O ARREPENDIMENTO NA PERSPECTIVA DE JESUS TEXTO: Lucas Capítulos 13 e 15 DATA: 14/01/2003. LOCAL: Padre Andrade INTRODUÇÃO Todos nós temos nossas próprias idéias sobre o arrependimento, sobre quem precisa se arrepender (todos, menos eu) e sobre quais pecados precisam ser confessados. Quando lemos os evangelhos nos confrontamos com as idéias de Jesus sobre o arrependimento. As parábolas que veremos a seguir nos mostram a teologia do arrependimento a partir da perspectiva de Jesus. Estaremos, durante este estudo, procurando corrigir nossos conceitos de arrependimento. Texto: Lucas 13:1-5 Sitz im leben No texto que acabamos de ler encontramos o relato de duas situações envolvendo os temas da morte e do arrependimento. Jesus aqui é interpelado por um grupo que deseja coloca-lo em situação difícil propondo-lhe uma discussão política. Se Jesus falasse mal de Pilatos, poderia se complicar com a justiça. Se falasse mal dos galileus religiosos, poderia se complicar com a liderança religiosa. Da resposta de Jesus, sem abstrações intelectualistas, podemos extrair, de modo claro, a teologia do arrependimento. Jesus aqui se dirige ao povo e aos mestres em Israel, profundamente orgulhosos de sua posição e prepotentes em suas convicções sobre pecado e arrependimento. Algo muito parecido conosco hoje. A primeira grande verdade é: I. ARREPENDIMENTO É UMA NECESSIDADE UNIVERSAL – Vv. 1-5 >É comum falarmos das desgraças alheias e dos pecados dos outros, numa intenção, às vezes até inconscientes de escondermos nossos próprios pecados. No primeiro caso a ênfase recaía sobre os pecados dos religiosos e sobre a crueldade de Pilatos. Jesus, porém, mudou o rumo da conversa, dirigindo-a para quem realmente interessava. Os galileus já haviam morrido e Pilatos não se encontrava ali. Que tal falarmos de você? Arrependimento é uma necessidade universal >Apontar os erros dos outros não nos torna automaticamente justos. >Não temos o direito de fazermos juízos teológicos sobre as desgraças alheias. >Potencialmente ninguém é mais pecador que outro e ninguém é mais justo que outro (V. 2) >Muitas vezes a maneira como Deus nos enxerga é bem diferente da maneira como nós nos enxergamos (v. 2)
>As tragédias alheias podem nos servir de advertência sobre nossas próprias vidas (vv. 4-5). Arrependimento é uma necessidade universal. Transição (silêncio) Em outro momento Jesus expressa mais uma verdade essencial sobre o arrependimento. Vejamos o que nos diz Lucas 15:11-24. A segunda grande verdade é: II. ARREPENDIMENTO É UMA MUDANÇA DE MENTE Sitz in leben – A parábola do filho gastador se dá no contexto da defesa e vindicação do evangelho. Jesus é criticado pela sua associação com os pecadores (15:1-3). A parábola procura mostrar a essência do perdão, tendo como foco principal os ouvintes. >O pedido (a separação). A proposta do filho implicava seu desejo pela morte do pai, uma vez que a herança não poderia ser usufruída antes da morte deste. A partir de agora já trata o pai como morto, pois quer sua parte. Com este ato ele apartou-se definitivamente de sua casa e de seu pai. Com pessoas assim procedia-se a cerimônia do qesasah, usada no primeiro século. O termo significa ‘corte’. “Se um homem vendeu o seu campo para um gentio, seus parentes costumavam trazer barris cheios de milho e nozes tostados... e quebrá-los na presença das crianças, e as crianças os ajuntavam e proclamavam: Fulano está cortado da sua herança...” Talmude – Ruth Rabba vii 11-4:7. >A tragédia resultante (v. 16), desejava comer as vagens de alfarrobeira e ninguém lhe dava nada. Estas vagens eram bagas sem nenhum valor nutritivo. Não importava o quanto se comesse, não se satisfazia. É neste ponto, quando ele chega ao seu real estado de miséria. É somente esta autoconstatação da desgraça própria, que pode levar o homem ao arrependimento. Arrependimento é uma mudança de mente A expressão aramaica usada por Jesus é ‘hozer bô’ como antecedente de ‘eis eauton de elthon’ e pode ser traduzida por ‘mudou de opinião’, ‘mudou de mente’ É uma expressão talmúdica (15:17) ‘caiu em si’ >O arrependimento verdadeiro implica uma mudança de mente. >O arrependimento implica a confissão de pecados (v. 18). >Somente o arrependimento verdadeiro pode restabelecer a comunhão com o pai (vv. 21-22). Transição
Voltemos agora ao texto de Lucas 13:6-9 Teremos agora a terceira grande verdade acerca do arrependimento na perspectiva de Jesus. III. ARREPENDIMENTO É UMA MUDANÇA QUE PRODUZ FRUTO Sitz im leben de Lucas 13:6-9 Temos agora a expressão viva do pensamento de Jesus sobre os resultados do arrependimento. Arrependimento é uma mudança que produz fruto. Não pode ser confundido com uma mera introspecção nem com manifestações externas de sentimentalismo vazio. Arrependimento é uma mudança que produz fruto. Uma figueira plantada numa vinha (v. 6) >Plantada num lugar fértil. >Ocupando espaço inutilmente (v. 7). >Exaurindo solo. >Exigindo cuidados (v. 8). >Sem produzir nenhum fruto (v. 6). A exposição do tempo nesta parábola é algo de grande valor na compreensão da misericórdia de Deus estendida a nós. >A figueira na Palestina dá fruto durante o ano inteiro. >Os três primeiros anos são de crescimento da planta. >Os próximos três anos são de frutos proibidos (Levítico 19:23). O fruto só pode ser tirado no quarto ano. 3+3+3 = 9 anos. Nenhum fruto! Um tempo de misericórdia é oferecido à figueira (v. 8) ‘ainda este ano...’ CONCLUSÃO Também nos encontramos, como aquela figueira, plantados num lugar fértil, ocupando espaço e exigindo cuidados. >Espera-se que produzamos frutos. >Quando não produzimos os frutos que de nós são esperados, esterilizamos a comunidade. >A oferta de misericórdia deve incitar em nós uma mudança que produza frutos. Encontramos aqui a expressão ‘aphes’ ‘perdoa-a’, que certamente não se refere a uma árvore. Deus não perdoa árvores. Uma ameaça terrível encerra a parábola, mas a história permanece como se não tivesse fim (v. 9). ‘Se vier a dar fruto, bem está; se não, mandarás corta-la’. >Como terminará esta parábola???