Mulheres que ejaculam por Alessandro Ezabella A exemplo do ponto G, a ejaculação feminina surge como um tema polêmico e pouco discutido. Afinal, as mulheres ejaculam ou não? Quais as implicações deste mito entre os casais e a busca constante pelo prazer sexual? Convido as leitoras e leitores a uma reflexão crítica sobre o assunto. O termo ‘ejaculação feminina’ tornou-se tão popular que já possui verbete na Wikipedia, a enciclopédia virtual em que qualquer pessoa pode dar sua contribuição. Além disso, não é difícil encontrar vídeos com ‘ejaculações femininas’ abundantes em sites numa versão pornô do Youtube. A ‘ejaculação feminina’ é descrita no Wikipedia como a excreção de líquido claro, ralo e, em geral, inodoro que seria produzido pelas glândulas de Skene e expelido pela uretra. Ainda de acordo com a Wikipedia, a ‘ejaculação feminina’ estaria relacionada à estimulação do ponto G.
Já os dicionários de língua portuguesa definem ejaculação como “ato de ejacular, jato, expulsão repentina de líquido abundante, derramamento com força, emissão, expulsão”. O dicionário Aurélio registra ainda “emissão ou ejaculação de esperma”. Diante disso, poderíamos concluir que o termo ejaculação poderia ser aplicado a eventos em que a mulher expele líquido após algum estímulo sexual. Por outro lado, o termo ejaculação parece tão intimamente relacionado à ejaculação masculina que
Escrito em: agosto/2009 soa estranho quando alguém faz menção à ‘ejaculação feminina’. Não é raro que algumas mulheres que ‘ejaculam’ fiquem envergonhadas por achar que o líquido expelido é urina, mesmo havendo uma clara distinção entre esta lubrificação e a urina. A ‘ejaculação feminina’ deve ser encarada como um evento natural e que pode ocorrer em circunstâncias muito específicas e não tão frequente como se imagina. Quem leu meu ensaio ‘Ponto G... H... I... J...’ (também disponível no meu website: www.osexonu.com.br) deve imaginar o malabarismo necessário para achar o suposto ponto G e depois estimulá-lo de forma que a mulher possa ‘ejacular’. Ou seja, transar nestas condições pode se transformar numa missão (quase) impossível e frustrante. A exemplo do que ocorre com os orgasmos múltiplos e/ou simultâneos, a ‘ejaculação feminina’ pode ainda entrar para o rol de requisitos do sexo padrão e ideal. Com isso, homens e mulheres comprariam a ideia que todas as mulheres devem ‘ejacular’ como nos vídeos disponíveis na internet e, no caso das mulheres, elas acreditariam que esta ejaculação é algo comum e apenas elas não ‘ejaculam’. A ‘ejaculação feminina’ acaba sendo vendida nas rodinhas de amigas/os como a promessa de algo indispensável para o prazer do casal, quando a discussão deveria ser de outro teor: focar nas possibilidades reais de prazer e deixar um pouco de lado um certo blablablá de amigas/os que muitas vezes querem passar uma ideia de liberados ou satisfeitos sexualmente quando nós, sexólogos, percebemos que existe uma grande diferença entre o sexo do qual se fala e o sexo que se faz entre quatro paredes, mesmo porque o assunto sexo ainda não é discutido tão abertamente, apesar do falso ar de liberdade sexual que nos cerca. ____________________ Alessandro Ezabella é psicólogo e psicoterapeuta sexual (CRP 06/55363-3). Mestrando em Psicologia Social pela PUC-SP. Informações sobre atendimento, dúvidas sobre sexo, curiosidades e dicas culturais, acesse o site do Psic. Alessandro Ezabella: www.osexonu.com.br.
Texto publicado originalmente na seção Sexo sem Dúvidas da Revista Uma (setembro/09, ed. 105). Este documento foi produzido pelo Psic. Alessandro Ezabella e está registrado sob uma licença Creative Commons Atribuição-Uso Não-Comercial-Vedada a Criação de Obras Derivadas 2.5 Brasil.