New York

  • May 2020
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Dias contados: descansando nas cadeiras, no coração de Nova York: a prefeitura já disse que são provisórias

Ela é sempre ela A Times Square vibra e pulsa, mesmo fechada para carros e com cadeiras (rosa, verdes e azuis) que são o fino do brega

André Petry, de Nova York Revista Veja 17/06/2009 A Times Square já foi uma bucólica fazenda onde pastavam cavalos antes de se tornar o coração turístico de Nova York com seus teatros, cinemas e restaurantes. Nos anos 70, deteriorou-se a ponto de virar zona de prostituição açoitada pelo crime, pela corrupção policial e pelo tráfico de drogas, mas voltou a reerguer-se e transformou-se no que é hoje: símbolo icônico da metrópole mais vibrante do planeta, com um engarrafamento eterno, pedestres e arranha-céus por todos os lados, gigantescos luminosos e telas digitais piscando e um cheiro – delicioso, diga-se – de comida barata no ar. Agora, está completando um mês que a Times Square, numa medida que provocou uma boa polêmica, perdeu uma de suas marcas: foi interditada ao tráfego de veículos. Virou um boulevard. Uns temiam um congestionamento monumental nas imediações. Outros, que a cidade perdesse sua identidade urbana, elétrica e fervilhante. Não aconteceu nem uma coisa nem outra. Mas, na esquina mais movimentada do mundo, as 400 cadeiras – de praia? de churrasco? de piscina? de camping? – são um intrigante paradoxo de quatro patas. Às vésperas da interdição da área (os carros foram banidos no trecho da Broadway que fica entre as ruas 42 e 47), os organizadores deram-se conta de que não havia lugar para descanso dos pedestres. Um deles ligou para um amigo no Brooklyn e encomendou o estoque disponível de cadeiras. Ao preço de 10,74 dólares cada uma, elas têm assento e encosto plásticos, braços e pernas de metal, vêm nas cores rosa, verde e azul – e são, como a descrição sugere, o fino do brega. E produzem o tal paradoxo. Estão instaladas no coração da metrópole e, assim como os quadrúpedes de outrora que por ali pastavam, têm algo de bucólico, de campestre, algo de descanso e contemplação, que destoa da paisagem feérica em volta. Quem se senta nas cadeiras, e elas estão quase sempre ocupadas, passa pela estranha sensação de relaxar no campo, no que parece uma cadeira de quintal, enquanto aprecia as luzes e os sons da vitrine mais agitada do planeta.

A interdição do tráfego de veículos vai até dezembro e, se der certo, poderá se tornar permanente. Pela multiplicidade de vozes que elogiaram a mudança, já deu certo. O comércio local aprovou. Os turistas, com mais espaço para caminhar, também. Susannah Drake, presidente da seção nova-iorquina da American Society of Landscape Architects, também deu veredicto favorável. Mas as cadeiras estão com os dias contados. A prefeitura já disse que estão ali provisoriamente e logo serão trocadas por outras, mais resistentes e classudas, junto com mesas e guarda-sóis. Como acontece nos espaços públicos que estão vivos, os usuários vêm dando ao calçadão empregos inusitados. Já se viu ali gente espichada nas cadeiras, tomando banho de sol. Outro dia um executivo colocou umas cadeiras em forma de círculo e fez uma reunião de trabalho. Ou seja: com ou sem a profusão de táxis amarelos, a Times Square continua a Times Square.

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