UNIVERSIDADE TECNOLÓGICA FEDERAL DO PARANÁ PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM TECNOLOGIA
ELIANE ABEL DE OLIVEIRA
CONCEPÇÕES TEÓRICAS SOBRE TECNOLOGIA E SOCIEDADE: NEUTRALIDADE, DETERMINISMO E CONSTRUÇÃO SOCIAL
CURITIBA 2009
CONCEPÇÕES TEÓRICAS SOBRE TECNOLOGIA E SOCIEDADE: NEUTRALIDADE, DETERMINISMO E CONSTRUÇÃO SOCIAL
Sempre que se pensa em tecnologia e seu uso, tem-se a idéia de que são ferramentas neutras que podem ser utilizadas para o bem ou para o mal, segundo quem as opera. De acordo com Winner, esse é um pensamento ingênuo e pouco intelectual. De acordo com seu artigo “Tienen políticas los artefactos?”, a tecnologia não é neutra em si, pois por trás da elaboração dos artefatos estão interesses, demandas e fatos muitas vezes ligados a interesses públicos e políticos. Para isso cita exemplos de como uma máquina conseguiu acabar com um sindicato e como a construção de uma ponte limitou o acesso de determinada parcela da população a certo lugar. Winner defende a idéia de que a tecnologia é inerentemente política afirmando que certos tipos de tecnologia requerem que os meios sociais se estruturem de determinado modo fazendo as adequações necessárias no modo de vida da população. Essa adequação muitas vezes não é uma decisão tomada por toda a população, e sim imposta por uma elite cultural e científica como afirma Andre Gorz, elite essa que muitas vezes independe de convicção política. Fruto de um meio cultural que acredita que o conhecimento intelectual é propriedade exclusiva de uma minoria. Pode-se ter como exemplo o controle da fábrica que implica no controle dos saberes e, portanto, na transferência do conhecimento dos trabalhadores para a gerência que os sistematiza e deles se apropriam e hierarquizam a serviço do capital. Este pensamento, segundo Gorz, faz com que a ciência seja desenvolvida por uma classe dominante para atender a seus próprios interesses de forma a manter essa relação de dominação e permitir
seu modelo de reprodução, enfraquecendo a participação dos cidadãos acerca das políticas públicas, relegando-lhes o papel de meros consumidores, como diz Leo Marx. Com o avanço tecnológico, criaram-se as especializações, ou seja, o conhecimento tecnológico foi dividido em fragmentos diminutos, com isso a quantidade de conhecimento aumentou o que não significa um aumento na autonomia ou tomada de decisões, portanto temos que evitar uma posição determinista da tecnologia que impossibilite o cidadão de intervir no processo de políticas tecnológicas. Marx, Smith e Roe afirmam que um sistema tecnológico não é composto apenas por máquinas, dispositivos e mecanismos e sim por pessoas e organizações com uma rica conexão entre economia, política e cultura. Um exemplo disso é a criação de energias alternativas que, a princípio, apresenta uma preocupação igualitária, democrática e comunitária. Isso vem demonstrar que as prioridades sobre o desenvolvimento tecnológico trazem conseqüências importantes para a forma e qualidades nas relações sociais interferindo também no campo moral, pois sociedades com sistemas tecnológicos altamente sofisticados fazem com que as práticas morais tendam a parecer obsoletas, idealistas ou irrelevantes. Concluindo,
a
sociedade
deveria
dar
mais
atenção
ao
desenvolvimento tecnológico e procurar envolver-se nas decisões sobre ele. Isso será possível a partir de um claro entendimento das políticas públicas de desenvolvimento e com uma visão clara das benesses e conseqüências que o desenvolvimento tecnológico traz para a sociedade como um todo.