tudo foi verdade fática mesmo, eu imagino que tenha havido uma força cósmica sobredivina superior aos dois senhores (Jeová e Noé), mediando, e talvez “ajeitando”, esse pacto em prol da humanidade ainda recém-nascida. Conseqüentemente essa força sobredivina é que é o verdadeiro Deus, perfeito e infinitamente superjusto e superbom, que pré-sabia, ou melhor, onisabia de tudo, inclusive o que aquele “outro Deus”, o do jardim, faria e como se sentiria (arrependido e chateado) depois de seus feitos imperfeitos. É uma verdade, ou melhor, é um argumento inconveniente? A propósito, podemos ser induzidos a entender, deveras, que esse Deus criacionístico não programou sozinho a criação dos homens. Em Gênesis, 1:26, primeira parte, até parece que ele estava acertando com outro “alguém” como deveria ser moldado o homem: “E disse Deus: Façamos o homem à nossa imagem, conforme a nossa semelhança.” O que é que Você, personagem leitoral destes escritos, acha? Por que o verbo fazer e os possessivos aparecem aí na primeira pessoa do plural? Ele estava falando sozinho ou com algum Deus-sócio? Aproveitando ainda a interpolação, podemos entender que a antropomorfização ou redução de Deus à condição humana, feita pelos homens, também se deve ao versículo bíblico acima citado. Na verdade, a semelhança dos homens a Deus não é nos atributos hominais, mas, sim, nos atributos divino-espirituais que há dentro de cada um de nós. O problema é que nada que não se conhece zoo-sensorialmente pode ser descrito ou entendido sem comparações com coisas conhecidas. Isso na época de Moisés, na nossa época e sempre. Por isso as religiões clássicas criaram os

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Em nenhum ponto do Antigo Testamento há menção sobre o amor no sentido fraternal, embora Deuteronômio 15:7 advirta que não devemos endurecer o coração aos pobres. Já “é jogo”, mas não é tão fraternalista como o entendimento neo-testamentário, de igualdade e de irmandade.

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mitos e a Filosofia criou em especial a lógica fisicalista6, que também tem seu quê mítico e normalmente se cala frente aos fenômenos metafísicos e sobrenaturais. Logicamente, não dá para aceitar um Deus Absoluto que seja imperfeito (que se arrepende), que criou seres tidos como perfeitos (como os anjos) e que depois os viu decair como seres imperfeitos. A tradição dessa e de muitas outras intracontradições que há na Bíblia trai qualquer lógica, seja religiosa, filosófica ou científica! Porém tudo é questão de entendimento, tanto de Moisés e outros escritores da Bíblia sobre o que narraram, quanto nossa sobre eles. O homem é fruto também de seus valores temporais, de seus preconceitos, de suas idiossincrasias. Isso se faz presente em qualquer produção de pensamento. As próprias línguas são fenômenos humanos, oceanos de ideologias, principalmente quando em interação umas com as outras através das traduções no tempo e no espaço. As verdades universais e eternas inspiradas na Bíblia e em outros livros tidos como sagrados sempre tiveram que passar meio espremidas entre as palavras e formas limitadas e ideologizadas de seus escritores, intérpretes e leitores. Apesar de encerrar muitas verdades eternas, a Bíblia (principalmente o Velho Testamento) é também um livro de histórias carregadas de ficcionalidades, algumas condizentes com verdades profundas, outras, meramente reprodutoras de assuntos temporais. As piores interpretações bíblicas não são as hermenêuticas, exegéticas ou eisegéticas. As piores interpretações são as que tomam como a própria verdade as palavras infectadas de vírus culturais e de historicismos religiosos, políticos e econômicos. É o instituto do literalismo. Defender radicalmente uma interpretação nua e crua dos fatos bíblicos (se é que se pode chamar isso de interpretação), sem qualquer justificativa plausível e coerente, pode não passar de um “crime de lesa-razão”. Pode até não passar de um crime de lesa-fé, (isso após se apurar, também, eventual crime doloso de “lesa-tradução”). As dúvidas, manipulações, conflitos, adulterações, traições e confusões não surgem da Palavra. Surgem das palavras. A Palavra é divina. As palavras são humanas. Há, por exemplo, um versículo dos Salmos que induz à horrenda interpretação de que Deus estimularia a matança de crianças de Jerusalém. “Feliz será aquele que segurar e deveras espatifar tuas crianças contra o rochedo” (137:9). Isso não é somente uma antropomorfização, mas é uma monstrificação de Deus, se visto apenas pela lente do literalismo. Outra: Ezequiel 23 nos coloca Deus como tendo tido relacionamento com duas prostitutas e com elas gerado filhos. “Filho do homem, veio a haver 6

FISICALISMO: no positivismo lógico, esp. para Rudolf Carnasp (1891-1970), teoria segundo a qual os diversos campos do conhecimento, inclusive as chamadas ciências humanas, devem elevar a física à condição de um paradigma científico universal, supondo que todos os aspectos da realidade, inclusive estados mentais e afetivos, somente adquirem plena compreensibilidade e concretude se analisados como realidades físicas. – Dic. Houaiss.

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duas mulheres, filhas de uma só mãe. E elas começaram a prostituir-se no Egito...” “...e elas vieram a ser minhas e começaram a dar à luz filhos e filhas.” Já pensou que situação comprometedora! É certo que esse próprio “Deus”, logo em seguida, explica que essas duas prostitutas são, alegoricamente, duas cidades. Mas bem que ele poderia arranjar comparações menos impactantes e menos humanizadas, não é mesmo? As religiões judaico-cristãs e as mais recentes seitas e formações evangélicas não citam e nem estudam todas as passagens bíblicas em suas pregações. Aliás, nenhuma religião se constrói tomando como base a Bíblia em sua totalidade. Cada religião se constrói a partir de uma seleção de textos bíblicos e a partir de interpretações dogmáticas desses textos selecionados e de outros, além da feitura ou escolha das traduções que melhor convirem a si ou à corrente religiosa a que ela se filia. Geralmente, nenhuma igreja acentua e estuda aprofundadamente as passagens inconvenientes e que podem ameaçar a moral e os bons costumes da atualidade sócio-religiosa ou sua própria base de fé. Só na língua portuguesa as Escrituras Sagradas têm sofrido diversas modificações entre os tradutores e revisores. A própria tradução de João Ferreira de Almeida (a mais popular) normalmente aparece com dois tipos de edição: “Almeida Revisada e Atualizada” e “Almeida Revisada e Corrigida”. Desde seu primeiro aparecimento, em 1681, a primeira tradução de João Ferreira de Almeida já sofreu tantas modificações, que hoje podemos dizer que ela não mais existe, já que foi assenhoreada e totalmente adulterada pela Sociedade Bíblica do Brasil, entidade biblicista contemporânea. Já a ênfase da ética crística foi o amor. E o amor não pode ser “religiosizado” nem “cientificizado”(!?). Depende sempre da iniciativa privada individual humana. Porém, seus efeitos podem se espargir por todos os ambientes sociais, políticos, religiosos e científicos, já que estes são formados por seres humanos e suas decisões pessoais calcadas também nos pensamentos, nos sentimentos, nas palavras e nas ações. As próprias religiões, seitas e formações cristãs aproveitaram a essência do Evangelho para incentivar seus seguidores ao desprendimento dos bens materiais (apesar de algumas terem desvirtuado um pouco o conceito). Quando um corpo social qualquer é tido como bom para a sociedade, e efetivamente o é, no sentido de promover largamente o crescimento das pessoas humanas, de forma livre, indistinta e abrangente, não é porque esse corpo social é intrinsecamente bom. É porque as pessoas que o criaram ou dirigem, estas sim, são imbuídas de bons sentimentos. Daí uma “personalidade artificialmente boa” impregna-se no corpo social, seja ele religião, seita ou formação evangélica, sociedade civil, associação, fundação, ONG, instituição pública ou privada de ensino ou assistencial, ou até uma pessoa jurídica comercial. Muitas pessoas humanas são também, avulsamente, exemplos vivos desse cristianismo puro ou neocristianismo7, pertencendo, ou não, a alguma organização formalmente criada para fins fraternos. 7

Sistema que pretende, a um só tempo, recuperar o primitivo cristianismo e modernizá-lo. – Dic. Houaiss, 2. 10

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E, assim, vão, individualmente ou em grupos voluntários, se realizando as linhas acionais formiculares, gerando, muitas vezes, volumes de resultados elefantinos. Normalmente, os grupos de ação social se valem da sua própria egrégora (energia resultante da força grupal) para superpotencializar seu trabalho e seus resultados. É por esse viés que o sistema cristão puro, como chamam alguns pensadores, tem sobrevivido mais e manifestado sua força sempre expansiva nos círculos sociais do mundo.

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OS PODERES DE DEUS EM NÓS, DEUSINHOS

Eu creio em Deus como a inteligência suprema superjusta e superboa e como a fonte dos poderes absolutos sobre a vida e os destinos de todos os seres do universo, inclusive sobre os seres inteligentes que também têm poder de decisão, como no caso de nós, seres humanos. O céu não existe como lugar de premiação ou de felicidade eterna. O diabo não existe como personagem antagônico. O inferno não existe como território de penas eternas, mas antes como um cárcere psíquico provisório. Algumas traduções bíblicas em português carregam em maior quantidade a expressão “inferno”, mas nenhuma passagem a define como lugar de penas eternas. O que existe é o poder, ainda que não absoluto, de cada um de nós decidir e de assumir responsabilidades e conseqüências por suas decisões boas ou más. E existem as leis cósmicas criadas e utilizadas por Deus para regular nossos destinos, pela premoção. Quando o Absoluto decide agir para que algo aconteça ou deixe de acontecer na vida de cada um de nós, Ele aciona seus canais, que sequer sabemos como funcionam. A onipotência da Inteligência Suprema é relacional vertical descendente e transversal. Tem poder absoluto de cortar, de cima para baixo, todas as camadas de poder cósmicos, até chegar à unidade energética inteligencial física, ou seja, cada um de nós. Já o poder das inteligências intermediárias extra-físicas, boas ou más, positivas ou negativas, superiores ou inferiores e sérias ou galhofeiras, está sempre subordinado a uma alçada sempre limitada e relativa. {A influência é recíproca, de lá para cá (para nosso mundo sensorial humano) e daqui para lá (para o mundo genericamente chamado de mundo espiritual, invisível, etéreo, mental, filosófico, divino, parelelo, antimaterial, das idéias, dos desencarnados etc). 12

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Na dimensão mais próxima da nossa há todas as faixas vibratoriais imagináveis e inimagináveis, inclusive até mais baixas do que as nossas mais conhecidas deste lado (não necessariamente negativas). A depender da faixa vibratorial reinante na dimensão vizinha, pode não haver matéria, mas há muita materialidade e traços de humanidade ou até de animalidade no comportamento dos espíritos que a habitam. “Não acrediteis em todo espírito, mas provai se os espíritos são de Deus”. (I João, 4,1)

Mas também há muitas faixas vibratoriais bem superiores às nossas. Da mesma forma, a depender da faixa em que nós humanos costumamos sintonizar, pode haver muita espiritualidade mesclada com a materialidade circundante. “Na casa do meu pai há muitas moradas”8 ocupando lugar não somente no espaço sideral, mas também no espaço espiritual ou antimaterial. O próprio Platão já definia os dois mundos normalmente admitidos como “mundo sensível” (o da nossa realidade tangível) e o “mundo inteligível” (o das idéias puras, da essência divina e seus atributos, como o Bem, o Belo, a Justiça, o Amor etc). É dele também a idéia da existência do “demiurgo”, que seria o artesão divino ou princípio organizador do universo, com base nos modelos eternos e perfeitos.} A depender do poder de alçada, cada “empoderado” espiritual pode ver ou até intervir, alterativamente, nas nossas ações humanas em relação a algumas ocorrências inevitáveis. Pode também, inversamente, alterar ou até anular algumas ocorrências que nos afetariam, mas que não devam nos afetar. Para isso, pode usar até mesmo a sabotagem contra nossos planos de ação, para nos salvar a nós mesmos. Tudo, sempre, sob a autorização divina, ou, no mínimo, sob rígido controle e fiscalização dos poderes inteligentes intermediários superiores da quinta dimensão ou de outras dimensões acima. Alguns objetivos que pretendemos fortemente alcançar, e que acabamos por alcançar com a força da nossa mente, sempre têm a co-participação de outras forças das quais não temos a menor consciência de que existem. Só que todo poder mental, por mais forte e decisivo que seja, por mais apoio de outros poderes paralelos que tenha e por maior que seja sua própria fé (ou “fezinha”) premonitória, será sempre limitadíssimo. O poder de alçada dos seres humanos, como deuses co-criativos é um dos mais fraquinhos dentre todos. Mas esta é uma realidade antiga. Nós somos efetivamente deuses, conforme os livros dos Salmos, 82:6, Isaías, 41:23 e João, 10:34. Sai Baba9, um grande líder espiritual indiano, assevera que “Deus é igual ao homem menos o ego, sendo o ego a crença ilusória na separação, no medo e no egoísmo”. Por aí, ele entende que Deus não se confunde com o espírito (ego) que move o ser humano, embora, logicamente, também esteja em comunhão com o homem. 8

João, 14:2. Baghavan Sri Sathya Sai Baba (1926) é considerado um deus ou ser divino encarnado ( chamado de avatar, na nomenclatura hinduísta). Ainda cumpre sua missão espiritual na Índia. 9

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Nós somos deuses, porque temos energia outorgada pelo Criador para modificar, inclusive, a matéria (pela chamada psicocinésia ou psicoquinese), até certo ponto e de acordo com o grau de energia outorgada. Mas, somos deuses principalmente porque temos o poder de decidir nossos próprios rumos, ainda que não de forma absoluta. Temos até o poder de por fim à vida física de alguém, direta ou indiretamente, inclusive a de nós mesmos. Só não temos o poder de descumprir impunemente as leis cósmicas. É de se entender que também nós, seres humanos, por conseguinte, temos alguma margem de onipresença, onisciência e onipotência, mas, certamente, só uma margenzinha mesmo, mixuruca, sempre eterna e imutavelmente subordinada ao poder do Absoluto! Somos homines sapientes, mas não homines omnisapientes absolutos! Algumas pessoas mais privilegiadas têm essas “onis” em estado tão avançado, que se autodenominam ou são confundidas até com a própria Inteligência Suprema. No mínimo, são classificadas como “deuses encarnados”. Sai Baba que o diga! No frigir dos ovos, talvez a conclusão mais lógica sobre essa questão é que nem do povo, nem da religião e nem da ciência, mas todo o poder emana de Deus e em nome deste deve ser exercido. Ante ou antes mesmo de eventual crise teocêntrica, é melhor ficarmos com o melhor modelo de Deus que já tivemos na Terra, que é Jesus Cristo. Moisés nos trouxe a primeira grande revelação acerca da figura e das leis de Deus. Jesus, o Cristo, é a segunda grande revelação, porque se confunde com a própria figura de Deus e porque trouxe uma versão amorizadora das leis de Deus. Não importa se ele era ou não era o próprio Deus Absoluto encarnado. O que vale é que sua doutrina, simples e universal, dá bastante, e ainda sobra, para o gasto necessário ao esforço que devemos fazer para nos aperfeiçoar como espíritos eternos. Isso implica nos afastarmos cada vez mais do estado bruto animal e nos aproximarmos cada vez mais da deificação, principalmente pelo viés do amor.

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RELIGIÃO VERSUS CIÊNCIA OU COM CIÊNCIA?

Disse o Mahatma Gandhi: “Uma vida sem religião é um barco sem leme”. Seu conceito de religião, contudo, era menos relacionado a estruturas organizadas em ritos e dogmas e mais voltado para a espiritualização. Ele mesmo disse também que "a fé – um sexto sentido – transcende o intelecto sem contradizê-lo." Isso induz a crer que podem existir religiões cientificistas ou ciências religiosistas (! ou ...?). Há bastantes cientistas que são mais espiritualistas do que muitos religiosos, e entre estes há muitos que são mais materialistas do que muitos cientistas. Isso porque a realidade espiritual não tem a ver exclusivamente com a Religião, da mesma forma que a materialidade não tem a ver exclusivamente com a Ciência. Quando se diz que a Ciência é contra alguma questão específica de espiritualidade, há de se perguntar: que ciência? Qual entre os vários ramos da ciência? Normalmente os cientistas são contra as religiões, em que pese ao fato de muitos deles terem sido religiosos ou deístas, a seu modo. Igualmente, os religiosos são contra as ciências, embora é notório o fato de muitos deles terem sido cientistas. Porém, a Ciência em si não é contra a Religião em si. Ambas, a Ciência e a Religião, cada uma com seus objetos de estudo, métodos e procedimentos de justificação, são formas de relacionamento natural dos homens com o Todo Universal que se manifesta pelas fenomenologias natural e sobrenatural. A Ciência e a Religião nasceram praticamente juntas, no surgimento dos primeiros homines sapientes na Terra. Senão parentes, são pelo menos conhecidas e até íntimas uma da outra, ligadas talvez pela ponte da Filosofia. Disse Madame Blavatsky10: “Não existe religião acima da verdade.” Eu acrescentaria que também não existe ciência acima da verdade.

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Helena Blavatsky, esoterista russa (1831-1891), iniciadora da Teosofia, doutrina espiritualista ligada à tradição ocultista. 15

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Entendamos aqui “religião” como campo de explicação dos fenômenos naturais e sobrenaturais através de imagens estanques baseadas nos ensinamentos de milenares textos sagrados, nas quais devemos crer, sem questionamentos, por pura fé cega ou “fé de carvoeiro”. Da mesma forma, entendamos aqui “ciência” como campo de abordagem dos mesmos fenômenos, através de pesquisas dinâmicas e mutatórias, baseadas apenas em métodos racionalmente humanos. A realidade dos fatos universais está aí, eterna, imponente, sempre desafiadora, independentemente e acima de conceituações religiosas ou científicas, estas sempre limitadas, imprecisas e imperfeitas no que se refere à completude do que tenta explicar e fundamentar. A separação entre a fé e a razão é o verdadeiro elo perdido no conhecimento histórico da humanidade. Há, contudo, religiões, filosofias, doutrinas e ciências mais abertas e interativas com os fenômenos da natureza. Estas geralmente são mais adiantadas na aproximação ou interpretação das verdades cósmicas, e permitem-nos questionar e crer, a partir de uma “fé raciocinada” ou lógica. Têm promovido uma recuperação do elo perdido. O mal de alguns postulados religiosos é conceituarem o Todo a partir de sua visão absolutista particular, baseada mais na fé e na moral. E o mal de alguns postulados científicos é conceituarem o particular a partir de sua visão relativista11 do todo, baseada mais na razão e na análise dos efeitos. E esses males provocaram a separação das amigas, sua dissolução, sua cisão. Isso pode ter ocorrido a partir de quando os próprios cientistas da História classificaram a cultura e o modus vivendi dos primeiros seres humanos como parte da chamada “pré-história”. Foi quando certamente os últimos homines sapientes daquela época deram lugar de honra aos primeiros homines opinandes e suas duas principais derivações: homines cientifĭci e homines religiosi. E isso aconteceu num curto espaço de tempo. É o “elo perdido” definido por Charles Darwin, que lhe impediu de aprofundar seus estudos da evolução da espécie humana. Ele percebeu que houve um intervalo de tempo muito rápido na nossa história evolutiva em que demos um salto de crescimento e de consciência muito grande. De qualquer forma, a Ciência progride mais depressa do que a religião, por causa do seu princípio relativista, que lhe afasta o receio de errar e de corrigir seus erros. A Ciência tem uma humildade intrínseca. O jogo sucessivo das hipóteses, teorias e leis e suas revogações e revisões sem fim lhe permite ser sempre flexível. E assim ela vai avançando. Já a Religião, montada sobre uma dogmática rígida, normalmente leva séculos para fazer uma pequena reforma em seus postulados, quando não tem mais jeito mesmo, quando a evidência dos fatos já está suficientemente impregnada nas mentes coletivas. A grande base de sustentação da Religião ainda é o fato de que ela tem explicação para tudo, inclusive para os fatos da paranormalidade ou da sobrenaturalidade. Nestes casos, se um fato ou fenômeno se coadunar com seus dogmas ou interesses, ele é atribuído a Deus, a um milagre, a uma revelação de Deus ou de algum de seus santos

11 O relativismo clássico nega a existência de verdades universais. 16

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oficialmente mitificados. Do contrário, a explicação é de que é obra de Satanás, do Diabo ou do Demônio. E ponto final. Está explicado. É nesse terreno fenomenológico que a Ciência tradicional empaca. Normalmente, os métodos e os instrumentos de pesquisa científicos não são preparados para analisar leis da natureza oculta que se manifestam no campo sensorial. Então sempre existiu uma grande lacuna no enfrentamento racional dos fatos que fogem à normalidade ou às naturalidade. Só de algumas décadas para cá é que têm surgido algumas ciências especializadas nesses fenômenos, como por exemplo, a Psicotrônica12 (sucessora da Parapsicologia), a Psicologia Transpessoal13, a Projeciologia14, a Transcomunicação Instrumental15, Psicobiofísica16 e outras.

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Estudo científico da conexão inter-relacional entre a consciência, a matéria e a energia. Ramo da Psicologia que estuda a relação da consciência com outras realidades e seus efeitos na melhoria individual. 14 Estudo das projeções energéticas da consciência, também chamadas de desdobramento e projeção astral. 15 Ramo da Comunicação eletrônica espiritualista que experimenta e estuda contatos com espíritos desencarnados através de aparelhos eletrônicos e computadores especiais. 16 Superciência que integra Psicologia, Física e Biologia no estudo dos padrões de consciência e de energia relacionadas com os seres humanos, de fontes diversas e deles mesmos. 13

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NINGUÉM SAI DA SUPERMATRIX. ESTAMOS FADADOS A INTERVIVER

Realidades paralelas não são aquelas ficcionalmente imaginadas como existentes ao lado de cada um de nós, como um espelho do que fazemos, mas geralmente em sentido oposto. Não existe realidade subjetivamente paralela, já que cada ser humano só tem uma consciência. Quando cada indivíduo realiza uma ação, uma outra ação que bem provavelmente estava marcada para acontecer automaticamente se anula. Mas isso é apenas uma dedução lógica, sem qualquer amparo científico ou para-científico. Se existe mesmo alguma realidade paralela-espelho a cada um de nós, ela só é analisável a partir de uma linha de raciocínio fora dos padrões humanos convencionais. O que é mais sensorialmente crível no campo das chamadas realidades paralelas é o “desdobramento visível”, ou “bilocação”, segundo o Catolicismo, ou ainda “bicorporeidade” ou “teleplasma”, segundo a Doutrina Espírita. É um fenômeno já constatado em várias oportunidades história afora, ou melhor, história atrás. O caso mais famoso certamente é o de Santo Antonio de Pádua17. Segundo a Projeciologia18, o fenômeno do desdobramento é a expansão da consciência para além do corpo físico. Sua visibilidade pública acontece quando uma pessoa é “vista” por outras em dois lugares ao mesmo tempo. Trata-se de teletransporte do corpo ectoplasmático que se desprende da pessoa. O segundo corpo visto alhures é apenas uma materialização da 17

Nome religioso do monge franciscano português Fernando de Bulhões y Taveira de Azevedo (1195-1253), santificado pelo Vaticano apenas onze meses após sua morte. 18 Ciência que trata das projeções astrais da consciência humana em vigília. 18

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energia do ectoplasma ou psicoplasma emanado da própria pessoa “estendida”. Não tenho notícia de que um corpo ectoplasmático tenha se materializado em tempo diverso ao da produção do concernente desdobramento transfísico. Porque as coisas invisíveis de Deus… se entendem e claramente se vêem pelas coisas que estão criadas, para que eles (os homens) fiquem inescusáveis. - Romanos 1:20 Por outro lado, algumas realidades tidas como “paralelas” são realidades reais(ops!) mesmo. Algumas existem mais ou menos gravadas no imaginário individual ou coletivo, mas seus efeitos repercutem na realidade concreta sensorial, às vezes de forma muito demorada ou profunda. É o que se chama, em Filosofia Clínica, de “objetivação das imagens internas”. Quando se exploram bem os recursos dessa subjetiva-objetiva inteligência imaginária, pode-se levar interessantes vantagens. Muitos tiram bons proveitos quando fazem adequadas e coerentes correlações entre idéias, conceitos e pensamentos do mundo imaginário19 e do mundo sensorial concreto. O próprio Jesus utilizou muito essa linha de raciocínio imaginária, por meio das parábolas, para ilustrar seus ensinamentos reais e eternos. Afora essa linguagem imaginária, existe de fato um mundo real e sensível do outro lado da nossa esfera de percepção material. O próprio Jesus fez demonstração clara da existência de uma dimensão paralela à nossa, quando se transfigurou e entrou em diálogo com os espíritos de Moisés e de Elias, estes momentaneamente materializados. “1. Seis dias depois, Jesus tomou consigo Pedro, Tiago e seu irmão João, e levou-os, só a eles, a um alto monte. 2 Transfigurou-se diante deles: o seu rosto resplandeceu como o Sol, e as suas vestes tornaram-se brancas como a luz. 3 Nisto, apareceram Moisés e Elias a conversar com Ele.” – Mateus, 17-1:3. Grosso modo, não importa tanto o que existe ou o que deixa de existir para nós, ou mesmo o que não existe em si, apesar de às vezes ser útil acreditarmos no que imaginamos, ou melhor, nas imagens que fazemos do que existe ou do que não existe. O que mais importa mesmo, na prática, é o que cada um faz ou deixa de fazer a partir de suas imaginações, de suas idéias, da forma como absorve os conhecimentos próprios e os alheios para a melhoria real de si mesmo. Muitas personalidades sólidas são forjadas e mantidas a partir de imaginações da realidade consideradas como equivocadas ou parafrênicas por olhares alheios, mas que são proveitosas em vários níveis, inclusive afetivo e moral. 19

Em seu “O Mito da Caverna” (parte VII do livro “República”), Platão mergulha bem na questão da imagística humana e sua repercussão nas interpretações do que é real (perceptível pelos sentidos) e do que é ideal (pertencente ao mundo das idéias puras, que ele reconhece também como real, mas pertencente a um mundo intangível, portanto somente imaginável por nós). 19

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Em contrapartida, há outras imaginações continuadas que viram cancros autoideológicos, que garantem apenas uma sobrevivência anestesiada e fugiente de maiores compromissos transformacionais ou sacrificiais.

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PARA LÁ E PARA CÁ ENTRE OS DOIS MUNDOS. É A ROTINA

Há dimensões paralelas dentro do mesmo Universo, com suas energias inteligentes e com coro orquestrado para todo tipo de ação ou de agitação real ou imaginária de cada ser humano. “Há muitas moradas na casa do meu pai.” (João, 14:1-3). Será que faz parte desse mundo inteligente imaterial o “sertão profundo”, referido pelo musicista Elomar, em seu “Auto da Catingueira”? Por acaso estará lá o reino citado no texto “Procura da Poesia”20, de Carlos Drummond de Andrade? Será o “Parnaso”, lugar imaginário onde vivem os poetas? A evolução da Física, desde a Lei da Gravitação Universal, a Teoria da Relatividade, a Teoria Quântica e a Teoria das Supercordas, nos induzem fortemente a acreditar que vivemos em várias dimensões paralelas dentro do Universo infinito. Isso é reforçado pela recente Teoria M. A Teoria M diz que o universo pode ser uma gigantesca membrana quântica cujas deformações na superfície definem as partículas constituintes da matéria, das forças e da energia. Nada impede que essa membrana por si só seja uma deformação de um plano maior. Trata-se de uma “membrana quântica ondulada”, e há outras membranas “transuniversais”, segundo essa teoria. [Lembra daquela frase de Snoopy, “o universo não é tudo”? Começa a fazer algum sentido.] Há outros universos além do nosso astrofísico ainda em início de expansão. Não vivemos, contudo, em um “multiverso” ou “pluriverso”, conforme a definição de alguns. O que podemos chamar de Grande Universo é a somatória de todos os sistemas estelares e universos-ilhas em formação, em expansão ou em extinção. É, como sempre, uma questão de nomenclatura. Em seu livro “O Universo Numa Casca de Noz” (2002), o astrofísico e escritor britânico Stephen Hawking (1942)21 prova, com uma vasta argumentação lógicocientífica, a existência de até onze dimensões dentro do Universo. Igualmente bombástica é a tese do físico e professor estadunidense Brian Greene (1963), em seu livro “O Tecido do Universo”, em que ele desenvolve reflexões sobre as realidades paralelas, provando que existem dez unidades de espaço para cada unidade de tempo. Ele discorre também sobre a teoria M, que é uma expansão da Teoria das Supercordas. Esta diz que há partículas menores do que os quarks subatômicos, que vibram como cordas de violino e geram as demais subpartículas a partir dos diferentes padrões vibracionais. Brian Greene está de mãos dadas com Stephen Hawking. Ambos deverão, juntamente com outras mentes geniais do mundo da Física, promover ou embrionar a maior revolução do conhecimento humano até hoje. Só precisam ser mais entendidos, divulgados e aceitos. O big bang teria sido o choque entre duas massas, e desse choque surgiu a energiamatéria a partir de membranas ondulares. 20

Título do texto do próprio Drummond, na abertura de seu livro “A Rosa do Povo” (1945), onde se lê: “Penetra surdamente no reino das palavras. Lá estão os poemas que esperam ser escritos.” 21 Ocupa a cátedra que pertenceu a Isaac Newton, na Universidade de Cambridge. 21

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Uma questão ainda a resolver: o que provocou ou permitiu o choque das massas que deu origem ao nosso universo “atual”? Microanalogamente, podemos comparar o big bang cosmogenético com o big banguinho que ocorre no momento em que o espermatozóide pole position se choca com o óvulo. A primeira célula embrionária se forma com cem por cento da energiamatéria resultante do choque. Logo após essa primeira célula, duas novas células surgem interligadas, depois surgem quatro, oito, dezesseis, e o embrião vai se desenvolvendo a partir dessas células automultiplicadas e interligadas. Só que o desenvolvimento do embrião não é caótico, como não é caótico o desenvolvimento do Universo. Há um controle organizador, conseqüentemente um controle inteligente. Que inteligência é essa que controla o embrião e o universo em expansão organizada a partir de um caos traumático (o choque)? O que conspira a favor da vida humana ainda em fase de embrião e a favor da vida universal? Será que a própria explosão com o macrochoque e o microchoque não é coordenada para permitir a imediata organização vital ao invés do caos continuado? Houve algum elemento agregador e vitalizador póschoque? Outro encucador? A lei da Entropia, que é o segundo princípio da Termodinâmica22, não funciona para a reprodução embrionária. No caso do embrião, cada célula nova que surge da multiplicação já vem com cem por cento de energia, não dependendo da energia da célula antecedente. É um gerativismo genético autônomo. E aí? De onde vem a energia extra já pronta para formar cada célula nova na rápida formação do embrião? Do Nada? O que gera e mobiliza essa energia-matéria? Foi por não saber calcular essa resposta, que Albert Einstein passou a reconhecer a existência de uma mente suprema dando “a forcinha” necessária ao surgimento “independente” das células embrionárias multiplicadas sem ser filhas. E a essa mente ele resolveu chamar de Deus. Será que essa “forcinha” divina extra não seria em verdade a centelha da alma que vivifica o embrião e conseqüentemente viabiliza a vida humana? Não seria, portanto, o próprio Deus? Será que é daí que vem o “vós sois deuses”, citado na Bíblia em Salmos, 82:6, Isaías, 41:23 e João, 10:34? A força geradora das células embrionárias não seria o “sopro” espiritual, ou seja, o espírito como terceiro elemento formador da vida humana, que se acopla logo após o big banguinho? Esse “sopro” não é o mesmo que Deus deu no recém-formado corpo de Adão para que este tivesse vida? Será que esse “sopro” não foi o mesmo que provocou a ondulação das membranas resultantes do big bang do nosso universo? Considerando que a lei da repulsão já existia antes do nosso famoso big bang, quem sabe se o próprio choque das massas cósmicas e das massas espermatozóide-óvulo não tiveram já um soprinho propulsor para viabilizar sua ocorrência? A depender das tendências das respostas às questões acima, poderemos fechar o abismo que separou a religião da ciência desde o surgimento dos primeiros homines cientifĭci e homines religiosi na Terra. [Muitos outros paralelos entre a criação divina do mundo e as teorias científicas da criação do Universo são

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“É impossível construir um dispositivo que opere, segundo um ciclo, e que não produza outros efeitos, além da transferência de calor de um corpo quente para um corpo frio. Em outras palavras: É impossível a construção de um dispositivo que, por si só, isto é, sem intervenção do meio exterior, consiga transferir calor de um corpo para outro de temperatura mais elevada” – Wikipédia.

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encontradiços no livro “A Dança do Universo”, do físico brasileiro Marcelo Gleiser.] Como disse Aristóteles: “o homem é um animal político”. Pode ser entendido esse “político”, como gregário (de ajuntamento para fins meramente sobrevivenciais), mas também como interativo. O problema começa a partir da competição para ver quem fica mais bem posicionado à frente da “manada”. Neste caso, o “político”23 perde a sua acepção antiga de social e assume a acepção moderna de detentor de poder. A natureza humana é a comunhão de outras duas: a natureza animal, relacionada com a materialidade, e a natureza espiritual, relacionada com a espiritualidade. Vivemos interagindo socialmente, em nível humano e em nível espiritual. Somos, portanto, seres bissociais. O que nos prende mais à Terra não é a matéria, é a materialidade; não é a carne, é a carnalidade (ou, mais precisamente, a aquosidade). Existe matéria densa na dimensão espiritual mais próxima da Terra, para onde a maioria de nós costuma viajar. Lá existem os mesmos cenários do nosso planeta Terra, os mesmos dramas e emoções, as mesmas necessidades de crescimento pelo trabalho, pelo estudo e pelo amor. Tecnologicamente, lá existem aparelhos, máquinas e instrumentos bem mais avançados do que os mais sofisticados da Terra. Um dos mais interessantes é uma espécie de televisor do passado. Através dele, podemos rever cenas marcantes de toda a nossa vida terrena, nos despertando sensações como se as estivéssemos vivendo novamente. Nossos teletransportes constantes daqui para lá e de lá para cá nos dão sensações de retorno e de avanço no tempo, considerando que a dimensão espiritual tem leis cronológicas e espaciais diferentes das nossas. Essa travessia é a peça-chave que falta na construção da ponte Einstein-Rosen (“buraco da minhoca”), pela qual nós transitamos a toda hora, pelas projeções conscienciais não percebidas. Quando essa ponte for fisicamente construída, ela não vai nos levar para o passado de nosso tempo cronológico terreno. Ela vai nos conduzir para o tempo da dimensão espiritual, onde poderemos efetivamente ver cenas passadas da nossa atual vida e até de nossa vida futura, num piscar de olhos, ou melhor, num piscar de quantum. A matéria-prima da peça faltante certamente será o quantum ou partícula fundamental, de consistência semi-material (por isso invisível por nossos aparelhos terrenos) e que é a ponte que separa a matéria densa da matéria quintessenciada.

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Na Grécia antiga, “político” se referia a “polis”, que era a cidade-Estado. Daí derivou também o sentido de comunidade, de formação social. Hodiernamente, “político” tem a ver com administração pública e com qualquer estrutura de poder. 23

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A dimensão espiritual mais próxima da Terra tem duas características básicas. Primeiramente, a matéria-prima dos seus cenários visíveis, sensíveis e tangíveis é de uma consistência mais sutil em relação a nossa capacidade de percepção terrena. Em segundo lugar, os lugares para onde nos destinamos nas nossas viagens interdimensionais variam de acordo com nossas expectativas e imaginações terrenas, mas também, e principalmente, de acordo com nossas qualidades vibratoriais, espirituais, conscienciais e morais. Esta é a verdadeira seleção natural para ingresso nas várias regiões da matrix espiritual. Tudo é muito mais questão de qualidade vibratorial do que de quantidade ou de volume de vibração ou de esperanças, promessas religiosas e mitos imaginários. Na dimensão espiritual, não temos poder de escolha nem do tipo de condição ambiental que nos serão destinados na chegada e nas posteriores mudanças gradativas. Podemos chegar em um lugar e em uma condição e depois passar para outro lugar com outra condição e propósitos novos, sempre a depender principalmente do despertamento de novos níveis conscienciais e de méritos decorrentes da nossa interatividade com o ambiente e condição atuais. Costumamos ir para lugares alternados ou sucessivos bem além ou bem aquém das nossas expectativas, tanto na chegada quanto posteriormente. Há estágios ou estações com caráter purgatorial, instrutivo ou recuperativo, mas sempre de permanência provisória e variável conforme as necessidades de cada um. Só não há lugar geográfico nem circunscrito para penas (inferno) ou gozos (céu) eternos, do tipo desenhado pela clássica mitologia católica.

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ESPIRITUALIZAR-SE NA MATERIALIDADE. EIS O JOGO.

Muitos esperam deixar de vez o corpo físico para ingressar na espiritualidade. Outros conseguem se espiritualizar, até certo ponto, na fisicalidade ou nas vibrações do plano material, no diálogo cada vez mais refinado e sutil com as duas dimensões em que intervivemos, que é a realidade zoo-sensorial e a realidade espiritual. Não basta viver em interação predominante com o mundo material ou com o mundo espiritual. O que importa é viver em compromisso com nosso incessante crescimento integral, que envolve principalmente o despertar e a expansão da consciência divina, e isso deve ser perseguido na dimensão em que estamos atualmente sediados e independentemente dos níveis de materialidade ou de espiritualidade que experimentamos em maior relevo. E quem não tem nenhuma expectativa ou nada crê quanto a seu futuro além-túmulo? E para quem é totalmente materialista, achando que “morreu, acabou tudo” e que todo esse arrazoado não passa de ficção espiritualista, como é que fica? Pela lógica, seu padrão vibratório, montado a partir de sua vivência planetária, de sua saúde e do tipo de sua morte física, é que vai decidir por ele seu destino transdimensional. Inicialmente, muitos permanecem durante algum tempo na inconsciência, outros continuam exatamente nas imediações de sua morada terrena, feito zumbis ou fantasmas, e outros são submetidos a processos imediatos de despertamento de sua consciência espiritual. A outros é permitido acreditarem que não morreram fisicamente e que ainda estão do lado de cá. Há os que entram em sono mortal ou coma profundo durante muito tempo, porque antes do desenlace criam piamente que com a morte ficariam dormindo até o dia da ressurreição. Cada situação é desenhada de acordo com as crenças combinadas com a necessidade de cada um. Muitos despertam mais sua consciência divina através das práticas ascetas, monásticas, religioso-sectárias, meditativas e espiritualizantes. Outros despertam melhor sua consciência divina através das relações conviviais com os sentimentos, as emoções, as sensações, o trabalho, o estudo e o lufa-lufa da rotina diária. Para uns, o viés do pensamento e do conhecimento é que é o despertador; para outros é o viés do não pensamento e do não conhecimento que lhes faz chegar mais perto de Deus. Estar nesta dupla vida (consciencio-divinal e humana) em que vivemos representa grandes oportunidades de crescimento integral, principalmente porque perdemos nossa memória espiritual, para que despertemos espontaneamente os sentimentos mais nobres da divindade, a partir das relações humanas, baseados especificamente no modelo crístico de interação social. A propósito, o Cristo é o Governador espiritual do planeta Terra e de todas as camadas transdimensionais que têm ligação direta com o planeta. Viver na dimensão terráquea é crucial. Devemos valorizar cada minuto em prol da nossa própria humanidade e em prol da humanidade inteira. Estamos todos aqui de alguma forma interligados, com propósitos decisivos e urgentes para nosso porvir e somativos para o avanço global. Acabou o recreio da história humana da Terra. Ninguém mais vem aqui a passeio, nem só para ser feliz, nem só para sofrer. Temos todos que exercer papéis bem definidos para o progresso pessoal e para o progresso geral, em todos os níveis. Tudo é para ontem. 25

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Não é em si a forma de vida que nos diviniza, mas, sim, o que fazemos de cosmicamente útil para nós mesmos e para os outros, por qualquer dos níveis de amor fraterno conhecidos, mesmo sem consciência disso. O espírito não vive escondido, nem tem como papel apenas animar o corpo físico. Ele é mais livre do corpo do que o que imaginamos. Ele vive em permanente contato com as dimensões transfísicas, inclusive em estado de vigília consciencial humana. Quando nos sediamos na dimensão planetária, nunca estamos inteiramente encarnados. Nosso corpo físico tem vários canais de interação com as dimensões invisíveis. Normalmente, são chamados de chacras. Há, inclusive, um de nossos corpos que é permanentemente imaterial: nossa aura ou psicosfera individual, que é normalmente bem visível a partir do espaço espiritual. Os órgãos dos sentidos físicos também exercem esse papel. Muitas vezes, sem saber, vemos, ouvimos, cheiramos ou tocamos o que não está na nossa materialidade. [Você, por exemplo, costuma ver os fatos da vida sempre com a objetiva dos olhos da carne ou costuma vê-los também com o olho do espírito, que tem uma lente grande-angular e macro e microscópica?] A palavra, especialmente, é um sentido dos dois mundos, já que se manifesta pela voz (oral) ou pelo tato (escrita), mas se origina do espírito. É um fortíssimo canal de transmissão de energias e vibrações mundo material e mundo espiritual afora. Os sentidos físicos nos limitam a percepção direta com a dimensão imaterial. Porém, eles não impedem a interação pelas vias da sensibilidade espiritual, principalmente através da projeção e recepção das ondas de pensamento e de palavras, que são fenômenos das dimensões invisíveis, mas que estão no nosso nível de ação humana. “O meu materialismo não me limita.” – Jorge Amado Por onde passamos, deixamos rastros de nossa energia. Deixamos, pois, um pouco de nós mesmos, e levamos um pouco dos outros. Cada pessoa é uma diáspora de si mesma e parte da diáspora dos outros. Quando nos sediamos na dimensão espiritual, estamos desencarnados, mas não inteiramente desmaterializados. Levamos daqui para lá um de nossos corpos mais ativos e semimaterial: o “corpo espiritual” 24 (conforme definição de 1 Coríntios, 15:44). Esse corpo, ao ser “levantado”, leva os registros de tudo que experienciamos no planeta, quer em nível físico, quer em nível emocional. Nossa cultura ocidental é bastante materialista, ainda que marcadamente religiosizada. A seu turno, a Igreja construiu arquétipos que se impregnaram no inconsciente coletivo ocidental, contribuindo para uma descrença sistemática na realidade espiritual. Por outro lado (literalmente), uma idéia reinante em várias comunidades da dimensão espiritual é a de que a realidade terrena é que é ilusória. Muitos vêem nosso mundo com desdém, enquanto a maioria de nós tem apenas vaga noção da existência deles do lado 24

É também denominado de perispírito, perialma, corpo astral, modelo organizador biológico (MOB), corpo-espírito, psicossoma, esqueleto astral, mano-maya-kosha, boadhas, kha, rouach, kama-rupa, eidolon, okhema, ferouer, khi, corpo sidérico, aerossoma, corpo fluídico, somod, mediador plástico, metassoma, duplo fluídico etc, conforme a cultura, a religião ou a corrente de pensamento. 26

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de lá. Eles se lembram da sua última estada na Terra. Nós não nos lembramos da nossa última estada na dimensão espiritual. Se estamos na cápsula corporal física, devemos aperfeiçoar e zelar muito bem dessa instalação. Naturalmente, nosso espírito ajudará cada vez mais na expansão da nossa consciência divina e nos refinará os sentidos para os contatos imediatos de mais alto nível possível com as dimensões espirituais do além-túmulo e do aquém-túmulo. Quando adormecemos, normalmente nos projetamos consciencialmente pelo espaço da dimensão material e pelo espaço da dimensão espiritual, ainda que espiritualmente ligados ao corpo físico. Fazemos às vezes longos passeios noturnos, para cima ou para os lados. As realidades ou dimensões paralelas não são separadas como óleo e água. Estamos todos imersos simultaneamente em vários planos dimensionais dentro da mesma supermatrix (o Universo). E há um bigfather central monitorando nossos pensamentos e sentimentos, vinte e quatro horas, e redirecionando nossas autodireções (ops!) para cima e para baixo, sempre que necessário. Não temos para onde fugir disso. Como seres integrais, estamos condenados a interviver, não importando em que dimensão ou matrix nosso espírito “errante navegante” esteja momentaneamente sediado. Estamos condenados a avançar junto com o Universo e seus ciclos de caos e de criação, interagindo, inevitavelmente, com os dramas e comédias de matriz humana e de matriz espiritual e interagindo com a inevitável interação(!) entre as duas matrizes ou matrixes. “A felicidade não é deste mundo”. Felizes, pois, são aqueles que conseguem interagir harmoniosamente com os valores ascensionais dos dois mundos. Esta realidade humana vista como fim em si mesma tudo é ilusória. Enquanto na carne ou mais apropriadamente, na água), a realidade espiritual vista como um fim também é ilusória, também. Temos de dançar harmoniosamente nos dois mundos: o do louvor e o do amor. O “carpe diem” faz algum sentido, se encararmos o bom viver de hoje como a prática ampla das virtudes humanas, como base de alcance à felicidade no mundo do amanhã, que é o mundo ou matrix espiritual. Só não devemos, no entanto, é nos iludir com os valores hedonistas do mundo material. Estes, vistos em si mesmos, são perigosamente enganadores. Precisamos dos prazeres da carne, com liberdade, mas também com responsabilidade social e espiritual, visando nosso futuro. As relações com a mundanidade sejam sempre proporcionalmente menores do que as relações com a espiritualidade. A mundanidade de hoje é meio, cuja qualidade interferirá decisivamente na espiritualidade do amanhã, que é fim. Podemos, contudo, entender e estender o conceito de presente ou de “hoje” para todo o tempo em que estamos ligados ao corpo físico pelo “cordão de prata”, e podemos conceituar como futuro ou “amanhã” o tempo após o rompimento dessa ligação. Por esse prisma, faz sentido nos preocuparmos exclusivamente com o presente, já que ele é toda a nossa vida enquanto agrilhoada na matéria. Quanto melhor vivermos todas as fases desta atual vida ou estada

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planetária tanto melhor será nossa vida futura, ou seja, nossa vida pósfísica. O que mais vale, em conclusão, é que cada um esteja em verdadeira paz com sua consciência, a partir de suas crenças, de seus símbolos, de seus ícones ou até de suas não crenças ou de sua irreligião. Viver, consciente ou inconscientemente, em sintonia ou microssintonia com os ditames do Universo e suas leis, principalmente a do amor, é, enfim, o melhor resultado prático das nossas imaginações. É o melhor “vale-ingresso” ao Jardim do Éden ou para sair mais incólume deste “vale de lágrimas” que é a Terra. Só quem sai sempre ganhando mais “real” aqui é o vendedor, inclusive o de “salvações”, de fetiches e outros objetos-símbolos, para atender aos reclamos imaginários “salvacionais” de todo crente materialistaespiritualista. Enquanto isso, a sarjeta anda cada vez mais larga e mais apinhada, esperando a maior das revoluções no campo das descobertas cosmobiofísicas: a revolução da consciência divina nas criaturas racionais de todas as dimensões, com a conseqüente mudança de padrão vibratório nos hemisférios de cada mundo-criatura. Idealmente, que essa revolução se faça de moto próprio, incontinenti, para que Deus não precise soprar sua superconsciência através de choques dolorosos e de outros big bangs traumáticos. Você, que viaja universo afora, se alternando em suas realidades paralelas individuais e protegido por sua órbita-aura, ainda é um mundo de provas e expiações, já é um mundo de regeneração ou já é uma estrela iluminante?

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