Biografia de Mokiti Okada
LUZ DO ORIENTE
VOLUME 1
Título do Original: “Toho no Hikari - Jokan” Editora: Sekai Kyusei Kyo - Atami, Japão. Copyright by Sekai Kyusei Kyo - Atami
Edição em português: FUNDAÇÃO MOKITI OKADA - M.O.A. Rua Morgado de Matheus, 77 - Vila Mariana. Fone: 5087-5093 - Fax (011) 571-7305 São Paulo - SP - Brasil 3ª Edição: abril/99 - 5.000 Impressão: Gráficos Chesterman Editora Ltda. Capa: Luciana Fernandes da Silva Direitos autorais reservados. Proibida a reprodução total ou parcial desta obra.
LUZ DO ORIENTE
Fundação Mokiti Okada – M.O.A.
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MOKITI OKADA Fundador da Igreja Messiânica Mundial 3
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PREFÁCIO
A publicação de Luz do Oriente, biografia do fundador de nossa Igreja, pela qual ansiei durante muitos anos, é para mim uma alegria insuperável. Ao relembrar, com todo respeito, o esforço de longa data empreendido por todas as pessoas relacionadas a esse trabalho até que ele chegasse à publicação, sinto-me profundamente agradecida. O título Luz do Oriente foi tirado de uma das caligrafias feitas por Meishu-Sama (nome religioso de Mokiti Okada), e eu acho que não existe nome mais adequado para enaltecer os feitos e a espiritualidade de nosso Mestre. Com a publicação deste livro, grande número de pessoas poderá conhecer tudo sobre Mokiti Okada — um grande praticante do amor e da justiça, o qual, tendo nascido como cidadão comum, depois de inúmeras provações, tornou-se o manifestante da Glória de Deus. “Em breve será iniciada a pesquisa sobre Mokiti Okada”, disse Meishu-Sama. Creio, pois, que também ele esteja se sentindo muitíssimo satisfeito ao ver concretizadas essas palavras, com a publicação da presente biografia, por ensejo do seu Centenário. Como filha de Meishu-Sama, vivi durante muitos anos perto dele. Diversas imagens suas vêm-me naturalmente ao pensamento: às vezes, a figura do pai carinhoso; outras vezes, a figura do dirigente que vivia unicamente para a Obra Divina e, ainda, a figura cheia de nobreza que se divertia com as caminhadas ao lado de Nidai-Sama (Segunda Líder Espiritual), que fazia “ikebana” (vivificação floral) e se interessava pelas obras de arte. Lendo este livro, fiquei admirada de ver reproduzidas, fielmente, sem nenhum exagero ou adaptação, essas imagens de Meishu-Sama com as quais tive contato como pessoa de sua família. Quanto mais lia, mais me sentia atraída, podendo novamente experimentar na pele a grandiosidade daquele que viveu para cumprir sua missão, e o muito que lhe devemos. Pude, ainda, conhecer diversos aspectos seus que até então eu desconhecia. Cheguei mesmo a ter a impressão de que ele havia retornado a este mundo e de que eu ouvia bem perto a sua voz, o que me deixou ainda mais saudosa. Aprender com Meishu-Sama e dele nos aproximar é, para nós, que seguimos o caminho traçado por ele em seus Ensinamentos, um grande desejo e também a meta de todo o nosso esforço. O livro Luz do Oriente é um bom orientador para isso. Desejo que, daqui para frente, o tenham sempre em mãos e o utilizem como guia, para corresponderem ainda mais à Vontade de Meishu-Sama. ITSUKI OKADA Terceira Líder Espiritual da Igreja Messiânica Mundial
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APRESENTAÇÃO À EDIÇÃO BRASILEIRA
É imensa a minha alegria pela edição, em língua portuguesa, do livro "Luz do Oriente". Em sua edição original, em japonês, o livro foi publicado em dezembro do ano passado, antecedendo o ano comemorativo do centenário de nosso Mestre; desde então, tem sido muito apreciado pêlos fiéis japoneses, que nele têm encontrado informações que lhes permitem conhecer, ainda mais profundamente, o sentimento altruísta característico de Meishu-Sama. Através de sua leitura constante, nele podemos, ainda, encontrar diretrizes que nos permitem um melhor posicionamento, nesta época conturbada em que vivemos. O fato de ele ter sido traduzido e editado em língua portuguesa e estar, agora, ao alcance de todos os brasileiros é, para mim, motivo da maior satisfação. Meishu-Sama fundou a nossa Igreja com o objetivo de concretizar o Mundo Ideal de Verdade-BemBelo, um mundo de eterna paz. Paralelamente às atividades religiosas, entretanto, apresentou, divulgou amplamente e, sobretudo, esforçou-se ele mesmo, desde a época inicial, na prática de teorias inovadoras nos campos da política, economia, educação, arte, medicina, agronomia e em todos os demais campos das ciências sociais e naturais. Hoje, por intermédio de seus seguidores em todo o mundo, o pensamento de Mei-shu-Sama frutificou de diversas formas, através de atividades como as do Museu de Arte M.O.A., voltadas para a salvação através do Belo; a Academia Sanguetsu de Vivificação pela Ror, que impulsiona a formação do Paraíso através das flores; a Agricultura Natural, que visa a promover a verdadeira saúde do homem; os trabalhos do Instituto de Pesquisas Ecológicas, voltados para a proteção e preservação do meio ambiente etc.. Temos ainda a M.O.A. que, ultrapassando fronteiras e diferenças étnicas e religiosas, vem desenvolvendo, com espírito de compreensão e ajuda mútua, inúmeras atividades educacionais, assistenciais e culturais. O pensamento e a filosofia de Meishu-Sama, que fundamentam essas atividades, são de uma amplitude e profundidade imensas. Nem é preciso dizer que, para nós, fiéis da Igreja Messiânica Mundial, Meishu-Sama é o modelo do qual procuramos nos aproximar mais e mais, estudando-O constantemente. Nesse sentido, tenho a certeza de que a publicação deste livro, que registra fielmente sua vida e suas realizações — ao lado da publicação de obras como os Ensinamentos ("Alicerce do Paraíso") e as "Reminiscências de Meishu-Sama" — representa mais uma Luz para seguirmos seus passos e assimilar-lhe o comportamento, manifestação concreta de seu espírito. Hoje, com o desenvolvimento das diversas atividades messiânicas, pessoas de todo o mundo — e não apenas os membros de nossa Igreja — vêm despertando para o desejo de assimilar o pensamento e a filosofia de Meishu-Sama. Assim, é grande a minha expectativa de que este livro sirva para apresentar ao mundo a divina espiritualidade de nosso Mestre, servindo de ponte para guiar até ele toda a humanidade. Finalizando, expresso meus sinceros agradecimentos a todas as pessoas que, direta ou indiretamente, colaboraram para que esta obra viesse a ser editado em língua portuguesa. TSUTOMU NAKAMURA Presidente da Igreja Messiânica Mundial
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APRESENTAÇÃO DA REEDIÇÃO A publicação do livro Luz do Oriente partiu do desejo da nossa Segunda Líder Espiritual em 1961. Foi formada a Comissão de Compilação da História do Fundador Mokiti Okada e teve início a coleta de dados para a sua execução. Por ocasião da comemoração dos 30 anos da fundação da Igreja, em 1965, foi possível lançar, como preparação, o livro Reminiscências sobre Meishu-Sama. Posteriormente, objetivando a publicação de uma biografia completa do Fundador, como parte das atividades comemorativas do seu Centenário, e graças ao desejo e apoio de inúmeras pessoas ligadas à Igreja Messiânica Mundial, em 23 de dezembro de 1981, lançamos o livro “Luz do Oriente”. Os 72 anos de vida de Mokiti Okada, que desejou ardentemente concretizar a Verdade e construir a verdadeira civilização, foram repletos de experiências que abrangiam os campos religioso, empresarial, educacional, artístico e filosófico. Através de uma investigação o mais fiel possível à realidade, a presente publicação retrata a ampla trajetória de Mokiti Okada. Embora ainda insuficiente esta biografia engloba o cotidiano, o ideal e a filosofia de Mokiti Okada e acreditamos que seja capaz de apresentar uma visão geral da vida do Fundador. Estamos convictos de que este livro oferecerá alimento espiritual e será um seguro norteador para todos nós que, espelhados nos ideais do Mestre, almejamos incessantemente nossa elevação como seres humanos e como participantes na construção do Mundo Ideal. Atendendo ao desejo de um grande número de admiradores e adeptos de Mokiti Okada, reeditamos o livro Luz do Oriente. Nesta segunda edição, corrigimos algumas datas e inserimos alguns trechos para maior clareza textual. Modificamos, igualmente, expressões que, sob o prisma do respeito aos direitos humanos, eram consideradas indevidas. Desejamos, sinceramente, que o presente livro faça parte da leitura diária daqueles que, de uma maneira ou de outra, possuem afinidade com a Obra de nosso Fundador. Igreja Messiânica Mundial - Maio de 1994
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NOTAS DO TRADUTOR
1- Nos nomes em japonês, utilizamos as seguintes grafias: a) n - para os sons nasais, mesmos antes de p e b. b) ss - para representar o som de c, mesmo no caso das palavras que têm sido comumente usadas com um s só, como por exemplo Osaka, que, neste caso, será escrita Ossaka, pois, do primeiro modo, em português, seria normal pronunciar Ozaka. c) z - para se representar esse som, mesmo quando não seja estritamente necessário. Por exemplo: Kizaemon, que, por estar entre vogais, poderia ser escrito com S. d) r - no início de palavra deve ser pronunciado com o mesmo som do r de Maria, e não de Henrique ou rua. e) sh - pronuncia-se como em inglês ( = ch em português.). f) h - essa consoante, no início das sílabas, deve ser pronunciada com o som aspirado, como o r de rico, e não como o h de híbrido, por exemplo, que é mudo. g) j - deve ser pronunciado com o som dj. h) g - pronuncia-se sempre com o som que ele tem na palavra guerra.
i) ō e ū – pronunciam-se essas vogais de forma mais prolongada. 2 - Devido à diferença entre as divisões políticas e territoriais do Japão e as do Brasil, não foi possível traduzir os endereços nos moldes brasileiros, dando a idéia exata dos termos. O endereço, por exemplo, da casa onde o Fundador nasceu é: Tokyo-to, Daito-ku, Hashiba 2 tyo-me 2 ban Distrito Federal / distrito / localidade ou bairro / conjunto de quadras / número Traduziríamos, então, para: Hashiba, quadra 2, nº. 2, Distrito de Daito, Tóquio. D.F., o que é apenas uma tradução aproximada. 3 - No caso de trechos extraídos de outras obras, foram citadas as fontes. 4 - Os nomes aqui empregados nem sempre são os de registro. No caso da pessoa ser conhecida por um nome que não é o de registro, utilizou-se esse nome. 5 – Os nomes de pessoas foram escritos na forma como são usados no Japão: o sobrenome primeiro, o nome depois, e conforme as grafias aqui indicadas.
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ÍNDICE PREFÁCIO.........................................................................................................................................10 APRESENTAÇÃO À EDIÇÃO BRASILEIRA................................................................................11 APRESENTAÇÃO DA REEDIÇÃO.................................................................................................12 NOTAS DO TRADUTOR..................................................................................................................13 ENSINAMENTOS DO FUNDADOR..............................................................................................17 LUZ DO ORIENTE...................................................................................................................17 MINHA HISTÓRIA...................................................................................................................19 Introdução...................................................................................................................................19 Meu mistério...............................................................................................................................19 Sou Deus ou ser humano?..........................................................................................................20 ESTADO DE UNIÃO COM DEUS...........................................................................................22 O SÉCULO XXI.........................................................................................................................23 NASCIMENTO DA IGREJA MESSIÂNICA MUNDIAL........................................................26 ELIMINAÇÃO DA TRAGÉDIA...............................................................................................29 O PARAÍSO É O MUNDO DA ARTE......................................................................................30 PRINCÍPIO DA AGRICULTURA NATURAL.........................................................................31 CAPÍTULO I .....................................................................................................................................33 NASCIMENTO..............................................................................................................................33 1.O ALVORECER DA NOVA ERA..........................................................................................35 a)A NOVA ERA..........................................................................................................................35 b)HASHIBA 18).........................................................................................................................37 c)A VIDA DA FAMÍLIA............................................................................................................39 2.LINHAGEM FAMILIAR........................................................................................................40 a)O BISAVÔ...............................................................................................................................40 b)OS AVÓS.................................................................................................................................42 c)OS PAIS...................................................................................................................................43 CAPÍTULO II ....................................................................................................................................44 INFÂNCIA.....................................................................................................................................44 1.OS SETES ANOS DO PRIMÁRIO........................................................................................46 a)SISTEMA ESCOLAR DA ÉPOCA........................................................................................46 b)ESCOLA PARTICULAR DO TIPO “TERAKOYA”.............................................................47 c)TRANSFERÊNCIA PARA UMA ESCOLA RENOMADA...................................................47 2.LEMBRANÇAS DA INFÂNCIA...........................................................................................48 a)AS CRIANÇAS DA ZONA INDUSTRIAL E COMERCIAL...............................................49 b)AS PESSOAS POBRES.........................................................................................................49 c)A HISTÓRIA DOS DOIS VELHINHOS................................................................................50 CAPÍTULO III...................................................................................................................................51 JUVENTUDE.................................................................................................................................51 1.A LUZ E AS TREVAS............................................................................................................53 a)A ESCOLA DE BELAS-ARTES DE TÓQUIO......................................................................53 b)CONTÍNUA LUTA CONTRA A DOENÇA...........................................................................54 2.O NOVO CAMINHAR...........................................................................................................55 a)NIHON-BASHI, KYO-BASHI, TSUKIJI..............................................................................55 b)APRENDIZAGEM DE “MAKI-E”........................................................................................56 3.ESFORÇO PARA O CRESCIMENTO...................................................................................58 14
a)RUIKO KUROIWA E O JORNAL “YOROZUTYOHO”......................................................58 b)ESTUDOS DE FILOSOFIA...................................................................................................59 CAPÍTULO IV...................................................................................................................................61 CAMINHO NO MUNDO EMPRESARIAL.................................................................................61 1.INDEPENDÊNCIA.................................................................................................................63 a)MORTE DO PAI.....................................................................................................................63 b)A LOJA DE MIUDEZAS KORIN-DO...................................................................................64 c)CASAMENTO........................................................................................................................66 2.COMÉRCIO POR ATACADO - A LOJA OKADA................................................................67 a)AMPLIAÇÃO DOS NEGÓCIOS...........................................................................................67 b)CRIAÇÃO DE BIJUTERIAS.................................................................................................68 c)TIPOS DE PENTEADOS.......................................................................................................70 3.VISITA A TENSHIN OKAKURA..........................................................................................71 4.A MORTE DA MÃE...............................................................................................................72 5.AS DOENÇAS........................................................................................................................74 CAPÍTULO V.....................................................................................................................................77 DE VENTO EM POPA...................................................................................................................77 1.SUCESSO................................................................................................................................79 a)A TRANSAÇÃO COM A LOJA MITSUKOSHI...................................................................79 b)A INVENÇÃO DO “DIAMANTE ASSAHI”........................................................................79 c)UMA ADMINISTRAÇÃO RACIONAL................................................................................81 d)A ÉPOCA DO BAIRRO DE KITAMAKI..............................................................................84 e)ADMINISTRAÇÃO DO CINEMA........................................................................................86 2.SENTIMENTO FILANTRÓPICO..........................................................................................87 a)AMOR QUE NÃO VISA À RECOMPENSA........................................................................87 b)SENTIMENTO DE JUSTIÇA................................................................................................88 CAPÍTULO VI...................................................................................................................................91 CONVERSÃO................................................................................................................................91 1.OS SEGUIDOS SOFRIMENTOS...........................................................................................93 a)FALÊNCIA DO BANCO SOKO............................................................................................93 b)MORTE DA ESPOSA E DOS FILHOS.................................................................................94 c)SEGUNDO MATRIMÔNIO...................................................................................................95 2.O SEGUNDO NASCIMENTO...............................................................................................97 a)À PROCURA DA SALVAÇÃO..............................................................................................97 b)INSTITUIÇÃO DA SOCIEDADE ANÔNIMA.....................................................................99 c)COLAPSO DA EMPRESA...................................................................................................100 d)ESFORÇO PARA A RECUPERAÇÃO................................................................................102 e)RETORNO À RELIGIÃO....................................................................................................103 CAPÍTULO VII................................................................................................................................106 APREENSÃO DA ESSÊNCIA DE DEUS..................................................................................106 1.CONSCIENTIZAÇÃO DA VONTADE DIVINA................................................................108 a)PESQUISA DO MISTÉRIO.................................................................................................108 b)A VOZ DE DEUS.................................................................................................................109 c)“KENSHINJITSU”................................................................................................................110 d)SUCESSIVOS MISTÉRIOS.................................................................................................112 e)PESQUISAS SOBRE O ESPÍRITO DIVINO......................................................................115 2.FOMENTO PARA A FUNDAÇÃO DA IGREJA.................................................................117 a)ATIVIDADES LITERÁRIAS...............................................................................................117 b)DIFUSÃO EM TÓQUIO......................................................................................................119 c)A EVIDÊNCIA DAS PROVAS.............................................................................................121 15
d)DEDICAÇÃO EXCLUSIVA À OBRA DIVINA.................................................................126 CAPITULO VIII...............................................................................................................................128 A REVELAÇÃO DIVINA...........................................................................................................128 1.VISITA AO TEMPLO NIHON-JI.........................................................................................130 a)O TEMPLO NIHON-JI DO MONTE KENKON.................................................................130 ( Ou Montanha Nokoguiri )......................................................................................................130 ........................................................................................................................130 b)VISITA AO TEMPLO...........................................................................................................131 c)REVELAÇÃO DO ALVORECER DA NOVA ERA............................................................134 2.SIGNIFICADO DA REVELAÇÃO......................................................................................136 a)TRANSIÇÃO DA NOITE PARA O DIA.............................................................................136 b)O ALVORECER DA NOVA CIVILIZAÇÃO......................................................................137 c)ESTABELECIMENTO DO JOHREI (1ª fase).....................................................................138 d)ESTABELECIMENTO DO JOHREI (2ª fase).....................................................................139 3.SEGUINDO UNICAMENTE O CAMINHO DA SALVAÇÃO DOS HOMENS................141 a)COMO MISSIONÁRIO........................................................................................................141 b)SALVAÇÃO ATRAVÉS DAS PINTURAS E ESCRITAS...................................................144 CAPÍTULO IX.................................................................................................................................147 CAMINHO DA SALVAÇÃO DO MUNDO................................................................................147 1.CHEGADA DO MOMENTO OPORTUNO.........................................................................149 a)CRISE INTERNA E EXTERNA..........................................................................................149 b)PRESSÃO SOBRE AS NOVAS RELIGIÕES......................................................................151 c)ABERTURA DA CASA OJIN-DO.......................................................................................152 2.PREPARAÇÃO PARA A FUNDAÇÃO DA IGREJA..........................................................153 a)A IMAGEM DO KANNON DE MIL BRAÇOS..................................................................153 b)A ORAÇÃO “ZENGUEN-SANJI”.......................................................................................156 c)ELABORAÇÃO DO ESTATUTO........................................................................................156 d)INSTITUIÇÃO PROVISÓRIA............................................................................................158 3.PIONEIROS DA IGREJA.....................................................................................................159
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ENSINAMENTOS DO FUNDADOR
LUZ DO ORIENTE Creio que a expressão “Luz do Oriente” surgiu há uns dois mil anos, em determinada parte da Europa, tendo-se propagado gradativamente a ponto de hoje não existir quem a desconheça. Até agora, no entanto, por ignorância do seu verdadeiro significado, ela continua envolvida em mistério. Assim, gostaria de mostrar o que realmente significa essa expressão. Indiscutivelmente, “Luz do Oriente” era uma predição relacionada à minha pessoa. Não haverá quem não se espante ao tomar conhecimento dessa verdade, e poucas pessoas conseguirão aceitá-la de imediato. Por isso, tentarei me explicar melhor, apresentando provas reais do que estou dizendo. A primeira prova é o local onde nasci e o trajeto das mudanças que fiz. Nasci num bairro antigamente denominado Hashiba, situado em Assakussa, na cidade de Tóquio. O país chamado Japão, como todos sabem, localiza-se no extremo leste do globo terrestre; acrescentese que Tóquio é uma cidade do leste do Japão. O leste de Tóquio é Assakussa, cujo leste, por sua vez, é Hashiba, o bairro ao qual me referi há pouco. A leste desse bairro está o rio Sumida. Assim, Hashiba é realmente o leste do leste; em termos mundiais, é o extremo leste do mundo. Aos oito anos, fui morar no bairro de Senzoku, a oeste de Hashiba; mais ou menos na época em que concluí o curso primário, mudei-me para o bairro de Naniwa, em Nihon-bashi, e em seguida, para Tsukiji, em Kyo-bashi; depois fui para os bairros de Oi e Omori, ambos em Ebara; mais tarde, transferi-me para Koji e, a seguir, para Tamagawa, onde existe, atualmente, o Solar da Montanha do Tesouro. Posteriormente, dando um salto bem grande, mudei-me para Hakone e Atami, e, agora, para Quioto. Assim, troquei de residência dez vezes, e dessas mudanças, excetuando-se o bairro de Koji, nove foram para o oeste. Naturalmente, daqui em diante a Luz do Oriente avançará cada vez mais para o oeste; um dia, é óbvio, chegará à China e, finalmente, à Europa. Analisando os diferentes aspectos da cultura japonesa até o presente momento, constatamos que todos eles nasceram no oeste e foram se expandindo em direção do leste. Entre as religiões, o budismo, incluindo todas as suas ramificações, o cristianismo e o xintoísmo - este último, originário do Japão nasceram no oeste e foram se propagando para o leste. A religião budista Nitiren foi a única que nasceu no leste. E isso tem uma profunda razão de ser. Vejamos. O budismo, como tenho dito, foi criado para promover a salvação das criaturas na Era da Noite, isto é, o período em que o mundo era protegido pela deusa da Lua. Entretanto, como tudo ocorre primeiramente no Mundo Espiritual, chegando a época apropriada à mudança para a Era do Dia, iniciou-se naquele mundo, há setecentos anos, o primeiro estágio do Alvorecer. Foi por isso que nasceu Nitiren Shonin. Crendo em Buda, assim que terminou seus primeiros aprimoramentos, ele tomou a decisão inabalável de se dedicar à divulgação do sutra “Hoke”, pregado pelo Mestre. Primeiramente foi a Awa, sua terra natal, e, escalando o Monte Kiyossumi, próximo ao mar, entoou em voz alta, no momento em que o Sol estava para nascer, as palavras “Nan-myo-ho-rengue-kyo” ( 1 ). A partir de então, divulgou para o mundo o sutra “Hoke” com todas as suas forças, enaltecendo-lhe os benefícios. Mais tarde, lutou contra inúmeras perseguições, até que, finalmente, estabeleceu uma seita inabalável como é hoje a Hoke-kyo( 2 ), que merece todo o nosso respeito. (1) (2)
– Palavras pronunciadas pelos fiéis da Religião Nitiren para pedirem proteção e atingirem a iluminação. – Também conhecida pelo nome de Religião Nitiren.
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Esse grande feito de Nitiren representava o primeiro raio da Luz do Oriente. Em termos espirituais, podemos dizer que, no extremo leste do Mundo Espiritual, até então imerso nas trevas, era um brilho bem fraco e pequeno, o primeiro indício de que o Sol estava para nascer. Naturalmente, isso não se evidenciava aos olhos humanos, mas em verdade constituía uma importante realização Divina no avanço da Grande Providência. Seiscentos e tantos anos depois, chegada a hora do Alvorecer, no dia 15 de junho de 1931, levando trinta e poucos acompanhantes, escalei o Monte Nokoguiri ( 3 ), situado em Awa, onde se localiza o Templo Nihon-ji, e no topo desse monte, em direção ao céu do leste, entoei uma oração. Na mesma hora, ocorreu algo misterioso. Ainda não me é permitido revelá-lo, mas significava a demarcação da mudança da Noite para o Dia, promovida pela Providência de Deus. O interessante é que o Monte Kiyossumi fica a leste do Monte Nokoguiri. E, devido à grande proximidade de ambos, são realmente montes irmãos. E Nihon, o nome do templo, que significa “Nascente do Sol”, também está insinuando aquela mudança. Acima escrevi sobre a afinidade do Japão com o budismo. Quanto ao confucionismo, à moral, à sinologia, à medicina chinesa e todas as primeiras expressões da cultura japonesa, foram importadas da China e da Coréia. Nos últimos tempos, foi introduzida no país a cultura ocidental, de modo que a maior parte da sua cultura provém do oeste. Além da Religião Nitiren, não existia nenhuma outra expressão cultural japonesa que tivesse nascido no leste. Mas agora precisamos refletir: se, através dessa cultura nascida no oeste, se tivesse conseguido formar um mundo ideal de paz e felicidade, que teria eu para falar? O que vemos, entretanto, é justamente o contrário. Materialmente, o mundo se tornou uma civilização magnífica, porém o mais importante, que é a felicidade humana, não foi alcançado; e o pior é que, segundo tudo indica, também não o será, no futuro. Certamente, todos pensam assim. No entanto, embora o homem contemporâneo não possua nenhuma esperança e viva uma vida cotidiana sem objetivos, sentindo uma intranqüilidade inexplicável, a maioria das pessoas, no íntimo, não cessa de ansiar pela luz da esperança. O centro desse desejo, na realidade, é a Luz do Oriente. Como podemos ver, os fundamentos da civilização seguiram uma trajetória contrária à ordem natural, o que pode ser muito bem compreendido ao observarmos a Natureza: o Sol e a Lua despontam no leste e descrevem órbita em direção do oeste. Sendo esta uma verdade eterna, o que nasce no leste representa a própria Verdade. Assim, posso afirmar com toda segurança que as pessoas que acreditarem em minhas palavras, procedendo em conformidade com elas, conseguirá obter a verdadeira felicidade. Em resumo: eu purificarei toda a água turva impelida do oeste para o leste, devolvê-la-ei pura e construirei um mundo límpido como o cristal. (Jornal Eiko, nº 182,12 de novembro de 1952).
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– Nome oficial da Montanha Nokoguiri, no Estado de Tiba.
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MINHA HISTÓRIA
Introdução Atualmente, mais da metade das pessoas do mundo inteiro professam alguma fé religiosa. A grande maioria segue uma das três grandes religiões: o cristianismo, o islamismo ou o budismo fundado respectivamente, como todos sabem, por Jesus Cristo, Maomé e Sakyamuni. O principal meio de divulgação empregado por esses religiosos foi a palavra escrita e oral, fundamentada em seus ensinamentos; parece mesmo que não se utilizaram de nenhum outro método. O meu caso, porém, é totalmente diferente. Tal como essas religiões, também temos ensinamentos, mas eles constituem apenas um dos nossos meios de divulgação e, no seu conjunto, abrangem todos os aspectos da cultura necessários à vida humana. Pretendemos, especialmente, corrigir os erros da civilização já formada, e o fazemos através dos mais diversos métodos e de fatos reais. O nosso maior objetivo é eliminar deste mundo a doença, a miséria e o conflito. Entretanto, como sempre tenho falado sobre esse tema, não me aterei a ele aqui. Aqueles que me conhecem, cientes da grande obra de salvação por mim realizada, naturalmente gostariam de saber tudo o que for possível a meu respeito; no futuro, será incalculável o número de pessoas, no mundo inteiro, que terão o mesmo desejo. Assim, como criador do princípio do Mundo Paradisíaco, pretendo deixar para as gerações vindouras a imagem mais fiel da minha pessoa, e por isso escreverei a meu respeito. Parece-me estranho que aqueles três grandes religiosos - Cristo, Maomé e Sakyamuni - tenham expressado suas idéias de forma tão bem elaborada, através de magníficos ensinamentos, como podemos ver, por exemplo, nos oitenta e quatro mil livros relacionados ao budismo - esforço esse louvável - mas nada tenham falado a respeito de si mesmos. É como se estivessem trajados com magníficas vestes e não quisessem tirá-las; desse modo, não podemos conhecer suas impressões e confissões. Talvez eles não nos tenham revelado o seu íntimo por não terem vontade de fazê-lo, mas acho isso realmente lamentável. Quanto a mim, acontece justamente o contrário. Desejo escrever tudo a meu respeito, com todos os detalhes. Provavelmente encontrarão pontos incompreensíveis em minhas explanações, fatos que lhes parecerão verossímeis ou inverossímeis, grandes ou pequenos, claros ou obscuros, finitos ou infinitos etc.. Por isso, creio que; saboreando minhas palavras, conseguirão obter a sabedoria da vida e tornar-se-ão possuidores de espírito inabalável.
Meu mistério Acredito que, desde a criação do mundo, nunca existiu pessoa tão misteriosa quanto eu. Realmente, sou misterioso em tudo, Ora, se eu próprio penso dessa forma, quanto mais as outras pessoas... Certamente ficarão como cegos, tentando captar minha imagem real. É curioso, entretanto, que nada atrai mais o interesse do homem que o mistério. E existe mistério em todas as coisas. Antropólogos pesquisam ruínas antigas e a vida dos povos primitivos para descobrir o mistério que envolve aquela época; cientistas chegam a dedicar toda a sua vida à pesquisa dos fenômenos físicos, dissecando-os e fazendo estudos especiais sobre eles, criando a partir do nada, descobrindo o átomo e tentando conhecer a teoria da transformação da matéria, para revelar esses mistérios; médicos passam a vida inteira olhando por um microscópio, dedicando-se à análise de cadáveres e a experiências com animais, no objetivo de descobrir o mistério da vida; astrônomos vivem a observar o céu através de telescópios, pesquisando compenetradamente os astros, o vento, a chuva, os relâmpagos, as mudanças do tempo etc. Idêntico esforço é desenvolvido por historiadores, geógrafos e outros estudiosos. Literatos e artistas plásticos também fazem o mesmo, a fim de receberem inspiração e descobrirem o
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mistério da Arte. A forma difere de acordo com a especialidade, mas todos são guiados por um só desejo: desvendar o mistério. O assunto é um pouco diferente, mas até mesmo o amor-paixão entre um homem e uma mulher se fundamenta na atração do mistério. Também é um grande mistério alguém se envolver sentimentalmente a ponto de dar fim à própria vida por não querer se separar da pessoa amada. Dessa forma, podemos dizer que a vida é uma luta incessante contra o mistério. Realmente, este é inexplicável, quer por meio de teorias, quer por meio da lógica. Além disso, seu poder é infinito. Conseqüentemente, podemos afirmar que a condição fundamental para a cultura ter chegado ao ponto em que chegou, foi a pesquisa do mistério. Mas devemos dizer que o mistério dos mistérios é a fé. O mistério da crença nos deuses supera o do amor-paixão, muito embora, hoje em dia, salvo raras exceções, não existam religiões com mistérios. Na época de sua fundação, certamente elas os possuíam em grande quantidade, mas todos eles foram desvendados com o decorrer do tempo. Em comparação, algumas religiões novas encenam muitos mistérios e por isso, embora criticadas, passaram à frente das religiões tradicionais e estão se expandindo amplamente. A diferença é semelhante à que existe entre uma moça que acabou de se casar e uma senhora casada há muito tempo. Entretanto, é claro que mesmo nas religiões novas a quantidade de mistérios varia bastante de uma para outra. Modéstia à parte, não existe religião tão cheia de mistérios quanto a nossa Igreja Messiânica Mundial. Poderão comprová-lo pela rapidez com que ela está se expandindo. Como sou eu a origem desse milagre, não se pode calcular quão rico é o poder misterioso que está no meu interior. Por isso, desejo fazer com que compreendam profundamente as minhas palavras, embora seja realmente difícil explicar, porque, depois de certo limite, o entendimento é proporcional ao grau de inteligência de cada um. Para que me compreendam, não há outro meio, portanto, a não ser polirem a alma e tornarem-se sábios. Farei agora uma autodissecação dos mais diversos ângulos da minha personalidade, para me revelar inteiramente.
Sou Deus ou ser humano? Não existe pessoa tão singular quanto eu. Nos limites do que se conhece desde os tempos antigos, através das biografias de religiosos, sábios, grandes personagens etc., não há ninguém que se encaixe nos mesmos moldes. Com certeza, trata-se de um fato inédito desde o início do mundo. Eu próprio, quanto mais penso nisso, creio que tudo se resume numa palavra: mistério. Conseqüentemente, no futuro, quando se fizerem pesquisas sobre minha pessoa, inevitavelmente surgirão inúmeras críticas. Com esse pensamento, quero deixar retratada a minha imagem mais real. O que julgo mais interessante, ao escrever sobre mim mesmo, é a minha própria personalidade. Os mistérios que me envolvem são tantos, que eu vou me analisar não só de acordo com o meu próprio ponto de vista, mas também de terceiros. Até as pessoas que têm contato comigo há mais de dez anos ainda não compreenderam realmente esses mistérios; nem mesmo minha esposa parece entender-me muito bem. Naturalmente, sou religioso, mas não sou um fundador de religião como o foram Sakyamuni ou Jesus Cristo; tampouco sou um personagem sobrenatural. Em verdade, abranjo aspectos muito amplos. Quando jovem, nunca atentei para esse fato; tinha apenas uma leve consciência de ser um pouco diferente das pessoas comuns. A principal diferença que eu encontrava em mim é que não sentia nenhuma inclinação para adorar qualquer pessoa, fosse ele um grande personagem histórico ou qualquer outra eminência. A verdade é que eu não julgava ninguém tão relevante a ponto de ser superior a mim. Não era pretensão nem presunção; era um sentimento que surgia naturalmente, e por isso muitas vezes cheguei até sentir solidão. Outra de minhas características particulares é um forte sentimento de justiça e o dobro de ódio ao mal sentido pelas pessoas comuns. Eu sofria bastante para dominar o furor que sentia ao ler os jornais diários. Acreditava, então, que, para diminuir as injustiças que se me deparavam o melhor meio era fundar um jornal. Naquela época, uma pessoa só conseguiria abrir uma empresa jornalística
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se tivesse mais de um milhão de ienes, e eu tive de trabalhar bastante para obter essa quantia. Lamentavelmente, ao contrário do que esperava, acabei fracassando. No entanto, como esse fato se tornou um dos motivos que me levaram a seguir a vida religiosa, considero-o até positivo. Foi assim que ocorreu o meu ingresso na Religião Omoto. Graças a essa religião, eu, que até então era completamente agnóstico, pude conscientizar-me profundamente da existência de Deus. Como me aconteciam surpreendentes milagres, uns após outros, é claro que meu sentimento mudou completamente, dando uma volta de cento e oitenta graus. A cada dia aumentava o número de milagres, até que finalmente recebi a revelação espiritual sobre a minha vida no passado, no presente e no futuro, além de ser investido de um poder sobre-humano e da grande missão de salvar a humanidade. Um fenômeno que achei muito curioso, nessa época, é que uma força grandiosa me manejava livremente, fazendo com que, por meio de milagres, eu me encontrasse, pouco a pouco, com o Mundo de Deus. A minha alegria, nessas horas, era irrefreável. Era uma sensação indescritivelmente profunda, nítida e elevada. Além do mais, os milagres continuavam, acontecendo fatos interessantíssimos. Não sei quantas vezes cheguei a provar essas sensações num só dia. O maior de todos os milagres foi o que ocorreu em dezembro de 1925, último ano do reinado do imperador Taisho. (Artigo não publicado, escrito em 1952).
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ESTADO DE UNIÃO COM DEUS
Desde os tempos antigos, muito se tem falado sobre pessoas que vivem em estado de perfeita união com Deus, mas eu creio que jamais existiu alguém que realmente tivesse vivido nesse estado. De fato, os três grandes religiosos Sakyamuni, Jesus Cristo e Maomé - pareciam unos com Deus, mas, em verdade, eram apenas mensageiros da Vontade Divina; em termos mais claros, eram mensageiros de Deus. Dessa forma, não se sabia fazer diferença entre uma pessoa em estado de união com Deus e um mensageiro de Deus. Os mensageiros de Deus atuam através de encostos ou seguindo as determinações Divinas. Por isso, sempre rezam a Deus e pedem Sua proteção. Eu, porém, não faço nada disso. Como os fiéis sabem, não oro a Deus nem Lhe peço orientação. Basta que eu aja de acordo com a minha própria vontade, o que é muito fácil. Visto que poderão estranhar o que estou dizendo, por ser algo inédito, explanarei apenas os pontos que não acarretam nenhum problema.
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Como sempre digo, há uma Bola de Luz em meu ventre. Essa Bola é o Espírito de Deus, de modo que Ele mesmo maneja livremente meus atos, minhas palavras, tudo. Ou seja: em mim não há distinção entre Deus e o homem. Este é o verdadeiro Estado de União com Deus. Como o Espírito Divino que habita o meu ser é o mais elevado, não existindo nenhum deus superior a este, não faz sentido reverenciar outros deuses. A melhor prova são os milagres manifestados diariamente pelos fiéis. Ora, se até os meus discípulos evidenciam milagres que não são inferiores aos manifestados por Cristo, poder-se-á, através desse único fato, imaginar a minha hierarquia divina. Acrescente-se, ainda, que todos os religiosos existentes até agora previram a concretização de um mundo paradisíaco, mas não disseram que seriam eles os construtores desse mundo. Isto porque seu nível divino era inferior, e seu poder, insuficiente. Mas eu afirmo que o Paraíso Terrestre, mundo sem doença, miséria e conflito, será construído por mim. Daqui para frente evidenciarei inúmeras realizações surpreendentes, nunca vistas até agora, e por isso gostaria que as observassem com muita atenção. Surgirão inúmeras ocorrências inconcebíveis em termos de realização humana. (Jornal Eiko, nº 155, 7 de maio de 1952).
O SÉCULO XXI Acordei às seis horas da manhã, ao som de uma música bem baixinha, que parecia sair do travesseiro. Ela foi ficando cada vez mais alta, e, como eu não conseguia dormir, levantei-me. “Que interessante! Um despertador acionado dentro do travesseiro!” - pensei eu. Lavei o rosto e tomei a refeição matinal, uma mescla dos hábitos japoneses e ocidentais: sopa de “misso” ( 4 ), pão de arroz, um pouco de peixe e carne, verdura, café, chá verde etc.. Em primeiro lugar, li o jornal. Numa manchete da primeira página, anunciava-se a eleição do Presidente Mundial. O dia da eleição estava próximo. Publicavam-se os nomes e as fotos dos candidatos de diversos países: Estados Unidos, Inglaterra, França, Alemanha, Vietnã, Japão, União Soviética (cujo nome era outro) e países da América do Sul. Parece que o candidato dos Estados Unidos era o preferido.
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– Massa de soja para fazer sopa.
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Na página três, deparei com algo inesperado: quase não existiam artigos sobre crimes. Dava-se grande destaque à parte relativa às diversões; os artigos principais versavam sobre esporte, turismo, música, belas-artes, teatro, cinema e outras artes cênicas etc.. A composição estava realmente muito bem feita. Os artigos não eram complexos e mal elaborados como acontecia nos jornais do passado, mas redigidos numa linguagem simples e precisa, restringindo-se unicamente ao necessário. Assim, gastava-se pouco tempo na leitura; percebia-se que havia cuidado para não cansar o leitor. Outra nota diferente em relação aos tempos antigos, era a grande quantidade de fotos: cinqüenta por cento de textos e cinqüenta por cento de fotos. A página de anúncios e classificados também era muito diferente. Quase não havia propaganda de remédios, e a de cosméticos era mínima. O que havia em abundância era propaganda de livros e artigos relacionados às vestimentas, alimentação, moradia, maquinaria, novos lançamentos etc.. A parte escrita era bem reduzida, por isso eu li o jornal todo em aproximadamente quinze minutos. Terminei a leitura com muito boa disposição. E não era para menos, pois a janela era ampla e a sala estava bem clara. Não havia nenhuma instalação de segurança: explicaram-me que assaltantes e ladrões eram histórias do passado. Por isso, achei que, de fato, aquele era um mundo maravilhoso. Terminada a leitura do jornal, peguei o carro e saí. Estava muito bem vestido, mas fiquei surpreso com a beleza da cidade. Parecia um jardim. Engraçado é que, além dos automóveis, não se via nenhum outro tipo de condução, o que não era de se admirar, pois os trens e os bondes trafegavam pelo subsolo; as ruas eram só para os automóveis. Além disso, estes não faziam nenhum barulho. Achando estranho, olhei bem e notei que a rua parecia estar forrada com cortiça. Observando melhor, percebi tratar-se de um material elástico e bastante macio, que parecia ter sido preparado com a mistura de borracha e pó de serra. Os carros trafegavam com pneus de borracha, e existiam dispositivos para isolar o som em volta das janelas e em toda parte, não havendo, pois, motivos para poluição sonora. Além do mais, se chovia, a água se infiltrava e por isso não se formavam poças. A força motora que movimentava os carros era um minério do tamanho da ponta de um dedo. Algo realmente extraordinário, porque conseguia fazer com que um carro percorresse várias dezenas de milhas. Esse minério assemelhava-se ao urânio e ao plutônio, sendo uma aplicação do princípio da desintegração do átomo. Assim que entrei no carro, vi que não havia motorista. Nem era preciso, pois bastava o passageiro segurar uma barra com uma das mãos para o carro movimentar-se. É claro, porém, que algumas pessoas se davam o luxo de ter motorista. Comecei a visita da cidade. Como era bela! Fiquei surpreendido ao ver árvores frutíferas enfileiradas entre a rua e a calçada, como acontecia antigamente com a avenca-cabelo-de-vênus e os plátanos. Havia figueiras, caquizeiros, ameixeiras e árvores mais baixas, como laranjeiras, pessegueiros e pereiras. No meio da rua existiam canteiros semelhantes aos de outrora, separando as duas mãos do trânsito; neles se enfileiravam árvores frondosas, cobertas de belas flores, e as bordas eram coloridas por todos os tipos de flores e plantas. Enquanto eu passava por elas, chegava a mim o perfume de uma flor que não consegui identificar. O que me pareceu mais bonito no passeio foi um caminho cheio de hortênsias, em determinado bairro, na extensão de uma milha. A segunda coisa mais bela foi o caminho que vinha em seguida, todo florido de dálias. Existia, também, um local onde se viam cachos de uvas pendurados nas duas calçadas das ruas, e latadas de glicínias cujas flores já haviam caído e que só tinham folhas. Em diversos pontos da cidade, havia pequenas casas de chá com mesas e cadeiras enfileiradas na beira das calçadas, a fim de que os transeuntes pudessem tomar bebidas simples apreciando as flores. Cada bairro possuía um ou dois pequenos parques públicos, onde as crianças brincavam alegremente, e por isso a cidade também era o Paraíso das Crianças. Alguns jardins de flores tinham um lago artificial bem no centro, e o interessante é que, em sua superfície, boiavam nenúfares. Todas as plantas eram regadas várias vezes por dia, numa hora determinada. Havia um encanamento instalado em volta dos jardins: era um cinturão quadrado, de cimento, com um número infinito de orifícios. Bastava abrir a torneira para que, desses orifícios, saíssem jatos d’água, como os de um chafariz, molhando todo o jardim. Outro aspecto que me surpreendeu foi o tempo, que também era controlável, podendo-se fazer sol ou chuva. Assim, se na manhã ou na tarde de certo dia da semana chovia, depois fazia bom tempo até determinado dia. O vento também estava controlado para soprar na proporção adequada, em dias espaçados, sendo que, de vez em quando, soprava um vento forte. Isso era inevitável, para que as
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árvores fortificassem suas raízes. A antiga expressão “de cinco em cinco dias ventar, de dez em dez chover” deve referir-se a essa época. Naturalmente, tudo decorria do progresso da Ciência. Nesse meu passeio pela cidade, vi algo interessante. Em diversos locais havia umas casinhas de vidro, semelhantes a caixas, onde se podiam ver desde árvores com folhas aciculiformes até árvores que apresentam sempre o mesmo aspecto, como pinheiros, cedros, ciprestes, lariços e outras. Nessas casas conservava-se a temperatura de mais ou menos dez graus centígrados; naturalmente, havia um aparelho de ar condicionado em cada uma. Era oásis artificiais para aqueles que transitavam pelos arredores, sob o sol quente do verão. Em todos esses locais vi jovens realizando diversas atividades sob a orientação de um responsável, que tinha vasto conhecimento de botânica e fora selecionado entre os componentes da comissão de cada bairro. Do carro, eu via as lojas da cidade, enfileiradas. Eram construções bem planejadas, cheias de beleza e altivez, proporcionando uma impressão muito agradável. As lojas um pouco maiores pareciam museus de artes. Aliás, não se via construções de mau gosto, de cores berrantes, pequenas como caixinhas de fósforo. Todas tinham janelas bem amplas e iluminação suave. A beleza da pintura e da escultura estava aplicada ao máximo. Enquanto eu fazia isso e aquilo, parece que ia anoitecendo, mas não se sentia que já era noite. Aliás, não era para menos, pois nas ruas, em determinados espaços, existiam postes de iluminação a mercúrio. Os raios de luz eram diferentes dos que são emitidos pelas lâmpadas: muito mais claros, um brilho surpreendente. Parecia estar-se recebendo a luz do Sol em plena tarde, e nenhuma das cores sofria modificação. Caros leitores gostaria que imaginassem o aspecto da cidade que acabei de descrever. As mais diversas flores, todas abertas, exalavam um perfume agradável por toda parte, e as árvores estavam carregadas de todos os tipos de frutas. O silêncio era tão grande que não parecia estar-se numa metrópole. Que passeio agradável! Olhando as vitrines das lojas, eu tinha a impressão de estar vendo uma exposição de belas-artes. Naquela cidade, até as lojas bem grandes conseguiam suprir as suas necessidades com apenas um ou dois funcionários, visto que as mercadorias tinham os preços marcados e qualquer pessoa podia pegá-las e examiná-las. Se os fregueses ficavam satisfeitos com o preço e o folheto de explicação, depositavam o dinheiro na caixa coletora, colocada à entrada da loja; o embrulho era feito automaticamente por uma máquina e, de acordo com o tamanho do objeto, era amarrado com um barbante, tornando-se fácil de carregar. Dessa forma, era realmente muito fácil fazer compras. Como sentisse fome, entrei num restaurante. Não se avistava nenhum garçom. De um lado da entrada estavam enfileirados pratos apetitosos, todos com uma identificação: A, B, C... Sentei-me num lugar desocupado e, olhando para a mesa, vi que era numerada. Depois, apertei um dos botões instalados no canto. Naturalmente, apertando o botão correspondente ao número da mesa e à identificação do prato, este aparecia imediatamente. Olhando com mais atenção, notei que no meio da mesa havia uma abertura mais ou menos do tamanho do prato, que por ali saía automaticamente. Assim, tudo que eu pedia subia logo em seguida. Não havia necessidade de nenhuma explicação; o serviço era muito rápido, muito agradável. Eu tinha ouvido falar que esse método já existia no século XX, mas me parecia inconcebível que estivesse tão aperfeiçoado. Obviamente, todas as bebidas saíam pela mesma abertura, mas as alcoólicas só apareciam até certo limite. Observando melhor, vi que havia mais um botão. Nele estava escrito: “Conta”. “Ah, então aperta-se esse botão...” Apertei. Imediatamente surgiu a notinha. Coloquei a quantia estipulada, e logo apareceu o recibo. Que facilidade! Fiquei satisfeito e não gastei muito tempo. Por isso, resolvi ir a um teatro. A quantidade de teatros era surpreendente. Qualquer cidade os possuía em tudo quanto é lugar, e, para meu espanto, o ingresso era muito barato. Imaginando que não haveria nenhum lucro, interpelei o gerente. Ele respondeu que todos os teatros eram administrados por milionários como obras sociais, e assim nem seria preciso cobrar ingresso. Não obstante, a construção e as instalações eram luxuosas, ostentando a maior beleza e boa qualidade. Não se permitia a entrada de espectadores além da quantidade de cadeiras, de modo que se podia assistir muito bem às representações. Quando entrei, estava havendo uma exibição cinematográfica curiosíssima. Exibiram-se dois filmes produzidos por uma companhia nipo-americana - um sobre os Estados Unidos e outro sobre o Japão. O primeiro era um filme histórico que retratava o período transcorrido desde a época em que os puritanos da Inglaterra foram para os Estados Unidos e começaram a desbravar a terra, até a Guerra da Independência. O segundo mostrava um personagem que poderíamos chamar de cientista religioso, o qual revolucionou a medicina e teve uma vida de lutas incessantes buscando solução para o
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problema da doença. Ambos os filmes eram muito interessantes. Ainda houve outro espetáculo, transmitido pela televisão, mas parecia uma peça representada em algum teatro. Como estava exausto, voltei para casa e fui dormir. Refletindo sobre o que vira nesse dia, concluí que realmente o sonho da humanidade havia sido concretizado. Fiquei bastante comovido, achando que era a Utopia há tanto tempo idealizada por ela, e meu espírito de pesquisa aumentou de forma irrefreável, pois eu sentia necessidade de conhecer todos os aspectos da cultura da Nova Era. Primeiramente, resolvi pesquisar em silêncio. Acreditando, entretanto, que os leitores também desejam conhecer tudo sobre esse novo mundo, relatarei, pela ordem dos fatos, aquilo que fiquei sabendo. O caso que se segue aconteceu no dia seguinte ao daquele passeio. Um vizinho meu convidou-me para ir a um lugar muito agradável, e eu o acompanhei sem hesitar. Mais ou menos no centro de certa cidade, existia um edifício surpreendentemente suntuoso. Dirigimonos para lá. Nele, havia teatro, restaurante, locais de diversão etc.. Eu quis saber que edifício era aquele, e meu amigo me disse que era o centro comunitário, acrescentando que todas as cidades tinham um ou dois desses centros. Em seguida ele falou que uma vez por semana os membros se reuniam para trocar idéias. Naturalmente avaliavam propostas sobre o plano de expansão da cidade, higiene, diversões e outros setores, objetivando aumentar o bem-estar dos cidadãos. Primeiramente nos encaminhamos ao restaurante, onde saboreamos pratos deliciosos; a refeição era excelente, muito melhor que as do século anterior, em termos de beleza, sabor da comida e aroma das bebidas alcoólicas. Pelo que meu amigo contou, uma vez por semana havia o Dia da Felicidade, em que os membros se reuniam e passavam momentos aprazíveis, saboreando pratos apetitosos, ouvindo música e assistindo a representações teatrais e exibições de dança. Nessa ocasião, as danças e as músicas eram apresentadas, com grande altivez, por moças de todas as famílias da cidade, as quais treinavam estas artes habitualmente. Artistas profissionais e amadores faziam apresentações conjuntas. Todas as despesas com essa e outras atividades eram feitas pelos milionários da cidade, através das instituições sociais. Nesse novo mundo, era surpreendente a intensidade do turismo. Nos parques nacionais, nas regiões montanhosas, nas praias e em ilhas pitorescas de várias regiões havia um grande número de visitantes, provenientes de todos os países. Conseqüentemente, por mais afastado que fosse um lugar, o progresso cobria todas as distâncias com trens elétricos, bondinhos aéreos e outros meios de transporte. As ferrovias e os meios de navegação eram magníficos e luxuosos; os preços, no entanto, eram bem baratos. Chegava a ser quase de graça. E não era de se admirar, pois tudo isso também se tornava possível graças à contribuição social dos milionários. Ouvi todas essas explicações durante o período de descanso, e nem preciso dizer que fiquei surpreso, não obstante tudo aquilo que já tinha visto. (Artigo não publicado, escrito em 1948).
NASCIMENTO DA IGREJA MESSIÂNICA MUNDIAL Por que foi criada a nossa Igreja? Quando analisamos a cultura moderna, que há milhares de anos a humanidade vem edificando com incansável esforço e dedicação, ficamos deslumbrados ante o seu aspecto esplendoroso e o incrível progresso que ela apresenta externamente. É desnecessário dizer que os homens da atualidade dispensam os maiores elogios a tudo isso. Entretanto, ao observarmos o outro lado dessa cultura, isto é, o seu conteúdo, deparamos com algo inesperado: ele é exatamente o contrário da parte externa. O que se opõe a esta é, naturalmente, a parte espiritual, onde não se vê nenhum progresso, a ponto de pensarmos que os homens do passado eram até superiores. No presente, se pesássemos numa balança o bem e o mal que existe no coração dos seres humanos, veríamos que, infelizmente, o mal tem muito mais peso.
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A influência maléfica que esse fato exerce sobre a sociedade humana é muito maior do que poderíamos imaginar. Isso se torna bem claro ao constatarmos que a guerra – o maior dos sofrimentos humanos – a doença, a pobreza, o crime, as calamidades naturais, enfim, todas as ocorrências desagradáveis, ao invés de diminuírem, tendem até a aumentar. Assim, é estranho que a cultura espiritual não acompanhe o progresso da cultura material e as pessoas não manifestem nenhuma desconfiança a respeito; pelo contrário, vão se deixando viciar pela cultura material, incrementando-a cada vez mais. Mas por que será que os religiosos, os escolásticos, os políticos e o grande número de intelectuais existentes em todos os países não despertam para essa realidade? Dentre eles talvez haja algumas exceções, mas tais pessoas nada fazem, pois, não conhecendo os fundamentos da questão, consideram que o fato é inevitável. Parece que elas estão resignadas, achando que se trate de uma condição inata da humanidade. O principal desejo do homem é ser feliz, e ele veio empregando toda a sua inteligência e utilizando-se dos mais diversos meios para concretizá-lo. Mas a aspiração de um mundo ideal acabou se tornando um sonho utópico. Nesse sentido, inicialmente, a humanidade procurou apoio na Religião. Entretanto, como a possibilidade de atingir seu objetivo unicamente através da Religião tornava-se pequena, procurou alcançá-lo através do Ensino, da Moral, da Filosofia e de outros meios surgidos no Oriente e no Ocidente a partir do século O. No Oriente, apareceram sábios como Confúcio, Meng-tzu e Chu-tzu; no Ocidente, educadores como Sócrates e filósofos como Kant, Hegel e outros. Logicamente a humanidade depositou neles suas esperanças. A partir do século XVII, porém, começou a surgir, no Ocidente, a ciência materialista, e foram se promovendo revoluções gradativas em todos os setores. O progresso da tecnologia mecânica deu origem à revolução industrial, e o mundo inteiro ficou encantado pela Ciência. Assim, ao invés de continuar seguindo caminhos tortuosos e longos como o da Religião e da Moral, considerou-se que, para aumentar a felicidade do ser humano e construir o mundo ideal, não havia meio mais eficiente que a cultura científica - visível palpável e comprovável. Além do mais, constatando que, quanto mais adiantada é a cultura de um país, mais rico e próspero ele é, mais armamentos possui, mais abençoada é a vida de sua população, mais ele é respeitado pelo mundo, chegando o seu poder a influenciar as nações vizinhas, os países, disputando entre si, procuraram imitá-lo. Por esse motivo, a cultura científica foi evidenciando um rápido progresso, até chegar ao estágio atual. Entretanto, como a humanidade se deslumbrou demais com ela, depositando-lhe excessiva confiança, sua parte espiritual acabou ficando debilitada, e seus preceitos morais decaíram. Assim, buscando apenas as coisas visíveis, os homens, inconscientemente; acabaram por se tornar escravos da Ciência. O ser humano, que na verdade deveria dominá-la, passou a ser dominado por ela. É o que se percebe atualmente. Por esse motivo, podemos dizer que estamos a um passo da catástrofe mundial e que o futuro da humanidade corre um sério perigo. A felicidade e até o mundo ideal, que eram a aspiração inicial de todos os homens, foram esquecidos, não se sabe quando, tendo-se chegado a um momento em que não se vai nem para frente nem para trás. Assim, quanto mais a cultura progride, mais o homem se distância da felicidade. É um resultado extremamente irônico. Parece uma gangorra: quando um dos lados sobe, o outro desce. Em termos mais concretos, inicialmente se tentou construir o Paraíso Terrestre com a cultura espiritual, mas, como a sua concretização parecia impossível, apelou-se para a cultura científica. Os homens avançaram com força total. Entretanto, como foi exposto anteriormente, ao invés de se alcançar o Paraíso, chegou-se a um estado pior que o do próprio inferno: a iminência da destruição da humanidade, com a descoberta da bomba atômica. O fato, porém, é que, embora se tenha chegado a uma época tão perigosa como a atual, os homens ainda não despertaram, continuando a venerar a ciência materialista. Em poucas palavras, eles fracassaram recorrendo à cultura espiritual e também à cultura material, mas infelizmente ainda não se cansaram das coisas ruins. Como solucionar esse problema? A tarefa mais importante de toda a humanidade é reconhecer os erros cometidos até agora e recomeçar da estaca zero. Ou seja, a solução é formar uma cultura cruzada, que não pende nem para o espírito nem para a matéria, mas funde e iguala ambas as partes. Somente assim estará concretizado o Paraíso Terrestre. Por tudo que vimos até agora, podemos dizer que a época atual é a época da mudança da velha para a nova cultura, a era da grande transição mundial a que sempre nos referimos. Será que, na história da humanidade, já foi registrada uma mudança tão grande? Em verdade, é um fato inédito. E como será essa nova cultura que ocupará o lugar da velha? Incontestavelmente, trata-se de algo que
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não pode ser compreendido, ainda que em pequena parcela, pela inteligência do homem contemporâneo. E quem se encarregará de criá-la? Neste momento que estamos vivendo, independentemente de crermos ou não, é imprescindível começarmos a admitir a existência do ser conhecido como Deus. Por conseguinte, darei explicações a respeito. Embora falemos simplesmente Deus, na verdade existem níveis - superior médio e inferior - com inúmeras funções. O xintoísmo admite a existência de uma infinidade de deuses. Até hoje, quando se fala em Deus, pensa-se no monoteísmo cristão ou no politeísmo xintoísta. Entretanto, ambas são visões arbitrárias. Na verdade, existe um único e verdadeiro DEUS, que se subdivide, transformando-se em vários deuses. Por isso, Ele é um e muitos ao mesmo tempo. Cheguei a essa conclusão através de longos anos de pesquisas sobre o Mundo Divino. Trata-se de um pensamento que já existia, mas parece que não se conseguiu dar maiores explicações a respeito. Até aquele Deus que veio sendo adorado como Supremo está abaixo da segunda classe. DEUS está muito além e só veio sendo venerado de longe pela humanidade. Mas quem é Ele, então? Não é outro senão o Senhor e Criador do Universo, ou seja, o Princípio de tudo. Aquele a quem os povos têm se referindo como Jeová, Logos, Deus, Tentei, Mukyoku, Segunda Vinda de Cristo, Messias etc.. O objetivo de DEUS é a construção do Mundo Ideal de perfeita Verdade, Bem e Belo, e, para tanto, era necessário que todas as condições fossem preenchidas. Ele estava aguardando o tempo certo. Essa hora chegou: é a época atual. Sendo assim, é preciso, antes de mais nada, que a humanidade se conscientize disso e que se processe a revolução espiritual de cada indivíduo. Darei uma prova do que escrevi acima. Nos Estados Unidos, começou a usar-se, ultimamente, a expressão Nação Universal. Obviamente, representa o Mundo Ideal, que eles julgam possível graças ao progresso alcançado pela civilização material. Entretanto, por mais que se fale em construir o Paraíso Terrestre, se a cultura for inferior, se os países estiverem isolados uns dos outros e as condições de transporte forem deficientes, o mundo continuará conturbado, e, o que é fundamental, será impossível unificar o pensamento da humanidade. Visto que finalmente chegamos à época da criação da nova cultura, é preciso conhecermos de antemão como é esse grandioso plano. Naturalmente, para que ele se concretize, Deus se utiliza de um ser humano. Considerando que a pessoa escolhida sou eu, não é nada difícil entender a razão pela qual foi criada a Igreja Messiânica Mundial. DEUS revela-me, a cada hora, o Plano do Paraíso e eu o ponho em prática conforme Suas ordens. Ao mesmo tempo, o que houver de útil na velha cultura será mantido, e o que não tiver utilidade será reformulado. Esse é o grande amor de DEUS. Aquilo que não puder se tornar útil, infelizmente terá de ser destruído para sempre. E o que é isso senão o Juízo Final? Realmente, constitui um motivo de gratidão e também de temor. Lamentavelmente, porém, embora eu apresente os fatos tal como eles me foram revelados por DEUS, os materialistas os interpretam de forma herética, fazendo severas críticas. Mas isso é natural, pois durante longo tempo os homens só tiveram a experiência de viver uma das formas da cultura - a espiritual ou a material - de modo que eles não podem compreender facilmente uma cultura cruzada, que não pende para nenhum dos lados. As pessoas que estão do lado da cultura espiritual, dizem que as graças materiais manifestadas por nós são realizações de uma fé de nível inferior, que busca apenas as coisas materiais. Elas acham que a fé superior busca unicamente a satisfação espiritual, e sentem satisfação sozinhas, enfileirando, escolasticamente, palavras difíceis. Entretanto, os resultados obtidos pelas religiões teóricas para salvar um grande número de pessoas, são insignificantes, e eu creio que essa é a causa da estagnação das religiões tradicionais. Já os que estão do lado da cultura material, devido à valorização exagerada do materialismo; afirmam que, além das coisas visíveis, tudo não passa de superstição. Naturalmente, não vêem motivos para crer na existência de Deus. E o pior é que, sobretudo entre a classe dirigente e a classe intelectual do Japão, é grande o número de pessoas desse tipo. Assim, elas olham supersticiosamente para a nossa Igreja, contestando-a com palavras orais e escritas. Os mais extremistas chegam até a pedir que o povo se acautele, evitando aproximar-se dela. Influenciadas por essa atitude, as pessoas hesitam em conhecê-la e, assim, não conseguem apreender a sua verdadeira imagem. Conseqüentemente, a maioria dos intelectuais, sem o saber, constitui um empecilho para a nova cultura. Sempre que nasce algo novo, fatalmente surgem opositores. Isso acontece tanto no Ocidente como no Oriente. Podemos dizer que é a triste predestinação de todos os anunciadores de uma nova época. O
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mais engraçado é que, quando surge uma teoria de nível não muito superior ao da cultura da época, os intelectuais a elogiam em coro. Isso ocorre porque as pessoas que receberam uma educação representativa da cultura tradicional têm maior facilidade para entender teorias desse nível. Os detentores do Prêmio Nobel enquadram-se em tal categoria. Todavia, quando surge uma teoria muito elevada, distante do nível cultural da época, os intelectuais consideram-na herética, combatem-na e tentam neutralizá-la. Isso também se evidencia entre os ocidentais, como podemos constatar pelos sofrimentos infligidos a inovadores como Jesus Cristo, Sócrates, Copérnico, Galileu, Lutero e outros. A teoria exposta por mim é muito mais inédita que a desses inovadores, adiantada um ou dois séculos em relação à época atual, e por isso as pessoas que a ouvem pela primeira vez e aquelas que estão bitoladas pela cultura tradicional, ficam boquiabertas e não pensam em analisá-la devidamente: anulam-na, afirmando de forma taxativa que se trata de mera superstição. Mas, reflitamos: se ela não passa de uma teoria evasiva, por que será que, sem sofrer o menor abalo, a nossa Igreja continua aumentando a sua expansão, embora receba tantas censuras, tantos ataques, e sofra opressões por parte das autoridades? Deve existir alguma razão. Não sei quantas vezes ela percorreu caminhos espinhosos e atravessou chuvas de flechas. Apesar de tudo, a obra de construção do Paraíso Terrestre está avançando bem mais rápido do que se esperava. Inegavelmente, isso é ininteligível para o raciocínio humano. O fato é que, uma vez se tornando membro da Igreja Messiânica Mundial, qualquer pessoa consegue manifestar um poder semelhante ao do fundador de uma religião. Um simples fiel manifestar milagres é coisa mais do que comum em nossa Igreja; é, realmente, uma extraordinária graça material. Além disso, através dos nossos ensinamentos, esse fiel consegue captar a essência da vida, despertar para a Verdade, melhorar sua vida cotidiana e ficar mais alegre; sustentado por inabalável fé, pode até mesmo vislumbrar o futuro. Assim, ele passa a viver com verdadeira segurança e tranqüilidade. A prova mais evidente é que, com o decorrer do tempo, suas feições e sua pele melhoram. Isso acontece porque, uma vez que seu sangue se torna mais puro, sua saúde aumenta, desaparecem suas incertezas quanto ao futuro, seu caráter se eleva, e ele se torna uma pessoa virtuosa. Dessa forma, ganha maior confiança de terceiros e por eles é respeitado. A condição fundamental para se construir o Paraíso Terrestre, objetivo de nossa Igreja, é que o indivíduo se eleve e adquira a qualificação de ente celestial. Como o mundo é um agrupamento de indivíduos, se aumentar o número de pessoas com essa característica, obviamente surgirá o Paraíso Terrestre. 20 de novembro de 1950 (Extraído de “Noções sobre a Igreja Messiânica Mundial”)
ELIMINAÇÃO DA TRAGÉDIA Entre todas as coisas do mundo, o que o homem mais detesta é a tragédia. Eliminá-la totalmente é impossível, mas, de certo modo, não será tão difícil diminuí-la. Passemos a estudar sua natureza. A realidade evidencia que a maioria das tragédias é causada pela doença. Entretanto, elas também são geradas por problemas sentimentais e pela desonestidade proveniente de interesses materiais. Através de uma pesquisa acurada, no entanto, descobri que todas as tragédias têm sua raiz na enfermidade espiritual. Dizem que um espírito são habita um corpo são, e isso é uma grande verdade. Verifiquei, após longos anos de pesquisa, que a imoralidade, a injustiça, a impaciência, o alcoolismo, a preguiça e a corrupção de jovens existem quase sempre em físicos doentes.
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Infelizmente, ainda não se descobriram métodos positivos para solucionar o problema da doença e restabelecer a saúde física e espiritual, nem mesmo apelando para a medicina ou para outros meios. Ainda que se tivesse encontrado a causa das doenças, não existiria uma forma para resolver o problema verdadeiramente. Há quem se orgulhe de ter descoberto a origem delas e o processo de cura; a maioria dos processos, contudo, não passa de paliativos. É realmente desolador. Todavia, dentre os casos milagrosos relatados em nossas publicações, encontramos muitos exemplos da cura de doenças gravíssimas, e a alegria e gratidão dos agraciados nos comovem até as lágrimas. A verdadeira solução das doenças e de outras desgraças depende de uma força invisível, e só aos que a experimentaram é dado reconhecer o incomensurável Poder Divino. Os homens modernos não se convencem senão através da realidade ou de provas; portanto, sem a apresentação de resultados concretos, é inútil pregar princípios elevados e divulgá-los. Para esses homens, a salvação da humanidade e a obra em prol da sociedade não passam de um sonho. A essência da verdadeira Fé consiste em mover o que é visível por ação de um poder invisível. Esse poder maravilhoso está sendo manifestado pela nossa Igreja e, por essa razão, creio eu, poderíamos dizer que ela é a Religião do Poder. Como a maioria das religiões hoje existentes se limita a pregar doutrinas, suas forças agem do exterior para a alma. Mas o ato purificador empregado pela Igreja Messiânica Mundial – o Johrei – projeta a Luz Espiritual diretamente na alma, despertando-a instantaneamente. Isto é, a Igreja converte a pessoa sem a intervenção humana, deixando os sermões para segundo plano. Os que nela ingressam, alcançam rapidamente uma percepção superficial, e, em seguida, uma percepção mais profunda. Além de superarem as suas próprias tragédias, tornam-se aptos, também, a eliminar as tragédias alheias. 11 de junho de 1949 (Extraído do livro Alicerce do Paraíso)
O PARAÍSO É O MUNDO DA ARTE Sempre tive muito interesse pela Arte. Como é do conhecimento de todos os fiéis, planejei e estudei a construção, em Hakone e Atami, de jardins, edifícios e outras instalações de elevado teor artístico, nunca visto até agora. Antes, eu também me dedicava bastante ao desenho, mas atualmente estou tão atarefado que já não posso fazê-lo. Mesmo assim, faço caligrafia, componho poemas, vivifico as flores, realizo a cerimônia do chá e tenho grande interesse pelas obras de belas-artes, chegando até a comprá-las, de acordo com as possibilidades financeiras. Às vezes, os fiéis também ofertam objetos artísticos, de modo que eu tenho saciado um pouco a minha sede em relação a eles. Também gosto de teatro e de música japonesa e ocidental, mas, como disponho de pouco tempo, tenho me contentado
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com o cinema e o rádio. Todos dizem ser muito raro uma pessoa de minha idade apreciar músicas ocidentais e cinema; entre os americanos, parece que isso é muito comum, mas não entre os japoneses. Pelo que puderam ver, a maior parte do meu dia-a-dia é dedicada à Arte, de modo que se poderia dizer que eu levo uma vida artística. Penso sempre que Deus me atribuiu essa característica devido à minha missão de construir o Paraíso Terrestre, que é o Mundo da Arte. Vejamos por quê. Até agora, estávamos no Mundo da Noite. Tratando-se de um mundo escuro, sem luz, era fácil o ser humano cometer pecados e crimes em segredo, o que o levava, naturalmente, a gostar das coisas más: enganar as pessoas fazê-las sofrer, ter vontade de roubar o que pertence aos outros, procurar relações impuras com o sexo oposto e provocar conflitos. Os próprios fatos mostram isso. Entretanto, uma vez que estamos entrando no Mundo do Dia, tudo se tornará claro e nítido, não sendo mais possível esconder nada. O ser humano deixará, naturalmente, de ter inclinação para o mal; tenderá, inevitavelmente, para o que é bom e correto. Assim, é claro que sua atenção se voltará para a Arte. Tudo que se relaciona às belas-artes, à poesia, ao canto, aos instrumentos musicais, enfim, todas as manifestações artísticas, assim como as construções, as ruas, as cidades, os teatros, as instalações recreativas, as decorações de interior, as vestes individuais e tudo o mais se tornará extraordinariamente belo. Conforme o exposto, devemos entender que o Mundo de Miroku, ou seja, o Paraíso Terrestre, é o Mundo da Arte. 25 de fevereiro de 1950 (Extraído do Jornal Kyussei, nº 51).
PRINCÍPIO DA AGRICULTURA NATURAL Para que todos entendam realmente o princípio da Agricultura Natural, proponho-me explicá-lo através da ciência do espírito — da qual tomei conhecimento por meio da Revelação Divina — pois é impossível fazê-lo através do pensamento que norteia a ciência da matéria. No início, talvez seja muito difícil compreender esse princípio; todavia, à medida que o lerem várias vezes e o saborearem bem, fatalmente a dificuldade irá diminuindo. Caso isso não aconteça, é porque a pessoa está muito presa às superstições da Ciência.
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O que eu exponho é a Verdade Absoluta. Os próprios fatos o comprovam. Como todos sabem o método agrícola utilizado atualmente consiste na fusão do método primitivo com o método científico. Julga-se que houve um grande progresso, porém os resultados mostram exatamente o contrário, conforme podemos constatar pela grande diminuição da produção no ano passado. Os pés de arroz não tinham força suficiente para vencer as diversas calamidades que ocorreram, e essa foi a causa direta daquela diminuição. Mas qual a causa do enfraquecimento dos pés de arroz? Se eu disser que o fenômeno foi causado pelo tóxico chamado adubo, todos se surpreenderão, pois os agricultores, até agora, vieram acreditando cegamente que o adubo é algo imprescindível no cultivo agrícola. Devido a essa crença, ao pouco conhecimento dos agricultores e à cegueira da Ciência, não foi possível descobrir os malefícios dos adubos. É inegável o valor da Ciência em relação a muitos aspectos; entretanto no que se refere à agricultura, ela não tem nenhuma força, ou melhor, está muito equivocada, pois considera bom o método criado pelo homem, negligenciando o Poder da Natureza. Isso acontece porque ainda se desconhece a natureza do solo e dos adubos. Há longos anos, o governo, os grandes agricultores e os cientistas vêm desenvolvendo um grande esforço conjunto, mas não se vê nenhum progresso ou melhoria. Diante de uma fraca produção como a do ano passado, podemos dizer que a Ciência não consegue fazer nada, sendo vencida pela Natureza sem oferecer nenhuma resistência. Não há mais nenhum método a ser empregado. A agricultura japonesa está realmente num beco-sem-saída. Mas devemos alegrar-nos, pois Deus ensinou-me o meio de sair dele - a Agricultura Natural. Afirmo que, além dessa, não existe outra maneira de salvar o Japão. A base do problema é a falta de conhecimento em relação ao solo. A agricultura, até agora, tem negligenciado esse fator, que é o principal, dando maior importância ao adubo, algo acessório. Pensem bem. Sem a terra, o que podem fazer as plantas, sejam elas quais forem? Um bom exemplo é o daquele soldado americano que, após a guerra, praticou o cultivo na água, despertando grande interesse. Creio que ainda devem estar lembrados disso. No início, os resultados foram excelentes, mas ultimamente, pelo que tenho ouvido falar, eles foram decaindo, e o método acabou sendo abandonado. Até hoje os agricultores fizeram pouco caso do solo, chegando a acreditar que os adubos eram os alimentos das plantações. Com essa atitude, cometeram um espantoso engano. O resultado é que o solo se tornou ácido, perdendo seu vigor original. Isso está muito bem comprovado pela grande diminuição da safra no ano passado. Não percebendo seu erro, os agricultores gastam inutilmente elevadas somas em adubos, despendendo árduo esforço. É uma grande tolice, pois se está produzindo a própria causa dos danos. Empregarei agora o bisturi da ciência espiritual para explicar a natureza do solo. Antes, porém, é preciso conhecer seu significado original. Deus, Criador do Universo, assim que criou o homem criou o solo, a fim de que este produzisse os alimentos para nutri-lo. Basta semear a terra que a semente germinará, e o caule, as folhas, as flores e os frutos se desenvolverão, proporcionando-nos fartas colheitas no outono. Assim, o solo, que produz alimentos, é um maravilhoso técnico ao qual deveríamos dar grande preferência. Obviamente, como se trata do Poder da Natureza, a Ciência deveria pesquisá-lo. Entretanto, ela cometeu um grande erro: confiou mais no poder humano. Mas o que é o Poder da Natureza? É a incógnita surgida da fusão do Sol, da Lua e da Terra, ou seja, dos elementos fogo, água e solo. O centro da Terra, como todos sabem, é uma massa de fogo, a qual é a fonte geradora do calor do solo. A essência desse calor, infiltrando-se pela crosta terrestre, preenche o espaço até a estratosfera. Nessa essência também existem duas partes: a espiritual e a material. A parte material é conhecida pela Ciência com o nome de nitrogênio, mas a parte espiritual ainda não foi descoberta por ela. Paralelamente, a essência emanada do Sol é o elemento fogo, que também possui uma parte espiritual e uma parte material; esta última é a luz e o calor, mas aquela também ainda não foi detectada pela Ciência. A essência emanada da Lua é o elemento água, e a sua parte material é constituída por todas as formas em que a água se apresenta; quanto à parte espiritual, também ainda não foi descoberta. O produto da união desses três elementos espirituais ainda não detectados constitui a incógnita X através da quais todas as coisas existentes no Universo nascem e crescem. Essa incógnita X é semelhante ao nada, mas é a origem da força vital de todas as coisas. Conseqüentemente, o desenvolvimento dos produtos agrícolas também se deve a esse poder. Por isso, podemos dizer que ele é o fertilizante infinito. Reconhecendo-se essa verdade, amando-se e respeitando-se o solo, a capacidade deste se fortalece espantosamente. A Agricultura Natural é, pois, o verdadeiro método agrícola. Não existe outro. Através de sua prática, o problema da agricultura será solucionado pelas raízes.
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Sem dúvida as pessoas ficarão boquiabertas, mas existe outro fator importante. O homem, até agora, pensava que a vontade-pensamento, assim como a razão e o sentimento, limitava-se aos seres animados. Entretanto, eles existem também nos corpos inorgânicos. Obviamente, como o solo e as plantações estão nesse caso, respeitando-se e amando-se o solo sua capacidade natural se manifestará ao máximo. Para tanto, o mais importante é não sujá-lo, mas torná-lo ainda mais puro. Com isso, ele ficará alegre e, logicamente, se tornará mais ativo. A única diferença é que a vontade-pensamento, nos seres animados, é mais livre e móvel, ao passo que, o solo e as plantas não têm liberdade nem movimento. Assim, se pedirmos uma farta colheita com sentimento de gratidão, nosso sentimento se transmitirá ao solo, que não deixará de corresponder-nos. Por desconhecimento desse princípio, a Ciência comete uma grande falha, considerando que tudo aquilo que é invisível e impalpável não existe. (Extraído de “A grande revolução da agricultura japonesa”, artigo publicado no Jornal Eiko, nº 245, 27 de janeiro de 1954).
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CAPÍTULO I NASCIMENTO
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1. O ALVORECER DA NOVA ERA a) A NOVA ERA O rio Ara nasce no Monte Kobushi, situado na remota Região de Titibu ( 5 ), limite dos Estados de Mussashi ( 6 ) e Kai ( 7 ). No meio do percurso, muda sua direção para sudeste, banha a parte oeste da Planície Kanto, encontra-se com um afluente do antigo Rio Tone e deságua na Baía de Tóquio, delimitando uma complexa bacia fluvial. O trecho do Rio Ara que vai desde o Kanegafuti até poucos mais de 10 quilômetros abaixo, possui uma relação muito profunda com a vida do povo, desde tempos longínquos. De acordo com o nome do lugar situado às suas margens, o rio era chamado de Rio Sumida, Rio Assakussa ou, vulgarmente, mas com carinho, de Rio O. Na antiga Era Edo ( 8 ), por determinação do governo feudal, o Rio Tone, que até então desaguava na Baía de Tóquio, teve mudado o seu percurso para a direção leste, correndo entre os limites dos Estados de Hitati, atual Estado de Ibaragui, e Shimofussa, que hoje ocupa principalmente a parte norte do Estado de Tiba. Antes de isso acontecer, havia uma estreita relação entre o Rio Sumida e o Rio Tone, não sendo exagero dizer que para eles afluíam os principais rios da região Kanto. O Distrito de Assakussa, situado às margens do Rio Sumida, veio prosperando, desde tempos antigos, como importante centro de transporte fluvial. Com o passar do tempo, foram aumentando as áreas aterradas, e a costa marítima foi se estendendo cada vez mais para o sul. O Rio Sumida tornou-se, então, a via de transporte que sustentava o progresso da cidade de Edo ( 9 ). Os produtos da Região Kanto, como arroz e verduras, desciam o rio em navios do tipo “hiratabune” (navio com casco reto) ou “takasse-bune” (navio com casco reto e raso) e eram descarregados seguidamente pelas margens do canal que fora construído até o interior daquela cidade. Os grandes navios japoneses denominados “higaki-kaissen” (navio com amurada em forma de losango) e “tarukaissen” (navio cargueiro transportador de saquê), vinham de Quioto e Ossaka pelo mar, trazendo artigos de primeira necessidade e diversos objetos artesanais. Eles subiam até a atual Baía de Tóquio pelo Canal Uraga, atingiam o Porto de Edo, e depois, subindo o Rio Sumida, atracavam nas margens de Nihon-bashi, Kuramae e Assakussa. Graças às condições favoráveis dessa região, Assakussa foi progredindo gradativamente, durante a Era Edo. Lá se reunia um grande número de comerciantes e profissionais, produzindo-se muitos gêneros de consumo, entre os quais roupas, couros industrializados e tamancos de primeira qualidade. Por determinação do governo feudal, instalou-se ali uma zona de meretrício chamada Shin Yoshiwara; isso, aliado à mudança do Teatro Cabúqui de Edo para Assakussa, fez com que o local se tornasse o centro recreativo e cultural de Edo. Além do mais, o lugar por onde corria o Rio Sumida era tido por todos como abençoado por aprazível paisagem. Os aspectos de cada estação - as cerejeiras da primavera, os fogos de artifício do verão, o cenário da neve no inverno estão muito bem retratados na revista ilustrada “Edo Meisho Zue” (10) e nas pinturas “Toto Meisho” (11) e “Meisho Edo Hyakei” (12), obras de “ukiyo-e” (13) da autoria de Hiroshigue Ando (14). Por tudo isso, Assakussa passou a gozar de muita fama entre a sociedade.
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Região do atual Estado de Saitama. Nome de antigo Estado que ocupava grande parte da região metropolitana de Tóquio e parte dos Estados de Saitama e Kanagawa. ( 7) – Nome antigo do Estado de Yamanashi. ( 8) – Período que vai de 1603, ano em que Tokugawa Ieyassu assumiu o poder, dando inicio ao governo feudal de Edo, até 1867, quando Tokugawa Yoshinobu, da décima quinta geração de Ieyassu, foi destituído e devolveu o governo ao Imperador. ( 9) – Antigo nome de Tóquio. ( 10) – “Desenhos dos lugares famosos de Edo” ( 11) – “Locais famosos das cidades do Leste” ( 12) – ‘Cem paisagens dos lugares famosos de Edo” ( 13) – Modalidade de pintura que utiliza como temática os costumes da época. (14) - Famoso pintor de ükiyo-e”do período final da Era Edo, nascido em 1797 e falecido em 1858. (
5) – 6) –
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Entretanto, sobreveio uma época adversa para essa crescente prosperidade. Mas o fato não teve absolutamente um sentido negativo; foi o resultado da queda do governo feudal de Edo, que durara duzentos e setenta longos anos, e do estabelecimento do governo Meiji (15), em seu lugar. O novo governo, com o objetivo de recuperar Edo do atraso causado pela longa subordinação ao sistema feudal e adquirir poderes mais modernos, para equiparar-se às potências européias e aos Estados Unidos, apressou a ocidentalização do país, modernizando a política de industrialização em todas as regiões. As duas margens do Rio Sumida não foram exceções. Aproveitando as boas condições de transporte fluvial, foram construídas siderúrgicas estatais, fábricas de tijolos, lã, sabão, fósforo, borracha etc.. Os empregados dessas empresas mudaram-se para o local, e os comerciantes também começaram a estabelecer-se aí. Assim, Assakussa passou a ter um novo período de progresso, bem diferente da Era Edo. As transformações ocorridas no início da Era Meiji (16) não se limitaram apenas ao setor industrial. O sistema de poder centralizado foi sendo definido gradativamente, com modificações no sistema de ensino, no alistamento militar, nos impostos territoriais e em outros aspectos. Enquanto, de um lado, a estrutura de país moderno ia sendo organizada rapidamente, todos os aspectos da vida cotidiana do povo, desde o tipo de penteado, de calçado e de comida, iam sofrendo grandes modificações. Tal mudança de costumes fez mudar também o aspecto dos locais situados nas proximidades do Templo Senso-ji. Eram locais movimentados, principalmente pela presença de barracas onde se realizavam “shows”, barracas de tiro ao alvo, onde as pessoas se divertiam acertando o alvo com flechas, a uma distância de aproximadamente 13,6 metros, e casas de chá; construídas de bambu, na beira da rua. Com o desenvolvimento da cultura incentivado pelo governo, esses locais tiveram sua roupagem mudada, pela construção de aquários e cinemas, e foram crescendo como novo cenho de diversões. Nos meados da Era Meiji, foi ali erigido o Monte Fuji de Assakussa, um monte artificial que reflete a originalidade do caráter de Assakussa e que, em 1887, tornou-se um dos alvos da atenção da Associação Religiosa Fuji. Em 1890, foi concluído o Edifício Ryoun-Kaku, de doze andares, todo construído em alvenaria. Entretanto, a prosperidade desses pontos movimentados não foi uma flor surgida para a felicidade do povo em geral. Assim como, em todo o país, grande número de pessoas vivia miseravelmente, sem ter outra alternativa, começou a se ampliar, por trás das alegres folias do Parque de Assakussa, a figura de uma cidade onde se enfileiravam casas de pessoas que mal tinham o que comer. De fato, em termos gerais, podemos dizer que a política de tornar o país rico e poderoso com a criação da indústria moderna e o fortalecimento do poderio militar, nem sempre foi desenvolvida com uma preocupação maior em relação ao povo, sobretudo em relação aos trabalhadores da cidade e aos agricultores. O povo, que ficara feliz com o nascimento de uma nova nação, perdeu um pouco daquele afã manifestado para derrubar o sistema feudal; ao mesmo tempo, cada indivíduo passou a se pronunciar e a agir livremente, objetivando uma forma de vida melhor para si. Podemos interpretar que os motins e as revoltas de uma parte dos populares, ocorridos no início da Era Meiji, foram manifestações desse sentimento. Por outro lado, essa energia foi crescendo e dando origem a uma campanha pelos direitos de liberdade do povo, que buscava a concretização de uma nação constitucional melhor ainda, sob a influência recebida do iluminismo ocidental por alguns intelectuais mais conscientes. A ocidentalização se desenvolvia a passos rápidos, mas a onda de modernização trouxe grandes influências para a mentalidade japonesa. Enquanto de um lado nasciam os partidários da ocidentalização, os quais, esquecendo-se da cultura tradicional do país, procuravam seguir cegamente a cultura e o pensamento ocidental, de outro lado existiam partidários do tradicionalismo, que, fechando os olhos para a realidade das grandes potências do Ocidente, persistiam na crença da superioridade das características do Japão. Passaram a existir, portanto, dois pensamentos opostos.
(15) (16)
– Governo do 122º imperador, que derrubou o governo feudal de Edo, restaurando o poder em 1868. – Período que vai da restauração do poder pelo Imperador Meiji, em 1868, até o falecimento deste, em 1912.
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Esta luta iniciada no Japão entre a cultura oriental e a cultura ocidental, que já era um problema no início da Era Meiji, enraizou-se enquanto todo o país se empenhava na modernização, e perdura até hoje, mais de cem anos depois. Relembrando a história do Japão, vemos que ele sempre sofreu em conseqüência do contato com as crenças de outras culturas e com a civilização estrangeira. Assim aconteceu com a introdução do budismo, das culturas Tang e Ming, do cristianismo etc., os quais foram sendo assimilados em cima de sua cultura tradicional. Isso, conseqüentemente, significa que hoje, na Era Showa (17), quando nos orgulhamos de ocupar o segundo lugar no mundo em Produto Nacional Bruto, ainda não está concluída a tarefa de fundir e harmonizar o pensamento oriental com o ocidental - grande corrente de civilização com que o país se deparou na Era Meiji - e fazer amadurecer uma elevada cultura no solo japonês. Certamente essa continuará sendo uma tarefa ainda maior para as gerações futuras. Mokiti Okada, o fundador da Igreja Messiânica Mundial, veio ao mundo no bairro de Hashiba, situado em Assakussa, às margens do Rio Sumida, no dia 23 de dezembro de 1882. Estava-se nos primórdios do Japão contemporâneo, época em que a figura da nação ideal, embora com inúmeras contradições, ia sendo traçada em todo o país e configurando-se a passos firmes. O interessante é que 23 de dezembro corresponde ao dia seguinte do solstício de inverno no hemisfério norte, dia em que o período noturno é o mais longo durante todo o ano. O dia 23 é a data em que o período diurno começa a alongar-se novamente. O inverno pode ser considerado a fase negativa do ano, de modo que no dia 23 de dezembro se começa a caminhar para a fase positiva. Por isso, tanto no Ocidente como no Oriente, existe a crença de festejar o solstício de inverno como sinal de respeito à luz do Sol, origem de toda a vida, como momento em que a Luz ressurge e todas as coisas renascem. Um bom exemplo disso é que a data do nascimento de Jesus Cristo apontada pela História, não corresponde à data verdadeira; foi modificada para as proximidades do dia do solstício de inverno, tornando-se Natal para os cristãos. Sendo assim, o fundador de nossa Igreja veio a este mundo no misterioso dia que simboliza o alvorecer do ano. Não é como o calendário cristão, cujo conteúdo foi modificado pela fé; é um incontestável fato histórico. Isso faz com que se torne ainda muito maior o “mistério” relacionado ao seu nascimento.
b) HASHIBA (18)
Hashiba, bairro onde nasceu o Fundador, fica num lugar afastado, na parte leste de Assakussa. Seu nome, antigamente, era Ishihama-no-Sho(19) . Sendo uma região muito importante para as estratégias de guerra, sempre foi campo de batalha Quando Yoritomo Minamotono(20) invadiu Kamakura(21) com seus soldados, improvisou uma ponte flutuante enfileirando barcos no Rio Sumida; dizem que o lugar onde isto aconteceu corresponde ao atual bairro de Hashiba. Dessa forma, Hashiba tornou-se o local das pontes de madeira, flutuante e estreita, as quais, mesmo levadas pela correnteza, eram reconstruídas várias vezes. Daí o nome do bairro, que perdura até hoje.
(17)
– 1926 em diante. - “Local da Ponte”. (19) - “Vila da praia de pedras”. (20) – Implantador do governo feudal de kamakura, nascido em 1147 e falecido em 1199. (21) – Cidade próxima de Tóquio. Foi a sede do governo feudal de Kamakura. (18)
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No início da Era Meiji, aí transitavam barcos que, abrindo os juncos nascidos nas margens do rio, iam e vinham pela sua superfície, desempenhando o papel de importante meio de transporte. Na época, enfileiravam-se, nessa região, os ancoradouros das casas de campo dos daimios e, entre eles, como pontinhos, os locais destinados ao desembarque das cargas. A mansão Taio-So(22), pertencente a Sanetomi Sanjo, importante ministro da época, localizava-se perto da atual Ponte Shirahigue e, tal como seu nome indica ali se viam gaivotas brincando na água. Em 1877, quando a Guerra do Sudoeste recém começara, o Imperador Meiji foi a esse local, em visita a Sanetomi, que estava acamado.
Dessa forma, na zona de primeira categoria localizada à beira do rio e nas avenidas, podiam-se avistar mansões de pessoas ricas e magníficas lojas, mas, entrando um passo nas ruas estreitas, viam-se muitas casas pobres; era o bairro do povo que lutava para sobreviver. Em frente às casas erguidas nas duas margens havia roupas estendidas, e, em volta do poço público, mulheres com crianças nas costas lavavam roupa atarefadamente, com as barras dos humildes quimonos levantadas, conversando sobre coisas mundanas, tal como a fuga de determinada família durante a noite, a subida do preço do arroz, tão exagerada que, se a pessoa não colocasse algum de seus pertences na casa de penhores, não conseguiria viver, e coisas desse gênero. Entretanto, mesmo nos bairros pobres afastados de Tóquio, às vezes se via uma paisagem que tranqüilizava o coração. No início da primavera, as manjubas subiam pelo Rio Sumida, cujas águas ficavam mornas, e nas plantações de lótus existentes em volta das pequenas casas desabrochavam, a cada verão, belíssimas flores, que balançavam a mercê da refrescante brisa. Hashiba, local onde o Fundador nasceu, vivia, assim, entre a riqueza e a pobreza.
(22)
– “Casa do Casal de Gaivotas.
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c) A VIDA DA FAMÍLIA A família do Fundador era constituída de cinco pessoas: seu pai, Kissaburo Okada; sua mãe, Tori; sua irmã Shizu, seu irmão Takejiro e ele. Havia ainda uma irmã mais velha, chamada Haru, mas esta faleceu um ano antes do seu nascimento. Nessa época, a família morava numa humilde casa de aluguel situada no bairro de Hashiba, nº 63 (atualmente Hashiba, quadra 2, nº 2, Distrito de Daito). O local, hoje, faz parte da Sede Metropolitana de Tóquio da Igreja Messiânica Mundial. Anos mais tarde, o Fundador escreveu sobre a sua vida nessa época: “Nasci em Hashiba, bairro localizado em Assakussa, Tóquio”. Lembro-me vagamente de que meu pai negociava com objetos usados e de que nossa casa só tinha dois cômodos: um, com mais ou menos 4,90 m2, onde funcionava a loja, e uma sala de estar com aproximadamente 7,30 m 2. Todas as noites, ele ia ao Parque Assakussa, distante mais ou menos 1 quilômetro, para abrir sua barraca noturna. Desde que tenho consciência, muitas vezes ouvi meu pai falar que, se não conseguisse determinada quantia naquela noite, não teríamos o que comer no dia seguinte. Então; caso não chovesse, ele carregava uma pequena carroça com alguns utensílios velhos, e minha mãe, levando-me às costas, ia empurrando-a. Vivendo numa pobreza extrema, ela ficou desnutrida e, como não tinha leite para me amamentar, ia pedir leite materno à esposa de um bonzo do Templo Renso-ji, que ficava próximo. Quando eu estava para terminar o curso primário, a situação financeira de minha família melhorou um pouco, e então pude ingressar na Escola de Belas-Artes. Portanto, em minha infância, e mesmo quando já tinha uma família para cuidar, durante um bom espaço de tempo provei o sabor da pobreza, podendo compreender o quanto o dinheiro é motivo para gratidão. Isso me foi de grande proveito, pois ainda hoje não consigo desperdiçar nada, nem viver no luxo, de modo que sou até grato pela adversidade daquela época. ““ O Parque Assakussa, onde Kissaburo ia negociar todas as noites, localizava-se no terreno do Templo Kinryuzan Senso-ji. Esse templo pertencia à Religião Tendai (depois da Segunda Guerra Mundial, ele se tornou independente e passou a ser a sede da Religião Sho-Kannon). Dizem que a sua imagem principal é um Sho-Kannon(23) de ouro, de aproximadamente 5,5 centímetros, que foi pescado numa rede, no Rio Sumida. A história do templo é bem antiga, tendo início na Era Nara (710 - 784). Na Era Kamakura (1192 - 1333), de Yoritomo Minamotono e Takauji Ashikaga(24), na Era Edo, de Ieyassu Tokugawa(25) , e assim por diante, o templo mereceu o respeito e a estima dos governantes mais representativos de cada época. Principalmente depois do início da Era Edo, ele teve o seu terreno bem ampliado, e Assakussa passou a prosperar como cidade-templo. Durante o ano, o Templo Senso-ji era visitado por muitos peregrinos: no primeiro culto do Ano Novo; no “Harikuyo”(26), comemorado no dia 8 de fevereiro; na feira de “Hozuki”(27), realizada em julho, e em outras oportunidades. Através da natureza que colore as estações do ano, os visitantes do templo inteiravam-se da chegada de cada estação. O Parque Assakussa, onde Kissaburo armava sua barraca, era um parque público criado no início da Era Meiji com o objetivo de promover a prosperidade de Tóquio através da formação de um grande centro recreativo. Dessa forma, o terreno do Templo Senso-ji tornava-se propriedade do governo.
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– Buda de expressão afável que representa a Grande Piedade. – Tornou-se governante em 1338 e instituiu seu governo feudal em Quioto. Nascido em 1035 e falecido em 1358. (25) – Instaurador do governo Feudal de Edo. Nascido em 1542 e falecido em 1616. (26) – Dia em que as senhoras não costuram. Há regiões em que elas quebram as agulhas, espetam-nas num queijo de Soja e levam-nas para os santuários. (27) – Planta ornamental pertencentes à família das solanáceas. No verão, dá flores amarelo-claras que, depois, dão frutos Vermelhos e redondos. (24)
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Como as vendas efetuadas na loja situada em sua casa comprida e estreita eram desfavoráveis, Kissaburo armava a barraca no Parque Assakussa confiando no grande movimento de pessoas que ali havia. Entretanto, o negócio, que dependia do tempo, era perseguido por grandes dificuldades. Ao ouvir dizer que na casa de determinada pessoa existia algum objeto à venda, Kissaburo saía com sua carroça para comprá-lo, expondo-o na barraca noturna. Era uma vida difícil, onde o sofrimento não tinha fim. Durante a primavera e o verão, a situação melhorava um pouco. Na primavera, ao entardecer, as pessoas passeavam atraídas pelas flores; no verão, não suportando o calor, elas iam se refrescar a brisa da noite. Em tais ocasiões, ainda havia ânimo para a venda. Numa barraca, vendiam-se abajures; em outra, um doce assado, feito de farinha de trigo ou arroz, chamado “kobaiyaki”. Um velhinho grudava balas quentes e moles na ponta de um bambu e soprava-as, fazendo-as tomar o formato de coelho ou borboleta. As mulheres, de “ityogaeshi”(28) ou “marumague”(29), vestidas com uma “yukata”(30) bem leve, ficavam na ponta dos tamancos e, olhando as mercadorias com ar meio gozador, continuavam o passeio. Ouvia-se a voz alegre das crianças, e os corações ficavam mais tranqüilos. Entretanto, no inverno, o vento que soprava do Rio Sumida chegava a cortar a pele. Mesmo assim, quando fazia bom tempo, havia fregueses na barraca noturna, e, com as pequenas vendas efetuadas, podia-se tomar fôlego e saborear um “udon”(31) quentinho. O pior era quando chovia. Nesses dias, olhando o rosto dos filhos, que dormiam inocentemente no surrado “tatami”(32) do estreito quarto, Kissaburo suspirava com tristeza.
2. LINHAGEM FAMILIAR a) O BISAVÔ Quando o Fundador nasceu, a família Okada vivia numa pobreza extrema, mas já no início da Era Meiji ela administrava uma casa de penhores chamada Mussashi-ya, situada no bairro de Sanya, perto de Hashiba, e gozava de excelente situação financeira, possuindo mais de trinta casas alugadas. No registro de lojas “Hapinsho”,(33) , que consta no “Kyubaku Hikitsugui-sho”(34), está claramente documentado que a família era penhorista. Esse registro foi feito em março de 1851, quando o governo feudal de Edo fez investigações sobre oito gêneros de firmas comerciais que lidavam com utensílios (
28) – Tipo de penteado feminino. Vide figura da página 68. 29) - Idem ( 30) – Traje semelhante ao quimono, de linhas mais simples. ( 31) – Macarrão japonês que se come em tigela, com caldo próprio. ( 32) – Esteira de palha, de 90 x 180 cm, com que se cobrem os assoalhos. ( 33) – “Oito gêneros de comércio”. ( 34) – Documento herdado do governo feudal pelo governo Meiji e preservado atualmente pela Biblioteca do Congresso Nacional (
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velhos, tal como casas de penhores, de roupas e utensílios usados etc.. Com isso, tentaram fortalecer o controle sobre o comércio de antiguidades, que facilmente envolvia crimes, e aumentar a segurança pública. Na lista de nomes da parte referente às casas de penhores, consta o seguinte: 1- Casa de penhores Bairro de Sanya Proprietário: Kizaemon Naquela época, o chefe da família Okada era Kizaemon, bisavô do Fundador, de modo que há uma perfeita coincidência entre a realidade e esse registro. Para se administrar uma casa de penhores, era preciso pertencer-se ao sindicato dos penhoristas, e, para isso, a pessoa tinha de fazer inventário de seus bens. Havia regulamentos rigorosos, tanto sociais como economicamente. Por conseguinte, as famílias que administravam essas casas tinham um capital formado e muitas vezes gozavam de prestígio entre a vizinhança. O jazigo da família Okada está no Templo Seiro-Kannon-ji, localizado em Mikawa-shima, no Distrito de Arakawa. Dizem que a construção desse templo, onde se cultua Juitimen Kannon (35), remonta ao final da Era Muromati (1336 - 1573). Sabe-se que, na década de 1820, a família havia se mudado para o bairro de Sanya; antes, morava no bairro de Yoshiwara Agueya, e deduz-se que administrava uma casa de penhores. Pelo que se sabe através do registro da linhagem familiar, um dos que se destacaram entre os chefes da família foi o penhorista Kizaemon, bisavô do Fundador.
Segundo consta, Kizaemon era um homem muito gentil e respeitado. Parece que, sem levar em consideração lucros ou perdas, emprestava dinheiro a juros baixíssimos. Dizem, também, que ele costumava deixar à mão vários guarda-chuvas e, nos dias chuvosos, emprestava-os aos transeuntes que estavam se molhando; nos dias frios de inverno, fazia papinhas de arroz para distribuir às pessoas. Como Kizaemon era gentil com todo mundo e tinha muito sentimento humanitário, em sua casa sempre havia dois ou três hóspedes, e parece que ele era querido por todos.
(
35) – Kannon de Onze Faces.
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No templo que abriga o jazigo da família Okada, havia uma foto de Kizaemon com expressão bem serena e com o cabelo todo raspado. Lamentavelmente, durante os ataques aéreos da Segunda Guerra Mundial, essa fotografia foi queimada. Parece que o caráter de Kizaemon era muito semelhante ao do Fundador, o qual, mais tarde, segundo conta, sempre dizia a Yoshi, sua esposa: “Meu bisavô me acompanha”. Sentimos que o amor daquele homem, maior que o das pessoas comuns, foi herdado pelo bisneto.
b) OS AVÓS Kizaemon não teve herdeiro homem e por isso fez o genro adotar o nome da família ao casar-se com sua filha Yassu. Esse jovem, cujo nome era Sashiti, passara ocasionalmente pela Mussashi-ya, durante uma viagem, e Kizaemon gostara dele à primeira vista, acabando por torná-lo seu genro. É tudo que se sabe. O nome registrado na sua certidão de nascimento é Sashiti, mas, não se sabe porque, seu nome aparece como Minosuke em outro registro. Ao contrário do que se esperava, Sashiti levou uma vida ociosa. Isso era motivo de preocupação para os familiares, pois, se ele continuasse assim, corria o risco de perder toda a sua fortuna. Por conseguinte, Sashiti acabou tendo cortados os laços com a família; desde então, não se sabe ao certo o seu paradeiro. Entretanto, quando o marido saiu de casa, Yassu já estava grávida. Ao fim da gestação, nasceu Kissaburo, o pai do Fundador. Isso ocorreu em 1852. Em 1867, Kizaemon dormiu o sono eterno, quando soprava a forte ventania que derrubou o governo feudal e o próprio Imperador assumia o governo da nação. O enterro foi realizado com toda pompa, e sabe-se que, em memória de suas virtudes, as pessoas da vizinhança acompanharam o cortejo pelo percurso de mais ou menos 2.400 metros, desde a casa dele até o templo onde está localizado o jazigo da família.
Na família Okada, era costume antigo dar-se aos chefes da família os nomes Kizaemon e Kissaburo, alternadamente. O pai do Fundador
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chamava-se Tokutaro, quando criança, mas após a morte de Kizaemon, ao mesmo tempo em que herdou a liderança da família, trocou seu nome para Kissaburo. Era outono, e ele contava quinze anos.
c) OS PAIS Com a morte de Kizaemon, que era o seu grande sustentáculo, como ficou a Loja Mussashi-ya? Obviamente, ficou nas costas dos demais familiares; mas, para Yassu, que não estava habituada ao comércio, e para Kissaburo, que havia sido criado como filho de família rica, era um fardo muito pesado manter a casa de penhores, a qual exigia olhos aguçados, para uma boa avaliação dos objetos. Então, eles tomaram o gerente da loja como conselheiro. Mas a situação da época era conturbada, não tendo sido possível deter o ímpeto da queda, que já havia começado. Como o gerente era um homem muito bom, inúmeras vezes foi enganado por homens ardilosos da cidade, e a grande fortuna da Mussashiya começou a diminuir gradativamente. Em 1871, quando completou vinte anos, Kissaburo casou-se com Tori, cujo sobrenome de solteira era Kanayama. Ela nascera no atual bairro de Okudo, situado no Distrito de Katsushika, em Tóquio. Seu pai chamava-se Teissai Kanayama (36) (36) e era médico em Sussaka, no Estado de Shinshu (atual Estado de Nagano). O nome da mãe de Tori era Misse; ela pertencia à família Tomizawa, também de Sussaka. Por volta de 1850 ambos deixaram sua terra natal, rumo a Edo. Chegando à Vila Okudo (atual bairro de Okudo), não encontraram nenhuma hospedaria. Já anoitecera e, sem outra alternativa, pediram hospedagem num templo, onde passaram a noite. Nessa ocasião, o bonzo responsável pelo templo lhes pediu: “Estamos em dificuldades, por não haver nenhum médico nas redondezas. Será que o senhor não poderia trabalhar aqui?” Teissai acabou se tornando o médico da Vila Okudo e, além do consultório, abriu uma escolinha próximo de sua casa, no prédio principal de um templo com o qual tinha ligação, para ensinar as crianças das redondezas a ler e escrever. No período em que viveu nesse lugar, o casal teve três filhas: a primeira, chamada Katsu; a segunda, Tori, e a terceira, Tame. No final de 1860, Teissai terminou sua curta vida de pouco mais de quarenta anos. Quando o pai deixou este mundo, Tori tinha seis anos de idade. Para a família, que era constituída de quatro pessoas - mãe e três filhas - e residia num local onde não havia ninguém a quem pudessem recorrer, presume-se que a sobrevivência foi muito difícil, sobretudo nos conturbados anos finais do governo feudal e início da Restauração. Quando moça, Tori aprendera a confeccionar quimonos, mas a quantia que recebia com esse trabalho era pequena. Parece que mãe e filhas, incentivando-se mutuamente, lutavam com muita dificuldade para viver da linha e da agulha. Tori tinha dezoito anos quando se casou com Kissaburo. A jovem esposa conseguiu confeccionar um humilde enxoval com o dinheiro economizado através de muito esforço, e, atravessando num barco o Rio Sumida, foi integrar-se à família Okada, de Assakussa, na outra margem do rio. Na época, a situação financeira da família ainda era razoável; presume-se, portanto, que, embora simples, realizou-se uma cerimônia animada. Todavia, com o casamento de Kissaburo, o gerente da Mussashi-ya, que até então exercera a função de conselheiro, deixou a loja. Em conseqüência disso, depois de ter perdurado por tantas gerações, ela acabou falindo. Mais tarde, Kissaburo instalou uma loja de roupas usadas e, posteriormente, uma tamancaria, mas não obteve sucesso. Com a vida apertada, mudou-se para o bairro de Hashiba, nº 116, retornando, depois, para o nº 63 do mesmo bairro. Assim, ele começou a negociar com objetos usados. Foi nessa época que o Fundador nasceu, quando a situação econômica da família era a pior possível. Apesar da pobreza, Kissaburo levava uma vida organizada não perdendo a tranqüilidade que o caracterizava. Tori também de nada reclamava e, sempre calma, dava conta de todo o serviço. Toda vez que alguém lhe mandava alguma encomenda embrulhada num pano, ela só o devolvia depois de lavado e passado. Consta que, anos mais tarde, o Fundador comentou: “Não me lembro de ter sido repreendido por meus pais”. Por esses pequenos fatos, pode-se avaliar a personalidade dos seus genitores. O esforço feito por Tori, costurando as roupas dos familiares até tarde da noite, chegou a ficar famoso entre a família. Sua irmã mais velha, Katsu, desejando que a neta se tornasse igual a Tori, deu-lhe o nome desta, pronunciado da mesma forma, mas escrito com caracteres diferentes.
(
36) – Era natural da família Kitazawa; com o casamento, adotou o sobrenome Kanayama.
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CAPÍTULO II
INFÂNCIA
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1. OS SETES ANOS DO PRIMÁRIO a) SISTEMA ESCOLAR DA ÉPOCA Os dirigentes do governo Meiji, desejando recuperar o atraso da modernização do Japão em relação às potências européias e aos Estados Unidos, empenharam-se ao máximo para introduzir e absorver a cultura, a ciência e a técnica ocidental. Especialmente com o objetivo de formar elementos humanos úteis à Nação, deram elevada importância ao ensino moderno e colocaram todo o empenho na difusão do órgão educativo sistemático chamado escola. Vejamos qual era a situação das universidades japonesas no início da Era Meiji. Entre as escolas do governo, a atual Universidade de Tóquio foi instituída com o nome de Universidade Imperial de Tóquio, em 1877, pela junção do Kaisseijo (37) da época do governo feudal e da Escola de Medicina de Tóquio. Quanto às escolas particulares, em 1858 Yukiti Fukuzawa (38) fundou o Yogaku no Juku (posteriormente chamado Keio Guijuku), tendo como objetivo o espírito de independência e auto-respeito. Passados pouco mais de vinte anos, em 1882, em oposição à escola do governo, Shiguenobu(39) Okuma abriu a Escola Técnica de Tóquio (posteriormente Universidade Wasseda), tendo como estandarte a Universidade livre e aberta do partido da oposição. Além destas, foram instituídas a Tokyo Hogakusha (posteriormente Universidade Hossei); a Meiji Horitsugako (posteriormente Universidade Meiji), a Iguirissu Horitsugako (posteriormente Universidade Tyuo) e a Koten Kokyujo (posteriormente Universidade Kokugakuin), todas elas entre os anos de 1877 e 1886. No setor político, em 1885, Hirobumi Ito tornou-se Primeiro Ministro, nascendo, assim, o primeiro gabinete do Japão. No ano seguinte, foram promulgadas, seguidamente, importantes leis relacionadas ao sistema de ensino: em março, a “Lei das Universidades Imperiais”; em abril, a “Lei das Escolas Primárias”, a “Lei das Escolas Ginasiais”, e a “Lei das Escolas para Formação de Professores”; em maio, com base nessas leis, decidiu-se fazer vigorar o sistema de livros didáticos oficiais não só nas escolas primárias e ginasiais como também nas escolas para a formação de professores. Com a “Lei das Escolas Primárias”, o ensino primário comum foi dividido em Escola Primária Básica (obrigatório) e Escola Primária de Segundo Nível, cada qual com uma duração de quatro anos. Estabeleceu-se, assim, o sistema de ensino obrigatório mínimo. Em julho de 1890, realizou-se a primeira eleição para deputados, e em novembro, a primeira sessão do Congresso Nacional. No mês anterior, ou seja, em 30 de outubro de 1890, foi promulgado o decreto imperial referente ao ensino. Este decreto representava uma cautelosa medida do Imperador Meiji para que não houvesse vacilações nos métodos de ensino nacionais em conseqüência da promulgação da Constituição, da criação do Congresso Imperial, da mudança do Gabinete etc.. Nele está bem esclarecida a diretriz fundamental do ensino no Japão, a qual serviu de modelo para o povo japonês até o término da Segunda Guerra Mundial. Dessa forma, entre os anos de 1877 e 1896, época em que o Japão ia se configurando como nação moderna, planejou-se a organização e aperfeiçoamento do sistema de ensino como importante política para atingir a modernização. Foram instaladas muitas escolas primárias públicas, e os “terakoya”(40) e os “shijuku”(41) existentes desde a Era Edo tiveram reconhecimento oficial como escolas públicas ou particulares. Dessa forma, o aumento de escolas primárias, no início da Era Meiji, foi espantoso.
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– Escola de ensino da cultura chinesa, inglesa, francesa, alemã, russa, etc. e de matemática ocidental, fundada pelo Governo feudal de Edo. (38) – Pensador e pedagogo (1835 – 1901). Estudou as culturas chinesa e inglesa. Escreveu “Gakumon no Sussume” e “Seijō Jijō” (39) – Político (1838 – 1922). Foi Primeiro Ministro do Japão de 30/06/1898 a 31/10/1898 e de 16/04/1914 a 05/10/1916. (40) – Estabelecimento particular de ensino para o povo, onde se transmitiam ensinamentos básicos, como ler, escrever e Fazer contas. Em geral, as aulas eram dadas em templos budistas. (41) – Estabelecimento particular de ensino que teve grande importância na Era Edo e foi instituído principalmente por Especialistas em confucionismo. (
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Nas escolas primárias particulares, o professor usava uma peça de sua residência como sala de aula, e nela se reuniam várias turmas de alunos. Havia muitas escolas assim, do tipo “terakoya”. No “Pedido de Instalação de Escola Primária”, registro existente ainda hoje, consta que a Escola Primária Básica Nishin, a primeira que o Fundador freqüentou, abrigava cinqüenta alunos e um professor numa área de apenas 25 m2. Através disso, podemos ter uma idéia das suas condições. Entretanto, se existiam escolas pequenas e humildes como essa, também havia escolas de bom conteúdo e instalações, como a Escola Primária Assakussa, estabelecimento público para onde o Fundador se transferiu posteriormente. Em verdade, até as escolas primárias de Tóquio situadas bem perto da sede do novo governo encontravam-se nesse estado confuso.
b) ESCOLA PARTICULAR DO TIPO “TERAKOYA” Em janeiro de 1889, com a idade de seis anos, o Fundador entrou na Escola Primária Básica Nishin, situada no bairro de Sanya. Essa escola, como já se disse, fez o “Pedido de Instalação de Escola Primária” em julho desse mesmo ano, e por isso presume-se que, por ocasião do ingresso do Fundador, ela ainda era um estabelecimento de ensino particular do tipo “terakoya”. No mesmo ano, foi aprovada a sua transformação em escola primária oficial. Parece que, nessa oportunidade, o Fundador passou para o segundo ano. No certificado de aprovação datado da primavera de 1890, consta: “Certificamos a conclusão do segundo ano”. Com a data de 16 de setembro do ano anterior, existe também um “Diploma de Honra ao Mérito”, onde está escrito: “Honramos o seu esforço nos estudos e a excelência de sua caligrafia feita a pincel”. Por isso, calcula-se que a promoção do Fundador para o segundo ano tenha sido em caráter excepcional, pelo seu excelente aproveitamento. Nas escolas primárias dessa época, dava-se especial importância à educação moral, e o livro didático então adotado intitulava-se “Lições de Moral para o Primário”, livro esse editado pelo Ministério da Educação. Na primeira página, estava escrito um provérbio do “Raiki”, antigo livro chinês: “Se não lapidarmos a pedra, não teremos a vasilha; se o homem não estudar, não conhecerá o Caminho”. Antigamente, utilizava-se nas escolas o método de decorar através da leitura repetida feita em voz alta; certamente, o Fundador gravou essas palavras no fundo de seu coração. No que se referem às instalações, as escolas da época eram demasiado precárias, em relação às atuais. Essa deficiência era suprida pelo entusiasmo dos professores, que davam muito amor aos alunos, procurando transmitir-lhes seus sentimentos; através de sua personalidade, eles influenciavam os educandos, fazendo desabrochar a sua natureza. O objetivo da Educação era formar homens verdadeiros. Justamente por isso, não foi mera coincidência o aparecimento, nessa época, de muitos personagens de gabarito, possuidores de visão ampla e abrangente. Entretanto, embora o ensino obrigatório estivesse em vigor pela “Lei das Escolas Primárias”, o povo ainda não dava muita importância aos estudos. Além do mais, o poder de obrigar a que todos cumprissem a lei era um tanto fraco. No papel, o sistema fora organizado rapidamente, mas, estandose nos primórdios da Educação Moderna, as condições e o nível de compreensão do povo sobre a necessidade desse sistema eram muito variáveis. Em meio a essa tendência geral, presume-se que houve um grande cuidado por parte dos pais do Fundador no sentido de o colocarem na escola primária, sendo ele o segundo filho. A mensalidade da Escola Primária Básica Nishin oscilava entre 25 e 50 “sen” (centésima parte do iene). Considerando, por exemplo, que o preço de um prato de macarrão era 1 “sen”, e que 1,5 quilogramas de arroz custava 5 “sen” e 4 “rin” (milésima parte do iene), vemos que essa mensalidade era bem alta. Talvez por sentir, no amor de seus pais, a esperança que eles depositavam em sua pessoa, o Fundador esforçava-se bastante nos estudos. Todos os dias fazia um percurso de vinte minutos, por uma estrada de terra, de sua casa, em Hashiba, até a escola.
c) TRANSFERÊNCIA PARA UMA ESCOLA RENOMADA Em maio de 1889, a família Okada mudou-se de Hashiba para Assakussa-Sanya. Como o bairro ficava bem próximo do local onde estava situada a Escola Primária Básica Nishin, esta se tornou de
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fácil acesso para o Fundador. Em novembro de 1891, a família mudou-se novamente, desta vez para o bairro de Senzoku, que distava aproximadamente 350 metros do Templo Senso-ji. Com isso, ele transferiu-se para a Escola Primária Assakussa. A Escola Primária Assakussa começara a funcionar como “shijuku” no início da Era Meiji, instalando-se no interior do Templo Seigan-ji, que ficava situado no bairro de Tajima, em Assakussa, bem próximo do Templo Senso-ji. Mais tarde ela se instalou em outro local e, na época em que o Fundador para lá se transferiu, funcionava no bairro de Umamiti (atualmente, Hanakawado), também próximo deste templo. Era, então, uma escola de renome, considerada uma das cinco melhores do Distrito de Tóquio. Dentre as grandes personalidades que a freqüentaram, figura Massazumi Ando, político que, entre outros cargos; foi Secretário de Estado e Ministro da Educação; o teatrólogo Mantaro Kubota, autor das peças que constam da “Coletânea Mantaro Kubota”, e o poeta Zenmaro Toki, que escreveu as obras intituladas “Sakushabetsu Manyoshu”, “Tayassu Munetake” e outras. A Escola Primária Assakussa, na época em que o Fundador se transferiu para ela, funcionava num prédio recém-construído, de dois andares, feito de tijolos. Como as escolas primárias geralmente funcionavam em prédios térreos, de madeira, podemos dizer que, para aquele tempo, ela era realmente magnífica. O Fundador estudou nessa escola durante quatro anos e meio, até o término do curso, em março de 1896. Seu aproveitamento sempre foi excelente. Na época, era costume os alunos que obtinham essa qualificação serem premiados, durante o ano letivo, pela Comissão de Ensino; no final do ano, eles recebiam “Diploma de Honra ao Mérito”, entregue pelo dirigente do bairro. Os diplomas que o Fundador recebeu quando menino e que ainda existem são: Gravura Gravura Gravura Gravura O fato de continuar com aproveitamento excelente numa escola renomada, embora tivesse avançado um ano no Curso Básico, mostra a inteligência do Fundador. Mas, como um provérbio diz que os céus não fazem duas dádivas a uma só pessoa, ele continuava com a saúde débil que lhe marcara a infância. A respeito dessa época, o Fundador escreveu: “Até os doze ou treze anos eu era uma criança fraca e doentia e vivia tomando remédios. Consegui terminar o curso primário com muito sacrifício e, apesar de minha pouca idade, sentia inveja quando via crianças saudáveis. Mas era interessante como eu tinha bom aproveitamento na escola; sempre estava em primeiro ou segundo lugar, nunca ficando abaixo”.
2. LEMBRANÇAS DA INFÂNCIA Em abril de 1899, a família Okada mudou-se para o bairro de Naniwa, situado em Nihon-bashi, saindo pela primeira vez de Assakussa. Este distrito, onde o Fundador passara a infância - base para a formação do ser humano - ficava situado na zona industrial e comercial da cidade. Nele, assim como em Kanda, Kyo-bashi, Nihon-bashi e outros distritos desta zona, localizados perto da sede do governo do xogum Tokugawa, afloravam as qualidades do caráter das pessoas naturais de Edo. Mas quem nascia em Assakussa, além dessas qualidades, tinha o calor humano próprio das pessoas ricas de sentimento. Lá, havia mansões de daimios, moradias de trabalhadores e comerciantes, e também fazendas agrícolas. Além disso, existiam muitos templos em Assakussa, que também ficava perto das zonas de meretrício. Assim, era um local onde morava todo tipo de gente. Indiferentes às distinções de situação econômica, as crianças brincavam amigavelmente, e os adultos, da mesma forma, se relacionavam sem nenhum constrangimento. Quando havia alguma dificuldade, todos se ajudavam mutuamente. Em Assakussa, as pessoas mantinham um relacionamento sem restrições, como a coisa natural do mundo. O Fundador nasceu e cresceu num lugar como esse, assimilando muitas características que ali se cultivavam.
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a) AS CRIANÇAS DA ZONA INDUSTRIAL E COMERCIAL Nos meados da Era Meiji, o uniforme das escolas primárias, obviamente, não era igual ao de hoje. Usava-se um quimono listrado, com uma faixa azul-marinho arroxeado e um avental azul-marinho. Ao invés de sapatos, usavam-se tamancos ou sandálias de madeira. Nos torneios esportivos, as crianças corriam com sandálias de palha, de meias ou descalças. Esses torneios, ao que consta, eram realizados no pátio do Parque Ueno, porque até as escolas renomadas como a Escola Primária Assakussa tinham uma quadra de esportes pequena. Na época, não existia rádio nem televisão, de modo que as crianças, depois que voltavam da escola, corriam para as confeitarias da vizinhança, compravam com sua pequena mesada os doces mais baratos e os comiam brincando. Ali se vendiam bolachas de arroz, doce de batata-doce, bolinhos de feijão, pirulitos, balas etc.. Cada um desses doces custava de 1 a 2 “rin”. Também se vendia limonada, a 2 “sen”, e outras guloseimas, além de “menco”(42) , piões, aviõezinhos de bambu, papagaios e outros brinquedos bem baratos. Essas confeitarias eram o ponto de encontro da criançada. Um velhinho nascido em Assakussa assim se expressou: “Brincar de “menco” era a grande moda daquela época, na zona industrial e comercial; ninguém ligava para os estudos. Eu brincava até anoitecer. Também brincávamos muito de chutar pedras e de “quente e frio”. As crianças sentem uma alegria incomparável traçando linhas no chão, com giz, ou cavando a terra com um pedaço de madeira, não é verdade? Tenho pena das crianças de hoje, que estão rodeadas de concreto e não podem brincar com terra...”. Saindo-se da casa onde o Fundador nasceu e caminhando-se por uma rua estreita, encontrava-se, logo adiante, a ·residência da família Sakakura, proprietária daquela casa. Seguindo-se em frente, chegava-se a outra rua, onde ficava a mansão do antigo daimio Arima, atrás da qual passava o Rio Sumida. Próximo dali, havia um cais para o desembarque das cargas, chamado Monzo Gashi, denominação originada de Manzaburo, nome do dono da Loja Sakakura. Esse cais era o local favorito das crianças, para a suas brincadeiras. Nas proximidades de Hashiba existiam muitos templos. O Templo Tyosho-ji, localizado em Imado, perto da casa do Fundador, tinha um terreno amplo, onde a criançada dos arredores corria como se estivesse em sua casa, gritando alegremente até o anoitecer. O Fundador, que era um menino doentio, não brincava nem mesmo quando o chamavam; na maioria das vezes, ficava lendo ou desenhando à sombra do imóvel portão do templo. Sendo assim, ele devia olhar com inveja as crianças saudáveis que corriam de um lado para o outro...
b) AS PESSOAS POBRES Em Assakussa, instaladas nas residências de seus proprietários, existiam sólidas fábricas, tradicionais desde a Era Edo. A população era grande, e não se podia dizer que o local dispunha de todas as condições para receber a indústria moderna, de grande envergadura, característica da Era Meiji. Grandes fábricas foram sendo então, construídas nas ruas da cidade. Elas eram, de fato, o símbolo da modernização do Japão e a força que impulsionava o progresso do país. Entretanto, no início da Era Meiji, quando ainda não estavam suficientemente definidos os direitos humanos fundamentais, as condições de trabalho dos empregados das fábricas modernas eram bem precárias. Em 1887, construiu-se uma fábrica de tecelagem próxima de Kanegafuti, local onde o Rio Sumida faz uma grande curva, a menos de 1 quilômetro ao norte da Ponte Shirahigue. Na época, havia, nessa fábrica, aproximadamente mil e seiscentas operárias, a maioria das quais eram moças na faixa etária de treze a vinte e quatro anos, que trabalhavam em dois turnos diários de doze horas cada um. O horário de descanso durante esse período era de apenas trinta a quarenta minutos por turno. Quando o trabalho apertava, antes e depois do horário normal, acrescentavam-se mais duas horas. Havia ocasiões em que se chegava a trabalhar dezenove horas. A remuneração era de 8 a 10 “sen” por dia, pagando-se somente 30 a 40 “sen” por mês, de horas-extras. Pagas as despesas com refeições, as operárias ficavam quase sem dinheiro. Além do mais, cada refeição custava 2 “sen”, constando, geralmente, de alguns pedaços de inhame, raízes de lótus e conserva de nabo; algo absurdo para esse preço. Só em comida elas gastavam 1 iene e 80 “sen” por mês. Dizem que as moças que moravam em (42)
– Tabuleiro de jogo com cinco pedras.
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alojamento tinham uma vida muito precária: cada uma dispunha do espaço de um só “tatami” e de um acolchoado fino e duro. Quando fazia frio, elas tinham de dormir umas agarradas às outras. E isso não acontecia apenas na fábrica de tecelagem de Kanegafuti; era a trágica história das mulheres que trabalhavam em fábricas, nos Estados de Yamanashi, Nagano e em todas as outras regiões. Até as empresas que defendiam melhores condições para os trabalhadores, estavam em tal situação. Entusiasmadas com o grande movimento que havia em Assakussa, muitas pessoas se dirigiram para lá, pensando fazer fortuna. Já na Era Meiji, existiam, no bairro de Sanya, pousadas a preço bem baixo, onde as pessoas podiam hospedar-se. Na Era Showa, tal local transformar-se-ia num lugar de hotelaria popular. O Fundador foi criado num lar muito pobre, presumindo-se que, por isso, tenham ficado fortemente gravados, em seu coração, a dor e o sofrimento causados pela miséria. Ele não os conheceu em termos teóricos, mas por meio da sua própria vivência, de modo que lhe doía muito ver as pessoas à sua volta sofrendo por esse problema. Passando por tais experiências, ele não se limitou apenas a sofrer, mas fez dos sofrimentos e adversidades o alimento espiritual que poliram ainda mais o seu amor altruísta e aumentaram, em largura e profundidade, a sua personalidade. Isso resultou, anos mais tarde, numa busca da prática para salvar o próximo e solucionar o problema da pobreza existente em todas as épocas.
c) A HISTÓRIA DOS DOIS VELHINHOS Quando a família Okada morava em Senzoku, havia, entre a vizinhança, dois velhinhos cujas experiências deram ao Fundador uma noção bastante clara sobre o destino do ser humano e os castigos que lhe são infligidos pelos crimes que comete. Um deles, apelidado Hanagame, era um comerciante amigo de Kissaburo, pai do Fundador. Possuía uma loja de utensílios considerada a primeira de Assakussa, na época. O nome Hanagame (flor-tartaruga) era uma abreviação de “Hanakawado ni sumu Kame-san” (Sr. Tartaruga que mora no Portal do Rio das Flores). Esse velhinho perdera a visão por volta dos sessenta anos. Foi Kissaburo quem contou a história de Hanagame ao Fundador. Quando ele já era um homem de meia-idade, o bonzo responsável por um templo de Shizuoka alugou o terreno do Templo Senso-ji, planejando expor aí a Imagem de seu templo. Sua intenção era fazer com que muitos peregrinos fossem vê-la, o que lhe permitiria arrecadar bastante dinheiro. Entretanto, contrariando suas expectativas, não apareceram muitos visitantes, e ele ficou com uma dívida enorme. Por estar de viagem, não tinha dinheiro sobrando; sem outra alternativa, fez um empréstimo, deixando a Imagem de Kannon como garantia até a liquidação da dívida. Em seguida, retornou à sua terra. Quem emprestara o dinheiro a esse bonzo, em troca da Imagem, fora Hanagame. Este, porém, não cumpriu o compromisso e vendeu-a a um estrangeiro. Sem saber de nada, o bonzo levou-lhe o dinheiro e pediu-lhe que devolvesse a Imagem. Mas Hanagame não o atendeu, dizendo: “Não me lembro absolutamente de ter feito esse trato. Deve haver algum engano.” O bonzo, num beco-semsaída, enforcou-se em frente à casa do comerciante, amaldiçoando-o. Mais tarde, Hanagame ampliou sua loja, mas depois de algum tempo perdeu a visão. Além do mais, seu único filho tornou-se um alcoólatra depravado que gastou toda a fortuna da família em poucos anos, tendo deixado a casa sem que ninguém soubesse de seu paradeiro. Assim, Hanagame foi decaindo rapidamente. Vivia com muita dificuldade, ajudado por parentes. Por diversas vezes o Fundador o vira andando pela cidade, guiado por sua esposa, já idosa. Guinjiro, o outro velhinho que morava perto da casa do Fundador e era conhecido pelo apelido de Kyoguin, trabalhava como encadernador de sutras. Excelente profissional. Entretanto, sendo sócio de um pintor muito hábil em falsificações, era, também, perito na falsificação de quadros, dando-lhes hábeis toques de Antigüidade. O Fundador ia muito à sua casa, para brincar, mas nela havia um quarto onde não era permitida a entrada de ninguém. Diziam que era o local dos trabalhos secretos. Entretanto, por volta dos sessenta anos, Kyoguin perdeu a visão. A figura dos dois velhinhos que, em conseqüência dos pecados cometidos, passaram os últimos anos de sua vida de maneira tão trágica, deixou uma impressão indelével no coração complacente do Fundador.
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CAPÍTULO III
JUVENTUDE
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1. A LUZ E AS TREVAS a) A ESCOLA DE BELAS-ARTES DE TÓQUIO Em março de 1896, o Fundador terminou o Segundo Nível da Escola Primária Assakussa. Normalmente as crianças levavam oito anos para terminá-lo, mas ele levou apenas sete. Era primavera, e o Fundador estava com treze anos. Na lista dos formandos constava o rumo que os vinte e nove alunos iriam seguir. Tendo-se em vista que concluíram o Curso Básico cento e seis crianças, nota-se que poucas continuavam os estudos. Dentre os alunos que estavam terminando o Segundo Nível, menos da metade iria prossegui-los, ingressando no Curso Ginasial. Parece que a maior parte entraria para o comércio. Na linha correspondente ao Fundador, constava: Comércio Mokiti Okada Por conseguinte, acreditamos que ele tenha trabalhado nesse ramo por algum tempo. Entretanto, o Fundador tinha um sonho: ser pintor. Ele, que desde pequeno gostava de desenhar, manifestava, cada vez com maior entusiasmo, este desejo: “Se eu puder ganhar a vida com a pintura de que tanto gosto...”. A família Okada, que por uns tempos, chegara a não ter o que comer em certos dias, finalmente começou a ver melhorar sua situação financeira. A filha mais velha, Shizu, era um grande apoio para os pais. Nascida em 1872, dez anos, portanto, mais velha que o Fundador, começara a trabalhar com a idade de quinze anos, no Restaurante Kaguetsu, situado em Tsukiji. Pouco tempo depois de casada, seu marido faleceu, mas ela continuou com a Pensão Seiguetsu. Era uma mulher que fazia tudo sozinha. Graças à ajuda dessa irmã, o Fundador pôde ingressar, em setembro de 1897, no curso Preparatório da Escola de Belas-Artes de Tóquio, atual Universidade de Artes de Tóquio. A Mussashi-ya, que durante longo tempo fora uma próspera loja de Sanya, há muito já havia falido. O casal Kissaburo e Tori, depositando grandes esperanças no filho, tão provido de boas aptidões, certamente sonhava com o soerguimento da família Okada. Achavam que a pintura era a profissão mais adequada para ele, doentio de nascença, pois lhe permitiria trabalhar em casa. Certamente havia esse cuidado por parte do casal. O Fundador sentia-se indescritivelmente feliz por ter ingressado na Escola de Belas-Artes. Agradecido por poder seguir a carreira desejada, apesar da situação difícil, o seu jovem coração deve ter ficado saltitante com as esperanças que se Lhe apresentavam. Ele acordava antes dos familiares, cozinhava o arroz e preparava sua marmita. Era uma atenção para com a mãe, que, na época, já passava dos quarenta e cinco anos e estava cansada, pela vida sofrida que sempre tivera. Em seguida, com a maior disposição, fazia o percurso de 1,5 quilômetros que separava sua casa, em Senzoku, e a Escola de Belas-Artes, situada no Parque Ueno. O Curso Preparatório, no qual o Fundador ingressou, corresponde ao atual Curso de Instrução. Tinha a duração de um ano e estava dividido em dois ramos: o ramo Ko, seguido pelos aspirantes ao campo da pintura, desenho e trabalhos com laca, e o ramo Otsu, freqüentado por aqueles que aspiravam ao campo da escultura, inclusive escultura em metal e fundição. Supõe-se que o Fundador tenha entrado para o primeiro. Terminando o Curso Preparatório, o aluno ia para o Curso Normal, que duravam quatro anos. Entre os que ingressaram na Escola de Belas-Artes de Tóquio no mesmo ano que ele, estava Kotaro Takamura, que brilhou como escultor e também como poeta. A Escola de Belas-Artes de Tóquio, situada em Ueno, foi fundada por Kakuzo Okakura, cujo nome artístico era Tenshin. Na época, por demais compenetrados na cultura ocidental, os japoneses mostravam-se fortemente inclinados a ignorar a excelência das belas-artes do seu país. Desgostoso com isso, Tenshin instituiu a citada escola como estabelecimento educativo para restaurar as belas-artes japonesas. Em 1897, quando o Fundador ingressou no Curso Preparatório, ele ainda ocupava o cargo de diretor e inclusive dava aulas de História. O empenho que fazia para criar a arte de uma nova época,
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baseada no decurso da arte tradicional do Japão e de outros países do Oriente, moveu o coração de muitos alunos, e dessa escola saíram vários gênios representativos das belas-artes japonesas. Entretanto, a alegria do Fundador durou pouco. Certo dia, poucos meses depois de ter começado a freqüentar a Escola de Belas-Artes, ele sentiu sua vista embaçar e começou a ver as coisas duplicadas. De início, pensou que era devido ao cansaço; todavia, a doença dos olhos tornava-se persistente, demorando a sarar. Ele iniciou, então, um tratamento na Clínica Oftalmológica Meimeido, muito famosa na época, mas não ficou curado. Os médicos, preocupados, limitavam-se a inclinar a cabeça. Para alguém que aspirava a ser pintor, uma doença maligna na vista era fatal. E não se podia fazer idéia de quando o Fundador iria sarar daquela enfermidade complicada. O medo ia invadindo seu, coração. Depois de muito sofrer, reprimindo a tristeza, ele deixou a escola oficialmente. Podemos imaginar como deve ter sido grande o sofrimento e a tristeza daquele jovem coração que viu desabar tão cedo os seus castelos de sonhos e esperança no futuro, em virtude de uma condição inesperada e decisiva.
b) CONTÍNUA LUTA CONTRA A DOENÇA O período transcorrido dos quatorze anos, idade em que ingressou na Escola de Belas-Artes, até os vinte anos período em que todos os jovens sentem a energia da vida foi, para o Fundador, uma seqüência de anos negros de sofrimento, causado pela doença. O problema dos olhos, que já se prolongava há dois anos, não melhorava, e ele então resolveu desistir dos tratamentos. Logo depois, como que para derrubá-lo, foi acometido de pleurisia, doença que lhe acarretou grandes despesas. Estas acabaram se tornando insustentáveis, e ele teve de ser internado no setor de tratamento gratuito do hospital da Faculdade de Medicina da Universidade Imperial de Tóquio. A internação e o tratamento eram inteiramente grátis; em contrapartida, tinha de servir de cobaia para as aulas práticas dos estudantes. O sofrimento psicológico pelo qual o Fundador passou no hospital não foi, portanto, nada pequeno. Além do mais, a pleurisia é uma doença complicada. Quando se acumula água na pleura, é preciso fazer punção, extraindo-a com uma grande seringa. Após quase um ano de tratamento, o Fundador parecia completamente curado, mas depois teve uma recaída. A respeito dessa época, ele escreveu: “Quando eu tinha quinze anos, contrai pleurisia. Através de tratamento médico, feito durante quase um ano, fiquei completamente curado. Por algum tempo tive saúde, mas depois sofri uma recaída. Desta vez, a doença progredia aceleradamente e eu ia piorando cada vez mais. Passado pouco mais de um ano, diagnosticaram-me tuberculose de terceiro grau. Nessa época, eu estava exatamente com dezoito anos. Resolvi, então, consultar o falecido Prof. Tatsukiti Irissawa(43), o qual, depois de minuciosos exames, disse-me que já não havia esperança de cura”. Em plena juventude, quando seu coração deveria encher-se de esperanças e perspectivas infinitas, o Fundador sentiu-se vazio, devido ao grande choque recebido ao ouvir as palavras do médico, equivalentes a uma condenação à morte. Muito triste, ele não sentia vontade de fazer coisa alguma, passando dias de grande preocupação. A morte, um destino do qual parecia não poder fugir, aproximava-se com a boca escancarada, como se fosse um túnel escuro. Ele não via nenhum meio de escapar-lhe. A cada hora ela se aproximava mais. Tempos depois, o Fundador descreveu seu estado de espírito: “Era como se eu tivesse sido condenado à morte sem dia determinado para a execução”. Entretanto, das entranhas do seu enfraquecido corpo surgiu uma força misteriosa. Que fazer para corresponder ao apelo que vinha do fundo do seu coração dizendo-lhe que era preciso viver, que era preciso querer viver? O Fundador passou dias e dias procurando uma resposta para essa pergunta e por fim tomou uma decisão: “Então, eu me decidi. Já que ia morrer de qualquer maneira, achei que não havia outro jeito senão tentar o milagre da cura através de algum método diferente. Pus-me à procura desse método”. Nessa época, ele já estava um pouco melhor da vista. Em sua vida de luta desesperada contra a doença, tinha uma única alegria: pintar quadros. Muitas vezes folheava velhos álbuns de pintura, onde (43)
– Autoridade em medicina interna e médico da Família Imperial, nascido em 1865 e falecido em 1938.
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as obras estavam ordenadas segundo a variedade e acompanhadas de comentários. Certo dia, o Fundador leu um livro sobre plantas medicinais. Observou os desenhos das raízes das plantas e das cascas das árvores, leu as explicações sobre os efeitos terapêuticos das flores, folhas e frutos, e nisso teve uma idéia brilhante: seguir uma dieta vegetariana, já que as plantas contêm elementos tão proveitosos. Fez, então, a experiência, para ver os resultados, e constatou que o método era muito bom. Sob orientação médica, ele, que comia alimentos de origem animal, passou a alimentar-se exclusivamente de vegetais. E qual foi o resultado? Sarou, miraculosamente, da tuberculose, diagnosticada pelo médico como sendo incurável. Assim, o Fundador atingiu a maioridade(44) no final da batalha contra doença. Como havia sido salvo, coisa que ele e as pessoas que o rodeavam não esperavam mais, sua alegria de renascer era enorme. Entretanto, embora tivesse superado a tuberculose, que, naquele tempo, era considerada uma doença incurável, seu físico, fraco de nascença, continuava débil. Transcorreram vários anos até que o Fundador se tornasse uma pessoa verdadeiramente saudável. A propósito do seu estado de saúde nessa época, conta-se um episódio bem ilustrativo: Até o fim da Segunda Guerra Mundial, quando um rapaz completava vinte anos, tinha de fazer exame médico para o alistamento militar. Nessa oportunidade, disseram ao Fundador: “Seu corpo é um lixo”. Assim, ele foi classificado na categoria “hei-shu”, situada imediatamente antes da categoria “tei-shu”, dada aos inválidos, o que demonstrava as suas péssimas condições físicas. Naquele tempo, cheio de sonhos, o Fundador tendia a fechar-se em si mesmo, devido ao sofrimento causado pelas sucessivas doenças. Relembrando essa fase de sua vida, ele escreveu: “Dos quinze aos vinte anos mais ou menos, era mais tímido que qualquer outra pessoa. Sem nenhum motivo, tinha receio de me encontrar com desconhecidos; principalmente quando achava que a pessoa era um pouco mais importante, nem conseguia falar direito com ela. Diante de moças, eu enrubescia, meus olhos ficavam perdidos e eu nem ao menos conseguia olhar para o rosto delas ou falar-lhes. Como fiquei pessimista por causa disso! Conseqüentemente, muito duvidei se conseguiria integrar-me na sociedade como cidadão adulto. Naquela época, quando me via frente a qualquer pessoa, sempre tinha a impressão de que ela era mais inteligente e importante que eu”. (Alicerce do Paraíso - Pessoas Medrosas)
2. O NOVO CAMINHAR a) NIHON-BASHI, KYO-BASHI, TSUKIJI. Em abril de 1899, Kissaburo mudou-se do bairro de Senzoku, em Assakussa, para o bairro de Naniwa, em Nihon-bashi, onde abriu uma loja de utensílios usados. Essa região, atualmente, é um grande centro comercial, e já o era naquela época. Com as vitórias obtidas na Guerra Sino-Japonesa, especialmente a de 1894 e a de 1895, as pessoas adquiriram autoconfiança e alegres perspectivas, e a economia do país alcançou um progresso espantoso. Naturalmente, Nihon-bashi também apresentou um grande desenvolvimento. Foi nessa época que Shizu, a irmã mais velha do Fundador, assumiu a administração da Pensão Seiguetsu. O negócio foi prosperando cada vez mais, e, como lhe faltava mão-de-obra, Shizu pediu ajuda ao pai. A família mudou-se, então, para o bairro de Kobiki, no Distrito de Kyo-bashi, onde estava situada a pensão, e todos passaram a ajudar no serviço. Melhorando seu estado de saúde, o Fundador começou a colaborar na contabilidade, enquanto ia se restabelecendo. Atualmente, o bairro de Kobiki está incorporado a Guinza; na época, entretanto, lá estavam sediados alguns órgãos do governo, entre os quais o Ministério da Agricultura e Comércio e o Ministério das Comunicações. Nos bairros vizinhos, do outro lado do pequeno rio, havia muitos jornais, bancos e grandes empresas. Favorecida por essas condições, a Pensão Seiguetsu, instalada numa casa assobradada que tinha uns dez quartos, sempre estava repleta de fregueses, por ser uma hospedaria muito prática. (44)
– No Japão, aos vinte anos, sendo comemorada no dia 15 de Janeiro.
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Na Lista Telefônica de 1902 consta: Os assinantes, na época, eram muito poucos, em comparação com os de hoje. Primeiro, porque a aquisição de um telefone custava 15 ienes, e a anuidade pelo seu uso era 66 ienes. Assim, tornava-se muito limitado o número de casas que podiam ter telefone. Para se ter uma idéia, 1,5 quilograma de arroz custava, na época, 15 “sen”; uma tigela de “morissoba”(45) ou “kakessoba” (46) , 1 “sen” e 8 “rin”. Entretanto, alguns anos depois que assumiu a administração da Pensão Seiguetsu, Shizu faleceu repentinamente, de pneumonia aguda, em fevereiro de 1902. Contava, então, vinte e nove anos, tendo morrido bem na época em que sua hospedaria estava começando a prosperar. Seu filho, chamado Hikoitiro, ficou com o Fundador, que lhe dedicava um carinho tão grande como se fosse seu pai. Hikoitiro tornou-se um jovem consciente, e o tio depositava grandes esperanças em seu futuro. Achando que o serviço de hospedaria era negócio para mulher, Kissaburo não quis dar-lhe prosseguimento. Assim, logo depois do falecimento da filha, vendeu a Seiguetsu. Com o dinheiro da venda, construiu uma casa e mudou-se para Tsukiji, um bairro vizinho. A partir de então, a família passou a ter uma vida recatada. A essa altura, o Fundador já passava dos vinte anos. Desejando abrir futuramente, com seu pai, uma loja de antiguidades, sonho que acalentava há longos anos, começou a fazer pesquisas nesse sentido. Na época, após o jantar, ele costumava passear pela Rua Guinza e adjacências, fazendo um percurso de 800 a 900 metros. Entretanto, não era um simples passeio. O Fundador percorria as inúmeras lojas noturnas, parando especialmente nas de objetos usados, os quais ele pegava e examinava atentamente. Ao voltar para casa, pedia a opinião de seu pai sobre determinado objeto bem antigo que lhe parecera muito valioso. Vez por outra comprava um desses objetos, e, em casa, os dois faziam comentários sobre ele, precisando-lhe o valor. Através dessa experiência, o Fundador foi pouco a pouco se tornando capaz de avaliar antiguidades; com o tempo, adquiriu uma aguçada capacidade de apreciação e avaliação do Belo, no tocante às belas-artes em geral. Mais tarde, a experiência também lhe foi de grande utilidade para a coleção de magníficas obras, o que, por sua vez, resultou na construção do Museu de Belas-Artes.
b) APRENDIZAGEM DE “MAKI-E” Nessa época, o Fundador interessou-se pelo “maki-e”, elevado tipo de artesanato, característico do Japão e tradicional desde a Era Nara (710 - 784). Pensando em, futuramente, expor suas obras na loja que pretendia adquirir, começou a aprender essa técnica com um profissional da vizinhança. “Maki-e” é um tipo de artesanato em laca. Passam-se várias mãos de laca na madeira e depois se faz um esboço do desenho também com laca. Antes que seque, espalha-se ouro, prata, chumbo ou outros metais em pó; ou então, polvilha-se a madeira com pigmentos vermelhos ou brancos, ou com um pozinho colorido, com eles descrevendo desenhos ou figuras. Daí o nome “maki-e”, que significa “desenho semeado”. Na prática, entre outros recursos, ainda se passa mais laca e raspa-se com carvão. É um artesanato muito trabalhoso. No Japão, desde os tempos antigos, móveis como guarda-roupas e cômodas, utensílios de uso diário como “suzuribako” (47), bandejas e “tebako”(48), e objetos pessoais como pente, “inro”(49) e muitos outros eram artisticamente adornados com “maki-e”. O artesanato em laca é uma técnica característica do Oriente em geral, mas o “maki-e”, que pertence ao mesmo tipo, é uma técnica elaborada e criada no Japão. Justamente por isso ele é conhecido pelo mundo como um tradicional artesanato representativo desse país. Tal como a palavra “china”, em inglês, designa a porcelana própria da China, a palavra “japan” designa não só a porcelana japonesa como também “laca”, ou “objeto de laca”. (45)
– Macarrão japonês que se põe numa peneira de bambu e se vai colocando aos poucos numa tigela contendo um caldo Apropriado, à medida que se come. (46) – O mesmo macarrão, já colocado junto com o caldo numa tigela grande. (47) – Caixa para se guardar o pincel e a vasilha onde se prepara tinta carvão para fazer caligrafias. (48) – Caixa onde se guardam objetos de uso diário. (49) - Caixa de remédios que se usa pendurada na cintura.
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Com o passar do tempo, o Fundador foi conseguindo executar todo o processo sozinho, desde o esboço até o acabamento do objeto, chegando a assimilar a técnica a ponto de fazer braseiros e cinzeiros. Justamente nessa época, foi inaugurada uma exposição de belas-artes em Ueno, e as obras de sua autoria que ele aí expôs tiveram muito boa aceitação e foram todas vendidas. Encorajado por esse fato, o Fundador dedicou-se ainda mais ao “maki-e”. Mais tarde, na loja de miudezas que passou a administrar, colocou à venda trabalhos seus. Embora com muitas modificações, os anos vividos em Tsukiji foram, para a família Okada, uma época mais fácil e tranqüila, em termos familiares. Em 1901, Takejiro, irmão do Fundador, casou-se com uma jovem chamada Sue. Incluindo o casal e Hikoitiro, filho de Shizu, eram seis pessoas ao todo, vivendo uma vida de paz e amor. O Fundador não tinha nenhum amigo mais íntimo, em especial, mas dava-se muito bem com seu pai e com seu irmão. Kissaburo amava as belas-artes desde jovem e também tinha dons artísticos, por isso ninguém melhor do que ele entendeu a aspiração do filho à carreira artística. Com Takejiro, às vezes o Fundador tinha sérias discussões de homem para homem, mas havia entre eles um bom entendimento e os dois saíam juntos freqüentemente. Por essa época, o Fundador costumava convidar Tori, sua mãe, que gostava muito de “yosse” (50), para assistirem juntos a sessões de “rakugo”(51) e outras apresentações artísticas. Além disso, como todas as pessoas da zona industrial e comercial, ele mostrava um gosto todo particular pelo “rokyoku” (ou “naniwabushi”)(52)e, durante o banho, muitas vezes o recitava com o maior prazer. Se os familiares riam dele, dizia: “Que mal há? Eu faço isso porque gosto”, e recitava mais alto ainda. A saúde do Fundador não estava completamente restabelecida; apesar disso, havia muita alegria em seu lar. Graças ao fato de viver num ambiente tão cheio de amor e calor humano, embora adoecesse seguidamente e tivesse inúmeros desmaios, sempre conseguia erguer-se e olhar de frente para o futuro. No tocante às diversões, às vezes ele também ia ao cinema. Na época, este era denominado “fotografia em movimento” e, após sua primeira exibição em Paris, em pouco tempo se expandiu para o mundo inteiro. O Fundador relembra aquela época dizendo: “Nunca me esquecerei. Eu estava com dezesseis ou dezessete anos quando assisti a uma exibição cinematográfica pela primeira vez. Isso faz mais ou menos cinqüenta anos; posso dizer, portanto, que sou o mais antigo fã do cinema, que estava entrando no Japão nessa época. Naturalmente, os filmes mostravam o movimento das ondas do mar, cachorros correndo, pessoas andando etc.. Em comparação com os filmes atuais, eram extremamente infantis; mesmo assim, todos ficavam boquiabertos, o que mostra a diferença de épocas. O primeiro filme historiado que eu vi, era francês. Um marinheiro voltava para casa, depois de uma viagem; ao chegar lá, aconteceu um fato do qual não me lembro muito bem. Eram filmes muito simples, exibidos numa casa modesta chamada Denki-Kan, situada no Parque Assakussa. Logo depois, surgiu o famoso apresentador Saburo Somei.” (Texto extraído de uma obra editada em 30 de agosto de 1949). O cinema foi importado pelo Japão em 1896. Via-se a tela olhando-se por uma janelinha aberta na parte superior de uma caixa; meio ano após, na primavera de 1897, importou-se um cinematógrafo, que projetava o filme numa tela feita com uma cortina bem ampla. Grande número de espectadores se reuniam sob o impacto dessa imagem. Ela foi apresentada em Tóquio, pela primeira vez, em março de 1897, no Kinki-Kan, localizado em Kanda. Depois, os poucos produtores existentes começaram a importar filmes de curta duração, que levaram para as grandes cidades e, posteriormente, para todo o país, onde eles eram exibidos em salões alugados. Supõe-se que o primeiro filme visto pelo Fundador tenha sido desse tipo. Embora fosse um cinema incipiente, o mundo em que as pessoas e as coisas se moviam diante de seus olhos através de um filme era, para o povo da época, que raramente saía do país-ilha chamado Japão, algo assombroso, que lhe despertava enorme interesse.
(50)
– Teatro onde se apresentam espetáculos tipicamente japoneses. – Peça de um só personagem onde se faz uma colocação final de modo que o público ache graça. (52) – Récita de contos guerreiros, peças teatrais e outras obras literárias, feita em tom popular, com o acompanhamento de “Shamissen, instrumento musical de três cordas, semelhante ao bandolim. (51)
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3. ESFORÇO PARA O CRESCIMENTO a) RUIKO KUROIWA E O JORNAL “YOROZUTYOHO” No período entre 1902 e 1905, o estado de saúde do Fundador foi melhorando cada vez mais. Ele levava uma vida tranqüila, contando com o apoio de seus familiares. Nessa época, esforçou-se bastante, principalmente na leitura. Sua vontade de progredir era fora do comum. Mesmo quando ouviu a sentença de que estava com uma tuberculose incurável, jamais abandonou a leitura; à noite, depois que se deitava, lia os jornais, revistas e livros que não terminara durante o dia; segundo dizem, quem dormia mais tarde, na família, era ele. Sue a esposa de seu irmão, conta que o cunhado lia até no banheiro. Os livros que o Fundador mais apreciava eram as histórias sobre os homens de negócio que subiram na vida. Através delas, aprendia sobre os sofrimentos, princípios e idéias desses homens, o que serviu, entre outras coisas, para abrir-lhe o caminho. Ele seguia as experiências verídicas de cada indivíduo, preparando-se, assim, para o momento oportuno. O Fundador atingiu a maioridade em 1902, quando as histórias sobre o sucesso de homens de negócio eram muito apreciadas na sociedade. Desde a Restauração Meiji, o governo, para desenvolver a edificação de um novo Japão, deu grande importância à formação do elemento humano, objetivando o aparecimento de personalidades que desbravassem o destino do país. Por isso, a obtenção do sucesso e do poder foi habilmente incentivada, como objetivo comum para toda a população. Tais pensamentos foram se infiltrando amplamente entre o povo, e um dos lemas da época era subir na vida e adquirir uma posição de destaque. Foi por esse tempo que se publicou a revista “Seiko” (“Sucesso”), e que a revista “Jitsugyo no Nippon” (“O Japão Empresarial”) estabeleceu a diretriz de publicar, em todos os números, experiências e memórias de empresários. O Fundador, que sempre lia esses artigos, dizia, admirado: “Os bem-sucedidos são mesmo diferentes...”. Em geral, as pessoas achavam que o único objetivo do sucesso era sua felicidade pessoal; o objetivo do Fundador, entretanto, baseava-se no ideal universal de encaminhar grande número de pessoas à felicidade por meio de uma posição privilegiada. Podemos constatar isso pelas palavras que ele costumava dizer à sua família: “Quando eu subir na vida, vou ajudar os que estão em dificuldades, pois quero acabar com as pessoas que perturbam a sociedade. É uma idéia que não sai da minha mente”. Entre as publicações que o Fundador lia com entusiasmo, incluíam-se os jornais. Numa época em que não existia rádio nem televisão, este era o único meio de se ficar sabendo do que acontecia dentro e fora do Japão. O Fundador lia tantos jornais quanto podia: o “Yamato Shinbun”, o “Niroku Shinpo” e principalmente o “Yorozu-tyoho” (53), diário publicado por Ruiko Kuroiwa, que ele lia com grande ansiedade. Na época, os jornais custavam 1 “sen”. O “Yorozu-tyoho” apontava todas as fraudes e irregularidades do mundo político e financeiro, atacando-o severamente, e por isso era muito temido por uma parte das camadas superiores da sociedade. Ele se destacava tanto, entre os jornais da época, a ponto de se dizer que, todas as manhãs, o Primeiro Ministro Hirobumi Ito o folheava antes de qualquer outro periódico. Quando Kanzo Utimura(54) reingressou no “Yorozu-tyoho”, Ruiko proclamou a instituição do “Grupo Ideal”, com o objetivo de melhorar a sociedade, e pediu a participação dos leitores. O Fundador sentiu-se profundamente identificado com essa iniciativa e, mais tarde, aspirou a administrar uma empresa jornalística com o propósito de defender a justiça social. Essa postura está ligada ao pensamento de Ruiko, que ele conheceu através do “Yorozu-tyoho.”. Ruiko Kuroiwa também fazia conferências, e o Fundador foi assistir a várias. A esse respeito, ele escreveu: “O Sr. Kuroiwa Ruiko, ex-diretor do antigo jornal “Yorozu-tyoho” e famoso tradutor de (53) (54)
– “Jornal matutino de utilidade para tudo”. – Cristão defensor do princípio de que todas as normas da Igreja são desnecessárias e que o estudo e a divulgação da Bíblia são muito importantes. Em 1897, pouco antes da formação do “Grupo Ideal’’, tornou-se o principal colaborador da seção de inglês do “Yorozu-Tyoho”. Fez muito sucesso na difusão religiosa e em amplas atividades de expressão.
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romances, também cultivava a filosofia. Fui ouvinte assíduo de suas palestras. Citarei um trecho que ouvi e muito me impressionou: “Todo homem nasce mesquinho”. Para aperfeiçoar-se, deve cultivar uma segunda personalidade, isto é, nascer pela segunda vez.” Estas palavras ficaram gravadas na minha mente e me esforcei no sentido de colocá-las em prática na minha vida, o que me trouxe muitos benefícios. “ No dia 10 de julho de 1904, num lugar chamado Iitikan, situado em Kanda, Tóquio, Ruiko Kuroiwa fez uma conferência intitulada “Problemas da vida: método de aprimoramento”, para aproximadamente quinhentas pessoas, a maioria das quais eram estudantes. Nessa conferência, desenvolvia-se o tema “fazer renascer o velho eu, tornando-se uma nova pessoa”. Certamente foi nessa oportunidade que o Fundador, presente entre os ouvintes, ficou tão impressionado. O pensamento e as ações de Ruiko Kuroiwa influenciaram muito a sua formação pessoal na juventude, quando ele não se cansava de procurar o caminho que deveria seguir.
b) ESTUDOS DE FILOSOFIA O Fundador leu, ainda, muitos livros de filosofia ocidental. A “filosofia da intuição”, de Henri Bergson, e o “pragmatismo”, de William James, foram as teorias com as quais ele se sentiu mais identificado e às quais deu mais valor. Henri Bergson (1859 - 1941) é um francês de origem judia nascido em Paris nos meados do século XIX. Opondo-se ao pensamento que considerava absoluto o conhecimento científico, pregou a “filosofia da vida” e a “filosofia da intuição”, as quais o Fundador resumiu de forma muito simples e compreensível, colocando-as bem próximas da vida diária e mostrando-as como diretrizes da vida. Tempos depois ele escreveu: “Quando jovem, fui simpatizante da teoria de Henri Bergson, o eminente filósofo francês (18591941)”. Ainda me lembro dessa teoria e vou expô-la, nesta oportunidade, por considerá-la de grande proveito do ponto de vista religioso. Segundo minha interpretação, a filosofia de Bergson baseia-se nestes três princípios: “Todas as coisas se movem”, “Teoria da Intuição” e “O eu do momento”. Dentre eles, o que mais me impressionou foi a “Teoria da Intuição”, a qual diz o seguinte: “É algo dificílimo ver as coisas exatamente como elas são, captar o seu verdadeiro sentido, sem cometer o mínimo engano.” Estudemos o porquê dessa afirmativa. Os conceitos formados pela instrução que recebemos, pela tradição, pelos costumes, etc., ocupam o subconsciente humano formando como se fosse uma barreira, e dificilmente o percebemos. Tal “barreira” constitui um obstáculo quando observamos as coisas. (...) A “Teoria da Intuição” encarrega-se de corrigir tais erros, comuns entre os homens. Libertandoos, completa-mente, de preconceitos, ela os ensina a fazerem uma fiel observação dos fatos. “Para isso é necessário ser “o eu do momento”, isto é, fazer com que a impressão instantânea, captada pela intuição, corresponda à verdadeira substância do objeto de observação”. (Alicerce do Paraíso Filosofia da Intuição) Em outra oportunidade, o Fundador escreveu: “Dentro de sua filosofia, Bergson emite um conceito muito interessante: “Todas as coisas se movem.” Isso significa que tudo está em contínuo movimento. Este ano, por exemplo, difere do ano passado em tudo. O mesmo podemos dizer a respeito do mundo, da sociedade e dos nossos próprios pensamentos e circunstâncias. Somos diferentes até mesmo do que fomos ontem, ou há cinco minutos atrás. Aqui, podemos aplicar o velho ditado: “Trevas a um palmo do nariz.” Assim, se aplicarmos a teoria bergsoniana ao homem, em todas as circunstâncias, notaremos o seguinte: diante de um fato, as nossas observações e pensamentos de hoje devem ser diferentes das observações e pensamentos do ano anterior. Em sentido mais amplo, observemos a radical diferença entre o período anterior e o período posterior à guerra. É surpreendente a mudança que ocorreu em tão breve espaço de tempo. Mas a
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maioria dos indivíduos não consegue captar, com exatidão, a realidade atual, bloqueados pelos métodos e conceitos antigos, que eles herdaram de seus antecessores e que constituem um verdadeiro obstáculo. Classifico esses indivíduos de conservadores e antiquados, porque mantêm a mente estagnada, enquanto tudo obedece à lei do movimento perpétuo. Eles sofrem o abandono do mundo e vão ao encontro de um trágico destino.“ (Alicerce do Paraíso - Novamente a respeito de Bergson). O Fundador também atribuiu um alto valor ao pensamento de William James (1842 -1910), escolástico americano que tem profundo conhecimento sobre fisiologia, psicologia, filosofia e teologia. James também se interessava pelos fenômenos parapsicológicos, e dizem que fez pesquisas sobre esse assunto, embora estivesse consciente das censuras que receberia de uma parte dos intelectuais. Na obra intitulada “Como tornar claras as nossas idéias” (1878), Charles Sanders Pierce (1839 1914) diz que o significado de uma idéia é reconhecido por meio dos efeitos reais que ela produz. James, amigo de Pierce, denominou essa teoria de “pragmatismo”. O Fundador aderiu a ela, apreendendo-lhe o princípio fundamental, ou seja, que nenhuma crença ou ensinamento podem podem ser considerados corretos se não forem aplicáveis à nossa vida cotidiana. Sobre o pragmatismo, ele escreveu: “Na mocidade, apreciei muito a Filosofia”. Entre as inúmeras teorias filosóficas, a que mais me atraiu foi o pragmatismo, do famoso norte-americano William James (1842-1910). James achava que a exposição meramente teórica da filosofia constitui apenas uma espécie de distração; para ele, a filosofia só era válida se fosse colocada em ação. Acho interessante a sua teoria, cujo realismo autêntico é característico dos filósofos americanos. Aderi, portanto, às suas idéias e me esforcei por adotá-las em meu trabalho e na vida cotidiana. O benefício que o pragmatismo me proporcionou naquela época, não foi pequeno. “Mais tarde, quando iniciei meus trabalhos religiosos, julguei necessário aplicá-lo à Religião”. (Alicerce do Paraíso Pragmatismo) O “pragmatismo”, de James, a “filosofia da vida”, de Bergson, e outras teorias filosóficas que o Fundador estudou, tem um ponto comum: não se limitam unicamente ao mundo do conhecimento, mas procuram concretizar o pensamento e as idéias na vida diária, produzindo resultados reais. Tornam-se, assim, uma crença viva para se conseguir viver. Em outras palavras: são filosofias profundamente relacionadas com o conceito de que o pensamento e as idéias devem ser uma força que precisa ser manifestada. Fosse a história do sucesso de seus precursores, ou mesmo uma notícia de jornal, o Fundador não as deixou ficar como teorias vãs. Ele deu importância aos estudos concretos, enraizados na realidade e passíveis de serem aplicados em sua própria vida. Como fez total empenho nesse tipo de aprendizado até para analisar a filosofia, jamais se afastou da realidade, isto é, não ficou brincando no mundo do conhecimento abstrato. Além disso, aplicando as teorias ou crenças em sua própria vida, certificava-se se elas eram boas ou más, verdadeiras ou falsas. Assim, aprendeu que a verdadeira filosofia é aquela que transmite o sopro da vida.
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CAPÍTULO IV
CAMINHO NO MUNDO EMPRESARIAL
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1. INDEPENDÊNCIA a) MORTE DO PAI Tsukiji, bairro onde o Fundador foi morar em 1902, aí passando vários anos de sua juventude, na companhia dos pais, do irmão, da cunhada e de Hikoitiro, filho de sua irmã falecida, é um lugar cercado de canais, situado no sudeste de Tóquio. Fica na região costeira da Baía de Tóquio, onde paira o odor do mar. Logo ao sul, está a Ilha Tsukuda, que é um banco de areia formado pelas areias trazidas pelo Rio Sumida, sendo famosa pelo seu “tsukudani”(55). Atualmente, os aterros se estenderam até o alto mar, surgindo, assim, o Aterro Harumi. Nos cais artificiais, navios cargueiros ficavam encostados em grande número. No final da Era Meiji, fazendo um percurso que ia do bairro de Minami Odawara, vizinho a Tsukiji, até a Ilha Tsukishima, que vem logo em seguida à Ilha Tsukuda, passava um “tenma-sen” (pequeno navio cargueiro de madeira, sem convés) chamado “Katidoki no Watashi” (“Transportador Brados de Vitória”). Até a derrota do Japão na Segunda Guerra Mundial, a Escola Naval, a Escola Médico-Militar e a Escola de Contabilidade estavam sediadas em Tsukiji. Era de lá, portanto, que saíam os jovens elementos humanos responsáveis pela Marinha Japonesa. Além disso, depois do grande terremoto ocorrido na Região Kanto em 1º de setembro de 1923, o mercado de peixes transferiu-se das costas de Nihon-bashi para aquele bairro, ampliando suas instalações. Atualmente, é o maior mercado atacadista de peixes do mundo, movimentado por produtos do mar vindos de todo o Japão e de vários países. Nos arredores do local onde o Fundador morava, havia uma zona residencial cujas casas populares se enfileiravam tranqüilamente; a oeste, logo vizinho, ficava o Templo Tsukiji Hongan-ji, da Religião Kyoto Nishihongan, onde estava o túmulo de Hoitsu Sakai, pintor do final da Era Edo. Grande admirador do estilo de pintura de Korin Ogata(56), o estilo Rin-pa, Hoitsu restaurou-o em Edo. Assim, a região conservava fortes traços das emoções proporcionadas por esta cidade. Foi na época em que morava em Tsukiji que o Fundador começou a estudar “maki-e” e a interessar-se pelas belas-artes, objetivando abrir uma loja de antiguidades com seu pai. Nesse tempo, o que sustentava os seis membros da família, os quais abrangiam três gerações - pai, filho e neto era o aluguel da casa construída com o dinheiro proveniente da venda da Pensão Seiguetsu, deixada por Shizu. Com o falecimento de Kissaburo, seu grande pilar, a vida tranqüila da família Okada mudou bastante. O triste evento ocorreu no dia 22 de maio de 1905, quando o Japão estava em plena guerra com a Rússia. Dias depois, travou-se a batalha marítima do Mar do Japão. Kissaburo não vinha se sentindo bem há algum tempo; ao fazer uma consulta médica, constatouse que estava muito mal do coração. Começou a se tratar, mas a enfermidade foi se agravando, e por fim ele já não podia sair da cama. Pouco antes de ficar acamado, completara cinqüenta e três anos. A respeito da morte de seu pai, o Fundador escreveu: “Ele faleceu muito cedo. Para combater a prisão de ventre, tomou um remédio chamado “Daio” durante vinte ou trinta anos sem falhar um só dia. Tomava-o porque, se não o fizesse, sentia-se mal. Antes de falecer, ficou doente do coração. Consultando um médico, este lhe disse que não duraria mais que meio ano, e de fato ele morreu depois de alguns meses. (55)
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– Alimento preparado com pequenos peixes, moluscos e algas cozidos com temperos de sabor bem forte. Seu nome provém do fato de ser fabricado na Ilha Tsukuda. 56) - Famoso pintor do Inicio da Era Edo, nascido em 1658 e falecido em 1716. É o mais representativo dos pintores que seguem o estilo Rin. Podemos saber o quanto Hõitsu respeitava Kõrin pelo fato de que, no centenário de falecimento deste pintor, ele reformou o seu túmulo, situado em Quioto, realizou uma exposição de suas obras e editou o "Kõrin Hyakusu" ("Cem pinturas de Kõrin"). O Fundador tinha profunda admiração e respeito por Kõrin e, no maravilhoso dia do início da primavera (4 de fevereiro, no hemisfério norte) de 1954, adquiriu uma de suas obras-primas, o "Biombo de Ameixelras com Flores Vermelhas e Brancas" (Tesouro Nacional, propriedade da Igreja Messiânica Mundial), que durante longos anos sonhara possuir. O mistério da profunda afinidade entre o Fundador e Hõitsu toca-nos o coração, especialmente ao pensarmos que, desde cedo, ele já tinha afinidade com o local onde o pintor descansa. E a linha de afinidade que os une não pára aí. Hõitsu era da família Sakai, proprietária do Castelo Hime, e a mansão de seu irmão mais velho, Sakai Tadazane, ficava próxima do local do nascimento do Fundador. Por sua vez, na Era Edo, Sakakuraya, o proprietário da casa onde morava a família Okada, era um assíduo frequentador da casa dos Sakai, inclusive ganhou um quadro de Hõitsu.
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Kissaburo, que estava com quatorze anos quando se iniciou a Era Meiji, viveu grande parte de sua vida nessa época de grandes modificações, mas pelo seu temperamento, pelos seus gostos e pelo seu modo de viver, era antes uma pessoa da Era Edo. Na Era Meiji, se por um lado bastava ter vontade e inteligência para que até um discípulo de samurai se tornasse governante do país ou um estudante de pouca instrução fizesse grande fortuna, por outro lado, a sociedade era palco de imensas disputas. Por essa razão, para Kissaburo, que vivia honestamente, nem sempre foi uma época boa. Tendo nascido como sucessor de uma renomada loja de penhores da zona industrial e comercial e possuindo um gosto artístico muito apurado, o ideal, para ele, era um mundo tranqüilo, em que pudesse viver justa e corretamente, no exercício de suas funções, deleitando-se com pinturas e antiguidades. Entretanto, temos a impressão de que a grande mudança histórica arrastou tudo que encontrava, como uma correnteza turvada depois da tempestade. E Kissaburo, tal como as bolhas d’água, flutuou e afundou repetidas vezes, mudando-se de Assakussa para Nihon-bashi, e depois para Kyo-bashi. Em Tsukiji, último lugar, onde viveu, ele passou os dias mais felizes da segunda metade de sua vida, na qual, desde o casamento, nunca tinham cessado os sofrimentos. Nesse período, Kissaburo transmitiu a seus dois filhos os conhecimentos artísticos que durante longo tempo viera adquirindo. Tanto o Fundador como Takejiro herdaram fartamente os dons artísticos do pai. Já dissemos que, desde pequeno, o Fundador gostava de pintar e desenhar; Takejiro, paralelamente ao comércio de miudezas, que era a sua verdadeira profissão, tinha como passatempo fazer pinturas em estilo japonês, assinadas com o nome artístico “Bushun”. Kissaburo reconheceu a habilidade de seus filhos, desenvolveu-a e incentivou-a, mas infelizmente deixou este mundo sem poder esperar pelo grande sucesso que eles viriam a obter. Como pai, não apenas transmitiu seu temperamento artístico ao sangue dos filhos, como também soube entendê-los perfeitamente quando eles cresceram e quiseram dedicar-se às belas artes. Foi também um bom orientador no tocante à abertura da loja de antiguidades. Deu grande apoio aos filhos, que o amavam mais que a qualquer outra pessoa. Justamente por isso, quando ele faleceu, a tristeza do Fundador foi muito grande, e nunca passou.
b) A LOJA DE MIUDEZAS KORIN-DO Antes de falecer, Kissaburo deixou de herança, para o filho mais velho, a casa alugada, e para o mais novo, a quantia de 3.500 ienes, como capital para ele fazer a sua vida. Essa quantia, vertida para os preços vigentes em 1980, equivale aproximadamente a 8 milhões e 500 mil ienes. Graças ao amor e aos cuidados do pai, o Fundador não ficou em dificuldades no que se referia ao capital para abrir a loja de antiguidades. Entretanto, agora que Kissaburo já não existia, administrála sozinho, com tão pouca experiência, parecia-lhe simplesmente uma aventura. Não tendo conseguido tornar-se pintor e vendo também fechado o caminho dos negócios, que deveria ele fazer? Com certeza, olhando para o céu, sentia vontade de gritar bem alto. Assim, diante da contingência de escolher um caminho na vida pela terceira vez, o Fundador se viu completamente perdido. Um dia, um conhecido que freqüentava assiduamente a sua casa veio visitá-los e disse: “Na Rua Nishinaka, no bairro de Oke, está à venda uma loja de miudezas. Vocês não estão interessados?” Essa pessoa merecia confiança, e o local era muito bom. A rua citada ficava paralela à Avenida Guinza, grande artéria que ia de Nihon-bashi até Guinza e que, por sua vez, ficava paralela à Rua Higashinaka. Era uma zona comercial de grande movimento. As lojas de miudezas vendiam batom, pó de arroz, pentes, adornos para cabelo etc.. Indeciso, alegando que não entendia nada sobre o assunto, o Fundador recusou o oferecimento, mas sua mãe, que estava presente, incentivou-o: “Não se preocupe. Cuidarei do que você não souber. Não acha melhor começar por uma loja de miudezas do que por uma loja de antiguidades, que é muito mais difícil de se administrar, especialmente agora que seu pai faleceu?”. Movido pela perspectiva de ajuda da mãe, o Fundador decidiu-se, adquirindo os direitos sobre a loja. Pouco depois, mudou-se de Tsukiji para o bairro de Oke (também no Distrito de Kyo-bashi), onde ela estava situada. Isso se deu após a realização do Ofício Religioso de quarenta e nove dias do falecimento de Kissaburo, quando fazia pouco tempo que a vida da família Okada voltara à normalidade. O local corresponde, atualmente, à rua que corta Yaessu, quadra 2, no Distrito de Tyuo, e Kyo-bashi, quadra 2. Ficava num centro comercial muito próspero, cercado pela Rua Canal Sotobori, que passava em frente à Estação de Tóquio, e pela grande avenida onde estavam situadas a
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Loja Takashima-ya e a matriz da Loja Maruzen. Era um local de excelentes condições para o comércio. Nessa época, o Canal Sotobori ainda não havia sido aterrado, e à sua margem passava o bonde municipal da linha Sotobori. No início do verão, ao sentir a brisa refrescante que soprava da superfície da água para as janelas abertas de sua casa, certamente o Fundador punha-se a pensar nos tempos do castelo de Edo. A loja era uma pequena casa alugada, com uma entrada que media aproximadamente 2,7 metros. Justamente por isso parecia mais acessível para as compras descontraídas das senhoras e moças das redondezas. O Fundador deu-lhe o nome de Korin-do, em homenagem ao pintor Korin Ogata, cujas obras ele admirava há muito tempo, considerando-as como manifestação da mais elevada arte. Mesmo ao aprender “maki-e” e criar as suas próprias obras, o Fundador tinha por objetivo vivificar a arte de Korin na atualidade. Assim, quando abriu a loja de miudezas, concretizando o desejo acalentado há tantos anos, colocou à venda suas obras de “maki-e” e deu ao estabelecimento um nome tirado do nome daquele pintor. O Fundador acordava bem cedo, fazia a limpeza da loja, saía para comprar mercadorias e, depois que voltava, começava a atender os fregueses. Era assim todos os dias. No início, como se tratava de um campo completamente desconhecido para ele, sentia-se inseguro e nem sequer sabia o nome e a finalidade dos produtos. Uma loja de miudezas vende as mais variadas mercadorias, desde produtos de beleza até bijuterias, e ele não conseguia decorá-las todas. Entretanto, com a ajuda de sua mãe, pouco a pouco foi se inteirando de tudo. Sempre cumprimentava amavelmente os fregueses, até mesmo aqueles que vinham comprar um simples vidro de óleo de cabelo ou uma fitinha. Dizia-lhes: “Seja bem-vindo”, “muito obrigado...”. A loja foi prosperando. Em pouco tempo o movimento era tão grande que faltava mão-de-obra. Então o Fundador empregou Ume, filha de Guentaro Takahashi, dono de uma barbearia da vizinhança que fora freqüentada por Kissaburo. Nessa época, um parente seu, pessoa de muita experiência, advertia-o constantemente. A propósito dessas advertências, o Fundador escreveu: “Ele dizia: “Um indivíduo tão honesto como você nunca vai conseguir sucesso neste mundo. Os bem-sucedidos de agora pregam boas mentiras; portanto, é preciso que você proceda de acordo com o método triangular”(57). Achei-o sensato e, depois que me tornei independente, esforcei-me bastante para mentir com habilidade. Mas nada ia bem; além disso, eu sempre sentia um aperto no coração. Como resultado, pensei: “Uma pessoa como eu não consegue nada com mentiras. Mesmo que eu não alcance o sucesso, vou voltar a agir com a honestidade de antes”. Assim decidi, assim fiz. E, inesperadamente, as coisas melhoraram. Eu me sentia bem, e as pessoas confiavam em mim. Fui prosperando rapidamente. Dez anos depois de ter começado como um pequeno comerciante sem nenhum capital, pude considerar-me um bem-sucedido, coisa muito rara na época. Meu capital elevava-se, então, a mais de 100 milhões de ienes.”. Entretanto, na época da Korindo, apesar do progresso da loja, o Fundador passou por mais uma decepção: teve de desistir da produção de “maki-e”, em conseqüência de um acidente. Como já falamos o Fundador também vendia obras de “maki-e”; não só as que ele mesmo confeccionava, mas também as que ele desenhava e mandava um profissional confeccionar. Um dia, entretanto, cortou o nervo do dedo indicador da mão direita, que não conseguiu mais dobrar. Ora, no “maki-e”, o artesão polvilha a madeira batendo a ponta do tubinho de pó, bem de leve, com o indicador direito. Para essa técnica, que exige aguçada sensibilidade manual, o dedo em questão é o que controla a vida ou a morte. Assim, o Fundador não teve outro remédio senão desistir do “maki-e”. Na época, sendo muito jovem ainda e tendo tantos sonhos em relação a essa arte, ele devia sentir uma grande angústia e tristeza olhando para o seu dedo direito, que perdera o movimento.
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– Método de procedimento no qual faltam o senso de justiça, o calor humano e a amizade.
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c) CASAMENTO A Korin-do foi uma atividade que o Fundador iniciou sem nenhuma experiência, não sabendo o que viria pela frente. Entretanto, com a ajuda de sua mãe, ele dedicou-se de corpo e alma aos negócios, tendo como lema a honestidade. Assim, a loja foi prosperando e, quando o Fundador se deu conta, ela havia se tornado pequena. Ainda não fazia nem seis meses que a instalara, e teve de alugar uma casa maior, situada na mesma rua, mas em outro bairro (Minami-maki). Nessa casa, as instalações da loja e os aposentos da família estavam separados, de modo que ele pôde se dedicar ao comércio com maior tranqüilidade. No registro de mudança para o bairro de Minami-maki, nº 17, constava, entre outros dados: “Responsável: o irmão mais novo de Takejiro Okada. Relatório de separação familiar recebido a 25 de novembro de 1905.”. Quando os negócios começaram a correr bem e o Fundador adquiriu autoconfiança, julgando-se capaz de viver independente, ele separou-se de seu irmão e assumiu a responsabilidade da família. É o que se sabe claramente por meio desse registro. A maior parte das mercadorias com as quais a loja negociava eram objetos de uso feminino. Ora, sendo o Fundador um rapaz solteiro e dedicando-se ao trabalho sob o lema da honestidade, não podia deixar de causar boa impressão aos fregueses. Havia pessoas que se mostravam preocupadas, dizendolhe que estava na hora de “arrumar-se”. Entre as propostas recebidas houve uma, feita por um grande industrial de granulados estabelecido em Assakussa nos seguintes termos: “Peço-lhe que se case com minha filha e seja o sucessor da família”. Essa proposta fora motivada pelas grandes orelhas do Fundador, pois se acreditava que as pessoas de orelhas grandes têm um destino afortunado. Entretanto, ele recusou-a, dizendo: “Eu não vou me casar para ser herdeiro de ninguém. Vou ser independente e formar a minha própria família”. O parente seu que estava servindo de intermediário ficou muito decepcionado com essa atitude. Pouco tempo depois, Guentaro Takahashi apresentou-lhe Taka Aihara, uma parenta sua, cuja família era da cidade de Yokohama, no Estado de Kanagawa. O pai dela, Fussakiti, havia sido lutador de “sumo”(58) quando jovem, mas na época era dono de uma loja de arroz. Tori, a mãe do Fundador, gostou muito da moça, e o casamento ficou resolvido. Eles se casaram em junho de 1907, depois do ofício religioso de três anos de falecimento de Kissaburo, tendo por padrinho o Sr. Takahashi. O Fundador contava vinte e quatro anos, e Taka, dezenove. Dos cinco aos seis anos, Taka estivera separada de seus pais, vivendo com outra família, e por isso era segura de si e não gostava de perder. Sendo a segunda filha dos proprietários de uma loja de arroz, aprendera, não teoricamente, mas na prática, o serviço de uma casa comercial, não perdendo para nenhum homem no que concerne a transações, administração etc.. Depois que se casou com o Fundador, ela também pôs em prática toda essa experiência. Tinha grande habilidade para qualquer tipo de serviço e era muito trabalhadeira, não podendo ficar parada, sem fazer nada. Executava o trabalho de várias pessoas, desde os serviços domésticos até os da loja. Conseguindo uma folga nesse ritmo atarefado de vida, aprendia vivificação floral e cerimônia de chá. Era muito boa para os funcionários, chegando ao ponto de lavar-lhes a roupa, mesmo depois que o número deles aumentou, em conseqüência do crescimento da loja. Eles, por sua vez, tinham tanta confiança em Taka, que achavam mais seguro entregar-lhe suas economias, para que ela as guardasse, do que deixá-las em seu próprio bolso. Sem se irritar, ela recolhia o dinheiro e colocava-o no cofre. Foi graças à valiosa ajuda de Taka que o Fundador, em apenas dez anos de comerciante, pôde obter um sucesso tão grande como fabricante e atacadista de miudezas.
2. COMÉRCIO POR ATACADO - A LOJA OKADA (58)
– Luta livre japonesa.
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a) AMPLIAÇÃO DOS NEGÓCIOS Em fevereiro de 1907, aproximadamente um ano e meio depois que inaugurou a loja de miudezas Korin-do, o Fundador reformou sua casa, situada no bairro de Minami-maki, em Kyo-bashi, para usála como loja, e aí iniciou o comércio por atacado. Na época da Korin-do, ele negociava com cosméticos e adornos, mas desta vez abriu uma loja exclusivamente de adornos: “Loja Okada - atacadista de adornos feitos com carapaças de tartaruga e metal”. A Korin-do, que começara a funcionar sob a direção de um amador, foi prosperando, e certamente por isso o Fundador adquiriu certa confiança em si mesmo. Entretanto, não fazia nem dois anos que estava no ramo e, além do mais, agora já não se tratava de uma loja de miudezas a varejo, mas de uma loja atacadista. Para ele, que, devido à doença, era tímido e cauteloso, isso representava uma grande aventura, semelhante a uma aposta. Estava se lançando a uma disputa que certamente uma pessoa comum evitaria, por não ter muita segurança quanto ao sucesso. Relembrando as histórias que havia lido na revista “Jitsugyo no Nipon” sobre o êxito de grande número de empresários, o Fundador deve ter pensado: “Não vou ficar como um pequeno comerciante. Hei de vencer na vida”. Durante o tempo em que administrava a loja de miudezas, provavelmente ele traçara diversos planos e, se decidiu iniciar o comércio por atacado, o que à primeira vista parecia uma atitude impensada, foi porque viu perspectivas de sucesso. Sobre essas perspectivas, não nos resta nenhum escrito do Fundador, mas podemos pensar em pelo menos três. Uma delas é que, para tornar-se atacadista, ser-lhe-ia preciso, logicamente, ter um grande capital de giro. E ele tinha meios de conseguir esse dinheiro. Em segundo lugar, baseando-se principalmente nas orientações recebidas de seu pai e no aguçado senso de beleza que adquirira, o Fundador estava certo de conhecer o que era mais adequado em matéria de adornos femininos. A terceira razão é que ele havia conseguido um colaborador excelente, chamado Kinzo Kimura. Kimura era natural de Shizuoka, tendo-se mudado, posteriormente, para Tóquio. Fora muito bem educado e viera treinando no comércio desde menino. Na época, ainda não completara vinte anos; entretanto, já ocupava o cargo de subgerente da Loja Nishiura, atacadista de miudezas localizada em Nihon-bashi. Ia muito à Korin-do, para fazer entrega de mercadorias, e o Fundador sentia algo de extraordinário em sua personalidade e capacidade. Pouco tempo depois, a Loja Nishiura faliu, e ele foi trabalhar na Loja Okada. Dado o cargo que ocupara, Kimura tinha farta experiência no comércio por atacado. Além do mais, a Loja Okada negociava com o mesmo tipo de mercadoria com que ele estava habituado a negociar, de modo que lhe era fácil fazer as vendas; acrescente-se a isso o fato de que era muito conhecido pelos demais compradores. Levava, portanto, muitas vantagens. Não há dúvidas de que, unindo a sua capacidade às qualidades de Kimura, o Fundador pôde confiar no sucesso do empreendimento. Ao iniciar o comércio por atacado, o Fundador fez um contrato oficial com Kimura, tendo o seu irmão Takejiro como testemunha. Esse contrato ainda hoje é guardado com muito carinho pelos familiares de Kimura, que o consideram como tesouro da família. De acordo com ele, ficava determinado que, além de 3 ienes fixos, o Fundador pagaria a Kimura dez por cento de comissão sobre as vendas do mês. Três anos depois, o contrato foi renovado, e o salário à base de comissão sobre as vendas continuou. Assim, à medida que estas aumentavam o ordenado recebido por ele ia se tornando cada vez maior, até que sua renda se tornou equivalente à do Fundador. No auge da prosperidade da loja, por volta de 1917 ou 1918, o salário de Kimura chegava a 1000 ienes por mês. Na época, um casal que tivesse uma renda mensal de 50 ienes conseguiria manter um bom padrão de vida, daí poderemos ver como ele ganhava bem. O Fundador não se preocupava com isso; pelo contrário, ficava alegre e sempre dispensava um ótimo tratamento a Kimura. Este por sua vez, correspondendo a tal sentimento, servia-o da melhor forma possível. Ao voltar para casa, costumava falar aos familiares sobre o dono da loja, e dizem que de suas palavras afluía o respeito que nutria por ele, pois, nessas horas, sempre endireitava sua postura e falava com muita seriedade. Tinha essa atitude não só porque recebia um tratamento especial, mas porque admirava o caráter humanitário do patrão, sobretudo a grandeza de sua personalidade calorosa e seu apurado senso de beleza. No início, o emblema da Loja Okada era um MO (primeira sílaba de Mokiti, prenome do Fundador) dentro de um círculo (“maru”), e por isso também chamavam o dono do estabelecimento
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de Sr. Marumo. Durante algum tempo ele ainda conservou a Loja Korin-do, que deixara por conta de sua mãe e de Ume Takahashi, mas depois que a casa atacadista começou a crescer, cedeu a Takahashi os direitos daquela, sem lhe cobrar nada, como agradecimento pelo trabalho que ela realizara até então. Quando o Fundador abriu a Loja Okada (1907), fazia dois anos que terminara a guerra do Japão com a Rússia. Vencendo o grande Império Russo, que abrangia dois continentes - a Europa e a Ásia - a reputação internacional do Japão subiu de repente. O pequeno país asiático passou a ocupar uma posição equivalente à da Inglaterra, França, Alemanha, Estados Unidos e Rússia, e seu poderio cresceu a ponto de ser considerado igual ao das grandes potências. Por outro lado, a grande guerra, na qual foram mobilizado 1 milhão de soldados e gastos 1 bilhão e 700 milhões de ienes, em dinheiro da época, pressionou muito a economia japonesa, que estava em vias de modernização. No campo, os agricultores sofreram um duro golpe, perdendo mão-de-obra, pois muitos homens foram enviados para a guerra. Ao contrário, portanto, do que aconteceu no caso do conflito com a China, dez anos atrás, a vitória na guerra contra a Rússia não trouxe como resultado o melhoramento da situação econômica. O país estava em crise, e a junção de empresas foi se tornando inevitável. Assim, os grandes grupos econômicos, como a Mitsubishi, a Mitsui e outros, iam consolidando a sua posição, enquanto a vida do povo em geral não era nada fácil. Apesar dessa situação, a Loja Okada alcançou um progresso surpreendente, graças à extraordinária capacidade de administração do Fundador aliada ao senso de beleza que ele possuía.
b) CRIAÇÃO DE BIJUTERIAS Desde que machucou o dedo, o Fundador nunca mais fabricara nada, mas, utilizando sua experiência, dedicava-se à pesquisa do desenho de pentes e outros adornos para cabelo. Enviava esses desenhos a um profissional para ele fabricar os objetos, que, depois de prontos, eram colocados à venda. Em abril de 1909, dois anos após ter começado o comércio por atacado, expôs um adorno para cabelo, representando a Loja Okada, numa exposição de artigos infantis promovida pela loja de roupas Mitsukoshi com a finalidade de ampliar sua clientela entre o povo. Na Era Meiji, objetivando incentivar a indústria, foram realizadas diversas exposições centralizadas no governo e nos órgãos regionais. Com o passar dos anos, elas se transformaram numa espécie de comemoração. A exposição a que nos referimos acima foi promovida para fins comerciais; conseqüentemente, colocar objetos nela era, para o produtor, uma oportunidade de testar a sua capacidade. Ser premiado significava mostrar à sociedade o poder de suas mercadorias; uma oportunidade única, portanto. Tratando-se de uma exposição de artigos infantis, poder-se-ia pensar apenas em brinquedos, mas nela se expunham roupas, adornos e outros artigos de utilidade para crianças. Quanto à qualidade, eles não diferiam nem um pouco dos artigos para adultos. Nessa exposição, onde foram expostos 1835 objetos, o Fundador e mais quarenta e nove pessoas receberam Prêmio de Bronze. Nove foram agraciadas com Prêmio de Ouro, e trinta e três, com Prêmio de Prata. Cinco anos depois, em 1914, o Fundador expôs outro adorno para cabelo na “Exposição Taisho”, realizada no Parque Ueno, tendo recebido novamente o troféu de bronze. Foram apresentados 106.293 objetos, tendo sido concedidos 6 troféus de honra, 57 troféus de ouro, 189 troféus de prata e 515 troféus de bronze. A exposição estendeu-se de março ao final de julho, num longo período de 132 dias, e registrou a visita de 74.603.405 pessoas. Embora ela estivesse dividida em departamentos, o recebimento de Prêmio de Bronze, entre mais de cem mil objetos, prova a excelência da criatividade do Fundador, no campo da Arte. Não se sabe como eram os objetos que valeram ao Fundador classificação nessas duas exposições, mas ainda restam alguns adornos de cabelo que se presume serem da mesma época. Os desenhos são muito variados, mas num deles foi utilizada a técnica denominada “fukurin”, que consiste em enfeitar com metal a borda do objeto. No adorno em questão, existe uma placa de metal esculpida com desenho de flores. É a técnica usada na tigela “Tenmoku”, cujas bordas são cobertas com ouro ou prata. Os
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pentes margeados de dourado, brilhando intensamente, deviam formar um contraste muito harmônico com os cabelos negros das mulheres. Durante os quinze anos que vão de 1909 a 1923, o Fundador criou inúmeros objetos de adorno; na maioria, objetos inéditos, com novos detalhes, em que ele utilizava a tradicional técnica do “makie” e a técnica denominada “raden” (59) . O sucesso das criações dessa época pode ser comprovado por três fatos: 1º - restam dezenas de objetos projetados pelo próprio Fundador; 2º - preservam-se os certificados da obtenção de Prêmio de Bronze nas duas exposições a que ele concorreu; 3º - a partir de 1915 ele fez ao órgão responsável do governo a solicitação de “patente de invenção”, a propósito de um objeto, e de “patente de novo modelo de produto”, a propósito de outro, tendo conseguido reconhecimento oficial em ambos os casos. Nos textos relacionados a esse assunto, especialmente os que estão arquivados pelo “Instituto de Patentes”, sediado em Torano-mon, Tóquio, constam detalhes como a data, o material e o processo de fabricação dos objetos, detalhes esses que, atualmente, constituem dados muito preciosos. O documento mais antigo de “patente de novo modelo de produto” solicitada pelo Fundador é o “Shin M Shiki Kushi” (“Pente no Novo Estilo M”), registrado em 25 de janeiro de 1915. Segundo esse documento, o pente é feito da seguinte maneira: desenha-se uma flor de cerejeira ou crisântemo numa placa de metal, na qual se bate bem forte, deixando os traços do desenho. Procedendo-se assim, a flor fica em alto relevo. Depois, coloca-se areia e pó de ouro e prata na parte que ficou rebaixada, pinta-se e prega-se num pente de madeira ou carcaça de tartaruga. É uma simplificação da técnica do “maki-e” aplicada no metal. Nas obras dessa época, também foi usada a técnica chamada “heidatsu”, além das técnicas “raden”, que utiliza conchas, e “fukurin”. Na primeira, cola-se, em cima da laca, uma placa de ouro, prata ou outro metal. A “Kikori Maki-e Suzuribako” (60), por exemplo, da autoria de Koetsu Hon’ami ( 61) e propriedade da Igreja Messiânica Mundial, é muito famosa como obra-prima do gênero. No desenho da bela e aberta curva da tampa da caixa, vemos ainda um aspecto magnífico: os traços característicos da arte japonesa empregados pelo estilo Rin-pa. Através desse fato podemos perceber que o Fundador aprendera e assimilara o estilo de Korin Ogata não de forma superficial, mas profunda. Na época, existiam em Tóquio tradicionais lojas de miudezas que vendiam por atacado, como as lojas Nishizawa, Ogawa, Miyamoto, Haneshigue e outras. Eram casas famosas, que mereciam muita confiança, por existirem há várias gerações. Entre elas havia uma grande concorrência. Nesse meio, através de estudos e esforços, a Loja Okada foi se sobressaindo pouco a pouco, embora experimentasse as agruras que toda loja nova experimenta. Acabou ocupando o primeiro posto no mundo empresarial. O grande segredo desse sucesso, que se pode considerar excepcional, eram os objetos inéditos que ela vendia. O Fundador costumava dizer aos seus funcionários que a boa qualidade das mercadorias vendidas por uma loja era a chave para ela aumentar sua freguesia e ganhar-lhe a confiança. Não há dúvida de que essas palavras nasceram da sua autoconfiança e do fato de ter conseguido grande prosperidade em pouco tempo, através do seguido lançamento de novos produtos, todos eles de excelente qualidade. O Fundador, que detestava imitar os outros, sempre procurava novas mercadorias, jamais negligenciando as pesquisas nesse sentido. Talvez por esse motivo, dizia-se que a moda vinha da Loja Okada. Quando as outras lojas, imitando-a, começavam a vender mercadorias parecidas, nela já estava sendo lançado um novo produto. Assim, a Loja Okada estava sempre um passo à frente. Mas de onde o Fundador tirava as idéias para essas criações? É claro que ele procurava em jornais, revistas e livros, mas também utilizava como método prático de pesquisa, os cinemas, as barracas de “shows” e o “yosse”. Sotaro Watanabe, funcionário da Loja Okada, fala-nos sobre aquela época: “O patrão, que chamávamos de “Oyaji” (62), além de ir ao teatro, era um assíduo freqüentador de cinema. Sempre dizia às pessoas que trabalhavam na loja: “Ontem, fui ao cinema X. Está passando (59)
– Consiste em cortar conchas finas e brilhantes em pedços de diversos formatos e utilizá-los para enfeitar vasilhames de Laca ou madeira crua. (60) – Caixa feita em “maki-e”, com o desenho de um lenhador, própria para guardar pincéis e a vasilha onde se prepara Tinta carvão. (61) – Artesão de Quioto falecido em 1637, aos oitenta anos, segundo consta no Livro de Óbitos do Templo de Kōetsu. (62) – Nome afetuoso para se dizer “pai”.
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um filme muito bom, não deixe de ir!”. Entretanto, nós achávamos que ele ia a esses lugares mais por interesse comerciais do que para se divertir: eram vinte por cento de interesse pelo cinema ou pelos espetáculos artísticos, e oitenta por cento de interesse pela pesquisa de modelos para adornos de cabelo, vestes etc.. Ele ia muito, por exemplo, ao Cine Konparu-Kan, situado em Shin-bashi, cinema muito freqüentado pelas gueixas. Nessas oportunidades, ao mesmo tempo em que assistia ao filme, ficava observando os adornos de cabelos. Como o seu olhar se fixava demoradamente no cabelo das mulheres, às vezes a recepcionista ficava desconfiada...”. Mas vejamos como eram os penteados femininos daquela época, os quais o Fundador pesquisava com tanto interesse. Depois que se iniciou a Era Meiji, acentuou-se cada vez mais a penetração da cultura ocidental no Japão. Em 1883, quando foi concluído o Rokumei-kan (63), o interesse das pessoas pelo Ocidente tornou-se ainda mais forte. Nesse quadro social, surgiu, em 1885, a “Associação Sokuhatsu de Senhoras”, a qual pregava que o penteado usado até então pelas mulheres japonesas era prejudicial, em termos de higiene, além de não ser muito prático nem econômico. Por esse motivo, ela se empenhava bastante na divulgação do “sokuhatsu”, um penteado novo, adequado ao clima de modernização que, nos meados da Era Meiji, começando pela classe elevada e pela classe média de Yama-no-Te, dominou toda a sociedade. Esse penteado combinava não só com as vestes japonesas, mas também com as ocidentais, e tinha diversas formas: para as jovens, para as mulheres de meia-idade, para as de classe elevada, para as zonas industrial e comercial, para as mulheres do povo em geral e para as gueixas. Variava também de acordo com a época: na Era Meiji, levanta-se o cabelo bem alto e vistoso na parte da frente; já na Era Taisho, o cabelo era mais baixo. Na segunda metade desta última foi introduzida no país, proveniente da França, a técnica do secador de cabelo, entrando em grande moda os cabelos ondulados.
c) TIPOS DE PENTEADOS Por outro lado, ainda era forte o apego aos tradicionais penteados japoneses. Na Era Meiji, entre as senhoras casadas do povo em geral e, logicamente, na zona industrial e comercial de Tóquio, chegou ao auge o penteado “ityogaeshi”, em que o cabelo é dividido para os dois lados, em forma de semicírculo. Dessa forma, em termos gerais, havia dois estilos de penteado na Era Meiji e na Era Taisho: o penteado tipicamente japonês e o “sokuhatsu”, de influência ocidental. Ambos se subdividiam em vários tipos, de acordo com a idade, a profissão, a posição e o gosto das senhoras. Cada um recebia um nome diferente. Os mais belos eram chamados de “203 koti”, nome de um campo de batalha da guerra russo japonesa, onde o Japão teve um magnífico desempenho. Observando esses tipos de penteados, o Fundador pesquisava o adorno que combinasse com cada um. Figura Penteados O senso de beleza que ele possuía foi empregado não apenas no desenho das mercadorias como também na decoração interna da loja. Por ocasião da abertura da Loja Okada, seu irmão Takejiro abriu uma casa de miudezas em Guinza e, mais tarde, uma loja de bijuterias de metal; quem fez a decoração das três foi o Fundador. Seu senso criativo chegava a ser comentado até mesmo pelas pessoas que trabalhavam no ramo. Depois da mudança das vitrines, por exemplo, feita uma vez por mês, as pessoas da vizinhança e aquelas que se dedicavam ao mesmo tipo de negócio diziam: “Parece que as vitrines do Sr. Okada foram mudadas”. Iam, então, apreciar as novidades.
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– Edifício construído em Tóquio para hospedar visitantes estrangeiros. Era também usado como local de reunião de Pessoas da sociedade nacional e internacional.
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3. VISITA A TENSHIN OKAKURA Logo depois que abriu a Loja Okada, o Fundador dedicou-se à pesquisa e produção de bijuterias. Aproveitava todas as oportunidades para fazer estudos sobre o assunto. Merece especial atenção a visita que ele fez a Kakuzo Okakura, um dos fundadores da Escola de Belas-Artes de Tóquio, cujo nome artístico era Tenshin. Tenshin não é apenas um expoente do mundo das belas-artes japonesas na Era Meiji. É também autor de livros em inglês, tal como “Ideais do Oriente” e “Livro do Chá”. Ocupou ainda o cargo de Diretor do Departamento de Belas-Artes Orientais do Museu de Boston, nos Estados Unidos, sendo muito conhecido por ter apresentado ao exterior a cultura japonesa. Em 1877, entrou para o Departamento de Literatura da Universidade de Tóquio e, durante o curso, tornou-se amigo de Ernest Francisco Fenollosa (1853 -1908), um americano que ensinava Filosofia e Economia na mesma Universidade. Fenollosa também tinha profundo interesse pelas belas-artes e pesquisava com ardor as belas-artes do Japão. Tenshin serviu-lhe de intérprete, e Fenollosa, constatando seu conhecimento de inglês, convidou-o para ser seu assistente de pesquisas. A experiência dessa época serviu para abrir os olhos de Tenshin em relação às belas-artes do seu país, principalmente as antigas. Isso foi algo decisivo para toda a sua existência, o que nos mostra que a vida é realmente misteriosa. Mais tarde, Tenshin opôs-se à tendência exclusiva para a moda ocidental e empenhou-se em fundar a Escola de Belas-Artes de Tóquio, com o objetivo de restaurar as belas-artes japonesas. Em 1890 foi nomeado vice-diretor dessa escola e posteriormente diretor, acumulando o cargo de mestre. O Fundador ingressou no estabelecimento alguns anos depois, em 1897. Na época, o diretor era Tenshin, que também dava aulas de História. Em 1898, devido às controvérsias em torno da obra de formatura de Shunso Hishida, intitulada “Kafu to Koji” (“A Viúva e o Órfão” de 1895), surgiu um desentendimento dentro da escola. Tenshin, assumindo a responsabilidade desse incidente, em março de 1898, entregou o cargo de diretor, que já ocupava há oito anos, e fundou, juntamente com amigos, a Academia Japonesa de Belas-Artes, órgão particular de pesquisa que se opunha às escolas do governo. Tendo isso como ponto de partida, desenvolveu o Movimento de Restauração das Belas-Artes Tradicionais do Japão. Entretanto, o método de desenho sem traços delineadores(64) utilizado por seus discípulos Taikan Yokoyama (1868 - 1958), Shunso Hishida (1874 - 1911), Kanzan Shimomura (1873 - 1930) e Koguetsu Saigo (1873 -1912), começou a causar problemas. Atacados pelo grupo oposicionista, o qual dizia que seus quadros eram nebulosos, esses pintores ficaram em má situação financeira. No final de 1906, sem outra alternativa, Tenshin, juntamente com Taikan, Shunso, Kanzan Shimomura e Buzan Kimura (1876 - 1942), teve de mudar a sede da Academia Japonesa de Belas-Artes de Tóquio para Izura, no extremo norte do litoral do Estado de Ibaragui, que é banhado pelo Oceano Pacífico. Viu-se obrigado a deixar a cidade por algum tempo devido às expectativas frustradas e às polêmicas. Parte da casa onde ele morou durante essa época é hoje preservada pela Universidade de Ibaragui. Presume-se que o Fundador viajou para Izura; em visita a Tenshin, logo depois que este se mudou para lá. A esse respeito, ele escreveu, em 1949: “Há aproximadamente trinta anos, o professor Tenshin Okakura isolou-se em Izura, no Estado de Ibaragui, seguido por quatro pintores: Taikan, Shunso, Kanzan e Buzan. Nessa época, tive a oportunidade de me encontrar com ele por determinada razão. Ele me falou sobre as suas aspirações em relação à futura pintura japonesa, e nesse diálogo eu aprendi muita coisa. Foi então que percebi que o professor Tenshin, tal como eu, não era uma pessoa comum. Naquele dia, passei a noite em claro, conversando com os pintores Kimura Buzan e Kanzan Shimomura. Este último me disse: “A intenção do professor Tenshin, ao criar a Academia de Belas-Artes, foi promover o renascimento de Korin na época atual”. Conseqüentemente, seu verdadeiro propósito é divulgar a pintura que não usa traços delineadores. Atualmente, todos fazem pouco caso de nossos quadros, dizendo que são nebulosos, mas um dia o valor deles será reconhecido”. “E aconteceu exatamente o que ele falou, pois em pouco tempo os pintores da Academia ganharam primazia entre os pintores do Japão, e todos sabem que isso foi uma revolução na pintura japonesa”. (64)
– O método de desenho sem traços delineadores também era conhecido com técnica de preencher linhas tendo a pintura como elemento principal. Era uma experiência que consistia em pintar quadros japoneses com a utilização dos toques e da técnica dimensional, e quadros ocidentais, com pincéis de caligrafia e tintas para aquarela, abandonando o estilo que usava apenas linhas.
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Não há um registro preciso da data em que se deu a visita do Fundador a Izura, mas, analisando os dados relacionados ao fato, presume-se que tenha sido entre março e outubro de 1907. Na época, a viagem de Tóquio a Izura era bastante longa, levando mais de seis horas pela linha Joban. O dia-a-dia do Fundador, na loja de atacados que acabara de abrir, devia ser muito atarefado. Mesmo assim ele esteve viajando durante dois dias. A respeito do objetivo dessa viagem, sabe-se apenas que foi “por determinada razão”, desconhecendo-se maiores detalhes. Entretanto, não há dúvidas de que ele foi buscar algum conhecimento com Tenshin Okakura, que fora diretor da Escola de Belas-Artes de Tóquio e, no momento, estava dirigindo um novo movimento artístico. Correspondendo à sua expectativa, Tenshin deve ter-lhe dado várias orientações, demonstrando ao máximo seus infinitos conhecimentos e habilidades. Talvez o assunto dissesse respeito aos desenhos de bijuterias e outros trabalhos que o Fundador tinha em mente. A propósito disso, a conversa fora se estendendo para o mundo das artes em geral e Tenshin certamente lhe falou com entusiasmo sobre seus ideais relacionados à criação da nova arte. O intercâmbio entre o Fundador e esses pintores não parou ali. Ainda se conservam dois cartões de Ano Novo enviados a ele, em 1936 e 1937, por Buzan Kimura. O pintor Nanpu Katayama (1887 1980), que anos mais tarde se tornou fiel da Igreja Messiânica Mundial, diz que, entre os anos de 1941 e 1943, foi visitar o Fundador em sua casa, situada em Tamagawa, local afastado do centro de Tóquio, acompanhando seu mestre, Taikan Yokoyama. Como já dissemos, o Fundador deu à sua primeira loja o nome Korin-do. Isso é uma prova de que, na época, ele já tinha uma elevada consideração e respeito por Korin Ogata, pretendendo tomá-lo como modelo e seguir-lhe os passos. Deve ter falado repetidas vezes sobre esse seu intenso desejo a Kanzan Shimomura e Buzan Kimura, discípulos de Tenshin. Kanzan apreendera claramente que a concepção artística de Tenshin consistia em vivificar, na atualidade, a arte de Korin, autor de diversas obras-primas da arte japonesa na Era Edo. Não há dúvidas de que o Fundador tenha transmitido o seu sentimento a Tenshin e ouvido a opinião dele. É certo, também, que, naquela noite, em Izura, conversou sobre Korin com Buzan e Kanzan, e que este, especialmente, compreendeu muito bem os seus propósitos e incentivou-os. O encontro com Tenshin, em Izura, e a conversa íntima com Kanzan e Buzan, provavelmente fizeram o Fundador adquirir ainda maior convicção sobre as suas idéias e sobre o caminho que iria seguir. Como resultado da convicção com que se impetrou na produção de bijuterias, conseguiu expressar magnificamente a delicada beleza do estilo Rin-pa nos pentes e adornos para cabelos feitos em “maki-e”, tendo obtido a glória de classificar-se em duas exposições, nas quais recebeu Prêmio de Bronze. Anos depois, dedicou-se à coleção de obras de arte expressas naquele estilo e orientou diretamente a construção dos Solos Sagrados da Igreja Messiânica Mundial, em Hakone e Atami, nos quais introduziu o senso estético do estilo Rin-pa em todos os locais, construindo jardins inteiramente peculiares. Através desses fatos, podemos perceber que o desejo de “vivificar Korin na atualidade” permaneceu vivo nas veias do Fundador durante toda a sua existência. Korin não manifestou habilidade apenas na pintura, mas também no campo do artesanato, tendo deixado excelentes obras de “maki-e”, entre as quais, pentes. Não é difícil imaginar que, na época, dedicado à pesquisa de desenhos, o Fundador tenha ficado maravilhado com o estilo desse artista, desejando captar-lhe a essência. Nesse sentido, não seria exagero dizer que a noite passada em Izura teve um peso decisivo para o rumo que ele tomou em seguida.
4. A MORTE DA MÃE Quem mais se alegrou com o sucesso do Fundador foi Tori, sua mãe. Na época em que ela se casara a família Okada, embora não estivesse nas melhores condições, tinha alguns bens. Tudo isso fora por água abaixo, e ela sofrera bastante. Mas, quando o filho caçula atingiu a maioridade, a família Okada voltou a prosperar. Se tudo continuasse correndo bem como vinha acontecendo pensou Tori - poderiam ficar ainda mais ricos do que no tempo de Kizaemon. Ela deve ter ficado alegre ao ver que o sentimento que a fazia enxergar no filho uma pessoa diferente das pessoas comuns, não era puro amor de mãe que achava o seu filho melhor que o dos outros. Ao mesmo tempo, deve ter lamentado muito que seu marido não pudesse presenciar aquele sucesso, por já não estar neste mundo.
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Tori também era uma boa sogra e gostava muito de Taka, que ela considerava uma excelente dona de casa. Certa vez disse a Iwa, mãe da nora: “Depois que Taka veio para nossa casa, os negócios melhoraram e estão prosperando cada vez mais”. Então, Iwa, que conhecia a capacidade do Fundador, respondeu: “Que nada!... É porque Mokiti tem muita capacidade”. Dessa forma havia um diálogo muito simpático entre as duas mães. Tori tinha duas empregadas domésticas e nos últimos anos de sua vida não passou por nenhuma necessidade. Com certeza ela se sentia como se estivesse recebendo de uma só vez tudo que lhe havia faltado. Em maio de 1912, Tori foi visitar uns parentes, em Sussaka, no Estado de Shinshu, terra natal de seu pai. Alguns trabalhavam em Tóquio, como funcionários da Loja Okada, e por isso o contacto com eles era bem íntimo. Às vezes, o Fundador também ia a Sussaka e, trocando de roupa no Restaurante Matsuga-e, cuja proprietária era sua tia Katsu, ia passear nas Termas Yamada, um pouco mais adiante de Sussaka. A Hospedaria Fujii, onde ele costumava se hospedar, existe ainda hoje, com o nome FukeiKan. Aproximadamente um mês depois que foi para Sussaka, Tori mandou um telegrama dizendo que retornaria a Tóquio. Exatamente nessa ocasião o Fundador estava viajando pela Região Kansai, com funcionários da loja. Quando ela desceu do trem, na estação Ueno, seu rosto estava tão pálido que Takejiro e sua esposa Sue, que tinham ido buscá-la, ficaram assustados. Passados dois ou três dias, o médico diagnosticou-lhe nefrite. Acamada, Tori foi piorando rapidamente. Ela, que sempre mostrara um caráter forte, dizia: “Parece que desta vez estou chegando ao fim. Chamem Mokiti, pois preciso falar com ele”. Imediatamente a família mandou um telegrama ao hotel onde o Fundador estava hospedado, mas infelizmente ele já havia partido. Continuaram a passar telegramas, os quais sempre chegavam quando ele já tinha deixado o local. Assim, não foi possível a comunicação. Ansiosa pela chegada do filho, Tori não parava de perguntar: “Mokiti ainda não chegou?”. A situação não era fácil para Takejiro, Sue e Taka, que estavam cuidando dela. Nesse meio tempo, sem saber de nada, o Fundador voltou. Tori quase inconsciente, por alguns instantes recobrou o vigor e, assim que o viu, falou: “Mokiti, você voltou...”. Estas foram as suas últimas palavras. Certamente o desejo de agüentar pelo menos até rever o filho amado, fez com que ela resistisse até aquele dia, pois na verdade já era para ter expirado há muito tempo. Tori devia ter muitas coisas a dizer, e todos ficaram arrependidos, embora tardiamente, de não terem se esforçado mais para que os dois se encontrassem antes, já que ela estava para morrer. Faleceu no dia 25 de maio de 1912, aos cinqüenta e sete anos, exatamente três dias depois que se haviam completado sete anos da morte de seu esposo. Tori não tinha espírito de liderança no trabalho. Pelo contrário: era dependente do marido, a quem sempre apoiava. Não gostava de aparecer, mas se mostrava muito responsável. Ajudava Kissaburo, cujo gênio era um tanto difícil, criava os filhos pequenos e cuidava da casa, trabalhando a ponto de ficar enfraquecida. Nessa postura de Tori, sentimos a curiosa energia das mulheres, a quem chamam “sexo fraco”. Era possuidora de um amor tão grande que a tornava uma mãe-modelo, dedicada de corpo e alma aos filhos e a toda a família. Tinha uma personalidade rara, sendo dotada ao mesmo tempo de ternura e firmeza. Sua perseverança nos faz sentir o espírito forte e resistente das pessoas naturais das regiões montanhosas e frias, das regiões nevadas como Shinshu, sua terra natal. Lá, depois de se suportar um longo e rigoroso inverno, a neve derrete e o tempo começa a ficar mais quente. Da primavera ao verão, as pessoas se empenham no cultivo do arroz e no trabalho do campo e, ao entrar a estação das colheitas, fazem a armazenagem dos produtos, preparando-se para o inverno. Não é uma vida aparatosa, mas é uma vida geradora de caracteres fortes, imunes às adversidades. A vida inteira do Fundador se caracterizou pela tenacidade: quando ele caía num beco-sem-saída, reerguia-se e continuava a caminhada. Essa característica, certamente ele a herdou de sua mãe. Nos primeiros dias após a morte de Tori, devido aos afazeres com o funeral, o Fundador não teve oportunidade para pensar com calma; mas, depois do sétimo dia, pôs-se a rememorar, com muita saudade, o amor de sua falecida mãe. Uma das coisas que o deixavam muito grato é que os negócios estavam indo de vento em popa, e ela falecera sem precisar preocupar-se com o futuro. Ele achava que esse êxito também era obra de Tori, pois, se não fosse o incentivo dela, não teria aberto a Loja Korindo, e, se não a tivesse aberto, não teriam a prosperidade que vieram a ter posteriormente, com a Loja Okada. Tori, na época em que ele era um jovem cheio de desilusão, entendera seu sofrimento,
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confortara-o, incentivara-o acreditando na sua capacidade. Agora que ele a havia perdido, sentia como fora infinitamente importante a sua existência.
5. AS DOENÇAS Desde pequeno o Fundador fora fraco e doentio. Logo depois que entrou na Escola de Belas-Artes de Tóquio, contraiu uma persistente doença nos olhos. Em seguida teve pleurisia e depois tuberculose, de modo que sua juventude foi uma seqüência de enfermidades. Relembrando aquele tempo, Sue a esposa de seu irmão Takejiro, conta: “Em 1901, quando me casei, a família Okada tinha uma vida afortunada. Sua única preocupação era a saúde precária de meu cunhado Mokiti, que contava, então, dezenove anos. Havia suspeitas de que ele estivesse tuberculoso, e, além disso, sofria da vista, pois enxergava imagens duplas. Durante muito tempo, Mokiti se tratou com o oftalmologista Meimeido, de Koishikawa. Creio que, na época, não havia um só dia em que ele estivesse bem, fisicamente”. Mesmo depois que se tornou independente, o Fundador ainda contraiu várias outras doenças, tendo sofrido até os trinta e dois ou trinta e três anos. Tempos mais tarde, chegou a dizer: “Tive quase todas as doenças, exceto os de senhoras”. Aproximadamente meio ano depois que iniciou o comércio de miudezas, abrindo a Korin-do, ele sofreu uma grave isquemia cerebral, em conseqüência da sobrecarga de trabalho, como responsável de um negócio em que não tinha nenhuma prática. Quando passava por ruas onde circulavam bondes, chegava a sentir-se tonto e até a desmaiar, por causa do estridente barulho dos trilhos. Bastava-lhe conversar durante dez minutos com alguém para que ficasse sem fala. Portanto, seu sofrimento era enorme. Fez tratamento médico durante dois ou três meses, mas não se curou. Certo dia, uma pessoa indicou-lhe o tratamento com moxa, que ele começou a seguir a título de experiência. O terapeuta prescreveu-lhe caminhadas, e todos os dias ele caminhava um pouco. Gradativamente foi ganhando forças, e, quando o tempo estava bom, conseguia andar mais de 4 quilômetros seguidos por dia. Talvez por efeito desse exercício, começou a melhorar da isquemia cerebral, e no fim de dois ou três meses estava completamente curado. Entretanto, a saúde do Fundador ainda continuou débil por algum tempo. Mesmo depois de ter aberto a loja atacadista, ele adoecia algumas vezes por ano. Em 1909, com a idade de vinte e seis anos, contraiu tifo intestinal, ficando num estado tão grave que chegou a expressar seus últimos desejos. Anos mais tarde, escreveu: “Como pensei que não me salvaria, externei meus últimos desejos. Na época, minha primeira esposa ainda vivia e eu tinha uma loja de miudezas. Cheguei a dizer a ela: “Como não vou resistir por muito tempo, quando eu morrer, deixe os negócios com fulano e faça assim, assado”...” Estava, portanto, completamente desapegado da vida”. Perto da casa do Fundador havia um hospital muito renomado, o Hospital Okada, e por sorte ele era amigo do irmão do diretor. Através de um pedido especial, pôde ser atendido por este, o que não acontecia comumente. Terminado o exame, o médico lhe disse em tom frio: “No estado em que você está não há esperanças de cura. Caso eu interne uma pessoa que sei estar condenada, meu hospital perderá a confiança de que desfruta, por isso não posso interná-lo.”. A casa do Fundador era pequena, possuindo apenas dois quartos. Se recebessem muitas visitas, não daria para acomodá-las. Então, ele fez novo pedido ao diretor do hospital e solicitou ao irmão que também o fizesse. Finalmente conseguiu a internação. Entretanto, na época, não existiam transportes cômodos como os de agora, de modo que, não tendo forças suficientes para subir na carroça puxada à mão, o Fundador teve de ser levado de maca, bem devagarzinho. Anos mais tarde, ele assim escreveu: “Deitado na maca e vendo as pessoas caminhando pela cidade, pensei que aquela era a última vez que eu via gente. Não conseguia deixar de ter visões de cemitério; acreditei mais do que nunca, que já estava no fim”. Aconteceu, porém, um milagre. Embora lhe tivessem dito que não se salvaria ele restabeleceu-se por completo do grave tifo intestinal, com um tratamento de apenas três meses. Naquele tempo não existia remédio para o tifo; o Fundador ficou curado apenas com alimentação líquida. Certo de que ia morrer e desapegado da vida, ele viu abrir-se à sua frente um novo caminho.
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Entretanto, suas sofridas doenças ainda continuaram durante dez anos. A loja de miudezas prosperava com o vigor do nascer do Sol, mas o Fundador adoecia várias vezes por ano. Além de ter ficado internado durante um mês, com crises de hemorróidas, sofreu de dores de cabeça e de estômago, reumatismo, prostração nervosa, uretrite, amigdalite, catarro intestinal, problemas das válvulas cardíacas, periodontite e um incontável número de outras enfermidades. Assim, ele vivia sob o temor da doença e por isso cuidava muito da higiene diária, a ponto de parecer neurótico. Segundo reminiscências dos funcionários da loja, o Fundador se precavia a ponto de ir ao médico por causa de um espirro. Quando ia ao toalete e lavava as mãos, jamais usava a toalha usada por outras pessoas; abanava as mãos para secá-las. Depois das refeições, tinha o trabalho de trocar o algodão com o qual tampava as cáries dentárias. Através do trecho que se segue, fica patenteado o quanto ele era dependente da Medicina nessa época, pelo medo atroz que tinha da doença: “Creio que este fato aconteceu quando eu tinha mais ou menos trinta anos”. Fui para uma estância de águas termais, situada em Shinshu, num local bem afastado, e assim que cheguei à hospedaria, perguntei à funcionária: — Nestas termas existem médicos? — Sim, há um, respondeu ela. — É um clínico ou um cientista? — Ouvi dizer que se formou este ano. Ao ouvir essas palavras, fiquei tranqüilo, achando que poderia permanecer ali dois ou três dias sem me preocupar”. Mais adiante, ele escreveu: “Como o homem nunca sabe quando vai ficar doente, eu queria encontrar um médico atencioso, que, na hora em que eu precisasse e lhe desse um telefonema, me atendesse imediatamente, fosse de noite ou de madrugada”. Acabei encontrando um médico assim, a quem eu tratava da melhor maneira possível. Tornamo-nos tão íntimos como se fôssemos parentes. Ele é o padrinho de casamento de minha atual esposa. Podem ver, portanto, como eu acreditava na Medicina, naquela época. O médico a que o Fundador se referiu era o Dr. Shota Matsumoto, dono de uma clínica situada no bairro de Oga, no Distrito de Kyo-bashi. Não se sabe quando começou o relacionamento entre ambos, mas na ocasião em que Hirokiti, irmão mais velho de Taka, teve tifo intestinal, o Fundador levou o Dr. Matsumoto e sua enfermeira à casa dos sogros. Nessa oportunidade, o médico tratou o doente com cuidados especiais. Através desse fato, podemos concluir que, naquela época, eles já eram muito íntimos. Entretanto, das doenças contraídas pelo Fundador, a que mais o fez sofrer e durou mais tempo, foi a dor de dente que ele teve de 1914 a 1916. “A dor de um só dente já é terrível. Imaginem então quatro dentes doendo ao mesmo tempo todos os dias. Era insuportável” - assim se expressou ele, anos mais tarde. O Fundador correu o hospital da Universidade Imperial de Tóquio, a Clínica Odontológica Especializada de Iida-bashi e todos os hospitais famosos de Tóquio, mas não obteve a cura. A dor de dentes tornou-se tão forte que chegou a colocar em perigo a sua vida. Ele disse: “Minha cabeça foi ficando tão perturbada que eu me vi num beco-sem-saída, achando que teria de escolher entre ficar louco ou me suicidar”. Nisso, retornou ao Japão um famoso dentista que trabalhara durante longo tempo nos Estados Unidos. Imediatamente, ele foi bater à sua porta. Durante um ano, esse dentista fez tudo que estava ao seu alcance, mas os dentes do Fundador iam ficando em estado cada vez pior. Por fim, desistindo do tratamento que lhe estava fazendo, o próprio dentista, disse a ele: “Já usei todos os remédios que conheço. Agora só resta esperar pelo novo medicamento que um amigo meu vai trazer dos Estados Unidos”. Entretanto, dessa vez também aconteceu algo misterioso. Um conhecido do Fundador apresentoulhe um sacerdote da Religião Nitiren. Não suportando mais o sofrimento por que passava dia e noite, ele resolveu experimentar durante uma semana o tratamento que esse sacerdote lhe aconselhou. Parou de ir ao dentista e começou a freqüentar a casa do sacerdote, em Yokohama. Não se sabe ao certo que tratamento era, mas no quarto dia, voltando de lá, o Fundador começou a se sentir bem melhor, quando ainda estava no trem. A dor havia diminuído, e ele se viu tomado por uma sensação agradável
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que não sentia há meses. Naquele momento, repentinamente, ocorreu-lhe uma idéia: a causa da dor de dente não seriam os remédios? Não seria por causa deles que a dor de dentes não passava? Os analgésicos não estariam causando uma dor ainda maior? Pensando assim, parou de ir à casa do sacerdote, e também nunca mais foi ao dentista. Através dessa longa e sofrida experiência, o Fundador tomou consciência, na própria pele, da nocividade dos medicamentos. Aprendeu que o remédio, que deveria curar a doença, na verdade, cria a doença.
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CAPÍTULO V
DE VENTO EM POPA
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1. SUCESSO a) A TRANSAÇÃO COM A LOJA MITSUKOSHI Desde jovem, o Fundador dava muita importância à honestidade. Depois que entrou para o mundo dos negócios, passou a dar-lhe maior importância ainda, tomando-a como lema. Esse seu posicionamento levou a Loja Okada a alcançar um grande sucesso. O fato que se segue aconteceu logo depois do falecimento de Tori. Um indivíduo chamado Shigueharu Takahashi, que trabalhava no Departamento de Compras da Loja Mitsukoshi, passou pela Loja Okada e disse ao seu proprietário: “Entrei para o Departamento de Compras e não sei nada a respeito de miudezas. O senhor deve conhecer lojas de miudezas dos mais diversos locais. Por favor, oriente-me”. O Fundador respondeu: “Eu também não tenho muita experiência, mas vou lhe ensinar tudo que sei”. Disse-lhe, então, com muita gentileza, que uma loja situada em determinado lugar tinha X qualidades, lidava com isto e aquilo, tinha desenhos ótimos, que ele devia comprar estes e aqueles artigos nessa loja, e assim por diante. Takahashi agradeceu, dizendo que aprendera bastante. E foi embora. Passado algum tempo, ele apareceu novamente, para fazer uma proposta ao Fundador: “Fiquei muito agradecido pelo que o senhor me ensinou e hoje vim lhe fazer outro pedido, pois o senhor é um tipo muito raro de comerciante”. A maioria, só de ouvir o nome Mitsukoshi, começa a mostrar as qualidades de sua loja, para tentar negociar conosco, mas o senhor não mencionou uma única palavra sobre a sua; pelo contrário, só mostrou as qualidades de outras lojas, orientando-me com muita gentileza. Essa atitude está completamente fora da lógica do comerciante. Fiquei impressionado com a sua extraordinária personalidade, e por isso desejo que negocie conosco. A Mitsukoshi havia começado como loja de roupas, em 1904, mas, com o passar do tempo, mudou o tipo de negócio, surgindo como o primeiro “department store” (65) do Japão, na rua mais famosa de Nihon-bashi. A posição e a confiança de que essa loja desfrutava, no mundo das pequenas empresas, era a mais alta possível; portanto, o simples fato de manter negociações com ela, fazia com que o conceito de uma loja atacadista aumentasse bastante. Além do mais as miudezas têm íntima relação com as confecções, e na Mitsukoshi esta era a seção mais poderosa em termos de tradição. Para um atacadista de miudezas, não havia freguês melhor. Ora, quem estava ali era o responsável pelo Departamento de Compras da Mitsukoshi. Seria próprio do caráter humano o comerciante abaixarlhe a cabeça e tentar vender-lhe as mercadorias de sua loja; o Fundador, entretanto, atendeu-o muito bem, mas sem nenhum interesse pessoal. Por outro lado, desde criança Takahashi trabalhava no comércio de jóias como aprendiz, fazendo contratos que durava um ano. Era um homem de grande capacidade, que entrara na Mitsukoshi depois de acumular bastante experiência. Dizem que ele era uma pessoa muito humana, de muito caráter, e que não tinha “duas caras”. O empenho do Fundador em seguir unicamente o caminho da honestidade, impressionou-o bastante, e, por seu intermédio, a Loja Okada começou a negociar com a Mitsukoshi.
b) A INVENÇÃO DO “DIAMANTE ASSAHI” O que veio consolidar a posição da Loja Okada, que havia alcançado sucesso em tão pouco tempo, foi o “Diamante Assahi”, produto criado por um método inteiramente novo, pesquisado pelo próprio Fundador e utilizado para confeccionar bijuterias. Numa tarde do verão de 1913 ou 1914, em sua mansão de Kanazawa, no Estado de Kanagawa, o Fundador estava dormindo, quando acordou ao som refrescante do tilintar do sininho de vidro pendurado à frente da casa. Olhando na direção de onde o som partia, viu que do sol, que começava a se deitar no poente, irradiavam-se feixes luminosos avermelhados, os quais, incidindo sobre o sininho, (65)
– Loja de Departamentos
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que balançava de leve, brilhavam em sete cores, como um arco-íris. Enquanto admirava aquela beleza, ele pensou: “Seria maravilhoso se eu pudesse aproveitar esse brilho para a confecção de adornos de cabelo ou bijuterias...”. Compenetrado nessa idéia, o Fundador aprofundou-a e, depois de mil experiências, chegou à conclusão de que deveria utilizar espelho. O método consistia em colar um espelho bem fino em papel ou seda e cortá-lo em pequenos pedaços que, em seguida, seriam colados no metal ou no celulóide a ser usado para a confecção do objeto. O material obtido através desse método brilhava ofuscantemente, como um diamante, e o seu brilho assumia cores diversas. Além disso, podia ser amplamente utilizado em pentes, adornos para cabelos e broches. Logo o Fundador passou a vender objetos confeccionados com esse material, requerendo-lhe a patente com o nome de “Diamante Wari”. Isso aconteceu em maio de 1915. Em agosto do ano seguinte, requereu a patente do desenho de uma combinação de estrela e lua e, a partir desse momento, o produto passou a ser chamado “Diamante Assahi”. A beleza inédita do “Diamante Assahi” conquistou por completo o coração das mulheres da época. (Vide foto colorida no início deste livro). Sendo espelho, brilhava de forma ofuscante sob o efeito da luz e mudava de cor de acordo com o ambiente. Além do mais, entre os objetos feitos com esse material, os mais baratos, na compra por atacado, custavam aproximadamente 1 iene e 30 “sen” a dúzia, preço que qualquer pessoa podia pagar com facilidade. Some-se a isto a excelência do produto. Assim, do país inteiro choviam pedidos; eram tantos que, por maior que fosse a quantidade de artigos produzidos, não se conseguia atender a todos. Kinzo Kimura II, filho do gerente da Loja Okada, conta-nos uma lembrança inesquecível sobre o “Diamante Assahi”. O fato ocorreu em sua infância, certa vez em que ele foi ao teatro com a família. No intervalo da representação, seu pai lhe disse: “Levante-se e olhe para a platéia”. Ele assim fez e avistou uma poltrona de onde irradiava uma luz meio clara. Logo percebeu que, em todos os lugares do teatro, pouco iluminado, a cabeça das senhoras reluziam. Enquanto ele permanecia absorto na contemplação daquela beleza estranha, seu pai lhe explicou, num tom que demonstrava grande orgulho: “Todo esse brilho é do “Diamante Assahi” da Loja Okada, sabia?”. Só nas bijuterias feitas com o “Diamante Assahi” a loja obteve um lucro de 100 mil ienes da época. As casas que vendiam essas bijuterias eram a Mitsukoshi, Shiroki-ya, Matsu-ya, Hakubotan, Saegussa e Sekiguti, em Tóquio; Daimaru, Shikanko e Izutsu-ya, em Ossaka, e os “department store” e lojas tradicionais de todas as localidades. Assim, em 1916, quando o Fundador estava com trinta e três anos, a Loja Okada se tornou uma das melhores do ramo, ocupando uma sólida posição. Em julho de 1915, poucos meses depois da invenção do “Diamante Assahi”, o Fundador criou um tipo de pente a que chamou “Pente Bright”. Essa criação possuía um adorno confeccionado da seguinte maneira: faziam-se saliências e reentrâncias numa superfície de metal ou celulóide e revestiase com vidros coloridos e vidros incolores, ou com vidro e esmalte, forrando-se de metal a parte de trás. O ponto comum entre o “Pente Bright” e o “Diamante Assahi” é que ambos têm ligação com o “raden”, uma técnica tradicional de artesanato. Consiste em cortar conchas brilhantes em pedaços de diversos formatos, para serem colados, ou, depois de aplainá-las e lixá-las, reduzi-las a pedaços bem pequenos, para serem polvilhados. O “Diamante Assahi” e o “Pente Bright” são, portanto, novas experiências com vidro e espelho, nas quais se utiliza a técnica de “raden”. Essas criações do Fundador deixavam as pessoas maravilhadas e produziam um efeito extraordinário. Analisando mais profundamente a história do artesanato japonês, concluímos que o “raden” é um tipo de “kanso” elaborado como processo para enfeitar objetos de laca. O “kanso” consiste em colar ou fincar numa superfície de laca pedaços de conchas cortadas, formando desenhos. Na Era Edo, surgiram muitos artesãos típicos que trabalhavam com laca, mas um dos que manifestaram sua individualidade com maior vigor foi Korin. A obra intitulada “Yatsuhashi Maki-e Suzuribako” (66), propriedade do Museu Nacional de Tóquio, é muito famosa, constituindo uma de suas obras-primas. As flores de íris feitas com pedaços de conchas, aplicadas nesse trabalho, atraem profundamente aqueles que o apreciam. A admiração do Fundador por Korin não se restringe apenas ao campo da pintura, mas abrange também o artesanato em geral; daí ele ter aplicado a técnica do “raden” nas suas criações.
(66)
– Caixa para guardar pincéis e vasilha de tinta carvão, com desenho de oito pontes.
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O desejo de usar coisas belas é comum a todos os seres humanos; nas mulheres, principalmente, ele é muito forte. Entretanto, as verdadeiras obras de “maki-e” e “raden”, os pentes e adornos de cabelo enfeitados com diamantes etc., são inacessíveis ao povo. Para atender a esse desejo é que surgiu o “Diamante Assahi” e os demais objetos mencionados, os quais, embora sejam imitações, foram criados com muito engenho e esforço, para dar alegria ao povo, aproximando-se muito dos verdadeiros, e a preços módicos. No documento da “patente de novo produto”, datada de 1915, lê-se esta frase: “Além de ter uma aparência muito bela, assemelhando-se ao “maki-e”, pode ser adquirido a preços bem baixos. E grande, ainda, a possibilidade de permanecer no mercado por longo tempo, sendo, pois, uma criação oportuna”. Por essas palavras podemos constatar o verdadeiro objetivo do Fundador. A fim de atender aos pedidos que aumentavam vertiginosamente, ele alugou uma casa bem grande, no bairro de Missuji, situado no Distrito de Assakussa, e reformou-a, para usá-la como fábrica. Nela, dezenas de operárias produziam o “Diamante Assahi”, trabalhando dia e noite. Além desse trabalho vigoroso para atender ao mercado interno, o Fundador também visava o mercado externo, tendo traçado um plano de amplitude mundial. Atente-se para o fato de que ele requereu patente do “Diamante Assahi” no exterior. Na época, apenas dez países tinham o sistema de patentes: Japão, Inglaterra, Estados Unidos, França, Alemanha, Itália, Austrália, Canadá, Índia e Brasil. O Fundador obteve a patente em todos eles, antes mesmo de tê-la obtido no Japão. Esse fato mostra claramente que, desde o início de seus empreendimentos, ele tivera uma visão bem ampla, objetivando não apenas o Japão, mas o mundo. Para vender o “Diamante Assahi” nos Estados Unidos, o Fundador enviou a esse país um indivíduo chamado Tsukamoto, que falava inglês fluentemente. Chamou, também, um jovem que residia em Shinshu, terra natal de Tori, sua mãe, e fez que ele freqüentasse uma escola de idiomas, preparando-o para que, no futuro, quando se formasse, pudesse trabalhar na Loja Okada como encarregado dos negócios no exterior. No início da Era Taisho, era pensamento geral entre os japoneses que o Japão fosse um país subdesenvolvido e que os países ocidentais fossem desenvolvidos. Achava-se que todas as coisas boas provinham do Ocidente. Assim, por incrível que pareça, estava totalmente fora de cogitação vender aos Estados Unidos qualquer produto artesanal japonês. Em face disso, as pessoas ligadas ao mesmo ramo de negócios que o Fundador, espantaram-se sobremaneira quando tomaram conhecimento das transações realizadas por ele. Nos Estados Unidos, Tsukamoto foi vítima de fraudes e, infelizmente, não pôde concretizar os planos traçados. Através, porém, de sua viagem àquele país, podemos ver que, já na Era Taisho, o Fundador tinha os olhos amplamente voltados para o mundo.
c) UMA ADMINISTRAÇÃO RACIONAL Uma das razões pelas quais a Loja Okada teve um grande progresso em curto espaço de tempo foi o dom excepcional que o Fundador tinha para o desenho. Por outro lado, a sua forma de administração, sempre avançada em relação à época, também influenciou muito. Nas lojas tradicionais do Japão, adotava-se o sistema de aprendizagem. Após o jovem terminar esse período, em que não recebia remuneração, realizava-se o “guenpuku” (67), e, quando ele atingia a idade de dezessete ou dezoito anos, finalmente passava a ser remunerado, tornando-se “tedai” (68). Aproximadamente depois de dez anos de serviço, era promovido a gerente. Nas grandes lojas, havia dois ou três gerentes. Quando a pessoa já tinha muito tempo de serviço, era-lhe atribuído um capital e fregueses, para que se tornasse independente e abrisse uma loja com o mesmo nome. Por trás dessa tradição havia o conceito de “família”, que constituía e sustentava a sociedade japonesa desde os tempos antigos. Os patrões consideravam seus empregados como verdadeiros filhos, e estes também serviam ao patrão como se ele fosse seu pai. Esse costume durou muito tempo. Entretanto, a rápida ocidentalização ocorrida a partir da Era Meiji foi modificando bastante o tradicional sistema da sociedade japonesa. Chegara a época que pouco a pouco iria fazer desaparecer, (67) (68)
– Cerimônia realizada entre doze e dezesseis anos, simbolizando que o menino se tornou adulto. – Cargo situado entre os cargos de gerente e aprendiz e ocupado por um jovem.
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nas casas comerciais, a rigorosa relação entre superior e subalterno, a qual estava baseada no conceito de “família”. Por volta de 1913 ou 1914, o Fundador apreendeu claramente essa mudança da sociedade e, embora seu estabelecimento fosse uma exceção no mundo das lojas de miudezas, deu-lhe uma forma mais prática de administração, coisa que há muito tempo planejava fazer. Em primeiro lugar, adotou esse sistema na parte relativa à organização e ao pessoal. Ouvindo também a opinião de Seinossuke Mori, modificou o sistema de aprendizagem que adotara até o momento e instalou o Departamento de Contabilidade, de Administração, de Vendas etc., colocando neles as pessoas adequadas. Planejava, assim, a promoção de cargos. Captando sua intenção, os empregados que lhe mereciam confiança esforçavam-se pelo progresso dos negócios, dando o máximo de si para corresponder às expectativas do patrão. Vendo isso, os negociantes do mesmo ramo chegavam a dizer: “A loja do Sr. Maruno tem funcionários excelentes. Não sei como é que ele pôde reunir tantos elementos dessa categoria”. Na ocasião de promover os empregados, o Fundador não levava em conta se eram parentes seus ou se trabalhavam ali há mais tempo; escolhia os melhores, agindo com toda justiça. O mais eficiente era Kinzo Kimura, seu colaborador desde a fundação da loja. Seinossuke Mori, nomeado Diretor do Departamento de Vendas Regionais, também foi um dos que ele utilizou pela sua capacidade. Mori havia estudado administração na Escola Comercial Okura, atual Universidade de Economia de Tóquio, e se esforçara para ampliar o campo de vendas por todo o país, contribuindo bastante para a prosperidade da loja. A segunda medida racional da nova forma de administração adotada pelo Fundador foi tornar mensal o salário dos empregados e introduzir o sistema de comissão. Cada funcionário passou a ter um salário fixo, ao qual era acrescentada a comissão de um terço sobre as vendas efetuadas. Consideravam-se como vendas efetuadas as mercadorias pagas em dinheiro vivo, pois, no caso de comissão sobre as vendas, geralmente basta fechar o negócio para o empregado recebê-la; assim, para ele, a cobrança fica em segundo plano. O salário fixo não diferia muito do que era pago pelas outras lojas; todavia, como a ele se acrescentava a comissão sobre as vendas, tornava-se muito superior. Todos os empregados estavam enquadrados nesse sistema: tanto os vendedores externos, como os funcionários internos. Conseqüentemente, não havia uma única pessoa que pensasse em deixar a Loja Okada. O salário mensal de Mori, por exemplo, era de 50 ienes fixos, mas, acrescentando-se a comissão, chegava a 500 ienes. No sistema de comissão, os rendimentos variam de acordo com a capacidade e o esforço da pessoa. Assim, esta se entusiasma com o trabalho e a loja também prospera. Por outro lado, o serviço também é mais rigoroso. Watanabe, um dos funcionários da Loja Okada, conta lembranças dessa época: “Entrei na loja em 1914. Como era solteiro, recebia 35 ienes mensais; pouco depois, entretanto, passei a receber de 200 a 300. Na época, com uma renda de 50 a 60 ienes, um casal com um filho conseguia ter uma vida bastante cômoda, pois o aluguel de um sobrado de dois ou três compartimentos era 5 ou 6 ienes. Uma “yukata” (69) custava 35 “sen”, e um par de “tabi” (70), 10 “sen”. Depois do grande terremoto ocorrido na Região Kanto, em 1923, Kinzo Kimura e Seinossuke Mori entraram em entendimento com o Fundador, ficando resolvido que cada um se tornaria independente e teria sua própria loja. Kimura fundou, no bairro de Hama, em Nihon-bashi, a Kimura Artesanatos S/A, e Mori, no bairro de Kuramae, em Assakussa, a Mori Koguei S/A. O capital de ambos provinha das economias que fizeram durante o tempo em que trabalhavam na Loja Okada. Após a saída de Kimura e Mori, Takashi Nagashima tornou-se gerente da loja. Ele entrara nela em 1919, quando tinha quinze anos; a partir do ano seguinte, passou a trabalhar nos serviços externos. Por ser jovem e não ter experiência, dizem que sofreu bastante. Na época, aqueles que faziam esse tipo de serviço andavam muito e por isso usavam tamancos de “hoba” (71), suscetíveis de serem trocados quando ficavam gastos. Nagashima saía todos os dias, levando mercadorias. Percorria as pequenas lojas de Guinza, do Parque Shiba, de Assabu e de outros locais da Região Sul de Tóquio. Nos dias de chuva e neve, sofria terrivelmente, mas esforçou-se ao máximo para aprender logo o serviço e adquirir a capacidade dos empregados mais antigos. (69)
– Vide nota 30. – Meias próprias para se usar com quimono. (71) – Suporte de tamancos feitos de magnoleira. (70)
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A terceira medida racional da nova forma de administração da Loja Okada referia-se aos dias de descanso e à previdência social dos funcionários. O Fundador adotou o sistema de descanso semanal, muito raro no comércio de miudezas; para os funcionários principais, dava descanso em forma de revezamento. No início da Era Taisho, os comerciantes comuns só fechavam seus estabelecimentos no Dia de Finados e no Ano Novo. Os feriados nacionais e os dias de descanso surgiram muito depois. Só as repartições públicas, os bancos e as grandes indústrias é que fechavam aos domingos e feriados. Numa época assim, era uma grande novidade adotar o sistema de descanso semanal. No início da Era Taisho, o Fundador alugou um terreno de 660 m2 no bairro de Tera-mae, situado na circunscrição de Kuraki, no Estado de Kanagawa, terra natal de Taka, sua esposa, e aí construiu uma casa térrea. A região era chamada de Kanazawa Hakei e possuía uma paisagem pitoresca: atrás, tinha-se a região montanhosa da Península Miura, e avistava-se até a longínqua Península Bosso, que ficava do outro lado de uma pequena baía. Ele amava muito essa paisagem; todos os anos, no verão, ia a Kanagawa. Foi nessa casa que lhe ocorreu a idéia do “Diamante Assahi”, ao ver o sininho balançando ao vento, após um cochilo à tarde. Mas o Fundador não sentia prazer em desfrutar desse belo ambiente apenas com os familiares, e por isso franqueava a casa aos seus funcionários. No verão, todos eles passavam alguns dias nela, revezando-se a cada semana. Aí se retemperavam tomando banho de mar e fazendo caminhadas pela montanha. E não era só. Quando os funcionários da loja e até os amigos deles adoeciam, o Fundador os levava para essa casa, a fim de que eles descansassem. Entre eles havia tuberculosos, que, na época eram considerados doentes incuráveis, e também pessoas acidentadas, mas ele não dava a mínima importância a isso. Quem passava por apuros eram as pessoas que cuidavam desses doentes. Conta-se que a mãe e a irmã de Taka, que sempre atendiam com muita alegria as pessoas que iam para lá, ficavam assustadas. Dessa forma, o Fundador oferecia sua casa para servir ao maior número de pessoas; em relação à Loja Okada, ela se equiparava ao Instituto de Previdência Social de hoje. Só em época muito posterior é que o sistema de descanso semanal e de previdência social começou a ser adotado amplamente pelas casas comerciais e empresas comuns. Como administrador, ele controlava os planos mais importantes; todavia, confiando nos empregados, deixava o máximo que podia em suas mãos. Uma vez entregando-lhes responsabilidades, não ficava se intrometendo no trabalho por qualquer motivo. Dirigia a loja de forma bem aberta, favorecendo os que obtinham bons resultados. Assim, os funcionários trabalhavam com calma e sem hipocrisia, e o ambiente da loja era sempre animado. Quando Mori, diretor do Departamento de Vendas Regionais foi a certa região pela primeira vez, para iniciar as vendas nesse local, o Fundador, como sempre fazia, deu-lhe as diretrizes básicas, dizendo-lhe que fosse primeiramente à Junta dos Comerciantes e Industriais do lugar, para saber quais eram as lojas tradicionais, e limitasse a venda a esses estabelecimentos. Dessa forma, dizia ele, todos os clientes da Loja Okada, em qualquer região, seriam lojas de alta categoria, divulgando-se, entre os consumidores, o conceito de que as suas mercadorias eram de primeira e só existiam nas melhores casas da cidade. Obviamente, por trás disso, ele estava absolutamente seguro de que qualquer estabelecimento tradicional negociaria as criações da Loja Okada. Assim, o Fundador só dava orientações básicas, sem entrar em detalhes; em compensação, era muito exigente quanto ao relatório. Caso o funcionário se esquecesse de fazê-lo, ele o repreendia severamente: “Enquanto não fizer o relatório, o serviço não estará terminado. É preciso distinguir bem as coisas”. É claro, entretanto, que ele não negligenciava por completo os detalhes. Muitas vezes dava orientações diretas a um novo funcionário, ensinando-lhe as “dicas” do comércio e a preparação que deveria ser feita. Fazia advertências minuciosas, dizendo, por exemplo: “Quando for fazer as cobranças e não conseguir receber das lojas que não costumam pagar em dia, nunca faça cara feia, pois a pessoa ficará revoltada. Diga que, se não puderem pagar na ocasião, você voltará outro dia”. Mesmo que algum funcionário fizesse algo inconveniente, o Fundador nunca perdia a calma nem o mandava embora. Conversava de modo que ele compreendesse seu erro e mudasse de pensamento, e utilizava-o por longo tempo. Na loja, costumava ficar na sala dos fundos, resolvendo questões administrativas ou elaborando novos desenhos. Embora desse as orientações necessárias, quase nunca atendia diretamente outros negociantes para fazer transações ou contatos. Deixava esses encargos nas mãos de Kinzo Kimura, e por isso chegavam a correr boatos de que, na Loja Okada, quem fazia tudo era Kimura. Este, vendo-se alvo de tamanha confiança, sempre dizia: “Meu divertimento são os negócios”.
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Nas lojas atacadistas, era muito normal o gerente receber gorjetas dos subempreiteiros dos negociantes; na Loja Okada, porém, isso jamais acontecia. Não só porque o salário dos funcionários era alto, mas também porque, certamente, a personalidade do Fundador - a qual pode ser constatada pela sua atitude - modelo no atendimento ao encarregado de compras da Mitsukoshi - refletia-se em todos os funcionários.
d) A ÉPOCA DO BAIRRO DE KITAMAKI Com a venda explosiva do “Diamante Assahi”, o prédio onde até então se localizava a Loja Okada tornou-se muito pequeno. Morar ali, naquelas condições, era muito incômodo. Não havia sequer lugar onde guardar os produtos recém-fabricados, nem sala de espera para os artesãos que viviam entrando e saindo. Além do mais, vinham muitas pessoas da terra natal da mãe e da esposa do Fundador, para trabalhar na loja, havendo, portanto, necessidade de assegurar-lhes moradia. Ele resolveu, então, mudar-se para outro local. Comprou um terreno no bairro de Oga, perto de Minamimaki, bairro onde estava situada a loja, ambos no Distrito de Kyo-bashi, e lá construiu uma casa, para a qual se mudou em abril de 1916. Era uma casa grande, em estilo japonês, com um amplo jardim, e ficava situada num lugar que tinha muita facilidade de transporte, perto da Estação de Tóquio, a qual era e continua sendo o “cartão postal” da cidade. O prédio de tijolos vermelhos que ainda hoje existe no lado Marunouti, foi concluído em 1914, pouco antes da mudança do Fundador para o bairro de Oga. Com a sua conclusão, os arredores da Estação de Tóquio tiveram uma prosperidade ainda maior. Logo depois que mudou de residência, o Fundador, com a ampliação dos negócios, transferiu a loja para um prédio situado no bairro de Kitamaki, perto da Ponte Yaessu, bem em frente ao pátio da atual entrada Yaessu da Estação de Tóquio. Era a melhor zona da capital, localizada em pleno centro. A partir de 1915, o progresso da Loja Okada foi espantoso. Após a mudança para as novas instalações, os negócios prosperaram cada vez mais. Todos os dias o movimento era grande desde cedo, com o entra-e-sai dos funcionários e artesãos. De noite, o Fundador ficava até tarde pesquisando os desenhos das mercadorias e por isso não se levantava muito cedo. Depois da refeição matinal, andava uns cinco minutos de sua casa, em Oga, até Kitamaki, chegando à loja por volta das dez horas. Quando ele chegava, os funcionários o cumprimentavam. Na loja, havia uma sala de espera destinada aos artesãos, que a enchiam desde cedo, em número de vinte a trinta, para entregar as encomendas ou para receber novos pedidos. Eles ficavam sentados descontraidamente, com as pernas cruzadas e de piteira na boca; davam duas ou três tragadas e jogavam fora as cinzas, batendo a ponta do cigarro na borda dos cinzeiros. Entre conversas sobre assuntos mundanos, esperavam ser chamados. A mesa do Fundador ficava na sala dos fundos. Sentado atrás dela, ele chamava os profissionais pela ordem de chegada e examinava as mercadorias que traziam. Avaliava-as pela qualidade. Se a encomenda estivesse de acordo com o pedido, ficava muito contente e pagava no mesmo instante; quase nunca regateava o preço. Entretanto, se não ficasse satisfeito, mandava refazer quantas vezes fossem necessárias. Um atacadista comum, se o preço da mercadoria fosse abaixado, fecharia negócio mesmo que ela não lhe tivesse agradado muito. Mas o Fundador jamais agia assim, de modo que o profissional não tinha outra alternativa senão refazê-la até que ela ficasse ao gosto dele. Mesmo para a confecção de um único objeto estavam divididas as tarefas que cada pessoa iria executar: quem faria a base, quem colocaria os desenhos, e assim por diante, sendo que, de acordo com a peça, ela passava pela mão de três ou quatro pessoas até ficar pronta. Como o Fundador fazia os pedidos com muito zelo, o objeto ficava impregnado de todo o seu amor e de todo o seu entusiasmo pelo Belo, ganhando vida. Constatamos, assim, o quanto ele estava convicto de que a qualidade das mercadorias era a vida dos negócios. Os profissionais contratados viam o desenho de um artigo relativamente barato, feito por um desenhista sob a orientação do Fundador, e depois recebiam a encomenda. Esta era feita por Kimura. Se, através do trabalho realizado, fosse reconhecida sua capacidade, eles eram incumbidos de produzir artigos desenhados pelo próprio Fundador. Era assim que conseguiam receber as encomendas diretamente dele. Esse processo tinha uma ordem e uma divisão bem definidas.
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O Fundador atendia os profissionais e os visitantes especiais das onze até as quatorze ou quinze horas, fazendo um intervalo para o almoço. Na loja, ele sempre usava roupas ocidentais, o que, naquele tempo, era muito raro, entre os funcionários mais graduados das lojas de miudezas. Isso fazia com que a Loja Okada parecesse muito avançada em relação à época. Além do mais, nesse ramo, era novidade os profissionais permanecerem sentados aos fazerem as reverências de costume e mostrarem os artigos que traziam, recebendo, em seguida, as encomendas. Vez por outra, o Fundador pegava o seu cachimbo, colocava-lhe fumo da marca “Castle” e atendia os artesões fumando. Ele gostava muito de doces, e às quinze horas, quando serviam o lanche, comia-os com muito prazer; em seguida, voltava às contas. Quando tinha uma pequena folga, pegava novamente o “Castle” e fazia fumaça. Assim, com alegria, mas sem desperdiçar nem um segundo, ia executando o serviço rapidamente. Se o telefone tocasse, atendia-o e dava as ordens aos funcionários. Apesar de toda essa correria, geralmente o Fundador terminava os atendimentos até quinze horas. Em seguida, ficava planejando novos desenhos ou lia o jornal. Se encontrasse alguma notícia mais relevante, debatia o assunto com Kimura. Às vezes, conversava descontraidamente, sobre os assuntos da atualidade, com um profissional que ainda não fora embora. Ao entardecer, era comum ele pedir a um restaurante que lhe levasse a refeição na loja, ou então despedir-se dos funcionários, sair, pegar um “jinrikisha” (72) e ir ao encontro de Taka e Hikoitiro, para jantarem fora. Em seguida, se havia algum espetáculo interessante, ia ao Teatro Imperial, a uma comédia do Teatro Gokuro, em Assakussa, ou ao “yosse”. O Fundador era um chefe de família muito calmo e compreensivo. Nesse tempo, ele já estava mais saudável e todos os dias fazia caminhadas após o jantar. Quando não estava trabalhando, era seu costume andar pelas ruas de Kyo-bashi e Guinza, mesmo nos dias de chuva ou neve. Entretanto, o problema dentário que tinha desde a juventude ainda não havia melhorado; por isso, antes das refeições, ele colocava algodão nos dentes e, terminando de comer, escovava-os com todo o cuidado, em frente ao espelho, depois de retirar o algodão. Também nessa época, criou-se a “Associação Sofuku”, que congregava os donos das lojas comerciais situadas entre Kyo-bashi e Guinza e cujo presidente era o Sr. Kojiro Matsuda. Ele era o dono da tradicional Loja Hakubotan, localizada em Guinza, e já fora secretário executivo do Sindicato das Lojas de Miudezas. Os membros pagavam uma mensalidade de 20 ienes mais ou menos e promoviam reuniões sociais, jantares e viagens anuais, na primavera e no outono. O Fundador tornouse membro dessa associação, tendo viajado com o grupo para Akita e Quioto. Entretanto, como todos eram companheiros que não faziam nenhuma cerimônia, parece que, às vezes, quando estavam reunidos, eles se excediam, cometendo gafes. Na viagem que fizeram a Matsue, beberam e fizeram farra durante dois dias e duas noites, acabando por gastar demais; mesmo juntando o dinheiro de todos, não conseguiram a quantia suficiente para pagar a conta, tendo passado apuros. Por volta de 1918 ou 1919, o Fundador comprou um carro importado e contratou um motorista. Isso foi muito comentado na vizinhança e nos arredores do bairro de Kabuto, pois, nos meados da Era Taisho, poucas pessoas possuíam automóveis particulares. Desde que o Japão importou pela primeira vez um automóvel, em 1901, até os meados da Era Taisho, o total de carros importados era pouco mais de mil, incluindo caminhões, carros do governo e carros militares. Mori, diretor do Departamento de Vendas Regionais da Loja Okada, disse: “Ele não fez isso por luxo, mas para tornar as negociações mais práticas. No comércio só se usavam “jinrikisha”. Entretanto, nós tínhamos trabalhos a ponto de ficarmos zonzos e não conseguíamos dar conta do recado; então, para tornar mais prático o serviço, o Fundador comprou o automóvel”. Na época, a situação financeira da Loja Okada era muito boa, e entrava dinheiro mesmo sem se fazer nenhuma propaganda. Portanto, podemos dizer que a compra do automóvel foi uma manifestação não só do otimismo do Fundador em relação aos negócios, mas também do seu desejo de tornar o empreendimento cada vez mais racional, adotando tudo que era bom e moderno.
(72)
– Carrinho de transporte pessoal, puxado por um homem.
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e) ADMINISTRAÇÃO DO CINEMA O Fundador, que sempre fora um ardoroso admirador do cinema, em determinada época quis ser diretor cinematográfico. Entretanto, como o cinema japonês ainda estava numa fase incipiente, não havia terreno para se produzirem bons filmes. Ele, então, planejou administrar um cinema onde fosse exibidos excelentes filmes ocidentais, e ficou aguardando o momento oportuno. Nisso, conheceu uma pessoa que tinha adquirido os direitos para a construção de um cinema, mas estava sem capital. O fato aconteceu em outubro de 1913, quando ele já havia conseguido prosperar como dono da Loja Okada, que continuava tendo sucesso. Depois de conversarem diversas vezes e estudarem o caso, os dois decidiram fundar uma empresa cinematográfica com um capital de 25 mil ienes, dando-lhe o nome de “Eidai Katsudo Shashin Kabushikigaisha” (Eidai Fotografias em Movimento S.A.). Ela seria instalada perto da Ponte Eidai, situada na foz do Rio Sumida, de onde foi tirado seu nome. Inicialmente tinham determinado administrá-la juntos; entretanto, como o Fundador entrara com a metade do capital, ficou com o cargo de Superintendente Geral. Comprado o terreno, iniciaram a construção do prédio. A respeito dessa época, ele escreveu: “Até então eu nunca havia lidado com empreendimentos desse tipo, mas, apesar de não ser algo fácil, eu achava que tudo serviria de experiência. Assim, com muito sacrifício, construí e inaugurei um pequeno cinema. Naquele tempo, os chamados “prédios de exibição de fotografias em movimento”, diferentemente do que acontece hoje, requeriam a contratação de um orador, de uma banda musical, de uma pessoa que tocasse “shamissen” (73), de um locutor que explicasse o filme etc., assim como também a exibição das películas para as figuras importantes da cidade. Enfim, era preciso lidar com pessoas de um mundo completamente diferente. Por isso, meu sofrimento psicológico era muito grande. “Além disso, como eu era amador e entrara de repente nesse mundo, sem saber nada sobre a face oculta da sociedade, fui enganado e não sabia mais o que fazer”. É interessante que, desde o início, sempre que surgia alguma questão relacionada com esse cinema, o Fundador ficava indisposto e com febre alta. Entretanto, suportando o sofrimento, ele saía para tratar do assunto. Concluído o prédio, este recebeu o nome de Eidai-Kan; só se esperava pelo dia da inauguração. Receberam convites, como convidados de honra, o administrador do distrito e do bairro, ilustres personalidades locais e muitas outras pessoas. Na qualidade de Superintendente Geral, o Fundador é quem deveria recepcioná-los. Todavia, no dia da inauguração, ele teve uma febre de quarenta graus, não estando em condições de comparecer à cerimônia. Sem outra alternativa, pediu que o representassem, e assim o cinema pôde ser inaugurado. Entretanto, mesmo depois, sempre que ele ia àquele prédio, sentia dores lombares, sendo obrigado a subir as escadas agarrado ao corrimão, quase que se arrastando. Ao voltar para casa, logo se recuperava. Esse fato misterioso repetiu-se durante bastante tempo. Como o Fundador achasse o caso muito estranho, foi a um sacerdote, incentivado por algumas pessoas. Este lhe disse que, mais ou menos no cenho do palco, enxergava o rosto rancoroso de um morto. Ao ouvir isso, ele sentiu calafrios, mas, como era ateu, não deu crédito às palavras do sacerdote. O estranho fato continuou a acontecer, até que finalmente o Fundador perdeu o entusiasmo pelo empreendimento e deixou a administração do cinema. A partir daí, seu estado de saúde foi melhorando a cada dia. Não se sabe ao certo quando e de que forma o Fundador deixou a empresa. Seja como for, o fato de, naquela época, ele ter empregado a quantia de 12 mil ienes - metade do capital - e administrar essa empresa como Superintendente Geral, mostra o seu grande interesse pelo cinema e também pelas atividades culturais de vanguarda. Felizmente ainda resta um título desse tempo, cuja data nos informa que o Eidai-Kan ainda estava funcionando em janeiro de 1918.
(73)
– V. Nota 52.
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2. SENTIMENTO FILANTRÓPICO a) AMOR QUE NÃO VISA À RECOMPENSA A Loja Okada parecia um barco navegando com vento favorável. Seria bem adequado dizer que ela ia “de vento em popa”. As mercadorias se esgotavam com rapidez, e havia bastante movimento de dinheiro. A produção, as vendas, tudo corria normalmente. Como o empreendimento que iniciara sozinho teve um grande sucesso em pouco tempo, é natural que o Fundador tenha sentido uma grande confiança em sua inteligência e capacidade, tornando mais sólida a crença de que a felicidade ou a infelicidade dependem unicamente do esforço e da inteligência da própria pessoa. Ao mesmo tempo, o pensamento materialista e agnóstico que tinha desde jovem foi se fortalecendo cada vez mais. Até por volta dos quarenta anos, o Fundador nunca tinha rezado. Além de não rezar, achava tolas as pessoas que professavam alguma religião. Para ele, as imagens dos santuários eram simples espelhos, pedras ou letras escritas em papel; portanto, não fazia sentido adorá-las. Considerava que os ídolos não passavam de estátuas ou desenhos de Sakyamuni, Amithaba etc.; eram produtos da imaginação humana e, por isso, adorá-los fazia menos sentido ainda. Enfim, segundo ele, tudo não passava de idolatria. Nessa época, o Fundador sentia-se identificado com a teoria do filósofo alemão Rudolf Cristoph Eucken (1846 - 1926), Prêmio Nobel de Literatura em 1908. Essa teoria diz que os ídolos são criados pelos próprios homens, porque estes têm o instinto de adorar alguma coisa, o que não passa de autosatisfação. Conseqüentemente, quando ficava sentado nos templos, por ocasião de algum ofício religioso pelos mortos, o Fundador cochilava. Seu materialismo ainda foi mais longe. A constatação de que os países que possuem muitas igrejas, como a Itália, por exemplo, estavam em decadência, e que, ao contrário, países com poucas igrejas, como os Estados Unidos, vinham alcançando um grande progresso, levou-o a pensar que os templos e os santuários eram um obstáculo para o progresso do Japão. Entretanto, nessa época, o Fundador fazia doações periódicas ao Exército da Salvação (74). Certa vez, um missionário visitou-o e perguntou-lhe: “A maioria das pessoas que colaboram conosco são cristãs. Por que o senhor, não sendo cristão, nos envia donativos?” Ele respondeu claramente: “O Exército da Salvação ajuda os ex-presidiários a se recuperarem, transformando homens maus em homens de bem. Por conseguinte, se ele não existisse, um ex-presidiário poderia entrar em minha casa para me roubar. Uma vez que ele me livra desse perigo, é natural que eu me sinta agradecido e colabore com as suas atividades”. Dessa forma, o Fundador era agnóstico, mas tinha um profundo desejo de praticar boas ações em favor do próximo. Muitos episódios dessa época mostram o seu grande empenho em servir aos homens e ao mundo. Comecemos pelos fatos relacionados com as pessoas que lhe eram mais próximas. Um deles foi o amor que demonstrou quando sua esposa contraiu tuberculose, em 1908, pouco mais de um ano depois que eles se haviam casado. Ao consultarem um médico, este falou: “Como não existem remédios para essa doença, não há outra alternativa a não ser ela mudar-se para um lugar de ar puro e ficar em repouso”. Na época, considerava-se a tuberculose uma doença incurável e acreditava-se que era hereditária. Por isso, os parentes do Fundador aconselharam-no a levar a esposa para a casa dos pais, para o bem dela própria. Durante algum tempo ele achou que seus familiares tinham razão, mas não conseguia se conformar com essa idéia. Ajudar-se mutuamente, haja o que houver, é a atitude que um casal deve ter, pensava o Fundador. Ele sentia-se confiante, por já ter se curado da tuberculose contraída tempos atrás. Além disso, nascia-lhe a certeza de não haver razão para que uma pessoa que vivia justa e corretamente fosse contagiada por essa doença. Era uma opinião pessoal, que deixou o médico e os familiares espantados. Seguindo uma dieta vegetariana, em três ou quatro meses Taka ficou totalmente curada, sem que ninguém tivesse pegado a doença. A história que se segue refere-se a uma moça de dezesseis ou dezessete anos que trabalhou por uns tempos na casa do Fundador. Tendo ela ficado doente, ele a mandou de volta para casa, no Estado de Tiba. Entretanto, pouco tempo depois, a moça apareceu inesperadamente. Estava muito pálida. (74)
– Ramificação do cristianismo fundada em 1865 por William Booth (1829-1912)
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Inquirida sobre o que havia acontecido, respondeu que, depois que ela fora embora, a doença se agravara, tendo sido diagnosticada como tuberculose em estado avançado. Pelo fato de sua casa ser muito pobre, ela não conseguia repousar. Tornara-se um peso para os familiares, os quais lhe disseram que voltasse para o trabalho. E ali estava ela. Olhando comovido para a jovem, que falava em prantos, o Fundador lhe disse: “É um absurdo você trabalhar nessas condições. Volte imediatamente para casa, pois, enquanto você estiver viva, eu lhe enviarei a quantia necessária para o seu sustento e para o tratamento médico”. A moça voltou para sua terra muito feliz. Desde então, ele passou a lhe enviar 15 ienes mensalmente. Os parentes e amigos do Fundador, desaprovando sua atitude, recriminaram-no: “Se essa moça tivesse possibilidade de se curar, ainda vá lá. Mas, do jeito que está, é certo que vai morrer. O que adianta ajudar alguém que está condenado à morte? Se ela pudesse lhe retribuir o favor, trabalhando, depois que ficasse boa, ainda bem... Mas não é esse o caso. Portanto, você está gastando dinheiro à toa. Que tolice! É melhor parar logo com isso!” Entretanto, como havia tomado aquela iniciativa sem pensar em lucros ou perdas, o Fundador lhes respondeu: “Não tenho a mínima intenção de ser recompensado pelo que estou fazendo. Ajudar as pessoas visando à recompensa é uma espécie de troca. É como vender favores. E isso não é caridade, é um meio de ostentar bondade. Eu ajudo essa moça porque tenho pena dela e não posso deixá-la desamparada. É um sentimento natural, que sai de dentro de mim. Que mal há nisso, se eu me sinto bem? Não se intrometam no que não lhes diz respeito. Vocês podem achar tolice; para mim, tanto faz o que vocês estejam pensando”. Ouvindo essa resposta, aqueles que o censuraram ficaram tão decepcionados que se calaram. Conta-se também que, certo dia, o Fundador se acomodou num “jinrikisha” e, mal este começou a andar, ele percebeu que o condutor era um novato sem nenhuma prática. Ora, os “jinrikisha” só possuem duas rodas e não têm equilíbrio próprio, de modo que, para manter o equilíbrio, o condutor precisa segurar firme as barras e colocar o corpo na posição correta, sendo-lhe necessário muito treino, para correr bem. Aquele, entretanto, ia quase cambaleando. Percebendo isso, o Fundador perguntou: “Você ainda é novato nesse serviço, não é?” O rapaz, continuando a puxar o “jinrikisha”, respondeu: “Sim, faz pouco tempo que comecei. Na verdade eu sou estudante e não queria estar fazendo este serviço. Mas quero ver se continuo até me formar.”. Sentindo muita pena do rapaz, o Fundador deu-lhe o seu endereço e disse-lhe que fosse a sua casa, pois queria ajudá-lo. O jovem ficou emocionado e, pouco tempo depois, apareceu lá. O Fundador prometeu que lhe enviaria a quantia para ele pagar as despesas escolares até se formar. Ouvindo isso, a alegria do estudante foi tão grande que ele se levantou da cadeira e, sentando-se no tapete à maneira japonesa, fez várias reverências em agradecimento. Dizem que, após ter se formado com excelente aproveitamento, esse jovem se tornou policial, mas não se sabe o seu nome nem outros dados a seu respeito. Ainda existe um caderno de despesas dessa época, bem detalhado. Nas folhas correspondentes ao período que vai do final de 1919 até 1920, existem três registros de despesas feitas com aquele estudante. Uma delas foi uma despesa extra, de 100 ienes, no final do ano de 1919; a seguinte, de 30 ienes, em março de 1920; a terceira também de 30 ienes, em maio do mesmo ano. A soma de 100 ienes daquela época corresponde, atualmente, a uma quantia de 200 a 300 mil ienes, e 30 ienes por bimestre significavam 15 ienes por mês, o que, em termos atuais, eleva-se a mais de 20 mil ienes. O Fundador conhecera a pobreza desde a infância e sabia os problemas que ela acarretava. Graças ao seu contínuo esforço e à sua capacidade, tornara-se um grande capitalista, mas jamais esqueceu o sofrimento por que passara em tempos antigos. Ao ouvir a triste história do estudante, não quis deixá-lo abandonado, como se o caso não lhe dissesse respeito.
b) SENTIMENTO DE JUSTIÇA Para entendermos bem a pessoa do Fundador, é muito importante conhecermos o caráter que ele manteve desde a juventude até os seus últimos anos de vida, e refletirmos sobre o princípio em que se fundamentava esse caráter. Certamente, este será também o caminho para apreendermos sua pessoa como um todo.
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A expressão do amor que não visava à recompensa e não se prendia a nada; os aspectos inovadores que estavam muito à frente de sua época; o gênio progressista que não se cansava de buscar o que havia de mais prático e racional, tudo isso fazia parte do seu imutável caráter. Mas o forte sentimento de justiça, superior ao das pessoas comuns, também foi uma característica que ele manteve durante toda a sua vida. A esse respeito ele próprio falou: “De nascença, tenho um forte sentimento de justiça, maior que o das pessoas comuns”. Por tais palavras vemos que esse sentimento não era fruto do ambiente onde ele viveu ou da educação que lhe deram, mas uma característica inata. Além de ser uma forma de autodisciplina que o fazia policiar-se rigorosamente para não cometer injustiças, era algo que não lhe permitia ficar impassível diante das injustiças e da falta de ética por parte de terceiros. Diante do grande sucesso alcançado pelo “Diamante Assahi” da Loja Okada, que subiu ao ápice do mundo comercial, começaram a se fazer sentir a inveja e as atitudes maldosas dos que trabalhavam no mesmo ramo. Nessas horas, fossem quais fossem os ataques recebidos, o Fundador jamais contrariava os seus princípios. Ele lutava tenazmente para defender a justiça, não se importando se o assunto dizia respeito a lucros ou perdas. Por isso, ainda que levasse desvantagem por algum tempo, a situação acabava se invertendo, ou seja, o adversário se rendia. No final das contas, ele se recuperava da desvantagem inicial e alcançava um lucro ainda maior. O fato que se segue aconteceu por volta de 1916, quando o Fundador tirou a patente do “Diamante Assahi”. Nessa ocasião, ele fez um contrato especial com a Mitsukoshi, passando a negociar com uma grande quantidade de mercadorias. Entretanto, o Sindicato das Pequenas Lojas de Miudezas fez-lhe uma exigência muito conveniente para essas lojas: entre dois tipos de mercadorias, ele deveria vender um para elas e o outro para a Mitsukoshi. Ora, isso seria boicotar esta última, com a qual ele já havia feito contrato; portanto, não podia atender a tal exigência. Então, para forçá-lo, o Sindicato pediu a todas as lojas pequenas que boicotassem os produtos da Loja Okada. Em conseqüência, ela sofreu um duro golpe. Mas o Fundador não cedeu às pressões; suportou firme até o fim. Depois de dois anos, o Sindicato acabou desistindo dos seus propósitos, e o problema se solucionou por si mesmo. Nessa época, a Mitsukoshi começou a fazer, nas negociações, uma exigência impossível de ser atendida. Então, sem hesitar, o Fundador solicitou-lhe a rescisão do contrato que haviam feito. A Mitsukoshi ficou espantada, pois, até então, mesmo quando ela fazia algum pedido impossível, era costume o atacadista atender. “Nunca houve ninguém que nos dirigisse palavras tão duras quanto o senhor”, disse ela. Entretanto, como o Fundador estava com a razão, a Mitsukoshi desculpou-se, tornando-se possível o entendimento. Embora fizesse parte do mundo dos comerciantes, onde era mais freqüente dar-se primazia aos lucros e vantagens do que à justiça ou à razão, o Fundador, para estar ao lado da justiça, não cedera à pressão do Sindicato das Pequenas Lojas de Miudezas e virara as costas para a grandiosa Mitsukoshi, sabendo muito bem dos prejuízos que isso lhe acarretaria. A Era Taisho, situada entre a Era Meiji e a Era Showa, durou apenas quinze anos, mas apresenta diversos aspectos marcantes que servem de nítida linha divisória entre essas duas eras. Um deles foi o espantoso desenvolvimento econômico. A Primeira Guerra Mundial, eclodida em 1914, envolveu, durante cinco anos, muitas nações do Ocidente. Principalmente os países europeus que foram para o campo de batalha, sofreram enormes prejuízos com os estragos causados pela guerra. Conseqüentemente, para suprir a escassez de bens materiais, eles compraram grande quantidade de produto industrializados dos Estados Unidos e do Japão, que não tinham sofrido prejuízos. Como resultado, a economia japonesa atingiu um alto nível, as indústrias pesadas e químicas aumentaram e, centralizado na construção naval e nos transportes marítimos, o Japão entrou na onda da prosperidade. Surgiram grandes fortunas da noite para o dia. Por trás desse progresso do país, estava a prosperidade da vida dos cidadãos, que abrangia os aspectos políticos e culturais. Era a chamada “democracia Taisho”. O crescimento da Loja Okada também não poderia deixar de ser incluído nesse contexto. Entretanto, a situação momentaneamente favorável gerou distorções em vários aspectos da sociedade. Com a repentina alta no mercado de ações, intensificou-se o entusiasmo pela especulação, motivado pela ganância de altos lucros. Em virtude do aparecimento de grandes fortunas de uma hora para outra, a sociedade foi entrando num clima de decadência e de puro divertimento. Acontece, porém, que as boas condições econômicas eram bastante instáveis. Então, com o término da guerra, as conseqüências começaram a aparecer: o mercado de ações caiu, e as falências, as
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greves e a depressão sucediam-se. Nessa situação, os comerciantes, que visavam apenas ao seu próprio bem, compravam mercadorias em grande quantidade, e o arroz, alimento básico do povo japonês, teve seu preço elevado de forma exorbitante. A insatisfação popular explodiu em forma de motim, ocorrido em agosto de 1918, motim esse que progrediu, transformando-se num grande movimento, o qual envolveu 700 mil pessoas, em 305 pontos diferentes do Japão. Nesse clima tempestuoso, a desonestidade dos políticos, os atos ilícitos da classe dirigente e principalmente a corrupção dos grupos militares e financeiros eram constantemente denunciados ao povo. Foi o caso, por exemplo, do suborno feito por um militar da Marinha em torno da compra de um navio de guerra fabricado pela Siemens, uma empresa alemã. Esse caso, conhecido como “Caso Siemens”, foi um problema que abalou grandemente a sociedade. O culpado foi condenado a trabalhos forçados pela corte marcial. Quem tratou da questão e fez a acusação no Congresso Imperial, foi Saburo Shimada, Presidente do Jornal Mainiti e membro do Congresso, e Yukio Ozaki, também membro do Congresso e conhecido como “o deus do constitucionalismo”. Em conseqüência, o gabinete do então Primeiro Ministro Gonbee Yamamoto foi dissolvido. Ao tomar conhecimento da corrupção do mundo político e financeiro, o Fundador sentiu-se invadido pelo seu forte sentimento de justiça e ódio ao mal. Justamente por isso, tempos depois, escreveu um elogio a esses dois membros do Congresso que apontaram a corrupção e lutaram firmemente pela justiça social: “No mundo político da atualidade, quase não existem pessoas assim. A maioria é muito esperta e versátil, sendo muitos os que se mostram hábeis em forçar situações perigosas. Torna-se evidente o vazio em que o mundo político se encontra. Dessa forma, o que mais falta, atualmente, é um homem de fibra, que todos possam seguir”. Naoshi Obara, o policial encarregado do “Caso Siemens”, onde atuou magnificamente, também teve um brilhante desempenho trinta anos mais tarde, como advogado do Fundador no caso judicial que este teve de enfrentar. Nessa época, o Fundador havia alcançado um sucesso considerável em seus empreendimentos, e sua vontade de fazer algo em prol da sociedade e diminuir um pouco que fosse os males sociais, ia aumentando dia a dia. Para tanto, foi estudando diversas medidas, com o propósito de verificar qual era a mais eficaz. Na ocasião talvez por ainda ser agnóstico, ao ouvir dizer que os comunistas ajudavam os fracos, combatiam os donos do poder e estavam tentando construir o mundo dos que trabalham e são honestos, chegou a pensar seriamente em colaborar com suas campanhas, depois que fizesse fortuna. Mas, após ter pensado muito, resolveu abrir um jornal. Naquele tempo, não existia rádio nem televisão, de modo que o jornal era o único meio pelas quais as pessoas podiam inteirar-se dos acontecimentos do mundo e das mudanças ocorridas na opinião pública. Conseqüentemente, sua função, na sociedade, era incomparavelmente maior que a de hoje. Entretanto, depois de organizados, os periódicos freqüentemente se incorporavam a outros, tendendo gradativamente a crescer. Ao mesmo tempo, começou-se a dar maior importância à rapidez e à precisão das notícias e, por outro lado, aumentou nos jamais a tendência para proporcionar diversão ao povo. Justamente por isso, eles começaram a deixar de transmitir à sociedade as idéias elevadas da própria empresa. Anteriormente, Ruiko Kuroiwa, diretor do Jornal “Yorozu-tyoho”, denunciara a corrupção da sociedade e, colocando-se na posição dos pobres e sofredores, indicara o caminho que o Japão deveria seguir. Triste com a linha seguida pelos jornais, o Fundador, que tanto apreciava o “Yorozu-tyoho”, pensou em fundar um periódico que combatesse os males sociais e se empenhasse em corrigi-los. Segundo suas pesquisas, soube que, para fundar um jornal com tiragem de média escala, era preciso um capital de 1 milhão de ienes. Decidiu, então, conseguir essa quantia o mais breve possível.
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CAPÍTULO VI
CONVERSÃO
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1. OS SEGUIDOS SOFRIMENTOS a) FALÊNCIA DO BANCO SOKO Por volta de 1916, onze anos depois que abrira a loja de miudezas empregando a herança deixada por seu pai, o Fundador já possuía um capital de 150 mil ienes. Com os lucros provenientes do “Diamante Assahi”, sua fortuna aumentava a cada ano. Entretanto, ainda lhe faltava muito para alcançar o capital de 1 milhão de ienes que precisava para abrir o jornal. Interessado pelo mercado de ações, que, nessa época, estava fervendo, em virtude das condições favoráveis decorrentes da Primeira Guerra Mundial, iniciou negociações com os cambistas, emprestando o dinheiro que possuía. Pouco depois, ganhando a confiança do Banco Soko, situado no bairro de Kakigara, em Nihon-bashi, levava os cheques e as letras de câmbios trazidos por eles e, com a confiança de que desfrutava, convertia-os em dinheiro, o qual emprestava a juros. Como o negócio ia muito bem, estendeu ainda mais a sua mão. Agora era ele que cortava os cheques e os entregava aos cambistas, os quais, usando-os como garantia, tomavam dinheiro emprestado ao banco e pagavam juros a este e ao Fundador. Para o proprietário da Loja Okada, isso significava menos trabalho, pois não era preciso que ele próprio conseguisse o dinheiro; além do mais, havia um lucro de 5 “sen” por dia. Era um empreendimento arriscado, mas muito rendoso. Quem se encarregava desse trabalho era um indivíduo chamado Yoshikawa. O Fundador tinha toda confiança nele e deixara a administração da financeira em suas mãos, entregando-lhe até o seu sinete. No período mais próspero, a quantia que o Fundador possuía em seu nome - em dinheiro e em cheques - atingia mais de 100 mil ienes. Entretanto, na primavera de 1919, o Banco Soko, que era o escudo protetor da financeira, repentinamente parou de fazer os pagamentos e abriu falência. A decadência da Loja Okada veio de forma inesperada. Yoshikawa tinha um depósito em nome do Fundador naquele banco, depósito esse que ficou reduzido à zero. Achando que o problema era de sua inteira responsabilidade, tentou recuperar o dinheiro sem que o Fundador soubesse de nada. Entretanto, nessa situação difícil, ele escolheu o pior caminho: tomar dinheiro emprestado com agiotas a juros altíssimos. O resultado foi que os juros renderam juros, e ele acabou ficando num beco-sem-saída. Quando tudo veio à tona, a situação estava muito séria. Premido pelas circunstâncias, o Fundador pediu ao banco que sustasse o pagamento dos cheques, como solução para o momento. Furiosos, os agiotas providenciaram a penhora de seus bens e acusaram-no de fraude. Foi realmente uma tempestade em dia de sol. Certo dia, três oficiais de justiça entraram em sua casa, situada no bairro de Oga, e, depois de lhe entregarem uma notificação, passaram de um cômodo para outro, lacrando os principais móveis. Por fim, colaram num guarda-roupa um papel onde se explicava o motivo do embargo e os regulamentos legais, e foram embora. Estava escrito que os bens embargados não podiam ser utilizados nem mesmo pelo proprietário, e que, se o lacre fosse rompido, haveria uma penalidade. Entretanto, nas gavetas dos armários estavam roupas que precisavam ser usadas no momento. Conta-se que o Fundador se sentiu aliviado ao tirar o lacre sem danificá-lo, e pegar aquilo de que necessitava. Com a denúncia dos agiotas, ele foi chamado à delegacia, onde recebeu séria advertência. Os cheques usados por Yoshikawa estavam todos em seu nome, de modo que, obviamente, lhe foi imposta a responsabilidade legal do caso. Não era fácil resgatar a dívida, no montante de 120 mil ienes. Assim, o Fundador pediu aos credores que a diminuíssem para dois terços, ou seja, 80 mil ienes. Segundo o acordo que fizeram cinqüenta por cento dessa quantia seria paga à vista, e os cinqüenta por cento restantes, em mensalidades. A partir desse momento, começou a sofrida luta do Fundador para saldar as dívidas, que se estenderam durante vinte e dois longos anos, até 1941. Essa foi a maior dificuldade que ele passou em quinze anos de comércio, desde a fundação da Korin-do. Tempos depois, Yoshikawa suicidou-se. Embora ele fosse a pessoa que o colocara naquela terrível situação, o Fundador participou de seu funeral com todo respeito. Cheio de compaixão, disse: “Afinal, eu é que fui o culpado, por ter confiado demais”. Não disse uma só palavra que demonstrasse rancor.
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b) MORTE DA ESPOSA E DOS FILHOS Taka havia entrado para a família do Fundador logo depois da criação da Loja Okada, em 1907. Durante cerca de dez anos, até que eles tivessem casa própria, no bairro de Oga, deu conta de todo o serviço doméstico, ajudou na loja, colaborando com o marido, e cuidou dos funcionários. Entretanto, um ano após o casamento, devido à sobrecarga de trabalho, seu físico não suportou, e ela contraiu tuberculose. Especialmente no período de formação dos alicerces da Loja Okada, a colaboração de Taka teve um grande significado. Crescendo numa casa vendedora de arroz e casando-se com um comerciante, ela se impetrou nos negócios com toda a prática que possuía. Devia sentir uma alegria inexprimível toda vez que, saindo de sua casa, localizada nos fundos, ia para a loja, onde ficava entre os funcionários, que trabalhavam alegremente; também devia alegrar-se muito com o crescimento gradativo das vendas, a cada mês. Era uma dona de casa que teve o mérito de prestar uma ajuda exemplar, pois tinha uma grande força de vontade, caráter comum às mulheres que, da sombra, vieram sustentando a sociedade japonesa após a Era Meiji. O interessante é que, desde que Taka se casou com o Fundador, os negócios começaram a crescer num ritmo intenso e, logo depois de seu falecimento, a loja foi à falência. Certamente ela nasceu sob a estrela da boa sorte, que atrai a fortuna. Assim, podemos dizer que, na época em que o Fundador alcançou sucesso popular, Taka foi a mulher adequada para ser sua companheira e esposa. Entretanto, por trás do glorioso êxito nos negócios, o lar do casal era um pouco triste, pois durante longo tempo eles não foram agraciados com filhos. Depois da morte de Tori, continuaram cuidando de Hikoitiro, a quem consideravam como filho, mas Taka sentia-se sozinha. Talvez por isso ela tenha se apegado tanto aos gatos, para os quais chegavam a fazer roupas. No oitavo ano de casamento, quando já haviam desistido de ter filhos, Taka ficou grávida. Podemos imaginar como foi grande a alegria do Fundador. Ela estava com vinte e sete anos, idade que, segundo o senso comum da época, já não era muito adequada para a mulher ter o primeiro filho. Eles passaram a contar os dias que faltavam para o nascimento da criança e sentiam-se invadidos por uma felicidade nunca saboreada até aquele momento. O Fundador, muito atencioso com a esposa, levou-a para descansar, durante algum tempo, na mansão de Kanazawa, para que os trabalhos da loja e da casa não lhe fossem prejudiciais. Assim, no dia 1º de outubro de 1915, Taka deu à luz uma menina, que recebeu o nome de Shigueko. Mas o parto fora muito difícil, e por isso, logo depois de seu nascimento, a criança veio a falecer. A tristeza do casal foi enorme. Realizaram um funeral bem íntimo, e a solidão continuou. Logo depois, Taka engravidou novamente. Entretanto, o desejo de que tudo transcorresse bem também não se concretizou: nasceu outra menina, mas já estava morta. Taka ficou grávida pela terceira vez em 1918. Como que numa atitude de prece, dispensou todo o cuidado ao seu corpo, e o Fundador envolveu-a com um carinho muito especial, fazendo, também desta vez, que ela fosse descansar na mansão de Kanazawa. Mas foram esforços em vão. “O que acontece duas vezes, acontece três, diz um ditado. Perto do parto, Taka contraiu tifo intestinal e, depois de muito sofrimento, no dia 4 de junho de 1919, teve uma menina, na casa do bairro de Oga. A criança, prematura, não teve forças para sobreviver, morrendo logo em seguida. Taka ficou muito enfraquecida e, uma semana depois, no dia 11 de junho, acabou falecendo. O funeral foi realizado no Templo Kannon-ji, onde está o jazigo da família Okada. Embora íntimo, foi efetuado com toda pompa. Terminada a cerimônia, sentado na sala de visitas, de braços cruzados e bastante pensativo, o Fundador disse a Hanako Ugai, sobrinha da esposa, que viera ajudálo: “Cortaram-me um dos braços”. Ele era uma pessoa que em situação alguma mostrava fraqueza; devia, portanto, estar muito deprimido. Após a morte de Taka, o Fundador deu à sogra a mansão de Kanazawa. Disse a ela nessa ocasião: “Um dia, vou ter de me casar pela segunda vez. A senhora não ficaria muito à vontade se eu e minha esposa viéssemos passar as férias aqui. Por isso, ofereço-lhe esta casa. Use-a a vontade”. E acrescentou: “Todas as vezes que Taka esteve grávida, demos muito trabalho à senhora...” Deu-lhe, ainda, um terreno que possuía naquele local. Também gratificou generosamente a parteira Hissa Mizutome, que morava perto de sua casa, em Oga, e assistira Taka em todos os partos, numa dedicação total, dia e noite.
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c) SEGUNDO MATRIMÔNIO Cuidar de uma grande loja era um sacrifício enorme, no que se refere à parte que não aparece. Incluindo o número de operários que fabricavam o “Diamante Assahi” e os profissionais artesãos, o Fundador lidava com mais de cem pessoas, entre parentes e não-parentes. Às vezes, ele também recebia visitas comerciais em sua casa de Oga, e, pela hospitalidade que o caracterizava, muitos chegavam a passar a noite ali. Cuidar dessas pessoas fora, até então, trabalho da esposa. Assim, logo após a morte de Taka, pela necessidade de ter alguém que se incumbisse dessa tarefa, o Fundador pensou em contrair segundo matrimônio. Poderíamos dizer que isso foi uma decorrência natural da situação. Perto de Oga, havia um bairro chamado Minami Saya, cujo nome, mais tarde, foi mudado para Takara. Esse bairro foi incluído em Kyo-bashi. Atualmente, é um aglomerado de edifícios que reúne pequenas e grandes firmas, mas, naquela época, tendo às suas costas o Canai de Kaedegawa, era um tranqüilo bairro residencial. Nele, morava uma moça chamada Yoshi Ota, com sua tia, de nome Rei, e sua avó. Era uma residência simpática, de construção simples, com um jardim pequeno, mas muito bem tratado. Sendo uma casa onde só moravam mulheres, tudo era bem cuidado. As três levavam uma vida retraída. Essa moça foi a pessoa que, mais tarde, tornou-se a Segunda Líder Espiritual da Igreja Messiânica Mundial. Yoshi nasceu no dia 4 de janeiro de 1897, no bairro de Ten’no, situado na cidade de Nagoya (atual bairro de Ossu, no Distrito de Tyu). Nessa época, a família Ota estava em má situação financeira. Anteriormente, administrara uma loja que vendia remédios por atacado há várias gerações, situada em Nameri-kawa, no Estado de Toyama. Entretanto, um grande incêndio destruíra todos os seus bens. Perseguida por um contínuo azar, a família acabara mudando-se para Nagoya. Yoshi passou a infância no bairro de Monzen, situado naquela cidade, perto do bairro de Ten no, bem a leste do Kannon de Ossu. Anos depois, ela escreveu sobre aquela época: “Meishu-Sama, com o Kannon de Assakussa, e eu, com o de Ossu, em Nagoya; ambos tivemos uma profunda afinidade com Kannon. Quando criança, quase todos os dias eu ficava brincando de pega-pega no pátio de KannonSama”. De fato, nos arredores do Kannon de Ossu, o ambiente é muito animado, com inúmeras lojas pequenas, enfileiradas nas ruas que dão para o templo. Esse ambiente nos faz lembrar o Nakamisse de Assakussa. Perto, existem cinemas e “yosse”. Há, portanto, muitos aspectos que lembram aquele distrito. Yoshi viveu em Nagoya até o primeiro ano do curso primário. Como a vida ali não era fácil, a família mudou-se para Tóquio, indo morar no bairro de Minami Saya. Ela era muito inteligente e tinha um aproveitamento escolar excelente, desde que estudava em Nagoya. Em Tóquio, na Escola Primária Jyoto, situada no Distrito de Nihonbashi, também teve bom aproveitamento em todas as matérias. Anos mais tarde, foi aprovada no exame para o Colégio Estadual Feminino de Segundo Grau Dai-iti, de Tóquio, atual Colégio Estadual Hakuo, situado no bairro de Shitiken, em Assakussa. Na época, essa era uma das mais renomadas escolas femininas de Tóquio e dizem que não era fácil entrar nela. Na sua época de estudante, Yoshi ia à escola com um penteado “sokuhatsu” e usando um “hakama” (75) cor de ferrugem abaixo do busto, sobre um quimono de mangas compridas, feito de sarja cor-de-rosa. Ela era muito ativa, sempre exercendo as funções principais na classe em que estudava. Por outro lado, quem a conhecia, achava que ela era uma menina com ar de moça, muito pensativa e um pouco solitária. Entre suas colegas de classe na época do colegial, figuraram Shizuko, esposa do escritor Tosson Shimazaki; Haru, esposa de Soguem Assahina, bonzo superior do Templo Enkaku-ji, de Kamakura, e Teiko, esposa de Tatsunossuke Kobatake, pintor de quadros em estilo japonês, a qual também morou por uns tempos na casa do Fundador, em Omori. Esta última era a amiga mais íntima de Yoshi, e na época do colegial ambas estudaram com Shuho Ikegami, pintor de estilo japonês. Mais tarde, Teiko estudou com Ryushi Kawabata e foi membro da “Sociedade Seiryu” (76). (75)
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– Tipo de saia ou saia-calça que se usa por cima do quimono. – Associação de pintura japonesa fundada em 1928, cujo mestre era o pintor Kawabata Ryūshi.
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Yoshi terminou o colegial aos dezessete anos. Foi, então, trabalhar num jornal, mas logo retornou à vida tranqüila no lar, ao lado de sua avó e de sua tia. Sempre que entravam em cartaz novas peças, ela ia ao teatro. Entre outros, costumava freqüentar os teatros Itimura, Cabúqui e Shintomi. Afora esse divertimento, nunca saía para passear. Limitava-se, na volta das aulas de cerimônia do chá e vivificação floral, a passar pelas lojas que ficavam no caminho, para fazer compras; nada mais. Levava uma vida bem comum, de moça de família. No outono de 1919, um vendedor de roupas que freqüentava a casa da família Ota, foi lá como representante do médico Shota Matsumoto, do bairro de Oga. Esse vendedor disse à tia e à avó de Yoshi: “Um indivíduo de nome Okada, do bairro de Oga, diz que deseja desposar a Srta. Yoshi”. A família Ota recusou a proposta, por tratar-se do segundo casamento do proponente. Passado pouco tempo, esse vendedor voltou, dizendo: “O Sr. Okada falou que está firmemente disposto a desposar a Srta. Yoshi. Não poderiam pensar melhor no caso?”. Entretanto, a decisão da família já estava tomada. Muito respeitosamente, recusaram a proposta de novo: “Por favor, dê este assunto por encerrado”. Quando se acreditava que o caso estava realmente encerrado, o médico Matsumoto em pessoa, acompanhado de sua esposa, foi à casa de Yoshi e disse: “O Sr. Okada está muito entusiasmado e me falou que quer desposar Yoshi de qualquer jeito”. Demonstravam, assim, que não iriam desistir. A família Ota acabou então cedendo: “Se insistem, podemos aceitar embora Yoshi seja uma moça sem maiores habilidades”. Consultada, a jovem respondeu afirmativamente: “Se ele insiste tanto assim, eu aceito”. No primeiro encontro do casal, que se deu num jantar realizado num restaurante de Tóquio, tudo correu muito bem. Foi justamente nessa época que o Fundador recebeu a notícia da falência e sofreu embargo de seus bens. Quando isso aconteceu, ele já havia oficializado o noivado com Yoshi e marcado a data do casamento. Então, sufocando os seus sentimentos, ele disse: “Contraí uma dívida enorme, por determinado motivo, e seria muito penoso para Yoshi casar-se comigo nessas condições. Por isso, peço permissão para desmanchar o noivado”. Esse pedido sincero e franco fez com que a família Ota aumentasse ainda mais a confiança depositada no Fundador. “É comum esconderem-se tais coisas” - pensaram - “no entanto, ele falou tudo abertamente”. Achando-o muito honesto e diferente das outras pessoas, responderam: “O noivado foi oficializado, e recebemos a quantia para comprar o vestido de noiva. Portanto, Yoshi já pertence à família Okada. Não temos a mínima intenção de desfazer o compromisso só porque o senhor se endividou. Não importa que venham a morar numa casa humilde, pois dinheiro é coisa que poderão conseguir com o esforço dos dois. Jamais tomaremos a atitude de chamar Yoshi de volta por causa disso”. Foi uma resposta brilhante. O casamento do Fundador com Yoshi realizou-se no Grande Santuário Hibiya, perto do Palácio Imperial, no final de 1919. “Grande Santuário Hibiya” é um nome popular; oficialmente, chamava-se Jingu Hossai-kai Hon’in (Principal Prédio Xintoísta Hossai-kai). É um importante santuário xintoísta do Japão, no qual se cultua a deusa Amaterassu e o deus Toyo-uke. Mais tarde ele foi transferido para Iidabashi e recebeu o nome de Grande Santuário Tóquio. Existe ainda hoje. Por outro lado, no terreno onde estava situado o santuário, foi construída a matriz da Loja Mitsui, e os sinais daquela época perderam-se inteiramente, não sendo possível reconstruir o aspecto antigo. O Grande Santuário Hibiya foi construída em 1880, para os habitantes de Tóquio que não podiam ir rezar no Santuário Isse, localizado muito distante. A cerimônia do casamento do Imperador Taisho foi realizada nele, e dizem que foi a partir daí que tiveram início os casamentos em santuários, na cidade de Tóquio. Sentimos a atuação misteriosa do destino no fato de ter sido celebrado nesse santuário o matrimônio do Fundador, agnóstico naquela época, com Yoshi, que viria a ser a Segunda Líder Espiritual da Igreja Messiânica Mundial. Após a cerimônia, houve uma recepção no Edifício Taisho-Kaku, situado próximo ao santuário. O Fundador contava trinta e sete anos, e Yoshi, vinte e dois. Segundo um costume antigo, depois de chegar à casa do noivo, a jovem esposa devia percorrer a vizinhança, para fazer cumprimentos. Principalmente no caso de comerciantes, se ela não ganhava o respeito dos vizinhos, tornava-se difícil levar adiante os negócios. Com um penteado muito elegante e
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um quimono azul claro. Yoshi cumpriu aquele ritual. Ajudada por uma empregada que lhe segurava as compridas mangas do quimono, sua figura era tão bela e elegante, que todos os vizinhos ficaram encantados. Na manhã seguinte, o Fundador e Yoshi partiram, em viagem de núpcias, para To-no-Sawa, em Hakone. O Hotel Kansuiro, onde o casal se hospedou, ficava de frente para a Rodovia Nacional 1, e ainda hoje apresenta um aspecto bem tranqüilo: Entre a família Ota, houve certa preocupação durante dois ou três dias após o casamento, pois a decisão fora tomada de forma um tanto precipitada. Quando Yoshi voltou da viagem de núpcias e foi à sua antiga casa, no bairro de Minami Saya, sua tia Rei lhe perguntou: “Como é? Dá para viverem juntos?” Ao que Yoshi, alegremente respondeu: “Comecei a gostar dele. Fique tranqüila. Estando com ele, tudo irá bem”. Assim, a família inteira sentiu um grande alívio. Os cabelos do Fundador, na época, já estavam brancos. Por isso, quando se casou, Yoshi chegou a levar uma tinta para pintá-los. Não sabendo o que era preciso fazer, foi consultar um médico. Entretanto, ao contrário do que ela esperava, ele disse: “Não faça isso. Essa cor fica até muito bem”. Então Yoshi acabou não usando a tintura.
2. O SEGUNDO NASCIMENTO a) À PROCURA DA SALVAÇÃO Depois de recuperar a paz na sua vida pessoal, com o segundo matrimônio, o Fundador empreendeu o maior esforço para recuperar-se em seus negócios. Sua vida de empresário não mudara, aparentemente. Entretanto, devido às amargas experiências que passara com a morte da esposa e dos filhos e com a falência, começava, bem no seu íntimo, uma grande mudança de pensamento. Desde que adquirira consciência até aquele momento, sempre negara a existência de Deus. Para ele, as imagens dos santuários xintoístas, as estátuas budistas e as cruzes cristãs eram objetos feitos pelos homens; por isso lhe parecia por demais irracional os homens adorarem o que eles próprios fizeram. O Fundador achava que a vida era algo que se construía com o esforço e a inteligência de cada um, crença que também aplicava à vida cotidiana. Em suma, tinha absoluta confiança em suas possibilidades e acreditava que, se somasse esforços e vivesse corretamente como ser humano, não havia nada no mundo que pudesse sair em desacordo com os seus desejos. Entretanto, chegou a época em que essa autoconfiança foi pouco a pouco desaparecendo. Os seguidos e sérios infortúnios que o atingiram, levaram-no a sentir a insignificância da força humana e a insondável profundidade do destino, o qual fazia as coisas correrem sem que o homem pudesse modificar nada. A visão que, até aquele momento, o Fundador tinha da vida e do mundo, mudou por completo, e ele, como se não fosse a mesma pessoa, passou a pesquisar diversas religiões, em busca do caminho da salvação, isto é, de uma forma para se livrar dos infortúnios. Na época, ele tinha um conhecido que seguia a Religião Tenri-Kyo, e, entre os seus parentes, havia até um bonzo, responsável por um templo dessa religião. Ambos incentivaram-no a se converter, mas ele não mostrou nenhum interesse. Não há maiores registros sobre outras religiões que o Fundador tenha conhecido na época. Entretanto, anos mais tarde, ele falou sobre uma visita a Ekai Kawaguti; a quem fez muitas perguntas sobre questões que o perturbavam, como, por exemplo, a vida após a morte. Mas as respostas não o atraíram, e a visita não teve maior importância. Ekai Kawaguti (1866 - 1945) foi um bonzo da Religião Obaku que por duas vezes esteve sozinho no Tibete, fazendo pesquisas sobre os ensinamentos budistas. Tornou-se muito famoso por ter trazido ao Japão uma grande quantidade de dados. Por volta de 1919 ou 1920 ele morava no bairro de Nezu Miyanaga, perto de Ueno. Como fazia conferências em diversas localidades, acredita-se que foi nessa época que o Fundador o procurou. Na ocasião em que este estava buscando o caminho da salvação, desenvolviam-se muitas atividades religiosas em Tóquio. Mumom Yamada, mestre da Religião Rinzai, que era discípulo de Kawaguti, fala-nos sobre o ambiente dos arredores de Kanda, em Tóquio, por volta de 1918 ou 1919:
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“Após a Primeira Guerra Mundial, desenvolvia-se, em Tóquio, um intenso movimento social, mas os movimentos espirituais também estavam sendo bastante ativados. À noite, em determinado lugar do bairro de Kanda, o Exército da Salvação batia seus tambores; em outro, o grupo budista Saissei tocava corneta. No Templo Rinsho-in, de Yushima, o dirigente Sugawara, do Templo Kentyo-ji, fazia as pregações nas sessões de Zen. Na Igreja do bairro Fujimi, o Professor Massahissa Uemura (77) atraía a atenção dos estudantes, e sob a liderança do Professor Kanzo Utimura (78) reuniam-se jovens fiéis entusiasmados. No Edifício Central Budista, ouvia-se, todas as noites, um sermão feito por alguém. Podemos dizer que aquela era uma época próspera da Religião” (Extraído da obra “Unir as mãos”, da autoria de Mumon Yamada - Editora Shunju). À procura do caminho da salvação, é provável que o Fundador tenha participado dessas reuniões, atento ao que nelas se pregava. Embora fosse comerciante, ele não era uma pessoa que avaliasse as coisas pelas vantagens ou desvantagens que elas proporcionavam. Não negligenciava esse aspecto, mas não tinha pena de gastar dinheiro naquilo que acreditava ser correto. Os gastos que teve com os estudos daquele puxador de “jinrikisha”, a ajuda que enviou à empregada doente e os donativos feitos ao Exército da Salvação eram manifestações desse seu sentimento. Como, desde jovem, sempre fora uma pessoa muito ativa, o Fundador orgulhava-se de ter somado boas ações na medida do possível. Apesar de tudo isso, o que o destino lhe trazia era muito trágico. Assim, quanto mais ele pensava na razão pela qual era atormentado por tantos sofrimentos, menos entendia. Perguntou-se, então, se não seria possível solucionar essas dúvidas entrando para a Fé. Todavia, o seu desejo de encontrar uma religião que o atraísse realmente, não se concretizava. Nessa época, a Religião Omoto colocava propagandas vistosas nos jornais e realizava conferências em diversas regiões do país, desenvolvendo uma diligente atividade de difusão. Certo dia, o Fundador foi a uma dessas conferências, realizada no Edifício Kinki, de Kanda, onde costumava assistir a sessões cinematográficas. Sentiu, então, que algo o atraía fortemente. Para ele, que, devido aos constantes sofrimentos, viera perguntando a si mesmo o significado da vida, era uma luz nas trevas. Assim, decidiu converter-se àquela religião. Isso ocorreu no mês de junho de 1920. A Omoto foi fundada por Nao Deguti em 1892, no Distrito de Ayabe, em Quioto. Sua fundadora faleceu em 1918, aos oitenta e dois anos. Desde que fundou a Igreja até a sua morte, escreveu uma grande quantidade de ensinamentos. Na coletânea intitulada “Ofudessaki”, faz-se presente, do começo ao fim, a crença de que, com a vinda do deus Ushitora no Konjin (79), os erros do mundo serão corrigidos e concretizar-se-á o Mundo Ideal. Ou seja, no “Ofudessaki” há um propósito de reforma e reconstrução do mundo. Essa profecia é mencionada repetidas vezes, com palavras vigorosas e peculiares. Kissaburo Ueda, que se filiou à família Deguti e posteriormente passou a chamar-se Onissaburo Deguti, organizou o “Ofudessaki” e sistematizou e reformou a organização do grupo religioso, elevando a Omoto a uma categoria de grande entidade nacional. Os fiéis o chamam de “Seishi” (“Mestre Sagrado”). Em outubro de 1919, foi instalado, em Tóquio, o primeiro núcleo de difusão dessa Igreja: a “Associação Kakushin”, localizada no bairro de Minami Tera, no Distrito de Yotsuya. Desde então, ativou-se a sua difusão em Tóquio, e, a partir da primavera de 1920, realizaram-se conferências em várias localidades, utilizando-se os cinemas e os anfiteatros das Universidades. A conferência feita no Edifício Kinki, de Kanda, à qual o Fundador assistiu, foi uma delas. O que o fez sentir-se atraído pela Omoto, entre tantas outras religiões, foi principalmente o propósito que ela manifestava de reformar o mundo. Em todas as partes do “Ofudessaki” fala-se sobre essa reforma e reconstrução, dizendo-se que, com a grande limpeza e lavagem dos três mil mundos, a Terra se converterá no Reino de Deus, o qual perdurará pela eternidade. O Fundador tinha um inato sentimento de justiça, muito mais forte que o das pessoas comuns, e não conseguia controlar sua ira ao ver a corrupção dos políticos e da classe dominante. Levado por esse sentimento, pensara na fundação de uma empresa jornalística, objetivando a construção de uma sociedade desprovida do mal, e muito se esforçara para conseguir o capital de 1 milhão de ienes, necessário à concretização desse empreendimento. Ora, no “Ofudessaki” estava escrito claramente que o mundo correto idealizado por ele ia ser construído por Deus, dali em diante. Esse ensinamento moveu bastante o seu coração. (77)
– Pastor cristão, nascido em 1857 e falecido em 1925. Fundou uma Igreja em 1887 em Tóquio e traduziu o Antigo Testamento. (78) – Religioso cristão e crítico. Fundou a revista “Seisho no Kenkyū” (“Pesquisa sobre a Bíblia”). (79) – É tido, geralmente, como o deus que governa o nordeste.
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O segundo motivo pelo qual o Fundador se sentiu atraído pela Omoto foi o ensinamento relacionado aos tóxicos contidos nos remédios. Ele, que era doentio desde criança, acreditava cegamente na medicina. Tanto assim que acabou se tornando amigo íntimo de um médico, a ponto de parecerem parentes. Mais tarde, devido à experiência que teve com uma dor de dentes, sentiu na sua própria pele o terrível mal que era o remédio; remédio que deveria curar a doença, mas que, na verdade, era a causa dela. Isso aconteceu por volta de 1914 ou 1915. Anos depois, ele fortificou sua convicção ao ver expostas as mesmas idéias no “Ofudessaki”. O Fundador penetrou no mundo da Fé como se estivesse sendo atraído por um ímã. Logo se mostrou tão fervoroso que passou a incentivar seus funcionários a se aprimorarem em Ayabe. No verão de 1920, quando já havia alguns fiéis entre os seus familiares e funcionários, aconteceu um fato inesperado: Hikoitiro, o sobrinho do qual ele vinha cuidando há longo tempo como se fosse seu próprio filho, faleceu, vítima de um acidente. Ele fora a um aprimoramento em Ayabe, com alguns funcionários da loja, tendo morrido afogado no Rio Wati, num lugar chamado Izekishita, situado perto daquele local. Tentando salvar um dos funcionários, que estava preso num redemoinho, Hikoitiro se atirara no rio: salvou-o, mas perdeu a vida. Ele ainda era estudante e tinha menos de vinte anos. Por tratar-se de um fato ocorrido durante a viagem de aprimoramento a Ayabe, foi um grande choque para o Fundador, que tinha um carinho especial pelo sobrinho. O mesmo sentiu Takejiro, seu irmão. Este, voltando sua ira contra a religião que se tornara a causa indireta da tristeza que eles estavam sentindo, resolveu deixar a Fé. Depois desse acontecimento, o Fundador ficou afastado da Omoto durante aproximadamente três anos. Entretanto, os olhos que uma vez foram despertados para o mundo invisível, nunca mais se fecharam. Com a morte de seu amado sobrinho, ele sentiu que o destino dos homens é movido por uma força invisível e então penetrou a fundo no mundo da Religião, pesquisando o “Ofudessaki”, os fenômenos parapsicológicos etc.. Aquele homem que sempre fora completamente agnóstico, tornou-se teísta a partir daí, o que mostra ter-se operado nele uma mudança de cento e oitenta graus. É a chamada “conversão”. Relembrando essa época em que abriu os olhos para o Mundo Espiritual e mudou sua visão de vida, o próprio Fundador disse claramente: “Foi o meu segundo nascimento nesta vida”.
b) INSTITUIÇÃO DA SOCIEDADE ANÔNIMA Tendo contraído enormes dívidas em virtude das falhas cometidas por Yoshikawa, o Fundador imediatamente se pôs a lutar pela reconstrução de sua vida empresarial. A questão mais urgente era o que se referia o dinheiro. Para o bom andamento dos negócios de uma firma é sempre necessário haver uma reserva de dinheiro, pois este pode tardar a entrar, mas nunca demora a sair. Entretanto, em conseqüência do embargo dos bens do Fundador e do posterior resgate das dívidas que ele assumira isso se tornou difícil para a Loja Okada. Tomando uma grande decisão, ele instalou um escritório para instituir a Loja Okada Sociedade Anônima, transformando a administração, que era individual, numa sociedade anônima com um patrimônio de 2 milhões de ienes. Estava decidido a recuperar tudo aquilo que havia desmoronado, transformando o infortúnio em felicidade. Não só ele próprio tentava conseguir dinheiro, fazendo empréstimos com parentes e amigos, mas também incumbiu Kimura e Mori de consegui-lo. Assim, estes percorreram os fregueses de todo o país, a começar pelos de Tóquio e Ossaka. Ainda existe, atualmente, o Livro de Sinetes dos Acionistas da Loja Okada S.A.. Nele estão registrados os nomes de 113 pessoas, encabeçados pelo do Fundador, somando um total de 51.151 ações. Entre os acionistas, estavam Kimura, Mori e outros funcionários que eram o sustentáculo da Loja Okada; Takejiro, seu irmão; parentes residentes em Sussaka e na Vila Kuraki, situada no Estado de Kanagawa, terra natal de Taka, sua primeira esposa, e Shota Matsumoto, seu padrinho de casamento. A maior parte dos fregueses da loja se concentravam em Tóquio, mas também havia muitos em Ossaka. Eles estavam espalhados desde Niigata, na parte ocidental do Japão, até Shimo-noSeki, na Ilha Honshu, situada a oeste de Tóquio, que fica na parte oriental do país. Isso mostra a extensão dos negócios da Loja Okada.
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Além das pessoas mencionadas, Kojiro Matsuda, Presidente da “Associação Sofuku” e dono da Loja Hakubotan, situada em Guinza, também aplicou grandes somas. O Livro de Sinetes é um documento muito precioso que nos possibilita saber o nome dos funcionários da Loja Okada, os lugares com os quais ela negociava e os amigos pessoais do Fundador. Assim, a Loja foi vendida à nova sociedade anônima, incluindo-se na venda os estoques de mercadoria, a patente do “Diamante Assahi” e outros bens que eram propriedades exclusivas da antiga firma. O dinheiro que entrou foi aplicado na sociedade recém-criada, para o planejamento do controle do capital de giro, os pagamentos estavam previstos para serem feitos em quatro vezes. Liquidado o primeiro, de 500 mil ienes, logo depois do casamento com Yoshi, ou seja, em fevereiro de 1920, a situação parecia favorável ao reerguimento da Loja Okada. Em 1919 o Fundador começara a registrar os seus gastos num livro de despesas, o que mostra sua decisão de planejar esse reerguimento fazendo economia nas despesas domésticas. O “Diamante Assahi” e as outras mercadorias continuavam sendo vendidas normalmente. Assim, tendo recuperado a tranqüilidade, ele devia estar com esperança de resgatar toda a dívida e conseguir um progresso ainda maior que o obtido anteriormente. Quando o Fundador estava empenhado nesse trabalho de recuperação, Yoshi ficou grávida do primeiro filho. Isso aconteceu no inverno do ano posterior ao do casamento. Como os três partos da sua primeira esposa não tinham sido normais, e, no último, ela perdera a vida, ele ficou muito preocupado. Assim, por exemplo, quando saía com Yoshi de “Jinrikisha”, às vezes ele alugava três: um ia à frente e outro atrás, vazios, e no meio, o que eles ocupavam. O Fundador seguia muito atento, sentado ao lado da esposa. Se o puxador corria um pouco mais, dizia: “Está muito rápido, vá mais devagar”. Certo dia, a tia de Yoshi, presenciando a cena, disse ter sentido uma grande emoção, por ver como o marido da sobrinha era carinhoso. Entretanto, apesar de todos os cuidados que recebia, Yoshi contraiu uma doença pulmonar durante a gestação. Felizmente, não foi nada grave; mas, como se tratava de uma doença, o Fundador, por precaução, mandou a esposa repousar, durante algum tempo, numa casa alugada em Kamakura. Contrataram uma empregada e, durante certo período, ele também morou lá, indo todos os dias à sua loja, em Tóquio. Tudo que era humanamente possível foi feito; ela não poderia ter tido maiores cuidados. E esses cuidados não foram em vão: sem maiores problemas, Yoshi deu à luz uma menina na Maternidade Kamakura, situada em Omati, Kamakura, no dia 11 de outubro de 1920. Essa primeira filha recebeu o nome de Mitiko. Mesmo depois do nascimento da criança, a saúde de Yoshi não era muito boa. Então, como local de descanso para a esposa, o Fundador alugou uma casa de estilo japonês, bastante cômoda e com um jardim bem amplo, em Kanoezuka, nome popular do bairro de Oi, situado na circunscrição de Ebara, em Tóquio, perto da praia de Shinagawa. Atualmente, esse lugar é uma zona industrial superpovoada que se liga a Kamata e Kawassaki, sendo totalmente inadequado para quem precisa de repouso. Na Era Taisho, entretanto, era uma região de plantações, afastada da cidade; perto da estação ferroviária, havia muitas residências bastante graciosas. Na casa aí alugada, Yoshi veio a ter, posteriormente, seu primeiro filho homem, que nasceu a 31 de dezembro de 1921 e recebeu o nome de Mitimaro.
c) COLAPSO DA EMPRESA O início da Loja Okada S.A. não foi fácil. Em março de 1920, a crise iniciada nos Estados Unidos assolou o mundo inteiro, e também no Japão a Bolsa de Valores caiu, porque, com a repentina queda dos preços, o mundo financeiro entrou num grande colapso. Seguiam-se falências de empresas, o desemprego aumentava, e começava a corrida aos bancos. O Fundador escreveu: “No dia 15 de março do ano seguinte, começou a famosa crise financeira. As ações tiveram uma grande baixa, e o preço das mercadorias caiu bruscamente. Por isso, a Loja Okada S.A., que havia acabado de nascer, desmoronou sem oferecer nenhuma resistência, ficando num beco-sem-saída”. Entretanto, com nova coragem, ele se esforçou para reerguer a empresa. O segundo golpe que ela sofria, representado por essa crise, em seqüência ao embargo dos bens do Fundador, abalou sua
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estrutura, mas, com o esforço de todos os funcionários, a situação começou a melhorar, se segundo ele próprio nos diz: “Mesmo assim, fizemos esforço para levantar o destino da empresa, e, por volta de 1922, finalmente a situação começou a melhorar...”. No caderno de despesas do final de maio de 1920, ao lado de uma quantia registrada, está escrito: “Economia possível”. É um registro que nos faz conhecer a situação apertada da época. Ao mesmo tempo em que reduzia as despesas, o Fundador começou a se esforçar para a ampliação das vendas. Reiniciou, então, a atividade de criação artística que havia interrompido durante certo período, após a invenção do “Diamante Assahi”, tendo requerido seguidas patentes de novo modelo de produtos que já existiam. Em abril de 1919, pouco antes do “Caso Yoshikawa” vir à tona, ele concluíra uma nova experiência. Trata-se da técnica conhecida pelo nome “kaigashiki”, que consiste em fazer pinturas sobre um pano ou papel e colá-lo num objeto, utilizando adesivos como a laca. Na data referida acima, requereu patente para o “Kaigashiki Kushi” (pente em “kaigashiki”), e em julho do mesmo ano, para o “Kaigashiki Pin” (presilha em “kaigashiki”). Em fevereiro de 1922, criou o “Hosseki-ire Kamidomegu”, presilha de cabelo feita de metal, com orifícios onde se colocam pedras preciosas, e para ela também requereu patente. Através dessas novas criações, podemos ver o esforço feito pelo Fundador no sentido de reerguer a empresa, pois considerava a mercadoria como a chave do sucesso nos negócios. Em maio de 1923, ele vendeu a casa do bairro de Oga, na qual vivera durante sete anos, e comprou uma mansão no bairro de Iriarai, na circunscrição Ebara, em Tóquio. Atualmente, esse bairro, cujo nome popular era Hakei-en, ou Hakei-zaka, fica uns 200 metros a oeste da Estação Ferroviária Nacional de Omori e o endereço foi mudado para bairro de San’no, quadra 2, Distrito de Ota. A mansão, posteriormente, recebeu o nome de Shofu-So. A mudança para Omori ocorreu por diversas razões, mas acredita-se que, em termos de negócios, foi para conseguir capital de giro através da venda da casa de Oga. O terreno onde estava situada a mansão pertencia a outra pessoa, havendo uma grande diferença entre o preço das duas residências, pois a de Oga ele vendera com o terreno. Os esforços do Fundador receberam novo golpe com o grande terremoto que assolou repentinamente as regiões Kanto e Tokai às onze horas e cinqüenta e oito minutos do dia 1º de setembro de 1923. Houve dois violentos tremores seguidos e, pouco depois, um terceiro tremor bem forte. Foi por ocasião desse terremoto que o Edifício Ryoun-Kaku, de doze andares, todo construído de tijolos, o qual era considerado o símbolo da modernização e da prosperidade de Assakussa, partiu-se mais ou menos no oitavo andar. A Loja Okada salvou-se de uma destruição total. Pelo fato de nela trabalharem muitos homens, as paredes desabadas puderam ser logo reerguidas, e as mercadorias empilhadas, que se espalharam, foram recolocadas no lugar. Assim, os funcionários tiveram condições de ir prestar ajuda aos fregueses de Guinza e de outros lugares. Entretanto, os danos causados pelo terremoto em si não passaram de uma parte da catástrofe que atingiu a Região Kanto. O golpe fatal foi o grande incêndio que sobreveio com toda fúria, logo em seguida ao terremoto. Esse incêndio, irrompido na zona industrial e comercial, ao invés de diminuir, à tarde foi avançando gradativamente para oeste. Só em Hifukusho (lugar situado perto da Estação Ryogoku), ele vitimou trinta e oito mil pessoas. Atualmente, existe, no local, um monumento em memória dessa catástrofe. Destruindo um grande número de casas e roubando inúmeras vidas, o incêndio avançou para Kyo-bashi e Shiba e finalmente se apagou quando circundava o Palácio Imperial. Foi uma grande calamidade que causou a morte de cinqüenta mil pessoas e a destruição de mais de quatrocentas mil casas. Já bem tarde da noite, as labaredas, que se propagavam na direção de Kanda levadas pelo vento, muito forte devido à impetuosidade do fogo, aproximaram-se da parte sul da Estação de Tóquio, onde se localizava a Loja Okada. Os funcionários, preparados para o momento em que o fogo atingisse o local, colocaram as mercadorias em caixas, empilharam estas nas águas do Canal Sotobori, de Yaessu, e ficaram esperando pelo incêndio. Entretanto, quando viram as labaredas se aproximando, correram na direção de Guinza e se refugiaram no estacionamento dos trens, atravessando a Ponte Kaji, que existia em frente à atual Estação Yuraku-tyo. A essa altura, já estavam refugiadas nesse local as pessoas desabrigadas em conseqüência do incêndio, as quais eram provenientes de Honsho, Fukagawa, Assakussa e outros bairros da zona industrial e comercial, de modo que o estacionamento e o pátio em frente ao Palácio Imperial estavam totalmente lotados.
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Os funcionários da Loja Okada passaram dois dias e duas noites dentro dos trens parados, comendo o arroz que haviam levado junto com as bagagens. No terceiro dia, depois que saíram do abrigo, arranjaram uma carroça, resgataram as mercadorias afundadas no canal e, juntamente com os seus objetos pessoais, levaram tudo até a mansão do Fundador, no bairro de Hakei-En. As mercadorias que haviam sido entregues para serem pagas através de promissórias viraram cinza, e a maioria dos clientes com os quais a loja negociava foram à falência. Assim, a Loja Okada, que tinha esperanças de se recuperar, recebeu outro golpe muito duro. Poucas semanas depois, entretanto, tal como a relva do campo, que logo se ergue depois de pisoteada, as atividades econômicas da Região Kanto reiniciaram-se com grande vigor. As bijuterias são mercadorias de ocasião, e as lojas atacadistas, antecipando cada estação do ano, enviavam estoques para as lojas varejistas. A Loja Okada vendia por atacado e também fabricava produtos. Por isso, na primavera e no verão, já se estavam fabricando os artigos de inverno e fazendose os estoques. Conseqüentemente, em agosto, antes do terremoto, ela já havia mandado grandes estoques de inverno para os atacadistas com os quais negociava em Ossaka e Quioto. Por terem coberto os encargos de Tóquio, que ficou perto da destruição total, essas duas cidades foram abençoadas com uma boa situação; assim, em outono, a Loja Okada pôde receber o pagamento das vendas. Antes de ser reconstruída no bairro de Kitamaki, a loja funcionou durante algum tempo na mansão de Omori. Os artesãos levavam para aí os trabalhos que aprontavam, pois os funcionários não só os que já moravam com o Fundador, como também os que ficaram desabrigados - passaram todos a morar nessa casa. Nagashima, Kinzo Fukumoto, que ficou mais tarde com a Loja Okada, e outros funcionários, colocavam as mercadorias em maletas e rodavam pela clientela, para vendê-las. Depois do terremoto, inúmeras lojas abriram falência e, como sempre, a confiança mútua era muito vacilante. Por isso, não se usavam promissórias nem cheques nas negociações; tudo era pago à vista. Na volta dos funcionários, havia muito dinheiro no fundo das maletas, que de manhã saíam cheias de mercadorias. Muitas vezes, depois de voltarem para Omori, eles ficavam fazendo cálculos até mais de meia-noite, e só então iam à casa de banhos públicos. Mas os rendimentos obtidos dessa forma foram preciosos recursos financeiros para a Loja Okada, que havia sofrido um sério abalo econômico. A partir do grande terremoto ocorrido na Região Kanto, houve muitas modificações no quadro de funcionários da loja. Em primeiro lugar, Kimura tornou-se independente, depois de ter sido o braço direito do Fundador durante dezesseis anos. Sem dúvida ele não desejava separar-se daquele a quem estimava mais do que se fosse um parente e com quem partilhara tantas alegrias e tristezas; provavelmente tomou essa decisão graças ao incentivo do próprio Fundador, o qual desejava que ele se tornasse independente por causa da forçada redução dos negócios. Aliás, imaginamos que tenha sido uma decisão tomada só depois de muita conversa. Mori, o diretor do Departamento de Vendas, seguiu o mesmo caminho. De fato, terminara a era de ouro da Loja Okada.
d) ESFORÇO PARA A RECUPERAÇÃO O grande terremoto não só ceifou grande número de vidas como também causou prejuízos enormes, centralizados na região metropolitana e calculados em 65 bilhões de ienes da época. Em conseqüência da catástrofe, houve uma crise que foi uma das causas da crise econômica de 1927. Entretanto, os prejudicados se reergueram, e o governo também prestou ajuda, fazendo empréstimos públicos. Com isso, a conturbada situação acabou sendo controlada, e a mansão de Omori foi recuperando a tranqüilidade. Após a reconstrução da Loja Okada, no bairro de Kitamaki, o Fundador voltou a pegar o trem em Omori para fazer o trajeto de dezessete a dezoito minutos até aquele bairro. Com a ampliação das ruas pelo Projeto Metropolitano de Recuperação, a loja, reconstruída após o terremoto, ficou um pouco menor, e o número de funcionários também foi reduzido. Apesar disso, o “Diamante Assahi” continuava vendendo bem e, graças à confiança que granjeara, o estabelecimento tinha sempre um grande movimento de profissionais e funcionários. Entrando pela grande porta de vidro da frente, a pessoa encontrava de um dos lados, uma sala de espera de aproximadamente 32 m 2,
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destinada aos profissionais, onde havia um quadro com as palavras: “Shikon shossai” (“Espírito de samurai e inteligência de comerciante”); do outro lado, a sala onde estavam as escrivaninhas dos funcionários e as mercadorias encaixotadas, prontas para serem despachadas para outras regiões. A sala de trabalho do Fundador ficava nos fundos. Entre o prédio da Loja Okada, situado de esquina, e a Clínica Oftalmológica Kiributi, havia um jardim de 33 m2, cujo verde era um refrigério para os olhos de quem chegava à janela da sala do Fundador. Tal como antes, mal ele chegava à loja, sentava-se à sua mesa, chamava os profissionais um a um e examinava os artigos que eles traziam. Cansando-se do serviço, fumava um cigarro ou lia o jornal. Tudo era como no período anterior ao terremoto, mas com uma exceção: ele agora atendia os profissionais com um rádio ao lado e um fone nas suas grandes orelhas. Dois anos depois do terremoto, em julho de 1925, assim que começaram as transmissões da Emissora Tóquio Shibaura, ele comprara um rádio, que ficava ouvindo com muito prazer. Ao anoitecer, terminando o serviço, despedia-se dos funcionários e voltava para Omori. Às vezes pegava um “jinrikisha” e ia até a Estação Shin-bashi, apreciando as movimentadas ruas de Guinza; dali tomava o trem para aquela localidade. A vida do Fundador e de Yoshi, em Omori, diferia da vida da maioria dos casais. Parece que ela, criada como “filhinha de mamãe”, não era muito habilidosa nos afazeres domésticos, mesmo depois do casamento. Conta-se que até os mínimos detalhes, como por exemplo, o cardápio do dia, era orientado pelo marido. Teiko Kobatake, pintora de quadros em estilo japonês e amiga de Yoshi desde a época de estudante, foi morar com a família Okada em 1924, com ela permanecendo durante o período de um ano e meio em que seu esposo, também pintor, esteve no estrangeiro. O fato que se segue aconteceu nessa época: Certo dia, depois que o Fundador saíra para a loja, Yoshi lembrou-se de que não lhe perguntara o que deveria pôr no “missoshiru” (80) da manhã seguinte. Então, telefonou para o marido e perguntoulhe: — O que seria melhor colocar no “missoshiru” de amanhã? — Vejamos. . . Coloque “tofu” (81) - respondeu ele. Como esse tipo de diálogo era freqüente, Kobatake disse a Yoshi, certa vez: “Você é que é feliz, pois não precisa pensar no cardápio...”. Nesse tempo, o Fundador dormia muito tarde. Ele aproveitava a noite para o planejamento de novos produtos, a fim de reerguer a loja. Na maioria das vezes, ia se deitar quando já passava da uma hora da madrugada, e por isso acordava tarde. Durante o período em que Kobatake esteve em sua casa, ele tomava o café da manhã com Yoshi e com ela, conversando sobre pintura e crianças. Depois, saía para trabalhar. Foi nessa época, no dia 15 de agosto de 1925, que nasceu Miyako, a segunda filha do casal.
e) RETORNO À RELIGIÃO Embora tivesse ingressado na Omoto em 1920, o Fundador, devido à morte de Hikoitiro e outros fatores, esteve afastado dela por uns tempos. Exatamente nessa época, ela sofreu uma forte pressão por parte das autoridades, pressão que se tornou conhecida pelo nome de “Primeiro Caso Omoto”. De 1916 ou 17 a 1920, época em que essa Igreja alcançou grande expansão houve um acentuado aumento do número de trabalhadores, em conseqüência do desenvolvimento da indústria moderna. Entretanto, com a crise econômica ocorrida posteriormente, intensificou-se a tensão entre empregados e patrões, irromperam greves e houve uma baixa nos preços dos produtos agrícolas, de modo que até para os agricultores a vida se tornou difícil. Em face de uma situação tão conturbada, as pregações da Omoto, segundo a qual o mundo estava se aproximando de um beco-sem-saída e por isso se tornava urgente uma reforma baseada nos Ensinamentos de Deus, pareceram muito perigosas para o governo. No dia 12 de fevereiro de 1921, o Solo Sagrado da moto, em Ayabe, foi cercado por duzentos policiais, e Onissaburo Deguti e dirigentes da Igreja, entre os quais Wassaburo Assano, foram detidos, sob suspeita de crime de desrespeito e infração das leis da imprensa. A entidade foi altamente pressionada, e as autoridades divulgaram que ela escondia bombas e cem mil flechas de bambu, (80) (81)
– Sopa de soja, um dos pratos básicos nas refeições japonesas. – Queijo de soja.
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planejando uma revolução geral. Embora o caso ainda estivesse em julgamento, ordenaram a destruição do Santuário e do sepulcro da fundadora da Igreja, Nao Deguti. Entretanto, os acusados receberam anistia, devido ao falecimento do Imperador Taisho, ocorrido quando o caso estava sendo julgado novamente, pelo Supremo Tribunal. O Fundador esteve afastado da Omoto durante três anos, mas isso não significa que o seu sentimento religioso, despertado em 1920, houvesse desaparecido. Nesse ínterim, ele dirigiu especial atenção ao estudo do “Ofudessaki”, livro de ensinamentos de Nao Deguti, teve ligações com um grupo de pesquisa parapsicológica etc. Como vemos, o Fundador continuava estudando os mistérios do além. Por sua própria intuição, fez prognósticos sobre o futuro, oculto no sentido das palavras de Nao Deguti, entre as quais este ensinamento: “Tóquio voltará a ser um campo aberto”. Baseado nessa afirmativa teve o pressentimento de que brevemente Tóquio viraria chamas. Em maio de 1923, conforme já foi mencionado, ele vendeu sua casa do bairro de Oga e mudou-se para Omori, subúrbio de Tóquio. Vendeu-a por 36.500 ienes, quando ela valia no mínimo 50 mil. Um parente seu, admirado, perguntou-lhe: “Por que vendeu essa casa por um preço tão barato?” Mas o Fundador respondeu misteriosamente: “Você fala assim, mas logo terá de vir para cá...” Desapontado, o parente calou-se. Nessa época, o estranho pressentimento que ele tivera sobre Tóquio não o largava. A venda repentina da casa de Oga e as palavras enigmáticas ditas àquele parente parecem mostrar isso. Quanto às mercadorias da Loja Okada, dizem que, na ocasião, o Fundador fazia o possível para não acumular estoques, vendendo-as à medida que elas eram confeccionadas, de acordo com os pedidos. Isso foi muito benéfico, pois, como havia pouco estoque quando ocorreu o grande terremoto da Região Kanto, os prejuízos foram mínimos. Após a catástrofe, a casa de Omori encheu-se de parentes, conhecidos e funcionários da loja que ficaram desabrigados. Apesar disso, os que lá chegavam não eram recusados; sem pensar em vantagens ou desvantagens, o Fundador assistiu a todos com amor. Entre eles, estava aquele parente que implicara com a venda da casa de Oga. Ele chegou de carro, com uma pequena bagagem, e, baixando a cabeça, disse: “Acabou acontecendo o que você previa...”. Já falamos sobre a “Associação Sofuku”, entidade de confraternização dos donos das lojas de renome situadas nos arredores de Kyo-bashi e Guinza. No final de junho de 1923, Kojiro Matsuda, líder dessa associação e dono da Loja Hakubotan, decidiu transferir-se de Yokohama para Guinza, em Tóquio, e, numa comemoração antecipada, convidou os companheiros para um jantar. Na ocasião, o Fundador disse: “Em breve Tóquio ficará em chamas”. Espantado, Matsuda deu gargalhadas, falando: “Não diga tolices”. Entretanto, no dia 1º de setembro, pouco tempo depois desse jantar, Tóquio virou realmente um campo em chamas, em conseqüência do incêndio causado pelo terremoto. Conta-se que, admirado, Matsuda comentou: “Onde foi que Okada ouviu aquilo? Ele diz coisas terríveis!” Desde então, por ter, como Deus, “acertado na mosca”, o Fundador foi apelidado de “Deus”. Presume-se que ele tenha retornado à Omoto logo depois do grande terremoto, ou seja, entre o outono e o inverno de 1923. Além dos percalços que atingiram seus negócios por causa dessa calamidade, o Fundador perdeu Mitimaro, o primeiro filho homem que teve com Yoshi, o qual faleceu no dia 3 de outubro do mesmo ano. Ele tinha apenas um ano e nove meses e, apesar de pequeno, era muito inteligente. Após a catástrofe, houve um surto de cólera infantil, e Mitimaro, que ninguém percebera ter contraído a doença, acabou não sendo socorrido a tempo. Com o terremoto, a Loja Okada sofreu uma grande mudança. Seus danos reduziram-se ao mínimo, mas inúmeras lojas abriram falência sem conseguir saldar suas dívidas. Novamente ela ficou em más condições financeiras, e o caminho para a recuperação de sua antiga prosperidade se fechava. Nos primeiros dois anos, o “Diamante Assahi” seguia vendendo bem, e a loja continuava com certo movimento; mas depois ele começou a vender menos, e a situação foi piorando a cada ano. Mais uma vez o Fundador teve a tristeza de ver cortadas as suas esperanças, como já lhe ocorrera por duas vezes, quando quis ser pintor e quando pretendeu ser artífice de “maki-e”. Desta vez, porém, diante de tanto infortúnio, ele mudou finalmente o seu pensamento, passando a dedicar-se à Fé com todo o empenho. Pode-se pensar, ainda, que outro motivo o fez ligar-se fortemente à Religião: ter visto concretizarse a sua previsão de que Tóquio viraria chamas. Ele intuíra esse acontecimento depois de pesquisar o “Ofudessaki”, e a previsão se concretizara - evidência misteriosa que não podemos negligenciar.
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Assim, adquirindo uma sólida crença no invisível mundo misterioso, o Fundador se firmou no caminho da Fé; mais do que antes, aumentou o seu interesse pela pesquisa dos mistérios. Ele estudou diversos livros e, relacionando-se com grande número de pessoas, pôs-se a buscar soluções. Esse foi o caminho que o levou a fazer uma renovação de sua própria pessoa: polir a espiritualidade que por longo tempo se mantivera oculta em seu íntimo, refletir sobre o significado de sua existência neste mundo e buscar uma forma verdadeira de vida. Como resultado, o caminho que se lhe apresentou não ficou restrito a uma forma de vida aplicável unicamente à sua pessoa. À medida que ele aprofundou e aperfeiçoou suas pesquisas, esse caminho foi se ampliando, até se tornar o caminho que todo homem deve seguir.
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CAPÍTULO VII
APREENSÃO DA ESSÊNCIA DE DEUS
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1. CONSCIENTIZAÇÃO DA VONTADE DIVINA
a) PESQUISA DO MISTÉRIO O Fundador, que retornara à Omoto após o grande terremoto ocorrido na Região Kanto em 1923, lia os livros dessa Igreja, especialmente o “Ofudessaki”, com um empenho incalculável em pesquisar o Mundo do Mistério. Em contato com um grupo que fazia pesquisas parapsicológicas, leu diversas obras de parapsicologia e dedicou-se com todo afinco ao estudo da existência do Espírito Divino, da relação entre Deus e o homem, dos princípios fundamentais da Fé e outras questões. A esse respeito ele escreveu: “Minha vida sofreu uma mudança de cento e oitenta graus. Fiquei sabendo que o homem recebe a proteção de Deus e que, se ele não reconhece a existência do espírito, não passa de um ente vazio. Mesmo nas pregações morais, caso não o façamos reconhecer essa existência, as pregações não passarão de sermões sem valor.”. Entre os livros que o Fundador leu nessa época figuram “The Survival of Man” (Londres - 1909) e “Gone West: Three Narratives of After-Death Experiences” (Londres - 1917), da autoria dos ingleses Sir Oliver Lodge e J. S. M. Ward respectivamente; o primeiro foi editado em japonês em 1917, e o segundo, em 1925. São livros muito adequados à Inglaterra, país que desenvolveu a ciência moderna e deu origem à revolução industrial. Neles se registram diversos fenômenos paranormais de forma objetiva e experimental, mostrando-se claramente a realidade do Mundo Espiritual do Ocidente. O Fundador, que não gostava de recorrer ao subjetivismo e atribuía muita importância às provas objetivas, deu grande valor a essa forma de pesquisa parapsicológica, tendo aprendido bastante com os referidos livros. Para o Fundador, a emoção de ver abrir-se o Mundo do Espírito Divino, campo totalmente desconhecido pelo qual o seu interesse aumentava cada vez mais, era algo semelhante ao amor. A atração que ele sentia pelo mistério encerrado no âmago da Religião, assemelhava-se à atração por um namorado a quem se ama infinitamente. Ele voltou-se para o Mundo do Espírito Divino com o mesmo ardente desejo que leva essa pessoa a se aproximar do objeto amado para conhecê-lo de forma ainda mais profunda. Pela sua própria experiência; o Fundador escreveu: “O ponto culminante da Fé é a paixão a Deus”. A palavra japonesa “shukyo”, que significa “religião”, é uma tradução das palavras em inglês e alemão provenientes do latim “religio”, cujo sentido é “estar ligado”, “pensar sempre numa mesma coisa”, “apegar-se”. A paixão é a mais simples expressão desse conceito. Ele se completa com o casamento e vai se transformando num sentimento tranqüilo e contínuo, ou seja, o amor. Todavia, em se tratando dos mistérios do Mundo do Espírito Divino, quando algo é desvendado, abre-se, em seguida, um mundo ainda maior - um novo Mundo do Mistério. Assim, a paixão a Deus nunca termina; vai aumentando e tornando-se cada vez mais profunda com o passar do tempo. O Fundador canta esse sentimento em alguns poemas: “É possuindo um caloroso amor Pelo homem, que se ama a Deus A ponto de se lhe entregar a vida.” “Conheci um amor Que supera os amores Aos quais entreguei minha vida.”
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Foi por volta do final da Era Taisho que o Fundador começou a ser envolvido pela ocorrência de fatos misteriosos. Quando isso aconteceu, ele ainda não se havia conscientizado claramente de sua afinidade-missão, mas a atuação do Mundo Divino já havia começado sub-repticiamente. O fato que se segue teria acontecido no final do verão ou no início do outono de 1924, quando um indivíduo chamado Hidemassa Noguti, que trabalhava com projetos de mapas geográficos, foi visitá-lo e pediu-lhe que falasse sobre a Omoto. Trocaram diálogos sobre a Fé e, durante a conversa, olhando para o rosto do Fundador, de repente Noguti lhe perguntou: “A Omoto tem relação com Kannon?” Ao que o Fundador respondeu: “A Omoto está relacionada a Deus, e Kannon a Buda. Um não tem nada a ver com o outro”. Noguti começou, então, a falar sobre coisas inesperadas: “Entretanto, à direita do lugar onde o senhor está sentado, eu vejo a figura de Kannon, com uma estatura um pouco maior que a sua. Há pouco, quando o senhor se levantou para ir ao toalete, Kannon o seguiu; quando o senhor voltou e se sentou, ele também se sentou”. Achando estranho, o Fundador perguntou qual era a expressão de Kannon, e Noguti respondeu: “Kannon está de olhos fechados, e seu rosto e seu corpo são iguais aos que se vêem em desenhos e esculturas”. Naquele momento, repentinamente, Noguti tivera a clarividência espiritual da figura de Kannon. Pouco tempo depois, um fiel da Omoto disse ao Fundador: “Estou vendo um redemoinho dm cima de sua cabeça; bem no centro dele, está Kannon. Vejo, também, uma cruz nas suas costas”. Assim, vez por outra, Kannon surgia perto do Fundador, e as pessoas o enxergavam. Esse misterioso fenômeno ocorreu seguidas vezes. Naturalmente, até então, ele não acreditava absolutamente em Kannon; através desses fatos, porém, começou a se conscientizar gradativamente da afinidade existente entre ambos. Rememorando a trajetória do Fundador, vemos que, desde pequeno, ele possuía uma profunda ligação com Kannon. Como já foi dito o templo que guarda o jazigo da família Okada, em Mikawashima, Tóquio, chama-se Templo Kannon-ji, e a sua imagem principal é o Kannon de Onze Faces. A imagem principal do Templo Senso-ji, onde seu pai ia armar a barraca noturna, e também a do Templo Tyosho-ji, em cujo pátio o Fundador brincava quando criança é o “Sho Kannon”. Além disso, sua esposa, Yoshi, nasceu em Nagoya, cidade onde está o templo de Ossu Kannon. Relembrando diversos fatos que vieram ocorrendo desde a sua infância, o Fundador conscientizou-se ainda mais da grande afinidade que tinha com Kannon, afinidade essa que remontava aos seus antepassados.
b) A VOZ DE DEUS Através do estudo do “Ofudessaki” e também dos acontecimentos misteriosos que ocorriam à sua volta, o Fundador foi abrindo rapidamente os olhos em relação ao Mundo Espiritual. À medida que se tornava mais profunda sua compreensão sobre o invisível Mundo do Mistério, ia se formando gradativamente, em seu íntimo, um estado de tensão apropriado às manifestações Divinas que se lhe deparariam. No dia 25 de dezembro de 1926, ele entrou em estado de transe e recebeu uma Revelação Divina. Exatamente nesse dia faleceu o Imperador Taisho, que foi sucedido pelo príncipe herdeiro, Hirohito. A partir de então, entrou-se na Era Showa. Sobre a estranha ocorrência, o Fundador escreveu: Certo dia do mês de dezembro de 1926, por volta das vinte e quatro horas, tive uma sensação muito estranha, jamais sentida até então. Ao mesmo tempo em que experimentava essa agradável sensação, sentia-me induzido a falar. Queria deter esse impulso, mas não conseguia. Insopitável força me impelia, de dentro para fora. Não podendo resistir, deixei-a expressar-se livremente. As primeiras palavras foram: “Prepare papel e pincel”. Pedi à minha esposa que assim procedesse. As palavras que, em seguida, brotaram ininterrupta e compassadamente, expressavam fatos surpreendentes”. As revelações duraram cerca de três meses, chegando a preencher de trezentas a quatrocentas folhas de papel-carta. Seu conteúdo era inimaginável, versando sobre a formação do Japão no período que remontava há quinhentos mil anos e estendia-se até sete mil anos atrás; sobre a história da humanidade, no passado e no futuro, e sobre a vida passada, presente e futura do próprio Fundador, esclarecendo, também, a Vontade de Deus, Senhor de todo o Universo. As previsões sobre o futuro mais
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tarde se concretizaram: o incidente da Manchúria, a Segunda Guerra Mundial e a situação do mundo após a guerra. Na época, era muito difícil acreditar-se em tudo isso, de modo que, durante algum tempo, muitas vezes o Fundador leu esses escritos e depois os guardou. Pelo fato de “não entender, por mais que pensasse”, ele, espirituosamente, intitulou-os “Hatena?” (“Será?”). Então, decidido a comprovar todas as coisas passíveis de experimentação, iniciou um grande esforço no sentido de somar práticas e fazer auto-indagações. Naqueles escritos, havia vários fatos relacionados com a Família Imperial, de modo que seria muito perigoso se eles viessem a cair nas mãos das autoridades. Assim, durante longo tempo, o Fundador os deixou enterrados, dentro de uma lata de zinco. Entretanto, o controle das autoridades se tornava mais rigoroso a cada ano, e todas as religiões novas começaram a sofrer pressões, prisões, interrogatórios, etc.. Ele não foi exceção. Passou a ser vigiado e a receber repetidas intimações para depor. Pressentindo o perigo, acabou queimando os papéis em questão. Mais tarde, o Fundador pensou diversas vezes em reescrever as revelações recebidas; achou, porém, que ainda era muito cedo, e acabou não o fazendo. Após a Segunda Guerra Mundial, julgando que era o momento oportuno, escreveu o artigo intitulado “O Século XXI”, apresentado no início do presente livro, onde se descrevem de forma bem clara as características do mundo futuro: o desenvolvimento do intercâmbio cultural entre as nações e a concretização de um mundo de paz e de uma vida agradável, rica em caráter artístico. Muitas profecias já se concretizaram, e o fato do Fundador ter conseguido prever tais acontecimentos no início da Era Showa (1926) mostra uma parte da profundidade das revelações recebidas. Foram revelações misteriosas, o primeiro indício de que Deus começara a atuar sobre ele diretamente. Naquele momento, Deus atuou sob o nome de Kannon. Embora, no budismo, Kannon apresente formas diversas, em verdade, ele representa o próprio DEUS. O Fundador ficou sabendo que Kannon, usando o seu corpo, iria executar a grande obra de salvação da humanidade. Entretanto, ao compreender o conteúdo dessa Revelação, que nem sequer pudera imaginar, ele ficou espantado e, por vezes, chegou a duvidar e hesitar. O seu estado de espírito, naquela ocasião, pode ser conhecido através destas palavras escritas posteriormente: “Por tratar-se de uma missão grandiosa demais, nunca vista até então, não pude deixar de achá-la muito pesada para um ser comum como eu. Entretanto, como era Deus, maravilhoso para todas as pessoas, quem me incumbia dessa missão, é claro que eu não podia recusá-la. No início, duvidei bastante, chegando mesmo a rebelar-me, mas de nada adiantou. Deus me manipulava livremente”.
c) “KENSHINJITSU” Desde essa época, os estudos que o Fundador vinha fazendo sobre o Mundo Espiritual sofreram grande modificação. Ampliaram-se da pesquisa centralizada em livros para a busca do método de salvação que liberta as pessoas do sofrimento através da força espiritual, encaminhando-as para a felicidade. Ou seja, ele avançou para a parte prática: consolidar o método concreto de salvação. Centralizou-se unicamente no “tinkon kishin-ho”, método secreto de aprimoramento ensinado pelo antigo xintoísmo, que já existia antes da introdução do budismo e do confucionismo. Esse método assemelha-se um pouco às práticas do zen-budismo e, na época, era muito aplicado na Omoto. Consiste em serenar a alma, excluindo os próprios sentimentos, e tornar-se uno com Deus. Para isso, a pessoa se senta sobre as pernas dobradas, com os braços cruzados e os olhos cerrados, e planeja o engendramento da própria espiritualidade, tendo por objetivo a união com Deus. Considera-se que, repetindo essa prática, a pessoa recebe poderes Divinos, através dos quais lhe é possível curar doenças e manifestar diversos milagres. Estando na Omoto, o Fundador concentrava-se no “tinkon”, restaurado da época antiga por essa Igreja; por outro lado, guardando no fundo de seu coração a Revelação recebida em 1926, empenhavase seriamente na busca de provas sobre a salvação através do misterioso poder do Espírito Divino. Entregando-se de corpo e alma à concretização de seus objetivos, começou a praticar o “tinkon” em muitas pessoas, a começar pelos seus familiares, empregados, conhecidos etc.. E qual foi o
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resultado? O poder de salvação era extraordinário, conseguindo-se curas miraculosas. Pessoas com doenças difíceis de serem curadas e pessoas em estado grave iam sendo salvas umas após as outras. Tomando conhecimento da fama do Fundador, muita gente ia procurá-lo. Além disso, os milagres não surgiam apenas sob a forma da cura de doenças. Sobre essa fase, ele escreveu: “Naquela época, a minha vida era um contínuo milagre. Quanto mais eu duvidava, mais milagres surgiam, possibilitando-me desfazer as dúvidas”. E, como sucediam milagres que, de alguma forma, indicavam a resposta para aquilo que ele desejava saber, concluiu: “É mesmo, Deus existe de fato e está muito próximo. Ou melhor, talvez esteja até dentro de mim mesmo”. Até então, o Fundador almejara seguir diversos caminhos, mas sempre se vira frustrado em suas aspirações, sendo lançado na escuridão do desespero. Entretanto, agora que tinha consciência de que fora escolhido por Deus e de que viera a este mundo com uma grandiosa missão, descobriu que tudo havia sido planejado pelo Criador. Assim, conscientizado do infinito poder de salvação e da inteligência que recebera para construir, aqui na Terra, o Paraíso ansiado por toda a humanidade, começou a dedicar-se à grande obra de salvação do mundo. Durante a sua busca para entender o verdadeiro significado da Revelação que recebera de Deus, o Fundador teve oportunidade de ir à sede da Omoto e conversar com Onissaburo Deguti, o qual, enquanto falavam sobre diversos assuntos, lhe disse: “Daqui para frente, se você se dedicar à cura de doenças, poderá curá-las quanto quiser. Faça-o o mais possível. Se, por acaso, você colocar água num copo e disser que a tomem, porque é remédio, essa água se transformará em remédio, sabia?”. Refletindo sobre essas palavras, poderemos concluir que Onissaburo Deguti, possuidor de uma grande percepção espiritual, há muito já compreendera o nível espiritual e a missão do Fundador. Dessa forma, através dos diversos acontecimentos ocorridos à sua volta e também das Revelações recebidas diretamente de Deus, o Fundador compreendeu que a missão a ele atribuída estava acima dos ensinamentos e determinações da Omoto. Pertencendo a essa Igreja, seria desagradável transgredir as regras por ela definidas; entretanto, Deus afirmava que era ele quem devia concretizar a Revelação e que não havia outro caminho. Não lhe era permitido desviar-se, de modo que, embora sabendo quão árdua fosse, começou a jornada por esse caminho só seu. A atividade que, naquele momento, iniciou-se bem no fundo de sua alma, mais tarde manifestou-se na forma da Obra Divina concreta que ele levou a cabo durante alguns anos. Após o transe de 1926, que durou três meses, o Fundador sentira dúvidas sobre o conteúdo das Revelações recebidas, mas agora, através de diversos fatos concretos, tinha adquirido uma certeza inabalável. Já não havia nenhum motivo para dúvidas; pelo contrário, ele ganhara uma sólida consciência de que Deus existe e de que a missão que lhe fora atribuída por Ele era real. Descreveu isso da seguinte maneira: “Algo muito grandioso me manejava livremente, fazendo com que, por meio de milagres, eu me encontrasse, pouco a pouco, com o Mundo de Deus. Nessas horas, eu sentia uma alegria irrefreável. Era uma sensação indescritivelmente profunda, nítida e elevada. Além do mais, os milagres continuavam a suceder, acontecendo fatos interessantíssimos. Não sei quantas vezes cheguei a experimentar essas sensações num só dia”. Escreveu ainda: “Há uma Bola de Luz em meu ventre. Ela é o Espírito de DEUS, de modo que Ele mesmo maneja livremente meus atos, minhas palavras, tudo”. Assim, como resultado de incansável pesquisa e sentindo que, desde a Revelação Divina, havia uma Bola de Luz em seu ventre, a qual era o Espírito de DEUS, o Fundador chegou à inabalável convicção de que Ele utilizava livremente o seu corpo e, tendo-o como Seu instrumento, salvaria toda a humanidade. Cantou esse seu estado de espírito nos poemas abaixo: “O Ensinamento desfez A longa dúvida que eu tinha Sobre o motivo do meu nascimento Neste mundo.”
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“É venerável o Kannon Que habita o corpo material De um homem que, antes, era insignificante.” Nessa ocasião, o Fundador utilizou a palavra “Kenshinjitsu” para designar o estado em que se possui sólida consciência de tudo e inteligência esclarecida. É o estado em que a pessoa enxerga o caminho que a humanidade percorreu e irá percorrer, e, além de evidenciar os erros do passado, é capaz de indicar a postura correta da humanidade no futuro. E como estar no cume de uma pirâmide e avistar as quatro direções lá de cima. A esse respeito, ele escreveu: “A Religião, a Filosofia, a Educação e outros ramos da cultura sempre consideraram impossível entender todas as coisas além de certo limite e captar a sua essência mais profunda”. Sakyamuni disse ter atingido o “Kenshinjitsu” aos setentas e dois anos, e Nitiren, depois dos cinqüenta. “Kenshinjitsu” significa a capacidade de entrar em contato com esta essência. Tendo atingido esse estado, o próprio Fundador praticou a Verdade que conseguiu conhecer, concretizou-a e transmitiu-a amplamente às pessoas. Conseqüentemente, as palavras e ações do Fundador expressam a própria Verdade. Anos mais tarde, ele costumava repetir: “Não desvie de mim a sua atenção. Fixe atentamente os olhos na minha pessoa e faça o serviço entregando-se de corpo e alma” Dessas palavras vigorosas, sentimos irradiar estes pensamentos:
“Busquem a Verdade que eu materializo.” “Deus, nosso Senhor, Deu-me poder e inteligência. Todos os seres vivos Serão salvos.” “Tudo que preguei Desde os quarenta e cinco anos, Idade em que atingi o “Kenshinjitsu”, Expressa a Verdade.”. Dessa forma, tendo sofrido completa modificação e sentindo que o seu destino estava sendo dirigido por Deus, o Fundador deixou os serviços da Loja Okada, no dia 4 de fevereiro de 1928, para concentrar-se de corpo e alma na Obra Divina. Deixou a parte administrativa ao encargo de Kinzo Fukumoto e a parte de vendas ao encargo de Takashi Nagashima. Afastou-se dos trabalhos, passando a ocupar a posição de conselheiro; todavia, não abandonou por completo os negócios nessa ocasião. Durante muitos anos continuou indo à loja como dono e participando das reuniões da Associação Sofuku”. Na época em que o Fundador atingiu o estado de “Kenshinjitsu”, nasceu em Omori, no dia 4 de junho de 1927, sua terceira filha, que recebeu o nome de Itsuki e mais tarde se tornou a terceira Líder Espiritual da Igreja Messiânica Mundial.
d) SUCESSIVOS MISTÉRIOS
No dia 14 de abril de 1929, mais de dois anos após a Revelação de 1926, o Fundador foi a Kameoka (Ayabe, Quioto), para participar do Culto da Primavera da Omoto, o qual seria realizado nos dias 14 e 15. O fato que se segue aconteceu no dia 16.
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Tendo idéia de assistir ao ofício religioso do Santuário Obata, localizado em Anao (circunscrição de Sokabe, Quioto), terra natal de Onissaburo Deguti, ele chamou um carro. Quando estava de saída, encontrou-se com a esposa de Watari Shiga, membro do partido político mais representativo do Japão antes da Segunda Guerra Mundial, partido esse criado em 1900, sob a direção de Hirobumi Ito. A senhora em questão lhe disse que acabara de chegar do Estado de Saitama e pediu-lhe que a levasse com ele. “Chegou na hora!”, respondeu o Fundador, que lhe deu carona gentilmente. No momento em que o carro começou a andar, ele estremeceu, sentindo algo de misterioso no sobrenome Shiga, daquela senhora. Pensou então: “O Lago Biwa, de Omi, também é chamado Lago Shiga. Será que o culto de hoje tem algo a ver com o Lago Biwa?”. Terminado o ofício religioso em Anao, o Fundador voltou para Tóquio. Por sua vez, Onissaburo Deguti, após o culto, pegou um carro e foi até o Lago Biwa, tendo passado a noite num famoso restaurante situado à beira desse lago. No dia seguinte, antes de partir, escreveu num papel as palavras “Doto Tyuten” (“Gigantescas ondas sobem ao Céu”) e entregou-o ao dono do restaurante, que também era fiel da Omoto. Dias depois, misteriosamente, houve uma tempestade que atingiu um vasto território, assolando regiões como Kinki, Hokuriku e Kanto. Na região onde está situado o Lago Biwa, a tempestade foi violenta, e um navio de turismo e muitos barcos pesqueiros afundaram. Nesse momento, o Fundador recebeu uma Revelação extremamente importante, sobre a qual escreveu em prosa e em verso: “O Dragão Dourado, deus guardião de Kannon, esteve submerso, durante milhares de anos, no fundo desse lago. Chegado o momento propício, quando ele ia emergir das águas, o Dragão Vermelho ( 82) , que observava de longe, ciente de que surgiria o deus mais temido por ele, veio correndo, e, para derrotá-lo, travou uma enorme batalha sobre o lago. Vencido, fugiu para o norte. Essa luta é que se transformou naquela tempestade.“ “Surgiu O deus Dragão Dourado, Oculto nas profundezas Do Lago de Shiga.” “Finalmente surgiu O deus Dragão Dourado Que se escondia No “Manai” (83) de Yassugahara-ame.”. No dia 23 de maio, um mês após a ocorrência desse mistério, Tóquio foi assolada por um temporal. O Fundador não foi à loja, tendo ficado a desenhar num “shikishi” (84). De repente, por volta do meio dia, reboou uma forte trovoada nos arredores da mansão Shofu, em Omori. Intuindo nesse acontecimento a chegada do Dragão Dourado, o Fundador, anos mais tarde, escreveu: “Desabara uma tempestade e, aproximadamente ao meio-dia, ecoou uma forte trovoada sobre a minha residência. A partir desse momento, o Dragão Dourado tornou-se meu Espírito Guardião”. No dia 11 de abril, pouco antes desse acontecimento, por volta das cinco horas da manhã, Yoshi, que estava grávida, começou a sentir as dores do parto. Na família Okada, desde a época de Taka, primeira esposa do Fundador, costumava-se chamar a parteira Hissa Mizutome. Desta vez, também, estava combinado chamá-la, quando chegasse a hora. Entretanto, como ainda era muito cedo, Mizutome não havia chegado, e tudo indicava que o bebê estava prestes a nascer. Assim, o próprio Fundador começou a fazer os preparativos, apanhando água, preparando a bacia etc.. Mizutome acabou não chegando a tempo, e ele teve de exercer a função de parteiro. Sem nenhum problema, nasceu um menino, que recebeu o nome de Shigueyoshi. Era o seu terceiro filho homem.
(82)
– Atente-se que, na Bíblia, Satã é descrito como um dragão vermelho. – Termo clássico que significa “fonte da água sagrada que provém do campo dos altos céus”. (84) – Papel grosso, decorado ou liso, geralmente em formato quadrangular, onde se escrevem poesias ou se fazem desenhos A fim de presenteá-los a alguém ou usá-los como decoração. (83)
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Desde o período inicial da Era Showa, o Fundador escrevia um diário. Nele, registrava as suas impressões sobre os principais acontecimentos do dia em forma de poemas. Atualmente, resta um total de quinze cadernos, escritos até 1943. No início da Era Showa, o Fundador desenvolvia simultaneamente a Obra Divina e as atividades comerciais. Aproveitando qualquer oportunidade, dedicava-se à pesquisa do Mistério. Tudo isso está descrito vivamente no diário dessa época. A respeito do nascimento de Shigueyoshi ele escreveu os seguintes poemas: “Mizutome Não havia chegado, E vejam só! Chorando bem forte, Nasceu um menino.”
“Parteiro virei, Sem outra alternativa. Eu precisava Ajudá-la no parto, Aparando o bebê.”. “Não sei se é Algum Plano Divino, Mas, em minha vida, É a primeira vez Que assisto a um parto.” Através do nascimento de seu próprio filho, o Fundador conscientizou-se ainda mais profundamente do seu próprio destino e da missão que lhe fora determinada. Agora, havia no mundo mais tristeza do que alegria, mas ele sabia que um mundo assim não duraria para sempre. Com o poder e o amor absoluto de Deus, haveria de nascer um novo mundo aqui na Terra. Como representante de Deus, ele é quem iria construí-lo. Tudo isso lhe fora esclarecido na Revelação de 1926, e mais uma vez Deus lhe mostrou claramente esse mistério, fazendo com que ele servisse de parteiro. Naquela época, a Omoto mantinha intercâmbio com a “Associação Sekai Komanji”, criada em 1930, na China, quando Gofukurin e Ryushoki, naturais de Santo-Sho, naquele país, instalaram uma igreja em Sainan, capital de Santo-Sho. Era uma entidade religiosa que cultuava Shissei-Senten-Rosso como Deus Supremo e realizava intensa atividade beneficente. A seu respeito, o Fundador escreveu: “Na Igreja Messiânica Mundial, conhecemos a existência de Deus através de graças e milagres. A “Associação Sekai Komanji”, no entanto, faz com que as pessoas O conheçam através de um método completamente diferente. Instalam um assento para Deus bem no centro do local onde vai ser aplicado o método, queimam incenso e, depois de lerem sutras, realizam uma cerimônia chamada “futi”. Em cima de uma mesa, coloca-se uma bandeja rasa, quadrada, forrada de areia prateada. Nas laterais, ficam duas pessoas segurando uma vara com formato de T. A ponta da vara vai se movendo automaticamente, traçando letras. É a mensagem de Shissei-Senten-Rosso. Grandes religiosos como Sakyamuni, Confúcio, Jesus Cristo e outros praticaram o “futi”. Eles escreveram sob a ordem de Rosso. Sai escrito assim: “Kannon, por ordem de Rosso, transmite X ensinamento”. As palavras fluem com muita rapidez, e por isso é impossível que as duas pessoas se consultem”. O fato que se segue aconteceu no dia 26 de março de 1930. Na Sede Aishin-Kai da Omoto (atual Kakushin-Kai), situada no bairro de Koji, em Tóquio, ia se realizar um “Futi” com a presença de dez diretores da “Associação Sekai Komanji”. O Fundador participou da cerimônia em companhia de Yoshi. Nessa oportunidade, ele ganhou uma folha de papel no meio da qual estava escrita, em letra bem grande, a palavra PURIFICAÇÃO; ao lado, em letra pequena, “Mokiti Okada”. Junto, entregaram-lhe um folheto explicativo: “Foi escrito no “futi” realizado na Sede Geral da Omoto, em Ayabe, pouco antes da comitiva da “Associação Sekai Komanji” ir para Tóquio”.
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A propósito desse “futi” o Fundador escreveu: “Saí com Yoshi Para ir a Aishin-Kai A fim de assistir À cerimônia de escrituras.” “Ganhei uma folha Com a palavra PURIFICAÇÃO Em letra bem grande, Escrita por Rosso. Segundo disseram, foi feita em Ayabe.” Mais tarde, ele comentou: “O meu trabalho mais importante é purificar o espírito através da ministração do Johrei (purificação do espírito). Naquele momento, isso já estava determinado por Deus”. O papel recebido pelo Fundador foi um presente misterioso que indicava o seu destino.
e) PESQUISAS SOBRE O ESPÍRITO DIVINO Mesmo depois de ter alcançado o estado de “Kenshinjitsu”, o Fundador continuou suas pesquisas sobre o Mundo Espiritual. Não o fazia levado simplesmente pelo desejo de obter conhecimentos desvendando mistérios e decifrando enigmas. Ele sabia que, uma vez que o Mundo Espiritual é o princípio de tudo, movendo o visível Mundo Material, a grandiosa obra de salvação da humanidade não podia ser concretizada sem o esclarecimento daquele mundo. Justamente por isso ele se dedicou a pesquisá-lo, o que julgava de capital importância para encaminhar a humanidade a uma vida feliz e concretizar o Mundo Paradisíaco. Quando mal começara sua pesquisa sobre o Espírito através do “tinkon”, o Fundador, atendendo a um pedido, utilizou esse método com uma moça de dezenove anos que estava tuberculosa em terceiro grau. O caso fora considerado perdido; entretanto, com dois “tinkon”, começaram a surgir indícios de melhora. No terceiro, a mãe da jovem, que estava sentada ao seu lado, levantou-se repentinamente, com uma expressão de quem ia devorar o Fundador. “Canalha! Só faltava mais um pouco para eu acabar com a vida dessa moça e você me atrapalhou, salvando-a. Estou furioso e vou fazer você pagar por isso”. Era uma voz grossa de homem, totalmente diferente da voz daquela senhora. Incontestavelmente, tratava-se de um fenômeno de encosto. Espantado, o Fundador perguntou ao espírito que se encostara ao corpo da jovem: — Quem é você, afinal? — Sou Hirokiti. — Qual é a sua relação com esse corpo? — Sou o irmão mais novo da quarta geração de ancestrais dessa família. — Mas porque se encostou-se a esta moça para tirar-lhe a vida? — Eu havia saído de casa e, quando morri, como não tinha mais nenhum contacto com a família, ninguém se preocupou comigo. Eu queria que sufragassem o meu espírito e tentei fazer com que meus parentes percebessem esse desejo. Para isso, entre muitas outras coisas, eu os fiz adoecer, mas ninguém entendeu. Fiquei tão indignado, que resolvi matar essa moça. Assim, eles vão compreender. — Mas você não veio lá do Inferno? — É eu estava lá há muito tempo, mas já não agüentava mais. Por isso fugi, para pedir que me sufragassem.
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— Mas você sabe que, se matar essa jovem, vai para um lugar ainda pior do que aquele onde estava até agora? — É verdade?! — É mais do que verdade. Eu trabalho para Deus. Jamais poderia mentir. Mas fique tranqüilo: eu vou sufragar você. O espírito falava com o sotaque das pessoas de Edo, e seu timbre de voz era bem claro, parecendo um trabalhador daquela cidade, nos últimos tempos do governo feudal. Esse espírito, que dizia chamar-se Hirokiti, não apenas acatou as palavras do Fundador, como prometeu ajudá-lo a curar a doença da moça. Assim; ela foi se recuperando normalmente. O fato que se segue também aconteceu no início da Era Showa. Havia uma estudante de Belas-Artes, de aproximadamente vinte anos, que estava fazendo estágio na Loja Okada, como desenhista. Certo dia, uma amiga sua foi à loja, procurando por ela. Como a moça estivesse ocupada, o Fundador pediu-lhe que há aguardasse um pouco, na sala de espera. A visitante parecia bastante deprimida. Intrigado, ele perguntou à estudante desenhista o que estava acontecendo. A explicação foi inesperada. Durante longo tempo, as duas moças mantiveram relações homossexuais, mas, descobertas por seus genitores, foram advertidas severamente, vendo-se obrigadas a escolher entre acabar com o relacionamento ou sair da escola. Sem saber o que fazer, haviam decidido suicidar-se juntas. E aquele era o dia marcado. Surpreso, o Fundador levou a desenhista para outra sala e fez-lhe um exame espiritual. Um espírito de pato, que nela encostara, manifestou-se e disse que estava apaixonada pelo espírito de rouxinol encostado na amiga. O Fundador repreendeu-o severamente e, com repetidos tratamentos espirituais, fê-lo deixar o corpo da moça. Com isso, o sentimento da amiga também esfriou, e o problema foi solucionado. Através dessa experiência, o Fundador compreendeu que o amor-paixão é uma ação espiritual e que, para solucionar um amor ilícito, basta tirar o encosto de uma das pessoas envolvidas. Dessa forma, a cada experiência concreta, as pesquisas parapsicológicas foram se tornando precisas. Justamente por isso, cheio de confiança, ele escreveu: “Talvez as pessoas da atualidade achem que essa descrição, feita em termos genéricos, seja produto da minha imaginação, mas em verdade trata-se de pontos coincidentes entre levantamentos e estudos que fiz durante mais de vinte anos com inúmeros espíritos, através de médiuns e de todos os meios possíveis. Por isso podem estar certos da veracidade do que lhes estou transmitindo”. (Alicerce do Paraíso - Mundo Espiritual e Mundo Material) O Fundador dedicou-se à pesquisa do Mundo Espiritual não apenas através das experiências com os fenômenos de encosto que acompanhavam o “tinkon”, mas também através da literatura de muitos livros. Participava, ainda, de sessões de parapsicologia, como podemos comprovar pelo poema escrito em seu diário no dia 14 de novembro de 1929: “Fui à sessão experimental De uma associação de pesquisas parapsicológicas E vi curiosas manifestações espirituais.” Não se sabe exatamente quais eram os dirigentes dessa associação, mas o primeiro em quem se poderia pensar é Wassaburo Assano, que, na época, se dedicava à pesquisa parapsicológica. Ele estudara num colégio de primeira categoria, ingressara na Universidade de Tóquio, muito renomada, e tornara-se professor da Escola de Oficiais da Marinha. Tinha profundo conhecimento da literatura inglesa e, desde que ingressara na Omoto, em 1916, encarregou-se da redação dos textos dos seus órgãos informativos, de atividades voluntárias de difusão etc., utilizando a sua cultura e a sua fé ardorosa. Chegou a ocupar uma posição elevada na Igreja. Entretanto, após a primeira pressão sofrida pela Omoto, em 1921, ele fundou, em Tóquio, a “Associação de Pesquisas Científico-Parapsicológicas” e, em 1925, afastou-se da Igreja. Desde então, desejando provar objetiva e cientificamente a existência do Espírito Divino, empenhou-se em
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apresentar ao Japão a ciência parapsicológica, muito desenvolvida na Europa e nos Estados Unidos. Posteriormente, mudou-se para Ossaka. Tempos mais tarde, o Fundador escreveu sobre ele: “No Japão, temos Wassaburo Assano, um profundo pesquisador com quem eu tinha certo relacionamento e que deixou vários trabalhos. Infelizmente, ele faleceu há alguns anos.”. O objetivo da pesquisa espiritual feita pelo Fundador evidencia-se através destas palavras: “Crendo nos fenômenos espirituais, torna-se claro que poderemos apreender a causa fundamental da verdadeira felicidade. Em outras palavras, para se obter a perfeita paz de espírito, é necessário profundo conhecimento de tais fenômenos, seja qual for a Fé que se professe.“ (Alicerce do Paraíso Prefácio do Livro “O Mundo Espiritual“) Como se pode constatar, ele possuía a consciência fundamental de que, para a humanidade ser encaminhada a uma vida feliz, era preciso, antes de mais nada, que ela conhecesse a realidade do Mundo Espiritual e se conscientizasse profundamente da atuação dos espíritos.
2. FOMENTO PARA A FUNDAÇÃO DA IGREJA a) ATIVIDADES LITERÁRIAS Por volta de 1923, quando o Fundador retornou à Omoto, essa Igreja desenvolvia uma intensa atividade literária, como parte da Obra Divina. Em 1927, ela fundou a Editora Meiko e começou a publicar uma revista mensal de poesia “waka” (85) e “kanku” (86), chamada “Meiko”. Imediatamente, o Fundador passou a enviar seus poemas para essa revista. Eram composições de conteúdos diversos: poemas religiosos que expressavam a busca de Deus, poemas que retratavam a natureza, poemas que cantavam os sentimentos humanos, e também poemas românticos. Eles revelavam o coração do Fundador, que, em todos os aspectos de sua vida, nunca se fixava em um só ponto. Editora Meiko, 6ª sessão de “waka”, 10/06/1927. Tema: Andorinha “Graciosa é a andorinha Que, determinando O canto do telhado Como sua eterna residência, Vai e vem voando.” Editora Meiko, 6ª sessão de “waka”, 15/06/1927. Miscelânea de poemas “Meu amor tornou-se Algo impossível, E conversar com ela É um sonho raro.” Editora Meiko, 8ª sessão de “waka”, 07/08/1927. Temas: Chuva Branca, Chuva de Verão.
(85)
– Poema composto no Japão desde os tempos antigos, semelhante ao haical, diferenciando-se deste no que diz respeito aos Pés métricos, que são trinta e um. É constituído de cinco versos, dos quais o primeiro e o terceiro são pentassílabos, e os Demais, heptassílabos. (86 – Poema derivado do haical.
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“Chuva de verão Que reanima pessoas, Animais e outros seres Abatidos pelo intenso Calor do Sol.” O Fundador, que se caracterizava por realizar com perfeição tudo aquilo que empreendia, estudou literatura com entusiasmo, buscando a avaliação e a orientação de pessoas abalizadas. Também Yoshi, sua esposa, há muito já possuía fama de habilidade literária; mostrou sua capacidade assim que iniciou a composição de poesia “waka”. A Editora Meiko fazia concursos mensais de “waka” e “kanku” e dava aos vencedores o título “Ten no Maki” (“Versos do Céu”). Quando a pessoa recebia mais de cinco “Ten no Maki”, era-lhe atribuído o título de “Tsuki no Ya” (“Casa da Lua”). O Fundador e sua esposa receberam esse título, sendo ele chamado de “Tsuki no Ya Moguetsu” (“Casa da Lua Mokiti”) e ela, “Tsuki no Ya Koguetsu” (“Casa da Lua Yoshi”). No “kanku”, tal como no haicai, os pés métricos são dezessete, distribuídos em três versos, dos quais o primeiro e o terceiro são pentassílabos, e o segundo, heptassílabo. Trata-se de um jogo de palavras onde só é determinado o primeiro verso, e as pessoas têm de completar os dois seguintes, para competir nas habilidades de agilidade mental e humor. Existe, ainda, o “toku”, no qual se determina o último verso. Oficialmente, esses dois tipos de poemas são denominados “kantoku”; entretanto, parece que, popularmente, quando se fala em “kanku”, subentendem-se as duas formas. Os dois exemplos que se seguem são obras do Fundador, feitas respectivamente em 1928 e 1929. Tema: “Tossokiguen” (87) ““ Tossokiguen “ Que na primavera Faz ver o diabo como Buda.”. Tema: “Deitado à toa” “Deitado à toa Passei o domingo Sem fazer nada.” Mostrando sua habilidade com uma destreza incrível, o Fundador recebeu de Onissaburo Deguti, o cognome de “Assanebo Kiguetsu” (“Lua brilhante dorminhoco”) com o qual passou a promover sessões de “kantoku” e a selecionar as obras. Posteriormente, refletindo sobre o seu hábito de acordar tarde, ele começou a usar o pseudônimo “Akegarassu Aho” (“Corvo bobo madrugador”) e disse que, desde então, passou a acordar cedo. Talvez se referindo a isso, compôs o seguinte poema: “Tencionava compor Um poema sobre a geada. Dorminhoco que sou, Quando acordei, Nem vestígios encontrei.” Onissaburo Deguti, que presidia as atividades artísticas da Omoto, sempre ia à Editora Meiko. Aí, sem distinção hierárquica, era possível travarem-se discussões abertas. Aqueles que tinham dúvidas quanto à doutrina ou à fé, podiam, durante as conversas mundanas, formular perguntas a Onissaburo sem nenhum constrangimento, como se todos fossem amigos. O Fundador, privilegiado com essas (87)
– Saquê que se toma por ocasião das festas do Ano Novo.
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oportunidades desde o início, por ser um dos integrantes da Editora Meiko, sempre que ia à Ten’onKyo (Sede da Omoto em Kameoka), onde ficava a matriz daquela editora, hospedava-se no Meiko-den e conversava familiarmente com Deguti. Pelo caráter do Fundador, presume-se que ele preferia ambientes descontraídos como aquele para pesquisar e aprender livremente. Ao mesmo tempo em que participava com entusiasmo dessas atividades literárias da Omoto, o Fundador criou, em setembro de 1930, sob o nome de “Associação Ten’nin”, sessões de poesia “kanku” humorística, dirigidas por ele mesmo. Os temas da primeira sessão foram: “Niya niya to” (“Sorriso irônico”) e “Futoi Yatsu” (“Sujeito Ordinário”). Ela foi realizada ao entardecer do dia 20 de setembro, com a participação de dezoito membros. Recitaram-se oitenta e nove composições, que, expressando a situação social de forma bastante irônica, ou com um pouco de humor, faziam as pessoas se desligar por completo do ambiente carregado da sociedade e encher de gargalhadas o Shofu-So. O Fundador ria a ponto de lhe escorrerem lágrimas pelas faces, e todos os participantes, como se estivessem com ataque de riso, não conseguia parar de rir. O Fundador reuniu as composições feitas até a oitava sessão, realizada em abril de 1931, e publicou-as com o nome de “Tengoku no Hana” (“Flor do Paraíso”). O dono do Shofu-So descreveu o efeito dos risos no prefácio dessa coletânea. Dessa forma, a “Associação Ten’nin” era a melhor expressão do temperamento alegre do Fundador. Assim, o Fundador incentivava o riso de forma habilidosa, pelo seu desejo de animar e encorajar os dedicantes e fiéis, que, não obstante a rigorosa situação que envolvia as religiões e suportando dificuldades financeiras, continuavam a fazer difusão. Um pouco mais tarde, com o nome de “Associação Zuiko”, ele promoveu sessões de poesia na especialidade “tanka” (88), as quais tiveram início no dia 3 de maio de 1931. Foi organizada, sob a sua direção, a Editora Zuiko, que passou a publicar a revista mensal “Zuiko”, sendo definidos como membros da editora aqueles que fizeram assinatura dessa revista por um período superior a três meses. As sessões de poesia eram realizadas uma vez por mês. A Editora Zuiko foi instalada na residência de um fiel chamado Seitaro Shimizu, situada no bairro de Suguinami, circunscrição de Toyotama, Tóquio. Este se encarregava da parte editorial e dos contatos com a gráfica, e Motokiti Inoue, cujo nome de registro era Fukuo e na época se hospedava na casa de Shimizu, encarregava-se da revisão. Shimizu conheceu o Fundador através de transações comerciais e, encaminhado por ele, ingressou na Omoto em 1928. Como escrevia muito bem, atuou principalmente na parte de publicações. A partir de 1932, a revista “Zuiko” teve o seu nome mudado para “Shofu”.
b) DIFUSÃO EM TÓQUIO Na Omoto, havia uma qualificação sacerdotal denominada “divulgador”, a qual tinha divisões hierárquicas. Em 1927, depois que retornou à Igreja, o Fundador tornou-se diretor da filial da Editora Meiko na Sede de Aishin, em Tóquio. Em abril de 1928, tornou-se semidivulgador; em julho, divulgador. Foi subindo rapidamente e, em fevereiro do ano seguinte, nomearam-no membro executivo da Sede de Tóquio. Pelo trabalho realizado durante esses anos, podemos constatar que o Fundador trilhou unicamente o caminho da Fé, atraindo o coração das pessoas que sofriam muitas das quais ele conseguiu encaminhar. Suas pregações eram muito apreciadas. Ele não tinha nenhuma atitude ostensiva e causava uma impressão agradabilíssima. Mesmo na composição de poesia “waka” e “kanku” não se detinha apenas no mundo da Fé; também abordava temas como os sentimentos naturais dos seres humanos, entre os quais o amor. O mesmo acontecia quando transmitia ensinamentos às pessoas que estavam entrando para a Fé: não começava a pregar sobre Religião logo de início, mas sobre assuntos mais acessíveis e próximos, avançando pouco a pouco até chegar ao tema de Deus. Em contato com a sua personalidade, as pessoas eram atraídas por uma força que as envolvia ampla e calorosamente. Comovidos pelo seu poder de salvação, os membros aumentavam a cada dia. Sobre esse trabalho de difusão, o Fundador escreveu, em seu diário:
(88)
– Poesia do tipo “waka”.
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“À medida que meu poder Vai aumentando dia após dia Aumentam os fiéis que me seguem.” “Que alegria é ver aumentar, A cada dia, a cada mês, As pessoas que acatam minhas palavras.” “A Obra Divina avança cada vez mais, E eu vou ficando atarefado. Finalmente sou o Kannon de Mil Braços.”
Na época, entre os fiéis que respeitavam o Fundador, havia um indivíduo chamado Mitsuo Massaki, o qual havia ingressado na Igreja em outubro de 1920. Presume-se que ele se tornou discípulo do Fundador atraído pela sua virtude. Esse indivíduo, na época, ocupou o cargo de conselheiro de todas as filiais da Omoto e mais tarde foi vice-presidente da “Dai Nipon Kannon Kai” (“Igreja Kannon do Japão”), nome com a qual teve início a Igreja Messiânica Mundial. Ele residia em Tóquio e freqüentava a casa de um membro chamado Yamamuro, comerciante de chá que morava no mesmo distrito e que pode ser considerado o primeiro discípulo do Fundador. Este, em abril de 1929, alugou uma casa no bairro de Koji, à qual deu o nome de Baiko-So, e entregou-a a Yamamuro, para que aí se dedicasse à atividade de difusão. Graças ao trabalho realizado por ele, a difusão foi se expandindo gradativamente no bairro de Koji. No dia 8 de março de 1929, o Fundador já havia registrado em seu diário o seguinte poema: “Valeu a pena a atividade Realizada pelo Sr. Yamamuro. Finalmente, a difusão cresce Sob o castelo sagrado.” (89) Ainda em abril de 1929, Yamamuro apresentou a Massaki um indivíduo chamado Ryozo Takemura, cuja família possuía uma loja de calçados chamada Morita-ya. Essa loja, fundada em 1831, era muito renomada, por ter servido como fornecedora de mercadorias ao órgão administrativo do Palácio Imperial. Mais tarde, Takemura candidatou-se a membro da Assembléia Distrital e foi eleito. Financeiramente, era uma família sem dificuldades, mas com muitos problemas de doença. Quando uma pessoa ficava boa, outra caía de cama. Takemura fora apresentado a Massaki devido à doença de um neto seu. Admirado com a grandiosidade do poder do Fundador, ele tornou-se fiel da Omoto naquele mesmo mês. Com o seu ingresso, a difusão no bairro de Koji teve um grande avanço, correspondendo aos desejos do Fundador. Takemura recomendava o “tinkon” aos seus familiares, parentes e empregados, muitos dos quais se tornaram fiéis. Mais tarde, quando o Fundador foi para o bairro de Koji, Takemura empenhou-se na procura de uma casa para ele e muito o ajudou, não só material, mas também espiritualmente, por usufruir de poderes no local. Tal como Massaki, Takemura foi um membro muito influente, verdadeiro baluarte da Igreja Messiânica Mundial em seu início, desde a época de Omori. Ocupou o cargo de conselheiro de todas as filiais da Omoto e, quando foi fundada a “Dai Nipon Kannon Kai”, recebeu o cargo de Presidente. Na época em que o controle de ideologias era rigoroso e as novas religiões viviam sob ameaças de pressão, Takemura exerceu um papel muito importante, por ser membro da Assembléia Distrital. Graças à atuação de Massaki e Yamamuro e ao ingresso de Takemura, aumentou gradativamente o número de fiéis da Omoto no bairro de Koji. Com o passar do tempo, o Fundador instalou aí um local de difusão.
(89)
– Palácio Imperial. O bairro de Kōji ficava próximo.
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Na época, como membro executivo da Sede de Aishin, em Tóquio, o Fundador participava dos cultos mensais e das palestras da filial de Oi, onde era conselheiro, e das filiais de Ebara, Tamae e Toyotama. O Culto Mensal começava com as orações. Às vezes era ele que fazia as palestras; outras vezes, um divulgador enviado pelo Omoto. Havia, ainda, ocasiões em que os fiéis apresentavam suas experiências de fé. Finda essa parte, realizava-se uma sessão de “kanku”, que transcorria num clima de alegria e animação. Quando ela terminava, tinha início o “naorai”, isto é, a distribuição do saquê retirado das oferendas feitas a Deus. Depois, a maioria dos fiéis ia para casa. Alguns, porém, lá permaneciam e, rodeando o Fundador, contavam-lhe seus sofrimentos ou então falavam sobre os problemas da vida, procurando ansiosamente a Verdade e buscando sua orientação. Ele, por sua vez, ouvia atentamente as palavras dos fiéis e os orientava, esquecendo-se até das horas.
c) A EVIDÊNCIA DAS PROVAS O ano de 1930 foi muito difícil para a sociedade japonesa, que entrou num longo período de crise. A grande queda de preços no mercado financeiro de Wall Street, em Nova York, ocorrida no mês de novembro de 1929, ainda permanecia viva na lembrança das pessoas. Esse fora um ano tenebroso: a começar pelos produtos agrícolas, o preço de tudo caiu; a produção baixou e houve um grande aumento de desemprego. Entretanto, apesar dessa situação, o início de 1930 teve seguidos dias de céu límpido. O amanhecer era muito frio e tudo ficava branco com a geada. Aguardando a expansão da Obra Divina, o Fundador iniciou o novo ano com muita decisão e esperança. Era o ano do cavalo, no horóscopo oriental, e correspondia ao signo do Fundador, que completava quarenta e oito anos. A propósito de 1930, ele escreveu:
“Este é o ano em que a Obra Divina Deve ter um grande avanço. Não sei por que, Meu coração se enche de coragem.“ “Enquanto eu tiver vida, Vou me esforçar Pela Obra Divina da Salvação, Para o Bem de Deus e do Mundo.” Como acontecia anualmente, no dia primeiro de janeiro, Fukumoto e Nagashima, gerentes da Loja Okada, vieram cumprimentá-lo pelo Ano Novo, trazendo os demais funcionários. Mitsuo Massaki, do bairro de Koji, também o visitou com o mesmo objetivo. No dia 2, houve Culto Mensal em Omori, com a presença de dezoito fiéis. O Fundador desenhara a figura de Kannon com tinta carvão, em folhas próprias para caligrafia a pincel, e ofereceu-as aos fiéis. Até então, ele só desenhava o Monte Fuji e outros motivos; essa foi a primeira vez que desenhou Kannon. No registro feito em seu diário no dia 6 de janeiro, consta:
“Movido pelo fervor Da mãe de Utiyama, Acho que vou dar-lhe O meu “miteshiro”.”.
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O “miteshiro” corresponde ao antigo “mitegurashiro” e significa “segurar as oferendas feitas a Deus”, ou simplesmente, “oferendas”. Entretanto, na Omoto, a palavra era usada para designar algo que substitui a mão. Onissaburo Deguti escrevia em colheres de bambu para pegar arroz: “Colher que salva todas as vidas, Atenda ao meu pedido: Salve as pessoas da sociedade.” E imprimia o seu sinete. Valia-se desse meio para salvar as pessoas doentes. O “miteshiro” oferecido pelo Fundador era um leque, em cuja parte frontal ele escrevia palavras como estas: “Este leque purifica E salva todos os espíritos.” “Este leque purifica O corpo espiritual de todas as coisas.” “Este leque branco purifica O corpo e o espírito.” Ele os distribuía aos principais fiéis e fazia que estes realizassem o “tinkon”. O primeiro registro que se tem de “miteshiro” escrito e atribuído pelo Fundador, data de 30 de abril de 1929. Nesse dia, consta registrado no diário: “Ao receber um leque branco Do Sr. Yamamura, pedindo-me Que lhe desse um “miteshiro” Eu escrevi um poema.”. No dia 12 de agosto do mesmo ano, ele registrou um milagre relacionado ao “miteshiro”. “Yamamura contou-me que viu O leque que lhe dei Irradiar uma luz espiritual.” Assim, o Fundador, que desde a Revelação de 1926 viera procurando descobrir sua própria natureza, a partir de 1929 começou a manifestá-la através de Obras Divinas concretas, sendo que, em 1930, deu um passo ainda mais definido. Entretanto, se de um lado a Obra Divina ia dando passos cada vez mais firmes, a Loja Okada estava numa situação muito diferente da prosperidade alcançada no passado, e ia decaindo cada vez mais. À medida que o Fundador foi se dedicando unicamente à Fé, a situação foi ficando cada vez pior. No dia 4 de janeiro, vemos registrado: “Hoje, pela primeira vez, Vi um rapaz sozinho Tomando conta da loja.” Embora estivesse vivendo dias de plenitude, dedicando sua vida à salvação do homem, com certeza o Fundador deve ter-se lembrado da época de ouro em que dezenas de funcionários desenvolviam uma intensa atividade na loja e o ”Diamante Assahi” ia sendo vendido rapidamente, tão logo era confeccionado. Na figura do jovem funcionário que, sozinho, estava tomando conta da loja vazia, sente-se a nostalgia do próprio Fundador, que vivera como empresário. De 1929 à primavera de
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1930, sentimos a sua paixão pelos negócios, os quais, como uma brasa ainda vermelha, permaneciam vivos numa parte do seu coração, que tentava dedicar-se unicamente ao caminho religioso. A propósito, ele escreveu: “Até que sinto muita vontade De impulsionar novamente o comércio, Como em tempos passados.” “Embora o comércio Seja o meu sustento, O Plano Divino já existe.” “Embora fosse domingo, Fui à loja e, sozinho, Os rascunhos dos desenhos Fiquei corrigindo.“ Do final de 1929 ao Ano Novo de 1930, o Fundador registrou o seu carinho e apego pela Loja Okada; entretanto, com a ocorrência de sucessivos mistérios, pouco a pouco foi pressentindo que estava perto o dia em que iria viver somente para a Obra Divina. No diário dessa época, vemos muitos registros sobre o início desses pressentimentos:
“Até os enigmas do Céu e da Terra, Com a chegada do tempo, Misteriosamente são decifrados. Que alegria!” “Captando o avanço da Obra Divina Nos mais diversos acontecimentos, Meu coração palpita.” “Conforme o previsto, Na hora de tirar a fotografia, Ocorreu um fato profundamente misterioso.” Entre tantos poemas, merece especial atenção o que foi escrito no dia 8 de fevereiro: “Tenho a forte impressão De que em junho deste ano Receberei uma grande missão.” Esses versos mostram que o Fundador estava conscientizado de que a Bola de Luz localizada em seu ventre ia ganhando plenitude a cada dia, e de que o poder de salvação manifestado por Kannon, o qual atuava por seu intermédio, ia lhe acrescentando virtudes cada vez maiores. Fazendo uma profunda reflexão sobre o advento do mês de junho, descobriu uma misteriosa coincidência numérica. O dia 1o de junho de 1930 correspondia ao dia 5 do mês 5 do ano 5 do antigo calendário, e o signo desta data correspondia ao dia do cavalo, do mês do cavalo, do ano do cavalo. Essa coincidência entre os números e os signos era um fato muito raro.
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O Fundador compreendeu que aquele era o dia misterioso indicado no seu pressentimento de fevereiro e que, a partir de então, se iniciaria uma nova atuação do Poder Divino. Quando finalmente chegou aquela data, erigiu, num canto do jardim de sua casa, uma torre de pedra constituída de treze secções superpostas, à qual deu o nome de Torre Miroku. Ele a havia preparado há muito tempo e fez uma cerimônia bem simples. No decorrer de todo aquele dia, sentiu uma alegria infinita invadir seu coração. Estava palpitante e não conseguia reprimir um novo entusiasmo pela missão que lhe foi atribuída por Deus. Exatamente por aqueles dias, ocorreu um importante milagre, o qual fez o próprio Fundador conscientizar-se ainda mais da elevação do poder espiritual da Bola de Luz localizada em seu ventre. O fato aconteceu quando ele salvou, pelo “tinkon”, um jovem que estava para se suicidar juntamente com uma meretriz. Tendo levado esse jovem para casa e procedido a um exame espiritual, percebeu que havia um espírito de raposa encostado nele. Então, advertiu esse espírito e fez que ele se afastasse. O jovem, porém, continuava de olhos cerrados e com as palmas das mãos unidas. Passados alguns minutos, finalmente abriu os olhos e, com uma fisionomia muito impressionada, disse que havia visto uma cena interessantíssima. Falou que alguém ao seu lado estava tocando “koto” (90) e que o som desse instrumento era extraordinariamente belo e nobre. Embevecido, ele olhara à sua volta, tendo percebido encontrar-se num lugar que lhe parecia o interior de um santuário muito espaçoso. No fundo, havia uma escada que levava a uma sala toda acortinada. Segundo disse o rapaz, o Fundador, vestido com trajes litúrgicos, subiu essa escada suavemente e entrou na sala. Nesse momento, o Fundador interrompeu-o: — Se você viu a pessoa de costas, não podia ter reconhecido quem era. O jovem, parecendo muito confiante, respondeu: — Tenho a certeza de que era o senhor. Como à esquerda do lugar onde o rapaz estava sentado ficava o Altar, o Fundador interpretou que, de fato, embora momentaneamente, ele tivera a faculdade da visão espiritual. No dia 21 de julho de 1930, mais de um mês, portanto, após a ocorrência de 1 o de junho, o Fundador escalou o Monte Fuji com sua esposa e mais onze acompanhantes. “Saí de casa às nove da manhã Para realizar a importante Obra Divina De escalada do Monte Fuji.” O dia estava levemente nublado; vez por outra, apareciam os raios do sol. A comitiva chegou à Estação Ozuki, na Estrada de Ferro Tyuo, por volta das treze horas. De ônibus, passaram pelo Lago Yamanaka e dirigiram-se para o Hotel Funazu, situado à beira do Lago Kawaguti, onde se hospedaram. “Sentado na rocha À beira do Lago Kawaguti, Fiquei me refrescando Até o entardecer.” No dia seguinte, passaram pelos lagos Sai Shoji e Motossu, e visitaram o Santuário Senguen. Às treze horas, começaram a escalar o Fuji, pela entrada Yoshida. O Fundador e sua esposa subiram a cavalo até a metade do caminho, mas como Yoshi começou a sentir um enjôo muito forte, teve de descer até a entrada Subashiri. Assim, os acompanhantes do Fundador ficaram reduzidos a dez. Subiram até o ponto equivalente a setenta por cento da altura do Fuji e passaram a noite na Hospedaria Iwamuro, destinada àqueles que escalavam esse monte. Por localizar-se num ponto onde o vento é muito forte, ela está construída de costas para a montanha, com as suas três paredes laterais erigidas em pedra. Dentro, é de terra batida forrada com tábuas, onde estão estendidas esteiras de palha. (90)
– Instrumento musical de corda, tipicamente japonês.
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No dia seguinte, o Fundador e seus acompanhantes partiram de madrugada. No ponto equivalente a oitenta por cento da altura do monte, presenciaram o nascer do Sol e às sete e meia atingiram o topo. Anteriormente, o Fundador recebera um espírito de dragão que lhe disse: “Eu sou o guardião da deusa Konohana Sakuyahime no Mikoto, assentada no Monte Fuji; sou também, a manifestação do Dragão de Nove Cabeças, assentado no Santuário Kussushi”. Assim, um dos objetivos da escalada era visitar esse santuário e orar diante dele. No início, o Fundador pensou que o santuário do qual lhe falara o espírito de dragão ficava no sopé do monte. Indagou sobre ele, mas, como ninguém o conhecia, foi direto ao todo. Perto da entrada, deparou-se-lhes um magnífico santuário onde estava escrito: “Santuário Kussushi” (“Kussushi” significa “misterioso”, “estranho”). O Fundador ficou sabendo que o “okumiya” (91) do Santuário Assama também era chamado de Santuário Kussushi. Terminado o culto, a comitiva viu cumprido o objetivo da escalada. Então, deu uma volta pelo topo e desceu na direção da entrada Subashiri. O fato que se segue aconteceu depois que eles voltaram para o Shofu-So, em Omori. Misteriosamente, um dos acompanhantes do Fundador teve a visão espiritual de uma bela deusa, de aproximadamente dezoito anos, sentada no sofá de uma sala em estilo ocidental. Tinha uma bijuteria no cabelo e vestia um magnífico quimono. Era muito bela e elegante. Ouvindo isso, os fiéis comentaram entre si que essa deusa não poderia ser outra senão Konohana Sakuyahime no Mikoto, deusa do Santuário Assama, que ali viera com alegria, agradecer a escalada feita pela comitiva. Meses depois, ocorreu um fato que fez o Fundador abandonar por completo o comércio e tomar a decisão de dedicar-se unicamente à Obra Divina. Trata-se do mistério relacionado à família Sakuragui, residente em Magome, bairro vizinho a Araijuku, onde está localizado o Shofu-So. Esse fato aconteceu na madrugada do dia 6 de dezembro de 1930. Por volta das três horas, o Fundador recebeu um telefonema pedindo-lhe que fosse à casa de um senhor chamado Sakuragui, que trabalhava numa gráfica e cujos familiares eram, todos eles fiéis ardorosos. Yayoi, sua filha, menina de sete anos de idade, estava com muita dor de barriga. Imediatamente ele se dirigiu para a casa de Sakuragui. Entretanto, chegando lá, viu que, misteriosamente, as dores sentidas pela criança eram iguais às dores do parto. Depois de algum tempo, parecia que algo ia nascer, mas finalmente as dores passaram. Quando o Fundador entrara no quarto da menina enferma, notou, em cima do armário, no canto do quarto, uma estatueta de Kannon que media aproximadamente 5,5 centímetros. Perguntando a respeito, disseram-lhe que, por ocasião da guerra civil, quando os samurais saíam para a luta, levavam-na consigo como talismã, amarrada no braço, e que a estatueta era preservada pela família desde épocas antigas. Pela manhã, depois que voltou para casa, o Fundador recebeu um telefonema dizendo que a menina estava completamente restabelecida e que, tão logo se recobrara, sentiu uma grande vontade de tomar um copo de leite. Refletindo sobre a ocorrência daquela madrugada, ele viu nesse fato a prova de que Kannon nascera neste mundo. À tarde, quando Sakuragui o visitou, o Fundador explicou-lhe: “Yayoi deu à luz Kannon”. No seu diário, ele escreveu: “Voltei para casa Às seis da manhã. Hoje foi realizada Uma importante Obra Divina.” Através desse misterioso fato, o Fundador conscientizou-se de que a Bola de Luz que havia em seu ventre intensificara ainda mais o seu brilho e de que ele fora elevado a uma grandiosa hierarquia espiritual. Assim, finalmente, tomou a decisão de organizar seus trabalhos. No dia 23 de dezembro daquele ano, sabendo que estava perto o dia em que se dedicaria exclusivamente à Obra Divina de salvação da humanidade, o Fundador comemorou pela primeira vez (91)
- Pequeno santuário que fica situado nos fundos de outro e cultua a mesma divindade cultuada neste.
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o seu aniversário. Escreveu poemas “waka” em “shikishi” completando o seu quadragésimo oitavo ano de vida.
(92)
e com eles presenteou os fiéis. Estava
“Hoje, realizamos o Culto Juntamente com a comemoração Dos meus quarenta e oito anos.”
d) DEDICAÇÃO EXCLUSIVA À OBRA DIVINA Desde 1927 ou 1928, o Fundador já deixara a maior parte da administração, das vendas e da parte burocrática da Loja Okada ao encargo dos gerentes Kinzo Fukumoto e Takashi Nagashima. Entretanto, no dia 21 de janeiro de 1931, comunicou-lhes que cederia a ambos os direitos sobre a loja; no dia 5 de fevereiro já havia decidido as condições. Ele a entregaria com toda a sua clientela, mas o valor das mercadorias que restavam lhe seria pago aos poucos, dos lucros obtidos mensalmente. No dia 3 de fevereiro, quando a transferência estava sendo tramitada, o Fundador foi visitar Shigueharu Takahashi, o funcionário do Departamento de Compras da Mitsukoshi que, há mais de dez anos, viera ter à Loja Okada e, impressionado com a sua personalidade, dera-lhe ensejo de iniciar negociações com aquele famoso estabelecimento comercial. Desde que eles começaram a negociar, todos os anos o Fundador costumava visitar a casa de Takahashi; no momento em que estava para sair do ramo, foi prestar-lhe os últimos agradecimentos pelo favor que recebera. Muitas mudanças propícias ocorreram desde a época em que o Fundador despertara para a Fé, em 1920, até ele se conscientizar da sua missão de salvar a humanidade e construir o Paraíso Terrestre. Ele não teve logo consciência dessa missão. O motivo que o fez buscar a Religião e apoiar-se em Deus foi, em primeiro lugar, o desejo muito humano de se libertar do sofrimento. Entretanto, Deus fez que seguidos milagres acontecessem ao seu redor, para despertá-lo realmente. Por um lado, era uma magnífica seqüência de milagres; por outro, era um caminho rigoroso que o fazia sentir-se num grande dilema, pois sabia que, tanto espiritual como fisicamente, muitos sofrimentos o esperavam. A respeito dessa época, ele escreveu: “Uma vez que eu havia cortado a minha fonte de renda, tornou-se impossível saldar as dividas que ainda me restavam, e os agiotas começaram a me pressionar constantemente. Os agradecimentos em forma de dinheiro que eu recebia pela cura de doenças através da Fé eram quantias irrisórias, e tive de economizar ao máximo, agüentando viver nas mais precárias condições, a fim de poder saldar as dívidas aos poucos. Mas as coisas não corriam conforme eu esperava”. Quando Mitiaki Okaniwa, que ficara de dedicar ao seu lado a partir de 5 de junho de 1930, chegou ao Shofu-So pela primeira vez, ficou assustado ao ver os papéis vermelhos lacrando os armários como sinal de embargo. Entretanto, num tom bem tranqüilo, o Fundador lhe disse: “Agora estou passando dificuldades, como pode ver, mas logo começará a chover dinheiro”. Não lhe era nada fácil deixar a vida de cidadão comum para cumprir a grande incumbência que recebera de Deus. De fato, mais tarde, seu telefone foi cortado, por estar com o pagamento atrasado, e durante certo período houve dias em que seus únicos alimentos eram feijões fermentados e manjuba seca. Num poema que compôs nessa época, ele confessou: “Passei a não ter vergonha De usar um chapéu Que por duas vezes Fora mandado ao tintureiro.” Através desse poema, podemos imaginar a vida difícil que o Fundador levava e o seu esforço para suportá-la. No dia 30 de dezembro de 1930, ele registrou no diário:
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– Vide nota 84.
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“Como há muito não acontecia Neste final de ano Não precisamos Sofrer por causa de dinheiro. Que alegria!” Esse poema canta, de forma sincera, o que o Fundador sentia naquela época. Anos mais tarde, ele escreveu: “Finalmente decidi dedicar-me de corpo e alma, obedecendo à Ordem Divina. Como cinqüenta por cento eram vontade de Deus e cinqüenta por cento minha consciência, eu sentia maior segurança que as pessoas comuns, mas também sentia maior solidão que elas. Naturalmente, eu não tinha uma vida fácil, economicamente falando, e, em principio, só dispunha do suficiente para me manter durante alguns meses, não havendo qualquer perspectiva de renda certa. Era uma vida extremamente insegura, mas os seguidos milagres e Revelações interessantes me faziam esquecer a preocupação financeira, de modo que a vida se tornava realmente alegre.” Dessa forma, podemos dizer que, não obstante a situação insegura, o Fundador seguiu firmemente o caminho para a salvação do mundo graças às sucessivas Revelações de Deus e às emoções, à convicção e à alegria que sentia por ver as pessoas serem salvas. “Hoje estou abandonando O comércio de miudezas Que comecei há vinte anos.” “A partir de hoje Finalmente vou viver Exclusivamente para a Obra Divina.” “A partir deste início de primavera Vou me empenhar na Obra Divina Sem lamentar o que ficou para trás.”
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CAPITULO VIII
A REVELAÇÃO DIVINA
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1. VISITA AO TEMPLO NIHON-JI a) O TEMPLO NIHON-JI DO MONTE KENKON ( Ou Montanha Nokoguiri )
A partir do dia 4 de fevereiro de 1928, o Fundador, que, através do transe de 1926, se conscientizara da sua importante missão de salvar o mundo, solidificou a decisão de dedicar-se de corpo e alma à Obra Divina. Três anos mais tarde, em meados de maio de 1931, ele recebeu a seguinte Ordem de Deus: “No dia 15 de junho, vá ao Templo Nihon-ji, no Monte Nokoguiri, situada em Boshu, no Estado de Tiba”. Imediatamente, iniciou os preparativos para seguir a Vontade do Altíssimo. Podemos tecer diversas considerações sobre o acontecimento Divino representado pela visita do Fundador ao Templo Nihon-ji, mas a mais importante relaciona-se ao profundo significado contido na palavra “kata” (modelo, exemplificação), empregada por ele a propósito do desenvolvimento do Plano de Deus: “A Providência Divina constrói todas as coisas em dimensões extremamente pequenas e vai ampliando-as pouco a pouco, até que elas se tornem mundiais. Isso é realmente misterioso e também se aplica ao Mundo Material: quando o homem vai construir algo grandioso, primeiro faz o modelo e só depois dá inicio à obra”. Assim, podemos dizer que “kata” é uma amostra simbólica do Plano Divino a ser concretizado. O Templo Nihon-ji, localizado no Monte Nokoguiri, é o mais antigo templo da Região Kanto. Construído por ordem do Imperador Shomu e da Imperatriz Komyo para nele se fazerem os pedidos de harmonia, proteção, segurança, beleza e outras graças para o país, foi inaugurado pelo bonzo Gyoki a 8 de junho do ano 725, como o Templo Nascente do Sol que cultua Yakushi Nyorai, divindade oriental cuja existência foi captada pela Imperatriz. Dizem que, na ocasião, juntamente com o documento do edito, escrito por seu próprio punho, o Imperador doou a esse templo aproximadamente dezenove quilos de ouro; a Imperatriz, entre outras doações, ofertou um quadro bordado por ela própria, representando as trinta e três transformações de Kannon. A imagem principal do Templo Nihon é de Yakushi Ruriko Nyorai e foi feita por Gyoki. Além dela, estão assentadas a imagem do Kannon de Mil Braços, feita por Jikaku Daishi, a de Daikokuten da Sorte, feita por Kobo Daishi, e outras. Antigamente, a construção abrangia uma enorme área de aproximadamente 230.000 m2, incluindo sete torres, doze santuários e cem residências para bonzos. O Templo Nihon-ji é considerado um dos poucos locais antigos de aprimoramento situado no Japão, e nele estiveram por algum tempo bonzos famosos como Roben, Kobo, Jikaku e outros dirigentes budistas que percorriam o país fazendo difusão. Seu vasto terreno abrange três picos ao norte: o Ruri, o Nitirin e o Gatsurin. O templo fica a 329 metros acima do nível do mar e daí podem ser avistados dez estados ao mesmo tempo. Árvores velhas e densas ocupavam toda a montanha, e entre as rochas de formatos interessantes existiam estátuas de pedra de Sakyamuni, Yakushi, Amida, diversas estátuas de Dainiti, Monju, Fuguen, Kannon, Seishi, Miroku, Jizo, Kokuzo, Fudo, Aizen, Konpira, Daikoku, estátuas dos dez grandes discípulos de Sakyamuni, dos seminaristas budistas adoradores de Yuima, que não deixaram suas casas, do Príncipe Shotoku, do Mestre Kobo, mais de mil e quinhentos Rakan etc.. Assim, o Monte Nokoguiri possuía aspectos que faziam lembrar a Montanha Grdhrakuta, situada na Índia, local das pregações de Sakyamuni.
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Entretanto, as magníficas e grandiosas construções que faziam parte do Templo Nihon-ji, foram atingidas por diversos incêndios causados pelas guerras, tendo sido restauradas várias vezes. Na Antigüidade, chegaram a ser reformadas e retocadas por Yoritomo Minamotono e Takauji Ashikaga, mas, depois da Restauração Meiji, a montanha toda entrou em decadência, e muitas estátuas foram destruídas. Isso aconteceu não apenas por causa da discriminação sofrida pelo budismo (93) a partir da Restauração Meiji, mas também por causa das superstições e crendices populares. No Templo Nihonji, segundo dizem, a destruição das estátuas foi maior que em outros templos, pois começara a entrar em moda a caça às cabeças das estátuas de Rakan, como registra o famoso romance escrito por Kaizan Nakazato, “Daibossatsu Togue” (“Pico do Grande Bossatsu”), no capítulo “Awa no Kuni” (“Estado de Awa”), a propósito das estátuas de Rakan existentes naquele templo: “Sempre existe uma cabeça parecida com a da pessoa em quem pensamos. Se pegamos essa cabeça sem que ninguém saiba e a sufragamos secretamente, os nossos desejos são atendidos”. Por isso, os Rakan sem cabeça do Templo Nihon-ji ficaram famosos. Em 1915, todas as estátuas desse templo haviam sido recuperadas, mas dizem que, logo depois, entrou em moda a caça às cabeças. No mês de junho de 1931, quando a comitiva do Fundador visitou o local, muitas se encontravam nesse estado de depredação. A respeito do Templo Nihon-ji, o Fundador disse: “Seu nome é Nihon e não existe outro com o mesmo nome. Além do mais, Kenkon, outra denominação do Templo Nihon-ji, significa “Céu e Terra”. Por isso, esse templo possui um grande significado”. Em frente ao prédio principal do Templo Nihon-ji há uma figueira-dos-pagodes (árvore originária da Índia, de flores amarelas e perfumadas). Associando que Sakyamuni dormiu o sono eterno debaixo de uma dessas árvores e que nesse templo existem diversos tipos de estátuas budistas, o Fundador interpretou que o local é uma região sagrada, que representa o “kata” do mundo budista no Japão. Depois da visita que ele fez ao Templo Nihon-ji, este sofreu um grande incêndio, no dia 26 de novembro de 1939, o qual atingiu a maioria dos santuários e destruiu grande número de estátuas budistas. Posteriormente, durante a Segunda Guerra Mundial, o Monte Nokoguiri tornou-se uma região estratégica e, infelizmente, os famosos santuários e os locais pitorescos foram devastados. A restauração do templo só foi iniciada muito depois da guerra, em 1962.
b) VISITA AO TEMPLO O Templo Nihon-ji, que na época de sua construção pertencia à Religião Hosso, mais tarde passou a pertencer à Religião Tendai e, posteriormente, à Religião Shingon, sendo que, na Era Edo, tornou-se templo da Religião Soto. No início da Era Showa, época em que o Fundador o visitou, ele era terra santa desta última na Região Kanto. Seu administrador era o bonzo zen Sogaku Harada, e o bonzo responsável era Jossetsu Tanaka (19a geração). Por coincidência, este e Seitaro Shimizu, discípulo do Fundador, eram amigos íntimos, e por isso Shimizu foi incumbido de fazer os preparativos para a viagem ao Templo Nihon-ji em junho. A programação de dois dias consistia em hospedagem no templo na noite do dia 14 de junho; na manhã seguinte, apreciação do nascer do Sol no topo do Monte Nokoguiri; após o desjejum, no regresso da escalada, a realização de uma sessão de poesia. Os aspirantes a acompanharem o Fundador eram vinte homens, entre os quais dois fotógrafos, e oito mulheres, perfazendo um total de vinte e oito pessoas. Na época, seus seguidores não chegavam a quarenta, de modo que os participantes da peregrinação perfaziam mais da metade deles. No dia 10 de junho, encontramos registrados no diário o seguinte poema: “Shimizu atendeu as pessoas Que se reuniram para participar Da visita ao Templo Nihon-ji, no dia 15.”
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– Acontecimento que fez com que as estátuas budistas fossem quebradas ou jogadas fora, devido à disputa entre santuários xintoístas e templos budistas, após a lei promulgada em 1868, a qual discriminava estes últimos.
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No dia 14 de junho, apesar de ser época de chuva, felizmente fez bom tempo desde a manhã. O Fundador, acompanhado de Yoshi, sua esposa, saiu do Shofu-So, em Omori, para ir à Estação Ryogoku, local de encontro com as demais pessoas. Os trinta partiram no trem das dezesseis horas, conforme estava programado. No trem, o Fundador fazia as pessoas rirem com suas graças, e os diálogos afluíam seguidamente, de modo que eles chegaram à Estação Hota sem terem tido tempo para olhar a paisagem que se descortinava pela janela. Na estação, dividiram-se, tomando táxis em direção à casa de chá situada no sopé da montanha. Daí subiram pela escadaria de pedra com a ajuda de uma lanterna de papel preparada de antemão. Quando chegaram ao Templo Nihon-ji, localizado no meio do Monte Nokoguiri, já eram mais ou menos dez e meia da noite.
“Com a fraca luz Da lanterna de papel Vamos subindo A escada de pedra E finalmente chegamos.” “O imponente portão Do tão almejado Templo Nihon-ji Ergue-se após o sopé Do Monte Nokoguiri.” Parece possuir relação Com o Deus da Luz do Sol. Seu nome é “Templo da Nascente do Sol.”. Já era tarde quando, depois de banhar-se numa sala de banho bem simples, o Fundador jantou com toda a comitiva. Em seguida, tiveram uns momentos de conversa com o Responsável do templo, indo dormir por volta de meia-noite. “Entro na água E sinto-me ressuscitar, Na sala de banho Com melancólica Cobertura de palha.” “É bem ampla A esteira do templo. O seu aspecto antigo, Que se nota mesmo à noite, Causa familiaridade.” “No templo zen A noite avança Cada vez mais E nosso diálogo Continua sem fim.” Os acompanhantes do Fundador alojaram-se no próprio templo; ele e sua esposa foram encaminhados a um prédio que ficava um pouco acima, onde descansaram. Às três horas da manhã do dia 15, como não conseguia dormir tranqüilamente, o Fundador levantou-se. Logo em seguida, toda a comitiva, de lanterna na mão, partiu pelo escuro caminho, úmido do orvalho da noite, rumo ao topo da montanha.
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“Adentrando pela escuridão Do caminho da montanha, Alcançamos o topo Com a ajuda da lanterna.” Levaram cerca de uma hora para subir a escadaria de pedra que o bonzo responsável pelo templo levara quatro anos para construir. No momento em que estavam chegando ao topo da montanha, na linha do longínquo horizonte, junto ao mar, o céu começava a clarear. Felizmente, o tempo estava bom. Da névoa da manhã, pouco a pouco surgia a grandiosa paisagem: o mar de Bosso, as montanhas das redondezas e os dez estados da Região Kanto, que podem ser divisados ao mesmo tempo. Era um cenário de beleza inexprimível. “Reverenciando a Luz do Sol”. Que surgirá dentre as nuvens, Juntos, entoamos a oração respeitosamente” Em direção ao Sol que se levantava, rompendo o alvorecer, a comitiva, liderada pelo Fundador, entoou em voz alta a oração “Amatsu-Norito”. Não há adjetivos que possam qualificar a sensação sublime e misteriosa experimentada naquele momento, e todos, emocionados, entoaram a oração com profundo respeito. Naquele instante, o Fundador teve uma misteriosa sensação espiritual e sussurrou para si mesmo: “Algo misterioso ocorreu”. Ele parecia ocultar alguma coisa no fundo de seu coração. Deixando o topo da montanha a comitiva empreendeu a descida. No meio do percurso, sob a luz bem clara da manhã, viram uma estátua budista muito estranha. Quando eles subiram, estava escuro, de modo que não puderam vê-la. Era uma estátua sem cabeça. Ao vê-la, o Fundador associou-lhe a misteriosa sensação experimentada no topo da montanha. Compreendeu, então, que no mundo budista estava se processando uma grande mudança. “Será que metade Das estátuas de Rakan erigidas Não têm cabeça porque existem Muitas pessoas sem coração?” Os integrantes da comitiva retornaram ao Templo Nihon-ji e, depois de tomarem o café da manhã todos juntos, inclusive o responsável do templo, tiraram uma foto de lembrança, em frente ao prédio principal. O Fundador e sua esposa tiraram outra, em frente ao Prédio Donkai, templo budista construído no lado direito, num lugar plano, abaixo do prédio principal do templo. Foi doado por um comerciante de Edo, chamado Heibee Ogutiya, em 1788. À sua volta, construiu-se um jardim muito pitoresco, com pinheiros raros e pedras de formatos curiosos. Desse local, podem-se avistar todas as montanhas de Awa. Embora a comitiva fosse integrada por dois fotógrafos, só existem essas duas fotos da ida ao Monte Nokoguiri, porque, até o final da Segunda Guerra Mundial, aquela região foi estratégica, sendo proibido tirar fotos ali. Assim, as duas fotos só puderam ser tiradas a muito custo, depois de concedida a autorização. Dando continuidade à programação da visita ao Templo Nihon-ji, foi realizada uma sessão de poesia no jardim em frente ao Prédio Donkai. Todos se sentaram na grama, em grupos de três a cinco pessoas, e puseram-se a escrever poemas, apreciando a maravilhosa paisagem. O Fundador compôs os versos que transcrevemos a seguir: “É inesquecível essa viagem Em que olhei para o mar de Awa Das matas verdes Onde paira o perfume da brisa.”
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Yoshi, relembrando o caminho que haviam subido naquela madrugada, compôs: “Sob os nossos olhos Brilham as luzes da cidade. Olhando-as de longe, Subimos o caminho da montanha.” Envolvidos por uma bela natureza, os integrantes da comitiva ficaram compondo poemas durante mais de duas horas. Antes de tomarem o rumo de casa, foram ao templo para fazerem os cumprimentos. Pegaram o trem na Estação Hota e desceram na Estação Nago Funagata, a quarta na direção sul. Visitaram o Kannon de Nago e o de Funagata e novamente pegaram o trem de volta para Tóquio. Motokiti Inoue, um dos acompanhantes do Fundador, assim registrou suas impressões: “Nós não tínhamos condições de penetrar na parte mais profunda daquele acontecimento Divino, mas foram dois dias paradisíacos, repletos de extasiante emoção, de alegria inigualável”. Essa viagem, envolvida numa atmosfera solene e artística, deixou uma lembrança inesquecível no coração dos participantes, independente da misteriosa Revelação.
c) REVELAÇÃO DO ALVORECER DA NOVA ERA Durante os três dias que se seguiram ao dia 15 de junho, ocorreram fenômenos misteriosos. O Fundador surpreendeu-se ao constatar que todos esses fenômenos tinham relação com o acontecimento Divino vivenciado no Templo Nihon-ji e mostravam o seu destino e a transformação do mundo. Assim, atirou-se à solução desse mistério com grande interesse. Terminada a viagem, no entardecer daquele dia, ele separou-se da comitiva na Estação Ryogoku e, na companhia de algumas pessoas, foi à casa do membro Tazo Akashi, situada no bairro de Honjo Midori, para realizar um ofício religioso que haviam combinado há muito tempo. Como o Espírito da Palavra contido no nome Akashi (Pedra Clara) liga-se a “akashi” (revelação), o Fundador sentiu a Providência Divina no fato de haver programado ir à casa dessa família justamente naquele dia. Ao mesmo tempo, sentiu uma grande alegria, pressentindo que o significado da misteriosa percepção espiritual alcançada no topo do Monte Nokoguiri, em breve seria esclarecido. Voltando para sua residência, em Omori, depois da cerimônia na casa de Akashi, ele recebeu a visita de Mitsuo Massaki, seu discípulo, que fazia difusão no bairro de Koji. Massaki mostrou-lhe uma telha quebrada, dizendo tê-la achado numa construção perto de Hanzo-Mon, destruída por ocasião do grande terremoto ocorrido na Região Kanto. Examinando a telha, o Fundador viu que ela continha o símbolo real do crisântemo e que só o local correspondente ao símbolo se conservava intacto; o resto estava danificado. Com a telha quebrada nas mãos, ele repentinamente se lembrou da expressão “Gyokussai Gazen”. “Gyokussai” significa “morrer bravamente em defesa da própria honra ou por uma causa em que se acredita”; “gazen” significa “viver sem nenhum objetivo, deixando-se levar pelo tempo”. Teve, então, um pressentimento relacionado ao futuro da Família Imperial. Entretanto, como na época seria desastroso revelá-lo, guardou-o consigo, só vindo a anunciá-lo depois da guerra. No dia 16, ocorreu outro fato misterioso. Por volta das dez horas, um indivíduo chamado Seizaburo Koike foi a Omori. Tratava-se de um tamanqueiro residente em Oi, bairro vizinho, que de vez em quando visitava o Fundador e gostava de receber ensinamentos referentes à Fé. Nesse dia, porém, diferente das outras vezes, Koike falou com um ar muito sério: “Pela manhã, tive um sonho terrível”. Era um sonho extremamente simbólico: Um indivíduo chamado Yamaguti, amigo de Koike, estava cavando um buraco na rua. Enquanto cavava, disse com uma expressão triste: “Sr. Koike, o mundo é realmente sem graça. Afinal, nós cavamos o buraco para nós mesmos entrarmos nele”. E Koike acrescentou que o rosto de Yamaguti se parecia com o de Sakyamuni. Ao ouvir essas palavras, o Fundador sentiu que elas se relacionavam à
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sua própria pessoa, indicando que seria ele o continuador dos veneráveis e misericordiosos atos de Buda. O sonho de Koike ainda continuava. Ele disse que alguém jogara uma pedra no pequeno lago existente na casa do Fundador e que, na superfície da água, formara-se um círculo que foi se expandindo cada vez mais, até que se tornou do tamanho do mundo. Um número infinito de pessoas ia sendo engolido por esse redemoinho e morrendo. Por fim, o redemoinho desapareceu. Quando cessaram os gritos de agonia e sofrimento, o local ficou deserto, os se vendo figuras de Kannon em vários pontos. Terminado o relato de seu sonho, Koike continuava sério, dando a impressão de que estava pensando em algo. Então, o Fundador lhe explicou: “Esse sonho foi uma mensagem que Deus me mandou através de sua pessoa; não tem nenhuma relação com você. Por isso, não se preocupe”. Entretanto, Koike parecia não estar convencido. Disse que achava ser ele a pedra jogada no lago e que assim terminaria sua vida. Parecia estar em pânico. O Fundador tranqüilizou-o, explicando-lhe o significado do sonho. Desvendado o mistério, Koike foi embora contente. Pouco depois, entretanto, a esposa dele telefonou, pedindo ao Fundador que fosse à sua casa, porque o marido estava muito estranho. Ele atendeu imediatamente. Chegando lá, Koike lhe falou: “Mestre, finalmente eu preciso ajustar os ponteiros do mundo, caso contrário, será desastroso. Eu nasci para ajustar os ponteiros do mundo”. Ao ouvir essas palavras, o Fundador ficou sério e disse: “Se você precisa ajustar os ponteiros para salvar o mundo, ótimo. Mas você não deve praticar nenhum ato leviano”. Dito isso, como querendo convencê-lo, foi embora. No dia 19, bem cedo, a esposa de Koike voltou a telefonar, avisando que, naquela manhã, o marido se dirigira à praia de Suzuga Mori (praia próxima de Omori, Tóquio), entrara no mar e morrera afogado. Associando o sonho de Seizaburo Koike e seu trágico fim, o Fundador apreendeu o significado oculto dos fatos iniciados com o acontecimento ocorrido no topo do Monte Nokoguiri, dias atrás: a percepção espiritual que ele tivera significava a Revelação Divina sobre a transição da Noite para o Dia. O grupo de estátuas destruídas, o pedaço de telha quebrada, o sonho e a morte de Koike eram, sem dúvida, a “mostra” da grande transição processada no Mundo Espiritual. Ele soube, inclusive, que o momento da transição fora exatamente aquele. No registro feito no diário no dia 16, consta: “O Sr. Koike contou detalhadamente Seu sonho simbólico E, desfeito o enigma, Foi embora contente.” E, no dia 19: “De manhã cedo, Recebi, por telefone, O comunicado De que Seizaburo Koike Morrera afogado.“ No dia 17, o escultor Hossei Mori, que era amigo íntimo do Fundador, fez-lhe uma visita e explicou-lhe que queria esculpir a estátua de Amaterassu Omikami em madeira, mas estava em dúvida se uma pessoa como ele poderia esculpir uma imagem tão sagrada. Então, o Fundador lhe disse que achava muito bom ele fazer aquela estátua; que não deixasse de fazê-la. O tamanho ideal acrescentou ele, era aproximadamente 1,70 metros. Ouvindo isso, Mori foi embora todo contente. Quando a obra ficou pronta, o Fundador foi à casa do escultor, em Yanaka, perto de Ueno, atendendo ao pedido que ele lhe fizera. A estátua fora esculpida com muita arte, e Mori perguntou como deveria fazer a auréola. “No sentido de expressar o Sol, seria bom uma circunferência bem grande, em alto relevo”, orientou o Fundador.
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Aproximadamente meio ano depois que começara a esculpi-la, Mori concluiu a magnífica imagem, do tamanho de um ser humano. Como, na época, ele era fiel da Omoto, envolveu-a com um pano branco e ofereceu-a essa Igreja. Através dos fatos misteriosos ocorridos no alvorecer do dia 15 e dos diversos fenômenos estranhos que vinham acontecendo ao seu redor, o Fundador conscientizou-se ainda mais de que sua missão era divulgar amplamente a chegada do Mundo do Dia e construir uma nova civilização.
2. SIGNIFICADO DA REVELAÇÃO a) TRANSIÇÃO DA NOITE PARA O DIA Qual seria o conteúdo daquela importante Revelação Divina que o Fundador recebera no topo do monte onde está situado o Templo Nihon-ji, na madrugada do dia 15 de junho de 1931, e que, a seguir, fora confirmada, concretamente, através de diversos fatos misteriosos? Mais tarde, o Fundador denominou-a “Revelação Divina da Transição da Noite para o Dia no Mundo Espiritual”. Naquele dia 15 de junho, ocorrera solenemente, no Mundo Espiritual, um acontecimento Divino: a transição da Era da Noite para a Era do Dia. Em outras palavras, ele ficou sabendo que, no Mundo Espiritual, chegara a Era do Alvorecer. O fato, realmente, é algo muito misterioso, totalmente inédito, nunca pregado por ninguém até então. Entretanto, tendo alcançado o estado de Suprema Iluminação Espiritual, o Fundador captou o profundo significado dessa Revelação. Para compreendê-lo, precisamos conhecer a “Transição da Noite para o Dia” e a “Lei do Espírito Precede a Matéria”, pregadas pelo Mestre. Assim como no período de vinte e quatro horas existe a claridade do dia e a escuridão da noite, e no período de um ano existe o verão e o inverno, no período de dez, cem, mil, dez mil anos também se intercalam a claridade e as trevas. Atualmente, estamos na Era do Alvorecer, saindo da longa Era das Trevas para entrar na Era da Luz. Isto é, estamos na Era da Transição da Noite para o Dia. Essa transição começou primeiramente no Mundo Espiritual, a partir do dia 15 de junho de 1931, e está se refletindo, pouco a pouco, no Mundo Material. Estes dois mundos estão numa relação de frente e verso, relação íntima e inseparável: todos os fenômenos ocorrem primeiro no Mundo Espiritual e depois se refletem no Mundo Material, pois tudo está regido pela Lei do Espírito Precede a Matéria. Agora que o Mundo Espiritual - o mundo das causas - tornou-se Dia, o Mundo Material, que é o seu reflexo, irá realizar a transição inédita do Mundo Infernal das Trevas para o Mundo Paradisíaco da Luz. Captando o significado da Revelação que recebera, o Fundador apreendeu claramente que a “Chegada do Reino dos Céus”, mencionada por Jesus Cristo, e o “Mundo de Miroku”, anunciado por Sakyamuni, eram previsões sobre o advento deste Mundo do Dia. Ao mesmo tempo, descobriu que está se aproximando a época em que irão se concretizar os fatos que os antigos fundadores de religiões simplesmente se limitaram a prever. “É a ocorrência de uma grande, assustadora, terrível e alentadora mudança”, disse ele. E expressou essa emoção nas seguintes composições: “Kannon vai Concretizar, em breve, Os ensinamentos De Sakyamuni, Confúcio e Yasso.” “Fala-se na Luz do Oriente, Mas trata-se do Poder de Salvação
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Manifestado por Kannon.” “Dando o sinal de que surgiu A tão desejada salvação, Vou despertar a humanidade.” “O dia 15 de junho é o aniversário do deus Amaterassu e o sentido esotérico da palavra “aniversário” é “nascimento do Sol”. Quando fui ao Templo Nihon-ji, em Boshu, era o dia 15 de junho de 1931, e esse dia corresponde ao nascimento do Sol no Japão. Isso representa o Alvorecer do Mundo”.
Compôs, ainda, estes versos: “No maravilhoso Dia 15 de junho de 1931 Abriram-se as portas do Céu.” O Fundador também captou que a lenda sobre a abertura das portas do Céu, constante no “Kojiki” (94), era uma grande previsão de que, com o advento de Amaterassu Omikami, o mundo se tornaria Dia. Ao mesmo tempo, ele compreendeu que a antiga profecia sobre advento da Luz do Oriente, transmitida desde tempos remotos no Ocidente, relacionava-se ao nascimento da Era do Dia. Com o avanço da transição para essa era, a civilização da Noite, que perdurara até então, seria destruída e, em seu lugar, seria construída a Nova Civilização do Dia. Era preciso transmitir a toda a humanidade o verdadeiro significado dessa destruição e construção e salvar as pessoas do estado de confusão e sofrimento em que elas se encontravam. Assim, o Fundador sentiu em sua pele a importante missão que lhe era confiada. Ardendo em desejo de construir a Nova Civilização do Dia, esperou o momento oportuno para fundar uma religião.
b) O ALVORECER DA NOVA CIVILIZAÇÃO A Grande Transição da Noite para o Dia começou a ocorrer, propriamente dita a partir da ocasião em que o Fundador esteve no Templo Nihon-ji, mas ele disse que o primeiro passo do Alvorecer fora dado há mais de setecentos anos. Resumindo sua explicação sobre o mistério que envolve a mudança da cultura, podemos dizer que a verdadeira civilização que encaminhará os seres humanos à felicidade nascerá no Oriente e deverá chegar ao Ocidente. Analisando a história do mundo, constatamos que, principalmente a partir da Era Moderna, a cultura ocidental tem invadido o Oriente. Em conseqüência, o mundo atingiu um grande progresso material, mas o homem não alcançou a felicidade. Como prova da grave falha existente na cultura até o momento, o Fundador levanta o fato de que a humanidade tem se tornado mais infeliz do que feliz. Eis a causa que aponta para o fenômeno: “Até hoje, havia pontos em que a Verdade não estava bem esclarecida; assim, pensando tratar-se da Verdade, muitas vezes o homem pregou Pseudo-Verdades”. E o Fundador explica que a nova civilização que exterminará o sofrimento da humanidade, trazendo Saúde, Riqueza e Paz, será transmitida do Leste para o Oeste, tal como acontece na Natureza, em que o Sol e a Lua despontam no oriente e descrevem órbita em direção do ocidente. No caso do Japão, a cultura transmitida desde os tempos antigos até a Era Medieval veio do Continente Asiático. Dentro do próprio país, as diversas ramificações do xintoísmo e do budismo - se pensarmos no Japão dividindo-o em leste e oeste - nasceram no oeste e foram transmitidas para o leste. Refletindo sobre esses acontecimentos históricos, o Fundador descobriu um profundo significado no
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– O mais antigo Livro de História existente no Japão.
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fato de Nitiren ter nascido num estado do leste e aí fundado uma religião. Ele interpretou isso como indício de uma nova realidade: a verdadeira civilização é transmitida do Oriente para o Ocidente. Depois de estudar em diversos locais durante mais de dez anos, a começar pelo Monte Hiei, Nitiren adquiriu a certeza de que o “Hoke-Kyo” era o último livro de sutras de Sakyamuni e também o de mais alto valor. Assim, solidificou a decisão de difundi-lo e voltou para Awa, sua terra natal, situada em Kominato, no Estado de Tiba. Subiu, então, ao Monte Kiyossumi, localizado nas proximidades, e, entoando as palavras “Myo-ho-ren-gue-kyo” (95) em direção do Sol, que estava para nascer no Oceano Pacífico, declarou fundada a Religião Nitiren. Começou, a partir daí, a sua incansável divulgação do “Hoke-kyo”. Interpretando espiritualmente esse fato relacionado a Nitiren, o Fundador explicou que era o prenúncio da aproximação do Mundo do Dia, da chegada do momento oportuno no ciclo da movimentação celeste; representava, também, uma claridade bem fraca e pequena, como aquela que se tem antes do momento em que o Sol está prestes a nascer. Assim, o primeiro raio da Luz do Oriente foi lançado por Nitiren. Mas ainda era cedo para se planejar a transformação do Mundo. Através da Revelação Divina, o Fundador tomou conhecimento de que ele é quem lançaria o raio seguinte, que seria definitivo.
c) ESTABELECIMENTO DO JOHREI (1ª fase) Depois de ter recebido a Revelação Divina, o Fundador, solidificando ainda mais a sua convicção e compenetrando-se profundamente do sentimento de missão, empenhou-se em salvar as pessoas do sofrimento que as afligia. O núcleo e também a força motora dessa salvação foi o Johrei, que passou por diversas modificações até ser estabelecida a sua forma definitiva. A fonte do poder manifestado pelo Fundador foi-lhe atribuída por Deus na Revelação de 1926. Desde então, ele teve de percorrer um longo caminho, à procura de uma forma para manifestar esse poder de salvação. Através de experiências e da Providência Divina, foi arquitetando e intuindo diversas formas, avançando cada passo com firmeza. Esse era o caminho que Deus lhe reservara. No período inicial - por volta de junho de 1930 - de acordo com os registros feitos por Shinjiro Okaniwa, que servia ao lado do Fundador, o Johrei começava com a entoação da oração “AmatsuNorito”; em seguida, depois de uma reverência com as mãos unidas, pressionava-se a região enferma com os dedos, passava-se nela a palma da mão e, por fim, soprava-se o local. Um pouco mais adiante, por volta de 1932, estendia-se a palma da mão em direção da pessoa e entoava-se em silêncio, três vezes, a oração da contagem dos números sagrados. Outra forma consistia em escrever-se no ar, com o próprio dedo, a certa distância da pessoa: “Que esse interior seja purificado”, e outras palavras desse gênero. Às vezes, utilizava-se, paralelamente, o poder do Espírito da Palavra. Por exemplo: no caso de uma pessoa com dor de cabeça, falava-se: “Dor de cabeça, deixe esta criatura”, e dava-se um sopro. Além destes, empregava-se também o seguinte método: depois de se fazer a prece com as mãos unidas, levantava-se a mão em direção da pessoa e, ao mesmo tempo, dava-se um sopro, que era a materialização da ação do Deus da Purificação, o qual exorciza e purifica os crimes e pecados. Mais tarde, o Fundador disse: “Tempos atrás, quando eu curava doenças e me perguntavam com quem eu aprendera aquilo, eu respondia: “Aprendi com a Grande Natureza”. O meu professor é, em primeiro lugar, a Grande Natureza, e em segundo, o doente. Aprendi muito na prática da cura de doenças”. Através da ministração diária do Johrei em grande número de pessoas portadoras das mais diversas enfermidades, o Fundador, concentrando o seu pensamento na figura e na ação da Grande Natureza, esforçou-se em empregar as Leis do Céu e da Terra naquele ato sagrado, onde foi introduzindo uma atitude muito natural do homem: colocar a mão no lugar dolorido. Baseava-se em que a mão é o lugar onde o homem consegue concentrar melhor a sua vontade e também no fato de que, quando sacudimos alguma coisa, manifesta-se um poder espiritual. É incontestável que isso se liga ao “tamafuri” (sacudir um espírito destruído, fazendo-o renascer), mencionado nos livros clássicos. Assim, somando diversas pesquisas, buscando conhecer a Vontade Divina e fazendo-o passar por inúmeras modificações, o Fundador estabeleceu, em maio de 1934, a forma do Johrei atribuído por (95)
– O mesmo que “Nan-myō-hō-ren-gue-kyō”. (V. nota 1)
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Deus. Entretanto, na época, o método ainda não tinha esse nome. Até aquela data, chamava-se “tinkon”; depois, recebeu o nome de “shijutsu” (técnica de aplicação). Posteriormente ao “Primeiro Caso Tamagawa” (96), quando o Fundador reiniciou suas atividades, em outubro de 1937, passou a ser chamado de “tiryo” (tratamento). Após a Segunda Guerra Mundial, em agosto de 1947, o Fundador instituiu a “Nipon Kannon Kyodan” (Entidade Religiosa Kannon do Japão), e o método recebeu o nome de “okiyome” (purificação). Só meses mais tarde seria chamado de Johrei. Na época em que se desenvolvia o estabelecimento do método do Johrei, ocorreu o seguinte episódio: Certo dia, quando Yoshihide Takei, diretor da filial situada na cidade de Omiya, no Estado de Saitama, visitou o Fundador, este lhe disse: “Sr. Takei, hoje eu vou permitir que o senhor aplique uma vez o tratamento através do Espírito da Palavra. Experimente”. Naquele exato momento, Tomozo Hida, amigo de Takei e dono de uma loja de saquê em Assagaya, no Distrito de Suguinami, Tóquio, veio receber Johrei, em virtude de uma forte dor de barriga. Imediatamente, Takei lhe disse: “Sr. Hida, deite-se aí. Hoje quem vai lhe fazer o tratamento sou eu”. E, fazendo-o deitar-se, aplicou o método purificador que recebera. Primeiramente, disse: “Dor de barriga, deixe o Sr. Hida”, depois, soprou o local enfermo e, timidamente, perguntou: “Como está?”. O comerciante ficou bastante surpreso ao constatar que a dor que sentia ainda há poucos instantes atrás passara sem deixar o menor vestígio. Com um respeito ainda mais profundo pelo Fundador, que havia conferido tal poder a Takei, também decidiu dedicar-se exclusivamente à sagrada tarefa de salvar as pessoas através do Poder de Deus. Abandonando sua profissão de comerciante, tornou-se discípulo do Fundador e ofereceu uma devotada dedicação à Obra Divina na época em que o Mestre residia no bairro de Koji. Naquela época, o Fundador dedicava-se intensamente ao tratamento por meio do Johrei, hospedando muitos doentes no Shofu-So. Além disso, usava também seus filhos, nas experiências que fazia. Na ocasião, somando Kunihiro, nascido em 24 de março de 1932, ele tinha seis filhos: três meninos e três meninas. A respeito desse tempo, Mihomaro, seu segundo filho homem, nos conta: “Na época em que residíamos em Omori, havia lá muitos doentes em estado que requeria internação”. Eram portadores de doenças mentais ou tuberculose, e nós convivíamos com eles. Meu pai, tomando-os como base de suas experiências, ministrava-lhes Johrei todos os dias, fazendo várias pesquisas. Eu também tinha um organismo frágil e sempre recebia Johrei. Paralelamente, meu pai fez experiências dando-nos de comer apenas legumes e verduras, a mim e a meus irmãos; dessa forma, ele comprovou como uma pessoa se torna forte e saudável com esse tipo de alimentação. Parece que, através dos filhos, fez pesquisas que não poderiam ser feitas com pessoas que não fossem de sua família. Nessa época, fui acometido várias vezes de parotidite e sofri intensamente. Lembro-me de que ele fez uma experiência para saber o grau de diferença no processo da cura: não fazer nada, deixando a doença a cargo da natureza, ou ministrar Johrei. Meu pai também dava de comer àquele grande número de doentes, estudando bastante o cardápio. Por isso, a nós, crianças sadias, não eram permitidas nenhum luxo, e só podíamos comer peixe de vez em quando. “Todos os dias chegavam muitos doentes, que às vezes ocupavam até o quarto das crianças, mas ele ministrava Johrei nessas pessoas com todo amor”.
d) ESTABELECIMENTO DO JOHREI (2ª fase) Assim, em contato com grande número de doentes e curando diversos tipos de enfermidades, o Fundador foi descobrindo, pouco a pouco, a forma de Johrei que estava de acordo coma Vontade Divina. Ao mesmo tempo, descobriu a “Lei da Purificação”, profundamente relacionada com o Poder Divino do Johrei.
(96)
– Antes da Segunda Guerra Mundial, por duas vezes – em 1936 e em 1940 – o Fundador prestou depoimento na delegacia de Tamagawa, por suspeita de ter infringido as leis da Medicina. Em 1936, ficou preso durante dois dias, e em 1940, durante três . Esses acontecimentos são conhecidos, respectivamente, como Primeiro e Segundo Caso Tamagawa.
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Deus lhe revelou que a doença, considerada por todos como algo terrível, na verdade é uma ação de limpeza do interior do corpo humano e, ao invés de ser prejudicial à saúde, é algo alentador, que torna o homem verdadeiramente saudável. A isso o Fundador chamou de “ação purificadora”. O homem, enquanto vive, acumula impurezas. As impurezas externas são retiradas com uma limpeza, como o banho, por exemplo; quanto às internas, em princípio, deveriam ser expelidas por uma ação fisiológica. Entre elas, porém, existem partes que não conseguem ser expelidas, permanecendo no corpo. Quando esses resíduos atingem certo grau, começa uma ação eliminadora, com o trabalho do poder natural de cura que o próprio organismo possui. Esse processo é acompanhado de sofrimento. Eis a realidade do que se chama doença. Assim, a purificação é um processo da Grande Natureza para aumentar a saúde, representando uma grande bênção Divina. As impurezas do interior do corpo, em termos patológicos, são chamadas de toxinas, e em termos religiosos, máculas do espírito. A ação purificadora não surge apenas na forma de doença, mas também na forma de infortúnios, calamidades naturais etc.. Tudo isso é uma ação purificadora, com o término da qual a situação será melhor que antes. A esse respeito, o Fundador explicou: “É ótimo que nos aconteçam coisas boas. Mas as coisas ruins ocorrem para a nossa purificação, e, quando esta tiver chegando ao fim, é óbvio que tudo será melhor. Por isso, tanto umas como outras são boas. Estar doente também. Essa é a verdadeira paz de espírito”. O Johrei elimina as máculas espirituais, que são a causa fundamental de todos os sofrimentos, e acelera a ação purificadora. Como resultado, de acordo com a Lei do Espírito Precede a Matéria, se houver impurezas acumuladas no interior do corpo humano, o Johrei as expelirá, amenizando o sofrimento causado por todos os tipos de problemas e conduzindo o homem à felicidade. Sendo assim, o Fundador afirma: “O objetivo do Johrei não é curar doenças. O Johrei é um método criador de felicidade. Isto por que a doença também é uma purificação e sua origem é a ação eliminadora das máculas do espírito. Mas não é só. O Johrei é uma ação que acaba com todos os sofrimentos do ser humano”. Até o início da Era Taisho, o Fundador contraiu diversas doenças; vitimado por tuberculose e tifo intestinal, esteve à beira da morte. Por isso, temia a doença, chegando mesmo a desejar ser amigo íntimo de algum médico. Entretanto, esse pensamento foi se modificando aos poucos, e mais tarde ele veio a experimentar verdadeiro horror pelas toxinas resultantes do uso de remédios acumulados. Além disso, desde que entrou para o mundo da Fé, recebeu de Deus grande poder e inteligência, e seu pensamento em relação à doença sofreu uma modificação de cento e oitenta graus. “Sendo a doença Uma ação para purificar O corpo e a alma, Ela é a maior Bênção de Deus.” “A ação que purifica As criaturas possuidoras de muitas máculas É a tábua Da verdadeira salvação.” Assim, nos poemas que compunha, o Fundador empenhava-se ativamente para a salvação do próximo. Na Era Taisho, como qualquer ser humano, ele deparava com muitos sofrimentos e, ultrapassando-os um a um, compenetrara-se na busca do que é a Verdade, na vida humana. Recordando o seu próprio caminhar, conscientizou-se mais uma vez de que as experiências por que passara eram imprescindível para poder salvar as pessoas. Ele exprimiu o poder de salvação do Johrei - a Luz de Deus - com a expressão “Radiação do Espírito Divino”. Existem episódio que provam o grande poder espiritual do Fundador nessa época. Um deles aconteceu em agosto de 1929. Yamamuro, seu primeiro discípulo, que se empenhou no trabalho de difusão nas proximidades do bairro de Koji, localizado no centro de Tóquio, ficou espantado ao ver que o leque que lhe dera emitia uma Luz Espiritual, e imediatamente lhe relatou o fato, conforme já dissemos em páginas anteriores.
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No dia 04 de janeiro de 1934, aconteceu um fato interessante: Depois de passar os três primeiros dias do Ano Novo muito atarefado, o Fundador estava no jardim de sua casa, em Omori, empinando um papagaio que havia comprado no dia anterior. O grande papagaio com o desenho de Dharma ia subindo pelo límpido céu de inverno. De repente, olhando para o céu, Shinjiro Okaniwa, que ocasionalmente havia saído para o jardim teve uma surpresa: o papagaio, com um aspecto imponente, emitia raios de luz violeta para todos os lados, como acontece com os fogos de artifício, num raio de mais ou menos 2 metros. Ele chamou todo mundo para ver, gritando bem alto. As pessoas ali reunidas disseram que, ao contemplar aquela luz, chegaram a estremecer, emocionadas com a sua magnificência. Nisso, o Fundador disse a alguém: “Segure um pouco, que eu vou ao toalete”, e entregou o cordão do papagaio a essa pessoa. A maravilhosa luz apagou-se instantaneamente. Entretanto, quando ele retornou e pegou o cordão, novamente ela se expandiu no céu. Okaniwa, que estava ao seu lado, perguntou admirado, o razão daquele fato misterioso. Muito tranqüilamente, o Fundador respondeu-lhe: “Não é nada de mais. A Luz que se irradia do meu corpo, passa da mão para o fio e, chegando ao papagaio, não tem mais campo para ser transmitida. Começa, então, a irradiar-se. É só isso”. E todos ficaram ainda mais admirados. Esse poder espiritual conferido ao Fundador por Kannon tinha profunda relação com o fenômeno da Transição da Noite para o Dia. Enquanto era Noite no Mundo Espiritual, o Mundo Material também estava num período de trevas, como acontece à noite. Entretanto, assim como ao nascer do dia o Sol brilha intensamente, também o Mundo Espiritual fica todo iluminado. Conseqüentemente, à medida que a Transição avança nesse mundo, o poder de Deus aumenta cada vez mais e, obviamente, o fenômeno causará grande influência no futuro da humanidade. É que, na medida em que o Mundo Espiritual se torna Dia e a Luz aumenta o bem e o mal são focalizados pela Luz do Dia, sendo revelados nitidamente; chegou o momento em que as pessoas têm de purificar os pecados cometidos e lhes é exigido que paguem por eles. A isso, Jesus Cristo referiu-se com as expressões “Juízo Final” e “Fim do Mundo”, e Sakyamuni, com as expressões “Destruição de Buda” e “Destruição da Lei”. Essa verdade foi apreendida pelo Fundador com base na Revelação Divina e por isso é de uma natureza que supera explicações e compreensão teórica. “Sagrado é o Deus Que com o nome de Kannon Salva o mundo.” “Kannon, Messias, Miroku, Komyo Nyorai. Os nomes diferem, Mas Deus é um só.”.
3. SEGUINDO UNICAMENTE O CAMINHO DA SALVAÇÃO DOS HOMENS a) COMO MISSIONÁRIO Desde o início da Era Showa, a Omoto colocava grande empenho em campanhas de reformulação de ideais, tal como a Campanha da Fraternidade Humana. Tinha como diretriz reformular o pensamento de toda a sociedade e construir um novo mundo, ao invés de minorar o sofrimento em nível individual. Conseqüentemente, o Fundador, que curava as doenças por meio do Johrei e se dedicava de corpo e alma à salvação daqueles que sofriam, passou a seguir o seu próprio caminho. Certo dia, por volta de 1931, o responsável pelas campanhas ideológicas da Omoto lhe disse: “Sr. Okada, é muito bom curar doenças. Mas não é bom que faça apenas isso. Gostaria que o senhor se
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empenhasse nas campanhas”. Não recuando nem um passo, ele respondeu: “Sei disso muito bem. Mas eu recebo pedidos de vários lugares e por ora não tenho tempo para campanhas. Além do mais, acho que, no momento, o mais importante é salvar as pessoas que estão sofrendo. Com as campanhas não é possível salvá-las de forma direta”. O Fundador, que, na época exercia o cargo de divulgador na Omoto, em verdade não estava negligenciando as campanhas ideológicas. Quando ele fazia palestras nas filiais, sempre falava sobre essa atividade. Entretanto, ao mesmo tempo em que a desenvolvia, não era nada pequeno o entusiasmo que colocava na ajuda às pessoas através do Johrei, mesmo sabendo das críticas e censuras que receberia. No seu diário de 1931 ele escreveu: “A Obra Divina vai ficando Cada vez mais pesada. Meu corpo e minha mente Estão exaustos.” “Chegam seguidos doentes, Mesmo antes que eu possa Abrir os olhos. Estou ficando muito atarefado.” Nessa época, o Fundador ia à casa dos membros ou então orientava aqueles que o procuravam, esquecendo-se até do transcorrer das horas. Além disso, ministrava Johrei nas pessoas, dedicando-se à obra de salvação do homem e do mundo como missionário. Era a própria figura do crente que praticava os Ensinamentos de Kannon, como expressam as palavras “wako dojin”, cujo sentido é “ocultar as próprias virtudes e forças e lançar-se à salvação das criaturas”. No seu diário, entre 1929 e 1931, constam os seguintes poemas: “O Senhor X vai embora Contente e orgulhoso Da Obra Divina Que Ihe expliquei Durante cinco horas.” “Meu resfriado Ainda não passou. Como sofro indo Para lá e para cá, Nas noites de frio!” “Talvez por falta de dormir, Hoje, o dia inteiro, Não tive muita disposição.” “Por causa do resfriado Que peguei desde ontem, Indisposto apliquei o “tinkon” Em grande número de pessoas, E estou exausto.”. “Com a permanência De cinco a seis fiéis, Passamos a noite Em claro, falando Sobre os benefícios da Fé.”
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Em abril de 1932, Tomozo Hida, que ficara curado de uma dor de barriga e deixara o comércio de saquê para se tornar missionário, estava fazendo dedicação numa casa em Omori. Informado de que seu sobrinho, residente em Nanao, no Estado de Noto, havia contraído pneumonia e se encontrava em estado grave, foi lhe ministrar Johrei. Sentindo, porém, que seu poder não era suficiente em face da situação do enfermo, voltou para Tóquio e pediu ao Fundador que fosse até aquela localidade. Este teve o pressentimento de que, embora fosse ministrar Johrei na criança, ela não se salvaria. Entretanto, sabendo do amor de Hida pelo sobrinho, atendeu ao seu pedido. Às vinte horas do dia 8 de abril, ele pegou um trem noturno em Yokohama, rumo a Noto, tendo chegado à casa da família Assai às quatorze horas e trinta minutos do dia seguinte. Depois de ministrar Johrei no menino por três vezes, este apresentou melhoras. Sendo assim, o Fundador partiu nessa mesma noite, às vinte horas. Passou por Ayabe e no dia 12 retornou a Tóquio. Na manhã do dia 14, chegou um telegrama dizendo que o estado da criança se agravara, e novamente ele foi até Noto, viajando no trem noturno. Tempo depois, disse a Hida: “Na primeira vez que vi o menino, achei que ele não se salvaria, mas senti tanta pena dos familiares que estavam cuidando dele com tanto empenho, que não tive coragem de dizer-lhes que não havia mais jeito”. Pensando que talvez a criança pudesse se salvar, o Fundador mesmo atarefado como era, conseguiu tempo e foi duas vezes à longínqua cidade de Nanao. Entretanto, o menino faleceu no dia seguinte ao seu retorno daquele local pela segunda vez. Os fatos ocorridos nesse ínterim estão registrados no diário do Fundador:
“Fazendo baldeação em Maibara, Cheguei a Nanao, no Estado de Noto, Às duas e meia da tarde.” “Com três aplicações do “tinkon”“. A criança ficou bastante aliviada Eu e seus pais ficamos muito felizes.”. “A doença do enfermo recuou, Mas eu me preocupo Com a sua grande fraqueza.” Aproximadamente um mês depois, nos meados de maio, não se importando mais uma vez com as dificuldades de transporte, o Fundador foi ministrar Johrei numa cidade do interior do Estado de Tiba, onde pernoitou. Yoshi Kawagoe, uma fiel residente no bairro de Koji, em Tóquio, viera pedir-lhe que salvasse Koshikawa X, um cunhado seu que sofria de epilepsia e morava na Vila Azuma, situada na circunscrição de Issumi, naquele Estado. Na tarde do dia 14 de maio, o Fundador partiu da Estação Ryogoku, tendo chegado às dez e meia da noite à casa dos Koshikawa, uma família agricultora do interior. Assim que chegou, ministrou Johrei no enfermo. Pela manhã, logo que acordou, ministrou mais uma vez, retornando a Tóquio no mesmo dia. “Por volta das dez e meia da noite Cheguei à casa dos Koshikawa, Agricultores residentes no interior”. “Deixei a casa dos Koshikawa Por volta do meio-dia E, desembarcando na Estação Ryogoku, Fui ao bairro de Koji”.
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b) SALVAÇÃO ATRAVÉS DAS PINTURAS E ESCRITAS A partir de 1929 ou 1930, atendendo aos pedidos dos fiéis, o Fundador começou a pegar o pincel para fazer caligrafias e pintar. Na época, centralizou esse trabalho nas imagens de Kannon, feitas em diversos tamanhos, desde pequenas pinturas em “shikishi” (97) até grandes quadros. Elas eram outorgadas aos fiéis como Imagem da Luz Divina, Proteção ou “Ohineri” (98). Além das imagens de Kannon, tinha como tema de pintura Sakyamuni, Dharma etc.. Às vezes, também pintava, em cores, paisagens representando a água, a montanha, a neve, a lua e as flores. O Fundador fazia esses trabalhos à noite. Nessa época, o número de pessoas que o procuravam era bem menor que o de tempos depois, e por isso, além de pintar e escrever, ele lia poemas e realizava outras tarefas. No seu dia-a-dia, em Omori, eram muitas, portanto as oportunidades que se lhe apresentavam de contatar com a Arte, apesar das dificuldades financeiras. Obviamente, ele não se dedicou às atividades artísticas por simples divertimento. Seu verdadeiro desejo era a salvação através dos quadros de caligrafia e pintura. Também por esse motivo é que as pinturas que assumiam o papel mais importante eram as imagens de Kannon, as quais tinham a finalidade de salvar. Especialmente depois da Revelação recebida em junho de 1931, as atividades de caligrafia e pintura tornaram-se, juntamente com o Johrei, uma parte muito importante da Obra Divina realizada pelo Fundador. Ele passou, então, a desenhar em papéis de tamanhos grande, médio e pequeno, próprios para desenho “Shikishi” e “tanzaku” (99). No diário dessa época estão registrados os nomes das pessoas que o procuravam e nas quais ele ministrava Johrei. Além disso, há muitos registros de oportunidades em que ele pegou o pincel para pintar imagens de Kannon.
No dia 21 de junho de 1931: ”Num raro domingo de folga Desenhei Kannon Num papel de aproximadamente Quarenta centímetros de largura.” No dia 29 de julho: “À noite, pintei, Em oito folhas de “shikishi”, Imagens de Kannon.”. No dia 28 de agosto: “Desde o entardecer Fiquei a desenhar Várias figuras de Kannon Em “hansetsu” (100) e “shikishi.”. No dia 13 de outubro: “Devido ao temporal, Fiz poucos “tinkon”. Desenhei grandes quadros De Kannon.”. (97)
– V. nota 84. – Pequena folha de papel de seda onde o Fundador pintava ou escrevia e depois dobrava. (99) – Papel estreito e comprido utilizado para escrever poemas ou fazer desenhos. (100) - Folha de papel cortada ao meio longitudinalmente. (98)
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Pelo conteúdo dos registros acima, podemos compreender que, nessa época, o Fundador não desenhava as imagens de Kannon apenas para outorgá-las aos fiéis. Em seu íntimo, talvez se preparando para a criação de uma nova religião, ele já o fazia visando à Imagem da Luz Divina na futura Sede. A Imagem de Miroku publicada na série de fotografias coloridas estampadas no início deste livro foi pintada nesse tempo. Ao invés do sinete “Jikan”, usado mais tarde, o Fundador usava “Kiguetsu”, que significa “Sol e Lua” e simboliza a ação de Kannon. Ele o usou até 1934, quando se afastou da Omoto. A partir de 1934, passou a usar o sinete “Jikan”. Além das imagens de Kannon que ele desenhava para serem usadas como Imagem da Luz Divina, havia as que se destinavam a serem usadas como proteção. Relatam-se diversos episódios misteriosos sobre as imagens de Kannon desenhadas pelo Fundador. Muitas pessoas viram uma luz irradiar-se dessas imagens sagradas; houve, também, quem visse a imagem sorrir, abrir e fechar os olhos, sair do quadro e andar alguns metros. Dizem até que aconteceram milagres, como, por exemplo, ver-se a Luz irradiada pela Imagem de Kannon entronizada no andar de cima de uma residência alcançar a parte de baixo, e uma nuvem de cinco belas cores flutuar, transformando o lar em que ela fora entronizada num verdadeiro paraíso. Na filial de Omiya, no Estado de Saitama, Shizu, filha do dono de uma loja de roupas, ficara neurótica depois do parto, mas, entronizando em sua casa, a Imagem de Kannon, restabeleceu-se por completo depois de apenas três dias. Quando ela fez reverência diante da Imagem, Kannon saiu do quadro e, aproximando-se da enferma, deu-lhe diversas orientações, graças às quais ela pôde voltar ao normal. As imagens de Kannon desenhadas pelo Fundador tinham o rosto mais branco que as outras partes do corpo. Na época em que ele residia no Shofu-So, em Omori, sua casa era freqüentada por um moldurador de quadros. Certa vez, quando este fazia um serviço aí, apareceu um indivíduo que trabalhava no mesmo ramo e que, admirando a Imagem de Kannon, perguntou: “Esse rosto foi polvilhado de branco, não foi?” Entretanto, ao esfregar-lhe o dedo, ficou estupefato. E os milagres não foram apenas esses. Muitos outros poderiam ser relatados. No registro feito no diário no dia 12 de agosto de 1931, consta: “Nesta tarde, Pude desenhar, Pela primeira vez, Onze Kannon Para protetores de veículos.“ Na ocasião, o setor de automóveis da Companhia de Energia Elétrica da cidade de Tóquio tinha feito ao Fundador um grande pedido de protetores para ônibus. Por se tratar de uma época em que estes veículos finalmente se tornavam populares, ele aceitou de bom grado o pedido, motivado pelo desejo de evitar acidentes de trânsito. Imediatamente, ordenou a um profissional que abrisse um pequeno buraco no centro de umas longas placas de metal onde colocou imagens de Kannon desenhadas em papel. Foi assim que ele confeccionou os protetores de veículos. No dia 30 de setembro, encontramos registrado no seu diário: “Atendendo ao pedido De protetores para carro, Feito pela Companhia de Energia Elétrica da cidade, Passei a noite inteira Confeccionando-os respeitosamente.”
No diário do dia 2 de outubro, consta o seguinte:
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“Hoje, mandei entregar trinta protetores De veículos para a Companhia de Energia Elétrica.”. O Fundador mandou entregar os trinta protetores no escritório de Shinjuku, pedindo que pendurassem cada modelo na parte da frente do volante dos ônibus e verificassem qual era a incidência de acidentes. Segundo Seitaro Shimizu, o setor de veículos daquela companhia informou que os acidentes acabaram por completo, depois que se colocaram os protetores. Devem ter sido feitos novos pedidos posteriormente, pois no dia 19 de maio de 1932 consta registrado o seguinte poema: “Fiquei a confeccionar, Com quarenta e cinco pessoas, Até tarde da noite, Os protetores contra acidentes de trânsito Para serem colocados nos ônibus municipais.” Nessa época, como já dissemos antes, atendendo aos pedidos que lhe faziam, o Fundador confeccionava os “ohineri” e os outorgava aos fiéis. “Para dar a Magara, Matsuhissa e Shinozaki, Desenhei três Kannon Para confeccionar o “ohineri.”. Naquele tempo, também se confeccionava “ohineri” na Omoto, mas o Fundador, separadamente, escrevia-os de seu próprio punho. No início, só desenhava imagens de Kannon, mas depois passou a escrever “Hikari” (Luz) em “hiragana” (101) e, por fim, em “kanji”(102). Através do “ohineri”, muitos fiéis ficavam curados de suas doenças e recebiam grandes graças, de modo que havia muitos pedidos. Assim, alguns anos antes da fundação da Igreja Messiânica Mundial, o Fundador já desenvolvia a salvação através das pinturas e escritas, juntamente com o Johrei.
(101) (102)
– Sinais gráficos que são usados na língua escrita japonesa e que, por si só, não tem sentido. – Ideogramas japoneses.
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CAPÍTULO IX
CAMINHO DA SALVAÇÃO DO MUNDO
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1. CHEGADA DO MOMENTO OPORTUNO a) CRISE INTERNA E EXTERNA Em outubro de 1929, houve a grande queda no mercado de Wall Street, em Nova Iorque. Isso foi o estopim da crise econômica que envolveu todos os países do mundo durante vários anos, tornando-se a maior crise de toda a História. Nos Estados Unidos, fábricas e casas comerciais abriram falência, e em 1933 o número de desempregados chegou a quinze milhões, decaindo para um terço a renda dos agricultores. Na Alemanha, a situação econômica piorou extremamente e a vida do povo tornou-se bastante difícil; em 1932, até as indenizações pagas a outros países pelos danos causados na Primeira Guerra Mundial foram cortadas. Junto com essa onda de confusões surgiu o nazismo, liderado por Hitler, que, em 1933, assumindo o poder como Primeiro Ministro, começou a espalhar o tumulto por toda a Europa. O Japão vivia uma situação difícil desde o início da Era Showa. Em 1929 foi produzido o filme intitulado “Saí da Universidade, mas...”, filme esse que mostrava a queixa dos estudantes da época, os quais, malgrado o esforço que faziam para se formar, não conseguiam emprego. Nisso, irrompeu a grande crise econômica, a maior de todos os tempos. A seda, principal produto de exportação da época, sofreu um duro golpe logo de início, em 1930, acarretando a baixa do preço de outras mercadorias e a elevação do número de desempregados, que, naquele ano, chegou a três milhões. O governo tentou combater essa grande crise com todas as suas forças, objetivando, em especial, um tratado com a China, para incrementar o comércio; planejou, ainda, a diminuição dos armamentos, fazendo um grande corte na verba destinada às questões militares. Entretanto, essas medidas geraram o descontentamento dos militares e dos direitistas e causaram desconfiança em relação ao governo, dando origem a uma revolução política através da força. Em novembro de 1930, o então Primeiro Ministro Ossati Hamaguti foi gravemente ferido por um jovem de extrema direita, na Estação Ferroviária de Tóquio. Nessa época, centralizada no problema da Manchúria, era intensa a atuação oculta de um grupo de militares, através de cujos planos se produziu a Guerra da Manchúria, em setembro de 1931, e a Guerra de Shang-Hai, em janeiro de 1932. Neste mesmo ano ocorreu o assassinato de autoridades governamentais e grandes empresários; no dia 15 de maio, um grupo de militares assassinou o Primeiro Ministro Tsuyoshi Inukai: é o conhecido “Caso 5.15”. Nesse dia, chegando a Tóquio, de volta da casa da família Koshikawa, no Estado de Tiba, e sabendo desse acontecimento, o Fundador escreveu: “Surpreendi-me Com a morte de Inukai E outros fatos Tenebrosos e repentinos”. Em março de 1932, a Manchúria tornou-se colônia japonesa, mas o Japão, não recebendo a aprovação dos grandes países, em março do ano seguinte saiu da Sociedade das Nações, tornando-se “órfão do mundo”. Por essa época, pouco a pouco a democracia foi sofrendo opressões, e tudo que tinha aspecto liberalista começou a desaparecer. Através de denominações como “Estado de emergência” e “Unificação do País”, o Japão vai entrando na época do militarismo. No dia 26 de fevereiro de 1936, ocorreu um golpe de estado que foi chamado de “Caso 2.26”; a partir daí o país caminha para a Segunda Guerra Mundial. Nessas condições sociais, a Omoto colocava grande empenho nas campanhas ideológicas, ao passo que o Fundador, como já dissemos, dedicava-se mais à cura de doenças, pois considerava que o mais importante era salvar de forma concreta aqueles que estavam sofrendo. A pedido dos fiéis, confeccionava-lhes amuletos e “ohineri”. Entretanto, no que diz respeito à distribuição de jornais, a filial de Omori, que estava sob a sua responsabilidade, sempre se colocava à frente das outras, obtendo surpreendentes resultados. Todos esses fatores fizeram com que alguns dirigentes e fiéis da Omoto fossem acumulando maus sentimentos em relação a ele, como mal-entendidos, menosprezo e inveja, e
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passassem a tratá-lo como intruso. Isso tomaria vulto, transformando-se num movimento de rejeição à sua pessoa. Em meados de março de 1931, chegou ao conhecimento da Omoto que o Fundador estava distribuindo “ohineri”. Por esse motivo, um dos diretores da Igreja foi por conta própria à filial de Koji, situada em frente a Hanzo-Mon, e repreendeu-o publicamente. Além de ofendê-lo perante um grande número de fiéis, queimou no braseiro os “ohineri” feitos por ele. Um dos seus discípulos assim se refere à situação: “Naquele momento, vendo o Fundador passar tanta vergonha na frente dos fiéis, senti muita pena dele. Entretanto, ele agüentou tudo quieto, sem dizer uma palavra”. Os problemas iniciados com o caso dos “ohineri” não pararam aí. No ano seguinte, pareciam aumentar cada vez mais. No dia 11 de fevereiro de 1932, um jovem fiel da Omoto chamado Yoshikawa visitou o Fundador, em Omori, como costumava fazer de vez em quando, há aproximadamente meio ano, atraído pela sua hospitalidade. Ele fora membro do Partido Comunista, mas depois se desligou e ingressou na Omoto. Tinha uma fisionomia tão severa, que provocava medo; aliás, já nos tempos do Partido Comunista era temido por muitas pessoas. Naquele dia, ele apresentava uma atitude completamente oposta ao seu habitual comportamento amigável para com o Fundador. Enfurecido, dizia para si mesmo: “Okada esta distribuindo aos fiéis os sagrados amuletos e “ohineri” sem pedir ordem a ninguém. É um homem desprezível que perturba a ordem da Omoto. Por isso, conforme o caso vou matá-lo”. Assim que encontrou o Fundador, Yoshikawa puxou uma faca e, fincando-a no chão, falou: — Você vai ou não vai parar com isso? Se não parar vou acabar com sua vida! Responda! O Fundador, calmamente, respondeu: — Não posso parar. Yoshikawa olhou-o com ódio. Entretanto, nesse momento, pôs a mão no ventre e começou a se contorcer de dor. - O que foi? Perguntou o Fundador. — Estou com uma dor insuportável na barriga, respondeu ele gemendo. - Vou curá-lo; deite-se, disse o Fundador. E ministrou-lhe Johrei. Quando a dor passou, Yoshikawa, numa atitude completamente diferente, propôs que os dois fossem juntos à Sede de Kameoka, pedir a opinião de Onissaburo Deguti. Uma semana depois, no dia 17, ambos foram até aquela sede, levando Seitaro Shimizu e Mitsuo Massaki. Quando Yoshikawa expôs o caso dos amuletos e “ohineri”, Deguti falou: “Isso não pode ser feito por um fiel. Eu mesmo não posso fazê-lo; quem está encarregado dessa tarefa é o terceiro líder da Omoto. Entretanto, agindo com mais discrição, não há problema. Caso você o faça muito abertamente, quem terá problemas serei eu; todos irão me censurar. Se as pessoas pedirem, pode dar, mas aja de forma discreta”. Diante dessa resposta tão inesperada, Yoshikawa ficou sem fala. A reação de Onissaburo Deguti era mais uma prova de que, no íntimo, ele reconhecia o elevado nível espiritual do Fundador, a quem considerava uma pessoa especial dentro da Omoto. Obviamente, a atitude de Yoshikawa não era uma atitude pessoal; representava a oposição existente na Omoto em relação ao Fundador. O caso foi resolvido com a interferência de Deguti, mas os ressentimentos e as hostilidades continuaram. Era natural, entretanto - devemos reconhecê-lo - que a Omoto, desenvolvendo suas atividades como entidade religiosa organizada, tomasse uma posição rigorosa em relação a ele que estava seguindo um caminho próprio, além dos limites permitidos. A causa direta que levou o Fundador a se desligar dessa Igreja foi a questão ocorrida em julho de 1934, em torno da distribuição do Jornal Aizen, órgão informativo da entidade. Insatisfeitos com o transcorrer dos acontecimentos, Issai Nakajima, Shinjiro Okaniwa, Seitaro Shimizu e Shiguenori Matsuhissa chegaram a uma decisiva discordância de opinião com um dos diretores da Omoto na Região Kanto. Esses discípulos do Fundador, que estavam sendo sempre advertidos no sentido de que se acautelassem, pediram perdão ao Mestre por terem causado esse problema. O Fundador considerou o fato como um descuido da parte deles, mas, ao mesmo tempo, captou fortemente a atuação de Deus por trás dos acontecimentos. Assim, assumindo a responsabilidade pela atitude de seus discípulos, decidiu afastar-se da Omoto. Entregou o pedido de afastamento no dia 15 de setembro. A partir daí, iniciou uma nova caminhada.
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b) PRESSÃO SOBRE AS NOVAS RELIGIÕES No período inicial da Era Showa, quando o Fundador percorria o seu próprio caminho pesquisando sobre o Mundo Espiritual e o estabelecimento do Johrei, o controle sobre as novas religiões aumentou ainda mais. Em 1882, o xintoísmo do Japão passara a abranger dois aspectos: santuários xintoístas e religiões xintoístas. Foram reconhecidas treze religiões, entre as quais a Tenri-Kyo e a Konko-Kyo. Até 1900 os dois aspectos estiveram sob a administração da Secretaria de Santuários do Ministério dos Negócios Internos; mais tarde, quando esta foi dividida em Secretaria de Santuários e Secretaria de Religiões, passaram a ser regulamentados separadamente. As entidades religiosas de linhagem xintoístas criadas depois disso, só eram reconhecidas legalmente se pertencessem a alguma das treze religiões oficiais, mas passavam a ficar sob rigoroso controle da polícia. De qualquer forma, naquela época as atividades religiosas não podiam ser desenvolvidas livremente. Essa tendência foi aumentando cada vez mais com a criação da Polícia Especial (103), em 1923, e com a decretação da Lei de Segurança, em 1925. Como resultado, qualquer movimento organizado que tivesse “o objetivo de revolucionar o país ou não reconhecer o sistema de propriedade particular” recebia severa punição. Com a instalação das delegacias de Polícia Especial, em 1928, foi instituído o sistema de total controle sobre as questões ideológicas e especialmente sobre as novas religiões. Entretanto, apesar de todos esses movimentos de segurança por parte das autoridades, havia, entre o povo, uma forte expectativa em relação às novas religiões, pois, como já dissemos as más condições financeiras do início da Era Showa e a grande crise que veio logo a seguir, tornavam difícil a vida da massa popular. Em meio à intranqüilidade social decorrente do desemprego, das falências e das controvérsias, o povo procurava um novo apoio para as suas esperanças. Convém dizer que, por trás do nascimento ou do crescimento de novas religiões no início da Era Showa, havia uma forte ansiedade popular em relação a elas. A pressão das autoridades era violenta, e uma das religiões mais pressionadas, na época, foi a Tenri Kenkyu-Kai (posteriormente chamada Tenri Hon’miti, e atualmente, Hon’miti). Essa Igreja tornara-se independente separando-se da Tenri-Kyo, que havia optado ser reconhecida pela Nação como religião xintoísta. Devido a sustentar um idealismo radical, as autoridades começaram a pressioná-la. Na primeira pressão, ocorrida em abril de 1928, houve quinhentos presos, dentre os quais cento e oitenta foram acusados de desrespeito à Nação. Nos anos 10 da Era Showa (1935 -1945), a tempestade das pressões ainda não apresentava nenhum indício de acabar. Pelo contrário, tornava-se ainda mais intensa. Em 1935, a Omoto, que já fora pressionada anteriormente, sofreu a segunda pressão. Em 1936, prenderam Tokuharu Miki, fundador da Hito no Miti (atual PL), e em 1937, os diretores dessa Igreja, que foi dissolvida por ordem do Ministério dos Negócios Internos. Entre todas, a Omoto foi a mais pressionada. No dia 8 de dezembro de 1935, trezentos policiais fardados invadiram suas instalações em Ayabe e Kameoka e, além de recolherem os documentos que serviam de prova, detiveram Onissaburo Deguti e todos os diretores. Sob a diretriz do Ministério dos Negócios Internos - “exterminar da face da Terra a Omoto, essa religião infernal” - as instalações da Sede foram destruídas com dinamite, e a entidade foi dissolvida. Temendo sua restauração as autoridades levaram os alicerces das instalações destruídas até o Mar do Japão e os jogaram nas águas. Os presos sofreram atrozes interrogatórios e ficaram detidos por longo tempo. Onissaburo Deguti e sua esposa Sumi a Segunda Líder da Omoto, permaneceram detidos durante seis anos e oito meses, até obterem a liberdade por meio de fiança. Milhares de fiéis também se tornaram alvo de investigações. Foi realmente uma grande pressão, inédita em toda a história moderna das religiões. Mesmo estando-se numa época tão difícil, o desejo de salvar o mundo, que nascera no íntimo do Fundador a partir da Revelação de 1926, continuava inabalável. A cada dia aumentava o número de pessoas que o procuravam em busca da salvação, e os acontecimentos à sua volta anunciavam a Vontade de Deus: “Está chegando o momento de você se levantar”. Embora soubesse perfeitamente que aquela era uma ocasião extremamente inoportuna para se criar uma nova religião, ao pensar nas pessoas que agonizavam em sofrimento surgia-lhe o desejo irrefreável de salvar a humanidade, (103)
– Possuía grande poder na administração direta do Ministério dos Negócios Internos e fazia total pressão sobre os crimes Ideológicos e os movimentos sociais. Em 1945 foi dissolvida pelas tropas de ocupação militar.
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custasse o que custasse. Era um desejo semelhante a uma oração que afluía do fundo de sua alma de forma totalmente irreprimível, por mais preocupado que ele estivesse com o seu próprio físico e as dificuldades da sua vida.
c) ABERTURA DA CASA OJIN-DO No dia 1o de maio de 1934, o Fundador deixou a esposa e os seis filhos no Shofu-So, sua residência em Omori, e alugou uma casa no bairro de Hiraga, quadra 1, no 2-4, no Distrito de Koji, à qual deu o nome de Ojin-do, ali iniciando as atividades de salvação. O Ojin-do era uma casa assobradada em estilo japonês, com uma área de 66 m 2 e cinco cômodos. Na entrada, o Fundador colocou uma placa com os seguintes dizeres: “Ojin-do - Tratamento Espiritual de Digitopuntura no Estilo Okada - Sede”, utilizando o andar de cima como local para as atividades da Obra Divina. A casa ficava perto do Ministério do Exército, num lugar de fácil acesso, entre Yotsuya e o Palácio Imperial. Nas proximidades, estava o Parque Shimizudani; era, portanto, um local tranqüilo, apesar de situado no centro da cidade. Koji é, de fato, o ponto central do Japão, próximo ao Palácio Imperial e abrangendo o Congresso Nacional. Há muito tempo que o Fundador pensava estabelecer-se ali. No Ojin-do, ele iniciou o tratamento religioso denominado “Tratamento Espiritual de Digitopuntura no Estilo Okada” (pressão com os dedos). Através das pesquisas sobre o Espírito Divino e a realidade dos mundos Divinos, Espiritual e Material, e também das descobertas que fez sobre a doença e a saúde, o Fundador adquiriu a certeza de que a cura por meio do Espírito Divino é o método vital para a concretização de um mundo sem doenças. A respeito da salvação através do Johrei, ele nos ensinou: “Ante a iminência do Fim do Mundo, recebi a grande missão de ser o dirigente supremo da obra de salvação de toda a humanidade e construir o Paraíso Terrestre, isento de doença, pobreza e conflito, de acordo com o Plano de Deus. Por isso, Ele me atribuiu absoluto poder de salvação, poder que consiste no conhecimento e na força para solucionar o problema da doença, que é o ponto vital para a eliminação da pobreza e do conflito. O conhecimento diz respeito à Ciência dos erros da Medicina e das teorias sobre a doença; a força refere-se ao poder de cura por meio do Johrei.“ Na inauguração do Ojin-do, o Fundador fez uma ampla distribuição de folhetos de propaganda. Neles, explicava o caminho que percorrera incansavelmente, desde a Revelação Divina, com o grande desejo de salvar o mundo, e falava também sobre o maravilhoso poder do Johrei.
PROPOSIÇÃO: “O Tratamento Espiritual de Digitopuntura no Estilo Okada, iniciado por mim, é uma decorrência da sensibilidade espiritual que repentinamente me foi atribuída há oito anos por Kannon, o qual me deu um grande poder para curar todo e qualquer tipo de doença. Objetivando cumprir a tarefa de corrigir os erros do mundo e salvá-lo, durante estes anos vim aplicando esse poder nos mais variados tipos de doentes, em número superior a mil. Os resultados alcançados foram verdadeiramente surpreendentes: as enfermidades mais sérias, os casos mais graves, como milagres de Deus, foram completamente curados. (...). Instalei um centro terapêutico em Koji, no centro da cidade imperial, e almejo alcançar o meu objetivo de salvar o mundo. Das entrelinhas desse texto aflui o sentimento do Fundador, mostrando que, terminada a sua pesquisa de oito anos, iniciada em 1926, e convicto de que chegara o momento oportuno, tão esperado, ele se erguia com o intenso desejo de salvar o homem e o mundo. Na época em que iniciou a ministração do Johrei, o Fundador já recebia doentes todos os dias, mas, graças aos milagres ocorridos, umas pessoas foram chamando outras. Graças, também, aos folhetos de propaganda, o número daqueles que o procuravam foi aumentando gradativamente, e o
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local começou a ficar pequeno. Então, três ou quatro meses mais tarde, mudou as instalações do Ojindo para a filial de Koji, que ficava perto. Entretanto, os folhetos de propaganda logo deram motivo a problemas com as autoridades, e o Fundador foi chamado à Polícia. No dia 28 de agosto de 1934, encontramos este poema registrado no seu diário: “De manhã cedo, fui à delegacia E me fizeram entregar O relatório sobre os folhetos.” Provavelmente fora um chamado decorrente de denúncia anônima. Presume-se que ele compareceu à delegacia de Koji, foi inquirido, e o caso ficou encerrado com a entrega do relatório. Desde que se mudou para o Ojin-do, o Fundador passou a ser servido por Teruyo e Hiromi, respectivamente mãe e irmã de seu discípulo Issai Nakajima; seu secretário era Motokiti Inoue. Vez por outra, ele chamava para lá a esposa e os filhos ou então ia para Omori, mas levava uma vida diária muito atarefada, dedicada ao Johrei.
2. PREPARAÇÃO PARA A FUNDAÇÃO DA IGREJA
a) A IMAGEM DO KANNON DE MIL BRAÇOS No dia 15 de novembro de 1934, o Fundador recebeu Orientação Divina para que desenhasse a imagem do Kannon de Mil Braços. Imediatamente fez o plano e iniciou os esboços. Pensando que, um dia, ela deveria ser usada como Imagem da Luz Divina da nova Igreja, resolveu fazer um quadro bem grande, de 1,50 metros de largura por 1,80 metros de comprimento. O Ojin-do, onde residia na época, era muito pequeno e não tinha um cômodo onde fosse possível pintar um quadro com tais dimensões. Entretanto, Maki Kanetaka, fiel que fora salva por ele, veio lhe dizer: “No segundo andar de minha casa, ficou pronto um cômodo de aproximadamente 10 m 2 que eu estava construindo para instalar a imagem de Kannon. Use-o sem cerimônia”. O Fundador ficou muito contente e a partir do dia 2 de outubro iniciou a confecção do Kannon de Mil Braços sentado sobre uma flor de lótus, em cima das nuvens. “A partir de hoje Ficou decidido desenhar O quadro de Kannon Na sala do segundo andar Da casa de Kanetaka.” A casa ficava em Akassaka Tamati, bem atrás do Santuário Hie, e era perto do Ojin-do. Três anos antes, por volta de 1931, Kanetaka era proprietária de um instituto de beleza chamado “Ruri”, onde empregava aproximadamente dez pessoas. Nessa época, ela era muito doente e, embora ainda estivesse na casa dos trinta anos, sua pele era áspera e escura, e seu rosto, bastante maltratado. Entretanto, depois que passou a receber Johrei com o Fundador, rejuvenesceu e tornou-se saudável, a ponto de parecer outra pessoa. Certa noite, Kanetaka tivera um sonho. Sonhou que fora para o Mundo Espiritual e que, quando estava para atravessar o Rio dos Três Caminhos, sentiu-se dominada por algo, ficando sem ação. Mas foi salva por Kannon, que surgiu brilhando ofuscantemente. Mais tarde, depois de ter sido salva pelo Fundador, ela tomou consciência de que o Kannon daquele sonho era ele, e, muito contente, passou a dedicar com todo fervor.
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No dia 11 de outubro de 1934, por volta das duas horas da tarde, um fotógrafo chamado Mitsuo Azuma foi ao Ojin-do pela primeira vez. Ao ler o seu cartão de visitas, o Fundador achou que o nome dele era muito interessante, possuindo relação com a Obra Divina, pois “azuma” significa “leste”, e “Mitsuo”, “homem de luz”. Em vista disso, atendeu-o imediatamente. Azuma começou a lhe falar com todos os detalhes sobre os fatos que o levaram a visitá-lo nesse dia. No início da Era Taisho, numa viagem à China, ele tornara-se fiel da Religião Do. Certa vez, entrando em transe, recebeu uma mensagem de uma divindade: “Daqui a vinte anos, surgirá, no Japão, uma pessoa com os poderes de Kannon”. Retornando à sua pátria, Azuma ficou esperando pela época determinada. Na primavera daquele ano de 1934, teve á percepção espiritual de que, a leste de onde ele morava, havia alguém com tais poderes. Então, procurando por essa pessoa nas redondezas de Akassaka e Koji, que ficam a leste de sua casa, situada em Shibuya, um conhecido seu lhe disse, por acaso: “No bairro de Hiraga existe uma pessoa que cura doenças com o poder de Kannon. Vá procurá-la”. O Fundador teve a certeza de que a pessoa por quem Azuma procurava era ele. Durante alguns momentos, ainda conversaram sobre Religião, e, quando a conversa estava para terminar, Azuma pediu-lhe que o deixasse tirar uma fotografia sua, no “toko-no-ma” (104), o que ele aceitou de bom grado. Tirada a foto, Azuma despediu-se. No dia seguinte, trazendo a fotografia, ele disse: “Veja que interessante saiu”. Era uma foto misteriosa, onde aparecia algo semelhante a uma fumaça esbranquiçada, saindo mais ou menos da altura do lado esquerdo do abdômen do Fundador para cima de sua cabeça, e nela se via o Kannon de Mil Braços. No dia anterior, quando se sentara em frente ao “toko-no-ma”, ele pressentira algo, mas não pôde deixar de ficar surpreso. Até então, já havia visto muitas fotos em que se registram fenômenos espirituais tiradas no Japão, na Europa e nos Estados Unidos, mas, na maioria, apareciam espíritos de pessoas mortas. Mesmo aquelas que mostravam a figura de Jesus Cristo, eram evidentes truques de fotografia. Entretanto, não havia como duvidar da autenticidade da foto que tinha diante dos seus olhos. O Fundador sentiu uma infinita esperança invadir-lhe o coração, ao pensar nos milagres que esse poder de mostrar numa fotografia uma figura existente em lugar distante e não muito preciso, manifestaria dali para frente. O mistério da foto em que aparecia Kannon ocorreu exatamente na época em que ele estava indo à casa de Kanetaka, diariamente, para pintar o quadro a que nos referimos, arrumando tempo nos seus dias atarefados com a ministração do Johrei e os ofícios religiosos. No dia 19 de outubro, uma semana depois que recebeu a foto, encontramos este poema registrado no diário: “O trabalho no Ojin-do Terminou logo, E pude ir à casa de Kanetaka Pintar o quadro de Kannon.” Entretanto, no dia seguinte, aconteceu um fato terrível: Kimiyoshi, esposo de Maki Kanetaka, voltou bêbado e destruiu o quadro que já estava mais de um terço pronto. “Quando já estava Quase no meio do desenho Do Kannon de Mil Braços, Avisaram-me De que o marido de Kanetaka O rasgara.” Correndo à casa de Kanetaka logo que foi avisado do sucedido, o Fundador ficou absorto por alguns instantes, olhando para a figura que estava desenhando com tanto cuidado. Naquele momento, (104)
– Nas casas japonesas, é a parte mais elevada de um cômodo, a qual tem a altura de um degrau.
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sem querer, pensou na foto em que aparecia Kannon. Deveria haver alguma razão, algum significado especial para que o quadro, que estava tão adiantado, fosse rasgado. Ainda mais tratando-se do quadro que ele acreditava estar pintando para ser usado como Imagem da Luz Divina da nova Igreja que seria fundada. Para esse trabalho, o Fundador tomara como referência um livro de figuras de Kannon copiadas, nos tempos antigos, por bonzos e outras pessoas, para criações e pesquisas posteriores. Será que, insatisfeito com tais figuras, não estaria Kannon ordenando que ele pintasse outro quadro, tendo como modelo a figura que aparecera na foto? Pensando seriamente nisso, o Fundador compreendeu que a destruição do quadro que estava pintando não era uma desgraça; pelo contrário, era motivo de gratidão. Assim, ficou decidido que a auréola, limitada à volta da cabeça na pintura que fora rasgada, seria ampliada, circundando o corpo inteiro; ao invés de estar em cima das nuvens, a figura ficaria sentada em cima de uma rocha e teria um rosto jovem, sem bigode. No dia 5 de novembro, depois de refazer o esboço e arrumar novos pincéis e lava-pincéis, o Fundador iniciou a pintura da nova imagem. No registro que fez no diário, nesse dia, ele escreveu: “Hoje comecei a pintar, No segundo andar Da casa de Kanetaka, A segunda imagem Do Kannon de Mil Braços.” No dia 17 de novembro, finalmente ficou pronto o grande quadro. “Hoje, bem tarde da noite, Terminei finalmente O Kannon de Mil Braços. Estou satisfeito.” A nova imagem de Kannon, sentada em cima de uma rocha, tinha mais movimento e simbolizava ainda mais nitidamente o Plano Divino: a grande obra de salvação do mundo não seria realizada no Céu, e sim, na Terra. Existem, ainda, mais duas fotos do Fundador, tiradas por Mitsuo Azuma, nas quais se registram fenômenos espirituais. Ambas foram batidas no dia 21 de outubro de 1934, dez dias depois da primeira. Numa delas aparece uma auréola bem nítida rodeando o Fundador, que está sentado, com as palmas das mãos unidas. A forte luz da auréola irradia-se por toda a sala, e, exceto a almofada e o vaso, tudo está indistinto como uma névoa. Na outra foto, ele aparece debruçado sobre a mesa, cochilando. Em cima de sua cabeça vê-se um dragão enrolado, cuja cabeça está erguida e de cujo corpo se irradiam vários raios de luz. O Fundador teve a intuição de que se tratava do deus Dragão de Ouro. Mitsuo Azuma era possuidor de uma aguçada sensibilidade espiritual e, de vez em quando, mesmo em estado normal, entrava em transe. De olhos fechados, ficava fazendo perguntas a que ele próprio respondia indício de que estava recebendo uma intuição espiritual. A respeito da foto em que aparece o Dragão, Azuma disse: “O senhor é protegido pelo deus Dragão, não é? Sempre que vou me encontrar com o senhor, garoa. Isso é prova de que ele o protege. Esta noite, há pouco, choveu, e eu tirei a foto certo de que ele apareceria nela”. A respeito da foto do Kannon de Mil Braços, foi publicada, no jornal “Komyo Sekai” (número 1, de 4 de fevereiro de 1935), editado após a fundação da Igreja, a seguinte explicação: “Esta foto em que o Mestre Jinsai (105) aparece sentado, foi tirada às três e meia da tarde do dia 11 de outubro de 1934, no “toko-no-ma”, a uma distância de aproximadamente 2,7 metros, no andar superior do Ojin-do situada no bairro de Hiraga, quadra 1, n°2, Distrito de Koji, pelo Sr. Mitsuo Azuma, pesquisador de fotos em que se registram fenômenos espirituais. Foi tirada sem nenhuma (105)
– Jinsai – um dos pseudônimos do Fundador.
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pretensão, constituindo mera casualidade. Entretanto, na época, o Mestre Jinsai havia começado a pintar um grande quadro do Kannon de Mil Braços. Dessa forma, provavelmente a ocorrência seja inédita em todo o mundo, e devemos dizer que ela constitui um grande enigma para a sociedade”.
b) A ORAÇÃO “ZENGUEN-SANJI”
No dia 4 de dezembro de 1934, em plena preparação para a fundação da Igreja, Shinjiro Okaniwa recebeu do Fundador o seguinte telefonema: “Venha ao Ojin-do trazendo o sutra “Kannon” (106)”. Imediatamente, Okaniwa levou ao Mestre o sutra pedido, ou seja, o vigésimo quinto dos vinte e oito sutras “Hoke-Kyo”. Assim que o recebeu, o Fundador disse: “Vou compor uma oração”. Começou, então, a ditar, tendo aquele sutra como referência. Motokiti Inoue foi quem tomou nota das palavras ditadas por ele, as quais constituem a oração “Zenguen-Sanji”, uma oração especial que louva a inteligência e a virtude de Kannon e descreve o aspecto do Mundo de Miroku, que surgiria com o seu poder. No fundo, ela expressa a profunda Providência de Deus referente à Transição da Noite para o Dia no Mundo Espiritual, ou seja, a transição do Mundo de Buda para o Mundo de Deus. No sutra “Muryogui”, pregado pouco antes do “Hoke-Kyo”, Sakyamuni disse que, passados quarenta anos, ainda não conseguira enxergar a Verdade. O “Hoke-kyo”, que é como um balanço geral da vida de Sakyamuni pode ser considerado como livro em que a Verdade foi pregada pela primeira vez. Assim, é tido como um dos mais importantes livros de sutras do budismo. Foi escrito em sânscrito, língua falada na antiga Índia, há mais de dois mil anos, e destinava-se ao povo daquele país; por isso, algumas partes não se adaptam perfeitamente aos homens contemporâneos. Captando o significado espiritual do sutra “Kannon”, o Fundador elaborou a “Zenguen-Sanji” em forma de oração xintoísta. Ele nos explicou o seu objetivo: “Os ofícios religiosos do Japão, nos tempos antigos, seguiam aquele estilo. O budismo foi introduzido no país há mil e trezentos anos, mas até então tudo seguia o estilo xintoísta. A “Zenguen-Sanji” constitui o ponto positivo do budismo adaptado ao estilo xintoísta”. Essa oração contém palavras existentes no sutra “Kannon, e seus maravilhosos sons, límpidos, claros e ritmados, purificam o espírito das pessoas, despertando nelas o desejo de se deleitarem no Paraíso”. Está realmente de acordo com o seu nome: “Zenguen” (palavras boas) e “Sanji” (oração de louvor). A propósito, em dezembro do ano anterior à fundação da Igreja, o Fundador estudou a doutrina xintoísta e seus ritos com Yoshiro Uzuki, que ocupava a posição de Responsável de Kazussa na Sede Geral Xintoísta. Recebeu, então, no início de 1935, a qualificação de sacerdote xintoísta. Podemos considerar que essa preparação que o Fundador fez recebendo uma qualificação religiosa oficial antes da fundação da Igreja, foi um dos cautelosos cuidados tomados por ele para desenvolver a Obra Divina numa época em que as autoridades eram rigorosas com as novas religiões.
c) ELABORAÇÃO DO ESTATUTO Com a aproximação do final de 1934, aumentava gradativamente a atmosfera para a instituição da “Dai Nipon Kannon Kai”. No dia 25 de novembro foi realizado o Culto do Outono, no Shofu-So, em Omori, e nessa ocasião o Fundador expôs o seu propósito: “No dia 1º de janeiro de I 935 vou fundar uma Igreja sob o nome de “Dai Nipon Kannon Kai”“. No dia 28 de dezembro, ele fez uma reunião com seis diretores, no Ojin-do, definindo o estatuto da “Kannon Kai” e outros detalhes. Nesse dia, escreveu em seu diário o seguinte poema:
(106)
– Prega que Kannon salva todas as dificuldades, satisfaz todos os desejos e converte todos os homens.
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“Está quase pronto O estatuto da “Kannon Kai”. É simples, mas bem elaborado.”. O estatuto é constituído de onze artigos. Eis os principais itens: I - A presente organização tem o objetivo de participar e trabalhar para a grande obra de construção do Mundo de Luz, desejo de Kannon. II - A presente tem sua sede provisória no bairro de Koji, quadra 1, nº 1, Distrito de Koji, na cidade de Tóquio. III - A presente terá um presidente, dois vice-presidentes, alguns conselheiros, um diretor executivo, alguns diretores, e um secretário acumulando o cargo de tesoureiro. Do sétimo ao décimo-primeiro artigo consta, entre outras referências: “Só poderão ser membros aqueles que tiverem entronizado em seus lares a imagem de Kannon e pago a taxa de ingresso, que é de 50 “sen”. A mensalidade mínima é de 10 “sen” por pessoa, devendo ser entregue na Sede. Os membros deverão participar de todos os cultos mensais e dos cultos da Primavera e do Outono. No caso de fiéis do interior, a participação nos cultos mensais fica a critério de cada um”. Em dezembro, foram inauguradas, sucessivamente, quatro filiais na capital, com a presença do Fundador. No dia 7, inaugurou-se a Filial Assa-gaya, localizada em Assa-gaya, no 1-728, Distrito de Suguinami, Tóquio, a qual ficou sob a responsabilidade de Issai Nakajima. Em seu diário, o Fundador registrou: “À tarde, fui, Com quatro ou cinco acompanhantes, À inauguração Da filial da “Kannon Kai” A cargo de Nakajima.”. Inauguração das outras três filiais e nome de seus responsáveis: 15 de dezembro: Filial Midori. Bairro de Midori, no 4-32, Distrito de Honjo, Tóquio. Responsável: Yoshihiko Kihara. 20 de dezembro: Filial Nishi-ga-hara. Nishi-ga-hara, no 489, Distrito de Takino, Tóquio. Responsável: Shiguenori Matsuhissa. 26 de dezembro: Filial Setagaya. Bairro de Mishuku, no 54, Distrito de Setagaya, Tóquio. Responsável: Otomatsu Araya. No dia 22 de dezembro foi entronizada a imagem de Kannon na redação do jornal da Igreja, instalada em Koji, quadra 4. Até então, o local servia de alojamento para os responsáveis pela distribuição do jornal; a partir daí, tornou-se a Editora Toko e nelas passaram a se realizar os trabalhos de redação e publicação da Igreja.
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d) INSTITUIÇÃO PROVISÓRIA No dia 23 de dezembro de 1934 o príncipe Akihito Tsugunomiya comemorava o seu primeiro aniversário. Nesse dia, o Fundador completava cinqüenta anos. Foi também a data em que se efetuou a instituição provisória da “Dai Nipon Kannon Kai”, no Ojin-do. Na tarde desse dia, entronizou-se a grande imagem do Kannon de Mil Braços desenhada pelo Fundador e magnificamente emoldurada no “toko-no-ma” de 2,7 metros do andar superior do Ojindo. Olhando a sua figura divina e piedosa, todos os dirigentes da entidade ali presentes, totalizando mais de trinta pessoas, sentiram uma emoção que os deixou sérios, numa atitude de profundo respeito. Exatamente às dezoito horas teve início a cerimônia de instituição provisória, e, após as oferendas, foi entoada a oração “Amatsu-Norito” (107) sob a liderança do Fundador. Depois do Ofertório de Gratidão, entoou-se pela primeira vez a oração “Zenguen-Sanji”, elaborada por ele, terminando a cerimônia religiosa propriamente dita com o salmo “Tohoko” (“Luz do Oriente”). “Luz do Oriente” Deus, o Altíssimo, Que há muito tempo não se manifestava, Surgiu, transformando-se Na Luz do Oriente. Fala-se na Luz do Oriente Mas trata-se do Poder de Salvação Manifestado por Kannon. Valeu a pena Esperar três mil anos. A Luz do Oriente Está para despontar. A Luz do Oriente surge Brilhando esplendorosamente No céu onde pairam Nuvens celestiais. A Luz do Oriente É uma determinação de Deus Que surgirá no país Da Nascente do Sol, no Oriente. Após o “naorai” (108), o Fundador narrou tudo que sucedera até a fundação da “Kannon Kai”, detendo-se especialmente nos fatos ligados às três fotografias que mostram a elevada espiritualidade de Kannon. Em seguida, para encerrar a cerimônia, houve a apresentação da música “Mikuni no Homare” (“Orgulho da Pátria”), tocada em “koto” no estilo “Ikuta” (109), pela senhora Kisseko, esposa de Issai Nakajima. Segundo o Fundador, o som límpido do “koto” ecoou ainda mais profundamente no coração dos participantes, que renovavam sua alegria pela fundação da Igreja e prometiam dedicar-se à Obra Divina a partir daquele momento. Nesse mesmo dia, após a cerimônia, uma senhora que havia ingressado na “Kannon Kai” recentemente, trouxe uma moeda de 1 “rin” (110) e ofereceu-a ao Fundador. Na parte da frente dessa moeda havia a figura do Kannon de Mil Braços em alto-relevo, e no verso, quatro ideogramas: “Sen Ju Kan Non” (Kannon de Mil Braços). Imediatamente, o Fundador foi mostrá-la a uma pessoa que há (107)
– Essa oração, que é entoada nos cultos, expressa o sentimento do Fundador. – Distribuição de saquê aos participantes dos cultos após o término destes. (110) – O termo “rin”significa também “um por cento”. (108)
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trinta ou quarenta anos lidava com moedas antigas, e essa pessoa lhe disse: “É a primeira vez que eu vejo esse tipo de moeda”. Parece que era realmente uma moeda rara. A esse respeito, o Fundador comentou: “Creio que, através de um fato aparentemente insignificante, Deus levou-me ao conhecimento de que o Kannon de Mil Braços faz o trabalho de um por cento”. O Fundador costumava explicar sobre a ação incompleta e imperfeita do 99% e a ação perfeita do 100%. Ele ensinava que a diferença, ou seja, “a ação do 1%”, manifestava o poder absoluto de completar as coisas. Na noite da véspera da cerimônia de instituição da Igreja, o Fundador recebera esta Orientação Divina: “Faça a instituição da Igreja e utilize como Sede Provisória o prédio situado em Hanzo-Mon”. O prédio de Hanzo-Mon fora utilizado até setembro como filial de Koji. Logo na manhã seguinte, o Fundador foi ao local e orientou para que ali construíssem um palco. Embora fosse uma época muito agitada, de final de ano, as obras foram realizadas normalmente. O enfeite de pinheiro ficou magnífico, e só restava esperar pela cerimônia de instituição. Os nomes dos diretores da “Dai Nipon Kannon Kai” foram publicados no Nº 1 do jornal “Toho no Hikari” (“Luz do Oriente”1, conforme a lista abaixo): Mestre Jinsai Okada Presidente Ryozo Takemura O Banco do Japão, que possui a maior coleção de moedas do país, recebeu um pedido da Igreja no sentido de que pesquisasse sobre essa moeda. Dentro de um mostruário composto de cento e setenta mil peças, foram achadas duas moedas que correspondiam à descrição. A foto mostra a frente e o verso de uma delas. As moedas desse tipo são chamadas de “moedas com desenho” e, em termos precisos, não têm valor de troca. Nelas está cunhada a figura de deuses, entre os quais os sete deuses da sorte. Foram confeccionadas por colecionadores populares a partir da Era Edo, como enfeites e amuletos. Dizem que as moedas com desenhos de Buda estiveram muito em moda durante algum tempo, servindo de amuleto. Presume-se que a moeda oferecida ao Fundador por aquela senhora era igual à da foto. Vice-Presidente acumulando o cargo de tesoureiro Mitsuo Massaki Diretor executivo Issai Nakajima Diretor Missao Nakano Diretor Kiyomatsu Horiguti Diretor Otomatsu Araya Diretor Shiguenori Matsuhissa Diretor Yoshihito Shimizu (Seitaro) Diretor Kimiyoshi Kanetaka Diretor Maki Kanetaka Diretor Yoshihiko Kihara Diretor Shinjiro Okaniwa A partir de 1934, o Fundador abandonou o seu sinete “Kiguetsu”, passando a usar “Jinsai” para os textos relacionados ao Johrei e aos tratamentos médicos e “Jikan” para as obras de caligrafia feita a pincel. Os fiéis, que até então o chamavam de “Sensei” (mestre), passaram a chamá-lo de “Dai Sensei” (Grão-Mestre).
3. PIONEIROS DA IGREJA A instituição definitiva da “Dai Nipon Kannon Kai”, a 1o de janeiro de 1935, é o grande marco do nascimento da Igreja. O período que abrange os nove primeiros anos da Era Showa (1925 -1933) até
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esse acontecimento, corresponde à época inicial da Obra Divina realizada pelo Fundador, sendo um período muito importante, em que foram solidificadas as bases da Igreja. Nessa época, obviamente, não havia nada do que se vê hoje, como as suas magníficas instalações, por exemplo, e a vida do Fundador era cheia de dificuldades, tanto espiritual quanto materialmente. Entretanto, apesar de tais condições, existiram alguns pioneiros que, acreditando em Deus, serviram de baluarte para a Obra Divina, oferecendo a ele sua sinceridade. Entre esses pioneiros, destaca-se Motokiti Inoue, cujo nome de registro era Fukuo. Ele foi a primeira pessoa que dedicou ao lado do Fundador, como seu secretário, e, mesmo depois da ascensão do Mestre, continuou a dedicar com igual sinceridade. Nasceu em Matsue, no Estado de Shimane, em agosto de 1908. Sua família era proprietária de uma tradicional casa vendedora de chá situada à beira do Lago Shinji; todos eram membros fervorosos da Omoto. Inoue criou-se e tornou-se adulto num ambiente religioso. A fim de prestar os exames vestibulares, foi para Tóquio em março de 1927 e, assim que chegou lá, dirigiu-se à Sede Aishin Kai, perto de Hanzo-Mon. Essa sede tornou-se posteriormente a Filial Koji, centro da difusão feita pelo Fundador nesse local. Foi aí que Inoue teve o seu primeiro contato com o Fundador, o qual lhe disse: “Venha nos visitar sempre”. Mais tarde, ele recordou que, nesse primeiro contato, sentira uma força irresistível, a qual transcendia os limites da matéria, e ficara muito tenso. Inoue foi à casa do Fundador pela primeira vez em novembro de 1928. Nessa ocasião, indo à Região Tohoku, Onissaburo Deguti passou por Omori, e todos os fiéis da Omoto residentes em Tóquio reuniram-se na casa do Fundador. Aí nessa casa onde estava indo pela primeira vez, Inoue sentiu um ambiente aconchegante, descontraído, que aquecia o coração; ao mesmo tempo, sentiu a grandiosidade da criatura fora do comum que era o Fundador e uma profunda admiração pela amabilidade com que ele atendia a todos. Nesse dia, um dos fiéis lá reunidos fez ao Fundador uma pergunta relacionada à Fé, tendo recebido a seguinte resposta: “A presunção é condenável, mas se for a presunção de ter superado a presunção, não há problema”. O fiel ficou espantado, com a cara de insatisfeito. Inoue também ficou surpreso. Isto porque, na Omoto, a presunção era muito recriminada, sendo considerada a armadilha mais temível. Não obstante, Inoue interpretou que, embora de maneira imprecisa, o Fundador se referia ao estado incomum de quem ultrapassou o estado comum de preocupação com a presunção. Inoue tinha uma vida um tanto retraída, pelo fato de ser doentio de nascença, mas sua visão de vida sofreu uma grande modificação depois que ele conheceu o Fundador. Este estava sempre cercado de ambiente celestial, e suas palavras não tinham nenhuma entonação exagerada, nem o tom de sermão que geralmente caracteriza as palavras dos religiosos. Eram palavras serenas e agradáveis, cheias de bom senso. Mas o que Inoue mais admirou nele foi a profundidade de sua inteligência, que o fazia responder rápida e precisamente a qualquer pergunta formulada. Certo dia, por ocasião de uma palestra na Filial Oi, perguntaram ao Fundador o que era “Espírito Yamato” (111). (Nessa época, a cada ano aumentava a tensão no contexto internacional, e o Japão estava numa situação difícil, isolado do resto do mundo. A expressão “Espírito Yamato” era freqüentemente empregada pelas pessoas). Ele, então, respondeu: “É o espírito do pinheiro, que se caracteriza por esperar pela ocasião propícia; é a sinceridade que nunca muda”. Ao ouvir essas palavras, Inoue sentiu uma profunda emoção, pois o Fundador expressara a essência da Fé em poucas palavras. Assim, compreendeu a grandiosidade do seu poder, sendo também tocado pela sua personalidade. Inoue cursava a Faculdade de Direito, mas, por volta do outono de 1930, passou a empenhar-se na Obra Divina ao lado do Fundador. Provavelmente nessa época, quando o Mestre estava passando por dificuldades financeiras, com freqüência, Inoue lhe entregava todo o dinheiro que sua família enviava para as despesas com os estudos. Inoue tinha uma personalidade muito singular. Contam-se vários episódios engraçados a seu respeito. Certa vez, ao ser chamado pelo Fundador, saiu correndo, pondo o cigarro que estava fumando na manga do quimono, a qual se queimou na frente do Mestre; outra vez, ao ser incumbido de podar os galhos de uma árvore do quintal, quase cortou o galho onde estava trepado, e o Fundador, que estava em baixo, dando as orientações, ficou assustado. E outras histórias desse teor. Entretanto, por sua boa memória, por sua excelente caligrafia, por seu vasto conhecimento dos ideogramas, por sua ótima redação e por outras elevadas habilidades no campo das letras, Inoue foi um dedicante muito importante para o Fundador, que fazia caligrafias a pincel, ditava textos, editava (111)
– Yamato – antigo nome do Japão.
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jornais e revistas e desenvolvia amplas atividades culturais. Sua voz era excelente, e, quando ele tomava a frente das pessoas na entoação dos salmos, ela penetrava fundo no coração daqueles que o ouviam. Era ainda um bom declamador de “kanku” humorístico. Anos depois da ascensão do Fundador, Inoue faleceu, em outubro de 1962, com a idade de cinqüenta e três anos. Ryozo Takemura, que, por ocasião da instituição da “Dai Nipon Kannon Kai”, colaborou principalmente em termos políticos e econômicos, nasceu em maio de 1883, meio ano depois do Fundador. Era o terceiro filho da família Suda, Milionários residentes na Vila Komae, na circunscrição de Kitayama, em Tóquio (atual cidade de Komae, na Região de Tóquio). Aos quinze anos, tornou-se filho adotivo de Denbee Takemura, dono da Morita-ya, loja atacadista de calçados situada em Koji, quadra 3. Era uma casa tradicional, que tinha sido fundada em 1831 e atendia à família do Imperador. Ryozo conheceu o Fundador em 1929, quando este ministrou Johrei em seu neto doente. Impressionado com ele, ingressou na Omoto e, a partir daí, empenhou-se bastante na atividade de difusão, ao seu lado. Em julho de 1930, quando a filial de Omori foi concluída, o Fundador tornou-se o seu Responsável; Takemura, diretor-executivo, e Mitsuo Massaki, diretor. Em 1934, quando o Fundador se desligou da Omoto, Takemura o acompanhou. Com a fundação da “Kannon Kai”, tornou-se seu presidente, a pedido do Fundador; nos cultos, era o chefe do cerimonial, vestindo-se com as indumentárias próprias. Na época, Ryozo era membro do Congresso Distrital de Koji e acumulava o cargo de vicepresidente da Associação de Segurança da Delegacia de Koji. Granjeando larga confiança da sociedade, deu uma grande contribuição à “Kannon Kai”, fundada recentemente. Além de participar todos os meses das reuniões de “waka” e haicai, acompanhava o Fundador em suas viagens, juntamente com Naoko, sua esposa, como aconteceu por ocasião do acontecimento Divino ocorrido no Monte Nokoguiri, em 1931, na visita aos santuários Kashima e Katori e em outras oportunidades. O Fundador e Ryozo não estavam ligados apenas pelos laços religiosos. Na vida particular também tinham um relacionamento bastante íntimo. O Fundador não costumava beber muito, mas freqüentemente ia beber fora com Ryozo, que gostava de bebidas alcoólicas. Dizem que eles ficavam a praticar o “ninjo banashi” (112) sozinhos, sem a presença de nenhum familiar, dando a isso o nome de “diálogo secreto”. Hideko, filha de Ryozo, fala-nos sobre aquela época: “Por volta de 1929, quando meu filho ficou doente, o Sr. Yamamuro, um vizinho nosso, apresentou-nos o Sr. Massaki. Este nos disse: “Há um Mestre melhor que eu”, e veio à nossa casa com o Fundador. Foi o primeiro contato que tivemos com ele.”. Quando o Fundador era empresário e vendia miudezas para a Mitsukoshi, essa loja tinha uma associação chamada “Sansho-Kai”. As condições para se fazer parte dela eram bastante rigorosas: entre dez pessoas, só duas ou três as preenchiam. Como a Loja Okada fazia parte dessa associação, desfrutava de absoluta confiança. Pois o Fundador largou um negócio desses para entrar no caminho da Fé, chegando até a passar dificuldades financeiras. Por isso, não sei me expressar bem, mas ele não era uma pessoa comum; tinha muita determinação. Quando deu início à “Kannon Kai”, parece que a vida do Fundador não era muito fácil, pois seu telefone estava prestes a ser cortado, por falta de pagamento; nas refeições, a família comia apenas arroz com soja fermentada ou sardinha seca. Apesar disso, tanto ele como sua esposa pareciam sempre superiores, não aparentando pobreza em nenhum aspecto. Naquela época, nossas famílias eram muito íntimas. Por isso, quando o Fundador nos visitava, era como se estivesse em sua própria casa. Ele fazia o que bem entendia: entrava sem falar nada, ia deitarse e, às vezes, aparecia altas horas da noite, dizendo: “Não consigo dormir”. “Freqüentemente pedia que eu lhe emprestasse uma tesoura e, cortando a linha que saía da bainha da manga, dizia algum gracejo como, por exemplo: Minha esposa não faz nada para mim”. Entretanto, meu avô (Gonbee) era uma pessoa muito intransigente e, quando ele estava em casa, até o Fundador se mostrava circunspecto, embora, para nós, dissesse rindo: “Com esse velho eu não consigo ficar à vontade...”. (112)
– Um tipo de “rakugo”(V.nota 51) que tem como tema os sentimentos humanos.
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O Fundador gostava da enguia da Casa Akimoto, situada na vizinhança, e da comida que um pequeno restaurante chamado Kiyoshi preparava para viagem. O dono desse restaurante era um indivíduo chamado Yoshihide Takei, que mais tarde se tornou Responsável de uma filial da “Kannon Kai”. Assim nos falou Hideko, filha de Ryozo Takemura. Logo depois que o Fundador se mudou de Koji para Omori, Ryozo demitiu-se da presidência da “Kannon Kai” e, quando foi fundada a “Dai Nipon Kenko Kyokai” (“Associação Japonesa de Saúde”), ocupou o cargo de conselheiro. Depois disso, nunca mais apareceu publicamente, passando a prestar uma colaboração oculta. Veio a falecer no dia 14 de abril de 1955. Issai Nakajima, cujo nome de registro era Takehiro, foi presidente da “Tengoku Dai Kyokai” (“Igreja Filial Paraíso”) e, como um dos elevados discípulos do Fundador, edificou os alicerces para a expansão da Igreja. Ele se tornou fiel no dia 1º de janeiro de 1932. Tudo começou quando Mihoko, sua filha mais velha, contraiu cólera infantil. Com uma febre de quarenta graus, estava correndo perigo de vida. Por intermédio de um amigo, Nakajima ficou conhecendo Mitsuo Massaki, que fazia difusão em Koji, e para lá se dirigiu, levado unicamente pelo desejo de salvar a vida de sua filha. Com o Johrei ministrado por Massaki, o estado de Mihoko melhorou, e ela foi se recuperando, até que, em pouco mais de uma semana, ficou completamente restabelecida. Através desse milagre, a visão que Nakajima tinha da vida mudou bastante. Isso aconteceu quando ele tinha trinta e dois anos. Mihoko, que teve sua vida salva nessa ocasião, mais tarde tornou-se esposa de Mihomaro, segundo filho do Fundador. Nakajima nasceu em 1899, em Hagui, no Estado de Yamaguti, e sua família servia ao daimio de Tyoshu. Após ter concluído o Primeiro Grau, tornou-se professor substituto da Escola Primária Hagui, onde se formara. Posteriormente, foi para Tóquio, cursar a Faculdade de Comércio da Universidade Meiji, mas ficou doente e viu-se obrigado a voltar para sua terra natal. Depois, teve uma vida de assalariado, trabalhando como funcionário da Biblioteca de Shimo-no-Seki, em empresas de minério e eletricidade, na companhia automobilística Ford, na Pneus Bridge Stone e em outros empregos. Na Bridge Stone, tornou-se chefe de setor quando ainda era jovem, mas em seu coração havia um pouco de tristeza. Não conseguindo reprimir o pensamento de que estava num lugar inadequado, demitiu-se em 1931, voltando para Tóquio. O milagre recebido por sua filha Mihoko ocorreu logo em seguida. Estupefato com esse milagre, Nakajima ficou de se encontrar com o Fundador por intermédio de Massaki. Assim, sua vida começou a tomar um rumo que nem ele próprio imaginara. Enquanto ouvia as palavras do Mestre, tudo aquilo que até então estava reprimido em seu coração foi se libertando. E então ele concluiu que não havia outra razão para viver a não ser segui-lo. Tocado pelo entusiasmo com que Nakajima se dispunha a entregar sua vida, imediatamente o Fundador o aceitou como seu discípulo. Já no dia seguinte Nakajima veio hospedar-se em Omori e, depois de receber aulas durante uma semana, tornou-se fiel, abraçando a carreira missionária. Durante algum tempo, teve como único rendimento o dinheiro da venda de jornais destinados à difusão, vivendo em extrema pobreza. Não foram raros os dias em que colheu cavalinha do campo para comer. Entretanto, Deus correspondeu à sua fé com um grande amor e poder, fazendo-o receber mais um milagre, desta vez ocorrido com Seihatiro, seu filho mais velho. Antes de Mihoko contrair cólera, Seihatiro tivera unheiro. No início era uma ferida pequena, mas com o passar dos dias o dedo foi inchando cada vez mais. Ao examiná-lo, o médico falou: “Se não amputar o dedo imediatamente, a ferida vai se estender até o pulso”. Assim, cortaram-lhe o dedo polegar pela metade. Isso aconteceu antes de Nakajima conhecer o Fundador. Este, ao tomar conhecimento do fato, disse: “Foi uma pena. Nunca ouvi dizer que algo vivo apodrecesse. O que está vivo jamais apodrece”. À medida que o menino foi recebendo Johrei do Fundador, o dedo que fora cortado ia voltando ao tamanho normal, e até unha nasceu. Ao ver isso, seus pais sentiram a prova do grande poder de Deus. Ao contrário de Inoue e de outros discípulos, que dedicavam ao lado do Fundador, Nakajima foi, desde o início, fazer difusão junto à sociedade. O ardor com que ele buscava Deus manifestou-se sob a forma de grande entusiasmo pela difusão. Ao mesmo tempo, procurou esclarecer com o Mestre, até se sentir plenamente satisfeito, tudo aquilo que, para ele, era motivo de dúvida. No dia 22 de fevereiro de 1932, encontramos registrado, no diário do Fundador, o seguinte poema:
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“O Sr. Nakajima Ficou conversando até tarde Sobre assuntos de Fé. E pernoitou na Filial.” Logo depois que se converteu, Nakajima vendeu sua casa, situada em Hagui, e ofereceu ao Fundador todo o dinheiro recebido, para ajudá-lo na difícil situação em que ele se encontrava. Na família Nakajima, todos dedicavam, liderados por ele. Sua mãe e sua irmã mais nova ficaram encarregadas de cuidar do Ojin-do depois que o Fundador foi para Koji, e Kisseko, sua esposa, distribuía os jornais de difusão carregando dois filhos pequenos. Realmente, toda a família tinha muita fé no Fundador. Issai criou muitos elementos humanos que difundiram a Igreja como missionários. Faleceu em janeiro de 1950, aos cinqüenta e um anos de idade. Entre as pessoas que trabalharam ao lado do Fundador antes mesmo da fundação da Igreja, destacaram-se Shinjiro Okaniwa, nascido em 1893, e seu irmão Mitiaki, nascido em 1905 e cujo nome de registro era Ryohei. A família Okaniwa era uma família muito antiga, de lida, no Estado de Nagano. O pai de Shinjiro e Mitiaki era prefeito da vila, mas, depois que ele ficou paralítico, a família foi atingida por graves doenças; basta dizer que, num período de dez anos, houve oito mortes. Além disso, a casa em que moravam sofreu dois incêndios, os quais destruíram por completo. A filha de Ryozo Takemura, residente em Koji, casou-se com um dos Okaniwa e com isso estabeleceu-se o parentesco entre as duas famílias. Mais tarde, quando Takemura contou ao Fundador os infortúnios da família Okaniwa, o Mestre disse que o nome Ryohei, do irmão de Shinjiro, não era bom, e deu-lhe o nome de Mitiaki. Tempos depois, Mitiaki teve pleurisia, que durou três anos, chegando a ser desenganado pelos médicos. Vindo a Tóquio com muita dificuldade, recebeu o primeiro Johrei do Fundador na casa de Takemura. Nessa ocasião, dizem que o Mestre falou muito tranqüilo: “Isso passa com três ministrações de Johrei”. Dois dias depois, Mitiaki recebeu o segundo Johrei, dessa vez no Shofu-So, em Omori. Foi até lá acompanhado do irmão, a quem o Fundador disse: “Sr. Okaniwa, em breve o senhor passará a cuidar deste local”. E Shinjiro, que ainda não sabia de nada, respondeu por responder: ”É mesmo?!”. Terminando de ministrar Johrei em Mitiaki, o Fundador perguntou-lhe como estava, e ele respondeu que se sentia aliviado. Então o Mestre lhe disse: “Você já está curado”. Surpreendido, Shinjiro não dizia uma palavra. Mitiaki falou, então: “É, não sinto mais nada. Em agradecimento, peço que me deixe dedicar na limpeza deste local”. Dias depois, ele voltou a Omori e começou a fazer a dedicação, conforme havia combinado. No mês seguinte, o Fundador escalou o Monte Fuji, e Mitiaki também participou da escalada. Ele mal se havia recuperado, mas pôde participar da viagem sem nenhum problema. No dia seguinte, o Fundador outorgou-lhe uma imagem de Kannon, um “miteshiro” e um “ohineri”, ordenando-lhe: “Volte para Shinshu, abra uma filial e salve as pessoas”. O “miteshiro” era um leque onde estava escrito: “Este leque purifica e salva todos os espíritos”. Mitiaki voltou para Shinshu e começou a fazer difusão, mas em dezembro desse mesmo ano retornou a Omori, onde começou a dedicar. Shinjiro, desde que o irmão fora salvo, ia quase todos os dias a Omori. À medida que ouvia as orientações do Fundador, foi solidificando sua decisão e, a partir de janeiro de 1932, começou a dedicar ali. Em 1933, conforme o Mestre havia previsto, ele foi designado para ser o Responsável da filial de Omori. Nesse fato, também podemos sentir o poder do espírito das palavras do Fundador e a figura sagrada dos pioneiros que, como que correspondendo aos desejos dele, o seguiram, abandonando tudo o mais. Os irmãos Okaniwa eram muito disciplinados e por isso se empenharam na dedicação ao lado do Fundador, que não negligenciava os mínimos detalhes. Tornaram-se suas pernas e braços. Shinjiro faleceu em 15 de junho de 1954, aos sessenta e dois anos, e Mitiaki, no dia 23 de fevereiro de 1970, aos sessenta e quatro. No final de 1931, o Fundador recebeu a visita de Otomatsu Araya, que administrava uma siderúrgica em Kameido, Tóquio, e era fiel da Omoto. A esposa de Wassaku, seu irmão mais novo, estava doente e recebia Johrei com o Fundador. Otomatsu ficara sabendo da existência deste através
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de seu irmão. Acompanhando-o a Omori, recebeu Johrei e viu-se aliviado do peso que tinha na cabeça, sentindo-se muito bem disposto. No momento em que se despedia do Fundador, perguntou-lhe: “Quantos anos o senhor precisou para adquirir um poder tão grande assim?” Ele, então, respondeu com a maior naturalidade: “Qual! Seguindo o que eu ensino, qualquer pessoa é capaz de fazer o que eu faço. Até você.” E acrescentou: “Você tem vontade de fazer isso? Com um pouco de aprimoramento, conseguirá”. Entretanto, Otomatsu não se julgava com essa capacidade e, diante de palavras tão inesperadas, ficou confuso e não disse nada. Então, olhando-o fixamente, o Fundador falou: “Você nasceu para fazer isso”. A partir daí, Otomatsu ia freqüentemente a Omori. Não conseguia deixar de ir. Algo muito forte o atraía. Era uma força misteriosa que o puxava. E, toda vez que ia lá, presenciava o milagre de ver pessoas doentes serem curadas umas após outras. Ficava admirado, e seu respeito pelo Fundador ia aumentando. Mais tarde Otomatsu entronizou em seu lar a imagem de Kannon pintada pelo Fundador, a quem sempre pedia que participasse de seus Cultos Mensais. Quando Otomatsu lhe solicitava a presença, ele respondia: “Vou sim”, e sempre comparecia. Na época, ainda não havia muitos fiéis, e o Fundador deslocava-se para lá e para cá sem dificuldade. Às vezes ia à casa de Otomatsu e almoçava ou jantava com ele. Dizem que conversava alegremente e comia todos os pratos que lhe serviam, parecendo achálos muito saborosos. Pouco tempo depois, Otomatsu Araya deixou a siderúrgica e entrou para a Obra Divina, sendo designado para Responsável da Filial Koto. Fez difusão na região industrial e comercial por algum tempo e, assim que ele conseguiu formar determinado número de fiéis, o Fundador lhe disse: “Vá para Setagaya”. Dessa forma, no dia 26 de outubro de 1934, Otomatsu mudou-se para perto de Shibuya, estabelecendo-se no bairro de Mishuku, nº 54, no Distrito de Setagaya, onde continuou a fazer difusão. Como ainda não havia recebido permissão para ministrar Johrei, o meio de que se utilizava para difundir a Igreja era a venda de jornais, que custavam 2 “sen” cada um. Empenhava-se nessa atividade juntamente com Hideko, sua esposa, vivendo com uma parte do dinheiro arrecadado. Para os dois, a alegria de poder participar da Obra Divina era algo que não se trocava por nada neste mundo. Entretanto, no final de 1934, eles já haviam gasto todas as suas economias e estavam levando uma vida difícil, sem condições para comemorar o Ano Novo. No dia 26 de dezembro de 1934, quando a filial de Setagaya da “Dai Nipon Kannon Kai” foi instituída oficialmente, Otomatsu recebeu o cargo de Responsável, e seu irmão mais novo, Wassaku, foi designado para Sub-responsável. Três dias depois, ele recebeu um chamado para encontrar-se imediatamente com o Fundador. Infelizmente, pelas dificuldades passadas durante o ano, não tinha dinheiro para a passagem de trem, de modo que teve de ir a pé, percorrendo mais de 10 quilômetros, do bairro de Mishuku até o Ojin-do, no bairro de Hirakawa, onde o Fundador morava nessa época. Lá chegando, o Mestre Ihe disse: Você trabalhou muito bem durante estes três anos. Com o aprimoramento por que passou até agora, já entendeu mais ou menos a Obra Divina, não é verdade? A partir de hoje vou permitir que você ministre Johrei. Portanto, empenhe-se ao máximo em salvar as pessoas”. E deu-lhe o “miteshiro”. Dizem que, levado unicamente pelo desejo de contar à esposa, sua companheira de tristeza e alegrias, a emoção sentida com o recebimento de tão sagrado poder, ele fez quase que correndo o percurso de volta para casa, e juntos festejaram o acontecimento. Mais tarde, Otomatsu dedicou-se à difusão na cidade de Iti-no-Seki, no Estado de Iwate, onde instituiu a Filial Shinshin. No dia 7 de agosto de 1967, deixou este mundo, aos setenta anos de idade. Por outro lado, seu irmão Wassaku voltou para a terra natal, Noto, e aí, no bairro de Nakajima, instituiu a Filial Seiwa. Veio a falecer no dia 30 de julho de 1964, aos sessenta e quatro anos. Outra pessoa que se dedicou à Obra Divina ao lado do Fundador, nos primórdios da Igreja, foi Seitaro Shimizu (conhecido comumente pelo nome Yoshihito). Na Era Taisho, eles tiveram contato por questões comerciais e, com o tempo, Shimizu ingressou na carreira missionária. Em virtude de seus dons no campo das letras, dedicou-se à Obra Divina na parte de publicações. Shimizu nasceu em março de 1898, na Vila Onyu, situada na circunscrição de Onyu, no Estado de Fukui. Por volta dos quatorze ou quinze anos, estudou a técnica do artesanato Meno, próprio dessa
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região, e em 1918, com a idade de dezenove anos, foi para Tóquio, onde iniciou a atividade de lapidação de pedras preciosas em Kudan Shita. Ele passara a freqüentar a Loja Okada desde a primavera de 1923. No início, só recebia pedidos do gerente Kinzo Kimura; com o tempo, passou a recebê-los diretamente do Fundador, cuja sala ficava nos fundos da loja. Naquela época, os pedidos de objetos desenhados pelo Fundador eram sempre feitos diretamente por este. Relembrando aquela época, Shimizu disse: “O Fundador recebia as pessoas fumando cachimbo. Quando seus pedidos eram atendidos, ficava muito contente e nunca regateava. Era um bom cliente. Entretanto, quando achava que o trabalho não estava bom, tinha-se de refazê-lo quantas vezes fossem necessárias. Isso me deixava admirado. Os atacadistas comuns, se o preço fosse abaixado, deixavam passar esses pequenos detalhes, mas ele nunca fazia isso”. Em 1928, incentivado pelo Fundador, Shimizu ingressou na Omoto e foi fazer aprimoramento na sede. Na época, ele morava no bairro de Suguinami, em Tóquio. Tendo conhecido Motokiti Inoue, que era universitário, ficou impressionado com sua fé ardorosa e principalmente com o respeito fora do comum que ele nutria pelo Fundador. Reformou, então, sua casa, para hospedar Inoue, e quase todos os dias os dois iam juntos à casa do Mestre, em Omori. Como já mencionamos em setembro de 1930 o Fundador instituiu a “Ten’nin-Kai”, uma associação de “kanku” humorístico dirigida por ele próprio. À parte dos poemas publicados pela Editora Meiko, da Omoto, instituiu, em maio de 1931, a Editora Zuiko. Ela foi instalada em Mabashi, na casa de Shimizu, que ocupou o cargo de presidente. Ficou decidido publicar-se a revista mensal “Zuiko”, e quem se encarregou da sua redação e revisão foi Inoue. No primeiro volume do no 1 da revista “Zuiko”, publicado em junho de 1931, constam a foto comemorativa da instituição da associação e o artigo referente à primeira sessão de poesia “Zuiko”, realizada na residência de Shimizu, no dia 03 de maio de 1931, às dezoito horas. Segundo esse artigo, escrito por Inoue, o Fundador, que estava presente, fez uma conferência intitulada “Religião e Arte” e, na sessão de poesia, compôs os seguintes poemas com os temas “Montanha” e “Luz”: “Mussashino apresenta-se Todo verde. E o pico do Fuji, Límpido, neste dia Ensolarado, depois da chuva.” “A poesia “waka” iniciada Por Mizumitama Sussa-no-Ono Kami (113) É a Luz do País.”. Nesse dia, também estavam presentes Ryozo Takemura e Mitsuo Massaki. Os participantes totalizavam vinte e cinco pessoas. Em 1932, a Editora Zuiko teve o seu nome mudado para “Shofu Kai”. Após a instituição da “Kannon Kai”, esse nome foi mudado para “Shion Kai”, e a sede da editora foi instalada na Sede Provisória de Koji. Seu Presidente era o Fundador, e o Vice-presidente, Shimizu. O jazigo da família Shimizu está guardado no Templo Kokubun-ji, situado em Kokubu, na cidade de Obama, Estado de Fukui, e, desde pequeno, Seitaro ia freqüentemente passear nesse templo. O irmão mais novo do Responsável era o bonzo Jossetsu Tanaka, que mais tarde se tornou o Responsável do Templo Nihon-ji, do Monte Nokoguiri, no Estado de Tiba. Seitaro e Jossetsu eram, portanto, amigos de infância, e foi também devido a esse laço de amizade que Seitaro se encarregou da preparação da visita feita pelo Fundador àquele Templo. Em 1935, quando foi instituída a “Kannon Kai”, Shimizu tornou-se diretor. Era encarregado da redação e publicação do jornal “Toho no Hikari”, escrevendo os artigos sob o nome de “Bunsai”. A partir de 1940, deixou a dedicação ao lado do Fundador para se ocupar de trabalhos relacionados à mineração, na cidade de Mizussawa, Estado de Iwate. A partir de 1932, Sayo, sua mãe, também (113)
– No livro de História do Japão intitulado “Kojiki”, considera-se que a poesia “waka” teve inicio com um poema Composto por Sussa-no- Ōno Kami.
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ofereceu seus serviços ao Fundador, ocupando-se, em especial, da educação de Kunihiro, o quarto filho homem do mestre. Ela veio a falecer em 1961, depois de cumprir oitenta e três longos anos de vida.
FIM DO PRIMEIRO VOLUME
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