Kindle

  • Uploaded by: VirgilioFreire
  • 0
  • 0
  • June 2020
  • PDF

This document was uploaded by user and they confirmed that they have the permission to share it. If you are author or own the copyright of this book, please report to us by using this DMCA report form. Report DMCA


Overview

Download & View Kindle as PDF for free.

More details

  • Words: 3,546
  • Pages: 3
L2 LINK ■■■

SEGUNDA-FEIRA, 2 DE NOVEMBRO DE 2009 O ESTADO DE S.PAULO

Mas talvez não seja o Kindle; a tela dele é ótima, mas o aparelho tem lá seus defeitos; o principal deles é o preço alto

Você vai querer comprar um e-reader Chegou!

E-READERS

:FILIPE SERRANO :JOCELYN AURICCHIO “A questão é simples: é surpreendente ou não?” A dúvida surgiu entre a equipe do Link, que desacreditava ao ver o Kindle assim que o aparelho aportou na redação. Se o grau de surpresa depende de cada um, o furor causado peloaparelhoé incontestável. OKindle–naverdadeomodelo é chamado de Kindle 2, porque já havia um anterior – foilançadopelaAmazonnoinício de 2009 e agora é vendido em100países,incluindooBrasil. Ele tem jeito, na verdade, deserumdosprimeirosmodelos de um novo tipo de equipamento que ainda virá a ser popular, o leitor eletrônico de livros digitais (e-reader). Ainda há muitas falhas. A primeira reação é tocar na tela, mas ele não aceita comandos de toque. É preciso usar um botão direcional, como o de um celular, pouco intuitivo. O tempo de resposta é lento para os padrões de hoje, o que irrita. Ele também não é colorido – e isso não é realmente um problema. Ainda que apenas em preto e branco, a reprodução de imagens é incrivelmente boa, pouco melhor até que uma foto monocromáticadejornalesemelhante a um desenho a lápis. A tela é seu grande trunfo. Mesmo sob o sol que fez em São Paulo na sexta, foi possível ler textos na tela como se fosse um livro comum. Mas, do mesmo jeito, é preciso que haja luz no ambiente porque o Kindle usa uma tecnologia que, diferente das telas LCD, não emite luz, o que cansa os olhos. Circuitos elétricos alternam o pigmento de pequenos pontos na tela entre preto e branco e formam os textos e as imagens. É por isso quedáatéparatirarumafotocópia do Kindle (veja ao lado). Outro problema é a falta de conexão Wi-Fi. Todos os livros são baixados pela rede de celular, que nem sempre é

Crescimento: 48% dos livros vendidos na loja virtual são digitais rápida o suficiente. Também dá para fazer buscas na Wikipedia.NosEUA,épossívelnavegarnainternet,masnoBrasil esse recurso é bloqueado. Nos testes do Link, em vários momentos o Kindle avisava quenãoerapossível seconectar por falta de sinal. A conexão é imprescindívelparafazercomprasviaKindle. O Link testou a compra. Demorou uns minutos, mas funcionou. O método é simples. Basta navegar na própria Amazon, escolher um livro e selecionar o botão “Buy this book”. Infelizmente, você sóficasabendodopreçoaoentrar nos detalhes de cada livro. Em seguida, o cartão de crédito que deseja usar e, ao confirmar, o arquivo é baixado automaticamente. Não há outra forma de pagamento. Caso se arrependa, dá para cancelar a compra. Cada Kindle fica registrado com uma conta da Amazon, mas foi possível trocar de usuário sem que os livros gravados fossem apagados. Isso permite a uma terceira pessoa se logar em um Kindle de outra, baixar um livro já comprado, e deixar o arquivo para o dono original. No fim, o Kindle é um ótimo aparelho. O preço (R$ 900) ainda é salgado, mas vai agradar, e muito, aos leitores que gostam de ler em inglês, mesmo os amantes de livros empapel.Afacilidadedecomprar livros pode fazer esse tipo de leitor repensar sobre a necessidade do papel. O preço de cada arquivo digital (US$ 12) também é caro, já que equivale ao preço de pocket books em inglês – sendo que o digital não tem os custos materiais do papel. ●

● MARCADOR – Dobrinha

virtual marca a página; e o teclado permite anotações

● RELÓGIO – Ao apertar menu,

a barra superior exibe espaço em memória, hora e sinal 3G

Nenhum e-reader como o Kindle está a venda no Brasil por enquanto, há apenas projetos ainda não concluídos. Mas concorrentes já preparam novos equipamentos, com até mais recursos e conteúdo que o Kindle, para não perder o bonde do mercado de livros digitais criado pela Amazon.

BARNES & NOBLE | NOOK Aliado à tradicional livraria, o Nook deverá ser um dos principais concorrentes. Uma das suas telas é colorida, tem conexão Wi-Fi e 3G

● CAPA – O Kindle conta com

vários modelos de capa, que custam, em média, US$ 30

SONY | READER DAILY EDITION A Sony foi uma das primeiras a lançar um e-reader. A tela do último modelo, que ainda será lançado e acessará o Google Books, vira na horizontal

● TAMANHOS – É possível

escolher o tamanho da fonte do livro usando o botão Aa

SAMSUNG | SNE-50K

● CARREGADOR – Pequeno,

● IMAGENS – Além de textos, o

● ORGANIZADO – Um menu na

● NAVEGAÇÃO – Além dos

tem entrada USB e vem com cabo USB micro comum

Kindle exibe fotos, gravuras e capas em preto e branco

parte superior da tela permite navegar pelo conteúdo do aparelho

botões para virar páginas, um direcional controla o cursor

Falta de alternativa estimula a pirataria

‘Ele é bom para livros que não quero ter’

REPRODUÇÃO

“O que está acontecendo de fato é a mais impressionante troca de bens legais que já houve no mundo,(sóque)àreveliadomundo legal. Definir esse fato praticamente consumado como simples pirataria é uma simplificação”, pondera o escritor Cristovão Tezza, autor do premiado livro O Filho Eterno, de 2007. O compartilhamento gratuitodelivrosprotegidospor direito autoral na web já é uma realidade. A Associação Brasileira dosDireitosReprográficos(ABDR) acaba de divulgar o primeirobalançodeumtrabalhoinédito de combate à pirataria online. Apenas em agosto e setembro, foram encontrados mais de 5 mil sites que reproduziam de forma ilegal o conteúdo de livros de associados da entidade. Desse total, 92,7% foram retirados do ar. Ninguém duvida que outros surgiram no lugar. “É como enxugar gelo”, resume Sergio Machado, presidente da editora Record. Mas,seaofertadelivrospirateadosé tão abundante, por que seu consumo não é igualmente expressivo? Simples: a leitura de longos textos na tela do computador ainda é desconfortável para boa parte das pessoas. Entretanto, com a possível disseminação, a médio e longo prazo, de aparelhos como o Kindle, essa limitação seria superada. Apesar das incertezas que a ascensão do livro digital traz, as

VALE TUDO? - Um livro pirata

editoras não pretendem concentrar a sua atuação apenas na repressão a pirataria. Pensando nisso, a Camara Brasileira do Livro (CBL) crioua ComissãodoLivroDigital,comoobjetivo,entreoutros, de antecipar possíveis problemas,como direitosautorais e remuneração da cadeia produtora. Para o coordenador do grupo, Henrique Farinha, da editora Gente, “não é o digital que incentiva a pirataria. Ela é resultado de um descompassoentreoqueopúblicodeseja e o quelhe é oferecido”. Em sintonia, o advogado da ABDR, Dalton Morato, afirmaqueotrabalhodaassociação não é de apenas combatê-la, mas também de “oferecer alternativas de cunho econômico”. ● BRUNO GALO

O escritor Rodrigo Lacerda, autor de O Fazedor de Velhos, está contente com o Kindle que ganhou há dois meses. Depois de registrado nos EUA, ele conseguiuusar normalmente o aparelho – do mesmo modelo que é vendido para o Brasil. A única diferença é que ele não pode comprar e baixar os livros digitaisdiretamentepeloKindleporque a conexão sem fio, pela rede de celular, não é compatível. Por enquanto, ele comprou apenas um livro digital pelo site da Amazon e transferiu-o para o eletrônico. “Achei ótimo para ler. Ele é bem fino e leve, e a leitura é bem confortável, não

cansa. Mas acho que ele é bom mesmo para comprar e ler os livros que não faço questão de ter fisicamente. Eles não ocupam espaço, são bons para levar em viagens e a versão digital poupa o tempo de entrega. Livros de literatura, de autores que gosto, prefiro ter em papel”, diz o escritor. “A tendência é que haja uma convivência. Não tenho medo de que o livro vai acabar. Mas é cedo para saber o impacto do Kindle, sobretudo no Brasil. Ele é muito caro. Vai demorar para se popularizar.” ● F.S. JOSÉ LUIS DA CONCEIÇÃO/AE

Com tela de 5 polegadas, tem quase a metade do peso do Kindle (184g) e tela sensível ao toque. Mas por enquanto é vendido apenas na Coréia

SPRING DESIGN | ALEX Assim como o Nook, o novo modelo roda sobre Android, tem tela secundária colorida e Wi-Fi, mas ainda busca parceiros para ter conteúdo

IREX | DR800SG Com tela de 8’’ sensível ao toque, tem conteúdo da Barnes & Noble e permite assinar mais de 1,1 mil jornais e revistas de todo o mundo

EBOOK CULT | EBOOK READER De marca brasileira, o modelo optou por usar tela LCD, cansativa para a leitura mesmo com retroiluminação fraca, mas pode ser alternativa OS DOIS - Para Lacerda, e-reader vai conviver com livros de papel

SEGUNDA-FEIRA, 2 DE NOVEMBRO DE 2009 O ESTADO DE S. PAULO

LINK LINK L3 L3

SAIBA COMO

Como funciona o Kindle

A Amazon expandiu a venda do Kindle para 100 países, incluindo o Brasil. Assim, o aparelho que permite ler e comprar livros digitais deve impulsionar o mercado de e-books no Brasil

Jornais, revistas, blogs e Wikipedia

Oferta de livros

É possível fazer assinaturas de jornais e revistas, principalmente dos EUA e Europa, e receber o conteúdo é diariamente, pela conexão sem fio ou pelo computador. O aparelho também dá acesso à Wikipedia. No Brasil não acessa a web, nem blogs

A Amazon oferece mais de 360 mil livros em versão digital para o Kindle que custam por volta de US$ 12 cada, porém, há apenas 14 títulos em português, quase nenhum relevante

l

l

IMAGEM DO KINDLE EM TAMANHO REAL

Dicionário

Capacidade

Inclui um dicionário em inglês (The New Oxford American Dictionary), com mais de 250 mil termos, para tirar dúvidas enquanto lê algum livro. Basta colocar o cursor sobre a palavra

l Garante 1,4 gigabytes de espaço, o suficiente para guardar

l

cerca de 1,5 l

Preço Custa

Formato proprietário

O Kindle não aceita nenhum arquivo que seja diferente do formato proprietário da Amazon usado nos livros (.azw), do formato usado em livros digitais para celular (.mobi e .prc), do formato básico de textos (.txt) ou de áudio-livros (.aa e .aax)

l

Para gravar um documento do Word, em PDF ou até uma imagem em JPEG, é preciso enviar o arquivo para um e-mail personalizado da sua conta da Amazon. O arquivo convertido é enviado para seu Kindle, mas o processo pode custar cerca de US$ 0,10. Porém, existem programas que convertem documentos para formatos .prc e .mobi. É uma saída l

mil livros

É bastante, mas será necessário apagar o conteúdo se a memória estiver cheia. Ele não aceita cartões de expansão

PREV PAGE

R$ 900

R$ 444 (US$ 259) pelo aparelho

HOME

+

R$ 456 (US$ 266,32) de taxa de importação para o Brasil

Teclado

Com o teclado sob a tela, é possível digitar anotações em qualquer parte do livro ou pesquisar qualquer termo ou trecho nos livros ou na internet. Também regula o tamanho das letras e das margens l

NEXT PAGE

NEXT PAGE

QUALIDADE DAS IMAGENS O KINDLE TAMBÉM REPRODUZ IMAGENS, COMO FOTOS EM JORNAIS OU CAPAS DE LIVROS, EM PRETO E BRANCO COM ÓTIMA QUALIDADE E UM NÍVEL DE DETALHE IMPRESSIONANTE

MENU

BACK

Áudio

Toca áudiolivros e também reproduz qualquer texto em "voz alta"

l

Bateria

l De acordo com a Amazon, a bateria aguenta até

4 dias de uso constante e com a rede 3G ligada, mas nos testes do Link, durou apenas um dia de uso intenso

TANTO A ALIMENTAÇÃO DE ENERGIA QUANTO A CONEXÃO É FEITA POR UMA ENTRADA DE USB MICRO

l Se desligada, o Kindle segura até 2 semanas sem precisar ser recarregado. Demora até 4 horas para carregar a bateria completamente

Sem fio

O Kindle não acessa redes Wi-Fi (sem fio). Por isso o download dos livros é feito pela rede de celular 3G. Como nos EUA, não haverá custo adicional para baixar os livros

l

NOS LOCAIS ONDE NÃO HÁ COBERTURA 3G, ELE TAMBÉM FUNCIONA PELA REDE DE CELULAR COMUM, PORÉM, A CONEXÃO É MAIS LENTA

Outras possibilidades 03:15 AM

Aplicativo iPhone Quem tem um celular da Apple, pode usar um aplicativo do Kindle no telefone l

Pelo PC

Outra opção é comprar o livro pelo computador e transferir o arquivo do sita da Amazon para o Kindle usando um cabo USB l

Aplicativo PC para comprar e ler livros na tela do iPhone. Uma alternativa para não comprar o Kindle

A Amazon lançará em breve um software para comprar e ler livros digitais na tela do l

computador, sem precisar adiquirir o Kindle. Também será uma alternativa INFOGRÁFICO: RUBENS PAIVA E FARRELL/AE

%HermesFileInfo:L-4:20091102:

L4 LINK

SEGUNDA-FEIRA, 2 DE NOVEMBRO DE 2009 O ESTADO DE S.PAULO

Mercado editorial acredita que o e-book ultrapassará o livro até 2018 ■■■

■■■

MinistériodaJustiçaabreconsulta públicaparadefinirosdireitosdoe-cidadão

Brasil quer discutir lei sobre internet com os internautas Brasil legal JOSÉ LUIS DA CONCEIÇÃO/AE

:TATIANA DE MELLO DIAS

NOVA VELHA MÍDIA –

Mesmo eletrônico, Kindle simula papel

500 anos depois, livro pode mudar E as editoras? : BRUNO GALO : FILIPE SERRANO Enfim, o Kindle chegou ao Brasil.Ecomoseunomepareceinsinua (algo como “por fogo”, em inglês), ele de fato acendeu as discussões em torno do futuro dos livros na era digital por aqui – e, a bem da verdade, em todo o mundo. Ninguém discute que o e-bookveioparaficar,noentanto,essa éumafrágil certezacercada por um mar de dúvidas. A primeira não é nem de longe a mais importante: quando a versão eletrônica vai suplantar o bom e velho livro de papel? Umapesquisarealizada pelaorganização da 61ª Feira do Livro deFrankfurt,amaior emais importantedosetor nomundo, entrejornalistas,escritores,editores e livreiros, revelou que 50% deles acredita que será em 2018. Não é de se surpreender essa divisão. O que se avizinha é a maior mudança pela qual o mercado editorial – afinal, leitores de livro eletrônico, como o Kindle, servem para ler jornais e revistas também – jamais enfrentou. Nos cerca de 100 anos da música como produto, a partir da invenção do fonógrafo, ela evoluiu e se espalhou por diversos formatos(cilindros de cera, discos de goma-laca, de vinil, fita cassete, CD e finalmente MP3) emídias(rádio, walkman,internet, iPod). O livro, por sua vez, em mais de 500 anos de história quase não mudou. A mais relevante dessas sutis mudanças foi o surgimento do livro de bolso no início do século passado. Quer dizer, mudou, mas continuou igual. Ahistória dolivrosempreesteve ligada ao seu suporte – uma tecnologia difícil de ser superada. É relativamente barato, pode ser levado a qualquer lugar, não usa bateria e seu uso é extremamente simples, não requer prática, tampouco habilidade. Jáhouveleitoresdelivroseletrônicos antes do Kindle, mas foi apenas com ele (e alguns outros bons modelos que surgiramnosúltimos anos,aindainéditos por aqui) que começou a fazeralgumsentido pensar que, um dia, o livro de papel não será oprincipalsuporteparaaliteratura. “Esse é um processo sem volta”, afirma Sérgio Machado, presidente da editora Record. Entreas editorasouvidaspelo Link é unânime a opinião de que o e-book veio para ficar. A forma e a velocidade como cada uma delas pretendem se adaptar, no entanto, é bem diferente. A Ediouro planeja, já para as próximassemanas,olançamento do aguardado novo livro de Rubem Fonseca, pelo selo Agir, para Kindle e iPhone. Já a Companhia das Letras, Cosac Naify, PlanetaeaprópriaRecord,confirmam as negociações com a Amazon, dona do Kindle, mas nenhum lançamento no formato, pelo menos por enquanto. Em uníssono, por sua vez,

Google Books pode incluir obras brasileiras ●● ● Apesar de o acordo entre Google, autores e editoras nos EUA também valer para livros brasileiros, as editoras do Brasil consultadas pelo Link não parecem estar preocupadas com a digitalização das obras pelo gigante da internet. O acordo – cuja validade judicial está marcada para ser definida na próxima quarta-feira, dia 11 – estabelece que o Google pode digitalizar e catalogar na internet qualquer livro publicado no território norte-americano, mesmo que seja de outro país. O Google também poderá utilizar livros de países com os quais os EUA têm acordos de direitos autoriais, o que inclui o Brasil. Ou seja, se houver algum livro de editoras brasileiras entre os títulos digitalizados, ele poderá ser incluído nas buscas do Google Books. “Fora dos EUA, só estamos digitalizando livros de domínio público ou títulos de editoras com que temos acordos. Não acredito que vai haver outro acordo geral como nos EUA em outro país”, disse Rodrigo Velloso, diretor de novos negócios do Google Brasil, responsável pelo Google Books. A decisão sobre a validade do acordo esbarra sempre na questão dos livros que estão fora de catálogo, ou seja, que estão esgotados e não têm previsão de publicação. ● F.S. e B.G.

elas afirmam que sua função independe do suporte. “Somos editores de conteúdo”, costumam repetir, além de concordar com o fato de que os livros técnicos e de referência devem ser os primeiros a migrar para o suporte eletrônico. Apesar de todo o burburinho em torno do assunto, essa transição está dando apenas os seus primeiros passos.Mesmonos EstadosUnidos, o processo de massificação dos leitores eletrônicos parece distante. Suas vendas, no entanto, crescem: 3 milhões de aparelhos devem ser comercializados, neste ano, apenas nos EUA. E as previsões para os próximos anossãoextremamentefavoráveis também. Paralelamente,tem seobservado nos últimos anos algumasexperiências quebuscam oferecer, algo além do livro de papel (envolvendo a internet e vídeos, por exemplo) para contar uma história. O curioso é que o Kindle, apesardetodooverniztecnológico que o cerca, busca ser o mais fiel possível ao bom e velho livro de papel. Quer dizer, ainda que o suporte seja trocado, no fundo, os livros continuam exatamente os mesmos. Afinal, por enquanto,umbomlivroaindaéaquele em que a história se completa na sua cabeça. ●

RIO DE JANEIRO

A ideia é ótima – resta saber como será colocada em prática. O Brasilinaugurounasemanapassada o que se pode chamar de primeira consulta pública colaborativa do mundo. A sociedade participará, pela primeira vez, da elaboração de um projeto de lei – de uma forma muito mais clara, simples e acessível do que asconsultaspúblicasquesãofeitashoje,porexemplo, na Anatel. O tema em discussão é justamente de interesse dos internautas: o Marco Civil da Internet, a primeira legislação brasileira que definirá os direitos e deveres de sociedade, empresas e governos na internet. “Estamosutilizandoumametodologia de consulta para que seja um marco da liberdade de expressão e da democracia. Isso significa ampliar o potencial de debateatravésdainternet”,disse o ministro da Justiça, Tarso Genro, durante o lançamento da consulta pública na quintafeira, 29, no Rio de Janeiro.

Na ordem: proposta definirá primeiro os direitos de cada um; depois, os deveres O público opinará mediante cadastro no site Culturadigital. br. O texto-base foi elaborado pelo Ministério da Justiça em parceria com o Centro de Tecnologia e Sociedade da Fundação Getúlio Vargas (FGV) do Rio.Sãotrês eixosdediscussão: direitos individuais e coletivos, responsabilidade dos atores e diretrizes governamentais. Entre os assuntos a serem discutidos estão vários temas delicados que hoje ainda não têm regras claras. Os provedores podem armazenar os logs (dados de navegação de usuários)? Como? Por quanto tempo?Ousuáriotemdireitoaacessar a web anonimamente? O poder público tem a obrigação de

disponibilizar as informações na internet? De que maneira? Como o governo pode ajudar a universalizar a banda larga? Essasquestões– e muitas outras – ainda não têm respostas. “Estamos buscando contribuições qualificadas”, disse Ronaldo Lemos, responsável na FGV pelo projeto. Ele explica que o próprio Ministério da Justiça moderará a discussão. Podem participarpessoasfísicasouinstituições, que terão peso igual. “Ganha o debate quem melhor expor sua opinião”, diz. O textobase ficará em discussão por 45 dias.Depois, seráelaborado um projeto de lei, que ficará novamente em discussão por 45 dias, até que o texto final seja aprovado colaborativamente. Hoje, segundo Lemos, há 43 projetos de lei que legislam sobre um ou outro tema, mas não há um marco organizado como esse. “O vazio deixado pela falta desse marco abre espaço pra propostas de regulação que não são boas”, explica Alfredo Manevy, secretário executivo do Ministério da Cultura. A abertura para a discussão veio justamente do movimento contrário proposto pelo projeto de lei 84/1999 (mais conhecido comoLei Azeredo), quetipificava os crimes na internet. “Uma das grandes críticas era a de que o Brasil teria uma lei penal (a Lei Azeredo) antes dos usuários de internet terem seus direitos assegurados”, disse ao Link Pedro Abramovay, secretário de Assuntos Legislativos do Ministério da Justiça. Foi ele quem puxou a discussão e articulou os responsáveis pelaelaboraçãodoprojeto:Centro de Tecnologia e Sociedade daFGV-Rio(queajudouaelaborar o texto-base), Ministério da Cultura (que colaborará com a consulta pública, hospedada no Culturadigital.br) e deputados federais, como Júlio Semeghini (PSDB-SP) e Paulo Texeira (PT-SP), que encabeçam a discussão na Câmara. “Eu não tenho queme identificar parasair de casa. Isso também não faz sentido na internet”, diz o deputado Teixeira. Após o movimento de oposição à Lei Azeredo – que chegou a classificar o projeto como

FABIO MOTTA/AE

MOUSE NA CABEÇA - Genro, no Rio

“AI-5digital”,oCongressorealizou uma série de discussões sobre o tema. Em julho, o próprio deputadoSemeghinihaviasinalizado a possibilidade de criar uma nova legislação. O projeto

do marco, porém, surgiu após a visita do presidente Lula ao Fórum Internacional do Software Livre, em junho desse ano. O marco regulatório não especificará nenhum crime na internet.Não serão abordadostemas como pirataria, fraudes e espalhar o vírus – esses são temas para uma próxima legislação, que será aplicada – mas sem abusos, porque os direitos de liberdade dos internautas, se tudo correr como esperado, estarão garantidos pelo marco. “Queremos evitar que a discussão sobre esses pontos fique reaparecendo. Hoje cada projeto de lei tenta dar uma solução própria. O que a gente quer é discutir isso de uma vez por todas,daformamais abertapossível, e as soluções têm que ser discutidasemcimadesseprojeto”, diz Lemos. ●

Related Documents

Kindle
June 2020 5
Kindle Book
June 2020 5
Kindle Markup
May 2020 8
Kindle Settlement
June 2020 5
Kindle Your Spirit
November 2019 5

More Documents from "Gina Al"

June 2020 6
May 2020 9
May 2020 7
Tabela Do Bird
May 2020 6
Futebol
June 2020 12