Mitos Hebreus

  • November 2019
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MITOS HEBREUS Tinham já decorrido quase quinhentos anos desde que se produziu o assentamento da raça semita na extensa zona que deu em denominar-se Palestina, quando um dos seus chefes (de nome Saul) foi proclamado rei. As doze tribos hebraicas decidem unificar-se num único estado e se constituem em reino para se tornarem fortes e poderosas e defrontar todos os seus inimigos filisteus, "povos do mar", e amonitas, que ocupavam a franja do oriente da Jordânia; nada mais apropriado, para conseguir os seus propósitos, que instituíssem em estado monárquico em que Saul tinha decretado (para conseguir méritos aos olhos da única deidade, isto é, do poderoso Yahveh) que magos e adivinhos deviam ser expulsos de Israel; "Saul tinha posto fora do país os necromantes e os adivinhos". No entanto, assim que os filisteus conseguem fazê-lo retroceder, pensa que Yahveh já não está da parte dele nem dos seus exércitos, e decide consultar a pitonisa de Endor para que esta o ponha em contato com o profeta Samuel, personagem -este último- que, por mandato de Yahveh, instituiu Saul como rei de Israel. O ancestral mítico continua manifestando-se na população israelita e no seu rei Saul. Relatos de livros sagrados hebreus narram de que modo certos personagens importantes, entre os antepassados de Saul, tais como Jacob, já se tinham servido de métodos mágicos para que o seu rebanho crescesse mais do que o do seu tio e sogro Labão. Aquele tinha-se visto obrigado a servir ao tio durante quatorze anos, para conseguir que lhe fosse entregue por esposa a sua filha Raquel. Ao princípio o acordo era de sete anos de serviço mas Labão enganou Jacob e entregou-lhe a sua filha Lia em vez de Raquel. Para a conseguir que estar mais outros sete anos trabalhando para Labão. PODER DO MÁGICO O método utilizado por Jacob para que os cordeiros nascessem com pintas foi (segundo os estudiosos da mitologia e do esoterismo) o adscrito à magia conhecida com o nome de "homeopática", que se baseia na chamada lei de semelhanças: "o semelhante produz o semelhante". Segundo este princípio imitativo, o mago podia produzir qualquer efeito, com a simples condição de imitá-lo: "os efeitos assemelham-se às suas causas". Toda a natureza,e os objetos que esta contém,são suscetíveis de manipulação por meio da magia "homeopática"ou "imitativa". E também no momento de curar e prevenir doenças, se recorreu ao remédio da magia. Esta forma de encantamento foi levada a cabo ao longo da história pela maioria dos povos de cultura e civilização ancestrais. O relato do Antigo Testamento é muito esclarecedor a esse respeito: "Então Jacob procurou umas varas verdes de álamo, de amêndoa e plátano e lavrou nelas umas

moscas brancas, deixando ao descoberto o branco das varas, e fincou as varas assim lavradas nas pias ou bebedouros aonde vinham as reses a beber, justamente diante das reses, com o qual estas se aqueciam ao aproximarem-se para beber. Ou seja que se aqueciam à vista das varas, e assim pariam crias listradas, pintas ou manchadas." A verdade é que, com semelhante método, em breve reuniu Jacob um rebanho muito superior ao do seu tio e sogro: "Jacob medrou muitíssimo, e chegou a ter rebanhos numerosos, e servas e servos e camelos e asnos." ESPÍRITOS E PEQUENOS GÊNIOS Até confiar completamente de Yahveh como única e poderosa deidade, os hebreus utilizaram, no momento de conhecer a vontade, espíritos e pequenos gênios que animavam o mundo não só a magia, mas também outras formas tradicionais muito estendidas entre a população. No entanto, o clero judeu lutava por todos os meios contra este tipo de manifestações e, sob nenhum conceito, aceitavam a magia, que consideravam própria de povos pagãos. Embora, em ocasiões, a vontade dos espíritos, assim como as suas exigências aos mortais, fossem conhecidas por métodos adivinhadores muito populares. Entre estes sobressaem os célebres dados que se guardavam numa espécie de cofre chamado "efod". A interpretação do significado dos dados, uma vez lançados, estava considerada como uma arte reservada a magos e adivinhos. Também houve ocasiões em que se venerou um bezerro de ouro, pois o touro se considerava como a personificação de certas deidades que formavam tríades sagradas entre si. Se tratava, realmente, de uma espécie de totem que protegia a tribo que o invocasse. Embora ao princípio parecesse que o citado guarda certo paralelismo com o mítico boi Ápis das lendas egípcias, realmente têm muito pouco em comum, dado que estes últimos associavam o animal -que veneravam vivo- com uma das duas luminárias, concretamente a Lua. Outro aspecto importante a apontar, entre a população hebraica, era o rito do "nazireu". Tudo surgia, por mor da exigência de pureza, pela necessidade de evitar qualquer contato com aquilo que pudesse considerarse impuro. Nesse sentido, grande número de pessoas decidiam retirar-se e viver em solidão. Segundo relata o "Livro dos Números 6", algumas pessoas faziam votos de "nazireado" ou nazireu ("nazireu" significa separado, consagrado), e se apartavam da sociedade e esqueciam a própria família e os seus íntimos; não raspavam a cabeça e não bebiam nenhuma bebida alcoólica. "POVO ESCOLHIDO" Embora Saul sempre saísse vitorioso de todas as suas batalhas, no entanto, num amargo dia, foi derrotado na grande planície de Jezrael pelos certeiros arqueiros filisteus, que cravaram as suas flechas mortíferas no corpo

exausto de Saul e, como sangrento final, penduraram-no nas paredes de um dos templos que tinham erigido em honra da deusa Vênus. Uma grande ironia, de resto, dado que no templo da deusa do amor se exibe o corpo de um homem, produto do ódio entre uns e outros. "O mito é diferente da Bíblia" Então é ungido David como rei, que conquista a mítica cidade de Jerusalém e a converte em capital política e religiosa dos hebreus, ao mesmo tempo que deposita nela a Arca da Aliança, que constituirá o dado (carregado de conotações simbólicas) que mostra acreditadamente o pacto levado a cabo entre os hebreus, desde essa altura transformados em "povo escolhido", e o poderoso deus Yahveh. ARCA DA ALIANÇA David, antes de mais, foi reconhecido como o rei da unificação pois preconizou a união entre Judéia e Israel. Alistou, além disso, mercenários e conseguiu, assim, conquistar muitas das cidades-estado dos povos cananeus limítrofes, com o qual viu consideravelmente ampliados os seus territórios originais. Para transportar o Arca da Aliança que continha as "Tabelas de pedra", com a lei de Yahveh gravada nelas para Jerusalém contrataram-se os serviços da carreta de Uzzá, que conduziu os bois durante o trajeto até que, por ter tentado segurar a Arca -que ia dando saltos por causa do mau estado do caminho- para não cair, foi ferido como por magia por um raio de Yahveh. E é que a Arca só podia ser tocada por famílias privilegiadas e por sacerdotes. Mas, à raiz do incidente relatado, até o próprio David temeu a ira de Yahveh e, para implorar a clemência do airado deus, ordenou que cada certo trecho se fizesse um alto no caminho, se depositasse a Arca em terra e se sacrificasse, em honra de Yahveh, "um boi e um carneiro alimentado". Depois de David, governa Israel um rei sábio e compreensivo para com os seus súditos: trata-se do seu filho Salomão. Este, embora fosse um bom diplomata, não tinha, em compensação, os dotes guerreiros do pai e, pelo mesmo motivo, "não pôde evitar a perda de territórios como o dos edomitas, provenientes da estirpe de Edom, que tinha sobrevivido à matança levada a cabo pelo chefe do exército de David e cujo representante, Hadad, tinha conseguido fugir: este refugiou-se com alguns homens edomitas no Egito e foi protegido pelo Faraó de forma especial, até o ponto que lhe deu por mulher uma das suas irmãs. Hadad foi adversário de Israel durante todo o reinado de Salomão." A "DIÁSPORA" No entanto, durante o reinado de Salomão, o comércio e as transações mercantis de todos os tipos, especialmente com os territórios de Arábia, experimentaram um incremento substancial. Por isso, Salomão decide utilizar tanta riqueza na construção da "Casa de Yahveh em Jerusalém, no monte Morria, onde Yahveh se tinha manifestado ao seu pai David."

No entanto, nos tempos de Salomão, os israelitas perdem as províncias arameas, com o que se vai debilitando o reino de Israel. Além disso, tudo isso vai constituindo-se em prelúdio do que a partir do ano 926 (aC), data em que morre o rei Salomão, se transforma num fato consumado, a saber: a separação de Israel e Judá. Jerusalém erigir-se-á em capital de Judá e, quanto ao reino de Israel, carecerá de capital fixa; a última das suas cidades, constituída em centro político e religioso, será Samaria. Mas este lugar, considerado como centro neurálgico e administrativo pela população israelita, é destruído pelo rei Sargão II, aproximadamente duzentos anos depois da morte de Salomão. Quando a cidade fortificada de Samaria foi destruída, os israelitas dispersaram-se e refugiaram-se entre os povoadores dos territórios próximos e limítrofes. Sucede a mesma coisa com Jerusalém, que sofre o acosso de Senaquerib e, tempo depois, é destruída por Nabucodonosor II, no ano 587 (aC), que a tinha submetido a um cerco contínuo durante um ano. Os seus habitantes fogem e dispersam-se em todas as direções, com o qual se produz um fato histórico conhecido com o nome de "diáspora". PROFETISMO Não tinha passado muito tempo desde que os seus profetas os tinham avisado do perigo que se lançava sobre a raça judia e os seus territórios: "o profeta Jeremias tinha prevenido sobre as adversidades que se aproximavam, mas o seu povo não acreditou em tais palavras. Com o cativeiro de Babilônia e com a destruição do templo de Jerusalém começa a decadência dos diferentes movimentos proféticos e, ao mesmo tempo,se iniciam os movimentos religiosos e tradicionais que conformarão, com os seus ritos e mitos, o chamado judaísmo." A palavra dos profetas hebreus caía quase sempre, por assim dizer, num vazio. Nem o povo, nem os sacerdotes, nem os governantes, faziam muito caso das ameaças verbais, previsões e avisos, dos profetas. Estes denunciavam a idolatria, a coação e a hipocrisia e, além disso, odiavam o formalismo vago de numerosos ritos e cerimônias, dirigidas pelos sacerdotes e governantes, com a assistência do povo servil. Mas o que verdadeiramente fez com que os profetas caíssem em desgraça e não fossem aceitos entre os seus (de aqui o célebre asserto "ninguém é profeta na sua terra"),foi a denúncia constante e cortante de certos costumes que eles consideravam licenciosos: "os profetas criticam o luxo e a vida refestelada de muitos israelitas ricos, deploram os vícios sexuais e rejeitam qualquer atitude vaidosa." A FORÇA E O PODER DE YAHVEH Os povos querem guardar zelosamente os seus deuses e nem sequer pronunciam o seu nome diante de pessoas de outra tribo, etnia, família ou país. A lei sagrada proibia aos hebreus pronunciar o nome de Yahveh; o incumprimento dessa medida levava implícito um drástico castigo: a pena de morte.

Então, torna-se necessário procurar vários nomes para referir-se a uma única deidade. Há que evitar pronunciar o nome sagrado de Yahveh e, ao mesmo tempo, guardar em segredo a escritura das quatro consoantes que compõem o misterioso tetragrama grego. Não se encontram as vogais do nome Adonai (que significa Senhor) e, ao pronunciar-se, resulta a palavra Jeová. Alguns autores mantêm, em compensação, que a verdadeira pronunciação é Jahoveh, que contém o lexema formado pelas consoantes IHWH (____), significado do conceito "ser". Daqui uma das próprias formulações do Deus ao falar da sua própria identidade: "Eu sou o que sou" ou "Eu sou o existente". Segundo outras versões, o nome da deidade superior estava considerado como tabu e, por isso, tinha que ser guardado no maior dos segredos. Estava proibido nomeá-lo. Além disso, podia suceder, por outra parte, que os inimigos chegassem a reparar no nome da deidade de um determinado povo e, pelo mesmo motivo, ao evocá-lo, fariam com que o deus se virasse contra os seus antigos adoradores e protegidos. Tratava-se, pois, de uma medida de segurança e sobrevivência para todo um povo, ao manter em segredo o nome das suas deidades superiores. MITO DA CRIAÇÃO Além de Jeová, também existia o nome de Elohim para referir-se à única deidade, e os livros sagrados colhem estas designações nos relatos da criação; "No dia em que Jeová Elohim criou a terra e os céus, nenhum arbusto havia ainda sobre a terra, nenhuma erva tinha germinado ainda, porque Jeová Elohim não tinha feito ainda que sobre a terra chovesse e nem havia homens que cultivassem o chão. Mas uma nuvem levantou-se da terra e regou o chão. E Jeová Elohim formou o homem com o pó do chão e soprou-lhe no nariz a respiração da vida". Antes de encontrar com Jeová, os hebreus tinham outras deidades menores e mais fracas. Adoravam os gênios ou espíritos de certos fetiches, entre os quais se encontram os denominados "terafim"; estes eram pequenos ídolos que podiam transportar-se e que presidiam o interior das tendas das diversas tribos. O próprio rei David levava-os consigo nas suas digressões e, quando se encontrava em perigo, permitia que os adivinhos e magos os invocassem para obter a sua ajuda. O mesmo termo "Elohim" significa "os deuses" (em plural, o que indica que veneravam vários deuses e que, portanto, não eram ainda monoteístas). No entanto, Yahveh é um deus ciumento e não quer outros deuses fora ele. É, além disso, "o deus dos exércitos e exige obediência cega e submissão plena. Era-lhe erigido culto e, em sua honra, se sacrificavam animais dos rebanhos e se supunha que na comida de comunhão o próprio Yahveh tomava parte. Era-lhe reservado o sangue dos animais que aos mortais se proibia." UM DEUS-PAI SEM ROSTO Yahveh manifesta-se de diversas formas, pois o seu rosto não foi visto por ninguém, nem se verá nunca. Os eleitos reconhecem a sua voz e obedecem-no, dado que dá suficientes provas do seu poder. Por exemplo, elimina os primogênitos dos egípcios e respeita as casas dos israelitas, que

previamente tinham pintado as suas portas com o sangue do cordeiro como sinal combinado. Sempre existiam dados, provas e indícios que indicavam a presença de Yahveh, que mostrava imediatamente o seu poder de uma ou outra forma. Os prodígios que fazia tinham, não obstante, um fim prático: convencer o Faraó do Egito para deixar em liberdade os israelitas, ou mostrar perante estes o seu vigor e a sua força. Um povo subjugado deixa as suas antigas crenças, abandona os seus ídolos e submete-se ao mandato de Yahveh para que este o livre da ira dos faraós e o conduza, através do deserto, para uma bela terra. No entanto, num princípio, os egípcios não tinham a menor intenção de deixá-los partir, pelo qual a intervenção de Yahveh se torna manifesta e necessária. Transmite as suas ordens a Moisés para que este atue segundo às suas palavras. Como Yahveh carece de rosto e de corpo visível serve-se de um mortal em todas as suas ações. A primeira coisa que encomenda ao seu subordinado é a missão de pôr o Faraó egípcio em antecedentes da sua existência e dos seus atributos. Mas o Faraó não parece importar-se pelo qual habitualmente não cumpre as suas promessas. Yahveh dispõe-se a mostrar o alcance do seu poder e, num primeiro momento, faz com que Moisés bata nas águas dos rios egípcios. Convertem-se imediatamente em sangue e os cidadãos egípcios não podem beber, e os peixes morrem. Ao cabo de uma semana, o Faraó promete que deixará em liberdade o povo israelita; o primeiro aviso de Yahveh foi decisivo. Mas serão necessários muitos mais para que lhes seja permitido, aos escolhidos, abandonar o Egito. AS PRAGAS De novo Yahveh envia Moisés perante o Faraó egípcio para anunciar-lhe que,se persistir na sua atitude negativa, uma nova amostra do seu poder poderá ser comprovada por aquele: e disse Yahveh a Moisés: "Apresenta-te ao Faraó e diz-lhe: assim diz Yahveh: Deixa sair o meu povo para que me dê culto. Se te negares a deixá-lo partir infestarei de rãs todo o teu país. O rio bulirá de rãs, que subirão e entrarão na tua casa, no teu quarto e no teu leito, nas casas dos teus servidores e na tua povoação, nos teus fornos e nas tuas gamelas. Subirão as rãs sobre ti, sobre o teu povo e sobre os teus servos". Como o Faraó intuiu o mal que lhe causava esta praga de rãs prometeu a Moisés que deixaria sair de Egito todos os israelitas. Mas de novo incumpriu a sua promessa e foram necessários muitos outros avisos e amostras de poder por parte de Yahveh para que, por fim, o Faraó consentisse em levar a cabo as citadas petições.

Finalmente, os israelitas saem do Egito -não sem antes despojar os seus opressores dos objetos de ouro e prata que tinham-, e entram no deserto atrás de uma coluna de fogo e uma nuvem que os guia. O Faraó decide perseguí-los mas, segundo narra o relato bíblico, é engolido pelo mar Vermelho junto com todo o seu exército, enquanto os israelitas, pelo poder de Yahveh, "que fez soprar durante toda a noite um forte vento do este que enxugou o mar", conseguiram atravessá-lo a pé sem grandes dificuldades. O MONTE SINAI Quando os mortais procuram a proteção de um "deus pai" é porque confiam em que não vai abandoná-los na sua infelicidade e porque esperam que sempre acuda em sua ajuda. Quando os israelitas caminham pelo deserto, Yahveh envia o maná para alimentá-los: "Olha eu farei chover sobre vocês pão do céu; o povo sairá para apanhar todos os dias a porção diária". Embora durante muito tempo se alimentassem unicamente de maná - o que era "como semente de coentro, branco e com sabor a torta de mel" -, no entanto, os israelitas não se sentiam a gosto e, em ocasiões, protestavam ou maldiziam a sua sorte. Além disso, agora se dedicam a adorar um bezerro de ouro, o que pode provocar a ira de Yahveh, dado que é um deus muito ciumento e, além disso, não permite compartilhar a sua glória com outras deidades inferiores; mais ainda: fora dele não há nenhum outro deus. NEM DEUSES DE PRATA NEM OURO Torna-se,portanto, necessária uma norma escrita e durável, pela qual se têm que reger para assim evitar confusões e mal-entendidos. Moisés é reclamado por Yahveh (que sempre necessita de intermediários) e é citado no cimo do Monte Sinaí: "Sobe a mim, ao monte; fica lá, e dar-te-ei as tábuas de pedra (a lei e os mandamentos) que tenho escritos para a sua instrução." Embora acompanhasse Moisés o seu irmão Aarão e vários anciãos israelitas, só ao primeiro estava permitido aproximar-se, isto é, a Moisés: todos os outros deveriam contemplar a cena de um lugar afastado. E eis aqui que uma nuvem cobriu o monte Sinai, e entre trovões e relâmpagos se manifestou a glória de Yahveh, que entrega as Tábuas da Lei a Moisés. Desta forma, um povo sela uma aliança com uma poderosa deidade à qual, a partir de agora, deverá submissão e adoração: "Eu, Yahveh, sou o teu Deus, o que te tirou do país do Egito, da casa de servidão. Não haverá para ti outros deuses diante de mim.

Não farás escultura nem imagem alguma nem do que há em cima nos céus, nem do que há em baixo na terra, nem do que há nas águas debaixo da terra. (...) não terão junto de mim deuses de prata, nem farão deuses de ouro. Faz-me um altar de terra para oferecer sobre ele os teus holocaustos e os teus sacrifícios." A partir de agora, fará único objeto de culto e adoração o poderoso Yahveh e rejeitará qualquer ídolo ou fetiche terrenos. CANASTRA DE PAPIRO A Aliança entre Yahveh e o povo hebreu fica selada do modo citado e nas tábuas de pedra que Moisés tomou no monte Sinaí, aparecerão gravadas, em forma de preceitos, as obrigações para com tão terrível deidade. E, assim, o primeiro mediador, e intérprete, da palavra divina foi escolhido entre os filhos dos mortais. O próprio nascimento de Moisés e as diversas circunstâncias que se sucedem então, talvez pressagiassem o seu posterior protagonismo. No "Livro do Êxodo" é narrada a história de uma criatura que se livrou de perecer afogada porque não foi achada pelas hostes do Faraó egípcio, que tinha ordenado que todos os homens israelitas,recémnascidos,fossem arrojados ao rio Nilo. No entanto, e curiosamente, foi uma filha do próprio Faraó quem salvou Moisés (nome que significa "das águas o tirei") de perecer afogado no rio. Eis aqui o relato dos fatos: "Um homem da casa de Levi foi tomar por mulher uma filha de Levi. Concebeu a mulher e deu à luz um filho; e vendo que era belo teve-o escondido durante três meses. Mas não podendo ocultá-lo já por mais tempo, tomou uma cestinha de papiro, calafetou-a com betume e pixe, metia nela o menino e pô-la entre os juncos, à beira do rio. A irmã do menino colocou-se ao longe para ver o que lhe passava. Desceu a filha do Faraó para banhar-se no rio e, enquanto as suas donzelas passeavam pela beira do rio, viu a cestinha entre os juncos e enviou uma criada sua para que a trouxesse. Ao abri-la, viu que era um menino que chorava. Compadeceu-se dele e exclamou: "É um dos meninos hebreus". Então disse a irmã à filha do Faraó: "Queres que eu vá e chame uma aia entre as hebraicas para que te crie este menino? ". "Vai", respondeu-lhe a filha do Faraó. Foi, pois, a jovem e chamou a mãe do menino. E a filha do Faraó disse-lhe: "Toma este menino e cria-o que eu te pagarei". Tomou a mulher o menino e criou-o. O menino cresceu e ela levou-o então à filha do Faraó, que o teve por filho e lhe chamou Moisés, dizendo: "Das águas o tirei". Alguns estudiosos da história e da mitologia notaram o paralelismo entre a história de Moisés (narrada no Livro de Êxodo) e a infância de um rei de Akad chamado Sargão (nome que significa "Senhor das Quatro partes do Mundo") que invadiu a Mesopotâmia durante a sua juventude e, quando era menino, a sua mãe tinha-se visto obrigada a depositá-lo numa cestinha trançada com juncos.

ORGANIZAÇÕES SECRETAS Se aprofundarmos no ancestral do povo hebreu, descobriremos que antes de abraçar esse radical monoteísmo que os caracteriza, tinham os seus fetiches e os seus ídolos e, pelo mesmo motivo, praticavam (como outros povos da mesma zona e época) o politeísmo. Adoravam deidades, por exemplo, que provinham dos fenícios. E também, seguindo os ensinos de um filho de Abraão, chamado Madian, tinham fundado seitas e organizações que recebiam o nome de madianitas, e nas quais se venerava um ídolo denominado Abda. Também existia uma deidade que representava o mal; chamava-se Asmodeu (nome que significava "o que faz perecer") e, segundo a crença popular, tinha sido obrigado por Salomão a trabalhar na construção do templo de Jerusalém, Asmodeu tinha também por missão introduzir a desconfiança entre os cônjuges para, assim, separá-los e destruir o seu casamento. Era considerado, além disso, como uma espécie de Anjo Exterminador. LEVIATÃ Mas na mitologia hebraica sobressaía de maneira especial um Dragão ou "Serpente Esquiva", também denominado "Leviatã". Já os fenícios falavam deste monstro e, nas suas lendas, faziam-no vir do caos primitivo. Para os hebreus só cabia a possibilidade de que fosse um dos muitos filhos de Lilith, mulher legendária (desposada com Adão) que paria todas as classes de criaturas deformes, monstros e demônios. Temia-se que o Leviatã despertasse e introduzisse o mal no mundo; por exemplo, no "Livro do Apocalipse" é considerado como a personificação do mal que enfrenta, por sua vez, a bondade encarnada na deidade superior. Mas é no Livro de Job onde se encontra a descrição do Leviatã mais exaustiva: " (E Leviatã, tu o pescarás a anzol, segurarás com um cordel a tua língua? / Farás passar pelo seu nariz um junco?, / Furarás com um gancho o seu queixo? / (. ..) Furarás a sua pele com dardos?, / Cravarás com o arpão a sua cabeça? / Põe sobre ele a tua mão: / Ao recordar a luta não terás vontade de voltar! / Seria vã a tua esperança / Porque a sua vista só aterra! / Não há audaz que o acorde, / E quem poderá resistir diante dele? / Quem o enfrentou e ficou salvo? / Nenhum sob a capa dos céus! / Mencionarei também os seus membros, / Falarei da sua força incomparável. / Quem rasgou a dianteira da sua túnica / E penetrou no seu coração duplo? / Quem abriu as folhas das suas fauces? / Reina o terror entre os seus dentes! / O seu dorso são filas de escudos, / Que fecha um selo de pedra. / Estão apertados um a outro, / E nem um sopro pode passar entre eles. / Estão colados entre si / E ficam unidos sem fissura. / Deita luz o seu espirro, / Os seus olhos são como as pálpebras da aurora. / Saem tochas das suas fauces, / Faíscas de fogo saltam. / Do seu nariz sai fumo, / Como de um caldeirão que ferve junto ao fogo. / O seu sopro acende carvões, uma chama sai da sua boca."

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