Noites De Lua Cheia E Sombra E Luz

  • May 2020
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JOSÉ EMERSON MONTEIRO LACERDA

NOITES DE LUA CHEIA (CRÔNICAS) E

SOMBRA E LUZ (ENSAIO) Coleção NOSSOS ESCRITORES- Volume III CRATO - CEARÁ

Senhor, o meu coração não se orgulha que seca antes de ter crescido. Nem os meus olhos são altivos; não vou atrás das grandezas nem dos prodígios que me excedam. Ao contrário, aquieto e sossego a minha alma, como uma criança saciada no colo de sua mãe; como uma criança saciada, assim está a minha alma dentro de mim. Israel, põe a tua esperança no Senhor, desde agora e para sempre. Salmo 131

SUMÁRIO À GUISA DE PREFÁCIO AÇÕES PESSOAIS AGUARDAR O MELHOR A PROPÓSITO DA SOBREVIVÊNCIA BALANÇO DE LIQUIDAÇÃO A BÊNÇÃO, LIBERDADE BOI COTÓ NÃO ABANA RABO AS CHANCES DO AMANHÃ CRITÉRIOS QUALITATIVOS A DEMOCRACIA DA IMPRENSA EM BUSCA DO QUE ACHAR A ERA DO DESPERDÍCIO ESFORÇO EFICAZ ESPELHOS, FITAS E BUGIGANGAS A ESTAÇÃO DAS CHUVAS O FASCÍNIO DO FUTURO FAVAS CONTADAS HORA DE SABER A ILUSÃO DO AÇÚCAR INTENÇÃO E COERÊNCIA MÃE MODA DE VIOLA O MOMENTO ESPERADO NEM TODA TAMPA SERIA PREMIADA NOITES DE LUA CHEIA OMISSÃO OU CUMPLICIDADE O OUTONO DAS CIDADES O PAI SUPERIOR O POVO SABE DE SI A QUESTÃO CARCERÁRIA RETRATO FIEL SINAIS DOS TEMPOS O SOFISMA POLÍTICO TEMPO DE RENOVAÇÃO TRANSFORMAÇÕES A VOZ E A PALAVRA MUDAR DE LADO DADOS PESSOAIS DO AUTOR

SOMBRA E LUZ

À GUISA DE PREFÁCIO O Bancário, Advogado, Escritor, Sociólogo, Antropólogo, e sobretudo o HOMEM - JOSÉ EMERSON MONTEIRO LACERDA - não é um "Don Quixote de la Mancha", que necessite de escudeiro ou pagem para realizar os projetos e delírios oníricos do "Cavaleiro da Triste Figura", lutando contra Moinhos de Vento ou desagravando todos injustiçados. Também não é um debutante na arte do "pulchrum dicendi et scribendi". Em assuntos de Literatura, Direitos Humanos, Filosofia, Sociologia, pontifica "ex cathedra". Não compreendo nem justifico, é óbvio, a sua opção em me convidar para ser paraninfo do seu primogênito, exatamente neste "hic et nunc" em que me encontro psicológica, emocional e humanamente, numa exaustão física e na turbulência da minha interioridade, com tantos afazeres e preocupações. O imperativo categórico da distinção deferida tem aquele estilo do dilema edipiano: - Se não aceitar o convite para ser padrinho do meu Filho - NOITES DE LUA CHEIA - ele vai morrer pagão. - Então, Emerson, para que seu Filho viva, eu tenho de morrer? Já Pascal sentenciava que "o coração tem razões que a própria Razão desconhece". Na proporção em que eu ia lendo os originais do seu livro, ressuscitei ou acordei do letargo em que me encontrava com o bailado de idéias, a coreografia das sensações experimentadas e a indignação e revolta pela tragédia dantesca da sociedade atual com as cores vivas das lágrimas choradas, do sangue e suor do homem dos nossos dias. Caro Leitor, pare aqui mesmo!... Não vá adiante. Consulte um cardiologista porque este Livro vai produzir tanta adrenalina, descompassando o ritmo do seu coração ou conturbando todo o seu psiquismo; é um vulção em ebulição, cujas magmas incandescentes vão queimar a sua sensibilidade e abalar a quietude e tranquilidade sensorial. Se, porém, V. deseja e sonha despertar o seu humanismo, a sua filantropia, a sua fé e solidariedade, suavize as suas dores e faça uma transfusão de esperança, confiança e coragem, continue na leitura, mas também na procura da sua

Em nossos dias, as dificuldades a vencer, os problemas a resolver, as soluções dos enigmas a decifrar crescem, agigantam-se e fortificam-se na proporção e dimensão do nosso "EGO". A ousadia, a perversidade, a violência dos maus, dos criminosos, dos tarados; o orgulho e prepotência dos poderosos; a exploração dos ricos, dos marajás e dos nababos são do tamanho da minha fraqueza, da minha covardia, da minha inércia. Lembraria como reforço do meu raciocínio o desafio da ANTÍGONA ao rei Cleonte, tão bem movimentado, jurídica e psicologiamente por Sófocles, que desfez todo aquele bloco monolítico de autoridade do rei com a seguinte objurgatória de quem se via condenada à morte: "Tu me condenas arrimado nas leis feitas pelas mãos dos homens e eu me escudo nas leis dos deuses gravadas no meu coração". Alexandre Magno mandara trazer à sua presença um pirata que saqueava os barcos de pescadores do Mar Egeu, para condená-lo à morte. E o este, não com o argumento das lágrimas que são o apanágio das crianças e das mães, mas com voz forte e viril, gritou: - Eu sou ladrão e condenado a morrer porque saqueei pequenas embarcações, e Tu, Imperador, és coroado rei e divinizado porque invade e domina províncias, mata os homens, escraviza as mulheres e pilha todas as suas riquezas. Padre Antônio Vieira, o sacro orador português, em um dos seus imortais "Sermões" fez esta denúncia: "No mesmo dia e hora em que um cônsul era proclamado herói e rei de Roma, porque havia destruído uma província e dizimado a sua população, seis ladrões de galinha eram enforcados." O Lar de hoje é uma Torre de Babel, em que os pais, filhos, irmãos falam línguas diferentes, porque os interesses ou necessidades imperativas da sobrevivência, a volúpia do enriquecimento fácil, as motivações exageradas do sexo, do esporte e do "dolce farniente" criaram ou determinaram a Diáspora da Família. Há mais casas de manicures, de especialistas em plástica, massagens, mais motéis e salões de bailes e danças eróticas do que escolas, hospitais, faculdades. Os jovens dagora consomem mais tempo e empolgação à frente de vídeogames, diante da televisão, nas variadas modalidades de luta, do que debruçados sobre os livros ou laboratórios. O Governo dispende três vezes mais com um criminoso aprisionado do que com um universitário. Nos lares, há mais gastos de dinheiro em cosmético e todos os produtos de embelezamento, emagrecimento, do que em alimentos. Nesta sociedade de

Os objetivos maiores dos políticos, dos administradores ou de todos aqueles que desempenham uma função econômica não são de promover a pessoa humana ou criar condições de desenvolver a cultura, o bem-estar e tranquilidade social, a segurança pessoal, minorar a fome ou debelar as causas da mortalidade infantil e diminuir a criminalidade, mas de se locupletarem e se enriquecerem com aquelas verbas ou dotações orçamentárias destinadas ou anunciadas para combater a fome, promover a educação, a produção agrícola, construção de casas populares, de hospitais ou debelar doenças endêmicas ou carenciais. O operário que constrói arranha-céus, ricas e luxuosas mansões, hospitais, universidades, fábricas, automóveis, moram nos barracos do morro ou nas palafitas; sua mulher e filhos, horas e dias seguidos aguardam numa fila para serem atendidos por um médico; filhos analfabetos, e ele sem possuir nem uma bicicleta para chegar ao trabalho. Cristo foi vendido por trinta dinheiros, equivalentes a trinta salários mínimos. O operário brasileiro, o bóia-fria, o pau-de-arara, o nordestino é simplesmente uma peça da grande máquina do Capitalismo desumano, ou a matériaprima que é triturada no rolo compressor da ganência. Em uma usina de açúcar de Pernambuco, denunciou D. Hélder Câmara que um operário teve o seu braço direito esmagado nas engrenagens metálicas. O patrão não tomou nenhuma providência para interná-lo num hospital e dar-lhe condições de recuperação nem o salário a que tinha direito esposa e filhos, que estavam à míngua. Foram os próprios colegas de trabalho que, com o sacrifício do pouco, repetiram o milagre de repartir o pão. Há o pão que se divide e o pão que divide. O primeiro é cristão. Quando o homem mutilado voltou à usina para reassumir as suas funções, o patrão, com todo sadismo e frieza, disse-lhe: - Volte para casa e, quando seu braço crescer, eu lhe dou trabalho. A filosofia do Capitalismo bárbaro é de que "não se pode fazer omelete sem quebrar ovos", o que equivale, na interpretação realista dos patrões, a "não se puder produzir riqueza sem matar o operário". O Deus capitalista, do politiqueiro, da maioria dos escritores, professores e tantos outros "quejandos", é escrito assim: dEUs. NOITES DE LUA CHEIA não é um livropassatempo, de devaneios líricos ou de enlevo literário. É um livro-radiografia, que codaquiza ou estereotipa toda inquietude e

turbulência anímica, psicológica, sentimental, emocional e cultural do homem dos nossos dias. É um libelo-acusatório, neste século XX, às vesperas do Terceiro Milênio, quando se realiza a mais irracional, desumana e brutal experimentação científica nos laboratórios de 50 anos antes com ratos, coelhos, cães, jumentos e outros irmãos da fauna biológica servindo de cobaia para detectar informações em defesa da vida. Hoje, a cobaia ou animal preferido é o homem, para orientar, determinar e dominar a sua personalidade, não como sujeito, mas como objeto de trabalho, de produção. Há uma espécie de involução aos períodos arcáicos. A pessoa humana, sobretudo no Brasil, não é valorizada por sua cultura, por todas as suas pesquisas cintíficas ou pelo seu humanismo, pelo SER, mas pelo TER. Não por valores éticos, morais, profissionais, mas pelas riquezas acumuladas, pela influência que pode exercer. Quem domina os meios de informação domina o homem. O primeiro ato dos ditadores é controlar a televisão, rádio, imprensa, telefone, para transformar a população em objeto manipulável, como os bonecos de teatro infantil. Aos criminosos, assaltantes, sequestradores, às maracutais de senadores, deputados, administradores públicos interessa mais essa "Imprensa Marrom" do que a descoberta dos cientistas para curar doenças e propiciar o desenvolvimento econômico. Em toda lei codificada, afirmou um grande jurisconsulto, há brechas e lacunas intencionais de quem a formulou, como acontece com os privilégios de imunidade e impunidade. Livro-libelo denunciando as lideranças políticas, os programas administrativos, os planejamentos em geral, tão frágeis, volúveis e deformáveis como o caráter, a dignidade, as intenções gananciosas dos seus artífices e dos seus executores. A Mulher, com toda sua beleza, só adquiriu personalidade civil e tutela do Direito Romano quando teve um preço venal, comprada por um dote ou arras. Não parabenizo o Autor de NOITES DE LUA CHEIA. Felicito os Leitores que souberem compreender a mensagem deste livro-síntese e despertarem a coragem e o brio da sua pessoa para o desafio do maior mistério do Mundo na ante-véspera da Nova Era: - O Homem. Corações ao Alto! Crato CE, 21 de abril de l994.

AçÕES PESSOAIS Nossa particular maneira de ver política nos leva a pensar no entusiasmo das gentes pelo direito do voto; e escolher os seus representantes. Nisto somos meio diferentes daqueles que trazem no bolso do colete chapa pronta, de salvação, para aquecer qualquer âmbito onde se faça o merecimento sagrado de definir cabeças que pensarão/agirão pela coletividade, em determinados momentos. Portanto, devemos respeitar todas as propostas, venham de quaisquer legendas. Cada tom compõe a paisagem harmônica e não nos deve custar ceder espaço, foro de prosseguimento ao que Deus criou sob o nome de Liberdade; assim como aguardamos desarmados o mesmo direito de poder possuir nossas próprias teses. É dentro dessa ótica que chegamos para dizer, falar e querer fazer, na ordem universal dos destinos. Políticos corriqueiros e solertes não irão deixar de existir só para nos agradar. A própria demagogia faz parte crônica de suas naturezas; seria até um tipo de irresponsabilidade não admitir isto. Valores negativos também fazem parte desse todo, nos altos e baixos das circunstâncias. Porém cabe-nos lutar pela transformação de nós mesmos, para depois oferecer modelos de transformação. Como falar em Revolução, expandir revoluções, sem possuir os nossos estoques adequados de exemplo? Como demonstrar, pois? Você, nesta hora aqui em frente a observar o que dizemos, talvez ainda não tenha pensado que seu voto pode construir o Mundo. Não diria apenas seu voto; seu passo, sua palavra, seu pensamento, seu aperto de mão, sua batalha individual, sua história anônima, seu olhar (sim, seu olhar). Todos estamos na mesma nave planetária; destino das partes que tem compromisso fundamental com tudo. A janela de fugir há tempos se fechou. Municípios são as célulasmães da Nação. Disto resulta que a falta de saída da crise é a própria saída, uma vez nos fazer compreender que cada dia (cada hora) traz seu feto em gestação, para nascer a seguir de nossas carnes vivas, gotejantes de esperança. Jesus-Cristo reclamou atitudes em prol dos que carecem, sobretudo daqueles mais necessitados, que são muitos. Chegou a dizer que estariam atentos às suas palavras os que viessem a favorecê-los, fossem nos hospitais, nas

praças e ruas. Algo se deve fazer, com urgência, providenciando até mesmo aquilo que se nos apresenta como obrigação dos governos. Conta-nos célebre apólogo indiano que uma andorinha, ao perceber que a floresta ardia em chamas, rápido cuidou de extinguir o incêndio usando ensopar penas nas águas de lagoa próxima. Depois de insistentes e aflitivas viagens, encontrou-se com um elefante, que, curioso, quis saber o motivo de tanta agitação. Obsequiosa nos seus esclarecimentos e meio desestimulada quanto ao êxito da missão, apenas acrescentou: - Estou fazendo minha parte. O senhor, faça a sua! A BÊNçÃO, LIBERDADE Na lenda, quando Noé recebeu a atribuição de construir uma arca e esperar que chovesse o tanto de tudo cobrir, por certo jamais imaginara vir a ser escolhido para aquela missão. No entanto, nem por isso duvidou, a despeito das polêmicas motivadas pelo assunto. Transformou fraqueza em força, animou seus parentes ao trabalho, reuniu os bichos que viviam nas imediações, acreditou (sobretudo), e ainda hoje ficamos admirados como pôde o engenho humano chegar tão longe nas fainas da sobrevivência. A nós não compete julgar, como também a cada um não cabe duvidar que exista o Poder Supremo, fonte irradiadora de vida, essa função do Ser, do dizer para que viémos, que coisas por si só se determinam, quando muito com nossa compreensão. O gesto de escrever permite que se jogue no papel os primeiros lances de sonho por vezes inatingível, onde possamos nos reunir à ficção e trabalhar as ferramentas do dizer, na intenção de fechar contatos e acender consciências. Lê quem sabe e continua quem quer. Mas o espaço tem que ser preenchido, catado de letras, sílabas, palavras, idéias, sob o pretexto de que alguém nos acompanhe. Isto, todavia, não é o bastante para que fiquemos a observar (um observar apenas passivo) os trilhos ininterruptos da História, espalhados pelos diversos departamentos do comboio, muitas vezes perdidos nos melhores propósitos, presas de obsessões que querem a qualquer custo permanecer, mesmo sem autorização, no que pesem resoluções planejadas, recomeços, fitas, velas, enquanto prosseguímos a confundir espelho com fotografia. (O espelho inverte a imagem,

remetendo de volta à caverna primitiva de onde saímos; pura irrealidade narcísica que se instala; ilusão que tritura tempo certo, até secar e cair do pé). Escutamos que se deve suscitar resposta à nossa presença rude neste chão, que nos espreita de dentes afiados e goela escancarada. Vem aí prejuízo ou lucro na conta dos talentos recebidos. "Não fazer o bem é também fazer o mal". O mal da indiferença perante a inércia do sofrimento alheio, aos borbotões. Novos tempos, novas luzes sem mácula, horizontalizam o Céu, no respiradouro para se suportar mudanças de casa dos pouco afeitos à imposição de criar raízes, quais pedras paradas juntando lodo, atitude quase sempre de quem aceita ficar para fermento, mesmo sem condições de admitir ser a Verdade o caminho de Deus, senso fundamental, destino sadio que transmutamos em crise, recessão, sofisticada neurose depressiva. Temos de perceber a fórmula mágica de autotransformação, reflexo contido qual direito latente sob o princípio da superação dos desafios, onde e como nos achemos, independente de esperar hora mais propositada. Noés de hoje, alertemo-nos, ligados através das parabólicas atentas nos jardins ensolarados, pois de algum lugar sopra o vento. E nossa fantasia quase se gastou dos tantos filmes repetitivos de ação, sexo explícito, muitas superproduções, sem que ainda sejamos heróis além dos banheiros, quintais, churrasqueiras, castelos confeitados, arquibancadas vazias, por nada além de l5 minutos, duração provável do sucesso, segundo rezam as estatísticas oficiais. Nesse girar de pneus, rastros apagados e calendários vencidos, aqui vamos nós, de estômagos opressos e bocas amargas, quais robôs fora de uso. Estacione um pouco e sinta que a presença da luz se faz em cada criatura - conforme o faro da vontade, nos protestos imperfeitos, entre faixas, flores, sorrisos, estágios preconcebidos desta nova semente. Nuvens e naves riscam rápidas o tapete silencioso das estrelas ainda molhadas. Fria noite do inverno sertanejo. Os animais já dormiram, obedientes. E insisto a me perguntar: - Sem que seja lhe pedir muito, mas veja quanto ainda falta para outra vez nascer o sol?... AGUARDAR O MELHOR

Rompêssemos o cristal do pensamento, qual rolada uma melancia para se contar os caroços do lugar aberto, e defrontar-nos-íamos com feixe de nervos, carne, sangue, veias, artérias, músculos, ossos, tendões, medulas, mergulhando em universo itinerante que se afirma enquanto respira, trabalha, come e se relaciona, internos circuitos permanentes da busca de transformação. As cidades, também assim paralisadas, circunstanciariam museus de cera, mistura clássica de um espaço tridimensional. Pedestres, animais, veículos, lojas, residências, bancos, repartições públicas, máquinas e consultórios. Tabuleiros de xadrez estruturados de forma a se pensar que tudo isso (e mais nada) faz sentido, único caminho imaginário para múltiplas projeções de ansiedades. Afastados ficássemos, viríamos as regiões. Os cercados, o gado, as plantações, os estábulos, moradas, engenhos. A produção vindo da terra, como resultado de tradições técnicas redivivas no correr de séculos. Do campo, a vida - o alimento como preservador essencial das espécies (aceitemos ou refugemos a idéia). Ninguém vive por hipótese. Daí o célebre esforço das gerações em juntar homem e solo. O agricultor à gleba, que pertenceria ao patrão. - Os dois (roceiro e solo)? - pergunta meio irônica, todavia admissível, dadas limitações fundiárias próprias do feudalismo. Depois, a geografia dos estados, países, continentes, mares, planeta, galáxia e infinito cósmico. Pretendíamos resumir, no entanto se formaram essas divagações subsidiárias, para facilitar o tema: uma visão crítica do homem quanto ao Homem, o salto do nada ao incalculável, do grão de areia a sóis monumentais. Monumentais. Poder-se-ia (quem sabe?) denegar os objetos e as pessoas, sob argumentos niilistas, prudentes, materialistas; referências fugidias, no fluxo energético que se esfuma, fachos de lua no espelho das horas; coágulos de pó que se fundem nos traços do desconhecido. Poder-se-ia... o que não nos interessa fazer. Uma semente, quando germinada, conta segredos diferentes disso. Para cada porção, desde o homem (pensamento) à cidade (renovação de humor), à região (produzir, experimentar novas culturas), ao Estado (perspectivas abertas de coordenação), ao País (pujança, economia organizada, reforma agrária, seriedade política, independência), ao Continente (união de nacionalidades irmãs), ao Mundo (paz na transpiração das consciências), certezas novas aspiram

construir uma civilização perene, livre dos jogos dúbios de isoladas bandeiras. Isto lembra o quanto as batalhas sangrentas distorcem intenções e nutrem a imbecilidade, como filtros teimoso dos erros insistentes, que purificam bárbaros trazidos pelo vento. Desnecessário supor limite, uma fronteira, caso busquemos nos fazer antes dos outros (à medida do ter, que nunca enche). Essa mentalidade míope gera injustiça e fabrica as armas. Querer admitir o exclusivismo como coisa prática (pragmatismo dominante) simboliza sustentar os ferrões à frente. Das guerras todos saem derrotados. Os vencidos, por serem de fato. E os vencedores, ao esquecerem de sua parcela de culpa, em meio a discursos, vinhos e fanfarras, nos salões em festa. A PROPÓSITO DA SOBREVIVÊNCIA As mágicas do pensamento concedem ao homem direito de se observar, na faina de viver. Isso lhe permite autocrítica e refazimento das expectativas, como iremos, juntos, concluir nas palavras abaixo, "a propósito da sobrevivência". Tais formigas em movimento incessante, cada manhã todos saem de suas tocas para lutar pela vida, como gostam de dizer. São milhares, milhões, bilhões, de estômagos para encher, uns maiores, outros menores; uns lentos, outros apressados. Porém deverá haver, em qualquer lugar, o comestível, a lenha da continuidade da espécie, nesse pano comum. Nisto somos todos iguais perante a necessidade. O que não difere... sim, o que não difere (veja onde se concentra a crise tão comentada) é o modo de alcançar essa permanente conquista: respirar por mais um tanto. Quem chegou primeiro cercou sua parte. Algumas opiniões sustentam até que Deus criou a terra e o "Pula Moita" criou a cerca. Os que chegaram depois, por virem mais lentos ou menos interessados em acumular, ficaram do lado de fora da propriedade. E o resultado, temos à mão. Sobreviver se torna, ano após ano, esforço mais árduo. Bem podemos citar a respeito o Boletim Semanal no. 594/l989 (Câmara Informa), do Congresso Nacional, "(...) o deputado Fernando Santana (BA) comentou "carta de um dos assessores do FMI enviada ao diretor-gerente do Fundo", maio do ano passado, que renunciava suas altas funções por não querer lavar as mãos no sangue da miséria do povo latino-

"O parlamentar requereu a transcrição tanto da carta quanto de entrevista concedida pelo funcionário do FMI, "que deixou um salário de l45 mil dólares anuais por não concordar com a política da entidade para a América Latina". Os dias se sucedem, a permitir vidas em profusão, nossas e de nossos filhos, enquanto patrões determinam regras de jogo quase sempre ganho por eles mesmos. Aqui entra em cena o outro lado da questão. O que fazer face a tais circunstâncias, pois saber pensar e não usar esse recurso equivale a não saber. O que fazer, portanto? Caso contemos, dentre nossos aliados, com os que alçamos ao poder, fácil se torna a superposição dos valores e a cura do mal, isto é: puxar o piso nacional de salários de uma faixa para outra mais compatível, porque esse valor fixado não supre o essencial, só revolta e contraria a quem o percebe. Como os representantes políticos servem a outros interesses que não os populares, façamos diferente. Busquemos modificar as coisas, partindo de nós. Vamos mudar de lado e agir para nossa redefinição pessoal.Sejamos empresários menores, nas tantas profissões do catálogo. Ao se deter na complexidade cotidiana, por cada esquina uma coragem de sobreviver. Pipoqueiros. Vitrinistas. Merendeiras. Balconistas de conta individual. Bombeiros hidráulicos. Mecânicos. Corroceiros. Cambistas. Engraxates. Jornaleiros. Livreiros. Alfaiates. Doceiras. Borracheiros. Bombonseiros. Roleteiras. Verdureiros. Nos países desenvolvidos, essas profissões deixariam o suficiente para manter a família. Nesta altura, chegamos ao miolo do assunto. Sem mudança interna no conteúdo das gentes, mudanças jamais haverá no coletivo da Humanidade. Por isso, a resposta deverá vir de dentro das criaturas. Restam-nos poucas linhas, mesmo assim suficientes. Tais formigas ou abelhas, por se parecerem no modo de fervilhar, teremos de reconstruir o Mundo com a soma dos trilhões das iniciativas particulares, que somos todos nós. BALANÇO DE LIQUIDAÇÃO Somar pensamentos para rever os tempos, na procura da fusão de palavras em idéias, aparas de memória,

cômodo deserto, preocupações que existissem ou desaparecessem pouca diferença faria. Recordemo-nos de uma história, escrita por João Clímaco Bezerra, a propósito de episódio nordestino: caboclo que fugia da seca caminhando pelos trilhos da estrada de ferro (ele e seu cachorro). Depois de muito continuar, o homem não sobreviveu ao desafio da fome e da sede. Seu companheiro, no entanto, seguiu solitário, qual jornadeiro persistente, para alcançar cidade próxima. Assim as palavras, que ficam fuçando os bolsos da vontade, na busca de sentido, impulso mais forte do que a inércia, no tricô das revelações, quais sementes que esperam chão para nascer. Tudo isto no propósito de começar um papo escrito a respeito da atualidade, "rever os tempos", como falei no início, numa época em que se age muito mais sob hipóteses do que em cima das ocorrências plausíveis. Tal se justifica, onde redes de envolvimento fecharam o circuito da laranja planetária, sugerindo pressupostos de se estabelecer metas científicas e poder (talvez) alcançá-las. Só de lembrar que a experiência russa fracassou milhares seguiram à procura da luz, quais estranhos desertores malditos; contudo reavivam os mesmos padrões capitalistas, rejeitados há l00 anos, como se voltar aos esquemas falidos anteriores viesse agora trazê-los ao rumo certo, prova provada de absurdo desencanto. Nota-se do jogo apenas o começo, pois ainda batem na bola pelo mero gesto de fazer. Os que recebem bordoadas gritam, gemem, atolados na miséria, autômatos sem cargas. Tanto assim é que se formam inumeráveis focos de resistência, espalhados mundo afora. O senso do realismo, a caber em tudo, força prosseguimento da espécie e acorda nos espíritos um coro conservacionista. As festas parecem não ter mais fim, por causa da peneira com que encobriram o sol, apreensões se diluem nos blá-blá-blás noticiosos, enquanto herdeiros de vândalos, visigodos e bretões usam o sangue do império decaído. Quem conseguiu chegar neste ponto pode achar que sou pessimista quanto ao monte de ferro-velho da civilização; que desconheço modernas alternativas de primeiro mundo e a social democracia; que esqueço das conquistas para se prolongar a vida; da corrida espacial, abrindo fronteiras ao progresso; dos alimentos sintéticos, pasto de milhões; das

maravilhas eletrônicas que economizam tempo e propiciam lazer farto às massas trabalhadoras. Um paraíso, enfim, que desponta. Nunca desistir, sei disso. Os que têm fartura façam dela o melhor uso, guardando as proporções, sem contudo se prender a moralismos revisionistas. Como queiram e possam. Mesmo assim a casa do sem-jeito abriu suas portas de par em par, gelando espinhaços com o pêndulo metálico que volta numa cobrança antológica, enquanto sono cataléptico (daliniano) neutraliza astrolábios e bússolas. Estrelas bem vivas piscam no céu, sobre o mar e o ar. Não ocorreram interrupções, mesmo nas guerras mais desnecessárias e sem motivo. Uma lição de tranqüilidade que poucos recebem, e os que conseguem nada podem além de contemplar, dizer, mostrar e esperar. Teria (quem sabe?) falado de assuntos de perto, regionais/nacionais, amenos, práticos. Porém o clima da cabeça indicou diferente. Recordei, então, que estamos aqui para salvar o espírito, pois a matéria já vem com endereço cativo. BOI COTÓ NÃO ABANA RABO - Por que tanta confiança do brasileiro nos homens públicos, se é sabido, pela tradição do mundo subdesenvolvido, que o povo vota mal? E, no caso verdeamarelo, sobretudo, se estamos a sair de uma era viciada e obscura de domínio da força, com um saldo deficitário de honradez vinculado ao Capitalismo internacional que apenas nos suga todo ímpeto de nação soberana e destrói nossa raça. A organização popular, em forma de pressão coesa e permanente, como na luta do petróleo, traria chance provável para a busca de uma prorrogação na dívida até que possamos, de verdade, pagar essa conta. Quanto à área externa, será a união dos países devedores, em volta da formação de mercado alternativo, para vencer as possíveis represálias que iremos sofrer, no comércio mundial, com a atitude independente e necessária. Esse o mal na raiz, pedindo pinçamento e combate efetivo. Porém não resolvem o problema: - sobrecarregar o trabalhador brasileiro (20 milhões de almas a perceberem piso nacional de salário o menor do Mundo, que em valor real fica por volta de metade do de l940 e abaixo do da Bolívia); - nem a demissão de funcionários públicos de

manterem setores vitais da sociedade. Se sobrarem, que sejam remanejados; - muito menos se criar planos de fachada publicitária duvidosa, para convencer crédulos inveterados. Honestidade, moralidade e legalidade não são favores e sim deveres da administração pública, estabelecidos em lei; e - menos ainda o desbaratamento de nossos recursos físicos, a troco de retornos incertos, que humilham a coragem nos que batalham pela vida, asfixiados por taxas e impostos, subnutrição e abandono, a serviço de esfomeados trustes. Isso tudo enquanto governo e elites nacionais se refastelam vivendo com indiferença padrões de Corte, papos cheios e rabos reluzentes, em viagens constantes e pomposas à volta do Globo. Ainda por cima, tivemos de suportar desvalorização de l7% na cotação do dólar, produto da ilógica folclorista de se equiparar um cruzado novo à moeda norteamericana, luxo nauseante de "quem atira com pólvora alheia não toma chegada". Ignoraram o custo da medida, tudo pago pelo bolso do contribüinte. Dentre as demissões previstas no plano Verão/Primavera, que acreditamos descabidas (por que, se não, qual o motivo de terem suas vítimas sido contratadas?), incluirse-ão os passageiros dos trens da alegria dos estados, Senado e Câmara Federal? Caso contrário, por que não? Nas metas governamentais, há intenção de privatizar empresas, o que, por certo, pouca ou nenhuma reação ensejará. Como transferir à iniciativa privada serviços menos válidos? Infalível que a escolha vai cair sobre as rentáveis, em detrimento das fontes de auto-financiamento do Estado. - Caros dirigentes do Brasil, vamos formar juntos em prol do País, de maneira igual, sem ilusão e subterfúgios milagreiros; ainda há tempo e boa-vontade no coração de todos, ou de quase todos. Da propalada crise, que explica, mas não se justifica, em terra tão opulenta e fértil, de espaço, matéria-prima, população invejáveis, façamos uma eclosão de seriedade, justiça social, trabalho e respeito mútuo e pela coisa pública, porque público quer dizer do povo, e não desse ou daquele aventureiro do desvio e da improvisação. Refaçamos juntos os valores novos, para geral felicidade, com pão na mesa de todos. Consciência. Eqüidade. Amor. E tudo voltará à tona pela força da Vida, pois o Sol sempre volta em cada manhã.

AS CHANCES DO AMANHÃ Métodos recentes de transferência do poder conotam a participação popular no processo de escolha dos líderes oficiais, assim reconhecidos pelas urnas. Antes, porém, nem sempre ocorria, porque heranças de sangue determinavam fixação de linhagem sucessória, sem outra possibilidade que pudesse reservar a todos determinação própria. Vem daí a virtude rara do voto livre, na postulação de cargos e posições, executivos ou legislativos. Visto desta maneira, nada mais sagrado e salutar do que o sufrágio generalizante, onde possa o cidadão, pobre ou rico, crescer nas próprias pernas, através das ofertas e procuras democráticas. Regime perfeito. Pessoas ainda imperfeitas. Enquanto o esboço parece não prever qualquer falha na estrutura, os atores do drama político insistem nas demonstrações viciadas de seus seculares defeitos, quase sempre de origem moral. Poucos se permitem ao luxo da integridade para apresentação inteiriça de uma cena limpa, de valores identificados com a moderna arquitetura do teatro, ou sejam, as trilhas formais dos sonhos coletivos. E os políticos se deixam levar pelas ilusões de suas carências básicas, avançando sobre o bolo público quais feras famintas, vorazes rapinantes, esquecidos de serem partes de um todo e ocuparem postos vitais da sociedade, além de haverem merecido a escolha honesta de quem muito precisa, elevando-os à categoria de mentores, para apenas fazerem o favor deles próprios ou dos seus apaniguados, face aos olhos crédulos de plantão. Nos Estados Unidos, gloriado exemplo do sistema quase perfeito, acontecimentos se formam tal e qual. Análises não se cansam de falar nas forças poderosas que dominam instituições, como sucedâneos vitalícios de uma corte em crise, cujos remendos principiam a fazer água, maquiados pelas tintas fortes da imprensa monumental e seus profissionais eficientes, ensimesmados campeões internacionais. O capitalismo sempre assumiu papel de estrada principal da história dos modelos econômicos, levando-nos a distingui-lo com o nicho exclusivo da hegemonia representativa, nessa civilização artificiosa. As decisões mais sérias dos americanos guardam marca registrada de um consenso universal, como se também os povos mais distantes tivessem delas participado,

E passamos ao melancólico estágio de massa falida que vota por dever e se engana por consequência, vítima conivente da falta de jeito, método e aplicação correta dos fertilizantes e defensivos, no estrado das repetições do sol. - O quê e como fazer? Aqueles que aprendem usam a política como instrumendo particular, transformando-a em banda pensa, roleta da ingenuidade tropical, com maior incidência de prejuízo à periferia faminta. O padecimento da falta de juízo... e o voto devoram as carnes dos que se entregam a preço de banana, anistiando possíveis culpas dos líderes sinceros, vivos talvez no meio dos escombros fumegantes. Mundo de promissão, em que iniciativas individuais pouco pesam, comparável aos riscos de pílulas falsas, estágio onde ainda nos achamos, dando lucro a minoria criminosa; subserviência dos imolados no altar do sacrifício. Este quadro parece até se perpetuar, espécie de fatalismo que não representa mais do que somatório de inércias (jecas acocorados nos cantos batidos das salas suburbanas) - fariseus reeditados, contra quem se voltou Jesus-Cristo, há quase 2.000 anos, através da proposta íntima de revolução pessoal, para todos renovar por meios conscientes, o que se mostra necessário e urgente. CRITÉRIOS QUALITATIVOS Em fases do tipo da que vivemos, neste fim de milênio, onde muito se fala/ouve quanto à causa dos infortúnios gerais acumulados, todos ficamos vizinhos, pela proximidade dos fatos. A civilização produziu circuitos técnicos, detalhes primorosos de contato, e, no entanto, exilou os humanos semelhantes às cavernas da adversidade, vitrines descomunais, onde miseráveis contemplam felizardos, num jogo insultoso de regras leoninas, gente feito fera em jaulas acrílicas. O nosso Brasil, como protótipo, caracteriza bem o modelo da falta de ética acima identificado. Aqui maiores trucidam menores, protegidos pela estrutura desigual eivada de multiplicados equívocos, no meio da dominação neocolonialista que tomou conta do planeta, nesta banda de século. Teóricos esclarecem motivos nas razões políticas, econômicas, sociais, históricas, étnicas, quase sempre esquecendo aspectos conceituais, morais. A queda do Império Romano, para citar um exemplo remoto, veio de ocorrer após solapada a alma coletiva

refletir-se nos costumes e na perda dos valores cívicos das instituições. Daí, os bárbaros avançaram sobre a presa, a dominá-la com inevitável facilidade. Segmentos debilitados da nação esqueceram, na prática, valores adquiridos geração depois de geração; o cenário clássico ruiu idêntico a velhas edificações pela ação dos sopros adversos, sem fazer conta das tradições preservadas. E outras dinastias se sucederam no poder, às custas do desfalecimento da ordem anterior. No meio dos ambiciosos gladiadores atuais, estabeleceu-se o costume axiomático de que, "em política, feio é perder". Tudo vale como instrumento útil, porque, depois de cavalgarem a égua da vitória, cuidarão os mandriões de raspar o passado, qual lavassem roupa suja, que cartilhas fazem as oficinas dos governos. Isto vemos a três por dois, impedidos de revisar o esquema, pois seleções dependem dos números eleitorais, nem sempre avisados de causas e conseqüências, dada a inanição das bases na montagem de um juízo crítico. Justificativas comuns dos desacertos indicam que "ninguém traz estrela na testa", que esperavam práticas diferentes. Assim, imaginamos quanto ainda teremos de viver para alcançar tempo modificado, onde células transfiram melhor qualidade ao corpo. Muito se pretendeu que a adoção de novas doutrinas político-sociais trouxesse outra mentalidade. O socialismo posto em uso nos mais variados países alimentou sonho de transformação econômica para justa distribuição da riqueza. No mínimo faria a alternância de dominação do trabalho sobre o capital em gerações porvindouras. A propalada equalização das oportunidades, entretanto, gerou crise inusitada. Donde mais se buscou, pouco adveio, exceto desilusões ora em pauta. O regime ideal deixara de sê-lo, à míngua de princípios fermentados nas puras filosofias sedimentadas milênios afora, isto porque os moldes, entregues nas mãos de estado forte que se fantasiava de progressista, apenas redundaram no estabelecimento de nova elite dominante (o partido), também corrompida, tão interesseira quanto particularista, semelhante àquela posta abaixo nos tempos heróicos das guerras civis. De tais avaliações, atingimos, por declividade, os mesmos resultados obsoletos, o que, no pensamento de Arnold Toynbee, equivale dizer que a História obedece leis e gira em círculos, numa espiral, passando depois no mesmo lado, um ponto acima da volta anterior, substituídos figurantes e

Enquanto se supõe que tal ocorre, flui a raça, passos dolentes, para o seio do Infinito, qual caravana fantasma na experimentação (agradável/penosa) de aprendizado cósmico, peculiar a cada consciência. Resultados pessoais juntar-se-ão à contabilidade geral, caldeando para melhor, ou pior, o que nos aguarda, juízo ciclópico nas curvas do Depois. A DEMOCRACIA DA IMPRENSA Os seres humanos, também chamados "seres inteligentes", diferem dos outros animais porque podem mudar o rumo da estrada, à medida em que percebam existirem outras perspectivas além das experimentadas pelos que vieram na frente e derem de cara com a impossibilidade. Portanto, cada cidadão do Planeta pode inovar e ser aceito, uma vez detenha força suficiente para se impor. A imprensa propicia divulgar idéias, numa faixa eqüânime de condições, onde nenhum será maior apenas pelo frio desejo de querer. Daí o poder da comunicação, democracia de partilhar meios modernos de gerir pensamentos. Uma verdade material é verdade relativa. Enquanto alguns vêem só metade da questão, do outro lado há os que comprovam a existência de novos práticas. Tese de hoje, antítese de amanhã e síntese futura. Por que nos considerar pontas-de-lanças do Absoluto ou palmatórias do Mundo? A cada um conforme o mérito, dizem os mentores. Também na raia dos mercados de opinião somos todos iguais. Externamos, discutimos, analisamos, criticamos, avaliamos, sugerimos, esperamos; postulado sutil do contraditório, sonho de muitos, dizer e desdizer, ao sabor das compreensões, sem empolgação oracular, que verdade só e exclusiva pertence ao Pai Superior. Das idéias vem a luz. Do diálogo, o aperfeiçoamento social. Somos partes de um todo, mesmo que alguns disso não dêem cor (vejam exemplos de ricos e países mais ricos ainda, que desejam o mar pegando fogo, na esperança dos peixes fritos, no dizer do povo). Sem admitirmos esta tese igualitária, a Humanidade continuará no feio gesto de martelar a própria cabeça. Os outros irmãos de raça se configuram, sem dúvida, no instrumento único da evolução das consciências, pressuposto demonstrado pelo Cristo, em suas andanças palestinas. Nessa era da pós-modernidade (mania de criar rótulo que a gente tem), recursos do entrosamento se multiplicam

usinam milhões de notícias a cada segundo, e a Terra nunca esteve tão caótica quanto agora. Nunca tantos exploraram tantos, em tão pouco tempo. Quando assistíamos, pela tevê, as cenas da Praça da Paz Celestial, em Pequim, onde o exército chinês reprimia multidões irrequietas, imaginávamos que da mesma China viera o papel, como ora se conhece, suporte desta conversa escrita, sendo ele quem provocou as maiores revoluções conhecidas. Ali na Velha Catai surgira a pólvora, usada naquele momento repressivo, naquelas imagens enfumaçadas de terror, talvez para eliminar ativistas postulantes de transformações nas estruturas arcáicas em que redundaram os verdes sonhos da Grande Marcha de l949. Aqui nos vemos, pois, face a face com o que pensamos e com o que se interpreta do que foi dito, para montar os raciocínios, esse bem maior da Liberdade. Chances de ler, o direito de dizer e contradizer, para juntos refazermos o errado no certo, o passado no presente, o presente no futuro. Solo fértil, a democracia da Imprensa merece, neste tempo, o bom inverno das gotas eletrônicas, em que resultaram os tipos móveis, também chineses. Tais sementes, as palavras caem para o papel, depois, colhidas, alimentam corações e mentes, ao ritmo alegre da esperança, que a cada homem compete definir os resultados. EM BUSCA DO QUE ACHAR Circunstâncias variadas norteiam avaliações mais do que oportunas para época de muito acontecimento e raros intérpretes fiéis. A massa noticiosa enverniza mentes, criando viciados, homens ou números, a transportarem canga cotidiana, quais bois de carro; paisagem onde o Estado virou mandatário plenipotente e irresponsável, amargo signo de aço tecnológico, entre filas, decretos, conferências de cúpula... Nestes tempos denominados modernos, o patrocínio dos instintos achou sua moeda de troca. As próprias locadoras de vídeo, para não falar nos programas de tevê, jornais e outras publicações sensacionalistas, mostram fácil o que quero contar. Filmes mais procurados: pornográficos, violentos, de horror, crime, guerras e mistérios, sintomas expostos destes dias de ira, onde loucos se entregam sequiosos às mãos calosas dos carrascos de plantão. Valores morais tiveram de ser adaptados às necessidades momentâneas. Detalhes minoritários pesam pouco

ou inexistem, nessa democracia conveniente dos regimes produtivos, qual terrorismo de poder. Idéias, só se digestivas, no adeus da igualdade. Enquanto que ainda se ouve falar nos golpes militares quais soluções viáveis para a falta de saída (como saídas sendo). Uma conversa nos recorda propaladas esperanças de paz, com a transformação soviética, no cardápio da grande imprensa do Ocidente. Tem-se comentado que tudo mudou, e que as armas serão destruídas. Que verbas destinar-se-ão, dagora em diante, a financiar bens de sobrevivência e progresso (como arrependimento tardio de consciência inusitada, para não dizer impossível. Soa assim). Nisto, o grande sistema (Moloc, máquina enlouquecida) desembala histérico no rumo do poente, largando carcaças abaixo da ribanceira, fogo e carvão, céus cinzentos, explosões, desertos. A propósito e com sua permissão, quero encaixar aqui famosa lenda, imortalizada num dos monumentos do Egito, o da Esfinge de Gizé. Certo guerreiro, que procurava o pomo da felicidade, depois de vencer os obstáculos mais intransponíveis (o Indiana Jones daqueles primórdios), afronta monstro de aspecto feroz, corpo de animal e cabeça de gente, que se apresentar com um enigma (decifra-me ou te devoro): - Quem, de manhã, caminha de quatro pés, de tarde, de dois, e, de noite, de três? A resposta, que não poderia ser diferente: - O homem, pois engatinha na infância; cresce a se desenvolve nas duas pernas; vindo a carecer, na velhice, de um apoio para equilibrar-lhe os passos. Daí, vencendo o desafio do monstro, alcançou seu objetivo e deixou para trás, imobilizado em pedra, no vale dos Reis, o mais belo símbolo das perquirições humanas de que se tem conhecimento. Nós outros é que ainda não conseguímos vencer o nosso enigma desta época, tanto individual, quanto coletivo, a fim de podermos conquistar os anelos da raça. Enquanto se fala numa "nova ordem mundial", ficamos atentos em descobrir donde virá a próxima tramóia, durante o que pagaremos as contas de festa que não desfrutamos, nem soubemos onde se deu, em que reino maravilhoso, esfera ou lugar desconhecido. Esse motivo requer seriedade, e não tem merecido, a nos parecer falta do senso tão requisitado pelos intelectuais, sobretudo em quem coordena o baile, podendo nos

assunto palavras de Paulo de Tarso, no capítulo 5, da Primeira Carta aos Tessalonicenses: - Mas, irmãos, acerca dos tempos e das estações, não necessitais de que se vos escreva; porque vós mesmos sabeis muito bem que o dia do Senhor virá como o ladrão de noite. Pois que, quando disserem: Há paz e segurança, então lhes sobrevirá repentina destruição, como as dores de parto àquela que está grávida, e de modo nenhum escaparão. A ERA DO DESPERDÍCIO Em panorâmica, a televisão mostrava imagens do seringal Nova Vida, em Ariquemes, no estado de Rondônia. O que fora mata fechada virara cinzas após a ação destruidora de moto-serras e labaredas. O repórter ainda procurava penetrar os limites da propriedade, não logrando êxito, restringido com veemência por truculento capataz. Na trilha sonora, os números da tragédia: este ano já haviam sido dizimados mais de 4 bilhões de dólares em madeira de lei abandonada nos desmatamentos amazônicos. "Quem atira com munição dos outros só dá tiro grande", enquanto a verde selva diminui com suas reservas milenárias e insubstituíveis. Isto numa fase histórica brasileira quando tudo merece consideração, às custas de fracasso administrativo dos 25 anos de governos ilegítimos, quando a mortalidade atinge l30 em cada mil crianças logo no primeiro ano de vida: e em cada 4 que morrem, na América Latina, uma nascera neste País. Indagaríamos (se houvesse a quem): - Por que tanto esbanjamento? O planeta comum ainda terá de pagar quanto pela incompetência dos seus deslavados habitantes? As respostas chegam, porque sobram racionalizações e palavras: crise econômica, inflação, desleixo, alertas máximos, recessão, demanda reprimida, desindexação, subsídios, mercado externo, investimentos, privatizações, mercado interno, propriedade privada, macro-estruturas, monopólio, terceira onda, multinacionais, tecnologia de ponta, trustes. Nisto, a fome explode e o desemprego aflige contingentes acuados de encontro ao futuro incerto. Nos vários momentos, a estruição de se descartar embalagens plásticas, metálicas, doutros materiais raros e aperfeiçoados, sem qualquer gana de reaproveitamento. Inábeis seres, os tais humanos.

A civilização destes dias refinou as técnicas, aplicadas em bases nunca concebidas nem mesmo pela ficção liberal. Veículos de massa anexaram ciências sofisticadas de transmitir mensagens e não adotam conteúdo compatível, enquanto programas funcionam para enebriar mentes, como drogas neutralizadoras do tempo que não pára. Dia seguinte, e o tédio da falta de iniciativa, de criatividade, que bloqueia possíveis janelas com os espelhos da rotina anemica/crescente. Ocasião da década de 60 e líamos a respeito do Comando Estratégico Aéreo dos Estados Unidos, que patrulhava os céus dos continentes naqueles idos, sem supor que 20 anos apenas seriam suficientes para transformar enormes aviões de quatro turbinas, abastecíveis no ar, em ferro-velho, mudados em submarinos, mísseis e satélites, que depois cumpriram o mesmo objetivo. Pagamento: a miséria dos países pobres, para afirmação (psicológica?) dos imperadores contemporâneos, que brincam de esconde-esconde nuclear, ou saem vadios nos passeios siderais, fotografando as luas de Saturno, galáxias a milhões de anos-luz, com todas despesas pagas pelas nações subdesenvolvidas, que nem água têm para beber. Críticos não faltam, nesse mundo errado, consciência de que devemos reformular a ordem existente, tomar conta do corpo. Muitos (os mais sagazes) sustentam que o caminho passa pelo poder, que a política bem poderá servir de instrumento, como renovadora de lideranças, à força do voto, quando utilizado com zelo. Boa-vontade e rigor, palavras símbolos numa época em que videntes prevêm transformações dolorosas, caso os terrícolas desistam mesmo de levar a sério sua experiência vital. Há hora certa para cada coisa, orientam as tradições: - Dia de muito, véspera de pouco. Dia de tudo, véspera de nada! ESFORÇO EFICAZ A prática e os livros ensinam que o Homem é um ser social. As realizações de cada pessoa por si só pouco valeriam, inexistissem respeito e aceitação das demais. A desobediência, pois, dessa característica produzirá esplendoroso fracasso. De tais avaliações, vamos desenvolver mais outras idéias, como se segue. - Quantos se fecham nas torres particulares, exclusivos fantoches, esquecendo ruas, praças e periferias?

somaríamos forças; isto sem o contributo de que trocar experiências, dada a proximidade, traria rápidos avanços. Hoje, no entanto, passados milênios, lições se desvirtuaram. Grupos reduzidos sumiram nos guetos privilegiados, com a posse da riqueza, e reclamam, por isso, preço extorsivo, impossível de ser pago. Teóricos denominam de neocolonialismo igual procedimento. Numa seqüência de eventos, o progresso das comunicações, aprimorado em duas guerras mundiais, desfez fronteiras; o planeta mereceu daí vistoso título: "aldeia global" (Marshall Mcluhan; década de 70). Caso essa unidade fosse apenas do ponto de vista cultural e ver-nos-íamos plenos de evolução, livres de barreiras ou distâncias. Todavia a alma se fez pequena, por demais, qual malícia contraída, como para se defender das impossibilidades abertas, respostas muito contraditórias de quem tanto pedia amor e solidariedade. Desde então cresce a máquina destrutiva e os arsenais se ampliaram muitas vezes nos países ricos, só comparáveis, em escala, às necessidades nos países pobres. Um fosso gigantesco hoje separa Norte e Sul. Donatários e cativos. Nobres afortunados e alimárias tropeçantes, sob um astral que se nutre de vagas promessas, tratados, conferências, conselhos, conversações, alianças, planos, empréstimos, juros; as palavras no lugar das atitudes. Papéis no lugar de pão. Paliativos, no lugar da cura. Esquecidos, descemos no mesmo trem, rumo da Natureza perene, inexorável, sóbria, justa. Essas coisas avançam feito fogo de mato seco nos desvãos da caatinga. Nomes que recebem se envultam pelo infinito: fome, recessão, hiperinflação, guerra, miséria, carestia, desemprego, violência, criminalidade; faces de monstro poliédrico que supre jornais, rádios, televisões, livros e revistas. - Quando surgirá vontade política de fazer diferente? - indagamos a uma só voz, no anseio de vencer o medo nesse temporal. - Existirá ainda tempo quando o sol vier para todos? (Causa do defeito: as desigualdades econômicofinanceiras). Deus sabe; saberá toda consciência... (...) Pois o egoísmo atrofiou gerações inteiras no passado; no presente, atrofia. Luzes isoladas em catacumbas, coordenação de maiorais impiedosos. Gritos abafados, vozes ao vento, tintas derramadas. Uma irresponsabilidade global que ninguém quer assumir. O argueiro no olho do outro. Enquanto que, num ritmo pulsante, se arrasta o verde para deserto inóspito.

Nas cidades (núcleos), há bandeiras para cada gosto. "Fazes por ti que os céus te ajudarão". Detalhes influenciam (determinam) o todo. No cotidiano, a participação atenta, forma de trabalho e atuação comunitária. Agir, sem trégua. Nas eleições, o voto clínico. Quanto aos dirigentes, afamados representantes do povo, a eles cabe puxar o pavio no sentido da correção (liderar significando encaixar os problemas em suas reais soluções). ESPELHOS, FITAS E BUGIGANGAS Os comerciantes da Companhia das Índias Ocidentais por certo nunca imaginaram que, quatro séculos depois, outros usariam com os nativos do Novo Mundo o mesmo estilo de persuasão adotado na conquista da Colônia, isto é, pedras coloridas, cacos de espelhos e fitas variadas. Desta vez, em forma de novelas, enlatados estrangeiros e pesquisas de laboratório, jogados, em horário nobre, nas praias e florestas dos vídeos acesos. Quando a eletrônica acelerava o processo da comunicação, inovando técnica e burocracia dos escritórios e bancos, surgiram alguns livros que denunciavam o risco ao qual se submetiam cidadãos comuns, figuras de beduínos perdidos em deserto árido, de quem morreram os camelos, miragens várias e sol intenso. "Admirável Mundo Novo". "l984". "Fahrenheit 45l". O cinema acompanhou a literatura e concebeu clássicos proféticos, inclusive os trabalhos imortais de Chaplin, que alertaram para o perigo da massificação, onde elites dominariam as bases trabalhadoras através de botões e canais de informação cativos, viciados que nem dados viciados em mãos sujas. Era na ficção científica, domínio subliminar do homem pelo homem-máquina, como haviam feito com os instrumentos de sobrevivência na economia autoritária. Alguns achavam romantismo exagerado, falta de alcance do espaço aberto para o aperfeiçoamento civilizatório. Anos passados; nuvens dissipadas. Aqui vamos nós, em vésperas do fim do milênio, no Brasil da Rede Globo. O encabrestamento de fato ocorreu. Poucos atentaram à importância do uso da razão, neste momento de crise. Os estiletes de meios eletrônicos penetram lares, tais rios de luz inquestionável, reverência circunscrita aos

estopim, selvagens perplexos, mas felizes, uivaram com a chegada de Caramuru, o deus do fogo. Por preguiça ou indiferença, tantos desativaram raciocínios, que a força da televisão arrasta manadas, ainda que essas não desconfiem para onde seguem, famintas e tristes. Huxley. Orwell. Bradbury. Os autores dos livros referidos estavam, em parte, inspirados quanto ao futuro. Apenas um aspecto não previram, o poder maior da Consciência, pulo de gato que ainda resta à espécie entontecida... No campo de combate das eleições presidenciais deste ano, comprovar-se-á um valor mais forte do que a prepotência e o engodo. Meios outros de comunicação, outros canais de tevê, perfilam-se contra o Grande Irmão global. Vozes democráticas firmaram baterias e apostam nos resultados favoráveis do universal sufrágio. Nem tudo estará perdido, portanto. O cancro cresce, partes inteiras da massa se esfumam; chaminés escurecem os céus. Porém cores persistem no fundo infinito da enorme tela. O homem, qual pintor genial, esfrega os olhos, banha o rosto e ainda consegue criar certezas novas, pois valores verdadeiros sempre triunfam nos exemplos históricos, também aqui, na pátria de Macunaíma. A ESTAÇÃO DAS CHUVAS Quando os seios das nuvens se doam aos lábios do chão e mitigam-lhe a secura que existia, é tempo de agradecer. O sertão vira um jardim só; correm riachos e rios; vida que volta na brisa leve das tardes ensolaradas, agradáveis. Felizes são os que conhecem as plagas sertanejas no tempo de invernada - época das chuvas regulares. Toda energia guardada pelas sementes adormecidas explode como quentura de fêmea jovem no cio, verdejando toda a mata revestindo de veludo cor de musgo a garrancheira informe, como se acordada num susto. Até o gado muda de comportamento, nos pastos ou em meio aos currais enlameados que rebrilham metálicos, mistura matinal de lama e bosta, de cheiro característico e forte. O leite espumejante nas vasilhas de zinco ainda reflete os pingos de orvalho, que caem do céu carregado de nuvens escuras. - Viva o sertão! Viva Deus, o autor de tudo! - hora solene de agradecer. No entanto, mostrar apenas estas fotografias da

dos que vivem muitos dramas pouco conhecidos. Os preços, por exemplo, dos gêneros da agricultura, frutos difíceis das mãos calosas do caboclo, aviltam qualquer humana atividade. O valor do trabalho nordestino vem sendo espoliado, tanto nos baixos salários que sofrem, quanto nos ganhos de produção. Conceitos de felicidade variam de pessoa a pessoa. Somos seres econômicos, apesar de também sociais e espirituais. Temos fome. E o matuto sabe que jamais encontrará noutros lugares o contentamento que deixou distante, no torrão natal. Nossa música fala disto com inigualável propriedade; quem ouve "A Triste Partida" (Patativa do Assaré) pode bem se recordar. A síntese da seca é o retirante, que nos invernos não teve justiça no preço do que plantou e colheu; não podemos fugir desse testemunho. Os homens públicos devem, por força da obrigação, assumir a cumplicidade moral desta culpa secular. Enquanto isso, nas cidades, acrílicos chamativos e sons estridentes mantêm a raça grudada nos apelos coloridos da ilusão totalizante. Nossa civilização deverá ser repensada pelas próximas gerações, para que se esquive do fim ignóbil já decantado por muitos profetas, antigos e atuais. A indústria do supérfluo mata mais que a da seca. Que bom o retorno de uma temporada de chuvas normais (chuvas de verão, segundo os livros) ao interior do Nordeste! Em tudo volta a boa paz, a beleza original. O Cariri friorento, azulado, com névoa encobrindo as abas da serra, quais mechas desfiadas de algodão, lembra que a vida se alimenta de agricultura e trabalho. Melhor reconhecimento seria impossível tivéssemos equidade nas coisas do campo, da rua, e a satisfação estaria completa, nas épocas sadias. O FASCÍNIO DO FUTURO Drama maior não poderíamos viver. Muitas e estonteantes foram as expectativas de melhores realizações do que as conseguidas até agora, em todos os quadrantes da espécie, sobretudo no que concerne aos empreendimentos sócio-econômicos. Nações estabeleceram estruturas sólidas, porém apenas na aparência, vez se acharem todos sob o mesmo clima de horror, em âmbito planetário. As armas nucleares... ah, as armas nucleares outra vez. Que bom se as classificássemos de pesadelo e coubessem no contexto dos sonhos ruins, nisso ficando, de fato.

ouvir pela televisão um jovem "punk" dizer que se tratam da grande esperança da raça. Os americanos, enquanto aqui pensamos e dizemos, continuam com seus testes. Os russos continuam com seus testes. Os franceses continuam com seus testes. Os ingleses continuam com seus testes. Os chineses continuam com seus testes. Até os japoneses, que já foram vítimas reais, continuam com seus testes. Nucleares, pois não? Todos evitam se conter e aplicam botinadas no planeta. Ou eles estão de pleno juízo ou nós somos débeis mentais embriagados, uma vez ser função da vida viver, para depois pensar nos demais hábitos que pode engendrar a vã imaginação. Dentro desse clima nos apresentamos, entre fogos coloridos e banda de música, com o tema: O FASCÍNIO DO FUTURO, porque não acreditávamos que a Terra devesse atingir seu clímax em final bufo, como as superpotências histéricas desejaram, à medida do esclerosamento de seus líderes macilentos, nos museus de cera e necrópoles administrativo-burocráticas dos estados modernos, quase sempre longe das grandes concentrações urbanas, em balneários estratégicos. Isto pensamos em face da tamanha exatidão matemática das leis universais, onde nos situamos. Gira o Sol (exemplo vário) caminho tão aprimorado, e nos mantém dentro de temperaturas as mais adequadas sem pré-existência de programações cibernéticas conhecidas, que deduzimos o "homo sapiens" querer destruir como vingança brutal pelas suas limitações, e nem isso saber, de verdade, que não conseguirá cumprir tal papel de desfalecer o sistema onde atua. Cogumelos nucleares os avaliamos selos rasgados de nova era, que surgira depois de esgotadas as bolhas tóxicas, as ogivas. E que alternativas existem no íntimo de cada novo homem, fruto do processo de aperfeiçoamento espiritual sem mistificações desnecessárias? Os sábios disto nos contaram; por que insistir em desacreditar? Não chega de ignorância do tipo de pessoas quererem eliminar outras, na ânsia de possuir e/ou possui-las? É o mesmo que buscar sair de areia movediça puxando os próprios cabelos. Amar; amar; amar. Pense, logo exista. Vamos chegar, trazendo nossa parcela de esforço. "Faça você mesmo". Das revoluções individuais em prol do auto-aprimoramento nascerá a grande revolução homo-universal, esquema porvindouro, sem o brilho fátuo que envolve as coisas que passam.

FAVAS CONTADAS Caso estivéssemos no Antigo Egito à época de José, e a fase que vivemos poderia ser considerada como de vacas magras para os cofres públicos. Isto porque muito se gastou para a preservação de uma imagem de uso interno dos que se mantém no poder, desde quando o Capitalismo ocidental resolveu adotar outras técnicas de domínio, pelos empréstimos dourados, forçando as donatárias a pagar juros fragorosos. E se fala em descrédito das instituições sociais como voz generalizada, onde ninguém acredita mais em político, visto o excesso de promessa não cumprida. O descaramento beira um abismo sem fundo. As realidades sendo defrontadas nas ruas e os pobres diabos se acercam dos microfones para falar o contrário, como se fóssemos bando de avestruzes, a coexistir com eles, habitantes dos castelos de fantasia. Os países atrasados têm disso: entra governo, sai governo e nunca se planeja para o futuro como um todo. Tais namoradas de balneário, cada um enxerga apenas o imediato. Não existem programas plenos, abrangentes para a sociedade. Assim, os cortesões provisórios vão e vêm, nos braços ingênuos das massas. Quando coisas se agravam, parecendo que os dinheiros ficaram curtos (pois o comentário é geral), passamos a imaginar que o voto vale mais do que dentadura postiça, chinela japonesa, Machado de Assis, saco de cimento, camisa de meia e gota de colírio, ou até metro de pano. Os senhores mandatários passam a propagar que as verbas se danificaram, fazendo coro de empresários e ministros, sacudindo um fantasma que até agora não tinha assombrado nessa freguesia, chamado de hiperinfração, enquanto que, ao primeiro apito, correm antas e jaraguás, na busca de um salvador da pátria, para fazer da novela a vida, nas asas da Rede Globo, a agenda fica vazia, na mesa do Presidente. Uma economia de estado não acontece qual plantar batata em areia. Vamos devagar para não quebrar o santo. Daqui a certos anos seremos outras gerações, talvez um povo coeso, caso aceitemos a consciência do trabalho honesto e de boa ordenação das favas. Teremos, todos, de agir de conformidade com o bom-senso, desde cegos, aleijados, até barões e condes de papel-moeda. Caso contrário, sem mudarmos o ponto de vista

adotemos o pasto dos cativos, bananas podres e farinha azeda, que mereceremos, após banhos de mangueira e vassouradas no rabo, feitos macaco aposentado em zoológicos de metrópole. HORA DE SABER Nem sempre podemos ignorar, pois existe a hora de saber, quando todo mistério se desfaz. Sobre ela queremos falar, apoiados na indispensável atenção do caro leitor. Tanto disseram sobre tantas coisas, enquanto o essencial permanecia posto à margem, que esta hora terminou vindo a lume, parida na força visceral da precisão, no chamado enigma humano, centro e motivo deste ligeiro comentário. De início, abordemos o cérebro, que se compõe de uma figuração dupla, montado sob a estrutura de dois hemisférios, que, articulados entre si, geram a sua função completa: esquerdo e direito, a mesma concepção das outras coisas naturais. Chineses conheciam esses aspectos e os estudavam sob a designação de Princípio Único, ou Lei da Bipolaridade. "Tudo tem de ter o seu contrário para poder existir" - Yin/Yang. No Egito Antigo, Hermes Trismegisto examinara o assunto,considerando que "um mesmo princípio perpassa todas as coisas". Assim, obedecemos, mesmo que desobedientes, por nos achar submetidos a essa lei universal básica.. Outros exemplos se revelam quanto às tais dicotomias complementares: mulher/homem; noite/dia; Lua/Sol; escuro/claro; doce/salgado; baixo/alto; negativo/positivo; frio/quente. Pares de equivalência se distribuem com esmero, lição constante dos valores formais que os mantêm. Onde pisarmos, cumpriremos as ordens eternas do Supremo Ser, criador do equilíbrio de tudo. Tal evidência vamos achar na energia elétrica, que se apresenta nos dois pólos: terra e fase, ou fogo. Terceira alternativa inexiste além da harmonia dessas lateralidades, perfazendo a força. Quaisquer disfunções redundariam no desmantelamento e posterior inércia. Ao ocorrer descompensação num dos extremos, o barco da ordem irá a pique. Quando falamos que no cérebro se estabelecem esses dois inter-complementos, vale observar

validada pelos estudiosos da alma, nas várias escolas, para assegurar saúde mental por via de negociações conosco mesmos, na consecução maior de paz interna e obtenção da almejada felicidade. Vertentes religiosas, outrossim, indicam o nosso outro lado como a trilha do grande encontro rumo à ascese mística, plano elaborado pelos milênios de procura espiritual. Jesus de Nazaré marcou a história sob o signo do Cristo (Ungido de Deus), seu outro eu. Gautama, por sua vez, ficou conhecido como Buda, o Iluminado da Ásia. Na Canção Sublime, dos vedas, Arjuna ouviu Krishna, a Suprema Personalidade Divina, que o conduziu para a vitória maior. Já Saulo de Tarso mudou até de nome (Paulo) após encontrar o Cristo, em pleno caminho de Damasco. Isto para citarmos alguns dos fenômenos mais notáveis de transformações individuais que marcaram a História. - Descobrirás a Verdade e ela vos libertará -, recomendava Jesus, nas suas pregações a um povo rude, ainda voltado quase só para os atos transitórios da vida. Além destas, outras afirmações suas se voltam ao mesmo esclarecimento: "Se teu olho é bom, todo o teu corpo é bom. Se teu olho é mau, todo o teu corpo é mau", dizia, conforme os evangelistas. O espaço das palavras reclama economia de detalhes. "Hora de Saber", este título escolhemos para sintetizar aquilo que pretendíamos escrever, isento de qualquer arrodeio. Portanto, eis aqui o que de mais claro achamos devesse constar, recordando a assertiva dos sábios de que "Deus é a simplicidade das coisas mais simples". Por via de conseqüência, ao se buscar novas perspectivas para a realização pessoal, saltemos de lado, então. A ILUSÃO DO AÇÚCAR de primeira argumentos.

O conhecimento também deve ser um gênero necessidade, senão vejamos através dos

Médicos afirmam que a doença vitima, de comum, os organismos debilitados, ficando por conta da subnutrição gama infinita das causas clínicas dos óbitos, no Mundo inteiro. De nada adianta, aos governos, criarem hospitais e desenvolverem pesquisa de medicamentos sem alimentar o povo de modo conveniente. Observemos, desta maneira, o quanto vale a

Vimos, sob o aspecto da carência, a questão alimentar. Notemos, contudo, outra extremidade, isto é, quando alimento existe, mesmo em quantidade restrita, onde um novo desafio se apresenta: como utilizá-lo? Noutras palavras, como praticar o saber a respeito do que se tem para ingerir? Tudo que dizem ser alimento pode se engolir sem avaliação? Vivemos a era do açúcar, nutriente que compõe ampla faixa dos produtos industrializados, desde usuais refrigerantes a bolos, balas, sorvetes, cafés, sucos, bolachas, todos vistos como indispensáveis e consumidos à saturação, livres de qualquer questionamento. As civilizações antigas não conheceram o açúcar puro, tal o que hoje adotamos. Já se leu a propósito que Jesus-Cristo não chegou a usá-lo, como em nossos dias faz-se rotineiro. Antes, havia açúcar na forma natural, sem os refinamentos químicos posteriores. A Macrobiótica Zen, tradição milenar do Oriente, recusa as concentrações de sacarose, por considerá-las agente letal de primeira plana, degenerador do organismo, provocador de câncer, além de enfraquecer ossos e causar muitas mazelas físicas e psíquicas, o que a Ciência oficial pouco ou quase nada comenta, deixando-nos à mercê dos grupos empresariais envolvidos no jogo de tais interesses. A sabedoria popular sentencia que "quem não sabe é como quem não vê". Cultura se destina, entretanto, a clarear estradas, com ênfase a daqueles que pedem luz. Muitas verdades nos chegam por meio da escola: datas, origens, acontecimentos, conseqüências, fórmulas, finalidades, técnicas. Informações que se acumulam nas enciclopédias, em computadores, bibliotecas, museus, deixando-nos, por vezes, tontos de fartura. Mesmo assim, prosseguimos habituados de modo errôneo, desvirtuando as outras gerações, como que premidos pela ignorância. A propaganda, facção interessada, merece parcela de culpa, pois assume papel estereotipado, mercenário e utilitarista (que vivam os lucros e morram os consumidores), visto atingir, sem crítica, grandes populações apenas consideradas composto de mercado. Dentro desses aspectos, o açúcar puro (ou branco, como querem alguns) desenvolveu uma faixa de atração pelos seus atributos, criando dependência orgânica, o que dificulta sobremodo a preservação da saúde. Mesmo estando aqui para salvar o Espírito, síntese da jornada terrena do Homem, e não o corpo material, concluímos ser de melhor alvitre fazê-lo desde uma constituição livre do envenenamento químico

precoce de drogas exóticas, pouco aceitas pela nossa natureza animal. INTENÇÃO E COERÊNCIA Qualquer disposição de se fazer o bem, desacompanhada de atitude correspondente, equivaleria a um dito conhecido: "muito trovão e pouca chuva". Mais fácil dizer do que fazer. Exemplos sobram de tais gestos, basta queiramos encontrar, neste nosso mundo eivado das façanhas do menor esforço. Prosseguíssemos apenas nessa linguagem e redundaríamos (quem sabe?) no mesmo pecado de insistir na teoria e esquecer a prática correspondente, o que não pretendemos. Um papel existe para cada indivíduo, carecendo aceitar o ônus de cumprir. Desde os mais simples objetos aos submarinos nucleares, atrás houve trabalho, com pessoas assumindo posições, iniciativas, argumento também usado para demonstrar a existência de Deus nas coisas universais, vez que nada existir sem criador respectivo. O trabalho, destarte, nutre a criação e fornece pretexto para renovações de valores, sobrando-nos compreender a engrenagem e transformar as circunstâncias. Geraldo Vandré definiu bem o assunto nos versos famosos de "quem sabe faz a hora, não espera acontecer". Pois esperar atrofia até o corpo, nas demonstrações da Biologia. Daí crermos imprescindível saber da luta qual condição necessária a viver com êxito. Nosso objetivo, porém, pretende mais um tanto. Até o outro lado da questão, lá onde coisas ocorrem com intenso movimento, onde os que descobriram a força do trabalho não se conformam nas malhas da inércia. Agir com persistência e jamais parar reclamando de sorte contrária. São esses (os mais vivos) que comandam e determinam a organização dos esquemas, na sociedade. Uma olhada pelos jornais, televisões, títulos de nobreza, e lá se faz festa, sem sombra de dúvida. Pessoas mourejam de sol a sol, forçando outro "porém". Tudo fazem só pensando em si, na maioria das vezes, acesos no jantar da fortuna, indiferentes, dispostos, valentes gladiadores, nos mercados e bolsas, formigas, lagartas, gafanhotos, falsos moralistas, políticos interesseiros. Questionar-se o direito de qualquer cidadão progredir seria, no mínimo, intolerância. A sagrada escolha de

grupo social; quem sabe e pode opinar diz que tem de ocorrer dessa maneira. O neoliberalismo, propugnado como alternativa econômica dos dias atuais, prega aceitação de capitalismo dominado, idéia em voga como panacéia para a decadência dos modelos selvagens ou paternalistas. Disso deduzimos que lucrar, como meta do processo de trabalho, virou neurose e contraíu esperanças. Os mais avisados partem na dianteira, atropelam concorrentes e cercam primeiro. Nem sempre escrúpulos contam, no resultado. Vivem próximos ambulantes e exportadores, a se engalfinharem pelos nacos do sucesso. O que se diversifica, entretanto: as mentalidades pessoais, o interesse imediato naquilo que abraçam. Uns pregam a paz fazendo guerra. Outros fazem a guerra e choram pela paz. Quais aleijões de si mesmos, entre coerência e intenção crescem vazios, para depois reclamar coragem e músculos do querer/fazer das outras criaturas. MÃE Observados, em detalhe, os tantos aspectos da vida humana sobre a Terra, excluídas vaidades imediatas, destaca-se soberana a procriação. Detemo-se em desempenhos até brilhantes no que toca a funções, importantes posições, no entanto paira sobranceira a preservação da espécie, tal raiz indispensável ao laço com as fibras do Universo. Fixadas estas idéias, dois entes cumprem, pois, milênios a fio, papéis infalíveis no fruir das gerações - o homem e a mulher - pai e mãe. Sobre a mãe caber-nos-á desfiar conceitos que lhes movam razão e emoção. Não se trata de tarefa das mais fáceis, porém das mais nobres. Mãe que tem sido objeto de tantas avaliações sentimentais, desde autores sisudos quais Máximo Gorki, Charles Dickens, Leon Tolstoi, até as modinhas singelas das festas do mês de maio, nos grupos escolares de nossa infância. Mãe que chora, que sorrir, embala infantes, amarga decepções inevitáveis e deslumbra campos eternos, em paixão monumental. O pai contribui para a vinda dos filhos na concepção. A mãe gera e transporta cada criatura humana, nos 9 meses seguintes. Integra em si a matéria da evolução e abre o próprio corpo à luz de um novo projeto de felicidade; a interrogação de cada mulher, cada homem, é retomada sempre

da civilização, nas entranhas, enquanto a participação masculina ocorre ou não, a depender de atuações posteriores. Quantos episódios poder-se-ia contar de mães a oferecerem a própria vida em nome da sobrevivência dos filhos? Heroínas que seguiram aos campos de batalha, na busca dos seus, de há muito desaparecidos? Como sangra o peito da mãe que perdeu, no poente da existência, as mesmas criaturazinhas trazidas ao mundo entre afagos, risos e sonhos! A mae dos facínoras, para quem o filho será sempre homem de bem, sem aceitar os veredictos de tribunais, grades de prisões e, menos ainda, chagas de vingança. Mesmo com essa natureza, se resigna aos lances do tempo, às fatalidades da sorte. Luta em prol do melhor e se queda resignada às cicatrizes dos caules a quem serviu de semente. O vazio dos lares sem filhos recorda a intranqüilidade de Sara, nas paragens bíblicas. Abraão ansioso, de idade avançada, espera a promessa se cumprir. Depois tais anelos realizam a raça judia. A mulher e sua responsabilidade na transmissão dos ensinos originais. Um código transcendente, divinizante, a protestar continuidade nas primeiras escolas. Mãe de todos, Maria de Nazaré, abraçada à cruz, no Calvário, acompanhando os instantes derradeiros da missão salvadora do Filho, que voltava ao Pai, exemplo maior de todas as mães, anseio e Misericórdia, repouso de nossas almas. MODA DE VIOLA De criatividade bem usada resultam possibilidades amplas, no trabalho, vistos também outros aspectos da união do grupo social. As crises podem ser consideradas valiosas como desafio para o surgimento de alterações nos hábitos humanos. Sempre se fez assim, dando certo, quando algum dia a casa cai, pesadelo cobre sonho, cada um por si e Deus por todos. Crato atravessa aquela que seria a pior crise de sua história. Reclamos de dificuldade ilustram fisionomias. Os menos aquinhoados amargam carências; os melhor nutridos sobressaltam-se nos destaques apreensivos, tais pontos de fogo em noite escura, pois nuvem cinza encobriu o sol da certeza. "Nenhum homem é uma ilha". A busca de alternativas anda nas bocas, desliza nas mentes, para explodir nos músculos cotidianos. Que a estagnação ganhou corpo, isso ninguém

duzentos anos. Rebanhos bovinos estercaram encostas e baixios; engenhos moeram safras e algodoais esbranquiçaram serrotes. Porém chegou a saudade e os vagões de carga repousaram no silêncio dos ferros-velhos, parecidos com tetos vazios quando inquilinos vão embora. Pois descobrir vocações produtivas não se decreta. Nas ciências ditas sociais as coisas ocorrem por gestação espontânea, parecido com percurso de folhas secas ao vento. O máximo que se pode desfrutar fica por conta dos compêndios históricos, nas mãos vitoriosas, quando amarelarem jornais e revistas, e se desmagnetizarem as fitas. Têm de correr livres as sociedades, como livre flui o pensamento. No entanto há item para ser controlado: o rabo do elefante, isto é, a força criativa, no cabresto das lideranças. Em havendo crédito aos iniciadores das idéias, o povo lhes seguirá, no preito da convicção; a fé verdadeira. Observem quanto ganha em proeminência o condutor, nos rebanhos. Costumam dizer até que "por falta de um grito se perde uma boiada", sem acrescentar qualquer conotação depreciativa a esse instinto meio-animal de todos os homens, também seres gregários e transferidores de hábitos. Na última semana, se falou, no Cariri, em parque ou pólo tecnológico, a reboque dos planos governamentais. Montar, nesta região, um núcleo de ensino nas áreas elétrica, eletrônica, mecânica e de informática, para formar mão-de-obra especializada e atrair indústrias avançadas, observadas experiências paulistas, paranaenses e outras. Cabe-nos refletir para fazer. Esperar, atentos, a luz no fim do tunel. Em matéria de perspectivas econômicas, facilidades cheiram a fortuna de herança, solo de mina ou contravenção penal. Todo problema se completa num resultado qualquer, de nome solução. Trabalho árduo e sensato fertiliza o renovo. Quando perguntaram a Edison, pai da lâmpada incandescente, dentre inúmeros outros inventos, qual segredo creditava à sua prodigalidade, respondeu: - Cinco por cento, inspiração. Noventa e cinco, transpiração. À juventude nos entregaram, portanto, o mote dessa moda de viola. O MOMENTO ESPERADO (...) E se pensar no direito de escrever apenas o

manhãs abertas das vanguardas e, no entanto, quando seja tão válido o verbo ser como ter, estar ou permanecer. Conto ou crônica, simples artigo onde pousem letras e, formando palavras, concedam, a quem ler, sensações agradáveis de que viver também faz parte da Vida. Assim como num sonho que nunca aconteceu numa mente que nunca dormiu. Assim. Numa manhã, tarde, ou noite. Ausência de relógios, em respeito ao adormecer dos pássaros que catam pedrinhas nas estradas desertas do sertão. O gosto saboroso da sinceridade de quem ama e merece, portanto, ser amado. Viver ou escrever, na ótica de Sartre. Porém as palavras refugiam a angústia de tantos, dos que querem sem desesperar e transmitem a sede das horas que passam vagando no ar, sem maiores realizações. A chance mágica dos acontecimentos como deve suceder. Como caem da árvore as frutas maduras. Desprender suave das ostras, entregues às ondas no marulhar das rochas. Puro segredo de ocorrência oportuna. Onde se perfaz Justiça Suprema de amanhã igual para todos. E ver acontecer, como quem dominou os nervos nas tempestades da alma, e colhe, dentro de si, ápice de universais momentos. Já se observa que o desconhecido perenizou seus efeitos, acionado por referências coordenadas e infalíveis. Por que, então, se duvidar, com ânsia, do porvir? Como questionar a exatidão matemática da Ordem do Universo, quando tudo comprova existir? Humano ser. Humana dúvida; pobres mortais. Insaciável e apressado adolescente, quando a paciência é mãe da Felicidade. Um conto perene, que anime a vibração de se pensar juntos, porque escrevo e o gesto me une a você. Somos os mesmos que por isto daqui perpassam e notam o ato elétrico de codificar e decodificar, sem se poder qualificá-lo, a não ser como possibilidade de transferir algo que gere a luz, em forma de paz interna, a falar de evolução e esperança. Uma noite, numa cidadezinha da Judéia, Belém de Efrata, há quase dois mil anos ele nascia, Jesus, depois transmutado no Cristo, convite a dias melhores para a Humanidade inteira. O que nos caberia acrescentar, a não ser que os laboratórios do progresso jamais se estagnam onde exista união. Nada maior do que a certeza de que haverá triunfo do Bem sobre tudo, sobretudo. A imaginação nos faz continuar. Sempre crescerão flores para trazer alegria ao coração de quem ama. E pensar que se pode arrastar o papel da

até o fim da página, porque avaliamos que espaço percorrido vale um tempo mais demorado de se permitir que idéias aflorem e montem frases, onde a fome de dizer possa cumprir seu papel. Mais outro ponto parágrafo se fez, em forma de novo período. Não sei se composto por coordenação ou subordinação. Mesmo assim prenhe de sabor dagora, onde o vento parou no hálito da noite, refletindo umidade quente do verão. Os cães adormeceram. As estrelas brilham. Toda constelação tem nome e forma desenhos. O céu permanente, imbatível. E a alma da gente trepida, qual motor ansioso que forceja a base, buscando partir em rumo do depois, quando o que se tem de viver é satisfação de existir, como seta no alvo do Infinito. Tempo novo são nuvens da aurora. Enfim, cirandas refeitas circulam as bocas que podem desentortar o cachimbo, quando se permita à Natureza acontecer dentro de cada um, abrindo as pálpebras do outro nós mesmos que até aqui guardávamos para hoje, quando maestro movesse da batuta e eternizasse o Ser. Saibamos ouvir a canção dos andarilhos, nas estradas de rotorno à luz do dia. É só recordar. NEM TODA TAMPA SERIA PREMIADA O mesmo impulso que forçou os do campo a viver na cidade agora saculeja as bases e quer trazê-los de volta, perfazendo roteiro contrário. Todos aqueles argumentos que motivavam pessoas a deixarem o silêncio das matas, em busca dos acrílicos urbanos, perderam a razão, neste tempo de depressão à brasileira. Antes da Revolução de 30, o País se caracterizava como uma economia primária, de estrutura agrícola, quase apenas exportadora de matéria-prima. Três quartos de sua população moravam no interior, mesmo submetidos ao sinete colonial das oligarquias do latifúndio. Éramos um terço do total que hoje somos, produzindo sustento próprio, catando da indústria só o inevitável. Vieram as transformações da famigerada modernidade, com ênfase depois da Segunda Guerra. O entusiasmo pelas cidades avassalou-se e encheu estradas. Em duas décadas, as capitais inflaram, problemas mudaram de feição e a cantilena dos políticos norteou-se de maneira diferente, advogando o interesse burguês dos ricos capitães de indústria e comerciantes proprietários. Até os heróis mudaram de nome e passaram a falar noutras línguas,

- Seria o calor das multidões? Ou terão sido os trens de subúrbio, lotações, vitrines coloridas, carrões faiscantes (alheios)? Os discos sem chiado, pizzas, butiques, cinemas, teatros? Ou, ainda, as lanchonetes, os bares, as esquinas, os estádios de futebol, as praias? Mulheres bonitas e inacessíveis? Lojas de departamentos e suas escadas rolantes? Festas de fimde-semana, boates, motéis, programas de auditório, crediário, clubes de periferia? (Em cada cabeça uma sentença). De nada adianta, agora, saber o que a sereia cantou. Um dado não se discute: dois quartos da população passaram às cidades e no campo ficou apenas a sobra descompensada do contingente populacional, para produzir o de comer do povo todo, do campo e das cidades. "São Paulo é o que o Brasil tem de mais parecido com o Primeiro Mundo. É a megalópole da potência emergente, com sua massa de arranha-céus que se equipara em grandiosidade à dos maiores centros norte-americanos e não tem paralelo na Europa. Mas eis que surgem na imponência da Paulicéia umas chagas inquietantes, sintoma de um mal que contradiz as suas exterioridades magníficas: milhares e milhares de pessoas morando nas ruas" (Moacir Werneck de Castro (Jornal do Brasil, edição de 09.03.91). Para contrabalançar, o lado antigo da questão volta ao picadeiro: modelos econômicos adotados, conotação fundiária, atrativos do neón; e os salários vis das fazendas entalaram na goela dos sonhadores, passando de doce a amargo, interrompendo com desgosto muitas luas de mel. Nas construções, nos condomínios, barracos de pedreiros, de vigias, ou dos sem colocação, um companheiro constante no radinho de pilhas (toca-disco ou gravador) ainda prefere lembrar acordes felizes dos sambas de latada, pé-debode, triângulo e zabumba: - "Eu prantei meu mio todo, no dia de São José..." O coração se embalança; comprime de não ter jeito. Ah! reviver o tempo... Esperar mais um pouco e sofrer a sequidão dos açudes, do marmeleiro, o fim da criação; jamais querer fugir de novo. - "... Para o meu mio dar vinte espiga em cada pé". NOITES DE LUA CHEIA Passar o tempo neste apartamento de livros,

discos, bons companheiros antigos, se transformaram em trecos repetitivos, lineares e aborrecidos. - Vida de cidade grande. CIDADE GRANDE -, argumentos anêmicos. Razões do passado, quando plástico era elemento curioso, como espelhos e fitas coloridas dos portugueses aos índios. Hoje, tudo ficou diferente, perdido que está o sonho da combinação artificial das cores. Aquilo de se ser um pouco de humano - de necessitar da natureza - não mais pode ter compensação nas noitadas em frente aos vídeos, jogos de futebol e cinema. Quer-se viver de verdade. Viver de verdade (engraçado, não fosse trágico). Hora de decisão. Onde sobra querer demorar um pouco mais. É noite de lua cheia. (- Mas hoje não é quarto crescente?). Pouco importa a lua. Vivemos o expediente. Quinze para as quatro, esquina da Piedade amanhã. Viver. Vegetar. Utopia em antítese. O retorno, a síntese. As mariposas nunca mais procuraram a luz. Luz artificial industrial. Noites de cidade. As noites de apartamento. Ausência de vida pelo ar. Um cheiro de incenso envelhecido, de mofo. Vidas artificiosas nos jornais, nas revistas. Sonhos andam escassos, esgotados pelos desanos (anos de desenganos). Ausência completa de neologismo. Um mundo de silogismo e sofismas. Saudades amarelecidas, nos varais em volta. Como dizem os que quebraram a cara: - Do erro, a recuperação. De uma falha burocrática de antes, a máquina tomou o lugar do Homem, dono do Planeta, na ordem natural das coisas. Alguns sacrificaram todos. Cidades em volta das fábricas. Cidades em tudo. Monstros de ferro e fogo. A própria brutalidade envidraçada. Assim, muitos anos. Assim, em volta espiralada. Sofisticação universal de centros cercados de substâncias apodrecidas. Noites de floresta. O mundo fantasioso dos ancestrais. As histórias de Bradbury. Vida marciana. A beleza em tudo. O amor. A consciência. A justiça. A igualdade. O sonho. A liberdade. A vida. O trabalho. A honestidade. O equilíbrio. O frio. O quente. O açúcar. O sal. O som. As flores. As árvores. A criação. Deus. A Coca-Cola chocou. A raça se levanta devagar. Levagar. O ovo. O novo. Tempo transcorrendo no vento e uma sensação de calor. Uns descem, outros sobem a avenida Sete, às 9:00 horas de um sábado de Primavera, no fervor do comércio. O sol. A procura do não se sabe o quê. Do não se

dos morros. O rapa expulsou os hippies. Salvador do turismo, como meretriz sorridente, segue pras bandas da praça da Sé pela rua Chile. Cheiro baiano de África, de Continente Negro. A manhã - a manha... amores de dendê - de onda do mar - de areia branca - das madrugadas de Itapuã - de sabor de sal na pele o dia todo. Uma noite a mais pela frente. A lua crescendo. Os discos nem sempre silenciam. Mesmo porque (de que adiantaria?)... os carros cobririam o silêncio. Apartamento é como caixa de som, tem vibração, tem tudo. OMISSÃO OU CUMPLICIDADE? Tantas vezes nos imaginamos a mudar o Mundo, quantas o fazemos até pior do que antes de nossa chegada. Ansiamos transformar a paisagem e queimamos uma broca. Agir em favor das minorias e criamos cães de guarda, galos de briga. Dividir a renda nacional e abrimos mais cadernetas de poupança. Ampliar o atendimento aos necessitados e construímos, ou reformamos, nossas instalações sanitárias. Noutras palavras: alguém que modifique o Universo não seremos nós, porque estamos prontos a tudo, desde que venha em favor de nossos próprios sonhos. Enquanto isso, na periferia da cidade... nos hospitais... nas penitenciárias... esgotos... seio da sociedade... mangues... páginas policiais... colunas de jornais... Omissão que se apóia num dos lados de nosso cérebro. Naquele que funciona para a ordem suplantar o progresso a ponto deste fincar tanto raízes no espaço que deixe de cumprir sua função precípua de ocorrer no tempo. E passamos de idealistas a reacionários, sufocados pelos gases letais das velhas idéias, que se perdem pelo excesso e pouca prática. Naus sem rumo em mar de espuma podre. Neste início de parágrafo, fazemos uma pausa, não a menopausa, que é a mais longa. Uma menor ainda, para dizer que o estilo moralista afasta muito mais do que aproxima, vez saber que se conselho fosse bom, etc., etc. Assim mesmo, quem agüentar seguir espere até o fim para ver onde vai dar esse roteiro. Na Alemanha hitleriana, quando nazistas iniciavam a cruel perseguição aos grupos minoritários começando pelos socialistas, um pastor protestante (história esta que ouvi de Lysâneas Maciel, também pastor protestante)

desacomodava-se a pensar: - Não sou socialista, por conseguinte, se não devo, não temo. Depois, foi a hora dos comunistas e líderes operários. Isto também não se considerava o pastor, que, em contrapartida, nada fez em favor dos perseguidos usando meios disponíveis. Foram levados, em seguida, judeus, liberais, ciganos, prostitutas, outras categorias, todas diversas da do religioso, sempre neutro ao ambiente de terror em volta. Ao fim, vieram buscá-lo, e não houve mais ninguém para, ao menos, levantar a voz em sua defesa. Na história da raça, somos quais esse modelo, tal e qual. Parados estamos, parados ficamos, na expectativa de que outros façam primeiro e sejam por si suficientes a que nos garantam o bem-estar. Estas reflexões as apresentamos por viver ano político, onde destinos serão redirecionados (ou não) pelo sufrágio universal, o único direito comum que detém a força de transtornar o processo da História. Fugir das definições políticas é como jogar lixo debaixo de tapete, onde proliferam os monstros que virão devorar incautos. Pensemos no quanto de força movimentamos ao depositar nas urnas as cédulas eleitorais, e será mais fácil perceber nossa responsabilidade frente ao crescimento da (s/o) desigualdade, fome, doenças, infância abandonada, poluição, desassossego. Guerra. Inflação. Analfabetismo. Omissão tem mau-cheiro de cumplicidade, desde que adquiramos coragem para compreender que os continentes se formam na soma de inúteis (?) grãos de areia. OUTONO DAS CIDADES De observar as ruas da cidade, notamos forte tendência nos seus atuais moradores para se transferirem ao campo, escapar do barulho e respirar mais libertos da fumaça. Nos fins-de-semana, então, a coisa ocorre sem deixar qualquer dúvida. Os grandes centros, esses viraram só compromisso de segunda a sexta. Depois, fuja quem puder. Tal avaliação sugere a falência de um sonho que nos alimentou durante muitos séculos. O instinto de procurar vilas e repartir preocupações lotou o espaço das cabeças todo tempo, que povos não pensaram em mais nada como outro modo de racionalizar o povoamento do Globo. A proposta inicial seria somar forças. Entretanto

superáveis pelo trabalho partilhado, depois intransponíveis, face ao crescimento exagerado, rompendo previsões de gastos e limitando alternativas para ocupação de toda a mão-de-obra concentrada. Os núcleos de prosperidade em que se haviam modificado as povoações resultaram nas baías interiores, com classes sociais dilatando sempre o fosso divisório do abismo entre si, desvirtuando o impulso gregário dos indivíduos, subtraídos da ordem natural que ficara no campo. A tendência afluente reverteu-se num isolamento grupal, hoje bebido com náusea nos passeios neuróticos das violentas madrugadas urbanas. De tal maneira as chagas têm sangrado, que maioria incalculável de cidadãos passou a descrer das soluções comuns, adotando iniciativas fechadas, mesmo em detrimento dos que nada podem. Seriedade não falta para o estudo de tais sintomas. Congressos, mesas redondas, longas, quadradas, sutis discursos, prepotência, pirotecnia. Interesses próprios mascarados de usurpação de atribuições. Fórmulas mágicas preenchem todas as prateleiras - critérios exclusivos nos programas de governo. Em compensação, risco ocorre no achatamento dessas intenções, vez ficar difícil dizer quem pode ou quem quer só o poder; saborear o mel e descartar o fel. Do pecado na escolha ruim fica um preço a ser pago, tamanho o tempo perdido, multiplicado pelas vidas em jogo, milhares que habitam os guetos das cidades; seria, talvez, a democratização da miséria, invasora dos lares e destruidora da vida social, espécie de submissão aos valores piores, quando se descartou a chance de melhor escolher, vezes perdidas para sempre. O relógio bem simboliza essa corrida azavessas. Muitos ainda acreditam que possam viver fora do problema, trabalhando nos mesmos escritórios, mesmas lojas, na prática de esconder a cabeça, deixando de fora o corpanzil, exposto ao adversário. Vem dessas decisões o abandono que se verifica da zona urbana. Quer-se usar e não cuidar. Abandonam as cidades e deixam ao léu da sorte os que mais delas dependem. Participar, sim, mas no interesse dos trechos que ocupem nos cinturões verdes, para onde possam sumir aliviados, graças ao carro, eficaz reunidor de superfícies. No passado, as guerras reviravam ordens estabelecidas e desfaziam os mais críticos problemas. Depois, técnicas potencializaram a riqueza, comprimindo exércitos no

transformados em campos de concentração e desavença. Os instrumentos de lazer eletrônico restaram desmantelados, nos cubículos escuros sem ar, nem paz, quais sucatas de luxo. O retorno ao seio da floresta mais do que nunca antes parece surgir como lenitivo provável; estudiosos da alma humana acreditam mesmo que trazemos dentro de nós o mapa desse percurso, algo semelhante ao que perfizeram os hebreus, na saída do Egito empós da Terra Prometida. O PAI SUPERIOR Quis Deus que aqui nos encontrássemos para falar nEle, pois a isto nos propomos, nestas palavras, falar em Deus. Supremo poder o de Deus, donde emana tudo o que existe. Merece muitos nomes: Senhor, Jeová, Javé, Aton, Amor, Allah, Altíssimo, God, Gött, Tao, Tupã. Cada povo sabe dizê-Lo, entre dores e esperanças. As religiões terminam sempre junto dEle, sob o nome que O quiserem chamar. Até aqueles que não admitem a Humildade, os cientistas materialistas, dão de cara com um nível de raciocínio que não pode ser dito e chamam-no de Desconhecido ou Força da Natureza. Dedicado ao Deus Desconhecido, encontrou Paulo de Tarso um altar na Grécia politeísta. A voz do coração, onde reside a Consciência, fala de Deus. O Caminho da Perfeição abre-se a cada passo, adotemos ou não percorrê-lo. Tudo marcha, sem questão, inexorável, a um fim útil. O sorriso da criança, o ar que se respira, a paz dos ermos, os azul do infinito, a luz dos astros, as flores, os frutos, as sementes, o verde, o mar, os rios, os lagos, as montanhas, a chuva, o vento, o fogo, a água, a palavra, a compreensão, a família, a amizade verdadeira, tudo fala da obra divina. Certeza aos perdidos, saúde aos enfermos, alegria aos infelizes, hálito aos aflitos, nunca há de faltar, porque Deus nunca findará, em sua plenitude eterna. Mesmo aqueles que não tiveram aceso à letrada cultura guardam a convicção desse Alguém Maior, além do que admitam os homens, herdeiros universais na Criação, tantas vezes ingratos. De Bondade sem limites, como não têm limites sua Inteligência e sua Justiça, devemos recebê-Lo com fervor no

âmago do Ser, para alcançarmos a Fé, matéria-prima da tão almejada Felicidade. E o Poder completar-se-á em cada um de nós, a realização plena de nosso Espírito, irmão entre Irmãos, no Planeta em que nos foi dado viver durante algumas décadas. "A graça e a bondade hão de acompanhar-me todos os dias da minha vida". A oração será a ponte de que o pensamento se utilizará para transpor o abismo e completar, com Ele, a União. Falemos, pois, sinceros aos Seus ouvidos oniscientes, para alimentar os sonhos do que é bom, merecendo o bem-querer de abraçá-Lo, na Vitória Definitiva. O POVO SABE DE SI Um vendaval de rebeldia e transformações varre os países do Leste Europeu, neste final de década, como jamais imaginaram os teóricos mais férteis, pondo por terra o fatalismo do partido único, mito adotado nas democracias populares de origem marxista-leninista. Século inteiro veio de ser questionado em toda a órbita soviética, onde esforço de assumir direitos e anseios gerou uma nova classe no poder, sob as máscaras de tutora da grande sociedade, indo pouco além do oportunismo cruel, burocrata e alienante em que se tranformaram as democracias populares. Grande mestra, a História, desde que atentos se postem os homens, ouvidos fixos nas entrelinhas dos palácios e das ruas. Aventureiros perspicazes fazem ponto nos cavados de tempo, dando preferência às épocas obscuras, e lançam mãos de postos vitais, mostrando condecorações duvidosas, táticas perversas, impostores nos mercados da política, em geral porque tantos se recusam chegar na hora e assumir os necessários compromissos. De modo repetitivo, as massas reclamam alternância, mas não se oferecem para isso. Delas tem de vir no comando as lideranças anunciadas. Depois, ficou tarde, onde o preço explode nas convulsões indesejadas. Daí aquele costume arraigado de achar que participação só gera aborrecimentos e que os políticos todos não merecem confiança, enquanto esses mesmos se revezam, eternizados em postos-chaves, crescendo os custos da indiferença, deteriorando as sapatas da pirâmide social, quais papéis mofados aos cantos de salões poeirentos, nos edifícios

Temos de encostar de perto nos que se dizem nossos representantes, pois ninguém merece este título sem cumprir a obrigação de que foi incumbido. Apenas querer, prometer e sumir, pouco significa nos momentos críticos dos tempos atuais. Olhos abertos nos partidos salvacionistas, que assumem de modo ostensivo a prerrogativa da credulidade, para depois se escafederem com a panela, nos corredores sombrios da corrupção. Prováveis homens de bem devem primeiro demonstrar suas intenções: antes disso que os vejamos tais suspeitos e demagogos em tese. O jogo de cores/palavras dos meios modernos de transmitir mensagens se presta à mistificação, dosado pelos grupos que juntaram forças na sombra de regimes espúrios. O espaço forjado pela injustiça germina líderes postiços, como mercadoria de feira (tanto na extremidade esquerda, quanto na direita, conforme os gostos) para as lâminas maleáveis da propaganda paga, cabendo-nos avaliações e lucidez de escolha. Nenhum homem isolado poderá sentir o sofrimento do povo inteiro, por mais vontadoso que seja. Cada um de nós sente proporcional a cada resistência. Deus nos livre dos falsos cristos e falsos profetas. O crescimento social se dará, queiram ou não os egoístas. Deixemos correr o barco, de preferência sob lideranças honestas e nos padrões regulares da sabedoria do povo, isento de dores importunas. Assumir quem somos deve significar mérito, nas populações. Liberdade frutifica esperança e trabalho, sob qualquer hipótese. Guardemo-nos daqueles que indicam o abismo como fim útil do drama moderno. Bem aqui, neste parágrafo, cabe um desfecho: o povo é senhor de si, não carecendo gestores, e ainda nos recorda, como aviso de algibeira, os maus só parecem grandes porque os bons teimam em permanecer ajoelhados. A QUESTÃO CARCERÁRIA Há mais de uma década, nas ruas de Mangaratiba RJ, presenciávamos o passeio dos detentos da Ilha Bela. Quadro marcante, dadas as suas particularidades: cortejo de homens válidos, corpulentos, em marcha batida, controlados por guardas e cães, a percorrerem trechos daquela cidade litorânea; alguns traziam consigo peças de artesanato de fabricação própria, oferecidas aos circunstantes, por preços ocasionais. A cena ficou gravada, para ocorrer-nos ao

penitenciário brasileiro. Aqueles zumbis, de olhos vazios, trajes encardidos, quais reses de tosquia, trastes da culpa, apenas arrastavam o tropel do destino. E revivemos também a sensação cotidiana dos noticiosos, quando exploram o mundo cão. São raros os meses em que deixam de ocupar cardápio as rebeliões das celas, tanto nos estados mais desenvolvidos, quanto noutros menos prósperos, com registros de fugas, incêndios, perdas de vidas. A escaramuça mais recente se deu no mês anterior, na Penitenciária Anibal Bruno, em Pernambuco, com oito vítimas fatais, dentre elas sete presos e um refém, saindo feridas outras duas. Portanto, tais os aspectos percebidos do estrangulamento em nosso sistema penal refletem crise na estrutura da sociedade como um todo, onde deficiências indicam motivos de muito chão para ser ainda percorrido na mudança desse quadro crônico. Cheira mesmo a repetição se dizer que nossas cadeias, quais viveiros adustos de pássaros infectos, converteram-se no campus da monstruosa universidade do crime, imagem conhecida, onde apenados encaram desafios primitivos, junto de outros em até piores condições físicas e morais. Daí, qual onda avassaladora, estranho relacionamento se impõe, multiplicando a morbidez dos seres vencidos, muitas vezes depois lançados de volta às sarjetas, num qual ciclo de miséria que aumenta mais ainda os custos humanos do multissecular subdesenvolvimento. Intenção honesta de resolver o problema não pode obscurecer as possibilidades dessa área, vistas experiências nos países ricos, mesmo sabidas quantas falhas podem também lá ser detectadas. Planos que se cogitem vincularão sempre a participação efetiva da força de trabalho reclusa no processo produtivo. Em resposta, as sentenças, assim, deixariam, por si, de inutilizar a mão-de-obra prisioneira, sobrando ao Estado o mérito de adotar soluções criativas e gerar riqueza, retroalimentando e estabilizando as contas da instituição punitiva, além de profissionalizar aqueles de comum sem ofícios. As prisões agrícolas, de que no Cariri, em Santana, temos exemplo bem sucedido, demonstram a viabilidade destas idéias. Por fim, resta-nos imaginar perspectivas novas para problema tão remoto. Sejamos advogados, juízes, promotores, estudantes de Direito, apresenta-se às nossas vistas o véu enegrecido desse dilema no lidar com a execução penal,

semelhantes flagrados pelo desaviso criminoso. O gesto simples de segregar às malhas fétidas dos calabouços, sem outras preocupações concernentes, apenas mascara uma chaga que a todos condena, desde a mais tradicional mansão ao sórdido barraco. Compromisso mínimo pesa sobre os ombros dos operários da Lei - fidelidade à Justiça, sabendo-se que o zelo da liberdade nos vem assegurado, como atributo essencial do direito à Vida, dom divino que nos cabe manter, sobretudo em favor de quem mereceu menores oportunidades econômicas e culturais. Desta forma (sugestão pertinente?), equilibraremos as cotas de esperança para concretizar ideais igualitários, fiel roteiro da ordem do Universo. Isto tudo sem desmerecer os que afirmam ser a Terra escola-prisão, onde nos reabilitamos dos erros milenares, durante imortal aprendizado rumo à Eterna Felicidade. RETRATO FIEL As feirinhas de ciência, religião e arte, nos fins de ano das escolas, bem que refletem os tempos atuais, matizes multifacetados de cores fortes em tudo que oferecem. Agora recente fui visitar duas delas, para encontrar sintomas particulares de mundo convulso. Já nos primeiros painéis, envolvidos por letras e riscos pichados, faixas rústicas com signos da cabalística moderna (anarquia, tao, nazismo, etc) e apelos salvacionistas, viam-se que as ondas massivas se espraiam nestas bandas juvenis do interior, invadindo espaço antes apenas bucólico. Salas dos colégios viraram museus vivos, onde turmas se desdobram no afã de montar assuntos com técnicas mistas, para representar o que foi estudado no currículo, tudo sob supervisão dos professores. Daí a organização dos detalhes e o cunho didático da proposta, num aprendizado participativo, por certo da maior valia. (Pesquisamos cada canto, relanceando ciclos históricos, o passado e as preocupações contemporâneas. Subindo e descendo, ouviam-se informes de guias fluentes, prestativos). As montagens em isopor, plástico e papelão, reeditavam estruturas feudais da Idade Média européia, onde repousam nossas origens, o engenho colonial, as fazendas de café, aldeias indígenas, torres, castelos, igrejas e senzalas, desníveis econômicos antigos, presentes, razões remotas, perspectivas, análises críticas.

Depois, as experiências elétrônicas, demonstrações gráficas da inflação, os riscos das drogas, da aids, do desmatamento, da violência. Durante tudo isto, os sons, vozerio que se misturava a rockões pesados de grupos estrangeiros, vindos de uma tenda no pátio. Muito movimento, ruas de salas e armações, enquanto a viagem continuou. Agora pelo espelho da comunicação, força ditatorial da propaganda, poder da técnica servindo a grupos privilegiados. Dramas sociais. Corrupção. Incompetência. Nivelamento da miséria. Em cada ambiente, os responsáveis pela explicacão dos trabalhos por vezes bem confeccionados e ricos, não faltando, porém, as carregações. O zelo de mostrar, no entanto, prevalecia em todos. A influência da cultura industrial dominou o ambiente das festas, se podendo registrar as marcas que foram ficando, quais coisas impostas, supostas, ao contrário das sedimentações naturais, o que seria mais genuíno; e essa coisa vira desassossego, resultando meio crua, mal costurada, artificiosa. Isto se apresentou contundente nas festas escolares visitadas, qual síntese profética de tempos de luta. Crise do socialismo russo, saídas liberais capitalistas, trabalho coletivo de comunidades rurais, religiões da cidade, o sem sentido das guerras, martirológio de mitos, perdas de ganho demonstradas com particularidade, dívidas externa e interna, a informática na organização do trabalho, injustiças de patrão, poesia engajada, protesto das praças, e humor apreensivo, mordaz, que serviu para ilustrar as cartolinas, contraponto ameno, às vezes insistindo em neutralizar os tons fortes da realidade fria. Desta maneira, um passeio, onde se viveu de perto dramas próximos e futuros, na condição nossa de cada dia, ombros com a prática das salas de aula modernas, retalhando, nos altares profanos, as oferendas sacrificiais, entre frases de Lennon falando da Paz. SINAIS DOS TEMPOS No auge de uma das tantas quadras violentas do Líbano contemporâneo, ao primeiro cessar-fogo os telejornais apresentaram retorno dos banhistas às praias, com barracas e bolas, cadeiras e cães, como nada além da simples rotina. Daí peguei a matutar sobre certas palavras bíblicas (Lucas, l7.28): "Como também da mesma maneira aconteceu nos dias de Ló:

Pois assim agimos, e, quando menos se espera, coisas transformadoras ocorrem, sem que sejamos reavisados... Enquanto alterações históricas, isoladas ou totais, desfazem perspectivas do continuar. Nisso, esquecemos para trás chances de corrigir o curso dos acontecimentos, chegando à estação da realidade quais reses de corte, gravetos em fogueira, moluscos de marés, ou gotas d´água ao sol do meio-dia. Acho que sabemos do quanto somos fagulhas e cinzas; portanto, para que recalcitrar? De nada serviria, a não ser de pretexto à revolta e subsídio ao temor. Assistimos fatores indicarem a certeza de um trilho nas brumas do desconhecido; as edições-extras não nos deixam sozinhos, pois insistem na tecla; vamos aqui trabalhar de comum acordo: a humanidade de hoje já tem contados seus dias. "E o céu retirou-se como um livro que se enrola; e todos os montes e ilhas foram removidos dos seus lugares. E os reis da terra, e os grandes, e os ricos, e os tribunos, e os poderosos, e todo o servo, e todo o livre, se esconderam nas cavernas e nas rochas das montanhas", afiança-nos o Apocalipse de João. Mesmo diante de tais evidências, admitimos que nada disso foge à normalidade, cabendo-nos apenas receber, como até agora de bom grado fizéramos com as horas, o ar, o alimento, a dita civilização, o mais. Vieram as bênçãos e as utilizamos (todos, querendo ou não) ao sabor do nosso alvedrio. Queimamos florestas, revolvemos o solo, construímos/destruímos diferentes maquinações, compramos/vendemos destinos e sonhos, fizemos/acontecemos na face do Universo, ao correr da determinação dos bilhões, rompidos ou aliados, que aqui vêm efetivando suas manobras, geração após geração. Dessa forma, como regatear, questionar, fazer manifestações em nome da razão, que de nada adiantaria, quedemo-nos obedientes, a cumprir o que nos sobra da programação; cuidemos de procurar a saída no íntimo de cada um, com pleno vigor da espiritualização face às soberanas modificações do futuro e seus cataclismos inimagináveis, visto o poder de fogo acumulado pelas nações. Talvez para muitos, fatos não tenham tanta força sobre argumentos, em descaso ao famoso axioma. Contudo, reguardemos o direito a um suspiro perante as eventualidades futuras, adotando, como provável rota de novo tempo, história renovada, consentâneo ponteou Jesus-Cristo, no advento de reino que se avizinha. Pomos dourados nos enganam todo dia,

miolo da estrutura, no entanto, toca-nos assumir, na essência do ser, âmbito do coração, terra em que ninguém anda. E busquei tons suaves, atuais; contar de coisas vivas (vividas) que pudessem produzir emoções ainda agradáveis; terminei falando, sem subterfúgio, das verdades cotidianas. Encarar o impacto como ele vem (nossa divisa, ensino das estradas, onde) "a vida é dura para quem é mole". Crises, carestia, guerras, não devem assustar, quando de novo eis apenas o que têm os sensacionalistas para vender como atuação regular. Caso queiram ficar esperando o arrebol, respeitem a certeza de que sua luz jamais se extinguirá quando vier de dentro, no interior de nossas almas, facho das entranhas do Infinito. Nessas linhas uma contribuição ao parto da Esperança, entre vigílias e preces, confiantes de que tudo isso faz sentido. Longas falas ou frases breves. Agressões. Defesas. Abraços. Mísseis. Festivais. Filmes. Jornais. Revistas. Som. O trabalho e a fé. O SOFISMA POLÍTICO Em certa ocasião, envolvido pelas tempestades políticas que teve de atravessar, Abraham Lincoln foi abordado por senador adversário, que queria impingir ponto de vista descabido quanto a certa matéria em discussão: - Presidente, vamos supor que uma vaca tenha cinco patas. Em sendo assim, indago de V. Exa., quantas patas tem uma vaca? - Quatro -, respondeu de pronto o grande estadista americano, acrescentando: - Pois não é por se supor que uma vaca tenha cinco patas que ela passa a ter. Situações análogas marcam o cotidiano de quem freqüenta a escola da política, em todos os países. Muitos querem que a Verdade possua a mesma cara de sua verdade, esquecendo que, apesar de iguais os termos, o primeiro se escreve com letra maiúscula e não pode ser mistificado ao sabor das conveniências individuais. Uma disposição mórbida de viciar contas em proveito interno deveria ser considerada mediocridade, não fossem interesses perniciosos nos bastidores, sustentando a maioria dessas atitudes, que depõem contra os valores da Ética, espaço onde mais se reclamam suas presenças. Militantes políticos, de ordinário, no lado

para defenderem causas pessoais ou de blocos fechados. Seriam como que bons para si e para os seus, enquanto relegam a terceiro plano faixa substancial da comunidade, que vota na esperança de modificar o estado de coisas. Dessa forma, urnas transpostas através de recompensas imediatas, no que se utilizam de capitais a serem recuperados após a vitória, estruturas reacionárias lançam âncora nos mares do serviço público e substituem os figurantes antigos. Em dita ocasião, tudo passa a ser considerado instrumento de uso íntimo, desde a canalização das verbas para áreas particulares, até o jogo de palavras e gritos, na montagem das propostas arrevesadas em defesa de atos esdrúxulos e manipulação de opiniões, fazendo passar por bons os péssimos e por maus os opositores, endossados muitas vezes pelos órgãos da comunidade de informação, a peso de ouro (pode existir coisa mais imoral do que propaganda de administração pública? para que se divulgar o que se teve a obrigação de fazer?). Neste universo das leis humanas, o justo anda cabreiro de pagar pelo infrator. Manchas se alastram no mataborrão social e a bela arte do diálogo se desvirtuou em demagogia ou subterfúgio, período em que sociedades estacionam ou degeneram, sufocando ânsias de progresso. Eis o diagnóstico de quadro preocupante, espantalho que atordoa gerações inteiras de lideranças novas. Como tratamento urgente, os exemplos bons merecem ser aplaudidos, para fomentar métodos limpos de corrigenda e recuperar sobrevida. Atenção fixa nos que vestem as malhas do poder e se dizem salvadores, porquanto posam de cordeiros mansos bem sucedidos e jamais avisam que "as aparências enganam". TEMPO DE RENOVAçÃO Época de fim de ano, para aflorar idéias definidoras nos sistemas, que venham a produzir resultados práticos reais, após demorada espera. Meses de compasso encontram respostas em único instante solene, de preferência neste fim de turno. Olhadas com zelo certo, as palavras movem pensamentos, fatiando textos no tanto ideal a cada cabeça. Uma ânsia própria destes dias acelerou o ritmo, sucateando as formas antigas. Assim, no respeito por quem ainda consegue gostar da

Criticar, lastimar, protestar - coisas que ficaram enquanto o novo renovoou tudo. Ficaram, isto é, os passos deixaram cacos jogados fora. Desta maneira, entre vírgulas, pontos, espaços, linhas, letras, parágrafos, papéis, vistas e pensamentos, circula um ar vivo, tais pessoas e coisas, reordenadas ao sabor de projetos originais, só agora postos em prática no querer das criaturas. Em estilo sincopado, o processo de conhecimento se completa quando menos se imagina, qual flor que se abre, madrugada esplendorosa, cheia de vida. A construção de muitos dias abrigou o autor em si mesmo, nas pálpebras do olho direito. Toda disposição de fazer implica no gesto de querer. Quase sempre ato contínuo - coragem de mudar para outro lado, mundo que se oferece sem coagir, como perspectiva agradável do desespero vigente, angustiante, estágios próprios do plano posterior, tudo observando e nada fazendo, em resposta à liberdade individual de ignorar ou conhecer. Reunidas propostas políticas, sociais, econômicas, envoltórios externos de uma ordem interna, bem que se apresenta espaço para atuação, no entanto pouco determinante, pois cessado o esforço voltam as queimadas de mundo em crise, cercando interrogações e afiados dentes, mistura negativa e positiva, em choque. Nesse campo, as soluções chegam depois. Antes, mudar o Homem. Mudarmos a nós mesmos. Note-se um detalhe: talvez as palavras movam só o pensamento quando lidas na concentração correta. Isto lembra o provérbio da água e da pedra, de tanto bater e furar. As mentes enxergam o que lhes interessar possa, portanto se chega num nível em que escrever vira gesto de amizade, sem pretensão de transtornar desejos, muito menos reverter quadros gerais. Escrever como extensão do fazer, para uns desnecessário, para outros vaidade. Porém ponte do viver. Simples, meio perdida, toca a vontade da gente, com ênfase nesta época em que se avizinha o inverno, quando as pessoas reclamam do calor, da carestia, dos salários, governos, falta d´água, desemprego, e as televisões repassam filmes do começo do ano; as famílias pobres invadem terrenos desocupados, aqui e noutros lugares; o movimento das lojas, que caiu em relação a iguais períodos anteriores. Etc. Hora de começar, instinto de dizer: - Era uma vez... e ter a capacidade para prosseguir nos assuntos leves, que contem histórias de reinos distantes, que sejam mais estórias de coisa saborosa, frutos de quintais, janelas ensolaradas para os

olhos e imaginação, transformando outra vez palha em pasto verde. Uma lauda e meia, porção suficiente ao que me proponho, como o modelo para continuar deixando essas folhas, soltas ao vento, aos andarilhos das letras. Isto quase que já consegui, ficando satisfeito, clima de sobrevivente que alcançou ilha deserta, numa faixa do calendário para elaborar mensagens, à procura de garrafas inúteis trazidas nas ondas.Ou índio isolado no dilúvio, mandando nuvens de fumaça para o céu, na certeza de reencontrar a tribo desaparecida nas águas. Montanhas do horizonte indicam que os sinais viverão enquanto houver quem os acompanhe. TRANSFORMAÇÕES Hoje achei de recordar quando, em l959, fui a Recife pela primeira vez. Crato, Campina Grande, passando pelo açude de Coremas, e chegamos à capital pernambucana, num salto tecnológico secular, levando-se em conta os benefícios da energia elétrica, que avançava célere sobre o Nordeste. Adeus às tochas e lampiões do passado. A civilização desvendara os encravados sertanejos, modificando tudo, desde paisagem e costumes dos habitantes, ao Sol que agora nascia dentre torres metálicas, campanários exóticos onde se penduraram as redes dos cabos prateados, interrompendo pássaros, reflorestando carrascos e massapês. Os tentáculos do progresso zumbiam nos leitos secos de grotões desolados, algo parecido com a chegada do trem-de-ferro, no início do século, trazendo promessas de alteração do ambiente, para possibilitar, segundo as crenças, uma qualidade melhor de vida. Lembro disso quando reeencontro as mesmas torres nos filmes japoneses que os meninos gostam de ver num dos canais da televisão, cenas que se repetem todo dia, produções parecidas com embalagens de supermercado, de sabores químicos - para consumo brando, num pesadelo que podia ainda ser revisto; voragem moderna versus simplicidade original. A era massificadora se estabeleceu através desses fios, resultado das muitas conquistas humanas. Poderosos repartiram despojos, sob razões de lucro, transferindo percalços em favor da perpetuação no poder (desculpa esfarrapada para justificar a ausência de critérios éticos).

Isso nos motiva transcrever, neste ponto, pedaço de um artigo da revista Planeta (março de l992) sobre os índios hopis do Novo México, Estados Unidos: - As grandes potências do mundo devem entender que, se querem escapar da destruição iminente palavras de Martin Gashweseoma, o líder espiritual daquela nação indígena -, tudo que fizeram de errado com os povos antigos (...) deve ser corrigido. A demora da avestruz com a cabeça na areia pode lhe ter afetado os miolos. E o que ocorreu, então, se reflete nas coisas que vem de gerar. As armas e os eletrodomésticos se sofisticaram, porém inúteis ou inconvenientes, no crivo do tudo ou nada dessa luta constante. Para Gashweseoma, chegou à "hora da purificação", quando os terrícolas deverão escolher uma entre duas saídas - seguir no mesmo passo equivocado em que vêm, até à destruição, ou mudar de propósitos e se conduzir numa perspectiva renovadora. O esforço exclusivista dos menos escrupulosos ocasionou retrocesso evolutivo. No princípio, chegava a parecer diferente. As naves espaciais, difundidas pela propaganda, fizeram brinquedo de lata dos destinos africanos, latinoamericanos, asiáticos, sem que ninguém pudesse questionar o sistema neofeudal estabelecido na Terra contemporânea. Espécie de vaidade prevaleceu entre patrões e seus escriturários, enquanto longa marcha de forçados transportava matérias-primas e produtos acabados, que nada mais tentador do que se comparar à construção das grandes pirâmides, destinadas a sarcófagos reais, marca do cruel egoísmo reeditado no tempo, milênios adiante. E se lembrar também que René Descartes, já no século XVII, centrava suas preocupações nos assuntos internos; que poderíamos haver seguido outros caminhos; "que há uma pequena glândula no cérebro na qual a alma exerce as suas funções de modo mais particular do que nas outras partes". Eis detalhe importante para se examinar, ainda que depois. A oportunidade das eras ficou para trás, recoberta de limo e infinitos tropeços, qual botija enterrada em lugar inacessível. Restam-nos, todavia, os individuais propósitos dessas revelações íntimas, o Espírito eterno, que persistirá mesmo quando tudo for embora e as oferendas coletivas virarem ilusão. Este momento (sim, o momento) é hoje. A VOZ E A PALAVRA

Das manifestaçoes humanas, uma exterioriza nosso conteúdo individual como nenhuma outra. O homem é a sua palavra. "A boca fala do que cheio está o coração". Pensamos livres, porém, após dizermos, o domínio do que foi dito não nos pertence mais. Uma história ilustra o tema. Filósofo espirituoso, quando indagado, certa feita, a propósito de qual o mais gostoso dos alimentos, respondeu ser a língua. - E o pior? - voltou-se à carga. - Língua, também - foi a segunda resposta. E justificou-se dizendo que a língua pode elevar ou rebaixar, sem apelação, construíndo ou destruíndo pessoas, vilas, estados, civilizações inteiras. Jesus-Cristo enfatizou, nos seus ensinos, a importância da palavra na afirmação clássica: "Seja o teu falar sim, sim; não, não", para mostrar a necessidade ímpar de objetividade no que dizemos. Jamais falar mal de quem quer que seja. Este esboço ligeiro o fizemos quando organizávamos o que escrever sobre a capacidade que temos de transmitir aos outros o pensamento por intermédio da voz. Montamos frases, cadenciamos estruturas de idéias, sentimentos; acrescentamos conceitos de significados conhecidos. A bela harmonia da fala. Quantas vezes deixamos escapar oportunidades preciosas de redirecionamento de vida, por não usarmos o termo mais conveniente. Isto sem que falemos do aspecto mágico, da força que as palavras detêm; pois, no mundo invisível, as nossas manifestações plasmam valores permanentes. "No princípio era o Verbo, e o Verbo estava com Deus, e o Verbo era Deus", do Evangelho de São João. Possuímos idêntico poder, provindo da Eternidade, para agir pelo condão da voz. Tudo o que falamos não fica apenas conosco só ou com quem esteja na ocasião ("as paredes têm olhos e os matos têm ouvidos") e ganha o espaço vibracional sem fim, rumo de registros permanentes. As palavras são nossas produções mais sólidas, sementes de trevas ou luzes, de realizações presentes ou futuras. Quisemos, desta maneira, esquadrinhar o assunto e apresentá-lo para exame. Caso nunca tenha você se detido antes para avaliar, aqui fica esta sugestão.

Danielle Gomes Lacerda Hoje em dia todos falam sobre mudanças, querem um mundo melhor. Um mundo sem fome, sem violência, com políticos honestos. Não se preocupam, nem imaginam que o problema somos nós. Que cada um de nós é que pode consertar esse mundo. Temos de entender que somos responsáveis pelo mal ou bem de tudo o que ocorre em nossa volta. Li algums livros sobre neurolinguística. Todos muito bons, mas sempre fica faltando alguma coisa. Essa coisa que ninguém diz e é muito importante quero, agora, que todos saibam. Temos dois hemisférios cerebrais, esquerdo e direito. Usamos mais um do que outro. E o pior, usamos o lado errado. Parece ser o mais fácil. Mas como diz Jesus, a porta larga é a da perdição. Podemos mudar de lado; passar para o lado certo. Não é fácil, mas é possível. Só quando todos se conscientizarem de mudar, é que vamos viver e ver um mundo com tudo de bom que tanto sonhamos. Esta solução compete ao livre-arbítrio de cada pessoa, em particular, que deve evoluir por esforço exclusivo, sendo-lhe franco o plantio de uma inevitável colheita. Temos dentro de nós dois hemisferios cerebrais, esquerdo e direito a se intercruzarem nas ramificações para com o restante dos órgãos, a coordenarem lados externos contrários, enquanto que se comunicam por faixa estreita denominada "corpo caloso" - o que corresponde a 25% da área fronteiriça, tal ponte de ligação. Estudos de funcionalidade avaliam que existe uma proporção de 1 para 3 de um lado sobre o outro, as mesmas equivalências de terra e água na face do globo. Perante a dúvida de qual hemisfério se usa com predonimância, busquemos classificar nossos próprios pensamentos. Quando positivos, otimistas, construtivos para o bem, para o sucesso, sinais evidentes da utilização do hemisfério direito (coração). Caso inverso - do esquerdo (razão). Devemos mudar de lado, passar ao outro hemisfério cerebral. Essa mudança hemisférica é possível. Sobre essas coisas até pouco tempo eu também quase nada sabia. Quando voltei a morar no Crato (1987), revi um amigo da família que nos visitava com frequência (Emerson Monteiro). Ele sempre falava coisas boas, positivas. E divulgava tese bem interessante. Descobrira dentro de si o negativo e o positivo. Lera que Jesus dizia: "Meu caminho é o do coração". Sabemos, pois, ser nosso cérebro dividido em duas

lado esquerdo do corpo. Usamos com predominância mais um lado do que o outro. E isto se apresenta em nossa própria face, também estabelecida sob a mesma concepção dualista. Depois de certo tempo de convivência, Emerson resolveu me contar como ele passou a ser cobaia desta tese, nas palavras que agora quero transcrever: "Tudo começou no ano de 1967, em Brejo Santo, quando li isto pela primeira vez num livro sobre macrobiótica (dieta oriental à base de cereaisi integrais). Esse sistema alimentar se estrutura no Princípio Único do Universo (yin/yang), a lei da bipolaridade: "tudo tem de ter o seu contrário para poder existir". "Usei essa alimentação por mais de 10 anos, comprovando a validade da tese no equílibro do potássio e do sódio que existe nos alimentos, o doce e o salgado, contrários que mantém a vida material. "Com o passar do tempo, cheguei a outras questões que não eram só alimentação; achei de procurar na minha vida onde estariam essas polaridades, nos aspectos internos do ser. "No ano de 1977, já tendo ido a Salvador e voltado para o Crato, tentava localizar tais polaridades na mente. Passara um temporada fotografando pessoas e estudando em laboratório as fotografias. Vira que nós temos dois lados no rosto, e tentava ver onde estariam as tais polaridades negativa e positiva dentro dagente. "Sabia não ser coisa aleatória, que a natureza não faz nada aleatório. Fui procurando... procurando... Em novembro, no princípio do mês, quando fazia um filme (Terra Ardente) que não cheguei a concluir, morando numa casa no distrito do Lameiro, casinha típica do sertão, de taipa e telhas, e sempre colhendo novas informações sobre aquele assunto de meus estudos, quando encontrei, no jornal Movimento (no. 132), artigo de Marshall Mcluhan (teórico canadense de comunicação), onde afirmava que a humanidade não estava perdida, que poderia sintonizar seu outro lado e desenvolver a outra polaridade do ser. Com isto venceria inflação, recessão, fome, guerra, desunião, tudo renovando por meio do trabalho e da solidariedade. Mas que cada um tem que mudar de lado. Ele mostrava bem claro que a referência equivalia aos hemisférios cerebrais, que seriam os dois polos dentro do homem. "Quando li tal artigo estava vivendo conflito de relacionamento dos mais difíceis, verdadeira tempestade d´alma, período de profundos tumultos interiores. Fiquei satisfeito com as novas notícias, que coincidiam de perto com a minha procura. "Da noite para o dia, numa manhã de fim de

quando tive a oportuniade de conversar comigo mesmo. Um lado com o outro, como duas pessoas distintas, sem qualquer dúvida. As funções negativa e positiva em diálogo externo, cada uma delas correspondendo a um dos hemisférios cerebrais. "A partir dessa hora resolvi me estabelecer num dos lados, assumir a posição, tendo consciência perfeita do onde me fixei. Vi onde estava dentro de mim mesmo, em que lado estava do rosto, qual olho passava a utilizar com prioridade, mantendo o outro como seu assessor, compreendendo as proporções de l para 3 confirmadas pela Ciência através de instrumentos precisos (25 para 75%). Ninguém está sempre 50% de cada lado. Ou 25/75% ou 75/25%. "Nessa sequência de acontecimentos, segui desenvolvendo estudos. Vi que a outra função do ser faz com que se desperte valores espirituais, eternos. Como mudar é a questão fundamental que cada um deverá aprender no seu processo evolutivo, como amadurecendo para essa mudança. Assim, tem de ter a sintonia correta de visão e cérebro, pois a vista também serve de orientação para isto. "Na hora em que resolvi mudar, que conversei um lado com o outro, vi que estava sendo levado a mais dificuldades por via da reação do lado negativo, que não soube, de início, compreender tal atitude. Levantara uma nova bandeira, a da mudança, afirmando: " - Por favor, agora resolvi tomar de conta de mim mesmo; você queira se afastar para sua posição; a partir deste momento quem vai dominar sou eu". "Então, o outro lado reagiu dizendo: " - Permita nova chance. Estas coisas todas vao passar; dagora em diante vou acertar; deixar de repetir coisas erradas. A vida vai ficar diferente". E o diálogo ainda prosseguiu, com o outro lado voltando a carga: " - Não, a sua fase já passou; sua era ficou para trás. Quero assumir o comando, determinar os caminhos de minha vida; por favor, me deixe por dono dessa orientação". "Mesmo desta forma, meu outro lado não aceitou de bom grado sua desestabilização. Permaneceu em oposição velada que durou até o ano seguinte, fase essa em que vivi num verdadeiro inferno íntimo. Conflitos que se repetiam a cada momento, muitas contradições a serem vencidas. Mas fui superando, mantendo acesa a chama; notei que deveria abandonar vícios, pensamentos nocivos, más influências. E querer de verdade sair inteiro dessa história toda. "Em 13 de maio de 1978, a tarde, na serra do Araripe, vivenciei experiência profunda de Deus, que me alterou em definitivo o modo de ver o mundo, fazendo-me aceitar as coisas invisíveis como realidade objetiva, consolidando a posição

"Daí venho desenvolvendo esta proposta de transformação, após ter refeito meus caminhos e desfrutado das tantas maravilhas que existem dentro de nós . E quero completar dizendo que mudar é mudar mesmo, independente de palavras e teorias. Equivale à ação de se transferir de lado, do hemisfério cerebral que se esteja usando com dominância para viver desde nosso passado mais remoto; "nao verá o reino de Deus aquele que não nascer de novo", nas palavras do Cristo Jesus".

SOMBRA E LUZ A China preserva uma tradição milenar, vistas as técnicas de registro que desenvolveu como nenhuma outra civilização. A propósito, a lembrança de que fabricou o papel, aperfeiçoou a porcelana e a seda, além de produzir instrumentos de orientação, depois usados pelos ocidentais, quando em suas viagens marítimas para conhecer o resto do Planeta. Dentre os consagrados gênios do pensamento chinês, a figura de Fo-Hi, o Imperador Amarelo, se ressalta pelas pesquisas no campo da Ciência Universal. Sábio consciencioso, voltou-se para o ser humano em sua busca de adaptação com a natureza. E dos conhecimentos que legou à posteridade um aqui avaliamos: o Princípio Único da Bipolaridade, isto é, tudo tem de ter o seu contrário para poder existir. Ou Yin/Yang, a Lei Universal da matéria, base de todo progresso tecnológico. Sobre o assunto alguma coisa mais pode ser falada. Após passarem a existir, sem que avaliemos o mérito disso, os seres animados e inanimados se vêem submetidos ao equilíbrio desses dois extremos de força, o centrífugo e o centrípeto. Na energia elétrica, são eles os dois pólos, negativo e positivo, o terra e a fase. Caso analisados sob o prima dialético, fenômenos e objetos se apresentam dentro da obediência desse princípio. Lua e Sol. Noite e dia. Açúcar e sal. Mulher e homem. Escuro e claro. Baixo e alto. Frio e quente. Esquerdo e direito. Tudo tendo seu outro lado, possibilitando a correlação comparativa e complementar na outra extremidade. Friedrich Hegel demonstrou, na Filosofia, a essa lei, quando fundou seu método de tese e antítese a gerarem a síntese, início de nova tese, aspectos distintos do processo energético em movimento na matéria.

SETAS ESPIRITUAIS As religiões também se utilizam de referências idênticas, desde a mais remota, registrada em livro, o Hinduísmo, onde se lê na Sublime Canção dos Vedas (o Bhagavad Gita) o diálogo entre Arjuna, guerreiro em conflito quanto a lutar ou se omitir face batalha extrema, e Krishna, a Suprema Personalidade de Deus, que lhe indica o caminho da Verdade e mantém o seu ânimo de luta. Depois, veio o Budismo, fruto da evolução individual de Gautama, que desperta em si o Eu Búdico, ou o Buda (o Iluminado), no outro lado de si mesmo, no Eu Superior. No Cristianismo, Jesus de Nazaré, após os 40 dias no deserto, virá às margens do rio Jordão, no Batismo, dividir a História com o advento do Cristo (o Ungido de Deus), sua outra natureza, seu lado interior, transformação que passa a transmitir em andanças persistentes através das cidades palestinas, anunciando o Reino Divino existente no coração de cada ser humano - "Sois deuses e não o sabeis.” "Meu caminho é o do coração. Ninguém chegará ao Pai a não ser por mim". "Buscai a porta estreita, porque larga é a da perdição". "Não saiba a vossa mão esquerda o que dá a vossa direita". "Se vosso olho é mau, todo o vosso corpo é mau. Se vosso olho é bom, todo o vosso corpo é bom". "Brilhe a vossa luz". A mesma lei veio também de orientar a Psicologia moderna, pois "o mesmo princípio perpassa todas as coisas do Universo", segundo afirmativa de Hermes Trismegisto, sábio consagrado do Antigo Egito. No âmbito da pesquisa psicológica atual, os resultados denotam que a essência da personalidade compreende uma harmonia que se perfaz no funcionamento proporcional das engrenagens do Ego e do Eu Superior, os mesmos dois valores até aqui abordados.

OS HEMIFÉRIOS Distantes dos conceitos apenas abstratos, veremos, na composição física do corpo, em sua arquitetura, que o nosso cérebro se estrutura em dois hemisférios, esquerdo e direito, a se intercruzarem nas ramificações nervosas para com o restante dos órgãos, a coordenar lados internos e externos contrários, enquanto que se comunicam por estreita faixa denominada "corpo caloso" - uma ponte correspondente a 25% de toda a área fronteiriça desses dois territórios, qual traço de

proporção de predominância na razão de l para 3, de um lado sobre o outro, as mesmas equivalências de terra e água, na face do Planeta. Como visto, o mesmo princípio também percorre tudo o mais que existe, e ao se saber que um dos aspectos possui luz própria, no contexto da própria Lei, sem que seja necessário juízos de valor, numa inferência se conclui que a Verdade existe, independente das opções individuais das criaturas humanas, qual coisa em si, sobranceira às perscrutações e idiossincrasias das escolhas particulares. A luz do Sol é própria; a da Lua, refletida. Na energia elétrica, apenas o positivo dispõe da fase, ou fogo, com mostra a experiência cotidiana; o outro pólo, o terra, poderá ser isolado até a exteriorização da força, como se dá nos sistemas de fornecimento que utilizam apenas um cabo para eletrificação, exemplo ora adotado como alternativa de menores custos. Nesta seqüência de raciocínio, a lógica reflete uma norma original, onde o progresso se evidencia qual declividade sutil, "as águas correm sempre para o mar", como no dizer do povo. As trevas fogem da luz, porém a luz não foge das trevas. E o Homem se vê na condição inalienável de um dia ser feliz, pelo triunfo definitivo do Amor sobre o Ódio. No entanto, isso compete ao livre-arbítrio de cada serciente individual, que deve evoluir por esforço exclusivo, sendo-lhe franco o plantio de uma inevitável colheita, como propõem inúmeras filosofias e religiões: "a cada um conforme o seu merecimento".

A TRAVESSIA Devemos daí mudar de lado, romper o cristal que nos divide, guindados pelo poder maior da Consciência, e passar ao outro hemisfério cerebral, que também nós somos. Para percorrer esse caminho de libertação, atravessemos o Mar Vermelho, a seiva colorida que nos irriga vasos, veias e artérias, para chegar na Terra da Promissão e viver o sonho da real felicidade. Eis o mito hebreu da Passash, ou Páscoa, a significar travessia, da escravidão para a liberdade. Quando Saulo de Tasso, na estrada de Damasco, se refazia do impacto vivido na presença da Luz, se depara com tamanha mudança interior que passa a ser conhecido por Paulo e afirma: - Não sou eu quem vive. É o Cristo

Portanto, a capacidade humana de se autoavaliar demonstra conteúdo espontâneo de um fenômeno biológico permanente, em cumprimento de trilhas rígidas e concatenadas, quais o percurso da Terra em volta de um eixo imaginário, iluminando-se ao Sol que a clareia do leste para o oeste. Do olho esquerdo para o direito - na rotação própria da evolução - quando cada olho corresponde a um hemisfério de predominância mental, abstrata, no espaço físico do cérebro. Certa feita nos afirmaram que somos tais dois castelos, um junto do outro. O castelo da Ilusão e o da Ciência. E que entre eles uma única diferença existe! A saber: do castelo da Ilusão não vemos o da Ciência, mas do da Ciência podemos ver o da Ilusão. A história de Jesus patenteia bem claro este enfoque, por muitos manipulado como fonte de poder temporal, revestindo de mistério o simples de sentir e viver, criando bloqueios à percepção daquilo que nos acompanha nos dias vividos. Fundaram até, em proveito de pompas e privilégios, os conceitos indeclináveis de secreto, tabu, mágico, milagroso, dentre outros, sempre em detrimento da maioria social e a favor de uma elite prestigiosa e impenitente. Com a democracia das oportunidades, veio a secularização das idéias, fase ora em ebulição, no seio da espécie. Recordamos, desse tempo, a invenção da imprensa ocidental, que deu publicidade à cultura letrada, propiciando a vulgarização de textos antes retidos a sete chaves, para beneficiar grupos de poder.

O EXEMPLO CRISTÃO Quando massacrado pelos judeus e romanos, Jesus ficou exposto numa cruz entre dois ladrões, no Gólgota, colina próxima de Jerusalém. Observemos, no entanto, que tudo faz sentido na linguagem divina. Pois Gólgota quer dizer crânio e os dois ladrões, nossos dois olhos, a nos segregar o condão da concentração interior, arrastando-nos aos chamamentos externos das ilusões. Um ruim, outro bom, segundo a tradição; porque ambos revelam a sintonia polar da avaliação aqui proposta. Ao centro, no alto, acima da testa, uma glândula, também pesquisada pela atual ciência e por certas escolas iniciáticas, denominada terceiro olho, corpo pineal, olho de Shiva, olho de Siva, consciência cósmica, olho da vidência, etc. No Zen-Budismo, as modalidades de despertamento se dão através do samadhi, vislumbre de uma

completar, pela vivência ascética e virtuosa, no Nirvana, encontro definitivo com Deus. Lembremo-nos de Jesus, quando disse: Aquele que perseverar até o fim será salvo. Face a constatação de que se pode transmitir a energia elétrica via um único cabo, como dissemos, e ao se pensar que o Ego eqüivaleria ao fio terra, em nosso corpo, o Eu do Espírito (o outro lado) pode continuar vivo após o perecimento da matéria, podendo, destarte, depois, vir a se manifestar noutro corpo (pelo princípio da Reencarnação), levado que será pelo aspecto abstrato da existência energética, ou semi-material, a verdadeira natureza do Espírito imortal. Se um atributo é matéria, o outro deve se opor a tal característica, mesmo que se tangencie, de modo apenas transitório, por meio de corpo opaco de matéria perecível. Como numa escala de graduação, as pessoas crescem para o Bem Eterno dentro de sua capacidade de comando, ou “grau de memória”. “A quem muito foi dado mais lhe será pedido”. E o estágio em que cada um de nós se encontra pode ser aquilatado pelo modo de seu comportamento. “Pelo fruto se conhece a árvore. Árvore má não dá bons frutos; árvore boa não dá maus frutos”, nas afirmações evangélicas.

ONDE ESTAMOS? Perante a dúvida de qual hemisfério se usa como predominância, busquemos classificar nossos próprios pensamentos, sentimentos, atitudes. Quando positivos, otimistas, construtivos para o bem - sinais evidentes da utilização do Hemisfério Direito (o do coração). Caso inverso - o Esquerdo (razão). Isso fica nítido, sobretudo neste fim de século, quando proliferam tantas escolas do pensamento positivo quais panacéias universais para muitos males. Existem, sim, estudos avançados sobre as polaridades hemisféricas cerebrais. Ainda na década de 70, no Brasil, o jornal Movimento nºs 122 e 123, publicava artigo do teórico canadense de Comunicação prof. Marshall Mcluhan, onde afirma que se a Humanidade vier a adotar o outro hemisfério cerebral solucionará os graves problemas da inflação, da fome, guerra, angústia, drogas, desigualdades sociais. Quando se sabe do certo, despreza-se o errado - norma comezinha de inteligência prática. Assim, decidimo-nos pela divulgação que ora fazemos dado o pressuposto de que “Deus é a simplicidade das

arte do bom viver. Tomamos por método compartilhar a emoção do sentir, junto daqueles que, por vezes, acham por demais remotas as possibilidades da transformação. (“Não poderá ver o Reino Divino quem não nascer outra vez”). - Não se acende uma lâmpada para ser escondida, mas para que se eleve e ilumine toda a casa. Sabe-se de muitos que refutarão este ponto de vista, entretanto isso jamais justificaria o desuso no direito de falar. Deste modo, como outros também fazem, apresentamos estas idéias, fruto de nossa mesma história.

SOM E IMAGEM Quisemos “amarrar o burro nas orelhas do dono”, dizendo e mostrando, em nosso próprio corpo, ser possível a mudança de alternativa hemisférica, para aqueles que quiser ver. Contra fatos não há argumentos, num axioma clássico de domínio público. - Uma imagem valem por dez mil palavras afirmam os orientais. Palavras que, faladas, funcionam à velocidade do som, a 340 metros por segundo. As imagens da visualização, à da luz, isto é, a 300.000 quilômetros por segundo, quase sem termo de comparação em nível de rapidez preferencial. Numa outra conhecida comprovação, Mcluhan fez escola ao concluir que “o meio é a mensagem”. Isso trazendo à baila Francisco de Assis, o Pobre de Deus, que defendia a tese de que “as palavras convencem, mas o que arrasta é o exemplo”. Tais estações de ondas curtas (porta estreita) e médias (larga) atuamos, face ao Universo, podendo receber e transmitir vibrações eletromagnéticas, tanto negativas, quanto positivas, cabendo-nos definir a nossa predileção. “Um vibrando para o bem eqüivale a milhões vibrando para o mal”, eis o que afirma Emmanuel, guia espiritual do médium brasileiro Francisco Cândido Xavier. Muito mais ainda se dirá sobre o que aqui tratamos, e que todos possam sempre disso usufruir, livres de preconceitos e atrofiantes limitações. Mais uma vez, citamos Jesus, em frase de beleza incomparável, a informar que “os que comerem deste pão jamais terão fome. E beberem desta água jamais sentirão sede”. Então, quedemos quais crianças a escutar as notícias dos páramos da Luz Superior, no mais íntimo de nós mesmos.

DADOS PESSOAIS DO AUTOR José Emerson Monteiro Lacerda nasceu em Lavras da Mangabeira CE, no dia 26 de março de l949, terceiro dos cinco filhos de Luiz de Lacerda Leite e Maria de Lourdes Monteiro Leite. Ex-funcionário do Banco do Brasil S. A. Advogado. Fotógrafo. Cronista. Contista. Atual Assessor de Comunicação da Universidade Regional do Cariri - URCA. Membro do Instituto Cultural do Cariri - ICC. Exposições de desenho, pintura e colagem. Realizou os filmes super-8 São Gonçalo da Canabrava (1975 - Salvador BA) e Terra Ardente (1977, inacabado - Crato CE). Pesquisador de comunicação, psicologia e religião, publicou o opúsculo Sombra e Luz (1991) e o livro Noites de Luz Cheia (1996). Demonstra interesse pela literatura voltada ao aperfeiçoamento humano. Estuda religiões comparadas e suas implicações sociais. Chega a admitir mudança real na História, partindo de uma nova consciência individual, na tão sonhada transformação do gênero humano. ... Vereador em Crato de 1989 a 1992, foi PrimeiroSecretário do Legislativo e da Constituinte Municipal, e Presidente da Comissão de Justiça e Redação. Publica em jornais e revistas cearenses. Pai de cinco filhos: Ceci, Ciro, Igor, Virgínia e Janaína. Casado em segundas núpcias com Danielle Gomes Lacerda. Endereço: Rua Otacílio Macedo, 195 Conjunto Novo Crato 63100-000 Crato CE. Tel.: (0xx88) 523.2196. E-mail: [email protected].

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