Monte Serrat

  • April 2020
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da semana. É uma exigência do Ministério da Educação (MEC) que cinco escolas de Florianópolis, que tiveram notas abaixo da média estadual no Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb), adotem a Educação de Tempo Integral. Na Lúcia Mayvorne, em 2007, os alunos até a 4ª série obtiveram, em média nota 3,4 e os até a 8ª série, 2,6. A média estadual é 4,7 e 4,1, respectivamente, e a meta do MEC é atingir seis pontos. A escola é a primeira da cidade a implantar o projeto. “Ninguém sabe como se faz, até no MEC, então, eu me aventurei”, explica o diretor Francisco Marchi, o Chico. A direção só estava aguardando a verba do MEC, de R$ 40 mil - para materiais, alimentação e ajuda de custo para os professores -, para começar. As aulas extras são de matemática, letramento, capoeira, informática, teatro e diversidade étnica e racial, escolhidas de acordo com a realidade da escola, na qual 92% das crianças são negras. Segundo Chico, os problemas sócio-econômicos interferem no desenvolvimento escolar e na motivação dos alunos. Os principais fatores da evasão e baixo aproveitamento são o envolvimento com tráfico de drogas – a partir de 12 anos – e falta de comprometimento das famílias. No ano passado, a taxa média de abandono foi de 8%, chegando a 19% na primeira série. Quase 21% dos alunos foram reprovados e 23% estão em séries atrasadas para suas idades. Nasce a escola Nem sempre foi assim. D. Uda se aposentou

em junho, após 45 anos como diretora da escola. “O interesse da família e dos alunos nunca mais será o mesmo”, diz, nostálgica. Ela mora próximo à base do morro, numa das ruas principais, onde um bueiro vaza sempre que chove. A casa, “uma das melhores do morro”, foi construída há 43 anos pelo marido e reformada em 1993. Sempre hospitaleira, recebe visitas constantes de representantes da comunidade e de seus alunos, que considera “os filhos que nunca teve”. “Depois da morte do meu marido, casei com a escola e com a comunidade”. Ela vive com a mãe, uma das primeiras moradoras do Mont Serrat, que chegou ao morro em 1930. D. Uda e o marido ajudaram a fundar a escola, em 1962, e, no ano seguinte, formada no magistério, se tornou professora e primeira diretora. No início, chamada de escola Isolada do Morro da Caixa, era apenas uma casinha. Começou a crescer no segundo ano, acompanhando o aumento da população e da demanda pela educação escolar. Para D. Uda, o interesse dos alunos e professores diminuiu a partir da mudança para o topo do morro, em 1978. Abriram-se turmas até a 8ª série - antes era até 4ª – e a escola chegou a ter 450 alunos. Agora, D. Uda é professora de letramento da escola integral, duas vezes por semana. Ela conta que em outras épocas também pensaram em implantar o projeto, mas não havia professores, merendeiras e serventes suficientes. “Ainda não está organizado: é a mesma merenda, as aulas não têm horário fixo e uma professora desistiu já na primeira semana.”, desabafa. “Mas temos certeza que vai dar certo.”

Pacto pretende melhorar relações entre alunos Permissão para mascar chiclete na sala de aula ou para usar boné: todas essas regras foram construídas em cada sala de aula com os alunos. Após uma motivação inicial, eles escreviam em cartolinas e colavam nas paredes. Cada sala tem um cartaz, com suas próprias normas. “Ontem mesmo tinham arrancado o cartaz de uma sala e os alunos da quinta série vieram aqui para pedir cola. Eles são os que mais cobram quando alguém desrespeita as regras”, conta o diretor. A iniciativa começou em 2007. Alice Schall tentou implementar nas suas salas de aula o “Pacto de Convivência”. Ela se baseou na experiência do educador Feizi Masrour Milani, que desenvolveu o pacto com o objetivo de aprimorar a gestão das classes e desenvolver, nos professores e nos estudantes, atitudes que melhorariam o ambiente e as relações interpessoais. As normas de convívio, os direitos e deveres são discutidos e deliberados coletivamente. A extensão do projeto para todo o colégio foi aprovada em agosto deste ano. “Os alunos desenvolvem responsabilidade por tomar decisões em conjunto, e isso ajuda no desenvolvimento da cidadania”, afirma o

diretor Chico. Mas, no último mês, a iniciativa foi abandonada para a implantação da Educação Integral e a professora Schall também se afastou para concluir seu mestrado. D. Uda acredita que, para dar certo, o pacto deve começar pelos professores. Segundo ela, muitos docentes têm mais de um emprego e outros interesses próprios. “E eles têm razão porque é questão de sobrevivência, pois às vezes tem que sustentar mãe, pai, ou ajudar na família”, explica ela. A professora Schall deve retornar à escola quando concluir o mestrado. “Mesmo quando eu terminar minha dissertação, eu vou trabalhar 20 horas só na escola para ganhar 500 reais. Como vou viver de 500 reais?”, questiona. Por tudo isso, muitas vezes os professores têm que sair antes das aulas acabarem, prejudicando o aprendizado dos alunos. “Eles ficam contentes quando não tem aula. Eles acham o máximo quando o professor falta. A grande dificuldade, que eu acho que é o desafio do nosso pacto, dentre outras coisas, é fazê-los perceber que a escola é um direito, não é um dever”, acrescenta Schall. 11

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