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MARVIN E O CARACOL DO TEMPO A VEN TURA
ALMIR CORREIA
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MARVIN E O CARACOL DO TEMPO
A VEN TURA BRASIL -- 2003
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Título: MARVIN E O CARACOL DO TEMPO
Primeira edição: Brasil - 2003 COPYRIGHT DO LIVRO © ALMIR CORREIA - 2003 DESENHO DA CAPA: LAYOUT DA CAPA:
IMPRESSO NA GRÁFICA
DIREITOS DESTA EDIÇÃO RESERVADOS AO AUTOR
CONTATOS:
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“ A vida se faz teia, cheia de alquimias em seus fios-caminhos.” (Merlin Nostradamus)
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AGRADECIMENTOS
Aos meus familiares e amigos, À professora Rosélis (minha leitora-crítica), A vocês, leitores, Que já leram “Marvin, o aprendiz de alquimista” E estavam aguardando pela continuação, E a todos os outros novos leitores Que espero estar conquistando...
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SUMÁRIO
1-MARVIN, O DÉSPOTA 2- O DUPLO 3- A MISTERIOSA CRIATURA DA CAIXA PRETA 4- COMPOTAS E CONSERVAS 5- A CONFRARIA DOS DRAGÕES ANÕES 6- O LIVRO DE CARNE 7- O REMORSO DO DRAGÃO ELVIS 8- O MERLIN NOSTRADAMUS 9- A ESPADA EXCALIBUR 10 - O CARACOL DO TEMPO 11- A DIMENSÃO DAS TREVAS SÓLIDAS 12- A TÃO ESPERADA VIAGEM 13- O FIM DE ALGUNS MISTÉRIOS E O COMEÇO DE OUTROS
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Onde ficam os Mundos Mágicos e os Mundos do Além? Ora bolas! Alguns estão aqui mesmo e em todo e qualquer lugar. CUIDADO ao abrir uma porta inocente! Ela pode ser momentaneamente a passagem para um deles. O problema maior não consiste em encontrá-los, mas sim em retornar desses mundos. Por que afinal existem tantas pessoas desaparecidas por aí? A grande maioria ou ainda está lá ou então já não existe mais... E não existir mais pode ser muito-muito-muito terrível mesmo. UNIVERSOS PARALELOS. Até os homens das ciências conjeturam sobre tal hipótese. Mas antes deles, se é que algum dia conseguirão decifrar tal enigma, Marvin, um menino de 12 anos, teve toda a sua vida transformada por esses mundos e suas criaturas estranhas, mágicas, meigas, horripilantes, nojentas e monstruosas. A partir de um “Castelo Invisível, a magia passou intensamente a fazer parte de seu corpo e de sua alma. E o seu mundo nunca mais foi o mesmo... Cidade Flutuante, Saskatchuó, Avalon são apenas alguns desses infinitos universos... Depois de viver as mais incríveis e extraordinárias aventuras mágicas e enfrentar grandes e incalculáveis perigos, Marvin continua o seu caminho em direção à sabedoria, em direção à verdadeira alquimia... E com certeza, Lenora, uma menina de longos cabelos loiros, ainda fará parte de sua história... AH! Uma informação adicional: Todos os universos paralelos são mágicos, e na maioria das vezes, eles não seguem muitas das leis físicas conhecidas...
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CAPÍTULO 1 MARVIN, O DÉSPOTA “Nem todo sonho sonhado é sempre apenas um sonho sonhado.” (Growbert, o dragão-anão guru)
LUA CHEIA. A NOITE É LUZ PELOS CAMINHOS... Sempre durante a LUA CHEIA, a magia acontece com mais intensidade. “Fenômenos” restritos aos Mundos Mágicos invadem o Mundo Humano sem que a imensa maioria das pessoas consiga perceber. A correria do dia-a-dia tirou-lhes a sensibilidade necessária... Felizmente ainda restam alguns pequeninos, cheios de sonhos e esperanças infinitas... Felizmente ainda restam alguns pequeninos, cheios de “vaga-lumes” na alma... “A novidade que tem no Brejo da Cruz é a criançada se alimentar de luz” -disse certa vez um poeta-cantor. Ou seria um cantor-poeta? Não importa. Assim como em seu brejo, em muitos outros, os meninos e as meninas já aprenderam a façanha de comer e beber luz.
No barraco azul de quinze metros quadrados, o pequeno Camilo caiu da cama outra vez. Milo sempre cai da cama, pelo menos uma vez por semana. Desta vez com a ajuda do irmão, um ano mais velho que ele. Ano que vem Milo já vai à escola. Primeira Série. E ele já sabe desenhar todas as letras do alfabeto. Mas voltando à queda de Milo... Milo caiu da cama. Sim, isso já foi dito, mas é necessário frisar, reforçar, redundancear, pois é aqui que mora o estranhamento... UM ESTRANHAMENTO QUE VEIO COM A LUA CHEIA... Milo caiu da cama e de imediato não acordou com a queda. Milo caiu da cama e não se machucou feito a última vez. Milo caiu da cama e não bateu com a cabeça no chão de terra dura. Milo caiu da cama e a mágica aconteceu... Milo caiu da cama e atravessou o chão feito o personagem cigano do filme “Snatch, Porcos e
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Diamantes”. Milo caiu da cama e mergulhou em um chão-rio de águas amarelas e turvas... MILO NÃO SABE NADAR. Milo está se afogando e se debatendo nas águas assassinas. Milo tem apenas seis anos. Milo está engolindo muito líquido. Milo está respirando “água suja”... Felizmente rios mágicos não afogam pessoas e outras criaturas durante a LUA CHEIA. Respira-se água como se respira ar... OXIGÊNIO LÍQUIDO. (Um ratinho branco de laboratório, colocado dentro do oxigênio líquido, debate-se e debate-se, desesperadamente, por algum tempo, até perceber que pode respirá-lo como se fosse o ar de todo dia.)
...E assim o pequeno Milo foi sendo levado pela correnteza feroz. Cada vez mais para o fundo, para o fundo, para o fundo terrível... O fundo até parecia não querer ter fim. Mas como quase tudo tem, o fim do fundo também chegou. E Milo pôde então colocar sua cabeça toda pretinha para fora daquela “água” monstruosa e assustadora, agora já calma e límpida. O FIM DO FUNDO É O INÍCIO DE UM OUTRO MUNDO. E o outro mundo começava para Milo na forma líquida de uma enorme lagoa, onde qualquer um podia nadar sem se afogar. Ele era prova real disso. E por isso mesmo, seu pavor diluiu-se em medo e o medo ficou apertado-escondido em seu coraçãozinho pulsante. MILO TEM SOPRO NO CORAÇÃO. “Nada grave!” -- disse o médico do Postinho de Saúde. “Isso é que é uma lagoa super enorme!” – pensou Milo. Milo nadou, nadou, nadou... mas não conseguiu sair do mesmo lugar. E assim o seu medo voltou a ser pavor de ficar ali para sempre até morrer. MENINOS DIFICILMENTE MORREM EM LAGOAS MÁGICAS. Há sempre uma saída, uma ajuda que vem quando menos se espera por ela ou, até mesmo, quando mais se espera por ela também.
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APARENTANDO TERROR INDESCRITÍVEL, a “salvação” de Milo veio na forma de uma gigantesca cobra luminosa, trinnnnnnnnnnnnnnnnnnnnnnnnnnnta metros de comprimento, deslizando ligeira pela água, em sua direção. Milo se desesperou, mas não deu tempo para se desesperar mais... a Grande Cobra de Luz já estava junto dele e num bote engoliu todo o seu corpinho. Milo manteve-se conscientremendo dentro da bocarra do imenso réptil. Rezou para um santo seu e de sua mãe... e ficou ali bem quieto, o mais que pôde. Com muito medo também daqueles enormes dentes pontiagudos... UMA CUSPIDA DA COBRA LANÇOU MILO EM TERRA FIRME. Milo não se machucou. A grande quantidade de gosma que veio junto com ele amorteceu a queda. O problema agora era se livrar daquela coisa viscosa e colante. Milo pensou em se limpar com a própria camiseta, mas ela estava toda melecada também. Uma alternativa foi se esfregar na grama e depois usar uma grande pedra para se libertar daquele nojo... Milo sentiu-se então forçado a retornar até a lagoa (a Grande Cobra de Luz já havia sumido) e lá, bem na beirada, tomou um bom banho demorado de mais ou menos dois minutos (isso segundo a idéia de Milo em se tratando de banho demorado). No céu acima de uma colina, rojões e fogos de artifícios passaram a indicar o caminho que Milo devia seguir (já que ele não tinha a mínima idéia de onde estava e nem, é claro, a mínima idéia para onde ia). DE ACORDO COM ALGUNS MAGOS, BRUXOS E ATÉ PSICÓLOGOS, FOGOS DE ARTIFÍCIO NÃO SÓ ACALMAM COMO “ENFEITIÇAM” OS OLHARES E O CORAÇÃO DAS CRIANÇAS. Subindo a colina, Milo ia pisando um suave tapete de mini-girassóis que instantaneamente nasciam-cresciam sob seus pés descalços. Infelizmente o que havia além do topo da colina não era nada agradável, principalmente para os olhos de um menino de seis anos.
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Mas Milo não era um menino qualquer de seis anos. A vida no Morro Paraíso deu-lhe alguns anos a mais. Cinco no mínimo. Milo de seis tinha pelo menos onze. Não faz nem um ano que a polícia entrou no barraco e matou seu pai com vinte tiros. O sangue sujou até as panelas no fogão... -- Mas esse cara é inocente? -- comentou um dos policiais envolvidos na operação. -- Enganos acontecem! Vamos ter que sujar a barra desse pobre desgraçado pra limpar a nossa! – analisou um segundo, enquanto um terceiro já colocava o pacote de cocaína junto ao corpo ensangüentado... TODO
FAVELADO
JÁ
NASCE
CULPADO
MESMO
SENDO
INOCENTE. Milo já nasceu culpado também. A Injustiça Oficial o condenou à morte por fome, frio, fogo no barraco, balas perdidas... e por tantas outras drogas de coisas. Mas Milo insiste em viver, assim como seus outros dois irmãos. A MÃE MARIA LAVA ROUPA PARA FORA. Milo já viu até um homem pendurado-enforcado perto de sua “casa”. A VIDA NA FAVELA TEM CHEIRO E GOSTO DE MORTE, MAS TEM VIDA TAMBÉM. MUITA VIDA. VIDA SOFRIDA E TEIMOSA. CHEIA DE PEQUENOS MILAGRES. Mesmo já tendo experimentado tantas tragédias e coisas ruins, Milo e seus olhinhos de jabuticaba ficaram “boquiabertos” diante da visão aterradora que se seguiu. Além da colina e abaixo dos rojões e fogos de artifício, uma imensa PLANTAÇÃO MACABRA (nunca imaginada, nem mesmo pelos maiores escritores de histórias de terror) perdia-se de vista... Eram quilômetros de extensão para todos os lados... As árvores estavam todas secas, curvas e tenebrosas. Cada uma delas trazia como fruto pelo menos um cadáver enforcado...
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Milo se aproximou e ficou parado diante da primeira árvore... Pensou na mãe, nos irmãos. E, por um instante, viu o rosto deles nos crânios dos esqueletos pendurados. DOEU... Mas foi só um instante. E Milo continuou andando... A árvore seguinte apresentava dez grandes cachorros brancos enforcados. Cachorros-ursos. Ou melhor dizendo, cachorrursos. “Por aqui deve ter gente muito ruim também!” -- pensou ele. UMA MISTURA DE MEDO TEMPERADO COM ALGUMAS PITADAS PICANTES DE CURIOSIDADE O FIZERAM CONTINUAR ANDANDO... A terceira árvore, até agora a maior de todas, trazia inexplicavelmente um dragão vermelho (tamanho médio de 20 metros) enforcado e cheio de correntes por todo o corpo. E isso era algo por demais estranho, já que dragões (por serem criaturas mágicas poderosíssimas) não se deixam pegar assim para serem enforcados igual a pessoas, animais e outras criaturas... Ainda mais um terrível dragão vermelho. O mais selvagem de todos, temido pela sua incrível rajada de fogo... Entretanto, pensando melhor, sua grande fraqueza é ser confiante demais em si mesmo, menosprezando qualquer adversário. E aí o seu ego é capaz de fragilizálo enormemente... Bem, mas isso não interessa aqui. Afinal, Milo nem sabia muito bem o que era um dragão. Tal palavra ainda não aparecia muito clara em seu minúsculo dicionário-pessoal-falante. “Que bichão! Será que não é o capeta? Mas se for... Não, não pode ser. Ninguém consegue enforcar o tinhoso assim!” -- pensou ele. A quarta árvore seca mostrava alguns super-homens pendurados. As roupas características não deixavam dúvidas na sombra. Muito menos os cabelos preto-gel. “Um... dOis... trÊs... quaTro... cincO... Seis... sEte! SETE SUPER-HOMENS!!!” Os olhinhos de Milo não queriam acreditar. Justamente o seu super-herói preferido.
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“E eu que pensava que o super-homem era um só... Nem podia mesmo. Para estar em tantos lugares ao mesmo tempo! Talvez tenha muito mais ainda! Será que enforcaram eles todos? ” Milo continuou andando pelo grande cemitério de árvores e enforcados. Seus olhinhos-jabuticaba procuravam agora entre tantos e tantos e tantos cadáveres outros super-homens. “No gibi e na televisão nunca enforcaram o super-homem!” Milo passou por muitas e muitas outras árvores e por centenas e centenas de outros corpos pendurados... Até artistas e estrelas de cinema haviam sido enforcados. Um baixinho musculoso, quase anão, se parecia um pouco com o ator Van Damme, mas Milo não tinha certeza. A maioria dos corpos já estava em estado de decomposição adiantado. Alguns pedaços haviam até caído no chão. Entretanto nenhum cheiro de podridão insuportável contaminava o ar e os narizes que passassem por ali. A PIOR MORTE É AQUELA QUE NÃO DEIXA (MAU)CHEIRO. Passada de boca em boca através de séculos de escuridão, uma lenda medieval conta que uma raiz especial nasce da terra bem onde escorrem os líquidos de um enforcado. Duas pessoas apaixonadas que comerem de tal raiz ficarão juntas e felizes para sempre. E para sempre aqui quer dizer para a ETERNIDADE, muito além da vida. Muito além da vida e de todas as mortes... Mas retornando ao pequeno Milo, antes que ele continuasse sua “visita” pelo “cemitério”, uma inusitada bola de ovelha, ou melhor dizendo, uma bola de lã veio rolando em sua direção... E só parou de rolar quando já estava bem próxima dele, mais precisamente trinta centímetros. NO MÍNIMO A BOLA DAVA “TRÊS MILOS” DE ALTURA. Milo tocou curioso naquela lã macia. Nunca havia visto algo parecido. Uma bola tão grande e tão fofa! “Isto sim é que é um bolão!” -- pensou ele. E Milo já imaginou aquela bola fofa sendo chutada pelos jogadores em uma partida de futebol. “Ia ser muito engraçado!”
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E Milo riu imaginando os jogadores chutando a bola e a bola não saindo do lugar. E então saindo e rolando por cima de alguns outros jogadores e... MILO RIU ENQUANTO TODOS OS ENFORCADOS MANTINHAM-SE “ABSURDAMENTE SÉRIOS”. As mãozinhas de Milo continuaram acariciando a bola fofa de lã e os seus pés foram contornando o “brinquedo gigante”. “Talvez até more alguém dentro!” -- pensou sua fértil imaginação de menino. MILO ENCOSTOU A ORELHA NA BOLA MACIA. A bola por dentro era uma barriga roncadora. Roncadora de fome ou roncadora porque comeu demais ou ainda roncadora porque simplesmente gostava de roncar. Talvez roncar fosse a sua língua, a sua fala do dia-a-dia. Milo pensou apenas em uma das possibilidades, já que para ele roncar significava simplesmente: FOME. -- Jogue as tranças, Rapunzel! Jogue as tranças, Rapunzel! – gritou uma voz feminina lá dentro da bola de lã. Gritou e depois se calou definitivamente. SERÁ QUE A BOLA RESOLVERA SE TRADUZIR OU...? Milo não entendeu nada. Talvez seus ouvidos tivessem ouvido demais. Talvez seus ouvidos estivessem pregando uma peça nele. LOUCOS OUVIDOS EM UM MUNDO ONDE OS OLHOS TAMBÉM PARECIAM TER ENLOUQUECIDO. A bola de lã continuou sua tarefa de roncar... “Pelo jeito, ela está mesmo é com dor de barriga!” Mal Milo terminou a frase-pensamento e a bola de lã já foi se abrindo toda em carne viva, feito uma rosa gigante... As roncações pararam e dois longos e fortes braços-mangueiras-de-bombeiro (acompanhados de duas respectivas mãozonas) saltaram ZUMMMMP daquele vermelho sangrento, agarrando o pequeno Milo e puxando-o rápido para dentro.
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Em seguida, a rosa de carne foi se fechando, se fechando, até desaparecer por completo, ou melhor, até ser toda “chupada” pela bola de lã que passou novamente a rolar e rolar e rolar por entre as árvores secas cheias de enforcados... E rolou quilômetros... até muito além do Cemitério Maldito. Milo ficou feito feto no útero da mãe. Tudo bem que aquele monte de carne quente apertando seu corpinho subnutrido não tinha o mesmo conforto. Ainda mais rolando daquele jeito... Milo respirava agora através de um tipo de cano-de-tripa que havia se grudado feito máscara em seu nariz. UMA MÁSCARA DE CARNE PARA SE RESPIRAR O AR MORNO DA VIDA. Milo estava na mais completa escuridão molhada... cheio de vários medos imaginários... Em parte, sentia-se comido feito um pedaço de carne, dentro da barriga do MONSTRO-BOLA-DE-LÃ... Mas o fato de estar respirando dava-lhe quase a certeza de que não seria simplesmente digerido por aquele bichão macio... O QUE SERÁ QUE A BOLA DE LÃ IRIA FAZER COM MILO? A possível resposta foi interrompida por uma flechada... e duas... e três... e quatro... e cinco... Milo ouviu gritos horríveis de dor. Era a bola de lã... -- Calma! Calma! Calma! Quem estiver aí dentro!... Não se preocupe! Eu já vou salvá-lo. E uma espada foi cortando-abrindo a grande bola fofa. -- Um menininho pretinho?! Venha aqui, meu menino! Eu prometo que nunca mais vão fazer isso outra vez com você... Maldito Marvin e toda a sua imensa corja! Milo abriu os olhos... Estava sendo seguro no ar pelas mãos de um grandalhão truculento. Aos poucos foi lendo seu rosto barbudo, seu bigodão, seu narigão, seus cabelos loiros penteados para traz, sua camiseta-armadura-dourada, sua mochila de arcos e flechas, sua calça de couro peludo, sua espada já novamente na cintura, suas
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botas de aço escovado... e suas duas tranças que se arrastavam loooonnnngamente pelo chão... CADA UMA DEVIA TER NOVE METROS DE COMPRIMENTO... Muitas vezes o grandalhão já fugira das terríveis cadeias para bruxos usando tal “dispositivo técnico”. -- Pobre menino assustado! Não tenha medo! Eu não vou te fazer mal nenhum! Estou aqui para te ajudar... Pode me chamar de Rapunzel. Bruxo Rapunzel, ao seu dispor! Milo ficou com medo da palavra bruxo e começou a se espernear... E toda vez que Milo ficava com medo, as palavras simplesmente deixavam de sair de sua boca... -- Calma! Calma, garoto! Eu já te coloco no chão! Milo sentiu-se melhor em terra firme... E O MEDO FOI EMBORA LEVADO POR UMA BRISA SUAVE. -- Você está precisando de um bom banho, garoto! Rapunzel então estalou os dedos das duas mãos e uma cachoeira de água morna começou a cair sobre Milo. -- Acho que só água não vai resolver o seu problema. Mais um estalo de dedos e cinco pequenas fadas de vinte centímetros cada apareceram com grandes esponjas, sabão e pétalas de flores cheirosas... -- Vamos lá, garotas! Esse menino está precisando é de um bom banho! E pelo jeito não é de hoje! E que banho! Com certeza o mais divertido de todos. O mais mágico de todos... E o pequeno Milo peladinho nem ficou com vergonha das “garotas”. As fadas ainda fizeram o papel de secador-de-cabelo. Aqui no caso, secadorde-menino-inteiro... Milo gostou muito de ser assoprado daquele jeito. Até riu. -- Agora você está precisando de roupas novas! – observou o bruxo Rapunzel, que de bruxo cara não tinha nada. Parecia muito mais o João Grandão, amigo inseparável do histórico e lendário Hobin Hood (tirando as longuíssimas tranças, é claro).
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Mais um estalo de dedos e Milo se viu magicamente vestido com roupas de um dourado supremo... “Tudo isso pra mim?!” – pensou ele admirado, passando as mãozinhas no tecido macio e brilhante. -- Há de causar inveja aos reis! Com certeza! – comentou alegremente o bruxo Rapunzel. Os olhinhos de jabuticaba agradeceram com um brilho de estrelas, procurando ainda pelas fadas que, nesse espaço de tempo, já haviam sumido aos olhares humanos... Ou melhor dizendo, as pequenas fadas haviam simplesmente retornado ao seu quase microscópico tamanho corriqueiro. FADAS-PULGAS NAS TRANÇAS DE RAPUNZEL.... Dando prosseguimento aos fatos, Rapunzel ASSOBIOU para que o seu cavalo alado invisível “aparecesse”... E ele apareceu. Apareceu invisível. Explicando melhor, apareceu sem aparecer. Ou seja, surgiu ali, sem poder ser visto pelos olhos comuns. Mas o seu relinchar e os seus cascos pisando e repisando o chão não deixavam dúvidas. -- Puxa, Silver, desta vez você demorou cinco segundos para se fazer presente. Você está ficando muito lento. Eu diria que lerdo é a palavra mais adequada... Que isso não se repita. Você já pensou se fosse algo urgentíssimo. Um segundo pode valer ouro. Em um segundo muitas coisas acontecem para o bem e para o mal. Em cinco então nem se fala... Possivelmente Silver deve ter baixado a cabeça diante do PITO de Rapunzel. POSSIVELMENTE, já que Silver nunca se deixou ver por ninguém, nem mesmo por sua mãe ao nascer. Não se sabe como Rapunzel conseguiu domesticá-lo. Não se sabe como Rapunzel conseguiu fazer isso, sem nunca enxergar Silver. HÁ COISAS QUE NÃO PRECISAMOS VER PARA SABER QUE EXISTEM. AFINAL, SENTIR É MUITO MAIS DO QUE VER... -- Venha, Milo! Você agora vai conhecer o mundo lá das alturas! Rapunzel pegou o menino e, num salto, montou em Silver que, imediatamente, saiu voando...
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Para maior e total segurança, as duas tranças (que também eram mágicas) se enrolaram no “garoto”. É estranho ver duas pessoas galopando em um cavalo invisível. Talvez a palavra mais apropriada para descrever tal cena seja: engraçado, muito engraçado... Rapunzel e o pequeno Milo cavalgando no “nada”... indo até quase junto às nuvens. Rapunzel levou o garoto rumo norte... ATÉ UMA “PLANTAÇÃO” DE CASTELOS. -- Garoto, Estamos na Marvinlândia... Eta nome ridículo e sem criatividade alguma! Mas não se podia esperar outra coisa mesmo. Os reis, em noventa e nove por cento dos casos, são ridículos. Assim como o poder que emana deles. AOS POUCOS OS IMPONENTES CASTELOS FORAM SE FAZENDO NÍTIDOS E CADA VEZ MAIORES AOS OLHINHOS DE JABUTICABA. E havia castelo de vários tipos e materiais: Castelo de Pedra Castelo de Aço Castelo de bambu Castelo de Vidro E OLHA A DISNEYWORLD ATRÁS DE UM DELES! Castelo de Bronze Castelo de Prata Castelo de Ouro Castelo de Conchas Castelo de Rubis Castelo de Diamantes Castelo de gesso Castelo de areia Castelo de enigmas. E pasmem! Até um castelo de água. Sim, isso mesmo. Um grandioso castelo de água. Com paredes de água, torres de água...
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A água descendo e subindo e ao mesmo tempo toda concentrada como se fosse de concreto-vidro-mexente. Água que não molha. Água impenetrável. COISAS DA MAGIA. CASTELOS PARA TODOS OS GOSTOS, principalmente para os gostos mais extravagantes. Muitos com formas inusitadas: Castelo-chapéu Castelo-guarda-chuva Castelo-tênis Castelo-relógio Castelo-moto Castelo-avião Castelo-garrafas Castelo-telefone Castelo-revólver Castelo-pé Castelo-mão Castelo-crânio Castelo-caixão-de-defunto Castelo-cemitério. ULTIMAMENTE, o rei Marvin tem estado muito mórbido e mais cruel do que nunca. Agora além de praticar suas MALDADES costumeiras: “Cortem as cabeças!” “Enforquem duzentos!” “Jogue ele no poço de piche!” “Matem todos os...!” ... O rei Marvin fica inventando castelos. Um mais tenebroso que o outro. Coitados dos seus oitocentos magos-de-plantão. Não param um segundo sequer... TUDO PARA SATISFAZER AS VONTADES DO REI. E pensar que até pouco tempo, Marvin era um menino muito gente boa. É incrível como o poder muda as pessoas e as criaturas em geral! E infelizmente não para melhor...
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Rapunzel não poderia ficar com Milo por muito tempo. Escondê-lo naquele mundo ali não seria nada fácil. Afinal o TODO PODEROSO REI MENINO DOS CABELOS VERDES tinha muitíssimos espiões, além de pedras delatoras, árvores fofoqueiras e até nuvens “língua solta”... ASSIM O REI MARVIN TORNARA-SE QUASE ONIPOTENTE EM SEU REINO. Enquanto Milo olhava admirado para tudo lá embaixo, Rapunzel Preocupado tentava encontrar uma saída... “Onde foi parar aquele maldito portal-túnel-redemoinho que ficava mais ou menos por aqui?” -- pensou ele. Nem mesmo um mago (Merlin poderoso) conseguiria sair do Reino de Marvin sem utilizar um dos seus três portais. “Maldito Marvin e toda a sua imensa corja! O que será que esse rei ordinário e metido à besta quer com um garotinho?” -- continuou pensando Rapunzel. À NOITE JÁ COMEÇAVA A CAIR NA MARVINLÂNDIA (e quando caía, caía sempre de acordo com a vontade-disposição do Rei. Por isso mesmo era difícil de prever. Às vezes começava às 18 horas, outras vezes às 20. Depois do almoço, isso quando Marvin almoçava, a noite sempre era obrigada a cair para que ELE pudesse dormir na paz da mais completa escuridão. NENHUM BARULHO ENQUANTO O REI ESTIVER DORMINDO!!! Rapunzel Preocupadíssimo não sabia mais o que fazer para tirar o “garoto” daquele lugar perigoso para garotos de seis anos. Á NOITE, BOLINHAS FLUTUANTES DE LUZ ESPIONAVAM OS LUGARES. Nenhum súdito conseguia viver tranqüilo. Os atos estavam sempre sendo vigiados. Ninguém podia ser verdadeiro, se a verdade contrariasse os desejos do Rei... FINGIR ERA A ÚNICA FORMA DE SOBREVIVÊNCIA. Quem ousasse entrar em desacordo com as milhares e milhares de normas e leis acabava no Cemitério dos Enforcados ou...
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Os “finos” ouvidos de Rapunzel já sabiam que em muito breve o REI estaria em seu encalço... Bem, não ELE em pessoa e maldade, mas parte de seu medonho exército maquiavélico, composto por porcos-azuis-voadores-de-uma-tonelada-cadaum, alguns super-homens zumbinados e muitos cavaleiros alados com pesadas armaduras de aço. CENTENAS DE ASAS DE AÇO NO CÉU... DUAS DISTANTES VOZES FOFOQUEIRAS NO CHÃO : --Vamos até o Rei! --Mas fui eu que vi antes! --Não importa! Nós dividimos a recompensa! --Mas fui eu que vi antes! --Tudo bem! Você fica então com cinquenta-e-um-por-cento e eu com quarenta-e-nove... --Mas fui eu que vi antes! --Tá bom, seu fominha! --Você fica com cinquenta-e-cinco-por-cento e eu com o resto! É pegar ou largar! --Então eu largo! --Larga é? E eu largo a minha super mão poderosa na tua cara chata! --Mas fui eu que vi antes!
PLAFT!!! --E agora??? Quem viu antes mesmo???
Nós vimos juntos!!! – observou a segunda voz, meio distorcida pelo
-tabefe.
--Então, como eu estava dizendo... Eu fico com oitenta-por-cento-da recompensa e você fica com vinte. Tá bom?
Mas, mas... você não estava dizendo bem isso!...
--
PLAFT!!!
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PELO JEITO A GANÂNCIA É TAMBÉM UM DOS TEMPEROS PICANTES DE MUITOS MUNDOS MÁGICOS ...
As duas vozes distantes se multiplicaram por dois, por três, por quatro... . QUARENTA E OITO VOZES CORRERAM ATÉ OS OUVIDOS DO REI. No Salão Oval de um dos castelos, lonnnnnga espera... Mais de duas horas E até que enfim Marvin ainda sonolento apareceu, entrando montado em um imponente trono voador: UMA CADEIRA DE OURO RUFLANDO DUAS SUNTUOSAS ASAS TAMBÉM DE OURO. -- Ajoelhem-se súditos! Será que vocês nunca aprendem! Esbravejou a voz metálica de um cavaleiro-armadura-dourada (para combinar com o trono do Rei). -- Agora lambam o chão! -- gritou ele. E todas as criaturas assim fizeram... Melhor isso do que virar sapo, grilo, besouro, ou ser decapitado, ou nadar no óleo fervente, ou morrer comido por terríveis “chuques-chuques” gigantes (também conhecidos por morceganhas). Ah! E como Marvin gostava daquilo tudo! Gostava de confirmar sempre que tinha o poder absoluto sobre tudo e sobre todos. Talvez a psicologia explique isso. Afinal o rei era ainda um menino de doze anos, orelhas de abano, cabelos verdes e uma inseparável mochila alada nas costas. Nada na aparência lembrava a maldade que habitava seu coração... -- Agora já chega! Podem levantar, seus decrépitos imundos! – sentenciou a voz, já aguardando a fala do Rei. --Mas o que vocês têm a me dizer, afinal? -- perguntou o Todo Poderoso Marvin em alto e bom som. E todas as criaturas começaram a falar ao mesmo tempo. Todas queriam ser a primeira a contar o fato. Todas queriam a recompensa... Cada uma delas carregava a certeza de que havia visto o bruxo Rapunzel voando-acompanhado de um menino pretinho. Cada uma delas dizendo que havia visto os dois em um lugar diferente... -- Calem a boca, seus imbecis-idiotas-incompetentes! Calem a boca, antes que eu, antes que eu...
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Sempre que o rei Marvin ameaçava com a expressão “antes que eu, antes que eu”, duendes, vampiros, super-homens, magos, estrelas e astros do cinema-etelevisão, bobos da corte, assim como outras criaturas começavam a tremer alucinadamente de medo. Alguns chegavam ao exagero de trincar os dentes ou as dentaduras. Deslocamentos de queixos eram mais do que comuns.. Unhas quebradas, cabelos ouriçados, chifres entortados... E outras coisas estranhas que acontecem quando se tem muito-muito medo. QUARENTA E OITO VOZES SILENCIARAM-SE. -- AH! Eu ainda pego esse Rapunzel e aí não vai sobrar nem mesmo um pedacinho dele pra contar histórias... RAPUNZEL
INVENTAVA
BOMBAS
MÁGICAS,
GRANADAS
MÍSTICAS, MÍSSEIS EXOTÉRICOS... Com tais artefatos já destruiu muitos castelos e outras construções aparentemente “indestrutíveis” do raivoso Rei Marvin, O TODO PODEROSO (segundo cartazes e “outdoors” espalhados por todos os cantos e não-cantos do reino). No Reino de Marvin, Rapunzel é mais conhecido como “BRUXO TERRORISTA”. “Eu sou o bem e ele é o mal! Ele é a doença e eu sou a cura!” – Marvin não se cansa de ficar repetindo frases deste tipo. Muito original ele, não??? QUEM
REPETE
MUITO
UMA
MENTIRA
ACABA
AINDA
ACREDITANDO NELA.
Ah! Ninguém recebeu a recompensa, já que nenhuma das informações levou a captura do INIMIGO-NÚMERO-UM DO REI E DO REINO. E Marvin para manter sua fama de mau (conquistada com muito empenho) ainda mandou esquartejar dez informantes. -- Joguem os pedaços por todo o reino!!! E GARGALHOU O REI.
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CAPÍTULO 2 O DUPLO “O meu descanso é a batalha.” (Dom Quixote De La Mancha)
-- Segure-se bem, Garoto! Esse era só o jeito-mania de falar de Rapunzel, já que Milo estava muito bem seguro-amarrado pelas suas longas tranças. -- Aí vem uma cambada de moscas gigantes de lata com suas bazucas defeituosas! MOSCAS GIGANTES DE LATA. Assim Rapunzel chamava os cavaleiros alados do Rei. Todos eles tinham o mesmo rosto gélido, as mesmas sobrancelhas-ninho-depassarinho, o mesmo narigão de gavião, a mesma careca roliça cheia de manchas pretas em forma de mapas. MAPAS DO REINO DE MARVIN. As mesmas asas pesadas e barulhentas. O mesmo esforço para voar. A mesma armadura com o rosto do Rei em alto relevo. As mesmas botas de couro de vaca malhada. Os mesmos olhos de rubi diabólico. -- Sfrontum trasmitrorim agrobum drunistrevis brangtum!!! Depois da fala, Rapunzel estalou cinco vezes os dedos da mão esquerda e uma bolha azul-transparente de proteção surgiu ao redor dele, de Milo e do invisível Silver. -- Agora eu quero ver só, essas moscas de lata... -- gritou Rapunzel, sentindo-se já todo vitorioso. As bazucas “defeituosas” começaram a atirar bolas coloridas de fogo. Algumas explodiam nos próprios cavaleiros que já se desintegravam... Mas a grande maioria delas conseguia lançar seu projéteis em direção ao alvo. VINTE POR CENTO ATINGINDO O ESCUDO AZUL. -- AHAHÁ!!!! Não estou sentindo nem cócegas, suas moscas idiotas!!! REALMENTE
O
ESCUDO-AZUL-TRANSPARENTE
ERA
INTRANSPONÍVEL. -- Agora tomem um pouquinho do próprio veneno, seus incompetentes!!!
EFICAZ-
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Dito e então feito, Rapunzel estalou novamente os dedos e as bolas de fogo que atingiam o escudo começaram a retornar aos seus donos. E assim os cavaleiros, ou melhor, as moscas de lata foram sendo desintegradas... Vinte por cento delas, é claro. RESTAVAM AINDA OS OUTROS OITENTA POR CENTO INSISTENTES. Fazendo melhor as contas, restavam, na verdade, setenta por cento já que o esquecimento atroz omitira os dez por cento dos cavaleiros desintegrados pelas bazucas “defeituosas”. Setenta por cento de cavaleiros-moscas continuavam sendo um número impressionante. Há pouco tempo, eles eram ao todo mais ou menos duzentos. O que dava agora, com os descontos, uns cento e quarenta. Cento e quarenta cavaleiros-moscas ao redor, abaixo e acima de Rapunzel... Resumindo: a situação estava, como se diz por aí, PERICLITANTE. APARENTEMENTE SEM SAÍDA. Mas quem disse que Rapunzel se intimidava com 140 “moscas”. Pelo seu olhar vivo e guerreiro, ele ainda “tinha muitas cartas escondidas na manga”. Talvez até um “coringa”. Quem sabe “alguns coelhos mágicos.” -- Promptum, redomistro, alredorum, zumpt!!! E a bolha-azul-transparente começou a girar e girar e girar... “Nada como um bom jogo de boliche aéreo!” – pensou Rapunzel. E a bolha-azul transparente voou feito um raio (“UAUU!! – gritou Milo) sobre sete cavaleiros-moscas estacionados no ar a uns trinta metros de Rapunzel.
Strike!!! A bolha-azul derrubou três deles que derrubaram os outros quatro... Sete cavaleiros-moscas caindo no chão de pedras assassinas. Acima, abaixo, à direita, à esquerda.... Novas investidas da bolha foram derrubando os outros cavaleiros-moscas..
Strike!!!
Strike!!!
Strike!!!
Strike!!!
Strike!!!
Strike!!! Strike!!! Strike!!! Strike!!! Strike!!! Strike!!!
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Strike!!! Strike!!! Strike!!! Strike!!! Strike!!! Strike!!! Strike!!! Strike!!! Strike!!! ...Até restarem apenas DEZ. DEZ “MOSCAS” FUJONAS NO HORIZONTE. CENTO E TRINTA “MOSCAS” MORTAS NO CHÃO. “Ah! Agora eu gostaria de ser um mosquito, só pra ver a cara do todo poderoso rei Marvin!” – pensou o sorridente Rapunzel, que ficou ainda mais sorridente (alegreretumbante talvez seja a expressão mais apropriada) assim que avistou um dos três portaistúneis-redemoinhos do Reino de Marvin. -- IIIUUUUPI! IIIUUUUUPI! VAMOS LÁ SILVER! AGORA NADA NOS DETÉM! IIUUUUPI! IIUUUUPI! Assim que entraram no túnel-portal, a bolha-azul-transparente se desfez e após um instantâneo clarão barulhento, os três já sobrevoavam o bairro onde Milo morava. Ainda era noite-madrugada na dimensão da Favela Paraíso. Milo cansado já dormia (amarrado-protegido pelas tranças). Com três estalos de dedos, Rapunzel “colocou” o “garoto” na cama. Mais três estalos e um saquinho com moedas de ouro mágico apareceram embaixo do travesseiro de Milo. E pensar que Rapunzel em momento algum perguntou pelo nome do ‘garoto”. Estranho, alguns podem achar. Para Rapunzel, nada mais normal. Afinal o que são nomes??? O seu próprio ele detestava. Já havia até se esquecido dele... O apelido Rapunzel só surgiu na fase adulta e este sim havia se tornado sua “marca registrada”. OS NOMES FORAM FEITOS PARA SEREM ESQUECIDOS. E QUE IMPORTAM OS NOMES, SE UM OLHAR SINCERO É O QUE BASTA?! O caminho de volta ao “detestável” Reino de Marvin não foi nada fácil de encontrar, já que o portal-túnel-redemoinho havia desaparecido. Portais são assim mesmo. Temperamentais e aventureiros. Gostam de ficar se escondendo e até fugindo... Ora estão aqui. Ora ali. Ora acolá... Nunca permanecem quietos
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por muito tempo em um mesmo lugar... Muitas vezes mudam de forma e tamanho... E fazem isso para confundir as pessoas e as outras criaturas que precisam urgentemente de um deles. No Reino de Marvin, os portais estavam proibidos de fugirem ou se disfarçarem de outras coisas. Assim decretou o Rei... Mas nenhum portal obedeceu... Afinal portais não foram feitos para serem domados feito um cavalo invisível ou coisa parecida...
Se pudesse, Rapunzel ficaria morando ali mesmo na Favela Paraíso. Pelo menos um bom tempo. Certamente era um lugar muito mais agradável e verdadeiro. Mas Rapunzel tinha uma missão. A maior missão de sua segunda vida: acabar com o facínora Rei Marvin. “Onde afinal foi parar esse portal fujão?” – perguntou o bruxo a si mesmo. Rapunzel vasculhou a Favela e nada... ALGUNS TIROS FURARAM SEU PENSAMENTO... Ainda bem que foi só o pensamento... -- Pare aí, seu moleque desgraçado, ou eu atiro!!! A voz seca de um policial, mal pago e mal amado, não conseguiu fazer o moleque obedecer. MAIS TRÊS TIROS... Ainda bem que o também favelado policial era mau de mira... Alguma coisa dizia a Rapunzel que o portal estava por ali mesmo. Mas ali onde? Eram tantos barracos espremidos uns contra os outros, uns sobre os outros.. Onde um portal iria se esconder naquela bagunça toda? Certamente Rapunzel não havia vasculhado aquele local o suficiente. Observara tudo por cima, montado no cavalo Silver... Afinal não queria ser visto e levantar alvoroços... Entretanto um olhar vasculhador mais cuidadoso se fazia necessário... O DIA JÁ ESTAVA ACORDANDO DE UMA NOITE MAL DORMIDA. Restava a Rapunzel uma única alternativa. Ficar invisível... Existem muitas maneiras de se ficar invisível. Usar uma capa mágica é a mais conhecida por todos, afinal são tantas as histórias que mencionam tal possibilidade... Mas além dessa, quem achar mais conveniente pode se ensaboar com o sabonete da
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invisibilidade ou tomar uma pílula especial inventada pelo médico dragão verde Elvis Presley ou ainda... Rapunzel só tinha uma alternativa. E ele se viu forçado a usá-la, deixando de lado todo o nojo que tal procedimento lhe dava... “Já que é para a salvação de um mundo monstruosamente perdido pela arrogância e prepotência e maldade propriamente dita, eu digo a mim mesmo que faço!” – pensou ele e fez... “URGT!!!”, passando a mão direita na boca invisível de Silver e catando de lá um pouco de sua baba mal cheirosa ... QUEM COME BABA DE CAVALO INVISÍVEL TAMBÉM FICA INVISÍVEL POR UM TEMPO... “Sorte que esta coisa nojenta não tem gosto de nada. URGT!!! Ou melhor pensando, tem gosto é de nojo URGT!!! Muito nojo!” Rapunzel teve então que se desfazer de sua camiseta-armadura-dourada, de sua mochila de arcos e flechas, de sua calça de couro peludo, de sua espada na cintura, de suas botas de aço escovado... Deu uma “tremenda dor no coração” jogar tudo aquilo fora... Sorte de quem achar as coisas do bruxo. Cada uma delas tem um pouco de mágica. Mas não é qualquer um que está preparado para usá-las... COMPLETAMENTE INVISÍVEL, RAPUNZEL PÔDE VASCULHAR MAIS TRANQÜILO TODO AQUELE LOCAL. Entrar nos barracos, só se ele descavalgasse do Silver... Mas Rapunzel estava com uma moleza tão grande naquele manhã que até parecia ter sido contaminado pelo espírito do índio Macunaíma (que quando vivo sempre dizia a todo e qualquer momento “Ai que preguiça! Ai que preguiça!”). Ou talvez tivesse sido mordido pelo minúsculo dragão beijaflor Tsé-Tsé-Tsu. De repente, meio escondido entre tantos e tantos barracos amontoados, um galpão com telhas metralhadas de furos lhe chamou atenção. -- Isso sim, eu quero ver de perto! Vamos lá Silver, desça, vamos! E Silver aterrissou... E Rapunzel finalmente desceu de Silver... -- Fique aqui quietinho! Por favor, não relinche e nem fique coçando seus carrapatos invisíveis!
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Silver a princípio obedeceu... Depois se cansou... Rapunzel entrou no galpão e ficou impressionado com o que viu... Havia ali dentro pelo menos uns quarenta vasos sanitários. Cada qual com sua cordinha de descarga vinda do teto... Nenhuma parede ou biombo os separava... Dez pessoas faziam suas “sólidas necessidades fisiológicas”. Quatro delas lendo velhos jornais de domingo... Cinco outras escovavam os dentes em cinco das 30 pias disponíveis. Outras sete tomavam o banho matinal em sete dos 20 chuveiros... “Já vi portal se esconder dentro de armário, em espelho, em caixão de defunto, em túmulos abandonados, em televisores... Até em geladeira... Mas será que???” RAPUNZEL VASCULHOU OS VÁRIOS VASOS SANITÁRIOS VAGOS... “É incrível como tem criaturas porca por esses mundões! Esse aqui não teve a displicência de puxar a descarga!... E o que esteve aqui também não!!!” Somente no último vaso, o bruxo encontrou o fujão portal-túnel-redemoinho, rodopiando agora minúsculo na água do sanitário. Igual no filme “Trainspotting – Sem Limites”, Rapunzel mergulhou também na privada apertada... E já em uma outra dimensão líquida, trancou a respiração e nadou um pouco em águas semi turvas iluminadas pelos raios de um pseudo-sol amarelo que se apagaria um pouco mais tarde... Assim que colocou a cabeça fora d’água, Rapunzel já estava visível e nu no esgoto fedorento do Reino de Marvin, onde cabeças de lobisomens e de outras criaturas flutuavam próximas de seu corpo. NÃO HÁ MÁGICA CAPAZ DE SE LIVRAR DOS ESGOTOS... “Xiii!!! Esqueci do Silver!!! E agora???” ....................................................................................................................................... Mais de quinhentos moradores deixaram a favela desde que Silver ficou morando por lá. -- Este lugar está cheio de fantasmas! -- comentou um dos moradores. -- Não fico aqui nem mais um dia! -- completou outro.
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-- Eu não acredito em fantasmas, mas que eles existem, existem! – observou um velho cego de bengala e óculos vermelhos de acrílico trincado. AS RECENTES PERIPÉCIAS DO CAVALO INVISÍVEL SILVER NA FAVELA PARAÍSO DARIAM COM CERTEZA UM LIVRO DAQUELES E, TALVEZ, ATÉ UM BOM FILME CHEIO DE EFEITOS ESPECIAIS... Voltando a Rapunzel, ele agora precisava de roupas, de armas mágicas, de um disfarce... Nada que alguns estalos de dedos não resolvessem. Mas ele também precisava de um PLANO. UM NOVO PLANO. Já que os vários anteriores não conseguiram destronar o Rei Marvin (apenas o incomodaram um pouco). Alguns estalos de dedos e Rapunzel já estava todo vestido e armado. Pulandoandando sobre as cabeças de lobisomens e de outras criaturas que flutuavam naquela água podre sob um céu de concreto. O esgoto do reino de Marvin passava embaixo de alguns de seus muitos castelos. Um esgoto-rio cheio dos detritos de seus caprichos, cheio da poluição de sua alma maldita. Mas voltando novamente a Rapunzel, este agora precisava de um plano... Enquanto pensava e pensava... uma enigmática máquina-de-cortar-cabelos, animada por telepatia a distância, ia cortando-raspando sem dó todo o cabelo verde do Rei Marvin (que dormia seu sono profundo)... ASSIM QUE O REI FICOU CARECA, O SEU REINO DESAPARECEU... Todos os castelos. Um por um. A Disneyworld. Todos os milhões de súditos. Os guardas-reais. Os porcos-azuis. Os magos. As montanhas. As planícies. O deserto. O Cemitério de Enforcados... Marvin estava agora sozinho, deitado sobre a grama-coceira em um lugar qualquer... SEM MOCHILA COM ASAS SEM FÓSFOROS MÁGICOS SEM ROUPA ALGUMA... E ainda meio tonto não ganhara idéia do que lhe acontecera. Rapunzel não tinha nada a ver com isso. Ah, mas bem que ele gostaria... Mesmo nu e completamente só em um deserto, Marvin pensava ser ainda o REI. Aquela situação ali certamente era passageira... Alguma bruxaria feita por engano e que havia caído sobre ele. Em muito breve, a sua guarda-real iria aparecer para protegê-lo e
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continuar realizando os seus mimos. Em muito breve, os magos do REI iriam descobrir quem fez aquilo tudo e o culpado ou culpados pagariam com a própria vida. De repente, um som forte e abafado chamou atenção de seus ouvidos... DIRETO DE UMA DAS DIMENSÕES MACABRAS, um exército de cem mil esqueletos (montados em cem mil cavalos-esqueletos) vinha violentamente veloz, cavalgando na direção do rei que não era mais rei coisa alguma. MARVIN JÁ OUVIA OS GALOPES DE OSSOS, mas ainda não sabia do que se tratava... Só sabia que boa coisa não era... Queria correr, mas se sentia muito fraco para isso... Em pouco tempo, mais precisamente trinta segundos, Marvin começou a visualizar a ossuda morte ambulante... SE FICAR OS OSSUDOS PEGAM, SE CORRER OS OSSUDOS... Com a aproximação do EXÉRCITO DO MAL, o medo de Marvin ficou amarelo de pavor para, já em seguida, avermelhar-se de terror... O TERROR TEM A COR DE VERMELHO-SANGUE MESMO QUANDO NENHUMA GOTA DE SANGUE ESCORRE DE SUA VÍTIMA. E então Marvin gritou... Gritou o mais alto que pôde. Gritou clamando por um fósforo mágico que funcionasse de verdade, livrando-o assim da morte certa. A princípio ninguém ouviu... NENHUM DOS SEUS FÓSFOROS MÁGICOS APARECEU... MAS QUANDO TUDO JÁ PARECIA IRREMEDIAVELMENTE PERDIDO (ALGUNS CAVALOS-ESQUELETOS JÁ ESTAVAM A MENOS DE CEM METROS DE MARVIN), EIS QUE A MOCHILA COM ASAS APONTOU NO CÉU AZUL, VOANDO DESESPERADAMENTE LIGEIRA EM SUA DIREÇÃO... No que chegou até Marvin, a mochila toda nervosa-atrapalhada tentou se colocar em seu corpo. Das outras vezes tinha sido tão fácil. Mas agora, ela não conseguia... E isso só fazia o desespero aumentar... Marvin tentou ajudar... e nada... Os esqueletos em seus cavalos esqueletos aceleraram ainda mais o galope e Marvin foi ENGOLIDO PELO INFERNO OSSUDO. Atropelado por um e por outro e outro e outro e outro e outro... O gramado virou terra comida...
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De Marvin e da mochila com asas não restou nada para contar história... E A IMENSA LEGIÃO DE ESQUELETOS CONTINUOU O GALOPE OSSUDO RUMO NORTE... DESAPARECENDO ALGUNS QUILÔMETROS À FRENTE.
DIFERENTE dos milhões de súditos, Rapunzel não sumiu junto com o Reino de Marvin. Afinal ele não pertencia mesmo àquele mundo. Estava apenas de passagem, cumprindo sua missão encomendada por uma MISTERIOSA CRIATURA DENTRO DE UMA CAIXA PRETA AMBULANTE: “Pagamento metade no trato e metade nos finalmentes!” – disse a voz abafada de dentro da caixa que tinha mais ou menos dois metros de altura por sessenta centímetros de largura e setenta de profundidade.
Quando o Reino de Marvin desintegrou-se no nada, automaticamente Rapunzel retornou ao seu antigo LAR, sem ficar sabendo ao certo o que acontecera... “BEM agora que eu estava quase conseguindo derrotar o cretino do Marvin! (pensou Rapunzel, tentando enganar a si mesmo) Mas eu não vou desistir! E nem posso. Ainda pego esse reizinho metido a besta! Sinto isso em minhas veias.
METEOROLOGIA: “Em toda a região de Chaventus teremos chuva de sapos... Em Reviravoltei ventos fortes trarão tempestade de escorpiões e depois uma ligeira neblina de teia de aranha.”
Rapunzel morava em Chaventus e detestava as chuvas de sapos (já que geralmente ele era obrigado a engolir alguns).
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Poucos ficaram sabendo e depois já foram eliminados por saberem... mas A GRANDE TRAGÉDIA DO MENINO REI MARVIN começou no dia em que, cansado de tantas atribulações reais, ele resolveu encomendar um pedido especial a um de seus magos mais atuantes:
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-- Alian Thor! – disse Marvin Olheiras – Eu quero que você faça um outro de mim. Um sujeito idêntico a mim para dividir comigo este reino e assim eu poder descansar pelo menos cinqüenta por cento do meu tempo. -- Seu desejo é uma ordem que não se discute, meu Rei! Em sete dias Vossa Majestade terá um duplo seu para ajudá-lo nas atribuições reais mais desgastantes. -- Mas demora tanto assim? -- Coisa bem feita leva tempo. Ainda mais para se fazer um Rei tão perfeito como Vossa Majestade! PUXA-SACO-BABA-OVO TEM MESMO EM QUALQUER LUGAR. E então o encorpado-baixinho-bigodudo Alian Thor pegou sua BOLHACICLETA 5.000 CILINDRADAS e partiu num “zapt”, em direção à Dimensão do Pântano Vermelho... De lá ele trouxe quarenta e oito quilos de barro-moreno-para-se-moldar-menino-rei. Nesse até então curto período de reinado, Marvin havia engordado três quilos, apesar de raramente fazer uma refeição substanciosa. PREOCUPAÇÕES (REAIS)TAMBÉM ENGORDAM... Em um dia de trabalho, o mago Alian Thor moldou um Marvin idêntico ao original. E com mais alguns ingredientes do próprio rei: - Mecha do cabelo verde; - Trinta gotas de sangue; - Cueca suja de uma semana; - Meleca de nariz; - Cera de ouvido; - Lascas de unhas; - Uma boa escarrada real... ALIAN THOR DEU PROSSEGUIMENTO A SUA CRIAÇÃO MAIS ESPECIAL. Deixando de reserva a cueca de sete dias e as gotas de sangue, o mago colocou todos os outros ingredientes em um abertura bem na testa do futuro duplo do Rei. Tampou então tudo meticulosamente com barro... O sangue, ele pingou gota-a-gota no local onde deveria ficar o coração do Marvin de barro... E a cueca, por enquanto, parecia não ter destino certo...
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-- Sim, agora vamos para a próxima etapa! Por favor, Vossa Majestade, coloque sua real mão direta bem onde eu pinguei o sangue. É aí que o coração do seu duplo irá logo, logo pulsar... E O REI MARVIN ASSIM FEZ... Imediatamente, uma grossa luz verde começou a escorrer de sua mão real, como se fosse líquido espesso, deslizando por toda a superfície do corpo de barro. O Rei Marvin levou um susto assim que o seu duplo começou a se mexer. -- Por favor, Vossa Majestade, mantenha sua mão real aí! A luz verde foi sendo absorvida pelo corpo de barro que deixou de ser de barro para se tornar carne, ossos, sangue, artérias, músculos, cartilagens, ácidos, aminoácidos... -- Isso é tudo??? – perguntou o rei eufórico e ao mesmo tempo abismado com a experiência mágica. -- Bem, agora vem a parte mais importante, Vossa Majestade! Para que o seu duplo realmente seja seu duplo, ele precisa receber toda a sua memória. E isso vai levar alguns dias... -- Mas e eu? Como fico eu sem a minha? -- Não, Vossa Majestade, a sua memória vai permanecer intacta. Apenas uma cópia dela irá para o cérebro de seu duplo. A coisa funciona mais ou menos como um arquivo de computador. Você transfere as informações para outro, mas o original continua mantendo todas as informações também. -- Claro, Claro! Burrice a minha! Ou melhor, receio... -- Por favor, Vossa Majestade, beba esta poção à base de tingue-lingue com mandrágora. -- Primeiro eu quero saber pra que isso? -- Vossa Majestade dormirá alguns dias. Apenas os dias necessários. E nesse tempo o seu duplo irá receber todo o imenso arquivo de sua memória. Desde o seu nascimento até agora... O Rei Marvin fez uma cara de que não queria ficar assim tanto tempo “distante” de seu Reino. Alian Thor percebeu... -- Não se preocupe, Vossa majestade! A Marvinlândia será muito bem cuidada durante os próximos dias.
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“É disso que eu tenho medo!!” – pensou o Rei. -- Infelizmente até o momento não existe outra maneira de se fazer um duplo. Pelo menos, eu não conheço... Talvez daqui algum tempo, um mago alienista descubra “eureka!” um outro jeito mais simples e acabe passando sua receita... Mas por enquanto... -- Tudo bem! Já que não tem outro jeito! Vamos lá! O Rei Marvin bebeu então toda a poção da taça de ouro real e em poucos segundos já estava sonolento. EM UM MINUTO RONCAVA PROFUNDAMENTE EM SEU TRONO... E assim ele deveria ficar pelas cento e quarenta e quatro horas seguintes... Com um caminho de luz saindo pelos seus ouvidos reais em direção aos ouvidos ainda não reais de seu duplo. A MEMÓRIA DE MARVIN ERA AZUL. Alian Thor supervisionava atentamente o loooooooooooonnngo processo... Mas como ninguém é de ferro, nem mesmo um mago, às vezes, ele cochilava... dormia... e até roncava de babar... Justamente em uma dessas “distrações involuntárias”, Marvin teve o seu destino tragicamente alterado por um insignificante “diablo loco”. Segundo o Grande Dicionário de Pequenos Insetos Mágicos, escrito por Merlin Nostradamus, “diablo loco é um minúsculo besouro azul-metálico que tem por costume viajar pelos Mundos grudado nas roupas, pêlos e cabelos das criaturas... Diablo loco recebeu tal nome devido aos dois chifrinhos próximos dos olhos e, também, pelo fato de voar de forma nada sincronizada para os padrões daqueles que voam. Em alguns lugares ele é também conhecido como besouro pinguço.” O problema é que o tal do pequeno besouro, aparentemente inofensivo, havia sido enfeitiçado pela bruxa Cibalena para ser usado em uma TERRÍVEL POÇÃO DE ÓDIO INFINITO. Mas o bichinho conseguiu fugir antes de se tornar um dos ingredientes... É INCRÍVEL COMO ESSA BRUXA SÓ SERVE MESMO É PARA DAR DOR DE CABEÇA NOS OUTROS. Depois de passear por diversos Mundos, em diversos cabelos e roupas, “O diabo loco” foi justamente terminar sua viagem na Marvinlândia e justamente no castelo do Rei...
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Atraído pelo feixe-caminho de luz azul, esse “diabinho” acabou indo parar dentro do ouvido do duplo de Marvin. E DE LÁ PARA O CÉREBRO... TREMENDO AZAR DE MARVIN. TREMENDO AZAR DE MARVIN. No filme “A Mosca” aconteceu algo ligeiramente parecido... Um cientista inventou um teletransportador e, quando entrou dentro da máquina, não viu que uma mosca fizera o mesmo. Depois de realizada a experiência “com sucesso”, o seu corpo começou a adquirir características do inseto. No caso do duplo de Marvin, este não ficou parecido com o “diablo loco”. A sua aparência manteve toda a semelhança do menino de cabelo verde e de orelhas de abano. ENTRETANTO... Assim que as cento e quarenta e quatro horas se gastaram feito o pavio de uma muito longa vela de penitências e promessas, o duplo de Marvin foi o primeiro a acordar. Arrancou as roupas do rei sonolento e já sentou em seu trono. -- Guardas! Guardas! Guardas! – gritou ele. E, em seguida, alguns guardas-reais apareceram marchando com suas barulhentas armaduras. -- Prendam esse farsante no calabouço mais frio, sujo, fedorento e escuro que existir! Antes, porém, cortem sua língua! AH! E já aproveitem e enforquem esse mago incompetente! Vejam só, ele teve a audácia de dormir diante de mim, o Rei. Isto é algo intolerável, vocês não acham? Todos os guardas fizeram um SIM com a cabeça, apesar de não estarem entendendo nada. Afinal o Rei Marvin sempre fora tão bom... E agora, de um momento para outro, se apresentava assim, feito o diabólico Imperador Calígula...
O VERDADEIRO MARVIN E ALIAN THOR FORAM ENCAMINHADOS INCONSCIENTES AOS SEUS CRUÉIS DESTINOS... E os guardas-reais que participaram da “missão”, eliminados por outros guarda-reais... “Agora sim! Ninguém mais sabe o meu segredo... Só eu alimentarei esse idiota, todos os dias. Só eu tenho a chave da masmorra. Só eu...”
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Se pudesse, o novo dono e senhor absoluto da Marvinlândia eliminaria o verdadeiro Marvin de uma vez por todas. Mas pressentia ele que se fizesse isso, também poderia ser igualmente destruído... “Melhor mantê-lo vivo, escondido a sete chaves!”
E ASSIM O TERROR PASSOU A SER A MARCA REGISTRADA DO REI IMPOSTOR...
AH! INFELIZMENTE ATÉ AGORA NÃO FICAMOS SABENDO QUAL SERIA AFINAL O PAPEL DA CUECA SUJA DE UMA SEMANA NESSA TRÁGICA EXPERIÊNCIA TODA.
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CAPÍTULO 3 A MISTERIOSA CRIATURA DA CAIXA PRETA “Muitas coisas que parecem concretas hoje desfazem-se em pó com o passar do tempo.” (Do Livro “Conversando com os humanos” – autora Fada Iô-Iô)
O MEDO É UM FRIO QUE TOMA CONTA DO CORPO TODO E FAZ TREMER A ALMA. UM SIMPLES RATO PASSA A SER UM MONSTRO NA ESCURIDÃO. Na masmorra gélida, úmida, escura, suja e fedorenta, as horas se tornaram dias; os dias, meses e os meses, anos... A única luz entrava pelas frestas da porta de ferro e madeira... A comida podre era passada por uma pequena portinhola. E sempre vinha acompanhada da fala do agora DUPLO (inimigo) do Marvin original: “Come, desgraçado! O meu reino vai ser longo e o seu inferno de mesmo tamanho!” ....................................................................................................................................... “Hoje eu estou bonzinho! Trouxe até meia dúzia de olhos fritos de vaca!” ....................................................................................................................................... “Não sei se você sabe, mas já faz dois meses que você está aí preso nesse lugar imundo.” ....................................................................................................................................... “Meus parabéns, hoje é o seu aniversário de treze anos... Pena que você não pode sair daí para comemorar... Não tem importância. Eu comemoro por você. Afinal de certo modo, hoje é o meu aniversário também, apesar de eu ter apenas alguns meses de vida... Mas o que importa realmente é que eu tenho quase toda a sua memória. Tirando é claro esse tempo todo aí dentro. Mas essa parte eu não quero mesmo. Acho que ninguém gostaria
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também... Ah! Já mandei fazer um bolo digno de um rei feito eu. Dez metros de altura. Muito chantily, cerejas ao marasquino, pêssegos em calda, fios de ovos, suspiros...” ....................................................................................................................................... “Tá vendo como eu não sou tão ruim assim. Aqui está um pedaço delicioso do bolo do meu aniversário. Pena que você não pôde participar da festa. Mas certamente ouviu os fogos de artifício, não?” Durante seu longo martírio de prisioneiro culpado por ser inocente, os cabelos verdes do Marvin cresceram espantosos oitenta centímetros... E cresceram verdes como se verde fosse a cor original deles desde o seu nascimento. CABELOS CRESCEM... LÍNGUAS NÃO. Felizmente a magia é capaz de romper com muitas lógicas. E assim, mesmo enfraquecidos pelas MALDADES de seu Duplo, os cabelos verdes e mágicos de Marvin fizeram aos poucos sua língua ir surgindo-crescendo novamente. CABELOS VERDES TÊM PODER. Um poder ainda tímido e escondido. Por enquanto, não o suficiente para tirá-lo da masmorra. Por enquanto, não o suficiente para conseguir avisar um de seus amigos. “Etecétera! O dragão Elvis! Bem que um deles podia aparecer pra me tirar deste inferno! E Lenora? Pobre Lenora! Eu que queria tanto salvá-la acabei aqui tão prisioneiro quanto ela!” A MALDADE TORNARA “O REINO DE MARVIN” PRATICAMENTE IMPENETRÁVEL AOS POSSÍVEIS RAROS VISITANTES... SÓ ELA MESMO É ASSIM, CAPAZ DE CRIAR UM ESCUDO TÃO DURO E CORTANTE QUANTO O DIAMANTE. Nesse tempo todo de prisão, Marvin pensou até em se matar... Porém toda vez que a sua esperança queria mergulhar em um abismo fatal, vinha algo lá do fundo de sua alma lhe dando asas e dizendo: “Não! Calma! Agüente firme! Você ainda tem toda uma longa e maravilhosa vida pela frente! Muito em breve você vai sair daí! Acredite!” E MARVIN IA MAIS OU MENOS ACREDITANDO... Vestido com os farrapos de um esqueleto (companheiro e amigo de masmorra)... -- Desculpe-me, mas eu agora preciso mais dessas roupas do que você!
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...Marvin ia gastando o quase “inesgastável” tempo, contando histórias e inventando outras... O esqueleto parecia ouvir tudo com atenção. Pena que era apenas um esqueleto sem vida e sem nome. No filme “O náufrago”, o personagem do ator Tom Hanks, totalmente solitário em uma ilha, conversava com uma bola branca carimbada de sangue. Era ela que amenizava sua solidão. Era ela o amigo necessário. UM ROSTO DESENHADO NA “TINTA VERMELHA” . Já Marvin tinha um esqueleto. Um amigo esqueleto que acabou ganhando o nome de: “Magricela! Não, melhor não, ele pode se sentir ofendido... Rizadinha! Não, também não! Vamos ver! Vamos ver! Hummm! Tá difícil! Quem sabe um nome mais comum: João, Pedro, José... Não, não! Esse esqueleto não tem cara de João, Pedro ou José... Ele tem cara de... Infelizmente de esqueleto mesmo e mais nada...” Depois de distrair a solidão no “Mundo dos Nomes”, Marvin acabou finalmente escolhendo um: Eddie Murphy. Eddie Murphy, com seu branco esquelético, trouxe ao menino do cabelo verde a tímida esperança de ver o sol novamente acima dos castelos alterosos e das montanhas embebecidas de verde. ....................................................................................................................................... Assim que a máquina-de-cortar-e-raspar-cabelo terminou seu trabalho na cabeça do Duplo de Marvin, as paredes de pedra do calabouço começaram a derreter... O teto pingou feito azeito sujo grosso e até o esqueleto Eddie Murphy dissolveu-se feito marshmallow na fogueira. “Pobre Eddie Murphy!” – pensou o impotente Marvin que já esperava derreter também... Mas ele não derreteu coisa alguma e sim o chão sob seus pés. Marvin foi afundando como se estivesse pisando em areia movediça espumante. Não havia como escapar. Ele até tentou, debateu-se, mas isso só fez apressar o “AFUNDAMENTO”. Quando já não conseguia respirar (completamente submerso pelo chão movediço), tudo caiu em um escuridão longa e profunda...
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E tudo continuou caindo, caindo, caindo... AO POUCOS, UMA LUZ FOI TRAZENDO CORES E CHEIROS... Os olhos de Marvin doeram. Não estavam mais acostumados ao brilho ensolarado de uma manhã de verão. ONZE HORAS PELA POSIÇÃO DO SOL... E Marvin caindo, caindo, caindo... Já conseguia ver lá embaixo o mapa real da cidade. Cada vez maior e poderoso. Marvin se desesperou. Agora já dava para identificar prédios. Cada vez mais próximos e concretos... Marvin caiu entre quatro arranha-céus. Seu corpo intranqüilo “riscou” janelas, passou por andares e andares e andares e...
“BRUMPT!!!” Marvin se arrebentou no asfalto. Era feriado. Na avenida quase deserta, bem sobre as faixas amarelas de segurança, Marvin estava morto... De vez em quando, carros “modernéticos” passavam ao seu lado... Ninguém parava, afinal na cabeça das pessoas, tudo aquilo podia muito bem ser encenação: um assaltantearanha com uma nova tática-teia para pegar motoristas-moscas. Marvin ficou ali morto até o final da tarde. Então, espantosamente, o seu braço direito se mexeu. Depois foi a vez da perna esquerda e a cabeça... Marvin estava vivo outra vez. Possivelmente os seus longos e mágicos cabelos verdes tivessem alguma coisa a ver com isso. Agora, sem o seu duplo, ele se sentia mais forte outra vez... AVENIDA LEWIS CARROL, NÚMERO 13. Marvin estava bem em frente de sua ex-casa. No lugar, um enorme prédio de cinqüenta andares. E no lugar das casas dos vizinhos outros e outros prédios... Nada lembrava mais o seu antigo bairro. Dava a impressão que, no mínimo, uns vinte anos haviam se passado sem a permissão de Marvin. COMO PODIA SER????????????????????????? Marvin ficara confuso.
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Além das muitas interrogações cutucando seu cérebro, uma lembrança doída (que as tantas aventuras tentaram sepultar) retornou para incomodá-lo: todos os vizinhos, em um raio de dois quilômetros, haviam desaparecido devido a fatídica poção mágica de sua avó bruxa. Isso quando o bairro ainda era feito de casas e de ruas de paralelepípedos. Tanta coisa a fazer. E tudo agora parecia mais difícil e confuso. Marvin sentia muita saudade do amigo papagaio Etecétera e do médico dragão Elvis Presley. E de Lenora. E de Tonhão E até de Vovó Pangaré. “Coitada de minha avó! Como vou salvar ela agora? Não tenho mais a mochila com asas e minha avó-areia estava dentro dela. E Lenora? Será que ainda está presa naquela jaula pra gorilas?” Marvin perambulou pelos pensamentos da rua-avenida... Do número 13 foi até o 5589. Quase uma hora de caminhada. ALÉM
DE
FAZER
BEM
A
SAÚDE,
CAMINHAR
AJUDA
A
DESEMBARALHAR AS IDÉIAS. No caso de Marvin, seu pensamento continuou embaralhado... Não conseguia entender o que tinha acontecido. Para ele, alguns meses nos Mundos Mágicos não poderiam ter se transformado em possíveis décadas no Mundo Humano. Mas seu bairro estava mesmo muito diferente... Se não fosse uma e outra construção preservada, nem daria para reconhecê-lo... A escola permanecia lá ainda. Quase igual. Já a praça das peladas com os colegas não existia mais... Algumas coçadas nos longos cabelos verdes não lhe trouxeram nenhuma explicação lógica para aquele NOVO ENIGMA. Apenas um dor de cabeça que seria interrompida por um cutucão nas costas. Era o duende amarelo Pirralho que aproveitou uma das paradas pensativas de Marvin para interceptá-lo. -- Oi! Lembra que eu te fiz um favor daquela vez?! -- Sim! Pirralho??? -- Não me chamo mais Pirralho, por favor! Agora o meu nome é Safadinho. Marvin já sabia da mania do duende amarelo cintilante em ficar mudando de nome como quem muda de roupa. O problema era o seu gosto estragado que geralmente escolhia adjetivos para nomes próprios. -- Então? Eu vim cobrar!
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-- Cobrar??? -- Sim?! As moedinhas de ouro, lembra? Aquelas que eu te emprestei!! -- Mas eu não tenho moedinhas pra te pagar. -- Não! Você não entendeu! Eu não quero as moedinhas de ouro de volta. -- E como é que eu vou te pagar então? -- AH! Esses seus longos cabelos verdes são tão bonitos!!! Marvin distraiu-se com a passagem de um carro COYOTE 2035 e acabou não percebendo a “indireta” de Pirralho, ou melhor, de Safadinho. -- Então??? -- Então o quê? -- Você me dá o teu cabelo verde e nós ficamos quites. -- Só isso?! -- Só!! -- Mas afinal por que você quer o meu cabelo? -- Se eu dissesse que vou fazer uma peruca pra mim, você acreditaria? Pirralho, ou melhor Safadinho, retirou então o gorro cinza encardido e uma careca gorda, ensebada, cheia de calombos e fios ralos e raros se revelou pela primeira vez aos olhos de Marvin... MONSTRUOSA. -- Sim, acredito!!! -- Então? -- Tá bom!!! Esse meu cabelo já está ridículo demais mesmo. E se eu não cortei ele ainda é porque não encontrei nenhuma barbearia aberta. -- Então, eu vou acabar te fazendo outro favor!!! -- Acho que sim! -- Humm!!! Mas um favor tem seu preço! -- Não me diga que você vai me cobrar! -- Humm!! Humm!! PIRRALHO,
OU
LIGEIRAMENTE PELUDO:
MELHOR
SAFADINHO,
COÇOU
O
QUEIXO
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-- Bem, não sei se você sabe, mas não estou acostumado a fazer favores que não serão pagos... Entretanto neste nosso caso, posso abrir uma exceção, afinal o pagamento do favor que eu te fiz acabou virando um outro favor... e ao mesmo tempo, servirá também para eu pagar outros favores que devo a alguns gnomos insuportáveis... Dito isto, Pirralho, ou melhor Safadinho, retirou uma enferrujada tesoura-de-podarcertas-coisas de seu sobretudo carcomido por traças... Ela devia ter uns cinqüenta centímetros, enquanto que o duende já estava com um metro e vinte de altura (da primeira vez que falou com Marvin, ele tinha mais ou menos noventa centímetros. Uma poção à base de certas ervas misteriosas do Vale dos Mistérios Mortais havia lhe dado os trinta centímetros sobressalentes). Marvin distraído nem notou a diferença que realmente não era tão grande assim. PIRRALHO, OU MELHOR SAFADINHO, PRETENDE AINDA CHEGAR A PELO MENOS DOIS METROS DE ALTURA E ASSIM DEIXAR DE SER CHAMADO DE TAMPINHA POR ALGUNS DE SEUS AMIGOS GIGANTES. Assim que veio ABRUPTAMENTE desajeitado para cima de Marvin com a tesoura em mãos, este instintivamente caiu assustado para trás. -- Calma!! Eu não vou te machucar! Não tenha receios... Apenas me diga, como você quer que eu corte o seu cabelo? -- Curto!!! -- disse Marvin ainda meio desconfiado. -- Tipo militar? -- Não! Curto simplesmente! Você consegue fazer isso com essa tesoura enferrujada???? -- BLINDLISPMIM OKTUBUS RARARATUM!!! As palavras de Pirralho, ou melhor Safadinho, cuspiram milhões de perdigotos no AR... NENHUMA MÁGICA ACONTECEU. E ele já foi se justificando: -- Às vezes é assim mesmo. Certas falas mágicas demoram pra pegar. Algumas são como carro velho, outras como mulas voadoras... Vou tentar novamente: -- BLINDLISPMIM OKTUBUS RARARATUM!!!
-- BLINDLISPMIM OKTUBUS RARARATUM!!!
-- BLINDLISPMIM OKTUBUS RARARATUM!!!
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A fala cada vez mais possante de Pirralho, ou melhor de Safadinho, acabou não surtindo efeito aparente algum. -- Calma! Calma! Agora vai dar certo! -- BLINDLISPMIM OKTUBUS RARARATUM “ATCHIN”!!! O “ATCHIN” não fazia parte da fala mágica, mas veio junto inevitavelmente e acabou fazendo as palavras “pegarem no tranco”. -- Veja, Marvin!! Está funcionando! Está funcionando! Nem era preciso dizer, Marvin estava vendo... Vendo a tesoura enferrujada flutuar bem na altura de seus olhos... Vendo-a dançar-amolecer feito borracha quente até ficar duríssima outra vez... E vendo-a agora brilhante como nova. -- Xii! Esqueci um coisa! -- O quê?? -- O pente! Só a tesoura sozinha não faz um bom corte de cabelo... -- “Com certeza!” – pensou Marvin. -- TROVIN ESPRERUNFTUM NAGDASPRI RETROV!!! Desta vez não foi preciso “pegar no tranco” e sem entremeios um pente prateado apareceu também flutuando, ao lado de sua “partner”. -- Já que você consegue fazer mágicas, não seria melhor diminuir um pouco o tamanho da tesoura?! -- AH! Me desculpe... Cabeça essa a minha!!! É que estou acostumado a cortar cabelo de gigante e nem me dei conta de que você é bem menos cabeçudo... DIMINUTU RANTUM PRATICIS ANELIDIUS CRAVENTUS!!! Bem ditas as palavras, pente e tesoura animaram-se como se estivessem sendo manipulados por hábeis mãos invisíveis... Pirralho, ou melhor Safadinho, foi catando animado todo o cabelo verde que caía no chão. Boa parte dele nem conseguia chegar até a calçada daquela barbearia improvisada ali mesmo em frente à marquise de uma das duzentas e vinte lojas “Centauro de Jade”. JADE: PEDRA SEMIPRECIOSA, GERALMENTE DA COR ESVERDEADA UTILIZADA EM ALGUMAS MALDIÇÕES POR VÁRIOS MUNDÕES AFORA.
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A habilidade do “barbeiro invisível” não levou nem cinco minutos para fazer o corte. Bem do jeito que Marvin queria e pôde constatar no vidro-espelho da loja. Pirralho, ou melhor Safadinho, havia ganho o dia e também muitos outros dias pela frente... “A criatura da caixa preta vai ficar muito feliz comigo!” -- Pensou o duende, segurando-apalpando o saco de filó cheio de cabelo verde. -- Bem, Marvin, É melhor você agora ir ver se eu estou na esquina!!! -- O que? Como? Não entendi!!! -- Vá!! Faça isso que eu te disse! Vá ver se eu estou na esquina!!! -- Por que essa brincadeira sem graça, agora??? -- Não é brincadeira sem graça, não. É que no meu mundo é falta de educação as criaturas se despedirem depois de uma conversa amigável. -- Então foi por isso que você desapareceu da última vez sem dizer nada?! -- Sim! Nós temos esse costume... Cada mundo com os seus. Bons ou maus. Inteligentes ou idiotas. -- Tudo bem então, apesar de você não estar agora em seu mundo. -- É mesmo! Não tinha pensado nisso. -- Aqui se você não se despedir de mim estará sim mostrando falta de educação. -- É incrível como um mundo é tão diferente de outro. Costumes, roupas, idéias, tantas coisas... Mas como eu faço então pra me despedir de você? Esta vai ser a minha primeira vez. Espero que ninguém fique sabendo disso lá onde eu moro. -- Nós geralmente usamos a palavra tchau ou até logo ou então adeus. -- Tchau!!! Gostei! Lembra até uma palavra mágica que eu uso para... Esqueça. O importante agora é eu me despedir de você para não passar novamente a idéia de que sou um sujeito mal educado. -- Ao invés da gente se despedir, bem que eu podia ir com você... Não quero ficar sozinho neste mundo estranho! -- Mundo estranho??? Mas afinal esse não é o seu mundo? -- É!!! Mas não do jeito que eu conhecia antes! -- Bem que eu gostaria, mas aí eu estaria fazendo um outro favor a você e favores são muito caros... Além do mais, estou muito apressado!
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-- Você não me parecia com pressa até agora! -- As coisas mudam, os ventos mudam, a pressa chega... Acabo de me lembrar que esqueci algo no forno lá de casa. Se eu não for correndo, não quero nem imaginar o que pode acontecer com... Marvin sentiu que aquilo tudo era desculpa rasgada e esfarrapada, porém achou melhor não insistir. Afinal, Pirralho, ou melhor Safadinho, nem era seu amigo mesmo. Apenas um conhecido que trazia uns olhos desconfiados-esbugalhados de cobiça e um sorriso malicioso-interesseiro. -- Então aqui vai a primeira despedida de toda a minha existência... Primeiro Pirralho, ou melhor Safadinho, pigarreou três vezes e em seguida lançou uma seqüência de: -- TCHAU, TCHAU, TCHAU, TCHAU, TCHAU, TCHAU, TCHAU, TCHAU, TCHAU, TCHAU, TCHAU, TCHAU, TCHAU, TCHAU, TCHAU, TCHAU, TCHAU!!! -- CHEGA!!! – gritou Marvin – Ninguém se despede tanto assim!!! -- Me desculpe! Acho que me entusiasmei demais com essa deliciosa palavra! AH! Como gostei dela! TCHAU! Ah! Que melodia para os ouvidos! -- Tudo bem, agora que já nos despedimos, você pode ir embora... E assim o duende fez, já se afastando em direção a uma rua transversal. Marvin esperou alguns segundos e... seguiu Pirralho, ou melhor, Safadinho. O duende entrou em um prédio antigo, de paredes carcomidas e desenhadas pelo tempo-chuva-e-pó.... A fachada apresentava duas gárgulas de bronze, lambuzadas de excrementos de pombos e pardais. Marvin apressou-se no encalço de Pirralho, ou melhor, de Safadinho... Assim que passou pela porta de vidro trincado, pôde ver ligeiramente o único elevador se fechando com o duende dentro...
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(menos trinta e nove):
-- Por que demorou tanto? – era a voz abafada da Misteriosa Criatura da Caixa Preta, já cobrando algo de Pirralho, ou melhor, de Safadinho. Ambos estavam em uma enorme caverna, iluminada apenas pelos olhos-lanternas de dois cachorros negros tamanho-são-bernardo, mas vira-latas segundo as classificações intermundiais de cachorros. -- Conseguiu???
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-- Claro!!! Eu sempre consigo! – respondeu o já nada humilde Pirralho, ou melhor, Safadinho. -- Bom trabalho! Bom trabalho! Aqui está o que eu lhe prometi. Continue assim e nós vamos ainda fazer ótimos negócios! A Misteriosa Criatura da Caixa Preta mantinha-se geralmente em pé, já que seria de extremada “complicação” para ela conseguir sentar-se... Assim sua vida resumia-se em ficar sempre em duas posições: de pé ou deitada... Também quem mandou querer ser uma Misteriosa Criatura da Caixa Preta. CAVALOS DORMEM DE PÉ. MUITOS ANIMAIS DORMEM DE PÉ. ALGUNS ATÉ DE PONTA-CABEÇA. O mais difícil deve ser se acostumar. Mas na vida ou na morte, as criaturas acabam se acostumando com coisas jamais imaginadas. Marvin ficou um bom tempo esperando o “bonde” que não vinha... Esperou, esperou, esperou... até desistir depois de uma hora e trinta minutos exatos. Nesse tempo todo, ninguém entrou ou saiu do prédio. Pelas teias de aranha acumuladas nos cantos, pelo cheiro de mofo e sujeira velha, ninguém morava ali mesmo....
De volta ao número 13 da Rua, ou melhor, Avenida Lewis Carrol, o “Castelo Invisível” (que de invisível não tinha nada) outra vez apareceu imponente diante dos olhos aliviados de Marvin. -- Lenora! Lenora! – gritou ele, já correndo pela ponte levadiça ao encontro da amiga. Lá embaixo no fosso, os tubarés agitavam-se esperando alguma refeição vinda do céu. ENQUANTO ISSO NA CAVERNA DA MISTERIOSA CRIATURA DA CAIXA PRETA: -- Entendeu bem o plano? -- Claro, Caixa! Eu sou muito bom em captar as coisas no ato! Você já devia entender isso! -- Tá bom! Então já sabe, né? Tudo no mais completo sigilo. -- Nem precisava dizer!
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CAPÍTULO 4 COMPOTAS E CONSERVAS “A magia pode ser a congruência de todas as congruências ou a completa falta delas.” (O mago Obtuso)
Esta era a terceira vez que Marvin entrava no “Castelo Invisível”... Após passar pela grande porta, agora de ouro, o que o aguardava lá dentro era também, pela terceira vez, diferente e inusitado. Um salão imenso aparentemente vazio foi a primeira visão de Marvin. Tudo bem que nisso não havia nada de diferente e inusitado. Mas aguarde. Em muitos Mundos Mágicos as coisas nunca permanecem as mesmas por muito tempo. Ainda mais em um Castelo que vivia se modificando como se tivesse personalidade própria. CASTELOS VIVOS. Existem muitas histórias sinistras sobre eles. No livro “Construções Ameaçadoras e Suas Vítimas” (1300 páginas, Editora Não Leia), o escritorfantasma Gaspar de La Fontain apresenta centenas de descrições e depoimentos de quem já passou por apuros e até coisas piores em Castelos e Casas Pulsantes. AS VÍTIMAS FATAIS INFELIZMENTE NÃO TIVERAM COMO SE MANIFESTAR. Por falar em histórias sinistras, o que aconteceu, em seguida, com Marvin certamente ainda será registrado no livro “Construções Ameaçadoras e Suas Vítimas – Parte Dois” . Marvin não teria ficado naquele salão mais do que o tempo necessário para atravessá-lo e sair por uma de suas portas. O problema é que não havia nenhuma de suas portas (nem janelas). Ou melhor dizendo, a única porta era a grandalhona da entrada e esta certamente não interessava.
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Os olhos podiam descansar tranqüilos naquele lugar tão grande e vazio de tudo. Não havia nada para se ver-distrair além do amplo piso xadrez, das paredes aparentemente brancas e do teto com vários lustres de velas. Já os ouvidos de Marvin deixaram de descansar assim que o silêncio começou a ser riscado por algo que vinha do chão... ABAIXO DO CHÃO... Pareciam unhas de aço raspando o mármore... E então já não pareciam mais... Agora era o barulho de marretas e mais marretas ecoando pelo salão. O som duro e seco deixava o vazio mais vazio ainda. HOMENS TRABALHANDO EMBAIXO DO CHÃO??? O piso então começou a trincar por todo o salão... Fendas se abriram... Fendas correram como longas pinceladas tortas de tinta preta. O MEDO ESCREVE TORTO EM SUPERFÍCIES PLANAS. Marvin correu até a porta de saída. Não queria sair. Mas se as coisas ficassem muito perigosas de acordo com os seus pressentimentos mais íntimos, certamente aquela saída seria a única saída... O perigo arrebentou o chão... Arrebentou uma, duas, três, quatro, cinco, seis, sete, oito, nove, dez, onze, doze, treze, quatorze, quinze, dezesseis, dezessete, dezoito, dezenove, vinte, vinte e uma, vinte e duas, vinte e três, vinte e quatro, vinte e cinco, vinte e seis, vinte e sete, vinte e oito, vinte e nove, trinta, trinta e uma, trinta e duas, trinta e três, trinta e quatro, trinta e cinco, trinta e seis, trinta e sete, trinta e oito, trinta e nove, quarenta, quarenta e uma, quarenta e duas, quarenta e três, quarenta e quatro, quarenta e cinco, quarenta e seis, quarenta e sete, quarenta e oito, quarenta e nove, cinqüenta, cinqüenta e uma, cinqüenta e duas, cinqüenta e três, cinqüenta e quatro, cinqüenta e cinco, cinqüenta e seis, cinqüenta e sete, cinqüenta e oito, cinqüenta e nove vezes... Uma após outra. CINQÜENTA NOVE LÁPIDES E TÚMULOS SALTARAM DO CHÃO COMO SE ESTIVESSEM NASCENDO DO INFERNO. Marvin petrificou-se. Queria se mexer e não podia. Queria gritar e não podia. Queria... e não podia... E assim ficou: querendo... e não podendo... Até que o último túmulo nascesse... Agora já havia outras portas no salão-cemitério. Elas também tinham nascido...
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Marvin já podia escolher-fugir-correr por uma delas. Queria... mas não podia... As pernas trêmulas ainda não deixavam. O peito apertado ainda não deixava. O tênis “grudado” no chão ainda não deixava... Passado o pior do terror, ficou aquele outro terror: silencioso e poeirento. O MEDO-NEVE NA BARRIGA aos poucos foi derretendo... Então já era possível dar os primeiros passos. Passos de quem começa a andar depois de ter ficado paraplégico por um bom tempo... PASSOS PESADOS E LENTOS. PASSOS DESCONFIADOS E CURIOSOS... ...À medida que Marvin passava pelos túmulos, seus olhos iam insistentemente lendo os epitáfios de bruxos, magos, fadas, duendes, vampiros, lobisomens e outras criaturas...
Mortícia Visceral Primeira morte: 1539 Segunda morte: 1954 Descanse no tormento mais tormentoso Até voltar do inferno para atormentar novamente.
Vampirela Primeira morte: 1734 Segunda morte: 1860 Terceira morte: 1995 Bom descanso e breve retorno Aos braços de seus entes queridos.
Charles, o canibal Primeira morte: 1980 Daqui a cem anos, abriremos Juntos um restaurante.
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Fada Melindrosa Primeira morte: 1243 Segunda morte: 1549 Terceira morte: 1780 Quarta morte: 2002 Boa estada nas Trevas Sólidas!
Condessa Vladimira Orskloft Primeira morte: 1734 Segunda morte: 1858 Terceira morte: 1996 Partiste desta para pior Seja bastante infeliz! Afinal é assim que sua alma suja Se sente bem aventurada.
Duende Krok Krull Krot Primeira morte: 1230 Segunda morte: 1670 Terceira morte: 1940 Na próxima vida, Venha menos ranzinza!
Joe, o peludo Primeira morte: 1830 Segunda morte: 1999 Carinho daqueles que te amam E que sempre te amarão! Até muito breve!
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O Túmulo de Joe era o mais estranho e familiar de todos.... UM ENORME OSSO, daqueles que aparecem nos desenhos animados e que os cães gostam de ficar roendo dias, meses e até anos a fio.... Ou Joe era um cachorro, ou então um lobisomem com manias “cachorrinas”.
Doing Poing Doing Primeira morte: 1700 Segunda morte: 1885 Terceira morte: 1995 Eu te avisei que ficar pulando Loucamente assim Ainda ia dar nisso de novo. Até daqui cem anos!
Fada Barbarela Primeira morte: 359 Segunda morte: 876 Terceira morte: 1200 Quarta morte: 1450 Quinta morte: 1590 Sexta morte: 1700 Sétima morte: 1976 Mui cheirosos são os cheiros Que vem só de ti. Ó flor de meus campos elísios!
Franktrevas Primeira morte: 1786 Segunda morte: 1923 Cara, você foi mau, muito mau mesmo! E é isso que nos faz grandes amigos.
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Continue assim na sua próxima existência.
DE EPITÁFIO EM EPITÁFIO EM EPITÁFIO, Marvin acabou parando no último deles... E aí um novo terror, gelado e fervente ao mesmo tempo, cortante e corrosivo, tomou conta de seu corpo todo. I
N
T
E
N
S
A
M
E
N
T
E
Marvin empalideceu e a tremedeira voltou mais forte do que nunca. Gotas de suor escorreram de sua testa, nuca, costas, axilas, mãos, barriga, bunda, pernas... (e ele ficou todo molhado, chegando a perder um litro de seu líquido pessoal, em oitenta e oito segundos) Os olhos não piscavam mais. Pareciam presos-seguros por palitos de fósforos invisíveis. Todo o horror de Marvin era agora feito de palavras e números. Palavras e números que se uniam em um combinação macabra. Palavras e números entalhados na lápide fria do mármore branco:
Marvin Nivram Primeira morte: 20... Seja bem vindo ao Mundo das Trevas Sólidas!
O MAIOR TERROR É SEMPRE AQUELE POR VIR...
Nessa confusão toda de viagens pelos Mundos Mágicos, Marvin não tinha mais a mínima idéia de como o tempo estava se comportando... No Mundo Humano os anos haviam aparentemente disparado para o futuro... Entretanto seu corpo ainda era de um menino, agora com 13 anos. TEMPO. TEMPO. TEMPO. AS PESSOAS SE PREOCUPAM TANTO COM ELE E NÃO ADIANTA NADA. NO FINAL É ELE QUE NOS DEVORA A TODOS, SEM MISERICÓRDIA ALGUMA...
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A cena que veio em seguida não podia deixar Marvin mais paralisado, trêmulo e pálido do que ele já estava... E por isso ela acabou mesmo funcionando como um terrível despertar... Um balde de água gelada que faz qualquer um pular da cama quentinha. Marvin pulou... pulou para trás e... PERNAS PRA QUEM TE QUERO... ...Saiu correndo o mais que pôde... Desviando lápides e lápides até chegar a uma das portas e passar por ela... Em seu encalço o monstro de mármore. O MONSTRO DE MÁRMORE NÃO TINHA CARA DE MONSTRO. Marvin correu por um longo corredor de portas e armaduras (que se encaravam de par em par, parecendo cochichar segredos). De vez em quando, a cada dez segundos, ele olhava para trás... Felizmente nada, nada, nada, nada... Nada do monstro de mármore. TALVEZ TIVESSE DESISTIDO DE SEGUIR UM MENINO TÃO RÁPIDO NO DESESPERO. Marvin lembrava até o personagem “maratonista” Forrest Gump, no filme de mesmo nome. A última porta do “corredor das armaduras-casais” estava meio aberta e foi por onde Marvin entrou... “PRUMPTRUM!!!” E ela se fechou-trancou assim... Talvez querendo ajudar o Marvin. PORTAS
DE
“CASTELOS
INVISÍVEIS”
ÀS
VEZES
GOSTAM
DE
“SOCORRER” CERTAS CRIATURAS... Na frente de Marvin e dos lados também, recipientes e mais recipientes de vidro. Uns sobre os outros até a altura de dez metros. Dentro deles, em líquido transparente, corpos e mais corpos humanos. Chegando mais perto (os vidros circulavam toda a sala oval), Marvin passou a identificar alguns tétricos rostos familiares. Estavam ali os seus vizinhos que haviam misteriosamente desaparecido “em um raio de dois quilômetros”.
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A VIZINHANÇA TODA HERMETICAMENTE FECHADA EM VIDROS DE CONSERVA. A VIZINHANÇA TODA HERMETICAMENTE FECHADA EM VIDROS DE COMPOTA. Estavam ali: O insuportável do Seu Aníbal com picles; Dona Esmeralda com pêssegos em calda; Dona Carlota rodeada de cebolas e pimentas vermelhas; Seu Portugal “boiando” entre azeitonas verdes e cenouras; A histérica da Clotilde Alencar entre figos e mais figos; O Seu Soneca com ovos de codorna; Milton, o pidão, entre rodelas de abacaxi; Um cão sarnento de rua com cerejas; E tantos outros meros coadjuvantes do dia-a-dia de Marvin, já prontos para serem servidos como tira-gosto ou sobremesa. NO BOJO: QUINHENTOS E VINTE “VIZINHOS” EM CALDA OU NO VINAGRE. Diante das circunstâncias, ficava claro que Vovó Pangaré não tinha nada a ver com o desaparecimento de toda a vizinhança. Uma bruxa iniciante feito ela não seria capazcompetente de colocar tanta gente em vidros de compota e conserva. “Coitada da Vovó Pangaré!!” – exclamou Marvin em um pensamento meio doído e culpado. Vovó Pangaré. Uma vozinha tão gente fina que “assim-assim-de-repente” virou bruxa má e escafedeu-sumiu... Ainda não se sabe realmente por que cargas-d’água-trovões-e-trovoadas ela acabou virando “assistente” tartaruga gigante de mago doido, até finalizar seu trágico destino... Agora restavam apenas lembranças empoeiradas. PROMTRUPROCK!!! NÃO HÁ LEMBRANÇA FORTE O SUFICIENTE PARA VENCER O MEDOARREPIO-GELADO DE UMA ESTRONDOSA BATIDA NA PORTA. Com certeza era o monstro de mármore atrás de Marvin.
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PROMTRUPROCK!!! PROMTRUPROCK!!! Pelo jeito, se quisesse, o monstro derrubava-arrebentava a porta em segundos. Não se sabe por que não o fez. Talvez alguma lei do “Castelo Invisível”: É PROIBIDO DERRUBAR PORTAS. É PROIBIDO ARREBENTAR PORTAS. Marvin precisava encontrar uma saída. Aparentemente não havia nenhuma (além da entrada). PROMTRUPROCK!!! Empurrar-puxar os recipientes de vidros, nem pensar. Seria um verdadeiro desastre de grandes... PROMTRUPROCK!!! ...proporções. O chão parecia maciço demais. PROMTRUPROCK!!! O teto inalcançável para quem já não tinha mais uma mochila com asas. PROMTRUPROCK!!! SAÍDA. Mesmo sem ela, em ocasiões críticas, Marvin já se livrara de “poucas e boas” e também de “muitas e ruins”. PROMTRUPROCK!!! QUANDO TUDO ESTÁ PERDIDO É SINAL DE QUE TUDO PODE ESTAR PERDIDO MESMO. “Talvez o melhor seja esperar o monstro se cansar, desistir e ir embora.” Após cento e oitenta e três PROMTRUPROCKs, um longo silêncio fez Marvin adormecer ali mesmo no chão gelado. Algumas-não-se-sabe-quantas-horas-ao-certo-depois, ele acordou sendo “encarado” pelos tantos vizinhos em calda ou no vinagre... Mão direita na fechadura de ouro. Um suave-leve toque para... creeeeecckkkk. “Que saco!! Por que será que não usam óleo nessas portas falantes?” MAL SABIA MARVIN QUE RANGER ERA PARTE DA PERSONALIDADE DE TODA BOA PORTA DO “CASTELO INVISÍVEL.”
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Não ranger podia significar “demissão por justa causa”. Outra vez pelo “corredor das armaduras-casais”, Marvin foi instintivamente apressando os passos... APARENTEMENTE, O MONSTRO DE MÁRMORE HAVIA DESISTIDO MESMO. A porta que Marvin então escolheu para abrir dava para um jardim interno com cascata e tudo mais que tem um magnífico e deslumbrante jardim interno... Outra porta grudada em uma pedra-toneladas acabou levando-o até o: QUARTO DE LENORA. No lugar da jaula de gorilas, havia agora um caixão de vidro. Lágrimas caíram dos olhos de Marvin. O caixão estava vazio, mas o seu coração já doía aflito. MAL PRESSENTIMENTO. Marvin chamou por Lenora e aí o corpo dela materializou-se dentro do ataúde... Toda de branco, a menina loira nem parecia morta. Dormia simplesmente. Lenora dormia a eternidade. Lenora dormia a eternidade de cem anos... MARVIN
DERRAMOU
NOVE
LÁGRIMAS
SOBRE
O
CAIXÃO
TRANSPARENTE. Queria abri-lo, mas não conseguiu. Queria abraçar Lenora, mas não podia. Queria... mas não... E então, magicamente, pétalas vermelhas foram cobrindo a menina loira...
-- LENORA!!! A voz conhecida do pai carrasco gritando acima dos decibéis permitidos deixou Marvin confuso e perturbado. Afinal não teria sido ele mesmo o responsável pela morte da própria filha???
PROMTRUPROCK!!! PROMTRUPROCK!!! PROMTRUPROCK!!!
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PROMTRUPROCK!!! E novamente o monstro de mármore... Só que desta vez disposto a derrubar a porta, esquecendo qualquer possível LEI PARA NÃO SE DERRUBAR PORTAS.
PROMTRUPROCK!!! E finalmente a dita veio abaixo. Marvin permaneceu junto ao caixão, enquanto o pesado monstro de mármore vinha leve-flutuando em sua direção. Marvin tentou ao máximo vencer o medo. Lutou internamente contra ele. Deu alguns socos de direita e de esquerda, levou outros tantos... E aí no décimo round foi nocauteado. Qualquer um seria... E muito, muito antes... POUCOS SÃO CAPAZES DE FICAR ENCARANDO O SEU PRÓPRIO MONSTRO DE MÁRMORE. A maioria já morre do coração no início do primeiro round. Marvin resistiu bravamente até que não pôde mais... A tática do monstro de mármore foi muito simples. Ele apenas abriu a tampa de seu “corpo mármore” e... MARVIN pulou para trás... caiu... levantou... tropeçou... levantou rapidamente,
CORREU!!!!!!!!!! Qualquer um faria o mesmo diante de seu próprio túmulo aberto, principalmente ao se enxergar-ver-olhar-abismar pálido-roxo-e-verde, olhos mortos, lábios murchos, algodão no nariz, faixa na cabeça, terno de enterro impecável, mãos... naquela posição de defunto pedinte... ou implorando mesmo pela salvação da alma...(outras possíveis interpretações não foram aqui conjeturadas por falta de tempo e/ou inspiração...)
ENQUANTO ISSO NA CAVERNA DA MISTERIOSA CRIATURA DA CAIXA PRETA: -- Quatro corações! Isso foi o máximo que consegui! -- Nós havíamos combinado seis, Seu Safadinho!
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-- Por favor, meu nome agora é TCHAU! -- Desculpe, eu havia me esquecido. -- Quatro corações! É pegar ou largar! -- Tá bom! Tá bom! Pirralho, ou melhor Safadinho, ou melhor Tchau, sabia muito bem como tirar o coração das pessoas. No lugar vazio, ele deixava um outro coração: verde, duro e amargo. Muitas vezes a preguiça o impedia de trabalhar além de suas necessidades básicas e, por isso, ele inventava dificuldades extremas para conseguir a “mercadoria” que cobrava muitas vezes até os olhos da cara.
-- HUMM!!! De vez em quanto uma boa sopa com os olhos da cara vai muito bem!
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CAPÍTULO 5 A CONFRARIA DOS DRAGÕES-ANÕES “É leve e limpa a fumaça de uma alma amiga. Almas-fumaça não precisam de chaminé.” ( Astor Borricante, dragão-anão, poeta e filósofo quase sempre bêbado)
...Marvin continuou correndo tudo o que podia... Abriu portas (todas elas rangedoras)... “varreu” corredores... Mais portas... mais corredores... mais portas... Correu... escorregou... correu... correu... escorregou... Passou por salas e salões monumentais... Até parecia que o castelo tinha ficado maior desde a última vez... Com Certeza. CASTELO INVISÍVEIS CRESCEM SOZINHOS. AMPLIAM-SE... CASTELOS INVISÍVEIS TÊM MANIA DE GRANDEZA. Para fechar com “chave de ouro” o seu “dia-de-cão-pitbull-raivoso-cheio-de-babaespumante ”, Marvin acabou indo novamente parar no detestável “Corredor Sem Fim”. E só percebeu isso quando já estava na mais completa escuridão, pisando novamente no chão daquelas coisinhas repugnantes que faziam crack creck crick. BESOURANHAS E VERMELONGOS para quem esqueceu ou ainda não sabe seus nomes. Agora não havia mais nada a fazer. O “Corredor Sem Fim” certamente “faria” para Marvin... Ele só torcia para que o monstro-túmulo de mármore não aparecesse ali também. Em poucos segundos, o seu corpo já era novamente tomado pelos mesmos fantasmas fluorescentes das outras duas vezes em que esteve ali... Marilyn Monroe entrou pelo seu ouvido direito. John Kennedy pelo esquerdo. Henrique VIII mergulhou em sua boca. Jack, o estripador, voou direto para um de seus olhos... Maria Antonieta entrou pelo outro...
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Estranhamente Napoleão Bonaparte não estava desta vez junto com os seus companheiros fantasmas. UM METRO E CINQÜENTA CENTÍMETROS DO CHÃO. Outra vez em transe, Marvin ficou todo iluminado, flutuando de bruços feito uma lâmpada de 200 watts... Os fantasmas vasculharam MAIS UMA VEZ todos os seus órgãos internos: rins, fígado, pulmões, intestinos, coração, cérebro... E MAIS UMA VEZ não encontraram nada daquilo que procuravam... E portanto MAIS UMA VEZ partiram decepcionados... Cinco minutos depois, Marvin acordou do estado de transe... E seu corpo-flutuante foi ganhando velocidade: 5... 8... 10... 20... 30... 40... 50...60.. 70... quilômetros por hora. Nesta sua terceira “viagem” através do Corredor Sem Fim, ele também sentiu aquele friozinho na barriga que então foi tomando conta do corpo inteiro. O FRIOZINHO SE TRANSFORMOU EM FRIOZÃO. 70...60..50..40..30...20...10 quilômetros por hora... Durante parte do “passeio” forçado, Marvin teve que suportar (DE NOVO!!!) zumbis, vampiros, lobisomens, bruxas, duendes, criaturas gosmentas, homens verdes e azuis, esqueletos transparentes e a vaca malhada de capacete com chifres de fora passandoflutuando por ele... Sorte que desta vez não houve nenhuma freada brusca. 10...20...30...40 quilômetros por hora... ... Depois de curvas, curvas e mais curvas, o Corredor Sem Fim voltou a ser novamente uma reta, um túnel e... MARVIN CAIU... Não mais no pequeno córrego-esgoto que ficava perto de sua casa... Desta vez no mundo dos Dragões-Anões, onde uma surpresa o aguardava.... DRAGÕES-ANÕES TÊM GERALMENTE DE UM E OITENTA A DOIS METROS DE ALTURA. ISSO SEM CONTAR AS ASAS E O RABO. NESTE CASO A MEDIDA VAI DOS PÉS-PATAS ATÉ A CABEÇA OU CHIFRE. Mas retornando ao Marvin, ele caiu. E caiu sobre uma carroça de feno, talvez propositalmente colocada para amenizar sua queda. Puxada por dois esbeltos porcos azuis que funcionavam como cavalos, a carroça de feno foi ganhando velocidade...
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DUAS LUAS CHEIAS iluminavam as ruas repletas de tabernas e outras coisas aparentemente “medievais”. Dragões-anões se embebedavam de rum exotérico. Alguns cambaleavam pelas calçadas. Alguns já roncavam na sarjeta. Três voavam pela noite com suas lanternas penduradas no pescoço. Não havia pessoas ou outras criaturas andando pelas ruas e vielas... Aquela era mesmo uma pequena cidade cem por cento de dragões-anões. Bem, noventa e nove vírgula nove por cento, já que agora Marvin também fazia parte daquele mundo. EXISTEM HISTÓRIAS SOBRE DRAGÕES-ANÕES QUE SE DISFARÇAM DE PIRATAS E SAEM PELOS MUNDÕES MÁGICOS EM SEUS NAVIOS VOADORES SAQUEANDO TESOUROS. Quando os porcos azuis pararam na última taberna do Beco Nevoento, Marvin leu o nome da tabuleta pendurada:
“Confraria dos Sete Dragões-Anões que já não são sete”. “Estranho nome para uma confraria”, pensou ele, mesmo sem saber muito bem o que significava a palavra. Era meio conhecida, ficava ali na ponta da língua querendo sair e não saía. O cérebro teimoso não deixava.
CONFRARIA: conjunto de criaturas da mesma categoria, dos mesmos interesses ou da mesma profissão. Associação. Sociedade. Categoria: dragões-anões. Interesses: bebidas, charutos, “dragoas” e conversa fiada (não necessariamente nesta ordem). Profissões: cozinheiros, bruxos, joalheiros, exterminadores.
Além do nome da taberna, o que chamou atenção de Marvin foi o “estacionamento” cheio de pares de asas de dragão-anão. De vez em quando uma e outra ruflavam... Todas elas penduradas com as respectivas etiquetas de seus donos. Marvin leu algumas:
“Não toque aqui, seu intrometido! assinado: dragão Gilberto.”
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“Dê o fora, bisbilhoteiro assinado: dragão Barrabás.”
“Se você quebrar minhas asas eu também te quebro todo assinado: dragão Super Lord.”
“Suma! Escafeda-se! assinado: dragão Mexerico.”
Através do vidro de uma das janelas da taberna, Marvin passou a observar o que acontecia lá dentro. Pelos risos e gargalhadas, a “reunião” devia ser das boas... Marvin contou 12 dragões-anões: dois azuis, três verdes, quatro amarelos e dois vermelhos e um roxo... Cada um deles segurava uma caneca de bebida e na outra mão-pata, um charuto apagado. DE REPENTE, UM CUTUCÃO INESPERADO o fez bater-cair sobre um par de asas. Era o médico dragão Elvis Presley. Mas nem parecia muito assim. Se não fosse aquele rosto inconfundível. Aquele topete. Aquelas costeletas. Agora estava várias vezes menor que o de costume. Diminuto para um dragão feito ele. Não passava de um metro e noventa centímetros. -- Marvin, eu andei te procurando por vários mundos e nada de te achar. Por onde você esteve? Ainda no “chão-asas”, Marvin coçava a cabeça que batera na parede. Seu olhar tinha um brilho interrogativo. -- Você não pode ser o... -- Claro que sou. E você sabe disso. O fato de eu ter diminuído não significa que eu deixei de ser eu mesmo. Você também já mudou de tamanho uma vez e depois retornou ao que sempre foi... Eu continuo sendo um poderoso dragão verde em toda a sua imensidão. Ainda me sinto assim... Mas agora quero apenas me divertir na Confraria dos dragões-
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anões. E você há de convir que eu jamais caberia nela com aquele meu tamanho todo. E nem seria aceito se eu não fosse um deles. Claro que Marvin sabia que aquele era o médico dragão verde Elvis Presley. Havia dito “você não pode ser o...” talvez pelo susto-surpresa inicial. -- Vamos, venha comigo! Você vai se divertir e quem sabe ainda fazer novos amigos! Marvin ficou quieto e O SEU QUIETO foi estrategicamente interpretado como SIM. -- Vamos! Pegue esta pílula de se virar dragão-anão e em alguns segundos você também será um, assim feito eu. PÍLULA PARA SE VIRAR DRAGÃO-ANÃO. A ÚLTIMA CRIAÇÃO DO MÉDICO ELVIS PRESLEY LEMBRAVA UMA BOLINHA DE VIDRO QUE NÃO ERA VIDRO, COM UM VERME QUE ERA VERME DENTRO. E SE MEXENDO. Marvin ficou naquela de “pego ou não pego”, “engulo ou não engulo”. -- Vamos, Marvin! Uma festa daquelas nos espera! Reunião. Festa. Ali pelo jeito tudo era a mesma coisa. Marvin resolveu então... E sem “pensar” muito, colocou o verme na boca, digo, a pílula... engolindo sem água mesmo. Imediatamente, dezenas de bolhas azuis foram surgindo pelo seu corpo todo. Bolhas duras por fora e estofadas por dentro. Um rabo afiado rasgou sua calça e cresceu, cresceu, cresceu até atingir mais de um metro gordo de comprimento. Suas mãos viraram mãospatas. E os pés: pés-patas, é claro. Nessas alturas o seu tênis já tinha ido “pro Beleléu”. As suas roupas aguardavam o mesmo destino. IR PRO BELELÉU; segundo quase todos os dicionários, significa morrer, sumir, desaparecer. Aqui no nosso caso, soa melhor no sentido de arrebentar, estourar, rasgar... Segundo algumas histórias contadas por bruxas e bruxos, Beleléu é um dos lugares para onde vão as coisas que desaparecem misteriosamente. Em seguida, duas asas de morcego gigante azul nasceram de suas costas até ficarem com três metros de envergadura. As mandíbulas encompridaram-se... Os olhos esbugalharam-se... Dois chifres apontaram na testa e todo o seu cabelo verde desintegrouse... Uma volumosa barriga-barrica completou a metamorfose.
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EM EXATOS TRINTA SEGUNDOS, MARVIN ERA ELE E O OUTRO AO MESMO TEMPO: ELE POR DENTRO. DRAGÃO AZUL POR FORA. -- E aí? Que tal ser um dragão? Marvin olhou e olhou para as suas partes possíveis de serem olhadas... Passou a mão-pata na barriga dura. Tocou o novo rosto para se sentir-descobrir... Acabou ruflando as asas sem querer. Uma bola de catarro azul entalada na garganta o fez cuspir no chão e então:. -- Puxa vida! Eu, um dragão! Sua voz já não era mais a mesma de menino. Lembrava agora a de um homem de quarenta, estilo locutor de rádio. VOZ FORTE E AVELUDADA AO MESMO TEMPO. Uma coceira o fez então abanar o rabo pela primeira vez, “varrendo o chão”. -- No começo é tudo meio estranho, não? Mas você já se acostuma e, de repente, nem vai mais querer voltar a ser apenas um menino de poucas habilidades... Quando comparadas com as habilidades de um dragão, é claro. MUITOS ACONTECIMENTOS NOS MUNDOS MÁGICOS FUNCIONAM FEITO UMA LÂMPADA ACESA PARA A MARIPOSA. NÃO HÁ COMO EVITAR. Marvin era a mariposa e a Confraria dos Dragões-Anões, a lâmpada acesa. CUIDADO PARA NÃO SE QUEIMAR!!! Para entrar na Taberna, Marvin e Elvis precisavam “se livrar” das asas. Um tentou ajudar o outro, mas as teimosas não queriam se soltar. Algumas gotas de “liquidaquilo” finalmente resolveram o problema. Os dois pares de asas, eles deixaram estacionados junto às outras asas. No afã de entrar na taberna, esqueceram de colocar as ditas etiquetas. Elvis tocou a campainha. Um dragão vermelho abriu a janelinha da porta e o seu carão pediu secamente: -- A senha, por favor! -- Senha... senha. Eu sei qual é a senha. A senha é... A senha é... Eu sabia a senha. Sabia até agorinha mesmo. Como pude me esquecer? -- A senha, por favor! (repetiu o dragão vermelho)
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-- A senha... Deixe-me ver. A senha era tão fácil. Puxa, como pude me esquecer assim? -- A senha, por favor! (repetiu o dragão vermelho, agora já mostrando sinais de impaciência em sua voz mais dura e espinhenta) -- Não adianta! Sob pressão eu não consigo me lembrar. Preciso tomar uma das minhas pílulas memorificantes. Elvis, que desta vez por motivos óbvios não estava com a maleta de primeiro, segundo e terceiros socorros, recorreu a um saquinho de pano pendurado feito talismã em seu pescoço. Eram tantas as pílulas e de tantas cores e formas que ele também já havia esquecido qual delas era MEMORIFICANTE. -- E agora, o que que eu faço? (pensou ele) Marvin sentiu a aflição do amigo e resolveu ajudar. -- Eu acho que é aquela dali. MUITAS VEZES, “EU ACHO...” NÃO AJUDA EM NADA E SÓ PIORA AS COISAS. Entretanto, neste caso, não é que ajudou! -- A senha é: “Boca fedorenta de dragão antipático” Dito isto, a porta se abriu. Lá dentro, havia bem mais dragões do que Marvin tinha inicialmente contado. Dois barmen, dragões é claro, serviam atrás do balcão. Acima deles um quadro com a frase: SÓ É REALMENTE BOM, O DRAGÃO QUE CONSEGUE SE LIBERTAR DE SUAS ASAS. -- Hora de acender os charutos, companheiros! (disse um dragão verde) E então todos acenderam. Elvis pegou também o seu. Marvin ficou só olhando. -- Hora de todos acenderem os seus charutos! (insistiu o mesmo dragão verde da fala anterior) Marvin não tinha charuto algum. Elvis deu um dos seus para ele, enquanto os outros dragões encaravam os dois recém-chegados... Todos fumaram.
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Bem, quase todos. Marvin fingiu apenas. Fingiu e muito mal... NÃO SE PODE FINGIR QUE SE FUMA UM CHARUTO SEM ACENDÊ-LO. -- Esse aqui não está provando a fumaça! -- disse um dragão amarelo e “dedo duro”. -- Fumar e baforar, este é um dos lemas da Confraria dos Dragões-Anões! – observou um dragão azul. Todos olharam para Marvin e ele foi obrigado então a acender e experimentar o charuto.
-- CHROFT CRECKT CHROFT, COT, COT, CRECKT, CHOFT!!! Coitado do Marvin. Não sabia ele que charutos não foram feitos para tragar... A tosse continuou insistente e um dos dragões anões lhe passou uma caneca com água das montanhas... Marvin bebeu, mas a tosse continuou mesmo assim... até ser dissipada pelo cansaço. FUMAR E JAMAIS TRAGAR: EIS A PRIMEIRA LEI DO CHARUTO. Os olhos de Marvin, recém-esbugalhados, ficaram cheios de fumaça. Dava até para ver uma nuvenzinha voando em suas retinas... Mesmo sendo agora um dragão, fumar não era coisa para ele e pelo jeito jamais seria. -- Você aí, que não sabe fumar! Não podemos aceitá-lo em nossa distinta Confraria. Seria até uma humilhação se outros dragões descobrissem isso. Ou você faz um Curso Técnico para Futuros Fumantes ou não aceitaremos mais a sua presença aqui! – observou o mesmo dragão azul da fala anterior. Pelo jeito de dizer as coisas, devia ser um dos conselheiros. Se é que uma Confraria tem alguém com tal função. Marvin não sabia o que fazer. Apenas acenou com a sua cabeça de dragão, esperando ser entendido. -- Tudo bem, mas que isso não se repita então! – falou um dragão amarelo. Elvis manteve-se em silêncio. -- E agora companheiros, vamos fazer um grande brinde a todos os dragões anões que fazem parte desta amada Confraria, mas não se encontram presentes por motivos particulares... Um, dois e já.
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Todos os dragões beberam suas canecas de rum exotérico, em um golão só, e depois as jogaram contra as paredes. É ASSIM QUE SE BRINDA NA CONFRARIA DOS DRAGÕES ANÕES. Elvis e Marvin estavam sem as canecas e por isso não brindaram nada. -- Novamente, outro aviso importante. Quem não sabe beber e quer continuar fazendo parte da Confraria dos Dragões Anões deverá fazer um Curso Técnico Bebedor Mor, o mais urgente possível. Elvis e Marvin ficaram sem graça, olhando um para o outro, meio cabisbaixos, na mira dos olhares dos outros dragões. Alguns cochichavam nos ouvidos dos colegas ao lado. Rizinhos e até gargalhadas se faziam ouvir. -- Silêncio! Silêncio, companheiros! Como é de praxe, em todos os nossos encontros, vamos relatar algumas histórias interessantes que aconteceram desde a última reunião. Desta vez eu mesmo começo. -- Mas, chefe. Hoje não era pra ser a vez do Barrabás começar? – observou um dragão roxo. -- Eu já disse pra você não me chamar de chefe! (“sibilou” o chefe para, então, continuar a fala). Mas como eu estava dizendo, um fato muito interessante, eu diria até peculiar, aconteceu comigo... Marvin imaginou que só podia ser algo muito e muito chato, já que o dragão falante parecia ser daqueles que, quando começa, não deixa mais ninguém abrir a boca... -- ...Estava eu, voando e depois andando, voando e depois andando, lá pros lados da Vila Querubim, quando ouvi um barulho estranho, muito estranho. Em seguida já avistei um companheiro moribundo deitado atrás de uma pedra. DRAGÃO GERALMENTE NÃO CHAMA OUTRO DRAGÃO DE DRAGÃO. -- Aproximei-me dele. Ele gemia uma mistura de uivo de lobo com grito de golfinho, coaxar de sapo e mugir de vaca... Ao seu lado, uma garrafa. Não era de rum exotérico, não... Tinha um cheiro jamais cheirado por este meu super faro... O cheiro, na verdade, era um fedor que se cheirado, ou melhor fedorado, por muito tempo, comeria minhas narinas por dentro... Ácido. Ácido misturado com algo terrivelmente fedido... E aí uma questão encasquetou no meu cérebro: O que aquele companheiro estava fazendo com
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tal substância deveras desagradável? Será que tentara o suicídio? Mas por quê? AH! Amor não correspondido. Só pode ser isso, pensei eu em seguida... Repentinamente, ele abriu os olhos e me pediu: “Me vê aí um charuto! Preciso agora afogar minhas mágoas na fumaça de um cubano”. Eu, que sempre estou muito bem prevenido em matéria de charutos, atendi o seu pedido... Na terceira ou quarta baforada, ele já parecia novo em folha. Levantou sua carcaça e me agradeceu: “Obrigado, eu estava mesmo precisando de um desses!” Aí ele resolveu me contar uma história. “Você vai gostar de ouvi-la”, disse ele. “E será também a forma de eu lhe pagar o charuto”, completou. Como eu não tinha nada de importante pra fazer mesmo, fiquei ali ouvindo, não uma, mas várias histórias. A que eu vou contar hoje funciona mais como uma charada e diz justamente respeito ao nosso grande e inseparável amigo: -- O CHARUTO!!! – Todos, menos Marvin e Elvis, gritaram uníssono. -- ...Não vou citar aqueles que estiveram envolvidos em tal narrativa, mas apenas a charada em si. Ela diz respeito a fumaça do charuto. E aí eu lhes pergunto: Como é que se pesa a fumaça de um bom charuto cubano? Todos os dragões fizeram um grande silêncio interrogativo. Marvin sabia a resposta. Afinal ela havia sido dada no filme “Cortina de Fumaça”, que ele achou “legalzinho”. “Será que esse dragão assistiu também o filme?” – pensou Marvin, não acreditando muito naquela enrolação toda dita pelo “dragão chefe”. O SILÊNCIO INTERROGATIVO PERMANECEU NO AR MISTURADO COM A FUMAÇA DOS CHARUTOS. Marvin ficou se segurando para não responder. -- Pelo jeito, ninguém sabe, não é? Dou-lhe uma, dou-lhe duas, dou-lhe três... Ninguém mesmo? A resposta é muito simples, companheiros! O SILÊNCIO INTERROGATIVO PERMANECEU NO AR MISTURADO COM A FUMAÇA DOS CHARUTOS. -- Primeiro, pesa-se o charuto que será fumado. Durante o ato de fumar, reserve a cinza. Não deixe cair nada no chão. O peso da fumaça será a diferença entre o peso do charuto e o peso da cinza. Entenderam?
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Mexerico, justamente o dragão que mais abominava qualquer coisa que envolvesse números e contas, protestou: -- Essa conta é muito difícil de se fazer!!! Para ele qualquer conta que envolvesse algo cuja soma fosse superior a 8 era considerada difícil-impossível. -- Necessitamos de uma balança de precisão. – observou Super Lord. Com charutos, fumaça e o rum exotérico correndo soltos na Confraria, muitas outras histórias foram sendo contadas... Marvin se interessou por cinco delas. Algumas lhe deram bocejo e sono e, por isso, Elvis resolveu sair bem mais cedo do que esperava. Já com as respectivas asas colocadas (as únicas sem etiquetas), os dois partiramvoando... ENQUANTO ISSO NA CAVERNA DA MISTERIOSA CRIATURA DA CAIXA PRETA: -- Tchau, eu não vou te pagar tudo o que combinamos por essas coisinhas titiquinhas de nada. -- Trato é trato, meu caro! -- Mas não foi bem isso que a gente negociou. -- Claro que foi! Eu não tenho culpa se os ditos seres humanos têm só isso. Eu prometi vinte e tá tudo aí. -- Vinte, mas desse tamanhico? Minha poção não vai funcionar assim. -- Então, eu te trago mais vinte. -- Mais vinte não vai ser o suficiente também. -- Sessenta então? -- Quem sabe! -- Trago oitenta pra garantir. -- Combinado então. Mas sem cobrança adicional. -- Não, isso eu não posso garantir. -- Um favor pelo menos! -- Desculpe, mas eu não posso fazer favores. Vai contra a minha ideologia existencial. -- Não sei como ainda fico fazendo negócios com você, Tchau.
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-- Você sabe sim. E sabe muito bem. Afinal eu sou o melhor em tudo. -- E quanto vai sair a dolorosa? -- Vou pensar... vou pensar... -- Mas não pense muito, tá? -- Oitenta almas de seres humanos, deixe-me ver... Hum! Hummm! Tudo bem, eu te darei um desconto de trinta por cento. E você me paga tudo com o próximo pedido.
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CAPÍTULO 6 O LIVRO DE CARNE “A esperança é um pássaro empoleirado na alma.” (Ammie Dickson – ex-poeta, atualmente bruxa)
Somente um vôo e uma chuva gelada para despertar alguém do sono à vista... ASAS DE DRAGÃO SÃO IMPERMEÁVEIS, ASSIM COMO PÁRA-QUEDAS, CAPAS E COISAS DO GÊNERO... -- Elvis, pra onde estamos indo afinal? -- Calma, Calma! Me siga apenas. -- Mas, mas? Por que a gente não toma uma pílula de se ir a algum lugar? -- Você não está gostando desse nosso vôo? Veja só o meu rasante. -- Não. Não é isso! – gritou Marvin -- Eu estou gostando muito de voar. Mas... Mas... Mas... Elvis desceu a mais de cem e vinte quilômetros por hora na noite estrelada. Após piruetas e piruetas e piruetas, ele retornou até Marvin para continuar o diálogo: -- Mas, mas, mas... o que você está querendo dizer com tantos mas, Marvin?? -- Me deu uma aflição no coração. Uma coisa... Eu aqui com você me divertindo e tantas coisas pendentes em minha vida. É por isso que eu me sinto culpado. OS MUNDOS MÁGICOS MUITAS VEZES NOS FAZEM ESQUECER TEMPORARIAMENTE ATÉ DOS NOSSOS PROBLEMAS MAIS TERRÍVEIS. -- Calma! Calma! Tudo tem seu tempo. -- Lenora está morta! Vovó Pangaré virou areia! Etecétera sumiu! E o meu amigo Tonhão... -- Calma! Calma! Existe mágica pra tudo. -- Até para a morte? -- Sim e não. Sua amiga Lenora ficará pelo menos cem anos nas Trevas Sólidas e depois retornará... -- Cem anos nas Trevas Sólidas?
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Marvin começou a chorar gordas lágrimas de dragão-anão. Uma das maiores caiu mortalmente lá embaixo sobre vinte formigas que carregavam um besouro azul. FORMIGAS EXISTEM EM TODOS OS MUNDOS. -- Calma! Calma! Não se desespere! Vamos! Tome esta pílula de se parar de chorar! -- Eu não... quero... parar... de chorar... Eu... só quero... Lenora... viva! -- Marvin, veja as coisas pelo lado bom! Nessas alturas, Elvis e Marvin já não estavam mais nas alturas: haviam pousado sobre uma grande pedra, a maior entre várias outras vizinhas que enfeitavam o Pântano da Saudade. -- Lado bom?! Onde pode haver... lado bom... nessa desgraça toda? Um silêncio-vento suave tomou conta dos dois amigos. E eles ficaram assim olhando a manhã de dois sóis surgindo... “Dois sóis? Por que dois sóis?” – Marvin perguntou para si mesmo. E continuou em silêncio. Assim que o silêncio cansou, Marvin sentenciou: -- Elvis, você vai ter que me ajudar a salvar Lenora! Deve ter um jeito! E se não tiver, você vai inventar um! Afinal você não é o famoso médico, cantor e inventor Elvis Presley?
ELVIS PRESLEY : INVENTOR DE PÍLULAS: Pílula peluda; Pílula memorificante; Pílula para se voltar pra casa; Pílula para se virar dragão-anão; Pílula para se parar de chorar; Pílula para se assistir tevê sem tevê ( “E como se muda de canal?” Algum leitor pode estar se perguntando... Muito simples, é só mexer uma das orelhas); Pílula para crescer; Pílula para diminuir; Pílula para visitar a lua; Pílula para qualquer coisa ficar com gosto de chocolate;
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Pílula para se transformar em objeto; Pílula para se ganhar em qualquer loteria sozinho (você toma a pílula antes de fazer o jogo e pronto); Pílula para afastar inimigos; Pílula para chamar amigos muito distantes; Pílula para tocar violão em segundos; Pílula para tocar guitarra feito Jimmy Hendrix; E muitas outras pílulas e pílulas e pílulas...
-- Elvis, já que você inventa pílula para tantas coisas, invente uma para ressuscitar Lenora! -- Isso eu não posso fazer!!! -- Não pode, por quê??? -- Mesmo que eu pudesse, as conseqüências seriam terríveis. Eu estaria quebrando a ordem natural das coisas nos Mundos Mágicos. -- Quebrando a ordem natural das coisas? Pelos lugares onde eu passei, a ordem natural das coisas estava sendo quebrada a todo momento. -- Isso no seu modo de ver. No nosso não. Fazer magia não é quebrar a ordem natural. Agora ressuscitar alguém sim. Cada morte deve vir seguida de pelo menos cem anos nas Trevas Sólidas. E isso não é regra, é Lei. LEIS DOS MUNDOS MÁGICOS: AO TODO SÃO DUZENTAS E CINCO, POR ENQUANTO. -- Uma desobediência até é possível. Mas acho que você não vai querer ver a sua amiga transformada em uma morta-viva... Ou vai?? Dito isso, vieram à mente de Marvin as terríveis imagens do filme “Cemitério Maldito”, baseado no livro de Stephen King: Gato zumbi, menino zumbi, mulher zumbi. Todos meio podres e diabólicos. Certamente Marvin não queria isso para Lenora. -- Talvez exista uma alternativa! – indagou Elvis – O livro de carne deve ter a resposta. -- Livro de carne??? -- O problema vai ser conseguir um exemplar lá na Biblioteca Infinita.
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-- Biblioteca Infinita?? Foi aí que Elvis, meio contra gosto, acabou se tornando professor de História: -- Segundo a versão oficial, A biblioteca infinita teria surgido após a destruição completa da Biblioteca de Alexandria no ano de 646 da era cristã. Felizmente, antes que os árabes aniquilassem todos os “livros”, um mago conseguiu transportá-los a um dos mundos mágicos. E assim nasceu a Biblioteca Infinita. Hoje ela contém todos os livros escritos. Inclusive aqueles que teriam sido queimados por todas as “Santas Inquisições”. Há também uma parte da biblioteca dedicada aos livros apenas pensados por seus autores... Ah! E sobre o livro de carne... Inconscientemente, Marvin abanou o rabo de dragão-anão, como se fosse um cachorro esperando alguma recompensa. -- Pelo que eu sei, existem dez exemplares apenas... Os livros de carne, além de muito procurados pelos bruxos, também são temperamentais. -- Temperamentais?? -- Nem te conto!!! Nem te conto!!! E afinal dos contos e das contas, já-já você vai ver tudo com os seus próprios olhos... Tome esta pílula! PÍLULA EM FORMA DE MINI LIVRO. -- É pra deixar a gente mais inteligente??? -- Marvin, você é muito engraçado, muito engraçado mesmo... Às vezes, você fica quieto, não fala quase nada. Não pergunta. Não responde. Mas quando resolve abrir a boca. Nossa!!! Não é fácil ficar te respondendo tantas coisas. Que tal deixá-las simplesmente acontecer? O inesperado é muito mais saboroso. Tem um tempero! Humm!!! E assim Marvin “amarrou o burro”, calando-se pelos segundos seguintes que vieram e que também foram embora rapidinho. Conforme o sugerido, ele engoliu a pílula retangular. E não é que esta desceu fácil, fácil pela garganta, e sem nenhum líquido para empurrar. Elvis estava ficando bom inventor de pílulas que deslizam com facilidade. PÍLULA PARA SE VISITAR A BIBLIOTECA INFINITA. Elvis fez o mesmo e, em CLICKS SEGUNDOS, os dois já estavam voando na mais fantástica biblioteca jamais imaginada por alguém. Um lugar que de dentro não tinha fora. Nem de dentro nem de fora. Ou melhor, o dentro era o fora que era o dentro também. Confuso? Não tanto.
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Elvis e Marvin voavam no meio de livros flutuantes por todos os lados. Não havia estantes, feito nas bibliotecas convencionais. -- Elvis, os livros ficam assim flutuando o tempo todo? -- Flutuar é o eterno e nobre destino deles. -- Em ordem alfabética??? -- O certo seria dizer, em desordem analfabética, Marvin. E havia livros de todos os tamanhos. Desde os microscópicos, para serem encontrados e lidos com ajuda de microscópios especiais, até alguns com três, quatro, cinco... seis metros de altura ou mais... Entre os livros: bruxos, fadas, magos, fantasmas, vampiros, duendes com asas e outras diversas espécies de criaturas voavam à “procura do saber infinito”. Ou mesmo de um saber básico para alguma artimanha ou feitiçaria ou maldição. INFINITO É SABER QUE CADA VEZ QUE MAIS SE APRENDE, MENOS SE SABE. -- Livros de fórmulas e mais fórmulas. Livros de poções para isso, poções para aquilo, poções para... A maioria das criaturas só quer saber de coisas desse tipo. E também de fofocas. Muitas fofocas. Revistas e mais revistas de fofocas bruxísticas. Alguns até que se interessam por turismo através dos milhares e milhares de mundos... Agora, algo mais elevado, filosófico, poético, é raro... Muito raro encontrar uma alma, mesmo que penada, interessada em assuntos menos superficiais. Tal fala ranzinza vinha de um velho dentadura, “rato-gato-cachorro-lobo-debiblioteca”. No mínimo ele devia ter cem anos em cada dedo, isso contando os doze das mãos e os vinte dos pés. Marvin sentia-se ADMIRADAMENTE perdido entre todos aqueles livros flutuantes. Para onde ele olhasse, era o que mais se via até a vista se perder no infinito. Para cima, para baixo, para a direita, para a esquerda, para todos os lados. LESTE, OESTE, NORTE, SUL: livros, livros, livros, livros, livros, livros, livros, livros, livros, livros, livros, livros, livros, livros, livros, livros, livros, livros, livros, livros, livros, livros, livros, livros, livros, livros, livros, livros, livros, livros, livros, livros, livros, livros, livros, livros, livros, livros, livros, livros, livros, livros, livros, livros, livros, livros, livros, livros, livros, livros, livros, livros, livros, livros, livros, livros, livros, livros, livros, livros, livros,
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livros, livros, livros, livros, livros, livros, livros, livros, livros, livros, livros, livros, livros, livros, livros... UM MAR. UM OCEANO DE LIVROS FLUTUANTES. -- Não sei não, mas acho que nunca vamos encontrar um livro de carne neste infinito bagunçado. -- Nunca diga nunca, Marvin! Dificilmente seria a palavra mais apropriada. Dificilmente se... -- Já sei! Você tem um plano infalível ou uma pílula para resolver isso tudo! -- Eu não diria plano, mas sim estratégia... Conheço um pouco a personalidade dos livros de carne. E sei que alguns deles gostam muito de... Só espero que estejam aqui na biblioteca. Se foram emprestado, aí não vai ter jeito, pelo menos por enquanto. -- Eles gostam muito do que mesmo? Você acabou não dizendo... ANTES QUE ELVIS DISSESSE...
STREEESH, UM CÍCLOPE PRATEADO MÍOPE E FLUTUANTE acabou embolando-se com os dois... E mesmo sendo o causador do acidente, ele ainda teve o descaramento de reclamar com sua voz de trombone mal cheiroso: -- Não olham por onde voam??? Seus abomináveis!!! Mesmo com a embolação aérea, Elvis e Marvin conseguiram manter o vôo necessário, enquanto o cíclope continuava sua missão de causar esbarrões-confusões a outras criaturas... -- Certos seres repugnantes não valem uma escama de nossos corpos. O melhor é não dar bola alguma a esses tipos... Mas o que eu estava querendo dizer é que os livros de carne gostam muito, mas muito mesmo de tingue-lingues. -- Elvis, que eu saiba tingue-lingue é uma fruta. Uma fruta viva e saltitante. Eu já comi uma. Parece borracha. Não vai me dizer que os livros de carne... -- É bem isso que você está pensando. Alguns livros de carne adoram comer tingue-lingues. -- Comer? Como? -- Ora bolas!! Pela boca é claro! Livros de carne têm boca, nariz, orelha... Ah! E asas.
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IMEDIATAMENTE veio a mente de Marvin um ataque de livros de carne. Mais ferozes que “Os Pássaros” de Alfred Hitchock. Centenas de milhares. Escurecendo o céu e os corações. Todos eles famintos... Invadindo praças, ruas, prédios, casas, quartos... Todos eles tirando pedaços das pessoas que em sua grande maioria nunca haviam “devorado” um livro por inteiro. “DEVORA-ME OU EU TE DEVORO.” -- Se esses livros têm até boca, então pelo jeito, eles falam também! – observou Marvin. -- Claro! Afinal bocas não foram feitas somente para comer, não é mesmo?! -- Elvis, nisso tudo uma coisa me intriga. Me parece que você não tem nenhum tingue-lingue aqui, ou tem? -- Não, não tenho não. Mas acho que posso negociar com o Torresmo. Ele já conhece o meu assobio e se estiver por perto... “Torresmo???” – Marvin indagou só para si, enquanto Elvis começava a assobiar:
ZZZRRRRIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIMMMMMMMMMMM... ZZZRRRRIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIMMMMMMMMMMM... ZZZRRRRIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIMMMMMMMMMMM... ZZZRRRRIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIMMMMMMMMMMM... ZZZRRRRIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIMMMMMMMMMMM... Ao todo, cinco insistentes-irritantes assobios... até Elvis desistir (já que em todas as vezes o tal do Torresmo aparecia rapidinho). Então o ex-enorme-dragão-verde se lembrou que agora ele não era mais o DRAGAOZÃO de sempre e, portanto, o seu assobio também não tinha mais a mesma potência de antes: “Sim, só pode ser isso, só pode ser isso mesmo. A não ser que o Torresmo tenha sido emprestado...” – pensou ele. -- E agora, Elvis? Elvis coçou o queixo e Marvin fez o mesmo. Antes que alguém ache a frase anterior ambígua, talvez seja melhor completar dizendo cada um deles coçou o seu. -- Eureka Pankeka!!! – gritou Elvis
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-- “Eureka Panqueca??? Esse Elvis! É incrível como ele gosta de ficar inventando e até reinventando o que já foi inventado há muito tempo” – Marvin filosofou só para os seus neurônios. E então Elvis engoliu uma pílula verde e instantaneamente foi CRESCENDO, CRESCENDO, CRESCENDO... Em vinte segundos, ele voltou a ser o dragão verde de quase sempre. -- Já estava com saudade da minha barriga-pança. – observou Elvis, enquanto acariciava sua enorme protuberância escamosa que além das banhas abundantes apresentava um umbigo maior que pizza. Agora ia ser fácil chamar o Torresmo. E foi isso mesmo que Elvis fez duas vezes apenas:
ZZZRRRRIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIMMMMMMMMMM! ZZZRRRRIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIMMMMMMMMMM! O ASSOBIO MUITO MAIS POTENTE TROUXE TORRESMO RAPIDINHO. Torresmo era um livro de carne fora do tamanho padrão editorial de 14cm x 21cm fechado. Na verdade, editora alguma o havia publicado. Assim como os outros livros de carne, Torresmo nasceu das mãos e da mente de um mago: milenar e poderoso, conhecedor de muitos segredos do UNIVERSO. Mais ou menos parecidos no conteúdo, mas diferentes na personalidade, todos os raros livros de carne tinham 18 por 27 centímetros. Torresmo trazia a capa de couro chamuscada em alguns pedaços. Daí o apelido. Suas duas asas ficavam ruflando o tempo todo. Tão rápidas quanto as de um beija-flor. SESSENTA VEZES POR SEGUNDO. -- Cuidado ao me folhar! Eu tenho cócegas! – observou Torresmo, antes que Elvis e Marvin, um dos dois, muito mais o segundo, resolvesse abri-lo.
ENQUANTO ISSO NA CAVERNA DA MISTERIOSA CRIATURA DA CAIXA PRETA: -- Nossa, Tchau! O quê... o que aconteceu com você? -- Nem te digo, nem de digo, Caixa!
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Tchau sangrava muito. Sangue amarelo de duende amarelo. Seu rosto estava quase desfigurado por uma patada-garra violenta. Não era de urso. Não era de leão. Não era de pantera. Nem de nenhum animal do mundo humano. Um estrago daqueles só podia ser mesmo coisa de... -- Não sei como... consegui... fugir... daquela... coisa. Eu até... tentei... negociar... uma trégua... mas... -- Tchau, você está pingando sangue no meu tapete persa! -- Desculpe a distração, Caixa!... Pronto, agora já... estou fora dele. -- É, mas agora você está pingando sangue no meu piso encerado. -- Nada que... um desconto... no seu pedido... não possa resolver... não é mesmo, Caixa? -- Se é você quem está dizendo isso. Um desconto é sempre bem vindo! -- Um desconto... digamos de.... dez por cento. -- Vinte me deixaria muito mais feliz. -- Quinze... e não se fala... mais nisso. -- Tá combinado, Tchau. -- Então tá! Quinze por cento... de desconto... nos oitenta por cento de acréscimomulta... devido a este acidente violento... horroroso e dolorido.... pelo qual passei... e você pôde e pode ainda... muito bem comprovar visualmente. -- Oitenta por cento??? Oitenta por cento??? Você deve ter ficado louco, só pode ser isso!!! -- Oitenta por cento menos quinze de desconto. E tudo fica em apenas sessenta e cinco por cento!!! -- Eu não pago, não pago, não pago!!! -- Olha o Sindicato!!! -- Que Sindicato??? -- Ora bolas, o nosso sindicato!!! O Sindicato dos Duentes Amarelos!!! Se eu sozinho já sou poderoso e perigoso... imagine só nove mil duendes amarelinhos feito eu... Você não ia gostar de ver... Muito menos de... Dito isso, a Misteriosa Criatura da Caixa Preta se calou e já foi se dirigindo até o cofre (à prova de feitiços e bruxarias) que ficava incrustado na parede de pedra.
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TCHAU LIMPAVA O ROSTO SANGRENTO COM UMA TOALHA ENCARDIDA. -- Aqui estão os diamantes! Eram dez. Mais sessenta e cinco por cento. Dezessete. Arredondando para cima do jeito que você tanto gosta... -- Muito bem, Caixa, você já está aprendendo... a negociar comigo... Isso é muito bom! Isso é muito bom, mesmo! Tenho certeza que ainda... faremos ótimos negócios. Ótimos negócios para ambas as partes... -- Você não quer um chazinho de tingue-lingue? -- O papo tá muito bom, mas tenho outros negócios urgentes.... Então já estou indo, Caixa!!! -- Assim tão apressado? -- É! Pra você ver! Sou cada vez mais requisitado! Mas não se preocupe, você será sempre um dos meus clientes preferenciais. -- Tchau então, Caixa! -- Tchau, Tchau!
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CAPÍTULO 7 O REMORSO DE ELVIS “Não conheço as cores do arco-íris, nem o cheiro das ondas batendo nas pedras, muito menos o gosto dos beijos dos amantes.” (Urutum Bretoboscus, a mais horrenda criatura do Vale das Urtigas)
-- Não é fácil tirar alguns diamantes a mais daquele sovina do Caixa. Mas é claro que eu não faço só pelos diamantes. Eles contam apenas cinqüenta e cinco por cento. Os outros quarenta e cinco fazem parte de um prazer quase inenarrável. Um prazer que vem quando você tapeia-engana alguém que se acha todo poderoso. Nossa, como é bom!!! Dez mil vezes melhor que comer bolo de “tingue-lingue” com recheio de amores gigantes e cobertura de doce de leite de Mamute. -- Pirralho, você é mesmo muito esperto! -- Pirralho!? Nunca mais, seu idiota! Meu nome agora é Tchau. Eu já te disse isso umas cinco mil vezes. -- Desculpe! É que eu te conheci como Pirralho e agora fica difícil te chamar diferente... -- Pelo jeito vão ser necessários alguns bons meses, quem sabe até anos, para você gravar o meu novo nome: Tchau, Tchau, Tchau, Tchau, Tchau, Tchau... REPITA!!! -- Tchau, Tchau... Tauch, Tauch, Tauch, Tauch!!! -- Deixa pra lá! Um outro dia a gente tenta de novo. ENTRE UMA FALA E OUTRA, O LOBODÁTILO (CABEÇA DE LOBO E CORPO DE PTERODÁTILO) LAMBIA AS MARCAS PROFUNDAS DEIXADAS POR ELE MESMO NO ROSTO E EM PARTES DO CORPO DO DUENDE TCHAU. -- Acho que te machuquei demais desta vez!!! -- Que nada!!! Tudo funcionou melhor do que o esperado... Para enganar certas criaturas, nada como o realismo sanguinolento que convence até os olhos mais incrédulos.
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A BABA VISCOSA DO LOBODÁTILO POSSUÍA UM PODER IMEDIATO DE CICATRIZAÇÃO. E ASSIM COMO ELE PODIA RASGAR A CARNE DAS CRIATURAS COM PROFUNDOS SULCOS... A ELE TAMBÉM FORA DADO O RARO DOM DE CURAR FERIMENTOS... ....................................................................................................................................... Enquanto Marvin folheava Torresmo que vez por outra reclamava: “uii, uii, uii! Pare, pare, pare um pouco! Essa sua pata tá me enlouquecendo de cócegas!”, Elvis passou a observar o ambiente com mais cuidado. O sexto sentido que Marvin não demonstrava há um bom tempo, em Elvis estava mais presente do que nunca. Afinal recentemente ele inventara também uma pílula para tal. PÍLULAS DO SEXTO SENTIDO SÃO COMO VITAMINAS. DEVEM SER TOMADAS TODOS OS DIAS. Em linha reta, na direção norte, atrás de milhares e milhares de livros flutuantes, algo terrível se escondia... preparando-se para o bote no momento mais oportuno. A vítima era Marvin. Elvis sentiu um frio no peito, na espinha e na barrigona de dragão, como se aquele medo de uma medonha tragédia tivesse também ele próprio como alvo. “Não sei não sentir pelos outros, principalmente pelos meus amigos mais chegados. Acho que se todos se colocassem no lugar dos outros, os mundos seriam muito mais interessantes para se viver ou se fantasmagorar.”
LETRAS. PALAVRAS. FRASES. PARÁGRAFOS. DESENHOS. Minúsculas veias de sangue vermelho, azul, amarelo, verde, marrom, preto... escrevendo receitas, poções, segredos, mapas perdidos, maldições, bondades e maldades infinitas, segredos, coisas de desejo e ambição, palavras mágicas para se esganar e até matar, segredos, segredos e mais segredos... Minúsculas veias de sangue contando de reinos encantados, de mundos perdidos, de tesouros e de criaturas jamais imaginadas pela mente humana. As folhas de Torresmo, na verdade, não eram feitas de carne, mas sim de couro. Livro de Carne era apenas força de expressão que o tempo havia consolidado na mente e boca das criaturas.
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Marvin ia folheando Torresmo com todo o cuidado necessário para não fazer as cócegas que irritavam o livro... “Agora tá bom! Isso mesmo! Você aprendeu rápido a manusear alguém sensível feito eu!” -- Marvin! Precisamos sair daqui imediatamente! -- Mas, mas e o Torresmo?? -- O certo seria irmos até a seção de empréstimos... Mas não temos tempo pra isso. Então a solução será roubar o Torresmo por algum tempo. -- SOCORRO! SOCORRO! SOCORRO!!! ESTÃO QUERENDO ME ROUBAR!!! ESTÃO QUERENDO ME ROUBAR!!! -- Marvin, tape a boca desse livro e vamos dar no pé, ou melhor, nas asas!!! -- SOCORRO! SOCORRO!— Torresmo continuou gritando, afinal para ele e todos os livros o certo era ser emprestado de acordo com a burocracia exigida pela Biblioteca Infinita. Se deixar roubar ia contra tudo o que ele havia aprendido e contra tudo o que ele acreditava ser correto. -- AI!!! Este livro morde!!! – exclamou Marvin, soltando Torresmo que saiu voando em carreira desembestada. -- Deixe que eu pego esse danado!!! – E assim Elvis foi no encalço do livro de carne... atropelando algumas criaturas pelo caminho... em ziguezagues desviando alguns livros, indo de encontro a outros. A BIBLIOTECA INFINITA NUNCA MAIS SERÁ A MESMA DEPOIS DESTE E DO EPISÓDIO QUE SE SEGUIRÁ... Após mais ou menos um minuto de perseguição estilo “Guerra nas Estrelas”: -- Te peguei! Agora você não vai fugir mais de mim e nem de meu amigo Marvin. Elvis encarou Torresmo com seus olhos de dragão verde. Não foi necessário dizer mais nada. Torresmo entendeu muito bem a mensagem e não abriu mais a boca, nem para falar nem para morder... Quando Elvis retornou até Marvin, Marvin não estava mais ali. EPISÓDIO SEGUINTE: A medonha tragédia voava-corria atrás de Marvin. O sexto sentido de Elvis não se enganara. Dava até pena ver milhares e milhares de livros sendo destruídos pela maior
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perseguição já vista em uma Biblioteca Infinita. Folhas e pedaços de capas de livros flutuavam agora entre as publicações sobreviventes da tragédia. MUITA BAGUNÇA, MUITA DESTRUIÇÃO, MUITA SUJEIRA. Fugindo novamente de seu próprio túmulo, Marvin adquirira uma habilidade de voar jamais imaginada por ele, mesmo sendo agora um dragão anão. A NECESSIDADE E O DESESPERO FAZEM DESSAS COISAS. DÃO FÔLEGO NOVO ÀS CRIATURAS QUE DESEJAM SOBREVIVER ÀS SUAS PRÓPRIAS TRAGÉDIAS... Marvin tanto voou-fugiu que acabou indo parar em uma “parte da biblioteca” onde os livros eram feitos de marimbondos. Marvin só percebeu isso quando esbarrou em um deles e sentiu de perto a maldição que pega aqueles que ousam mexer nos livros proibidos, sem uma proteção ou magia adequadas. Realmente este estava sendo um dia DAQUELES para Marvin. Dia de cão alguns diriam. Dia de marimbondos, isso sim. Ainda bem que não eram os terríveis Marimbondos de Fogo de uma outra seção da Biblioteca Infinita.
SER DRAGÃO TEM ALGUMAS BOAS VANTAGENS SOBRE OUTRAS CRIATURAS. ENTRE ELAS PODEMOS CITAR: a) Conseguir amedrontar quase todo mundo; b) Voar em diversas velocidades e até flutuar; c) Lançar jatos de fogo, ácido e de outras coisas, dependendo da espécie de dragão; c) Em alguns casos ficar invisível; d) Possuir um corpo-couraça resistente; e) Usar o rabo para espantar moscas e abater inimigos. f) Em alguns reinos ser tratado como rei; g) Em muitos outros reinos ser tratado com respeito; h) Ter poderes mágicos; i) Poder viver séculos e até milênios; j) ETC, ETC, ETC, ETC, ETC.
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ENTRETANTO toda criatura, por mais poderosa que possa ser, tem também o seu calcanhar de Aquiles. Marvin, o dragão-anão, tinha três. E como os marimbondos da Biblioteca Invisível não eram bobos nem nada, atacaram justamente nesses seus pontos fracos: buracos do nariz, pálpebras e focinhão. Elvis só apareceu depois que Marvin já havia levado pelo menos umas cem picadas de marimbondos: -- Puxa vida, Marvin, você não me parece nada bem! E NÃO ERA PARA MENOS: O nariz virou um narigãozão vermelho. As pálpebras inchadas pareciam almofadas. O focinhão dobrou de tamanho. E COMO TUDO DOÍA!... Doía e latejava, latejava e doía, doía e latejava, latejava e doía... Marvin até chorou algumas lágrimas de dragão-anão. Cinco ao todo, já que não era tão fácil para um dragão chorar com a abundância que choram os humanos. -- Tome, Marvin! Esta pílula vai resolver o problema quase instantaneamente. Marvin tomou a pílula no formato cor e tamanho de pimenta vermelha. A queimação na boca e na garganta comprovou que aquela pílula não era pílula coisíssima nenhuma. Era pimenta mesmo. E das brabíssimas. “Por que Elvis está fazendo isso comigo? Brincadeira e piada numa hora destas?!” - pensou Marvin. Em alguns segundos veio a resposta: as dores das picadas de marimbondos haviam desaparecido. Os inchaços vermelhos também. -- Agora tome está pílula para tirar a queimação da pimenta. Marvin tomou. E o seu corpo foi murchando, murchando, murchando... Depois que murchou, boa parte do líquido-baba-de-dragão acabou caindolambuzando alguns livros na imensidão dos “abismos” da Biblioteca Infinita. Então foi a vez de Marvin sair daquela carcaça de dragão que ainda ruflava as duas asas. MARVIN NASCEU DE NOVO... Nasceu de novo o menino que até pouco tempo ele sempre havia sido.
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MENINO NU E SEM ASAS. Marvin caiu no “abismo” da Biblioteca Infinita. Caiu sobre livros e mais livros... E continuou caindo...
Nenhum deles conseguia segurar sua queda que pelo jeito seria
também infinita assim como a biblioteca. CAIR INFINITAMENTE PELO RESTO DA VIDA??? NÃO, ISSO ERA IMPOSSÍVEL. MARVIN MORRERIA MUITO ANTES. Alguns livros foram amortizando sua queda, mas isso era o máximo que eles conseguiam fazer. E ONDE AFINAL ESTAVA O ELVIS QUE NÃO VINHA RÁPIDO SOCORRÊLO? Em seu caminho vertical, Marvin trombou também com várias criaturas e ainda ouviu palavrões e maldições:
-- Seu Frostruco Mazolento!!! -- -- Carabundão Mulotunco!!! -- Brosniatro Bracantrovkc!!! -- -- Camaroto horenenre!!! -- Hroendowodks skwierucjcdj!!! -- -- Bdbsdnou oeor!!! -- Cridiedty speorsd!!! Marvin, que até então entendia todas as línguas e dialetos de todas as criaturas, MISTERIOSAMENTE, não estava entendendo mais nada. Mas agora tal fato era de mínima importância.
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TODO FATO É DE MÍNIMA IMPORTÂNCIA, QUANDO SE ESTÁ CAINDO, CAINDO, CAINDO... Marvin acabou caindo sobre um IMENSO livro de chumbo. Devia medir uns vinte metros de largura por quarenta de altura. Fechado. O livro era frio e gelava o corpo já tremendo de frio de Marvin. A princípio Marvin pensou que tinha chegado no fim do fundo da Biblioteca Infinita. Afinal, pelos seus cálculos instintivos, ele havia caído durante mais de dez minutos. LEDO ENGANO. Quando Marvin se levantou, um pequeno riacho circundava seu corpo. Olhando melhor não era um riacho não. Parecia uma enorme letra molhada. Sim, uma letra. A letra
A.
Um sulco na capa do livro de chumbo onde corriam águas límpidas. Outros sulcos. Outras letras. Marvin pôde identificá-las pulando por elas, unindo
umas as outras até o gigantesco título do livro gigante se formar em sua mente:
“O LIVRO DAS DESINVENÇÕES” Não havia nenhuma menção a autor ou editora. Aproximando-se de uma das bordas da capa de chumbo, Marvin pôde constatar que o “abismo” de livros continuava até o infinito mesmo. E agora o que fazer??? Elvis chegou em seguida: -- Desculpe a demora!!! Mas o Torresmo tentou fugir de mim novamente e aí eu tive que tomar algumas providências. Elvis havia arrancado as asas do livro de carne e Torresmo inconformado só chorava e chorava sem parar. -- Feche essa matraca choradeira! Ou, ou, ou... E Torresmo não fechava. Ele tinha medo de Elvis. Medo, mas não tanto. -- Cale-se eu já disse!! Cale-se ou eu vou te pulverizar com o terrível gás sputinick!! Torresmo nunca havia ouvido falar desse tal gás. Mas em todo caso achou melhor não irritar mais ainda o dragão verde.
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E ASSIM CALADO-QUIETO TORRESMO SE MANTERIA PELOS PRÓXIMOS MINUTOS... TAL SILÊNCIO SERIA ENTÃO RECOMPENSADO PELA DEVOLUÇÃO DE SUAS PRECIOSAS ASAS. -- Acho que agora as coisas vão se normalizar, Marvin!! “Normalizar??? Será que Elvis acredita mesmo nisso... Normalizar, mas afinal o que é algo normal??? Depois de tudo o que eu já passei...” -- Marvin, você está precisando de umas roupas!!! Com certeza. O corpo de Marvin já se tremia todo de frio. Nem o queixo tremente ele conseguia controlar. -- Tome está pílula de se vestir! E Marvin tomou, com a ajuda de alguns goles de água límpida e possivelmente potável da letra
E. Em poucos segundos, Marvin já estava todo vestido: de tênis, calça jeans, camiseta branca e ESPANTOSAMENTE de mochila com asas. -- Puxa vida!!! Como você fez isso, Elvis??? -- Isso, o quê? -- A mochila com asas? -- AH! Isso!!! Foi fácil. Só aprimorei um pouco a pílula de se vestir... Eu sabia que você ia gostar. Então veio em Marvin uma nova saudade. Uma nova saudade do passado. Tudo bem que isso é redundância, já que saudade só pode ser do passado. Mas mesmo assim eu precisava dizer. Saudade do passado. Saudade do passado. Saudade do passado. Saudade de Lenora. Saudade dos colegas do colégio. Saudade dos amigos de tantas e tantas brincadeiras. Saudade da casa que não existia mais na Rua Lewis Carrol nº. 13. Saudade dos pais e até dos vizinhos chatos que agora eram conservas e compotas.
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E nessa saudade toda, Marvin pensou-delirou: “Uma pílula dessas faria o maior sucesso lá no meu mundo. Imaginem só. As pessoas ganhando mochilas com asas... E voando, voando, voando para todos os lados e lugares. O céu cheio de pessoas-pássaros. Talvez até o mundo ficasse melhor. Não sei, talvez por alguns momentos ou para sempre. Quem sabe?” E O PENSAMENTO-DELÍRIO ASSIM CONTINUOU: “... Pessoas jogando futebol. Futebol voador com uma bola flutuante, é claro. Futebol voador a 50 metros de altura. O gol entre dois prédios de 40 andares. Ia ser pra lá de emocionante! ” E O PENSAMENTO-DELÍRIO ASSIM CONTINUOU: “... Pessoas brigando nas alturas. Asas sendo arrancadas. Pessoas caindo e se espatifando no asfalto, nas calçadas, sobre os carros. Pessoas caindo sobre outras pessoas...” E O PENSAMENTO ASSIM CONTINUOU: “ Muitas vezes me perguntei, por que nós humanos não fomos feitos para voar como os pássaros? A resposta talvez seja simplesmente porque não merecemos. Infelizmente o ser humano não consegue...” Bem na palavra “consegue”, o pensamento de Marvin foi interrompido por gemidos ora agudos, ora graves: -- Elvis! Elvis! O que está acontecendo? Você está ficando cor-de-rosa!!! Primeiro cor-de-rosa, depois amarelo, azul, marrom e, finalmente, preto. Elvis agora era um dragão preto voando-vomitando sobre os livros da Biblioteca Infinita e voando-vomitando até no Marvin também. -- Urght!!! Que nojo!! Que fedor de azedo!! Ainda bem que Marvin ainda estava sobre o imenso “Livro das Desinvenções” com suas letras-rios para se lavar de tanta sujeira. Quando cessou o vômito que ia para todos os lados em grossos jatos coloridamente crocantes, uma a uma, cinco bolas de basquete passaram a sair da boca de Elvis. Alguém deve estar se perguntando neste momento: “Como bolas de basquete poderiam sair da boca de um dragão com a cabeça de Elvis Presley?”
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O problema certamente não era a boca diminuta que já havia se expandido o suficiente para tal procedimento técnico. Nem as bolas de basquete que, na verdade, não eram bolas de basquete (tinham apenas o mesmo tamanho). E portanto se esses não eram os problemas, podemos dizer que o único problema ainda não mencionado se refere ao pesadelo em que Elvis estaria entrando a partir de então... Mas antes de comentá-lo, voltemos às bolas de basquete que não eram bolas de basquete. As bolas de basquete eram feitas de carne. E pelo cheiro: bolas de carniça. Bolas de carniça flutuantes. Bolas de carniça carregando cada uma centenas de centenas de vermes famintos. Bolas mini-planetas. Mini-planetas de vermes. MARVIN BOQUIABERTO ACABOU ENGOLINDO UM DESSES VERMES. Bolas flutuantes voando ao redor do corpo cansado-flutuante de Elvis. Um corpo preto, marrom, azul, amarelo, cor-de-rosa e, finalmente, verde outra vez. -- Marvin, você está bem? -- Sim, você é que me deu um susto danado!! -- Desculpe, mas não pude controlar! Meus remorsos é que fizeram isso comigo. -- Remorsos?? -- Você nunca sentiu um? -- Claro que sim!! -- Então, os meus vêm no formato de bolas de carne recheadas de vermes.
ENQUANTO ISSO NA CAVERNA DA MISTERIOSA CRIATURA DA CAIXA PRETA: -- Tchau! Eu quero as bolas de carne! -- Caixa, isso não vai sair nada barato! -- Eu pago! Eu pago! Eu pago! Tchau duvidou e Caixa permaneceu bisbilhotando Elvis e Marvin em sua estranha máquina-leitora-de-mundos-e-de-coisas-e-de-criaturas-e-de-tudo-o-que-se-pode-imaginare-de-tudo-o-que-não-se-pode-imaginar-também.
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CAPÍTULO 8 MERLIN NOSTRADAMUS “Você não precisa comer aranhas para ser e tecer feito elas.” (Merlin Nostradamus)
Antes que Elvis pudesse pegar uma das bolas-remorsos, elas fugiram em carreira desembestada... Cada qual em uma direção diferente. E Elvis desesperado só podia ir atrás de uma delas por vez. Sabia ele que sua vida dependia disso: recuperar todas as bolas de carniça, antes que elas caíssem em mãos ambiciosas ou ganhassem um poder só controlável pelos MAGOS DA TÁVOLA REDONDA MÍSTICA e... Melhor não esperar por isso, já que os Magos só interfeririam em casos de extrema gravidade. Sem tempo a perder, Elvis voou-sumiu, deixando Marvin sozinho na Biblioteca Infinita. Sozinho voando sobre os infinitos livros, voando sobre criaturas aparentemente indiferentes a sua presença, atravessando “Ai que frio!!!” fantasmas leitores. Às vezes trombando contra livros invisíveis. “E agora como eu faço para sair daqui???” Se não fosse Torresmo, Marvin ficaria ali na Biblioteca Infinita por um longo e longo e longo tempo, feito uma mosca trancada numa sala de vidro. Mas afinal, onde estava Torresmo??? O safado se escondera dentro da mochila com asas. No aconchego tirou uma boa soneca. E só acordou quando Marvin trombou contra o primeiro livro invisível. Mesmo assim Torresmo resolveu ficar lá escondidinho. Só saiu mesmo depois que Marvin trombou contra o décimo livro invisível. Aí já era demais. Torresmo ficara cansado daquelas “trombações”. E ao deixar abruptamente a mochila, já foi soltando o verbo: -- Marvin, eu vou te ajudar a sair daqui, porque senão... Me abra na página 38RT56WS! -- O quê??? Me abra na página 38RT56WS!!!
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-- O quê??? Meio abismado, Marvin não estava ainda captando “as boas intenções” de Torresmo. Primeiro o livro havia surgido muito de supetão e então já exigia que ele o abrisse na página 38RT56WS. -- ?????????????????????????????? Assim que percebeu as interrogações nos olhos, no nariz, na boca e nas orelhas de abano de Marvin, Torresmo foi logo se desculpando do seu jeito que não lembrava muito uma desculpa: -- Deixa pra lá então! Deixa que eu mesmo me abro. DITO E FEITO. Torresmo se abriu na página 38RT56WS. -- Pronto, agora você pode me ler! Marvin se aproximou mais de Torresmo e ao pegar no livro, este gritou: -- AI! UI! Cuidado com as minhas asas! Você está querendo que eu fique um desvoado? DESVOADO??? ESSA ERA BOA! Marvin se desculpou e quando pôde então olhar para a tal página 38RT56WS viu apenas um amarelo borrado cor de pele-couro. -- Você está brincando comigo? -- Claro que não. Me olhe com mais cuidado. Me olhe com mais atenção. E MARVIN ASSIM FEZ. Aos poucos o amarelo foi ganhando riscos de veias. E formas. E letras. E palavras. E até imagens em movimento. Torresmo lembrava as páginas da Internet. MESMO NÃO PARECENDO, TORRESMO, ASSIM COMO A INTERNET, ERA UM LIVRO INFINITO.
Notícias do Livro de Carne: “Mil vacas malhadas são usadas por dia de trinta horas só nas Terríveis Máquinas de Monstros Semi-Metálicos do Doutor Mago Fritz. O estoque de vacas está bastante reduzido. Talvez em breve teremos racionamento bovino no “Mundo de Almíscar”.
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Após a notícia, minúsculas veias começaram a formar uma terrível imagem em movimento: Era uma das máquinas do doutor mago Fritz em pleno funcionamento: dois enormes funis prateados -- no primeiro caíam pedaços de metal e no segundo, inocentes vacas vivas. VACAS-COMBUSTÍVEL??? VACAS MATÉRIA-PRIMA??? Os funis se fixavam no corpo da máquina que lembrava um elefante todo feito de sucata enferrujada com milhares de reloginhos. De seu traseiro-chaminé saía uma fumaça amarela. O cheiro era quase insuportável para os narizes não acostumados a tal descarga gasosa. AH! Marvin pôde sentir também. Como conseqüência suas narinas ficaram trancadas e ardendo por longos minutos. NEM SEMPRE É BOM SE TER UM LIVRO QUE PODE EMITIR TODOS OS CHEIROS E FEDORES CONHECIDOS OU NÃO. Voltando a nossa descrição, sete alados duendes amarelos cuidavam dos reloginhos. A máquina-elefante devia ter a altura de um prédio de cinco andares (medindo-se tudo da base-pés até a boca dos funis). A imensa tromba metálica jorrava vez por outra sangue de vaca. A cada meia hora, dois monstros do doutor Fritz (meio carne gosmenta, meio sucata oleosa) caíam pela boca da máquina. O CHÃO SANGRENTO ATRAÍA MILHARES DE MOSCAS-JABUTICABAS FAMINTAS. Assim que as minúsculas veias foram desfazendo a imagem da máquina-elefante, uma nova notícia feita com outras veias chamou atenção de Marvin:
“Depois de ficar preso por mais de 500 mil horas de 90 minutos cada, na Cidade da Redoma de Vidro, Etecétera foi libertado... Assim que tivermos maiores informações sobre o caso, daremos a notícia em primeira mão. Aliás como sempre.”
“Etecétera! Meu amigo! Como pude me esquecer de você! Como pude me esquecer! Não sei, alguma coisa está acontecendo com a minha cabeça! Não consigo mais me lembrar de muita coisa importante! Sei ainda que tenho que salvar alguém, mas já não me lembro mais quem. Minha cabeça está doendo! Meus neurônios estão entrando em curto.”
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Enquanto Marvin pensava e despensava, as minúsculas veias criavam a foto animada de Etecétera se transformando em diversos animais: de dragão para leão, búfalo, águia, dinossauro, jibóia, gato, até um inocente coelho branco (homenagem ao seu amigo morto, Teleco). “Etecétera! Onde será que você está agora?” Abaixo da figura de Etecétera, as minúsculas veias escreveram outra notícia:
“Neste momento Etecétera está descansando em lugar ignorado. A única dica que temos é que se trata de um verdadeiro paraíso, isso na concepção de Etecétera, já que os paraísos são muito relativos. Cada criatura tem o seu. A horrenda bruxa Moura Torta, por exemplo, adora passar suas férias de maldade dentro de um vulcão, cheio de lava fervente. ‘Faz bem pra pele, isso sim é que é paraíso!’, diz ela.”
Ao terminar de ler a notícia, Marvin já havia se esquecido de Etecétera e, então, já havia se esquecido de tudo. Já não sabia mais quem era, nem onde estava. Nem nada. A MEMÓRIA É O NOSSO MAIOR TESOURO. SEM ELA NÃO SOMOS NADA. SEM ELA NÃO SOMOS NÓS MESMOS. Marvin parecia agora uma lâmpada queimada. O livro voador em suas mãos tornara-se também algo desconhecido e medonho. E assim ele o atirou longe. As criaturas na Biblioteca Infinita ganharam feições mais desagradáveis diante de seus olhos esquecidos. APENAS O MEDO PERMANECIA MAIS VIVO DO QUE NUNCA. O MEDO NA VERDADE SE AMPLIARA, TALVEZ POR SER O SENTIMENTO MAIS BÁSICO DE AUTO-PROTEÇÃO. Quando Marvin viu o espectro de um fantasma dourado com mais de cinco metros de altura, deu um grito e depois grunhiu. MARVIN JÁ NÃO CONSEGUIA EMITIR UMA PALAVRA SEQUER. Se não fosse a mochila com asas, Marvin poderia ficar em “lençóis de urtiga”: sozinho, sem memória alguma, talvez até enlouquecesse ali, ou fosse devorado por alguma criatura faminta (mesmo todos sabendo que era proibido comer dentro da Biblioteca Infinita).
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Foi a mochila que direcionou Marvin até um livro portal que servia como saída da Biblioteca (cada página tinha o tamanho de uma porta tamanho família, isso quer dizer que toda “uma família” poderia entrar ao mesmo tempo). Era só abrir o livro e escolher entre mais de quinhentos mundos mágicos: -Mundo dos Vampiros da Décima Dimensão; - Mundo dos Minotauros Mancos; - Mundo de Almíscar; - Ilha dos Mutantes; - Reino do Não-Sei; - Avalon; - Cochinchina; - Cidade da Redoma de Vidro; - Saskatchuó; - Reino dos Duendes Alados; - Reino das Aranhas Mágicas; - Mundo das Criaturas Invisíveis; - Cidade Flutuante; - Mundo dos Zumbis Supersônicos; - MALdagargar; - Planeta dos Vermes Gigantes; - Arquipélago dos Anões Canibais; - Reino dos Diabinhos Prateados; - SPA das Múmias; - Reino das Mini-Fadas; - Reino dos Vampiros Seguidores do Conde Drácula; - Mundo das Ervas Venenosas; - Pântano Azul; - Reino dos Dragões-Anões; - Reino das Criaturas do Vulcão Macabro; - Mundo das Bolhas Gosmentas; - Cidade dos Esqueletos Assassinos;
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- Mundo dos Lobisomens Caolhos; - Reino das Ilusões Eternas; - Mundo dos Mistérios; - Mundo das Mil Luas; - Reino dos vampiros Seguidores do Conde Herculano; - Vale das Bruxas Escalpeladas; - Mundo dos Esqueletos Dourados; - Reino das Línguas Cortadas...
E MUITO, MUITO, MUITO MAIS...
Marvin ficou frente a frente com páginas-imagens virando-se sozinhas, mas seus olhos agora pareciam distantes. Distantes em lugar nenhum. Ele olhava, mas não via. E sendo assim, foi a própria mochila com asas que resolveu tomar providência, escolhendo um dos mundos. “Vamos nesse mesmo!”, pensou ela. E lá foram os dois “GLUBT” (este era o som ao se passar pelo portal) rumo ao reino de... “REINO DOS QUE NÃO MAIS ADIVINHAM” . Poucos segundos depois, um novo “GLUBT” seguiu Marvin...
“O Reino dos que não mais adivinham” era o lugar ideal para criaturas que resolveram se aposentar de suas atividades. Principalmente aquelas que “ganhavam a vida e a morte” fazendo previsões sobre o futuro de outras criaturas. Muitas coisas chamavam atenção daqueles que ali pela primeira vez chegavam: o céu era sempre escuro, cheio de estrelas que não paravam no mesmo lugar. Vez por outra um meteoro rasgava as alturas com seu rabo de fogo. Os lagos se iluminavam com os peixes-vaga-lumes. E até as árvores tinham luz própria. AH! E os castelos medievais do reino: todos fluorescentes, pintados com tinta mágica feita de luz colorida.
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CASO ALGUÉM SE PERDESSE EM ALGUM LUGAR ERA SÓ ASSOBIAR E UM BEIJA-FLOR BRILHANTE APARECIA PARA ENSINAR-LHE OS CAMINHOS... Marvin não se admirou com nada... Seus olhos continuavam não vendo. Seu coração já não sentia. E seu corpo-zumbi “voava” indiferente a tudo. Certamente a mochila com asas tinha algum plano “escondido nas mangas”, ou melhor dizendo, algum plano escondido em um dos diversos bolsos. Certamente fora bem instruída pelo Dragão Elvis. Afinal, como já se sabe, ela era resultado de uma de suas mais recentes pílulas. “PÍLULAS E POMADAS DOUTOR DRAGÃO ELVIS: 99% DE SATISFAÇÃO OU O SEU DINHEIRO DE VOLTA.” Voando sobre montanhas cheias de grutas, a mochila com asas foi levando Marvin... Após quase meia-hora de vôo: BEM-VINDOS A MINHA AMADA GRUTA. E a mochila com asas entrou voando com Marvin. Logo em seguida, o “GLUBT” entrou também... Marvin não viu o chão todo forrado de barbas brancas. Marvin não viu aranhas-vagalumes andando no teto. Marvin não viu a bola de cristal sobre a lareira. Marvin não viu a cabeça de um diabo pendurada na parede. Marvin não viu uma estátua de mármore se mexendo feito gente que finge ser estátua de mármore e que, às vezes, se mexe. Marvin não viu uma sombra fugindo da gruta. Marvin não viu uma bola de fogo azul perseguindo a sombra. Marvin não viu velhos livros tentando se folhar sozinhos na estante de teias. Marvin não viu o final do emaranhando de barbas brancas que devia ter mais de duzentos metros de comprimento. E o final do emaranhando de barbas brancas era um velho muito-muito velho mesmo. Um velho com suas velhas roupas encardidas. Um velho com capuz velho. Um velho com lábios murchos. Um velho com sobrancelhas grossas e exageradas. Um velho com olhos apagados. Um velho com nariz achatado. Um velho com narinas longamente peludas.
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Marvin não viu o velho. Marvin continuou não vendo o velho, agora com dezenas de aranhas caranguejeiras percorrendo suas vestes surradas. ARANHAS BEM MAIS PELUDAS QUE O NORMAL PARA NÓS DO MUNDO HUMANO. Marvin continuou não vendo o velho, agora fazendo movimentos com as mãos. Dos longos dedos pelancudos saía fumaça de luz que no ar ganhava forma de estranhos símbolos e estranhas letras. Dedos-chaminés. MARVIN CONTINUOU NÃO VENDO... JÁ O “GLUBT” ESTAVA VENDO TUDO. E PERMANECIA ESCONDIDO. “GLUBT” ERA O TORRESMO. Ao lado do velho, um naco de fogo flutuante aquecia uma pequena chaleira, enquanto, vez por outra, ele bebia “um gole de algo”, em uma caneca também flutuante, feita de lava de vulcão. Os pés do velho pareciam ter vida própria. Num segundo eram pequenos (tamanho 36), noutro inchavam, ganhando mais pêlos e perebas. E aí dava até para ver os dedos balbuciando entre si. MARVIN CONTINUOU NÃO VENDO... E o velho que sabia quase de tudo tentou reanimar o menino de cabelos verdes, com vocábulos comuns: -- Vamos! Vamos! Acorde! Acorde! Desperte para o nosso mundo! MARVIN CONTINUOU COMO ESTAVA. “Hum! Hum! Pelo jeito é estresse mesmo. Só pode ser. Estresse mágico.” – pensou o velho. ESTRESSE MÁGICO SÓ PEGA HUMANOS QUE ENTRAM EM MUNDOS MÁGICOS E VIVEM GRANDES AVENTURAS DO TIPO “TUDO-AO-MESMOTEMPO-AGORA”. O velho que sabia quase tudo conversou baixinho com suas aranhas domesticadas e em seguida elas já foram pulando no corpo de Marvin. ERAM QUARENTA AO TODO.
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QUARENTA PELUDÍSSIMAS ARANHAS CARANGUEJEIRAS. Todas elas morderam Marvin. Marvin foi mordido desde a orelha, nariz, queixo, pescoço, braços. E sobre a roupa, nas costas, peito, barriga, pernas, etc, etc, etc, etc, etc, etc, etc, etc, etc, etc, etc, etc, etc, etc, etc, etc, etc, etc, etc, etc, etc, etc, etc, etc, etc, etc, etc, etc, etc, etc. E MARVIN CONTINUOU NÃO VENDO E NÃO SENTINDO... Depois de todas as mordidas, as quarenta aranhas começaram a enrolar Marvin com seus fios, até ele parecer um casulo (trabalho para “três minutos humanos de 60 segundos cada”). Nem a mochila com asas foi poupada. E Marvin assim ficou pendurado. Agora, pelos fios das aranhas. -- Bom serviço! Bom serviço, meninas! Torresmo que via tudo escondido no chão de barbas brancas resolveu ir “saindo de fininho”, antes que sobrassem algumas aranhas para ele. Torresmo nunca gostou muito delas, principalmente depois que uma “viúva negra” o fez de morada por um bom e chato tempo. Preso dentro do casulo, Marvin “dormiu” horas e horas e horas a fio. SONOTERAPIA. CASULOTERAPIA. Quando o relógio cuco despertou, avisando que as horas-sonos haviam terminado, as 40 aranhas deixaram novamente as vestes do velho, em direção ao casulo. E todas juntas foram desenrolando, desenrolando, desenrolando os fios de teia. Até restar apenas o Marvin, ainda em seu sono-animação-suspensa. O velho então abriu uma pequena caixa de prata, escondida embaixo de uma almofada, e de lá saiu-voando um morcego dourado com dentes-agulha. “PRÉ-PROGRAMADO” PARA MORDER PESCOÇOS. E assim ele fez... E assim Marvin despertou... O morcego dourado também estava “programado-enfeitiçado” para morder-rasgarcortar outras coisas. E assim ele fez...
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E assim Marvin caiu no chão de barbas brancas. -- Espero que você não tenha se machucado! – disse o velho com suas vestes forradas das aranhas caranguejeiras. -- Não... Não... Tudo... bem. – respondeu Marvin, ainda meio tonto, mas já novamente conhecedor de boa parte de seu passado. O
TEMPO
PRESENTE,
PORÉM,
SE
APRESENTAVA
ESTRANHO,
INESPERADO E... -- Quem é o senhor? -- Pode me chamar de você! -- Então quem é você? -- Nostradamus! -- Nostradamus? Aquele dos livros e dos filmes? -- Quais livros e quais filmes? Não tenho lido quase nada nos últimos duzentos anos. Filmes! Nunca gostei deles... Prefiro cultivar hortaliças e ervas medicinais. AÍ FOI MARVIN QUE NÃO SOUBE RESPONDER. E ficou imaginando como aquele velho de tão longuíssimas barbas brancas conseguiria fazer o que dizia gostar. Talvez tivesse um auxiliar para levar as barbas em um carinho de mão. Talvez se desgrudasse delas, quando quisesse... Talvez... Talvez... Talvez... NOSSA VIDA É CHEIO DE TALVEZ. TALVEZ AQUI. TALVEZ ALI. TALVEZ EM TODOS OS LUGARES. CRIAMOS O TALVEZ PARA COISAS QUE NÃO SABEMOS NO PASSADO. CRIAMOS TALVEZ PARA O PRESENTE E PARA O FUTURO TAMBÉM. TODOS OS TEMPOS ESTÃO REPLETOS DE TALVEZ, OU TALVEZES. VOCÊ ESCOLHE.
PRIMEIRAS OBSERVAÇÕES EXTRAS SOBRE MERLIN NOSTRADAMUS: Nas vezes em que Merlin Nostradamus precisava deixar a amada caverna, ele pedia ajuda ao seu assistente Ensebado (que no momento se encontrava bem distante no 3000º Congresso dos Ensebados). A bengala de gelo que não descongelava, Nostradamus levava sempre consigo em suas vagarosas caminhadas. VAGAROSAS, MAS PODEROSAS:
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Um passo de Nostradamus era igual a um quilômetro, no mínimo. Dois passos e mais três bengaladas no chão abriam passagem para o mundo imaginado por Nostradamus. .......................................................................................................................................
ENQUANTO ISSO NA CAVERNA DA MISTERIOSA CRIATURA DA CAIXA PRETA: -- Nossa! Puxa vida! Puxa morte! O que aconteceu com você, Tchau??? -- Nem te conto! Nem te conto! Ou melhor, te conto sim... Como você está vendo, eu não consegui pegar nenhuma bola de carniça. Cheguei perto de uma e... Vou exigir pagamento extra por insalubridade. -- Insalubridade?? -- É isso mesmo! Insalubridade!! -- ??? -- Caixa, que vergonha!!! Você não sabe o que é insalubridade!? -- Não sei, é daí? Não sou obrigado a saber tudo. -- Compre um dicionário. -- Vamos, pare de me enrolar, e me diga logo o que significa insalubridade. -- Tudo bem, mas não se esqueça que tal informação vai te custar um taxa extra. -- Nunca vi um sujeito tão dinheirista, ourista, diamantista feito você. -- Questão de princípios, meu caro amigo! Você bem sabe que eu não posso fazer favores. -- Não pode ou não quer? -- As duas coisas juntas! Mas afinal, você quer saber o que é insalubridade ou não? -- Tudo bem! Diga logo! Já estou mesmo devendo até as calças que não tenho. -- Caixa, não seja tão dramático! Eu sei que você possuiu muitas riquezas escondidas. Só não roubo de você, porque isso vai contra o meu mais caro princípio. Afinal, sou um duende amarelo, trabalhador e honesto. -- Tchau, chega de papo furado! Me diga logo o que significa essa tal insalu... insalu..., insalu... o que mesmo?
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-- Insalubridade. E quer dizer simplesmente “inadequado à vida, nocivo à vida, prejudicial `a saúde”, segundos os bons dicionários. -- E por que você quer que eu lhe pague uma taxa extra prejudicial à saúde?? -- Caixa, já não sei se você é burro mesmo ou está brincando comigo?! -- Não precisa ficar nervosinho! -- Eu não estou nervosinho! Eu sou nervosinho! -- Tudo bem, eu pago essa taxa! Tá melhor assim? -- Tá! Agora me passe um pano e aquela sua loção para eu tirar todos estes vermes nojentos da minha roupa. Acho que até engoli alguns. Ai que nojo! Ai que nojo!
OS VERMES QUE VIVEM NAS BOLAS-REMORSOS DE CARNIÇA PODEM FAZER MAL À “SAÚDE” DE QUALQUER CRIATURA EM ESTADO DE VIDA, PÓS VIDA OU ESTADO DE MORTE-ZUMBI.
SEGUNDAS OBSERVAÇÕES EXTRAS SOBRE MERLIN NOSTRADAMUS: No mundo humano, em 14 de dezembro de 1503 da era cristã, nasceu na cidade de Saint-Rémy, na França, Michel de Nostradame. Ainda bem jovem, depois de aprender latim, grego, hebraico, matemática e astrologia com seu avô materno, Michel matriculou-se na Escola de Medicina da Universidade de Montpellier. Em 1525, com 22 anos, começou sua carreira de médico. Em Bordeaux, combateu uma epidemia de peste. Fixou-se depois em Agen, onde se casou e teve dois filhos. Toda sua família foi morta pela peste. Passou então algum tempo viajando pela Itália... Em Salon-de-Craux, casou-se com uma viúva, Ana Gemella, e teve seis filhos. O primeiro deles chamou-se Cesar, ao qual mais tarde dedicaria as primeiras Centúrias. É nessa época que começou a escrever mensagens proféticas, mas receoso de incorrer em desagrado e perseguições, preferiu adiar sua publicação. Seu desejo de vê-las conhecidas, porém, foi mais forte. Mandou-as, então, para a imprensa e em pouco tempo suas profecias se tornaram famosas. Em 1556 foi convidado pelo rei Henrique II da frança para fazer parte de seu conselho. Com a morte de Henrique II em 1559 (prevista na centúria I- 35) continuou como conselheiro de Francisco II e depois de Carlos IX. Nesse período sua fama de médico e adivinho ultrapassou as fronteiras da França. De todos os cantos da Europa
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chegavam celebridades para conversar com ele. Em meados de 1566, sofreu um ataque de hidropisia (acúmulo de líquido nos tecidos). No dia 1º de julho chamou um criado e pediulhe para arrumar o quarto, “pois não estaria mais vivo ao alvorecer do dia seguinte”. E assim foi. Nostradamus morreu em 02 de julho de 1566, sendo sepultado de pé (para que ninguém pisasse em seus ossos) numa das paredes da igreja dos Cordeliers, em Salon. Alguns anos antes ele fizera uma profecia que tocava de forma particular a sua própria morte. Foi enterrado rigorosamente de acordo com os preparativos que ele próprio organizou. Junto a seu corpo pediu que fosse colocada secretamente uma placa de metal com um determinada data. Uma das lendas sobre Nostradamus dizia que todo aquele que bebesse utilizando o crânio de Nostradamus como se fosse um copo conquistaria a capacidade de também predizer o futuro. Porém essa mesma lenda dizia que tal conquista duraria poucos segundos, pois seu autor, em seguida, tombaria fulminado pela morte. Em maio de 1791, durante a Revolução francesa, o túmulo de Nostradamus foi aberto por soldados bêbados que ficaram espantados diante de uma placa onde se lia “maio de 1791”. Um dos soldados desafiou a lenda e bebeu vinho no crânio de Nostradamus, morrendo em seguida, ao ser atingido por uma bala perdida. Os restos mortais de Nostradamus foram então enterrados em outra igreja de Salon. E lá permaneceram até...
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CAPÍTULO 9 A ESPADA EXCALIBUR “Muitas vezes os outros caminham por nós.” (Duende Ernesto, o presbítero)
Agora, já em parte restabelecido de sua memória, Marvin começou a sentir uma aflição no peito. Além disso, seus cabelos verdes ouriçaram-se e a qualquer toque doíam... Não uma dor qualquer, mas uma dor elétrica, chata, incômoda. “Cabelos quando doem na gente trazem coisa contente!” “Cabelos quando doem na gente trazem coisa contente!” “Cabelos quando doem na gente trazem coisa contente!” Repetida assim três vezes, a frase funcionava como uma espécie de invocação. E era “luxo no buxo”, ou seja, sempre dava certo, trazendo sorte e até realizando desejos (só para quem tivesse cabelos espetados doendo). INFELIZMENTE MARVIN NÃO SABIA DISSO. Por outro lado, a aflição em seu peito acabou trazendo Torresmo de volta. Mesmo contrariado, o livro de carne retornou...Uma força muito maior do que ele apontou-lhe “O GIGANTE DEDO DA INDIGNAÇÃO” e Torresmo veio voando-correndo até a mochila voadora. Entrou nela sorrateiramente, sem Marvin perceber. Talvez quisesse tirar um cochilo ou apenas descansar um pouco. NESSE MEIO TEMPO E TEMPO E MEIO, Nostradamus havia caído em seu sono habitual profundo de todas as semanas de quinze dias. As aranhas também já dormiam com ele. TERCEIRAS OBSERVAÇÕES EXTRAS SOBRE MERLIN NOSTRADAMUS: DEPOIS DE SUA QUINTA MORTE, MERLIN NOSTRADAMUS PAROU DE FAZER PREVISÕES. .......................................................................................................................................
-- Nostradamus!! Nostradamus!!! – Marvin chamou pelo seu nome e nada.
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Até pensou em tentar despertá-lo com uma puxada de barba, mas aí refletiu melhor e resolveu não incomodar o mago. Afinal as aranhas poderiam despertar e aí... Pelo ronco de Nostradamus, este não acordaria tão cedo. O melhor mesmo era seguir em frente... para cima... para os lados... para baixo... dependendo das circunstâncias mágicas... E assim Marvin fez... “Até já tinha me esquecido como é bom voar, voar, voar, voar...” -- Pensou ele “TRIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIMMMMMMMMMMMMMPPPPP” A paz do vôo foi interrompida pelo som desagradável de um relógio despertador... Pelo menos era o que parecia ser a princípio. O “relógio” se chamava Torresmo, debatendo-se dentro da mochila com asas. Forçando um pouco mais ele acabou saindo e... Bem na frente de Marvin, o livro de carne se abriu todo na página 2835364RRLPT. E lá estava (morta e a cores) a doce menina loira, jazendo em seu caixão de vidro. -- Lenora!! -- Suspirou Marvin. Antes que Marvin pudesse olhar melhor a foto que já começava a se modificar, Torresmo abriu-se em outra página: 78546TPRS -- Pare de mudar de página, Torresmo! -- Mas, mas, não sou eu! Eu juro! Marvin duvidou no olhar. -- Não sou eu! Eu juro! Eu juro por tudo o que é mágico! Marvin continuou duvidando. -- Eu juro! Sinto que alguma força poderosa está fazendo isso comigo. Na página 78546TPRS, uma lesma gigante, com imensos olhos de luz vermelha e mandíbulas sanguinolentas encavava Marvin. A imagem parecia tão real que até uma gota de baba respingou em sua camiseta branca. Em seguida, um mosquitoranha pousou na gota e ficou mortalmente grudado. Sem perceber, Marvin “ganhara” um minúsculo broche. Torresmo continuou jurando: -- Eu juro! Eu juro! Eu juro!
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-- Cale-se! – gritou Marvin. Antes que Marvin pudesse estabelecer alguma relação entre as duas imagens, se é que havia, Torresmo, ou melhor a “força poderosa”, já havia virado de página: 67654434434433WWWER Nenhuma imagem apareceu. Apenas palavras sem sentido para Marvin. -- Leia essas palavras em voz alta! E rápido antes que elas resolvam desaparecer! – sentenciou Torresmo. -- Por quê? -- Vamos! Rápido! Não pense muito! São palavras super mágicas! Elas vão lhe mostrar o caminho! E antes que você diga que caminho, eu já vou explicando: Lenora! Lesma! Tudo tem relação. Marvin não conseguia ver nenhuma. O que a doce Lenora teria a ver com uma lesma aterrorizante? -- Vamos! Rápido! MESMO QUERENDO SEMPRE AS COISAS BEM EXPLICADAS, MUITAS VEZES
MARVIN
ERA
OBRIGADO
A
“ENTRAR
NO
ESCURO”
NOS
ACONTECIMENTOS MÁGICOS. TALVEZ PORQUE A MÁGICA DAS COISAS E DOS MUNDOS NÃO GOSTE LÁ MUITO DA LÓGICA HUMANA. Marvin resolveu então soletrar baixinho aquelas estranhas palavras. Fez assim porque não se sentia seguro em pronunciá-las em alto e bom som. Disse-as e nada aconteceu. Foi aí que essa sua segunda mochila com asas falou pela primeira vez. -- Pegue uma pílula dentro do meu bolso esquerdo! -- Nossa! Pensei que você fosse muda! – observou Marvin. -- Nem muda nem nada! -- E por que você nunca falou antes comigo? -- Fui orientada a falar somente em situações muito importantes e decisivas. Desculpe-me, mas agora tenho que ficar quieta ou... E a mochila com asas se calou. Marvin pegou então a pílula. Outra pílula do dragão Elvis Presley: PÍLULA PARA SOLETRAR PALAVRAS INSOLETRÁVEIS.
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Marvin “glubt” engoliu a pílula transparente cheia de letrinhas minúsculas... E assim aprendeu a dizer o indizível:
Aargarumzutp retornipjtcorium umptanumvtry rarramtraf mpra trondrunstrist estrohgfssiman trmistrov usquetreste assmin inumva nfhrujklpqw limbankjhtczturabfgtu uetrutgqzwauaraerrrm eoridjeitokwoudietugcxdstyb xwrdgfgdteurydhbvd ioaelebegfitrevxu stributiehlovesmerrante bcaraezcwuetddqfnduririatres eiosjcdtyeuw ovnaoazbdiemtglvoxcbvhgjtbv cveotufiemnbhqorl cieorntheofieuajak ahkaienglvporuei tueicnghtyzvcazxr fhryfuriedn ahsduecnfitubvuirh flgorncjdueo rjdceaoein birhtidutri vbnynmbvixoiseanjque anlri wabdelovetri tuytkfjhqieu reewufhqazcbvptpptadsrql cndfhorudi gurotigurunelatevroteut sfqreit. Quando a última sílaba da última palavra foi dita, Marvin viu diante de si, flutuando na vertical, a famosa espada Excalibur que ele já conhecia à distância, lá do Rodeio de Dragões. MARVIN FICOU COM MEDO. Quase todo mundo em todos os mundos sabe um pouco sobre Excalibur. São tantas as histórias reais e inventadas que muitos se confundem, trocando umas pelas outras. Entrando um pouco nas histórias e lendas que rodeiam a mais famosa de todas as espadas de todos os tempos e de todos os mundos, Excalibur teria sido criada nos reinos mais distantes e místicos de Arcádia, pela feiticeira conhecida no Mundo Humano como Viviane ou Dama do Lago. O nome verdadeiro da espada Excalibur era Kaledfwich. Excalibur pertencia a Uther Pendragon, rei dos Bretões que foi emboscado e mortalmente ferido em combate. Antes de morrer, ele cravou a espada em uma pedra para evitar que seus inimigos a tomassem (alguns dizem que Uther cravou a espada em uma bigorna).
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O Mago Merlin Taliesin fez um feitiço sobre a espada que impedia que ela fosse retirada por qualquer um que não Arthur Pendragon, filho de Uther. Uma outra versão diz que a espada poderia ser retirada da pedra por alguém valoroso o suficiente para merecê-la. Muitos guerreiros tentaram, mas o único que conseguiu realizar tal façanha foi um rapaz franzino: era Arthur, ainda adolescente. A espada mágica ajudou Arthur a vencer seus inimigos. Em uma dessas vezes, ao fazer uso dos grandes poderes de Excalibur para derrotar um poderoso guerreiro superior em técnica, o rei Arthur acabou quebrando-a. Amargurado por ter usado o poder da espada para derrotar um oponente mais forte, ele a jogou em um lago que possuía ligação com Arcádia. A Dama do Lago consertou então a espada e a devolveu para Arthur. O destino final de Excalibur também é incerto. Dizem alguns, inclusive a página WEWRRDR645569797 do livro de carne, que pouco antes de morrer, Arthur entregou a espada à Dama do Lago... MAS as informações sobre Excalibur não param por aí. Em alguns Mundos Mágicos, “caindo” das mãos calejadas de um duende para a pata de um dragão, passando dos tentáculos de um bruxo marítimo para as asas de um homem-falcão... a espada participou de muitas aventuras e matanças de segunda, terceira, quarta e até quinta mortes. Mas aí já seriam outras histórias, por isso retornemos a nossa:
MARVIN LEMBROU DO GIGANTE GURUMÃ. MAIS PRECISAMENTE DA TERRÍVEL CENA QUE PRESENCIARA LÁ NO RODEIO DE DRAGÕES: GURUMÃ, VALENTE GUERREIRO, TENDO SEU BRAÇO DIREITO E SUA CABEÇA DECEPADOS PELA ESPADA ASSASSINA, DIANTE DE MILHARES E MILHARES DE CRIATURAS. A espada foi crescendo, crescendo, crescendo e Marvin foi se afastando, se afastando, se afastando... Torresmo o acompanhou. -- E agora, e agora, o que é que eu faço? – perguntou Marvin baixinho para Torresmo. -- Bem, deixe-me ver... A espada Excalibur, segundo as milhares de informações contidas em minhas páginas...
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Quando Torresmo não sabia alguma coisa, ele começava a enrolar. Não gostava que pensassem que ele desconhecia algo... Afinal ele era um Livro Infinito. Um livro de “infinitas páginas” que viviam se alterando-alterando... Nem todos os livros juntos têm todas as respostas. Torresmo sabia disso, mas algumas pitadas de orgulho colocadas nele não lhe permitiam total sinceridade. Tanto no Mundo Humano quanto nos Mundos Mágicos existem muito mais perguntas do que respostas. AS PERGUNTAS SÃO RÁPIDAS, LIGEIRAS, PULAM, SASSARICAM NAS CABEÇAS PENSANTES. AS RESPOSTAS SÃO LENTAS, TARTARUGAS. MUITAS VEZES SE ESCONDEM E DEMORAM ATÉ SÉCULOS PARA SE DEIXAR REVELAR... Já atingindo uns três metros de altura, Excalibur passou a refletir com mais intensidade os raios cortantes do sol, em sua lâmina magicamente afiada. Torresmo resolveu não ficar ali para ver o que acontecia... Rapidinho, “feito avestruz”, ele se escondeu dentro da mochila com asas... Excalibur passou então a cortar o ar como se ele fosse sólido: CRASSSSH... CRASSSH... CRASSSH... CRASSSSH... CRASSSH... CRASSSH... UM GROSSO AR DE MAIS OU MENOS 50 CENTÍMETROS DE ESPESSURA. Excalibur cortou o ar na forma de uma porta. “BRUMPT” O ar invisível caiu pesado no chão duro feito chumbo. A abertura dava passagem para o azul. MUNDO AZUL. Excalibur foi então diminuindo até o seu tamanho original e atravessou a abertura. Marvin já não tinha mais medo e foi seguindo a espada... Com certeza Excalibur ainda estava enfeitiçada. Só que agora por alguém do Bem, querendo anonimamente ajudar Marvin. No Mundo Azul, como o próprio nome já está dizendo, tudo era azul. Tudo, ou melhor dizendo, quase tudo. SÃO
TANTOS
OS
AZUIS.
ALGUMAS
CRIATURAS
CONSEGUEM
DISTINGUIR MAIS DE DUZENTAS TONALIDADES. BONS OLHOS ESSES.
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Árvores azuis, grama azul, pedras azuis, montanhas azuis, sol azul... Florestas azuis: Cheiro de lúpulo vindo das folhas úmidas fermentando no chão. Céu azul se misturando com nuvens mais azuis ainda: cheiro do frescor de uma natureza aparentemente ainda intacta. Todas as tardes caía uma chuva azul. GOTAS AZUIS DE CHUVA. E já estava bem na hora da chuva azul. Sempre pontualmente no mesmo horário. Deixando tudo mais azul ainda. GOTAS DE ÁGUA AZUL. Milhões de gotas. Bilhões de gotas. Trilhões de gotas... Azul azulando ainda mais os animais azuis: elefantes azuis, coelhos azuis, cavalos azuis, pássaros azuis, tartarugas gigantes azuis, dromedários azuis, raposas azuis, gatos azuis, porcos azuis, borboletas-arraias azuis, lobisomens azuis de olhos vermelhos... Azul azulando o rosto, os cabelos, os braços, os olhos, o tênis, a camiseta de Marvin... MARVIN AZUL NO MUNDO AZUL. Após cinco minutos de sessenta segundos cada, as nuvens azuis abriram passagem para o sol azul voltar a brilhar intensamente.
Sol e chuva – casamento de bruxa viúva. Chuva e sol – noivado de duende espanhol. Chuva e vento – divórcio de elmo-jumento. Chuva e ventania – namoro da vampira Maria. Após sete minutos de sessenta segundos cada, a chuva azul parou de chover. Marvin continuou voando-seguindo a espada Excalibur.
ALGUMA COISA IMPORTANTE ESTAVA PARA SE REVELAR.
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ENQUANTO ISSO NA CAVERNA DA MISTERIOSA CRIATURA DA CAIXA PRETA: -- Tchau, você demorou bastante! -- Ah! Por favor, não me chame mais de Tchau! -- O quê? -- É isso mesmo! Não me chame mais de Tchau! Já não gosto mais desse nome. Enjoei. -- E que nome você escolheu agora? -- Escolhi simplesmente o mais especial, o mais maravilhoso, o mais gostoso, o mais cheiroso, o mais mágico, o mais esplendoroso, o mais mais mais mais de todos os nomes... -- É mesmo? -- O mais... -- Chega de tanto mais e diga logo! -- Tipo assim! -- Tipo assim, o quê? -- Tipo assim. -- Tipo assim? -- É, meu nome agora é TIPO ASSIM – Tchau, ou melhor o ex-Tchau, gritou bem alto seu novo nome. “Nunca ouvi uma palavra tão ridícula, mas acho melhor não contrariar o Tchau. Afinal ainda preciso muito dele” – pensou a Misteriosa Criatura da Caixa Preta. -- Então já sabe, né? Nunca mais me chame de Tchau, senão nossa amizade corre um grande risco de ser extinta. -- Tudo bem! -- Tudo bem, não! Tipo Assim! -- Tipo Assim! Tipo Assim! Tipo Assim! Tipo Assim! Tipo Assim! Tipo Assim! Tipo Assim! Tipo Assim! Tipo Assim! Tipo Assim! Tipo Assim! Tipo Assim! Tipo Assim! Tipo Assim! -- CHEGA!!!
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-- Não fique zangadinho! Agora já decorei o seu nome e nunca mais vou chamá-lo daquele outro. Como era mesmo o seu nome, Tipo Assim?? -- Estou gostando de ver. E acho que agora você é que vai gostar mais ainda. -- Não me diga, mas me diga diga diga que você conseguiu... -- Todas as cinco bolas de remorso?! Todas as cinco bolas de carniça?! -- Sim! Sim! Sim! --Não! -- Não???? Mas você me deixou todo eufórico... -- Não consegui as cinco, mas consegui quatro delas. -- Quatro??? Bem é melhor do que uma, duas ou três. -- Com quatro bolas de carniça, você já pode fazer alguns feitiços poderosos. -- Poderosos sim, mas não aquele que eu realmente quero... -- Se você soubesse como foi difícil conseguir as quatro bolas de remorso... E olha que nem vou lhe cobrar mais pelo meu esforço extra. -- Esforço extra? -- Eu tive que perseguir monstros do ar, do mar e das profundezas da terra. Quase caí dentro de um vulcão. Visitei mais de trinta Mundos. Perdi um dente cariado na luta contra um Minotauro. Quase fui parar nas Trevas Sólidas. E fiz tudo isso por você... -- Por mim e pelos meus diamantes. -- Isso são detalhes, detalhes. A porcentagem de mentira na fala de Tchau, ou melhor, na fala de Tipo Assim, só poderia ser medida com uma pílula da verdade, inventada também pelo Médico Dragão Verde Elvis Presley. -- Mas, mas, mas... Onde você escondeu todas as quatro bolas de carne. Não estou vendo nenhuma com você, Tipo Assim. -- Calma! Calma! Elas estão bem aqui comigo. -- Bem aqui, onde? -- Eu as engoli! -- Engoliu? Como? -- Ah! Meu amigo! Apesar do meu tamanho, eu sempre tive um grande estômago. -- Urgt! E haja estômago pra se engolir bolas de carniça.
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-- Eu já-já vomito elas pra você. -- Que coisa mais nojenta, Tipo Assim! A Misteriosa Criatura da Caixa Preta fechou os olhos, enquanto Tipo Assim colocava um dedo da garganta para provocar o vômito necessário. -- GLAMBTUM! E saiu a primeira bola de carniça. -- GLAMBTUM! E saiu a segunda. -- GLAMBTUM! E saiu a terceira. -- GLAMBTUM! E saiu a quarta. Todas já estavam bem maiores que uma bola de basquete. Afinal as bolas de remorso sempre crescem... Não param nunca... Só não pergunte como Tipo Assim conseguiu engoli-las e depois vomitá-las como se fosse a coisa mais natural do mundo. --RÃCT!!! Como elas fedem!!! – disse Caixa, possivelmente fazendo uma cara mais do que feia. Ah! Ao contrário de muitos de seus amigos de mesma espécie, Tipo Assim odeia vermes e só conseguiu engolir as quatro bolas de carniça, porque misteriosamente tais “criaturinhas molenjentas ” não estavam mais lá... Para quem não descobriu ainda, a palavra molenjentas é simplesmente uma mistura de molengas com nojentas. Apesar de nominar algo que ele odeia, Tipo Assim gosta muito dela. Gosta do som, do número de sílabas, gosta das letras que, uma ao lado da outra, parecem amigas inseparáveis, mais do que em qualquer outra palavra... “Se algum dia eu tiver uma filha, adotada ou seqüestrada, com certeza ela se chamará Molenjentas. Assim mesmo. Molenjentas. No plural. Molenjentas, venha pra casa! Molenjentas, venha cortar as unhas dos meus dedões do pé! Molenjentas, me obedeça! Molenjentas, me faça uma torta de besouros verdes! Molenjentas...!”
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CAPÍTULO 10 O CARACOL DO TEMPO “Cada cor tem um sentido, uma mágica, um mandamento, uma verdade e uma mentira.” (Kuramanchu, o mago das mãos dos dedos de cobras)
Excalibur se deslocava a mais ou menos mil metros por minuto (ou melhor, sessenta quilômetros por hora). E lá ia Marvin voando em seu encalço... Abaixo dele a Floresta Azul, cheia de ervas mágicas, árvores falantes, cogumelos telepáticos, pedras fluorescentes, poderosos anões truculentos, gigantes escravos e criaturas inimagináveis até para as mentes mais criativas. Vez por outra se via alguma clareira circular no meio da mata fechada. Nada a ver com discos voadores, como primeiramente alguém poderia pensar (principalmente depois de se ter assistido ao filme “Sinais” com o ator Mel Gibson). Tudo culpa dos anões truculentos que, em quinze mil anos de existência e evolução para pior, devastaram mais de dez por cento da Floresta Azul (cinco vezes maior que a Floresta Amazônica). O MUNDO AZUL JÁ NÃO É TÃO AZUL COMO OUTRORA. Árvores falantes são vendidas como animais de estimação, digo, como árvores de estimação para muitos Mundos Mágicos. Ervas e cogumelos, nem se fala então... O Mundo Azul é um dos maiores fornecedores de substâncias mágicas.
Marvin já estava ficando com frio. “Bem que o dragão Elvis Presley podia inventar também uma pílula-super-jaquetade-couro-ou-coisa-parecida!” – pensou ele. O vento azul gelava e murchava a pele, mas ao mesmo tempo iria trazer o passado que já queria se misturar com o futuro: E assim foi: ZUMPT... Toda azul e cheia de luz, a jovem Lenora passou por Marvin.
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ZUMPT... Nem dez segundos depois e Marvin ainda assustado viu Lenora passar por ele outra vez. -- Lenora!!! Lenora!!! Marvin gritou o nome da amiga loira. Ela parecia tão real. Tirando o azul, é claro. NO MUNDO AZUL ALGUNS PENSAMENTOS GANHAM FORMA, ALGUNS DESEJOS TAMBÉM. “Feche os olhos, Marvin! No Mundo Azul, os pensamentos não gostam do escuro! Feche os olhos, Marvin! No Mundo Azul, só se sonha acordado e de olhos bem abertos! Feche os olhos! Pensar e sonhar demais pode fazer mal ao corpo e ao espírito!” Marviu ouviu o conselho sussurrado bem lá dentro de seu cérebro e se deixou levar pela mochila com asas. O conselho sussurrador era na verdade um vento sussurrador. Não o vento azul que batia em seu rosto devido a velocidade, mas um vento que se formava dentro de sua própria cabeça. Um vento voando através de seus neurônios, um vento desbravador de segredos. Um vento “conta a gota”. Um vento sábio. Talvez mais sábio que o Livro de Carne. Besteira! Que comparação mais besta! Quem disse que livros são sábios? Livros não são sábios coisa nenhuma. Eles podem conter informações, leis, dogmas, receitas, preceitos e preconceitos, histórias, experiências, bruxarias, verdades, mentiras, maldades... A sabedoria não está nos livros. A sabedoria está na vida. Ou na morte. Ou na pós morte, ou até na pós-pós-pós-pós morte. A SABEDORIA ESTÁ NA ALQUIMIA DE SE PROVAR AS COISAS DO MUNDO E SABER ESCOLHER E SABER APRENDER. A SABEDORIA NÃO É PETULANTE. A SABEDORIA NÃO É NARIZ EMPINADO. A SABEDORIA NÃO É PORCO ESPINHO. A SABEDORIA NÃO É “MOURA TORTA”. A SABEDORIA NÃO É DESONESTA. A SABEDORIA NÃO É INTRIGUEIRA. A SABEDORIA NÃO PODE SER MÁ. A sabedoria é sempre sincera. A sabedoria é solidária e amiga. A sabedoria tem mãos de fada, tem tudo das fadas. A sabedoria tem as cores do arco-íris. A sabedoria tem sempre um pote de ouro no final...
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Marvin não queria ficar com os olhos fechados tanto tempo. Um minuto com os olhos fechados já é muito quando não se quer dormir. Marvin ficou três... Quando abriu os olhos, não havia mais Floresta Azul. Agora abaixo dele, um imenso vulcão. Um vulcão expelindo lava incandescente. E a lava incandescente era também azul. Nessas alturas Excalibur já havia parado de “voar”. Estava flutuando no ar como se pensasse em alguma coisa. Espadas mágicas e enfeitiçadas pensam????????????????????????????????????? Sabe-se lá, talvez alguém pense por elas. Esse mesmo alguém que as enfeitiça. E talvez esse mesmo alguém estivesse vendo toda a cena através de uma bola de cristal, ou de espelho de água sólida, ou com uma luneta mágica ou com um dos livros de carne. UMA CURIOSIDADE: certos magos costumam ver outros mundos e seres e coisas através dos olhos de Gaudalidar. O difícil é conseguir pegar o peixe e imobilizá-lo. Sem um bom feitiço nada feito. Gaudalidar não vive nos rios e muito menos no mar. Gaudalidar nada-voa nas brumas, nas nuvens... Às vezes, brinca no céu azul ou junto ao pôr-do-sol (seja ele de que cor for). De bagre em tubarão e até baleia, Gaudalidar muda de tamanho para enganarassustar seus predadores. Sorte de Gaudalidar que só é possível ver o que se deseja através de seus olhos vivos, muito vivos. Mas chega de falar de Gaudalidar, o que nos interessa agora é saber o que pretende Excalibur.
A mochila com asas permaneceu ruflando a uns dez metros da espada. Excalibur passou a cortar o ar como se estivesse lutando contra um monstro invisível. E já que não era luta, só podia ser algum tipo de ritual. Após alguns segundos, a espada mergulhou... rumo ao encontro da lava azul incandescente. Marvin ficou apenas olhando... Até que o desespero tomasse conta de seu corpo e alma...
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TODO DESESPERO VEM ACOMPANHADO DO PERIGO, DA INCERTEZA DAS COISAS, DA IMPOSSIBILIDADE DE MODIFICAR O FUTURO TERRÍVEL QUE SE APROXIMA... -- Pare!!! Pare!!! Eu estou mandando! – Nenhuma das palavras de Marvin foi levada em consideração. A mochila com asas estava mesmo mergulhando, seguindo a espada... E pelo jeito nada iria detê-la... -- Pare!!! Elvis??? Elvis??? Cadê você que inventou essa coisa louca??? Lá embaixo, Excalibur emitia descargas elétricas ao entrar em contato com a lava incandescente... E já estava chegando a hora e a vez de Marvin. E já estava chegando a hora e a vez de Marvin. Excalibur afundou-desapareceu na lava. E já estava chegando a hora e a vez de Marvin. E já estava chegando a hora e a vez de Marvin. PENSADO E FEITO: Marvin também mergulhou na lava incandescente azul, mas sem emitir descarga elétrica alguma. TRISTE FIM PARA MARVIN. Morrer como morriam os Incas que iam para o sacrifício. Morrer consumido por um calor de mais de mil graus centígrados. Morrer no fogo sólido e movediço. Morrer até ser dissolvido completamente pela lava. Morrer sem deixar identidade alguma. Nenhuma marca: nem dentes nem ossos nem nada. .......................................................................................................................................
Contrariando a lógica inevitável da física, Marvin passou pela lava... SÃO E SALVO. Só que agora mais lambuzado de azul ainda. Abaixo da lava havia uma caverna gigantesca. A mochila teimosa resolveu então planar para reconhecimento do local. Ufa!!! E Marvin pôde respirar... respirar UM POUCO MENOS INTRANQÜILO. Nas paredes da imensa caverna, centenas de cavernas menores escondiam pequenas luzes vermelhas, sempre à espreita.
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Não há necessidade de se dizer que nessas alturas o instinto mágico de Marvin estava mais apurado do que nunca. DESCONFIADO, MAS CHEIO DE ADRENALINA ESOTÉRICA. “Isso tudo, pensando agora mais calmamente, só pode ser mesmo coisa do Elvis... Eu até gosto quando ele tenta me ajudar... Mas desse jeito, eu vou acabar tendo um ataque cardíaco. Afinal, que eu saiba, meu coração ainda é um coração humano... E pelo que eu estou sentido agora, já-já vem mais coisa por aí... Surpresas eu até gosto delas. Mas assim?!! Uma seguida da outra, sem espaço para um necessário descanso?... Até parece que eu estou participando de um filme de aventuras... Pior, até parece que eu estou participando de um filme de terror... E essas luzes vermelhas escondidas nesses buracos? Não sei não. Esses olhos vermelhos não têm cara de ser boa coisa...” A mochila com asas pousou Marvin no chão também azul. À sua frente, o maior de todos os buracos: uma caverna de onde poderia sair, a qualquer momento, um imenso dragão lança-chamas ou lança-jato-de-gelo ou lança-ácido... Pelo menos foi isso que o exmenino de cabelos verdes imaginou a princípio. Ao tentar dar o primeiro passo, Marvin sentiu que seu tênis estava grudado no chão. Ele havia pisado em um caminho de “gosma superbonder” que continuava até a caverna escura. A mochila tentou tirá-lo daquela situação, ruflando suas asas com mais força e velocidade... Infelizmente Marvin permaneceu preso ao chão azul. Nessas alturas, ou melhor dizendo, nessas baixuras, a espada Excalibur, que bem podia dar uma ajuda, já havia desaparecido... “Talvez estivesse escondida dentro de alguma caverna. Será? Mas por que motivo? Talvez...” Para interromper um pensamento só mesmo a realidade: “BRRRRRAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAASSSSSSSSSSSSSSSTTTT!!!” Um bafo-aviso-quente-fedorento veio então lá de dentro da caverna e atingiu todo o Marvin. “BRRRRRAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAASSSSSSSSSSSSSSSTTTT!!!” Um novo bafo-aviso-quente-fedorento mais intenso ainda fez Marvin entender muito bem que ele não era bem vindo ali. Antes que um terceiro bafo-aviso-quente-fedorento acontecesse, Marvin se abaixou, desamarrou o tênis e tentou pular para além do caminho de “gosma superbonder”.
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ERRO DE ESTRATÉGIA: o caminho de “gosma superbonder” tinha mais de quinze metros de largura imperceptível e Marvin estava bem no meio. Sorte que a mochila com asas foi rápida o suficiente para levá-lo às alturas. ACERTO DE ESTRATÉGIA???????????????????????????????????????????????? O certo mesmo era voar para dentro da caverna da criatura da “gosma superbonder”. Epa! Mas e o bafo-aviso-quente-fedorento? Marvin já não tinha certeza se poderia suportá-lo novamente. Não sem uma máscara contra bafo-aviso-quente-fedorento. E agora, o que fazer??? Talvez o Livro de Carne tivesse alguma resposta. -- Torresmo! Torresmo! Você vai ficar a vida toda aí dentro da mochila? – perguntou Marvin. Torresmo devia ter caído em um daqueles sonhos profundos que chegavam a durar até semanas. Só havia uma maneira de acordá-lo: fazendo longas cócegas em suas orelhas de livro. Pena que Marvin não sabia disso. É INCRÍVEL COMO SE DORME NOS MUNDOS MÁGICOS!!! -- Torresmo! Acorde! Acorde, seu livro preguiçoso! Em pleno vôo, após algum esforço contorcionista, Marvin conseguiu pegar-puxar Torresmo para fora. O livro de carne continuava em seu sono animação suspensa. Marvin abriu Torresmo e folheou algumas páginas. Para sua surpresa, todas estavam sem palavras, sem desenhos, sem símbolos, sem fotos, sem imagens animadas... Folheou outras e outras e outras... E a mesma decepção vazia. QUANDO UM LIVRO DE CARNE DORME, ELE SE APAGA TOTALMENTE. ÚLTIMA TENTATIVA: Marvin colocou sua boca bem próximo do Torresmo aberto e gritou: -- TTTOOOORRRRESMOOOOO!!! ACOOOOORRRRRDDDDEE!!! Torresmo permaneceu “desanimado”. Desta vez a fala-grito de Marvin ecoou toda pela imensa caverna. Os olhos vermelhos das centenas de cavernas menores pareceram maiores e mais ameaçadores.
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Por um instante, Marvin raivoso pensou até em jogar Torresmo fora. Mas foi só um instante. Afinal aquele livro não era qualquer um. Torresmo, apesar dos pesares, era um livro mágico um tanto raro e, portanto, cobiçado por muitos, principalmente por aqueles que sabiam usá-lo bem. Marvin se contorceu novamente para guardar o “imprestável” Torresmo na mochila. Restava agora somente a ele encontrar a espada Excalibur. Afinal fora ela que o trouxera ali. “Mas como???? Ali só havia cavernas olhudas. Possivelmente nada amigáveis...” Marvin não estava disposto a entrar em nenhuma delas. Só no último do último dos casos... Pressentia algo ruim. Muito ruim. “E se Excalibur já tivesse fugido para outra dimensão qualquer?” NOS MUNDOS MÁGICOS, CERTAS COISAS E CRIATURAS SOMEM COM A MAIOR FACILIDADE. Nessas horas de apuro, Marvin sempre se lembrava do amigo dragão verde Elvis Presley. Outro que vinha a sua mente era o também amigo Etecétera. “Puxa! Faz tanto tempo que não vejo o Etecétera. Onde será que ele se encontra agora? Por que não vem até mim? Afinal eu continuo sendo o seu dono. Com Etecétera aqui seria tudo mais fácil... Será? Bem que ele poderia se transformar em...” ENQUANTO MARVIN PENSAVA, A MOCHILA QUE TAMBÉM PENSAVA, MAS NO MOMENTO
NÃO PENSAVA NADA, PERMANECIA VOANDO-
PLANANDO, VOANDO-PLANANDO PELA IMENSA CAVERNA AZUL. “... um imenso dragão que lança fogo... Primeiro nós dois entraríamos na caverna da criatura gosmenta e se ela resolvesse se fazer de engraçadinha... Fogo! Fogo! Mas espera aí! Essa criatura tem alguma coisa a ver com a possibilidade de se salvar minha amiga Lenora. Não sei ainda o quê, mas tem, pelo menos foi isso que Torresmo havia me dito. E acho que é por isso que estou aqui. Certamente! Claro! Com certeza! Só pode ser isso mesmo. Espero que tudo dê certo. Pobre Lenora!... E se não podemos destruir a criatura, temos que conquistá-la de algum modo... Se ao menos nós soubéssemos o que temos que fazer... Puxa, que coisa mais boba! Eu aqui falando como se fosse nós. Eu aqui falando no plural e me sentindo mais sozinho e singular do que nunca...”
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O pensamento de Marvin iria continuar... Talvez até se transformasse em estratégia. Talvez até acordasse o seu inconsciente mágico... Talvez... Se não fosse interrompido por: -- Olá, Marvin! Até que enfim consegui chegar até você! NOS MUNDOS MÁGICOS, CERTAS COISAS E CRIATURAS APARECEM COM A MAIOR FACILIDADE. -- Elvis?! É você? -- Claro! Não vê que sou eu? Seu sempre amigo. -- Assim tão pequeno? Assim tão anão? Pelo jeito você gostou mesmo da Confraria dos Dragões Anões e resolveu voltar lá sozinho, não? PASSANDO PELO MUNDO AZUL, ELVIS ACABOU FICANDO TODO AZUL TAMBÉM. -- Não é nada disso, Marvin. Se você soubesse todo o meu sofrimento... Estive muito doente, aliás ainda estou... -- E o que tem a ver sua doença com o seu tamanho anão? -- Tudo! Essa maldita doença do remorso diminui as criaturas, até elas desaparecerem por completo. É terrível. E depois ainda ter de agüentar cem anos nas Trevas Sólidas. Acho que ainda não estou preparado para isso. -- Você está falando sério mesmo? MARVIN NÃO QUERIA ACREDITAR NAQUILO TUDO. -- Pode acreditar. Nos Mundos Mágicos, algumas doenças são bem diferentes daquelas do seu mundo. Principalmente nos sintomas. -- Mas para que tanto receio. É só você inventar uma pílula contra essa doença do remorso. Afinal, nisso você é muito bom. -- Infelizmente as coisas não são bem assim. Até agora ninguém conseguiu inventar um remédio ou um feitiço que funcionasse para curar essa maldita.
ALGUMAS DOENÇAS COMUNS NOS MUNDOS MÁGICOS: GRIPE VAMPIRISCA DIARRÉIA DE SAPINHOS AMNÉSIA GALOPANTE ARTERIOSCLEROSE RISONHA
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CAXUMBA PELUDA ECLÂMPSIA NOTURNA ELEFANTÍASE FANTASMAGÓRICA EPILEPSIA DANÇARINA FEBRE DA INVISIBILIDADE FLATULÊNCIA SUPERSÔNICA FURÚNCULOS PNEUMÁTICOS HIPERTENSÃO ALADA LARINGITE RONCADORA MENINGITE EXOTÉRICA PNEUMONIA VOADORA REUMATISMO CRACK-CRECK-CRICK VERRUGAS FALANTES SARAMPO ESCORREGADIO CORAÇÃO MURCHO CORAÇÃO BALÃO DOENÇA DO REMORSO.
MUITAS DESSAS DOENÇAS PODEM LEVAR ATÉ O MAIS PODEROSO DOS MAGOS À DIMENSÃO DAS TREVAS SÓLIDAS.
-- Mas deve haver alguma saída. Em algum Mundo Mágico... -- Que há, há! Só não sei se vou ter tempo suficiente e forças para.... -- Eu posso te ajudar... -- Não! Agora você é que precisa se ajudar, ajudando Lenora... Eu já tomei alguns chás, algumas pílulas, alguns banhos especiais e me sinto um pouco melhor. Mais do que isso é impossível para alguém na minha situação. -- Mas Elvis, não há nada que eu possa fazer? -- Não! -- Em nome de nossa amizade!?
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-- Em nome de nossa amizade, Marvin, siga o seu destino! Eu não caibo nele por enquanto... Eu preciso me salvar sozinho. MARVIN FICOU EM SILÊNCIO. JÁ NÃO SABIA O QUE DIZER. -- Não precisa dizer nada... O que você precisa agora é compreender.. ou melhor... aceitar... A espada Excalibur vai lhe ajudar... Consegui tirar dela toda a essência do mal que assassinou o Gigante Gurumã. Agora ela é só do bem, uma espada abre caminhos. Excalibur ajudará você a salvar Lenora das terríveis Trevas Sólidas... -- Então foi você??? -- Jamais poderia deixar um amigo sem a minha proteção. Principalmente porque a mochila com asas ainda não é completamente confiável. Mas não se preocupe, ela está ainda na garantia. “E só agora ele me diz isso.” – pensou Marvin. -- Espero que ela não tenha feito nada de grave contra você. Mas pelo seu ótimo estado, acho que não... Estou tentando aprimorar a pílula, mas ultimamente minha doença não tem permitido... OS AMIGOS FORAM FEITOS PARA SE AJUDAREM. UM AMIGO VERDADEIRO NÃO SE ACHA TODOS OS DIAS. UM AMIGO DE VERDADE FAZ O SOL BRILHAR NA TROVOADA. EXAGEROS À PARTE, ELVIS ACREDITAVA PIAMENTE QUE UMA AMIZADE SINCERA PODIA MUDAR TUDO PARA MELHOR. -- Elvis, pelo menos uma coisa boa aconteceu com essa sua doença! -- Marvin, nem me lembre dela, por favor! -- Mas, mas... veja pelo lado bom! -- E esse lado bom existe? -- Claro! Agora nós podemos falar praticamente olho no olho. E antes, você quase sempre com aquele tamanhão todo, era meio difícil... Ah! E agora também temos mais uma coisa em comum. Ambos estamos lambuzados do azul do mundo azul. ELVIS RIU UM RISO PEQUENO E “COMENTOU” PENSATIVO: -- É verdade, Marvin! É verdade! UM SILÊNCIO QUE DUROU O TEMPO DE UMA BALEIA BRANCA ATRAVESSAR O CÉU AZUL INTERROMPEU O DIÁLOGO ENTRE OS DOIS.
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“Baleia branca!? No céu azul?!” – admirou-se Marvin. E como ele nunca havia ouvido falar em Gaudalidar, ficou achando que era simplesmente uma baleia branca voando no céu azul. GAUDALIDAR GOSTA DE VIAJAR PELOS MUNDOS MÁGICOS E FELIZMENTE NÃO PRECISA DE “PASSAPORTES” OU DE PORTAIS PARA ISSO. GAUDALIDAR É TAMBÉM IMUNE AO AZUL DO MUNDO AZUL. Em seguida o diálogo retornou, com as dúvidas de Marvin: -- Elvis, onde está Excalibur agora? Você disse que ela irá me ajudar... -- Tudo no seu momento certo. Tudo no seu momento certo... Marvin sentia que muitas vezes a fala de Elvis significava só enrolação, assim como Etecétera costumava fazer. No caso da doença, Marvin não sentiu isso. Sentiu verdade e dor naquilo tudo. NINGUÉM PODE FINGIR UMA GRANDE DOR. -- Ufa! Essa doença tem deixado até as minhas asas mais fracas. Perco o fôlego com freqüência... Preciso descansar minhas asas! Vamos descer em chão firme! -- NÃO!!! – gritou Marvin... E o seu “não” ecoou novamente pela imensa caverna. NÃO! NÃO! NÃO! NÃO! NÃO! NÃO!... Um “não” feito bolinha de ping-pong. Batendo em uma parede e em outra e no chão e em outra e no chão e em outra parede... Um “não” se transformando em centenas de pequenos “nãos” que entraram nas centenas de “cavernas dos olhos vermelhos”. -- Não! Por quê? -- O chão está cheio de gosma gosmenta que não desgruda mais. Até parece cola superbonder! -- Gosma gosmenta que não se desgruda mais... Obrigado pelo lembrete... Já havia até me esquecido dela, mas vim preparado para isso... Elvis tirou então duas pílulas de sua nova “pochete” feita de couro de lobisomem azul. “POCHETE” DE COURO DE LOBISOMEM AZUL, ÚLTIMO LANÇAMENTO DA GRIFE DO FAMOSO BRUXO ESTILISTA HUDGAR BRANTROVISCK. INFELIZMENTE ELVIS ESCOLHERA UM PÉSSIMO LOCAL PARA EXIBIR SUA MAIS NOVA AQUISIÇÃO DE MODA ESPECÍFICA PARA DRAGÕES.
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UMA CURIOSIDADE: AS “POCHETES” DE COURO DE LOBISOMEM AZUL ACOMPANHAM O TAMANHO DE SEU USUÁRIO... As duas pílulas flutuaram em frente aos dois e então ganharam forma de catarro. -- Tome uma! Essa desce mais fácil do que as outras ainda! Marvin sentiu nojo e Elvis provou primeiro. Marvin continuou com nojo. -- Vamos Marvin! Esta pílula é super saborosa, coloquei um gostinho de “tinguelingue” nela! Falando assim parecia mais fácil e Marvin, já menos enojado, engoliu a dita cuja. E não é que era gostosa mesmo! Sabor de “tingue-lingue” sem aquela sensação de borracha que a fruta tinha. E assim, engolidas as pílulas, Elvis e Marvin puderam descer até o chão azul... -- Elvis, tudo bem que você não quer antecipar as coisas, mas eu preciso saber de algumas delas. Preciso de informações para salvar Lenora. Até agora não sei a relação entre minha amiga e aquela lesma monstruosa que vi ligeiramente no livro de carne. -- A lesma monstruosa está naquela caverna! – Elvis apontou para a grandona de onde vinha o caminho de gosma. – Só você e Excalibur serão capazes de derrotar a lesma. E só você será capaz de salvar Lenora. Afinal a amiga é sua. NA MAIORIA DOS MUNDOS MÁGICOS SOMENTE UM GRANDE AMIGO PODE SALVAR OUTRO AMIGO. QUEM NÃO TEM AMIGOS ESTÁ PERDIDO. É MUITO TRISTE, ATÉ FATAL, NÃO PODER SER SALVO POR NINGUÉM. -- Mas onde está Excalibur, afinal? -- Excalibur está com você! -- Comigo? Onde? Na mochila eu acho que ela não cabe. A não ser que tenha encolhido muito. -- Marvin, Excalibur está agora bem pequenininha ao lado do seu coração... Assim que você a desejar realmente, ela aparecerá para ajudá-lo... -- Mas eu já estou desejando... -- Não o suficiente! Não o suficiente! -- E quando esse tal suficiente vai acontecer? – perguntou Marvin já meio impaciente.
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-- No momento certo! -- No momento certo!? Você e essa mania de “momento certo”! -- O momento certo virá daqui a pouco... A lesma monstruosa conhecida por nós como SASKANHANEM, ou simplesmente Caracol do Tempo, já acordou e já sentiu a nossa presença. SASKANHANEM PERCEBE VISITAS PELO SEU PAR DE GORDAS ANTENAS DE LESMA E TAMBÉM PELO CONTATO DE SUAS “VISÍTIMAS” COM A GOSMA SUPERBONDER. -- Caracol do tempo??? -- Calma, Marvin! Primeiro precisamos... A fala de Elvis foi então interrompida pelos uivos das criaturas donas dos olhos vermelhos. -- Marvin, antes que Saskanhanem apareça, você terá de derrotar esses uivos! Vamos, tome está pílula minimini-tornado! E Marvin engoliu, ou melhor, foi a própria pílula que veio voando até sua boca para ser engolida... PÍLULA MINIMINI-TORNADO. MARVIN ENGOLIU SEM SABER O SEU EFEITO. MAS VINDO DE ELVIS SÓ PODIA SER ALGO BOM. -- Elvis!! Você... Elvis??? Nisso Elvis já havia desaparecido mais do que ligeiro, sem dar maiores ou menores explicações. Os uivos continuavam... De repente um par de olhos vermelhos saltou de uma das cavernas. Saltou bem em frente de Marvin. Em seguida, outros pares de olhos vermelhos fizeram o mesmo. Marvin se viu cercado por dezenas, centenas deles. AH! CADA PAR DE OLHOS VERMELHOS VINHA ACOMPANHADO DE UM CORPO PELUDO NO FORMATO DE LOBISOMEM AZUL. CADA QUAL TINHA MAIS OU MENOS O TAMANHO DE MARVIN. Os uivos cessaram... Marvin desejou a espada Excalibur. Desejou, desejou sua presença ali em suas mãos. Desejou intensamente. Tão intensamente que desejar mais seria impossível... E assim
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o seu desejo se transformou em uma pequena queimação no peito... Poucos segundos... A queimação foi então crescendo, crescendo, crescendo... até atingir uma dor fumegante insuportável. Marvin caiu no chão. Já não tinha mais o controle de seu corpo. A dor o controlava... Marvin gemeu, gritou, urrrou.... Seus olhos lacrimejantes pediram piedade... E nenhuma piedade apareceu. MAS COMO TAMBÉM NOS MUNDOS MÁGICOS, HÁ MALES QUE VÊM PARA O BEM... Os lobisomens azuis ficaram apenas observando tudo aquilo. Queriam atacar, mas algo neles dizia que não podiam... AINDA. Assim que Marvin desmaiou, um feixe de luz atravessou o seu peito de carne humana como se fosse feito de manteiga: era Excalibur. A ex camiseta branca virou um trapo queimado, enquanto a marca da espada ficaria “tatuada” em sua pele-carne: uma cicatriz saliente que o menino verde levaria para sempre junto de si. CICATRIZES SÃO REGISTROS CARNAIS DE VIDA E DE MORTE. AS CICATRIZES CONTAM HISTÓRIAS. AS CICATRIZES VÃO CONOSCO ATÉ O TÚMULO. E ÀS VEZES ALÉM DELE. Para Excalibur aquela cicatriz significava um pacto. Um pacto de ajuda. Por enquanto unilateral. Pena que Excalibur já tivesse feito outros pactos também. E isso mesmo era difícil, quase impossível, ajudar a todos aqueles com os quais ela havia simpatizado. Pelo menos não o tempo todo. Mas nos momentos mais importantes e decisivos e perigosos, certamente ela estaria lá... Mesmo que, às vezes, um pouco atrasada. Flutuando acima de Marvin, a espada já foi aumentando até atingir o seu tamanho original. Nada disso, porém, afugentou os lobisomens azuis, já que eles nunca tinham visto ou ouvido falar de uma espada poderosa chamada Excalibur. Se os pobres coitados soubessem, certamente sairiam correndo como cachorros amedrontados. Assim que Marvin abriu os olhos, um dos lobisomens mais afoitos resolveu dar o bote. E aí Excalibur começou o seu trabalho sanguinolento, cortando o bicho em duas partes. Uma delas caiu bem ao lado de Marvin que desmaiou novamente.
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ALGO AINDA INEXPLICÁVEL ESTAVA ACONTECENDO COM O NOSSO PERSONAGEM PRINCIPAL, OUTRORA JÁ ACOSTUMADO A TANTAS COISAS E SITUAÇÕES ESTRANHAS E MACABRAS. Outro lobisomem e outro e outro e outro e outro vieram em seguida... Excalibur acabou com todos eles, cortando-os literalmente em pedaços. O chão ficou lambuzado de sangue vermelho de lobisomens azuis. Uma chuva deles tentou então cair sobre Marvin, mas nenhum conseguiu sequer arranhar o menino. Excalibur não parecia ser apenas uma espada. Dava a impressão de várias. Sua velocidade fazia com que estivesse aqui, ali, lá, acolá... Em muitos lugares ao mesmo tempo... QUASE. Em poucos minutos, o chão da caverna ficou forrado de pedaços de lobisomens azuis. Os últimos deles fugiram para suas tocas... Marvin acordou todo lambuzado de sangue vermelho de lobisomem azul. O caminho para a Caverna da Lesma Gigante estava livre. AH! TODA LESMA GIGANTE TEM O SEU CARACOL GIGANTE CORRESPONDENTE. Mesmo receando aquele bafo quente da criatura, Marvin criou novamente coragem e foi na frente... e Excalibur, já em seguida. Lá dentro tudo era escuridão. Excalibur cutucou várias vezes a mochila com asas para acordar Torresmo que “à noite” ganha luz própria: LUZ-TELA-DE-TELEVISÃO. Meio contrariado, o livro de carne saiu de seu aconchego, obrigando-se a se abrir para Marvin. Na página RGRTFRDEYU46454587: INFORMAÇÕES ADICIONAIS SOBRE SASKAHANEM: Os Caracóis Gigantes são moluscos pertencentes a Classe Gastropoda e subclasse Pulmonata.
Já
foram
milhões
por
todos
os
Mundos
Mágicos.
Caçados
indiscriminadamente, hoje não passam de cem mil. Antigamente os Caracóis Gigantes eram ternos e amigos. A poção mágica de um Mago os tornou violentos e assassinos. Foi só assim para eles conseguirem se salvar. A violência é o que lhes deixa vivos.
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NÃO SE PODE SER BOM COM AQUELES QUE NÃO NOS QUEREM BEM. SASKAHANEM é o líder dos Caracóis Gigantes. Apesar de poderem se comunicar por telepatia, de vez em quanto, eles se reúnem para trocar experiências vividas. Os ovos dos Caracóis Gigantes chegam a pesar uma tonelada. Cada caracol bota apenas um ovo a cada cem anos. São as únicas criaturas que podem viver mais de dez mil anos. Mas apenas Saskahanem, o líder e mais velho de todos os caracóis, pode viajar no tempo através de todos os mundos. Mesmo poderoso e muito mal, Saskahanem, o caracol do tempo, conta com seus guardas, os lobisomens azuis. Eles estão ali para protegê-los de quem tentar importuná-lo. Assim como algumas outras criaturas, os Caracóis Gigantes quando morrem não vão para as Trevas Sólidas. Eles apenas se desmancham para nunca mais. Nunca mais mesmo. “Então é isso! Então é assim que eu vou conseguir salvar minha amiga Lenora.”pensou Marvin, ansioso com sua “descoberta”. Marvin continuou lendo o texto que subia na página, como sobe nos computadores. Precisava de mais informações. Nvbbcbbbbbbbbbbbbdhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhfgetttttttttttttttttttt ttttttttrttttttttttttttutytuttttttttttttttttttttttttttttttttttttttttttttttttttttttttttttttttttt
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yegfeygfoirioehrhgejhieuhrheurherherehrehrjehrjehehejhrjehrhrherjerur gkgjgjerteuor......... “Epa!? Mas o que é isso????”, perguntou Marvin para si mesmo, já imaginando que havia dado piripaque em Torresmo. PIRIPAQUE, segundo o Dicionário dos Magos Especialistas em Dicionários, é uma poção mágica que quando bebida quente, deixa as criaturas “doidinhas da silva”, “doidinhas de pedra”. Sem saber o que fazer, mas já fazendo, Marvin deu uma sacudida em Torresmo e assim o livro de carne voltou ao normal. O “piripaque” era apenas um falha técnica que acontecia sempre depois de um sono não sonhado o suficiente... e parava de um momento para outro: Os Caracóis Gigantes ou Lesmas Gigantes ou Lesmas Carnívoras Gigantes, diferentemente de seus minúsculos parentes de jardim, são muito rápidos. Podem andar a mais de cem quilômetros por hora, quando querem. Geralmente não fazem isso, por terem muita preguiça. A comida preferida dos Caracóis Gigantes é uma vaca, um elefante, um rinoceronte, ou até mesmo um dragão assado. Para acompanhar: farofa de enxofre e laranjas gigantes. Para beber, vinho de abutre. Sim, isso mesmo: VINHO DE ABUTRE. Segundo todos aqueles que experimentaram, é uma delícia indescritível.. -- Torresmo! Quanta informação inútil você está me passando agora!!! -- Calma! Calma! -- Mas eu estou calmo! Ou melhor dizendo, não estou calmo coisa nenhuma. Portanto, caro livro, faça o seu trabalho! Torresmo continuou sua tarefa, enquanto Excalibur ficava ali de guardiã, cuidando de Marvin. Cuidado com a gosma dos Caracóis Gigantes. Você pode ficar preso nela para sempre. Já aconteceram casos em que amantes, prometendo juras eternas, usaram a gosma para nunca mais se separarem. O pior veio algum tempo depois: um arrependimento atroz, principalmente para aqueles que tinham se grudado à sogra também. -- Torresmo! Chega! Não quero mais ficar lendo tanta besteira!
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-- Mas, mas, a culpa não é minha. Não sou eu que escrevo os textos. Eles vêm a mim, assim, sem eu pedir, sem eu querer... Estou carregado de ciência, política, magia, piadas, poções, labirintos, segredos, mapas, desenhos, fotos, imagens em movimento... Estou carregado de verdades e de mentiras também. Cabe aos meus leitores separá-las, escolhê-las, modificá-las, usá-las ou não... E afinal de contas, os outros livros não são assim também??? Diante da pergunta que, na verdade, não era lá uma pergunta (pois havia sido feita para não ser respondida), Marvin se calou. Atento ao livro de carne, ele quase se esquecera do caracol que devia estar em algum lugar ali dentro daquela imensidão cavernosa, cheia de silêncio e escuridão. SASKANHANEM tem trezentos filhos, quatrocentos netos, mil bisnetos e novecentos tataranetos. Aí já dá para se ter uma idéia da sua idade. Ligeiramente... -- Chega! Torresmo! Chega! -- Mas, mas, mas... -- Não diga mais nada, apenas deixe essa sua luz de televisão ligada. E assim Torresmo passou a iluminar silenciosamente o caminho pensativo de Marvin que ia ao encontro da criatura gosmenta, mesmo sem saber o que fazer quando chegasse junto dela. O seu medo era aquele bafo quente... A espada Excalibur foi seguindo os dois, já imaginando que teria muito trabalho pela frente...
ENQUANTO ISSO NA CAVERNA DA MISTERIOSA CRIATURA DA CAIXA PRETA: -- Caixa! Cheguei! E desta vez eu trouxe uma coisa muito especial. Acho que você vai gostar. Ou melhor dizendo, você vai adorar, você vai enlouquecer, você vai... -- ... -- Caixa!? Caixa!? --...
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Apenas o silêncio respondeu e Tipo Assim ficou “charuto”, ou seja, ficou todo sem graça... Decepcionado talvez seja a melhor palavra para a feição que sua cara amarela adquiriu ao descobrir que Caixa não estava mais ali... Para completar sua decepção, já em seguida, todos os móveis e utensílios da Misteriosa Criatura da Caixa Preta
“Brimpt!!!”
desapareceram também ... Bem diante
do nariz chato de Tipo Assim. Não restava mais dúvida. Caixa havia se mudado sem dar satisfações, sem deixar ao menos um bilhete de despedida. Tipo Assim sentiu-se então traído. “Enganado e mal pago”. Justamente ele que enganava os outros. Justamente ele que era “expert” na arte de passar as criaturas para trás.
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CAPÍTULO 11 A DIMENSÃO DAS TREVAS SÓLIDAS “ Nenhuma morte me pegará, só eu tenho todo o tempo do mundo.” (Altropolicanto – criatura do Pântano Nevoento que possui cinqüenta dedos em cada uma das dez patas e uma imensa boca crocodilante e linguaruda.) -- Marvin! Marvin! -- Quem está aí? -- Sou eu! -- Eu quem?? -- O seu amigo Elvis Presley! -- Elvis? É você? Mas a sua voz... Nisso Elvis saiu da escuridão e Marvin pôde conferir com um susto... Não esperava ver o amigo daquele jeito. Do dragão imenso e poderoso, Elvis mantinha apenas a cor e a forma. Estava agora com no máximo 10 centímetros de “tamanho”. -- Marvin, infelizmente, as minhas pílulas não estão mais fazendo efeito. Não para mim... Tentei também alguns chás e mandingas. E nada. Até comi duas terríveis pimentas gigantes enfeitiçadas... Só não tenho muito tempo. Preciso recuperar com urgência as minhas cinco bolas de remorso... -- Elvis, você ficou assim por causa delas??? -- Isso mesmo, Marvin! Só não tenho tempo para lhe explicar tudo... -- Mas pelo menos deixe eu ajudar!! -- Sem “pelo menos”, Marvin! Infelizmente ninguém pode me ajudar... E não se esqueça que você precisa salvar Lenora antes que seja tarde demais. -- Mas, mas, Elvis... -- Nada de “mas”. Eu trouxe aqui algumas mini-pílulas para a sua viagem. -- Viagem? -- Sim! Viagem à terrível Dimensão das Trevas Sólidas.
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-- Mas Elvis... E a Lesma Gigante? -- Ela ou ele não está mais aqui. Assim que soube da vitória da espada Excalibur sobre os lobisomens azuis, o Caracol do Tempo desapareceu, fugindo para as Trevas Sólidas. Lá onde já se encontra também sua amiga Lenora... Bem lá onde nenhuma criatura em sã consciência vai de livre e espontânea vontade. Lá onde somente a coragem que é luz pode derrotar a morte que é a escuridão. -- E o que é que eu faço então? -- Pegue estas cinco mini-pílulas! Tive de diminuí-las para conseguir carregá-las... Cuidado para não perdê-las! Com cuidado, Marvin segurou as “pequenas ervilhas” na palma da mão, enquanto Elvis “Puxa, como estou cansado!” pousava sobre o Livro de Carne iluminante. -- Preste atenção, menino! Preste muito atenção! Você terá que engolir as minipílulas de acordo com as minhas instruções. E na seqüência que eu vou lhe passar. Entendeu, menino? Esta era, se não me engano, a primeira vez que Elvis chamava Marvin de “menino”. E esse “menino” tinha um tom de “eu ainda sou maior que você, apesar de meu momentâneo diminuto tamanho”. “Lei da Compensação” possivelmente: diminuir os outros para se sentir maior. Ou “menos pequeno”. -- A mini-pílula transparente, duas em uma, vai lhe dar um bom banho. Afinal, você está precisando mais do que ninguém. Em seguida ela irá lhe vestir decentemente... Já a mini-pílula amarela lhe transformará no menino cápsula. -- Humm??? -- Calma! Não se preocupe em entender agora! Nem há necessidade. A mini-pílula amarela vem com uma “bula mental”. -- ??? Elvis fingiu não ver as interrogações nos olhos de Marvin e continuou sua fala: -- A mini-pílula verde irá transportá-lo até a Dimensão das Trevas Sólidas. Essa viagem deverá levar alguns minutos de noventa segundos... possivelmente não mais de meia hora. Tudo depende do trânsito de criaturas mortas... Antes de chegar lá no seu destino, engula a mini-pílula vermelha. Sem ela você não conseguirá respirar. Por último a mini-pí...lu...la... bran...ca... que...
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Antes que terminasse a explicação, Elvis foi desaparecendo como se estivesse indo embora para sempre: Talvez também para a Dimensão das Trevas Sólidas. PORÉM COM CERTEZA, NÃO DE LIVRE E ESPONTÂNEA VONTADE. -- Elvis!!!??? Assim que Elvis sumiu, Marvin começou a sentir uma forte dor que o fez cair no chão (mas de mão bem fechada para não perder as mini-pílulas): era Excalibur, agora miniespada, entrando fumegante em seu peito “manteiga” para descansar e aguardar até o momento de... Desta vez, Marvin não gemeu, não gritou, não urrou, não lacrimejou, não desmaiou... Agüentou a dor... E a dor que doeu já não doeu tanto quanto da primeira vez. ESTRATÉGIA DA ESPADA EXCALIBUR. Alguns minutos depois, Marvin já se sentia mais vivo do que antes. NADA COMO UMA “BOA DOR” PARA NOS MOSTRAR QUE ESTAMOS REALMENTE VIVOS. Marvin que já havia gravado a seqüência das mini-pílulas tentava mesmo assim reforçar sua memória. Nada podia dar errado, sabia ele. Qualquer erro poderia significar a maldição de cem anos nas Trevas Sólidas para Lenora e para ele também. UMA DAS TÁTICAS MAIS USADAS PARA SE RETER UMA INFORMAÇÃO É A REPETIÇÃO EXAGERADA. Marvin certamente não precisava mais disso. Depois daquele tratamento antiestresse mágico do Mago Merlin Nostradamus, sua memória já estava boa novamente... Melhor do que nunca... Mesmo assim ele resolveu se garantir pelo excesso: “Deixe-me ver... pílula transparente, pílula amarela, pílula verde, pílula vermelha, pílula branca... Essa é a ordem. Transparente, amarela, verde, vermelha, branca. Transparente, amarela, verde, vermelha, branca... Transparente, amarela, verde, vermelha, branca... Transparente, amarela, verde, vermelha, branca... Transparente, amarela, verde, vermelha, branca...” Antes de guardar “Torresmo-lanterna” dentro da mochila, Marvin engoliu a minipílula transparente e ficou esperando a reação que demorou 1, 2, 3, 4, 5, 6, 7, 8, 9, 10, 11, 12, 13, 14, 15, 16, 17, 18, 19, 20, 21, 22, 23, 24, 25, 26, 27, 28, 29, 30, 31, 32, 33, 34, 35, 36, 37, 38 segundos para começar.
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Primeiro Marvin sumiu dali, mas todos os seus pertences teimaram em ficar: a mochila com o livro de carne, as mini-pílulas e sua “roupa” ensebadamente azul que já nem podia ser chamada assim. COIN COIN: Marvin caiu pelado nas Cataratas de Foz do Iguaçu e assim começou o seu banho-pesadelo de quinze segundos. BANHO-PESADELO É AQUELE QUE ATÉ PODE MATAR. Os quinze segundos mais longos da vida de Marvin: nesse tempo todo ele tentou nadar para vencer as águas que eram muito mais poderosas do que ele e sua vontade. O som ensurdecedor da Foz gritava nos ouvidos de Marvin: “Nós vamos te engolir! Nós vamos te engolir!” Enquanto as águas diziam que iriam engolir Marvin, era Marvin quem engolia as águas. Mas mesmo no desespero, ele sabia que iria se salvar. Sabia também que aquilo ali era apenas algum tipo de “problema técnico” da mini-pílula-transparente. Elvis estava doente e pelo jeito também a sua doença havia colocado algo de ruim e defeitoso em suas últimas “invenções de se engolir”. MARVIN SÓ ESPERAVA AGORA QUE AS OUTRAS PÍLULAS NÃO TROUXESSEM SURPRESAS TÃO OU MUITO DESAGRADÁVEIS. Passados os longos quinnnnnnnnnnnnnnnnze segundos: COIN COIN: totalmente limpo e já de cabelos verdes, Marvin caiu pelado pingando em uma imensa LOJA DE DEPARTAMENTOS. COIN COIN QUE MAIS PARECE PORCO FALANDO E NA VERDADE O SOM QUE SE FAZIA QUANDO MARVIN “PASSAVA” DE UM LUGAR PARA OUTRO. Meio tonto ainda, ele vomitou três copos d’água (sem os copos é claro). APESAR DE NÃO SER NADA AGRADÁVEL, VOMITAR FAZ BEM DE VEZ EM QUANDO. QUE DIGA ISSO A BRUXA MARICOTA URTIGONA. AO CONTRÁRIO DE MUITAS CRIATURAS QUE SÃO OBRIGADAS A ENGOLIR SAPOS, ELA OS VOMITA, DE VEZ EM SEMPRE, TRÊS VEZES AO DIA. Assim que abriu bem os olhos para realmente ver as coisas, Marvin se surpreendeu com o gigantismo daquilo que parecia ser realmente uma imensa loja de vestuários. Mais tarde, ele descobriria se tratar de uma loja de departamentos...
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Até o teto e inclusive no próprio teto, havia roupas, roupas, roupas, roupas, roupas e mais roupas... montanhas e montanhas de roupas sufocadas umas sobre as outras. Marvin foi caminhando nu entre elas, junto com a estranha sensação de que estava sendo observado o tempo todo. Vez por outra, pequenos risos e gargalhadas mínimas faziam-no procurar com os olhos, ali, lá, acolá, por alguma criaturinha que pudesse estar “brincando de se esconder”. De repente “VUMPT” um susto: uma calça preta passou voando bem na frente de Marvin, quase acertando o seu nariz... Já em seguida, uma toalha bem felpuda veio freneticamente enxugar-lhe “VAPT VUPT” o seu cabelo. O que se viu na seqüência foi um DEU A LOUCA NAS ROUPAS. Meias, cuecas, luvas, calças, vestidos, capas, sobretudos, suéters, camisetas, calcinhas, ternos, calções, macacões... passaram a voar divertidamente diante de Marvin. Algumas calças e vestidos chegaram inclusive a dançar valsa no ar, mesmo sem música alguma. A festa das roupas foi atraindo cada vez mais peças, mas Marvin resolveu sair de fininho daquele tumulto animado. Mais a sua frente, um corredor de roupas pretas. SILENCIOSAS E DESANIMADAS. Marvin sentiu um calafrio. Eram todas capas de vampiros. Todas em seus respectivos cabides que iam até o teto que ficava mais ou menos nove metros do chão. Um cheiro de mofo e naftalina tomava conta do ar... Marvin apressou os passos pelados. Antes que chegasse ao fim do corredor, uma capa preta voadora o envolveu como se ela fosse um morcego gigante e Marvin a sua vítima indefesa. Não havia como gritar. Não havia como escapar. Marvin ficou se debatendo... lutando dentro da capa. Ficaria assim até perder suas energias. Ficaria assim até não conseguir mais respirar. Só depois de perder forças e fôlego é que Marvin se lembrou de Excalibur. FINALMENTE. E assim se concentrou em um pensamento suplicante:
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“EXCALIBUR, ME AJUDE, POR FAVOR!!!” Uma forte e luminosa dor no peito veio em seguida, indicando que a espada ouvira seu pedido e já estava vindo ajudar... Primeiro Excalibur cortou a capa para que Marvin pudesse sair e respirar... Depois continuou lutando até estraçalhar a vestimenta vampirística em centenas de pequenos pedaços. E olha que nem foi preciso Excalibur aumentar de tamanho... Nenhuma outra capa teve coragem de se manifestar. ALGUNS PODEM ESTAR SE PERGUNTANDO POR QUE A ESPADA EXCALIBUR NÃO ENTROU EM AÇÃO ANTES. TALVEZ PORQUE NA MAIORIA DAS VEZES ELA NÃO GOSTE DE SER UMA ESPADA INTROMETIDA E PREFIRA ESPERAR SER CHAMADA... “Refeito da luta”, Marvin continuou andando nu pelos corredores daquela loja de roupas “sem etiquetas”. Agora com a “pequena” Excalibur em seu encalço. Marvin passou por mais e mais corredores, cheios de roupas e mais e mais roupas... E continuou andando pelado (afinal não estava com frio e nem com disposição para vestir qualquer coisa. Até agora todas as roupas lhe pareciam estranhas, extravagantes, mórbidas, feias, velhas, ridículas, desconfortáveis, etc, etc, etc.). “Vamos logo, Marvin! Lenora precisa de você com urgência!” Fazia um bom tempo que Marvin não ouvia sua voz interior. Pelo jeito ela tinha ido tirar umas férias lá no REINO DAS VOZES INTERIORES. Marvin dobrou um corredor, decidido agora a escolher sua roupa. Porém antes que escolhesse... um batalhão de calças, camisas, capas, sobretudos, macacões, agasalhos e até vestidos veio voando em sua direção sob a trilha sonora de uma toda animada sanfona voadora tocando TICO-TICO NO FUBÁ. Foi pela música que Marvin percebeu estar sendo seguido... Correu, mas as roupas voaram-correram mais... NAS LOJAS BLOOMINWITCH, QUEM NÃO ESCOLHE SUAS ROUPAS, ACABA SENDO ESCOLHIDO POR ELAS. E foi justamente isso o que acabou acontecendo com Marvin. As roupas passaram a atacá-lo (pelo menos era assim que ele, a princípio, estava vendo-entendendo a situação).
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Uma calça lhe passou rasteira e Marvin caiu. No chão não teve mais como vencer as centenas de roupas obcecadas... Umas brigando contra as outras para ver quem iria conseguir se vestir no menino... O que se via era uma montanha viva de “trapos”se engalfinhando em uma batalha aparentemente mortal e Marvin “escondido” no meio do “bolo”... ENTRE MORTOS E FERIDOS, SALVARAM-SE TODOS... As roupas, algumas um pouco rasgadas, retornaram as suas prateleiras e cabides e Marvin ficou ali no chão todo vestido pela roupa vencedora: coincidentemente um traje branco, típico de Elvis Presley. Faltavam agora os sapatos... Marvin não estava disposto a enfrentar mais uma batalha e por isso pegou o primeiro par que viu em sua frente... SAPATO VERMELHO LUSTROSO, CANO FINO, TAMANHO ADAPTÁVEL AO PÉ DO CLIENTE. UMA MARAVILHA PARA AQUELAS CRIATURAS QUE NÃO CONSEGUEM CHEGAR NEM PERTO DE UM BOM GOSTO MÍNIMO. E agora??? A mochila com asas, o livro de carne e as mini-pílulas ainda estavam na caverna do Caracol do Tempo sem o Caracol do Tempo. “As coisas poderiam ser mais simples, inclusive nos Mundos Mágicos!”—pensou Marvin. Poderiam. Bem que poderiam. Mas infelizmente uma das características dos seres humanos e não-humanos é complicar os mundos e suas próprias “existências”. E agora??? Marvin não tinha a mínima idéia de como retornar à Caverna do Caracol para pegar seus pertences de primeira necessidade mágica. Andar um pouco, às vezes, ajuda a se ganhar idéias. E foi isso que Marvin resolveu continuar fazendo pelos corredores completamente vazios da Loja Bloominwitch. NENHUMA CRIATURA FAZENDO COMPRAS. NENHUMA ALMA PENADA OU DESPENADA. PELO JEITO DEVIA SER FERIADO.
Alguns feriados em alguns Mundos Mágicos: -- Dia das Bruxas (Feriado em mais de duzentos mundos)
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-- Dia da Magia ( Feriado em mais de mil mundos) -- Dia dos Mortos-Vivos (Feriado nos mundos dos mortos-vivos) -- Dia das Mães de Vampiros (Feriado apenas no mundo onde os vampiros têm mãe) -- Dia dos Dragões (Feriado em vários mundos com dragões em grande quantidade) -- Dia das Pedras Falantes (Feriado no Reino das Pedras Falantes) -- Dia dos Lobisomens (Feriado em trinta mundos) -- Dia da Sorte (Feriado em cem mundos) -- Dia do Azar (Feriado em quinhentos mundos) -- Dia dos Monstros Desdentados (Feriado em mais de duzentos mundos monstruosos) -- Semana das Fadas (Feriado em Avalon e em mais alguns reinos de fadas) -- Semana dos Magos Merlins (Feriado em todos os mundos de que se tem notícia) -- Dia da Rapadura Mágica (Feriado apenas no Reino dos Comedores de Rapadura Mágica).
A Loja Bloominwitch nunca fica mais de uma lua na mesma localidade. Vive viajando, a esmo, pelos Mundos Mágicos. Azar dela. Desta vez acabou indo parar justamente onde era feriado. FERIADO DE UM DIA OU DE UMA SEMANA??? Marvin continuou andando por mais e mais corredores... O silêncio foi então interrompido por um conjunto de conversas e gargalhadas. VOZES DE CRIANÇAS??????????????????????????? Por um instante, Marvin ligou as vozes a um passado que já parecia distante: aos colegas da escola, às brincadeiras na hora do recreio, às peladas na praça... Que nada! Assim que virou o corredor e viu quem eram as criaturas falantes, ficou boquiaberto. E olha que Marvin não ficava boquiaberto há um bom tempo. As criaturas falantes não eram criaturas falantes, e sim, pasmem, sapatos. Sapatos falantes. Sapatos contadores de piadas: -- Você conhece aquela piada da sandália com hemorróidas? -- Não!
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-- Nem eu! E assim-assim um par de mocassinos caía no riso rasgado. Outros sapatos conversavam assuntos e besteiras diversas... E riam, como riam... Marvin continuou andando. Dava para pegar um pedaço de fala aqui que se misturava com outro pedaço de conversa ali e outro lá e outro acolá e outro e outro e outro... OS SAPATOS NAS PRATELEIRAS QUE TAMBÉM IAM ATÉ O TETO ALTO LEMBRAVAM, MESMO QUE VAGAMENTE, ARQUIBANCADAS FALANTES. No final do corredor, Marvin ouviu alguns sapatos anônimos se dirigirem a ele. -- Já vai, gostosão?! -- Ah! Fique mais!!! -- HUUUUUUUUUUUUUUUUUUU!!!!!!!!! Sem dar bola, Marvin continuou seguindo em frente... E mais à frente já estava na Seção das Vacas Empalhadas. Centenas delas: vacas azuis, vacas amarelas, vacas verdes, vacas vermelhas, vacas laranjas, vacas arco-íris, vacas cor-de-rosa, vacas cor-de-vaca... Vacas empalhadas para enfeitar jardins de ervas venenosas. EM
MUITOS
MUNDOS
MÁGICOS,
AS
VACAS
EMPALHADAS
SUBSTITUEM OS ANÕES DE JARDIM. A Loja Bloominwitch parecia também não ter fim... Marvin já estava ficando cansado daquilo tudo, afinal a sua missão era salvar Lenora e não ficar caminhado, feito bobo, em uma loja de departamentos. O TEMPO URGIA E O LEÃO RUGIA... “Mas como? Como eu saio daqui??” – era a pergunta-pensamento que não queria calar. MARVIN VIAJOU COM OS OLHOS PELAS VACAS COLORIDAS DE OLHOS DE VIDRO BRILHANTE. “Mas como? Como eu saio daqui??” – era a pergunta-pensamento que não queria calar.
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Para chegar até a próxima seção de alguma coisa, Marvin caminhou entre as vacas coloridas e uma delas lhe chamou atenção. Não pela cor ou por sua cara de vaca. O que intrigou Marvin foi um monte de bosta amarela no chão. “Vacas empalhadas não fazem isso!” – pensou ele – “Ou será que aqui fazem?” Marvin cutucou a vaca e ela continuou desanimadamente empalhada... NO FINAL DA SEÇÃO, UMA MÁQUINA DE REFRIGERANTES. Depois de muito tempo sem sede, Marvin sentiu sede. Auto-sugestão??? Nu sem a mão no bolso, Marvin não tinha moedas. Quando chegou bem próximo da máquina, o aviso: COLOQUE AQUI UM DENTE. Marvin não tinha dentes. Pelo menos nenhum disponível. Por sorte no chão havia dois. Dois dentes cariados e sujos de sangue seco. Marvin pegou um deles e colocou no orifício “BRIMPTRIMPT” da máquina. Próxima etapa: escolher um dos oito tipos de refrigerantes: Coca Urtiga. Soda Picante. Bloody Cola. Black Sprite. Fanta Mórbida. Cactus Cola. Cola Ardida. Cola Arroto. ENTRE TANTAS OPÇÕES, PRATICAMENTE NÃO HAVIA OPÇÕES. As marcas e os rótulos afugentariam muitas sedes humanas. Não a de Marvin que já estava atiçada... E assim ele escolheu e apertou um dos botões. “TRUUUUUUUUUUUMPT-BLOPT” E lá veio a latinha. Marvin bebeu tudo de uma vez só. Ah! O gosto no final era suave e refrescante: uma mistura de abacaxi com menta e mais vinte e sete ingredientes secretos. “GRRRRRRRRRRRROOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOO!!!” Marvin havia escolhido a Coca Arroto. COCA ARROTO, VOCÊ BEBE UMA VEZ E ARROTA POR UM MÊS. Mais à frente, Marvin ficaria sabendo disso. Por enquanto, pelo menos a sede estava mortinha da silva. PARA QUEM NÃO SABE AINDA, “MORTINHA DA SILVA” SIGNIFICA COMPLETAMENTE MORTA. TÃO MORTA QUE ATÉ SOBRENOME TEM.
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Mais uma informação: Mortinha da Silva é também o nome de uma bruxa que mora lá no Mundo de Almíscar. Mas retornando ao Marvin, ele continuou andando pela loja. A próxima seção era a de Cabeças Decepadas. Última moda entre muitos bruxos que só se preocupam com coisas da moda: enfeitar a casa com cabeças humanas decepadas. CABEÇAS HUMANAS DECEPADAS, MAIS UM PRODUTO EXCLUSIVO DA LOJA BLOOMINWITCH. Muitas eram personalidades famosas no Mundo Humano. DEZ MIL CABEÇAS MORTINHAS DA SILVA. “Ei você aí!!!” “????” “É, você mesmo que está escrevendo essa história. Peço-lhe o favor de não ficar usando o meu nome em vão! Se isso continuar acontecendo, eu vou me zangar, e você não vai querer sentir as terríveis conseqüências!” .................................................................................................................................... POR MOTIVOS DE FORÇA MAIOR, A EXPRESSÃO “MORTINHA DA SILVA” NÃO SERÁ MAIS USADA A PARTIR DE AGORA. .................................................................................................................................... Marvin conseguiu identificar as cabeças mais próximas de seu ângulo de visão. Não estava a fim de continuar andando entre tantas: morbidamente humanas, conhecidas ou não. Não era medo, mas dava uma sensação desagradável no peito. George W. Bush ironicamente aparecia pendurado entre Sadan Hussen e Bin Laden. Michael Jackson mais ao lado, junto de Tony Blair. Algumas cantoras famosas: Madona, Britney Spears, Enya, Barbra Streisand, Lisa Mineli estavam próximas... O jogador de basquete Michael Jordan vinha ao lado de Pelé, Ronaldinho, Guga, Maradona e Michael Schumacher... CABEÇAS
DECEPADAS
COM
CERTIFICADO
DE
GARANTIA
E
PROCEDÊNCIA. Marvin identificou ainda as cabeças das atrizes Cameron Dias, Sandra Bulock, Julia Roberts... e as cabeças dos atores, Jim Carrey, Eddie Murphy, Jack Chan, Steve Martin, Silvester Stalone e Jean Claude Van Damme.
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--GRRRRRRRRRRRROOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOO!!!
UMA QUESTÃO PARA FICAR NO AR ATÉ QUE ALGUM DIA, QUEM SABE, CAIA NO CHÃO: SERÁ QUE AS PESSOAS FAMOSAS PERDEM A CABEÇA MAIS FACILMENTE QUE AQUELAS NÃO FAMOSAS???
Enquanto Marvin ainda encarava as cabeças, George W. Bush começou a tremer, suar, fazer caretas... Até parecia que várias moscas e aranhas invisíveis estavam perturbando sua cabeça e o “penteado laquê”. Era engraçado ver alguém que já se achara tão importante naquela condição reles ridícula. George W. Bush mexia o nariz e as orelhas, retorcia os lábios finos, vez por outra cuspia no chão... Acostumado a “mandar” e “controlar” as situações, agora era totalmente tomado por forças poderosas de fato... Assim que sua cabeça (e isso era agora a única coisa que ele tinha) começou a rodopiar feito um pião, suas duas orelhas foram arremeçadas para longe. Em seguida o seu nariz... Quando o “pião’ parou de rodar, George W. Bush já sem maquiagem, sem orelhas, desacompanhado de seu nariz e de cabelos despenteados nem mais parecia George W. Bush. Eta coisinha feia ficou ele. Não que antes parecesse alguma maravilha da natureza humana. De sua boca então saiu-caiu um rato branco no chão: -- Marvin! Até que enfim eu te encontrei!!! UM RATO FALANTE DE LABORATÓRIO??? -- Carambolas! Nunca tinha visto antes tantas cabeças decepadas juntas! -- Etecétera??? É você mesmo??? -- Claro que sou eu!!! Quem mais poderia ser, ora bolas??!! -- Depois de tanto tempo, não estou nem acreditando que é você. Para não deixar dúvidas, o rato Etecétera já foi se transformando em um pato que já virou um gato que já virou um cachorro que já virou um canguru que já virou um urso que já virou um sapo que já virou um coelho que já virou um leão que já virou uma coruja que
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já virou um leopardo que já virou um pingüim que já virou um lêmure que já virou um rinoceronte que já virou um ornitorrinco que já virou um chipanzé... --GRRRRRRRRRRRROOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOO!!!, Desculpe-me, Etecétera! Aqui no contexto de Marvin, a frase “não estou nem acreditando que é você” não significava realmente “não estou nem acreditando que é você”. Indicava muito mais uma mistura de surpresa com alegria em reencontrar um amigo de muitas aventuras mágicas. Etecétera não entendera a sutileza. -- Marvin, será que ainda sou seu presente, seu amigo de estimação? -- Claro, claro que sim! Mas vem cá e me dá um abraço! Etecétera já foi se aproveitando da situação e pulou-se-agarrou no ombro de Marvin. COISAS DE CHIMPANZÉ! -- Puxa, Etecétera! Você é um chimpanzé bem dos pesados. -- Posso virar outro bicho se você quiser. Que tal um amigo crocodilo? -- Não! Não! Você de amigo chimpanzé está muito bem! Muito bem mesmo! E RIRAM OS DOIS... --GRRRRRRRRRRROOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOO!!!, Desculpe-me de novo, Etecétera! Mas não consigo controlar. -- Marvin, você não precisa ficar se desculpando por isso. Aliás, em quase todos os mundos mágicos arrotar nunca foi falta de educação. Muito pelo contrário. É saudável. Gostoso. Existem até concursos de arroto em vários mundos. Só não vale arroto artificial. -- Arroto artificial???? -- Tipo o seu assim. Arroto da Coca Arroto não vale nos Concursos de Arroto. --GRRRRRRRRRRRROOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOO!!!, Então não vou mais pedir desculpas, Ok?! Já que Marvin não perguntou, alguém possivelmente deve estar se perguntando, o que Etecétera fazia dentro da boca de George W. Bush... A resposta é simples, deveras simples. Muitos seres mágicos ao se transportarem de um mundo a outro podem acabar caindo nos lugares mais inesperados, estranhos e esdrúxulos. Cheio de aventuras novinhas em folha, Etecétera estava ansioso para começar a narrá-las em seus pormenores.
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-- Marvin, tenho tantas coisas para te dizer. A minha vida, nesses últimos tempos, esteve recheada de acontecimentos... -- Etecétera, eu quero muito ouvir suas histórias, mas agora não posso. Preciso salvar Lenora, já nem sei mais se ainda há tempo para isso. Preciso das mini-pílulas do Elvis, da minha mochila com asas, do livro de carne... E tudo ficou lá no Mundo Azul, mais precisamente na Caverna do Caracol do Tempo. GRRRRRRRRRRRROOOOOOOOOOO OOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOO!!! -- Caverna do Caracol do Tempo! Infelizmente já ouvi falar. Mas não sei se posso ir lá, Marvin. Você é meu amigo, mas esse caracol, a lesma carnívora monstruosa e sanguinolenta, os lobisomens azuis... É demais para mim. Vou ser sincero, já estou quase morrendo de medo. “Quase morrendo” era um exagero, mas que Etecétera estava tremendo, isso estava. Tremendo da cabeça de chimpanzé até os pés de pato. PÉS DE PATO??? Isso mesmo. O medo era tão grande que havia tornado Etecétera um ser quase híbrido: um quase CHIPATO. -- Etecétera, só você pode me ajudar agora.... E não se preocupe, o caracol do tempo já não está mais lá na caverna. E os lobisomens azuis foram destruídos pela espada Excalibur. -- Por que você não me disse isso antes??? Se é assim, se a pressa é tanta, eu já vou e já volto antes que você conte até seis. “CLICK” (foi o som que se fez assim que Etecétera sumiu) UM, DOIS, TRÊS, QUATRO, CINCO, SEIS, SETE, OITO, NOVE, DEZ, ONZE, DOZE, TREZE, QUATORZE, QUINZE, DEZESSEIS, DEZESSETE, DEZOITO, DEZENOVE, VINTE, VINTE E UM, VINTE E DOIS... “CLOCK” (foi o som que se fez assim que Etecétera apareceu) -- Tá vendo?! Já estou de volta! -- É, mas eu contei até vinte e dois! – brincou Marvin, mas Etecétera também não entendeu a sutileza da brincadeira. -- Este é o seu problema. Você conta rápido demais. E além de tudo, não pense que é fácil assim achar coisas em uma caverna escura. Mas aqui estão elas.
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Marvin pegou primeiro a mochila com asas (com o Torresmo dormindo dentro) e já foi colocando-a nas costas. Em seguida, Etecétera lhe passou as quatro mini-pílulas. -- Marvin, tenho uma reclamação a fazer sobre a sua mochila com asas. Ela não estava querendo vir comigo e eu tive que dar-lhe uns bons safanões. Aí ela se acalmou. Não sei se ela já tem nome, mas se não tiver... que tal você chamá-la de Avoada? Avoada é um bom nome, não? Penso eu que todas as coisas deveriam ter nome próprio, pelo menos aquelas que nos são mais íntimas, mais especiais. Avoada deve ser especial pra você. Apesar de eu não ir muito com a cara dela e ela também não ir muito com a minha... Uma pedra especial não é apenas uma pedra. Uma árvore especial não é simplesmente uma árvore especial. Uma roupa especial não pode ser apenas uma roupa especial. Todas essas coisas precisam de nome, de um nome especial também... Enquanto Etecétera falava e falava, Marvin já foi engolindo a mini-pílula amarela e ficou aguardando os seus efeitos: PRIMEIRO EFEITO DA PÍLULA AMARELA: em dezoito segundos Marvin desapareceu, deixando Etecétera falando para as paredes, ou melhor dizendo, deixando Etecétera falando para as cabeças decepadas. “Já que fiquei aqui sozinho, acho que vou aproveitar para fazer umas comprinhas.” (para Etecétera não existia loja “fechada” e o que ele queria ele levava mesmo, sem nenhuma cerimônia) SEGUNDO EFEITO DA PÍLULA AMARELA: Marvin entrou pelo cano. Não por um cano comum, mas por um imenso tubão de plástico. Um verdadeiro tubão escorregador cujo destino final não era uma piscina refrescante, cheia de gente brincando.... Marvin foi escorregando, escorregando, até despencar num abismo de nada. Lá embaixo, acabou caindo em uma cápsula transparente que aos poucos foi se aderindo a seu corpo. TERCEIRO EFEITO DA PÍLULA AMARELA: completamente desconfortável, Marvin virou o menino cápsula. Com foguete na ponta dos pés. Talvez parecesse mais um menino-foguete. Mas isso é apenas questão de terminologia. E como o foguete parecia mais uma cápsula do que um foguete e já que uma cápsula pode ser também um foguete, vamos ficar com ela.
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Sem condições para movimentar: nem mãos nem braços nem pernas nem pés nem nariz nem orelhas... NEM QUASE NADA... Marvin só ficou aguardando o próximo efeito da pílula amarela. Apesar de todo “capsulado”, Marvin conseguia respirar normalmente. Coisas da magia. COISAS DA MAGIA. QUARTO EFEITO DA PÍLULA AMARELA: Diante de seus olhos, apareceram palavras vermelhamente luminosas, indicando o que ele então devia fazer... Estava ali o dito “Manual de Instruções” mencionado por Elvis: -- Pisque bem forte os dois olhos para dar a partida; --Pisque três vezes os dois olhos para chamar-receber a mini-pílula verde; -- Pisque uma vez o olho direito para ir para a direita; -- Pisque uma vez o olho esquerdo para ir para a esquerda; -- Pisque duas vezes o olho direito para ir para cima; -- Pisque duas vezes o olho esquerdo para ir para baixo; -- Pisque três vezes o olho direito e duas vezes o olho esquerdo para fazer um “parafuso”; -- Morda uma vez língua bem forte para ganhar mais e mais velocidade; -- Morda a língua duas vezes ou mais para desacelerar; -- Pisque quatro vezes os dois olhos para chamar-receber a mini-pílula vermelha antes de: -- Piscar cinco vezes o olho esquerdo para inicializar a “descapsulação”; -- Pisque seis vezes os dois olhos para chamar-receber a mini-pílula branca.
Para Marvin não se esquecer de todos os tipos de piscadelas, as palavras luminosas permaneceram diante de seus olhos, mais ao canto da “tela”, ou melhor dizendo, mais ao canto de seu campo de visão... Quase nem dava para ler direito, era preciso fazer um bom esforço. Marvin não precisou... sua memória, agora bem esperta, já havia gravado todas elas. Assim que ele piscou bem forte os dois olhos: muitos cavalos invisíveis de força mágica fizeram com que a “turbina” da cápsula-foquete, abaixo de seus pés, entrasse em ação.
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E MARVIN COMEÇOU A GANHAR O VÔO SUPER-SUPER-SUPER-SUPERSÔNICO. Em seguida, ele piscou três vezes os dois olhos e a mini-pílula verde apareceu juntinho de sua boca. Aí foi só colocar a língua para fora, isso ele ainda conseguia fazer bem, e engolir a dita. O efeito da verdinha começou a formar um túnel-redemoinho verde alguns quilômetros de distância dos olhos de Marvin. PARA SE CHEGAR ATÉ A DIMENSÃO DAS TREVAS SÓLIDAS, PRIMEIRO É NECESSÁRIO ATRAVESSAR O “ESPAÇO MÓRBIDO”. Marvin mordeu então a língua para ganhar velocidade. O túnel-redemoinho foi ficando cada vez mais próximo e cada vez maior. GIGANTESCO. Marvin entrou no túnel verde como entraria a nave Interprise do filme Jornada nas Estrelas... Devido a velocidade super-super-super-super-sônica, os “objetos-asteróidesmeteoros” que passavam por ele pareciam manchas e riscos. Marvin ia se desviando de todos com suas piscadelas direcionais: direita, esquerda, esquerda, para baixo, desacelerar, esquerda, direita, direita, acelerar, para baixo, parafuso, direita, etc, etc, etc. De repente, um “piripaque” mágico e a velocidade super-super-super-super-sônica começou a perder seus superlativos: ...super-super-super-sônica. ...super-super-sônica. ...super-sônica. ...sônica. ...sôni... ...sô... ... Marvin mordeu a língua até sangrar, mas não adiantou nada. E assim ele ficou à deriva no Espaço Mórbido, enquanto corpos e mais corpos, cadáveres e mais cadáveres (de todos os tipos, espécies e tamanhos) passavam próximos dele.
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Vez por outra um-corpo-humano-ou-não lançava seu jato de líquido estomacal podre sobre Marvin-cápsula. CADÁVERES LUMINOSOS SUBSTITUÍAM ESTRELAS. ASTERÓIDES FANTASMAGÓRICOS ERAM ZUMBIS GIGANTES COM ATÉ TRÊS QUILÔMETROS DE EXTENSÃO. Apesar das horripilantes imagens, muitas certamente proibidas para menores de 18 anos, Marvin não tinha mais medo algum. Era como se todo o seu estoque de medo tivesse chegado ao fim. O MEDO É LÍQUIDO. E nem uma gota restava. O MEDO CORRE NAS VEIAS... ÀS VEZES SE FAZ DE SUOR E TRANSPIRA... O MEDO URINA NAS CALÇAS. O MEDO CHEIRA. O MEDO FEDE. O MEDO FAZ CRESCER AS UNHAS, OS PÊLOS E OS CABELOS. O MEDO DÁ DOR DE DENTE. Sem medo do medo, sem medo de morrer, Marvin tinha suas chances de se salvar diminuídas drasticamente. O MEDO PODE SER NOSSA PERDIÇÃO. O MEDO PODE SER NOSSA SALVAÇÃO. Restava Excalibur para ajudar. Não. Melhor não. Qualquer buraco ou mesmo furo na cápsula e Marvin estaria morto em menos de um minuto. Portanto, era melhor que a espada permanecesse quieta dentro de seu peito. Segundo uma das leis do filho de Murphy: “Quando certas situações desesperadas parecem não mostrar a luz no fim do túnel é porque não há luz e nem fim do túnel.” FELIZMENTE, CERTAS LEIS NÃO VALEM PARA TODOS OS MUNDOS. Marvin tinha ainda os cabelos verdes e, com certeza, milhares de Magos Merlins da Távola Redonda Mística torcendo anonimamente por ele. Cada qual em seu mundo mágico. Sem poder se movimentar, o menino-cápsula acabou dormindo... Dormindo profundamente... Efeito colateral das mini-pílulas?? TALVEZ. Cadáveres, cadáveres e cadáveres, um mais estranho que o outro, continuavam passando... até que, para interromper a monotonia mórbida, um zumbi de dois quilômetros
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de comprimento abriu sua bocarra, engolindo tudo, ou melhor todos, num raio de cem metros... ENQUANTO ISSO, na Loja Bloominwitch, Etecétera se deliciava com um sorvete de máquina, sabor: chocolate azul com rum exotérico. ENQUANTO ISSO, Tipo Assim viajava de mundo em mundo à procura da Misteriosa Criatura da Caixa Preta: “Esse cara me passou pra trás... Esse desgraçado me passou pra trás... Mas ele ainda me paga, mesmo que seja a última coisa que eu faça...” ENQUANTO ISSO, o agora mais minúsculo ainda dragão Elvis Presley também viajava pelos mundos mágicos atrás de suas bolas de carniça. ENQUANTO ISSO no Mundo de Almíscar, os seus habitantes liam “Entrevista com o Vampiro”. ENQUANTO ISSO... Chega de tanto “enquanto isso”... e voltemos a... onde nós estávamos mesmo? Ah! Sim! O Zumbi gigantesco. Zumbis gigantescos só existem no Espaço Mórbido. Zumbis gigantescos são também gigantescos cemitérios ambulantes. E Marvin estava agora totalmente adormecido dentro de um deles, bem mal acompanhado de milhares e milhares de cadáveres. MAIS PODRE QUE UM ZUMBI POR FORA, SÓ MESMO UM ZUMBI POR DENTRO. Marvin continuou dormindo por horas a fio. Parecia não estar “disposto” a acordar tão cedo. Talvez tivesse contraído alguma DOENÇA DO SONO MÁGICO. DOENÇAS DO SONO MÁGICO SÃO MUITÍSSIMO MAIS DURADOURAS QUE AS DOENÇAS DO SONO CONVENCIONAL. ALGUMAS PODEM DEMORAR A ETERNIDADE DE MIL ANOS. Excalibur precisava fazer alguma coisa. E fez: a única coisa não perigosa que estava a seu alcance... E assim uma forte queimação no peito acordou Marvin. Dentro do zumbi gigantesco alguns pedaços de carne podre caíam vez por outra do “teto”. Ao longe, cinco criaturas monstruosas reuniam-se junto a uma fogueira, assando o que parecia ser uma perna humana.
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Marvin piscou bem forte os dois olhos para dar a partida. Nada aconteceu. Marvin insistiu mais três vezes até que a “turbina” da cápsula-foquete resolvesse também acordar e entrar finalmente em ação. Poucos segundos depois, o menino-cápsula já havia atravessado a carne podre do zumbi gigantesco. E novamente no espaço Mórbido, ia desviando os cadáveres do caminho. Mesmo com a língua toda machucada e dolorida, raio e relâmpagos em sua frente fizeram Marvin desacelerar, desacelerar, desacelerar... Ninguém escapa dos raios do Espaço Mórbido. Marvin não sabia disso. Ficou um tempo parado, esperando que aquela tempestade luminosa terminasse ou, ao menos, diminuísse... Enquanto esperava, um longo raio-chicote o acertou em cheio, lançando-o na direção da boca da tempestade. A CÁPSULA-FOGUETE POSSUÍA UM ESCUDO ANTI-RAIOS. Mais raios e raios e raios chicotearam-surraram o menino-cápsula... Já não adiantava piscar os olhos ou morder a língua. Marvin acabou então sendo sugado por um chupão espacial... CHUPÃO ESPACIAL É UM BURACO NEGRO QUE ENGOLE TUDO, INCLUSIVE A LUZ. Marvin foi engolido... e mais à frente... desengolido no abismo das Trevas Sólidas. “BLOPT!” A queda até que foi suave. Bem em cima de um cemitério. Não. Nas Trevas Sólidas não existe “um cemitério”. Melhor dizendo, lá quase tudo é cemitério. Um cemitério infinito que segue planícies, sobe montanhas, desce precipícios... Marvin sentiu que já era “hora” de se descapsular. Antes disso porém, ele piscou quatro vezes os dois olhos: a mini-pílula vermelha saiu rapidinho de seu bolso e em poucos segundos, por baixo da ROUPA-ELVIS-PRESLEY, ela veio chegando, chegando até o pescoço e depois já estava em seus lábios se prontificando para ser engolida. Na Dimensão das Trevas Sólidas, sem a mini-pílula vermelha, Marvin enlouqueceria. O mau cheiro insuportável vai comendo as narinas por dentro. Depois toma conta do corpo todo e da alma também.
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Já com a mini-pílula engolida, Marvin podia respirar normalmente. O ar-cheiro de urubus-cadáveres-fossa-e-de-todas-as-coisas-podres-juntas parecia agora feito de flores. FLORES DE CEMITÉRIO. FLORES MURCHAS. FLORES PODRES. E FLORES DE PLÁSTICO QUE NÃO MORREM NUNCA... Agora sim. Marvin já podia piscar cinco vezes o olho esquerdo para a descapsulação acontecer. E assim ele fez. O seu corpo foi então todo descapsulado dos pés até a cabeça em ligeiros segundos. Ah! Restava ainda engolir a mini-pílula branca. Marvin piscou seis vezes os dois olhos e ela, do jeito da vermelha, veio por baixo da ROUPA-ELVIS até sua boca. Marvin engoliu a última mini-pílula, mesmo não sabendo no que ela iria ajudá-lo. Mas com certeza iria. A MINI-PÍLULA BRANCA NÃO SE MANIFESTAVA DE IMEDIATO. SEUS EFEITOS APARECIAM AOS POUCOS, DE ACORDO COM AS NECESSIDADES PSICOLÓGICAS DO MOMENTO.
Na Dimensão das Trevas Sólidas, para todo lado que se olhasse, havia lápides e mais lápides e mais lápides... Com escritas conhecidas e símbolos estranhos. O céu era sempre negro devido às nuvens pretas feito breu. Vez por outra, elas se dissipavam e aí milhões de urubus e corvos vindos delas tomavam conta do ar, da terra, de tudo. Havia também nuvens de moscas varejeiras. Super-moscas ferozes, do tamanho de pardais. Super-moscas famintas e tão ou até mais barulhentas que as aves pretas. Infelizmente Marvin havia chegado em má hora (se é que se pode dizer isso em um lugar onde só existiam horas más). HORA DA TEMPESTADE DE URUBUS-CORVOS-E-SUPER-MOSCAS. No começo dava a impressão que o céu estava escorrendo feito uma pintura. O céu pingava milhões de pingos pretos. E os pingos iam crescendo à medida que se aproximavam... E os pingos se “transformavam” em urubus, corvos e super-moscas.
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Marvin se escondeu dentro de um túmulo semi-aberto... Entrou no caixão vazio e fechou ligeiramente a tampa, deixando apenas um pequeno friso para ver e “urubuservar”, ou melhor dizendo, observar. Ainda bem que os urubus-corvos-e-super-moscas se cansavam ligeiro... LIGEIRO, AQUI NO CASO, SIGNIFICAVA MAIS OU MENOS UMA HORA DE SESSENTA MINUTOS COM MINUTOS NORMAIS DE SESSENTA SEGUNDOS. Uma hora zanzando pelos ares. Vôos rasantes. Excrementos sobre as lápides. E um mal cheiro ampliado... Melhor dizendo, um fedor enlouquecedor: quente, de penas e de piolhos e de fezes e de vermes e de carne podre e de tudo o que é terrivelmente mal cheiroso. Marvin não sentia nada disso graças a mini-pílula vermelha. Mas se sentisse, vocês já sabem o que iria acontecer... O barulho de milhões e milhões de criaturas voantes também não era nada agradável. Mas aí não morava o perigo. Nada de tão ensurdecedor. Nada de mortal quanto o fedor. Uma hora de espera pode significar quase a eternidade. Tirando o exagero, uma hora de espera, cansa, como cansa... Marvin já estava com medo de que aquela “voação” não tivesse mais fim. Medo. A pílula branca havia dado ao menino dos cabelos verdes novamente esse sentimento tão necessário a todos os animais. MEDO É PROTEÇÃO. O MEDO NOS SEGURA. O MEDO NÃO NOS DEIXA PULAR DE UM PRÉDIO ALTO, NEM DE UM BAIXO. O MEDO NÃO NOS FAZ BRINCAR COM COBRAS VENENOSAS E OUTROS BICHOS PEÇONHENTOS. O MEDO NÃO NOS ATIRA NA FRENTE DE CARROS EM ALTA VELOCIDADE... O MEDO PODE SER NOSSO MELHOR AMIGO. Marvin quase dormiu dentro do caixão carcomido por vermes. PARA AQUELES QUE NÃO SABEM AINDA, INCLUINDO AQUI ATÉ CIENTISTAS RENOMADOS: O MEDO PODE DAR SONO. O MEDO PODE DAR MUITO SONO. Quando o barulho da “voação” cessou, Marvin despertou com o silêncio.
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Agora já dava para sair da “tumba” e enfrentar os novos perigos que certamente viriam pela frente... Em poucos segundos, Marvin já estava voando com sua mochila à procura de Lenora e do Caracol do Tempo. Entre tantas lápides, não ia ser nada fácil encontrar a menina loira... Em compensação, um caracol gigante não conseguiria se esconder tão fácil. NAS TREVAS SÓLIDAS, AS COISAS NUNCA PERMANECEM MUITO TEMPO COMO SE APRESENTAM... Marvin voou quilômetros acima das lápides... E depois acima de túmulos e Mausoléus... De repente, esqueletos de luz passaram a surgir do nada: três, quatro, cinco, seis, sete, oito, nove, dez, onze, doze, treze, quatorze, quinze, dezesseis, dezessete, dezoito... Marvin parou no ar como fazem os beija-flores. ...Vinte esqueletos luminosos. Vinte esqueletos ‘humanos” e não-humanos. Todos juntos formaram um círculo de luz. Talvez estivessem fazendo algum tipo de reunião. ALGUM
TIPO
DE
MAGIA
PARA
ESCAPAREM
DAS
TREVAS
SÓLIDAS????????? Ledo engano. Todos juntos os esqueletos foram se aproximando do centro do círculo... E então uns “engoliram” os outros até restar apenas um. UM IMENSO ESQUELETO DE LUZ. Marvin sentiu medo. A mini-pílula branca estava desempenhando bem o seu papel. E por enquanto sem efeitos colaterais. E AGORA???? Agora sim era hora da espada Excalibur dar o ar de sua graça, ou melhor dizendo ainda, DAR O AR DE SUA DESGRAÇA para os inimigos de Marvin. E assim foi: Excalibur despertou rapidinho, logo que sentiu o coração do menino verde batendo rápido e aflito de medo...
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Agora a espada já saía por si própria sem esperar pelo “pedido oficial” de Marvin. Afinal depois de “conviver” intimamente com o menino, ela já sabia o que ele sentia, quando, como e porquê... Em poucos segundos, Excalibur atravessou o peito de Marvin para crescer, crescer, crescer, mais do que nunca... Desta vez ele não sentiu dor alguma. Já a visão da super espada Excalibur, maior que uma cruz em tamanho natural, fez com que o super esqueleto de luz repensasse suas estratégias de ataque: ao invés de lançar jatos de luz fedorenta, ele resolveu emitir pela boca cadavéricas bolas de fogo piolhento. FOGO PIOLHENTO. NÃO EXISTE NADA PIOR DO QUE ISSO. PELO MENOS É O QUE DIZEM AQUELES QUE JÁ O EXPERIMENTARAM E CONSEGUIRAM SAIR “VIVOS”, OU MELHOR, UM POUCO “MENOS VIVOS” DA HISTÓRIA. Excalibur cortou todas as bolas no ar. Insistente, o super esqueleto de luz lançou uma rajada delas. Ele até parecia trããrãrãrãrãrãrãrãrãrãrãrãrãrãrãrãrãrãrãrãrãrãrãrãrãrãrãrãrãrãrãrãrãrãrãrãrãrãrãrãrãrãrãrãrãrãr ãrãrãrãrãrããrãrãrãrãrãrãrãrãrãrãrãrãrãrãrãrãrãrãrãrã uma boca metralhadora. Excalibur, muito mais veloz ainda, conseguiu estraçalhar todas as bolas de luz que se desintegraram no ar sem deixar vestígios piolhentos. Enquanto isso Marvin só observava, mantendo uma distância de mais ou menos cinqüenta metros. Agora era a vez de Excalibur atacar. Antes que o super esqueleto tentasse outra estratégia, se é que tinha ainda alguma, a espada mergulhou velozzzzzzzzzzzmente em sua direção... Não deu tempo de pensar nada. “TROMPTRUM!!!” E Excalubur explodiu o super esqueleto de luz. Seus ossos caíram apagados sobre lápides, túmulos e no chão negro da morte. Mas não ficariam assim por muito tempo. Na verdade, não ficaram assim por tempo algum. A FACE OCULTA DO SUPER ESQUELETO DE LUZ ESTAVA PARA SER REVELADA. Feito lagartixas, os ossos começaram a andar-se-arrastar pelo chão, todos “caminhando” na mesma direção.
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Aos poucos uma grande montanha ossuda foi se formando... E assim que o último osso do esqueleto se uniu aos seus “colegas”, todos eles começaram a derreter, dando origem a uma enorme poça de líquido branco viscoso e espumante. Mas a poça gosmenta não ficou quieta não. Começou a crescer e crescer e crescer como se tivesse muito fermento em sua composição. De poça virou bolha... Uma bolha gigante que foi se moldando na forma de um caracol. Isso mesmo. O super esqueleto de luz era na verdade o Caracol do Tempo disfarçado. Só que agora com a lesma sanguinolenta morta. Finalmente Marvin podia salvar a amiga Lenora. MAS COMO? Por enquanto ele ainda não tinha a menor idéia. Era como ter uma máquina do tempo nas mãos e não saber usá-la. INSTINTIVAMENTE, DEPOIS DE MUITO TEMPO, MARVIN COÇOU OUTRA VEZ A CABELEIRA VERDE. E nada aconteceu. Nenhuma idéia. Nem maior nem menor. Nem mesmo a sombra de alguma coisa que pudesse ajudá-lo. SOMBRAS GOSTAM DE FREQÜENTAR CÉREBROS. MUITAS VEZES SÃO A ORIGEM DE GRANDES INVENÇÕES, DE NOVOS FEITIÇOS, DE MÁGICAS INÉDITAS E PODEROSAS. Excalibur que, por enquanto, já havia feito o seu trabalho diminuiu-se e retornou ao peito de Marvin. AH! E a roupa de Elvis. Marvin já não estava mais se sentindo bem com ela (na verdade nunca realmente estivera). Ainda mais com aquele buraco queimado que atravessava o colete e a camisa branca. Com certeza, referiria sua velha camiseta e sua calça jeans. Tênis comuns também iam bem. NOVAMENTE , MARVIN COÇOU A CABELEIRA VERDE. E novamente nada aparente aconteceu. Marvin pousou então no imenso Caracol Gigante, enquanto lá embaixo a cabeça da Lesma Carnívora ia aos poucos se derretendo como se tivessem jogado sal sobre ela. Tudo se manteve em silêncio sepulcral por alguns minutos.
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E então: BLUM, BLOMPT, PROMT, TRUMP, FLOBT, TROCT, TRAMPT, TRUNCT, RAMPT... ... Cadáveres humanos e sobrehumanos começaram a chover do céu escuro. Marvin levou um susto. Marvin ficou com medo. Um medo terrível. A mini-pílula branca estava funcionando bem. ...BLUM, PROMT, FLOBT, TRAMPT, TRUNCT, BLUM, BLOMPT, TRUMP, FLOBT, TRAMPT, TRUNCT, BLUM, BLOMPT, PROMT, TRUMP, TROCT, RAMPT, BLUM, BLOMPT, TRUMP, FLOBT, TRAMPT, TRUNCT, RAMPT, PROMT, FLOBT, TROCT, TRUNCT... Antes que algum cadáver caísse sobre ele, Marvin voou-correndo para dentro de um mausoléu e ali ficou... Tremendo todo... Da cabeça até os pés. A mini-pílula branca estava realmente funcionando bem. ...BLUM, PROMT, FLOBT, TRAMPT, TRUNCT, BLUM, BLOMPT, TRUMP, FLOBT, TRAMPT, TRUNCT, BLUM, BLOMPT, PROMT, TRUMP, TROCT, RAMPT, BLUM, BLOMPT, TRUMP, FLOBT, TRAMPT, TRUNCT, RAMPT, PROMT, FLOBT, TROCT, TRUNCT... A chuva de cadáveres continuou pela eternidade de meia hora... Até se perder de vista, corpos e mais corpos haviam “inundado” as lápides, os túmulos... Tudo. A ÚNICA VISÃO ERA A DA MORTE QUE LEMBRAVA UMA GUERRA SEM FIM. Dentro do mausoléu, Marvin estava agora preso, soterrado pelos cadáveres. Depois da “chuva’... algo tão ou mais tenebroso começou a se formar. Primeiro: BRONDROUNHOUNDROMNHAMBRUMBRUMBRUM... veio o som, ou melhor, o barulho... Bem das entranhas do chão da morte... Uma mistura de dor de barriga gigante com marretadas em paredes de concreto. E ENTÃO ondas de piche foram surgindo... Ondas com até vinte metros de altura, levando montanhas de corpos podres... Ondas e mais ondas de piche, engolindo também túmulos, lápides e...
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Inexplicavelmente apenas “o mausoléu de Marvin” permaneceu intacto diante a fome devoradora das ondas. NA DIMENSÃO DAS TREVAS SÓLIDAS, ONDAS DE PICHE SURGEM GERALMENTE DEPOIS DE UMA BOA CHUVA DE CADÁVERES.
ENQUANTO ISSO NA CAVERNA DA MISTERIOSA CRIATURA DA CAIXA PRETA: -- Diga “A”! -- Ã!! -- Diga “A”! -- Ã!! -- Diga “A”! -- Ã!! ...UMA GORDA VELHA TODA PELUDA SE CONSULTAVA COM O DOUTOR MAXIMILIAN TRAPUTINUS, UM “QUASE” FAMOSO CORUJOMEM FORMADO EM MEDICINA MÁGICA MILENAR POR CORRESPONDÊNCIA.
--Mas afinal, a senhora não consegue dizer um simples A? -- Decupe, dotô! É esã minhã linguã que nã dexã! -- Só por causa desses pêlos bobos aí ??? -- Pois é, dotô! -- Calma! Calma! A senhora não precisa mais se desesperar! Eu tenho aqui comigo uns supositórios de urtiga-pimenta que são uma maravilha. Curam praticamente tudo. -- Supo-si-tó-ri-o de utigã pimentã, doto ??? -- Não se preocupe! Eles não ardem e nem queimam tanto assim. Eu mesmo já experimentei várias vezes... Use dois ao dia... Em pouco tempo a senhora estará praticamente curada. AH! Eu vou deixar aqui com a senhora algumas amostras grátis...
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A velha peluda era mais de noventa e cinco por cento peluda: mãos peludas, dedos peludos, unhas peludas, corpo todo peludo. SÓ A CARA DA VELHA NÃO ERA PELUDA... E pelo menos os seus longos cabelos brancos estavam penteados para trás. A velha peluda podia ficar tranquilamente pelada em qualquer lugar. No máximo iam achar que ela era irmã de algum Pé Grande. A cabeça da velha peluda parecia ter sido batida no liquidificador. Sua pélvis facial, se é que aquilo podia ser chamado de pélvis, lembrava uma massa de carne molengona, ou melhor dizendo, “molenguenta”... Algum feitiço mal feito colou as coisas nos lugares errados. A boca da velha era no lugar olho esquerdo e o olho esquerdo no lugar do nariz e o nariz no lugar da boca e no queixo ficava a orelha direita e no lugar da orelha direita não ficava nada.
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CAPÍTULO 12 A TÃO ESPERADA VIAGEM “Que cada um procure as verdades que moram em seu coração e além das montanhas azuis.” (Frurbal Gruinhorth, poeta saskatchuano)
-- A senhora me chamou? -- Chamei sim! Preciso muito, muito mesmo de seus préstimos. -- Préstimos, o quê? -- De seus favores! -- Favores eu faço, mas não faço de graça. -- Disso eu já sei. Mas não se preocupe. Eu tenho aquilo de que você mais gosta: diamantes. Muitos diamantes. Enormes diamantes. -- Aí já é outra história, Madame! -- Madame? Esta é a primeira vez que alguém me chama de madame. Madame.... Madame.. Gostei. Pode me chamar a partir de agora sempre assim: Madame, Madame. -- Pois não, Madame-Madame?! Mas em que eu posso servi-la? -- Tenho alguns planos e preciso de você para me ajudar. -- Então a Madame-Madame chamou o sujeito certo. -- Um amigo meu me falou muito bem de você. Disse que não há em todos os mundos duende mais esperto, rápido e competente. -- Bem, já que a senhora está aqui na Caverna do Caixa, então deduzo que esse seu amigo só pode ser ele mesmo, o Caixa. -- Sim! Eu e o Ma... quero dizer, eu e o Caixa já somos amigos há um bom tempo. -- Safado! Ele sumiu sem se despedir e sem pagar parte do que me devia. Onde está ele agora? -- AH! Isso não posso dizer! (na verdade Madame-Madame não sabia) Jurei que não contaria para ninguém nem o seu verdadeiro nome e nem o seu paradeiro.
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-- Para... o quê? -- Paradeiro! -- Nossa que palavra bonita! Paradeiro! Paradeiro! Paradeiro! -- Significa apenas lugar onde alguém se encontra. -- Paradeiro! Gostei! Amei! A partir de agora a Madame-Madame pode me chamar de Paradeiro. -- Tem certeza? -- Mais certeza do que nunca.
ENQUANTO ISSO NA DIMENSÃO DAS TREVAS SÓLIDAS: Marvin já podia sair do Mausoléu. As ondas de piche haviam levado toda a inundação de cadáveres para as profundezas... Milhares e milhares de lápides e túmulos também foram junto... Assim que abriu a porta, tudo estava aparentemente mais suave, calmo, claro... Menos terrível e menos feio também. “Depois da tempestade, a calmaria.” E ENTÃO MILHARES E MILHARES DE ESQUELETOS DE LUZ FORAM SURGINDO NO CÉU CINZA PARA DANÇAR. À distância dos olhos nem pareciam esqueletos, mas apenas pontos luminosos, quase estrelas. Inesperadamente um tiro. E um dos pontos de luz veio caindo, caindo... até se tornar realmente esqueleto de luz. “PLOFT” no chão - a dez metros do susto de Marvin. “Só espero que esse aí não resolva se unir a outros e virar um só!” -- pensou ele. Poucos segundos depois: outro tiro... e outro... e outro... e outro. Excelentes miras e mais quatro esqueletos atingidos. PELO JEITO ESTAVA INICIADA A TEMPORADA DE CAÇA... Mais tiros... e tiros... e tiros... e tiros... E os tiros vinham de muitos lados. Marvin conseguiu identificar um atirador-zumbi escondido atrás de uma lápide trincada. E depois outro mais adiante... Nisso tudo uma pergunta ficou no ar: “Por que será que estão atirando nos esqueletos de luz?”
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Entretanto outras perguntas mais importantes tinham prioridade na mente de Marvin: - Onde foi parar o Caracol do Tempo? - Como chegar até ele? - Como viajar no Caracol? - Como salvar Lenora? - Como? Como? Como?
ERAM MUITOS “COMOS FAMINTOS” E NENHUMA RESPOSTA PARA ALIMENTÁ-LOS. A resposta talvez viesse de onde Marvin já não mais acreditava que pudesse vir. Dentro da mochila com asas, o livro de carne começava a se debater sem parar... Assim que Marvin o pegou, Torresmo se abriu na página C&*&&TYYF$#3333. Ali estava um estranho mapa. Cheio de ossos e mais ossos e um ponto vermelho marcado. De repente, outro mapa substituiu o anterior. Agora dava para ver o desenho de um menino e uma legenda abaixo: “Marvin”. Ao lado do desenho uma linha amarela começou a se formar e foi-foi subindo e descendo colinas até chegar em um grande X branco. Aí apareceu uma instrução escrita: enterre-se 50 metros”. “Enterre-se 50 metros???????????” Primeiro Marvin achou aquilo tudo estranho e sem sentido. Depois, pensando melhor, a lógica se estabeleceu. “Mas como??? Como eu vou chegar até lá??? Se ao menos eu fosse um tatu???” Em seguida, a observação de Marvin fez com que Torresmo mudasse rapidamente de página para apresentar algumas informações sobre o tal animal mencionado:
TATU-PELUDO FILO: Chordata CLASSE: Mammalia ORDEM: Carnívora FAMÍLIA: Edentata NOME CIENTÍFICO: Euphractus villosus
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CARACTERÍSTICAS: Comprimento; até 40 cm, mais 30 cm, para a cauda. Peso: até 8 Kg Dentes cilíndricos, sem raízes O tatu é um animal bem protegido por uma carapaça córnea, ou casco, que lhe dá o aspecto de guerreiro medieval. Seu tamanho é diminuto se comparado com seus ancestrais pré-históricos, que chegavam a ter o tamanho de um pequeno elefante. Algumas espécies possuem nove faixas articuladas no meio do corpo. Isso lhes permite enrolar-se sobre si mesmos quando ameaçados. Sua cabeça e cauda são bastante protegidas por escamas sobrepostas que funcionam como um carro blindado. Nas Américas humanas há 21 espécies. Entre as principais estão o desdentado noturno, diferente no tamanho e no habitat e o tatu de nove faixas, também conhecido como tatu galinha (cujo habitat vai dos Estados Unidos humanos até a América do Sul humana). O tatu galinha cava profundos túneis nos solos leves das florestas e neles passa o dia. Cada toca tem várias aberturas e abriga diversos tatus. Eles saem à noite para procurar alimento, que consiste principalmente em insetos e cobras venenosas. O tatu é rápido em terra firme, mas também pode nadar. O acasalamento ocorre em julho ou agosto. Os filhotes nascem em 9 meses e vão endurecendo aos poucos.
--Torresmo! Não é isso que eu quero! -- Eu posso ainda lhe mostrar muitos outros tatus! -- Torresmo! Eu não quero tatu nenhum! -- Mas eu pensei que... -- Por favor, não pense! E então num “VUPT” só, um vento marrom e fedorento, trazendo as fossas de todos os mundos, passou por Marvin que não sentiu mau cheiro algum. Afinal ainda estava protegido pelos efeitos da mini-pílula vermelha (só não se sabe até quando).
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Na passagem do vento, algumas escamas afiadas esbarraram no braço de Marvin, mas ele não sangrou desta vez... O VENTO APRESSADO ESTAVA LEVANDO JUNTO ALGUMA CRIATURA INVISÍVEL TAMBÉM APRESSADA... Por quase dois minutos, até se dissipar, o ar marrom impedia que se visse a distâncias maiores de dois metros. Enquanto isso Torresmo insistia em mostrar outras páginas... Não queria passar a idéia de ser um livro incompetente. -- Não, Torresmo! Eu não quero saber sobre caracóis... -- Mas, mas... Talvez um desses caracóis seja uma pista para... -- Algo me diz que não. Marvin já estava ficando cheio de Torresmo. Um livro com bilhões e bilhões de informações e ao mesmo tempo um livro que só servia, no momento, para aborrecê-lo. -- Pelo menos volte até a página do mapa! – ordenou Marvin. E assim Torresmo fez. -- Não esse mapa! O segundo! E assim Torresmo fez outra vez. Marvin, então, observou bem mais atentamente o mapa até memorizá-lo. Não foram necessários muitos segundos... Marvin estava ficando bom nisso. Pelo menos nisso. Infelizmente a cabeleira verde ao invés de ampliar os poderes de Marvin havia restringido-os. Na verdade, não ela, talvez os Merlins da Távola Redonda Mística... Ou sabe-se lá o quê... A ÚNICA CERTEZA AQUI É QUE EXISTEM MUITO MAIS MISTÉRIOS ENTRE OS MUNDOS MÁGICOS DO QUE PODE SONHAR QUALQUER FILOSOFIA: VÃ OU NÃO. Agora sim, Marvin podia guardar Torresmo na mochila e seguir até o X... Dez minutos de vôo e ele já estava no ponto exato... No que pisou no chão duro sentiu um pequeno abalo sísmico. Algumas rachaduras começaram a aparecer... Marvin preferiu ficar uns três metros acima do solo da morte. ...E as rachaduras foram se ampliando, se ampliando, se ampliando... Marvin preferiu subir nove metros acima do solo da morte.
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Os riscos tornaram-se sulcos e valetas... E então tudo desmoronou ao som de um barulho ensurdecedor. A TERRA ESTAVA COM FOME. Em pouco tempo um abismo se formou. Nem dava para ver o fim lá embaixo. Marvin esperou a poeira descer... E então desceu... Paredes de ossos acompanharam o seu trajeto vertical: crânios e mais crânios, humanos se misturavam com crânios e mais crânios não humanos. Fêmurs, costelas, tíbias, clavículas, vértebras, medulas ósseas, perônios, metacarpianos, metatarsianos, falanges, escápulas, sacros, úmeros... As paredes do abismo eram agora um imenso ossuário. Marvin nem precisou descer até o fim... Na “baixura” dos quarenta metros, lá estava ele: o Caracol do Tempo. Não ele por inteiro, ou melhor dizendo, dava apenas para ver uma pequena parte que o identificava. A “porta de entrada” assim como o resto “enterraram-se” entre crânios e mais crânios, costelas e mais costelas, clavículas e mais fêmurs... E agora? O que fazer? Marvin teve a idéia de colocar seu ouvido direito junto à parede do Caracol para ver se ouvia algum som. Talvez algo que lhe servisse de pista... E assim ele fez. Lá do fundo do Caracol primeiro veio um pequeno gemido suplicante... Depois o som de um coração batendo, batendo, batendo... Cada vez mais alto, mais alto, mais alto... “Lenora!!!” – pensou Marvin. MAS COMO PODIA SER SE A MENINA LOIRA JÁ ESTAVA MORTA E ENTERRADA ALI MESMO EM ALGUM LUGAR DA DIMENSÃO DAS TREVAS SÓLIDAS? “Sim, é isso!!! Só pode ser mesmo! O gemido é de Lenora! O coração batendo também! Mas não de Lenora agora e sim do que já foi Lenora... Acho que já sei o que tenho que fazer!” E assim Marvin fez:
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Com a ajuda de um crânio petrificado de lobisomem, ele começou a bater na parede do Caracol do Tempo. E O CORAÇÃO DE LENORA CONTINUAVA PULSANDO FORTE. Depois de umas vinte batidas, finalmente a parede do Caracol começou a trincar e depois rachar e depois “PROFT”, um buraco se fez... Mais algumas batidas e o buraco foi se tornando um buracão... Marvin passou por ele e já escorregou em suas lisas paredes internas... “UAUUU!!!” E lá se foi o menino dos cabelos verdes descendo naquele frio tobogã “caracolístico”. O CORAÇÃO DE LENORA CONTINUAVA PULSANDO FORTE. Quando terminou de escorregar (isso significava que Marvin já havia chegado bem lá dentro do Caracol) bolas flutuantes começaram a surgir... bem em sua frente. Eram várias: dez... quinze... dezoito... vinte... BOLAS DE LUZ DO TAMANHO DE GRANDES BOLAS DE SABÃO. Cada uma delas trazia um pequeno filme da vida de Marvin: -- Marvin jogando futebol com os colegas do colégio; -- Marvin entrando na Cidade da Redoma de Vidro; -- Marvin abrindo portas e mais portas; -- Marvin flutuando no Corredor Sem Fim; -- Marvin conversando com as siamesas Fama e Fema; -- Marvin sendo “desflutuado” no córrego perto de sua casa; -- Marvin almoçando com Vovó Pangaré; -- Marvin-dragão na Taverna dos Dragões Anões; -- Marvin andando pelo “Castelo Invisível”; -- Marvin fugindo de seu próprio túmulo; -- Marvin na Biblioteca Infinita; -- Marvin “duelando” com o Mago Dito Cujo; -- Marvin dançando na Távola Redonda Mística; -- Marvin desmaiando depois de comer parte de uma maçã azul; -- Marvin voando em direção a Avalon;
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-- Marvin recebendo uma pizza macabra; -- Marvin e seu amigo dragão Elvis Presley; -- Marvin acendendo um fósforo mágico; --Marvin-gigante conversando com o “minúsculo” duende amarelo Ruspernaltron Prunforgran (que depois se chamou Pirralho, Safadinho, Tchau, Tipo Assim... e mais recentemente Paradeiro); -- MARVIN ABRINDO A PORTA DO QUARTO DE LENORA...
AS RARAS CRIATURAS QUE CONSEGUEM ENTRAR NO CARACOL DO TEMPO ACABAM TENDO SUAS VIDAS E SUAS MORTES REVISTAS. Marvin se emocionou com as imagens... Mas o momento não estava para emoções. Muitas vezes elas atrapalham, atrasando sonhos e objetivos... O CARACOL DO TEMPO TAMBÉM PODE MOSTRAR BOLHAS DO FUTURO DE ALGUÉM... AS DE MARVIN JÁ ESTAVAM APARECENDO... Mas Marvin não tinha muito tempo... Ou talvez agora tivesse todo o tempo do mundo... Mas ele não queria esperar para ver... Ele queria Lenora... E foi o que fez seu dedo impaciente... Assim que tocou em uma das bolas de luz, Marvin foi chupado (e sem canudinho) para dentro dela. AINDA DENTRO DO CARACOL, UMA VOZ CHEIA DE ECO SOLTOU O SEU LAMENTO: -- CHEGUEI TARDE! CHEGUEI TARDE! CHEGUEI TARDE! CHEGUEI TARDE!
NUM “ZUPT” MARVIN JÁ ESTAVA NO PASSADO QUE ESCOLHERA... E sob a trilha sonora da 5ª Sinfonia de Beethoven, no exato momento em que abriu a porta rangedora do quarto de Lenora, seus cabelos tornaram-se pretos. O menino dos cabelos pretos??? Sim! Isto mesmo! Quando Marvin conheceu Lenora, ele ainda não tinha cabelos verdes. Lembra, os cabelos verdes foram um presente dela. A princípio, um presente um tanto rejeitado...
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Sem perceber, Marvin voltara a ser o que era fisicamente, talvez para não causar algum tipo de estranhamento estressante na menina loira. COISAS DA LÓGICA NEM SEMPRE TÀO LÓGICA DA MAGIA QUE, NA VERDADE, NÃO PRECISA DE LÓGICA ALGUMA. Por dentro, entretanto, Marvin já havia deixado de ser quem era há muito tempo. Todas as aventuras mágicas em que se metera foram responsáveis pelo seu amadurecimento. Marvin não era mais um menino de 12 anos. E muito menos um menino de apenas 13 anos como determinava a sua biologia...
Tudo igualzinho como da primeira vez em que se conheceram. Lenora tocava piano. Tudo igualzinho. Ou quase... VER UM FILME PELA SEGUNDA VEZ NÃO É A MESMA COISA QUE VÊLO PELA PRIMEIRA. AINDA MAIS NO CASO DE MARVIN. ELE NÃO ESTAVA APENAS REVENDO UM FILME, ELE ESTAVA VIVENDO NOVAMENTE O QUE JÁ HAVIA VIVIDO... Como da primeira vez, Lenora, a menina de longos cabelos loiros, vestia o uniforme de Marvin e a “velha” mochila que havia roubado dele... Marvin tinha tantas coisas para dizer. E esse era o problema. MUITAS VEZES QUANDO SE TÊM MUITAS COISAS PARA SE DIZER ACABA ACONTECENDO UM BLOQUEIO DESMÁGICO E NADA SE DIZ. Começar como? Afinal aquele era um momento especial. O momento em que os dois se conheceram. Ou melhor dizendo, o momento em que a menina loira e o menino dos cabelos castanhos passaram a se conhecer através das palavras e dos olhares... Antes que dissesse qualquer coisa, as coisas se disseram: -- Oi, tudo bem? Meu nome é Marvin e o seu? Palavras automáticas foram saindo de sua boca sem ele poder controlá-las. As mesmas palavras “daquela primeira vez”. ATÉ PARECIA QUE MARVIN ESTAVA CONDENADO A SE REPETIR. E NÃO EXISTE NADA MAIS CRUEL DO QUE SE REPETIR PELA ETERNIDADE DOS DIAS E DAS NOITES.
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COMO DA PRIMEIRA VEZ, Lenora virou-se para Marvin... Mas desta vez ele não se assustou ao ver a menina loira com os lábios costurados. COMO DA PRIMEIRA VEZ, em um bloco de notas sobre o piano, ela começou a escrever o início de uma grande amizade. COMO DA PRIMEIRA VEZ, Lenora escrevia rápido. RAPIDÍSSIMO: “Marvin, peço desculpas por pegar o seu uniforme e a sua mochila. Estive sorrateiramente em sua casa e não resisti. Sempre quis ganhar coisas assim tão bonitas. Meu mundo é muito diferente do seu. Nunca tive amigos, escola, professores... Papai acabou descobrindo minha fuga, e por isso, estou agora pagando por isso. Meu castigo termina daqui a dois dias. Já tive piores; uma semana com os pés pregados no chão. Marvin, sinto em seus olhos um brilho molhado de dó. Não se preocupe assim comigo. A dor aqui no nosso mundo dói bem menos que no seu. Ah! Distração a minha! Meu nome é Lenora e gostaria muito, se você me perdoar, de ser sua amiga.” COMO DA PRIMEIRA VEZ, Marvin leu o bilhete... E novamente vieram as insuportáveis palavras automáticas: -- Por fa-vor, fi-que com o uni-forme e a mo-chila. COMO DA PRIMEIRA VEZ, Lenora agradeceu com um leve baixar de cabeça. Não demorou quase nada e:
-- LENOOOOORAA!!! COMO DA PRIMEIRA VEZ, a voz horripilante do pai da menina loira fez com que ela fosse rapidamente desvestindo a mochila e o uniforme de Marvin. E como do nada, novamente, um majestoso vestido de sede bordado com motivos dourados foi aparecendo sobre o seu corpo. COMO DA PRIMEIRA VEZ, a mão trêmula de Lenora acariciou a cabeça de Marvin que, naquele mágico e fugaz instante, teve seus cabelos pretos mudando para verde. COMO DA PRIMEIRA VEZ, Lenora se despediu com um olhar azul, porém antes que sumisse junto à parede aparentemente sólida, DIFERENTE DA PRIMEIRA VEZ, algo surpreendente aconteceu.
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SURPREENDENTE é pouco. Talvez o melhor fosse juntar algumas palavras para formar apenas uma grande, capaz de dizer melhor o que muitas vezes não se consegue dizer com apenas uma... ... SURPREENDENTEINESPERADOESTRANHOFENOMENAL. Agora sim! Tudo está mais claro, mais nítido... Será???
Antes de Lenora desaparecer junto à parede sólida, seu corpo ficou paralisado feito estátua. Até aqui nada de tão surpreendente assim. Mas aguarde, o SURPREENDENTEINESPERADOESTRANHOFENOMENAL já já está por vir... Marvin ficou imaginando o que poderia ter acontecido. “Etecétera?! Élvis?! Não! Eles jamais fariam tal coisa. Se fosse para ajudar, apareceriam logo e...” Marvin ficaria ainda pensando em outras possibilidades para aquele fato, caso seu corpo não começasse a sentir fortes dores... Primeiro foram dores estomacais que o fizeram se contorcer no chão, segurando a barriga... Depois começou a dor no peito e depois na cabeça e depois no corpo todo ao mesmo tempo... Marvin passou a sentir as dores do mundo. Só não se sabe bem ao certo de que mundo.
-- LENOOOOORAA!!! FELIZMENTE ELE NÃO ERA MAIS APENAS UM MENINO. ESTAVA AGORA
CARREGADO
DE
ENERGIA
MÁGICA.
CARREGADO
DAS
EXPERIÊNCIAS QUE JAMAIS OUTRO MENINO PROVOU OU PROVARIA. Em três minutos as dores cessaram. Mas aqueles três minutos pareceram uma eternidade. Marvin ficou todo suado.
-- LENOOOOORAA!!! A primeira coisa que fez em seguida foi olhar para Lenora-estátua. E lá continuava ela: completamente linda. Nisso tudo, uma questão ficou no ar, no chão e nas paredes do castelo.
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AFINAL SE TODAS AS COISAS TÊM O SEU SIGNIFICADO, O QUE AQUELA DOR QUERIA DIZER? SERIA APENAS UMA DOR OU MARVIN HAVIA ADQUIRIDO ALGUMA DOENÇA MÁGICA? Ao se levantar, veio uma pontada no coração. E então a FOME. MARVIN COMEÇOU A SENTIR A FOME DE UM MUNDO TODO.
-- LENOOOOORAA!!! Sua boca foi aumentando, aumentando, aumentando, aumentando, aumentando, aumentando,
aumentando,
aumentando,
aumentando,
aumentando,
aumentando,
aumentando, aumentando, aumentando, aumentando ...
CINCO, DEZ, VINTE, TRINTA VEZES O TAMANHO ORIGINAL.
E então num “CHILOPPP”, sua recente longuíssima língua envolveu o corpo imóvel de Lenora que foi todo engolido de uma só vez... Com roupa e tudo. Irreconhecidamente deformado, Marvin caiu no chão e começou a dormir um imenso sono... ...UM IMENSO SONO DIGESTIVO DE MAIS DE UMA SEMANA.
-- LENOOOOORAA!!! Como uma cobra Marvin ficou deglutindo “aquela refeição” que duraria exatos NOVE dias. NESSE
MEIO-TEMPO
E
TEMPO-INTEIRO
MUITAS
COISAS
ACONTECERAM: Um porco azul voador, “fossador” oficial do castelo, surgiu de uma das janelas para comer as roupas rasgadas de Marvin... Bem quando o terrível pai de Lenora já estava para entrar no quarto da filha a fim de castigá-la, um golfinho também voador apareceu (todo “fashion” com seus óculos de sol e lua, surrupiados da Loja Bloominwitch). Era Etecétera que adquirira tal forma recentemente, um pouco antes de se apaixonar por uma golfinha também voadora... Um truque básico, mas poderoso, selou a porta do quarto de Lenora até o pai dela “desistir” momentaneamente de tentar entrar lá.
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“Acho melhor eu ficar por aqui vigiando! Nunca se sabe o que pode acontecer num lugar destes! Talvez fosse melhor levar o Marvin para uma outra parada... Se o Elvis não tivesse sumido sem deixar pistas mágicas... Afinal não quero usar a sua toca sem permissão... Acho isso abominável... Mas num caso de emergência como este, acho que ele não se importaria... Não! Melhor não... E afinal existem tantos outros lugares por esses mundões...” ATÉ NOS PENSAMENTOS, ETECÉTERA CONTINUAVA NÃO SENDO LÁ MUITO SINCERO CONSIGO MESMO... O barulho do relinchar de cavalos e ruflar de asas fez com que ele parasse sua “reflexão” e voasse curioso até uma das janelas... CAVALEIROS AZUIS EM SEUS AZUIS CAVALOS ALADOS JOGAVAM PÓLO AO LUAR. Etecétera ficou com vontade de jogar pólo também. Mas ele não tinha cavalo alado e nem era cavaleiro azul. Detalhes. Detalhes. Meros detalhes. Nada que não pudesse ser resolvido num passe de mágica... Afinal graças a seus poderes extras conseguidos recentemente, Etecétera podia agora até se transformar em humano, apesar dos Cavaleiros Azuis serem apenas imagens sem essência, corpos sem alma. DEVIDO A SEUS PRÉSTIMOS, NA ÚLTIMA REUNIÃO DOS MERLINS DA TÁVOLA REDONDA MÍSTICA, ETECÉTERA FORA PRESENTEADO COM O DOM DE FAZER UMA DÚZIA DE MÁGICAS PODEROSAS. “Não! Não devo pensar só em mim. Não seria justo com Marvin. Ele ali todo deformado, deglutindo Lenora, e eu me divertindo... Epa! Pensando melhor, que diferença poderia fazer... Ele vai ter que ficar assim um bom tempo e eu aqui só pajeando... É, mas os Merlins da Távola Redonda Mística foram bem específicos... Até agora estou com aquela frase insuportável em meu ouvido sensível: Não tire os olhos de Marvin! Não tire os olhos de Marvin! Ok, não vou tirar os olhos dele então... AHÁ ! Mas tive uma idéia!” E assim a idéia se fez realidade... Etecétera retornou voando até Marvin e então cuspiu sobre ele dois olhos de águia. Cada um tinha, coincidentemente, o tamanho da bola de pólo. DOIS OLHOS FLUTUANTES SEMPRE ATENTOS.
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“Aí estão! Os olhos que tudo vêem! E eu vejo Marvin através deles e ainda me divirto. ” – pensou Etecétera, já se dirigindo à janela e de lá para o jogo. Todos os jogadores azuis tinham a face risonha do personagem Charada, mas não riam em momento algum. Eram apenas marionetes, robôs, criaturas... sem a essência original da vida e de seu livre arbítrio... Etecétera resolveu entrar no jogo com a cara de golfinho mesmo e os óculos de sol e lua. O corpo ele adaptou àquela circunstância, já que seria um pouco complicado um golfinho andar a cavalo. O HOMEM-GOLFINHO OU O GOLFINHO-HOMEM TEVE QUE RETIRAR UM DOS PARTICIPANTES PARA TOMAR O SEU LUGAR. Nada que um toque sugador não desse conta do recado. TOQUE SUGADOR???? Isso mesmo. Esse era um dos mais importantes poderes extras conseguidos por Etecétera. UM TOQUE SUGADOR FAZ COM QUE QUALQUER CRIATURA E ATÉ ALGUNS
OBJETOS
POSSAM
SER
SUGADOS
E
TRANSPORTADOS
MAGICAMENTE PARA O MUNDO DAS COISAS PERDIDAS. E assim Etecétera ficou jogando pólo durante toda a longa digestão de Marvin. Através de vários estratagemas, o pai de Lenora bem que tentou mais algumas vezes entrar no quarto da menina... Porém Etecétera “estava” lá e ali ao mesmo tempo, justamente para não deixar que tal fato acontecesse. Até agora, uma coisa deve estar intrigando muita gente: Marvin voltou no tempo e pelo andar dos acontecimentos dá-se a impressão de que Etecétera também fez o mesmo trajeto. COM CERTEZA. Depois da Loja Bloominwitch, Etecétera esteve na Reunião dos Merlins da Távola Redonda Mística... De lá já “recauchutado” com mais poderes, foi fácilfácil entrar na Dimensão das Trevas Sólidas, escondido atrás da orelha direta de Marvin... Assim completamente incógnito, Etecétera viajou travestido de pulga dourada saskatchuana... E PULGAS DOURADAS SASKATCHUANAS NÃO SE IMPORTAM COM OS MORTAIS CHEIROS FÉTIDOS DAS TREVAS SÓLIDAS.
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Ser pulga é um pouco monótono. Ficar pulando de um lugar para outro não despertava em Etecétera nenhum interesse. Ficar só cuidando de Marvin sem, por enquanto, poder se manisfestar... sem poder aparecer realmente... sem poder dizer uma palavra sequer, deixava as coisas mais enfadonhas ainda. Mas afinal eram ordens. E ORDENS DOS MERLINS NÃO DEVERIAM SER DESCONSIDERADAS EM HIPÓTESE ALGUMA. OU... Mesmo assim, uma fugidinha só daria a Etecétera o tempero-sabor necessário para continuar seu trabalho com muito mais presteza e afinco. E foi isso o que ele fez, afinal precisava namorar um pouco. Já havia brigado com a leoa Jesebéu e agora procurava uma outra parceira. A VIDA PRECISA DE TEMPEROS E O AMOR É O MAIS IMPORTANTE DELES. De pulga para borboleta e então gaivota... Sempre com seus óculos de sol e lua, surrupiados da Loja Bloominwitch. ÓCULOS BONS ESTAVAM ALI: ELES SE ADAPTAVAM MAGICAMENTE AO TAMANHO DA CRIATURA QUE OS USAVA. No mar, vinte golfinhos com asas nadavam festeiros... Etecétera ficou com vontade... E em pleno vôo ele se transformou em um golfinho azul, também com asas. Seu mergulho foi aplaudido por todos os outros. Um deles lhe chamou a atenção do coração: era ela, uma linda golfinha, ainda adolescente... E aí o que aparentava ser uma grande e nova paixão começou... UMA PAIXÃO MOLHADA, AQUÁTICA, MARÍTIMA, SALGADA, AÉREA CHEIA DE ONDAS, SOL, ESTRELAS, LUA E MARESIA... Do mar para cima... Todos os golfinhos com asas resolveram nadar no ar. Etecétera foi junto... Quando se “apaixonava”, Etecétera geralmente esquecia as outras coisas importantes que tinha por fazer... Não desta vez... Bem que ele queria... Seu coração dizia isso. Mas sua razão estava ali também com ele, mais firme do que nunca.
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E assim, após muitas brincadeiras coletivas e carinhos a dois, ele retornou as suas obrigações. MUITO DO QUE ACONTECEU DEPOIS DISSO JÁ FOI CONTADO. ENTÃO VAMOS EM FRENTE... Assim que Marvin despertou nu de seu longo sono digestivo, ele estava maior, mais alimentado, mais forte... Havia crescido de tamanho... Não lembrava mais um menino de apenas treze anos. Agora parecia ter vinte... E um corpo com músculos aparentes. APENAS SUA VOZ CONTINUAVA A MESMA. “O que aconteceu comigo? Acho que tive um pesadelo!? Não, acho que foi alucinação mesmo!? Não! Não foi alucinação! Quem eu estou querendo enganar, afinal? Foi real sim! Foi muito real! Terrivelmente real! Eu engoli Lenora! Eu...” Antes que Marvin continuasse se condenando, Etecétera veio voando até ele, já sabendo que não ia ser nada fácil acalmá-lo. -- Marvin, há quanto tempo! Sou eu, seu amigo Etecétera! -- Etecétera??? O que você está fazendo assim vestido de golfinho? -- Uma longa história, Marvin! Uma longa história! -- Etecétera, não sei como te dizer, mas uma coisa terrível aconteceu. Eu engoli Lenora. -- Eu sei disso! -- Como? -- Eu estou aqui com você o tempo todo. Passei um gel para você não sentir a minha presença... Não podia aparecer no momento errado. E o momento certo é este agora... -- Etecétera! Eu vou repetir uma coisa terrível: eu engoli Lenora! Eu engoli Lenora! Você está me ouvindo?? -- Marvin! Não se preocupe! Você ganhou o dom de engolir criaturas! E isso é uma coisa super super surpreendente!!! -- Etecétera, estou ficando enjoa... Antes de terminar a palavra, Marvin vomitou três jatos de uma baba azul... Etecétera “providenciou” uma toalha para ele se limpar... E também algumas roupas... -- Etecétera, o que vai acontecer comigo? Por favor, me ajude!!!
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-- Calma, Marvin! Eu estou aqui justamente para isso! Para te ajudar. Para que você não enlouqueça com seus poderes. -- Poderes??? -- Sim! Poderes!!! O primeiro deles já se manifestou. Você engoliu Lenora. -- Na verdade, eu matei Lenora! -- Muito pelo contrário. O dom mágico de engolir criaturas não é algo ruim como parece. Lenora está agora dentro de você. Não se preocupe, ela vai sair no momento certo! -- Sair??? Momento certo???? Que momento certo é esse??? -- Não sei exatamente, só sei que o momento certo existe e vai chegar quando você menos espera. AQUELA VEZ EM QUE ESTEVE NA TÁVOLA REDONDA MÍSTICA, MARVIN RECEBEU DOS 13 MIL MERLINS INFORMAÇÕES IMPORTANTES QUE FICARAM GUARDADAS EM SEU SUBCONSCIENTE... TAIS INFORMAÇÕES GERMINARAM E CRESCERAM EM SOLO FÉRTIL... DENTRO DA MENTE DO MENINO
DOS
CABELOS
VERDES,
ELAS
SE
TORNARAM
PODERES
INCALCULÁVEIS, ADORMECIDOS POR UM TEMPO E QUE AGORA COMEÇAM A SE REVELAR AOS POUCOS... -- Etecétera, não estou me sentindo bem! Acho que vou vo... Marvin vomitou mais três jatos de baba azul. -- Tome outra toalha! Desta vez Marvin viu Etecétera tirando o pano felpudo de sua boca de golfinho (este era outro dos poderes adquiridos por ele: desengolir coisas de primeira e segunda necessidades). -- Não se preocupe, esta toalha está tão seca e limpinha quanto a outra. -- Etecétera, eu engoli Lenora! -- Eu sei. Você já disse isso um monte de vezes. -- Eu engoli Lenora! Eu engoli Lenora! Ela está toda dentro de mim... Ela me fez crescer de tamanho... Ela está no meu corpo e mais ainda em minha alma... Sinto Lenora em minha pele... Sinto Lenora correndo em minhas veias... Sinto Lenora em meus pulmões... Sinto Lenora em meu coração... “As coisas estão ficando mais difíceis do que eu imaginava.” – pensou Etecétera.
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-- Etecétera, me faça um favor! -- O quê? -- Por favor! Tire Lenora de dentro de mim! Por favor! -- Marvin, as coisas não são sempre como a gente quer... Você já devia saber disso... E muitas mágicas não acontecem simplesmente como e quando nós queremos. MUITAS MÁGICAS ACONTECEM QUANDO ELAS TÊM QUE ACONTECER. MUITAS MÁGICAS, MESMO PERTENCENDO A SEUS DONOS, AGEM COM SABEDORIA E VONTADE PRÓPRIA. -- Etecétera, por favor! -- Acho melhor nós irmos embora daqui... -- Etecétera, por favor! Tire Lenora de dentro de mim! Não havia mais como dialogar com Marvin. Ele estava agora totalmente tomado pelo fato de ter engolido Lenora... Etecétera precisava de muita paciência para vencer o trauma que se instalara na mente do rapaz dos cabelos verdes. Na viagem do tempo, Etecétera conseguiu capturar umas das bolas flutuantes. Uma que Marvin não havia visto e que já mostrava o seu futuro. Não era lá um futuro muito interessante... Mas antes um futuro na mão do que nenhum... Antes que Marvin fosse chupado pela bola do passado, Etecétera lançou um raio invisível (com seus então olhos de pulga) e foi trazendo-diminuindo a bola do futuro para junto de si... Até que ela pudesse caber dentro de sua minúscula boca (terceiro poder de Etecétera: miniaturizar qualquer criatura ou objeto). Agora chegava de hora de desengolir e desminiaturizá-la... E assim Etecétera fez. E assim a bola ficou flutuando em frente dele e de Marvin. Agora não dava mais para ver nada dentro dela. Tudo tornara-se nevoeiro espesso. -- Vamos, Marvin! De volta para o futuro!!! -- Etecétera, eu não posso! -- Marvin! É só apontar com o dedo para a bola como você fez da outra vez! --Eu não posso! Eu não posso! Lenora morava aqui. Eu preciso ficar aqui no castelo.
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“Ah! Se o doutor Elvis não tivesse sumido... Uma simples pílula anti-trauma já teria resolvido esta situação desesperadora... Ironia do destino: eu já posso desengolir tantas coisas, mas não posso desengolir pílulas e remédios mágicos ” -- lamentou Etecétera. A VOLTA PARA O FUTURO ESTAVA FICANDO CADA VEZ MAIS COMPLICADA. Marvin caminhou então até uma das janelas como quem não queria nada com nada... E antes que Etecétera pudesse perceber sua intenção, ele pulou lá de cima em direção a um abismo mortal. SUICÍDOS TAMBÉM ACONTECEM NOS MUNDOS MÁGICOS. Etecétera voou correndo atrás... No caminho vertical se transformou em um dragão anão azul e assim pôde ganhar mais velocidade. O ABISMO MORTAL PARECIA NÃO TER FIM. Etecétera conseguiu agarrar Marvin através de suas garras de dragão. -- Agora, você não me escapa mais! Marvin ficou calado enquanto era trazido de volta ao Castelo. A bola do futuro esperava por eles... Etecétera tocou nela e os dois foram chupados... ...EM DIREÇÃO AO NEVOEIRO ESPESSO...
AH! ETECÉTERA NUNCA MAIS ENCONTROU SUA GOLFINHA VOADORA. ELA FICOU EM UM TEMPO DISTANTE... LÁ NO TEMPO EM QUE LENORA CONHECERA MARVIN.
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CAPÍTULO 13 O FIM DE ALGUNS MISTÉRIOS E O COMEÇO DE OUTROS “Aquele que combate monstros deve se cuidar para que não acabe se tornando um.” (Friedrich Nietzche, filósofo e bruxo, atualmente morando em Avalon )
-- Acho melhor nós irmos andando... Não gostaria de trombar no ar com alguma criatura voadora – observou Etecétera, segurando Marvin para que ele não pudesse fugir. O nevoeiro continuou espesso durante mais de dez quilômetros de caminhada... Nesse tempo todo, os dois mantiveram-se em silêncio. Marvin ainda vomitou mais três vezes, três jatos de baba azul. Quando o nevoeiro começou a se dissipar, um estreito caminho de pedras foi ganhando sua comprida e ondulada forma, colina acima... Mesmo ainda bem à distância... já dava para ver um suntuoso castelo se impondo na paisagem permeada por árvores amarelas e um rio cheio de pedras brilhantes... Etecétera pensou em voar... Ao perceber sua intenção, depois de tanto tempo de silêncio, Marvin abriu a boca: -- Eu prefiro ir andando mesmo! Etecétera não queria contrariar o rapaz que estava ainda perturbado pelos últimos acontecimentos. E então andando em silêncio eles continuaram... ANDAR FAZ BEM, DISPERSA O PENSAMENTO DOLORIDO. ANDAR DEIXA AS COISAS MAIS LEVES. ANDAR É UM MÁGICO REMÉDIO. ANDE DEZ QUILÔMETROS POR DIA. ANDE CEM QUILÔMETROS QUANDO PERDER ALGUÉM QUERIDO... Já quase no castelo, mais especificamente duzentos metros antes, uma placa de ferro fundido (dois metros por três) trazia em letras garrafais:
Hospício de Villaregum
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Etecétera ficou intrigado. O futuro de Marvin apresentava-se muito estranho para ele. “Será que Marvin está enlouquecendo mesmo e terá que passar um tempo neste lugar? Os Merlins da Távola Redonda Mística bem que podiam ter me contado sobre isso... AH! Mas como eles gostam de uma surpresa!” A SURPRESA É UM DOS TEMPEROS DE TODOS OS MUNDOS, MÁGICOS OU NÃO. A porta do castelo-hospício devia ter mais de dez metros de altura... Não foi necessário bater... ela se abriu ruidosamente sozinha. Um longo corredor branco, cheio de luz, “convidou” os dois a entrar... Marvin caminhou mais de cem passou, enquanto Etecétera economizou os seus, andando apenas trinta e três... ALGUMAS POMBAS BRANCAS VOAVAM PRÓXIMAS A ELES. Nas paredes brancas do corredor, frases em alto relevo, também brancas, acompanhavam os dois. Mesmo sem querer era impossível não lê-las... Elas se repetiam até a exaustão dos olhos mais distraídos. DO CHÃO ATÉ O TETO: 1- Só é louco quem quer. 2- Louco é quem me diz. 3- Sou louco, mas sou feliz. 4- Loucura me faz bem. 5- A razão é o imperfeito equilíbrio de todas as faculdades. 6- Tudo é insânia, só insânia. 7- Os normais são mais anormais. 8- Nunca diga: eu não sou louco. 9- Patologia deve ser coisa de pato. 10- Vim, vi e fiquei.
Mais à frente (ATÉ QUE ENFIM!) os verdadeiros personagens daquele lugar apareceram... E apareceram quase todos ao mesmo tempo... Em um imenso salão branco, cheio de cadeiras brancas, poltronas brancas e sofás brancos também...
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PELO JEITO A COR BRANCA ERA A FAVORITA ALI. Os loucos, todos brancos e vestidos de branco, ficavam em sua maioria no teto: andando de ponta-cabeça, dançando sem música, contando piadas sobre não-loucos, dormindo, lendo revistas brancas, namorando outros loucos, declamando poemas sobre a brancura das coisas, conversando sobre brancas questões filosóficas... ... E TOMANDO “CHÁ DE LEITE” QUE CONTRARIAVA A LEI DA GRAVIDADE. Alguns “grudavam-se” no teto feito lagartixas, rastejando como elas. Assim que viram o rapaz dos cabelos verdes, acompanhado de um dragão anão todo azul, os loucos mais curiosos e ávidos por visitas começaram a descer suavemente do teto. -- Sejam bem-vindos a nossa humilde mansão!! – gritou o branco louco Barnabé, ainda a dois metros do chão. Em seguida apareceu um velho branco, de chapéu branco estilo Napoleão Bonaparte, cabelos brancos e roupas de época brancas também. A PARTIR DE AGORA TENTAREI NÃO MAIS MENCIONAR A COR BRANCA. AFINAL TUDO, TUDO MESMO DENTRO DO HOSPÍCIO DE VILLAREGUM ERA BRANCO. APENAS BRANCO. -- Eu sou o Marquês de Sade! E vocês quem são? Qual o número de suas carteirinhas de vacina contra ódio crônico? E qual o número da identidade de vocês? E da conta bancária? Trabalham com o quê? Quanto vocês ganham por mês ou por semana? Moram em que mundo? Gostam de mexerica? Já assassinaram alguém? Vão ficar quantos séculos em nossa companhia? AH! Já ia me esquecendo, vocês tem telefone? E qual é o número? Espero que apreciem nossa morada... Mas se não apreciarem, não há motivo para preocupação. O tempo muda todas as coisas... AH! Já ia me esquecendo de novo. Quantos anos vocês têm? Diante de tantas perguntas descabidas para o momento, nenhuma foi respondida. E o Marquês de Sade nem insistiu. Afinal para ele o importante era perguntar. -- Sejam muito bem-vindos! O pessoal aqui me chama de Bigodinho, mas o meu verdadeiro nome é Charles Chaplin... Possivelmente vocês já viram alguns dos meus filmes... Tenho certeza que aos poucos podemos nos tornar ótimos amigos. Afinal quem vem aqui, vem para ficar indefinidamente... AH! Tenho tantas histórias para contar...
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APESAR DE TER DITO QUE IRIA DEIXAR DE MENCIONAR A COR BRANCA, UMA OBSERVAÇÃO AQUI SE FAZ NECESSÁRIA. SÓ PARA FRISAR: O BIGODINHO DE CHARLES CHAPLIN ERA BRANCO TAMBÉM, ASSIM COMO SUA CARTOLA E ELE TODO. “Ficar indefinidamente? Será que esse louco não está louco? Não, isso não pode ser! Eu não sou louco e o Marvin só está um pouco fora de sua normalidade, mas isso é perfeitamente aceitável diante do que lhe aconteceu...” -- inquietou-se Etecétera. -- Façam deste nosso simples lar o seu lar espetacular... E sejam felizes! Acho que isso é o mais importante. A felicidade é sempre o mais importante, desde que você não tire a alegria de viver das outras criaturas – comentou Aristóteles, um dos filósofos do hospício. -- Amigos e visitantes, eu descobri um novo método para analisar o nível de loucura das pessoas e das criaturas que não se acham loucas... Segundo as minhas últimas pesquisas, tudo vem a corroborar com aquele velho ditado: de louco todos têm um pouco. Alguns um pouco pouco, outros um pouco bastante, e outros um pouco mais ainda... Infelizmente aquilo que era pouco pode com o tempo vir a tornar muito. Aí a loucura já tomou conta do indivíduo... Em minha última viagem a Caleidoscópio, descobri que no reino vegetal a loucura também se manifesta. Principalmente nas árvores de grande porte. E isso acontece geralmente durante tempestades muito fortes. As árvores ficam estressadas e alguns chegam à loucura, lançando seus galhos e troncos contra outras árvores e criaturas. -- Cale-se, Simão Bacamarte! Eu não agüento mais essas suas complicações, isso pra não dizer coisa pior! – gritou uma louca que tinha a cara da rainha da Inglaterra, Elisabeth II, com coroa e tudo. Em seguida, mais loucos desceram do teto para conhecer “melhor” e de perto os “dois visitantes”. -- Eu sou Albert Einstein – falou um deles. -- Meu nome é Jesus Cristo – comentou o seguinte. -- Mentira! – disse um outro – Eu não tenho filho desse tamanho! Mais e mais loucos foram descendo do teto e uma roda deles se formou ao redor de Marvin e Etecétera. DE TANTO OLHAREM PARA O BRANCO, MARVIN E ETECÉTERA TAMBÉM FORAM FICANDO BRANCOS.
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E aí um outro louco fez o seu protesto: -- Eu não agüento mais a cor branca! Abaixo o branco! Vamos fazer greve! Uma grande greve contra o branco! Greve já! Greve já! Greve já! -- Não ligue para o que esse louco diz! A cor branca acalma! O branco faz bem à alma! Anjos são brancos! Nós precisamos respirar, ver e comer o branco! E assim continuaremos sempre brancos! – outra intervenção “teorística” de Simão Bacamarte. TODAS AS TEORIAS TÊM UM POUCO DE LOUCURA, JÁ QUE DIFICILMENTE CONSEGUEM SE RELACIONAR DE MANEIRA EFETIVA COM A PRÁTICA. -- HORA DO RANGO!!! – gritou um outro louco e os loucos que ainda estavam no teto desceram. Enquanto Etecétera assistia a tudo aquilo com certa curiosidade, Marvin continuava um “morto-vivo”, indiferente a tudo. AH! O BRANCO DO HOSPÍCIO ERA MAIS BRANCO DO QUE QUALQUER SABÃO EM PÓ PROMETE... A SE TODO BRANCO FOSSE ASSIM!!! -- ABRAM A BOCA! -- gritou o mesmo louco. Todos abriram com exceção de Etecétera e Marvin. BLOFT BLOFT BLOFT BLOFT BLOFT BLOFT BLOFT BLOFT BLOFT BLOFT BLOFT BLOFT BLOFT BLOFT BLOFT BLOFT BLOFT BLOFT BLOFT BLOFT BLOFT BLOFT BLOFT BLOFT BLOFT BLOFT BLOFT BLOFT BLOFT BLOFT BLOFT BLOFT BLOFT BLOFT BLOFT BLOFT BLOFT BLOFT BLOFT BLOFT BLOFT BLOFT BLOFT BLOFT BLOFT BLOFT BLOFT BLOFT BLOFT BLOFT BLOFT BLOFT BLOFT BLOFT BLOFT BLOFT... Sessenta BLOFTS caíram do teto. Sessenta BLOFTS brancos e nojentos. Sessenta BLOFTS que pareciam arroz mastigado com ranho. Etecétera e Marvin não abriram a boca e por isso ficaram com a cabeça toda lambuzada de BLOFT. “Os BLOFTS fazem muito bem aos loucos. Eles ficam mais calmos e felizes por um bom tempo. Penso eu que seja devida a presença do amido e de mais algumas
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substâncias que não só enchem o estômago, mas também revigoram a mente” -- primeira teoria nutricionista de Simão Bacamarte TRÊS BLOFTS AO DIA E TUDO É ALEGRIA. De repente uma surpresa inesperada... Epa! Surpresa inesperada? Mas toda surpresa já é inesperada, do contrário não seria surpresa. Ou será que alguém já viu alguma surpresa esperada? Certamente não. Em todo caso, vamos manter a surpresa inesperada, já que ela aqui parece querer dizer muito mais do que apenas reforçar a ignorância de quem a usa. Voltemos então ao DE REPENTE: DE REPENTE UMA SURPRESA INESPERADA ARREBENTOU O TETO. Fez um buracão e todos os loucos saíram correndo para seus aposentos... A surpresa inesperada tinha a forma de uma imensa mão, igual ou até maior que a do gorila King Kong... Era verde, mas sem nenhum parentesco com o incrível Hulk. Além do tamanho monstruoso, o que também chamou atenção foi o fato de cada um dos cinco dedões possuírem um olhão na ponta. Etecétera até pensou em agir antes que tivesse que reagir diante de um possível ataque. Pensou e já “despensou”, achando melhor aguardar... Talvez aquela mãozona ainda despertasse Marvin de sua triste condição! POR ALGUNS SEGUNDOS, A MÃOZONA ERA TODA OLHOS PARA ELES. Assim que esses alguns segundos se gastaram, ela deu o bote, agarrando os dois em um aperto só. Etecétera, se quisesse, podia facilmente se livrar daquela situação “espremida” . Era só se transformar em uma pulga ou formiga ou carrapato ou coisa e tal... Mas ele não quis. “Vamos ver só onde tudo vai dar!” Já o Marvin, pobre Marvin. Mesmo todo apertado, continuava apático e indiferente. E a mãozona verde já ia saindo pelo buraco do teto... ENQUANTO
ISSO
EM
UMA
DAS
CELAS
DE
Villaregum... LÁ
PERMANECIAM OS PAIS DE MARVIN: MARMELADA E DOCE-DE-LEITE. DOIS
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PALHAÇOS COLORIDOS, PRESOS SÓ PORQUE NÃO MUDARAM DE COR NAQUELE MUNDO DE UM BRANCO SÓ...
FORA DO HOSPÍCIO, MARVIN E ETECÉTERA GANHARAM SUAS CORES ORIGINAIS. Durante todo o caminho de nuvens brancas acima e deserto rochoso abaixo, a mãozona verde (nada autônoma) foi sendo puxada por um fino e desproporcional braço quilométrico... Mais à frente, já dava para se ver um imenso paredão de pedra... E chegando mais perto, o responsável por aquele seqüestro, enrolado em seu próprio braço “mangueira-debombeiro”... Etecétera ficou todo interrogação. O que estaria por trás, ou melhor dizendo, o que estaria por dentro daquela caixa preta? Sim! O responsável por aquilo tudo era a Misteriosa Criatura da Caixa Preta. Com relação ao Marvin, ele não ficou nada. E por isso mesmo vou deixar de mencionar seu nome até que sua total apatia desapareça ou pelo menos diminua. -- Mas olha o que eu tenho aqui!!! -- exclamou Caixa. -- Peguei dois gurugunguns com um só amuleto. PARA QUEM NÃO SABE, GURUGUNGUNS SÃO PEQUENOS PÁSSAROS INVISÍVEIS QUE SÓ APARECEM AOS OLHOS DAS CRIATURAS QUANDO ESTÃO SE ALIMENTANDO... DIFICILMENTE SÃO CAPTURADOS. E TAL FEITO SÓ PODE SER OBTIDO COM A AJUDA DE ALGUM AMULETO DE ALPISTE E COM MUITA PERSISTÊNCIA. -- Agora vou finalmente poder me vingar de um dos meus maiores inimigos e de seu amigo também... Gosto muito de amassar, esmigalhar, cortar, furar, enterrar vivos todos os meus inimigos e também aqueles que são amigos de meus inimigos. -- Isso então é comigo!!?? -- Acho que sim! Ou será que tem mais alguém aqui??? Só se for um outro amigo invisível do Marvin?
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Bem seguro pela mãozona verde, três metros acima do chão, Etecétera tentou então se transformar em um inseto. Etecétera fez força e força... E nada. -- AH! Esqueci de lhe dizer. Essa mãozona verde anula os poderes de quase todas as naturezas mágicas. Etecétera continuou fazendo força... e nada. --Nossa! Vejo que o Marvin cresceu bastante deste a última vez que tivemos o desprivilégio de estarmos juntos...
APESAR DE SUA AINDA TOTAL APATIA, SINTO AGORA NECESSIDADE DE VOLTAR A MENCIONAR O RAPAZ DOS CABELOS VERDES. A FALA ANTERIOR DA MISTERIOSA CRIATURA DA CAIXA PRETA PRECISA SER ELUCIDADA... CAIXA JÁ TINHA VISTO MARVIN ATRAVÉS DOS OLHÕES DE SUA MÃOZONA, ENTÃO SUA FALSA SURPRESA MOSTRA SÓ COMO ESSA CRIATURA É FINGIDA E MENTIROSA TAMBÉM.
--... E olha que isso não faz tanto tempo assim! Mas como você sabe, falar sobre o tempo é uma coisa muito relativa. Ainda mais em certos mundos. Então vamos deixar tais lucubrações de lado... Será que o Marvin andou tomando algum tipo de anabolizante mágico? Pena que agora ele não me pareça nada disposto. Pobre coitado! Nem se mexe! Qualquer um ficaria com pena dele. Pena que eu não tenho pena alguma de meus inimigos... Só me tira um pouco o prazer da vitória ter um moribundo desses para derrotar. Nunca lutei contra mortos-vivos. Disseram-me inclusive que dá um azar imenso e por prazo indeterminado... Porém eu não tenho medo do azar. Eu sou o próprio azar! Eu sou o azar dos mundos!!! -- Lute contra mim então... seu, seu... -- Seu, seu o quê? Etecétera já não conseguia respirar. Muito menos falar. A mãozona estava apertando-o intensamente. E Marvin, é claro, sendo apertado junto.
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Etecétera continuava “tentando lutar” contra algo que parecia ser maior que ele. Mas só parecia, por enquanto. UM GRANDE PODER, ÀS VEZES, SÓ É GRANDE POR ALGUNS MOMENTOS. ALGO IMPOSSÍVEL, ÀS VEZES, SÓ É IMPOSSÍVEL ATÉ ENCONTRAMOS A CHAVE DAS POSSIBILIDADES. -- Humm! Que coisa mais sem graça! Daqui a pouco meus inimigos serão apenas laranja espremida... E eu?! Não! Não posso continuar com isso! Acabar com eles assim! Acabar com o Marvin sem ele saber que sou eu quem o está derrotando. Não! Isso não! Ele precisa saber! Ele precisa acordar! E então a mãozona parou de apertar-espremer. -- UUUFFA!!! – manifestou-se Etecétera enquanto Marvin não se manifestou coisa alguma. -- Acorde!!! Acorde, infeliz!!! Vamos, acorde!!! Só com tais palavras gritadas, com certeza Marvin não “acordaria”... E não “acordou”... A Misteriosa Criatura da Caixa Preta precisava fazer muito mais... E fez, lançando um bafo quente e fedorento em cima do rapaz. O bafo não resolveu nada. Pegou Etecétera de resvalo e Marvin continuou na mesma indiferença. “Se esse meu novo bafo não está surtindo efeito, preciso pensar em algo ainda mais poderoso.” E assim a Misteriosa Criatura da Caixa Preta fez, lançando seu também novo super vômito-fumegante em Marvin... O SUPER-VÔMITO-FUMEGANTE NÃO ERA TÃO TERRÍVEL QUANTO O NOME
FAZIA
SUPOR.
CONSISTIA
DE
MINÚSCULAS
LARVAS
INCANDESCENTES QUE, NO MÁXIMO, PENETRAVAM PELA PELE DAS CRIATURAS COM POUCO OU NENHUM PODER MÁGICO, DEIXANDO-AS “ELÉTRICAS” POR UM BOM TEMPO. NÃO ERA O CASO DE ETECÉTERA E NEM DE MARVIN. -- Cara! Esses verminhos só me dão cócegas! – comentou Etecétera, enquanto tentava assoprar algumas larvas incandescentes que haviam caído em seus ombros.
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Marvin continuou apático... Mas seu “corpo fechado” não deixou que elas entrassem... SEM OUTRA ALTERNATIVA, TODAS SE LANÇARAM AO CHÃO, EM UM SUICÍDIO COLETIVO. “Eu preciso é me livrar desse dragão, de uma vez por todas!” – pensou Caixa já arquitetando um novo ataque. Então foi a vez GLUBT GLUBT GLUBT dele soltar algumas “bolas de sabão” pela boca, só na direção de Etecétera... A terceira acertou o dragão azul que simplesmente sumiu... -- Ahá!!! Eu sabia que daria certo! Eu sabia... Agora o Marvin é todo meu!!! Caixa precisava ainda acordá-lo. Restavam estratégias. Talvez a melhor fosse a mais simples de todas. E foi essa justamente a que ele resolveu utilizar. Suavemente a mãozona colocou o rapaz dos cabelos verdes no chão... Caixa então estalou os dedos de sua outra mão e a mãozona “desapareceu”, ou melhor, retornou ao tamanho original, junto com o braço quilométrico. “Pronto! Agora já posso me apresentar.” Fazendo um pouco de força, aquela típica de quem está no banheiro, Caixa arrebentou sua caixa preta... Feito uma explosão, centenas de pedaços foram lançados ao longe... E então sua verdadeira identidade se revelou... PASMEM! Caixa era o Mago Dito Cujo! Mago Dito Cujo Fechacadabra. Sim! Aquele mesmo que já infernizara terrivelmente a vida de Marvin, chamando-o de ladrão e exigindo seus fósforos mágicos de volta... Aquele mesmo baixinho e franzino. Magro feito uma tábua de passar roupa. Com o bigode de Adolf Hitler. Aquele mesmo. Só não trazia mais a ridícula gaiola dourada enfiada na cabeça... “Finalmente encontrei uma mágica que impede os meus olhos de fugirem de mim. Eu sei que eles ainda me odeiam e vão me odiar por toda a eternidade. Azar deles... As outras partes do meu corpo também me odeiam. Mas digamos que com um pouco menos de intensidade. Vez por outra costumavam também se rebelar contra mim. Agora não mais.
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Elas estão novamente cem por cento sob meu controle. E como é bom a gente ser dono da gente mesmo. Uma grande vitória começa assim.” SIM, O MAGO DITO CUJO. Aquele mesmo, cabelos pretos grudados com gel de lesma. Aquele mesmo com enormes e puxados olhos vermelhos. Aquele mesmo que aparecia agora todo vestido de penas multicoloridas (retiradas do pobre e despenado Pássaro da Juventude). AQUELE MESMO QUE SE DESFEZ EM AREIA E PEDAÇOS DE ÓLEO QUEIMADO, DEPOIS QUE MARVIN RISCOU UM FÓSFORO MÁGICO TRÊMULO... NEM SEMPRE AQUILO QUE PARECE MORTO ESTÁ REALMENTE MORTO. PRINCIPALMENTE QUANDO ESTAMOS FALANDO DOS MUNDOS MÁGICOS. Nisso tudo uma questão permanece no ar... Uma questão toda feita de dúvida, acompanhada de seu minúsculo-invertido “cabo de guarda-chuva”: como é que esse Mago Areia conseguiu retornar a sua aparente insignificância “humana”? Sozinho seria impossível. NUNCA FOI FÁCIL PARA UM MAGO RECOMEÇAR DO NADA... PRINCIPALMENTE DA AREIA... SORTE QUE DITO CUJO TINHA UM “AMIGO PODEROSO” E MUITOS TESOUROS ESCONDIDOS PARA COMPRAR OUTRAS ESPÉCIES DE “AMIGOS”... Mesmo diante do inimigo, Marvin continuava apático. Mal conseguia ficar em pé. Não estava bêbado, mas parecia... Não estava “doente”, mas parecia... Não estava nem isso nem aquilo, mas parecia... Dito Cujo chegou junto do rapaz e o chacoalhou várias vezes. “Vamos! Desperte para o mundo! Vamos, seu desgraçado! Acorde! Vamos lutar outra vez! Vamos! Desta vez eu vou vencer! Eu vou vencer! Eu preciso vencer. E Marvin não despertava. “Eu vou acordar esse sujeito, nem que seja a última coisa que eu faça!.. Talvez se eu... ” Dito Cujo começou então a puxar os cabelos verdes de Marvin... COISA MAIS RIDÍCULA... E mesmo assim o rapaz não “despertou”. “Agora bem que eu precisava daquele duende... Tipo Assim poderia me ajudar e muito. Ele tem várias mutretas e artimanhas mágicas... Só ele é capaz de... Não, acho
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melhor não. Afinal eu saí sem pagar o que devia e não tenho mais cara para chamá-lo... Espera aí! A não ser que eu mude de voz, já que de cara, ou melhor sem a caixa preta, ele nunca saberá quem eu realmente sou... Será que assim será? Será mesmo? Não! Acho melhor não! Ele é muito esperto e se descobrir a minha farsa... Tipo Assim seria capaz até de me vender ingredientes mágicos estragados e vencidos ou coisa pior como venenos no lugar de.. Melhor não! Tipo Assim é pra lá de matreiro, muito mais do que todos os outros duendes juntos.” ESTRATÉGIA ABANDONADA, UMA NOVA PRECISAVA TOMAR O LUGAR DA ANTERIOR. Enquanto Dito Cujo pensava em “algo promissor”, Marvin já estava sentado no “chão da indiferença”. “Eu podia tentar chamar o... Não! Não! Não! Se outros tão poderosos quanto ele descobrirem, eu estou frito, frito, frito em óleo de baleia voadora!... E se eu levasse Marvin de volta pro Hospício... Sim! Por que não pensei nisso antes! Pode ser que dê certo.” Dito Cujo que havia adquirido muitos “PLIPTS” em suas últimas empreitadas mágicas (graças ao duende Tipo Assim, atualmente Paradeiro) tinha ainda uns trinta “PLIPTS” para usar... PARA QUEM NÃO SABE, “PLIPTS” SÃO ESTALOS DE DEDOS. ESTALOS MÁGICOS QUE REALIZAM FEITIÇOS BÁSICOS. NADA DE MUITO PERIGOSO OU FATAL. “PLIPTS” NÃO PODEM MATAR NEM FAZER GRANDE MAL A OUTRAS CRIATURAS. DIGAMOS QUE ELES SÓ FAÇAM UM MAL “BÁSICO”... PARA SE GANHAR “PLIPTS” É PRECISO FICAR COM AS DUAS MÃOS MERGULHADAS EM UMA POÇÃO ESPECIAL POR MAIS DE UM DIA E UMA NOITE... E AQUI VAI MAIS UMA OBSERVAÇÃO: SÓ AQUELES QUE TÊM MÃOS PODEM CONSEGUIR “PLIPTS”. A magia nunca esteve no sangue do Mago Dito Cujo. A magia não nasceu com ele e portanto logicamente não faz parte de sua ancestralidade... Mesmo assim, ele se auto proclama um dos maiores magos de todos os mundos e de todos os tempos, conseguindo enganar seus escravos e outras criaturas fracas e ignorantes... Dito Cujo já pensou até em abrir uma rede de igrejas no Mundo Humano... “AH! Se não existissem os terríveis invisíveis delatores espiões, eu até que tentaria!”
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“Mago Alpinista”, isto sim é o que ele é. Consegue quase tudo através do famoso TOMA-LÁ-DÁ-CÁ. Trocas, favores, fraudes, roubos, maracutaias, corrupção, assassinatos encomendados, contrabando de produtos mágicos proibidos... Poucos mundos estão livres dele e de seus seguidores. E nisso Dito Cujo é muito bom. Talvez o melhor que já surgiu... Mas voltemos aos “PLIPTS”, já que eles são os responsáveis pela continuação desta narrativa. Dito Cujo estalou, ou melhor “pliptou”, quatro vezes os dedos de uma das mãos. Quatro “PLIPTS” foram gastos assim... Tudo para que aquela mãozona olhuda voltasse a fazer parte do próprio mago. Agora ele podia levar Marvin de volta ao Hospício Villaregum sem sair do lugar. E assim ele fez. Primeiro agarrou o rapaz com a mãozona. Daí o seu braço foi se encompridando encompridando encompridando... Já em Villaregum, a mãozona que podia entrar por uma das janelas do hospício preferiu bater na porta... Nem era necessário, mas assim ela procedeu... E a porta se abriu ruidosamente como se abriria mesmo sem ser avisada... Então a mãozona passou pelo corredor branco das frases brancas e das pombas brancas com seus cocôs brancos... Depois veio o imenso salão branco dos loucos brancos e aí um outro corredor branco ainda inédito... Como da vez anterior, Marvin foi ficando todo branco também... Só a mãozona verde continuou verde. No final do corredor branco inédito, várias celas brancas mantinham criaturas coloridas, uma delas era aquela com os palhaços pais de Marvin. Só com um dos dedos verdes, a mãozona puxou-arrebentou as grades para depois colocar Marvin dentro da cela. E ASSIM FINALMENTE a visão de Marmelada e Doce-de-leite despertou outra vez o rapaz para os mundos e para um grande abraço a três. -- Mas você cresceu, meu menino! Como o tempo passa! Está um belo de um rapagão! Daqui a pouco você vai ficar tão alto quanto o seu pai e tão forte quanto eu aqui. – disse Marmelada ainda dentro do abraço.
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-- Até agora não sabemos como viemos parar neste lugar. A última coisa que a gente se lembra é que estávamos dentro do Algodão Doce que havia parado por falta de gasolina. – observou Doce-de-leite também ainda dentro do abraço. -- Agora já chega de melodrama saskatchuano! – gritou Dito Cujo, observando tudo na distância que não permitia ser ouvido. QUALQUER SEMELHANÇA AQUI COM MELODRAMA MEXICANO NÃO É MERA COINCIDÊNCIA. E assim a mãozona agarrou Marvin, separando-o cruelmente dos pais: -- Mãe!! Pai!!! Eu ainda vou tirar vocês daí! Eu ainda vou tirar vocês daí! Não adiantava lutar contra a mãozona, ela era muito mais forte que um, dois, três, quatro... dez... quinze... vinte Marvins juntos. Sem saber disso, Marvin tentou... Tentou e tentou se livrar dela durante todo o caminho de volta... Infelizmente para ele e felizmente para Dito Cujo, os dedões verdes cheios de olhões eram “sólidos” mesmo, até pareciam músculos de concreto... Marvin deu um soco em um dos olhões, mas a única coisa que aconteceu foi o dito sangrar algumas gotas de líquido verde... “Nessas alturas”, Marvin já havia deixado de ser branco... A alguns metros do baixinho cara de Hitler, a mãozona verde colocou o rapaz dos cabelos verdes no chão... Então Dito Cujo estalou, ou melhor “pliptou”, quatro vezes os dedos de sua mão “normal”. Outros quatro “PLIPTS” foram gastos assim... Tudo para que aquela mãozona olhuda fosse diminuindo, diminuindo, diminuindo até voltar ao seu tamanho mínimo, já sem os olhos e a cor de Hulk... Ao mesmo tempo o fino braço quilométrico foi encurtando, encurtando, encurtando... Marvin ficou todo acreditando-desacreditando-acreditando-desacreditando no PESADELO que via diante de si. --AH! Então aqui está novamente um dos meus inimigos favoritos!!! Há quanto tempo a gente não tem uma conversa desamigável! Eu já estava com saudades! -- Dito Cujo??!! Você??!! Mas... Mas você não tinha virado areia???!!! -- Pois é! Veja como são as coisas! Virei areia e depois desvirei! -- Não! Isso não é possível!
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-- Tudo é possível! Até o impossível é possível, principalmente quando se tem amigos... Afinal não se esqueça que assim como você tem os seus, eu também os tenho. Não os mesmos, é claro. – E riu o Mago. -- E a minha avó! O que aconteceu com vovó Pangaré? -- Felizmente não tenho a menor idéia. Aquela velha louca só me deu azar... Seja lá o que aconteceu com ela, espero que fique bem longe, senão eu... -- O que você quer de mim afinal? Ainda aquela história dos fósforos mágicos? -- Aquilo é coisa do passado. Não estou mais interessado em fósforos. Quero só lutar contra você até a morte. E veja que a coisa não é tão ruim assim. Ao vitorioso, no caso eu: louros, ouros e fama. E ao derrotado, no caso você: cem anos nas Trevas Sólidas... Veja pelo lado bom. Lá você vai ficar juntinho de sua amiga Lenora! Talvez possam até jazer lado a lado, ou abraçadinhos... Não é uma boa idéia? -- Lenora não está mais nas Trevas Sólidas! -- O quê? Você está brincando comigo! Fui eu que ajudei a colocá-la lá. Fui eu que transformou o pai dela em um monstro. Fui eu que tive um trabalho daqueles para montar o meu super plano. -- Super plano??!! E por acaso eu estava incluído nele? -- Já que você está perguntando... Sim! Você esteve e está incluído nele. -- Mas afinal por quê? O que eu lhe fiz de tão grave? -- Além de roubar meus fósforos mágicos e eu achá-lo um pouco prepotente, praticamente nada... -- Mas então toda aquela história dos fósforos... Tudo aquilo era uma desculpa para... -- Digamos que sim! -- Digamos??? -- Sim! Era um desculpa! Eu precisava derrotá-lo. E ainda preciso. -- Precisa! Por quê? -- Puxa! Como você gosta de fazer perguntas! Preciso porque preciso e pronto. O MAGO DITO CUJO SABIA QUE NÃO ERA DE BOM TOM REVELAR TODO O SEU PLANO. AFINAL SUA VITÓRIA ESTAVA EM JOGO, APESAR DE ELE SE VANGLORIAR DE QUE ELA ERA DADA COMO CERTA.
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-- Voltemos à Lenora. O que você quis dizer com “ela não está mais nas Trevas Sólidas”? -- Isso mesmo! Ela não está mais nas Trevas Sólidas! -- E como você, suponho que não sozinho, conseguiu tirá-la de lá? -- Nem te conto! Afinal todos nós precisamos manter certos segredos! Não é mesmo? OS SEGREDOS EXISTEM EM TODOS OS MUNDOS... SEGREDOS ALIMENTAM A MAGIA... -- Segredos!!! Você está me deixando nervoso! -- Desde a última vez que nos encontramos, muita coisa mudou... -- As coisas sempre mudam, porém a essência delas permanece a mesma... -- Lenora está comigo! -- O quê? Como “está comigo”??? -- Se você é mesmo aquele que se auto-proclama o mago todo poderoso, descubra por si próprio. -- Marvin, você está ficando cada vez mais pedante e insuportável. Tenho até saudades daquele menino que você era. -- Acho que há muito tempo eu deixei de ser um menino... E mesmo que eu estivesse agora naquele corpo de treze anos, minha mente não é mais a mesma... A magia me transformou e sinto que agora ela faz parte de mim, sinto isso mais intensamente do que nunca... -- Chega de lero-lero e tro-lo-ló, como se diz no seu mundo... Vamos à luta! Eu vou acabar com você e todos os seus segredos irão se revelar diante de mim, o Mago Dito Cujo. Sim, aquele que se auto proclama, o todo poderoso mago Dito Cujo Fechacadabra. Nisso Dito Cujo estalou cinco vezes os dedos das duas mãos. E assim ele acabou gastando dez “PLIPTS”. Dez “PLIPTS” aumentaram o mago muitas vezes... E DITO CUJO VIROU UM SUPER HITLER “KING-KONG”. King-Kong só no tamanho e força. Marvin olhou para cima. Bem nos olhos vermelhos do mago.
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-- Cresça e apareça!!! – Gritou lá de cima o mago e depois riu uma gargalhada insuportável... Marvin fechou os ouvidos. E o seu peito começou a fumegar suavemente um calor que já não queimava e já não ardia. Apenas iluminava... SSSSHHHHHIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIII................ Era Excalibur, saindo do “peito manteiga” do rapaz dos cabelos verdes, bem em cima de sua cicatriz-espada cada vez mais saliente. -- O que é isso aí? Não sabia que você Marvin estava aprendendo mágica barata para enganar trouxas – e riu novamente o mago. -- Isso não é mágica barata! É poder! E poder do bem! – gritou Marvin. Flutuando bem na frente do rapaz, Excalibur foi aumentando, aumentando, aumentando... até atingir seu tamanho original. --Está vendo?! – gritou novamente Marvin. -- Certamente!! Só gostaria de saber como essa espada passou para o seu lado?! Ainda vou descobrir o mago bonzinho que realizou tal feito! Agora os olhos do Mago Dito Cujo mostravam um certo brilho vermelho de cobiça, um desejo de se apoderar da espada. -- Excalibur veio até mim e é só o que eu sei!—gritou novamente Marvin. -- Por favor, fale mais baixo! Eu ouço muito bem, apesar de eu estar aqui em cima e você aí em baixo... Mas retornando ao nosso assunto... Não pense que você irá me vencer com essa sua espada aí... Certamente você não sabe, mas Excalibur já pertenceu a mim e já me fez muitos trabalhos sujos... Tenho certeza que ela não se esqueceu disso... E tem mais também, tudo o que já me pertenceu, me pertence e me pertencerá... -- Mas então foi você que assassinou o Gigante Gurumã??? -- Fui eu sim e daí? Nunca me diverti tanto. Todas aquelas milhares de criaturas chorando a morte do peão... “Buá! Buá! Buá!” Até eu que sou eu me comovi! -- Você... Você... O que você ganha afinal com tanta maldade? -- Ganho risos e mais e mais inimigos. AH! E isso é tão bom!!! Eu gosto muito! Eu gosto muito mesmo... Gosto de ser odiado... NESSAS ALTURAS, BAIXURAS E PROFUNDEZAS, JÁ HÁ UM BOM TEMPO MÁGICO, ESPALHOU-SE A NOTÍCIA DE QUE O MAGO DITO CUJO FOI O
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VERDADEIRO RESPONSÁVEL PELA MORTE DO PEÃO GURUMÃ, LÁ NO RODEIO DOS DRAGÕES DE SASKATCHUÓ... NO MÍNIMO, SESSENTA MIL NOVOS INIMIGOS PARA DITO CUJO. -- Você é um louco demente! -- Sou sim! E afinal quem não o é??? Mas chega de elogios e vamos ao que interessa... Essa espada aí ainda me pertence... Se ela está agora com você, ela está muito indevidamente... Porém não mais por muito tempo... Não mais por tempo algum... Marvin, você vai ver só... Com um “plipt”, ela já volta pra mim... Dito Cujo estalou os dedos... e nada aconteceu. Dito Cujo estalou novamente os dedos... e nada aconteceu novamente. DITO CUJO PLIPTOU, PLIPTOU, PLIPTOU, PLIPTOU, PLIPTOU, PLIPTOU, PLIPTOU, PLIPTOU, PLIPTOU, PLIPTOU, PLIPTOU, PLIPTOU, PLIPTOU, PLIPTOU PLIPTOU,
PLIPTOU,
PLIPTOU,
PLIPTOU,
PLIPTOU,
PLIPTOU,
PLIPTOU,
PLIPTOU... Dito Cujo gastou todos seus “PLIPTS”... e nada aconteceu.
PARA DEIXAR BEM CLARO AO MAGO DE QUE LADO ESTAVA AGORA, EXCALIBUR SE COLOCOU NA MÃO DE MARVIN, CONCEDENDO-LHE ASSIM O DIREITO DE USÁ-LA...
“Não, não pode ser, mas pelo jeito a maioria dos “plipts” já veio com o prazo de validade vencido... Sim, só pode ser isso!” – pensou, ou melhor, tentou se enganar o Mago Dito Cujo, já que para ele seria muito difícil admitir que seus “novos poderes” eram limitados diante de forças muito mais poderosas. “Eu ainda acabo com aquele Tipo Assim de uma figa! Nunca vi duende mais cretino! Tenho certeza que me vendeu coisas estragadas... ou até mesmo falsas... AH! Quando eu pegar aquele sujeito amarelo, ele vai ver só com quantos ossos se faz um esqueleto!” -- Pelo que está parecendo, os seus poderes já não são tão poderosos assim... Acho que entrou areia neles, não? -- Só espere um pouco e você verá!
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Dito Cujo possuía ainda alguns trunfos escondidos... Os mais importantes eram as quatro bolas de carniça “turbinadas” pelo próprio mago, tudo de acordo com uma receita secreta disponível no Livro Secreto das Receitas Secretas. BOLAS DE CARNIÇA “TURBINADAS”? MAS O QUE AFINAL É ISSO? Diante da provocação de Marvin, o mago que estava guardando-as para o momentoclímax da “batalha” resolveu usá-las na seqüência... -- Agora, você vai ver só o que é bom pra mim e péssimo pra você! Dito Cujo abriu bem os olhos de Super Hitler e lançou sobre Marvin a primeira bola “turbinada” de carniça, que estava escondida já há algum tempo dentro dele. “TCHUUUMMMMMMMMMMMMMMMMMMMMMMM...” Este foi mais ou menos o barulho que fez a bola ao sair do olho direto do mago. MAS O QUE AFINAL É UMA BOLA TURBINADA DE CARNIÇA? PARA MUITAS CRIATURAS, PRINCIPALMENTE DRAGÕES, GRANDES REMORSOS PRODUZEM BOLAS DE CARNIÇA QUE DEPOIS DE VOMITADAS FOGEM DE SEUS DONOS. A bola aparecia agora toda incandescente... da mesma cor dos olhos vermelhos do mago... e já bem maior que uma bola de basquete... MAS O QUE AFINAL É UMA BOLA TURBINADA DE CARNIÇA? “TRUBLUM!!!” Raios e faíscas. Marvin conseguiu facilmente acertar a bola com a espada, mas a bola não era assim fácil de ser vencida. Afinal estava toda turbinada. MAS O QUE AFINAL É UMA BOLA TURBINADA DE CARNIÇA? E então ela retornou ao Mago Dito Cujo, parando-flutuando bem diante de sua cara de Hitler, como se estivesse a trocar idéias estratégicas com ele. Dito Cujo abriu a bocarra e engoliu aquela bola confidente. MAS O QUE AFINAL É UMA BOLA TURBINADA DE CARNIÇA? -- Marvin, você se acha muito esperto! Quero ver só a tua esperteza agora! “TCHUUUMMMMMMMMMMMMMMMMMMMMMMM...” “TCHUUUMMMMMMMMMMMMMMMMMMMMMMM...” “TCHUUUMMMMMMMMMMMMMMMMMMMMMMM...”
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“TCHUUUMMMMMMMMMMMMMMMMMMMMMMM...” Dito Cujo então lançou as quatro bolas turbinadas de carniça sobre Marvin. Todas quase ao mesmo tempo. Duas saíram pelos seus olhos e duas pela boca... -- Agora é que a porca voadora vai torcer o rabo azul!!! – E riu o mago. Mas não foi um riso verdadeiro. Foi muito mais um riso teatral. Dito Cujo não sabia, mas Excalibur já havia vencido os terríveis lobisomens azuis lá da Caverna do Caracol do Tempo. Então para a espada, aquelas quatro bolas “eram fichinha” ou como se diz também por aí e lá e acolá: “sopa no melado”. Desta vez as bolas turbinadas de carniça não vieram direto pra cima do Marvin. Apenas se aproximaram e ficaram rodando ao seu redor... Rodando, rodando tão intensamente até formar um redemoinho... De redemoinho para mini-tornado foi um pulo, ou melhor dizendo, um rodar... -- Agora vai ser a sua vez de virar areia, meu barato colega!
ENQUANTO ISSO NO MUNDO DOS MONSTROS CEGOS E DESDENTADOS, O MINÚSCULO DRAGÃO ELVIS PRESLEY ACABAVA DE ENCONTRAR A QUINTA BOLA DE CARNIÇA (QUE PARA ELE ERA A PRIMEIRA). -- Nossa! Como essa bola cresceu! Ou fui só eu que diminuí tanto assim?! REALMENTE. A bola estava maior do que nunca. Com mais de dez metros de diâmetro. E o dragão Elvis Presley, ao contrário, menor do que sempre... Quase microscópico. Agora, pelo jeito, nenhuma mágica poderia salvá-lo de um lonnnnnnnnnnngo trabalho... Sua “insignificância” teria mesmo que comer toda aquela bola de carniça... E isso poderia demorar até meses, caso ele desempenhasse tal função pelo menos vinte horas por dia... Depois ainda restariam as outras quatro bolas turbinadas... Será? MAS O QUE AFINAL É UMA BOLA TURBINADA DE CARNIÇA? De acordo com o Livro Secreto das Receitas Secretas, para se turbinar bolas de carniça, também conhecidas como bolas de remorso e vice-versa, é necessário primeiramente os seguintes “árduos” ingredientes:
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- 10 almas humanas graúdas ou 20 almas humanas miúdas e fresquinhas (fresquinhas aqui significa que foram conseguidas no máximo nas últimas 1200 horas); - 1 e 1/2 coração humano; - 1 punhado de cabelo da futura vítima de seu plano diabólico; - 1 bola de remorso; - 5 pitadas de pó de osso do dragão Dracolich; - Uma dúzia de ovos do Terrível Pássaro Comedor de Cabeças; - 100 quilos de banha de assassinos de baleias; - 2 taças de vinho de abutre.
modo de preparo:
Primeiro lave bem o coração e meio e o coloque dentro da bola de carniça. Faça o mesmo com o cabelo da futura vítima de seu plano diabólico. Em uma vasilha, bata por meia hora os doze ovos e acrescente as cinco pitadas de pó de osso de Dracolich. Passe então a bola de carniça nesse líquido (que já deverá ter ficado mais espessogrudento). Por último ferva a banha de assassinos de baleias e deixe a bola de carniça fritando por, no mínino, três dias. Assim que a bola de carniça esfriar (aí ela já vai estar de um tamanho bem diminuto), você deverá engoli-la de uma vez só... Em seguida, beba a taça de vinho de abutre. Pegue então as 10 ou 20 almas fresquinhas (do seu saco especial de almas) e engula-as também. Por último, beba a segunda taça de vinho de abutre e repita as seguintes palavras mágicas: “ghtoru fhgirot vnfirudt erdfrtd pouigj nhituf furoedb voitur yoiurt dhsfetro hlyoirtdf viurtyg hassew oasjeudh vodian oierasgs eidkhgtiu ausyeo foriha oaisyqp svetsgd truhnv skweaeru rjdkit wsutrodjt roeigj eorise dieurufheury qwtrsdgetdurif oijlpnvsiwey wter xcsurydi itur iojkl”
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Pronto, agora é só aguardar o seu inimigo e “vomitar”sobre ele a bola de carniça turbinada. MAS O QUE AFINAL É UMA BOLA TURBINADA DE CARNIÇA? Resumindo em poucas palavras, uma bola turbinada de carniça nada mais é do que isso mesmo. ISSO MESMO O QUÊ? Resumidamente falando, nada mais é do que uma bola de remorso enfeitiçada para se vencer até os mais poderosos inimigos... Pelo menos diz isso um adendo sobre a receita, bem nas páginas finais do Livro Secreto das Receitas Secretas. POR SER DEVERAS PRECAVIDO (JÁ QUE MARVIN NÃO ERA APENAS UM GAROTO, MAS UM PROTEGIDO DOS MERLINS DA TÁVOLA REDONDA MÍSTICA) DITO CUJO QUADRIPLICOU A RECEITA.... NUNCA CRIATURA ALGUMA EM SÃ CONSCIÊNCIA HAVIA FEITO ISSO. “Desta vez eu vou vencer! Eu sinto isso! Eu sinto isso! Minha derradeira vitória me deixará ainda mais poderoso, muito mais poderoso... invencível...” Não dava para ver o que estava acontecendo dentro do mini-tornado... A hiper velocidade das quatro incandescentes bolas turbinadas formava um escudo intransponível. Nada saía... Nada entrava... SERÁ QUE DESTA VEZ ERA MESMO O FIM DE MARVIN E DA MAIS PODEROSA ESPADA MÁGICA DE TODOS OS TEMPOS E DE TODOS DOS MUNDOS??? Dito Cujo já mostrava um leve sorriso na carona de Hitler. “Agora sim! Eles estão acabados! Ninguém suportaria um mini-tornado desses por mais de alguns segundos e já faz quase dois minutos que eles estão lá dentro... Venci! Venci! Sinto que venci...” NUNCA CONTE COM O OVO DO TERRÍVEL PÁSSARO COMEDOR DE CABEÇAS DENTRO AINDA DO TERRÍVEL PÁSSARO COMEDOR DE CABEÇAS. E TAMBÉM NÃO CONTE COM O OVO DO TERRÍVEL PÁSSARO COMEDOR DE CABEÇAS FORA DO TERRÍVEL PÁSSARO COMEDOR DE CABEÇAS. AFINAL MUITO POUCOS SÃO AQUELES QUE CONSEGUEM ROUBAR SEUS OVOS. “Mas para não restar nenhuma sombra de dúvida, melhor eu ainda...”
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E assim Dito Cujo olhou bem para o mini-tornado, lançando sobre ele um raio vermelho de seu olho direito... PELO CAMINHO DE PEDRAS, PAREDÕES, PRESCIPÍCIOS, O MINITORNADO SAIU SE DEBATENDO EM CARREIRA DESEMBESTADA... Conforme o que fora “telepaticamente” combinado, somente à noite, ele retornou ao seu amo, dono e senhor... “Agora eu tenho a certeza das certezas!” E assim Dito Cujo lançou um raio de seu olho esquerdo e o mini-tornado virou um redemoinho e depois parou por completo... As quatro incandescentes bolas de carniça caíram exaustas no chão e se apagaram definitivamente... Próximo a elas, lá estava o que o mago mais esperara durante tanto tempo... MUITO
PLANEJAMENTO
E
GASTOS
FINALMENTE
HAVIAM
SE
TRANSFORMADO EM... ...Um monte de areia branca com pedaços de metal??? Sim. Era isso mesmo o que Dito Cujo ambicionara e agora conseguia. Marvin e a espada Excalibur eram um monte de areia branca com pedaços de metal. Restavam ainda duas coisas desagradáveis para serem feitas. Mas tinham que ser feitas. Dito Cujo sabia disso. Só assim sua vitória seria completa... PRIMEIRA COISA DESAGRADÁVEL: ele precisava voltar ao seu insignificante tamanho normal e já não havia mais “PLIPT” algum para ser “pliptado”. FELIZMENTE NÃO SÓ DE “PLIPTS” VIVE UM MAGO METIDO A TODO PODEROSO. Dito Cujo tinha ainda algumas “cartas mágicas” escondidas nas mangas, ou melhor dizendo, escondidas embaixo das penas. UMA DESSAS “CARTAS” ERA UM BESOURO DOURADO. Dito Cujo pegou o besouro e o colocou diante de seus olhos, como se estivesse tentando conversar telepaticamente com o bicho... E estava. Em seguida, o mago direcionou o inseto até a “porta” aberta de sua bocarra de Hitler e o besouro dourado lançou sobre sua língua um grosso líquido também dourado.
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“Agora, conforme o nosso combinado, você pode ir!” – pensou Dito Cujo e o besouro entendeu muito bem. Já não era mais prisioneiro de um feitiço do mago... Podia voar novamente até o Mundo dos Desviradores de Besouros. Em poucos segundos, o líquido dourado começou a fazer efeito e Dito Cujo foi diminuindo, diminuindo, diminuindo até atingir o seu tamanho original. Nisso tudo, uma pergunta pode ter ficado no ar: por que Dito Cujo precisava diminuir de tamanho para comer o seu aclamado inimigo-areia? Simples. Muito simples. Só em seu tamanho original, ele iria receber toda a força mágica de Marvin. E de “lambuja”, a força de Excalibur também. SEGUNDA COISA DESAGRADÁVEL: com uma colher de sopa, retirada de um de seus bolsos de penas, Dito Cujo passou a comer a areia branca e a engolir os pedaços de metal. COMA SEU INIMIGO PARA FICAR TÃO FORTE QUANTO ELE. COMA SEU INIMIGO PARA GANHAR TODA SUA FORÇA. O monte de areia não era pequeno e pela cara do mago não ia ser nada fácil deglutir toda aquela “refeição indigesta”. A primeira colherada até que foi fácil... A segunda já nem tanto... A terceira lhe deu um “nojo-calafrios”... QUEM JÁ SENTIU UM NOJO-CALAFRIOS SABE MUITO BEM DO QUE ESTAMOS FALANDO... UM NOJO-CALAFRIOS ACONTECE SEMPRE QUE SOMOS FORÇADOS A COMER ALGO INSUPORTÁVEL E POR REPETIDAS VEZES SEGUIDAS. No mínimo o mago Dito Cujo ainda tinha umas duzentas colheradas pela frente, ou melhor dizendo, pela boca. “Se ao menos eu conseguisse transformar isso tudo em algo mais deglutível!” BEM, NÃO CUSTAVA TENTAR... OU CUSTAVA??? E assim Dito Cujo retirou mais uma “carta mágica” escondida embaixo das penas. A “carta mágica” era um ovo de galinha. Pelo menos assim parecia. Dito Cujo quebrou o ovo e jogou sobre o monte de areia a gema verde. Gema verde??? Isso Mesmo! Gema Verde!
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Ovo de Galinha verde? Deve existir alguma pôr aí... Talvez várias... Talvez até o Mundo das Galinhas Verdes. A gema verde transformou a areia em uma gosma. E Dito Cujo passou a comer aquela coisa. MELHOR COMER GOSMA VERDE DO QUE AREIA... Depois da décima quinta colherada: “Não agüento mais essa nojeira! Se ao menos fosse marshmallow!” Dito Cujo retirou então outra “carta mágica” das penas. A outra “carta mágica” era outro “ovo de galinha”. Pelo jeito o mago devia ser dono de alguma granja ou galinheiro. Dito Cujo quebrou o ovo sobre a gosma verde. A gema azul transformou a gosma verde em gosma azul. Dito Cujo passou a comer aquela nova coisa gosmenta. Mais trinta colheradas e: “Não agüento mais essa nojeira! Se ao menos fosse marshmallow!” CADA VEZ FICAVA MAIS NÍTIDO QUE NÃO É NADA FÁCIL COMER O INIMIGO. Se pelo menos, dito Cujo conseguisse transformar a gosma em marshmallow... O QUE É FÁCIL PARA ALGUNS PODE SER MUITO DIFÍCIL PARA OUTROS. O QUE É DIFÍCIL PARA OUTROS PODE SER MUITO FÁCIL PARA ALGUNS. DITO CUJO NUNCA CONSEGUIU FAZER MARSHMALLOW. E já não havia mais “cartas mágicas” embaixo das penas. Não restava outra alternativa a não ser engolir toda aquela gosma azul. Dito Cujo retornou às colheradas: mais uma... mais uma... mais uma... mais uma... mais uma... mais uma... m a i s u ma... m a i s
u ma... m a i s...
“Não! Não agüento mais! Acho que vou vo...! E Dito Cujo vomitou tudo o que tinha engolido em cima do monte de gosma azul. “Maldito Marvin! Como posso roubar toda sua força mágica assim! Eu deveria tê-lo cortado em pedacinhos, temperado bem e assado na grelha... Daria menos trabalho... E seria muito mais saboroso...”
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O PLANO DO MAGO NÃO ESTAVA QUERENDO FUNCIONAR DO JEITO QUE ELE ARQUITETARA... TANTO TRABALHO! TANTAS TRAIÇÕES! TANTA CORRUPÇÃO! TANTAS MALDADES! TANTOS ASSASSINATOS! PARA ISSO?! E ainda não era tudo. O pior está por vir... Do céu de multicoloridas nuvens dançarinas, vozes uníssonas iriam selar o destino de Dito Cujo: -- Nós só estávamos querendo ver até onde você ia chegar... E realmente você chegou... Chegou no fundo do poço da mediocridade... Chegou na escuridão completa de sua alma podre... Que assim seja o seu destino, Mago Dito Cujo Fechacadabra!!! “Xiii!!! Maldito Tipo Assim! Aquela sua poção-exotérica-anti-telepática-e-antivisiopática não funcionou!!!” – pensou o mago. -- Não funcionou mesmo!!! E já está mais do que na hora de você pagar os seus débitos mágicos! -- Mas, mas, mas... Sem mais “mas”, uma nuvem vermelha desceu do céu... Dito Cujo tentou correu, mas a nuvem correu mais... e entrou pela boca, olhos e orelhas do mago... Dito Cujo inchou feito um balão... As penas caíram no chão. O bigodinho não... E cheio de gás, ou melhor, cheio de nuvem, o mago nu começou a flutuar... Seu corpo balão passou por colinas, passou pelo Hospício de Villaregum, passou por montanhas, passou por três lagos, passou por uma floresta de árvores gigantes carnívoras... Mais à frente, acima de um vulcão, a nuvem vermelha começou a sair do mago... E assim Dito Cujo foi desflutuando, desflutuando, desflutuando... caindo, caindo, caindo... até afundar completamente nas lavas ferventes... RETORNANDO AO MARVIN, ELE AINDA CONTINUAVA SENDO UM MONTE DE GOSMA...
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Bem que os Magos da Távola Redonda Mística podiam ter feito alguma coisa... E alguma coisa aqui só podia ser trazer de volta o rapaz dos cabelos verdes e a espada Excalibur... Pensando melhor: se não fizeram, era porque não havia necessidade imediata para tal... OS MAGOS DA TÁVOLA REDONDA MÍSTICA SÓ INTERVÊM NOS URGENTÍSSIMOS ASSUNTOS MÁGICOS PROBLEMÁTICOS. .......................................................................................................................................
Durante trezentos dias e trezentas noites, Marvin continuou sendo um monte de gosma. Só então um beija-flor apareceu... Não! Não era um beija-flor! Era o dragão Elvis Presley do tamanho de um beijaflor. Em parte recuperado e ainda se recuperando... -- Marvin! Eu sei que é você aí! Responda! E Marvin não respondeu, é claro! -- Calma! Calma! Eu já vou te ajudar! MAIS
CALMO
QUE
AQUELE
MONTE
DE
GOSMA
ERA
ALGO
PRATICAMENTE IMPOSSÍVEL. -- Vamos, Marvin! Tome um pouco deste néctar! NÉCTAR ERA SÓ FORÇA DE EXPRESSÃO PARA QUEM AGORA TINHA UMA VOZ MIÚDA. Marvin-gosma não possuía boca para beber. Mesmo assim o pequeno dragão Elvis jogou sobre “ele” o “néctar”: um líquido-ácido-amarelo-fluorescente. O ácido passou a derreter toda a gosma e uma fumaça foi saindo, saindo, saindo... A cinco metros do chão, a fumaça adquiriu forma de um rapaz com sua espada. A cinco metros do chão, o rapaz-fumaça foi ganhando carne e ossos e músculos e pêlos e cabelos e... A cinco metros do chão, a espada-fumaça foi ganhando seu aço mágico... A cinco metros do chão, o rapaz-de-carne-e-osso-e-músculos-e-pêlos-e-cabelos-e... ficou flutuando nu.
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A CINCO METROS DO CHÃO, O RAPAZ-FLUTUANTE E A ESPADA EXCALIBUR GANHARAM SUAS CONSCIÊNCIAS: -- Que brincadeira é essa, Dito Cujo! Me coloque no chão! Me coloque no chão! O DITO QUE NÃO ERA CUJO ASSIM PROCEDEU COM OS DOIS... -- Marvin, Marvin! Finalmente nos reencontramos! -- Elvis??? -- Sim! Sim! Eu mesmo! Mas já estive muito pior! Cheguei a ficar do tamanho de um micróbio! Agora tenho certeza que vou me recuperar completamente... Só preciso encontrar as outras quatro bolas de remorso... Enquanto Elvis falava, ele já ia lançando sobre Marvin alguns piolhos dourados mágicos (as pílulas tinham acabado) e assim o rapaz ganhava as roupas necessárias para esconder sua nudez. O BÁSICO DE SEMPRE: CAMISETA, JEANS, TÊNIS... -- Marvin, você por acaso não viu minhas bolas de remorso? AINDA MEIO TONTO DIANTE DOS RECENTES ACONTECIMENTOS MÁGICOS, MARVIN TENTAVA ARTICULAR SUA MEMÓRIA EXOTÉRICA: -- Bolas de remorso??? A última coisa que eu me lembro foi um redemoinho... Quatro bolas incandescentes... quatro bolas vermelhas girando, girando... E o redemoinho... E eu dentro ele... -- Sim! São elas mesmas! O safado do mago turbinou minhas bolas para destruir você. -- Turbinou?? -- Em outras palavras, eu diria que ele realizou um feitiço poderoso... -- Elvis, me desculpe, mas eu não tenho a menor idéia sobre onde foram parar as suas bolas de remorso... Não há mesmo outra maneira de você voltar ao seu tamanho normal??? -- Infelizmente não!!! – disse Elvis já desanimado. -- E os chicletes de morcego prateado? Eles me fizeram crescer... -- Infelizmente os chicletes não funcionam com dragões feito eu. – disse Elvis, mais desanimado ainda. -- Mas deve ter um jeito. Eu sinto isso...
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-- O único jeito é encontrar minhas quatro bolas... -- Nessa história toda, eu só queria saber onde foi parar o Dito Cujo??? -- Acho que agora ele está bem longe daqui. -- Espero que você esteja certo. Esse sujeito não desiste nunca! -- Algo me diz que desta vez ele vai ficar um bom tempo sem nos perturbar... Pelo menos uns cem anos. -- Será mesmo??? -- Algo me diz que sim! ELVIS NUNCA QUIS MENCIONAR QUAIS ERAM OS SEUS REMORSOS, PORQUE ELES DIZIAM RESPEITO AO PRÓPRIO MARVIN... TALVEZ ALGUM DIA ELE AINDA “DRAGÃOBUCHE” (O MESMO QUE “DESEMBUCHE”, SÓ QUE USADO APENAS PARA DRAGÕES).
ENQUANTO ISSO NA EX-CAVERNA DA EX-MISTERIOSA CRIATURA DA CAIXA PRETA, OU MELHOR DIZENDO, NA CAVERNA DA VELHA PELUDA: -- Madame-Madame, desculpe a intromissão, mas o que a Madame-Madame vai fazer com essas quatro bolas de carniça??? Já faz um tempão eu as consegui para a Madame-Madame e até agora a Madame-Madame não se decidiu... -- Não sei ainda, Paradeiro! Às vezes fico tão indecisa. Tenho tantos livros e tantas receitas... E acabo toda confusa... -- Madame-Madame, não me chame mais de Paradeiro! Lembra, meu nome agora é Eletrovildo! -- Que cabeça a minha! Desculpe, Eletrovildo, Eletrovildo, Eletrovildo, Eletrovildo, Eletrovildo, Eletrovildo... Acho que agora já gravei seu novo nome... -- Madame-Madame, se a Madame-Madame não quiser mais as bolas de carniça, eu posso dar um jeito nelas... Não, não se preocupe... Não vou jogá-las fora... Posso revendêlas por um bom preço... E nós dois dividimos a grana... Conheço muitas criaturas interessadas nelas... -- Não! Espere! Acabo de ter uma idéia genial! Acho que vou fazer uma plástica total! Desde a cabeça até os dedões do pé... Sim, isso mesmo! Afinal, além de bruxa
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poderosa, preciso ser também uma mulher atraente... Numa dessas ainda consigo algum bruxo disponível por esses mundões afora... -- Ótima idéia, Madame-Madame. Ótima idéia. – incentivou falsamente o duende Eletrovildo. ....................................................................................................................................... RETORNANDO AO MARVIN E AO ELVIS: -- Elvis, o que você vai fazer agora? -- Preciso correr-voar atrás das minhas quatro bolas... E você precisa ir até Avalon para a Reunião Extraordinária dos Magos da Távola Redonda Mística. -- Reunião Extraordinária dos Magos da Távola Redonda Mística? -- Não há tempo a perder! A reunião já começou... Todos estão esperando por você. -- Então vamos!... Mas vamos como? -- Eu tenho comigo aqui um pouco de bruma... É através dela que você vai chegar em Avalon. SE MARVIN NÃO PODE IR ATÉ AS BRUMAS, AS BRUMAS VÊM ATÉ MARVIN. Nisso o minúsculo dragão Elvis soltou pela boca uma fumaça que até parecia de cigarro, mas não era... Em poucos segundos todo o ambiente ao redor foi ficando nebuloso e frio... Marvin deixou de sentir os pés sobre o chão... Mas não passou a tremer os dentes nem ficou com os braços arrepiados... RAPAZES MÁGICOS NÃO SENTEM FRIO (PELO MENOS NÃO QUALQUER TIPO DE FRIO). -- Elvis?! – gritou Marvin, já não enxergando Elvis algum. -- Boa viagem, Marvin! E até breve! “Espero!” Marvin flutuava entre as brumas e cada vez mais alto e mais alto ia seguindo o seu destino solitário... (agora sem Excalibur que ficou para solucionar alguns assuntos pendentes em outros mundos mágicos) -- Excalibur!! – Marvin ainda gritou pela espada, mas a espada não quis mais ouvilo. Isso significava que, por enquanto, ele não iria precisar dela... QUANTO TEMPO TEM A DURAÇÃO DE UM “POR-ENQUANTO”? As brumas densas já indicavam que Marvin estava no caminho para Avalon.
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AVALON VIAJA PELOS MUNDOS MÁGICOS, ESCONDIDA ATRÁS DAS NUVENS DE QUALQUER CÉU... Depois de algum tempo, as brumas densas foram dando lugar a uma brisa suave e o branco-leite-fumaça começou a ganhar outras cores... AS CORES VIVAS DE AVALON. AVALON É TODA PLANÍCIES E VALES E MATAS E LAGOS E... Marvin chegou bem na hora em que os mini-girassóis inundavam de amarelo os campos... Depois de caminhar uns três quilômetros sobre as flores, outras começaram a surgir em seu campo de visão: eram lírios, rosas, cravos, crisântemos, orquídeas, margaridas, camomilas, amores-perfeitos, mosquitinhos, flores-de-mel, begônias e algumas outras estranhas-desconhecidas... E NENHUMA SACERDOTIZA À VISTA. Marvin agora andava sobre um mar de cores... Ele até lembrava o ator Robin Willians, em uma das cenas do filme “Amor Além da Vida”. Escondidas entre as flores, milhares e milhares de minúsculas fadas-beija-flor sugavam o “néctar” dos lírios, das rosas, dos cravos, dos crisântemos, das orquídeas, das margaridas, das camomilas, dos amores-perfeitos, dos mosquitinhos, das flores-de-mel, das begônias e das “estranhas-desconhecidas”... FADAS-BEIJA-FLOR SUGAM O “NÉCTAR” E A ALMA DAS COISAS. SÓ ELAS SABEM QUE TODAS AS COISAS TÊM ALMA... E TODA ALMA BOA ESTÁ CHEIA DE UM SABOROSO “NÉCTAR” INFINITO... Andando mais um pouco, Marvin avistou ao longe “A MURALHA VERDE” FEITA DE ÁRVORES MILENARES... Agora faltava pouco... Dez minutos de caminhada no máximo... E NENHUMA SACERDOTIZA À VISTA. Marvin caminhou pensando em Lenora, pensando nos Magos da Távola Redonda Mística, pensando em tantas coisas e tantos amigos, pensando em ser feliz algum dia... Assim que entrou no imenso Círculo de Árvores, uma surpresa desagradável: não havia Távola Redonda Mística alguma... Nem mesmo um mago sequer...
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“Não posso acreditar que o Elvis fez isso comigo! E por quê? Por que afinal ele mentiu?” – inquietou-se Marvin. ANDAR FAZ BEM À SAÚDE. ANDAR FAZ BEM TAMBÉM À CABEÇA PREOCUPADA. E assim Marvin resolveu continuar andando, andando, andando... “Acompanhando” as árvores “circundantes”. Marvin andou quilômetros e mais quilômetros... Quando já estava realmente cansado... ele (mesmo assim) continuou caminhando até o meio do círculo e lá sentou... Alguma coisa ansiava por acontecer. O coração de Marvin batendo mais forte do que sempre dizia isso... Até as imensas árvores distantes, em movimentos estranhos, também aguardavam O GRANDE ACONTECIMENTO. E O GRANDE ACONTECIMENTO FOI CHEGANDO AOS POUCOS: Primeiro o tapete de grama verde desapareceu sob os pés e diante-além dos olhos de Marvin... Em seguida, foi a vez do chão ganhar magicamente uma grossa camada de gelo de trinta centímetros. A bunda de Marvin gelou e por isso ele já ficou em pé... Inscrições do mais puro ouro mágico foram então se escrevendo no imenso círculo quilométrico: frases de filósofos, fórmulas e poções secretas e também não-tão-secretasassim. Umas após outras, milhares e milhares de criaturas de várias espécies surgiram, circundando a beirada da quilômetrica Távola Redonda Mística de gelo. Milhares e milhares de MERLINS sentados-flutuando sobre almofadas com alta concentração de nuvens.
UMA INFORMAÇÃO EXTRA: OS MERLINS DA TÁVOLA REDONDA MÍSTICA DIMINUÍRAM EM NOVENTA E NOVE POR CENTO OS PODERES DA CABELEIRA VERDE DE MARVIN... QUERIAM SABER SE SEM TAIS PODERES, MARVIN CONSEGUIRIA MESMO ASSIM VENCER OS OBSTÁCULOS E OS
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INIMIGOS MÁGICOS... É CLARO QUE ALGUNS PODERES ADICIONAIS FORAM DADOS: A AJUDA DA ESPADA EXCALIBUR, POR EXEMPLO. MAS ISSO JÁ ERA OUTRA COISA. AFINAL MARVIN FICAVA NA DEPENDÊNCIA DOS OUTROS, NA NECESSIDADE DE INTERAÇÃO COM OUTROS SERES E CRIATURAS...
Marvin sabia que estava agora diante de todo o poder mágico do universo... E só todo esse poder mágico poderia ajudá-lo. “Lenora! Lenora! Sinto que você vai estar comigo brevemente!” – pensou Marvin. Marvin ficou ali no centro da Távola Redonda Mística, esperando pelo GRANDE ACONTECIMENTO... E O “GRANDE ACONTECIMENTO” começou caminhando miudamente até ele. O “GRANDE ACONTECIMENTO” era um duende azul de roupas velhas e longas orelhas que iam até o chão frio... De altura ele não tinha mais que cinqüenta centímetros. O “GRANDE ACONTECIMENTO” trouxe o Cálice do Santo Graal. -- Beba, meu filho! Beba tudo! Isto aqui vai lhe fazer bem! Marvin deu o primeiro gole. Era sangue, mas ele continuou bebendo... E bebeu tudo. -- Muito bem, meu filho! Agora o que você mais esperava vai realmente acontecer! – e então o duende azul foi miudamente caminhando de volta ao seu lugar, levando consigo o Cálice do Santo Graal. Não demorou quase nada e Marvin começou a chorar... Não eram lágrimas e sim sangue. Marvin chorou sangue... Sangue e mais sangue. NÃO
ERA
BEM
ISSO
QUE
ELE
ESTAVA
ESPERANDO...
MAS
AGUARDEMOS... O sangue começou timidamente feito lágrimas e depois já jorrava de seus olhos.. Até o seu nariz e ouvidos passaram a chorar... Até suas mãos choraram... E Marvin foi diminuindo de tamanho... UMA LAGOA DE SANGUE SE FORMOU AO SEU REDOR.
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Marvin ficou todo sujo de vermelho. Novamente com cara e corpo de menino com trezes anos. O GRANDE ACONTECIMENTO ESTAVA ACONTECENDO... Assim que parou de “chorar”, algumas vozes de Merlins pediram para Marvin se afastar da poça. Marvin se afastou. E a poça de sangue ganhou movimentos... Gotas de sangue flutuaram.... Umas se uniram às outras... E todas se uniram em uma coisa só: uma grande bola de sangue grosso... Uma grande bola de sangue grosso se contorcendo no ar. Uma grande bola de sangue grosso querendo deixar de ser bola para ser outra coisa. Uma massa de sangue grosso sendo moldada por mãos invisíveis. Uma massa de sangue grosso ganhando forma. Uma massa de sangue grosso ganhando forma de um corpo Um corpo humano de sangue. Um corpo humano “desflutuando” no chão de gelo. O GRANDE ACONTECIMENTO ESTAVA ACONTECENDO... Marvin se aproximou... O corpo tinha cabelos longos. Cabelos loiros sujos de sangue. “Lenora!!!” Marvin pegou no colo uma Lenora morta, raquítica e muda. -- Não se preocupe, ela ainda vai viver!!! – disse um Merlin. -- Não se preocupe, ela ainda vai crescer!!! – disse um segundo. -- Não se preocupe, ela ainda vai falar!!! – disse um terceiro. O GRANDE ACONTECIMENTO ESTAVA ACONTECENDO... Marvin chorou então sobre a menina suas lágrimas de sal. Dez lágrimas ao todo. Dez lágrimas e a menina abriu os olhos. Dez lágrimas e a menina mexeu os braços. Dez lágrimas e a menina também chorou...
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Dez lágrimas e a menina não falou nada. Antes que Marvin pudesse perguntar alguma coisa aos Merlins, eles todos desapareceram... Em seguida foi a vez da Távola Redonda Mística de gelo derreter... AS MENSAGENS, FÓRMULAS E POÇÕES ESCRITAS EM OURO MÁGICO SAÍRAM VOANDO PARA “DISSOLVEREM-SE ” EM NOVAS IDÉIAS E LIVROS... Tudo abaixo de seus pés derreteu e Marvin caiu com Lenora nos braços. E Marvin continuou caindo... Na queda encontrou Etecétera que também caía: -- Etecétera!? -- Marvin! Não sei como, eu vim parar na tua queda! Não, acho que foi você que acabou caindo na minha. Você e Lenora. ETECÉTERA ERA AGORA UM DRAGÃO-ANÃO PELUDAMENTE BRANCO, COM BARBICHA E TUDO... “E melhor assim, com essa camuflagem posso me esconder perfeitamente em qualquer e em todas as nuvens brancas... E uma barbicha é sempre um sinal de certa respeitabilidade. Pena que nunca mais tive chance de ver uma nuvem, só a escuridão da queda sem fim me acompanha.” A MÁGICA DO MAGO DITO CUJO DEU A ETECÉTERA A MALDIÇÃO DE FICAR ETERNAMENTE CAINDO... POR MAIS QUE ELE BATESSE AS ASAS DE DRAGÃO NÃO CONSEGUIA PARAR DE CAIR... -- Marvin! Não agüento mais ficar caindo! Ainda bem que você, ou melhor dizendo, ainda bem que vocês estão agora caindo comigo! Melhor cair acompanhado do que cair só. Para Marvin aquilo tudo não fazia sentido nenhum... “A não ser que... a não ser que eu tenha sido colocado aqui justamente para salvar Etecétera... O problema é que eu não sei como salvá-lo... Espera aí! Quem sabe se eu... Pode ser... Vamos ver se dá certo.” – refletiu Marvin, tentando encontrar uma saída daquela queda infinita. -- Etecétera, se aproxime mais de mim! Vamos! -- Vamos aonde?
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-- Pare de brincar, Etecétera! Simplesmente se aproxime... e pegue aqui na minha mão! Com suas patas peludas, Etecétera pegou a mão de Marvin que segurava Lenora nos braços. -- Agora, pegue na mão de Lenora também! E então Marvin se concentrou.. se concentrou... se concentrou... Toda a sua energia em um só pensamento... PENSAMENTO SUPER HIPER POSITIVO. Tanta energia fez seu cérebro doer e o seu corpo brilhar... Marvin ficou todo iluminado. A MÁGICA ESTAVA ACONTECENDO. Em poucos segundos, ao redor dos três, o vazio da queda foi ganhando cores e formas: duas árvores arrancadas pela raiz, uma casa de madeira, três cadeiras, cinco vacas malhadas com as patas para cima, dois sofás, dez elefantes, outra casa de madeira, dois televisores, oito galinhas, cinco crianças, dois porcos, mais uma casa de madeira, três gordas mulheres de sombrinhas floridas, vinte executivos de guarda-chuva e chapéu, um “baú da infelicidade”, seis carros antigos, uma bicicleta, dezenas de livros, dois vasos sanitários, mais cinco árvores arrancadas pela raiz... MARVIN, LENORA E ETECÉTERA CONTINUARAM CAINDO... MAIS RÁPIDO DO QUE AS CORES E AS FORMAS... ... uma chuva de pneus, dez caixões de defunto, trinta defuntos, dois postes de luz, três barraquinhas de cachorro-quente, três vendedores de cachorro-quente, uma bruxa em sua vassoura, dois dragões-anões fumando charuto, duas motos, um avião monomotor, dois bebês gigantes chorando, cinco gatos, oito travesseiros, um imenso relógio, um fusca 69, mais uma casa de madeira, uma cabine vermelha de telefone público, várias pizzas gigantes de mussarela, uma chuva de sapatos, um ônibus inglês lotado, cinco táxis amarelos, dois bêbados acompanhados de suas respectivas amigas garrafas, várias bolas de futebol, um lobisomem azul, mais duas vacas malhadas, mais dez vasos sanitários, duas cadeiras de balanço com duas velhas se balançando, dois cavalos azuis, cinco cabeçonas do George Bush, dez cabeçonas do Sadan Hussen, mais dois ônibus ingleses lotados, a Estátua da Liberdade, mais quatro táxis amarelos, a Estátua do Cristo Redentor...
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E aí o mais incrível de tudo: um navio pirata. UM NAVIO PIRATA PASSOU POR ELES. A BANDEIRA PRETA COM SUA RESPECTIVA CAVEIRA BRANCA NÃO DEIXAVA DÚVIDAS. O navio pirata não só passou... mas assim que passou, os três foram sugados para dentro dele... Aparentemente nenhuma viva alma morava ali... Tudo parecia velho, meio podre, sujo, carcomido pelo tempo...
ENQUANTO ISSO NA EX-CAVERNA DA EX-CRIATURA DA CAIXA PRETA: -- Madame-Madame!!! -- O que foi, Eletrovildo? -- A Madame-Madame se esqueceu novamente! Meu nome não é mais Eletrovildo -- Que cabeça a minha! Viramundo! Viramundo! Viramundo! Agora não vou mais esquecer. -- Mas Madame-Madame, como eu estava dizendo... -- Diga! Diga logo! -- Tem algumas criaturas vindo aqui para receber! Um tal de Rapunzel, dois duendes roxos e um cíclope-anão... -- Receber? Receber o quê? Não me diga! Não me diga que... -- Sim, Madame-Madame! O safado do Caixa fez um monte de dívidas mágicas... Eu só tenho medo que mais e mais credores apareçam... -- O que você sugere então, Viramundo? -- Uma fuga para a esquerda e para cima e a para bem longe daqui. .......................................................................................................................................
JÁ DENTRO DA CAVERNA, UMA VOZ ESCONDIDA E CHEIA DE ECO SOLTOU O SEU LAMENTO: -- CHEGUEI TARDE! CHEGUEI TARDE! CHEGUEI TARDE! CHEGUEI TARDE!!!
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NO CONVÉS DO NAVIO, MARVIN DEIXOU DE BRILHAR. -- Puxa, Marvin! Sua mágica nos salvou! -- Minha mágica? Não me diga que... Não me diga que fui eu quem nos trouxe até este navio fantasma? -- Se você não quer que eu diga, então eu não digo. -- Etecétera, por favor, pare com essas brincadeiras! -- Desculpe! Não era a minha intenção... Mas às vezes eu me confundo com tantas expressões e falas e metáforas e provérbios em tantas e tantas línguas humanas e exotéricas e... -- Etecétera! Eu fazendo mágica desse tipo? -- Isso mesmo! Sua mágica! Claro que no começou as coisas são assim mesmo, meio confusas. Você pensa de um jeito e o jeito acaba ficando diferente daquele jeito que você pensou ... Mas não se preocupe! Com o tempo você vai conseguir melhorar... até um dia, quem sabe, atingir a perfeição mágica... Tenho certeza disso, Marvin! Você ainda há de ser um grande mago! -- Mas Etecétera, eu nem pensei em navio fantasma algum! -- Você não pensou agora. Entretanto muitos navios fantasmas estão ainda escondidos aí dentro de seu cérebro, bem lá em uma parte obscura que as pessoas chamam de subconsciente. -- A única mágica que eu gostaria agora era fazer com que Lenora falasse... -- Bem! Isso já leva mais tempo. Não depende só de você. Depende dela também. -- Como assim? Você está me dizendo que ela não quer mais falar... que ela não quer mais falar comigo? É isso? -- Claro que não, Marvin! Mas não se esqueça que assim como você ficou perturbado diante de muitos acontecimentos recentes, a mesma coisa aconteceu com Lenora... Vamos! Dê tempo ao tempo... Não se esqueça de que só ele é o maior mágico de todos. ENQUANTO OS DOIS DIALOGAVAM, LENORA, JÁ NO CHÃO, APENAS OLHAVA PARA O INFINITO... SEGURANDO FIRME A MÃO DE MARVIN. -- Etecétera, gostaria de saber para onde este navio voador está nos levando!? -- Marvin, se você não sabe, muito menos eu...
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-- Não precisa nem dizer... Eu sei que tenho que me concentrar mais nas coisas, mas, com Lenora desse jeito, fica um pouco difícil. -- Não se preocupe tanto, Marvin! Lenora vai ficar bem. E afinal das contas, esta mágica ainda é sua e continua acontecendo... O seu subconsciente está fazendo este navio voar... O seu subconsciente está fazendo muitas outras coisas também... Muitas outras coisas que nós não sabemos ainda. Com certeza, ele está ajudando Lenora agora mesmo... Só tenha calma! Nem tudo na magia pode ser feito de maneira apressada. O desespero engole e destrói as possibilidades... Mas tentando responder a sua pergunta: de uma coisa eu tenho certeza, este navio aparentemente decrépito não nos levará a um lugar ruim... -- Etecétera, só gostaria que o meu subconsciente fosse mais consciente! -- Não se preocupe! Isso ainda vai acontecer algum dia! ........................................................................................ O diálogo entre os dois continuou por mais algumas frases... Depois foi substituído por um silêncio calmo e observador. UM SILÊNCIO CANSADO, PORÉM CHEIO DE UMA PAZ QUE HÁ TEMPO NEM MARVIN NEM ETECÉTERA EXPERIMENTAVAM. Apenas um vento suave conduzia as velas rasgadas como se rasgadas elas não estivessem... E sob o céu dourado de fim de tarde, o navio fantasma voador foi riscando o seu novo destino...
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SINOPSE DA CONTRA CAPA DO LIVRO MARVIN E O CARACOL DO TEMPO NESTE SEGUNDO LIVRO, MARVIN IRÁ VIVER NOVAS E FANTÁSTICAS AVENTURAS...
O Monstro de Mármore, a Confraria dos Dragões-Anões, o Livro de Carne, a Biblioteca Infinita, lobisomens azuis, a Dimensão das Trevas Sólidas, uma Misteriosa Criatura da Caixa Preta, Merlin Nostradamus, Casuloterapia, cadáveres luminosos, a lesma sanguinolenta, bolas de remorso, “BLOPTS” e “PLIPTS”, uma mãozona verde e olhuda, novas pílulas mágicas, a volta da espada Excalibur...
TERRÍVEIS PERIGOS ESPERAM O NOSSO HERÓI NA LUTA PARA SE SALVAR E SALVAR A AMIGA LENORA.
“Felizmente” o dragão Elvis Presley e Etecétera estarão com Marvin para tentar ajudá-lo. E tem muito, muito, muito mais ainda... Neste segundo livro, você vai encontrar, o que parecia ser o mais impossível do impossível: George Bush, Sadan Hussen e Bin Laden juntos, um ao lado do outro. Tem também alguns coadjuvantes famosos como: Charles Chaplin, Marquês de Sade, Albert Einsten, Aristóteles, Simão Bacamarte... E astros e estrelas do cinema e dos esportes: Cameron Dias, Julia Roberts, Sandra Bullock, Silvester Stalone, Jean Claude Van Damme, Jack Chan, Eddie Murphy, Jim Carrey, Pelé, Guga, Michael Schumacher...
AQUI A MAIOR DE TODAS AS AVENTURAS MÁGICAS CONTINUA... VEJA TAMBÉM COMO ELA COMEÇOU EM: “MARVIN, O APRENDIZ DE ALQUIMISTA”. ( Editora Landmark – www.editoralandmark.com.br) Contatos com o autor:
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