Um encontro Marcado com Fernando SabinoFernando Sabino foi o escritor que me fez gostar de ler. Na adolescência li e reli vários livros de contos e diversos “paradidáticos” clássicos para fazer as provas de literatura e ajudar nos trabalhos que envolviam redação. Uma novela de Fernando Sabino me chamou mais a atenção, chamado “O outro gume da faca”, um livrinho pequeno e fino que conta o drama de um advogado no Rio de Janeiro que é traído pela esposa e arquiteta todo um crime de vingança contra ela, em uma história bastante envolvente e de inesperado desfecho. Não é lá uma grandiosa obra da literatura universal, mas foi um dos primeiro livros que verdadeiramente gostei de ler na adolescência. Sabino, o livro e o debate com os amigos da escola a respeito da história foram talvez o estopim para a leitura de outras obras, de outras páginas que me mostrassem o sabor das letras e o gosto do inesperado e da surpresa oferecida pela arte da escrita. Acho que os professores de línguas devem escolher muito bem esses livros; eles podem criar leitores por muito tempo. Um Sabino homem que nasceu em 1923 foi embora criança em 2004 já deixando saudade e um legado extraordinário para quem quer ser escritor e deseja se aventurar no mundo da escrita. Foi um desses homens que viveu a vida para ser escritor, um grandioso homem-escritor com hífen, fazendo “…da queda um passo de dança, do medo uma escada, do sono uma ponte, da procura um encontro.” Com sua boa arma de trabalho e sedução, a escrita, soube com bom humor encantar gerações e ser lido até hoje nos diversos cantos do Brasil. Ele iniciou a sua carreira na adolescência com um livro de contos, mas só em 1944 é que seu nome vem à tona com uma novela, “A Marca”. Em 1948 ele lança um livro de crônicas, “A Cidade Vazia”, e em 1952 um livro de novelas chamado “A Vida Real”. Mas foi com o romance “O Encontro Marcado” que Sabino se consolidaria com um grande nome da literatura nacional. Este livro era “…a história de um jovem em desesperada procura de si mesmo e da verdadeira razão de sua vida. Quase absorvido por uma brilhante boêmia intelectual, seu drama interior evolui subterrâneamente, pondo a nu os equívocos fundamentais que vinham frustrando sua vocação” (de escritor). Seria talvez uma história do próprio Fernando Sabino, sem ser uma biografia dele? Talvez, talvez… Porém, vários foram os livros de crônicas e de contos que apareceram posteriormente, mostrando um ótimo prosador sobre o cotidiano, com o humor e sensibilidade poética: “O homem nu”, “A Mulher do Vizinho”, “A Companheira de Viagem”, “A Inglesa Deslumbrada” e “Deixa o Alfredo Falar”, além do romance “O Grande Mentecapto” (1979), bem recebido pelo crítica e pelos leitores em todo o Brasil. Fernando Sabino, que nos deixou ainda criança, aos 12 de outubro de 2004, dia da criança e do escritor, tem um encontro marcado pra sempre com cada leitor e escritor para uma divertida brincadeira de contemplar a dança da reconstrução constante do dia-a-dia.