As etapas do pensamento sociológico - Aron Raymond Max Weber -
Teoria da Ciência:
Segundo o autor, a teoria Weberiana pede que de início se perceba as diferentes qualificações de ação para o autor, são elas 4: - A ação racional em relação a um objetivo: - Define um objetivo e procura os meios necessários para atingi-lo. Ainda que os meios não pareçam racionais ao observador, weber considera a racionalidade no ator que age dentro de seu conhecimento? - A ação racional em relação a um valor: - Pelo que me parece aqui Weber considera aqui aspectos da honra, ou seja, uma ação racional que não visa o alcance externo, mas a manutenção interna de construções sociais ( que aron enfatiza estar ligado à honra, como o capitão que afunda com o navio). - A ação afetiva (emocional): - Não em relação a um objetivo, nem a um sistema de valores, a ação afetiva decorre da reação emocional do autor. Não visa nada se não a satisfação imediata do impulso emocional. - A ação tradicional: - Obedece simplesmente a reflexos enraizados por longa prática, a manifestação de uma segunda natureza gerada pelas crenças, hábitos e costumes. Ou seja, não advém nem de um objetivo, nem de um valor, nem de um impulso emocional, apenas da tradição. “O traço característico do mundo que vivemos é a racionalização”pg449 - Para weber, nossa sociedade está inclinada à ação racional em relação a um objetivo, cabe, para o autor, pensar quais aspectos de sociabilidade devem estar sob a guarda dos outros tipos de ação. Para weber a ciência é racional tanto em relação à um objetivo como em relação a um valor, na medida que o cientista deve encontrar os melhores meios de se chegar a verdade, que é um valor de universalidade válida. A ciência, para ele, assume duas características: não-acabamento, ou seja, ela não é finita e tão pouco podem ser delimitados todos os mecanismos fundamentais de funcionamento social, a própria evolução social geram novas indagações aos humanos; Objetividade. - A diferença entre as ciências naturais e as sociais: - Compreensão: Nas ciências naturais, a compreensão de seus fenômenos precisa ser mediada por processos empíricos de comprovação. A compreensão do fenômeno nas ciências sociais é imediato, não são necessários testes para que o agente envolvido no fenômeno o compreenda, é a capacidade de consciência humana que permite uma compreensão intrínseca. Há, no entanto, um limite para essa inteligibilidade intrínseca, e ultrapassado fica obscura a compreensão de certo fenômeno social pela compreensão, aida que possa ser explicado. - Objetividade: Como é possível ao cientista social aplicar-se
objetivamente sobre fenômenos formados por sistema de valores, como o são os fenômenos sociais? E como chegar a uma validade universal (verdade, objetivo da ciência) em torno de valores? - Weber faz a distinção de julgamento de valor; relação com valores. Julgamento de valor é o que parece ser, uma proposição a respeito de um valor, diante da qual não se pode formular uma validade universal, porque é um julgamento pessoal. Relação de valor é o desafio do cientista social, que diante de um valor não estabelece características, mas apenas observa como ele se desenvolveu entre os conflitos e relações humanas, o valor passa a ser o ponto de referência para o autor. - A dificuldade nesse momento se apresenta na seleção de valores, porque é impossível analisar todos em todo mundo (Kant). “Todo relato histórico é uma reconstrução seletiva do que aconteceu no passado”.pg455. A seleção de documentos, e sua disponibilidade, também influenciam, e mais, as respostas sempre serão dadas de acordo com a pergunta do cientista, por isso é necessário, ainda que diante da imersão do cientista para com seu objeto, que ele se afaste dos próprios interesses para se aproximar de uma resposta de validade universal gerada, é claro, por uma paixão do cientista. As teoria metodológica de Weber se inspira em uma filosofia existencialista(significação vivida), em que procura o lugar do homem em suas instituições e sua ação em relação à ela. Sua teoria considera para as ciências naturais uma dupla negação: - Não têm a capacidade de dizer aos homens como viver, tão pouco como as sociedades devem se organizar - o opõe à Durkhein. - Não tem capacidade de dizer à humanidade qual o seu futuro - o opõe a Marx. -
História e Sociologia
A ciência da cultura não se limita, no entanto, à relação de valores, o autor se empenha em identificar a relação causal anterior e posterior à relação de valores, ou seja, à que tipo de conduta social, econômica e religiosa, aquela relação de valor identificada leva. Dessa forma, sendo a determinação causal uma análise dada a partir de um acontecimento, sendo ela posterior ou anterior, é necessário, em primeiro lugar, ao cientista a determinação de um recorte histórico, de um acontecimento palpável - construção da individualidade histórica. Em segundo lugar ele sugere que, diante um fato historicamente singular, é necessária alterar ficticiamente um de suas determinações causais, respondendo a pergunta, o que teria ocorrido se….? Para ter a certeza que o valor alterado é parte essencial do indivíduo histórico, e qual o lugar que esse valor ocupa na exposição histórica. - Mas como é possível construir um desenvolvimento histórico irreal, modificando, e até impossibilitando uma individualidade histórica? A dificuldade está em negar algum acontecimento como causal à uma
individualidade histórica. - Pode - se observar o que procedeu em locais e tempos nos quais, ceteris paribus, aquele sistema de valor estivesse alterado. Ou podese apenas analisar o período precedente tentando excluir o aspecto selecionado para análise. -
O tipo ideal: Convergência da metodologia weberiana, o tipo ideal é “uma organização de relações inteligíveis própria a um conjunto histórico”, ou seja, ele é o que podemos compreender - parcialmente, na medida que a relação causal se dá em probabilidade) da dinâmica de racionalização de uma época no espaço, de uma sociedade. Existêm, para weber, 3 espécies de tipos ideais: - Indivíduos históricos: têm um aspecto global - um sistema limitado o representa - e é singular no tempo. - Tipos ideais abstratos: São eles os referentes a aspectos não singulares no tempo, e tão pouco globais. Aqueles que o idealtípico é abstrato, ou seja, pode se modificar no tempo e espaço. Modificação que, sendo com diferentes intensidades, manifestam nesses tipos ideais níveis diferentes de abstrações. - Abstrações inferiores, são exemplos a burocracia e o feudalismo. - Mais altos níveis de abstração seria, por exemplo, os 3 tipos de dominação: o racional, o tradicional e o carismático. - Níveis superiores de abstração, os tipos de ação. - Tipos ideais particulares: Referentes a reconstrução de conduta racional idealtípico de um indivíduo. O tipo ideal é uma ferramenta sociológica. A busca de uma natureza humana é é sem sentido?
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As antinomias da ação humana:
Estando Weber de acordo com a idéia que a existência histórica permite a geração constante de valores, afirma ele ser a dificuldade da ciências da cultura em identificar, a partir dos documentos, métodos razoáveis de se fazer a relação de valores, compreendendo sistemas de racionalidade (tipos ideais) que respondam às suas questões como sujeitos históricos. Dessa forma ele discorda da preocupação em torno de valores permanentes nos humanos, que possam servir de base para a delimitação do que é a natureza humana, e, subsequentemente, para a definição de uma maneira como se deve viver, ou governar. Weber está preocupado com o que determina as finalidades. - Antinomia da ação: moral da responsabilidade que se prende ao meio-fim, ou seja, considera a finalidade para adotar certos meios. No entanto, fica ainda a questão de qual a racionalidade exercida sobre a concepção do fim, e aqui weber entra em uma concepção que strauss chamou de niilista, uma vez que weber nega um objetivo universal a alcançar, tão pouco uma hierarquia universal de fins - usa como argumento a existência de conflito entre diferentes valores que levam a diferentes fins. O problema da definição dos valores nos introduz à moral da convicção, a partir da qual o humano age pelos sentimentos, sem relação - direta ou não - com a finalidade ou com as consequências.
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Economia e Sociedade:
Obra que pretende reunir os diferentes sistema de valores em uma única teoria conceitual, com a finalidade de observar na civilização ocidental moderna sua originalidade. “A sociologia política de weber se baseia numa distinção entre a essência da economia e a essência da política”pg.495. Isso, é claro, a partir da conduta de valores humanos, assim, a ação economicamente orientada, é aquela que visa atender a utilidade material e imaterial(serviços). O autor diferencia essa ação de um comportamento econômico(pacifista, como o trabalho). Para exemplificar melhor, a apropriação do trabalho é uma ação economicamente orientada, enquanto o trabalho é o agir econômico. Enquanto a economia tem a ver com a satisfação das necessidades, organizando racionalmente a conduta, a política tem a ver com a dominação de um humano sobre o outro, ou de um grupo sobre outro. Porém ,eles não são de maneira alguma separados, só o podem ser conceitualmente se o agir econômico estiver completamente livre de qualquer meio de força, e que a soberania da escassez e das escolhas racionais dos meios impere, ou seja, não existe não. - 3 TIPOS DE DOMINAÇÃO: - Racional: Baseada na legalidade da ordem dos que dos que exercem a dominação.(Obediência de ação ligada a um fim) - Tradicional: Fundamentada na tradição, sendo ela mítica ou heróica. (Obediência de ação tradicional) - Carismática: Pela força de uma pessoa ao assumir, ou criar, grande responsabilidade.(Obediência de ação afetiva) Essa tipologia da dominação leva Weber a perguntar-se qual a determinação que o tipo de dominação exerce sobre a organização e a racionalidade econômica, e em seguida qual a relação entre um tipo de economia e um tipo de direito. Causalidade essa que nunca é unilateral!
MAX WEBER - ECONOMIA E SOCIEDADE Vol.1 - Primeira parte Cap.1 - Conceitos Sociológicos Fundamentais $1. Sociologia é uma ciência que pretende compreender causalmente (conexão de sentido) uma ação social, em primeiro lugar diferenciando-a do simples comportamento reativo, ao passo que estabelecemos entre elas um limite fluido. Um processo podem conter níveis diferentes de compreensão de sua causalidade. Esse sentido pode ser historicamente condicionado, ou típico, mas de forma alguma
a sociologia toma como hipótese alguma escala de valor entre esses sentidos, tão pouco procura neles algo de verdadeiro. A compreensão desse processo, dessa causalidade, pode ser, pelo cientista, racional - que se limita a intelectualidade - ou intuitivo - extrapolando o inteligível. Quando uma individualidade histórico não pode ser compreendida de forma alguma, weber diz que deve ser considerado uma irracionalidade, e que a melhor forma de lidar com sua análise seria considerar um ambiente completamente racional a partir do qual seja possível identificar o impacto causal da irracionalidade - esse processo é o de criação de tipos ideais, nos quais os mecanismos racionais são perturbados por comportamentos irracionais. De qualquer forma, compreensão do “sentido” está ligado à causalidade “meiofim”. A interpretação de uma ação social, dessa forma, deve levar em conta a necessidade de ela ser a representação de algo vigente, ou que pretende vigência, na mente das pessoas orientando-as. A sociologia se preocupa com a imputação de sentido, até onde ele é possível de ser compreendido, classificando-os quanto ao “tipo”. $2. Diferentes conexões de sentido da ação social: - Tradicional: Englobando grande parte das ações cotidianas “não passa de uma reação surda a estímulos habituais que decorre na direção de atitude arraigada.”pg15. - Afetivo: Reação desenfreada a um estímulo não cotidiano, chama-se sublimação quando a ação é uma descarga consciente do estado emocional - Aqui ela começa a transição para a racionalização. - Racional referente a valores: Age a serviço de sua convicção, ainda que - e nisso se aproxima da ação afetiva - tenha no sentido da ação não uma consequência que a transcende, mas a própria ação, ou seja, ainda que seja obtida a partir de uma convicção, não age a partir dos meios mais eficazes para alcançá-la, mas sempre segue sua convicção. - Racional referente a fins: Planeja racionalmente o meio ideal para atingir certo fim, levando em conta as consequências secundárias dos meios (ainda que os fins possam ser orientados por racionalidade referente a valores.) $3. Sendo uma ação social um comportamento dotado de sentido que se orienta pelo que se espera do comportamento alheio, uma relação social consiste na probabilidade de um comportamento recíproco, quanto sua conexão de sentido, por uma pluralidade de agentes. Quando chega a 0 a probabilidade de um grupo de agentes orientar sua ação por certa conexão de sentido, esperando, inclusive, que seus semelhantes assim também se orientem, extingue-se essa relação social. As relação sociais estão sempre em transição, e nelas se apresentam caráteres perenes e plásticos. Os caracteres perenes são normalmente resultados de uma orientação racional - que permitem a construção de máximas sociológicas - ao passo que as conexões de sentido plásticos são os que se inclinam a comportamentos afetivos e tradicionais - mais suscetíveis às individualidades históricas. $4. A preocupação da sociologia, uma vez distinguidos as determinações de conexão de sentidos, está em encontrar a probabilidade de uma regularidade na orientação da ação social. A regularidade de certa relação social pode se dar por: costume, caso em que a estabilidade se dá pela qualificação de impróprio ao que age contra o costume; ou pela situação de interesse, quando o simples interesse de um agente leva-o a especular
sobre o interesse do outro, de maneira que a estabilidade se dá por essa necessidade primeiro de confiança (sobre interesses que se completam), mas também de satisfazer o interesse. $5. É necessário, portanto, identificar a vigência da legitimidade de certas conexões de sentidos que levem à probabilidades efetivas de regularidades sobre suas respectivas relações sociais. Quando uma ordem legítima de conexões de sentido está em vigência é impróprio não aderir a situação de interesse, criando um sentimento de dever. Weber reconhece a existência de diversas ordens, muitas vezes contraditórias, em vigência simultânea, inclusive dentro de uma mesma ação - é fácil se levar em conta que na maioria das vezes o agente é incapaz de explicar a conexão de sentido de sua ação e sua determinação causal. $6. Uma ordem pode ser legitimada: - Afetivamente - Racionalmente referente a valores (normalmente valores supremos, de vigência considerada absoluta) - Religiosamente em busca de bens de salvação - Pela situação se interesse Legitimada, a ordem pode ser denominada uma convenção, quando o costume é tido como vigente por um círculo de pessoas é garantido pela reprovação em massa; ou um direito, que se refere a existência de um quadro coercitivo - independente do meio de coação - observando. A fluidez, como sempre, é a regra para esses conceitos aplicados. Muitas vezes a convenção é capaz de gerar represálias maiores que o próprio direito. $7. Como a vigencia de uma ordem pode se dar pela tradição; pelo afeto; racionalmente referente a valores; e por um estatuto. Dentro da forma estatutário pode-se ainda encontrar um estatuto advindo de um acordo entre os interessados, ou de uma imposição baseada na dominação do homem pelo homem. A mais primitiva e antiga é a dominção pelo caráter sagrado de tradição, enquanto a mais moderna, e atualmente mais comum como gênero de vigencia é a estatutária jurídica que é, na verdade uma composição mútua de aspectos de imposição e acordo, ainda mais quando se refere ao direito da maioria, ou, ainda, podendo uma minoria dobrar as escolhas da maioria, consolidando assim uma aparente maioria. A sociologia tem de identificar o gênero de vigência. $8. Diante de uma ordem legítima em vigência, é possível compreender o sentido de “luta”: ação orientada por impor sua vontade, podendo essa ação ser pacífica ou não, e concorrencial, ou não. Uma luta, ou concorrência, em massa, leva ao longo do tempo à seleção de caracteres que constantemente modificam a ordem legítima, e o resultado dessa luta depende dos das condições da luta, dos indivíduos e da própria ordem sobre a qual disputam. A seleção é eterna, e isso pressupõe suplantação de relações sociais por outras, modificando ou não a ordem legitima. A maneira como ela ocorre é: - Perturbação consciente de certas relações sociais, contra a conexão de sentido de certas ações sociais. - Resultados acessórios do curso da ação social capazes de diminuir a probabilidade
de certa relação subsistir e se renovar. $9. Categorias de relações sociais: - Relação comunitária: Repousa no sentimento - afetivo ou tradicional - de pertencer ao mesmo grupo. - Relação associativa: União de interesses racionalmente motivados referentes a valores, ou fins - podendo resultar em um acordo racional. $10. Relação social aberta e fechada: - Fechada é quando alguma coisa impede que indivíduos com(ou sem) certas característica faça parte da relação social.Essa característica pode ser tradicional, afetiva e racional, com vista a valores e fins. Em muitas relações sociais podemos observar alternativamente sua expansão e fechamento, de forma que - novamente - os limites entre os dois estados é fluida. Os motivos para o fechamento de relações sociais são: - Manutenção de uma qualidade que confira prestígio. - Escassez no espaço vital alimentício - Escassez de probabilidades de ganho (espaço vital de ganho). $11. Sobre a atribuição de ações dentro de uma relação social, os indivíduos podem ser companheiros solidários, na medida em que a ação de um se imputa a todos os demais, ou os indivíduos passam a se dividir entre representantes e representados, de maneira que a ação dos primeiros se imputa aos segundos - assim como a probabilidade de consequências. A transição entre solidariedade e representação acompanha, na maioria das vezes, o grau de fechamento para fora. $12. Uma associação é uma relação social fechada para fora a partir de uma convenção de ordem legítima - podendo ser autônoma(contituída pelos próprios membros), ou heterônoma(constituída por estranhos) - garantida por um grupo de indivíduos com essa finalidade, os representantes, formando um quadro administrativo. O poder desse quadro administrativo pode ser apropriado, ou delegado - autocéfala se delegada por membros, heterocéfala se delegada por estranhos. $13. A ordem legítima da relação associativa pode, também, ser oriunda de um acordo entre os membros, ou imposta. Ainda assim, a probabilidade efetiva de haver submissão ao quadro administrativo é o que chamamos de constituição. $14.($5) $15.($5 e $12) $16. Dominação é a probabilidade de encontrar obediência a uma ordem. Uma associação é sempre, em algum grau, uma associação de dominação, em vista de seu quadro administrativo. A peculiaridade da associação se dá na legitimidade na qual fundamenta sua dominação(cap3) e nos objetos e na amplitude da dominação. $17. Uma associação de dominação se torna uma associação política quando o quadro administrativo de caráter institucional - sobre um território - garante a vigência de
sua ordem mediante constante ameaça e aplicação de coação física. Ele caracteriza o estado atual(1900) como: - “A característica formal do Estado atual é a existência de uma ordem administrativa e jurídica que pode ser modificada por meio de estatutos, pela qual se orienta o funcionamento da ação associativa realizada pelo quadro administrativo(também regulado através de estatuto) e que pretende vigência não apenas para os membros da associação - aos quais pertencem a esta essencialmente por nacimento - senão, também, de maneira abrangente, para toda ação que se realize no território dominado(portanto, à maneira da intituição territorial). É característica também a circunstância de que hoje só existe coação física “legitima”, na medidaque a ordem estatal a permita ou prescreva...Esse caráter monopólico do poder coativo do Estado é uma característica tão essencial de sua situação atual quanto seu caráter racional, de “instituição”, e o contínuo, de “empresa”.”pg35. Cap.3 - Os tipos de dominação 1- A vigência da legitimidade $1. Em torno da definição dada no capítulo 1($16) sobre a dominação é necessário compreender a necessidade de certa legitimidade, sendo ela nada mais que uma vontade de obedecer à certa ordem, ou seja, um motivo diante do qual o quadro administrativo se consolida, o mesmo motivo que o fundamenta. Entre os motivos o autor salienta que a exclusividade econômica não é capaz de gerar relações estáveis, essas têm de ser vinculadas à motivos não materiais - afetivos, tradicionais ou racionais - o que, por fim, acabam recaindo sobre um tecido social no qual todas essas relações podem ser vistas como costumes. Ainda assim, sendo essas as possíveis origens da obediência, a forma como ela se legitima é essencial como fundamento de uma dominação. - É da natureza da legitimidade que se irradia as bases da obediência, do quadro administrativo, e do próprio exercício da dominação. E também, com isso, seus efeitos. É necessário compreender a dominação como uma obediência voluntária, ou seja, não se obriga alguém a ser dominado, se convence. “A involuntariedade absoluta só existe no caso do escravo”. pg 140 A involuntariedade se sustenta por alicerces não legítimos, normalmente algum tipo de violência, o que não é dominação, apenas poder - ainda assim, os dois estão, normalmente, combinados em diferentes proporções. Uma forma comum de ver uma dominação desdenhar de toda pretensão de legitimidade é a partir de uma comunhão de interesses concreta entre o senhor e o quadro administrativo, que quando diante de dominados indefesos descartam a necessidade de se legitimar.
$2. Os três tipos puros de dominação são: -
Racional: Dominação legal, na qual, sendo uma ordem legítima, os nomeados para exercer a dominação estão em posse do poder de mando. - Todo o direito deve ser instituído de maneira racional, com a
pretensão de ser respeitados por aqueles no seu âmbito de poder. O papel da administração é garantir que os interesses legitimados pela associação sejam alcançados dentro dos limites de normas abstratas(leis). - A dominação legal ‘típica’ exige um limite para o poder de mando do ‘senhor’. Dessa forma, aqueles que obedecem o senhor não o fazem à pessoa do senhor, mas sim à ordem impessoal legal, ou seja, só existe obediência dentro de competência objetiva. Ao exercício organizado da dominação racional, em que as funções do corpo administrativo são objetivas ligadas à regras, chamamos autoridade institucional. Essa autoridade institucional, normalmente está dividida em setores diferentes de administração, o que à burocratiza, tornando cada vez mais técnica a seleção de funcionários. Ou seja, a exigência de qualificação profissional é uma exigência que acompanha os graus de burocratização, da mesma forma que a separação entre as esferas domiciliares e profissionais. A isso tudo leva a documentação dos feitos e à fazer(pautas; atas; contratos). $4. “O tipo mais puro de dominação legal é aquele que se exerce por meio de um quadro administrativo burocrático.”pg 144 - Burocracia monocrática: - Funcionários individuais, livres, nomeados de acordo com uma comparação entre as especificações técnicas do cargo e as qualificações profissionais do candidato. Têm essa função como profissão principal, pela qual é remunerado. Rigoroso controle sobre suas tarefas, garantindo a competência objetiva. - Sendo, dessa forma - comentário do parágrafo acima - necessário que exista certa dependência contratual entre os funcionários e o senhor, dependência garantida pelo caráter eleitoral do segundo, uma dominação burocrática necessita, em seu topo, de ao menos um aspecto não burocrático. $5. A forma mais racional de exercício da dominação é a burocrática monocrática, e é a partir dessa forma de dominação que se consolidaram os modernos estados nacionais do ocidente. Isso porque ela tem a capacidade de elevar a utilidade da técnica empregada, o que é essencial para a administração das massas - a administração burocrática é uma dominação em virtude do conhecimento, superior a ela nesse sentido somente a administração da empresa capitalista. De tal forma que os próprios dominados, se quererem defender-se da dominação, devem criar uma organização também sujeita à burocracia. A tendência natural de uma dominação racional burocrática monocrática é fazer com que seus funcionários, ou melhor, as competências objetivas às quais os funcionários estão submetidos, se inclinem a uma execução materialmente utilitarista à serviço dos dominados. (Essa é a problemática da democracia). - Burocracia colegial: -
$6.Tradicional: Crença cotidiana (“existente desde sempre” ou seja, está intimamente ligada ao passado) na santidade das tradições, a partir dessa tradição se constitui a legitimidade daqueles que representam a autoridade. “
A ele se obedece em virtude da dignidade pessoal que lhe atribui a tradição”pg148 As relações entre o senhor e o quadro administrativo são pessoais, não existe objetividade nas funções do servidores (não mais funcionários) pessoais. A dominação tradicional se legitima pelo conteúdo tradicional das ordens, cuja transgressão poderia pôr em perigo a posição do próprio senhor, ainda que exista certo livre arbítrio nas ações do senhor tradicional - dupla natureza da ação do senhor, dependente ou não da tradição. Não necessariamente existe um quadro administrativo para a dominação tradicional. - Os tipos primários da dominação tradicional são sem corpo administrativo: - Gerontocracia - Melhores conhecedores da tradição - Patriarcalismo primário - Situação doméstica - econômica e familiar - exercida por um indivíduo determinado (normalmente) segundo regras de sucessão, estritamente ligado à tradição. O comum entre as duas é que, sendo ambas resultados de legitimação tradicional sem um corpo administrativos, ela se reproduz integrando-se aos interesses dos associados, desdenhando, acredito eu, da coerção - pois consolida uma vontade de obedecer. -
Quando surge o corpo administrativo, normalmente militar, existe uma tendência para o patrimonialismo, e os companheiros pessoais tornam-se súditos
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É estamental quando os poderes de mando e as oportunidades econômicas são apropriadas pelo quadro administrativo. $9. “A dominação tradicional costuma atuar sobre as formas de gestão econômicas, em primeiro lugar e de modo muito geral, mediante um certo fortalecimento das ideias tradicionais.”Pg.156 A maneira com que essa atuação ocorre depende de como se organizam as finanças da associação de dominação. - O patrimonialismo impede o desenvolvimento de uma economia racional, em vista de: não haver funções objetivas, organizadas racionalmente e com qualificação profissional, em seu lugar reside apenas o direito pessoal do senhor e seus privilegiados; dificuldade que o tradicionalismo impõe ao desenvolvimento de estatutos formalmente racionais. - Legitimidade da dominação ------------> Legitimidade da propriedade -
Carismática: Veneração do poder heróico, ou do caráter excepcional daquele que exerce a dominação a partir de uma ordem que ele próprio criou/revelou. Essa veneração nasce do entusiasmo, seja oriundo da miséria ou esperança do dominado. No entanto é o tipo de dominação mais frágil porque exige comprovação constante e precisa gerar bem-estar para a não ser questionada. O quadro administrativo não é selecionado de maneira racional - qualificação profissional - nem de maneira patrimonial, ou tradicional - dependência doméstica ou pessoal - somente nomeações dadas pela senhor. Ela é uma grande força revolucionária em tempos de dominação tradicional, podendo orientar de forma totalmente nova a consciência e as ações (a racionalidade global).
É alheio a economia pois condena a apropriação por parte dos abençoados, principalmente quando ela se manifesta de forma tradicional - regime de acumulação. $11. A rotinização do carisma: Processo que torna a dominação carismática, originalmente extracotidiana e ligada ao caráter extraordinário do senhor, em uma relação permanente. Segundo o autor, uma dominação carismática é somente in statu nascendi pura, pois ao se tornar permanente ela se tradicionaliza ou se racionaliza. É importante notar a participação do corpo administrativo nesse processo “Somente uma pequena camada dos discipulos ou sequazes entusianmados dispoem-se a viver dessa maneira, coloca sua vida a serviço de sua ‘vocação’,de modo apenas ‘ideal’. A grande maioria quer fazê-lo (ao longo do tempo) também de modo material, e tem de fazê-lo, para não desaparecer.”pg.164 - Em virtude dessa necessidade do corpo administrativo, a rotinização do carisma pode se dar, também pela apropriação dos poderes de mando e oportunidades aquisitivas. - O que pode levar a estamentos tradicionais, em que o poder de mando e as oportunidades aquisitivas são transmitidas com legitimidade tradicional. - “Condição prévia para a rotinização do carisma é a eliminação de sua atitude alheia à economia, sua adaptação a formas fiscais (financeiras) da provisão das necessidades e, com isso, a condições econômicas capazes de render impostos e tributos.”pg165 - Dessa forma, a rotinização do carisma leva-o, normalmente, ao patrimonialismo, especialmente o estamental e o burocrático. Nesse processo, pelo fato de a sucessão se dar em virtudes de legitimidades diversas, pode o carisma pessoal, sentido inicial da dominação carismática, faltar por completo - como é o caso da sucessão por consanguinidade, designação, nomeação pelo corpo administrativo, acredito que apenas no caso de eleição o carisma pessoal pode se manter. O carisma pode ser objetivado como um carisma de cargo, no qual seu portador recebeu do antecessor, ou desenvolveu pelas funções, a qualidade do cargo, fazendo do primitivo caráter particular um prestígio de liderança - olhar a teoria dos estamentos (Cap.4?). Dessa forma, podemos dizer que o principal motivo para a rotinização do carisma é a necessidade de perpetuar as posições sociais de mando e oportunidades econômicas. Para isso é necessário: a adaptação das ordens e dos quadros administrativos às exigências e condições normais de uma administração cotidiana; é preciso haver uma ordenação dos membros do quadro administrativo; adaptação do quadro administrativo às condições econômicas cotidianas - regime de acumulação? - nesse processo a economia é parte dirigente, não dirigida. “A qualificação em virtude da capacidade pessoal foi substituída pela qualificação em virtude da descendência. Esse fenômeno constitui por toda parte o fundamento sobre os quais se desenvolveram os estamentos hereditários(...)nos modernos estudos de pedigree da nova aristocracia americana e, em geral, em todo lugar onde se convive com a diferenciação ‘estamental’”.pg167. $12.b) Feudalismo: Distinto tanto do patrimonialismo quanto do carismático
genuíno ou hereditário. $13. “Mas, em geral, cabe observar o seguinte: o fundamento de toda dominação, portanto, de toda obediência, é uma crença: a crença no ‘prestígio’ do dominador ou dos dominadores. Raramente esta é uma obediência inequívoca. Na dominação ‘legal’ nunca é puramente legal: a crença na legalidade é um hábito, condicionada, portanto, pela tradição - o rompimento desta é capaz de aniquilá-la. E é também carismática, no sentido negativo de que o insucesso contínuo e notório é a ruína de todo governo, ao quebrar o prestígio e permitir a maturação de revoluções carismáticas.”pg.173 Toda dominação exige o esforço constante, por parte do corpo administrativo, mediante realização e imposição de ordem, A solidariedade de interesses entre senhor e corpo administrativo depende do tipo de dominação, ela é mais comum em dominações de tipo estamental, e menos nas de caráter pessoal. Para Weber a realidade histórica é uma luta contínua entre o senhor e o corpo administrativo, e isso foi o decisivo para o desenvolvimento de toda cultura - não a luta de classes - porque determinou as tendências da educação e o modo de formação dos estamentos. $14. Reinterpretação autoritária do carisma: Quando na associação de dominação o reconhecimento de características carismáticas são o fundamento de legitimidade, não sua consequência, como é o caso das eleições em uma democracia. Uma administração composta por funcionários eleitos é muito menos eficaz que uma burocracia formada por funcionários nomeados. “A democracia plebicitária - o tipo mais importante de democracia de líderes - em seu sentido genuíno, é uma espécie de dominação carismática oculta sob forma de uma legitimidade derivada da vontade dos dominado e que só persiste em virtude desta.”.pg176 “O funcionário eleito significa por toda parte a interpretação radicalmente modificada da posição de mando do poder carismático, no sentido de “servidor” dos dominados”.pg177 Pelo fato de ter sido eleito, o funcionário não se interessa pela aprovação dos superiores, agindo de forma “autocéfalo”, o que impede, segundo o autor, serviços de alta qualidade técnica. Relação com a economia: “A redefinição do carisma como antiautoritário conduz, em regra, ao caminho da racionalidade”pg177. Um de seus alvos será na reprodução material, criará interesses que estejam à ele vinculados, servindo-se da legalização do direito. Existe um paradoxo na racionalização quando a redefinição do carisma é eleitoral, uma vez que a economia não poderá se manifestar em racionalidade pura em vista da preocupação dos funcionários com as consequências eleitorais. $15. Colegialidade e divisão dos poderes: Associações específicas e relações pessoais que limitam e restringem a dominação, oriundas, normalmente, do corpo administrativo; - Uma dominação patriarcal e feudal por privilégios estamentais. - Uma dominação burocrática pela hierarquia burocrática, instituições de observação dos estatutos. Toda dominação pode ser despojada de seu caráter monocrático pelo princípio da colegialidade, principalmente pelo seu caráter de obstruir decisões
precisas, inequívocas e rápidas(enfraquece a prontidão das decisões; a uniformidade da liderança; a ação sem inibições). À custa da rapidez, a colegialidade permite maior profundidade nas considerações da administração menos quando ela é eleitoral? - “Em estados populosos, nem uma política externa poderosa,e homogênea nem a política interna pode efetivamente ser dirigida de forma colegiada.”.pg184 A colegialidade ligada a direção administrativa pode ter seu fundamento no caráter estamental da camada social que decide a ocupação dos cargos e monopoliza sua posse - existe, também, a colegialidade consultiva, com diferentes pesos na decisão. $17. Relação da divisão dos poderes políticos com a economia: A colegialidade racional pode estimular a economia racional, ainda que não garanta a precisão em seu funcionamento. Isso se dá pela independência de relações patrimoniais que a colegialidade estimula. “Mas, justamente por isso, os grandes potentados capitalistas do presente e do passado preferem, na vida política, na dos partidos e na de todas as associações de importância para eles, a monocracia como a forma de justiça e administração mais ‘discreta’(no sentido deles), pessoalmente mais acessível, além de mais fácil de fazer pender para os interesses dos poderosos, e isso com toda razão, como afirmam também as experiências alemãs.”pg187 A colegialidade das autoridades fiscais contribuíram para a racionalização da economia - pela necessidade de a rotinização do carisma absorver aspectos cotidianos, inclusive de taxas e tributos. A simples divisão dos poderes é capaz de estimular a economia racional, pois fixa objetivamente as funções entre os cargos. $18. Partidos: Relações associativas , de recrutamento livre, que pretender proporcionar poder e oportunidade à seus dirigentes e membros. Pode-se dirigir a obtenção de poder, à interesses estamentais ou de classe, e por objetivos racionais ou ideológicos. Surgem em associações cuja direção pretendem influenciar ou ocupar. Quando a direção é determinada por eleição, a atração de votos é o objetivo do partido. Os mecenas dos partidos sempre permanecem ocultos, a compreensão do financiamento do partido é essencial para compreender a direção de suas ações. $19. Administração de associações alheia à dominação e administração de representantes: As associações podem, também, pretender a minimização máxima da dominação, consolidando uma administração solidária a associação, limitada inclusive pela sua autorização. No entanto, isso costuma se limitar a associação com; contingente tal que a reunião deliberativa ainda possa existir; e com uma organização não profissional - por isso os funcionários externos de uma cooperativa, normalmente, são vistos como a decadência da autogestão e ascensão do profissionalismo. $21. Representação: As ações dos representantes devem, aos demais, ser consideradas como vigentes. - Representação apropriada: Quando o poder representativo tem dimensão tradicional. O representante se apropria do direito de representar. - Representação estamental: Muito próxima a apropriada. Não se trata de uma verdadeira representação, pois o vínculo com os representantes se dá apenas em pretensão expressa - vontade de se tornar elite - enquanto os representantes fazem o possível para fazer valer os direitos e oportunidades próprias - privilégios. - Representação vinculada: Os representantes são, na verdade, funcionários
dos representados. - Representação livre: O representante não está ligado à instrução alguma, é senhor de suas ações. Relação com a economia: A desagragação dos fundamentos econômicos dos antigos estamentos é incitada pelo capitalismo moderno, e isso gera condições para uma representação livre - deixa de ser estamental, e passa a ser de classe? - Limitação censitária a representatividade e, inclusive, ao voto. Controle do parlamento pelos capitalistas.
Cap.IV - Estamentos e Classes