Miki Breier Pucrs

  • October 2019
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  • Words: 1,941
  • Pages: 8
FILOSOFIA NA EDUCAÇÃO

Miki Breier∗ [email protected]

Nesse momento em que a violência toma conta do país, em todos os níveis, na família, no esporte, no trânsito, nas relações sociais e empresariais, a educação começa a ser reconhecida por toda a sociedade civil como a única saída. Hoje sabemos que educação é mais saúde,

mais

possibilidade

de

emprego,

mais

renda,

mais

desenvolvimento, mais qualidade de vida. Mas a educação precisa ser qualificada nas suas propostas pedagógicas, necessita ser repensada e o ensino de filosofia que já era obrigatório em vários estados no Ensino Médio, no Rio Grande

do Sul era opcional até 11/08/06

quando foi

aprovado o parecer 38 /06 que tornou obrigatório ensino da e da sociologia no

filosofia

Ensino Médio em todo o país, e esta

é uma

possibilidade real para a qualificação da educação. A filosofia representa uma possibilidade, uma crença. Não que esta seja a salvadora da pátria, mas uma esperança no futuro. Em 1990 foi publicado, em português, o livro A Filosofia Vai À Escola de Mathew Lipman. Este concebe um programa de filosofia para crianças e adolescentes visando cultivar o desenvolvimento da habilidade cognitiva mediante discussões de temas filosóficos. Lipman acredita ser a filosofia a disciplina, por excelência, capaz de favorecer o desenvolvimento da capacidade das crianças de fazer juízo logicamente correto, estimular atitudes éticas e o pensamento reflexivo. A filosofia proposta não é enigmática, abstrata e distante da realidade, ∗

dos

antigos

compêndios

filosóficos.

Programa de Pós Graduação em Filosofia da PUCRS.

Criança

gosta

de

perguntar, filósofos também. O que aproxima o filósofo da criança são justamente as indagações sobre o conhecimento, sobre valores, sobre natureza, sobre o homem. ”As crianças tem dentro de seu universo, suas angústias e dúvidas e sentem

prazer nas descobertas que a

filosofia proporciona” (Bernardina Leal). A filosofia tem por objetivo fazer com que os estudantes se tornem cidadãos capazes de oferecer contribuição pessoal na construção continuada, nas referências orientadoras de suas vidas humanas. O contexto do mundo atual impõe um grande desafio aos educadores: a formação de pessoas com habilidades necessárias para transformar informação em conhecimento e conhecimento em ações conseqüentes; a velocidade com que são produzidas e repassadas as informações

exige

uma

forma

mais

elaborada

de

apreensão,

possibilitando, assim, relacioná-las e delas extrair tudo aquilo que está implícito.

Além

disso,

o

indivíduo

desta

sociedade

em

rápida

transformação, terá maior êxito se interagir autonomamente com o meio. A educação tem papel de destaque nessa formação, sendo necessário para isso dar os instrumento, para que os alunos elaborem novos

conhecimentos,

enfrentem

novos

desafios,

relacionem

as

informações e tirem suas próprias conclusões. Um programa de filosofia precisa, além da iniciação filosófica, educar para pensar e preparar para uma cidadania responsável. Esta exige comportamento, atitude de cooperação, respeito mútuo, interesse por objetivos comuns, avaliação

crítica, que são, dentre outros,

elementos importantes para o exercício democrático na sociedade. Ocupar espaços de cidadania exige que as pessoas:



Respeitem o ponto de vista do outro;



Que o ponto de vista do outro tenha o mesmo valor que o seu;

• •

Respeitem regras combinadas; Discutam e modifiquem as regras, mas com consciência de que

estas são necessárias para a vida em comum; •

Entendam que todos somos iguais e igualmente dignos de

respeito.

Estes são elementos éticos necessários as relações sociais. “A filosofia é simples na medida em que se fala sobre situações pessoais, acontecimento, conversas, romances, música, desenho filmes novelas, futebol, negócios etc.” (Ghiraldelli). Com esses temas estaremos provocando as crianças e jovens a notarem o que a maioria não percebe. “A filosofia fala do banal” para “desbanalizar o banal” (Ghiraldelli). Banal é tudo que é corriqueiro, mas não nos remete exclusivamente a situações e coisas corriqueiras e sim ao que não nos damos conta em nossa vida cotidiana; o banal é aquilo que a maioria das pessoas está acostumada que esta aí, o estabelecido, sobre o qual é descabido ter curiosidade ou que parece loucura querer mudar, o trivial. A filosofia não nos faz passivos do tipo “isso é assim mesmo”. A filosofia levará nossos alunos a pensar nas causas, encontrar razões, e assim, teremos alunos questionadores, capazes de ver que, o que esta estabelecido, pode ser questionado. Etimologicamente, a filosofia pode ser apontada como o amor pelo saber, querer saber, enfim, o respeito pelo conhecimento. As aulas de filosofia ajudarão a desenvolver habilidades cognitivas. O conhecimento sobre os temas deve ser construído coletivamente e a sala de aula passará a ser uma comunidade de investigação. “A tarefa da filosofia é, entender o que é, pois o que é, é a razão. No que diz respeito ao indivíduo, cada um é por sua parte, filho de seu tempo; do mesmo modo, a filosofia é seu tempo apreendido em

pensamento. É igualmente insensato crer que a filosofia pode ir além de seu tempo presente, como um indivíduo que possa saltar por cima de seu tempo. Mas sua teoria

vai na realidade

além e constrói um

mundo tal como deve ser, este existirá por certo, mas somente em sua opinião, elemento maleável no que se pode plasmar qualquer coisa”. (Hegel, G. W. F.). A filosofia aparece no tempo só depois que a realidade consumou seu processo de formação e já se acha pronta. Como disse Moacir Gadotti, vivemos na era do conhecimento. Se for pela importância dada hoje ao conhecimento em todos os setores, podemos dizer que vivemos mesmo na era do conhecimento, da sociedade

do

conhecimento,

sobretudo

em

conseqüência

da

informatização e do processo da globalização das telecomunicações a ela associado. Pode ser que tenhamos mesmo ingressado na era do conhecimento, mesmo admitindo que grande massa da população esteja excluída dele. Neste contexto cabe a escola organizar um movimento global de renovação cultural. A escola não pode ficar a reboque das inovações

tecnológicas.

Ela

precisa

ser

o

centro

de

inovações

tecnológicas. Gramsci tinha razão em dizer “Todos somos filósofos”, não como especialistas em filosofia, mas como necessário ser amantes da sabedoria. Se a filosofia tem por fim ensinar a pensar, ela terá um espaço maior na educação daqui para frente. A filosofia para jovens e crianças não esta preocupada em formar discípulos para perpetuar essa ou aquela corrente filosófica ou uma certa visão de mundo, mas ajudar a pensar e transformar o mundo. A filosofia deve servir para a análise reflexiva da situação do estudante, do professor e, sobretudo da realidade. Mas para isso é necessário que ela seja inquietante e inquietadora e abandonar a tradição de se perder no impessoal, no abstrato em si, para escutar e

perceber o trabalho pelo qual o homem constrói a si mesmo e constrói a sociedade do futuro.

Os saberes filosóficos

Filosofia e Ciência

Em sua busca de explicar e compreender o mundo, a ciência procura ampliar ao máximo o conhecimento racional do homem. Nessa trajetória, ela se desenvolve investigando setores específicos da realidade constituindo as diversas áreas especializadas das disciplinas científicas, como a física, a matemática, a química, a biologia, a astronomia e outras. O saber científico, em última análise, não se opõe ao saber filosófico. O que os diferencia é, sobretudo, uma questão de enfoque: a ciência

interessa-se

delimitados, enquanto

mais

em

filosofia

resolver

problemas

específicos,

busca alcançar uma visão global,

harmônica e crítica do saber Humano. A

iniciação

ao

estudo

da

filosofia

deve

aprofundar

esse

conhecimento e à medida que transcorrer seu avanço escolar ir desenvolvendo o conhecimento acumulado pela humanidade na área científica e filosófica. Assim, desde cedo aprenderá a desmistificar a sacralização do conhecimento científico e conhecer a filosofia ética, ou seja, a busca do conhecimento do ser para construir aquilo que deve ser.

O método científico que levou à dominação cada vez mais eficaz da natureza, passou assim a fornecer tanto os conceitos puros, como os instrumentos cada vez mais eficazes do homem pelo homem através da dominação da natureza (...) Hoje a dominação se perpetua e se estende, não apenas através da tecnologia, mas enquanto

tecnologia, esta garante a formidável legitimação do poder político em expansão que absorve todas as esferas da cultura” (Marcuse,H. Habermas, J. Técnica e Ciência Enquanto “ Ideologia”, p. 315 ).

Esta dominação, hoje, compromete o futuro do planeta, conforme sabemos

pelos

estudos

sobre

o

aquecimento

planetário.



presenciamos o esgotamento de muitas outras fontes de recursos naturais devido ao seu uso irresponsável decorrente da exploração do homem sobre a natureza.

Filosofia Moral

A filosofia moral é a busca do conhecimento do ser para construir aquilo que deve ser um juízo de valores, uma vez que nos dias atuais os pais estão sem tempo para passar esse conhecimento para os filhos. Cabe à escola organizar esse conhecimento, ajudar nossos alunos a fazer um julgamento moral a partir dos valores da comunidade. Moral e ética são estudos pertinentes nos dias atuais, talvez mais do que em outros momentos, para entendermos, por exemplo, as causas da violência ou da maldade nos dias atuais. Sejam elas praticadas pelo homem contra as pessoas, contra si mesmo ou contra a natureza.

Filosofia e Ética

Filosofia e Ética devem servir para qualificar as relações na escola, diminuir

a

indisciplina, a

falta

de

limites e

de

autoridade

dos

professores, de violência e de humilhações que desarmonizam o convívio escolar. Para tanto, a escola precisa de um trabalho conjunto com a comunidade escolar, ou seja, uma ação que perpasse por todas

as relações da escola, para que o aluno tenha a sua frente uma visão clara do que o mundo espera dele. A filosofia moral e ética nos faz pensar se o homem apenas reproduz os impulsos orgânicos de sua espécie ou se apenas reproduz a influência do seu meio ambiente, ou ainda, se apenas repete o padrão da sociedade em que vive. A violência institucionalizada pelo sistema de exploração social, a violência dos salários de fome, a falta de moradia, a falta de saúde pública de qualidade, o descaso com a educação, o preconceito racial, social e sexual, acumulado por gerações, fazendo explodir este surto de crueldade praticada até por menores de idade, que conforme pesquisas, na maioria dos casos são adolescentes que não concluíram nem mesmo a quinta série do ensino fundamental. Com a mãe trabalhando fora, pai ausente, família desconstituída, sem amor, sem direitos, sem ter a quem recorrer, sem uma escola inclusiva e com a mídia apelativa ao consumo desenfreado formamos um exército de jovens dispostos a tudo para ter seu objeto de desejo. O avanço do estudo da filosofia poderá conduzir os alunos a entender as transformações das normas morais desde a Antigüidade com os pré- socráticos, passando pelos Sofistas , por Platão, Aristóteles, Santo Agostinho, São Tomás de Aquino,

Kant, Hegel, Kierkegaard,

Nietzsche, Freud, Marx até chegarmos aos mais modernos e sonhadores filósofos de nosso tempo. Todos esses estudos nos conduzirão ao humanismo, uma postura filosófica

que busca no conhecimento da

natureza ou condição humana a fundamentação para as normas éticas e os valores que devem orientar a vida individual ou coletiva” (Cotrim, Gilberto. Fundamentos da filosofia). Esperamos poder contribuir de forma positiva na construção de seres humanos verdadeiramente preparados para enfrentarem o mundo com um olhar mais sensível e mais comprometido com o seu semelhante. Este ser humano ideal poderá brotar dentro de cada sala de

aula da rede Estadual de ensino se as crianças de hoje forem instigadas pela filosofia a serem mais afetos ao seu próximo.

Bibliografia

COTRIM, Gilberto. Fundamentos da filosofia. São Paulo: Saraiva 2002. HEGEL, G. W. F. Fenomenologia do espírito. Petrópolis: Vozes 1988. GADOTTI, Moacir. Transformar o mundo. São Paulo: FTD, 1991. GHIRADELLI Jr., P. Filosofia da educação. São Paulo: Ática, 2006. GRAMSCI, Antonio. Concepção dialética da história. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira. MARCUSE, H. Técnica e ciência enquanto ideologia.

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