irving wallace o documento
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c�rculo de leitores, lisboa, 1978, 1� edi��o. tradu��o de: �Lvaro silva revis�o de: nuno santos edi��o integral copyright (c), 1976. by irving wallace impresso e encadernado por printer portuguesa. lda. no m�S de agosto de 1978 primeira edi��o: 25.000 exemplares documento r, o autor: wallace, irving editora: record isbn : 8501009954 isbn-13: 9788501009951 livro em portugu�s brochura 1� edi��o
para sylvia, com amor. em 1787, depois dos delegados reunidos em filad�lfia terem assinado a nova constitui��o dos estados unidos, uma mulher chegou junto de benjamim franklin e perguntou: "bem, doutor, conseguimos uma rep�blica ou uma monarquia?" franklin respondeu: "uma rep�blica, se a conseguirmos manter.'' ''aqueles que desistirem das liberdades essenciais para adquirirem uma seguran�a tempor�ria n�o merecem nem a liberdade nem a seguran�a.'' benjamin franklin
cap�tulo primeiro a visita fora completamente inesperada - tinha esquecido aquele compromisso e tinha esquecido de o cancelar, depois de ter prometido ir jantar com o presidente- e agora estava a tentar descartar-se o mais r�pida e amavelmente poss�vel. na verdade, christopher collins n�o queria magoar o homem que estava sentado em frente dele, porque aparentemente era uma excelente pessoa, sens�vel, delicada e am�vel, e noutras circunst�ncias collins teria at� apreciado conversar com ele. mas n�o agora, nunca nessa noite, com uma pilha de pap�is ainda por ler e com um longo e tenso ser�o na casa branca � sua frente. tinha de tratar do assunto cuidadosamente, decidiu collins. n�o apenas porque n�o queria magoar os sentimentos do homem, mas tamb�m porque n�o queria ofender o diretor do f.b.i, tynan. era �bvio que o diretor tinha encorajado o homem, ou talvez lhe tivesse mesmo dito diretamente para entrevistar collins para a autobiografia que estavam a escrever em conjunto. ningu�m era suficientemente tolo para ofender tynan, e muito menos collins, rec�m-chegado ao seu cargo. os olhos de collins deslizaram para o gravador port�til que o visitante colocara � beira da secret�ria h� dez minutos. continuava a gravar, embora nada de importante ainda se tivesse dito. os olhos de collins voltaram a enquadrar aquele homem maduro, talvez j� bem entrado nos cinq�enta, que estudava a lista de perguntas, consciente de que o tempo urgia e procurando selecionar as mais pertinentes e reveladoras. estudando o visitante, collins percebeu subitamente da incongru�ncia da apar�ncia do homem e do seu nome. um nome totalmente deslocado: ishmael young, o "jovem" ishmael. collins esperou ter tempo para lhe perguntar onde fora arranjar tal nome. ishmael young era um indiv�duo baixo e atarracado, provavelmente da nova inglaterra, talvez presbiteriano e escoc�s (com um leve toque judaico), que transbordava no seu amarrotado terno cinzento. a calva na parte superior da cabe�a era ladeada por dois tufos de cabelo invulgares que ele penteava lamentavelmente para cima, fazendo parecer que tinha queimaduras na cabe�a. tamb�m tinha dois queixos e pren�ncios de um terceiro. o seu corpo protuberante enchia a cadeira, parecendo apoiar-se apenas nos rebordos. assemelhava-se a uma baleia arrastada para a praia. collins concluiu que, no final das contas, talvez ishmael fosse o nome certo. n�o tinha a menor apar�ncia de escritor, pensou collins. exceto pelos �culos de arma��o de chifre, que bem precisavam de limpeza, e pelo cachimbo castanho de urze queimada, nada nele indicava o escritor. mas ele pr�prio dissera logo de in�cio que era um escritor-fantasma. e collins nunca encontrara nenhum dessa esp�cie. certamente um escritor-fantasma dos bem sucedidos - daqueles que escrevem livros para atrizes depravadas, ol�mpicos her�is negros, g�nios militares. collins tentou lembrar-se se tinha lido algum dos seus livros. sabia que n�o, mas talvez karen tivesse. n�o se esqueceria de lhe perguntar. percebeu que ishmael tinha erguido a cabe�a, procurando timidamente a sua aten��o, e que j� lhe punha a pergunta seguinte. ao ouvi-la, descobriu imediatamente uma sa�da, uma maneira de terminar esta
entrevista t�o depressa e airosamente quanto poss�vel. tinha apenas de ser honesto. - o que penso de vernon t. tynan? - repetiu collins. - sim. quero dizer, que opini�o tem dele? collins pensou imediatamente no aspecto f�sico de tynan: um gigantesco e tonitroante homem de brobdingnag, quase t�o legend�rio como qualquer deles, com pequenos olhos de lince numa cabecita redonda pregada ao largo e curto pesco�o que encimava uma peita�a musculosa, um homem quase t�o alto como ele pr�prio, e de voz �spera. essa imagem era bem clara. mas do tynan interior n�o sabia praticamente nada. bastava-lhe dizer isso, honestamente, e a conversa acabaria, ishmael iria bater a outra porta. - francamente, n�o conhe�o o diretor tynan muito bem. ainda n�o tive tempo para isso. estou neste lugar h� apenas uma semana. - � procurador-geral h� apenas uma semana - retificou ishmael delicadamente-, mas, segundo as minhas notas, esteve no departamento de justi�a, ou melhor, esteve aqui, quase dezoito meses. pelo que sei, foi adjunto do procurador-geral anterior, o coronel noah baxter, durante treze meses. - � verdade - admitiu collins. - mas como adjunto do procurador tive muito poucos contatos com o diretor tynan. ele lhe confirmar�, se lhe perguntar. era o coronel baxter que contatava com ele, de resto com grande freq��ncia. eram amigos. as sobrancelhas de ishmael young ergueram-se. - n�o sabia que o diretor tynan tinha amigos. pelo menos foi isso que deduzi das conversas com ele. pensei que o �nico �ntimo era o assistente harry adcock, mas encarei essa situa��o como uma rela��o de trabalho. - n�o -insistiu collins -, ele tamb�m era amigo �ntimo do coronel baxter, mais do que de qualquer outro. embora me pare�a que de certo modo tem raz�o. na verdade, o diretor tynan � um solit�rio. mas se olhar para o passado, encontrar� outros diretores do fbi que tamb�m foram solit�rios. � da pr�pria natureza do trabalho. seja como for, a verdade � que nunca contatei muito com ele nem o conheci bem. o escritor n�o se dava por vencido. retirou o velho cachimbo da boca e chupou os l�bios. - mas, senhor collins... - fez uma pausa. - basta o senhor, ou devo trat�-lo por procurador-geral collins, ou talvez s� Geral? collins sorriu. - basta o senhor collins. - muito bem. o que eu ia dizer � que depois de o coronel baxter ter sofrido o ataque, h� j� cinco meses, o senhor dirigiu temporariamente este departamento, foi oficiosamente o chefe da justi�a, at� chegar a confirma��o oficial h� uma semana. e como se sabe, o fbi est� a um n�vel inferior da hierarquia. o diretor do fbi, tynan, � seu subordinado, portanto devem ter de contatar... - o diretor tynan meu subordinado? senhor young, ainda tem muito a aprender. - � para isso que aqui estou, senhor collins - disse young rispidamente -; estou aqui para aprender. n�o posso ser o escritor-fantasma de uma autobiografia do diretor do fbi sem conhecer com precis�o as suas rela��es com o procuradorgeral, com o presidente, com a cia, com todos os membros do governo. pode pensar que devo ent�o dirigir-me ao diretor. j� o fiz, creia-me. mas ele � estranhamente vago quanto ao processo governativo e ao papel que nele desempenha. h� certas coisas que n�o posso esclarecer com ele. n�o que se recuse a contar - mas, s� que n�o est� interessado e fica impaciente. o que lhe interessa � contar os seus feitos no fbi dirigido por j. edgar hoover, a sua posterior demiss�o e o regresso. tamb�m eu estou interessado nisso. � uma parte do livro. mas estou igualmente interessado em saber que posi��o ocupa na estrutura global do poder em rela��o aos outros elementos. collins decidiu ser prest�vel, esclarec�-lo, mesmo que isso lhe levasse mais alguns minutos. - pois bem, senhor young, vamos assentar id�ias. diz o manual do governo que
o diretor do fbi depende do procurador-geral. segundo o livro, � isso que se passa. mas a realidade � bem diferente. de acordo com a lei p�blica n�mero 90-351, a nomea��o do diretor do fbi n�o incumbe ao procurador-geral, mas sim ao presidente, com o parecer e o consentimento do senado. apesar de o diretor do fbi me consultar e trabalhar comigo, n�o tenho autoridade suprema sobre ele. s� o presidente o pode afastar sem a aprova��o do senado. assim, o diretor tynan s� � meu subordinado no papel. um homem como tynan, como j� deve ter percebido, nunca � subordinado. estou certo de que ele, como todos os outros diretores do fbi, considera o seu cargo como vital�cio se o quiser, e v� os procuradores-gerais como transit�rios. portanto, voltando � sua pergunta inicial, ele n�o tem trabalhado para mim e eu pouco contatei com ele. n�o, nem sequer como adjunto do procuradorgeral, quando fiquei encarregado do departamento depois de o coronel baxter ter ido para o centro m�dico da armada em bethesda. lamento n�o lhe poder ser �til. de fato, n�o sei o que ter� levado o diretor tynan a mand�-lo aqui. young endireitou-se ligeiramente. - ah, n�o foi ele. era eu que queria ter este contato. collins tamb�m moveu o seu corpo seco na cadeira girat�ria de couro e espaldar alto, t�pica do executivo. - ent�o est� tudo explicado. sentiu-se aliviado. nada devia ao diretor tynan. podia acabar imediatamente a entrevista sem ofender tynan. contudo, continuava a querer ser educado com young. queria atirar-lhe um osso, mesmo que pequeno, e despedi-lo feliz. - mas, voltando ao assunto, o que queria saber era a minha opini�o sobre o diretor, para o seu livro... - para o meu livro, n�o - cortou young -, para o livro de tynan. ter� o nome dele. tenho estado apenas a tentar compreender a estrutura que o rodeia a partir dos que trabalham com ele. embora n�o o conhe�a bem, esperei que me pudesse ajudar. - pois bem, deixe-me apresentar-lhe a id�ia que tenho dele nestes instantes que nos restam, procurando algo simples e seguro. a minha opini�o � que o diretor � um t�pico homem de a��o, um pr�tico, um indiv�duo de resposta pronta. talvez esteja perfeitamente adequado ao trabalho que realiza. - em que sentido? - o seu trabalho � investigar o crime, investigar as contraven��es federais. o seu trabalho � desenterrar fatos e comunic�-los. n�o tira conclus�es das descobertas, nem sequer apresenta recomenda��es. o meu trabalho � fazer o resto, as dilig�ncias processuais baseadas nas suas descobertas. - ent�o � voc� o homem de a��o. collins atentou no entrevistador ainda com mais respeito. - n�o � assim na realidade - disse.- pode parecer, mas n�o � isso que se passa. eu sou apenas um dos muitos advogados da justi�a. n�s seguimos a via lenta e cuidadosa, tynan e os seus agentes fazem o trabalho direto e perigoso. mas, voltando ao que nos interessa, uma outra opini�o que tenho sobre ele � que... bem, quando ele se envolve em qualquer coisa, qualquer coisa em que acredita realmente, n�o abandona a luta. � muito obstinado, no bom sentido. � o caso da 35.a emenda � Constitui��o que espera a ratifica��o. uma vez lan�ada pelo presidente, logo tynan a apoiou... ishmael young interrompeu: - senhor collins, n�o foi o presidente quem lan�ou a emenda, foi o diretor tynan. espantado, collins fixou o escritor. - onde � que foi buscar essa id�ia? - ao pr�prio diretor. ele fala da emenda como de um filho. - pense ele o que pensar, n�o � verdade. mas o que disse vem apenas dar-me raz�o. quando ele acredita apaixonadamente em qualquer coisa, torna-a sua. e efetivamente, agora � ele o principal sustent�culo da emenda. � t�o respons�vel como qualquer outro, talvez mais que qualquer outro, pela sua aprova��o. - ainda n�o foi aprovada - disse young calmamente. desculpe-me, mas ainda
n�o foi ratificada por tr�s quartos dos estados. - bem, mas ser� - atalhou collins um tanto impaciente pela digress�o. - j� s� falta a aprova��o demais dois estados. - e j� s� restam tr�s para votar. - dois deles votam hoje � noite e creio que hoje mesmo a emenda far� parte da constitui��o. contudo, ela s� est� onde est� devido ao papel do diretor tynan. - olhou para o rel�gio. - bem, parece-me que � tudo. - senhor collins, s� mais uma coisa, se me permite... collins ergueu o olhar e observou a express�o s�ria do rosto do visitante. esperou. - sei... sei que isto nada tem a ver com a entrevista - continuou young -, mas gostaria de conhecer a resposta. - hesitou. agrada-lhe essa 35.a emenda, senhor collins? pestanejando, collins ficou em sil�ncio por alguns instantes. a pergunta fora inesperada. al�m disso, nunca a tinha respondido claramente a ningu�m, nem sequer � sua mulher karen ou a si pr�prio. - se me agrada? - repetiu lentamente. - n�o particularmente. realmente, n�o. para lhe dizer a verdade, n�o tenho pensado muito nisso. tenho estado ocupado na reorganiza��o. confiei no presidente e... e no diretor... - mas � um assunto que lhe diz respeito, a si e ao seu departamento. - bem sei - resmungou collins. - todavia, parece-me que o presidente se pode encarregar perfeitamente disso. talvez eu fa�a algumas reservas, mas n�o consigo sugerir nada melhor. notou que o simp�tico sr. young se tornava menos simp�tico. ficou tentado a perguntar-lhe, e perguntou-lhe mesmo: - e a si, senhor young? agrada-lhe a emenda? - fica rigorosamente entre n�s? - rigorosamente. - odeio-a - respondeu young peremptoriamente. - odeio tudo o que afeta a declara��o de direitos. - parece-me que exagera. a emenda vem alterar e sobrepor-se � Declara��o de direitos, mas s� em certas condi��es, s� perante um acontecimento de m�xima emerg�ncia interna que possa paralisar ou ameace destruir o pa�s. � bem evidente que � para a� que caminhamos e assim a emenda ser� uma base para fazermos nascer a ordem nesse caos... - ir� trazer-nos a repress�o. ir� sacrificar as liberdades em troca da paz. collins come�ou a sentir-se aborrecido e decidiu p�r termo � discuss�o. toda a gente julgava ter a solu��o para tudo, para todos os problemas, at� se ter a oportunidade de tentar realmente. - muito bem, senhor young. sabe o que se passa nas ruas. � a pior crise de crime e viol�ncia da nossa hist�ria. veja o ataque � Casa branca feito por aquele bando organizado de bandidos, h� dois meses. lembre-se das bombas, das metralhadoras... da morte dos treze guardas e agentes secretos, do assass�nio de sete turistas indefesos, da destrui��o da sala este... ningu�m atentou de tal maneira contra a casa branca desde o ataque dos marinheiros ingleses em 1814. mas os ingleses eram nossos inimigos nessa �poca e est�vamos em guerra. o ataque de h� dois meses foi perpetrado por americanos... por americanos. nada est� a salvo. ningu�m est� a salvo. viu o notici�rio da televis�o hoje de manh�? young disse que n�o com a cabe�a. - ent�o deixe-me contar-lhe - prosseguiu collins. - peoria, illinois. departamento da pol�cia. o turno da manh� apresentou-se ao servi�o, recebeu ordens e os agentes come�avam a dirigir-se para as motorizadas e para os carros, quando sofreram uma emboscada de um bando que os esperava. foram dizimados, um verdadeiro banho de sangue. pelo menos um ter�o da for�a morta ou ferida. que me diz a isto? ou ao fato (apresentado hoje por um matem�tico) de que uma em cada nove pessoas nascidas este ano em atlanta, caso ficassem na cidade, acabariam assassinadas?
repito, nunca tivemos uma crise de crime como esta na nossa hist�ria. o que proporia para a resolver? que faria? era evidente que ishmael young j� tinha discutido o assunto, pois a resposta foi pronta. - poria a nossa casa em ordem reconstruindo-a. dos p�s � cabe�a. como dizia george bernard shaw: "o mal a atacar n�o � o pecado, o sofrimento, a voracidade, o abuso de poder, a demagogia, a monopoliza��o, a bebida, a guerra, a doen�a, nem nenhuma das outras conseq��ncias da pobreza, mas a pr�pria pobreza." tomaria medidas dr�sticas para acabar com a pobreza, para p�r fim � opress�o econ�mica, � desigualdade, � injusti�a, para p�r fim ao crime... - j� n�o estamos a tempo da altera��o radical. veja que eu n�o discordo de si quanto ao que h� que fazer basicamente. tudo isso vir� no devido tempo. - nunca vir� se a emenda passar. collins n�o estava com disposi��o para prosseguir o debate. - desperta-me a curiosidade, senhor young. fala assim quando trabalha com o diretor tynan? young abanou os ombros. - n�o estaria aqui neste momento se o fizesse. falo-lhe assim porque... porque me parece uma pessoa honesta. - sou uma pessoa honesta. - e... espero que n�o se importe que lhe diga... n�o consigo compreender o que faz no meio dessa gente. young atingira um ponto nevr�lgico. karen fizera-lhe a mesma pergunta h� um m�s, quando decidira aceitar o cargo de procurador-geral. nessa altura conseguira dar-lhe algumas respostas, mas n�o ia incomodar-se a repeti-las a um estranho. em vez disso, disse: - gostaria de ver outra pessoa neste lugar? algu�m recomendado pelo diretor tynan? porque pensa que o aceitei? porque acredito que as pessoas honestas acabam sempre por vencer. - olhou novamente para o rel�gio e levantou-se. - lamento, senhor young. esgotamos o tempo. disse-lhe assim que entrou que tenho uma pilha de casos para rever. a seguir tenho de ir para a casa branca. ou�a, daqui a uns meses j� saberei muito mais e talvez lhe possa dar uma ajuda maior. porque n�o contata comigo nessa altura? ishmael young j� estava de p�, afastando o bloco de notas, pegando no gravador e desligando-o. - contatarei consigo. se ainda aqui estiver, e espero que esteja. - estarei. - ent�o c� me ter�. muito obrigado. chris collins aproximou-se, apertou a m�o do escritor e ficou a v�-lo bambolear-se a caminho da sala de confer�ncias que levava � sala da recep��o e ao �trio do elevador. subitamente desejou fazer uma �ltima pergunta ao escritor: - j� agora, senhor young, h� quanto tempo trabalha com o diretor tynan? ishmael young parou no limiar da porta. - h� quase seis meses. uma vez por semana... desde h� seis meses. - mas acabou por n�o me dizer o que pensa dele... young apresentou um sorriso for�ado. - senhor collins - disse ele - eu estaria a infringir o artigo quinto. ainda existe esse quinto, n�o � verdade? - resmungou.- este trabalho � o meu ganha-p�o. nunca arrisco isso. al�m disso, fui de certa forma pressionado para aceitar esta incumb�ncia. mais uma vez, obrigado. saiu. est�tico, collins ficou a pensar na conversa, na crise do pa�s, na nova emenda que a solucionaria, no pr�prio diretor tynan, meditando no que pensava sobre tudo isso. mas compreendeu que era um "invent�rio demasiado longo e que havia muito trabalho para fazer. sentou-se, fez a cadeira rolar para junto da secret�ria e come�ou a examinar os pap�is jacentes. pouco tardou que esquecesse completamente o visitante. ficou profundamente
absorvido nos casos que requeriam aten��o imediata: um rapto interestatal, uma viola��o da lei da energia at�mica, uma queixa sobre terras de �ndios, uma a��o antitrusts, um terr�vel caso de narc�ticos, uma informa��o de um juiz federal, uma conspira��o subversiva contra o congresso, uma deporta��o, uma s�rie de problemas relativos a tumultos, algumas pistas sobre cinco conjuras tendentes a aniquilar ou derrubar o governo. embora absorvido, collins mantinha-se extremamente sens�vel aos ru�dos. nesse preciso instante, na quietude do seu amplo gabinete de vinte e muitos metros, percebeu do deslizar dos passos dela sobre o espesso tapete oriental. levantou o olhar por sobre os dois montes de papelada para ver marion rice, a sua secret�ria, aproximar-se apressadamente vinda do gabinete adjacente. trazia um grande sobrescrito. - acaba de chegar, por m�o pr�pria, do outro lado da rua - disse ela. do outro lado da rua da avenida pensilvania, era o edif�cio j. edgar hoover, o fbi, e o diretor tynan. - tem carimbado confidencial e importante - acrescentou. deve ser do diretor. - � estranho - disse collins -, geralmente a correspond�ncia chega cedo. ela estendeu-lhe o sobrescrito por cima da mesa e hesitou por instantes. - se n�o tem mais nada para mim, vou-me embora. collins ficou surpreso. - que horas s�o? - seis e vinte. - meu deus! ainda nem cheguei a meio. n�o devia ter deixado o tal escritor roubar-me tanto tempo. - recordou a conversa. - bem, talvez tenha sido �til. era uma pessoa interessante. - olhou tristemente para um dos montes de pap�is. parece-me que tenho de levar grande parte para casa. muito bem, marion, pode fechar as portas e sair. - n�o vai ter tempo para trabalhar mais. n�o se esque�a que tem um jantar �s sete e um quarto na casa branca. collins fez um trejeito. - isso tamb�m vai ser trabalho. ela continuava a hesitar, depois um sorriso reticente aflorou-lhe o rosto liso e alongado. - eu... queria ainda dar-lhe os parab�ns pela sua primeira semana como procurador-geral. estamos todos muito contentes. boa noite. - boa noite, marion. agrade�o-lhe. depois de ela sair, quando ficou s�, fitou o grande sobrescrito. nos dias que corriam, raramente vinham boas not�cias do fbi, por isso foi com relut�ncia que abriu o sobrescrito. retirou o que parecia ser meia d�zia de p�ginas de estat�sticas datilografadas. por cima delas vinha uma nota manuscrita. pela intrincada letra que j� lhe era familiar, pela pontua��o errada (muitos travess�es), pelas abreviaturas impacientes, soube que a nota fora escrita pelo diretor vernon t. tynan, antes mesmo de ler a assinatura. despertada a curiosidade, collins come�ou a ler a nota. caro chris. aqui tem os n�meros mais recentes dos �ltimos meses referentes �s estat�sticas do crime - de longe os piores at� agora, os piores da nossa hist�ria - envio uma c�pia para a imprensa e outra para si a fim de que possa v�-los antes de nos encontrarmos com a imprensa logo � noite. note a subida vertical em assass�nios, tumultos, roubos � m�o armada, raptos de estado para estado. veja o meu p. s. sobre pistas quanto a conspira��es prov�veis e revolucion�rios organizados- estamos numa camisa de onze varas e acabaremos por cair - a �nica coisa que nos pode safar � a aprova��o definitiva da 35.a emenda - reze por isso hoje � noite. j� comuniquei pelo telefone estas estat�sticas para os legisladores de albany e columbus, para que eles conhe�am a verdadeira situa��o antes de votarem logo. lamento ter de lhe dar um relat�rio t�o terr�vel, mas parece-me vital que se
atualize antes de se encontrar com a imprensa. ainda est� em esbo�o verifico com aten��o antes de tornar p�blico amanh�. vejo-o no jantar. atenciosamente, vernon. enquanto dobrava a nota de tynan, collins deu uma vista de olhos pelos relat�rios criminais, voltando vagarosamente as p�ginas. comparando o n�mero de crimes violentos incluindo assass�nio, no �ltimo m�s com os do m�s precedente, notava-se uma subida de 18 %; os estupros tinham aumentado 15%, os roubos e assaltos com agravantes, 30%; os tumultos, 20%. pousou as p�ginas de tynan. recordou outras estat�sticas. devido a esse aumento de criminalidade as pris�es estavam repletas. cinco anos antes, a m�dia anual de pessoas tempor�ria ou permanentemente detidas nas 250 principais pris�es ou reformat�rios era de dois milh�es de pessoas. apesar de um grande esfor�o para dominar os infratores da lei, apesar dos 45 000 advogados e agentes do fbi a trabalharem para o departamento de justi�a, apesar das tr�s divis�es especiais de tropas do ex�rcito destinadas ao controle interno pelo pent�gono, apesar dos 22 bilh�es de d�lares a gastar no refor�o da lei durante o corrente ano (tinham sido apenas 3 1/2 bilh�es em 1960), a m�dia de crimes continuava a subir em espiral. o cancro j� n�o podia ser mantido em respeito pela for�a, segundo parecia. mais um ano e poderia ser o fim, a proclama��o da morte da sociedade organizada. recostou-se na cadeira, com as m�os juntas no peito, como se rezasse. estava certo que era o per�odo mais negro da hist�ria americana desde a guerra civil. a anarquia e o terror dominavam cada novo dia. quando se acordava de manh�, n�o se sabia se se veria a noite. quando se adormecia, n�o se sabia se se veria a manh�. quando dava diariamente o beijo de despedida a karen antes de sair para o trabalho, sentia a terr�vel incerteza de poder n�o a encontrar (e ao filho que ela trazia no ventre) quando chegasse a casa. sentiu a m�o invis�vel do medo apertar-lhe o est�mago. n�o era a primeira vez. por instantes, os seus pensamentos afastaram-se do caos das ruas para a compaix�o por si pr�prio. na verdade, ele, ele e tynan, tinham o pior, o mais dif�cil trabalho da terra. a compaix�o por si pr�prio levou-o a uma m�rbida autofascina��o. mas ent�o porque teria ele, christopher collins -previdente, nada vaidoso, ponderado, por vezes ego�sta (tamb�m sabia ser objetivo) -, tomado a seu cargo este trabalho imposs�vel de agente n�mero um da lei e de cabe�a da mais importante firma de leis da na��o? teria chegado a essa posi��o sem convic��es apaixonadas (exceto, como ishmael young dissera, a de que a sociedade democr�tica tinha de ser reestruturada), nem solu��es, apenas pelo desejo de poder? ou teria sido para cumprir um dever patri�tico? ou por um sentimento cavaleiresco de que podia fazer algum bem? ou teria sido afinal a v�tima de uma deforma��o masoquista ou at� suicida da sua personalidade? n�o sabia. pelo menos nessa noite. ouviu ent�o o telefone tocar. voltou-se para a esquerda, encarando o m�vel de carvalho em que estava instalado o p.b.x., e viu que a sua linha pessoal (para karen, para os amigos, diferente das outras linhas para o presidente, para o diretor, para o seu adjunto, ed schrader) tinha o bot�o iluminado. levantou o auscultador. - fala collins. - querido, espero n�o te interromper... - era a voz de karen. - n�o, n�o. estava a tratar de uns assuntos de �ltima hora. como est�s, amor? ela n�o respondeu diretamente. limitou-se a dizer: - sei que vamos jantar fora hoje � noite. queria saber a hora a que o teu motorista me vem buscar. � �s sete? - um quarto para as sete. encontramo-nos �s sete. somos esperados na casa branca quinze minutos depois. o presidente quer que cheguemos a horas. ficaremos a ver a reportagem especial da televis�o de nova iorque e ohio. j� est�s vestida? - ainda s� tenho a roupa interior, mas j� estou maquiada. agora � s� vestir qualquer coisa por cima. que tipo de recep��o �? posso levar o vestido vermelho de malha? - veste o que achares melhor. a secret�ria do presidente disse que seria
muito informal. - ent�o acho que o vermelho serve. deve ser a �ltima vez que o posso usar antes de a barriga se come�ar a conhecer. - algum movimento hoje? - onde? ah, sim, l� dentro. algumas tentativas de pontap�s. - �timo. os redskins precisam de um avan�ado. mas ainda n�o me disseste como te sentes. - parece-me que estou muito bem. atendendo �s circunst�ncias. - quais circunst�ncias? - ele sabia, mas mesmo assim tinha de perguntar. - sabes bem o que penso de todos esses protocolos. s� estive uma vez contigo na casa branca, na altura em que fomos com os baxter � Sala de jantar do estado. e foi terr�vel. mas agora dizes que se trata de uma coisa restrita, �ntima, e isso � duplamente assustador. n�o saberei que dizer. - n�o ter�s de dizer absolutamente nada. ficamos todos a ver televis�o. - porque tens de l� ir? h� alguma coisa t�o importante para teres de estar presente? - j� n�o te lembras? contei-te de manh�. - desculpa... - n�o tem import�ncia. eu repito. primeiro, o presidente quer que v�. isso � quanto basta. depois, eu sou o procurador-geral, a 35.a emenda passa por uma vota��o crucial esta noite e isso cai na minha esfera. todos me julgam um dos principais interessados. h� reportagens especiais � noite sobre as sess�es das c�maras baixas de nova iorque e ohio, feitas em direto. como dois dos tr�s estados que ainda n�o votaram v�o faz�-lo hoje, faltando apenas dois para a 35.a emenda se tornar parte integrante da constitui��o, � uma grande noite. compreendeste? - sim, percebi. n�o te zangues comigo, chris. � que n�o percebia bem o que se ia passar. - fez uma pausa. - queres que seja aprovada? li algumas coisas duras a respeito dela. - tamb�m eu, amor. n�o sei. realmente n�o sei o que ser� melhor. a emenda pode ser boa se forem boas as pessoas que dirigem o pa�s. mas pode ser m�, se essas pessoas forem m�s. s� posso dizer que, se passar, o meu trabalho se tornar� mais f�cil. - ent�o espero que passe - mas a sua voz n�o tinha convic��o. - bem, como dizem no misterioso m�dio oriente: ser� o que tiver de ser. limitemo-nos a comer o jantar do presidente, a ver e a ouvir. - viu as horas. - � bom ires vestir-te. o motorista deve estar a chegar. amo-te. at� j�. depois de desligar, de colocar um monte de pap�is no tabuleiro dos despachados, de meter o resto na pasta, ficou sentado a pensar em karen. lamentava ter sido um pouco rude para com ela. ela merecia mais, o seu melhor. sabia que essa noite iria ser uma prova��o para ela. karen opusera-se desde in�cio � mudan�a, ao seu cargo de adjunto do procurador-geral, � sa�da da advocacia privada em los angeles em troca do cargo p�blico em washington, e ainda com maior veem�ncia, ao cargo governamental de procurador-geral. embora ela geralmente n�o se manifestasse e se pretendesse apol�tica, ele sabia qual era a sua posi��o. tudo ficara claro quando ele entrara para o departamento de justi�a. ela n�o gostava nem confiava nas pessoas com quem ele trabalhava, desde o presidente wadsworth ao diretor tynan. al�m disso, tentara explicar-lhe que era um cargo de bode expiat�rio. o pa�s afundava-se rapidamente e ele seria o primeiro a cair. e tamb�m n�o gostava do trabalho que se fazia no gabinete. acima de tudo, karen n�o queria viver numa roda-viva, n�o desejava as amizades for�adas, nem a sociabilidade imposta, nem a nudez perante os mass media exigida pela sua posi��o. nessa altura eram rec�m-casados - ambos pela segunda vez -, agora eram-no h� dois anos, ela estava j� no quarto m�s de gravidez e s� desejava recato, intimidade, tranq�ilidade, e n�o queria compartilh�-lo. collins levantou-se da cadeira, decidido a ficar junto dela durante toda a noite, por mais dif�cil que isso pudesse ser, e a ser meigo. ergueu-se a toda a altura do seu 1,83 m, at� ouvir os ossos rangerem. fitou por instantes o seu rosto cadav�rico, mas n�o deselegante, penteou o cabelo negro ao espelho e viu que tinha doze minutos at� �
chegada do carro. encaminhou-se para a sala de estar privativa, por tr�s do gabinete da secret�ria, para se lavar e mudar de roupa, perguntando-se se seria realmente uma noite hist�rica e memor�vel. quando o cadillac passou pelo port�o de ferro negro, hoje aberto, do gradeamento que corria ao longo da avenida da pensilvania, e entrou na sinuosa rua que levava � Casa branca, collins notou de imediato a presen�a de um grande n�mero de jornalistas em frente da fachada norte, esperando com o equipamento de ilumina��o ligado. mike hogan, o agente do fbi que desempenhava as fun��es de seu guardacostas, voltou-se no lugar da frente e perguntou-lhe: - quer falar-lhes, senhor collins? collins apertou a m�o de karen e respondeu: - n�o, se o puder evitar. vamos diretamente para dentro. depois de sa�rem do carro no p�rtico norte, collins esquivou-se delicadamente � imprensa. pegando no bra�o de karen, seguiu apressado atr�s de hogan em dire��o � entrada da casa branca. respondeu apenas a uma pergunta antes de entrarem. um rep�rter da televis�o chamou-o: - senhor collins, soubemos que vem assistir ao programa da televis�o. o que lhe parece que vai acontecer? collins respondeu de passagem: - vamos assistir � reposi��o de e o vento levou. suponho que � o norte quem vence. l� dentro, esperavam-no duas surpresas. julgara que a reuni�o se realizaria na sala vermelha, ou numa das outras salinhas menores do primeiro andar, mas em vez disso ele e karen foram acompanhados ao gabinete de trabalho, na ala oeste. julgara que estariam presentes umas trinta ou quarenta pessoas, mas eram apenas umas doze al�m de karen e dele pr�prio. na parede fronteira �s tape�arias verdes que cobriam as portas francesas que levavam aos roseirais da casa branca, junto das prateleiras de livros, tinha sido instalado um grande m�vel de televis�o a cores. v�rias pessoas viam de p� o filme, embora o som tivesse sido desligado. metade das cadeiras de couro que rodeavam a comprida e resplandecente mesa escura (que fazia lembrar a collins um esquife para o gigante de cardiff) tinham sido viradas de frente para a televis�o. do lado oposto da mesa, por baixo do bras�o pendurado na parede de este e entre as bandeiras americana e presidencial, o presidente wadsworth mantinha animada conversa com os dirigentes da maioria do senado e da c�mara dos representantes, acompanhados pelas mulheres. embora collins j� tivesse estado no gabinete de trabalho uma meia d�zia de vezes - cinco delas como adjunto do procurador-geral em substitui��o do coronel baxter, e no princ�pio desta mesma semana j� como procurador - a sala pareceu-lhe estranha. isso porque toda ela tinha sido reformulada. muitas cadeiras tinham sido aproximadas da televis�o; no extremo da mesa, em frente do retrato de washington pintado por gilbert stuart que pendia por cima do fog�o de sala, os hors d'oeuvres eram conservados quentes em brilhantes travessas de cobre aquecidas, dispostas sobre a toalha verde e sob a vigil�ncia de um chefe de cozinha de alto barreto branco. o s�brio gabinete tinha sido transformado, devido � confus�o informal, numa sala de estar confort�vel e mais ampla. enquanto collins, de bra�o dado com karen, examinava a cena, o adjunto principal do presidente, mcknight, aproximou-se sem deten�a para lhes dar as boasvindas. circundaram o gabinete, cumprimentando sucessivamente, pela primeira vez ou de novo, o vice-presidente frank loomis e a mulher; miss ledger, a secret�ria particular do presidente; ronald steedman, o consultor particular do presidente da universidade de chicago; o secret�rio do interior, martin; os dirigentes do congresso e as respectivas mulheres, e, por fim, o pr�prio presidente wadsworth. o presidente, um homem simples, delicado e urbano, quase galanteador, de cabelo preto a acinzentar nas t�mporas, nariz pontiagudo, queixo retra�do, pegou na m�o de karen, apertou a de collins, e come�ou quase de imediato a desculpar-se.
- marta - referia-se � Primeira dama - tem muita pena de n�o poder estar presente para os conhecer melhor, mas est� de cama com um princ�pio de gripe. ah, mas vai curar-se e haver� outras ocasi�es... bem, chris, parece que vamos ter uma noite feliz. - assim o espero, senhor presidente - disse collins. - h� alguma novidade? - como sabe, os senados estaduais de nova iorque e ohio ratificaram ontem a 35.a emenda. agora estamos nas m�os da assembl�ia de nova iorque e da c�mara de ohio. logo a seguir �s vota��es de ontem, steedman p�s os seus grupos de conselheiros a formigarem em albany e columbus, falando com os legisladores estaduais. ohio parece garantido. steedman tem os n�meros e s�o convincentes. nova iorque � um pouco mais duvidosa. pode cair para qualquer dos lados. a maioria dos deputados contatados estavam indecisos ou n�o queriam fazer coment�rios, mas entre os que responderam houve um ganho apreci�vel em rela��o �s �ltimas sondagens. a situa��o parece ser-nos favor�vel. al�m disso julgo que as �ltimas estat�sticas do fbi... boa noite, vernon. o diretor vernon t. tynan acabava de se juntar a eles, ocupando todo o espa�o vazio com a sua presen�a imponente. apertou a m�o do presidente, a m�o de collins, cumprimentou karen pelo seu �timo aspecto. - estava precisamente a dizer, vernon - prosseguiu o presidente com a sua voz vibrante -, que os n�meros que me mandou h� uma hora devem ter grande impacto em albany. ainda bem que os conseguiu a tempo. - n�o foi f�cil - disse tynan. - foi uma grande luta. mas tem raz�o. devem ajudar. ronald steedman parece menos certo. acabo de falar com ele. pelas suas previs�es, ohio deve estar do nosso lado, mas nova iorque anda a vogar. n�o parece muito confiante nesta vota��o. - pois eu estou confiante - disse o presidente. - daqui a duas horas j� teremos trinta e oito dos cinq�enta estados, e uma nova emenda � Constitui��o. e teremos finalmente meios para preservar este pa�s, se tanto for necess�rio. collins acenou com a cabe�a na dire��o da televis�o colocada do outro lado da mesa. - quando come�a, senhor presidente? - daqui a dez ou quinze minutos. est�o a preparar o terreno com alguns coment�rios. - bem, n�s vamos dar uma olhadela - disse collins. - e tomar uma bebida. enquanto conduzia karen, notou que tynan continuava ao seu lado. - parece-me que tamb�m vou tomar uma bebida - disse tynan. caminharam em sil�ncio para a mesa onde o criado do presidente charles, servia as bebidas por entre filas de copos e garrafas, baldes de gelo e um refrigerador de champanhe. adiantando-se, tynan espreitou para karen e perguntou-lhe: - como se sente, senhora collins? tem passado bem? surpreendida, karen alisou o curto cabelo castanho, baixando a m�o logo de seguida, num gesto autom�tico, para o cinto folgado. - nunca me senti melhor, obrigado. - ainda bem, ainda bem que a ou�o dizer isso - volveu tynan. collins, depois de ter pegado numa ta�a de champanhe e uma tosta de caviar para karen, e de ter retirado um scotch com �gua para si, quando se dirigiam para duas cadeiras vazias em frente da televis�o, sentiu que a mulher lhe puxava a manga. inclinou a cabe�a. - ouviste-o - murmurou ela. - quem? - tynan. a s�bita preocupa��o com a minha sa�de... se me sentia bem. estava praticamente a dizer-nos, � sua maneira, que sabe perfeitamente da minha gravidez. collins parecia confuso. - n�o pode saber. ningu�m sabe. - ele sabe - sussurrou karen. - mas mesmo que tenha descoberto, que importa? - quer recordar-te que � omnisciente. para te manter na linha, a ti e a todos os outros. - acho que est�s a exagerar. ele n�o � assim t�o sutil. estava apenas a ser
mundano, foi uma observa��o inocente. - claro, como o lobo do chapeuzinho vermelho. - chiu, baixa a voz. tinham chegado �s cadeiras quase em frente do grande aparelho de televis�o e sentaram-se. beberricando, collins tentou concentrar-se no programa. o conhecido comentador dizia que seriam consagrados alguns minutos a recordar o processo seguido para realizar novas emendas na constitui��o, e mais especificamente a rememorar o trajeto da 35.a emenda, desde o seu nascimento at� a este momento em que estava � beira da ratifica��o. "h� duas maneiras de iniciar o processo de emendas � Constitui��o dos estados unidos"-come�ou o comentador. collins pousou o copo, acendeu um cigarro a karen e outro para si, e recostou-se, prestando uma vaga aten��o. "um dos meios para iniciar o processo tendente a realizar uma emenda, � prop�-la no congresso. o outro meio � v�-la apresentada numa conven��o nacional convocada pelo congresso a pedido de dois ter�os dos estados. at� hoje, nenhuma emenda partiu de tal conven��o. todas elas tiveram in�cio no congresso, em washington. uma vez apresentada uma resolu��o propondo uma nova emenda, quer no senado quer na c�mara dos representantes, s�o ouvidos os comit�s de leis e os judici�rios. depois de ser aprovada por esses comit�s, a emenda segue para o plen�rio do senado e da c�mara dos representantes. para ser aprovada, s�o necess�rios dois ter�os dos votos de cada um desses corpos legislativos. uma vez aprovada, n�o carece da assinatura do presidente dos estados unidos. em vez disso, s�o enviadas c�pias aos servi�os gerais de administra��o, que por sua vez distribuem a emenda pelos governadores dos cinq�enta estados. os governadores limitam-se a encaminhar a emenda para as legislaturas dos seus estados, para a� ser debatida e votada. se tr�s quartos das legislaturas estaduais - isto �, 38 dos 50 estados - ratificarem a emenda, esta torna-se oficialmente parte da constitui��o." collins deitou o cigarro para o cinzeiro, pegou novamente no copo e continuou a ver o programa. o comentador continuava a falar: "desde que as primeiras dez emendas foram integradas na constitui��o, ou melhor, desde 1789, foram apresentadas cinco mil e setecentas resolu��es no congresso para emendar a constitui��o num ou noutro ponto. foram sugeridas emendas de todos os tipos: para substituir a presid�ncia por um conselho governativo composto por tr�s pessoas, para abolir a vice-presid�ncia, para mudar o nome de estados unidos da am�rica para estados unidos da terra, para alterar o sistema de vota��o em col�gio eleitoral, para erradicar o sistema de livre iniciativa de modo a que nenhum indiv�duo possu�sse mais de dez milh�es de d�lares. desse aglomerado de cinco mil e setecentas propostas de emendas, das que n�o morreram logo no congresso, das que foram enviadas aos estados, s� trinta e quatro foram ratificadas pelos dois ter�os dos estados necess�rios. em geral, at� agora n�o houve limita��o do tempo que os estados t�m para ratificar ou rejeitar. a emenda mais rapidamente aprovada da nossa hist�ria foi a 26.a, concedendo o direito de voto aos dezoito anos. e assim chegamos � mais recente emenda, a 35.a, que poderemos ver morrer ou tornar-se lei desta terra hoje � noite.'' collins ouviu o movimento dos corpos, o arrastar das cadeiras e viu os convidados amontoarem-se pouco a pouco em frente da televis�o. depois concentrouse totalmente no aparelho. "a controversa 35.a emenda, destinada a substituir as dez primeiras emendas, ou a declara��o de direitos, em certas situa��es de emerg�ncia, nasceu do desejo dos dirigentes do congresso e do presidente wadsworth de forjar uma arma para impor a lei e a ordem na na��o, se tanto for necess�rio." - arma? - interrompeu o presidente, que acabava de se sentar junto de collins. - que quer ele dizer com arma? se � verdade que a linguagem pode ser prejudicial, aqui est� um exemplo. quem me dera ver uma emenda aprovada para poder
tratar de comentadores destes. - estamos a aprovar uma - bramou o diretor tynan da sua cadeira no lado oposto. - a 35.a tratar� destes perturbadores. collins entreviu o olhar cortante de karen. incomodado, voltou a prestar aten��o � televis�o. " ...e assim, depois de ter sa�do dos comit�s e de ter sido apresentada sob a forma de resolu��o - prosseguia o comentador -, passou ao plen�rio do senado e da c�mara para a vota��o final. apesar da oposi��o oral, mas reduzida, dos blocos liberais, ambos os corpos do congresso deram � emenda ampla aprova��o, que excedeu em muito os dois ter�os de votos necess�rios. em seguida, a nova emenda foi enviada para os cinq�enta estados. isso passou-se h� quatro meses e dois dias. ap�s uma aprova��o relativamente f�cil nos primeiros estados que votaram, a viagem da 35.a emenda tornou-se cada vez mais tempestuosa, � medida que a oposi��o se organizava contra ela. at� � data, j� a votaram quarenta e sete dos cinq�enta estados. onze rejeitaram-na. trinta e seis deram-lhe a sua aprova��o. mas como a emenda precisa de ser aprovada por trinta e oito, ainda faltam dois estados. ora, neste momento, apenas tr�s estados ainda n�o votaram: nova iorque, ohio e calif�rnia. nova iorque e ohio realizam a vota��o hoje mesmo, acontecimento hist�rico que presenciaremos daqui a pouco, enquanto a calif�rnia marcou a vota��o para daqui a um m�s. mas ser� necess�ria a calif�rnia? se nova iorque e ohio rejeitarem hoje a emenda, ela ficar� imediatamente posta de lado. se, pelo contr�rio, ambos os estados a ratificarem, tornar-se-� de imediato parte da constitui��o, e o presidente wadsworth ter� o seu arsenal para combater a crescente criminalidade e a desordem que pouco a pouco v�o sufocando a na��o. a vota��o desta noite em nova iorque e ohio poder� ser hist�rica, poder� mudar o rumo da hist�ria americana para o pr�ximo s�culo. dentro de momentos, ap�s um breve intervalo para publicidade, iremos lev�-los at� � assembl�ia estadual de albany, nova iorque, onde o debate no plen�rio est� a chegar ao fim, precedendo a realiza��o da vota��o final nominal." o an�ncio de uma grande companhia de petr�leo, que declarava estar finalmente ao dispor do p�blico, uma companhia que pretendia apenas ser um servi�o p�blico destinado a tornar a vida mais f�cil e feliz ao povo, foi rapidamente abafado pela eleva��o das vozes que conversavam na sala. collins levantou-se, aproveitando para ir encher de novo o copo. karen tinha tapado o seu com a m�o, indicando que n�o beberia mais champanhe. ele deixou-a e abriu caminho por entre os convidados em dire��o ao bar improvisado na mesa. viu o presidente acompanhado pelo seu consultor, steedman, por tynan e mcknight, e sup�s que estivessem uma vez mais a rever as informa��es de �ltima hora sobre as inten��es da assembl�ia de nova iorque. quando collins voltou para a cadeira, com um scotch gelado na m�o, viu que a televis�o focava um grande plano da assembl�ia. - o que � que se vai seguir? - perguntou a karen. - est� mesmo a come�ar - respondeu ela. - o debate no plen�rio est� a chegar ao fim. o �ltimo orador est� a concluir o discurso a favor da emenda. collins bebeu um grande gole de scotch e atentou no grande plano de um indiv�duo, identificado como o deputado lyman smith, que perorava. collins ouviuo. "...e embora a constitui��o dos estados unidos, tal como foi escrita pelos nossos antepassados, seja um nobre instrumento legal dizia o orador -, repito-vos que n�o � sacrossanta. n�o foi feita para petrificar com o correr dos anos. pretendeu-se que fosse flex�vel (e por isso se estabeleceram provis�es para ser alterada), suficientemente flex�vel e mut�vel para ir ao encontro das necessidades de cada nova gera��o e para acompanhar o progresso humano. lembrem-se, meus amigos, que esta nossa constitui��o foi escrita por um grupo composto na sua maioria por jovens radicais, homens que vieram � sess�o de assinatura em carruagens puxadas por cavalos, homens que usavam perucas, homens que se serviam de penas para escrever. esses homens nunca ouviram falar de canetas, m�quinas de escrever, calculadoras eletr�nicas. n�o conheciam a televis�o, os avi�es a jato,
as bombas at�micas nem os sat�lites espaciais. e certamente nunca ouviram falar do s�bado especial. mas introduziram na sua constitui��o o instrumento que permitiria ajustar as nossas leis federais ao que o futuro pudesse trazer. esse futuro somos n�s, a mudan�a bate-nos � porta e chegou o momento de alterar a nossa lei suprema de acordo com as necessidades da nossa presente cidadania. a velha declara��o de direitos, tal como foi estabelecida por esses fundadores de perucas, � demasiado amb�gua, demasiado geral, demasiado branda para enfrentar a vaga dos acontecimentos que conspiram para destruir o funcionamento da nossa sociedade e a estrutura da nossa democracia. s� a aprova��o da 35.a emenda pode dar aos nossos dirigentes uma m�o mais firme. s� a 35.a emenda nos pode salvar. por favor, caros amigos e colegas, votai pela ratifica��o!" enquanto o orador retomava o seu lugar, a c�mara da televis�o girou pela assembl�ia, mostrando uma trovoada de aplausos. no gabinete, � volta de collins, tamb�m se ouviam aplausos calorosos. - bravo! - exclamou o presidente, pousando o charuto upperman para bater palmas. olhou para tr�s por cima do ombro. mcknight, quem � o deputado que acaba de falar? qualquer coisa... smith? h� de ver quem �. pode ser-nos �til na casa branca uma pessoa que pensa t�o corretamente e, al�m disso, � eloquente. - o seu olhar regressou � televis�o. - tomem todos aten��o. a chamada vai come�ar. j� estava a come�ar, e collins ouvia os nomes dos deputados e os seus sins e n�os. dentro da sala, ouvia o diretor tynan prever que seria uma corrida de cavalos. atr�s de si, ouvia a voz sussurrante de steedman afirmar que o veredicto ainda ia demorar, pois a assembl�ia tinha 150 membros. porque ia demorar e porque estava cansado, collins deixou a sua aten��o deslizar da televis�o. concentrou-a em tynan, de p�, com o rosto de bulldog afogueado pela ansiedade, os olhos enevoados, seguindo a vota��o. olhou para tr�s, para o presidente, cuja atitude era gran�tica, impass�vel, est�tica, como se estivesse a posar para uma escultura talhada no monte rushmore, absorvido pela televis�o. homens honestos e dedicados, pensou collins. pouco interessava o que os outros diziam - cr�ticos como ishmael young, ou at� reticentes como karen. estas pessoas eram seres humanos respons�veis. sentiu-se bem dentro deste c�rculo de poder. sentiu que lhe pertencia. era uma sensa��o maravilhosa. desejou poder agradecer � pessoa que ali o colocara: o coronel baxter, que ali faltava, que jazia em coma no leito de um hospital em bethesda. collins tinha acreditado que devia tudo ao coronel baxter, mas agora, pensando bem, viu que tinha sido uma s�rie de acasos e de equ�vocos a elev�-lo � posi��o de procurador-geral. era o filho mais novo e o coronel baxter tinha sido companheiro de quarto em stanfor e amigo �ntimo do seu pai nos primeiros anos de luta p�s-gradua��o. o pai de collins, que sempre tinha desejado praticar advocacia, acabara por se lan�ar nos neg�cios, chegando a ser um abastado fabricante de acess�rios eletr�nicos. collins lembrava-se do grande orgulho que o pai tinha por ele: o seu advogado. tinha sempre mantido o coronel baxter e outros amigos ao corrente dos progressos do filho e da sua crescente reputa��o na advocacia. dois acontecimentos distintos, h� j� alguns anos, tinham atra�do ainda mais a aten��o do coronel baxter para ele. um foi a sua breve mas bem publicitada atividade como advogado da uni�o das liberdades civis, em s�o francisco. tinha defendido com �xito os direitos civis de uma organiza��o claramente fascista, porque acreditava na liberdade de express�o para todos. tinha sido uma quest�o de princ�pios e n�o uma concord�ncia de opini�es. mas o coronel baxter, um conservador, tinha ficado impressionado por raz�es enganosas. pouco depois, quando servia como procurador do distrito de oakland, collins tinha chamado a aten��o nacional ao fazer condenar tr�s assassinos negros que tinham cometido crimes particularmente horrendos. isso tinha impressionado ainda mais o coronel, mostrando que ele n�o era um homem de cora��o fraco que procurava uma justi�a mais compassiva para os negros que para os brancos. s� que a imprensa nunca tinha dito quais eram as verdadeiras opini�es de collins: que esses negros criados na doen�a,
na pobreza e no desemprego tinham sido as verdadeiras v�timas, v�timas da sociedade. infelizmente, a lei n�o tinha disposi��es mitigadoras que contemplassem a infelicidade de possuir aqueles genes malfadados. sim, foram esses fatos de primeira p�gina que impressionaram o coronel baxter. o fato de collins, na advocacia privada em los angeles, ter tamb�m defendido com �xito os direitos e a vida de diversas organiza��es de negros e mexicanos, ter conseguido salvar o pesco�o a dezenas de dissidentes brancos, tinha sido visto por baxter como uma aberra��o da juventude ou uma ilus�o da consci�ncia de um jovem advogado em ascens�o. assim, apoiado nessas credenciais e na velha amizade do seu pai, collins tinha sido chamado a washington para se tornar adjunto do procurador-geral baxter e, devido �s circunst�ncias, devido ao mal arterial do coronel, acabara por ser procurador-geral dos estados unidos e parte deste grupo de elite. os pensamentos que lhe dominavam o esp�rito pareceram-lhe estranhamente ruidosos e percebeu ent�o que isso se devia ao estranho sil�ncio que reinava na sala. come�ou a olhar � sua volta, quando viu subitamente o presidente pular da cadeira e ouviu rebentarem aplausos calorosos em un�ssono. espantado, olhou para a televis�o e para karen, que n�o aplaudia e lhe sussurrou: - acaba de passar. a assembl�ia de nova iorque ratificou a 35.a emenda. consegues ouvir o locutor? est� a dizer que agora j� s� falta um estado para a emenda entrar em vigor. ligar�o para columbus depois de um intervalo e de um breve resumo. estavam todos de p�, jubilosos. steedman encobriu momentaneamente a televis�o enquanto dizia: - parab�ns, senhor presidente. temos de admitir que foi uma viragem, uma surpresa. as percentagens eram-nos favor�veis, mas n�o haviam nenhuma indica��o para um resultado destes. o diretor tynan apertou o ombro de collins at� lhe fazer doer. - grande not�cia, meu amigo, n�o acha? grande not�cia! - vernon... - chamou o presidente. - sim, senhor presidente. - sabe o que nos deu a vit�ria? sabe o que trouxe nova iorque para o nosso lado? foi o �ltimo discurso feito por aquele deputado, o tal smith. aquele discurso foi perfeito. era como se tivesse sido escrito por voc�. tynan sorriu ironicamente. - talvez eu o tenha escrito. todos os que o ouviam, riram como se disfrutassem um segredo compartilhado. collins tamb�m riu, porque n�o percebeu mas queria continuar a pertencer ao grupo. uma voz aguda interrompeu-os: - o jantar volante est� pronto - informava miss ledger, secret�ria particular do presidente, dirigindo os convidados para o extremo oposto da mesa. est� tudo preparado de maneira a poderem ficar com os pratos em cima dos joelhos. n�o h� facas, s� garfos. � melhor servirem-se, antes que comece a vota��o de ohio. collins pegou no bra�o de karen e levantaram-se. podia ver a parte da mesa que tinha sido transformada em buf�. ele e karen eram quase os �ltimos da fila � quando chegou a altura de se servirem j� os outros voltavam aos seus lugares. a vota��o do ohio devia estar a come�ar na transmiss�o a cores. pouco depois, com o prato repleto de febras de frango, salm�o frio com molho de pepino, salada variada e fruta fresca - mas sem p�o -, seguia karen para junto do semic�rculo de convidados que rodeavam o aparelho de televis�o. viu que o presidente tinha tomado o seu lugar, por isso guiou karen para as cadeiras de tr�s. espreitou por entre os convidados que estavam � sua frente. na tribuna da c�mara dos representantes do estado de ohio, estava algu�m a ler uma resolu��o. collins desistiu de tentar ver e recostou-se para prestar aten��o, enquanto comia as febras de frango. a voz no aparelho de televis�o atroava: "proposta de emenda � Constitui��o dos estados unidos para salvaguarda da seguran�a interna. foi resolvido pelo senado e pela c�mara dos representantes dos
estados unidos da am�rica, reunidos no congresso, concorrendo para tanto dois ter�os de cada �rg�o, propor uma emenda � Constitui��o dos estados unidos, que ser� v�lida para todos os fins e efeitos como parte da constitui��o se for ratificada por tr�s quartos das legislaturas dos diversos estados. a referida emenda ser� a seguinte: as emendas � Constitui��o n�meros 1 a 10 ser�o substitu�das em caso de emerg�ncia nacional interna pela seguinte emenda: sec��o 1. n�mero 1. nenhum dos direitos ou liberdades garantidos pela constitui��o podem ser tomados como permiss�o para p�r em perigo a seguran�a nacional. n�mero 2. na eventualidade de perigo claro e imediato, uma comiss�o de seguran�a nacional, nomeada pelo presidente, dever� reunir-se em sess�o conjunta com o conselho de seguran�a nacional. n�mero 3. considerando-se que a seguran�a nacional est� em perigo, a comiss�o de seguran�a nacional proclamar� o estado de emerg�ncia e assumir� poderes plenipotenci�rios, sobrepondo-se � autoridade constitucional at� o perigo em causa ter sido controlado e/ou eliminado. n�mero 4. o presidente da comiss�o ser� o diretor do fbi. n�mero 5. a proclama��o manter-se-� apenas durante o per�odo em que se considerar que a emerg�ncia continua a existir, e terminar� automaticamente com a declara��o formal do fim da emerg�ncia. sec��o 2. n�mero 1. durante o per�odo da suspens�o, os restantes direitos e privil�gios garantidos pela constitui��o continuar�o a ser inviol�veis. n�mero 2. todas as a��es da comiss�o dever�o ser decididas por unanimidade." collins j� tinha lido v�rias vezes tudo aquilo, mas agora que o ouvia em voz alta soava-lhe mal. aborrecido, recostou-se a petiscar. - v�o fazer a chamada na c�mara - disse o presidente. - est� a come�ar a chamada nominal. bem, s�o favas contadas. � certo. a emenda est� no saco. c� est�, j� come�ou. est�o a chamar os nomes dos noventa e nove deputados. collins pousou o prato, e prestou novamente aten��o. podia ver os grandes planos dos diversos deputados da c�mara dos representantes do ohio premindo os bot�es das suas carteiras. podia ver os votos a serem registados num dos dois grandes quadros das duas extremidades da c�mara. sins e n�os a par e passo, muito pr�ximos. a sala estava em sil�ncio, cortado apenas pelas interrup��es moment�neas da voz do rep�rter da televis�o que repetia as marca��es. os minutos corriam compassados. a vota��o prosseguia ininterrupta. o grande quadro indicava os votos. sim. n�o. n�o. n�o. sim. n�o. sim. n�o. n�o. a voz do locutor sobrep�s-se � vota��o: ''os n�os acabam de passar � frente. � uma surpresa. a ratifica��o parece estar comprometida. apesar da propaganda e das sondagens, parece estar a dar-se uma viragem." mais minutos. mais votos. t�o subitamente como come�ara, tudo acabou. a 35.a emenda tinha sido posta de lado, rejeitada pela c�mara dos representantes de ohio. houve resmungos e desabafos de desapontamento e desgosto por parte dos que estavam na sala. inesperadamente, collins sentiu o cora��o a bater mais depressa. lan�ou um longo olhar de soslaio a karen. estava impass�vel, mas tentava esconder um sorriso. collins franziu os sobrolhos e desviou o olhar. come�aram todos a levantar-se. quase todos estavam de cara fechada. confusos, muitos dos convidados reuniram-se � volta do presidente. encolhendo os ombros, o presidente olhava para o conselheiro. - pensei que eram favas contadas, ronald. o que foi que correu mal? - pelas sondagens t�nhamos previsto uma vit�ria por margem confort�vel respondeu steedman. - mas a �ltima amostragem dos deputados foi feita h� trinta e seis horas. quem poder� dizer que vari�veis entraram em jogo ou o que aconteceu entre os deputados durante as �ltimas trinta e seis horas? o ajudante do presidente, mcknight, agitava o bra�o. - senhor presidente, o locutor... parece que ele vai dar uma explica��o... o presidente e os convidados, incluindo collins, voltaram-se de novo para a televis�o. de fato, o comentador parecia ter uma resposta. "...e acaba de chegar agora mesmo � nossa cabina esta informa��o. ainda n�o a pudemos confirmar, mas v�rios deputados indicaram ao nosso rep�rter presente no plen�rio que na noite passada e hoje de manh� houve uma campanha intensiva, um
esfor�o rel�mpago de anthony pierce, ou tony pierce, o dirigente do ddd, o grupo nacional conhecido como defensores da declara��o de direitos, que s� h� cerca de um m�s iniciou a campanha entre os legisladores dos �ltimos estados a votarem a emenda e que acaba de obter um �xito retumbante em ohio. dizem-nos que �s onze horas, pierce encontrou-se com muitos indecisos e at� com defensores da emenda, apresentando-lhes documenta��o demonstrativa de que a emenda causaria danos irrepar�veis ao pa�s, e parece ter sido coroado de �xito na tentativa de arrastar consigo um n�mero suficiente para rejeitar a emenda, a qual, ainda h� uma hora, parecia imbat�vel em ohio. tony pierce, como muitos espectadores devem recordarse, � um antigo agente do fbi que se tornou famoso como escritor, advogado e defensor dos direitos civis. a sua hist�ria..." uma voz rouca baixou o som da televis�o: - j� conhecemos a sua hist�ria!-rosnou o diretor tynan, pulando para a frente da televis�o, apontando-lhe o punho. - sabemos tudo sobre esse filho de uma cadela! deu meia-volta, com o rosto afogueado, observando os outros e fixando depois o presidente. - desculpe a minha linguagem, mas conhecemos demasiado bem o pulha desse pierce. sabemos que encabe�ou um grupo de ativistas radicais na universidade de wisconsin. sabemos como ganhou uma medalha que n�o merecia em vietn�. sabemos como conseguiu furar at� ao fbi, fingindo-se her�i de guerra, mentindo at� ao nosso grande diretor hoover que o tentou ajudar. sabemos que era negligente no cumprimento do dever: soltando criminosos que devia prender, intelectualizando os relat�rios, tentando valorizar-se, insubordinando. foi por isso que corri com ele do fbi. sabemos os nomes dos quatro grupos radicais a que a mulher pertence. sabemos que um dos seus filhos teve um filho fora das rela��es matrimoniais. sabemos de pelo menos nove organiza��es subversivas que a sua firma legal representou. conhecemos tony pierce por dentro e por fora, e sab�amos que ele nada valia antes de tudo isto come�ar. dev�amos ter acabado com ele assim que encabe�ou o ddd. mas n�o o fizemos porque n�o quer�amos dar a um antigo agente do fbi t�o m�s refer�ncias, porque n�o quer�amos prejudicar a imagem do servi�o, e al�m disso nunca pensamos que algu�m pudesse tomar a s�rio um mistificador t�o desprez�vel. - n�o se importe, vernon, os c�es ladram e a caravana passa disse o presidente, tentando acalm�-lo. - o mal que ele tinha a fazer j� est� feito, se � que � ele realmente o respons�vel. agora o que � preciso � n�o deixarmos isto acontecer outra vez. observando a cena, chris collins descobriu-se embara�ado e confundido. tinha ficado surpreso com a explos�o inicial de tynan. esta tinha sido venenosa e revelara uma faceta inquisitorial do diretor do fbi que collins ainda n�o conhecia. collins tinha pegado no bra�o de karen, como se quisesse compartilhar com ela a sua perturba��o, quando viu o presidente dirigir-se-lhe. largando a m�o de karen, abriu caminho por entre mcknight e o dirigente da maioria do senado para se juntar ao presidente, que j� estava acompanhado por tynan. por instantes, o presidente ficou a friccionar o queixo pensativamente. - bem, meus senhores, ganhamos uma inesperadamente e perdemos outra tamb�m inesperadamente. isto mostra-lhes como o pa�s � vol�vel. mas n�o podemos deixar que isto aconte�a de novo. j� s� falta um estado. todas as nossas esperan�as se jogam na calif�rnia. daqui a um m�s. - fez uma pausa. - n�o tenho prestado muita aten��o �s sondagens dessa costa. ronald diz-me que vamos � frente na sondagem do estado dourado. isso n�o me chega. a calif�rnia deve preocupar-nos. sabem bem como eles s�o imprevis�veis. � a nossa �ltima oportunidade e jogo tudo nela. quero que voc�, vernon, e voc�, chris, d�em tudo o que puderem neste caso. temos de ganhar. collins e tynan assentiram energicamente com a cabe�a. o presidente puxou outro charuto e esperou que tynan lhe acendesse. soprando o fumo, virou-se para collins. - tenho uma id�ia para come�ar, chris. voc� veio da calif�rnia, n�o � verdade?
- sim, � verdade. sou da regi�o da ba�a, mas tamb�m exerci advocacia em los angeles. - �timo. penso que ser� �til voltar l� daqui a uma ou duas semanas. pode fazer um trabalho sutil e efetivo para a causa. - bem - disse collins perturbado -, n�o sei se terei assim tanta influ�ncia. o �nico filho da terra realmente popular (� praticamente um �dolo na calif�rnia) � o presidente do supremo tribunal maynard. o presidente abanou negativamente a cabe�a. - n�o, maynard n�o serve. soube de fontes seguras que ele n�o est� do nosso lado. al�m disso, n�o � ativo. mas mesmo que assim n�o fosse, n�o ficaria bem o presidente do supremo pronunciar-se numa quest�o pol�tica como esta. - gra�as a deus que assim � - interrompeu tynan. - eu n�o confiaria nele num verdadeiro problema legal como o da 35.a emenda. - n�o precisamos de maynard - continuou o presidente, dirigindo-se a collins. - mas talvez precisemos de si. e n�o se deve subestimar, chris. voc� � o procurador-geral, e isso ainda tem algum valor. as pessoas de bem ouvi-lo-�o. sim, agrada-me a id�ia de o mandar para a calif�rnia. podemos arranjar um motivo para a sua ida. deixe-me pensar nisso. embora a id�ia lhe desagradasse, collins sabia que n�o se atreveria a resistir. - farei o que desejar. se achar que � importante... - terrivelmente importante - intrometeu-se tynan. - n�o h� nada mais importante. j� o disse mil vezes e continuo a repeti-lo. trata-se da pe�a legislativa mais importante que jamais foi votada pelos estados. sem ela, teremos... ou melhor, deixaremos de ter um pa�s. - vernon tem raz�o - disse o presidente. - precisamos de algu�m na calif�rnia. ou voc� ou... talvez uma outra figura de peso que esteja na administra��o h� mais tempo. - fez uma pausa, depois acrescentou com �nfase: - n�o vamos perder neste estado. n�o o permitirei. n�o deixarei que as coisas corram como at� agora. hoje de manh� fui � Sala este para ver o andamento dos trabalhos que l� est�o a fazer. que destrui��o, que vergonha! quando j� nem a casa do presidente est� a salvo, estamos muito mal. e pode acontecer novamente. sabem dos pastores alem�es e dos doberman que me fizeram soltar nos jardins? medidas de seguran�a, disseram-me. pois na noite passada perdemos o sexto por causa dos atiradores emboscados. agora at� j� me aconselham a deixar instalar uma rede el�trica � volta da casa branca, isolando-me, tornando-me prisioneiro dentro da minha pr�pria casa, tal como os cidad�os honestos deste pa�s que foram for�ados a confinar-se atr�s de fechaduras el�tricas e alarmes. pois bem, meus senhores, n�o permitirei isso. vamos fazer regressar a civiliza��o a esta nossa terra com a 35.a emenda. e vamos consegui-lo ganhando na calif�rnia. - am�m - disse tynan. nesse momento surgiu miss ledger. - desculpe-me, senhor presidente... senhor collins, o seu guarda-costas est� � porta. tem de lhe falar. diz que � urgente. - obrigado - disse collins. voltou-se para o presidente. - estou pronto a fazer o que for preciso. - dir-lhe-ei na pr�xima semana. agora � melhor ir tratar dos seus assuntos. depois de ter ido buscar karen para agradecerem o ser�o ao presidente, collins despediu-se formalmente dos convidados que estavam mais perto. precedendo karen, atravessou apressadamente a sala em dire��o � porta, onde o guarda-costas, o agente mike hogan, o esperava. - que se passa - perguntou collins quando chegou junto dele. - � por causa do coronel noah baxter - respondeu hogan em surdina. - saiu do estado de coma. est� consciente, mas � beira da morte. - diabos, � terr�vel. tem certeza? - absoluta. n�o restam d�vidas. a chamada foi feita pela pr�pria senhora baxter para o departamento de justi�a, de onde me ligaram para o carro. as primeiras palavras do coronel baxter, assim que recobrou a consci�ncia, foram para
dizer que o queria ver. que tinha de o ver. deve ser qualquer coisa urgente. quer dizer-lhe qualquer coisa importante. a senhora baxter pediu-me veementemente que o levasse at� junto dele antes que fosse demasiado tarde. collins pegou no bra�o de karen e dirigiu-a para o corredor. - bem, vamos ent�o para bethesda. � melhor n�o perdermos tempo. - olhou para karen. - n�o tenho a menor id�ia do que ser�. o cadillac tinha seguido a uma velocidade estonteante para norte, pela avenida wisconsin, cruzou a linha maryland, deixou para tr�s o campo de golfe de chevy chase, abrandou no movimentado centro de bethesda, entrou pela sinuosa rua de acesso ao hospital, e estacou em frente da entrada principal da torre branca que era o edif�cio central do complexo formado pelo centro m�dico naval nacional de bethesda. pedindo a karen que ficasse no carro com hogan e pagano, o condutor, chris collins apressou-se a entrar no edif�cio. a entrada, foi interceptado por um oficial da marinha que usava dois gal�es na camisa aberta. - procurador-geral collins? - sim. - siga-me, por favor. � no quarto andar. enquanto subiam no elevador, collins perguntou: - como est� o coronel baxter? - quando desci, h� vinte minutos, estava preso por um fio, lamento diz�-lo. - espero chegar a tempo. quem est� a acompanh�-lo? - a esposa, � claro. e o pequenito neto, rick baxter. ficou com os av�s enquanto os pais est�o no qu�nia em servi�o oficial do governo. tentamos contatar com eles hoje � noite, mas n�o conseguimos. est�o tamb�m presentes dois m�dicos e uma enfermeira de servi�o. ah, quase me esquecia... est� l� tamb�m o padre dubinski. � da igreja da sant�ssima trindade de georgetown, a igreja que os kennedy frequentavam... c� estamos. enquanto percorriam rapidamente o corredor, passaram por v�rios oficiais m�dicos de uniforme. para collins, bethesda assemelhava-se mais a uma institui��o militar que a um hospital. quando chegaram a um quarto privativo que tinha a porta aberta, o guia de collins apontou-lhe a entrada. - � aqui. o coronel tem dois quartos adjacentes: este serve de sala de estar, ele est� no outro. ao entrar na sala de estar tempor�ria, que estava vazia, collins ouviu um leve solu�ar, virou-se e viu que a porta do outro quarto estava entreaberta. conseguia ver apenas uma parte da cama, mas a sua aten��o centrou-se no quadro que se lhe deparava num canto obscuro. l� estava a encanecida hannah baxter, por quem tinha o maior respeito, sentada numa cadeira, de len�o nos olhos, solu�ando inconsolavelmente. l� estava tamb�m o rapaz, o neto, rick (que tinha doze anos, recordou-se collins), agarrando-lhe o pulso, de ar p�lido, at�nito, choroso. observando-os estava um padre vestido de negro. - espere aqui, por favor - pediu o oficial que o escoltara. - vou dizer-lhes que j� chegou. desapareceu no quarto cont�guo, fechando a porta atr�s de si. collins procurou um cigarro, acendeu-o com o isqueiro e vagueou nervosamente pelo quartinho sombrio. p�s-se a pensar, pela d�cima vez, no que teria de t�o urgente o coronel baxter para lhe dizer na sua �ltima noite na terra. embora collins conhecesse relativamente bem o coronel e a mulher de convites sociais fortuitos, nunca tinha sido um amigo �ntimo e grande parte da sua rela��o com o coronel tivera apenas um car�ter de trabalho. que poderia o coronel ter para lhe dizer num momento fatal como aquele? a porta do quarto abriu-se, collins deitou fora automaticamente o cigarro e esperou, r�gido. o oficial, que n�o voltou a encar�-lo, saiu, seguido pela enfermeira e pelo rapazito. passaram por collins sem se lhe dirigirem e sa�ram para o corredor. segundos depois, a porta do quarto foi preenchida por uma figura de indument�ria negra. era obviamente o padre dubinski, da igreja da sant�ssima
trindade. enquanto fechava a porta cuidadosamente mas com firmeza, o padre acenou em sil�ncio para collins, e atravessou o quarto para fechar a porta do corredor. collins observou-o: um homem pequeno, entroncado, tranq�ilo, o cl�rigo, com cabelo negro espetado, olhos azuis espantosamente brilhantes, ma��s do rosto cavadas, boca bem desenhada; um homem talvez de quarenta e tal anos. - senhor collins? sou o padre dubinski - tinha chegado junto de collins e olhava para o ch�o. - sim, eu sei - disse collins. - estava na casa branca quando recebi a mensagem de hannah... da senhora baxter, dizendo que o coronel estava moribundo, que me queria ver urgentemente, que tinha qualquer coisa importante para me dizer. vim o mais depressa que pude. ele est� consciente? posso v�-lo? o padre pigarreou. - receio bem que n�o. lamento ter de lhe dizer que � tarde demais. o coronel baxter morreu ainda n�o h� dez minutos. - fez uma pausa. - que a sua alma descanse em paz por toda a eternidade. collins n�o sabia o que dizer. - �... � uma trag�dia - disse finalmente. - morreu h� dez minutos? nem posso crer. - infelizmente, � verdade. noah baxter era um bom homem. sei o que sente, porque tamb�m � isso que sinto. mas, mais uma vez, foi feita a vontade de deus. - sim - concordou collins. n�o sabia se seria pr�prio, neste momento de luto, tentar descobrir porque teria o coronel solicitado a sua presen�a. mas pr�prio ou n�o, ele sabia que tinha de perguntar. - ah, padre, o coronel estava l�cido antes de morrer? era capaz de falar? - falou um pouco. - disse a algu�m, a si ou � senhora baxter, para que me queria ver? - n�o, n�o o fez. limitou-se a informar a esposa que era urgente v�-lo, falar-lhe. - e n�o disse mais nada? o padre mexeu nervosamente no ros�rio. - bem, depois disso falou por instantes comigo. avisei-o de que estava presente para lhe administrar os sacramentos da reconcilia��o, extrema un��o e vi�tico se ele o desejasse. ele pediu-me que lhe desse esses sacramentos e pude faz�-lo a tempo de o reconciliar com deus todo poderoso, como bom cat�lico. instantes depois, fechava os olhos para sempre. collins decidiu interromper a disserta��o espiritual. - padre, quer dizer que ele fez uma confiss�o final? - sim, ouvi-o em confiss�o final. - e havia alguma coisa nessa confiss�o que me possa dar uma pista, uma id�ia sobre o que ele me queria dizer com tanta urg�ncia? o padre dubinski cerrou os l�bios. - senhor collins - replicou amavelmente -, a confiss�o � confidencial. - mas se ele lhe disse qualquer coisa que queria que eu soubesse... - n�o posso permitir-me um ju�zo sobre o que seria para si e o que seria para deus. repito: a confiss�o do coronel baxter ter� de permanecer confidencial. n�o posso revelar nenhuma parte dela. agora tenho de voltar para junto da senhora baxter. - fez uma pausa. - desculpe-me mais uma vez, senhor collins. o padre encaminhou-se para a porta do quarto cont�guo e collins saiu lentamente para o corredor. minutos depois j� abandonara o hospital e sentava-se ao lado de uma karen ansiosa. ordenou ao condutor que os levasse para casa, para mclean. quando o autom�vel come�ou a andar, virou a cabe�a para karen. - cheguei demasiado tarde. j� estava morto. - � terr�vel. soubeste... descobriste o que ele te queria dizer? - n�o, n�o fa�o a menor id�ia. - afundou-se mais no assento, preocupado e pensativo. - mas tenciono descobrir... seja como for. para que quereria ele
desperdi�ar as �ltimas palavras comigo? eu nem sequer era um amigo �ntimo. - mas �s o procurador-geral. sucedeste-lhe no cargo. - era precisamente nisso que eu estava a pensar - disse collins quase de si para si. - devia ser qualquer coisa desse tipo. devia ser relativo ao cargo. ou a um assunto nacional. ou uma coisa ou outra. qualquer coisa que devia ser importante para todos n�s. ele disse que era importante quando me mandou chamar. n�o posso deixar o caso em aberto. ainda n�o sei como, mas hei de saber o que ele me queria dizer. sentiu a m�o de karen apertar-lhe o bra�o. - n�o, chris, n�o te deixes envolver mais. n�o te consigo explicar, mas isso assusta-me. n�o gosto de viver assustada. ele olhou para a noite atrav�s da janela. - e eu n�o gosto de viver com mist�rios - retorquiu. 1 cap�tulo segundo enterraram o coronel noah baxter, anterior procurador-geral dos estados unidos, numa fria manh� de maio num dos poucos espa�os livres do cemit�rio nacional de arlington, do outro lado do rio potomac, em washington. parentes, amigos, membros do governo, o pr�prio presidente wadsworth, estiveram junto da sepultura enquanto o padre dubinski entoou a ora��o final. a cerim�nia j� acabara, e os vivos, cheios de tristeza, empreenderam o caminho de regresso para os trabalhos da vida. o diretor vernon t. tynan, o seu vigoroso e atarracado assistente, o diretor-adjunto harry adcock, e o procurador-geral christopher collins, que tinham vindo juntos para a cerim�nia, sa�am agora tamb�m juntos. caminharam em sil�ncio pela avenida sheridan, passando pelos jazigos de pierre charles l'enfant e do general philip h. sheridan, pela chama eterna que arde sobre a sepultura de john f. kennedy, em dire��o ao carro oficial � prova de bala de tynan. o sil�ncio s� foi quebrado uma vez, por tynan, quando passaram por um grupo de l�pides da guerra civil. - v�em estas l�pides de unionistas e confederados? - perguntou tynan, apontando. - sabem como se podem distinguir as da uni�o e as da confedera��o? os mortos da uni�o t�m l�pides com a parte superior arredondada. os mortos confederados t�m l�pides com a parte superior pontiaguda... afiada, diziam eles, "para evitar que o diabo dos ianques se sentem sobre elas". sabem quem me contou isto? noah baxter. o velho noah baxter contou-me um dia que por aqui pass�vamos como hoje, vindos do funeral de um qualquer general de tr�s estrelas. resfolegou. - suponho que noah baxter nunca imaginou que estaria aqui t�o cedo. virou o rosto para o c�u. parece-me que temos chuva para todo o dia. bem, o melhor � voltarmos ao trabalho. tinham chegado ao carro de tynan, onde um agente mantinha a porta de tr�s aberta. harry adcock entrou, seguido por tynan e collins. instantes depois j� tinham sa�do pelo grande port�o do cemit�rio � mem�ria de arlington, seguindo pela ponte dos mortos da guerra civil, passando pelas est�tuas dos cavalos que ladeavam o extremo da ponte e seguindo para a cidade. tynan foi o primeiro a reatar a conversa. - vou sentir a falta do velho noah. n�o fazem id�ia de como �ramos �ntimos. eu gostava do pobre velho. - era boa pessoa - concordou adcock, que em p�blico era geralmente um eco do seu superior. - tamb�m sentirei a sua falta - acrescentou collins para n�o ficar atr�s. no fundo � por causa dele que hoje estou onde estou. - sim - disse tynan. - s� tenho pena que ele n�o tenha aguentado por c� o suficiente para ver os frutos do seu trabalho para criar a 35.a emenda. toda a gente julga que ela partiu do presidente, mas, na verdade, foi noah o respons�vel
pela sua cria��o. acreditava nela como numa religi�o que nos podia salvar. devemos-lhe a aprova��o na calif�rnia. - tentarei - disse collins. - temos de fazer mais do que tentar, temos de ter certeza de ganhar - lan�ou a collins um olhar calculador. - sei que o velho noah contaria consigo, chris, para lhe dar um empurr�o na ponta final como ele pr�prio faria se c� estivesse. digo-lhe, chris, que o coronel noah baxter considerava a aprova��o da emenda como o assunto de maior prioridade e urg�ncia. sentado no banco traseiro do autom�vel, apertado contra a chapa de a�o pelo corpo transvazante de tynan, collins apanhou a palavra urg�ncia. o seu esp�rito recordou instantaneamente a cena noturna no hospital, quando o padre lhe confirmara que o coronel baxter lhe tinha querido falar sobre qualquer coisa urgente. seria a respeito da 35.a emenda? posteriormente, collins tinha dito � mulher que n�o gostava de mist�rios, que tencionava solucionar este. nessa altura n�o tinha a menor id�ia sobre por onde come�ar. agora, parecia j� ter um ponto de partida. talvez tynan, que tinha sido amigo �ntimo do coronel, pudesse auxili�-lo, dar-lhe uma pista. - veron - disse collins-, a prop�sito das prioridades do coronel, sei de uma coisa que talvez tenha interesse e que se passou na noite em que estivemos na casa branca. foi muito estranho. lembra-se que tive de sair � pressa? bem, foi porque recebi uma mensagem de bethesda dizendo que o coronel estava moribundo e que me queria falar sobre um assunto urgente, para me dizer qualquer coisa de import�ncia vital. corri para o hospital e fui ao quarto dele. mas j� era demasiado tarde. ele tinha morrido poucos minutos antes. - ah, sim? - disse tynan. - � realmente estranho. e descobriu o que � que ele tinha de t�o importante para lhe dizer? - a� � que est� o problema. n�o soube. as �ltimas palavras, pouco antes de morrer, n�o foram para mim mas para o padre. confessou-se ao padre, aquele que estava hoje em arlington, o padre dubinski. quando o padre me disse isso, pensei que talvez nos �ltimos momentos o coronel tivesse contado qualquer coisa do que me queria dizer. mas o padre n�o conta. limitou-se a dizer que o ouvira em confiss�o e que as confiss�es s�o confidenciais. - e s�o - intrometeu-se adcock. - o que eu gostava de saber - continuou collins -, � se tem alguma id�ia sobre a informa��o que o coronel me queria comunicar: algum assunto por terminar no departamento que possa ter discutido consigo, algum programa de trabalho que eu devesse conhecer. estou deveras intrigado. tynan fixou os olhos nas costas do motorista por uns instantes. - lamento, mas a mim tamb�m me intriga. n�o fa�o id�ia do que noah pretenderia. n�o estou a ver nada importante que tenhamos discutido antes do ataque de h� cinco meses. s� lhe posso repetir o que ele achava mais importante. das milhares de coisas em que estava envolvido, uma dominava todas as outras: era ver a 35.a emenda ratificada e fazer dela lei. talvez o que ele lhe queria dizer tivesse a ver com isso. - talvez. mas exatamente o qu� sobre a 35.a emenda? tinha de ser qualquer coisa de especial para me chamar ao seu leito de morte. - � claro que ele n�o sabia que estava a morrer. portanto, talvez n�o fosse nada de especial. - ele disse que era urgente - insistiu collins. - eu at� estava a pensar em voltar a falar com o padre e fazer outra tentativa. adcock inclinou-se por cima de tynan. o seu rosto, marcado pelo acne, estava solene. - se conhecesse os padres t�o bem como eu, saberia que � tempo perdido. s� Deus pode tirar alguma coisa deles. - harry tem raz�o - concordou tynan. inclinou-se e espreitou pela janela. ora, c� estamos no departamento de justi�a. de novo em casa. collins olhou para o exterior. - sim. s�o horas de trabalhar. obrigado pela carona.
abriu a porta e saiu para a avenida da pensilvania, em frente do departamento. - chris - chamou tynan -, � melhor ir preparando as malas. o presidente ainda est� a pensar em mand�-lo para a calif�rnia na pr�xima semana. est� apenas a tentar decidir-se. - assim que ele me disser para ir, eu parto. tynan e adcock observaram collins a entrar no edif�cio enquanto o autom�vel os conduzia �s traseiras do edif�cio j. edgar hoover e ao estacionamento privativo do diretor no segundo dos tr�s andares do subsolo. enquanto o ve�culo rodeava o pr�dio e entrava na rua e, os olhos de tynan encontraram os de adcock. - ouviu bem o que ele disse, n�o ouviu, harry? - de ponta a ponta, chefe. - que lhe parece que o velho noah lhe queria dizer de t�o urgente para ter de ser comunicado antes de morrer? - n�o tenho id�ia, chefe - respondeu adcock. - ou talvez at� saiba, mas n�o quero saber. - talvez eu tamb�m saiba. parece-lhe que noah baxter foi apanhado pela religi�o no �ltimo minuto e quis despejar o saco? - pode ter sido isso. n�o posso ter certeza. quem sabe... gra�as a deus que n�o teve tempo de dar � l�ngua. - mas f�-lo, harry. voc� bem ouviu. ele confessou qualquer coisa ao padre. - apre, chefe, mas isso era uma confiss�o. um moribundo que se confessa n�o fala de... de neg�cios. tynan ficou carrancudo. - n�o podemos estar t�o certos. chame-lhe o que quiser, uma confiss�o ou seja l� o que for, mas o fato � que noah falou a algu�m sobre o que o preocupava quando estava a passar desta para melhor. falou, percebeu? queria falar a algu�m sobre qualquer coisa urgente e acabou por falar. n�o me agrada. quero saber sobre que falou noah e quanto falou. tenho o maior interesse em saber. o cadillac mergulhou na rampa que levava �s caves do edif�cio. adcock pegou num len�o, tossiu e expectorou para dentro dele. - � um caso complicado, chefe - disse finalmente. - todos eles s�o complicados, harry. passado algum tempo j� n�o s�o tanto. sejamos honestos, harry: os casos complicados s�o o p�o nosso de cada dia. era o patr�o, edgar hoover, que costumava dizer isso. existimos por causa deles. s�o eles que nos sustentam. a fun��o do fbi � fazer as pessoas falarem. especialmente quando est�o na posse de informa��es que p�em em perigo a seguran�a do governo. n�o h� raz�o para que esse padre... chame-se l� como se chamar... - padre dubinski, da sant�ssima trindade de georgetown. � onde v�o todos os cat�licos do governo. - pois bem, � a� mesmo que eu quero que v�, harry. o fbi faz as pessoas falarem, e n�o vejo porque haveria esse dubinski de ser uma exce��o. acho que � altura de ir a essa igreja. fa�a uma visita amig�vel ao bom padre. descubra quais foram as �ltimas palavras que noah baxter lhe disse. descubra o que dubinski sabe. se ele souber alguma coisa que n�o deve, arranjaremos maneira de o calar. harry, quero que trate j� disso. - chefe, sabe que eu fa�o tudo o que for preciso. mas neste caso, n�o me parece que tenhamos hip�teses. - ah, n�o? pois eu digo-lhe que temos todas as hip�teses. de fato, at� lhe digo que n�o pode falhar se tratar corretamente do caso. pelo amor de deus, harry, n�o lhe estou a pedir que l� v� desarmado. primeiro ponha o departamento a fazer uma investiga��o rigorosa sobre o padre. esses amantes de deus n�o s�o diferentes dos outros homens. voc� conhece o nosso axioma. todas as pessoas t�m qualquer coisa a esconder. o padre est� nessa situa��o. ele � humano. deve ter v�cios. ou teve-os. talvez se embriague �s escondidas. talvez tenha abusado de um menino de coro. talvez se meta na casa de banho com a criada de dezoito anos para a maltratar. talvez a sua m�e fosse comuna. h� sempre qualquer coisa. v� ter com
esse amante de deus e leve-lhe aquilo que ele n�o confessou, atire-lhe � cara. ver� que ele fala. nem vai ser capaz de o calar. ele dar� qualquer coisa em troca do nosso sil�ncio. o cadillac tinha chegado � segunda cave, parando no lugar reservado. tynan ficou por instantes a olhar em frente, est�tico. - estou a falar muito a s�rio, harry. estamos demasiado perto da meta para permitir obst�culos. apague a sua ard�sia. isto tem prioridade absoluta. certo, harry? - certo, chefe. est� entendido. vernon t. tynan trabalhou � secret�ria at� duas horas depois do funeral. depois, precisamente ao meio-dia e quarenta e cinco, levantou-se da cadeira, foi ao banheiro privativa arranjar-se, retirou do arquivo ultra-secreto uma pasta do ficheiro oficial e confidencial, e caminhou apressado para o elevador. l� embaixo, no segundo piso subterr�neo, entre a sec��o de bal�stica e o gin�sio, encontrou o motorista e o carro ainda � espera. - alexandria - disse tynan ao motorista. - sim, chefe - respondeu o condutor automaticamente, e segundos depois estavam a caminho. era s�bado. e todos os s�bados a essa hora, como sempre fizera desde que se tornara diretor do fbi, tynan respeitou o ritual sagrado de ir almo�ar com a m�e ao bairro dos cidad�os dos anos dourados. soubera, alguns anos depois da morte de j. edgar hoover, que o velhote tinha vivido com a m�e at� esta morrer em 1938. hoover tinha tratado a m�e com carinho e respeito, exemplo que tynan tomou a s�rio. os grandes homens - sabia-o bem sempre tiveram um grande lugar no cora��o para as suas m�es. n�o s� Hoover. vejase tamb�m napole�o. o mal do pa�s era j� n�o haver jovens, nem mesmo adultos, em n�mero suficiente a prestar o devido respeito �s m�es. haveria menos criminalidade no pa�s se os jovens irrequietos come�assem a visitar regularmente as m�es, em vez de se ocuparem das armas, todos os s�bados � noite. quando chegaram ao bairro, tynan apeou-se em frente do edif�cio em que comprara um confort�vel apartamento de quatro divis�es para a m�e, e lembrou ao motorista: - uma hora. - uma hora, chefe. tynan entrou no edif�cio e dirigiu-se para a porta do apartamento, � esquerda. tinha uma chave normal e uma chave do alarme. premiu o bot�o vermelho do alarme para ver se estava a funcionar. n�o estava. teria de lembrar-lhe novamente que deixasse o alarme ligado mesmo estando em casa. nenhuma precau��o era demais, especialmente nesta �poca de bandidos, assassinos e terroristas esquerdistas. n�o estava fora de causa que conspiradores revolucion�rios tentassem apoderar-se da m�e do diretor do fbi para pedirem um resgate inadmiss�vel, como a exig�ncia de liberta��o das centenas de esquerdistas atualmente encarcerados nas penitenci�rias federais (que era onde deviam estar). sim, tinha de alertar a m�e peremptoriamente. meteu a chave na porta, abriu-a e entrou. encontrou-a no lugar do costume: a cadeira almofadada em frente da televis�o a cores. - ol�, mam� - disse. ela agitou a m�o raiada de veias, sem sequer o olhar, profundamente concentrada nas palha�adas que a televis�o transmitia. apesar de ela estar embrenhada no seu concurso favorito, tynan aproximou-se e deu-lhe um beijo leve na testa coberta de p�s. ela correspondeu com um sorriso r�pido e levou o indicador aos l�bios, dizendo: - o almo�o j� est� pronto. isto est� quase a acabar. despe o casaco. voltou a prestar aten��o ao programa, levou as m�os �s ancas e riu � gargalhada. tynan pousou a pasta, tirou o casaco e colocou-o cuidadosamente nas costas de uma cadeira. retirou um charuto do bolso do peito, desembrulhou-o, cortou-lhe a ponta e acendeu o isqueiro sem deixar a chama tocar no tabaco (como o presidente fazia sempre), inalando e saboreando o aroma.
ficou ao lado da m�e, a fumar e a ver o programa totalmente oco. depois contemplou a m�e com orgulho. tinha feito muito por ela. se j. edgar hoover o pudesse ver neste momento, t�-lo-ia louvado. aos oitenta e quatro anos, rose tynan ainda estava s� como uma abcassiana - n�o, nada de lugares comuns -, s� como uma camponesa vilcambana sim, isso sim. era uma irlandesa dos p�s � cabe�a: ombros largos, forte, com o aspecto nutrido de uma batata irlandesa. atendendo � idade, estava bem conservada, excetuando um ligeiro encurvar das costas, o coxear artr�tico e ocasionais falhas de mem�ria. por fim, o concurso acabou. rose tynan levantou-se, gemendo, apagou a televis�o, pegou no filho pelo bra�o, conduziu-o para a pequena casa de jantar e sentou-o � cabeceira da mesa. - o almo�o j� a� vem - disse ela. - mam�, o alarme estava desligado quando eu entrei. devia t�-lo sempre a funcionar. para minha tranq�ilidade. - �s vezes esque�o-me. vou tentar tomar mais aten��o. - nunca se esque�a. - como v�o as coisas l� pelo servi�o? - como de costume. muito que fazer. - n�o te vou prender por muito tempo. - mam�, eu estou aqui porque quero. gosto de a visitar. - ent�o passemos a almo�ar juntos duas vezes por semana. desapareceu na cozinha e voltou com uma travessa de carne de conserva com couves. o almo�o habitual - que tamb�m tinha sido o do velhote - era canja de galinha e queijo caseiro. mas hoje era s�bado. - cheira t�o bem, mam�. - h� p�o na mesa. p�o integral. come um bocado. tens certeza que n�o queres uma fatia maior? ah, l� me esqueci da cerveja. foi � cozinha e voltou com uma caneca de cerveja cheia de espuma. colocou a cerveja diante dele e deixou-se cair ruidosamente na cadeira. - ent�o, vern, que tal foi a manh�? - n�o foi das mais alegres. acompanhei o funeral de noah baxter. - o funeral foi hoje? sim, � verdade. - foi hoje de manh�. - pobre hannah baxter. bem, pelo menos tem o filho e o neto. tenho de a convidar. - deve, mam�. - falo com ela amanh�. como est� a carne? tem muita gordura? - est� �tima, mam�. - ainda bem. ent�o, conta-me novidades. - comece a mam�. ca�ram na imut�vel rotina de s�bado. rose tynan come�ou. contou as �ltimas intrigas sobre os vizinhos do bairro. a meio da semana tinha havido um filme sobre um homem, um �rf�o e um c�o. ela fez uma extensa sinopse do argumento. depois falou das cartas que tinha escrito e das que recebera. chegou a vez de vernon t. tynan. falou de harry adcock. - como est� ele? - manda cumprimentos. - � um bom rapaz. falou de christopher collins, o novo procurador-geral. - � boa pessoa, vern? - ainda n�o sei, mam�. veremos. falou do presidente wadsworth. contou a hist�ria de dois assassinos da lista dos dez mais procurados que tinham sido presos em minneapolis e kansas city. chegou � 35.a emenda quando comia a �ltima garfada da escassa carne. - n�o te preocupes, vern. vais ganhar. - precisamos demais um estado e j� s� resta um.
- vais ganhar. o almo�o acabou � hora do costume. sobravam dez minutos at� � chegada do motorista. - est� pronta para o ficheiro confidencial, mam�? - estou sempre pronta - respondeu ela com um largo sorriso. ele levantou-se da mesa, foi � sala de estar e trouxe o ficheiro ultra-secreto oficial e confidencial. esse ficheiro era, nos dez minutos seguintes, a sua prenda dos s�bados para a m�e. o ficheiro continha as informa��es semanais do fbi, em grande parte assuntos sexuais e potencialmente escandalosos, relativos a celebridades do teatro, do cinema e do mundo do desporto, com um sumarento acepipe adicional sobre uma s�rie de pol�ticos, industriais e espi�es da ind�stria famosos. rose tynan, que lia todas as revistas sobre estrelas do mundo do espet�culo e todos os seman�rios nacionais, deliciava-se com o lavar da roupa suja. tynan sentiu novamente que se j. edgar hoover ali estivesse teria aprovado. afinal de contas, fora hoover quem recolhera informa��es sobre a vida sexual e o alcoolismo de americanos proeminentes, entregando regularmente esse material secreto ao presidente lyndon b. johnson, para que o chefe do executivo tivesse umas horas de leitura deleitada ao deitar. tynan abriu a pasta e retirou um a um os memorandos confidenciais. - para come�ar, um verdadeiro regalo, mam�. a sua estrela de cinema preferida. - ele leu o nome do simp�tico ator liberal que a sua m�e adorava e ela cacarejou antecipadamente. - na semana passada foi a um sal�o de massagens de las vegas , despiu-se todo, e duas raparigas tamb�m nuas amarraram-no e chicotearamno. - � tudo!? - disse, desapontada, rose tynan, profunda conhecedora de todos os esc�ndalos. - bem, h� quem pense que esta � das fortes - disse tynan. - mas eu tenho melhor. conhece aquela congressista que faz discursos contra o pent�gono? - disse o nome � m�e. - ningu�m sabe disto, mas descobrimos que � l�sbica. anda com a secret�ria de imprensa, uma rapariga de radcliff, de vinte e dois anos... atr�s deste caso veio outro e mais outro, preenchendo os dez minutos e provocando o deleite de rose tynan. quando ele acabou e fechou a pasta, a m�e disse-lhe: - obrigado, vern. �s um bom rapaz. pensas sempre na tua m�e. - obrigado, mam�. � porta, ela estudou-lhe o rosto. - est�s cheio de preocupa��es. v�-se bem. - o pa�s est� a passar por maus momentos, mam�. h� muito que fazer. se n�o conseguirmos a 35.a emenda, n�o sei o que acontecer�. - tu sabes o que � melhor para todos. ainda outro dia disse � senhora grossman (aquela que mora no apartamento aqui em cima) que tu saberias bem o que fazer se fosses presidente. e acredito nisso. devias ser presidente. ele piscou-lhe o olho enquanto abria a porta. - talvez venha a ser mais do que isso - retorquiu tynan. veremos. *** tinha sido um longo dia para chris collins. tentando recuperar o tempo que perdera durante a manh� no funeral do coronel baxter, tinha trabalhado sem parar, sacrificando a hora habitual para o almo�o. agora, sentado com a mulher e dois dos amigos mais �ntimos junto da lareira de m�rmore p�rio da sala de jantar do restaurante 1789 na 36.a rua em georgetown, collins come�ava a satisfazer a fome. dois scotches, uma almo�adeira de sopa de alhos franceses e a salada c�sar que partilhara com karen, tinham-lhe proporcionado os primeiros momentos de descanso do dia. enquanto trinchava e comia o pato com molho de laranja, tentava ver se ruth e paul hilliard estavam a gostar das entradas que tinham pedido. era evidente que sim. collins observou hilliard com afeto (era dif�cil pensar nele como o senador mais novo da calif�rnia). tinha conhecido hilliard quando estavam ambos no in�cio
das suas carreiras: hilliard era ent�o vereador em s�o francisco e ele procurador da aclu. nesses primeiros anos jogavam handebol tr�s vezes por semana no clube y e collins acabara por ser padrinho de casamento de hilliard. agora, passados alguns anos, aqui estavam ambos em washington, o procurador-geral collins e o seu amigo senador paul hilliard. tinham rejubilado com o encontro. hilliard era um homem agrad�vel, enterrado nos seus �culos, de tipo erudito, moderado, de fala suave, um companheiro perfeito para uma noite como esta. como de costume, a conversa era simples: tagarelices sobre os kennedy, as perspectivas do decadente grupo de futebol dos washington redskins, mais um filme de lizzie borden que todos queriam ver. hilliard acabou o filet mignon, arrumou o garfo e a faca no prato vazio e come�ou a encher o seu novo cachimbo dinamarqu�s. - que me dizes do vinho, paul? - perguntou collins. - � da calif�rnia, sabias? - olha para o meu copo - respondeu, apontando para o copo vazio. - � o melhor testemunho para as nossas parreiras. - queres mais? - j� me chega de vinho da calif�rnia - disse hilliard acendendo o cachimbo. - mas n�o da calif�rnia. queria discutir esse assunto contigo. parece-me que � a� que tudo se joga a partir de agora. - tudo se joga? ah, referes-te � 35.a emenda. - desde a vota��o de ohio que tenho estado a receber telefonemas constantes da calif�rnia. todo o estado est� em efervesc�ncia. - qual � a tend�ncia? - hilliard soprou um anel de fumo. - pelo que sei, a ratifica��o tem mais probabilidades. o governador vai anunciar o seu apoio ainda esta semana. - isso vai agradar ao presidente - disse collins. - aqui para n�s, trata-se de um contrato - continuou hilliard. - o governador vai concorrer ao senado no termo do mandato. quer o apoio do presidente, mas wadsworth nunca lhe deu esperan�as. assim, fizeram um neg�cio. o governador apoiar� a 35.a emenda se o presidente o apoiar. - fez uma pausa. - � lastim�vel. collins, que mastigava a �ltima garfada de pato, parou de comer. - que quer isso dizer, paul. - engoliu a comida. - o que... o que � que te parece lastim�vel? - que os grandes trunfos estejam a alinhar pela 35.a emenda na calif�rnia. - julguei que eras a favor. - n�o era a favor nem contra. fiz o papel de observador inocente. limitei-me a observar e esperei para ver o que acontecia. suponho que foi assim que pensaste em particular. mas agora que a decis�o nos bate � porta, tenho de agir, tenho de tomar posi��o. - de que lado? contra a emenda? - contra. - n�o te precipites, paul - disse ruth hilliard nervosamente. porque n�o esperas para veres o que o povo pensa? - nunca saberemos o que o povo pensa at� ele saber o que n�s pensamos. o povo espera que os seus dirigentes lhe digam o que � melhor. no fundo... - est�s certo do que � melhor? - interrompeu collins. - estou cada vez mais certo - disse hilliard calmamente. baseado naquilo que vou sabendo gradualmente sobre a situa��o l� na terra, posso afirmar que as medidas da emenda s�o excessivas. essa lei est� sobrecarregada com um armamento demasiado pesado para um inimigo t�o pequeno. � isto que tony pierce tamb�m pensa. vai agora para a calif�rnia para combater a emenda. - pierce n�o merece cr�dito - disse collins, lembrando-se da tirada do diretor tynan contra o defensor dos direitos civis, na noite em que estivera na casa branca. - os motivos de pierce s�o suspeitos. ele fez da emenda uma vingan�a pessoal. est� a combater tynan atrav�s da emenda, porque ele o expulsou do fbi.
- tens provas disso? - perguntou hilliard. - bem, foi o que ouvi dizer, mas n�o verifiquei. - pois tenta verificar, porque a vers�o que conhe�o � muito diferente. pierce ficou desiludido com o fbi quando lhe pertencia. retirou o apoio a alguns agentes especiais que tynan manipulava. como retalia��o, tynan decidiu exil�-lo para longe, montana ou ohio ou outro lugar igualmente distante, e isso levou pierce a demitir-se para combater pelas suas reformas a partir do exterior. disseram-me que tynan tinha posto a correr a hist�ria da expuls�o. - n�o importa - disse collins, mostrando sinais de impaci�ncia. - o que importa � que tu disseste que decidiste colocar-te do lado dos que se op�em � emenda. - porque essa lei me preocupa, chris. eu sei qual � a inten��o subjacente, mas � demasiado violenta e cada vez mais me parece que as suas medidas podem ser ultrapassadas ou usadas indevidamente. francamente, a �nica coisa que me d� alguma confian�a no caso de ser aprovada, � o fato de john maynard ocupar o lugar de presidente do supremo tribunal. ele velaria pela sua aplica��o honesta. mesmo assim, a possibilidade dessa aprova��o preocupa-me. - mas h� um aspecto positivo, paul. ela evitar� que o crime nos venha a submergir. a criminalidade na calif�rnia, por exemplo, atingiu n�veis inadmiss�veis... - sim? - retorquiu hilliard. - porque duvidas, se tens ao teu dispor as estat�sticas do fbi ? - estat�sticas, n�meros. quem foi que disse que os n�meros n�o mentem, mas as mentiras contabilizam-se? -hilliard mexeu-se incomodado na cadeira. pousou o cachimbo e olhou penetrantemente para collins. - h� muito que as desejava discutir contigo. refiro-me �s estat�sticas. estive um pouco hesitante em levantar a quest�o porque se trata do teu departamento e receei melindrar-te. - porque haveria de me melindrar? raios, somos amigos, paul. fala � vontade. - est� bem. - hesitou ainda, mas acabou por se decidir. - recebi ontem um telefonema inquietante. de olin keefe. o nome n�o era conhecido de collins. - � um legislador novo eleito por s�o francisco - explicou hilliard. - � boa pessoa. havias de gostar dele. o caso � que pertence a uma comiss�o que o encarregou de falar com um certo n�mero de chefes de pol�cia da �rea da ba�a. dois deles, dois desses chefes da pol�cia, queixaram-se que o fbi estava a tentar coloc�-los mal. afirmaram que o n�mero de crimes que apresentaram ao diretor tynan e que apuraram com todo o cuidado n�o tinham a menor semelhan�a com os n�meros elevad�ssimos que tu tornaste p�blicos. - eu n�o tenho nada a ver com esses n�meros, exceto tecnicamente- disse collins, levemente irritado. - � tynan que os re�ne quando chegam das diversas comunidades locais e os computa. depois, o meu departamento publica-lhes. mas isso pouco importa. que me querias dizer mais, paul? - estava a tentar dizer-te que o jovem keefe, o deputado � Assembl�ia keefe, suspeita que o diretor tynan tem alterado essas estat�sticas nacionais da criminalidade, que as tem adulterado, especialmente no que se refere � Calif�rnia. est� a apresentar-nos uma onda de criminalidade maior do que a que existe realmente. - porque haveria de fazer uma coisa dessas? isso n�o faz sentido. - at� faz muito sentido. tynan est� a proceder assim (se � que est� efetivamente a faz�-lo) para amedrontar os nossos legisladores de modo a aprovarem a 35.a emenda. - bem, eu sei que tynan d� tudo por tudo para ver a emenda aprovada. sei que o fbi tem sempre as estat�sticas mais convenientes. mas porque � que havia de se dar ao trabalho de fazer uma coisa arriscada como falsificar n�meros? o que � que ganhava com isso? - poder. - ele j� tem poder - disse collins terminantemente. - mas n�o a esp�cie de poder que teria como chefe do comit� de seguran�a
nacional se a disposi��o de emerg�ncia prevista na emenda viesse a ser invocada. ent�o seria vernon t. tynan �ber alies, o chefe supremo. collins abanou a cabe�a. - n�o acredito nisso. nem um pouco. paul, eu vivo no meio da justi�a. j� fa�o parte dela h� dezoito meses, num cargo ou noutro. sei o que se passa no departamento. tu est�s afastado. e esse jovem deputado, o teu amigo keefe, tamb�m est� do lado de fora. n�o pode fazer a menor id�ia do que se passa. hilliard n�o se deu por vencido. empurrou os �culos sem arma��o para a ponta do nariz e disse firmemente: - pela nossa conversa telef�nica, parece que sabe bastante. h� outras coisas que ele sabe e que tamb�m n�o s�o nada agrad�veis. n�o tens de as conhecer por meu interm�dio. come�a por informar-te pessoalmente. h� pouco disseste que devias ir em breve � Calif�rnia. �timo. porque n�o me deixas marcar-te um encontro com olin keefe? ficas a saber de tudo diretamente. - fez uma pausa. - a menos que, por qualquer raz�o, n�o o queiras fazer. - acaba com isso, paul. conheces-me demasiado bem para dizeres isso. n�o h� nenhuma raz�o para que eu n�o queira tomar conhecimento dos fatos - se forem fatos. n�o estou enfeudado a nenhum grupo. estou interessado na verdade, como tu. - ent�o queres falar com keefe? - combina o encontro, que eu n�o faltarei. - de esp�rito aberto, espero. a sorte de toda esta rep�blica pode depender do que se passar na calif�rnia. n�o me agradam certas coisas que por l� acontecem. pe�o-te que ou�as tudo o que ele tiver para te dizer e forma ent�o a tua opini�o. - ouvirei - disse collins com firmeza. pegou na ementa. - este molho de laranja que acompanhava o pato estava um pouco �cido. agora, para variar, vamos comer qualquer coisa doce. *** no dia seguinte, exatamente ao meio-dia, como fazia uma vez por semana desde h� seis meses, ishmael young chegou � cave do edif�cio j. edgar hoover, vindo do seu apartamento alugado de fredericksburg, na virg�nia. embora fosse domingo, ele sabia que nos tempos cr�ticos que corriam, a semana tinha sete dias para todos os funcion�rios da justi�a ou do fbi. tynan estaria � sua espera. young estacionou o seu autom�vel de desporto comprado em segunda m�o, saiu a custo e encontrou o agente especial o'dea em frente do elevador privativo do diretor. �s vezes era o diretor-adjunto adcock que o aguardava. hoje era o'dea, a antiga vedeta do desporto. subiram no elevador at� ao s�timo andar, separaram-se, young seguiu sozinho -levando consigo o gravador e uma pasta- pelo corredor ladeado por duas filas de gabinetes e, instantes depois, entrava nos aposentos do diretor tynan. j� no espa�oso gabinete de tynan l� no alto da avenida pensilvania, ishmael young arrastou uma pesada poltrona para junto da mesa baixa e circular onde se servia o caf�, ficando de frente para o sof� onde dentro em pouco o diretor se sentaria, pegou nos seus pap�is e preparou-se. ao meio-dia e quinze, a secret�ria do diretor, beth, j� tinha colocado na mesa uma cerveja para tynan e uma pepsicola para o escritor. a seguir trouxe dois almo�os embalados, fornecidos por uma pastelaria pr�xima da rua 9. deixou uma canja de galinha e queijo caseiro para o diretor e uma salada de batata, pickles e ovo, comprimida no embrulho de papel fino, para o escritor. depois saiu. por fim, tynan levantou-se da cadeira por tr�s da pavorosa secret�ria, depois de ter dito a algu�m pelo telefone que s� recebia chamadas do presidente, e fechou o gabinete, trancando as duas portas. passou por young, atravessou o quarto de vestir e entrou na casa de banho. um minuto depois, reapareceu refrescado, esfregando as m�os para as secar, e afundou-se no sof� para beber a cerveja. vernon t. tynan gostava destas sess�es autobiogr�ficas. naturalmente, porque lhe diziam respeito. ishmael young odiava-as. young gostava do fbi, mas detestava o diretor tynan. gostava do fbi n�o pela sua raz�o de ser, mas porque era extremamente eficiente, o que young n�o era. apreciava todas as grandes organiza��es que funcionavam bem: a ibm, o partido comunista russo, o vaticano, a m�fia, o fbi, independentemente dos seus objetivos.
desagradava-lhe a maneira como essas m�quinas gigantescas manobravam e exploravam o povo, mas apreciava a efici�ncia dessas m�quinas - maiores que a vida - que funcionavam impavidamente. ele trabalhava com um l�pis, uma m�quina de escrever, um ma�o de pap�is e sob tens�o nervosa, mas isso n�o era maneira de viver. tinha apreciado e respeitado o fbi at� � primeira sess�o com o diretor tynan, h� seis meses, quando o diretor adjunto adcock o tinha levado a dar uma volta pelo servi�o para lhe dar uma "sensa��o". tinha havido a parte tur�stica do passeio. mais de meio milh�o de turistas vinham ver anualmente as exposi��es: o �trio dos criminosos famosos, onde eram mostradas as armas de john dillinger, o seu terno � prova de bala e uma m�scara do seu rosto no momento da morte; "o crime do s�culo - o caso dos espi�es da bomba at�mica", exibindo julius e ethel rosenberg; a lista dos dez fugitivos mais procurados; a exposi��o do caso do roubo de brink; "a m�o sinistra da espionagem sovi�tica", com o coronel abel como vedeta; a carreira de tiro, onde de nove em nove minutos um agente especial fazia uma demonstra��o do poder mort�fero da destrui��o humana, usando um rev�lver de servi�o de calibre 38 ou uma metralhadora autom�tica de calibre 45 sobre um alvo de cart�o com uma figura humana. acima de tudo - j� para al�m dos limites facultados aos turistas ishmael young tinha ficado apaixonado pelos arquivos do fbi. neste gigantesco arquivo para a deten��o de criminosos, havia impress�es digitais demais de 250 milh�es de pessoas. se deus tivesse m�os, pensara young, o fbi teria as suas impress�es digitais. entre as 8 700 caixas de ficheiros cinzentas, havia um ficheiro das escritas de m�quinas, com a reprodu��o do tipo de letra de todas as m�quinas de escrever, normais ou de brinquedo, fabricadas at� � data (nunca mais pensaria em escrever � m�quina uma carta an�nima). tinha visto tamb�m o arquivo das marcas de �gua, o arquivo das notas de banco falsas, o arquivo de roubos a bancos. mas havia muito mais para ver: a sec��o de serologia, onde eram analisados o soro sang��neo e o sangue; a sec��o de qu�mica, onde os �rg�os humanos eram vaporizados; a sala do espect�grafo, onde eram examinadas part�culas de tinta. tinha sido dif�cil decidir-se a sair da sec��o de p�los e fibras. "quando as pessoas lutam", explicara-lhe adcock, "as fibras do vestu�rio podem aderir ao do opositor. raspamos todas as fibras da roupa e examinamo-las para saber se pertencem ao assaltante ou � v�tima." e adcock acrescentara ainda: "o laborat�rio � a nossa arma secreta silenciosa. � invenc�vel. j. edgar hoover montou-o em 1932. como ele disse certa vez: 'a mancha de sangue min�scula, o documento falsificado, a carteira de f�sforos encontrada na cena do roubo, a marca de um calcanhar ou a mancha de poeira podem ser a prova essencial para associar o criminoso ao crime ou para ilibar uma pessoa inocente'." quando teve de sair, no seu esp�rito agitavam-se centenas de id�ias. era o para�so para um escritor. tinha perguntado a si pr�prio se seria poss�vel um criminoso escapar ao fbi. mas n�o tinha posto a quest�o a adcock, porque a na��o estava receosa do crime e n�o eram poucos os criminosos que conseguiam prosseguir a sua a��o. depois, tinha sido levado para a primeira sess�o oficial com o diretor vernon t. tynan, para come�ar a escrever o livro. supusera que parte da sua admira��o pelo fbi recairia sobre o diretor. mas n�o, e n�o tinha ficado surpreso. odiara tynan desde o princ�pio, mesmo antes de lhe p�r os olhos em cima. tynan tinha desejado uma autobiografia e young fora recomendado. tynan tinha lido dois dos livros fantasmas de young e aprovara. young tinha resistido. conhecia a reputa��o de tynan, a sua egomania, e tinha rejeitado o convite de colabora��o. por pouco tempo. tynan tinha feito chantagem, for�ando a escrever o livro. nunca p�de esquecer o primeiro encontro com tynan neste mesmo gabinete. l� estava o diretor -uns olhos de gato num focinho de bulldog - dizendo: "at� que enfim, sr. young. prazer em conhec�-lo, sr. young." ele tinha respondido friamente: "pode chamar-me ishmael." o diretor olhara-o inexpressivamente. s� ent�o young p�de perceber como ele era e qual o caminho a seguir. o diretor nunca o chamava
ishmael. talvez tivesse pensado que era um nome estrangeiro. decidiu trat�-lo por young ou apenas ''voc�''. agora j� tinham passado seis meses, e estavam sentados frente a frente mais uma vez: ishmael young bebendo a sua pepsi e vernon t. tynan engolindo o resto da sua cerveja. quando tynan p�s de lado a caneca de cerveja e come�ou a comer a sopa, young percebeu que era o sinal de partida. inclinou-se, premiu o bot�o de grava��o do gravador port�til, deu uma garfada na salada de ovo e reviu as notas do bloco. o diretor tinha-lhe comunicado o tema desta sess�o uma semana antes e young tinha-se preparado em casa. n�o ia ser f�cil. lembrou-se que se devia mostrar coibido. - vamos falar sobre j. edgar hoover - come�ou tynan, tirando uma colherada de queijo -, sobre a maneira como me iniciou e fez de mim o que sou. quando ele morreu, em 1972, n�o quis trabalhar com gray, nem ruckelhaus, nem kelley, nem com nenhum dos que se seguiram. eram bons homens, mas depois de se trabalhar com o velhote - era assim que n�s nos costum�vamos referir a hoover, o velhote-, depois de se ter trabalhado com ele, nenhum outro interessava. foi por isso que resolvi demitir-me depois de ele morrer, montando a minha pr�pria ag�ncia de investiga��es. s� mesmo o presidente me podia fazer abandonar a minha ag�ncia particular para vir chefiar o servi�o. creio que j� lhe tinha dito tudo isto. - sim, tudo isso est� transcrito e redigido. - com as coisas a deteriorarem-se da maneira que estavam, o presidente precisava outra vez do velhote. uma vez que j� n�o o podia ter - refiro-me ao presidente -, decidiu que precisava de um aut�ntico homem feito do estofo de hoover. assim, fez-me regressar. nunca se arrependeu. antes pelo contr�rio. j� lhe contei, n�o � verdade?, que ele me chamou h� um m�s e me disse: "vernon, nem mesmo j. edgar hoover podia ter feito o que voc� est� a fazer." foram as suas palavras textuais. - lembro-me - disse young. - foi uma verdadeira homenagem. - bem, young, n�o quero que esta parte do livro seja uma homenagem � minha pessoa. que o seja antes ao velhote, para que os leitores saibam que o respeito e quanto aprendi com ele. - sim, andei a ler bastante sobre hoover durante a semana. - esque�a as suas leituras. essa gente viciosa da imprensa nunca foi justa para com o velhote, sobretudo nos seus �ltimos tempos. ou�a o que eu tenho para lhe dizer e ficar� elucidado. - com certeza. - transcreva com o maior cuidado o que lhe vou dizer a seguir, para ter certeza de que n�o surgiram equ�vocos. - tenho o gravador ligado, n�o h� necessidade de escrever. - � verdade, j� me esquecia. agora ou�a. foi j. edgar hoover quem introduziu o profissionalismo na defesa da lei. p�s de lado a imagem do chui brutal -isto j� n�o foi nada mau, e voc� explore bem este fato - e fez o p�blico respeitar-nos. o fbi surgiu com teddy roosevelt, quando o procurador-geral era charles bonaparte. bonaparte nasceu nos estados unidos, mas era neto do irm�o mais novo de napole�o. depois houve uma s�rie de diretores, mas todos eles foram med�ocres ou francamente maus. o �ltimo antes do velhote foi william j. burns, que era terrivelmente mau. segundo harlan foske stone, no tempo de burns o fbi tornou-se um servi�o secreto privado que apoiava for�as corruptas dentro do governo. assim, um ano antes de ir para o supremo tribunal, stone arranjou um rapaz de vinte e nove anos chamado j. edgar hoover e colocou-o � frente do fbi. hoover j� tinha trabalhado como bibliotec�rio do governo. tomou conta do fbi quando este tinha 657 funcion�rios. quando morreu, os funcion�rios j� eram 20000. foi ele que montou o laborat�rio criminal, o arquivo de impress�es digitais, a escola de forma��o de qu�ntico, o centro nacional de informa��o criminal com os seus computadores e quase tr�s milh�es de fichas. foi o velhote que fez tudo isto, e no tempo dele - como no meu - nenhum agente do fbi cometeu um ato criminoso ou corrupto. isto tem que ser dito. - com certeza - concordou young.
- pense bem no que j. edgar hoover fez - prosseguiu tynan, acabando o seu queijo caseiro. - foi ele que ca�ou john dillinger, pretty boy floyd, alvin karpis, kelly machine gun, baby face nelson, ma barker, bruno hauptmann, os oito sabotadores nazis que desembarcaram em submarinos, julius e ethel rosenberg, klaus fuchs, os ladr�es de brink, james earl ray... a lista � de quil�metros. muitos, muitos quil�metros, pensou ishmael young, lembrando-se dos triunfos que tynan n�o tinha mencionado por conveni�ncia. durante a maior parte da sua carreira, hoover tinha ignorado a m�fia, recusando-se a dar cr�dito � sua exist�ncia. s� em 1963, quando valachi se decidiu a falar, � que hoover reconheceu o crime organizado. impossibilitado de recusar a evid�ncia, hoover nunca se lhe referiu com o nome de m�fia, mas sim atrav�s do eufemismo de la cosa nostra. alguns apologistas pretendem que o velhote ignorou a m�fia porque tinha receio que o mundo subterr�neo subornasse e corrompesse os seus agentes, como j� tinha acontecido � pol�cia comum, arruinando assim o seu registro de esc�ndalos. os c�nicos afirmam que ele evitou o sindicato do crime porque as investiga��es seriam t�o demoradas que podiam fazer baixar o n�mero impressionante das suas estat�sticas criminais. ishmael young pensou ainda noutros feitos de hoover sobre os quais tynan passara por cima candidamente. hoover tinha apodado o dr. martin luther king j�nior de acabado mentiroso e tinha mantido sob escuta o seu telefone para gravar pormenores da sua vida sexual; hoover tinha apodado de medusa o antigo procurador-geral ramsey clark. hoover tinha acusado o padre berrigan e outros cat�licos romanos pacifistas de raptores e conspiradores antes dos seus casos terem sido apresentados em tribunal. hoover tinha desprezado os porto-riquenhos e os mexicanos, afirmando que as gentes dessas duas nacionalidades n�o podiam comportar-se corretamente. hoover tinha insultado congressistas, partid�rios dos direitos civis e da n�o-viol�ncia, e antimilitaristas. tinha chegado ao ponto de fazer investiga��es sobre um rapaz de catorze anos que queria ir passar as f�rias do ver�o na alemanha oriental e sobre um instrutor de escuteiros do idaho que pretendia levar o seu grupo � R�ssia. ishmael young recordava-se de um artigo de pete hamill que tinha lido: "nos �ltimos trinta anos, n�o houve pior subversivo neste pa�s que j. edgar hoover. este homem subverteu a f� que t�nhamos em n�s pr�prios, a nossa cren�a numa sociedade aberta, a nossa esperan�a de que homens e mulheres pudessem viver num pa�s livre de pol�cia secreta, da vigil�ncia encoberta, da persegui��o pelas id�ias pol�ticas." havia tudo isso para discutir, mas young conteve-se. - e vou contar-lhe um pequeno fato pessoal que poucas pessoas conhecem sobre j. edgar hoover - prosseguiu tynan. - eu sempre disse que se pode ficar a saber muito sobre um indiv�duo pela maneira como trata os pais. pois, hoover viveu com a m�e, anna marie, at� aos quarenta e tr�s anos. um homem que procedeu assim, tinha de ser um homem decente. ou pelo menos um �timo caso para freud analisar, pensou young. - mas deixe-me contar-lhe uma outra hist�ria que lhe dar� uma id�ia de como o velhote era respeitado e de como eu, particularmente, o respeitava. quando j. edgar hoover tinha setenta anos, exerceram-se grandes press�es sobre o presidente lyndon johnson para o reformar. o presidente, para m�rito seu, respondeu: "prefiro t�-lo dentro de casa a mijar para fora, do que fora a mijar para dentro!" tynan deu uma palmada na coxa e p�s-se a rir roucamente. - esta � das boas! - sem d�vida - disse young para comprazer. - n�o sei se devo usar esta hist�ria no meu livro. - ah, mas � claro! -disse young rapidamente. - � uma hist�ria engra�ada. temos de utilizar todas as anedotas que pudermos. - talvez voc� possa escrever que o presidente disse aquilo a mim - sugeriu tynan piscando o olho. - ningu�m saber� a verdade. johnson est� morto. quem nos poder� desmentir? - ou que o presidente johnson lhe podia ter dito - corrigiu young. - acho que podemos apresentar o caso assim. d� mais for�a � anedota.
- sim, ponha o caso assim. voc� � que sabe como isso se faz. e pode acrescentar mais uma coisa. foi um sonho que tive h� talvez uma semana. sonhei que j. edgar l� em cima estava ro�do de inveja por mim. tinha inveja por eu estar a chegar � grande solu��o para a criminalidade na am�rica - a 35.a emenda -, por isso ficar a ser o meu monumento e ele sempre ter desejado ter essa oportunidade. ent�o eu disse-lhe que, de certo modo, ele era t�o respons�vel como eu pela emenda, pois se n�o fosse ele eu n�o seria diretor do fbi neste momento. - sorriu para young. - foi este o sonho que tive. que me diz desta? antes que ishmael young pudesse dizer qualquer coisa, o intercomunicador zumbiu na secret�ria de tynan. o diretor pareceu surpreso, levantou-se rapidamente e dirigiu-se para a secret�ria. - que ser� agora? espero que beth me diga que � o presidente. levantou o auscultador. - sim, beth? - e p�s-se a escutar. - harry adcock? bem, pergunte-lhe se n�o pode esperar. ser� assim t�o importante? - continuou de p� a ouvir com aten��o. baxter o qu�? o caso da sant�ssima trindade? ah, sim, claro, o assunto de collins. bem, diga a harry que estarei pronto a receb�-lo dentro de instantes. colocou o auscultador no descanso, perdido em cogita��es. por fim, voltou-se vagarosamente, reparou na presen�a de ishmael young e ficou pasmado. - voc�... esqueci-me que ainda c� estava. ouviu a conversa? - o qu�? - disse young, fingindo n�o ter ouvido. - nada - disse tynan satisfeito. - lamento terem surgido assuntos urgentes. continuamos a dirigir o pa�s, bem v�. lastimo ter de encurtar a conversa desta vez, young, mas dar-lhe-ei mais meia hora na pr�xima semana. de acordo? - certamente. como quiser. enquanto desligava obedientemente o gravador e metia rapidamente os pap�is na pasta, young pensava que n�o se poderia esquecer de ouvir em casa o final da fita, pois desejava saber o que o diretor n�o queria que ele ouvisse. pelo que p�de entender, harry adcock pretendia falar-lhe imediatamente por causa de baxter (era certamente o anterior procurador-geral que tinha sido enterrado na v�spera, de um caso da sant�ssima trindade (que devia ser um nome de c�digo, ou talvez a igreja da sant�ssima trindade em georgetown) e do assunto de collins. este devia ser com certeza christopher collins. mas que haveria por tr�s de tudo isso? resolveu fixar cuidadosamente essas pe�as do que poderia ser um interessante quebra-cabe�as. talvez acrescentando-as a outras lhe pudessem dar uma id�ia mais precisa das atividades de tynan. como ele gostaria de saber mais a respeito de tynan! -pensou, enquanto pegava na pasta. qualquer coisa que contrabalan�asse e extirpasse o que tynan tinha contra ele. qualquer coisa que lhe permitisse abandonar este projeto podre. com um suspiro, levantou-se e atravessou o gabinete enquanto tynan abria a segunda porta. tynan esperava-o, segurando a porta, para dar passagem ao seu escritor fantasma. - acho que n�o foi uma m� sess�o - disse tynan amavelmente. - na pr�xima semana talvez ainda seja melhor. vamos entrar no que aprendi com o velhote e falaremos do contributo pessoal de vernon t. tynan para o fbi. que tal? - � formid�vel - disse ishmael young. - deixa-me ansioso. mas, matutava young, que teriam que ver um procurador-geral morto, uma igreja cat�lica em georgetown e o assunto collins com o governo de um pa�s? talvez se falasse com collins ele o esclarecesse. ou, decidiu young, talvez fosse melhor, por amor � pele, esquecer que tinha ouvido fosse o que fosse. *** - n�o ligue para aqui -ordenou tynan pelo intercomunicador - a menos que seja da casa branca. - desligou e voltou-se para harry adcock que se sentara na cadeira em frente da secret�ria.- muito bem, harry, ent�o o que temos? - fizemos a investiga��o sobre o padre dubinski da igreja da sant�ssima trindade. n�o havia muita coisa. s� um ponto, h� j� muito tempo. esteve uma vez envolvido num caso de droga em trenton, mas a pol�cia ilibou-o. mesmo assim,
n�s... tynan endireitou-se na cadeira girat�ria. - � mais do que suficiente. v� l�, atire-lhe com isso e ent�o havemos de ver... - j� l� fui, chefe - disse adcock rapidamente. - fui visit�-lo ao fim da manh�. acabo de chegar. - bem, diabos o levem, o que lhe disse ele? revelou a confiss�o de noah? harry adcock era ordenado e cronol�gico em todas as suas narrativas. nunca dava respostas fora da devida ordem, ao jeito dos jornalistas quando escrevem not�cias, porque pensava que isso levava a omiss�es, distor��es e equ�vocos. tynan habituara-se a aceitar esse h�bito, por isso deixou-o prosseguir. - hoje de manh� cedo, telefonei ao padre dubinski, identifiquei-me e disselhe que tinha de fazer uma investiga��o sobre um assunto de seguran�a do governo come�ou adcock. - encontrei-o na reitoria �s onze e cinco em ponto. mostrei-lhe a minha identifica��o, o distintivo, e ele deu-se por satisfeito. a meu pedido, ficamos sozinhos, apenas n�s os dois. - que tipo de homem � ele? - perguntou tynan. - cabelo negro ondulado, rosto esguio, moreno, como j� sabe. um metro e oitenta. quarenta e quatro anos. est� na sant�ssima trindade h� cerca de doze anos. um homem extremamente calmo e frio. - prossiga, harry. - n�o perdi tempo. disse-lhe que sab�amos que tinha sido o confessor do coronel noah baxter na noite em que ele expirou. disse-lhe que baxter n�o tinha falado com mais ningu�m sen�o com ele, isto �, com o padre dubinski, antes de morrer. perguntei-lhe se confirmava tudo isso. ele disse que era verdade. - adcock procurou no bolso do casaco e retirou um sobrescrito dobrado com apontamentos anotados. - tomei notas da conversa enquanto vinha para aqui. deu-lhes uma vista de olhos. - ah, sim. ent�o ele, o padre dubinski, perguntou se eu tinha obtido essas informa��es atrav�s do procurador-geral christopher collins e respondi-lhe que n�o. - muito bem. - depois disse-lhe: ''como deve saber, o coronel baxter estava de posse de alguns dos mais altos segredos do governo. qualquer coisa que ele tenha dito a algu�m estranho ao governo, quando estava mal ou sem dom�nio completo das suas faculdades, pode ser do maior interesse para o fbi. temos estado a tentar descobrir uma fuga num assunto da maior confidencialidade e seria �til sabermos se o coronel baxter lhe falou nisso.'' a seguir acrescentei: ''gostar�amos de saber quais foram as suas �ltimas palavras, as palavras que lhe confiou." adcock levantou os olhos. - o padre dubinski respondeu: "lamento muito. as suas �ltimas palavras foram em confiss�o. a confiss�o � sagrada. como confessor do coronel baxter, n�o posso revelar as suas �ltimas palavras a ningu�m." - o filho de uma cadela - murmurou tynan. - o que � que lhe respondeu? - disse-lhe que j� sab�amos que n�o revelaria o conte�do da confiss�o a ningu�m. mas esta informa��o era pedida pelo governo. ele retorquiu imediatamente que a igreja n�o estava subordinada ao governo. recordou-me a separa��o da igreja e do estado. disse-me que eu representava o estado e ele a igreja. um n�o podia sobrepor-se ao outro. vi que estava a ir demasiado depressa, por isso abrandei. - �timo, harry. foi melhor. - disse-lhe que... n�o me lembro das palavras exatas. disse-lhe que apesar do colarinho clerical, ele n�o estava acima da lei. na realidade, disse-lhe, t�nhamos conhecimento que ele j� tinha estado envolvido com a lei. - puseste o assunto nesse p�? bem, bem. como � que ele reagiu? - primeiro n�o disse nada. deixou-me prosseguir. eu expus-lhe a evid�ncia de que t�nhamos acusa��es contra ele por poss�vel posse de drogas em trenton, h� quinze anos. n�o o negou; para dizer a verdade, nem sequer respondeu. disse-lhe que embora ele n�o tivesse cadastro, esta informa��o, caso fosse publicada, coloc�-lo-ia em maus len��is. reparei que ficou furioso, e n�o foi pouco. uma c�lera fria. s� disse uma coisa. foi: "senhor adcock, est� a amea�ar-me?"
respondi-lhe que o fbi n�o amea�ava ningu�m. disse que o fbi se limitava a coligir fatos. o departamento de justi�a � que agia com base neles. fui muito cuidadoso. se bem que n�o temos nenhuma acusa��o real contra ele. s� lhe podemos causar problemas com os paroquianos. - todos os padres s�o vulner�veis no campo das rela��es p�blicas - disse tynan doutoralmente. adcock continuou: - era com isso que eu contava; era por a� que tinha de pegar. mas tentei fazer mais do que isso. disse-lhe que, devido � sua posi��o, podia ter tomado conhecimento, sem o pretender, de alguma informa��o vital para a seguran�a. disselhe que se a encobrisse, ent�o seria inevit�vel o seu nome e o seu passado virem a lume quando a quebra de seguran�a fosse provada. "mas se cooperar desde j� com o nosso governo", disse-lhe eu, "nesse caso o seu passado n�o se tornar� p�blico". avisei-o violentamente de que devia cooperar. recusou redondamente. tynan deu um murro na secret�ria. - filho da puta. - chefe, quando lidamos com padres, n�o estamos a tratar com homens comuns. n�o reagem como seres humanos vulgares. t�m aquela l�bia toda do deus que est� por tr�s. depois de se ter recusado a cooperar, p�s-se de p� para me despedir e disse qualquer coisa deste g�nero: ''j� me ouviu. agora pode fazer o que quiser, mas eu tenho de cumprir o meu voto, feito a uma autoridade mais alta que a sua, uma autoridade que considera a confiss�o sagrada e inviol�vel." sim, foi isto exatamente que ele disse. quando j� estava a retirar-me, pensei que lhe devia deixar um �ltimo aviso. disse-lhe que reconsiderasse, pois se n�o quisesse cooperar a bem do pa�s, ter�amos de falar dele e do seu comportamento passado aos seus superiores eclesi�sticos. - e mesmo assim n�o rachou? - nicles. - acha que ainda o far�? - receio que n�o, chefe. pelo que pude avaliar, n�o h� nada que o fa�a falar. mesmo se trouxermos a p�blico o seu lado sujo, penso que preferir� o mart�rio a falar traindo os seus votos. - adcock estava ofegante. tornou a meter o sobrescrito dobrado no bolso. - que vamos fazer a seguir, chefe? tynan levantou-se, enfiou as m�os nos bolsos das cal�as e ficou a pensar durante uns momentos. - nada - disse por fim -, n�o fazemos nada. o que julgo � o seguinte: se o padre dubinski n�o lhe disse nem uma palavra, apesar do que lhe podia acontecer, n�o falar� a ningu�m. - tynan suspirou. - pouco importa o que ele sabe. estamos safos. - ainda posso ir junto dos seus superiores, apert�-los e pode ser que... a campainha do telefone retiniu. tynan acercou-se. - n�o pense nisso por agora, harry. fez um bom trabalho. d� uns toques em dubinski de vez em quando, s� para ele andar na linha. � o suficiente. obrigado. quando adcock saiu da sala, tynan pegou no telefone. levantou o auscultador. - sim, beth?... ent�o pode ligar. - esperou. - ol�, miss ledger. - ficou a ouvir.- �timo, com certeza. diga ao presidente que eu vou imediatamente. vernon t. tynan n�o sabia l�nguas estrangeiras e conhecia apenas umas poucas palavras dispersas que tinha apanhado ao sabor do acaso. duas dessas palavras eram francesas: d�j� vu. sabia-as porque um agente especial as tinha usado num relat�rio de uma miss�o, provocando-lhe uma tal f�ria que escreveu ao agente dizendo-lhe que no fbi s� se falava e escrevia em ingl�s e que utilizasse esta l�ngua se n�o queria ser transferido para butte, em montana. contudo, tinha ficado com uma vaga id�ia do que essas palavras queriam dizer. sempre que visitava o gabinete oval da casa branca (o que era cada vez mais freq�ente), quando entrava tinha a mesma sensa��o de d�j� vu, de reviver uma experi�ncia anterior. o presidente wadsworth, grande admirador do presidente john f. kennedy, sen�o da sua pol�tica pelo menos da sua imagem, tinha restaurado o gabinete oval exatamente como ele era quando kennedy
dirigia o executivo. o diretor tynan, na altura um jovem agente do fbi, tinha em v�rias ocasi�es acompanhado j. edgar hoover ao gabinete oval, quando o diretor era chamado por kennedy para presenciar a assinatura de qualquer lei criminal. nessa �poca, havia a secret�ria buchanan trabalhada, com um candeeiro verde p�lido de que pendia uma l�mpada fluorescente. havia, por tr�s da secret�ria, os reposteiros verdes, que escondiam os jardins da casa branca, e as seis bandeiras: a americana, a presidencial, a do ex�rcito, a da marinha, a da avia��o, e tamb�m a dos corpos especiais. havia duas lanternas quadradas, como as dos coches, na parede e, no parapeito da lareira, dois modelos de navios. as paredes curvas estavam pintadas de branco marfim, e o teto, com o selo presidencial impresso, olhava sobranceiro para o tapete verde acinzentado com a �guia americana entretecida. havia a lareira, com os sof�s em frente, e a cadeira de balan�o entre eles. e na alta e negra cadeira girat�ria, por tr�s da secret�ria castanha, estava o presidente john f. kennedy. agora, enquanto o secret�rio encarregado dos encontros, nichols, o introduzia no gabinete oval, vernon t. tynan tinha novamente a sensa��o de d�j� vu. por instantes, pareceu-lhe ver o presidente kennedy sentado � secret�ria, falando a algu�m, e o diretor hoover ao seu lado, junto dele outra vez, jovem. mas no momento em que foi anunciado, o passado dissipou-se. o homem que estava ao seu lado, que recuava e sa�a, era nichols e n�o hoover. o homem que estava por tr�s da secret�ria era o presidente wadsworth e n�o kennedy. e a pessoa com quem falava n�o era um ajudante de kennedy, mas ronald steedman, o conselheiro pessoal do presidente para a sondagem da opini�o p�blica. - ainda bem que p�de vir, vernon - disse o presidente wadsworth. - puxe uma cadeira. pode tirar esses jornais da cadeira, at� os pode deitar fora, � no lixo que eles est�o bem. j� leu algum deles? tynan tirou os jornais da cadeira. deu-lhes uma vista de olhos the new york times, sun-times de chicago, post de denver e chronicle de s�o francisco- antes de os atirar para o cesto dos pap�is. sem esperar por resposta, o presidente continuou. - est�o a pressionar-nos de costa a costa. como um bando de lobos uivando pelo nosso sangue. estamos a tentar amorda�ar o pa�s, sabia, vernon? deve ler o editorial do new york times. dizem que a assembl�ia do seu estado se desonrou por ter ratificado a 35.a emenda. publicam uma carta aberta aos legisladores da calif�rnia dizendo-lhes que o destino da liberdade est� nas m�os deles, implorando que derrotem a emenda. e j� nos informaram que as pr�ximas edi��es do times e da newsweek ir�o exprimir os mesmos sentimentos derrotistas. - s�o interesses particulares - disse steedman. - a imprensa est� preocupada com o seu futuro. - e t�m raz�es para isso - grunhiu tynan. - o tom inflamado que propalam dia ap�s dia e a desaprova��o manifesta s�o t�o respons�veis pela criminalidade e pela viol�ncia como qualquer outra coisa. - aproximou-se do presidente. - mas, pelo que sei, eles n�o est�o todos do mesmo lado, senhor presidente. ternos tantos aliados como inimigos. - n�o sei - disse o presidente com ar de d�vida. - o daily news de nova iorque e o tribune de chicago - citou tynan. e acrescentou - o u.s. news and world report tamb�m � a favor da emenda, est� do nosso lado. dois dos canais de televis�o t�m-se mantido neutrais, mas soube que apoiar�o a emenda antes da vota��o da calif�rnia. - espero que isso seja verdade - disse o presidente. - afinal, caber� ao povo a decis�o, conforme a press�o que exercer sobre os seus representantes. ronald e eu est�vamos justamente a discutir isso. e voltamos ao assunto. de fato, foi por causa dessa conversa que quis v�-lo. preciso que me aconselhe. - estou sempre pronto para ajudar no que puder, senhor presidente - disse tynan, puxando a cadeira para a imita��o da secret�ria de kennedy. o presidente girou a cadeira, voltando-se para steedman. - para esses �ltimos n�meros que tem da calif�rnia, steedman, qual foi a extens�o da sondagem? - foram contactadas exatamente 2455 pessoas. foi-lhes feita uma �nica
pergunta dividida em tr�s partes. concorda que o �rg�o legislativo da calif�rnia aprove a 35.a emenda? ou � contra a ratifica��o? ou est� indeciso? - repita novamente os resultados para que vernon os fique a conhecer. - com certeza - disse steedman. pegou numa folha de computador preenchida e come�ou a ler. - os resultados do nosso inqu�rito � opini�o p�blica, relativo a 2455 votantes da calif�rnia, datam de dois dias ap�s a aprova��o da emenda em nova iorque e da rejei��o de ohio, e s�o os seguintes - com o dedo apontava para os n�meros da p�gina: - h� 41 % a favor da aprova��o, 27 % contra e 32% de indecisos. - h� imensos indecisos - disse o presidente. - agora leia a sondagem no senado e na assembl�ia da calif�rnia. steedman acenou com a cabe�a, procurando nos pap�is, e pegou noutra folha de computador. - estes s�o menos satisfat�rios. os legisladores est�o a ser naturalmente cautelosos, esperando ouvir a opini�o clara dos eleitores. temos 40% de indecis�es ou de recusas em responder ao inqu�rito. depois, dos 60% que se exprimiram, 52% foram a favor da passagem e 48% contra. o presidente abanou a cabe�a, mal humorado. - h� muitos que se p�em de fora, na expectativa. isso n�o me agrada. foi a vez de tynan se pronunciar. - senhor presidente, a nossa tarefa � tir�-los dessa expectativa que os p�e de fora e faz�-los inclinarem-se para o nosso lado. - foi por isso que quis que viesse c�, vernon. quero discutir a estrat�gia... obrigado, ronald. quando � que o volto a ver? steedman levantou-se. - de acordo com as suas instru��es, senhor presidente, estamos a fazer inqu�ritos semanais na calif�rnia. devo ter os resultados desta semana na pr�xima segunda-feira. - telefone a miss ledger e marque uma entrevista assim que tiver mais alguma informa��o. depois de ter reunido os pap�is, steedman saiu, deixando o presidente e tynan sozinhos no gabinete oval. - bem, a� tem, vernon - disse o presidente. -o nosso destino est� inteiramente nas m�os das pessoas que ainda n�o se decidiram. portanto, sabemos o que h� a fazer. temos de os instigar por meio de todos os estratagemas, exercendo todas as press�es poss�veis para os fazer ver as coisas � nossa maneira... para seu pr�prio bem. a sobreviv�ncia da nossa �ltima esperan�a est� comprometida, vernon. - estou confiante na vit�ria, senhor presidente. o presidente estava menos confiante. - n�o podemos deixar o assunto ao deus dar�. o futuro est� nas nossas m�os. - tem toda a raz�o - concordou tynan. - j� tomei v�rias disposi��es. estou a dar a maior urg�ncia ao relat�rio do fbi sobre crimes comuns. notifiquei todos os oficiais da pol�cia da calif�rnia para que passem a enviar estat�sticas de criminalidade todas as semanas, e j� n�o todos os meses. recebemos os relat�rios todos os s�bados e s�o publicados aos domingos. j� temos o relat�rio de ontem, mostrando o aumento da taxa de criminalidade. - excelente - disse o presidente. - o problema � que o povo habitua-se � reparti��o dos n�meros. s� as estat�sticas n�o basta para dramatizar a situa��o. alcan�ou por cima do mata-borr�o verde o bloco de notas e escreveu alguns apontamentos. - muitas vezes, um discurso bem feito pode dramatizar melhor uma situa��o. e consegue maior difus�o. estava a pensar em encarregar um certo n�mero de membros da administra��o - elementos do gabinete, chefes de servi�o - para falarem em reuni�es ou conven��es j� marcadas nas maiores cidades da calif�rnia. tinha aqui uma lista com alguns nomes. contudo, � dif�cil saber quais ser�o os mais eficientes. tynan empurrou a cadeira para a frente. - s� uma pessoa pode ser realmente eficaz. - estendeu o dedo. o senhor presidente. pode reagrupar o povo � volta da 35.a emenda e pedir-lhe que, para sua
pr�pria seguran�a futura, fa�a press�o sobre os seus representantes em sacramento. o presidente wadsworth considerou a sugest�o, mas a resposta pouco tardou. abanou negativamente a cabe�a. - n�o, vernon. receio n�o poder fazer isso. na verdade, o efeito poderia ser o oposto - um efeito negativo. os legisladores e os cidad�os comuns poderiam considerar que uma diretiva que parta de mim, um discurso consagrado a uma decis�o que lhes pertence, � uma intromiss�o federal. poderiam ficar ressentidos com um presidente que lhes diz o que t�m a fazer. parece-me que temos de ser mais sutis. - bem - disse tynan-, ent�o e se fosse eu ? podia ir � Calif�rnia e afastar as indecis�es, fazendo-os votar a emenda. - n�o, voc� � a imagem da lei. n�o o considerariam objetivo e razo�vel. toda a gente diria que est� a preparar o cutelo. qualquer pessoa do fbi seria suspeita. como j� lhe disse, tenho estado a pensar em collins. prefiro mandar algu�m como ele. n�o usa uniforme, por assim dizer. um procurador-geral � geralmente considerado como um civil. - hum, collins... tamb�m tenho pensado nele... mas n�o estou muito seguro a respeito dele. n�o sei se tem influ�ncia ou a convic��o necess�ria... - por isso mesmo. a sua fraqueza pode ser ben�fica neste caso. d� maior credibilidade. vernon, n�o tenho a menor d�vida a respeito dele. est� claramente do nosso lado. ele sabe porque ocupa esse cargo. n�o satisfaz plenamente, o que na atual circunst�ncia � bom, mas tem atr�s dele toda a autoridade do seu departamento. na semana passada, falamos em envi�-lo � Calif�rnia. mas agora acho que deve desempenhar um papel mais importante. - o que � que tem em mente? incumbi-lo de discursar por todo o estado? - n�o, isso pareceria demasiado preparado, uma propaganda programada - o presidente refletiu. - algo menos evidente - estalou os dedos. - agora me lembro. tive ontem uma id�ia. sim, talvez resulte. pedi a miss ledger para se ocupar do assunto. veja, vernon: ocorreu-me que se collins tivesse de estar na calif�rnia, por precisar de tratar de qualquer assunto, tudo seria mais natural. espere um momento. tocou, chamando miss ledger. quase instantaneamente, a porta do lado oposto da sala abriu-se e ela apareceu. - miss ledger, ontem quando eu estava de sa�da pedi-lhe para ver que conven��es est�o marcadas para a calif�rnia, nas pr�ximas duas semanas... um local em que seja normal o procurador-geral falar... - sim - disse ela -, recebi uma resposta h� cerca de uma hora, mas n�o o quis incomodar. - ent�o, h� alguma coisa? - est� com sorte, senhor presidente. a associa��o americana do foro realiza a sua reuni�o anual em los angeles de segunda a sexta-feira. o presidente p�s-se de p�, sorridente. - perfeito. magn�fico. pegue j� no telefone e ligue para o presidente da associa��o. � um velho amigo meu. diga-lhe que eu gostaria muito se ele pudesse convidar o procurador-geral collins para orador principal no �ltimo dia da conven��o. miss ledger parecia confusa. - n�o vai ser f�cil, senhor presidente. soube que j� t�m a lista de todos os oradores convidados. e o programa indica que na sexta-feira, �s tr�s da tarde, o orador convidado � o presidente do supremo tribunal, john g. maynard. - mas qual � o problema? - disse o presidente. - passam a ter dois oradores principais. o procurador-geral collins pode preceder ou seguir-se ao presidente do supremo. diga-lhe que considero a sua anu�ncia como um favor pessoal. - vou telefonar imediatamente, senhor presidente. depois de miss ledger ter sa�do para o seu gabinete, o presidente continuou de p�. - bem, j� est� tratado. informarei collins. vou instru�-lo para fazer um
discurso muito geral sobre a mudan�a que se avizinha para a justi�a criminal. poder� aludir � 35.a emenda como a esperan�a do futuro e ao papel hist�rico que a calif�rnia desempenhar� quando a ratificar. penso que estar� no audit�rio um grande n�mero de deputados estaduais. pode ser que collins consiga oferecer-lhes um cocktail informal, aproveitando a ocasi�o para fazer a nossa campanha. espero bem que isto chegue... olhava para os memorandos espalhados pela secret�ria. de repente, pegou numa folha. - quase me esquecia, vernon. h� outro assunto. um programa na televis�o. j� lhe falei disso? - n�o, senhor presidente. - h� um programa na rede de televis�o nacional com base num assunto em foco no notici�rio da semana. uma tal... - procurou no memorando - monica evans, a produtora deste programa de meia hora, telefonou a mcknight. parece que s�o velhos amigos. no final da pr�xima semana pretende gravar um debate em los angeles sobre as possibilidades de ratifica��o da emenda na calif�rnia. o programa chama-se a procura da verdade. tem dois convidados, cada um com uma vers�o diferente do tema. j� viu alguma vez? - receio que sim - disse tynan, fazendo um trejeito. - bem, eles querem-no no pr�ximo programa, vernon. querem que apresente os argumentos a favor da emenda. seria no mesmo dia em que chris fala na associa��o. podiam seguir juntos de avi�o. penso que a sua exposi��o poderia ser importante para n�s. - e quem estar� do outro lado? - perguntou tynan. - quem � o outro convidado? o presidente consultou uma vez mais o memorando. - tony pierce. tynan deu um salto na cadeira. - senhor presidente, perdoe-me, mas parece-me que ser� um erro o diretor do fbi aparecer no mesmo programa com um antigo agente que traiu o seu servi�o. penso que n�o devo dar cobertura a um porco comuna como pierce, participando no programa com ele. o presidente encolheu os ombros. - se voc� lhe tem um tal �dio, n�o o for�arei. mas parece-me que a exposi��o dos nossos pontos de vista � importante, � mesmo de extrema import�ncia num programa nacional de televis�o como este. tem de estar l� uma pessoa do nosso lado. - e porque n�o collins? - sugeriu tynan. - ele tem de ir a los angeles de qualquer maneira nessa ocasi�o. podia entrar no programa al�m de fazer o discurso. como procurador-geral os produtores receb�-lo-iam bem. o presidente wadsworth pareceu satisfeito. - boa id�ia - disse. - � muito boa id�ia. falarei a mcknight para ele telefonar a essa tal monica evans confirmando collins como substituto. - balan�ou a cabe�a pensativamente. - bem, collins vai ter muito que fazer pela nossa causa. e ter� de dar resultado. estendeu a m�o e tynan levantou-se para a apertar. - obrigado por tudo, vernon - murmurou. - bem, calif�rnia, c� vamos n�s. alcan�ou o telefone. - procurador-geral collins, agora � consigo. *** no seu gabinete do departamento de justi�a, com o auscultador seguro entre o ouvido e o ombro, chris collins escrevia os pontos principais das instru��es do presidente na folha de papel que tinha � frente. embora fosse pronunciando palavras am�veis enquanto ouvia as propostas do presidente, collins n�o gostava do que estava a ouvir. n�o se importava de ir � Calif�rnia. seria uma ocasi�o para recordar a sua velha casa, uma oportunidade para rever o filho j� crescido, para se reunir com amigos e para apanhar sol. o que n�o lhe agradava era ser for�ado a defender a 35.a emenda publicamente, a debat�-la com uma personalidade como tony pierce perante todo o audit�rio nacional da televis�o. j� tinha visto v�rias vezes
o programa � procura da verdade e tinha gostado, mas sabia que o convidado n�o podia equivocar-se nem dar um passo em falso nesse programa. os debates levavam muitas vezes a tremendas alterca��es, a posi��es exageradas, e o seu lugar no programa podia ser um lugar escaldante. sentia igualmente desagrado pela id�ia de aparecer na mesma tribuna que o presidente do supremo maynard, um homem cujo apego � liberdade respeitava e cujas decis�es a respeito dos direitos civis admirava, sendo for�ado a defender perante ele uma posi��o favor�vel � 35.a emenda. at� ent�o, collins tinha evitado tudo o que fosse al�m de um leve comprometimento com a pol�tica da administra��o. agora tinha de alinhar, de desempenhar o papel de adepto do presidente. faz�-lo perante maynard seria embara�oso. contudo, n�o tinha por onde escolher. - pois � assim, chris - ouviu o presidente dizer-lhe. - tomou nota de tudo como deve ser? - julgo que sim, senhor presidente. na pr�xima sexta-feira em los angeles. � uma hora da tarde, � procura da verdade, nos est�dios da televis�o. �s tr�s horas, associa��o americana do foro, no hotel century plaza. - n�o se poupe a esfor�os em ambos os casos. n�o deixe pierce pis�-lo na discuss�o da emenda. aperte-o o mais que puder. collins assentiu sem convic��o. - farei o melhor que puder, senhor presidente. - quanto � Associa��o, prepare um discurso firme, chris. ter� um audit�rio diferente do da televis�o. a sala estar� cheia de profissionais. n�o lhes atire com a emenda demasiado cedo. tente guard�-la para um final bem forte. mostre que os destinos da na��o dependem do discernimento da calif�rnia. - tentarei. - dependemos totalmente de si. gostaria de o ver antes de partir. depois de desligar, collins deixou-se ficar melancolicamente � janela. passados alguns instantes, afastando a folha com os apontamentos, voltou ao trabalho. pouco tardou que estivesse novamente mergulhado nos assuntos legais. o telefone tocava incessantemente, mas n�o queria ser interrompido. marion devia ser capaz de tratar dos telefonemas pessoalmente. quando voltou a desviar o olhar para se descontrair, para espreitar a rua, a noite j� tinha ca�do. viu o rel�gio. eram horas de parar o trabalho no departamento de justi�a. se ele tamb�m o desse por terminado neste momento, seria a primeira vez h� muitos meses que chegaria a casa a horas para jantar. decidiu fazer uma surpresa a karen, regressando a casa a uma hora conveniente. levantou-se de pasta na m�o e come�ou a ench�-la com os pap�is que faltava analisar. o telefone tocou. ignorou-o. ouviu ent�o o som do intercomunicador e a voz de marion: - senhor collins, � uma chamada do padre dubinski. n�o conhe�o o nome. ele diz que se deve lembrar. n�o me quis dar o recado. diz que � importante falar-lhe pessoalmente. collins reconheceu imediatamente o nome e a curiosidade invadiu-o. - eu atendo, obrigado. at� amanh� de manh�. sentou-se, levantou o auscultador e carregou no bot�o de liga��o. - padre dubinski? daqui fala christopher collins. - n�o sabia se conseguiria falar consigo. - a voz do padre parecia vir de muito longe. - n�o sei se se lembra. encontr�mo-nos na noite em que o coronel baxter faleceu em bethesda. - claro que me lembro de si, padre. at� pensei em procur�-lo pessoalmente. desejava falar-lhe... - foi exatamente por isso que telefonei - disse o padre. gostava de me encontrar consigo. o mais depressa poss�vel. se pudesse, gostaria de o ver ainda esta noite. � um assunto que deve interessar-lhe. mas n�o � coisa que possa dizer pelo telefone. se n�o puder esta noite, talvez amanh� de manh�... collins estava excitado, com a curiosidade totalmente desperta. - posso ir esta noite. daqui a meia hora.
- ainda bem - disse o padre, parecendo aliviado. - ser� demasiado pedir-lhe que venha ter comigo � igreja? � que, bem... seria um tanto despropositado ser eu a visit�-lo. - com certeza que vou ter consigo. igreja da sant�ssima trindade, n�o �? - � na rua 36, entre as ruas n e o em georgetown. a entrada principal � na rua 36, mas acho melhor n�o a utilizar. prefiro que venha � reitoria, onde lhe poderei falar em particular. na rua 35 volta � esquerda, ou seja para a rua o, e � o primeiro edif�cio da igreja do lado esquerdo. - fez uma pausa, como se hesitasse dizer mais. depois acrescentou: - acho que lhe devo uma explica��o. a entrada principal est� a ser vigiada. ser� melhor para ambos que a sua visita n�o seja conhecida. compreender� quando tivermos ocasi�o de falar. ent�o, dentro de meia hora? - ou antes - respondeu collins. durante todo o percurso para georgetown, no assento de tr�s do carro oficial, chris collins perguntava a si pr�prio o que levaria o padre a querer v�lo com tanta pressa. n�o encontrava explica��o. da �ltima vez que lhe falara, em bethesda, o padre tinha recusado firmemente revelar a confiss�o do coronel baxter. n�o havia raz�o para pensar que fosse agora desprezar os seus votos de segredo. talvez tivesse obtido qualquer outra informa��o que achasse que collins devia conhecer. mas que tipo de informa��o? mais desconcertante tinha sido o aviso de que a entrada principal da igreja da sant�ssima trindade estava a ser vigiada. se isso n�o era sintoma de loucura, mas um fato, vigiada por quem e por que motivo? era estranh�ssimo. collins estava tentado a falar no enigma aos dois homens que se sentavam no banco da frente: pagano, um ex-combatente de rosto arrasado que ele tinha trazido da calif�rnia como seu motorista. tinha-se em tempos travado de amizade com pagano, quando o defendera num processo crime em oakland, e ele ficara-lhe grato para sempre. era da maior confian�a. ao lado estava o agente especial hogan, seu guarda-costas do fbi, cuidadosamente escolhido e tamb�m de confian�a. collins viu que n�o precisava de pedir opini�es. um padre tinha-o chamado por causa de um assunto importante, mas nem sequer se fizera alus�o ao tema. na verdade, n�o havia nada para discutir, a n�o ser a sua sensa��o inexplic�vel de mau press�gio. notou ent�o que j� estavam na rua 35 e que se aproximavam da rua o. inclinou-se para a frente. - pagano, p�ra na esquina da rua 35 com a o. n�o quero que ningu�m veja o carro. quando chegaram � esquina, collins abriu a porta rapidamente. ao sair disse para tr�s: - leva o carro pela rua 35, anda um ou dois quarteir�es e estaciona onde puderes. eu vou l� ter. n�o tenho id�ia do tempo que demorarei. talvez quinze ou vinte minutos. fechou a porta e afastou-se com hogan ao lado. ficaram a ver o carro subir a rua. collins fixou o guarda-costas. - bem, podes vir comigo at� � reitoria da igreja. depois entro sozinho. ficas � espera c� fora, mas n�o d�s nas vistas. atravessaram a rua e percorreram uns metros. collins apontou para a esquerda. - c� estamos. a reitoria era um edif�cio de tijolo vermelho pintado de branco. - deixo-o aqui. quando collins chegou � porta, esta foi aberta inesperadamente por uma m�o invis�vel. ouviu e reconheceu a voz. - entre, senhor collins. penetrou num pequeno vest�bulo fracamente iluminado e encontrou-se perante a figura escura do padre - indument�ria e cabelos negros, pele morena. depois de um r�pido aperto de m�o, o padre dubinski convidou collins a segui-lo. passaram por uma porta que dava para um �trio. a meio deste havia outra porta. o padre abriu-a. - a nossa maior sala da reitoria - disse o padre, acrescentando : - � � prova de som.
na sala de estar, collins inventariou de relance todo o mobili�rio: � direita havia uma secret�ria com duas cadeiras; do outro lado da sala, na parede oposta � porta, havia uma credencia sobre a qual estava pendurada uma pintura moderna de jesus cristo a ser retirado da cruz. o padre dubinski pegou no cotovelo de collins e levou-o para o sof� junto da mesa de caf�, � esquerda. - ningu�m me viu entrar - disse collins. - quem � que est� a vigiar a porta da entrada principal? - o fbi. - o fbi ? - disse collins, incr�dulo. - a vigi�-lo? por que motivo? - vou explicar-lhe - disse o padre dubinski. - sente-se, por favor. prefere ch� ou caf�? collins recusou ambos e sentou-se na beira do sof� junto de uma mesinhacandeeiro. o padre dubinski instalou-se noutro sof� a curta dist�ncia dele. n�o perdeu tempo: - tive uma visita ao fim da manh�. um tal senhor harry adcock, cujo cart�o de identifica��o indicava delegado, ou seria adjunto?, do diretor do fbi. - � o adjunto do diretor tynan. que veio ele c� fazer? - queria saber o que o coronel noah baxter me confessou na noite em que morreu. disse-me que isso podia estar relacionado com um assunto de seguran�a nacional. eu poderia ter considerado o inqu�rito bem intencionado, embora um tanto deslocado, mas um fato n�o me permitiu. quando me recusei a repetir a confiss�o do coronel baxter, adcock amea�ou-me. - amea�ou-o? - repetiu collins, descrente. - sim. mas antes de passarmos a isso, h� uma coisa que me intriga. como podia ele saber que o coronel baxter teve tempo para me falar, para se confessar, antes de morrer? contou-lhe? collins manteve-se calado, tentando lembrar-se. por fim, recordou-se com exatid�o. - de fato, falei nisso. quando regress�vamos, tynan, adcock e eu, do funeral de baxter e fal�vamos dele, da sua morte. com a maior inoc�ncia (porque era nisso que estava a pensar), contei que tinha sido chamado ao hospital na noite em que morreu. contei que ele me tinha querido ver com urg�ncia, mas que eu chegara demasiado tarde. ele j� estava morto. depois devo ter falado... sim, estou certo que fiz, do encontro consigo. que as �ltimas palavras do coronel foram a confiss�o que lhe fez, mas que um padre n�o podia repetir o que lhe � dito em confiss�o. as sobrancelhas de collins franziram-se. - falei nisso a tynan e a adcock, porque pensei que eles me podiam dar uma pista sobre o que baxter me queria dizer. � que eu sabia que tynan era amigo �ntimo de baxter. infelizmente, eles n�o me puderam ajudar. - fez uma pausa.- ent�o tynan mandou adcock vir aqui (� sempre adcock quem faz os trabalhos sujos) para conhecer a confiss�o? e quando se recusou a cooperar, adcock amea�ou-o? � incr�vel. - talvez n�o seja assim t�o incr�vel. s� voc� pode ser o supremo juiz neste caso. - como � que o amea�ou? o padre dubinski fixou o olhar na mesa de caf�. - a amea�a n�o foi impl�cita nem indireta. foi uma amea�a clara e direta, enfim, chantagem. ao que parece, o fbi tinha estado a fazer uma investiga��o sobre mim, sobre o meu passado; suponho que isso � rotineiro nos dias que correm, n�o? - � o processo corrente quando o fbi est� a investigar algu�m. - ou quando quer fazer algu�m falar? mesmo que essa pessoa esteja inocente? collins mexeu-se no sof�. - isso n�o faz parte do processo. mas ambos sabemos que isso acontece. houve abusos. - parece-me que esta investiga��o do meu passado s� pode ter sido instigada pelo diretor tynan. voc� afirmou que adcock n�o passa de um... de um lacaio. - � verdade. - pois bem, o fbi desenterrou o que h� muito estava enterrado, um incidente
infeliz no meu passado. quando era um jovem padre, ocupando o meu primeiro cargo (dirigia uma igreja em trenton, nova jersey, num ghetto), iniciei um programa de combate � droga. para impedir a minha cruzada, alguns dos jovens delinquentes mais empedernidos, plantaram um pequeno arbusto de droga no meu passal e a seguir informaram as autoridades para me comprometerem. a pol�cia apareceu e deu com o arbusto. tinham sido avisados que eu andava a plantar droga. podia ter sido o fim da minha carreira. felizmente, o esc�ndalo foi evitado, pois o meu bispo fez press�o sobre a pol�cia para me deixar testemunhar em audi�ncia privada. devido a esse testemunho, fui ilibado. mas como os culpados nunca foram descobertos, o caso ficou dependente apenas da minha palavra. posso compreender, recordando o incidente agora, que haja quem possa considerar-me culpado, ou, por falta de provas, apenas n�o condenado. ora, o que � fato � que o caso prematuramente encerrado, entrou nos ficheiros do fbi. foi isso que harry adcock me lan�ou � cara hoje de manh�. collins estava estupefato. - custa... custa a acreditar. - mas � assim. tem de acreditar. adcock amea�ou-me de tornar p�blica esta informa��o sobre o meu passado se eu continuasse a recusar divulgar a confiss�o derradeira do coronel baxter. foi perempt�rio. decidi que os meus votos sagrados eram mais importantes que a amea�a de assass�nio moral. seja como for, se a hist�ria viesse a lume, pouco afetaria o meu estatuto. poderia ser embara�oso, mas pouco mais. disse a adcock que fizesse o que entendesse. eu n�o cooperaria com ele. mandei-o embora. depois, durante toda a tarde, fiquei furioso. o que mais me preocupou (agora que j� tenho uma experi�ncia pessoal), foram os m�todos violentos usados por um servi�o do governo contra os cidad�os que diz proteger. - ainda me parece inacredit�vel. o que haveria de t�o importante na confiss�o do coronel baxter para fazer tynan chegar a tais extremos? - n�o sei - disse o padre dubinski. - julguei que voc� soubesse. foi por isso que o contatei. - n�o sei o que o coronel baxter lhe disse. por isso, n�o tenho maneira... - vai passar a saber parte do que o coronel me disse, porque eu lhe vou contar. collins sentiu um arrepio de excita��o. contendo a respira��o, esperou. o padre dubinski prosseguiu, falando vagarosamente: - a visita de adcock deixou-me t�o irritado que passei longas horas durante a tarde a reconsiderar a minha posi��o. sabia que n�o podia cooperar com ele nem com o diretor tynan. mas comecei a encarar o seu pedido de bethesda sob uma luz diferente. � �bvio que o coronel baxter confiava em si. quando j� estava moribundo, foi s� por si que chamou. portanto, ele queria dizer-lhe parte do que me disse. comecei tamb�m a ver que muito do que ele me contou talvez lhe fosse dirigido. e compreendi mais claramente que os meus deveres n�o eram s� espirituais, mas tamb�m temporais, e que talvez eu fosse apenas o guarda da informa��o que o coronel baxter lhe queria fazer chegar. foi assim que cheguei � decis�o de lhe repetir as suas �ltimas palavras. collins sentiu o cora��o bater mais depressa. - aprecio profundamente a sua atitude, padre. - quando faleceu, o coronel baxter estava preparado, segundo as palavras de s. paulo, ''para desaparecer e reunir-se a cristo'' - disse o padre dubinski. estava reconciliado com deus. depois de lhe ter dado os sacramentos e de ter terminado a confiss�o, ele fez um esfor�o final para referir um assunto terreno que perduraria. as suas �ltimas palavras, ditas quase na agonia final... - o padre procurou por entre as pregas da batina. - escrevi-as depois de adcock sair para n�o as adulterar. - abriu uma tira de papel amarrotada. - as �ltimas palavras do coronel baxter, que acredito plenamente serem-lhe dirigidas, foram as seguintes: "sim, pequei, padre...e o meu maior pecado... tenho de o contar... j� n�o me podem controlar... estou livre, j� n�o preciso de ter medo... � sobre a 35.a emenda..." - a 35.a emenda - murmurou collins.
o padre dubinski lan�ou-lhe um longo olhar e voltou � leitura da tira. - "� sobre a 35.a emenda". depois disse algumas coisas sem sentido e a seguir apanhei isto: "o documento r... perigo... perigoso... deve ser revelado imediatamente, a todo o custo... o documento r �..." desfaleceu, depois tentou novamente. � muito dif�cil reproduzir o que ele tentava dizer, mas estou quase certo que era: "eu vi... grave... grave a��o... v� ver..." soltou o suspiro final, recuperou, mas instantes depois estava morto. collins sentia-se enregelado. tinha ouvido uma voz sa�da do t�mulo. confuso e perturbado, disse: - o documento r ? foi disso que falou? - por duas vezes. era evidente que queria dizer qualquer coisa sobre ele, mas n�o p�de. - tem certeza que n�o disse mais nada? - foram estas as �nicas palavras compreens�veis. disse mais, mas n�o as pude entender. - padre, tem a mais leve id�ia do que possa ser o documento r? - esperava que me pudesse dizer. - nunca tinha ouvido falar dele - disse collins. ponderou nas �ltimas palavras do coronel baxter que eram certamente a sua mensagem urgente para o novo procurador-geral. - ele disse que tinha pecado por se ter envolvido nesse... bem, em qualquer coisa. que foi for�ado a envolver-se. qualquer coisa relacionada com a 35.a emenda e um tal documento r, uma grave a��o que era perigosa e que tinha de ser revelada. mandou-me chamar para me dizer isso. - era o seu legado para os vivos, o desejo de corrigir uma falta. - o seu legado para mim, para o sucessor - disse collins quase de si para si. - porque n�o para o presidente? ou para tynan? ou mesmo para a sua mulher? s� para mim. mas porqu� para mim? - talvez por confiar mais em si que no presidente ou no diretor. possivelmente porque voc� compreenderia aquilo que nem a mulher seria capaz. - mas eu n�o compreendo - disse collins desesperado. o documento r. sentiase perdido. procurava mas n�o conseguia encontrar nada. que seria? o padre dubinski tinha-se posto de p�. - talvez seja bom descobrir. descobrir o mais depressa poss�vel. - entregou a tira de papel a collins. - agora j� sabe tudo o que eu sei e tudo o que noah baxter lhe queria dizer na agonia final. o resto est� nas suas m�os. - respirou fundo. - h� um perigo no ar. rezarei pelo seu �xito e pela sua seguran�a. deus seja consigo.
cap�tulo terceiro acordara cedo na manh� seguinte, tomara uma ducha, vestira-se e sa�ra de sua casa de nove divis�es em mclean, na virg�nia, para fazer as sete milhas at� ao servi�o, sem que tivesse falado � mulher na aventura da noite anterior na igreja da sant�ssima trindade. durante o jantar da v�spera e por todo o ser�o, tencionara contar a karen o epis�dio com o padre dubinski. mas uma esp�cie de instinto natural de cuidado e prote��o para com a sua amada, coibira-o de revelar o encontro. sabia que isso a perturbaria e preocuparia, pois o mesmo se passara com ele. em vez disso, falaralhe sobre o telefonema do presidente que tornava certa a viagem � Calif�rnia. as suas �nicas incumb�ncias eram dirigir um discurso � Associa��o americana do foro, aparecer num programa de televis�o, e, se poss�vel fazer propaganda informal junto de alguns legisladores estaduais. tirando isso, ficaria livre, e talvez pudessem gozar alguns dias de sol da calif�rnia. pedira a karen que o acompanhasse. ela resistira, argumentando com a gravidez e o estado de cansa�o. afirmara que ele poderia aproveitar melhor o tempo livre, vendo o filho, josh, e encontrando-se com alguns velhos amigos. collins n�o insistira. sabia que poderia aproveitar o tempo que lhe restasse para falar n�o s� com o jovem josh, mas tamb�m com o homem que paul hilliard queria que encontrasse, o deputado � Assembl�ia olin keefe, o homem que afirmava que o fbi estava a falsificar as estat�sticas criminais da calif�rnia. desde o encontro que tivera com o padre ao princ�pio da noite, collins come�ara a nutrir certas d�vidas sobre o fbi. quando se deitara na noite anterior, karen ainda estava acordada. ao dar-lhe o beijo de boas-noites, percebeu que ela queria fazer amor. estivera t�o absorvido pelo mist�rio do documento r que o amor era a �ltima coisa em que pensava. no entanto, porque n�o lhe queria desagradar, e especialmente porque estaria longe dela por alguns dias, acompanhara-a. ap�s uns minutos de prepara��o, j� tinha esquecido todos os problemas e estava t�o desejoso como ela de fazer amor. apesar do cuidado em n�o lhe comprimir o ventre -temia constantemente que ela tivesse um aborto - a rela��o tinha sido longa e vibrante. tinha sido natural e de entrega m�tua, de uma maneira que nunca tinha conseguido com a m�e de josh - porque pensaria na primeira mulher, helen, apenas como m�e de josh? - e, logo que terminada, ambos tinham adormecido quase instantaneamente. mas quando acordara de manh�, j� n�o era em karen que pensava, mas no documento r. a caminho do departamento de justi�a, recordou a urg�ncia do desejo do coronel baxter em que tomasse conhecimento do assunto e o divulgasse. tomar conhecimento e expor o qu�? alguma atua��o grave que o coronel presenciara. mas como descobri-la? por onde come�ar? tentou pensar no problema de forma l�gica e ordenada. o ponto de partida devia ser algu�m ou alguma coisa relacionada com o falecido coronel baxter. antes demais, havia os arquivos particulares de baxter. o coronel tinha-os mantido separados dos documentos relacionados com o seu cargo de procurador-geral, que estavam guardados nos arquivos normais do gabinete de marion. collins teria de examinar ambos os arquivos. pensou longamente nessa tarefa. parecia simples, mas onde procurar? e procurar o qu�? em r, de documento r? em t, de 35.a, ou em e de emenda? em s de secreto, ou em p de perigo? n�o tinha grandes esperan�as nos arquivos. o tom da mensagem de baxter dava a entender claramente que as informa��es complementares n�o seriam de f�cil obten��o nem se encontrariam em lugares �bvios. era tudo quanto aos pertences de baxter. isso resumia o campo �s pessoas �ntimas de baxter: fam�lia, associados, amigos - qualquer pessoa que pudesse t�-lo ouvido mencionar, num qualquer momento, um papel chamado documento r. por quem come�ar? o diretor vernon t. tynan parecia ser a melhor aposta. as �ltimas palavras de baxter n�o o tinham mencionado nem alertavam contra ele. da mensagem
final, deduzia-se que collins devia come�ar por algu�m pr�ximo. quereria baxter que come�asse por tynan ou que o evitasse? prudentemente, collins ponderou a hip�tese tynan. havia dois pontos significativos a ter em aten��o. porque n�o teria o coronel chamado tynan para ouvir o aviso? porque n�o confiava em tynan? nada permitia inferi-lo. contudo, pensou collins, seria tynan de confian�a? o segundo ponto a ter em aten��o agitou-se � sua frente como uma bandeira vermelha. no regresso do cemit�rio, collins fizera algumas observa��es inocentes sobre a confiss�o derradeira de baxter. tynan enviou imediatamente um emiss�rio ao padre dubinski para descobrir, a bem ou a mal, se necess�rio atrav�s de chantagem, qual fora o conte�do da confiss�o. procuraria tynan alguma informa��o que lhe escapava? ou queria saber se baxter deixara escapar alguma informa��o secreta que compartilhavam? em qualquer dos casos, era poss�vel que tynan conhecesse o significado do documento r. e talvez estivesse pronto a explic�-lo a um colega e superior. era ele a pessoa indicada. mas a bandeira vermelha continuava a agitarse em frente de collins. age com cautela! a prioridade deslizou de imediato para uma pessoa menos duvidosa, de maior confian�a, e que podia estar igualmente ao corrente dos segredos do coronel. era a vi�va do coronel baxter, hannah. a bandeira vermelha desapareceu. era uma pessoa prest�vel. seria compreensiva. collins tinha excelentes rela��es com hannah, que sempre o olhara maternalmente. e quanto a resultados? afinal de contas, tinha sido casada com o coronel quase quarenta anos. baxter n�o podia estar envolvido em quest�es graves sem que ela o soubesse. mas, por outro lado, atendendo � forma como se davam, porque n�o teria o coronel moribundo confiado nela em vez de chamar collins para ouvir o seu aviso? baxter tinha-a utilizado apenas como um meio para chegar a collins. talvez a explica��o n�o fosse dif�cil. o coronel podia ser do tipo de pessoas que pensam que o trabalho dos homens � um assunto para homens, especialmente envolvendo um antigo procurador-geral e o seu sucessor. quando chegou ao seu gabinete, chris collins ainda continuava indeciso quanto ao primeiro passo a dar. sentado � secret�ria, ignorando as mensagens escritas no bloco, continuou a remoer o assunto. quando marion chegou com a ch�vena de ch� forte, j� tinha decidido por onde come�ar. partiria de uma fonte menos complicada que os seres humanos. - marion, onde est�o os arquivos do coronel baxter? - bem, ele tinha dois arquivos distintos... - eu sei. - o principal, o que tinha os ficheiros mais importantes, est� no meu gabinete. al�m desse, tinha um arquivo pessoal (com a correspond�ncia particular, memorandos, etc.) numa caixa � prova de fogo na sala de estar do meu gabinete. - ainda l� est�? - n�o. um m�s depois de ter entrado para o hospital, o arquivo foi transferido para a sua resid�ncia em georgetown. - ent�o agora est� l�? - sim. se deseja examinar alguma coisa, posso encarregar-me disso. - n�o, n�o vale a pena. eu mesmo o farei. - quer que telefone � senhora baxter? j� n�o restavam d�vidas quanto � pessoa com quem devia falar primeiro sobre o documento r. - sim, telefone-lhe e pergunte-lhe se me pode receber por uns minutos hoje � tarde. - quando marion se preparava para sair, acrescentou com ar desinteressado: -j� agora, marion, tenho andado � procura de um memorando chamado documento r. isso diz-lhe alguma coisa? ela tentou lembrar-se. - receio que n�o. nunca arquivei tal documento. - era um memorando relacionado com a 35.a emenda. � capaz de dar uma vista de olhos no ficheiro normal? - imediatamente. enquanto bebia o ch�, collins despachou os assuntos da manh� rapidamente.
discutiu ao telefone uma nota do governo com o solicitador-geral, depois telefonou ao seu assistente para tratar de um assunto de pessoal. teve um breve encontro com o diretor das rela��es p�blicas, que estava a orientar a prepara��o do seu discurso em los angeles. conferenciou � pressa com ed schrader, adjunto do procurador-geral, sobre um caso de fuga coletiva aos impostos, pris�es por tumultos em kansas city e denver, e as �ltimas descobertas relativas aos conspiradores do grupo luta pela liberdade interna. por volta do meio-dia j� tinha atendido a secret�ria em dois assuntos importantes. primeiro, ela tinha procurado no ficheiro oficial. n�o havia a menor refer�ncia, disse ela, ao tal documento r. isso nada o surpreendeu. depois, ela disse-lhe que tinha contactado com hannah baxter, e que esta teria o maior prazer em receb�-lo �s duas horas. depois de almo�ar na sua sala de jantar privativa com tr�s procuradores do minist�rio p�blico rec�m-chegados da prov�ncia, e de atender mais quatro telefonemas, collins estava pronto para iniciar a sua investiga��o particular sobre o documento r. pagano conduziu-o, e hogan acompanhou-o a georgetown. chegaram � casa de tijolo branco nos seus tr�s andares velhos de quase duzentos anos, situada numa rua de �rvores frondosas, quando faltavam precisamente cinco minutos para as duas. deixando o motorista e o guarda-costas no autom�vel, collins subiu a magn�fica escadaria ornamentada por ferro forjado, tocou � campainha e foi recebido pela am�vel criada preta. - vou chamar a senhora baxter - disse a criada. - deseja esperar no p�tio? est� um dia t�o agrad�vel. collins concordou, seguiu-a at� �s portas envidra�adas e entrou para o p�tio lajeado. observou o seu reflexo na piscina, voltou-se para se sentar numa cadeira de ferro trabalhado junto de uma mesa de tampo de cer�mica, e acendeu um cigarro. - ol�, senhor collins - exclamou uma voz jovem. olhou para tr�s e viu rick baxter, o neto de hannah baxter, de joelhos no ch�o, a mexer num gravador port�til. - ol�, rick. ent�o n�o foste hoje � escola? - o motorista est� doente, por isso a av� deixou-me ficar em casa. - os teus pais ainda est�o em �frica? - est�o. n�o podiam vir a tempo do funeral do av�, por isso ainda ficam mais um m�s. - parece que tens problemas com essa engenhoca. est� avariado? - n�o consigo p�-lo a trabalhar - respondeu rick. - estou a tentar consert�lo para poder gravar hoje � noite o programa especial da televis�o sobre a banda desenhada na am�rica. mas n�o consigo... - deixa-me experimentar, rick. n�o sou mec�nico, mas talvez consiga ajudar. rick levou o gravador para junto de collins. rick era um rapaz de cabelo castanho e olhos vivos, com o gancho habitual nos dentes. collins lembrou-se que ele era um rapaz esperto e amadurecido, para a idade de doze anos. collins pegou no gravador, examinou todos os bot�es para verificar se estavam nas posi��es corretas, e em seguida abriu a caixa. viu imediatamente o que estava mal, fez um simples ajuste e experimentou o aparelho. j� trabalhava. - obrigado!-exclamou rick. - agora j� posso gravar o programa. devia ver a minha cole��o. gravo os melhores programas e as melhores entrevistas da r�dio e da televis�o. tenho a melhor cole��o l� da escola. � o meu passatempo favorito. - e um dia ter� muito valor - disse collins. estamos na era dos gravadores, pensou. perguntou a si pr�prio se algum desses mi�dos, mesmo espertos como rick, ainda saberiam escrever. e o pior ainda estaria para vir, com a aprova��o da 35.a emenda. a escuta telef�nica, os microfones escondidos, as escutas por processos eletr�nicos, teriam aprova��o p�blica. - ol�, av� - ouviu rick dizer. collins p�s-se imediatamente de p�, voltando-se para cumprimentar hannah
baxter. quando ela chegou junto dele, abra�ou-a e beijou-a afetuosamente no rosto. era uma mulher pequena e anafada, em decrepitude mas com faces ainda brilhantes e quentes e tra�os de extrema bondade. - os meus sentimentos - disse collins. - lamento muito. - obrigado, christopher. felizmente que tudo acabou. n�o podia suportar o sofrimento dele nem v�-lo para ali prostrado como um vegetal, um homem da sua vitalidade. sinto a falta dele. n�o pode imaginar as saudades que tenho. mas � a vida. temos de a enfrentar. - voltou-se. - rick, vai para dentro. e nada de programas de televis�o nem de grava��es at� � noite. pega nos livros da escola. n�o quero que reproves, sen�o o teu pai fica zangado comigo. quando o rapaz os deixou, hannah sentou-se no tampo de cer�mica da mesa e collins reocupou o seu lugar. hannah falou nostalgicamente de noah baxter por mais algum tempo, recordando os bons momentos que tinham passado juntos, mas a sua voz come�ava gradualmente a arrastar-se. - n�o me deixe continuar. como vai o seu trabalho? - n�o � f�cil. posso avaliar o que noah passou. - ele costumava dizer que era como ter um gabinete sobre areias movedi�as. por mais que se fizesse ia-se sempre afundando. mas se h� algu�m apto para lhe suceder, � voc�, christopher. sei que noah sempre teve grandes esperan�as em si. - foi por isso que ele me mandou chamar na �ltima noite, hannab? - claro. - o que foi que ele lhe disse? - estava ao lado dele quando saiu do estado de coma. sentia-se terrivelmente fraco e n�o se exprimia bem. reconheceu-me e murmurou umas palavras afetuosas. depois pediu-me que lhe fizesse um favor: ''chama chris collins. preciso o ver. � um assunto urgente. � importante. preciso de falar com ele." n�o falou com esta clareza, mas foi isto que tentou dizer. por isso, mandei cham�-lo. tenho imensa pena que n�o tenha conseguido chegar a tempo. - hannah, porque me queria ele falar? ela ainda n�o tinha pensado nisso. - porque � que ele o queria ver? eram assuntos a tratar, certamente. ele raramente conversava comigo sobre o trabalho. tratava esses assuntos diretamente com os interessados. naquela ocasi�o, ele tinha qualquer coisa para lhe dizer. � uma pena que n�o o tenha conseguido. collins sentiu vontade de lhe dizer que o coronel tivera essa oportunidade atrav�s do padre dubinski, mas uma vez que ela n�o sabia, collins resolveu instintivamente n�o a envolver no caso. - gostava de ter falado com ele - disse collins. - podia ter-me dado solu��o a uma s�rie de assuntos. por exemplo, h� certos ficheiros que n�o encontro. j� estive a ver o arquivo oficial, mas o arquivo pessoal de baxter, segundo me diz a minha secret�ria, foi trazido para aqui depois de ele adoecer. - � verdade. guardei-o no escrit�rio. - poderei consult�-lo por uns minutos, hannah? - j� n�o o tenho. esse arquivo j� c� n�o est�. foi levado no dia em que noah morreu. vernon tynan telefonou-me para me dizer que precisava dele por um ou dois meses, que desejava examin�-lo para se certificar de que n�o tinha assuntos ultrasecretos no ficheiro. fiquei aliviada por lhe dar. todos os assuntos secretos de noah me punham nervosa. portanto, se l� estiver alguma coisa de que precise, tem de ir ter com vernon. com certeza que ele cooperar�. � estranho, pensou collins. que quereria vernon t. tynan dos pap�is pessoais do coronel baxter? mas o tempo urgia e a pergunta ficou no ar. - na verdade, aquilo que procuro � um papel do departamento de justi�a relacionado com a 35.a emenda. tem nome. chama-se documento r. por acaso chegou a ver o ficheiro? - nunca mexi nas fichas. n�o tinha motivo para o fazer. - claro, mas lembra-se se noah alguma vez lhe falou desse tal documento? ela abanou negativamente a cabe�a.
- n�o, que me lembre nunca falou nisso. como j� lhe disse, ele raramente me fazia confid�ncias sobre os assuntos do servi�o. desapontado, collins prosseguiu: - e n�o sabe de algu�m a quem ele possa ter falado a esse respeito? ela apontou para o ma�o de cigarros que estava em cima da mesa. - posso tirar um, christopher? ele tirou rapidamente um cigarro do ma�o aberto, ofereceu-lhe e acendeu-o. - voltei a fumar depois do funeral. - soprou o fumo, pensativa. - noah n�o tinha muitos amigos �ntimos. era uma pessoa bastante ciosa da sua vida privada, como deve saber. havia algumas pessoas com quem se relacionava no trabalho, como vernon tynan e adcock, mas n�o passavam de rela��es de servi�o. no aspecto particular... um amigo pessoal? - calou-se para pensar. - bem, parece-me que o �nico que podia chamar-se amigo era donald, donald radenbaugh. ele e noah eram amigos �ntimos, at� � altura do problema do pobre donald. o nome pareceu-lhe desconhecido, mas subitamente captou-o e recordou-se das parangonas dos jornais. - depois de donald ter sido julgado, condenado e encarcerado na penitenci�ria federal de lewisburg - continuou hannah baxter noah nunca mais o p�de ver. atendendo � posi��o de noah, seria muito embara�oso. foi como no tempo em que robert kennedy era procurador e o seu amigo james landis esteve envolvido num caso de fuga aos impostos. kennedy demitiu-o. n�o podia interferir. o mesmo se passou com noah no caso de donald radenbaugh. mas noah acreditou sempre na inoc�ncia de donald e achava que o caso tinha sido um engano completo da justi�a. de qualquer forma, donald foi um dos melhores amigos de noah. - donald radenbaugh - repetiu collins. - lembro-me do nome. o caso teve muita publicidade nessa altura, h� dois ou tr�s anos. foi um esc�ndalo financeiro, n�o � verdade? n�o me recordo bem dos pormenores. - foi um caso muito feio. tamb�m j� n�o me lembro perfeitamente dos pormenores. donald era advogado e exercia a profiss�o aqui em washington quando foi nomeado conselheiro presidencial na anterior administra��o. foi acusado de conspira��o para defraudar ou extorquir (n�o me lembro bem) um milh�o de d�lares atrav�s de contratos governamentais com grandes companhias. na verdade, o dinheiro provinha de contribui��es ilegais para campanhas. quando o fbi deitou a m�o a um tal hyland, este procurou afastar de si as provas para conseguir uma senten�a leve e deitou todas as culpas para cima de donald radenbaugh. afirmou que donald estava a caminho de miami beach para entregar o dinheiro a um terceiro conspirador. quando o fbi apanhou donald em miami, ele n�o tinha o dinheiro. insistia que nunca o tivera. no entanto, com base principalmente no testemunho de hyland, donald foi julgado e declarado culpado. - sim, j� me recordo - disse collins. - parece-me que apanhou uma senten�a pesada, n�o foi? - quinze anos - respondeu hannah. - noah ficou muito perturbado. sempre disse que donald tinha sido usado como bode expiat�rio por ter ajudado o anterior presidente a manter a administra��o limpa. noah n�o podia interferir no tribunal. ainda tentou aligeirar a senten�a, mas n�o conseguiu. sei que esperava faz�-lo sair sob fian�a passados cinco anos, mas agora j� c� n�o est� para o ajudar. seja como for, donald radenbaugh � a �nica pessoa que julgo poder ajud�-lo... al�m de vernon tynan. - quer dizer que radenbaugh talvez saiba alguma coisa a respeito do documento r? - n�o sei, christopher. realmente, n�o sei. mas se esse documento era um papel ou um projeto em que noah participou, podia muito bem ter conversado a esse respeito com donald radenbaugh. era freq�ente pedir conselho a donald em assuntos melindrosos. apagou a ponta do cigarro. - podia visitar lewisburg no exerc�cio das suas fun��es, arranjar maneira de ver donald e dizer-lhe que deseja ajud�-lo como noah pretendia fazer. talvez ele coopere. pode ser que lhe d� a informa��o de que precisa. posso escrever-lhe a dizer que pode confiar em si, uma vez que era
protegido e amigo de noah. - seria capaz de o fazer? - perguntou collins ansioso. - � claro que vou ajud�-lo. - pode estar certo que o farei. de qualquer maneira, j� tencionava escreverlhe algumas palavras sobre o que se passou. ele deve sentir a falta da correspond�ncia, s� a filha lhe deve escrever. tem uma filha encantadora, chamada susie, que vive atualmente em filad�lfia. dir-lhe-ei que o vai visitar. sabe quando? collins voltou mentalmente uma folha do calend�rio. - tenho de estar na calif�rnia no fim de semana para fazer um discurso. voltarei alguns dias depois. pois bem, pode dizer a radenbaugh que o irei ver dentro de uma semana. sim, daqui a uma semana. � uma boa pista, hannah, agrade�olhe muito. - levantou-se, aproximou-se dela e deu-lhe um beijo na face. - obrigado por tudo, hannah. n�o ande a pensar no que aconteceu, mantenha-se ocupada. se karen ou eu pudermos fazer alguma coisa, n�o hesite em telefonar. � sa�da, a caminho do carro, sentia-se melhor. radenbaugh era uma hip�tese concreta. mas o seu ar cerrou-se de imediato. primeiro teria de confrontar vernon t. tynan com o mist�rio do documento r. n�o sabia como iria faz�-lo, mas isso teria de acontecer mais cedo ou mais tarde. entrou no carro j� com a decis�o tomada: quanto mais depressa melhor. na manh� seguinte, �s dez e meia, chris collins encontrava-se com vernon t. tynan na sala de confer�ncias do diretor, adjacente ao seu gabinete, no s�timo andar do edif�cio j. edgar hoover. collins tinha desejado que a reuni�o se realizasse no gabinete de tynan, pois pretendia verificar se o arquivo particular de noah baxter l� se encontrava. mas tynan esperara por ele no �trio do s�timo andar e conduzira-o para a sala de confer�ncias. a�, tynan insistira que collins se sentasse � cabeceira da mesa, enquanto ele ocupava uma cadeira � direita do procurador-geral. enquanto tirava da mala de couro a pasta que continha as �ltimas estat�sticas criminais da calif�rnia, collins observou o diretor e ouviu os seus gracejos para a secret�ria que servia ch� e caf�. desde o encontro com o padre dubinski na igreja da sant�ssima trindade, collins tinha crescentes suspeitas sobre o diretor do fbi. mas agora, observando a descontrac��o de tynan com a secret�ria, a suspeita parecia n�o ter raz�o de ser e desvanecia-se gradualmente. o rosto belicoso de tynan abria-se num sorriso. havia nele uma franqueza e cordialidade que desarmavam collins. como suspeitar do principal defensor da lei no pa�s? talvez o padre tivesse compreendido mal ou exagerado a amea�a do emiss�rio de tynan. - n�o se esque�a, beth - disse o diretor � secret�ria quando ela ia a sair nada de interrup��es. - a porta fechou-se e tynan consagrou-se ao visitante. ent�o, chris, em que lhe posso ser �til? - preciso apenas de poucos minutos - disse collins, tirando os pap�is. tenho estado a rever o meu discurso para los angeles, que inclui os �ltimos relat�rios do fbi sobre criminalidade na calif�rnia. - sim, recebemo-los diretamente da calif�rnia. � onde precisamos atuar neste momento. j� os tem? enviei-lhes ontem. - tenho-os aqui - disse collins. - quero ter certeza de que estou na posse dos �ltimos n�meros. se chegar mais qualquer coisa... - est� perfeitamente atualizado - disse tynan. - s�o os piores at� hoje. fa�a-os compreender que s�o eles, mais do que os cidad�os de qualquer outro estado, que precisam do apoio constitucional. collins considerou a primeira folha. - na verdade, estas estat�sticas da calif�rnia s�o excepcionalmente elevadas em compara��o com as dos outros estados. - levantou os olhos. - ser�o absolutamente exatas? - t�o exatas quanto os chefes da pol�cia da calif�rnia o quiserem respondeu tynan. - pode verificar os n�meros deles l� na calif�rnia. - s� queria saber se piso terreno firme.
- pisa terreno bem firme. com esses n�meros ter� uma boa introdu��o para defender a 35.a emenda. collins tomou um gole de ch� t�pido. - � claro que vou falar da emenda. mas tenho de ser cuidadoso para n�o exagerar. custa-me ter de entrar num debate sobre este tema. e n�o me entusiasma o programa de televis�o. francamente, n�o tive tempo de estudar a lei em pormenor, com todas as suas implica��es, desde que me tornei procurador-geral. - estou convencido que se sair� bem - disse tynan com desenvoltura.- no congresso discutiu-a esplendidamente. sabe exatamente o que � preciso. - mas talvez... - collins hesitava - talvez n�o saiba tudo... tynan deu mostras de aborrecimento. - que mais haveria de saber? chegara o momento. collins fechou os olhos mentalmente e mergulhou. - h� mais qualquer coisa... uma esp�cie de suplemento... um certo documento r. o que h� a respeito disso? em que medida se relaciona com a 35.a emenda? collins esbo�ava uma express�o ing�nua no seu rosto esguio. todo ele era curiosidade inocente. fixou o olhar em tynan para ver se a sua rea��o tra�a alguma coisa. as p�lpebras semicerradas de tynan abriram-se. os seus pequenos olhos escuros cresceram. mas mantiveram-se inexpressivos. ou era um ator consumado ou a refer�ncia ao documento r n�o lhe dizia nada. collins quebrou o sil�ncio interpelando-o: - o que � que preciso saber sobre o documento r? - o qu�? - perguntou tynan. - o documento r. pensei que me poderia elucidar, para eu ficar preparado contra tudo. - chris, n�o tenho a menor id�ia do que est� a falar. onde � que foi buscar isso? o que �? - n�o sei. tenho estado a desfazer-me de alguns pap�is velhos de noah baxter e calhou ver esse nome num dos memorandos relativos � 35.a emenda. tratava-se de examin�-lo juntamente com a emenda. era tudo o que o memorando dizia. - ainda tem esse memorando? gostaria de v�-lo. talvez me refresque a mem�ria. - ah, que pena! j� n�o o tenho. foi para o lixo com um molho de pap�is do tempo de noah. mas ficou-me na id�ia, e pareceu-me que o devia mencionar. pensei que se voc� o conhecesse, talvez me pudesse ajudar. - encolheu os ombros. - mas se n�o conhece... - repito-lhe - disse tynan com firmeza - que n�o tenho a menor id�ia do que est� a falar. provavelmente era um c�digo (ou o que lhe quiser chamar) que noah utilizava para se referir � emenda. n�o posso imaginar outra coisa. de qualquer maneira, n�o sei nada a respeito disso. pode ter certeza de que possui todas as informa��es de que precisa para fazer um trabalho formid�vel na calif�rnia. voc� vai fazer o seu trabalho e n�s faremos o nosso. pode ter certeza de que a calif�rnia vai ratificar. apostamos tudo nisso, e, chris, n�o tenciono perder a partida. - nem eu - disse collins, guardando os pap�is. - penso que estou em perfeita forma. uma vez no �trio, e sozinho, collins desceu pensativamente para o sexto andar, refletindo na reuni�o. n�o tinha havido fendas na armadura de tynan. n�o tinha havido nada na sua resposta nem na sua atitude que indicasse que ele tinha conhecimento do documento - um documento perigoso, chamara-lhe baxter no leito de morte- designado pelo nome de documento r. no entanto... quando se dirigia para o elevador, os seus olhos pousaram no grande espa�o aberto no centro do sexto andar. aproximou-se e olhou para cima. n�o havia telhado l� no alto. da primeira vez que tinha visitado o novo edif�cio do fbi, perguntara ao guia, um agente especial, porque � que havia aquela grande abertura no centro do edif�cio e porque era descoberta. o guia respondera-lhe: - para tornar o nosso quartel-general menos secreto, menos fechado, menos amea�ador e sinistro. fizemo-lo parecer completamente aberto para que o p�blico
pense que n�s tamb�m estamos abertos ao p�blico. para parecerem abertos ao p�blico, pensou collins. talvez o diretor tivesse assumido o ar do seu edif�cio, um ar de franqueza para encobrir a verdade. collins continuou a andar vagarosamente para o elevador, onde o esperava oakes, o seu guarda-costas de servi�o. chegou � conclus�o que talvez s� na calif�rnia poderia saber mais a respeito de tynan e das suas manobras. depois disso, restava-lhe ainda lewisburg, onde poderia saber ainda mais a respeito de tynan e do documento r. noah baxter, na sua agonia, tinha-o chamado com a maior urg�ncia para lhe falar de uma grave atua��o presente no documento r. teria noah compreendido que o estava a meter num labirinto sem sa�da? n�o, noah n�o o encaminharia para uma odiss�ia cega se n�o houvesse uma sa�da. ao entrar no elevador, prometeu a si pr�prio descobri-la rapidamente. *** de novo no seu gabinete, o diretor tynan ficou de p� no centro da sala, de sobrolho carregado, � espera de harry adcock. quando adcock entrou, fechando a porta suavemente, tynan estava absorto, com os olhos fixos no tapete. sem levantar a cabe�a, disse: - acabou de sair. - que queria ele? - perguntou harry adcock, dirigindo-se para o meio da sala. - tentou jogar �s escondidas comigo. disse que desejava que o ajudasse no discurso que vai fazer em los angeles. - tynan praguejou: - merda! - mas que queria ele afinal, chefe? - queria saber se eu tinha ouvido falar de uma coisa chamada documento r. - e tinha? tynan ergueu a cabe�a. - eu nem sequer sabia do que ele estava a falar. - onde � que ele ouviu tal coisa? - n�o sei. disse que tinha visto uma refer�ncia num dos memorandos de noah. - grunhiu: - estava a mentir. - procurou os olhos de adcock. - � um belo intrometido; este nosso collins, tem o nariz muito comprido. parece que anda � procura de sarilhos. adcock assentiu com a cabe�a. - sente-se, harry. tynan rodeou a secret�ria e instalou-se na cadeira girat�ria, enquanto adcock se sentava numa cadeira � sua frente. tynan recostou-se, com os bra�os cruzados sobre o peito atl�tico e os olhos postos no teto. passados instantes, falou: - eu julgava que ele era bom rapaz, um daqueles intelectuais superficiais, ainda de olhos fechados. tamb�m pensava que, tendo sido trazido para c� por noah, pertencia ao nosso grupo. agora j� n�o tenho certeza. parece-me que ele � um burro a dar-se ares de sabido e que anda a ver se arranja problemas. - como, chefe? - pensando, por exemplo, que pode ser mais esperto que vernon t. tynan. - a cadeira girat�ria rangeu quando ele se endireitou.- sabe que este edif�cio � um monumento a j. edgar hoover, harry. pois eu sei muito bem como quero que seja o meu monumento. quero que seja a ratifica��o da 35.a emenda integrada na constitui��o. n�o me importo de n�o vir a ser recordado por mais nada, desde que seja por isso. - e h� de ser, chefe - disse adcock com fervor. - sim? pois bem, quero estar certo de que o senhor collins tamb�m percebe isso. parece-me que � melhor come�armos a vigi�-lo. n�o s� aqui, tamb�m na calif�rnia...- a pausa foi quase uma amea�a. - especialmente na calif�rnia. sim. vamos falar um pouco a respeito disso, a respeito do senhor collins e da calif�rnia. tenho uma s�rie de id�ias. vamos ver se servem.
2
cap�tulo quarto apesar do discurso que estava encarregado de fazer e do malfadado programa de televis�o, chris collins ficara ansioso pela viagem � Calif�rnia. tinha aligeirado propositadamente o plano. chegaria a s. francisco na quinta-feira � tarde, instalar-se-ia nos seus aposentos favoritos do hotel s. francisco, e teria um encontro bem regado com dois delegados do minist�rio p�blico dos quatro distritos judiciais da calif�rnia. depois, esperaria a visita do seu filho josh, de dezenove anos, vindo da universidade de berkeley. a seguir a essa reuni�o (n�o via o rapaz h� oito meses), iriam ao restaurante ernie e poderiam deliciar-se com um longo e calmo jantar. mas o plano n�o tinha resultado. dois dias antes da partida de washington, collins tinha telefonado a josh para confirmar a data. primeiro tinham vindo as perguntas habituais e as correspondentes respostas breves. - como tens passado, josh? - atarefado como o diabo. o trabalho de casa � demasiado. imensas atividades externas. - bem, e como vai a escola? - j� sabe, o costume. - continuas entusiasmado com as ci�ncias pol�ticas? - claro, mas eles tornam tudo muito ma�ador. - tens visto a tua m�e ultimamente? - n�o a vejo desde o anivers�rio dela. estive em santa b�rbara dois dias. helen est� bem. s� que n�o me larga. - e o marido? - parece-me que se entendem bem. mas eu n�o posso com ele. de que � que se pode falar com um tarado pelo t�nis, cheio de artrite? e o pior � que ele insiste em chamar-me "filho". collins n�o pudera conter o riso e josh acabara por o acompanhar. n�o era um rapaz mal humorado, sabia at� ser espirituoso quando lhe parecia valer a pena. vivia muito intensamente o mundo que o rodeava. fisicamente, era bastante parecido com o pai. era alto (cerca de um metro e noventa), rijo e tinha um rosto magro. collins perguntara-lhe se ainda usava barba. ele respondera-lhe que j� a tinha muito mais curta. mary tinha insistido que a aparasse. sim, continuava a viver com mary em felicidade extramatrimonial. ela tinha redecorado o apartamento da rua stuart e pintara pessoalmente o interior. josh era suficientemente delicado para perguntar por karen, que s� tinha visto duas vezes. collins hesitara em falar-lhe da gravidez, mas acabara por lhe contar que ia ter um irm�o ou uma irm� dentro de cinco meses. para al�vio de collins, josh ficara encantado e felicitara-o. - quando � que nos vemos? - perguntara josh. - foi por isso que telefonei. podes encontrar-te comigo esta semana se estiveres livre. vou de avi�o para s�o francisco na quinta-feira. collins explicara-lhe os fins da visita � Calif�rnia. depois de um breve sil�ncio, josh interrogara-o: - vai defender a 35.a emenda nesse discurso, pai? collins hesitara,
percebendo a tempestade. - sim, vou. - porqu�? - bem, porque faz parte do meu trabalho. perten�o � Administra��o. - penso que essa raz�o n�o � suficiente, pai. - bem, h� outras raz�es. h� muito que dizer a favor da 35.a emenda. - n�o consigo encontrar uma �nica. vou ser franco consigo. disse-lhe que tenho andado com atividades exteriores � Universidade. pois tenho estado ocupado, durante todo o tempo livre de que disponho, no combate � aprova��o da emenda. tamb�m lhe posso dizer que perten�o ao grupo de tony pierce; sou investigador dos defensores da declara��o de direitos. vamos lutar aqui na calif�rnia. - desejo-te boa sorte. mas receio que percam. o presidente est� empenhado em apoiar por todas as formas essa lei. - o presidente - dissera josh com desprezo - tem a cabe�a t�o vazia como uma bola de voleibol. se pudesse, adormeceria todo o pa�s. tynan � o �nico que nos preocupa. ele � uma nova edi��o de hitler. - eu n�o seria t�o duro a seu respeito, josh. � um policial com um trabalho dif�cil a realizar. n�o tem nada de parecido com hitler. - posso provar-lhe que est� enganado - desabafara josh. - que queres dizer com isso? - os defensores da emenda est�o sempre a argumentar que n�o ser� aplicada sen�o em s�rias emerg�ncias, como por exemplo, no caso de atentados para derrubar o governo. - mas isso � absolutamente correto. - pai, eu penso que as pessoas que est�o por tr�s da lei (n�o me refiro a si, falo em tynan e na sua quadrilha) pretendem ir muito mais longe assim que tiverem a emenda. - ir muito mais longe? que queres dizer? - n�o quero falar nisto pelo telefone. mas posso prov�-lo. - provar o qu�? - perguntou collins, tentando conter-se. - mostrar-lhe-ei. eu levo-o l�; temos estado a investigar e vamos abrir-lhe os olhos. vai ver pessoalmente e ent�o acreditar�. n�s (quer dizer, os que trabalham no grupo de pierce), estamos a guardar o maior trunfo, pois queremos apresent�-lo poucos dias antes de o �rg�o legislativo votar a emenda. mas os meus amigos n�o se v�o importar se eu lhe mostrar, atendendo a quem �. talvez o fa�a mudar de opini�o. - estou sempre receptivo a tudo o que for razo�vel. se n�o me queres dizer do que se trata pelo telefone, talvez me possas dizer onde �. tens de compreender que o meu tempo � limitado. - vai valer bem o tempo que perder. eu levo-o l�. fa�a-me um favor, pai. fa�a-me este favor. collins vacilara. h� muito que o filho n�o lhe pedia um favor. - bem, vou ver se arranjo tempo. como vamos fazer? - encontramo-nos em sacramento, quinta-feira ao meio-dia. - em sacramento? - iremos a um lugar chamado newell... por isso, porque era pai al�m de procurador-geral e porque gostava do filho, decidira voar para sacramento em vez de se dirigir a s. francisco, depois de ter transferido o encontro com os delegados do minist�rio p�blico para los angeles. chegara a sacramento pouco antes do meio-dia. josh, aprumado, bronzeado, de barba bem cortada, esperava-o, claramente cheio de emo��o contida. depois de o abra�ar, tinham entrado diretamente para um mercury alugado. com eles seguia o agente especial hogan, enquanto o agente substituto oakes ficaria � espera que regressassem � tarde, pois collins teria de voar diretamente para los angeles. agora, depois de terem percorrido quil�metros que pareciam n�o ter fim, josh assegurava-lhe que estavam perto do destino. n�o tinha querido e continuava a n�o querer divulgar o objetivo. - vai ver com os seus pr�prios olhos - repetia v�rias vezes. como o
motorista tivesse seguido inicialmente para norte, pela estrada nacional n�mero 5 em dire��o a weed, voltando depois para nordeste na estrada n�mero 97, para klamath fali, no oregon, para reentrar depois no sentido da calif�rnia, collins teve a crescente sensa��o de ter sido arrastado para uma brincadeira, para uma aventura paran�ica de um jovem. no entanto, procurou continuar bem disposto, fumando, tentando distrair-se com a conversa ligeira, porque sentia prazer pela presen�a do seu filho aventureiro. por seu turno, josh, embora se mantivesse impenetr�vel a respeito do que pretendia mostrar ao pai, n�o parava de arengar sobre o que ele e o seu grupo pensavam da 35.a emenda. - uma das poucas coisas grandiosas deste pa�s � a declara��o de direitos dizia ele. - as primeiras dez emendas garantem a liberdade religiosa, de imprensa, de express�o, de reuni�o, de peti��o, libertam-nos do arb�trio, d�o prote��o aos acusados de crimes, garantem o julgamento por um j�ri, n�o permitem penas excessivas nem puni��es cru�is... collins remexia-se incessantemente no assento. porque julgar�o os filhos que os pais n�o sabem nada? ou que se esqueceram de tudo? - ...mas agora aparece a 35.a emenda para suspender todas estas liberdades e estes direitos. - qualquer declara��o de direitos se refere a liberdades relativas e n�o absolutas - esclareceu collins calmamente. - como disse emerson, as constitui��es s�o apenas sombras alongadas dos homens. foram inventadas por estes para se protegerem uns dos outros. quando n�o o conseguem, ent�o o destino da sociedade humana � posto em causa; t�m de ser tomadas medidas dr�sticas para a pr�pria seguran�a da sociedade. josh recusou-se a aceitar essa id�ia. - nem pensar. s� h� um aferidor. veja o que se passa no mundo. todos os governos verdadeiramente livres t�m uma declara��o de direitos que n�o pode ser repudiada pelo governo. s� as ditaduras, as tiranias e os governos que n�o s�o livres � que n�o t�m declara��o de direitos ou t�m declara��es que s�o condicionadas e podem ser revogadas pelos partidos no poder mesmo em tempo de paz. a inglaterra tem a magna carta de 1215 e a declara��o de direitos de 1689; estas e outras leis trouxeram aos ingleses o fim das pris�es arbitr�rias, a garantia do julgamento com um j�ri. a liberdade de express�o e de reclama��o, o habeas corpus, a prote��o da vida, a liberdade, a propriedade. a fran�a tem uma declara��o de direitos baseada nos direitos do homem e do cidad�o, promulgada em 1789, seis semanas depois da queda da bastilha. tamb�m neste caso, os direitos consagrados de igualdade para todos os cidad�os, de prote��o � mulher, � crian�a e � terceira idade, de trabalho sem discrimina��o, de seguran�a social, de educa��o, etc., n�o s�o coarctadas por embustes como a 35.a emenda. o mesmo se verifica na alemanha ocidental e na it�lia. porque � que na alemanha ocidental a declara��o de direitos n�o pode ser alterada como n�s estamos a pretender fazer? mas noutros pa�ses que tamb�m t�m declara��es de direitos, principalmente pa�ses comunistas ou ditatoriais, encontra-se sempre uma carta na manga. veja cuba: a liberdade de express�o � garantida, claro, mas a propriedade privada pode ser confiscada "se o governo o achar necess�rio para combater atos de sabotagem, terrorismo, ou outras atividades contra-revolucion�rias". veja a r�ssia: direitos iguais para todos, independentemente da nacionalidade ou do sexo, exceto para os "inimigos do socialismo". ou veja a iugosl�via: a constitui��o declara a liberdade de express�o, de imprensa, etc.; mas depois vem a carta escondida: "estas liberdades e estes direitos n�o podem ser usados por ningu�m para abalar as bases da ordem democr�tica socialista... para fazer perigar a paz... para difundir o �dio ou a intoler�ncia nacional, racial ou religiosa... para incitar ao crime ou ofender de qualquer forma a dec�ncia p�blica.'' mas quem � que decide? agora o nosso presidente e o diretor do fbi est�o a tentar jogar essa cartada contra as nossas liberdades. acredito que se a calif�rnia disser sim � emenda, ser� o fim da liberdade e da justi�a para todos n�s. que diabo, at� fiquei sem f�lego para o convencer.
exausto por o ouvir, collins disse circunspectamente: - josh, os horrores que receias nunca acontecer�o. a 35.a emenda ser� usada para te proteger e, de fato, pode at� nunca ser invocada. - nunca ser invocada? espere pelo que lhe vou mostrar daqui a pouco. - estamos a chegar? josh espreitou por cima do motorista e de hogan que ocupava o banco da frente. - sim. collins olhou para o brilho do sol pela janela lateral. a am�rica era uma am�lgama de terras com paisagens dramaticamente diferentes, mas esta era a mais desolada de todo o pa�s. na �ltima hora s� tinha visto lagos secos, leitos alcalinos, quintas abandonadas cobertas de mato, uma ou outra esta��o de servi�o dando-se ares de cidade. agora atravessavam um terreno rude e sinistro, coberto de res�duos de antigas correntes de lava, de pedra-pomes vulc�nica e sem sinais de vida. de repente, essa vida surgiu, algumas pessoas conversavam em frente de uma loja, outras reuniam-se junto do posto de gasolina, viam-se uns tantos casebres e uma tabuleta batida pelo tempo dizia: newell. josh deu instru��o ao motorista e depois de breves momentos disse-lhe que parasse. collins estava at�nito. - onde � que estamos? - lago tule - anunciou josh, triunfante. collins franziu o sobrolho. lago tule. o nome tinha o sabor de um velho lugar familiar. - criado em 1942, oito semanas ap�s Pearl harbor, pelo decreto presidencial n�mero 9066 de roosevelt - explicou josh. - os americanos de origem japonesa foram considerados um perigo para a seguran�a. por isso, apesar de dois ter�os serem cidad�os americanos, 110.000 foram concentrados, aprisionados em dez campos ou centros de deslocados. o lago tule era um deles, era um dos piores campos de concentra��o da am�rica, e foram aqui internados 18.000 americanos japoneses. - n�o gosto dessa mancha na nossa hist�ria mais do que tu disse collins. mas que tem isso a ver com a 35.a emenda? - pode verificar pessoalmente. josh abriu a porta de tr�s do mercury e saiu. collins seguiu o filho, com o vento seco e quente a bater-lhe no rosto, tentando descobrir qualquer rela��o. percebeu que estavam perto do que parecia ser uma vasta fazenda moderna ou uma instala��o fabril: uma s�rie de edif�cios de tijolo e de barracas de chapa ondulada, por tr�s de uma nova barreira de arame farpado. - isto � o lago tule? - era - disse josh com �nfase -, mas agora j� n�o �. foi o nosso campo de concentra��o mais duro, constru�do em 26 mil acres do leito seco do lago. agora � algo mais, e foi por isso que o trouxe aqui. - onde queres chegar, josh? - antes de lhe dizer, deixe-me mostrar-lhe uma coisa que o vai esclarecer. segurava um grande sobrescrito, que abriu. retirou meia d�zia de fotografias e passou-as ao pai. - primeiro veja isto. foram obtidas atrav�s da liga dos cidad�os americanos de origem japonesa. estas fotografias do antigo campo foram tiradas precisamente deste ponto, h� exatamente um ano. o que � que v�? collins examinou a fotografia. o que via eram fragmentos destro�ados da barreira de arame farpado assentado em suportes de cimento. atr�s, via alguns restos de barrac�es em ru�nas, edif�cios de paredes esburacadas e uma torre de vigia em desagrega��o. - e ent�o? - perguntou collins, devolvendo as fotografias.- n�o se v� nada. - exatamente - disse josh. - a� � que bate o ponto. foram tiradas h� um ano e n�o se via nada. s� ru�nas. - abarcou com um gesto a cena que presenciavam. veja agora o lago tule e diga-me o que lhe parece. - confuso, collins perscrutava
o horizonte enquanto o filho prosseguia: -uma nova barreira de seguran�a com fios eletrificados a encimar os alicerces de bet�o refor�ado. e l� adiante, veja os edif�cios. uma nova torre de vigia gigantesca, com holofotes. tr�s edif�cios de cimento novos em folha e mais quatro em constru��o. que quer isto dizer? - que est�o a fazer novas constru��es. s� isso. - mas que esp�cie de constru��o? vou dizer-lhe do que se trata. � um projeto secreto do governo. est�o a reconstruir um novo lago tule. est�o a preparar um futuro campo de concentra��o para as v�timas das pris�es em massa assim que a 35.a emenda entrar em vigor. collins estava surpreso e irritado. tinha perdido um dia, sofrido inc�modos desnecess�rios para ver o que n�o passava de um produto da imagina��o imatura e tonta do seu filho. - ora, josh, certamente n�o esperas que eu acredite nisso. onde � que foste buscar tal id�ia? a boca de josh comprimiu-se. - temos as nossas fontes. � uma obra do governo. � nova. n�o restam d�vidas de que se trata de uma esp�cie de campo de internamento ou pris�o. se n�o �, porque foi reconstru�da a torre de vigia? - h� um cento de projetos do governo que podem t�-las por motivos de seguran�a. - n�o t�o grandes nem do tipo desta. - apre, � evidente que n�o se trata de um campo de concentra��o ou l� o que queiras chamar-lhe. j� n�o temos disso no pa�s e nunca mais voltaremos a ter. meu deus, josh, o que dizes � o mesmo tipo de disparate, o mesmo tipo de boato infundado que corria em 1971 quando um punhado de jornais clandestinos acusavam o presidente nixon e o procurador-geral mitchell de fazerem reviver os centros de deslocados japoneses, como campos prisionais para os dissidentes e manifestantes. nunca ningu�m o conseguiu provar. - mas tamb�m ningu�m o refutou. pelo canto do olho, collins viu que, por tr�s da barreira, vinham dois homens a caminho do port�o da entrada. - pois bem, eu vou refutar a id�ia que fazes deste projeto - disse collins com determina��o. - espera aqui. quando collins se dirigiu ao port�o, viu os dois homens, um de uniforme militar e o outro de camiseta e cal�as de ganga, apertarem as m�os e separarem-se. enquanto o uniformizado ficava junto do port�o, o outro dirigia-se novamente para o local das constru��es l� ao longe. collins apressou o passo ao aproximar-se do militar, que observava a sua chegada com um olhar inquiridor. - o senhor � guarda aqui? - perguntou collins. - sou. - � uma propriedade privada ou do estado? - � do governo federal. posso ser-lhe �til em alguma coisa? - perten�o ao governo. gostava de dar uma olhadela, se me permitir. o guarda avaliou collins rapidamente. - n�o sei se posso. se � do governo... - olhou � volta, p�s a m�o em concha junto da boca e gritou: - eh, tim! - o vulto que se retirava parou e voltou atr�s. - este amigo diz que � do governo. � melhor falares com ele. a outra figura, um homem corpulento de rosto avermelhado, aproximou-se. collins esperou. quando o homem corpulento de camiseta e cal�as de ganga chegou ao port�o, o guarda desviou-se para o lado. - sou nordquist, o encarregado da obra - disse o homem corpulento. - em que posso servi-lo? - bem... eu queria dar uma volta por a�. - esteve tentado a mostrar as suas credenciais, a identificar-se como procurador-geral dos estados unidos, mas achou melhor n�o o fazer. poderia propalar-se a sua participa��o nesta brincadeira de crian�as, neste disparate, e faria figura de tolo. - fa�o parte do... do
governo... do departamento de justi�a, em washington. - precisa ter uma autoriza��o para entrar. ou pelo menos uma palavra do pent�gono ou da armada... - n�o tenho - disse collins, sem convic��o. - lamento, mas n�o posso deix�-lo entrar sem uma autoriza��o especial disse nordquist. - esta �rea � interdita. - disse da armada? - n�o � segredo - explicou o encarregado das obras. - isto � um ramo do projeto sang��neo. chama-se fub. conhece? - n�o sei bem... - fub: freq��ncia ultra-baixa. � uma iniciativa da armada dos estados unidos. um sistema de comunica��o para contatar submarinos imersos. se l� os jornais, j� deve ter ouvido falar nisso. - n�o tenho podido l�-los durante a minha viagem de inspe��o. de qualquer maneira, parece-me que vim a um lugar errado. - parece que sim. mas volte com a devida autoriza��o e terei muito gosto em lhe mostrar tudo isto. - bem, obrigado, de qualquer forma. viu o homem retirar-se. ent�o, sentindo-se tolo e manipulado, arrastou-se penosamente para junto de josh que o esperava em frente do carro. tentou n�o se mostrar ressentido com o filho. explicou a situa��o a josh, repetindo exatamente o que nordquist lhe dissera. - e � tudo - concluiu. - e agora podes dizer a pierce e a todos os teus amigos que as suspeitas s�o totalmente fantasistas. trata-se de um empreendimento da armada e nada mais. josh n�o estava convencido. - ora, pai, n�o estava certamente � espera que eles lhe chamassem um campo de deten��o, pois n�o? - persistia obstinado. - e para que s�o todos aqueles barrac�es, aquelas pris�es? - perguntou. - s� tu � que dizes que s�o pris�es. - o pessoal da marinha n�o precisa daquele tipo de instala��es. e continuo na minha: porque � que h� uma torre de vigia? para que s�o as barreiras eletrificadas? porqu� tanto segredo? - ele disse que n�o era segredo, que tinha vindo nos jornais. - apostava. escute, pai, n�s temos fontes seguras. o que n�o quer � encarar o que o presidente e o fbi est�o a planejar fazer. est�o a mistific�-lo de toda a maneira. collins dirigiu-se para o autom�vel. - talvez sejas tu quem est� a ser mistificado - retorquiu para tr�s. - vamos embora, voltemos � civiliza��o. a longa viagem de regresso foi silenciosa. s� quando chegaram ao aeroporto metropolitano de sacramento e se preparavam para a despedida (seguindo ele para los angeles e o filho para berkeley, via oakland), � que collins lhe ofereceu um sorriso. colocou o bra�o � volta do ombro de josh. - repara que n�o tenho nada contra o fato de seres um ativista. at� tenho orgulho nisso. mas tens de ter muito cuidado ao fazer acusa��es. tens de ter certeza dos fatos antes de os tornares p�blicos. - estou cert�ssimo a respeito deste. a obstina��o do rapaz era exasperante. com grande esfor�o, collins conseguiu manter o bom-humor. - muito bem. e se eu conseguir provar-te que aquilo que vimos � um projeto leg�timo da armada? se o provar, ficar�s convencido? josh sorriu pela primeira vez. - � uma proposta justa. se o pai o provar, ent�o admitirei que estava errado. mas tem de o provar. - dou-te a minha palavra de que o farei. bem, agora tenho de apanhar o
avi�o. vou encontrar-me com um deputado que est� do teu lado. mas esse ter� de provar-me muitas outras coisas. quando chegou ao hotel beverly hills, vindo do aeroporto internacional de los angeles, anunciou � pressa a sua entrada. mal teve tempo para abrir as malas no apartamento de tr�s divis�es que alugara nas traseiras do hotel, para se lavar e mudar de camisa. instantes depois sa�a a correr para o parque de estacionamento, pois o encontro com o deputado olin keefe no hotel beverly wilshire estava aprazado para as dez horas e j� passavam cinco minutos. o guarda-costas oakes, que substitu�a hogan, esperava-o � porta do apartamento. atravessaram rapidamente os carreiros sinuosos que levavam ao hotel, passaram pelo �trio e entraram no lincoln continental que os esperava. cruzaram o sunset boulevard, dirigiram-se para o wilshire boulevard e, em cinco minutos, paravam diante do hotel. l� dentro, depois de saberem pelo recepcionista o n�mero da suite alugada no quarto andar, collins telefonou para cima. keefe atendeu de imediato. - j� comeu? - perguntou keefe. - n�o, hoje ainda quase n�o pude comer. no avi�o n�o serviam refei��es. est� a oferecer-me alguma coisa? - claro que estou. vou j� encomendar. - nesse caso, pe�a um sandu�che de p�o de centeio com presunto e um ch� quente sem lim�o. subo j�. - ficamos � sua espera. collins percebeu do plural. pensava que se ia encontrar com keefe a s�s. afinal ele estava acompanhado, mas talvez fosse apenas a mulher. quando entrou na pequena sala de estar de keefe, collins encontrou n�o um mas dois estranhos, que se levantaram para o cumprimentar, e nenhum deles era a mulher do deputado � Assembl�ia. o af�vel keefe, com um sorriso amig�vel no seu ar de querubim, vestia um casaco desportivo de qualidade e cal�as de gabardine. apertou a m�o de collins com entusiasmo e apresentou-lhe de imediato os seus companheiros. - espero que n�o se importe, mas tomei a liberdade de convidar dois dos meus colegas da assembl�ia. dado que temos a sorte de o ter entre n�s, pensei que quanto mais informa��es lhe pudermos dar melhor... para si e para n�s. - tenho muito prazer - disse collins, um tanto desconcertado. - este � o deputado yurkovich. yurkovich era um jovem s�rio, de sobrancelhas delgadas, com um tique nervoso nos olhos e um bigode longo mas ralo. collins apertou-lhe a m�o. - e este � o deputado tobias, veterano da assembl�ia. tobias era baixo, rubicundo, de olhos castanhos salientes. - fa�a o favor de se sentar num cadeir�o. vai precisar de estar bem sentado para ouvir o que lhe contarmos - disse keefe. a frase pareceu-lhe um mau aug�rio. sentou-se numa poltrona e concordou que um scotch com gelo vinha a calhar. acendeu um cigarro enquanto o hospedeiro preparava a bebida. - o seu sandu�che deve estar a chegar - disse keefe. - com certeza que est� terrivelmente cansado com o v�o e a mudan�a de hora, por isso vamos tentar n�o lhe tomar muito tempo. o melhor � irmos direto ao assunto. - fa�am o favor - disse collins, aceitando o scotch e bebendo um gole. os outros estavam sentados no sof�; keefe puxou uma cadeira para junto da mesa de caf�, em frente de collins. - este assunto � importante para os quatro, incluindo-o a si - come�ou keefe. - para si pode ser um abrir de olhos, embora eu saiba que o nosso amigo comum, o senador paul hilliard, o elucidou na semana passada. - sim, � verdade - disse collins tentando lembrar-se. passara-se tanta coisa desde o jantar com hilliard. al�m disso, estava cansado. j� passava da uma da manh� na sua cabe�a, ainda pela hora de washington. tomou outro gole de scotch,
esperando que lhe devolvesse a mem�ria. - ele queria chamar-me a aten��o para qualquer... qualquer discrep�ncia na taxa de criminalidade... na estat�stica... � isso, n�o �? - � isso mesmo - confirmou keefe. - espero que n�o se importe que tenhamos uma discuss�o livre e franca a prop�sito deste e de outros assuntos que lhe dizem respeito. - � claro que n�o me importo. sejam t�o francos e livres quanto desejarem. de repente keefe tornou-se menos af�vel, pareceu at� ligeiramente perturbado. - comecei assim, porque se est� realmente disposto a uma discuss�o franca, n�o vai ter um ser�o agrad�vel. o aviso era inesperado. - como � que chegou a essa conclus�o? - perguntou collins, agora mais desperto. - diga o que tem a dizer. - muito bem. o que quero dizer � que n�s os tr�s, bem como muitos outros legisladores do estado da calif�rnia que receiam falar abertamente, est�o muit�ssimo desanimados com as t�ticas que voc� e o seu departamento de justi�a est�o a utilizar para ganhar o apoio deste estado na vota��o da 35.a emenda. collins acabou a bebida e apagou o cigarro. - que t�ticas? - perguntou. - n�o empreguei nenhuma t�tica para influenciar a vossa vota��o. dou-lhe a minha palavra. nada fiz nesse sentido. - ent�o algu�m o fez - interrompeu tobias do sof�. - algu�m do seu departamento est� a tentar amedrontar os legisladores deste estado para que aprovem a emenda. collins franziu a testa. - se isso est� a acontecer, digo-lhes de uma vez por todas que n�o tenho absolutamente nada a ver com o assunto. est�o a fazer alega��es vagas. n�o poderiam ser mais precisos? - deixem-me ser eu a continuar - disse keefe aos seus colegas, e voltou-se para collins. - muito bem, seremos precisos. estamos a falar sobre as suas estat�sticas criminais, que tiveram aqui a mais ampla publicidade. essas estat�sticas de crimes violentos e conspira��es foram deliberadamente exageradas pelo fbi, para amedrontar o povo e os legisladores deste estado, no sentido de estes apoiarem a 35.a emenda. j� depois da ocasi�o em que o senador hilliard discutiu este assunto consigo, entrevistei pessoalmente uma d�zia, dos catorze existentes, de chefes da pol�cia a esse respeito. mais de metade concordaram que os n�meros que enviam para o fbi n�o s�o os mesmos que o departamento de justi�a publica. em qualquer parte, ao longo do caminho, as estat�sticas verdadeiras s�o alteradas, exageradas, falsificadas mesmo. abalado pela veem�ncia do seu interlocutor, collins disse: - isso � uma acusa��o grave. obteve declara��es escritas desses policiais que o comprovem? - n�o, n�o obtive - retorquiu keefe. - os chefes de pol�cia que se queixam n�o querem ir t�o longe. est�o demasiado dependentes da boa vontade e da coopera��o do fbi para o atacarem. no fundo, at� simpatizam com o fbi. est�o no mesmo campo de a��o e t�m um trabalho dif�cil presentemente. julgo que os chefes de pol�cia me falaram no assunto porque est�o ressentidos por os terem feito parecer incompetentes. n�o, senhor collins, n�o temos a menor prova escrita. pedimos que aceit�ssemos a sua palavra em como n�o est� envolvido no assunto. em contrapartida, ter� de aceitar a nossa palavra quanto �s t�ticas que est�o a ser usadas pelo fbi. - posso estar pronto a faz�-lo, mas receio que o diretor tynan n�o d� grande cr�dito a provas baseadas apenas em palavras. certamente que compreendem a minha posi��o. n�o posso ir junto do diretor tynan, duvidar da sua integridade, ou da de todo o servi�o, sem provas por escrito que corroborem as vossas acusa��es. agora, se conseguirem que esses chefes de pol�cia passem qualquer coisa a escrito... - n�o conseguimos - disse keefe desanimado. - j� tentei, mas nada feito.
- talvez eu possa tentar. pode ser que eles n�o se importem de me apresentar uma queixa a mim, como procurador-geral, ao passo que com voc�s se recusavam a faz�-lo. t�m os nomes dos chefes da pol�cia que entrevistaram? - tenho-os aqui. keefe ia pegar na sua pasta castanha, que jazia aberta sobre a mesa, quando soou a campainha. dirigiu-se � porta, deixou entrar o criado de servi�o aos quartos e indicou-lhe que o tabuleiro do sandu�che era para collins. assinada a conta, esperou que o criado se retirasse para voltar � pasta. collins j� tinha perdido o apetite, mas sabia que havia de ter fome se n�o comesse. pegou no sandu�che de presunto e queijo, regou-a com mostarda e esfor�ouse por comer. estava a beber o ch� quando keefe voltou com um bloco de notas. keefe arrancou tr�s p�ginas e estendeu-as a collins. - os chefes de pol�cia que n�o quiseram falar est�o riscados. os outros oito falaram. tem a� os endere�os e os n�meros de telefone. espero que tenha sorte. duvido, mas fa�o votos que tudo corra pelo melhor. - tentarei - disse collins, dobrando as p�ginas e colocando-as no bolso do casaco. - o problema fundamental - disse keefe, voltando a sentar-se � que essas pessoas desconhecidas do departamento em que trabalha est�o a desenvolver uma campanha deliberada de temor na calif�rnia. parecem estar decididas a meter-nos a 35.a emenda pela garganta abaixo, custe o que custar - mesmo � custa da honestidade e da dec�ncia. - se se refere � altera��o das estat�sticas... - refiro-me a muito mais coisas - disse keefe. - conte-lhe - insistiu yurkovich do sof�. - conte-lhe toda a verdade. - � o que vou fazer - garantiu-lhe keefe. esperou que collins engolisse o que tinha na boca e poisasse o resto do sandu�che, para prosseguir: - aquilo que lhe vou dizer n�o � limpo. alterar as estat�sticas � o menos. algu�m, em washington, est� a brincar com as nossas vidas. collins descruzou as pernas e levantou-se. - que diz? - digo que est� em curso uma campanha organizada pelo fbi para intimidar certos membros do �rg�o legislativo, para nos atemorizar, recorrendo � chantagem... a palavra chantagem fez a mem�ria de collins vogar para o encontro com o padre dubinski na igreja da sant�ssima trindade. o padre falara de chantagem nessa ocasi�o. agora este legislador da calif�rnia fazia o mesmo. collins esperou pela continua��o. - ...chantagem sutil, mas que n�o deixa de ser chantagem, do tipo mais vil que � poss�vel. primeiro foi dirigida aos legisladores que estavam indecisos, que ainda n�o tinham formado uma opini�o sobre a 35.a emenda. o ataque foi dirigido contra os deputados que... bem, que eram vulner�veis. - vulner�veis? - cujas vidas particulares n�o tinham sido um livro aberto. deputados que tinham qualquer coisa no passado que n�o queriam que fosse do dom�nio p�blico. muitos recearam objetar ou protestar. mas os deputados � Assembl�ia yurkovich e tobias, embora pensassem que n�o era aconselh�vel denunciar o fbi... - porque a chantagem era demasiado sutil - interrompeu yurkovich. - n�o era evidente. as nossas queixas podiam ser menosprezadas, ou mesmo refutadas. keefe concordou: - sim. de qualquer forma, os meus dois colegas, uma vez que n�o podiam protestar publicamente, resolveram vir aqui e protestar pessoalmente na sua presen�a. a princ�pio receavam que fizesse parte da maquina��o. mas o senador hilliard convenceu-me (antes mesmo de voc� o fazer), e eu convenci-os a eles de que era um homem honesto e de confian�a, talvez h� muito pouco tempo no lugar para perceber o que se passa nas suas costas. - keefe fez uma pausa. espero que esta opini�o seja correta. collins procurou um cigarro e levou-o � boca. n�o se surpreendeu por ver a
m�o tremer. - honesto e de confian�a, sou. mas o que � que se passa nas minhas costas? continue, diga-me mais. foi a vez de yurkovich falar: - vou contar-lhe o que se passou comigo. houve tempos em que eu era um alco�lico. at� h� cerca de oito anos. finalmente, fui internado numa cl�nica para me tratar. deixei-me disso. tenho levado uma vida correta, desde ent�o. ningu�m soube disso, � exce��o da minha fam�lia mais chegada. ora, h� uma semana, dois agentes do fbi - um chamava-se parkhill, o outro naughton - procuraram-me no meu escrit�rio em sacramento. disseram que precisavam da minha ajuda numa investiga��o de que estavam a tratar. era uma investiga��o dif�cil. tais inqu�ritos sobre as transgress�es �s leis federais tornar-se-iam mais f�ceis, diziam eles, assim que a 35.a emenda fosse aprovada. de momento, tinham de seguir o caminho mais penoso. queriam informa��es sobre uma certa cl�nica, uma casa de recolhimento de b�bedos, na qual sabiam que tinha estado internado um legislador da calif�rnia durante cinco meses. talvez eu lhes pudesse dizer mais sobre os propriet�rios dessa cl�nica... yurkovich terminou rapidamente a sua declara��o, abanando a cabe�a com renovada descren�a. - foi diab�lica a maneira de me insinuarem que sabiam. o meu segredo absoluto estava nas m�os deles. fiquei perturbad�ssimo. collins tamb�m estava perturbado. - que � que eu podia dizer? reconheci que tinha estado doente na cl�nica e continuei a fingir acreditar que estavam a investigar os propriet�rios de uma cadeia nacional de cl�nicas, suspeitos de envolvimento num caso de drogas ilegais. contei-lhes o que tinha visto e ouvido quando estive internado. quando acabei, agradeceram-me. perguntei-lhes se todas essas informa��es ficavam em segredo. um deles respondeu: "bem, isso n�o est� nas nossas m�os. pode falar com o diretor, se quiser. talvez ele chegue a um entendimento com o senhor." a seguir retiraram-se. eu tinha recebido o aviso. a 35.a emenda era boa para o meu pa�s. vote pela 35.a emenda e o diretor n�o consentir� que a sua hospitaliza��o se torne p�blica. se n�o cooperar, ela ser� conhecida. - que vai fazer? - perguntou collins. - lutei para chegar onde estou - disse yurkovich simplesmente. - gosto de estar onde cheguei. fui eleito por um eleitorado que s� confia em pessoas s�brias. - n�o tenho por onde escolher. tenho de votar a favor da 35.a emenda. - tem certeza que a investiga��o era leg�tima? - perguntou collins. - n�o ter� interpretado mal o que lhe fizeram? - n�o me parece, mas � poss�vel. julgue por si mesmo. pela minha parte, n�o me arrisco. o homem rotundo, que se sentava ao lado de yurkovich, levantou o bra�o. - nem eu - disse o deputado � Assembl�ia, tobias. - quer dizer que lhe aconteceu a mesma coisa? - perguntou collins. - quase o mesmo - disse tobias. - foi no dia seguinte. s� que o fbi n�o me procurou. foram ter com... bem, eu tenho uma amante e foi a ela que contactaram. sou um homem bem casado e com filhos. � pelo menos isso que parece � primeira vista. mas a minha mulher e eu estamos afastados h� muito. no entanto, por amor dos mi�dos, continuamos casados; depois dos filhos terem seguido as suas vidas continuamos a manter as apar�ncias. isso permite-lhe fazer vida social. e a mim, permite-me fazer a minha vida oficial. durante a maior parte destes anos, tive sempre outra mulher em resid�ncia separada. ningu�m no mundo sabia disto, exceto n�s os tr�s. ora, na semana passada, o fbi contactou a minha amante. o nome de um dos agentes era lindenmeyer, se bem me lembro. foram am�veis com ela, assim que viram como estava assustada. tentaram acalm�-la. durante um bocado falaram de outras coisas, n�o pessoais. falaram mesmo acerca da 35.a emenda... ah, como por mero acaso. por fim, entraram no assunto. eu estava num comit� relacionado com os contratos do governo. estavam a investigar algu�m que fazia parte do comit� e era suspeito. por rotina, investigavam tamb�m os outros membros. desejavam saber se eu
tinha alguma vez discutido os contratos do governo com ela. ela tentou dizer que n�o me conhecia muito bem. limitaram-se a ignorar os seus protestos. estavam a par dos fatos. sabiam quantos dias e quantas horas por semana eu passara com ela em todos estes anos. ent�o, deram a entender que ''se fosse preciso'', sim, acentuaram, "se fosse preciso'', tinham de a intimar. collins respirou lentamente. - custa-me a acreditar. -eu acredito - disse tobias. - n�o posso provar que o fizeram com o prop�sito de influenciar o meu voto, mas resolvi proteger a minha mulher e a outra. e proteger tamb�m a mim, naturalmente. assim, alterei o meu voto. abomino a emenda, mas vou dizer ''sim'' em voz alta e clara quando chegar a minha vez de votar. a partir de agora, j� sabe tudo, senhor collins. collins ficou absorto. sentia-se cada vez mais indisposto. - e aconteceu o mesmo a outros deputados? - n�o sei - disse tobias. - s�o coisas em que n�o posso falar pelos outros. cada um de n�s tem a sua vida privada e quer mant�-la privada. collins olhava o seu hospedeiro. - e consigo, que se passou? - ningu�m me procurou, porque sabem o que penso, e sabem que os poria na rua. tamb�m tenho a minha vida particular e calculo que eles possam trazer a lume qualquer coisa. mas mand�-los-ei para o diabo. n�o arrisco tanto como os meus amigos. prefiro expor-me do que ceder a esses canalhas, sejam eles quem forem. - quem pensa que s�o? - n�o sei. - tamb�m eu n�o - disse collins. - n�o � o meu gabinete, disso podem estar certos. se estamos perante uma campanha deliberada, pode ter sido organizada por qualquer pessoa, desde o presidente ou o diretor do fbi at� a um qualquer dos seus subordinados. - pode fazer alguma coisa? - pretendeu keefe saber. collins levantou-se. - n�o tenho certeza, uma vez que n�o temos provas seguras de que essas visitas significassem intimida��o. podem ter sido investiga��es em curso, devidamente estruturadas, ou podem ter sido formas de chantagem. - como vai descobrir de qual das coisas se trata? - investigando os investigadores - respondeu collins. *** de volta ao hotel beverly hills, no balc�o da recep��o, chris collins recebeu do empregado uma mensagem telef�nica juntamente com as chaves do seu apartamento. desdobrou a mensagem. o telefonema chegara h� uma hora. dizia: ''o encarregado do lago tule disse-lhe que o empreendimento n�o era secreto e que tinha sido publicado na imprensa. todos n�s passamos horas � procura durante a noite. mas a iniciativa da armada, que lhe disseram estar em curso no lago tule, nunca foi referida na imprensa. nem uma palavra a esse respeito veio a p�blico. pensei que gostasse de saber. josh collins." j� quase se tinha esquecido. havia a promessa feita ao filho de que provaria n�o ser o empreendimento do lago tule um futuro campo de concentra��o. tinha de tratar disso. havia tamb�m a verificar a altera��o das estat�sticas da calif�rnia. havia ainda a estranha coincid�ncia das investiga��es de agentes do fbi, amea�ando os deputados do estado da calif�rnia. e, acima de tudo isso, sobrepondo-se a todos os outros afazeres, havia o documento r. primeiro o essencial. deu a volta ao balc�o da recep��o, recordado que as cabinas telef�nicas eram perto da entrada para o campo de p�lo. encontrou-as e estavam vazias. fechando-se numa delas, fez uma liga��o direta interurbana para o adjunto do procurador-geral ed schrader. sabia que o ia acordar (eram quase tr�s da manh� na virg�nia), mas queria conhecer a realidade o mais depressa poss�vel. no dia seguinte estaria ocupad�ssimo. uma voz sonolenta respondeu ao telefone. - est� l�, n�o me diga que marcou um n�mero errado... - n�o, ed. � chris que fala. ou�a, quero que me descubra uma coisa o mais
cedo poss�vel, logo de manh�. tem um l�pis? - explicou que a armada dos estados unidos tinha uma base terrestre com um sistema de comunica��es com submarinos chamado projeto sang��neo. uma das maiores instala��es estava presentemente a ser constru�da, j� em fase de conclus�o, no norte da calif�rnia. - descubra o que puder a esse respeito. n�o vou para os est�dios da televis�o antes do meio-dia e um quarto; entretanto estarei nos meus aposentos em reuni�es. telefone-me assim que tiver alguma informa��o. agora desligue e v� dormir outra vez. saiu de cabina, encontrou o guarda-costas no �trio, acompanhou-o at� ao apartamento pelos carreiros sinuosos bordejados de arbustos, deu-lhe as boasnoites e entrou. estava terrivelmente cansado. vagueou ruidosamente pela sala de estar, tirando o casaco e a gravata, e tentando sintetizar os acontecimentos do dia - especialmente a reuni�o com keefe, yurkovich e tobias. as acusa��es sobre uma seita desconhecida dentro do fbi, ou contra algu�m colocado mais alto, tinham sido graves. tentou julgar a veracidade do que lhe fora dito pelos tr�s deputados. n�o conseguia vislumbrar nenhuma raz�o v�lida para que mentissem. que lucrariam em inventar tais hist�rias? com que fim? n�o encontrava resposta. portanto, deviam estar a falar verdade. no entanto, sabia que n�o podia agir baseado exclusivamente no que lhe tinham dito, nem contar o que se passara ao presidente, a tynan ou a adcock sem antes fazer uma verifica��o pessoal. n�o sabia por onde come�ar. teria de esperar at� de manh�, para que o seu esp�rito fosse mais operacional. tirando a camisa, entrou no quarto mergulhado na escurid�o, para passar ao banheiro, acendendo a luz. despiu-se, lavou-se, escovou os dentes, percebeu que estava com olheiras e procurou o pijama. n�o estava pendurado na porta, o que o levou a pensar que a empregada do hotel o teria posto provavelmente no travesseiro da sua cama de casal. apagando a luz da casa de banho, entrou nu no quarto e dirigiu-se �s apalpadelas at� � cama, onde uma nesga de luz vinda da frincha da porta da sala de estar incidia sobre o pijama. preparou-se para o vestir, desejoso de se meter na cama e dormir, mas mal tinha pegado nele quando sentiu o pulso direito tocar em qualquer coisa mole e carnuda. lan�ou um grito de espanto e baixou a m�o, encontrando outra m�o que lhe agarrou o pulso. o cora��o pulsava-lhe doidamente. - mas que raio... - bradou. - vem para a cama, querido - murmurou uma voz feminina. estava demasiado ocupado � procura da luz, tateando desesperadamente em busca do interruptor, para afastar a m�o da mulher que lhe acariciava o p�nis. de repente, uma luz suave lan�ou um c�rculo de amarelo sobre a cama e ela apareceu, arrastando-se para o seu lado da cama, sorrindo-lhe, sem retirar a m�o de entre as pernas, acariciando-o. ficou petrificado, demasiado incr�dulo para agir ou falar. ela era uma rapariga bonita, certamente com pouco mais de vinte anos, cabelo solto, castanho-dourado, l�bios vermelhos, grandes peitos tr�mulos, ventre liso e um longo tri�ngulo de p�los p�bicos. - ol� - disse ela numa voz abafada. - sou a kitty. pensava que nunca mais vinha. - mas afinal quem � voc�? - exclamou ele. baixou a m�o e agarrou na dela, obrigando-a a tir�-la do sexo. - cometeu um erro, certamente est� enganada... - � este o apartamento cujo n�mero me indicaram. disseram-me que esperasse pelo senhor collins. ent�o n�o era engano. quem teria sido o amigo desmiolado que lhe arranjara uma brincadeira de mau gosto como esta? - quem lhe disse para vir aqui? - sou um presente de um amigo seu. - que amigo? - ele n�o disse o nome. nunca dizem. mas pagou-me logo. duzentos d�lares. sou cara. - ria-se. - ele disse que era uma surpresa, que havia de gostar. e prometo-lhe que h� de gostar, senhor collins. agora venha para aqui, seja bom menino... - como � que conseguiu entrar?
- alguns empregados conhecem-me. gratifico-os bem. - ela observava-o. - ah, �s bem bonito. gosto dos homens altos. mas falas muito. vem, vem para a cama com a kitty. prometo que vais passar um bom bocado. ficarei toda a noite. - o raio � que voc� fica! - disse-lhe quase a gritar, agarrando-lhe o pulso quando ela tentou novamente chegar-lhe ao sexo. afastou-lhe a m�o. - agora saia, imediatamente, saia. n�o quero aqui ningu�m, nem voc� nem outra. algu�m esteve a tentar pregar uma partida, uma partida infantil... - fui paga... - ponha-se l� fora! - agarrou-a pelos bra�os e f�-la sentar-se. vista-se e saia daqui imediatamente. - nunca ningu�m me tratou assim. - pois eu trato. - agarrou no pijama. - enquanto vou ao banheiro, espero que se vista e desapare�a. entrou furioso na casa de banho, enfiou as cal�as e abotoou o casaco. quando voltou, ela tinha acabado de vestir a blusa e enfiava a saia azul marinho. - depressa. ela correu o fecho da saia. - o seu amigo disse que se havia de portar assim ao princ�pio, mas que n�o o tomasse a s�rio. - inclinou a cabe�a para ele, sorriu novamente e aproximou-se. est� a brincar, n�o est�? pegou-lhe no bra�o com dureza e empurrou-a para a porta. - ponha-se a mexer. - deixe-me, que me est� a magoar. ele abrandou a press�o, mas levou-a para a sala de estar e arrastou-a rapidamente para a porta da entrada. � porta, respirando fortemente, cedeu um pouco. - lamento que algu�m a tenha utilizado desta maneira - disse ele. - foi um engano e lamento muito. boa noite. ela tentou compor-se e sair com alguma dignidade. - � tempo perdido. voc� nem sequer seria capaz de me aguentar. ele escancarou a porta, e enquanto a rapariga sa�a divisou uma sombra que se levantava por tr�s de uma sebe. era um homem que apontava uma m�quina fotogr�fica. por instinto, collins escondeu-se atr�s da porta no preciso instante em que o ''flash'' era disparado. atirou-se contra a porta, fechando-a com estrondo. ficou encostado, ofegante, sabendo que o fot�grafo tinha apanhado kitty mas n�o a ele. depois, fechou a porta � chave. abalado, cambaleou at� ao bar para preparar uma bebida. se estava indeciso quanto ao significado do que se passara nesse dia, n�o tinha d�vidas quanto ao que se passara � noite. n�o se tratara de uma brincadeira est�pida perpetrada por um amigo de faculdade ou de sociedade. tinha sido muito mais diab�lico. algu�m tinha tentado apanh�-lo em falta, compromet�-lo. mas quem? e porqu�? proponentes da 35.a emenda? imposs�vel, visto que sempre se mostrara publicamente do seu lado. a menos que quisessem assegurar-se de que ficava desse lado. inimigos da emenda? tamb�m era imposs�vel pensar que homens como keefe ou pierce chegassem a tais extremos para o obrigar a mudar de posi��o. incr�vel, pensou. ent�o, ainda abalado, preparou outra bebida, para aguardar a luz do dia, quando as coisas se tornam mais claras. a luz do dia trouxera-lhe, de fato, maior claridade para as coisas obscuras que tinham ocupado a sua mente durante o sono conturbado. a manh� trouxera alguma luz. o pequeno almo�o tardio e demorado com os dois delegados do minist�rio p�blico tinha-lhe permitido tratar de diversos assuntos de rotina do departamento de justi�a. uma reuni�o com uma delega��o de tr�s advogados da associa��o americana do foro tinha sido muito amena. uma entrevista com uma jovem jornalista do los angeles times tinha sido uma esp�cie de treino para tentar evitar um excessivo comprometimento com a 35.a emenda, falando das reformas profundas que eram necess�rias no sistema judicial americano e procurando conhecer as opini�es
de um jornalista sobre a escalada do crime no sul da calif�rnia. por fim, collins ficara s� com o telefone. pensara telefonar aos oito chefes da pol�cia que se queixaram ao deputado keefe das altera��es das estat�sticas criminais da calif�rnia por parte do fbi. mas acabara por s� telefonar a tr�s. logo que sabiam que estavam a falar com o procurador-geral, todos eles evitavam responder �s perguntas. embora um admitisse uma "ligeira discrep�ncia" entre os n�meros apresentados ao fbi e os publicados, imputava esse fato a "um poss�vel erro de computador". todos eles se recusavam a reconhecer terem-se queixado a keefe sobre exageros das estat�sticas do fbi. todos eles disseram, � sua maneira, que o deputado keefe os tinha compreendido mal. ou os chefes da pol�cia tinham protestado junto de keefe mas n�o desejavam fazer o mesmo junto do procuradorgeral, ou keefe os tinha entendido mal. em qualquer das hip�teses, o inqu�rito n�o lhe tinha permitido tirar conclus�es. depois, outro fato o viera abalar. na noite anterior, tinha apontado os nomes dos agentes especiais do fbi que tinham contactado com yurkovich e tobias: parkhill, naughton, lindenmeyer. collins tinha pensado se seria melhor tentar descobri-los atrav�s das delega��es do fbi na calif�rnia ou falando diretamente com tynan ou adcock. acabara por decidir ser mais circunspecto. passado algum tempo, telefonara a marion, a sua secret�ria. - marion, quero que fa�a uma pergunta ao fbi. n�o deve partir de mim. diga que se trata apenas de uma investiga��o rotineira de algu�m do servi�o de conselho legal. tem um l�pis? bem, pergunte-lhes se dois agentes especiais do fbi na calif�rnia, um chamado parkhill e o outro naughton, entrevistaram o deputado yurkovich na semana passada. - soletrou o nome do deputado. - e pergunte tamb�m se um tal agente lindenmeyer contactou... - viu que n�o tinha o nome da amante do deputado tobias. - se... se contactou algu�m em sacramento no decurso de uma investiga��o sobre um comit� da assembl�ia em que participa o deputado tobias. estou no hotel. telefone-me assim que puder. vagueara pela sala de estar enquanto esperava. depois pegara numa c�pia do discurso e burilara algumas frases. passados quinze minutos, o telefone tocara. era marion. - � muito estranho, senhor collins. o fbi diz que n�o tem na calif�rnia agentes especiais chamados parkhill, naughton ou lindenmeyer. de fato, nem sequer t�m pessoas com esse nome em todo o pa�s. como tudo o mais, tamb�m isso se tornara um quebra-cabe�as. n�o havia agentes chamados parkhill, naughton ou lindenmeyer. no entanto, o deputado yurkovich tinha sido entrevistado por parkhill e naughton, e a amante do deputado tobias tinha sido contactada por lindenmeyer. isso podia significar que yurkovich e tobias tinham percebido nomes errados. imposs�vel. ou ent�o tinham ambos mentido a collins. estava fora de quest�o. ou podia ainda querer dizer outra coisa igualmente improv�vel, mas muito mais sinistra. podia querer dizer que o fbi mantinha um corpo especial de agentes - um corpo secreto, n�o referenciado - usado para intimidar os legisladores da calif�rnia. collins encarou essa possibilidade. em geral, collins era uma pessoa realista que se atinha aos fatos, raramente dada a v�os fantasiosos ou � imagina��o de melodramas. em circunst�ncias normais, teria afastado a possibilidade de um corpo secreto por demasiado sinistra para ser tomada a s�rio - exceto por uma raz�o. o seu predecessor no cargo tinha guardado as �ltimas palavras para o avisar de um perigo terr�vel: um perigo chamado documento r. se era poss�vel aceitar como um fato a exist�ncia de tal documento que amea�ava a... a qu�?... a seguran�a do pa�s?... tamb�m se podia aceitar a possibilidade de agentes desconhecidos do fbi amea�ar os deputados da calif�rnia, tal como um conhecido amea�ara o padre dubinski. n�o lhe agradava a evolu��o das coisas. enquanto se dirigia para o quarto para vestir um terno, antes de ir gravar o programa de televis�o com pierce e pronunciar o discurso na associa��o, n�o lhe agradou a id�ia de ter sido alcandorado a uma posi��o em que devia conhecer tudo sobre o crime no pa�s. contudo, decorriam atividades � sua volta, atividades que tudo se assemelhavam a
atos criminosos e de que n�o sabia praticamente nada. tudo isso tinha sido gerado, de uma maneira ou de outra, pela atmosfera criada pela 35.a emenda. que aconteceria ent�o se a emenda se tornasse efetivamente lei deste pa�s, pensou. tinha acabado de mudar de terno, quando o telefone come�ou a tocar na sala de estar. acorreu � sala e levantou o auscultador ao quinto toque. ouviu a voz de ed schrader em washington. - chris, � sobre a tarefa que me destinou esta noite. quase se tinha esquecido do telefonema para schrader na noite anterior. tinha-lhe falado do empreendimento do lago tule apresentado pelo filho, da constru��o de um novo ramo do projeto sang��neo. desejava que schrader lhe confirmasse a exist�ncia das instala��es da armada para poder provar ao filho, josh, que ele estava errado na sua paran�ia de campos de concentra��o e para o chamar � raz�o. - sim, ed. o que descobriu? - recebi esta informa��o de fontes autorizadas do pent�gono. o projeto sang��neo da armada ficou conclu�do h� tr�s anos. n�o h� novas instala��es em constru��o nem repara��es nas existentes. nenhuma das instala��es se situa perto do lago tule. nem queria acreditar no que ouvia. - est� a dizer-me que a armada n�o tem nenhum projeto no lago tule? - nenhum. - mas o encarregado da obra disse-me... n�o, n�o tem import�ncia. mas est�o a construir l� alguma coisa. � um projeto do governo. est�o a construir qualquer coisa. - bem, ent�o n�o � certamente o que julgou. - n�o, pois n�o... - disse vagarosamente. - obrigado, ed. admitia pela primeira vez a possibilidade de o seu filho, josh, poder ter raz�o. e keefe, yurkovich e tobias, tamb�m podiam ter raz�o. durante os vinte minutos de percurso para os est�dios da televis�o, reviu as crescentes provas de que se passava algo sinistro. o documento r, que era um perigo que devia ser exposto. falsifica��o das estat�sticas criminais da calif�rnia. um campo de deten��o secreto na calif�rnia. contudo, fora o menor acontecimento aquele que mais o perturbara. o seu esp�rito voltou ao fot�grafo escondido junto do apartamento na noite anterior, tentando ca��-lo com a pega que tinham metido l� dentro. isso n�o era um boato. isso era uma experi�ncia pessoal. estava cheio de suspeitas e d�vidas sobre os que o rodeavam, os paladinos da 35.a emenda, bem como sobre a pr�pria emenda. acima de tudo, n�o estava com disposi��o para defender a emenda num programa de televis�o de �mbito nacional. repugnava-lhe o papel que tinha de desempenhar. desejava dar meia volta e ir-se embora. mas era demasiado tarde. j� tinham chegado � Beverley boulevard e j� via l� no alto os est�dios da televis�o. collins sentou-se na cadeira da sala de caracteriza��o, com um pano a proteger-lhe a camisa, observando os reflexos no espelho enquanto o caracterizador lhe aplicava um p� enfarinhado de tom castanho no rosto p�lido. viu tamb�m, no espelho, a produtora de � procura da verdade, uma jovem mulher de ar fino chamada monica evans, quando ela apareceu � porta por tr�s dele. - como vai isso, senhor procurador-geral? - perguntou. - creio que estou quase pronto - respondeu collins. - mais alguns minutos, monica, e � todo seu - prometeu o caracterizador. - espero que se cumpra o hor�rio - acrescentou collins. - logo a seguir, sou esperado no century plaza para discursar na associa��o do foro. vai ser apertado. - ficar� despachado muito antes - assegurou-lhe monica evans. - tony pierce j� est� no est�dio com o nosso moderador, brant vanbrugh. j� est�o caracterizados. est�o preparados para come�ar assim que estiver pronto. para collins, isso era um pequeno al�vio. receara a possibilidade de ser engaiolado com tony pierce nesta sala de caracteriza��o antes de come�ar o
programa e de ser for�ado a conversar com ele. uma discuss�o formal com pierce, na televis�o, j� era bastante desagrad�vel. mas uma conversa privada teria sido insuport�vel. - ficarei � sua espera no �trio para o levar ao est�dio - disse monica evans, desaparecendo de imediato. collins continuou a observar-se no espelho e n�o gostou do que viu. apesar dos cosm�ticos, dos cremes e dos p�s que lhe cobriam todas as rugas e todos os sulcos do rosto, aparecia aos seus pr�prios olhos como um cad�ver que um agente funer�rio tentava tornar apresent�vel. porque estaria aqui, pensou, para defender uma bomba que arrancaria a declara��o de direitos da constitui��o? o que o teria feito alinhar, pensou, com antiliberais como o presidente wadsworth e vernon t. tynan? como se teria tornado um pros�lito da horrenda 35.a emenda? na difusa claridade das l�mpadas teatralmente dispostas � volta do espelho, houve uma s�bita ilumina��o. at� agora, tinha racionalizado constantemente a sua posi��o com sofismas. como um bom entre os maus, poderia modificar-lhes o rumo. contudo, n�o tinha conseguido faz�-lo, ou nem sequer tentara realmente. como membro do gabinete, tinha escolhido permanecer, porque tinha assuntos inacabados, a sua pr�pria solu��o para a criminalidade, que era mais humana e decente. no entanto, n�o tinha tratado desses assuntos. como procurador-geral, podia realizar coisas mais importantes que a 35.a emenda. mas sabia que esse outro trabalho n�o tinha significado comparado com a extrema import�ncia da nova emenda. em resumo: todas as suas racionaliza��es n�o tinham passado de fogo de vista. sabia porque estava aqui. sabia o que o trouxera aqui. sabia como isso tinha acontecido. estava a descoberto, visto � claridade do espelho, e era f�cil de identificar. era a ambi��o. sim, a ambi��o tinha sido o motor que o levou pelo caminho errado. a ambi��o de conseguir uma posi��o, para mostrar ao pai. de conseguir um lugar � sua pr�pria custa. a explica��o era de um freudismo elementar, mas era precisamente essa. ser o que n�o era, para vencer. para mostrar ao pai. ser algu�m por qualquer pre�o. agora, tudo isso era rid�culo. nada havia para mostrar ao pai. o pai estava morto. havia apenas ele. e j� pouco dele restava. - pronto, senhor collins - disse o caracterizador, retirando o pano. - j� pode ir. ir aonde? saiu da cadeira. agradeceu. no �trio, encontrou monica evans e seguiu-a rapidamente at� ao amplo est�dio de televis�o. emergiram de um monte de cen�rios para um brilhante quadrado de luzes. havia tr�s c�maras volumosas, duas delas m�veis. os t�cnicos andavam numa roda viva. a aten��o centrava-se numa pequena plataforma que tinha sido decorada como uma pequena biblioteca particular, com tr�s cadeiras girat�rias agrupadas � volta de uma mesa maci�a. dois homens conversavam na plataforma. - deixe-me apresentar-lhe brant vanbrugh, o moderador, e tony pierce - disse a produtora. embora collins nunca tivesse encontrado pierce pessoalmente, reconheceu-o de imediato dos retratos dos jornais e de anteriores presen�as na televis�o. ver pierce em pessoa foi uma desilus�o. collins desejava um vil�o, mas o que viu foi um ser humano simples e insinuante. pierce tinha cabelos ruivos e um rosto de meia idade sardento e franco, animado pelo entusiasmo. era elegante, �gil, media cerca de um metro e sessenta, vestia um terno simples de bom corte. o cora��o de collins caiu-lhe aos p�s. tinha esperado n�o s� um vil�o mas tamb�m um inimigo, mas agora o �nico inimigo que conseguia descobrir n�o era sen�o ele pr�prio. monica evans aproximou-o e fez as apresenta��es. - tenho muito prazer em encontr�-lo finalmente, senhor collins - disse pierce. - o pouco que sei de si vem-me do que li e do seu filho, josh. � um �timo rapaz. - ele diz muito bem de si - respondeu collins, desgra�adamente convencido de que pierce o observava para descobrir como tal pai tinha produzido tal filho.
- meus senhores - interrompeu o moderador. - receio que n�o disponhamos de muito tempo. era um homem novo, vivo, com um falso ar de dirigente juvenil, mas com um esp�rito (collins j� tinha visto o programa) que parecia feito de a�o. um ambicioso, pensou collins. depois pensou: olha quem fala. vanbrugh conduziu-os �s cadeiras respectivas, que o ladeavam. enquanto algu�m apertava o pequeno microfone � volta do pesco�o de collins, ouviu vanbrugh dirigir-se-lhe de novo. - come�aremos a gravar dentro de dois minutos. esta emiss�o de � procura da verdade estar� no ar de costa a costa �s primeiras horas da noite. o que fizerem vai tal qual. n�o h� arranjos. haver� duas paragens para a publicidade. eis as linhas gerais. eu abro com a quest�o a ser discutida: "a calif�rnia deve ratificar a 35.a emenda?" apresento a seguir umas notas introdut�rias sobre a emenda. direi o que � e qual � a sua situa��o presente. a c�mara estar� focada sobre mim. depois a c�mara recuar� para o mostrar, senhor collins. apresent�-lo-ei � audi�ncia como procurador-geral dos estados unidos e indicarei algumas das suas credenciais. em seguida, a c�mara voltar-se-� para o senhor pierce e para mim, e eu irei apresent�-lo, senhor pierce, como um ex-agente especial do fbi, exercendo atualmente a advocacia, e chefe do grupo que se op�e � 35.a emenda e apoia a declara��o de direitos. depois dar-lhe-ei a palavra, senhor collins. ter� cerca de dois minutos para fazer uma declara��o inicial. sugiro que se concentre nas raz�es que o levam a apoiar a emenda. suponho que querer� pintar um quadro carregado da situa��o da criminalidade na am�rica de hoje, e argumentar que s�o necess�rias medidas dr�sticas para preservar a nossa sociedade. em seguida, ser� a sua vez, senhor pierce. poder� dispor dos seus dois minutos iniciais. n�o rebata logo o senhor collins. limite-se a apresentar as suas raz�es para se opor � emenda. a seguir passaremos a falar do que vier a prop�sito. poder�o come�ar o debate. podem fazer interrup��es, mas n�o obstruam as interven��es. - olhou para a frente. estamos quase a come�ar. quando a luz vermelha se acender na c�mara central estamos a gravar. felicidades e mantenham a vivacidade. a luz vermelha da c�mara central come�ou a brilhar. sentindo-se indisposto e atordoado, collins mal ouviu as observa��es iniciais de vanbrugh. ouviu o seu nome e compreendeu que estava a ser apresentado. correspondeu com um sorriso macilento para a c�mara. depois, ouviu o nome de tony pierce. espreitou para al�m do moderador. o rosto aberto e franco de pierce estava grave. ouviu novamente o seu nome, e a pergunta. l� ao longe, ouviu-se a falar. - em nenhum momento desde a guerra civil estiveram as nossas institui��es democr�ticas t�o seriamente amea�adas como est�o hoje. a viol�ncia tornou-se banal. em 1975, dez em cada 100.000 americanos morriam assassinados. hoje, vinte e dois em cada 100.000 americanos morrem assassinados. h� alguns anos, tr�s matem�ticos do instituto de tecnologia de massachusetts, depois de fazerem um estudo sobre o n�vel crescente da criminalidade, conclu�ram: "um rapaz americano citadino nascido em 1974 tem mais probabilidades de morrer assassinado do que um soldado da ii guerra mundial tinha de morrer em combate.'' hoje, essa cruel possibilidade duplicou. foi desta necessidade de travar a crescente espiral de viol�ncia, incluindo o assass�nio, que nasceu a congemina��o da 35.a emenda. continuou laboriosamente at� ver o cart�o dos quinze segundos, e foi com al�vio que concluiu a declara��o inicial. agora ouvia tony pierce falar, cada frase um golpe, e retra�a-se sobre si pr�prio e tentava n�o ouvir. passaram dois minutos, e compreendeu que o debate tinha come�ado. ouvia tony pierce a falar novamente. - os seres humanos combateram pela liberdade, para se libertarem da tirania, durante pelo menos 2500 anos. agora, repentinamente, se a 35.a emenda passar, esse combate morrer� na am�rica. de um dia para outro, por um capricho do diretor do
fbi e do seu comit� de seguran�a nacional, a declara��o de direitos poder� ser suspensa indefinidamente... - indefinidamente, n�o - interrompeu collins. - s� numa emerg�ncia e apenas por um curto per�odo, talvez alguns meses. - foi isso que disseram na �ndia em 1962 - retorquiu pierce. tiveram uma emerg�ncia e suspenderam a declara��o de direitos. esteve suspensa por seis anos. depois, voltaram a suspend�-la em 1975. quem nos garante que isso n�o acontecer� aqui? e se acontecer, significa o fim da nossa liberdade. temos provas disso. j� houve situa��es desse tipo nos estados unidos e foram sempre sin�nimo de calamidade. - que diz, senhor pierce? - intrometeu-se vanbrugh. - pretende afirmar que a declara��o de direitos j� foi suspensa anteriormente na nossa hist�ria? - sim, embora n�o oficialmente. a nossa declara��o de direitos foi suspensa de fato, ou desprezada, ou ignorada, numerosas vezes no nosso passado, e sempre que isso aconteceu sofremos profundamente. - pode citar exemplos concretos? - pediu o moderador. - certamente - disse pierce. - em 1798, depois da revolu��o francesa, os estados unidos temeram a infiltra��o de conspiradores radicais franceses que poderiam tentar derrubar o nosso governo. numa atmosfera de histeria, o congresso ignorou a declara��o de direitos e aprovou as leis sobre os estrangeiros e a sedi��o. foram detidas centenas de pessoas. os redatores que escreveram contra essas leis foram metidos na pris�o. cidad�os comuns que se manifestaram contra o presidente john adams tamb�m foram encarcerados. foi por thomas jefferson ter feito uma campanha contra essa loucura, contra essa suspens�o da declara��o de direitos, que as pessoas foram chamadas � raz�o e jefferson foi eleito presidente - fez uma pausa. - mas n�o faltam outros exemplos - continuou pierce. durante a guerra civil, a lei do habeas corpus foi ignorada, e os tribunais civis cederam o lugar a tribunais militares. depois da i guerra mundial, o procurador-geral a. mitchell palmer invocou a amea�a vermelha e desencadeou uma ca�a �s bruxas que levou � deten��o, sem a aplica��o das garantias, de 3500 pessoas e � deporta��o de 700 estrangeiros. o presidente do supremo tribunal, charles evans hughes, caracterizou essas deten��es como uma das "piores pr�ticas de tirania". com o in�cio da ii guerra mundial, os cidad�os americanos que tinham a infelicidade de descenderem de japoneses, foram desapossados da sua propriedade e confinados em campos de deten��o. passado pouco tempo, em 1954 para ser exato, o senador joseph r. mccarthy acusou temerariamente 205 pessoas empregadas no departamento de estado de serem membros do partido comunista, instigando assim o terror vermelho. mccarthy, um ousado demagogo sedento de publicidade e um beberr�o incur�vel, difamou e destruiu um n�mero gigantesco de americanos inocentes, catalogando os dissidentes e os inconformistas de traidores. por fim, devido aos seus excessos, acabou por ser destru�do antes da na��o, durante os trinta e seis dias das audi�ncias ex�rcito-mccarthy - fez outra pausa. - mais recentemente - prosseguiu pierce - a lei de controle do crime organizado, de 1969, a filha querida do presidente richard m. nixon e do procurador-geral john n. mitchell, suspendeu de fato a declara��o de direitos ao estipular a deten��o preventiva de suspeitos de crimes, a entrada n�o autorizada nos domic�lios, a limita��o do direito dos acusados verem as provas ilegalmente obtidas contra eles, e a escuta eletr�nica por quarenta e oito horas sem autoriza��o legal e por mais tempo com essa autoriza��o. comentando esta lei, o senador sam j. ervin da carolina do norte chamou-a ''um caixote do lixo da legisla��o mais repressiva, inepta, intolerante, injusta e vindicativa jamais apresentada ao senado... esta lei bem pode ser intitulada uma lei para abolir as 4.a, 5.a, 6.a e 8.a emendas da constitui��o". - no entanto, a democracia sobreviveu - disse collins. - mal, mal, senhor collins. e um dia pode n�o sobreviver a tais assaltos � nossa liberdade. como charles p�guy observou algures, a tirania est� sempre melhor organizada que a liberdade. se todos os horrores que mencionei foram cometidos com
uma declara��o de direitos em vigor, imagine o que acontecer� sem uma declara��o de direitos, quando a 35.a emenda for aprovada. senhor collins, a nossa constitui��o, com a sua declara��o de direitos, sobrevive h� mais tempo que qualquer outra constitui��o escrita da terra. n�o a destruamos com as nossas pr�prias m�os. - senhor pierce - disse collins -, fala da nossa constitui��o como se tivesse sido cinzelada na pedra ou tivesse ca�do do c�u; como qualquer coisa inflex�vel, n�o sujeita � mudan�a. no entanto, a nossa constitui��o � um mero produto de compromisso. antes de ser assinada, houve muitas vers�es, houve muitas mudan�as e pode ainda haver muitas outras... - a quest�o n�o � essa, senhor collins - interrompeu pierce. a quest�o �... vanbrugh interp�s-se rapidamente. - um momento. gostaria que o procurador-geral collins desenvolvesse o que ia dizer. estava a dizer, senhor collins, que houve muitas vers�es da constitui��o... - e tamb�m da declara��o de direitos - acrescentou collins. -...antes da vers�o final ser assinada. parece-me que isso � interessante. muitas pessoas da nossa audi�ncia podem n�o o saber. quer explicar? - tenho muito prazer. estou apenas a tentar provar que n�o estamos a adulterar a constitui��o quando a pretendemos mudar. estou apenas a dizer que passou por muitas mudan�as no in�cio, e que ainda pode passar por mais. � para isso que existem as emendas. a palavra emenda deriva da palavra latina emendare, que significa corrigir um defeito ou modificar qualquer coisa para melhor. - mas essas diferentes vers�es da constitui��o e da declara��o de direitos... - insistiu vanbrugh. - sim. bem, como deve saber, um grupo de cinq�enta e cinco homens de doze estados reuniram-se de maio a setembro de 1787 na assembl�ia do estado da pensilvania (que hoje se chama independence hall) para forjarem uma constitui��o que ligaria treze estados numa na��o. a idade m�dia desses homens era de quarenta e tr�s anos. talvez o patriotismo e a sobreviv�ncia n�o fossem os �nicos incentivos desses delegados. metade deles possu�am bens p�blicos. se conseguissem escrever uma constitui��o que formasse um novo governo, os seus bens aumentariam de valor. de qualquer maneira, se pensa que a presid�ncia, tal como est� hoje estabelecida na constitui��o, � sagrada, considere o fato de alexander hamilton ter pretendido um presidente nomeado vitaliciamente. edmund randolph e george mason pretenderam que tr�s homens servissem simultaneamente como presidente, ao passo que benjamin franklin queria que fosse um conselho a governar os estados unidos. a conven��o votou cinco vezes a favor da proposta de um presidente indicado pelo congresso. foi a delega��o da virg�nia a primeira a sugerir um �nico "executivo nacional". nem sequer o chamaram presidente. foi randolph quem se op�s a este tipo de presidencialismo, descrevendo-o como "o feto da monarquia". collins olhou para o moderador. - tenho tempo para mais? - fa�a favor de continuar - incitou-o vanbrugh. - talvez muitas pessoas pensem que a cria��o do senado, como se apresenta na constitui��o, tamb�m � sagrada. n�o era assim no princ�pio. alguns membros da conven��o queriam que fossem os �rg�os legislativos dos estados a indicar os senadores. hamilton pretendia senadores vital�cios. james madison sugeriu que os senadores exercessem o cargo por nove anos. quando ficou resolvido que os senadores deviam ser eleitos pelo povo, alguns delegados entenderam por isso pessoas com propriedade, isto �, pessoas com estabilidade. foi jay quem disse: "o povo que possui o pa�s � que deve govern�-lo." por fim, alcan�ou-se um compromisso. os �rg�os legislativos dos estados podiam votar os senadores e estes serviriam por seis anos. s� em 1913 � que a 17.a emenda veio alterar esta situa��o, dando a todos os cidad�os o direito de elegerem os senadores. quanto � Declara��o de direitos, n�o existia tal coisa, nem pouco mais ou menos, quando a constitui��o foi assinada. a maioria dos antepassados fundadores sentiram que a pr�pria constitui��o era uma declara��o de direitos, n�o tendo de se acrescentar nenhuma emenda. repito, os homens mais avisados da am�rica n�o pensaram nessa ocasi�o que fosse necess�ria uma declara��o de direitos. � luz do nosso passado,
n�o vejo que atentado estamos a fazer contra a constitui��o no presente s�culo por lhe acrescentarmos uma 35.a emenda que se limitar� a suspender temporariamente a declara��o de direitos se isso for necess�rio para preservar o nosso pa�s. - senhor vanbrugh? - era tony pierce tentando fazer-se ouvir. - posso responder � vers�o da hist�ria americana do procurador-geral? - � a sua vez, senhor pierce - disse o moderador. - senhor collins - come�ou pierce -, apesar de tudo o que disse, o que � fato � que temos hoje uma declara��o de direitos. como a conseguimos? omitiu esse fato. temo-la porque o povo a quis, porque o povo sentiu que a conven��o constitucional tinha errado ao p�-la de parte. os diversos estados desejavam que os direitos do povo e os direitos dos estados fossem exarados, queriam que isso fosse feito antes de ratificarem a constitui��o. patrick henry, da virginia, sugeriu vinte emendas, entre as quais as primeiras dez que viriam depois a ser aprovadas. massachusetts apoiava as dez emendas. e o mesmo faziam outros estados. quando o primeiro congresso se reuniu em 1791, madison prop�s doze emendas. o congresso concordou com dez e enviou-as para os treze estados para serem ratificadas. foram ratificadas e a declara��o de direitos tornou-se um fato em dezembro de 1791. - est� a insinuar que todos esses estados pretendiam uma declara��o de direitos - disse collins -, mas isso n�o tem fundamento. tr�s dos treze estados iniciais recusaram-se a ratificar a declara��o de direitos. na verdade, s� o fizeram em 1939, um s�culo e meio depois. - parece-me que est� a sofismar - ripostou pierce. - o que importa � que tivemos desde o in�cio uma declara��o de direitos que garantia a todo o nosso povo tr�s direitos essenciais: liberdade de religi�o, liberdade de express�o e imparcialidade do julgamento. foi thomas jefferson quem acentuou: "uma declara��o de direitos � o que o povo pode exigir de qualquer governo do mundo, geral ou particular, e o que nenhum governo justo pode recusar ou deixar de lado.'' a nossa declara��o de direitos foi e continua a ser importante. � evidente que jefferson se oporia � sua 35.a emenda t�o veementemente como eu o fa�o agora. aquilo que est� a defender � uma emenda para anular a declara��o de direitos, e eu digo-lhe que fazer isso � anular a pr�pria democracia. collins sentiu-se sem resposta e desamparado, e por se sentir assim recorreu � animosidade. - senhor pierce, � para preservar a democracia que eu ap�io a 35.a emenda disse calorosamente. - o que destruir� a democracia � permitir que a presente praga de desrespeito da lei e de anarquia nos escape totalmente ao controle, � permitir os assass�nios, os raptos, os atentados bombistas, as conspira��es, as revolu��es - deixar que isso nos submerja. daqui a poucos anos n�o haver� democracia. nem sequer haver� um pa�s. - prefiro n�o ter pa�s a ter um pa�s sem liberdade - retorquiu pierce. - mas existir� pa�s enquanto existir povo, povo livre e n�o escravos. h� melhores maneiras de controlar o crime do que oferecendo a ditadura. podemos come�ar por oferecer ao povo alimenta��o, trabalho, habita��o, justi�a, compaix�o, igualdade. - tamb�m eu acredito em todas essas coisas, senhor pierce. mas primeiro temos de p�r fim � matan�a. a 35.a emenda pode acabar com essa matan�a. depois disso, com a ordem restaurada, podemos come�ar a atentar nas nossas outras prioridades. pierce abanou a cabe�a. - n�o poderemos ocupar-nos de nada, pois teremos perdido os nossos direitos humanos. ontem � noite, estive precisamente a reler um livro... - pegou num papel que estava em cima da mesa e abriu-o. - ...um livro intitulado as vossas liberdades: a declara��o de direitos, de frank k. kelly, vice-presidente da reserva da rep�blica. ou�a o que ele tem a dizer: "se perd�ssemos a nossa declara��o de direitos, o que aconteceria � nossa maneira de viver? eis algumas das coisas que poderiam acontecer: o governo poderia ocupar os jovens em servi�os militares por per�odos indefinidos, sem dar a menor explica��o ou justifica��o dessa pol�tica. os jovens rapazes e raparigas que saem do ensino poderiam ser
designados para tarefas nas nossas ind�strias onde parecesse ao governo que eram necess�rios. os estudantes que protestassem contra a pol�tica do governo poderiam ser lan�ados para as pris�es federais por ordem do presidente. os americanos, velhos e novos, poderiam ver a sua propriedade expropriada por utilidade p�blica sem direito a indeniza��o. os nomes das pessoas que escrevessem cartas cr�ticas aos seus congressistas poderiam ser entregues � pol�cia, e tais pessoas poderiam ser detidas e encarceradas. os editores que publicassem artigos nos seus jornais, criticando o governo, ficariam sujeitos � deten��o em qualquer momento, de dia ou de noite... pierce n�o parava de falar e collins foi-se afundando inconscientemente na cadeira. a luta que tinha tentado acalentar abandonara-o. n�o estava bem ali, pelo menos do lado em que se sentava, e sentia dentro de si, intensa avers�o pelo outro homem, o monstro ambicioso que ali o pusera. esperou. ouviu. tentou mais algumas defesas fracas e sem convic��o. fez o seu dever. os minutos passavam, os infind�veis trinta minutos, e por fim a tortura acabou. tentou tirar o microfone enquanto vanbrugh e pierce se levantavam, ambos amig�veis, ambos prontos para conversar. collins ignorou-os. - desculpe-me - disse ele a vanbrugh -, indicava-me onde � o banheiro? - passado o �trio, � esquerda. collins voltou-se, atravessou apressadamente o est�dio de televis�o, passou ao �trio e virou � esquerda. encontrou o banheiro e precipitou-se para dentro. felizmente estava vazio. chegou � privada mesmo a tempo. durante instantes ficou apoiado sobre ela, p�lido. depois vomitou. a seguir lavou as m�os e o rosto, e tentou retomar a compostura. fixou a sua imagem no espelho. se tivera d�vidas sobre que posi��o tomar relativamente � 35.a emenda, agora j� sabia. e, estranhamente, n�o fora a consci�ncia a ditar-lhe essa posi��o. fora o est�mago. uma hora mais tarde, j� decidira o que devia fazer. n�o era precisamente o que desejava, mas era um come�o: um bom come�o. quando saiu do elevador que o levara dois pisos abaixo do sal�o principal do hotel century plaza, sabia estar tomada uma decis�o definitiva quanto ao seu pr�ximo ato. com a ajuda dos guarda-costas e dos oficiais da pol�cia local que o ajudavam a atravessar a multid�o dos fot�grafos e dos espectadores, collins percorreu o vasto sal�o inferior e entrou na sala los angeles do hotel. escoltado ao longo da primeira fila de mesas, n�o estava preparado para o impacto de tantos corpos aglomerados nesta sala cavernosa, iluminada apenas por um paquid�rmico candeeiro central e uma fila de quatro candeeiros na parte mais afastada. segurando na m�o esquerda a pasta de couro onde levava o discurso, subiu para o estrado brilhante do palco, onde os dirigentes da associa��o americana do foro se levantaram para o saudar. era ainda pouco conhecido publicamente, mas uma salva de aplausos vindos de baixo acompanhou-o at� ao seu lugar. banalidades, cumprimentos, enquanto era dirigido para o lugar ao lado do presidente do supremo john g. maynard. ao apertar a m�o ao presidente do supremo, collins mais uma vez se sentiu impressionado pelo �dolo da sua mocidade. maynard era um dos poucos homens p�blicos da am�rica que pareciam moldados para o cargo que desempenhavam. a sua grande cabeleira branca, os olhos profundos e indagadores sob as espessas sobrancelhas, o nariz arqueado, o queixo quadrado davam-lhe um ar de um c�sar honesto. a apar�ncia, o porte direito como uma r�gua davam-lhe um ar de vigor e juventude not�veis para um homem bem entrado nos setenta. para collins, o movimento seguinte era dif�cil. conhecia mal o presidente do supremo maynard. s� o tinha encontrado tr�s vezes, de passagem, durante recep��es do governo e nunca lhe tinha falado demoradamente. na verdade, tinha havido um quarto encontro muito recentemente: a ocasi�o em que o presidente do supremo maynard o ajuramentara, como procurador-geral, na casa branca. vendo que o presidente da associa��o j� se dirigira para a tribuna, que a sess�o estava prestes a come�ar, collins foi pressionado pela necessidade a agir de imediato. chamou a aten��o de maynard, viu que ele estava a falar com a senhora
� sua esquerda, e aguardou pacientemente a sua vez. instantes depois, maynard afastou-se da senhora para se consagrar ao discurso de apresenta��o. collins tocou-lhe na manga e inclinou-se para ele. - senhor presidente... maynard aproximou-se de collins. - sim? - gostava que me dispensasse cinco minutos em particular, depois de sairmos daqui. - com certeza, senhor collins. temos aposentos l� em cima, no terceiro andar. s� regressaremos a washington � noite. a senhora maynard foi �s compras, por isso podemos ficar a s�s. satisfeito, collins recostou-se novamente, sentindo-se melhor. mas enquanto ouvia a sua apresenta��o palavrosa como primeiro orador, o seu esp�rito foi absorvido pela 35.a emenda e a sensa��o de opress�o voltou. no colo tinha o discurso que relatava o aumento da criminalidade nos estados unidos e as maneiras como a lei e os procedimentos judiciais se tinham desenvolvido e transformado para acompanhar esse aumento. no princ�pio e no final do discurso argumentava-se a favor da necessidade de revis�o constitucional, quando necess�ria, com particular �nfase na import�ncia e valia da 35.a emenda. revendo as declara��es que em breve ia fazer, collins sentiu-se incomodado. pegando na caneta, releu rapidamente tr�s cita��es nas p�ginas iniciais. examinou a primeira: ''como o presidente george washington declarou no seu discurso de despedida � na��o, em setembro de 1796: 'a base do nosso sistema pol�tico � o direito do povo elaborar e alterar as suas formas de governo'." collins riscou o par�grafo. examinou o par�grafo seguinte. "e como alexander hamilton disse doze anos depois, numa comunica��o ao senado dos estados unidos, 'as constitui��es devem consistir apenas em disposi��es gerais; a raz�o � que devem ser necessariamente permanentes e n�o podem por isso prever as poss�veis mudan�as das coisas.' � a natureza geral dos artigos que permite a realiza��o de emendas que v�o ao encontro das emerg�ncias hist�ricas. � a natureza geral da nossa declara��o de direitos que permite incorporarmos-lhe a 35.a emenda, para resolver os problemas desta gera��o, sem alterar a integridade do documento como um todo." collins fez deslizar a caneta por este par�grafo, cortando-o tamb�m. entrou na terceira p�gina. "em 1816, thomas jefferson escreveu o seguinte a um amigo: 'alguns homens encaram as constitui��es com sacrossanta rever�ncia e consideram-nas como a arca da alian�a, sagrada demais para se lhe tocar. atribuem aos homens das gera��es anteriores uma sabedoria sobre-humana, e julgam que o que eles fizeram n�o est� sujeito a altera��es.' jefferson pensava que a nossa constitui��o era pass�vel de revis�es..." com tra�os firmes, collins cortou mais este par�grafo. feitos estes cortes, o que restava era ainda uma argumenta��o a favor da flexibilidade, da aplica��o de novas leis aos novos problemas, mas agora os argumentos eram mais suaves, esbatidos - pareciam mais uma sugest�o oferecida para debate. ouviu o presidente do supremo maynard sussurrar-lhe: - isso � que � escrever � pressa! ele olhou para maynard. - segundos pensamentos - respondeu. ouviu ent�o o presidente da associa��o dizer da tribuna: - senhoras e senhores, tenho o maior prazer em apresentar-lhes o procuradorgeral dos estados unidos: christopher collins! enquanto os aplausos estalavam, ele levantou-se para falar. *** duas horas depois, com o seu discurso t�rgido deitado para tr�s das costas, com o brilhante discurso do presidente do supremo ainda a retinir-lhe nos ouvidos, collins sentou-se � beira da cadeira de costas altas da tranq�ila suite de maynard, tentando traduzir em palavras o que lhe ocupara o esp�rito durante toda a tarde. - senhor presidente do supremo - come�ou collins -, vou dizer-lhe o que me
levou a querer falar-lhe em particular. vou direto ao assunto. gostava de conhecer a sua opini�o sobre a 35.a emenda. que pensa dela? o presidente do supremo, recostado num sof�, enchendo o cachimbo com tabaco de uma bolsa de couro, levantou a cabe�a, de sobrancelhas franzidas. - a sua pergunta... � inspirada pelo executivo ou � pessoal? - n�o � inspirada por ningu�m. � pessoal, nasceu da minha pr�pria preocupa��o. - compreendo. - tenho grande respeito pela sua opini�o - continuou collins. gostaria imenso de saber o que pensa sobre a lei que � talvez a mais controversa e decisiva jamais apresentada ao povo americano. - a 35.a - murmurou maynard, acendendo o cachimbo. puxou o fumo durante alguns segundos, depois estudou collins. - como pode supor, sou contra ela. oponho-me radicalmente a legisla��o t�o dr�stica. se for mal aplicada, pode sufocar a declara��o de direitos, tornar a nossa democracia um estado totalit�rio. � verdade que enfrentamos um problema s�rio no pa�s. o crime e o desrespeito pela lei crescem como nunca se viu na nossa hist�ria. mas a limita��o das liberdades n�o proporciona uma solu��o definitiva. pode trazer-nos a paz, mas � uma paz resultante da morte. a pobreza, como bem sabemos, � a m�e do crime. acabe-se com a pobreza e estaremos a aproximar-nos do fim da criminalidade. n�o h� outra forma. estou com benjamim franklin: quem entrega a liberdade para comprar a seguran�a, n�o merece nem uma nem outra. a 35.a emenda pode comprar a seguran�a. mas ser� pelo pre�o da liberdade humana. � um mau neg�cio. oponho-me fortemente. - porque n�o diz isso em p�blico? - perguntou collins. o presidente do supremo maynard recostou-se, inspirando o fumo, e olhou maliciosamente para collins. - e porque n�o o faz voc�? - retorquiu. - voc� � o procurador-geral. porque n�o se pronunciar contra ela? - porque deixaria de ser procurador-geral. - e isso � assim t�o importante? - sim... porque penso que posso ainda fazer algum bem onde estou. al�m disso, a minha voz n�o teria o mesmo impacto que a sua. se n�o considerarmos a minha posi��o oficial, sou quase um desconhecido. n�o tenho a sua credibilidade. deve ter visto a recente sondagem em todo o estado da calif�rnia sobre os americanos mais admirados. obteve 87%. a si, o povo escut�-lo-ia, e o mesmo aconteceria com os legisladores do estado. - espere um instante, senhor collins - disse maynard, pousando o cachimbo num cinzeiro. - parece que n�o me percebeu bem. quando me perguntou porque n�o falava contra a lei, respondi fazendo-lhe a mesma pergunta. esperava que me dissesse que n�o se pronunciava contra porque � a favor. em vez disso, deu a entender que est� do meu lado. no entanto, quer que seja eu a denunci�-la publicamente. n�o o consigo perceber. pensei que voc�, tal como o presidente, os dirigentes do congresso e o diretor do fbi, estavam todos por tr�s da emenda. embora o seu discurso de hoje parecesse indicar que se devia fazer uma an�lise cuidadosa da emenda. tudo isto � confuso. collins abanou a cabe�a. - talvez porque eu pr�prio tenho andado vacilante. o discurso foi escrito h� j� alguns dias, e foi preparado por instiga��o do presidente wadsworth. desde ontem que tenho alimentado crescentes d�vidas sobre a emenda, e que temo uma m� utiliza��o. parece-me que agora concordo totalmente consigo a esse respeito. parece-me que prefiriria demitir-me a defend�-la novamente. mas, por agora, prefiro manter-me no meu cargo. tenho � minha frente alguns assuntos por concluir. quero termin�-los antes de tomar uma posi��o definitiva. entretanto, o tempo escoa-se aqui na calif�rnia. era preciso que o povo e os legisladores ouvissem algu�m que respeitam. � por isso que lhe pe�o que se manifeste. s� o senhor a pode liq�idar - pode ser liq�idada sem a minha ajuda. - duvido. pelo menos de acordo com as sondagens particulares do presidente.
- pois bem, vou dizer-lhe porque n�o posso opor-me a ela. n�o sei se tem conhecimento disto, mas h� um ano e meio os ju�zes do supremo tribunal chegaram a um acordo �tico. ningu�m daria a sua opini�o, verbalmente ou por escrito, sobre assuntos legais que pudessem um dia vir a ser apresentados no tribunal. ser-me-ia imposs�vel discutir em p�blico uma emenda que mais tarde poderei ter de interpretar ou julgar no meu cargo. - sim, compreendo - disse collins desesperado. - parece-me ent�o que n�o h� maneira de dizer ao p�blico o que pensa realmente da 35.a emenda. - n�o vejo nenhuma forma - disse maynard vagarosamente. pelo menos enquanto estiver no supremo tribunal. - ficou pensativo por instantes. - � claro que haveria uma maneira. posso sair do supremo em qualquer momento. posso demitir-me. ent�o estaria livre para falar. - abanou a cabe�a. - mas as circunst�ncias atuais n�o parecem exigir uma medida t�o dr�stica. - as circunst�ncias atuais - repetiu collins. - mas � capaz de encarar circunst�ncias futuras que possam lev�-lo a demitir-se e a pronunciar-se contra a emenda? maynard pensou na pergunta. - sim, � claro, suponho que h� v�rias possibilidades que me podem levar a agir. � evidente que se eu estivesse convencido que os homens e os motivos que est�o por tr�s da 35.a emenda s�o maus, se estivesse certo de que nessas m�os a emenda representaria um perigo imediato para o pa�s, demitir-me-ia do meu cargo e falaria ao povo. de momento, ainda n�o estou plenamente convencido. mas se estivesse, deixaria tudo e ergueria a minha voz imediatamente. em resumo, se existisse mais alguma coisa do que aquilo que vejo... nesse instante, collins pensou no documento r, no perigo que n�o se via mas era real, no aviso de agonia do coronel baxter. - senhor presidente- interrompeu collins -, j� ouviu falar de um tal documento r? - o documento r? n�o, parece-me que n�o. o que �? - n�o tenho certeza. deixe-me explicar-lhe. - lentamente, relatou a maynard as circunst�ncias da morte do coronel e as suas agourentas palavras finais. tanto quanto posso deduzir, parece tratar-se de um documento ou de um plano existente que se destina a... a acrescentar de qualquer forma a 35.a emenda. como lhe disse, � qualquer coisa que baxter considerava perigosa. deve estar relacionado com a 35.a emenda, deve ser uma parte que n�o se v�. - talvez - disse maynard. - � realmente sinistro. - se eu descobrisse o que se trata e provasse que � um perigo, isso lev�-loia a agir? - talvez - disse maynard cautelosamente. - dependeria do conte�do. mostre-me primeiro, o documento ou qualquer outra coisa, e ent�o dar-lhe-ei a minha resposta. - �timo. - collins levantou-se. - vou apressar a investiga��o. se e quando encontrar o documento r, ser� o primeiro a conhec�-lo. maynard ergueu-se. - fico � espera de not�cias. assim que as tiver, estarei pronto para tomar uma decis�o. quando collins saiu da suite de maynard, o seu esp�rito sentia-se mais desanuviado. sabia finalmente que posi��o tomar face � emenda. sabia que tinha um aliado para o ajudar a det�-la, se conseguisse a prova concludente que faltava. e sabia tamb�m de uma fonte para encontrar a ponta do fio. tinha de regressar a washington. mas depois, num dia da pr�xima semana, teria de contatar com algu�m na penitenci�ria federal de lewisburg, na pensilvania. *** na manh� seguinte, por tr�s das portas trancadas do gabinete do diretor do fbi, no edif�cio j. edgar hoover em washington, duas figuras im�veis estavam sentadas a ouvir uma grava��o que passava lentamente no grande gravador dourado colocado em cima da mesa de caf�, entre elas. vernon t. tynan e harry adcock
tinham estado a ouvir em sil�ncio durante cerca de um quarto de hora. a fita estava a chegar ao fim. fi�is � vida, as vozes sa�am do reprodutor de som. "como lhe disse, � qualquer coisa que baxter considerava perigosa. deve estar relacionado com a 35.a emenda, deve ser uma parte que n�o se v�." "talvez. � realmente sinistro." "se eu descobrisse o que se trata e provasse que � um perigo, isso lev�-loia a agir?" "talvez. dependeria do conte�do. mostre-me primeiro, o documento ou qualquer outra coisa, e ent�o dar-lhe-ei a minha resposta." "�timo. vou apressar a investiga��o. se e quando encontrar o documento r, ser� o primeiro a conhec�-lo." ''fico � espera de not�cias. assim que as tiver, estarei pronto para tomar uma decis�o." sil�ncio, s� cortado pelo deslizar do resto da fita virgem. - filho da puta! - exclamou tynan, de rosto l�vido, pondo-se de p� num salto. - esse pulha desse vira-casacas, a virar-se assim contra n�s! desligue esse raio dessa fita, harry. adcock desligou rapidamente o gravador e deu meia-volta para observar o seu superior, que vagueava pelo gabinete. tynan bateu fortemente com o punho na palma da outra m�o. - o grande porco, o pulha que me saiu esse collins. vai-lhe custar o pesco�o. n�o vai mexer uma palha, a tentar subverter, mas n�s vamos afast�-lo do caminho e depressa. o maynard � que me preocupa mais. esse nojento liberal amigalha�o dos vermelhos... esse � que nos pode arranjar sarilhos se andar pela calif�rnia a dizer mal de n�s e da emenda. - n�o pode, chefe, n�o tem provas. ele disse que n�o fazia nada sem provas. - n�o confio nele. pode dar-lhe na cabe�a meter-nos na berlinda. n�o vou dar-lhe asas... nunca mais, a nenhum deles. vamos dar cabo de maynard e de collins. - collins deve ser f�cil de anular - disse adcock. - basta levar esta grava��o ao presidente... ele despede o seu procurador-geral num minuto. tynan levantou a m�o. - n�o, harry. voc� e os seus rapazes fizeram um bom trabalho em los angeles. as grava��es s�o preciosas, todas elas, mas parece-me que n�o ser� prudente dar a conhecer os nossos processos ao presidente. pode ficar com d�vidas. al�m disso, ele p�s o assunto nas nossas m�os. n�o quer ser envolvido. n�o, acho que � melhor encarregarmo-nos do senhor procurador-geral collins e do senhor presidente do supremo maynard � nossa maneira. adcock ficou a v�-lo passear pensativamente por tr�s da cadeira girat�ria da secret�ria. esperou um pouco e perguntou-lhe: - tem alguma id�ia, chefe? o diretor abanou a cabe�a. - algumas. n�o sei se eles ir�o mais longe. collins afirmou que sim, mas penso que n�o sabe aonde se dirigir. de qualquer modo, s�o ambos potencialmente perigosos para o pa�s... e para n�s. at� aqui temos estado de sobreaviso; agora temos de estar preparados para a defesa. temos de estar prontos para qualquer eventualidade. se tivermos muni��es, podemos enfrent�-los, e us�-las se a isso formos for�ados. - tira-me as palavras da boca, chefe. - parece-me que podemos come�ar pelo nosso procurador-geral collins. quero que o fbi proceda a uma investiga��o secreta a seu respeito. - mas ele foi sujeito a uma investiga��o cuidadosa antes de o congresso o confirmar como procurador-geral - protestou adcock. tynan agitou a m�o, como se apagasse as primeiras dilig�ncias feitas. - rotina, as primeiras investiga��es foram de rotina. quero um grupo de escol, uma pequena for�a de choque formada pelos seus melhores agentes, que
come�ar� a investigar ainda hoje. escolha-os a dedo, harry. s� aqueles que sabem ocupar-se de uma tarefa de espionagem da maior import�ncia. aqueles que s�o de absoluta confian�a, que t�m lealdade total ao seu diretor. quero que collins seja investigado com dez vezes mais cuidado que da primeira vez. - at� onde podemos ir? - sem limites. procurem toda a gente que tiver contactado com ele em qualquer altura da vida. procurem a primeira mulher, helen collins... por este nome ou pelo que agora tiver. procurem o filho. procurem a segunda mulher, karen collins, e a governanta. passem a pente fino os parentes mais chegados. n�o se esque�am dos amigos, como o senador hilliard. n�o menosprezem nada nem ningu�m. adcock tomava agora uma atitude que parecia de aten��o. - assim se far�. � como se j� estivesse feito, chefe. - uma semana. quero as investiga��es terminadas dentro de uma semana. - uma semana - prometeu adcock. - muito bem. a seguir, john g. maynard. parece-me que o nosso ilustre presidente do supremo tamb�m pode merecer um pouco de aten��o. sei que foi feita uma investiga��o antes de ser confirmado. mas isso foi h�... h�... - h� quinze anos. - ponha a nossa for�a especial a investig�-lo, como se isso ainda nunca tivesse sido feito. mande-os passar pela peneira amigos e inimigos, associados, fam�lia e pessoas que tiveram contatos com ele nos �ltimos sete anos. quero que cada passo que maynard tenha dado, cada declara��o, carta, investimento, atividade, seja observado � lupa. se collins se manifestar publicamente contra n�s, pode prejudicar-nos um pouco na calif�rnia, mas n�o decisivamente. mas se maynard se resolver a voltar-se contra n�s, pode destruir-nos. quero estar preparado. apenas isso, harry, estar preparado. adcock aproximou-se da secret�ria. - chefe, se quer a minha opini�o, mesmo que encontremos qualquer coisa contra maynard, isso n�o chegar� para o travar se decidir opor-se � emenda. - mas pode desacredit�-lo. - talvez. mas bem viu pelos inqu�ritos como ele � admirado. - sei-o bem. vamos tentar obter coisas, de qualquer maneira, e esperemos que sejam bastante fortes. tynan refletiu. - tem raz�o, harry. collins � f�cil de eliminar. maynard � diferente. vai ser mais dif�cil. - parecia falar consigo mesmo. - se se demitisse para nos combater, nada o faria parar. iria at� ao fim. � o semblante de tynan carregou-se. - nesse caso, tamb�m n�s ter�amos de ir at� ao fim. seria ele ou n�s. estou a pensar... mergulhara em profundas congemina��es. - sim, chefe - acorreu adcock. tynan agitou a m�o por cima da cadeira. - preciso pensar melhor. - depois acrescentou: - mas � preciso muito dinheiro, montes de dinheiro... - o presidente tem um fundo... - n�o - interrompeu tynan -, d� demasiado nas vistas. al�m disso, como j� lhe disse, n�o quero o presidente envolvido no assunto. temos de levar a cabo a tarefa com os nossos recursos, para colhermos os resultados. precisamos de um fundo de guerra vindo de uma fonte que... que n�o deixe rastos. - subitamente bateu com o punho na palma da m�o. - raios, harry, achei! galvanizado pela id�ia, tynan deu a volta � cadeira, sentou-se e chamou a secret�ria pelo intercomunicador. - beth? pegue no telefone... bem, traga-me a ficha de donald radenbaugh. traga-me depressa. desligou e recostou-se, sorrindo para o adjunto. adcock estava verdadeiramente pasmado. - radenbaugh est� preso em lewisburg... - eu sei. - julguei que estava � procura de muito dinheiro. tynan sorriu.
- pois estou. e sei quem o vai arranjar sem nunca falar. espere um instante, harry, tenha paci�ncia e confie no velho vernon t. tynan. minutos depois, beth aparecia com o dossier. - isto � s� um resumo do caso. temos arquivos completos... - isto serve, beth. obrigado. quando ficou s� com adcock, tynan abriu a capa e come�ou a passar as folhas de papel datilografado com o dedo molhado. enquanto folheava as p�ginas, parava aqui e ali, lendo alguns fatos. - radenbaugh, radenbaugh... extors�o... entregou o dinheiro em miami beach, segundo hyland... n�o foi encontrado o dinheiro... depois veio o tribunal... culpado. quinze anos... hum, dois anos e oito meses cumpridos... sim. fechou o dossier. ergueu o olhar para o adjunto, dando um estalo de satisfa��o com a l�ngua. - perfeito. devo dizer-lhe que se isto resultar, sou um g�nio. se o nosso presidente do supremo interferir, estaremos preparados para o receber. - n�o compreendo, chefe. - vai compreender daqui a pouco. a partir de agora, cumpra apenas as instru��es. depois poder� passar � investiga��o sobre collins. primeiro vai-me fazer isto. - fez uma pausa para remoer mentalmente a hip�tese. - fa�a assim: tranque-se no seu gabinete e telefone ao diretor da pris�o federal de lewisburg, bruce jenkins. telefonema confidencial. diga-lhe que o assunto fica entre n�s dois, que � completamente confidencial. ele � de confian�a. o diretor deve-me muito. bem, diga-lhe que quero falar com um dos condenados, donald radenbaugh, fora dos muros da pris�o, ainda esta noite, depois da meia-noite, digamos �s duas da manh�. arranje um lugar para o encontro onde ningu�m nos importune, onde eu possa ter uma bela conversa privada com o senhor donald radenbaugh. est� muita coisa em jogo, harry, est� tudo em jogo, por isso veja se corre tudo bem.
cap�tulo quinto faltava um quarto para as duas da manh� e, apesar da lua, estava muito escuro. harry adcock conduzia lentamente na escurid�o. pela terceira vez nessa hora, vernon t. tynan, sentado no lugar da frente ao lado dele, perguntou: - tem certeza que ningu�m sabe que sa�mos da cidade? - absoluta - confirmou adcock. - at� arranjei uma lista falsa das suas atividades em washington durante a noite e distribu�-a por l�. - �timo, harry, muito bem.- tynan esgueirou-se para a frente, espreitando pelo p�ra-brisas para a densa vegeta��o e para o arvoredo que ladeavam a estrada raramente utilizada. - n�o vejo absolutamente nada... tem certeza que sabe onde estamos? - estou a seguir � letra as instru��es do diretor - disse adcock. - jenkins explicou tudo minuciosamente. - quanto falta para l� chegarmos? - poucos minutos, chefe. tinha voado num pequeno jato privativo de washington para harrisburg, na pensilvania. por especial favor, tinham conseguido ser os �nicos passageiros do
avi�o. em harrisburg, um pontiac alugado esperava-os no aeroporto. adcock tinha-se sentado ao volante desde o in�cio, com tynan ao lado e um mapa topogr�fico de lewisburg marcado a vermelho entre ambos. tinham sa�do de harrisburg, cruzado a ponte sobre o rio susquehanna e avan�ado para norte pela auto-estrada n�mero 15, ao longo da margem ocidental do rio. tinham demorado uma hora e meia cobrindo aproximadamente cinq�enta milhas, at� chegarem ao primeiro ponto de refer�ncia, a universidade de bucknell, situada � direita. tinham continuado, atravessando a cidade de lewisburg, uma cidade fantasma que dormia �quelas horas da madrugada. ao passarem pela escola superior, adcock tinha abrandado para consultar o mapa. tinha estendido o mapa e procurado a estrada que se estendia � sua frente. tinham chegado ao extremo da cidade. adcock tinha apontado para a esquerda. - � aqui que se vira para a entrada da penitenci�ria. jenkins disse que n�o fizesse caso, que me dirigisse para nordeste pela auto-estrada n�mero 15, que virasse depois � esquerda no hospital evang�lico e que seguisse para norte, passando pelo outro lado da penitenci�ria... - poder� algu�m ver-nos l�? - perguntara tynan preocupado. - n�o, chefe, n�o podemos ser vistos. al�m disso, veja as horas que s�o. mesmo assim, vamos em frente e depois voltamos novamente atr�s quando chegarmos � estrada secund�ria que atravessa a floresta. seguimos pelos bosques at� ao extremo sul e da� veremos os muros e a torre de vigia da penitenci�ria. � a� que esperamos. agora seguiam em marcha lenta atrav�s da floresta. adcock inclinou-se sobre o volante e tynan esgueirou-se ao mesmo tempo, espreitando atrav�s do p�ra-brisas para o que parecia ser o fim da estrada e o limite da �rea florestal. - parece que chegamos - murmurou adcock. - ele disse que havia uma clareira entre as �rvores, � direita. olhe, ali est� ela. saiu da estrada para a direita, depois virou rapidamente para a esquerda e parou. a pouca dist�ncia, podiam distinguir a silhueta da parte fronteira do muro de cimento que rodeava a pris�o, os cumes dos edif�cios mais altos do recinto da pris�o e duas torres com dep�sitos de �gua, uma � direita e outra atr�s da penitenci�ria federal de lewisburg. adcock alcan�ou o tablier e desligou os far�is. apontou para as silhuetas do lado de tr�s. - � ali que est�o os duros, no buraco da maior seguran�a. - alguns - disse tynan. - donald radenbaugh n�o pertence a esse n�mero. � um dos inofensivos, um dos presos pol�ticos. - n�o sabia que ele era preso pol�tico. - tecnicamente n�o �. mas no fundo, �. sabia demasiado sobre o que se passava. isso tamb�m pode ser um crime. tynan agitava-se na escurid�o do assento da frente, espreitando pelo p�rabrisas e esperando. j� tinham passado alguns minutos quando adcock puxou pela manga de tynan. - chefe, parece-me que os vejo chegar. tynan olhou sofregamente pelo p�ra-brisas, quase fechando os olhos, e acabou por ver dois focos de luz a aproximarem-se. - deve ser jenkins - disse ele. - s� tr�s os m�nimos. calou-se, continuando a seguir o avan�o do outro carro que se acercava. - bem - disse tynan de repente -, eis o que vamos fazer. eu vou para o banco de tr�s, para ficar ao lado dele. voc� fica onde est�, ao volante. pode ouvir. n�o diga nada. quem fala com ele sou eu. voc� limita-se a ouvir. estamos ambos metidos nisto. tynan abriu a porta da frente do pontiac, saiu, fechou-a, abriu a porta traseira, entrou e anichou-se no canto do assento. o outro carro j� tinha entrado na clareira e estacou a dez metros deles. o motor parou de trabalhar. os m�nimos apagaram-se. uma porta abriu-se e fechou-se. ouviu-se o ru�do de passos. o rosto seco do diretor bruce jenkins aproximou-se at� ficar junto da janela
de adcock, que agitou o polegar para o assento detr�s. jenkins assentiu com a cabe�a e recuou. agora o seu rosto surgia � janela das traseiras. tynan abriu metade do vidro. - jenkins, como tem passado? - � um prazer encontr�-lo, diretor. estou �timo. trago comigo o que quer. - algum problema? - problema, problema, n�o. s� que ele n�o tinha muita vontade de o ver... - ele n�o gosta de mim - disse tynan. - ...mas veio. � curioso... - ol� se veio - disse tynan. - � melhor n�o perdermos tempo. � bastante tarde. traga-o para aqui. deixe-o entrar pelo outro lado e sentar-se ao p� de mim. - muito bem. - depois de acabarmos, volte c�. � poss�vel que tamb�m queira falar consigo. posso querer mais alguma coisa. - entendido. - outra coisa, jenkins. este encontro nunca existiu. o rosto do diretor abriu-se num sorriso. - que encontro? tynan esperou. n�o tinha ainda passado um minuto, quando do outro lado do carro se abriu uma porta. jenkins meteu a cabe�a. - c� o tem. donald radenbaugh estava de p�, muito direito, junto do diretor. tynan n�o lhe podia ver a cara; s� via que os pulsos estavam juntos. - est� algemado? - perguntou tynan. - est�, sim. - tire-lhe o raio das algemas, sim? este encontro n�o � desse g�nero. tynan ouviu o tilintar de chaves e viu o diretor abrir as algemas e tir�las. observou o prisioneiro a esfregar os pulsos magoados. depois ouviu o diretor dizer: - pode entrar para o banco de tr�s. donald radenbaugh baixou-se para entrar no carro. a cabe�a e a cara ficaram � vista. n�o tinha mudado muito nos quase tr�s anos de pris�o. parecia apenas ligeiramente mais magro dentro do uniforme cinzento da pris�o, demasiado largo. tinha a cabe�a completamente calva, s� com um tufo de cabelo louro nas t�mporas, os olhos semicerrados pelos papos, atr�s de uns �culos de arma��o de a�o, um rosto p�lido e fino, um nariz estreito e pontiagudo, com um bigode loiro, pequeno e mal cuidado, por baixo, e um queixo curto. estava p�lido e soturno. talvez tivesse um metro e setenta e oitenta quilos, calculou tynan. tinha entrado no carro, e afundou-se no assento de tr�s, t�o longe quanto poss�vel de tynan. tynan n�o fez o menor esfor�o para lhe apertar a m�o. - ol�, don - disse-lhe. - ol�. - j� passou muito tempo. - suponho que sim. - quer um cigarro? harry, d�-lhe um cigarro e o seu isqueiro. radenbaugh estendeu a m�o para aceitar o cigarro e o isqueiro. depois de acender o cigarro, devolveu o isqueiro. aspirou o cigarro duas vezes, exalando uma nuvem de fumo. pareceu mais descontra�do. - ent�o, don - come�ou tynan - , como tem passado? radenbaugh sorriu ironicamente. - � uma pergunta infernal. - � assim t�o mau? - perguntou tynan, sol�cito. - pensei que o tinham na biblioteca da pris�o. - estou numa cela - disse radenbaugh amargamente. - estou na pris�o encarcerado como um animal e estou inocente. - sim, bem sei - continuou tynan. - realmente, n�o deve ser agrad�vel. - � s� podrid�o - disse radenbaugh. - h� tudo para vos proteger de n�s: portas de a�o corredi�as, fechaduras triplas, vigias nas paredes de bet�o. mas n�o
h� nada que nos proteja l� dentro: pancadaria, facadas, viola��es, droga. os guardas prisionais, os carcereiros, os vendidos, rafeiros dos guardas (parece-me que j� estou a falar como os outros), todos eles tentam agir pior que os outros. comida estragada, falta de exerc�cio e uma cela de dois metros por tr�s e meio. gostaria de passar os seus melhores anos num planeta de dois metros por tr�s e meio? o maior acontecimento � a ida ao barbeiro. ou talvez uma carta da minha filha. � terr�vel. especialmente quando se est� inocente. n�o h� a menor esperan�a. caiu num sil�ncio agressivo, inspirando e expirando o fumo do cigarro. tynan observava-o na obscuridade. - pois �, a perda da esperan�a... suponho que isso � o pior de tudo - disse simpaticamente. - foi uma pena o que aconteceu ao noah baxter. ele era a sua pen�ltima hip�tese de sair daqui mais depressa. foi uma pena. radenbaugh olhou-o profundamente. - a minha pen�ltima hip�tese? - repetiu. - sim, a pen�ltima hip�tese, don; eu sou a �ltima. radenbaugh fixou-o bem nos olhos. -voc�? - eu. - tynan abanava a cabe�a. - sim, eu. vim aqui para lhe oferecer um contrato, don. um neg�cio entre n�s os dois. posso dar-lhe aquilo que quer: liberdade. e voc� dar-me-� o que eu quero: dinheiro. est� disposto a ouvir-me? radenbaugh n�o respondeu. mas estava a ouvir. - muito bem - continuou tynan -, vou dizer-lhe tudo de uma vez, em poucas palavras. voc� tem um milh�o de d�lares em dinheiro escondido em qualquer parte na fl�rida. n�o vamos discutir se o tem ou n�o. estive a ler atentamente o processo. uma testemunha fidedigna jura que voc� saiu de washington com o dinheiro para o entregar em miami. nunca o entregou. quando foi preso n�o o tinha. - talvez nunca o tivesse - disse radenbaugh calmamente. talvez eu estivesse a dizer a verdade. - talvez - disse tynan para ser agrad�vel. - mas talvez n�o. talvez o tenha enterrado. num dia de chuva. partamos dessa hip�tese. se assim foi, ent�o h� um lindo milh�o em notas num lugar qualquer da fl�rida. dinheiro que n�o rende juros... e devia render. devia servir-lhe para qualquer coisa... n�o daqui a doze anos, mas desde j�, hoje mesmo. o que � que tanto dinheiro poder� comprar? o que � que deseja acima de tudo no mundo? a liberdade? voc� mesmo disse que a pris�o � podrid�o. quer sair. eu n�o posso torn�-lo inocente, uma vez que o tribunal o declarou culpado. mas posso torn�-lo um homem livre. quer continuar a ouvir-me? radenbaugh chegou-se para a porta, abriu uns cent�metros do vidro e deitou fora a ponta do cigarro. encostando-se novamente, voltou a cabe�a para tynan. - continue - disse-lhe. - esse milh�o de d�lares... - prosseguiu tynan - preciso de parte dele. n�o sou uma pessoa suja. podia pedir-lhe todo e talvez o conseguisse. mas n�o lhe estou a pedir todo. s� quero parte dele... digamos que � para um investimento. em troca, reduzirei a sua senten�a ao tempo j� cumprido at� esta noite, ou at� daqui a algumas noites. n�o � f�cil, mas posso consegui-lo. pela sua parte, ir� a miami, desenterrar� o dinheiro e entregar� parte dele a um intermedi�rio. entregar� setecentos e cinq�enta mil d�lares e poder� ficar com os restantes duzentos e cinq�enta mil para recome�ar a sua vida. e o neg�cio ficar� satisfatoriamente conclu�do. que lhe parece? olhou para radenbaugh, mas este n�o lhe deu resposta. continuava sentado a olhar em frente, os l�bios comprimidos, o rosto impass�vel. - muito bem, suponho que quer conhecer alguns pormenores continuou tynan. h� um �bice. ter� de se haver com ele, ou o neg�cio vai ao ar. disse-lhe que n�o era f�cil. e n�o �. n�o tenho poderes para o afian�ar ou libertar. ningu�m os possui, exceto os membros da comiss�o de fian�as e acontece que sei que eles n�o o autorizar�o a sair durante os doze anos que lhe falta cumprir. eu n�o posso libertar donald radenbaugh da penitenci�ria federal de lewisburg. mas posso libert�-lo a si.
radenbaugh olhava agora para o diretor. - trata-se de um truque, mas eu posso faz�-lo. para nos protegermos a ambos, tem de assumir uma nova identidade no dia em que for solto. n�o � simples, mas pode fazer-se. n�o � a primeira vez que se faz isso com �xito. desde 1970 que pelo menos quinhentos informantes, testemunhas do governo, pessoas que falsearam provas, receberam novas identidades dadas pelo diretor dos servi�os criminais do departamento de justi�a. isto tem acontecido e pode repetir-se. s� que desta vez n�o o posso fazer por interm�dio do departamento de justi�a. tenho de tratar do assunto pessoalmente. tynan percebeu que n�o havia nenhuma rea��o por parte de radenbaugh. continuou: - primeiro fazemos desaparecer donald radenbaugh. � uma necessidade faz�-lo desaparecer. o diretor jenkins poria a correr a hist�ria de que tinha morrido de um ataque card�aco ou de uma facada. diria provavelmente que tinha morrido de causas naturais. isso d� menos nas vistas. a seguir, pod�amos solt�-lo. faz�amos desaparecer as suas impress�es digitais, alter�vamos a sua apar�ncia, d�vamos-lhe uma identidade completamente nova, um novo nome e novos pap�is, desde uma certid�o de nascimento at� um cart�o da previd�ncia, uma carta de cr�dito para aluguel de autom�veis, uma carta de condu��o, tudo com o novo nome. poderia ser um homem novo a partir da pr�xima semana: completamente livre, t�o vivo como nunca e com uma conta choruda no banco. mas teria de se lembrar: donald radenbaugh deixaria de existir. sei que tem uma filha e mais alguns parentes e amigos: todos eles ficariam de luto. nunca viriam a conhecer a verdade. compreendo que deve ser duro para si, mas faz parte do pre�o que ter� de pagar pelo acordo - isso e os setecentos e cinq�enta mil d�lares. tynan parou e olhou abstra�do para fora. depois voltou-se novamente para radenbaugh. - a� tem - disse tynan. tentou ver os ponteiros do rel�gio de pulso.- j� excedemos o tempo, don. ouviu a minha primeira e �ltima oferta. tem de resolver: sim ou n�o. se escolher n�o e preferir ficar fechado na pris�o por mais doze anos (se tiver a sorte de n�o ser esfaqueado e morto), para sair quando j� for velho... bem, ent�o pode guardar o seu dinheiro e conservar o seu nome... a escolha � sua. se preferir dizer sim, ent�o n�o haver� mais pris�o, fica livre e ainda conservar� uma parte importante do dinheiro, far� uma vida nova e poder� disfrut�-la como qualquer outra pessoa. tamb�m neste caso, � a si que compete a escolha. tynan fez uma pausa para o deixar refletir. passados alguns minutos, disse com �nfase: - tem de escolher uma ou outra hip�tese esta noite. mais precisamente: nos pr�ximos cinco minutos. se for n�o, pode abrir a porta e ir-se embora. jenkins est� � sua espera com as algemas para o levar para a sua cela. se for sim, basta dizer a palavra; nesse caso dar-lhe-ei instru��es, e ao diretor tamb�m, sobre o que tem a fazer, como lhe expliquei, e dentro de uma semana ter� um quarto de um milh�o de d�lares e uma vida livre. quando deixar a pris�o, s� ter� de seguir as instru��es simples que estar�o no bolso do seu terno novo, com um bilhete de avi�o para miami e uma reserva de hotel. tynan parou. - muito bem, don - disse suavemente -, � a sua vez. qual � a decis�o? *** foi s� cinco dias mais tarde que chris collins se deslocou � Penitenci�ria federal de lewisburg. ap�s a viagem de regresso de los angeles para washington, collins tinha relatado ao presidente wadsworth a sua visita � Calif�rnia. o relat�rio tinha sido breve, pois collins omitira muitas das suas atividades. tinha resolvido que, pelo menos por enquanto, n�o revelaria ao presidente a visita ao lago tule, a confer�ncia com os deputados keefe, yurkovich e tobias, o encontro particular com o presidente do supremo maynard. n�o podia falar desses assuntos porque n�o estava ainda seguro sobre o papel do presidente nos acontecimentos suspeitos da
calif�rnia. pelo contr�rio, tinha discutido o debate televisivo com tony pierce. depois tinham falado bastante sobre o discurso na associa��o americana do foro. tinha tentado apresent�-lo como um �xito, mas o presidente, bem informado, expressara-lhe rudemente o seu descontentamento. - voc� defendeu mal e subestimou a nossa luta pela 35.a emenda. na verdade, eu desejava que tivesse sido mais incisivo. no entanto, as coisas parece que est�o a correr bem por l�. tivemos hoje boas not�cias. as boas not�cias tinham sido as �ltimas sondagens de ronald steedman nos �rg�os legislativos da calif�rnia. na assembl�ia do estado, entre os deputados que j� tinham uma posi��o tomada, os que estavam a favor da emenda ultrapassavam os que se lhe opunham: 65% contra 35%. no senado, os resultados eram mais equilibrados: 55% a favor e 45% contra. collins dificilmente dissimulara o seu desagrado. collins ficara obcecado pelo desejo de visitar lewisburg, para se encontrar com a �ltima fonte que lhe restava para descobrir o segredo do documento r, e tinha contado fazer a viagem no segundo ou terceiro dia ap�s o regresso a washington. mas solicita��es do presidente e da sua pr�pria sec��o criminal e da sec��o de direitos civis, tinham tornado a desloca��o imposs�vel. por fim, gra�as aos seus subordinados do servi�o prisional, tinha conseguido preparar a viagem. sabendo que n�o podia explicar nem justificar o verdadeiro fim da visita, tinha inventado um pretexto. estava a trabalhar em altera��es a introduzir na lei de reabilita��o de prisioneiros, e para o fazer teria de visitar a penitenci�ria federal de lewisburg. e assim, lado a lado com o diretor bruce jenkins, estava agora a fazer uma r�pida inspe��o � pris�o. j� tinha percorrido as oficinas de roupas e de chapas met�licas; tinha visitado as salas de aulas, o hospital, a biblioteca; tinha suportado entrevistas rigorosamente vigiadas com prisioneiros dentro das suas celas. agora, estava terminada a �ltima parte da inspe��o, e come�ava para collins a parte mais importante. tinha evitado o almo�o, alegando um compromisso inadi�vel em nova iorque. - deseja mais alguma coisa de mim? - inquiriu o diretor jenkins. - j� me ajudou muito - disse collins sorridente. - tenho os elementos de que preciso. acho que... - hesitava. - na verdade, h� mais uma coisa. temos a correr um caso de impostos e o nome de um dos seus pensionistas tem vindo constantemente � baila. gostaria de falar com ele em particular durante cinco ou dez minutos... ser� poss�vel? - com certeza - disse o diretor jenkins. - basta dizer-me quem � e trago-o imediatamente para lhe poder falar a s�s. - o seu nome � Radenbaugh. donald radenbaugh. gostava de o ver. o diretor jenkins n�o escondeu a sua surpresa. - quer dizer que n�o leu os jornais da manh�? nem viu televis�o? - n�o, n�o pude. - donald radenbaugh est� morto. lamento dizer-lhe. morreu h� tr�s dias. caiu fulminado por um ataque card�aco. retardei a not�cia at� saber onde poder�amos encontrar o seu parente mais pr�ximo. enterr�mo-lo a noite passada. a not�cia saiu hoje de manh� cedo. - morto - disse collins surdamente. sentia-se mal. a sua grande esperan�a de vir a saber o que era o documento r tamb�m estava morta. - chegou atrasado tr�s dias - disse jenkins. - pouca sorte. desesperado, collins preparava-se para partir imediatamente, quando de repente lhe ocorreu um pensamento. - disse que tinha retardado a not�cia tr�s dias para localizar o parente mais pr�ximo? - sim, ele tinha uma filha em filad�lfia, mas ela estava ausente da cidade. acabamos por a encontrar: t�nhamos de lhe comunicar o falecimento e de lhe perguntar qual o destino a dar ao corpo. com o acordo dela, enterr�mo-lo no cemit�rio local, a expensas do governo. - como � que ela recebeu a not�cia? - � claro que ficou muito perturbada. - quer dizer que radenbaugh estava muito ligado � filha?
- � exce��o do antigo procurador-geral baxter, que foi seu amigo, susie era a �nica pessoa que contatava com ele regularmente. - tem a morada dela? - n�o... - como � que lhe participou? - ela tem uma caixa postal na central dos correios em filad�lfia. telegrafamos-lhe e quando ela recebeu o telegrama, telefonou-nos. - pode dar-me o n�mero da caixa postal? - claro. - dirigiu-se � secret�ria, procurou entre uma s�rie de pastas e abriu uma. - � a caixa postal 153, da esta��o de correios william penn, filad�lfia, 19105. - obrigado. disse que ela contatava regularmente com o pai? - sim. - talvez ela saiba alguma coisa dos seus neg�cios. talvez me possa informar. - talvez, mas n�o creio. - eu tamb�m duvido - disse collins desanimado. - vamos ver. tinha sido uma opera��o delineada com incr�vel rigor. at� agora n�o tinha havido o menor problema. *** sentado na cabina fechada do lustroso barco a motor que deslizava pelo canal artificial que separa a ponta sul da praia de miami da ilha dos pescadores, ele tentou rever os acontecimentos da semana anterior. h� seis noites, numa zona arborizada do exterior da penitenci�ria federal de lewisburg, tinha-se separado do diretor do fbi vernon t. tynan, concordando em aceitar o estranho acordo proposto a donald radenbaugh, o prisioneiro. h� duas noites, aninhado no banco traseiro do carro do diretor, tinha sido conduzido para fora da pris�o adormecida como herbert miller, cidad�o e homem livre. desde o encontro com tynan, s� tinha recebido um visitante cujo nome conhecia: harry adcock. tinha havido mais tr�s, mas eram pessoas an�nimas. radenbaugh recordou-se que tinha sido posto na solit�ria, para ficar isolado dos outros condenados. a� tinha recebido um homem idoso e coxo que lhe aplicara �cido para apagar - e com que dor! - as impress�es digitais. a seguir tinha vindo um oculista para lhe tirar os �culos com arma��o de a�o e lhe colocar lentes de contato. depois tinha sido a vez de o barbeiro lhe cortar o bigode e as patilhas, lhe pintar os restos de cabelos louro de cor negra, e lhe colocar um chino. finalmente, tinha vindo adcock com os documentos (uma certid�o de nascimento, uma caderneta militar com louvores) e os cart�es (carta de condu��o, cart�o de cr�dito para alugar autom�veis, cart�o da previd�ncia) que substituiriam os documentos da sua velha carteira e o transformariam oficialmente no respeit�vel sr. herbert miller de cinq�enta e nove anos. tinham-lhe dado um terno castanho-escuro, de corte moderno, em substitui��o do que vestia na pris�o, que estava fora de moda e podia parecer estranho. tinha recebido instru��es verbais de adcock. assim que o soltassem, devia dirigirse imediatamente para miami de avi�o. em miami, tinha sido reservado um quarto em nome de herbert miller no hotel bayamo, situado na rua west flager. no dia ou na noite seguinte, estaria livre para desenterrar o milh�o de d�lares escondidos. n�o seria seguido. ao fim da manh� do dia seguinte, deveria encontrar-se com um contato chamado senhora remos, no bairro suburbano de coconut grove e receberia dela o nome de um cirurgi�o pl�stico da maior confian�a que lhe faria a opera��o pl�stica � volta dos olhos antes de deixar miami. nessa noite, deveria dirigir-se a um barco a motor que estaria � sua espera no cais municipal da praia de miami para o levar � Ilha dos pescadores. a�, junto do primeiro dep�sito de petr�leo, algu�m o chamaria pelo nome de miller. ele diria duas vezes a senha, que era "linda". abandonaria ent�o o pacote contendo os tr�s quartos de milh�o de d�lares e regressaria ao barco. de regresso a miami, poderia continuar a opera��o pl�stica. depois seria totalmente livre para ir aonde quisesse e para fazer o que lhe apetecesse. - receber� o terno novo pouco antes de sair da pris�o - dissera-lhe adcock. - no bolso direito do casaco encontrar� um sobrescrito. cont�m o bilhete de avi�o
para miami, o lugar de encontro com o barco, um mapa da ilha dos pescadores com o local da entrega assinalado e dinheiro suficiente para as primeiras despesas at� que possa ter nas suas m�os o quarto de milh�o que lhe pertence. fa�a apenas o que lhe foi dito e n�o tenha a menor veleidade de usar truques. s� lhe fariam mal � sa�de. compreendido? ele tinha compreendido bem. tinha tomado o avi�o especial e chegado � tabela ao aeroporto internacional de miami. tinha-se registrado � tabela no decadente hotel bayamo. tinha alugado um carro, certificando-se constantemente que n�o era seguido nem vigiado, e dirigira-se para os p�ntanos a oeste de miami. a�, calcorreara a p� o caminho at� � margem do p�ntano coberto de vegeta��o tropical onde tinha escondido o milh�o de d�lares numa caixa met�lica, h� tr�s anos. esvaziara o conte�do da caixa para dentro de sacos de mercearia que metera numa mala, e a seguir regressara ao carro. o resto tinha decorrido facilmente. no quarto do hotel separara um quarto de milh�o, metendo-o noutra mala que tinha preparada. � noite, pegara na mala que continha a sua parte do dinheiro e levara-a para o aeroporto de miami, metendo-a num cofre de aluguel. depois de sair do aeroporto, comprara um exemplar do herald de miami, j� com a data do dia seguinte. examinando-o atentamente, pretendera verificar se a not�cia do falecimento de donald radenbaugh j� tinha sido publicada. na sexta p�gina encontrara uma fotografia pouco favorecida e j� velha de tr�s anos de um radenbaugh careca e de �culos, e o seu obitu�rio. provocara-lhe uma sensa��o estranha ler a not�cia da sua pr�pria morte, saber qu�o pouco tinha feito e como isso ficara encoberto pela condena��o por felonia. era injusto. nem sequer diziam que estava inocente. por fim, afligira-o a sua amada susie, a quem deixara um tal legado. perguntara a si pr�prio se alguma vez se atreveria a contatar com ela e a revelar-lhe a verdade. sabia que n�o. as pessoas que podiam inventar um ser humano n�o eram para brincadeiras. no dia seguinte, de acordo com as instru��es, s� tivera um contato antes da cr�tica miss�o noturna. ao fim da manh�, guiara at� Coconut grove e tivera um encontro breve e satisfat�rio com a senhora remos, uma mulata idosa que j� o esperava no seu apartamento. - tem sorte, senhor miller, est� cheio de sorte - dissera a senhora remos. perdemos recentemente o cirurgi�o que sempre utilizamos, mas h� dois dias arranjamos um substituto. � o doutor garcia, um homem extremamente competente que, devido � sua situa��o atual, pode ser considerado seguro. escapou recentemente de cuba, e at� lhe arranjarmos documenta��o � um emigrante ilegal. temos de agir com cautela. est� dispon�vel esta noite? ah, s� depois das dez horas. muito bem. o doutor garcia estar� � sua espera no seu quarto do hotel �s dez e quinze. � prefer�vel ele n�o perguntar por si na recep��o. seria melhor ele ficar � espera no seu quarto. tem a chave consigo? ah, �timo, eu fico com ela. o hotel deve ter uma chave extra para si no cacifo. o doutor garcia ir� examin�-lo, inform�-lo-� do que pode fazer e indicar-lhe-� a ocasi�o e o lugar da opera��o. ent�o, �s dez e um quarto? est� combinado. radenbaugh ocupara parte da tarde a passear e a fazer compras e regressara depois ao quarto do hotel para esperar pela noite. ao anoitecer, pegara a pesada mala, descera as escadas, sa�ra e seguira de t�xi pela macarthur causeway at� � praia de miami, at� ao cais municipal. por volta das oito horas, encontrara o contato, entregara a mala ao fleum�tico cubano propriet�rio do barco a motor, e embarcara. agora, tal como fora planejado, ia a caminho. faltava menos de meia milha para a ilha dos pescadores, para o pagamento final e para o cl�max do seu neg�cio. abriu uma vez mais o mapa desdobr�vel que levava no bolso do casaco e tentou decor�-lo. a ilha dos pescadores era um peda�o de terra de 213 acres, totalmente desabitada, ostentando algum arvoredo de pinheiros bravos australianos, o esqueleto apodrecido de uma casa numa propriedade particular que outrora pertencera ao fundador de miami e dois dep�sitos de petr�leo.
esta noite, refletiu radenbaugh, a sua popula��o seria de pelo menos duas pessoas: ele pr�prio e um desconhecido. o barco a motor abrandou e preparou-se para parar. radenbaugh espreitou para a frente e viu o piloto a fazer-lhe sinal. pegou nervosamente na mala e, baixando-se, saiu da cabina para pular para o cais de madeira. o piloto chamou-o e ele lembrou-se, voltando atr�s para receber a potente lanterna. j� em terra, come�ou a subir o carreiro. os pontos de refer�ncia que tinha decorado eram claros. as �nicas dificuldades eram a escurid�o, apesar da lanterna, e o peso da mala, com tr�s quartos de um milh�o de d�lares no interior. algum tempo depois (tinha perdido totalmente a no��o do tempo), divisou o primeiro dos dep�sitos de petr�leo, cercou o lugar da entrega com a luz da lanterna e dirigiuse para l�. estava a escassos dez metros do tanque, arfando da longa caminhada no sil�ncio, quando ouviu um ru�do. parou. ouviu uma voz. - � o senhor miller? a voz era aguda e com um sotaque claramente espanhol. - sou. - apague a lanterna. desligou rapidamente a luz. a voz com sotaque irrompeu novamente da escurid�o. estava perto. - qual � a sua senha? j� quase se tinha esquecido. mas lembrou-se: - linda - disse em voz alta, e repetiu: -linda. houve um murm�rio. - deixe ficar o que traz no local onde est�. volte pelo mesmo caminho, volte para o barco. pousou a mala no ch�o, � sua frente. - est� bem - disse. - vou-me embora. deu meia volta rapidamente e apressou o passo assim que encontrou o caminho. na escurid�o, sem acender a lanterna, atrapalhou-se, trope�ou e caiu. depois de se levantar, seguiu mais devagar. minuto depois, parou para retomar o f�lego. percebeu ent�o de qualquer coisa. um murm�rio de vozes, duas vozes, que falavam animadamente por tr�s de um renque de �rvores. ainda mal tinha pensado no dinheiro depois de o retirar da margem do p�ntano coberto de vegeta��o tropical. agora, quase um homem livre, permitiu-se pensar nele. perguntou a si pr�prio para que quereria tynan uma quantia t�o avultada, sem barulho. talvez tivesse problemas financeiros particulares. perguntava-se porque teria sido confiado a duas pessoas, uma das quais pelo menos era de origem espanhola. perguntou-se quem seriam. talvez agentes do fbi. estava tentado a espreitar. donald radenbaugh n�o cairia em tal tenta��o. herbert miller sim, e foi o que fez. em vez de voltar ao caminho, cortou em diagonal por entre pinheiros dispersos. andava cautelosamente, para n�o trope�ar e cair de novo. passados cinco minutos, viu uma luz. aproximou-se a rastejar, deslizando de �rvore para �rvore, at� ficar a cerca de dez metros de dist�ncia. parou e observou, e ouviu, sustendo a respira��o. l� estavam efetivamente dois homens. um, completamente iluminado pela lanterna do companheiro, estava ajoelhado diante da mala aberta, contando ou examinando o dinheiro. o companheiro, de p� a segurar na lanterna, n�o se podia reconhecer. o mais alto, que segurava a lanterna, perguntou em ingl�s sem sotaque : - est� tudo? o que estava de joelhos, atarefado, respondeu: - est� tudo. o homem da lanterna gracejou: - ah, vais ficar riqu�ssimo... o rico seftor ramon escobar. - santo deus, v� se te calas, fernandez! - grunhiu o que estava de joelhos, olhando diretamente para a luz da lanterna e acrescentando qualquer coisa em espanhol. radenbaugh viu-o distintamente: baixo, cabelo negro encaracolado, patilhas
compridas, cara horr�vel com ma��s do rosto profundamente cavadas e uma cicatriz l�vida ao longo do maxilar. enquanto o indiv�duo chamado escobar se consagrava novamente ao conte�do da mala, os dois homens continuaram a conversar, mas agora apenas em espanhol. continuar a espi�-los n�o levava a nada; radenbaugh afastou-se e dirigiu-se cautelosamente para o caminho. a sua curiosidade n�o ficara saciada. n�o podia crer que este par, escobar e fernandez, fossem agentes do fbi. quem eram, ent�o? que teriam a ver com o diretor tynan? quando descobriu o caminho e come�ou a caminhar para o embarcadouro, deixou de especular sobre o que vira. estava mais ocupado consigo pr�prio, com o seu futuro. a travessia de regresso a miami pareceu mais r�pida e foi infinitamente mais calma. de novo em terra, e desembara�ado, sabia que agora estava livre e completamente senhor de si. n�o, reconsiderou, ainda n�o estava. faltava realizar uma cl�usula do neg�cio. de manh� tinha combinado (gentileza de vernon t. tynan, atrav�s do contato chamado senhora remos) encontrar-se no hotel com um emigrante clandestino, o cirurgi�o chamado dr. garcia. ao dirigir-se para uma paragem de t�xi, radenbaugh lembrou-se que o encontro era para as dez e um quarto. lembrou-se tamb�m que n�o comia h� longas horas e estava terrivelmente esfomeado e com vontade de celebrar os acontecimentos. a op��o era voltar para o seu deprimente quarto de hotel, cheio de fome, para esperar pelo dr. garcia, ou satisfazer a fome, o que o faria chegar atrasado ao encontro. n�o queria perder o dr. garcia. a cirurgia pl�stica era vital e radenbaugh estava ansioso por saber o que o cirurgi�o poderia fazer aos olhos, e aos papos que os ornavam. tamb�m queria saber quanto tempo teria de esperar pela opera��o, e quanto tempo demorariam as cicatrizes a desaparecer. todavia, tinha a certeza que o dr. garcia n�o se importaria que chegasse um pouco atrasado, que esperaria, pois tinha a chave do quarto e podia instalar-se confortavelmente. sim, o dr. garcia esperaria. n�o estava em posi��o de conseguir trabalhos daqueles todos os dias. quando chegou � paragem, a decis�o estava tomada. sentou-se no banco traseiro do primeiro t�xi. - h� um restaurante na avenida collins, mais ou menos a uma milha do hotel fontainebleau... n�o sei o nome, mas indico-lhe o local - disse ao motorista. calculou que podia ter um jantar repousante regado com uma garrafa de vinho sem chegar mais de meia hora atrasado ao encontro com o dr. garcia. o mais importante era que nessa noite tinha cumprido a sua parte do contrato e tynan correspondera: o neg�cio estava encerrado. era altura de comemorar. uma hora e quinze minutos depois, com a barriga cheia, radenbaugh sentia-se melhor e estava pronto para se encontrar com o dr. garcia e colaborar na transforma��o final de radenbaugh em miller. vendo que chegaria tr�s quartos de hora atrasado, radenbaugh apressou-se a apanhar outro t�xi, mandou-o seguir para o hotel bayamo, atravessou a ponte da ba�a byscane e entrou no centro de miami. quando o t�xi voltou para a rua west flagler e se aproximou do hotel, viu uma multid�o aglomerada � frente da entrada: muita gente na rua, um carro dos bombeiros a afastar-se e dois carros da pol�cia. o problema era nas vizinhan�as do hotel. - pode deixar-me aqui na esquina - disse ao taxista. avan�ou rapidamente pelo quarteir�o at� ao local onde se desenrolava uma cena de atividade fren�tica. quando chegou junto da multid�o viu que todas as aten��es se concentravam no hotel bayamo. bombeiros de capacete retiravam as mangueiras do �trio. o fumo ainda sa�a em rolos das janelas destro�adas do terceiro andar. radenbaugh estremeceu ao lembrar-se que o seu quarto era no terceiro andar. dirigiu-se ao espectador mais pr�ximo, um jovem barbudo com uma camisola da universidade de miami: - ena, o que � que aconteceu? - houve uma explos�o seguida de inc�ndio no terceiro andar, h� cerca de uma
hora. destruiu quatro ou cinco quartos. parece-me que ouvi algu�m dizer que houve um morto e dois feridos. radenbaugh esgueirou-se e viu tr�s ou quatro homens e mulheres, um deles de microfone (obviamente jornalistas) a entrevistarem um bombeiro, provavelmente o chefe. � pressa, radenbaugh acotovelou e abriu caminho atrav�s da massa, murmurando que era da imprensa, at� chegar � primeira fila dos espectadores. p�sse atr�s do porta-voz do departamento de inc�ndios. esfor�ou-se por ouvir o que diziam. - houve um morto? - perguntou o rep�rter. - sim, tanto quanto sei, morreu apenas uma pessoa. o ocupante do quarto onde a explos�o se deu. deve ter morrido instantaneamente. o quarto foi destru�do pelo fogo e ele estava completamente calcinado. chamava-se... deixe-me ver... sim, aqui est� (encontramos alguns restos de documentos), o seu nome era provavelmente... herbert miller. n�o temos mais indica��es. radenbaugh tapou a boca para sufocar um grito. um outro rep�rter perguntou: - j� determinaram a causa da explos�o? foi uma fuga de g�s ou uma bomba? - ainda n�o podemos dizer. � muito cedo para responder. s� amanh� � que teremos mais informa��es para dar. tr�mulo, radenbaugh afastou-se e voltou a empurrar a multid�o at� ao passeio. confuso, tentava refletir no que tinha acontecido. raramente um homem escapa para assistir a uma, quanto mais a duas necrologias. tynan tinha matado radenbaugh para o fazer ressurgir como miller. assim que teve os tr�s quartos de milh�o, tinha tratado de matar miller. e, de fato, oficialmente matara-o. o pulha, o grande pulha! mas n�o podia fazer nada, nem agora nem mais tarde, radenbaugh sabia-o bem. era um morto, um ningu�m, sem identidade. compreendeu ent�o que, no final das contas, talvez isso lhe trouxesse seguran�a, na medida em que nunca viria a ser reconhecido, nem como radenbaugh nem como miller. no entanto, precisava de um cirurgi�o pl�stico -pobre dr. garcia-, o mais depressa poss�vel. para isso, precisava de um lugar para se esconder e de algu�m em quem pudesse confiar. n�o havia ningu�m... sim, havia uma pessoa. come�ou a andar, � procura de outro t�xi, um t�xi que o levasse ao aeroporto internacional de miami. *** na manh� seguinte, chris collins, sentado � secret�ria no departamento de justi�a em washington, recebeu avidamente o telefonema do adjunto do procuradorgeral. - ent�o, ed, o que � que descobriu? - a caixa postal n�mero 153 da esta��o william penn de filad�lfia estava e ainda est� alugada a susan radenbaugh. - e a morada? os correios t�m a morada? - est� com sorte. � a rua south jessup, n�mero 419. ou�a, chris, para que � tudo isto? - conto-lhe quando nos virmos. obrigado, ed. collins desligou, assentando o endere�o no bloco. durante instantes ficou a contemplar a dire��o. bem, pensou, talvez lewisburg n�o fosse tempo completamente perdido. tinha perdido a grande hip�tese por radenbaugh ter falecido tr�s dias antes. mas ficara um leve fio que podia conduzi-lo ao documento r: o parente mais pr�ximo, susan radenbaugh, a filha adorada. ela tinha sido muito �ntima do pai. tinha continuado em contato com ele. se ele sabia do documento r, talvez ela tivesse ouvido falar a esse respeito. seria muita sorte, mas � a �ltima hip�tese, refletiu collins. levantou-se, atravessou o amplo gabinete e enfiou a cabe�a na sala da sua secret�ria. - marion, como estamos de marca��es para o resto do dia? - j� h� muita coisa para um s�bado. - n�o h� nada que se possa cancelar ou adiar? - receio que n�o, senhor collins. - e para amanh�?
- deixe-me ver... tem coisas ligeiras da parte da manh�... - �timo. adie todos os encontros. pegue no telefone e marque-me uma reserva no primeiro v�o da manh� para filad�lfia. � importante. pelo menos espero que seja. cap�tulo sexto era uma pequena casa de madeira inexpressiva, por tr�s de uma grande resid�ncia na rua south jessup, em filad�lfia. talvez tivesse sido em tempos um anexo para convidados, mas presentemente era uma casa de aluguel pr�pria para uma pessoa s� que desejasse tranq�ilidade. antes de sair de washington, chris collins tinha procurado recolher elementos sobre susan radenbaugh. pouco havia a saber. era filha �nica de donald radenbaugh. tinha vinte e seis anos. tirara o curso na universidade de pittsburgh. estava empregada no inquirer de filad�lfia como redatora de biografias. quando collins lhe tinha telefonado pessoalmente para o jornal, para lhe marcar um encontro, fora informado de que ela se encontrava em casa, doente. collins compreendera. ela tinha perdido o pai. precisaria de algum tempo para se recompor. collins n�o se dera ao trabalho de lhe telefonar para casa. tinha a certeza de a encontrar. uma vez chegado a filad�lfia, tinha dito ao motorista do carro alugado para o levar diretamente ao endere�o da rua south jessup. deixara o carro com o condutor e o guarda-costas � dist�ncia de meio quarteir�o e dirigirase a p� at� ao local. agora, no passeio, observava o alpendre da casa de madeira. atravessou a rua a pensar no que diria a susan radenbaugh. mas pouco havia para pensar. ou o pai lhe tinha contado alguma coisa sobre o documento r ou n�o tinha. era a �ltima e incerta esperan�a. susan era a derradeira hip�tese. atravessou o pequeno quintal das traseiras, chegou � porta principal e tocou � campainha. esperou. n�o teve resposta. voltou a tocar sem melhores resultados. j� conjecturava que ela teria ido �s compras ou consultar o m�dico, quando a porta se entreabriu. uma mulher jovem espreitava pela frincha. era atraente, com cabelo louro at� aos ombros e um rosto fatigado que parecia de palidez e rigidez irreais. - susan radenbaugh? - perguntou collins. ela esbo�ou um gesto de assentimento. - telefonei para o seu jornal esta manh�, para marcar um encontro. a telefonista disse-me que estava em casa doente. vim de washington para a ver. - o que � que deseja? - desejo falar-lhe por uns instantes a respeito do seu pai. lamento... - n�o posso receber ningu�m agora - disse ela abruptamente. estava fortemente agitada. - deixe-me explicar-lhe... - quem � voc�? - sou christopher collins. sou o procurador-geral dos estados unidos. eu... - christopher collins? - ela reconheceu o nome. - o que �... - preciso falar consigo. o coronel noah baxter era meu amigo e... - conhecia noah baxter? - sim. por favor, deixe-me entrar. s� por alguns minutos. ela hesitava, mas acabou por abrir a porta. - est� bem, mas s� alguns minutos. seguiu-a at� � pequena mas agrad�vel sala de estar, profusamente decorada com almofadas coloridas. � esquerda havia uma porta que dava provavelmente para o quarto. um arco, � direita, deixava ver uma pequena mesa de sala de jantar e a entrada para a cozinha. - pode sentar-se - disse ela. ele sentou-se � beira do m�vel mais pr�ximo, uma otomana. ela ficou de p� � sua frente, alisando nervosamente o cabelo. - lastimo imenso o que aconteceu ao seu pai. se eu puder ser-lhe �til...
- obrigado. � realmente o procurador-geral? - sou. - n�o foi mandado pelo fbi ? collins sorriu. - eu � que mando neles, n�o s�o eles que mandam em mim. n�o, estou aqui por minha vontade. devido a um assunto pessoal. - disse que era amigo do coronel baxter? - era, e creio que o seu pai tamb�m era. - eram muito �ntimos. - foi por isso que vim c� - disse collins. - porque o seu pai e o coronel eram amigos. na noite em que morreu, o coronel deixou-me uma mensagem do que foram as suas �ltimas palavras. falava de um assunto que desde ent�o me tem ocupado. j� n�o consegui falar com ele, mas ocorreu-me que o seu pai podia saber alguma coisa a esse respeito, de conversas com ele. sei que o coronel lhe fazia muitas confid�ncias. - � verdade - disse susan radenbaugh. - como soube disso? - atrav�s de hannah baxter, que me sugeriu que visitasse o seu pai em lewisburg. ela pensava que talvez ele conhecesse o assunto. e eu fui a lewisburg h� dois dias, sabendo ent�o que ele tinha falecido. entretanto, informaram-me que voc� era a �nica pessoa com quem o seu pai contatava. ocorreu-me que talvez ele lhe tivesse falado no assunto. estive a investigar e decidi vir c� para falar consigo. - o que � que quer saber? collins respirou fundo e fez-lhe a pergunta: - o seu pai falou-lhe acerca de um tal documento r? ela ficou impass�vel. - de que se trata? o cora��o de collins caiu-lhe aos p�s. - n�o sei. esperava que soubesse. - n�o - disse ela firmemente -, nunca ouvi falar disso. - raios - murmurou collins, ofegante. - desculpe-me, mas fiquei desapontado. voc� e o seu pai eram as minhas �ltimas esperan�as. bem, tentei... - levantou-se da otomana. - n�o a aborrecerei mais. - ainda hesitava. - permita-me que lhe diga s� mais uma coisa: o coronel baxter acreditava no seu pai. antes do ataque estava at� a tentar que lhe aceitassem uma fian�a. depois disso, fiz uma revis�o do caso e concordei com ele: o seu pai foi uma v�tima. eu tamb�m tencionava conseguir-lhe uma fian�a. prometi � senhora baxter que havia de discutir esse assunto com o seu pai, quando o fosse procurar para tratar do documento r. hannah baxter disse-me que lhe ia escrever para cooperar comigo. - encolheu os ombros. bem, infelizmente cheguei tarde demais. viu os olhos da rapariga dilatarem-se enquanto levava a m�o � boca, como se olhasse para tr�s dele. de repente, ouviu-se uma terceira voz na sala. - n�o chegou tarde desta vez - disse algu�m por tr�s de collins. voltou-se e viu-se perante um estranho, de p� sob o arco que ligava � casa de jantar. o homem idoso parecia-lhe vagamente familiar, embora n�o o conhecesse. o homem avan�ou para ele e parou. - sou donald radenbaugh - disse calmamente. - que queria saber sobre o documento r? passou mais de meia hora antes de o documento r voltar a ser mencionado. primeiro, surgira a incredulidade de collins. radenbaugh depressa a dissipara. - radenbaugh escapou � morte - disse ele. - s� estou morto oficialmente. de fato, at� estou bem vivo. mas teremos tempo para falar de mim quando eu souber mais a seu respeito e depois de me contar como chegou at� aqui. em seguida, surgira a incredulidade de susan. radenbaugh depressa a dissipara. - n�o compreendes como me arrisquei a aparecer, susie? especialmente perante uma pessoa do departamento de justi�a? � porque preciso de algu�m em quem confie,
al�m de ti. parece-me que posso confiar no procurador collins. ele mostrou-se simp�tico mesmo antes de saber que eu estava aqui. preciso de ajuda, susie. talvez se eu o ajudar, ele tamb�m me ajude. por fim, surgira a incredulidade do pr�prio radenbaugh. dissipara-a pedindo que collins lhe explicasse como tinha tomado conhecimento do documento r e como suspeitara que radenbaugh o conhecia. - talvez j� tenha explicado � minha filha, mas n�o consegui ouvir o princ�pio da conversa. estava escondido na cozinha. s� depois � que me aproximei, para escutar. antes de continuarmos, poderia come�ar por me dizer como veio aqui ter. tinham-se sentado frente a frente no sof�-cama, encostados �s almofadas empilhadas contra a parede da sala de estar. collins falara com aten��o, devagar, com franqueza, apresentando todos os pormenores sobre os acontecimentos ocorridos desde a morte do coronel baxter. por fim, falara na visita a hannah baxter. embora declarando desconhecer o documento, ela tinha afirmado que se noah tivesse confiado o seu conte�do a algu�m, poderia ter sido a donald radenbaugh. - sim, ela escreveu-me para que aguardasse a sua visita - dissera radenbaugh. - e eu fui visit�-lo - respondera collins. - o diretor disse-me que tinha morrido, mas afinal est� aqui. - agora que j� sei como c� chegou, deixe-me contar-lhe o que me aconteceu. e a sorte que tenho em estar aqui. tem de p�r de parte toda a descren�a. collins ouvira-o, em sil�ncio, muitas vezes incapaz de esconder a d�vida. o encontro secreto de tynan com radenbaugh e a oferta da liberdade em troca dos tr�s quartos de milh�o, tinham-no deixado atordoado. e tinham tamb�m levantado a quest�o de saber para que quereria tynan t�o veementemente tal soma a ponto de correr riscos t�o grandes, mas collins n�o tinha querido interromper com perguntas. continuara a ouvir, enquanto radenbaugh relatava a sua hist�ria at� ao momento da destrui��o do quarto do hotel onde o seu alter ego, herbert miller, fora indubitavelmente eliminado. no fim da narrativa, collins deixara de ter d�vidas sobre o que se passara na calif�rnia. - tynan - dissera ele em voz alta. - � ele quem est� por tr�s de tudo - concordara radenbaugh. � f�cil dizer porqu�. eu li a 35.a emenda. ela ir� torn�-lo o homem mais poderoso da am�rica. mais poderoso que o presidente. mas aposto que n�o h� a menor prova contra ele. collins tinha estado a pensar nisso. - at� agora nenhuma. a menos... a menos que esteja envolvido no documento r. podemos passar a esse assunto? - sim. mas antes quero pedir-lhe tr�s coisas. - diga. - primeiro, quero que me fa�am a opera��o pl�stica no rosto. pelo menos nos olhos. talvez seja o suficiente. n�o me parece que possa ser reconhecido atualmente, mas se fosse, seria um homem morto. tynan encarregar-se-ia disso. - n�o h� problemas. temos um cirurgi�o em carson city, no nevada, que o fbi desconhece. tanto a cosa nostra como a cia recorrem aos seus servi�os, se quer garantias. quando pretende tratar disso? - imediatamente. pode ser j� amanh�. - de acordo. - segundo, preciso de uma nova identidade. donald radenbaugh morreu em lewisburg; herbert miller morreu em miami. - tinha puxado da carteira, retirando tr�s cart�es para os entregar a collins. uma carta de condu��o, um cart�o de cr�dito para aluguel de autom�veis e um cart�o da previd�ncia social... � tudo o que resta de herbert miller. j� n�o servem. preciso de novos documentos. tenho de ser algu�m. - t�m de ser preparados em denver - dissera collins. - tem-nos dentro de cinco dias... que mais? disse que havia mais uma coisa. - sim, uma promessa solene da sua parte.
- continue. - que se acaso eu disser a verdade acerca de tynan, acerca da minha morte simulada, e restituir a minha parte do dinheiro, me ajudar� a retomar o meu verdadeiro nome e a conseguir a fian�a ou a anistia. - n�o sei se isso ser� poss�vel. - mas se for? collins refletira rapidamente no dilema. poderia ele, enquanto primeiro magistrado da na��o, fazer um acordo com um condenado por burla? sabia que o seu dever legal era claro: n�o fazer promessas a radenbaugh e p�-lo sob pris�o. mas tamb�m sabia que, atendendo � singularidade das circunst�ncias, tinha um dever mais alto, um dever para com o seu pa�s. era este que estava em primeiro lugar. transcendia todos os legalismos mesquinhos. dera a resposta: - nessa altura, se for poss�vel, f�-lo-ei - dissera collins. - sim, ajud�lo-ei. juro faz�-lo. - agora j� posso falar do documento r. tudo isto tinha levado a primeira meia hora. chegavam finalmente �quilo que para collins era o momento da verdade. radenbaugh pediu um cigarro � filha, sorriu-lhe enquanto o acendia e voltouse para collins. - n�o sei tudo sobre ele - disse vagarosamente -, mas talvez saiba coisas que o possam ajudar. a 35.a emenda... o documento r faz parte dela, embora n�o seja escrito... quer dizer, � uma parte secreta... a emenda, dizia eu, foi forjada antes de eu ir para a cadeia. era um motivo de preocupa��o para noah baxter. � verdade que ele era um conservador e um retr�grado em rela��o a muitas coisas, mas era um homem honesto e um constitucionalista ferrenho. n�o gostava de adulterar a constitui��o nem de pervert�-la. mas como a criminalidade aumentava cada vez mais no pa�s e a press�o era constantemente maior, foi encurralado a um canto. tinha uma tarefa a cumprir e compreendia que n�o o podia fazer; que a ordem s� podia ser restaurada no pa�s se a lei fosse alterada. pensava que a 35.a emenda era muito dr�stica. tinha graves suspeitas sobre ela. mas continuou. percebi que lamentava tais medidas. no final, suponho que estava t�o comprometido que n�o podia desligar-se. - penso que foi exatamente isso que aconteceu - disse collins. - como lhe contei, ele disse na agonia: "tenho de o contar... j� n�o me podem controlar... estou livre, j� n�o preciso ter medo...'' livre de qu�? receoso de quem ou de qu�? radenbaugh abanou a cabe�a. - n�o sei. s� lhe posso dizer que estava mais comprometido do que desejava, que estava muito preocupado e n�o tinha mais ningu�m para fazer confid�ncias sen�o a mim. quando estava mais aborrecido, contava-me o que se passava. foi assim que me mencionou o documento r. referiu-se-lhe v�rias vezes. preferia que tynan n�o o tivesse comprometido com a emenda nem com o documento r. - tynan?... - disse collins com surpresa. - pensava que tinha sido o presidente wadsworth a instigar a emenda e tudo o que se relaciona com ela. - n�o, foi tudo obra de tynan. ele � que � o autor e criador da emenda e do documento. vendeu a id�ia ao presidente e ao congresso. pelo menos, vendeu-lhes a emenda. n�o sei se algu�m al�m de tynan e baxter (e eu, � claro), j� ouviu falar do documento r. - mas afinal do que se trata? - o r � inicial de reconstru��o. � o documento da reconstru��o. - reconstru��o de qu�? dos estados unidos? - exatamente. o documento r foi concebido secretamente como um plano suplementar � emenda. � um projeto para reconstruir os estados unidos, tornando-o um pa�s sem criminalidade gra�as � 35.a emenda. o documento divide-se em duas partes. baxter conhecia apenas uma parte. a segunda, de acordo com o que me disse, ainda estava a ser elaborada por tynan. a primeira parte era o programa piloto. confuso, collins perguntou: - o programa piloto? o que � isso?
- era isso que eu lhe ia explicar. disse-lhe que foi tynan quem concebeu a emenda. vou dizer-lhe de onde lhe veio a id�ia. ao tentar elaborar novas leis a recomendar ao presidente e ao congresso, novas leis que pudessem travar a crescente escalada da taxa da criminalidade da na��o, tynan lembrou-se de fazer um estudo sobre as comunidades sem criminalidade ou com �ndices muito baixos nos estados unidos. se havia cidades com �ndices baixos, quais seriam os elementos na estrutura dessas comunidades que tornavam tal fato poss�vel? - at� a� � compreens�vel. - at� a� -repetiu radenbaugh. - bem, os auxiliares de tynan alimentaram os computadores e eles lan�aram-se ao trabalho. depois indicaram uma m�o cheia de comunidades praticamente sem criminalidade. em todos os casos, essas comunidades eram cidades pertencentes a companhias. - cidades de companhias? - os estados unidos est�o cheios delas. geralmente s�o cidades constru�das e administradas para uso exclusivo do pessoal das companhias. podemos citar casos t�picos como morenci no arizona, onde phelphs dodge abriu as suas minas de cobre. todas as casas, os armaz�ns e as casas comerciais pertencem a phelphs dodge. a vida da cidade � integralmente dominada pela companhia. ora, nem todas as cidades de companhias est�o livres da criminalidade. n�o sei se � o caso de morenci. mas em algumas delas, o crime � praticamente inexistente. isso acontece com maior freq��ncia em comunidades pequenas e remotas, onde uma �nica companhia ou pessoa domina toda a vida da cidade. - uma ditadura!? - de certo modo. pelo menos um lugar onde h� controles econ�micos e sociais poderosos e r�gidos. entre essas comunidades que tynan descobriu serem quase isentas de crime, havia uma que o fascinava. possuia o melhor registro hist�rico. n�o havia praticamente crimes nem desordens. chamava-se argo city e era propriedade exclusiva da companhia argo de fundi��o e refina��o do arizona. tynan fez uma investiga��o aturada sobre essa comunidade e encontrou o segredo dos resultados de argo city. descobriu que nessa cidade a declara��o de direitos, ou a maior parte das liberdades consagradas na declara��o, tinham sido suspensas. os habitantes pareciam n�o se importar. mostravam-se satisfeitos na medida em que se sentiam seguros econ�mica e fisicamente. baseando-se na estrutura legal dessa cidade, tynan criou a 35.a emenda. pensou que o que funcionava bem em argo city, poderia resultar perfeitamente em todos os estados unidos da am�rica. - fascinante - disse collins. - � diab�lico. - mas muito mais diab�lico foi o que tynan fez a essa cidade. precisava ter certeza de que todos os pormenores da emenda funcionariam na vida real. assim, usou o povo de argo city como cobaia. como conseguiu meter l� os seus agentes e faz�-lo? investigou a companhia que governava a cidade e descobriu que a fundi��o e refina��o argo estava a cometer fraudes nos impostos h� j� v�rios anos. fez press�o sobre os administradores e eles logo chegaram a acordo. se tynan n�o denunciasse ao departamento de justi�a o que tinha descoberto, eles deixavam-lhe as m�os livres, a ele e aos seus agentes, para dirigirem a comunidade. assim, tynan, tal como poder� ficar � cabe�a do comit� de seguran�a nacional sob a �gide da 35.a emenda, ficou � cabe�a de um prot�tipo de comit� de seguran�a em argo city. era o seu campo de ensaio para ver como a emenda funcionaria quando entrasse em vigor. - meu deus, � incr�vel - disse collins. - quer dizer que existe atualmente essa cidade sem declara��o de direitos? - tanto quanto sei, existe. - mas isso n�o pode ser consentido numa democracia. � ilegal. - passar� a ser legal quando a emenda for aprovada na calif�rnia - disse radenbaugh. - portanto, os resultados da experi�ncia constituem a primeira parte do documento r. - e a segunda parte?
radenbaugh levantou as m�os. - n�o sei. collins refletiu no que tinha ouvido. - n�o posso acreditar que isso tenha dado resultado. o que aconteceu? funcionou bem em argo city? radenbaugh fixou collins. - ter� de ver pelos seus pr�prios olhos. - fez uma pausa. gostaria de ver? - � claro. quero chegar ao cerne da conspira��o de tynan. est� muita coisa em jogo. e ser� seguro? - pouca gente visita a cidade; pelo menos era assim quando ouvi falar disso pela �ltima vez. mas se formos s� os dois talvez n�o pare�a estranho. - seremos tr�s. - tr�s! - disse radenbaugh. - assim j� pode ser perigoso. - vale bem o risco - concluiu collins. mal chegara a washington, chris collins tinha posto em a��o um profundo projeto de investiga��o sobre as cidades de companhias nos estados unidos cidades de companhias em geral e argo city, no arizona, em particular. a investiga��o fora feita sem ru�do e rapidamente, e neste momento, passados quatro dias, j� tinha os dossiers com os fatos b�sicos espalhados sobre o mataborr�o da sua ampla secret�ria, no departamento de justi�a. come�ou a rever os fatos. viu de imediato que as cidades de companhias eram um fen�meno natural e inocente ligado ao crescimento da na��o. quando uma companhia abria uma mina numa regi�o remota, precisava de homens que nela trabalhassem. para conseguir empregados para essas regi�es long�nquas do pa�s, as companhias tinham de construir cidades para as fam�lias viverem. para constru�rem cidades, tinham de fazer casas, criar lojas, facultar divertimentos e assist�ncia m�dica. as companhias eram tamb�m obrigadas a criar a administra��o local e a oferecer a prote��o da pol�cia. enfim, as companhias faziam tudo para o povo e em troca o povo submetia-se ao seu dom�nio e passava a pertencer-lhes. collins leu o registro. tinha existido pullman no dlinois, a dez milhas de chicago, constru�da por george m. pullman, o milion�rio que possu�a o monop�lio das carruagens-camas dos caminhos de ferro. pullman alojava os seus 12.000 empregados na sua cidade particular. segundo uma fotoc�pia de um harper's new monthly magazine do princ�pio do s�culo: "as companhias pullman possuem tudo. nenhum indiv�duo possui hoje um cent�metro que seja de terra nem uma �nica estrutura em toda a cidade. nenhuma organiza��o, nem mesmo uma igreja, pode ocupar outra coisa que n�o sejam bens alugados. s�o patentes alguns aspectos desagrad�veis da vida social: m� administra��o... favoritismo e nepotismo... a sensa��o obsessiva de inseguran�a. ningu�m considera pullman como a sua verdadeira terra. o poder de bismarck na alemanha � insignificante quando comparado com o poder das autoridades que governam no pal�cio pullman da companhia de carruagens, em pullman. cada homem, mulher ou crian�a da cidade est� totalmente � sua merc�. estamos perante uma popula��o em que nem um �nico residente ousa exprimir livremente a sua opini�o sobre a cidade em que vive.'' o fato de george m. pullman sufocar os seus dependentes, impondo encargos e rendas mais elevadas que nas comunidades vizinhas, levou os habitantes a revoltarem-se. chegaram a processar e a destruir o seu dom�nio sobre a propriedade da comunidade. mas pullman, no illinois, tinha sido uma exce��o. a maior parte das cidades de companhias modernas pareciam suficientemente suport�veis. era o caso de scotia, na calif�rnia, pertencente � companhia de madeiras do pac�fico; anaconda, em montana, pertencente � Companhia dos cobres de anaconda; louviers, no colorado, da e.i. du pont de nemours; sunnyside, no utah, da companhia petrol�fera do utah; trona, na calif�rnia, da corpora��o americana da potassa e produtos qu�micos. por fim, na �ltima folha, l� estava argo city, no arizona, pertencente � Companhia de fundi��o e refina��o... e a vernon t. tynan e ao fbi. o material dispon�vel sobre argo city era parco, estranhamente parco. a investiga��o mostrava claramente a diferen�a entre argo city e as outras cidades de companhias que existiam por todo o lado. na generalidade das cidades, nem tudo era propriedade da
companhia e nem todas as pessoas lhe estavam sujeitas. por vezes as pessoas podiam comprar e possuir as suas casas. por vezes, pessoas de fora podiam abrir lojas. em geral, as pessoas que n�o trabalhavam para a companhia nem por isso eram proibidas de viver na cidade. mas em argo city n�o era assim. tudo pertencia � companhia: casas, com�rcio, institui��es, governo. nada levava a crer que um estranho, uma pessoa que n�o trabalhasse para a companhia, tivesse podido adquirir uma casa ou abrir uma loja em toda a hist�ria da cidade. e n�o havia crimes s�rios ou desordens em argo city h� cinco anos. era demasiado bom, ou demasiado horr�vel para ser verdade. collins fechou a capa. s� havia uma maneira de conhecer a realidade: ir ver pessoalmente. se o que presenciassem fosse uma antevis�o da am�rica sob � �gide da 35.a emenda, ent�o mais algu�m, al�m dele e de radenbaugh, devia ver o espet�culo, algu�m que pudesse travar a emenda, se necess�rio. a sua decis�o estava tomada. levantou o telefone e ligou para a secret�ria. - marion, estes telefones foram vistoriados? - j� n�o � necess�rio, senhor collins. o equipamento de interfer�ncias foi instalado esta manh�. a sua preocupa��o desvaneceu-se. o telefone tinha finalmente um aparelho de interfer�ncias, o que significava que as chamadas que fizesse s� seriam intelig�veis ao chegarem ao destinat�rio. sentindo-se mais descansado com essa precau��o, pegou no telefone e preparou o passo seguinte. - ligue para o presidente do supremo maynard, imediatamente. se n�o estiver, localize-o, quero falar j� com ele. *** ao fim da manh� de uma sexta-feira quente e seca do fim de junho, tinham chegado de avi�o a phoenix, no arizona, vindos de tr�s lugares diferentes. chris collins, com a reserva no avi�o feita em nome de c. cutshaw, proveniente do aeroporto friendship de baltimore, via chicago, tinha chegado ao aeroporto de sky harbor, em phoenix, num jato 727, precisamente �s onze horas. era o primeiro. donald radenbaugh, viajando com o novo nome de dorian schiller, chegara pouco depois de carson city, via reno e las vegas, num dc-9. deveria ter sido o primeiro, mas o v�o tinha sido atrasado uma hora e quinze minutos. por fim, o presidente do supremo, john g. maynard, sob o pseud�nimo de joseph lengel, chegara de nova iorque num 707 � hora combinada, �s onze e quarenta e seis. tinham combinado antecipadamente que collins e radenbaugh n�o esperariam por maynard, pois seria arriscado entrarem em argo city e registarem-se no hotel constellation ao mesmo tempo. tinha ficado combinado que collins e radenbaugh partiriam para argo city imediatamente, sendo seguidos depois por maynard quando chegasse. collins esperara impacientemente no terminal at� ao aviso de que o v�o atrasado de radenbaugh tinha pousado. s� reconhecera radenbaugh a curta dist�ncia. o cirurgi�o de nevada tinha feito um bom trabalho. tinha havido uma mudan�a no nariz de radenbaugh, que ainda estava ligeiramente inchado. quando ele tirara os grandes �culos escuros, collins tinha notado o desaparecimento dos papos por baixo dos olhos, substitu�dos por cicatrizes esbatidas; os pr�prios olhos tinham ficado menores, parecendo orientais. todo o seu aspecto tinha sido alterado consideravelmente. - senhor cutshaw? - dissera ele divertido. - senhor dorian schiller - respondera collins, entregando-lhe um sobrescrito. - o seu batismo oficial est� aqui dentro. as pessoas de denver foram eficientes. tudo o que pretender saber sobre dorian schiller vai nesse sobrescrito. - n�o tenho palavras para lhe agradecer. - eu � que agrade�o pelo local onde nos vai levar hoje. espero que seja como ouviu dizer. se assim for, ficar� tudo nas m�os de john maynard. - olhara para o rel�gio do terminal. - ele estar� aqui dentro de uns vinte minutos. tomar� um t�xi
para argo city. collins apontou para a sa�da. - tenho um ford alugado � nossa espera. tinham seguido para sudoeste atrav�s de campos verdes recortados por brilhantes valas de irriga��o, at� entrarem na imensid�o do deserto. tinham continuado ent�o a caminho da fronteira do m�xico. por fim, tinham encontrado uma tabuleta amarela que dizia: argo city. popula��o: 14.000 habitantes. sede da companhia argo de fundi��o e refina��o. radenbaugh, ao volante, tinha apontado para o lado de collins. - l� est� o po�o da mina de cobre. tem 2500 metros de extens�o e perto de 200 metros de profundidade. � onde trabalha a maior parte da popula��o masculina. minutos depois estavam no centro de argo city: uma �nica avenida larga, alcatroada, com quatro ou cinco ruas laterais. collins tinha conseguido identificar alguns dos edif�cios alvos e bem conservados: um grande supermercado, constru�do horizontalmente e com a fachada envidra�ada; a seguir, a esta��o de correios; o teatro; qualquer coisa chamada loja de manuten��o da cidade; um pequeno jardim asseado, com �leas que iam at� � biblioteca p�blica; uma igreja episcopal com campan�rio; um pr�dio de tijolo com dois andares e um letreiro dizendo que se tratava do bugie, provavelmente o jornal da cidade. o edif�cio mais alto era o hotel constellation: quatro andares, bem conservado, de estilo espanhol, apesar do nome. tinham parado no estacionamento junto do pr�dio do lado, passando em seguida por uma loja �ndia que exibia bonecas de navajos, cestos, artigos de couro, prataria e cer�mica no �trio coberto de azulejos do hotel, que circundava um p�tio central descoberto. - parece uma miniatura do edif�cio j. edgar hoover - dissera collins. provavelmente foi tynan que o mandou construir. radenbaugh levara um dedo aos l�bios. - n�o fale nisso, senhor cutshaw - murmurara em voz baix�ssima. na recep��o tinham-se registrado como cutshaw e schiller, de bisbee, no arizona. tinham pedido quartos cont�guos, apenas para a tarde. um mandarete pegara na pasta de radenbaugh e na maleta de collins, acompanhara-os ao terceiro andar e conduzira-os aos quartos no fundo do corredor ventilado, tendo o cuidado de abrir a porta de comunica��o entre eles; verificara o ar condicionado, esperara a gorjeta e partira. agora estavam s�s no quarto de collins. tinham combinado esperar pelo presidente maynard antes de sa�rem para a cidade. - assim que chegar, ele manda embora o t�xi - disse collins. partiremos juntos para phoenix. nessa altura j� n�o haver� perigo. - co�ou a cabe�a. - a mim, a cidade parece-me bastante vulgar. � tudo perfeitamente normal, tanto quanto pude ver. - espere pelo que vai ver - disse-lhe radenbaugh. abriu a pasta. - na noite passada fiz uma lista de tudo o que consegui lembrar, sobre o que noah me disse deste lugar quando conversamos acerca do documento r. - e eu tenho uma lista de coisas a visitar ou a espiar, feita na base das pesquisas que o meu pessoal efetuou. vamos juntar as duas listas. quando maynard chegar podemos ver o que parece mais prometedor e dividir o trabalho. trabalharam durante quinze minutos na composi��o de uma lista �nica com tudo o que argo city tinha demais prometedor, e quando acabaram sentiram-se satisfeitos. - s� fa�o votos que possamos achar o que queremos em quatro horas - disse collins. - vamos tentar - disse radenbaugh. - tudo depende agora das pessoas que virmos e com quem falarmos aceitarem a nossa hist�ria de fachada. tem a carta? collins apalpou a frente do casaco. - est� aqui. n�o h� problema. algu�m do meu departamento conseguiu arranjar papel timbrado das ind�strias phillips durante a noite. n�o sei como foi, mas conseguiram. eu pr�prio ditei a carta de recomenda��o.
recordaram e repisaram a hist�ria de fachada, ensaiando as perguntas dif�ceis e suspeitas. o disfarce consistia em estarem em argo city como representantes das ind�strias phillips, que tinham obtido autoriza��o da companhia de fundi��o e refina��o para o exame de certas realiza��es c�vicas em argo city. essas realiza��es seriam estudadas pelas ind�strias phillips com vista a remodela��es a fazer e iniciativas c�vicas a tomar, em breve, em bisbee, no arizona. - e maynard, que justifica��o apresenta? - quis saber radenbaugh. - a hist�ria dele � um pouco diferente. n�s pedimos quartos at� ao fim da tarde. ele pedir� para passar a noite, embora parta conosco. far� de turista. ser� um advogado reformado, cidad�o conceituado de los angeles. dir� que est� de viagem de los angeles para tucson, para visitar o filho e a nora e um neto rec�m-nascido. parou em argo city n�o s� para passar a noite, depois de uma viagem fatigante, mas tamb�m para ver as possibilidades de comprar aqui uma casa. dir� que j� c� esteve uma vez e que ficou encantado com o ambiente da comunidade, estando a pensar em estabelecer-se c�. radenbaugh franziu o nariz inchado. - n�o me parece uma boa hist�ria. - deve servir para quatro horas. tentar morar em argo city... deve resultar. - talvez. - collins tinha mais uma coisa em mente. - acha que pode haver aqui algu�m, o administrador da cidade, o editor do jornal, o chefe da pol�cia... qualquer pessoa... que tenha ouvido falar no documento r? - ningu�m, nem sequer os administradores da companhia de fundi��o e refina��o. ningu�m sabe que servem de cobaia do grande plano de tynan para os estados unidos, a executar no pr�ximo ano e para todo o sempre. o documento r s� deve ser conhecido pelo pr�prio tynan e talvez pelo seu lacaio... como se chama ele? - harry adcock. - sim, adcock. e, naturalmente, era do conhecimento do falecido noah baxter. eu, a minha filha, o padre que lhe falou dele pela primeira vez, e voc�, conhecemo-lo de nome. duvido que mais algu�m o tenha ouvido mencionar. - voc� disse que argo city era apenas uma parte do documento r. quero conhecer o resto. tenho esperan�a de podermos descobrir aqui alguma indica��o. - pode ser que sim, mas n�o conto com isso. - bem, o que importa � o que descobrirmos hoje - disse collins. - para derrotar a emenda na calif�rnia? - sim. mas se n�o encontrarmos nada... - ou se formos apanhados e denunciados... - nesse caso, teremos de desistir. � assim, donald. vai ser uma tarde de grande tens�o. - eu sei. collins olhou para o rel�gio. - john maynard deve estar a chegar. dez minutos depois, john maynard batia levemente � porta e entrava no quarto de collins. parecia tudo menos o digno e imponente presidente do supremo tribunal dos estados unidos. com o seu chap�u castanho de abas largas, �culos de sol, camisa aberta, caqui amarrotado e botas altas, parecia um velho pesquisador que tivesse vagabundeado at� � cidade depois de duas semanas no deserto ardente. - c� estamos - disse ele - neste lugar esquecido por deus. foi uma viagem dura, num t�xi desde phoenix. mandei o carro embora. fiz bem, n�o fiz? - sim - respondeu collins -, regressaremos juntos. maynard pousou o chap�u na cama e sentou-se. - mas vamos ao trabalho. temos pouco tempo. - olhou para radenbaugh. - voc�, suponho que � Donald radenbaugh. - desculpe - disse collins rapidamente, para logo os apresentar formalmente. maynard fixou os olhos em radenbaugh. - espero que n�o nos esteja a fazer perder tempo. o seu relato de argo city
era chocante, para n�o dizer mais. espero que seja exato. - relatei s� o que soube pelo coronel baxter - disse radenbaugh, na defensiva. - o documento da reconstru��o baseia-se no estudo do diretor tynan sobre argo city. - hum. ent�o vamos ver os futuros estados unidos em miniatura, o nosso pa�s como ser� depois de aprovada e promulgada a 35.a emenda. olhe, senhor radenbaugh, digo-lhe honestamente que me � dif�cil crer que as condi��es que o coronel baxter lhe disse existirem aqui, continuem a subsistir. n�o me parece que nenhuma comunidade dos estados unidos aceitasse essa situa��o por muito tempo. - muitas aceitaram, pelo menos at� certo ponto - esclareceu collins. - fiz estudos sobre as cidades de companhias. embora n�o existisse nenhuma t�o totalit�ria como esta parece ser, encontrei algumas pr�ticas espantosas e restri��es muito fortes. - hum. tudo � poss�vel. se isso acontecer aqui... - mergulhou nos seus pensamentos. - isso traria nova luz aos acontecimentos. mas antes temos de ver pelos nossos pr�prios olhos, e rapidamente. senhor collins, por onde come�amos? collins estava preparado. pegou nos apontamentos. - queria sugerir-lhe, senhor presidente, que come�asse por visitar a companhia de argo. afinal de contas, deve parecer que pretende viver aqui. portanto, desempenhando o papel de um advogado reformado, pode ir ter com o juiz local e tentar chegar atrav�s dele ao xerife. fa�a tamb�m uma visita a um dos armaz�ns, um supermercado por exemplo, e meta conversa com os clientes. - mais devagar - disse maynard, que tomava apontamentos num papel colocado sobre o joelho. collins esperou um pouco e continuou: - se tiver tempo, visite o bugie. procure exemplares antigos. n�o deve ter tempo para mais nada, mas tente contatar com um jornalista ou com o editor. - vai ser precisa uma boa dose de ingenuidade - disse maynard. - estaremos de volta demasiado cedo para levantarmos suspeitas - disse collins. - quanto a donald e eu, iremos � biblioteca, aos correios, tentaremos falar com o administrador da cidade. iremos o mais longe que for poss�vel. todos n�s devemos contatar com o maior n�mero poss�vel de cidad�os comuns. por exemplo, � hora do almo�o falaremos com uma ou duas criadas. ou podemos pedir indica��es a transeuntes, e aproveitar para meter conversa. deixe-me ver... - viu as horas no rel�gio de pulso. - � uma e um quarto. devemos estar todos aqui no meu quarto �s cinco horas. compararemos as nossas descobertas e possivelmente saberemos ent�o a verdade. vamos? o senhor sai primeiro, senhor presidente. maynard levantou-se, p�s o chap�u na cabe�a e saiu. cinco minutos depois, collins fez sinal a radenbaugh e sa�ram juntos do quarto, a caminho do elevador, para descerem a argo city. o administrador da cidade empurrou os �culos dourados para o alto do nariz, e a sua cara redonda e rosada, que encimava o n� da gravata, inclinou-se para eles por cima do tampo vazio da secret�ria. - lamento n�o lhes poder conceder mais tempo - disse, apontando para o rel�gio el�trico na parede. - quatro e um quarto. tenho outro encontro. levantou-se e rodeou a secret�ria para conduzir collins e radenbaugh � porta. - tive muito prazer na visita. espero ter-lhes dado alguma ajuda. recordemse que uma terra simp�tica produz gente simp�tica e promove a paz. como lhes disse, e o xerife confirmar�, em argo city h� anualmente uma meia-d�zia de delitos de pequena import�ncia, mas n�o h� crimes. em cinco anos, n�o tivemos a menor desordem p�blica, isto �, desde que aplicamos a lei local sobre reuni�es p�blicas. os nossos empregados civis sentem-se satisfeitos e produtivos. por vezes, aparece um fruto podre, como aquela professora cuja hist�ria lhes contei, mas deit�mo-lo fora rapidamente e n�o h� danos. - abriu a porta para os deixar sair. - bem, felicidades no vosso trabalho de remodela��o e reconstru��o de bisbee. se conseguirem fazer metade do que aqui fizemos, podem ter orgulho nos resultados. quando vir o senhor pitman das ind�strias phillips, d�-lhe lembran�as minhas.
ficou a ver collins e radenbaugh afastarem-se. quando voltava para o gabinete, viu que a secret�ria o seguia. notando-lhe uma express�o perplexa, perguntou: - o que h�, hazeltine? - esses dois homens que acabaram de sair... ouvi-o dizer que eles tinham vindo c� para colher informa��es que os ajudassem a remodelar e reconstruir bisbee... - � verdade. - mas deve haver engano. a cidade de bisbee foi integralmente modernizada, planejada de novo e reconstru�da h� poucos anos. tenho uma ficha da c�mara do com�rcio de bisbee que diz isso mesmo. era a vez de o administrador parecer perplexo. - n�o pode ser. - vou mostrar-lhe. minutos depois, o administrador j� tinha visto o dossier com recortes, fotografias e mapas de bisbee, demonstrativo do trabalho j� finalizado de reconstru��o de partes da cidade. parecia abalado. pediu imediatamente uma chamada pessoal para o sr. pitman das ind�strias phillips, em bisbee. depois, telefonou ao xerife. - mac, estiveram aqui dois estranhos que se apresentaram como empregados das ind�strias phillips, ramo bisbee, e fizeram toda a esp�cie de perguntas suspeitas. tinham uma carta de apresenta��o de pitman das ind�strias phillips, mas soube agora mesmo que ele nunca tinha ouvido falar neles. n�o gosto disto, mac. pode prend�-los? - n�o, n�o posso enquanto n�o souber quem s�o. conhece as ordens. - mas, mac... - deixe o assunto comigo. vou j� p�r-me em contato com kiley. ele dir� o que se h� de fazer. no segundo andar do liceu de argo city, miss watkins, uma mulher de meiaidade, empertigada e de aspecto severo, tinha abandonado a aula para ir ao encontro de collins e radenbaugh no �trio. - o reitor telefonou e disse que me queriam ver. em que lhes posso ser �til? - soubemos que tinha sido despedida, miss watkins - come�ou collins. desej�vamos fazer-lhe algumas perguntas. - quem s�o os senhores? - fazemos parte da administra��o da escola de bisbee. estamos a fazer um inqu�rito sobre o sistema de ensino em argo city. acabamos de falar com o administrador da cidade e foi ele que mencionou o seu caso. disse que tinha pisado o risco... - pisado o risco? - repetiu confusa. - sempre cumpri a minha obriga��o. estive a ensinar a hist�ria da am�rica. - de qualquer forma, despediram-na. - sim, � hoje o meu �ltimo dia de trabalho. - pode contar-nos o que se passou? - pediu radenbaugh. - quase tenho vergonha - disse ela. - � demasiado rid�culo. a minha turma estava a come�ar o estudo dos antepassados fundadores. para animar a li��o, lembrei-me de um velho recorte de um jornal de wyoming que guardei antes de vir para aqui. - procurou na bolsa, tirou um recorte amarelecido e entregou-o a collins. - li-o � turma do d�cimo ano de hist�ria... collins e radenbaugh leram o artigo da associated press: ''s� uma em cinq�enta pessoas contactadas nas ruas de miami por um rep�rter, concordou em assinar uma c�pia datilografada da declara��o de independ�ncia. duas chamaram-lhe um 'disparate dos comunas', outra amea�ou chamar a pol�cia..." miss watkins apontou para a �ltima parte da not�cia. "outras pessoas, que acharam amea�adores a leitura dos tr�s primeiros par�grafos, teceram coment�rios semelhantes. uma afirmou : 'isto � obra de um louco.' outra disse: 'o fbi devia ser avisado sobre esta porcaria.' outra ainda chamou ao autor da declara��o 'um revolucion�rio de id�ias vermelhas'. o rep�rter
fez circular um question�rio contendo um excerto da declara��o de independ�ncia por entre 300 membros de um grupo de juventude religiosa, e 28% responderam que pensavam que o excerto tinha sido escrito por lenine." guardou novamente o recorte. - depois de ter lido isto aos meus alunos, disse-lhes que n�o prosseguiria o curso sem que lessem primeiro cuidadosamente a declara��o de independ�ncia e a constitui��o e sem que tivessem compreendido esses documentos cl�ssicos. - referiu-se � Declara��o de direitos? - perguntou collins. - de fato discuti com os meus alunos as liberdades b�sicas e os direitos civis. os estudantes pareciam altamente interessados. no entanto, alguns foram para casa e falaram nisso aos pais. os fatos foram exagerados e destorcidos, e, antes que me desse conta, o presidente do conselho escolar dizia que eu era uma perturbadora, que vinha causar dist�rbios. mas que dist�rbios? respondi que me limitava a ensinar hist�ria. ele insistiu que eu estava a fomentar dissidentes e comunicou-me que tinha de me retirar. para lhes dizer a verdade, ainda n�o consegui compreender o que aconteceu. - n�o vai protestar contra o despedimento? - quis saber radenbaugh. miss watkins pareceu sinceramente surpresa com a sugest�o. - protestar? a quem? - com certeza que deve haver algu�m a quem protestar. - n�o h�. e mesmo que houvesse, teria de pensar bem antes de o fazer. - porqu�? - insistiu radenbaugh. - porque n�o me quero envolver nessas coisas. s� quero que me deixem sossegada. gosto da vida e quero viver. collins intrometeu-se novamente. - mas n�o a querem deixar viver, miss watkins. pelo menos � sua maneira. ficou momentaneamente confusa. - n�o sei. parece-me que aqui t�m regras, como em toda a parte. devo ter desrespeitado uma por acaso. mas isso n�o � raz�o para fazer... para me meter num esc�ndalo p�blico. n�o, nunca me passaria pela cabe�a fazer tal coisa. - o que � que aconteceu das outras vezes que ensinou a constitui��o? perguntou collins. - ainda nunca a tinha ensinado. costumava dar hist�ria da europa. a mulher do administrador da cidade � que ensinava hist�ria da am�rica, mas reformou-se no �ltimo semestre e eu fui encarregada de a substituir. - e agora que vai fazer? fica em argo city? - ah, n�o, n�o me deixam. a n�o ser que se trabalhe para a companhia ou para a cidade, n�o se pode viver c�. n�o me dariam outro emprego. acho que vou regressar � Wyoming. n�o sei. � muito desencorajador. nem sequer sei o que fiz de mal. - quer contar-nos mais coisas? - perguntou collins. - sobre qu�? - sobre o que se passa aqui. - aqui n�o se passa nada. nada - disse ela enfaticamente.- parece-me que � melhor voltar para a aula. se me desculpam... radenbaugh olhou para collins. - quem foi que disse, chris: "se o fascismo se implantar nos estados unidos, ser� por o povo votar nele?" - am�m! - disse collins, pegando no bra�o de radenbaugh. - � melhor voltarmos para o hotel. temos muito para decidir. �s cinco e cinco, os tr�s homens tinham-se reunido no quarto de collins do hotel constellation. collins foi o primeiro a falar, dirigindo-se ao presidente do supremo maynard, que se tinha sentado na dura cama, pousando o chap�u, e estava agora a enxugar a testa suada. - ent�o, senhor presidente, que descobriu? maynard parecia atordoado. - numa palavra, �... � chocante.
- inacredit�vel - concordou collins. - quem poderia imaginar que isto se passa nos estados unidos? - e afinal � verdade - disse collins severamente. - a popula��o est� t�o doutrinada que nem sabe o que se passou. maynard abanou fortemente a cabe�a. - sim, tamb�m � essa a minha impress�o. - � tarde - disse collins - e parece-me que o melhor � sairmos daqui quanto antes e voltarmos para phoenix. podemos discutir o assunto pormenorizadamente no carro. mas, para j�, deixe-me resumir o que donald e eu descobrimos. soubemos muitas coisas, falamos a muitas pessoas. - eu tamb�m - disse maynard. - cheguei mesmo a falar com o xerife e com o editor do jornal. falam, mas n�o compreendem o que est�o a dizer. tornou-se um h�bito. nunca, com toda a minha experi�ncia do pa�s e do estrangeiro, pelo menos desde a ii guerra mundial, nunca vi uma popula��o viver assim, numa exist�ncia de aut�matos. ou a viver sob uma opress�o t�o insidiosa. collins levantou-se e come�ou a vaguear pelo quarto. - deixe-me dizer-lhe rapidamente o que donald e eu descobrimos. a companhia argo de fundi��o e refina��o � dona dos �nicos armaz�ns de alimenta��o e vestu�rio da cidade. os empregados das minas recebem sal�rios, mas tamb�m lhes d�o livros de senhas que s� podem ser usadas nos armaz�ns da companhia. quando se lhes esgota o dinheiro, podem usar as senhas para comprar a cr�dito. assim, a maior parte deles est�o empenhados � companhia. - � uma forma sutil de escravatura ou de servid�o econ�mica. - comentou radenbaugh. - mas h� muitas outras coisas que n�o s�o t�o sutis. a companhia � propriet�ria do menor terreno, possui ou domina a c�mara municipal, o posto de xerife, as escolas, o hospital, o teatro, os correios, a igreja, as oficinas de repara��es, o jornal da cidade, e at� o hotel. a companhia proibe livros (menos os livros sexuais que os de pol�tica e hist�ria). os correios registam toda a correspond�ncia recebida ou expedida. o conselho escolar determina o que os professores devem ensinar. o xerife impede que os vendedores ambulantes e os caixeiros viajantes entrem na cidade. o hotel n�o permite que ningu�m permane�a mais de dois dias. os estranhos s�o expulsos por vagabundagem ao fim de tr�s dias. a companhia censura os serm�es do sacerdote. os homens e mulheres solteiras, s�o separados, conforme os sexos, por quatro pousadas da companhia, que est�o cheias de informantes. quanto �s habita��es comuns... - isso vi eu - disse maynard. - fiz de conta que queria comprar uma casa e estabelecer-me aqui. em v�o. s� os empregados da companhia argo s�o autorizados a comprar habita��es. a companhia fica com uma hipoteca sobre cada casa que � vendida. os pagamentos da hipoteca s�o deduzidos do sal�rio. se o comprador resolver ir-se embora, tem de vender novamente a casa � companhia. nas casas alugadas, as rendas tamb�m s�o deduzidas dos sal�rios. - mais escravatura - comentou radenbaugh. collins aproximou-se de maynard. - que descobriu mais? a cabe�a grisalha de maynard abanava. - o suficiente para me enojar. nunca encontrei semelhante desrespeito pela declara��o de direitos. a certa altura, parei para comer uma salada no caf� da companhia. enquanto estava � mesa, coberto de curiosos, peguei num guardanapo de papel, ou melhor, foram dois, e escrevi os direitos b�sicos concedidos pelas dez primeiras emendas � Constitui��o: a declara��o de direitos aprovada em dezembro de 1791. a seguir a cada emenda indiquei a situa��o respectiva em argo city. ou�am isto... tirou os dois guardanapos de papel do bolso do casaco de caqui e trocou os �culos de sol por outros de lentes quadradas. - ou�am bem - prosseguiu maynard. - a primeira emenda garante a liberdade de religi�o e de express�o e institui os direitos de reuni�o e reclama��o. aqui em argo city s� se pode freq�entar uma igreja. s� se l� um jornal. todos os jornais de fora e a maior parte das revistas s�o proibidas. sabiam disto? a televis�o
consiste numa esta��o local, uhf - dominada pela companhia, � claro. os programas nacionais s�o gravados e s� alguns s�o retransmitidos. o mesmo quanto � r�dio. s� transmitem programas gravados. todos os receptores s�o vendidos pela companhia e t�m um filtro especial, para n�o poderem apanhar phoenix ou outras cidades. a liberdade de express�o est� totalmente banida. se se sai da casca, um informador faz uma den�ncia. fica-se sem emprego e sem casa. n�o s�o permitidas reuni�es p�blicas nem manifesta��es. a �ltima ocorreu h� quatro anos. foi reprimida, e os trabalhadores que protestavam contra a falta de seguran�a no trabalho foram presos. a pris�o era demasiado pequena para os conter, mas, ignorado por toda a gente, h� um campo de internamento fora da cidade, no deserto... - um campo de internamento? - collins estremeceu, lembrando-se do seu filho josh e da viagem ao lago tule. - sim, quatro semanas nesse campo acabaram com os protestos. desde ent�o, nunca mais houve manifesta��es. - maynard tentava decifrar o que tinha escrito no guardanapo. - a 2.a emenda d� ao cidad�o o direito de possuir e deter armas, isto �, d� a cada estado o direito de ter uma mil�cia. mas isso n�o acontece em argo city. s� um grupo de escol de empregados da companhia, altamente colocados e de absoluta confian�a, podem usar armas. a 3.a emenda diz que nenhum militar se pode aboletar em casas particulares sem consentimento do dono da casa. h� cinco anos foi feita uma postura que permite � pol�cia, em caso de emerg�ncia, mudar-se para a casa de qualquer pessoa e instalar-se l�. a 4.a emenda d� ao povo o direito de n�o ser sujeito a buscas indevidas. uma postura de argo city permite que os homens do xerife entrem em qualquer casa sem mandato. a 5.a emenda protege o acusado de crime capital (de resto, s� um grande j�ri pode inculpar um civil), garante o processo legal e diz que ningu�m pode ser obrigado a testemunhar contra si pr�prio. ora, n�o h� grande j�ri em argo city. � um juiz que decide se a prova exige um julgamento. � evidente que os ju�zes s�o indicados pela companhia. a 6.a emenda garante que os acusados de crimes ter�o direito a um r�pido julgamento, a um j�ri imparcial, a serem acareados com as testemunhas de acusa��o, a terem a assist�ncia de um advogado. em argo city pode-se definhar indefinidamente na pris�o � espera de julgamento. aqui n�o h� j�ris. um dos ju�zes desempenha simultaneamente a fun��o de juiz e a de j�ri. as testemunhas de acusa��o n�o precisam estar presente. a defesa � fornecida pela companhia. - maynard soltou um suspiro. - como disse um dia stanislaw lee: "a distribui��o da injusti�a est� sempre em boas m�os." - apre! - murmurou radenbaugh. - apesar de se terem enganado, sempre tive doze jurados, e escolhi o meu advogado. maynard pegou no segundo guardanapo e come�ou a l�-lo. - a 7.a emenda. bem, esta tamb�m garante o julgamento por um j�ri nos casos da lei comum. isto tem sido totalmente ignorado em argo city. a 8.a emenda garante uma fian�a razo�vel, protege os cidad�os contra multas excessivas ou penas cru�is e infamantes. bem, aqui, por uma coisa de somenos, um delite sem import�ncia, a fian�a � t�o alta que o acusado fica na pris�o at� ser julgado. n�o � poss�vel saber o montante das multas. mas, aparentemente, as penas cru�is e infamantes s�o a regra. os culpados perdem as casas. os protestos ou crimes levam os condenados a um campo de deten��o rodeado de arame farpado, no deserto escaldante. s� Deus sabe o que mais a� os espera. a 9.a emenda salvaguarda outros direitos n�o especificados na constitui��o. n�o descobri muito a este respeito, exceto que os cidad�os de argo city n�o parecem ter outros direitos que n�o sejam os de comer e dormir, em certas condi��es. a 10.a emenda reserva todos os poderes que n�o sejam delegados ao governo pela constitui��o, aos estados e ao povo. aqui, obviamente, todos os poderes reservados pela constitui��o ao governo, aos estados e ao povo, est�o nas m�os da companhia. - ou nas de vernon t. tynan - acrescentou collins. - ou nas de tynan, sim - concordou maynard, voltando a meter os guardanapos no bolso. - como poder� isto ter acontecido? tenho certeza que o governo federal n�o tem conhecimento do que aqui se passa. mas o estado de arizona! o estado devia
saber e atuar. - n�o, eu calculo como se gerou tal situa��o - disse radenbaugh. - aposto que a comiss�o das corpora��es do arizona, que deveria pretensamente controlar as corpora��es, � dominada pela companhia argo. ent�o tynan arranjou qualquer coisa contra esta companhia e passou a domin�-la para realizar a sua grande experi�ncia. maynard estava mais perturbado que nunca. - � a situa��o mais aterradora que jamais encontrei. - n�o podemos continuar sentados e deixar correr - disse collins. - como procurador-geral, tenho de atuar. posso mandar c� uma equipe de investigadores... maynard ergueu a m�o. - n�o, n�o � isso que � priorit�rio. argo city e os seus 14.000 habitantes n�o s�o o fim. s�o meramente parte de um objetivo mais vasto. voc� mesmo o disse, collins. h� muito mais em jogo, muit�ssimo mais. - refere-se � 35.a emenda? - sabemos que argo city, por estar isenta de crimes, inspirou o diretor tynan a elaborar a emenda. sabemos que ele experimentou e apurou aspectos da emenda, usando argo city como um laborat�rio para a supress�o das liberdades e para a repress�o nos �ltimos quatro anos. sabemos que vimos hoje uma perspectiva dos estados unidos daqui a um ano, se a calif�rnia ratificar a emenda e a integrar na constitui��o. maynard levantou-se e vagueou pelo quarto, imerso num conflito �ntimo. quando voltou para junto de collins e radenbaugh o seu ar pensativo tinha-se desvanecido. - meus senhores - disse ele -, tomei a minha decis�o. se depender de mim, a calif�rnia n�o pode nem deve aprovar a emenda. collins n�o p�de esconder o seu j�bilo. - vai... que vai fazer, senhor presidente? - vou fazer o que lhe prometi se me provasse concretamente que a nossa democracia est� realmente em perigo. deram-me a conhecer uma parte do documento r, aparentemente o plano de tynan. vi o fascismo ser aceito pelo pre�o da seguran�a. j� posso imaginar o fascismo tornado lei em toda a na��o. n�o quero nem posso admitir que isso aconte�a. - os seus olhos pousaram em collins. - primeiro vou falar com o presidente. vou tentar persuadi-lo a inverter a sua posi��o. se falhar, ent�o irei para a frente e far-me-ei ouvir. se a minha influ�ncia � t�o grande como voc� pensa, n�o haver� 35.a emenda, n�o haver� mais cidades como argo city na am�rica, e a nossa agonia ter� terminado. collins agarrou na m�o de maynard e apertou-a calorosamente. radenbaugh acenava com a cabe�a em sinal de aprova��o. - � melhor irmos embora - disse maynard bruscamente. - vou para o quarto arranjar as minhas coisas. encontramo-nos no �trio daqui a dois minutos. maynard apressou-se a sair. rejubilantes, collins e radenbaugh pegaram nos seus haveres e prepararam-se para sair. � porta, collins deteve radenbaugh. - depois de phoenix, para onde vai? - tenciono regressar a filad�lfia. - venha para washington. n�o o posso p�r na lista de pagamentos federal. mas posso p�-lo na minha lista privada. preciso de si. o nosso trabalho ainda n�o terminou. quando maynard derrotar a emenda, precisaremos de um programa novo para a substituir, um programa que leve � redu��o da criminalidade sem sacrificar os nossos direitos civis. radenbaugh parecia comovido. - poder� realmente utilizar-me? estou muito satisfeito, mas... - vamos embora, n�o percamos tempo. no corredor, encontraram maynard que sa�a do quarto. desceram juntos de elevador. collins parou no balc�o da recep��o para assinalar a partida. depois, os tr�s, lado a lado, atravessaram o �trio e sa�ram para o calor do fim de tarde. enquanto collins e radenbaugh, silenciosos avan�avam para o estacionamento, maynard apressou-se a comprar a �ltima edi��o do bugie de argo city a um vendedor
cego e barbudo, que se sentava numa banca perto da entrada do hotel. quando o vendedor ouviu o tilintar das moedas, os seus olhos mantiveram-se parados por tr�s dos �culos, mas a boca abriu-se num sorriso de agradecimento. maynard apressou o passo para alcan�ar os companheiros. minutos depois, radenbaugh conduzia o ford para fora do parque de estacionamento, em dire��o ao centro de argo city, a phoenix e ao ar livre. em frente do hotel constellation, o vendedor cego meteu o dinheiro no bolso, levantou-se e colocou o que restava da pilha de jornais em cima da banca. batendo com a bengala branca, passou titubeante em frente do hotel, ultrapassou o parque de estacionamento e virou � direita para a esta��o de servi�o da esquina. seguindo a bengala, apontou em linha reta para a cabina telef�nica mais pr�xima. entrou na cabina, fechou a porta de vidro e arrumou a bengala a um canto. por fim, olhando para tr�s, tirou os �culos escuros, meteu-os no bolso, pegou no auscultador, meteu uma moeda na ranhura e olhou com um ar indiferente para os n�meros do disco enquanto esperava. a telefonista surgiu na linha. ele indicou-lhe um n�mero. instantes depois, depositou as moedas que faltavam. esperou. o telefone estava a tocar. uma voz chegou da outra extremidade do fio. o vendedor encobriu o bocal do telefone. - fa�a o favor de ligar ao diretor vernon t. tynan - disse num tom de urg�ncia. - diga-lhe que � o agente especial kiley a falar do gabinete de campo r. ficou � espera. poucos segundos. - diretor tynan? aqui kiley, em r. vieram tr�s. s� reconheci dois. um era o procurador-geral collins. o outro era o presidente do supremo maynard... n�o, n�o tenho d�vidas. collins e maynard.
cap�tulo s�timo estava-se a meio da manh� do dia seguinte, e o presidente wadsworth j� tinha telefonado duas vezes nos �ltimos quinze minutos. que se lembrasse, era a primeira vez que tinha evitado receber um telefonema do presidente. acompanhado por harry adcock, por tr�s de portas trancadas, o diretor tynan tinha estado profundamente ocupado a ouvir uma grava��o que adcock lhe entregara. era uma grava��o feita uma hora antes de uma conversa telef�nica entre o presidente do supremo maynard e o presidente wadsworth. maynard � que tinha feito a chamada, e a sua curta conversa com o presidente n�o durara mais de cinco minutos. o primeiro telefonema do presidente para tynan tinha chegado no preciso instante em que adcock lhe trouxera a grava��o. - diga-lhe que ainda n�o cheguei ao gabinete - respondera tynan � secret�ria. - diga-lhe que vai tentar localizar-me. o segundo telefonema do presidente tinha chegado enquanto tynan ainda ouvia a grava��o. - diga-lhe que ainda n�o cheguei - ordenara ele � secret�ria -, mas que me espera a todo o momento. ouvira a grava��o at� ao fim. adcock desligou o gravador. - quer ouvir outra vez, chefe? - n�o, uma vez chegou. - tynan recostou-se na cadeira.- devo dizer-lhe que
n�o estou surpreso. depois do aviso de kiley, de argo city, na noite passada, j� suspeitava que isto iria acontecer. agora confirma-se. bem, � melhor telefonar ao presidente e ver a rea��o dele. segundos depois, tynan obtinha a liga��o com o gabinete oval da casa branca. - desculpe n�o estar para o atender - disse tynan, resfolegando. - cheguei agora mesmo. tive dois encontros no exterior e esqueci-me de avisar a beth. h� alguma coisa urgente? - vernon, estamos tramados. podemos considerar a 35.a emenda antecipadamente morta. tynan simulou espanto. - o que diz, senhor presidente? - antes de lhe telefonar, recebi uma chamada do presidente do supremo maynard. - e ent�o? - queria saber se eu conhecia um lugar chamado argo city, no arizona. eu lembrei-me imediatamente. era o lugar de que me falou ontem � noite, quando me veio p�r ao corrente das �ltimas atividades do fbi. respondi a maynard que sim, que era uma comunidade que o fbi estava a acompanhar de perto h� v�rios anos. disse-lhe que voc� estava a conduzir pessoalmente as investiga��es dos crimes federais nessa cidade e que ia submeter brevemente as informa��es descobertas ao procurador-geral collins. - correto. - bem, maynard pensa de maneira diferente quanto �s suas atividades em argo city. tynan fingiu-se extremamente confundido. - n�o compreendo. que opini�o diferente � que pode ter? - ficou com a id�ia de que voc� tem estado a usar argo city como campo de ensaio para a 35.a emenda. e os resultados, embora a si lhe possam ter agradado, para ele foram horr�veis. - � absurdo. - eu tamb�m lhe disse que era absurdo... empreguei precisamente esse termo. mas o velho casmurr�o n�o se deixou convencer. - saiu da casca - disse tynan. - seja como for, est� contra n�s. disse que nunca se tinha pronunciado publicamente contra a emenda, mas que agora estava disposto a faz�-lo. ent�o tentou for�ar-me. - for��-lo, senhor presidente? a qu�? - disse que se eu retirasse publicamente o meu apoio � emenda, ele teria o maior prazer em continuar calado. mas se eu me recusasse a faz�-lo, se recusasse inverter a minha posi��o, ent�o ele entraria na li�a. - que diabo pensa ele que � para amea�ar o presidente da rep�blica? - disse tynan num tom indignado. - como � que lhe respondeu? - disse-lhe que sempre tinha estado ao lado da emenda e que era a� o meu lugar. disse-lhe que acreditava nela e que a queria ver ratificada como parte da constitui��o. - e ele, como reagiu? - disse: "ent�o for�a-me a agir, senhor presidente; demito-me do meu cargo e entro na arena pol�tica, para poder manifestar-me enquanto � tempo." disse que ia de avi�o para los angeles hoje � tarde. passar� todo o dia de amanh� na sua casa de palm springs. depois de amanh�, regressa a los angeles. ele disse: "vou dar uma confer�ncia de imprensa no hotel embaixador para anunciar a minha resigna��o do supremo tribunal, e vou anunciar o meu desejo de comparecer como testemunha perante o comit� judicial da assembl�ia e do senado da calif�rnia para me manifestar contra a aprova��o da 35.a emenda." - estar� realmente decidido a fazer isso? - n�o duvido, vernon. tentei incutir-lhe algum bom senso, mas n�o consegui. estar� na calif�rnia dentro de poucas horas. e n�s levaremos sopa. no momento em que ele se manifestar contra a emenda, estamos arrumados. vai virar a legislatura
de pernas para o ar. quem podia imaginar que tal havia de acontecer? todos os nossos esfor�os, todas as nossas esperan�as destru�das pela interfer�ncia de um homem. que havemos de fazer, vernon? - combat�-lo. - como? - n�o sei bem. vou pensar numa maneira. - pense em qualquer coisa... seja o que for. - tratarei disso, senhor presidente. tynan desligou, sorriu para o telefone, levantou a cabe�a e sorriu para adcock. piscou os olhos. - � claro que descobriremos uma maneira, n�o �, harry? chris collins estava bem disposto nessa tarde. sentia-se aliviado da tens�o das �ltimas semanas e pronto a descontrair-se. de regresso do trabalho, assim que entrara em casa, recebera o esperado telefonema de maynard. o presidente do supremo tinha chegado h� minutos ao aeroporto internacional de los angeles, mas antes de se dirigir com a mulher para o carro que os levaria a palm springs, tinha querido informar collins das ocorr�ncias da manh�. tinha efetivamente falado ao telefone com o presidente. tinha-lhe pedido que modificasse a sua posi��o quanto � emenda. o presidente tinha recusado. maynard tinha ent�o avisado o presidente que partia para los angeles, onde anunciaria a resigna��o do supremo tribunal, e tinha-lhe dito que tencionava manifestar-se, em sacramento, contra a aprova��o da emenda. passaria um dia na casa de palm springs para escrever o discurso de resigna��o e a dura declara��o aos comit�s dos �rg�os legislativos. - espero que isto seja suficiente - dissera maynard. - ser�, ser� - prometera collins, a arder em excita��o. - obrigado, senhor presidente. - eu � que lhe agrade�o, senhor collins. karen tinha estado a rondar por ali, desejando saber o que se passava, e, depois de desligar, collins pusera-se de p�, aproximara-se dela, come�ara a levant�-la no ar, lembrara-se da gravidez, e limitara-se a abra��-la e beij�-la. collins tinha-lhe explicado sucintamente, sem entrar em pormenores, sem referir argo city, a decis�o do presidente do supremo de se manifestar publicamente contra a emenda. karen tinha ficado verdadeiramente emocionada. - que maravilha, querido. finalmente, boas not�cias. - vamos comemorar - tinha proposto collins. tinha sentido a cabe�a e o corpo mais leves, como se se tivesse libertado de quilos de press�o. - vamos � cidade. escolhe o que quiseres. - o jockey club e tornedos rossini - tinha dito karen melodiosamente. - vai vestir-te enquanto marco mesa. s� n�s dois. nada de neg�cios, s� divertimento, prometo-te. meia hora mais tarde, depois de tomarem juntos uma ducha, estavam no quarto, quase vestidos. collins enfiava as cal�as do seu melhor terno azul-marinho, metia as fraldas da camisa para dentro, quando o telefone tocou. - atende tu - disse karen do toucador. - o verniz das unhas ainda n�o est� seco. collins foi ao toucador, rezando para que n�o fosse trabalho. poucas pessoas que tinham o seu n�mero n�o estavam relacionadas com o departamento de justi�a. levantou o auscultador. - est� l�? - senhor collins? - sim. - daqui fala ishmael young. n�o sei se se lembra... collins sorriu. como se algu�m pudesse esquecer aquele nome. - claro que me lembro. � o fantasma do diretor tynan. ishmael young respondeu muito s�rio:
- espero n�o ser recordado assim. mas � verdade. estou a trabalhar na autobiografia de tynan e o senhor teve a amabilidade de me receber no m�s passado. - hesitava, procurando as palavras. depois, com um tom de urg�ncia, desembuchou: -sei que � uma pessoa muito ocupada, senhor collins, mas seria humanamente poss�vel falar-lhe esta noite? n�o lhe ocuparei muito tempo... olhando para a mulher, collins interrompeu-o: - lamento, mas j� estou comprometido para a noite, senhor young. talvez me possa telefonar para o gabinete na segunda-feira, para combinarmos... - senhor collins, creia-me, n�o quero aborrec�-lo, mas � realmente importante. tanto para si como para mim. - bem... n�o sei... - por favor. o tom de voz de ishmael fez collins capitular. - est� bem. para lhe dizer a verdade, ia agora jantar ao jockey club com a minha mulher. - lamento imenso. mas... - n�o faz mal. encontramo-nos l� �s oito e meia. depois de desligar, viu karen olh�-lo interrogativa. collins resmungou: - � o escritor fantasma de uma autobiografia de vernon tynan. precisa falar comigo esta noite. infelizmente tenho curiosidade em saber porqu�. pelo menos � um tipo simp�tico. espero que n�o te importes, amor. - tolo, nunca me convenci que �amos estar s� os dois. - apontou para o telefone. - � melhor ligares para o jockey club e fazeres a marca��o para tr�s. al�m disso, estou t�o curiosa como tu. o jockey club, situado no hotel fairfax da avenida massachusetts, estava a transbordar por volta das nove horas dessa noite. no entanto, a melhor mesa do restaurante tinha sido reservada e guardada para chris collins e os seus convidados. - v�s - sussurrou collins � mulher - , h� algumas vantagens em ser procurador-geral. - ou em dar boas gorjetas - retorquiu karen. ishmael young, que tinha esperado por eles na esquina da rua, tinha-se mostrado invulgarmente ansioso, pedindo constantemente desculpa desde o encontro. agora, depois de as bebidas chegarem, olhando abstra�do para o seu jack daniels com soda, young desculpava-se novamente: - lamento imenso imiscuir-me nesta noite privada. - temos muito prazer na sua companhia - disse collins expansivo. sentia-se maravilhosamente e ergueu o seu scotch com �gua num brinde ir�nico. - pela derrota da 35.a emenda. - esperou que karen levantasse sua vodka com �gua t�nica e que o escritor se lhes juntasse no brinde, e bebeu. pousando o copo, disse a young: n�o sabia, pois n�o, que eu j� deixei de apoiar a 35.a emenda? - sei, sei - respondeu young. collins n�o escondeu a sua surpresa. - como � que soube? foi uma decis�o particular. ainda n�o a tornei p�blica. e mais, n�o a tornarei p�blica enquanto pertencer ao governo. - baixou a cabe�a para young. - como descobriu? - esquece-se - disse young -, que trabalho com o diretor tynan. ele sabe tudo e eu sou o seu fantasma. o aspecto de collins tornou-se sisudo. - estou a ver. ent�o ele tamb�m sabe? - sim. - devia ter imaginado. - tomou um grande gole da sua bebida. - tenho tend�ncia para o menosprezar, mas devo lembrar-me que ele � formid�vel. ca�ram num breve sil�ncio. ishmael young brincava com o copo, como se n�o fosse capaz de formular um pensamento. por fim, decidiu-se. - quis v�-lo esta noite por... por duas raz�es. uma diz-lhe respeito. a outra tem que ver comigo. primeiro a sua. mas n�o continuou imediatamente e collins interrogou-o:
- ent�o, que tem a dizer? - queria discutir sobre tynan. collins ficou exasperado. - se isso quer dizer que me pretende fazer mais perguntas sobre o que eu penso de tynan para o seu livro, deixe-me avis�-lo que n�o tem sorte. n�o tenho mais nada a dizer. - n�o, n�o � isso - disse young rapidamente. - n�o � nada a respeito do livro. n�o o incomodava durante o jantar para lhe perguntar coisas sobre tynan. vim porque lhe queria falar sobre tynan. queria... - dizer-me o qu�? - interrompeu collins impaciente. - o que � que me quer contar? karen aproximou-se dele e tocou-lhe no bra�o. - por favor, chris, deixa-o falar. ishmael young dirigiu um gesto de agradecimento a karen, puxou o n� da gravata e alisou os restos de cabelo, penteado de maneira a cobrir a calva. embora irritado pela agita��o do escritor e pela sua relut�ncia em entrar no assunto, collins acedeu ao pedido e esperou. - ele n�o gosta de si, como sabe - disse young. - quem, tynan? - n�o gosta mesmo nada de si - repetiu young. - isso n�o me admira - disse collins. - como descobriu? - estou com ele todas as semanas. estou com ele, mas ultimamente ele nem sequer parece dar-se conta disso durante metade do tempo. conversa e torna a conversar. responde ao telefone. faz chamadas. deixa apontamentos e memorandos por todo o lado. deixou de ser cauteloso comigo. � como se eu n�o existisse. talvez ele tenha raz�o. sou apenas um escrevinhador. - ent�o ele n�o gosta de mim! - repetiu collins. - eu decidi que se ele n�o gostava de si, isso era raz�o suficiente para eu ter a opini�o contr�ria. quando tynan se p�e contra qualquer coisa, ou qualquer pessoa, � porque � boa. como sabe, quando nos encontramos pela primeira vez, disse-lhe que ele n�o era pessoa do meu g�nero. cheguei � conclus�o que tamb�m n�o era do seu. compreendi, quer o admita ou n�o, que estamos do mesmo lado. foi por isso que o quis ver imediatamente, para o avisar de uma coisa. karen parecia preocupada, mas collins continuava impass�vel. - continue. - est� bem. - baixou a voz. - tynan e o fbi t�m andado a investig�-lo. - oh, chris - suspirou karen. ele fez um gesto para ela se calar. dirigiu-se ao escritor: - isso n�o � novidade. se � tudo... - mas eu pensei... - evidentemente que fui investigado pelo fbi. � esse o seu papel. tiveram de investigar quando o presidente me nomeou procurador-geral. � costume. - n�o, n�o compreendeu bem, senhor collins. sei bem que o investigaram h� semanas. foi a tal rotina. o que lhe quero dizer � que tynan ordenou uma nova investiga��o secreta a seu respeito, h� poucos dias. ainda est� em curso. collins semicerrou os olhos, tentando assentar id�ias e compreendendo finalmente. respirou fundo e disse: - ah, bem... tem certeza? - absoluta. de resto, n�o � a primeira investiga��o. no m�s passado, ouvi-o falar ao telefone sobre baxter e a igreja da sant�ssima trindade, e nessa altura aludiu ao caso collins... collins interrompeu: - bem sei. mas agora interessa-me mais o que disse antes. tem certeza absoluta? ouviu tynan dizer que me estavam a investigar de novo? - estou cert�ssimo. estive ontem com ele durante muito tempo. recebeu essa chamada. quando l� vou e estamos a trabalhar, ele geralmente s� atende chamadas do presidente ou de adcock. mas esta chamada n�o era do presidente. enquanto ele
estava ao telefone, fui ao banheiro, mas deixei a porta entreaberta. consegui ouvir o que ele dizia. o seu nome nunca foi mencionado. mas houve uma refer�ncia... n�o me recordo exatamente o que foi... que me esclareceu que estavam a falar sobre si. era em rela��o �s investiga��es que est�o a decorrer. no final, tynan disse a adcock: "bem, continue a tentar, e trate tamb�m dos outros." karen notara as �ltimas palavras. - os outros? que queria ele dizer? - n�o fa�o id�ia - respondeu ishmael young. voltou-se para collins. - mas n�o tenho d�vidas que a conversa era a seu respeito. faz sentido? haver� alguma raz�o para que ele o investigue agora? - talvez. sim, talvez haja - disse collins lentamente. - bem, pensei que n�o devia perder tempo. preveni-o e assim pode estar de sobreaviso. - agrade�o-lhe - disse collins sinceramente. - muito obrigado, ishmael... olhou distraidamente � sua volta, viu o criado e chamou-o. - acho que isto est� a pedir mais uma rodada de bebidas. depois de collins ter feito o pedido, karen chegou-se para mais perto do marido. tentava conter a agita��o que a dominava. - que quer isto tudo dizer, chris? - n�o tenho certeza, querida, provavelmente nada. - tentou anim�-la: -nem todas as investiga��es s�o sinistras. �s vezes fazem-nas por causa de algu�m que est� relacionado com a pessoa, para nos protegerem. - pode ser isso - concordou young rapidamente, tamb�m ele desejoso de acalmar karen. - mas pelo menos deviam dizer-te - alegou karen, dirigindo-se ao marido -, em vez de fazerem as coisas nas tuas costas. afinal tu �s seu superior hier�rquico. realmente, ele � um homem horr�vel. a segunda rodada de bebidas chegara e young ergueu o copo. - ora a� temos um motivo de brinde, senhora collins, bebo � sua opini�o.deu uma vista de olhos pelas proximidades para ver se algu�m estava a escutar. ele... bem sabem a quem me refiro... � o pior pulha... desculpem, o pior egoman�aco e o maior desonesto que conheci. beberam, e antes que pudessem retomar o fio da conversa, o criado de mesa apareceu para saber o que queriam. concordaram todos na sopa de cebola para come�ar. depois collins encomendou tornedos rossini para karen, esperou que young examinasse novamente a ementa, e pediu finalmente um bife stroganoff para o escritor e coq au vin para si. ishmael young tinha voltado ao seu jack daniels. - de fato, voltando a tynan - disse young, dirigindo-se a karen -, acho que ningu�m gosta dele, exceto, e estou s� a alvitrar, a m�e e adcock. todos os outros, ou se limitam a respeit�-lo, ou o temem, ou o odeiam profundamente. collins interessou-se. - exceto a m�e e adcock, disse voc�. isso da m�e foi s� uma suposi��o ou � verdade? ser� que ele tem uma m�e? - talvez n�o acredite, n�o �? que vernon t. tynan possa ter uma m�e. pois tem. aqui perto. rose tynan. oitenta e quatro anos de idade. vive no bairro dos anos dourados, em alexandria. ningu�m sabe disto, exceto adcock e eu, mas tynan vai v�-la todos os s�bados. sim, o monstro tem uma m�e. - j� a viu? - perguntou collins. - ah, n�o. verboten, proibid�ssimo. uma vez, quando falava com ele acerca da sua juventude, n�o conseguiu lembrar-se de nada, mas disse que a m�e devia saber. eu disse-lhe que n�o sabia que a m�e ainda era viva. ele respondeu: pois �, mas n�o falo nela por raz�es de seguran�a, para que possa estar tranq�ila. ele quis ter certeza que eu n�o diria isso no livro... n�o diria que a m�e ainda estava viva; mas permitiu-me que me referisse a ela e disse coisas bonitas a seu respeito. contou-me at� um pouco do seu passado. � tudo o que sei.
- interessante - disse collins. - nem sequer imaginava que tynan tivesse m�e - disse karen. - isso torna-o quase humano. - n�o se iluda - comentou ishmael young -, cal�gula tamb�m teve m�e, e jack o estripador. collins achava gra�a, mas karen insistia em que tynan continuasse a ser revelado por ishmael young. - senhor young, se n�o gosta do diretor tynan... - nunca disse que n�o gostava dele. odeio-o. - muito bem, se o odeia, porque � que trabalha com ele na autobiografia? - porqu�?! vou dizer-lhe porqu�... mas n�o prosseguiu, porque o criado tinha trazido um carrinho com as sopas de cebola e come�ava a servi-las. mal o criado se retirou, young retomou a conversa no ponto em que tinha ficado. - quando me encontrei com o seu marido, disse-lhe que tinha sido for�ado a escrever este livro. agora quero explicar-lhes, se me permitirem. vou apresentarlhe a outra raz�o que me levava a querer falar-lhe esta noite. disse-lhe que o primeiro motivo se relacionava consigo e o segundo comigo. espero que n�o se importe que o aborre�a com um problema pessoal. tem a ver com tynan e com o motivo que me leva a escrever o seu mein kampf. - por favor, continue - disse collins. - fui intimidado para escrever este livro dum raio - continuou young. - n�o queria faz�-lo, mas tynan obrigou-me. o que aconteceu foi o seguinte: vivi em paris durante algum tempo, colhendo material para um livro que queria escrever, n�o como fantasma, mas mesmo meu -um livro sobre a comuna de paris. entre as pessoas que entrevistei nessa altura, h� dois anos, havia um professor brit�nico exilado e a mulher. o professor henderson, que era um perito da comuna e que tinha sido deportado dos estados unidos h� muito tempo devido a ter-se envolvido em atividades anarquistas. os hendersons tinham uma filha, emmy, por quem me apaixonei profundamente. a primeira e �nica vez na minha vida. e ela tamb�m me amava. resolvemos casar. o �nico problema era que eu... estava casado. separado h� algum tempo, mas casado. combinamos que eu voltaria a nova iorque, obteria o div�rcio e mandaria vir emmy para casar com ela. bem, o div�rcio deu muito que fazer... - sei como essas coisas s�o - disse collins, pegando na m�o de karen. - mas l� acabei por conseguir. tinha um modesto best-seller, uma biografia pol�tica. concedendo todos os direitos de autor � minha mulher, obtive o div�rcio. preparei-me para mandar vir emmy. entretanto, vernon t. tynan descobriu-me e decidiu que eu era a �nica pessoa capaz de escrever a sua autobiografia. recusei, mas tynan n�o gosta de ser contrariado. fez investiga��es a meu respeito e soube tudo acerca de emmy e dos seus pais. teve conhecimento de que emmy, como os pais, tinha sido uma anarquista convicta. mas, ao contr�rio deles, era apenas passiva, uma intelectual. � uma pessoa delicada, doce e, politicamente, uma te�rica, nada mais. bem, tynan j� tinha o que queria. atirou-me com ela. se eu recusasse cooperar com ele no livro, impediria a entrada de emmy nos estados unidos, na medida em que era uma imigrante indesej�vel. pelo contr�rio, se eu colaborasse, faria vista grossa e permitiria a entrada dela quando o livro estivesse pronto. era uma cenoura pendurada � minha frente. o que � que eu podia fazer? tinha de a morder. foi assim que concordei em escrever o livro. - espantoso. obrig�-lo a trabalhar dessa maneira - disse karen. - ent�o qual � o seu problema? - quis collins saber. - o meu problema � que tynan enganou-me duas vezes. h� duas semanas, veio-me parar �s m�os todo um novo arquivo de material de pesquisas complementares para o livro: pap�is, grava��es, papeleiras. tynan deu-me para copiar. muita coisa era do antigo procurador-geral, mas a maior parte era material novo de tynan. eu tinha de tirar os meus apontamentos e devolver depois os originais a tynan. ora, ontem, ao passar uma vista de olhos por esses pap�is, cheguei a um memorando que tynan tinha escrito a baxter (com certeza esqueceu-se que ele ali estava), avisando-o que emmy
henderson, entre outras pessoas, devia ser proibida de entrar nos estados unidos por ser uma imigrante indesej�vel. o memorando tinha sido escrito depois da promessa dele. ainda pretende castigar-me por me ter recusado ao princ�pio. podem imaginar como fiquei. desejava atirar-lhe � cara este jogo duplo, mas tive medo. n�o sabia o que fazer. foi ent�o que me lembrei que devia existir uma c�pia deste memorando nos arquivos dos servi�os de imigra��o e naturaliza��o e que estes servi�os est�o sob a sua al�ada. � esta a outra raz�o por que desejava falar consigo hoje. para lhe perguntar se me podia ajudar. collins n�o hesitou. - sim, a imigra��o � um dos meus departamentos. posso intervir na admiss�o de imigrantes. terei muito prazer em ver a ficha da sua emmy. pela sua parte, mande-me os pap�is que tem do pedido de imigra��o. vou rever o caso. se ele for como diz... - garanto que est� limpa. - ent�o passarei por cima da recomenda��o de tynan e verei se ela � autorizada. - senhor collins, n�o posso exprimir-lhe a alegria que me deu. n�o sabe como apreciei a sua atitude, o que ela significa para mim. n�o faz id�ia de quanto lhe devo. collins sorriu. - sei o que eu lhe devo. mas isso n�o est� em causa. � um assunto de justi�a. karen era a �nica pessoa � mesa que ainda estava perturbada. - desejo que o fa�as, chris. mas estou preocupada com tynan. ele n�o vai gostar. pode vingar-se. - n�o te aflijas - disse-lhe collins. - sei como hei de tratar do assunto. olhou para young. - continue a tratar do seu livro como se n�o soubesse de nada. encarregar-me-ei do caso pessoalmente. ele nunca h� de chegar a saber o que se passou. karen pareceu aliviada, embora ainda pensasse em tynan: - ele costuma fazer coisas destas muitas vezes? refiro-me ao diretor tynan e �s suas interfer�ncias na vida das pessoas. comportar-se dessa maneira! � incr�vel! ishmael young fez que sim com a cabe�a, antes de continuar a comer. - n�o h� ningu�m como ele. com o seu aparelho de investiga��o, � o grande irm�o. tenho certeza de que n�o h� nada na sua vida, senhora collins, ou na sua vida, senhor collins, ou na minha pr�pria vida, que vernon t. tynan n�o saiba. cheguei � conclus�o que ele � o homem mais poderoso do pa�s. ou se ainda n�o o �, vai s�-lo assim que a 35.a emenda for aprovada. - n�o ser� aprovada - disse collins tranq�ilamente - depois de amanh� estar� morta e n�s voltaremos a viver. portanto, n�o se preocupe com tynan. coma, acabe de beber e seja feliz. esta noite estamos a comemorar. quando karen collins, vestindo uma fina camisa de noite azul-claro, emergiu para o quarto, todas as luzes estavam apagadas, exceto o candeeiro da sua mesinha de cabeceira. o rel�gio el�trico por baixo da luz disse-lhe que faltavam dez minutos para a uma da manh�. no extremo oposto da cama, j� enfronhado na roupa, o marido estava estendido com a cabe�a mergulhada na almofada, de costas para ela. ela levantou a roupa e deslizou para o seu lado da cama espa�osa. soerguendo-se, inclinou-se para ele. collins tinha os olhos fechados. - obrigado por esta noite encantadora, querido - murmurou. - hum, hum - respondeu ele fatigado. ela baixou a cabe�a e tocou-lhe com os l�bios no rosto. - boa noite, amor. est�s t�o cansado. dorme bem. pareceu-lhe ouvi-lo dar-lhe as boas-noites. olhou-o por breves instantes, depois voltou a deitar-se, deslizou para o seu lado da cama e deitou-se de costas, sem apagar a luz. ficou a olhar pensativamente para o teto. o seu esp�rito voltou � noite, ao jockey club, aquele escritorzinho rechonchudo chamado ishmael young. ele tinha dito ao princ�pio: o diretor sabe
tudo. ele tinha dito mais tarde: tenho certeza de que n�o h� nada na sua vida, senhora collins, ou na sua vida, senhor collins, ou na minha pr�pria vida, que vernon t. tynan n�o saiba. ela pensou nisso, enquanto olhava para o teto, e pensou nos tempos de fort worth, no texas. sentia a agita��o a crescer dentro de si, e subitamente teve medo. virando a cabe�a para ele na almofada, fixou o olhar na sua nuca, e umideceu os l�bios secos. ainda estava a tempo de falar. talvez n�o fosse conversa para a cama, talvez n�o fosse bom tema para um momento em que ele estava t�o cansado - mas chegara o momento de lhe falar. - chris - chamou-o ela. - amor, tenho de te dizer uma coisa... uma coisa que ainda n�o tive oportunidade de te contar. parece-me que chegou a ocasi�o. j� te devia ter dito, mas de qualquer forma � uma coisa que deves saber. passou-se pouco antes de nos conhecermos. ouve-me, amor. deixa-me contar-te tudo de uma vez. est� bem? esperou pela resposta, e acabou por a ouvir. ele ressonava levemente. demasiado tarde. com um suspiro preocupado, afastou-se, levantou a m�o para apagar a luz, depois deixou-se afundar profundamente na almofada, de olhos abertos na escurid�o. estremeceu: recordando o passado, antevendo o futuro. fechou os olhos, vivendo por tr�s deles algum tempo, at� o sono come�ar a espalhar a escurid�o dentro dela. talvez, pensou, num �ltimo pensamento reconfortante, talvez esteja a ser infantil e tonta, talvez esteja com medo da noite. n�o h� monstros l� fora. s� pessoas. pessoas como tu e eu. boa noite, chris. juntos, estamos em seguran�a, n�o � verdade? sentiu-se mergulhar para o fundo, sempre mais para o fundo, at� � terra onde come�am os sonhos. *** no edif�cio j. edgar hoover, harry adcock, tendo acabado o almo�o ligeiro, deixou o seu gabinete no s�timo andar e dirigiu-se ao elevador. o seu destino nesta tarde de domingo, como acontecia todos os dias desde que o chefe lhe dera essa ordem de prioridade absoluta, era o complexo de inform�tica do fbi nas traseiras do primeiro andar. ao descer no elevador, adcock recordava as palavras exatas de tynan: "comece pelo nosso procurador-geral collins. quero que o fbi proceda a uma investiga��o secreta a seu respeito... quero que collins seja investigado com dez vezes mais cuidado que da primeira vez... procurem toda a gente que tiver contactado com ele em qualquer altura da vida." adcock apressara-se a reunir duas das mais duras for�as de choque. a maior, cuidadosamente escolhida entre 10.000 agentes especiais no exterior, estava a trabalhar por todo o pa�s. estes agentes tinham sido selecionados n�o s� pela sua experi�ncia e per�cia, mas tamb�m pela sua lealdade para com o chefe. a menor tinha sido formada pelos agentes de maior confian�a e mais discretos do quartel general, e estavam concentrados no chamado trabalho documental. as duas for�as tinham mergulhado imediatamente na investiga��o de collins. tinham realizado o seu trabalho no maior sigilo e sem dar nas vistas (na medida do poss�vel), produzindo resmas de material nesses dias de trabalho intenso, a vida de collins tinha sido dissecada, bem como as vidas dos seus parentes, associados e amigos. at� � data, pelo menos at� � v�spera, os resultados tinham sido terrivelmente desapontadores para adcock. tudo o que se tinha descoberto sobre collins e os que lhe eram chegados era leg�timo, legal, correto, honesto e decente, confirmando a investiga��o anterior do fbi. quase todas as portas fechadas tinham sido escancaradas. nenhuma escondia um esqueleto. era estranh�ssimo e adcock n�o queria crer em tal. j� estava no servi�o h� muito tempo, tinha visto muita maldade nos seres humanos para acreditar em pureza. se se cavar bem fundo e na extens�o conveniente, se se cavar duramente, surge lama mais cedo ou mais tarde. � claro que tinha mantido tynan ao corrente das investiga��es. todavia, uma
vez que tynan n�o estava interessado em conhecer pormenores, mas sim resultados finais, adcock n�o lhe contara os insucessos di�rios em desenterrar qualquer coisa de valor pr�tico. limitara-se a dizer-lhe que o trabalho estava a andar; que estavam a ser seguidas hip�teses e pistas desde oaklandat� Albany. felizmente, o dia de hoje seria melhor e haveria qualquer coisa satisfat�ria e �til para relatar ao chefe. chegado ao primeiro andar, adcock saiu do elevador e ultrapassou a fonte ornamental do complexo de inform�tica do fbi. l� dentro, deitou os olhos � placa mural em que se lia: centro nacional de informa��o criminal. sentiu-se mais seguro. os seus olhos deslizaram ent�o pela aparelhagem da ampla sala: a m�quina de escrever autom�tica, as unidades de grava��o magn�tica, o impressor de 1100 linhas por minuto. sentia-se cada vez mais seguro. nenhuma impureza humana podia escapar � detec��o daquelas m�quinas, tal como nenhuma fraqueza humana podia deixar de ser detectada pelos persistentes rastrejadores de sangue do pa�s. vagueando pelo complexo, adcock procurou mary lampert. era a oficial mais graduada das comunica��es e o seu principal contato ali embaixo. incapaz de a localizar, parou para perguntar por ela a um operador. soube que tinha sa�do h� pouco e que voltaria da� a poucos minutos. descobriu uma cadeira e sentou-se para esperar. observando novamente a rede de computadores, lembrando-se da divis�o de identifica��o l� em cima, pensando nos agentes do exterior, adcock ficou certo de que teria boas not�cias para o chefe mais cedo ou mais tarde. era s� uma quest�o de tempo. a linguagem na cabe�a de adcock era a linguagem das infind�veis estat�sticas. para se sentir ainda melhor, recordou-as. rede de computadores. provenientes de 40.000 delega��es federais, estaduais e regionais, os dados vinham alimentar os computadores. eram recolhidos e arquivados dados n�o s� de pessoas com cadastro, n�o s� de potenciais criminosos ou perturbadores da ordem, mas de dissidentes em geral, de congressistas, de membros do governo, de cr�ticos dos estados unidos, enfim, de praticamente todos os indiv�duos com mais de dez anos de idade. considere-se apenas o registro de cadastros. cerca de 49% da popula��o seria presa pelo menos uma vez na vida, tendo em conta as infra��es ao c�digo da estrada. 90% dos adultos negros seriam presos pelo menos uma vez na vida e o mesmo aconteceria a 60% dos adultos brancos do sexo masculino. tudo o que se referia a essas pris�es estava registrado em bancos de dados. com um n�vel t�o elevado na taxa de criminalidade, mesmo excluindo as viola��es de tr�fego, cerca de nove milh�es de pessoas seriam presas nesse ano. perto de metade n�o seriam condenadas ou veriam os processos arquivados ou seriam julgadas e absolvidas, mas todas elas passariam a constar nos bancos de dados. al�m das informa��es de 275 milh�es de registros de pol�cia havia tamb�m dados, devidamente guardados, de 350 milh�es de notas de casos m�dicos, de 290 milh�es de relat�rios psiqui�tricos e de 125 milh�es de dossiers de cr�dito comercial. divis�o de identifica��o. em cada dia, em cada vinte e quatro horas, chegavam ao fbi cerca de 34 mil jogos de impress�es digitais, sendo 15 mil provenientes das esquadras de pol�cia e 19.000 dos servi�os governamentais, bancos, companhias de seguros, reparti��es de licen�as e outras fontes. num �nico dia, recorde-se. em 1975, o fbi tinha 200 milh�es de jogos de impress�es digitais nos arquivos. hoje, devia ter 250 milh�es. um ter�o dos cart�es estava nos arquivos criminais e dois ter�os em arquivos comuns. agentes do fbi no exterior. eram mais de 10.000, incluindo a for�a de choque que estava a trabalhar nesta investiga��o. a for�a de choque tinha andado a contatar com familiares, amigos, conhecidos, associados em neg�cios, a visitar escolas, clubes, donos de lojas, banqueiros, m�dicos, advogados. eles l� andavam, sim, a gravar e a instalar escutas, a espiar como sombras e a seguir o rastro, a contatar informantes, a tirar fotografias. eles l� andavam a entrar em apartamentos e casas de propriet�rios ausentes, a examinar o conte�do de caixotes de lixo, a abrir e inspecionar a correspond�ncia que voltavam a fechar. maravilhoso. quem podia escapar ao ex�rcito de tynan? se houvesse impurezas,
seriam encontradas, sem d�vida que seriam encontradas. harry adcock estava contente por ter feito o invent�rio mental. sentia-se cada vez melhor. as suas divaga��es foram interrompidas por um rosto feminino que se aproximou do seu. sentiu o perfume, e ouviu-a sussurrar: - ol�, harry. ele levantou a cabe�a. miss lampert tinha voltado. - fi-lo esperar muito? - n�o, n�o. o que temos hoje? - venha ao gabinete. no austero cub�culo, sentou-se em frente da secret�ria dela. viu-a dirigirse ao arquivo � prova de fogo e abri-lo. mary lampert tinha 32 anos e 1,70 m de altura. usava um penteado fofo e tinha olhos verdes frios, nariz curto e largo, l�bios carnudos, �midos e sensuais. o vestido n�o era � medida dos seus peitos altos e firmes, nem das generosas coxas, revelando a linha das cal�as. o rosto cravado de acne de adcock descontraiu-se com aquela vis�o de prazer. ela regressou para junto dele. - aqui tem - disse ela, entregando-lhe uma pasta de papel.- s�o os �ltimos dados relativos �s �ltimas vinte horas. ele abriu a pasta e esquadrinhou, voltando as p�ginas. quando acabou, o prazer tinha-lhe abandonado o rosto, substitu�do pelo desgosto. - que diabo - disse. - nada. mary fez que n�o com a cabe�a. - foi o que tamb�m me pareceu. parece uma investiga��o feita ao clube dos escuteiros e guias da am�rica. - temos de continuar a tentar, mary. o chefe espera... o telefone tocou e ele interrompeu a conversa enquanto mary atendia. - ah sim? - disse ela ao telefone. - vou imediatamente. adcock olhava-a interrogativamente. - divis�o de identifica��o - disse ela. - espere aqui; volto num instante. � sobre o nosso caso, mas n�o sei o qu�. dirigiu-se � porta. adcock viu-a sair, com o el�stico das cal�as marcado ao longo das ancas. n�o se podia esquecer de lhe dizer para levar aquele vestido da pr�xima vez que fosse chamada ao chefe. isso orientou os seus pensamentos para vernon t. tynan, para a sua responsabilidade perante tynan: sempre tinha feito tudo para agradar a tynan, para o fazer feliz, e n�o o podia abandonar nesta persegui��o ao traidor do collins. nunca tinha deixado ficar mal o chefe at� ent�o e n�o queria que isso acontecesse agora, especialmente num momento em que estava tanta coisa em jogo. tynan tinha-o protegido sempre, e, raios!, daria a vida por tynan se fosse necess�rio. sabia perfeitamente que as pessoas desta cidade mesquinha falavam das rela��es entre eles, entre ele e tynan. sempre tinha suspeitado de tais conversas, acabando por ter a confirma��o numa festa da alta sociedade de washington -gente do congresso, do minist�rio dos estrangeiros, enfim, o costume- durante a qual gravou um grupo que conversava. ouviu-os chicanar e rir de vernon t. tynan e harry adcock, a quem chamavam homossexuais. sempre soubera que falavam deles, mas ali tinha a prova: tynan e ele, duas belas! nunca tinha ficado t�o furioso. n�o que se importasse, mas era uma brincadeira falsa e injusta. na verdade, adcock amava tynan, mas como um homem pode amar outro, sem ser homossexual. que diabo, ele amava tynan e venerava-o. quanto ao resto, adcock j� tivera uma mulher - h� tanto tempo que j� n�o se lembrava do seu aspecto. mas ela tinha morrido antes de poderem casar, muito antes de ter entrado para o fbi. tynan n�o era um substituto dela, era antes o pai que jamais tinha conhecido, pois passara a mocidade num orfanato. de fato, dera-se com algumas mulheres, poucas, durante os primeiros anos de fbi, simples companheiras de cama; mas assim que come�ou a trepar no servi�o, tynan imp�s-se e n�o houve mais nenhuma. tinha-se dedicado ao servi�o - a tynan e ao servi�o - e a mais ningu�m. tinha jurado celibato, tomando o fbi como ordem religiosa.
quanto a vernon t. tynan, que estupidez! aqueles pedantes n�o viam que tynan era normal quanto a mulheres, mas era cuidadoso e discreto, dada a sua posi��o cr�tica. certo dia - recordava adcock vagamente -, tynan tinha sido visitado por algumas raparigas, enviadas por uma senhora agradecida de baltimore. mas como tynan n�o gostava nem ousava comprometer-se muito, tinha-as mantido � dist�ncia. consentira apenas que falassem com ele. mas h� tr�s anos, quando a tal senhora morreu ou se retirou do neg�cio, tynan tinha descoberto outra sa�da para as suas necessidades sexuais. tinha de ser cauteloso, mas felizmente tinha conseguido uma solu��o brilhante. o fbi estava a aumentar os seus quadros de pessoal feminino, n�o s� de secret�rias e simples empregadas, mas tamb�m de agentes especiais e operadoras de computadores; tynan tinha alvitrado que o seu velho ajudante adcock filtrasse as concorrentes femininas e fizesse uma prova com as melhores a respeito da sua experi�ncia com computadores e da sua condescend�ncia sexual, escolhendo apenas as mais qualificadas. mary lampert tinha conseguido o emprego. o seu trabalho normal era de cinco dias por semana no quartel general do fbi e uma noite por semana na casa suburbana de vernon t. tynan. uma noite por semana (todas as sextas-feiras � noite), mary lampert, disfar�ada com pastas debaixo do bra�o, ia a casa de tynan, uma casa bem protegida na ge�rgia, perto de rock creak park. acompanhava o chefe em tr�s ou quatro bebidas, despia-o e despia-se. brincavam na cama. depois, metia a cabe�a entre as pernas dele. era como um rel�gio, todas as semanas, uma vez por semana, durante anos. quem se julgavam aqueles pedantes para dizerem que tynan n�o era normal? ena, pensou adcock, como ficariam espantados aqueles pedantes da capital se soubessem que o diretor e o adjunto eram seres humanos normais: provavelmente os �nicos seres humanos normais (� exce��o do presidente) no meio dessa comunidade depravada. e tamb�m era normal, pensou adcock, que ele se fizesse valer junto de tynan pela sua lealdade e dedica��o como servidor daquele que era efetivamente o maior homem dos estados unidos da am�rica. era por isso que n�o podia desapontar tynan neste important�ssimo assunto da investiga��o sobre collins. no entanto, apesar da aplica��o e dos esfor�os, n�o tinham ainda conseguido abrir uma brecha. estava novamente a ficar desolado e desanimado, quando viu que mary lampert, a primeira oficial das comunica��es, se encontrava � sua frente, sorrindo-lhe. com um floreado, pousou uma ficha de impress�es digitais e um molho de pap�is agrafados no colo de adcock. - boas not�cias, harry. ele ficou pasmado. - o que �? - a investiga��o collins. acaba de chegar. veja voc� mesmo. ele pegou no molho de pap�is, examinou a ficha de impress�es digitais, confuso, e come�ou a folhear os pap�is um a um. a perplexidade depressa se desvaneceu. - meu deus! - disse ele, sorrindo finalmente. *** faltavam cinco minutos para as oito da manh�. chris collins, em frente do espelho da casa de banho, acabava de se barbear. ensaboou mais uma vez a cara, curvou-se sobre o lavat�rio, espalhou �gua quente pelo rosto e limpou o sab�o. endireitando-se, come�ou a cantarolar enquanto se via ao espelho. nos �ltimos tempos, o espelho tinha refletido uma cara esguia e magra que parecia constantemente macilenta e carregada de anos. mas nessa manh�, o seu rosto estava (ou parecia estar) t�o saud�vel e fresco como o de um jovem atleta. talvez a transforma��o se devesse ainda � sua alegria. desde o telefonema do presidente do supremo maynard, dois dias antes, quando ele lhe confidenciara que ia resignar do cargo e manifestar-se contra a 35.a emenda, collins tinha ficado realmente animado. nem mesmo as �ltimas not�cias, durante o jantar da noite anterior (o aviso de ishmael young de que estava a ser secretamente investigado) tinham destru�do a sua boa disposi��o. no dia anterior, refletindo sobre o comportamento de tynan, tinha considerado v�rias vezes a hip�tese de enfrentar o diretor e revelar o que sabia. claro que isso embara�aria tynan e levaria ao fim imediato da investiga��o. mas tinha acabado por decidir n�o
se importar com isso. deixaria tynan fazer o seu jogo in�til. afinal, tynan nada descobriria. n�o havia nada a esconder no passado de collins nem na sua presente atividade. al�m disso, a sua competi��o com tynan estava prestes a terminar. collins sabia que agora tinha todos os trunfos. persuadir john g. maynard a manifestar-se tinha sido a vit�ria final. desse modo, todas as t�ticas da oposi��o seriam anuladas. o sonho de gl�ria de tynan, o sonho de conseguir poderes ditatoriais atrav�s da emenda, terminaria no momento em que maynard erguesse a voz em sacramento contra a emenda. mesmo a arma misteriosa de tynan, o documento r, fosse ele o que fosse, poderia ser esquecido. apesar do aviso, feito por baxter no leito de morte, de que devia ser exposto, o documento r tornar-se-ia inoperante e inofensivo com a declara��o de maynard hoje em sacramento. esfregando a cara para a secar, collins tirou uma camisa azul de um cabide e vestiu-a. enquanto a abotoava, calculava qual seria o momento exato da vit�ria da democracia nos estados unidos. o rel�gio da prateleira de azulejos sob o espelho da casa de banho marcava exatamente oito horas aqui em washington. portanto, eram cinco da manh� na calif�rnia. neste momento, maynard devia estar a levantar-se e a preparar-se para a viagem de duas horas de palm springs a los angeles. a�, �s nove horas, quando collins interrompesse o trabalho para almo�ar, maynard estaria a dar a confer�ncia de imprensa, espantando a na��o com a resigna��o e espantando a calif�rnia com a comunica��o de que ia voar para a capital no sentido de exortar os �rg�os legislativos a derrotar a 35.a emenda. na capital estadual, �s tr�s horas, quando collins regressasse do servi�o para jantar, maynard estaria a ler a sua declara��o escaldante contra a emenda, primeiro perante o comit� judicial da assembl�ia, depois no comit� judicial do senado. da� a algumas horas, a assembl�ia da calif�rnia estaria a votar a emenda � Constitui��o, sendo depois a vez do senado. mas nem sequer seria necess�rio o senado. morreria para sempre na primeira apresenta��o � Assembl�ia. a opini�o de maynard, a sua influ�ncia e o seu prest�gio, dominariam o dia. collins deu-se conta que estava a assobiar o "glory, glory, hallelujah", achou que isso estava desatualizado e parou. tinha posto a gravata e dado o n�, preparando-se para tomar um pequeno almo�o apressado com karen antes de correr para o servi�o, quando ouviu bater � porta da casa de banho. - chris? - sim? - est� aqui um indiv�duo que quer falar contigo, um tal dorian schiller. diz que � um amigo... collins abriu a porta. - dorian schiller? - n�o conheci o nome. por isso n�o o deixei entrar. vou dizer-lhe... karen preparava-se para se afastar, quando collins se aproximou e a agarrou pelo ombro. - n�o, espera karen. � o nome falso que dei a donald radenbaugh. - quem? - n�o interessa. explico-te depois. � um amigo. deixa-o entrar. eu j� vou. enquanto ela se dirigia � porta da rua para receber radenbaugh, collins foi buscar o casaco do terno ao quarto de toilette. vestindo-o, interrogava-se sobre o que quereria radenbaugh �quela hora. ap�s o regresso de argo city, ainda s� o vira uma vez, embora falasse diariamente com ele pelo telefone. tinha instalado radenbaugh num apartamento de duas divis�es do madison hotel, na 15.a avenida, esquina da rua m, e tinha-lhe levado todos os apontamentos dispon�veis e investiga��es feitas sobre um plano alternativo de combate � criminalidade e ao desrespeito pela lei no pa�s. era um plano alternativo � 35.a emenda, que collins pretendia apresentar ao presidente na primeira reuni�o subseq�ente � rejei��o da emenda. o aparecimento de radenbaugh era uma surpresa. collins tinha-lhe dito claramente que seria melhor n�o se aventurar al�m das proximidades do hotel, que
se fechasse no seu apartamento. ele tinha sido muito conhecido em washington. embora o seu aspecto tivesse sido consideravelmente alterado, algu�m que o tivesse conhecido poderia reconhec�-lo. isso poderia trazer problemas, possivelmente at� a sua morte. collins queria-o em washington apenas durante o tempo necess�rio para desenvolver a nova lei criminal, enquanto se desenvolviam esfor�os para lhe arranjar um emprego numa pequena comunidade de uma regi�o remota do pa�s. preocupado, collins saiu do quarto de toilette, atravessou o banheiro e o quarto, percorreu o corredor e entrou na sala de estar. esperava que radenbaugh se tivesse sentado, mas estava de p�, passeando agitado. karen estava junto da mesa, pousando o tabuleiro do pequeno almo�o. - donald - cumprimentou-o collins -, n�o o esperava por c�. j� conhece a minha mulher...? randenbaugh parou, como se n�o tivesse ouvido, mas karen declarou que j� se tinham apresentado mutuamente. acrescentou: - vou buscar suco, caf� e torradas e deixo-os conversar. karen saiu. radenbaugh fixou collins, com a desgra�a estampada no rosto. - m�s not�cias - disse finalmente -, muito m�s not�cias, chris. antes que collins pudesse reagir, radenbaugh continuou rapidamente. - est�o a dar na televis�o desde as seis da manh�. ligo sempre o aparelho quando me levanto. tentei telefonar-lhe imediatamente, mas esqueci-me do seu n�mero. por isso, vim c�. collins n�o se mexeu. palpitava-lhe um desastre. - o que foi, donald. voc� parece um frangalho. - a pior not�cia poss�vel - disse radenbaugh, respirando como um asm�tico. chris, n�o sei como dizer-lhe... - diabos, o que foi? - o presidente do supremo e a mulher foram assassinados na cama, esta noite, mortos por um vulgar assaltante de casas. collins sentiu os joelhos fraquejarem. - n�o posso acreditar. - em palm springs, na calif�rnia, por volta das duas da manh�. maynard e a mulher, abigail, estavam na cama a dormir. aquilo que percebi foi que algu�m entrou pelo port�o de servi�o. essa pessoa introduziu-se no quarto. parece que maynard j� estava acordado. tentou sair da cama ou fez um movimento. o pistoleiro atirou duas vezes com uma walter de 9 mm p-38. atingiu-o no peito e na cabe�a... teve morte instant�nea. o barulho acordou a mulher e o assassino alvejou-a com tr�s balas... - meu deus, nunca ouvi uma coisa assim! - at� fiquei arrepiado. n�o sabia como lhe havia de comunicar. collins vagueava desconsolado pela sala, batendo constantemente com o punho na palma da m�o. - uma trag�dia assim. quem podia imaginar? e n�o � s� o assassinato sem sentido de um dos maiores homens da na��o, � tamb�m a destrui��o da nossa �ltima esperan�a em acabar com a amea�a de uma ditadura. que diabo, para onde vai este pa�s? - quer dizer, para onde ir� - corrigiu radenbaugh. - onde tem o aparelho de televis�o? - aqui - disse collins dirigindo-se para o corredor. radenbaugh seguiu-o. - est�o a transmitir direto de palm springs desde as seis da manh�. vamos ver o que se est� a passar. entraram no escrit�rio coberto de prateleiras de livros. a televis�o estava anichada na parede. radenbaugh sentou-se no sof� em frente, enquanto collins ligava o aparelho e o sintonizava. collins sentou-se no bra�o de uma cadeira e empurrou-a para perto da televis�o. a c�mara focava a frontaria da casa moderna e deserta onde a trag�dia tinha ocorrido. um cord�o de policiais estacionava no passeio em frente. detetives
� paisana entravam e sa�am pela porta principal. no exterior, dezenas de vizinhos, muitos ainda em pijama, observavam a cena, abalados. agora a c�mara m�vel focava o rep�rter da televis�o, aproximava-se dele. "foi este o palco da trag�dia, ainda n�o h� tr�s horas -informava o locutor. - aqui, nesta rua lateral, calma e pac�fica do mais famoso ref�gio da calif�rnia, quase deserto no tempo quente de ver�o, o presidente do supremo tribunal dos estados unidos da am�rica, john g. maynard, e a sua esposa, encontraram a morte violentamente, �s m�os de um assaltante desconhecido. - o locutor, segurando o microfone, apontava para a casa vivamente iluminada pelos projetores da pol�cia e da televis�o. - os corpos foram retirados h� pouco mais de uma hora. n�o s� os corpos do presidente do supremo e da esposa, mas tamb�m o do assassino ainda n�o identificado, que foi abatido pelas balas da pol�cia antes de poder fugir. - o locutor levantava o microfone � medida que se acercava da c�mara. vou recapitular uma vez mais o que se sabe sobre o que aconteceu aqui em palm springs nesta madrugada..." collins sentou-se hipnotizado em frente da televis�o, escutando. tudo levava a crer que o intruso estava familiarizado com a disposi��o da casa de maynard. depois de entrar pelo port�o de servi�o, dirigira-se ao quarto para se apoderar dos valores da senhora maynard. ao entrar no quarto, acordara o presidente maynard. a pol�cia pensava que maynard, percebendo o que se estava a passar, se teria soerguido, premindo um bot�o de alarme colocado na parede. o alarme tinha sido instalado seis anos antes pela pol�cia local para dar maior seguran�a ao eminente cidad�o. o alarme silencioso estava diretamente ligado � esquadra. a pol�cia tinha sido alertada imediatamente. entretanto, assim que vira maynard mexer-se, o assassino tinha aberto fogo sobre ele. quando a senhora maynard acordara, erguendo-se, o assassino tamb�m tinha disparado sobre ela. tinham morrido ambos em poucos segundos. ent�o, em vez de fugir, o assassino tinha continuado no quarto para completar a sua tarefa. desconhecendo que a primeira v�tima tinha acionado o alarme silencioso, esquadrinhara o quarto � procura de dinheiro e j�ias. depois de ter metido ao bolso o colar e os brincos da senhora maynard e a carteira do presidente tinha-se retirado pelo mesmo caminho por onde entrou. no passeio fronteiro, dirigira-se para o plymouth, anteriormente alugado em los angeles, que estava estacionado � dist�ncia de dois quarteir�es. de repente, fora apanhado pelo holofote de um carro da pol�cia que se dirigia para ele. tinha come�ado a correr, parando depois para abrir fogo sobre os policiais quando estes tinham sa�do do carro. os policiais tinham-lhe respondido com uma saraivada de balas, que o deixaria morto no passeio. al�m dos objetos roubados que levava nos bolsos, n�o tinha nada de pessoal. a sua identidade continuava a ser desconhecida. o rep�rter da televis�o tinha acabado a recapitula��o. - agora voltamos aos est�dios em los angeles para conhecermos as �ltimas not�cias sobre o assass�nio do presidente maynard e da sua esposa. na cadeira de bra�os, observando, ouvindo, collins sentia um amargo desespero. - com que fim? - perguntou-se. - tem aqui um cigarro - disse radenbaugh, oferecendo-lhe o ma�o aberto. collins tirou um cigarro, mas pousou-o depois na mesa. - � melhor tomar primeiro um caf�. levantou-se e voltou � sala. pegou no tabuleiro que karen l� deixara e levou-o para o escrit�rio. serviu o caf� morno a radenbaugh e a si pr�prio. enquanto bebia, collins sentou-se novamente na cadeira e prestou aten��o � televis�o. um locutor, sentado atr�s de uma mesa em meia-lua, pegou numa folha que acabara de ser posta � sua frente. ''� outra informa��o de �ltima hora - anunciou. - o presidente do supremo maynard tinha chegado ontem inesperadamente a los angeles. nem os membros do seu pessoal em washington nem os seus colegas do supremo tribunal sabem explicar esta
viagem repentina que n�o estava programada. mas j� possu�mos alguns elementos. logo ap�s a chegada a los angeles, o presidente e a esposa partiram para a resid�ncia de inverno em palm springs. na manh� seguinte, o presidente maynard contactou com um velho amigo em sacramento, james guffey, porta-voz da assembl�ia do estado, e declarou que tencionava voar para a capital no dia seguinte (isto �, hoje � tarde) para comparecer perante o comit� judicial da assembl�ia. disse que queria discutir a 35.a emenda com os membros do comit� antes de ela ser posta � vota��o. guffey ficou encantado e informou o presidente do supremo que seria ouvido na qualidade de �ltima testemunha e mais importante. guffey afirmou esta manh� que n�o fazia id�ia do que maynard ia dizer sobre a emenda e que ele n�o lhe tinha revelado se tomaria uma posi��o contr�ria ou favor�vel. guffey acrescentou que durante a conversa telef�nica tinha criticado o presidente do supremo por ir para palm springs fora da esta��o: 'o que � que est� a� a fazer?', perguntou-lhe guffey, e maynard respondeu: 'precisava de um lugar onde tivesse paz para pensar. tencionava escrever a minha comunica��o aqui. mas resolvi levar o dia a pensar e amanh� falarei de improviso perante o comit�. j� tenho uma id�ia geral do que vou dizer'." "agora, a morte calou o presidente do supremo e nunca saberemos o que ele tencionava dizer sobre este importante assunto: a vota��o crucial da 35.a emenda na calif�rnia. tamb�m soubemos que, antes de seguir para sacramento, o presidente do supremo tencionava dar uma confer�ncia de imprensa no hotel embaixador, em los angeles. se ele ainda estivesse vivo, a confer�ncia realizar-se-ia daqui a poucas horas. acabei de ser informado que o secret�rio de imprensa do presidente dos estados unidos ir� ler daqui a pouco uma comunica��o do presidente wadsworth sobre a morte violenta e intempestiva do presidente do supremo. agora vamos passar ao nosso rep�rter em washington, junto da casa branca..." collins olhou para radenbaugh. - parece-me que � tamb�m o nosso funeral, donald. radenbaugh acenou tristemente com a cabe�a. collins ergueu os olhos. o choque inicial tinha passado e s� restava uma intensa depress�o. - sabe, n�o me lembro de ter acontecido nada pior na minha vida. - com um gesto indicou a televis�o. - agora o pa�s � deles. - tudo leva a crer - concordou radenbaugh. ficaram ambos em sil�ncio, concentrados no aparelho de televis�o. o secret�rio de imprensa da casa branca estava a acabar de ler o elogio e as condol�ncias do presidente wadsworth. a aten��o de collins diminuiu. a declara��o do presidente consistia nas palavras habituais, ocas, banais, por vezes sem sinceridade: quando um grande homem morre, parte da humanidade morre com ele. n�o restam d�vidas acerca da grandeza de john g. maynard. agora pertence ao pante�o dos imortais que tentaram dar uma verdadeira justi�a � sua terra. l� est�o marshall, brandeis, holmes, warren, e, acima deles, bem alto, john g. maynard. passa a pertencer � hist�ria. e, juntamente com maynard, tamb�m a democracia passa � hist�ria, pensou collins. morto. uma rel�quia do passado. sem maynard a vaga do futuro era a 35.a emenda, vernon t. tynan - a na��o seria fundida no seu molde. mal pensara em tynan, quando ouviu o seu nome anunciado pelo rep�rter da televis�o em servi�o na casa branca. "...vernon t. tynan. vamos passar ao gabinete do diretor do fbi." instantaneamente, a familiar cabecinha pequena de tynan e os seus ombros largos apareceram na televis�o. a sua cara fechada tinha assumido o conveniente aspecto de pesar e luto. come�ou a ler um papel que tinha na m�o: ''esta morte brutal e insensata que levou um dos mais renomados humanit�rios da na��o foi uma perda que n�o pode ser expressa por simples palavras. o presidente do supremo tribunal era um amigo da na��o, meu amigo pessoal, um amigo da verdade e da liberdade. a sua perda feriu a am�rica, mas em aten��o a ele a am�rica tornar-se-� suficientemente forte para sobreviver e sobreviver� a todos os crimes, a todos os desrespeitos da lei, a todas as viol�ncias. estou certo de que
se o presidente do supremo estivesse vivo, quereria que encar�ssemos esta trag�dia num sentido mais amplo. esta sistem�tica dizima��o dos nossos dirigentes e da nossa cidadania tem de ser estancada, para que os americanos possam passear nas ruas e dormir com a certeza absoluta de que est�o a salvo e livres." tynan olhou para a c�mara e pareceu encontrar os olhos de collins, que o fixava ferozmente. pigarreou e continuou a falar: "felizmente, o degenerado assassino n�o escapou. tamb�m encontrou a sua morte violenta. acabei de ser informado que esse assassino foi identificado. a sua identidade ser� indicada em breve pelo fbi. basta dizer, por agora, que era um antigo condenado, um homem com um longo cadastro, a quem se permitiu que andasse em liberdade e vagueasse pelas nossas ruas ao abrigo das disposi��es amb�guas e frouxas da declara��o de direitos. se a declara��o de direitos tivesse sido alterada h� um m�s, este terr�vel crime poderia ter sido evitado. embora a emenda s� possa entrar em vigor em caso de conspira��o ou rebeli�o, o simples fato de ser aprovada geraria uma atmosfera positiva que relegaria as mortes como esta para os anais do passado. senhoras e senhores, recebemos hoje uma li��o, neste dia de pesar. vamos trabalhar juntos, de m�os dadas, para tornar a am�rica segura e forte." a cara de tynan desapareceu para dar lugar � do locutor no est�dio da televis�o em washington. ignorando o aparelho, collins aproximou a cadeira de radenbaugh. estava furioso. - este pulha! como se atreve? ouviu-o? a fazer a cama � maldita emenda antes do corpo de maynard ter arrefecido. - e lan�ando-a ao ar de tal maneira que at� parece que maynard a teria recebido de bra�os abertos - disse radenbaugh. apontou para a televis�o. - olhe, parece que v�o identificar o assassino. - que interessa isso agora... - disse collins, que no entanto prestou aten��o. "sim, j� sabemos a identidade do indiv�duo que assassinou o presidente do supremo - dizia o locutor. - acaba de ser confirmada e comunicada. o assassino foi definitivamente identificado como um tal ramon escobar, de trinta e dois anos de idade, cidad�o americano de origem cubana, residente em miami, na fl�rida. temos aqui as fotografias retiradas dos arquivos do fbi..." surgiram de imediato duas fotografias de ramon escobar, uma de frente, outra de perfil. mostravam um homem novo, moreno, mal encarado, de cabelo preto encaracolado, patilhas compridas, ma��s do rosto salientes e com o tra�o l�vido de uma cicatriz no maxilar. - ah, n�o! - arquejou radenbaugh. - n�o! collins, estupefato, voltou-se para ele a tempo de o ver p�r-se de p� num salto. os seus olhos estavam arregalados, as fei��es raiadas de sangue e continuava a apontar um dedo para a televis�o, tentando dizer qualquer coisa. confuso, collins aproximou-se do companheiro, tentando acalm�-lo. o dedo que radenbaugh apontara para a televis�o dera lugar a um punho. radenbaugh amea�ava a televis�o com o punho crispado. as palavras cavernosas irromperam finalmente. - � ele, chris!-bradou radenbaugh. - � ele, � ele. collins agarrava-o. - donald, domine-se. o que �? - olhe para ele, olhe para o homem que matou maynard. � um dos que eu vi. ouviu o nome? ramon escobar. eu ouvi... ouvi esse nome na ilha dos pescadores, ao largo de miami, naquela noite. o rosto... � o mesmo rosto, exatamente, reconhe�oo... o homem da ilha dos pescadores... o homem a quem vernon tynan me mandou entregar os 750.000 d�lares... � ele, o homem que me tirou o dinheiro. meu deus, chris, sabe o que isso significa? o rosto de ramon escobar tinha desaparecido, substitu�do uma vez mais pelo locutor. collins atravessou o escrit�rio e fechou a televis�o. voltou-se, chocado, lembrando-se da hist�ria de radenbaugh, da sua sa�da de lewisburg, da recupera��o
do milh�o de d�lares nos p�ntanos, do transporte dos tr�s quartos de milh�o para a ilha dos pescadores e da sua entrega a dois homens que tynan tinha designado. agora descobria-se que o assassino de maynard era um deles. - acredite que � o mesmo homem - dizia radenbaugh. - isso quer dizer que tynan queria o meu dinheiro para se livrar de maynard. isso quer dizer que me tirou da pris�o para deitar a m�o a dinheiro suficiente para pagar a um assassino profissional, dinheiro que n�o deixasse rastos, inidentific�vel. foi tynan quem preparou o assass�nio. estava decidido a ir at� onde fosse preciso para evitar que maynard liquidasse a 35.a emenda, mesmo que fosse preciso matar o pr�prio maynard. - acabe com isso - disse collins severamente. - n�o pode provar nada. - meu deus, homem, precisa de maior prova? eu estava com tynan quando ele me fez a oferta. tirou-me da pris�o, deu-me uma identidade nova, enviou-me a miami e � Ilha dos pescadores, mandou-me entregar tr�s quartos de milh�o a... a quem? ao mesmo homem que assassinou o presidente maynard na noite passada. que mais provas precisa? collins tentava pensar, deslindar a trama. - eu n�o preciso de mais provas, donald. acredito. mas quem mais vai acreditar? - posso ir � pol�cia. posso contar-lhes o que aconteceu. posso dizer-lhes que entreguei o dinheiro a este assassino por ordem de tynan. collins abanou a cabe�a. - n�o dar� resultado. - porque � que n�o dar� resultado? harry adcock conhece a verdade. o diretor jenkins tamb�m... - mas n�o falar�o. radenbaugh pegou nas abas do casaco de collins. - ou�a, collins. a pol�cia h� de acreditar-me. ainda sou eu. estive na ilha. podemos ver-nos livres de tynan. posso contar toda a verdade. collins tirou-lhe as m�os do casaco. - n�o. donald radenbaugh n�o pode dizer a verdade, porque donald radenbaugh n�o existe: a testemunha n�o existe. - mas eu estou aqui. - n�o, quem est� aqui � Dorian schiller. radenbaugh morreu. nada prova que esteja vivo. n�o existe. subitamente, radenbaugh sucumbiu. compreendera finalmente. olhou para collins desanimado. - tem raz�o. como se se tivesse transformado, inspirado por uma nova delibera��o, collins reanimou-se. - mas eu existo - disse collins. - vou j� direito ao presidente. de ouvido ou n�o, acredito em tudo o que voc� me disse, porque tamb�m aprendi � minha custa, e vou apresentar os fatos ao presidente. � demasiado para ser ignorado. ele tem de conhecer a realidade, tem de saber que o verdadeiro desrespeito pela lei e os crimes neste pa�s est�o a ser cometidos por tynan. o presidente n�o pode deixar de enfrentar a verdade, de forma nenhuma. uma vez que a saiba, compreender� o que maynard queria fazer e f�-lo-� em vez dele: falar ao p�blico, repudiar tynan, denunciar a 35.a emenda e derrot�-la de uma vez para sempre. anime-se tamb�m, donald. o nosso pesadelo vai acabar.
cap�tulo oitavo o presidente dos estados unidos empertigou-se na cadeira girat�ria de couro preto por tr�s da secret�ria buchanan, no gabinete oval da casa branca. - demiti-lo? - repetiu com uma ligeira eleva��o do tom de voz. - quer que demita o diretor do fbi ? tinham estado a falar, sentados neste gabinete oval (o presidente wadsworth atr�s da secret�ria, chris collins na cadeira estofada de madeira preta em frente da secret�ria), durante vinte minutos. ou antes, collins tinha estado a falar, e o presidente a ouvir. quando collins solicitara a entrevista nessa manh�, a agenda do presidente j� estava cheia. collins tinha invocado uma ''emerg�ncia'' e o presidente tinha concordado em conceder-lhe meia hora depois do almo�o, �s duas horas. assim que entrara no gabinete oval, collins tinha ignorado as formalidades, plantara-se imediatamente em frente do presidente e enfronhara-se numa narrativa desapaixonada. - julgo que deve conhecer algumas coisas que se est�o a passar nas suas costas, senhor presidente, coisas terr�veis - come�ara collins -, e j� que mais ningu�m lhes conta, terei de ser eu a faz�-lo. n�o ser� f�cil, mas c� vai. ent�o, quase num mon�logo, collins tinha recitado os incidentes e as ocorr�ncias com que tinha esbarrado desde o aviso do coronel baxter sobre o documento r at� � identifica��o do assassino de maynard por donald radenbaugh. tinha contado tudo sem interrup��es, com a clareza de um advogado no tribunal, sem omitir o menor pormenor. tinha conclu�do: - n�o h� nada na terra que possa justificar a desobedi�ncia � lei para preservar a lei. o diretor tem sido a principal mola de tudo isto. baseado nas provas que acabo de lhe apresentar, senhor presidente, julgo que n�o tem outra hip�tese sen�o demiti-lo. - demiti-lo? - repetiu o presidente. - quer que demita o diretor do fbi ? - sim, senhor presidente. tem de se ver livre de vernon t. tynan. se n�o para o punir pelos seus atos criminosos, pelo menos para restaurar o seu prest�gio e salvaguardar o processo democr�tico. embora isso lhe custe a 35.a emenda, preservar� a constitui��o. podemos criar um plano melhor para garantir a lei e a ordem neste pa�s, baseado n�o na repress�o e na tirania potencial, mas no melhoramento das estruturas econ�mica e social da nossa sociedade. contudo, nada disso � poss�vel enquanto tynan continuar. o presidente tinha-se mantido extraordinariamente calmo durante a exposi��o de collins. tinha ouvido tranq�ilamente e sem manifesta��es de emo��o, a n�o ser o alisar do seu cabelo grisalho, o esfregar o nariz aquilino, e o p�r a m�o em concha no queixo. agora, a sua atitude continuava a ser fleum�tica. o �nico movimento que fez, foi levantar um corta-pap�is lavrado, sopesando-o na m�o numa atitude abstrata, para logo o voltar a pousar na mesa. falou novamente: - ent�o, pensa realmente que o diretor tynan merece ser demitido? - absolutamente - disse collins com �nfase. - as raz�es para a demiss�o s�o in�meras. tynan deve ser demitido por conspira��o ilegal, por abuso do poder, tentando fazer aprovar uma lei que lhe daria um poder supremo. deve ser demitido por chantagem e interfer�ncia nos processos legais. a �nica coisa de que n�o o posso acusar � de assass�nio, porque n�o tenho provas. o resto � evidente. com o
seu afastamento (com o fundamento que escolher, baseado nas provas que os meus servi�os lhe podem fornecer ainda esta noite), a 35.a emenda morrer� por si. mas o senhor pode desfazer todo o mal que tynan fez at� hoje, realizando pessoalmente o que o presidente do supremo pretendia fazer: manifestando-se contra a emenda e levando a calif�rnia a votar contra. n�o me parece que isso seja necess�rio depois de se ver livre de tynan, mas ser� um ato consciencioso que lhe conquistar� ainda maior respeito. o presidente manteve-se em sil�ncio por algum tempo, parecendo contemplar tudo o que tinha ouvido. inesperadamente, levantou-se da cadeira de couro preto, virou as costas a collins, deslocou a sua figura aprumada para a janela da esquerda, adornada com cortinados verdes, e a� ficou a olhar fixamente para o relvado da casa branca e para o roseiral. tenso, collins esperava. cruzou os dedos mentalmente. o j�ri do caso tynan estava a deliberar. o veredicto n�o tardaria. o veredicto correto resolveria tudo. hirto, collins tinha esperan�a. depois de uns momentos que lhe pareceram intermin�veis, o presidente afastou-se da janela e dirigiu-se para a sua cadeira. parou atr�s dela, pousou levemente os bra�os sobre o espaldar, enla�ou os dedos e assentou os olhos em collins. - bem, bem... - come�ou. - tenho estado a pensar em tudo o que disse. examinei tudo cuidadosamente. deixe-me dizer-lhe que me espanta. deixe-me ser t�o franco consigo como foi comigo. collins fez um ligeiro sinal com a cabe�a e esperou. - as suas raz�es para demitir tynan! - disse o presidente. chris, vamos tentar ser t�o objetivos quanto poss�vel. conhece melhor a lei que qualquer outra pessoa. � o principal advogado do pa�s. sabe que uma pessoa � considerada inocente at� se provar que � culpada. teorias, boatos, insinua��es indiretas, suspeitas, coisas que se sabem por ouvir dizer e dedu��es n�o s�o fatos, provas evidentes e irrefut�veis. a sua prova est� assentado em conversas e n�o em fatos. collins inclinou-se para a frente para interromper, mas o presidente levantou as palmas das m�os e prosseguiu: - espere! deixe-me dizer o que tenho a dizer. quais s�o as acusa��es que apresenta contra tynan? vejamos. diz que tynan empolou as estat�sticas criminais da calif�rnia. pode prov�-lo efetivamente? diz que tynan est� a construir campos de concentra��o por toda a na��o. pode prov�-lo? pode dizer qual � o servi�o que est� a construir esses campos? pode demonstrar, sem margem para d�vidas, que essas estruturas se destinam a dissidentes? temos o contrato de tynan com radenbaugh, libertando o condenado de lewisburg e dando-lhe outra identidade. pode prov�-lo? pode provar que o acordo foi feito? e que foi tynan que o fez? e que radenbaugh n�o morreu como a pris�o anunciou? temos tynan a mandar que o dinheiro, de origem pouco clara, fosse entregue ao assassino de maynard. pode prov�-lo? pode mesmo? temos tynan a utilizar os habitantes de uma cidade de companhia, no arizona, como cobaias da 35.a emenda. pode prov�-lo? n�s sab�amos que tynan estava a fazer investiga��es nessa cidade, mas pode provar que em vez disso estava a utiliz�-la com intuitos nefandos? considera tynan como o professor moriarty de uma sinistra conspira��o corporizada numa coisa, num plano: o documento r. pode prov�-lo? pode dizer se quer que o soube pessoalmente do coronel baxter? pode provar que tal documento existe? ou se existe, que � perigoso? pode dizer-me o que � e onde est�? o presidente wadsworth retomou o f�lego e prosseguiu: - chris, o que conseguiu sen�o um tecido de especula��es fant�sticas e conjecturas? baseado nessas acusa��es, a que falta a prova irrefut�vel, pretende que eu demita o diretor do fbi, um dos homens mais eficientes e populares do pa�s? chris, perdeu a cabe�a? demitir tynan? porqu�? a sua causa � indefens�vel, chris, imposs�vel. collins afundara-se na cadeira durante a parte final, derrotado, abatido. contava com d�vidas por parte do presidente, com alguma discuss�o, mas n�o com um ataque declarado contra ele.
desesperado, tentou voltar ao ataque. - senhor presidente, as provas s�o de v�rios tipos. sei que lhe posso trazer provas suficientes para o satisfazer, mas isso leva tempo. e n�o temos tempo. primeiro retire tynan do caminho. � perigoso. podemos formular depois as provas criminais contra ele. digo-lhe pelo que ouvi e testemunhei que tynan h� de fazer tudo, absolutamente tudo, para se ver livre da declara��o de direitos, para ver a 35.a emenda transformada em lei, para destruir a democracia... a cara do presidente tornou-se glacial. - eu tamb�m quero ver a emenda aprovada - disse ele. - isso significa que pretendo destruir a nossa democracia? - n�o, certamente que n�o, senhor presidente - concordou collins � pressa. n�o quero dizer que toda a gente que defende a emenda � contra um governo democr�tico. e, de fato, eu pr�prio a defendi durante algum tempo e em p�blico. para o p�blico, ainda a defendo. nunca a ataquei publicamente e n�o tenciono faz�lo enquanto pertencer � Administra��o. o tom do presidente abrandou ligeiramente. - fico satisfeito em sab�-lo, chris. agrada-me que ainda tenha o sentido da lealdade. - com certeza que tenho - disse collins. - o problema � saber se tynan tem a mesma lealdade! mais do que isso, importa saber o que significa a democracia. o senhor e eu sabemo-lo. e tynan? nas nossas m�os a emenda nunca seria usada indevidamente. mas nas m�os dele...? - n�o h� nenhuma prova de que ele interpretaria a lei diferentemente de si ou de mim. - perante tudo o que lhe contei, ainda pode dizer isso? mesmo que n�o pudesse provar tudo, certamente teria de admitir... - n�o interessa, chris - cortou o presidente. deu a volta � cadeira e mergulhou nela com ar de querer p�r termo � conversa. chris, n�o vale a pena continuar. tenho-me aos fatos e respeito-os. baseado no que me disse, n�o vejo que os fatos ap�iem o seu ponto de vista. n�o vejo raz�es suficientes para demitir tynan. fa�a um esfor�o para encarar o assunto sob o meu ponto de vista. a reputa��o de tynan como patriota � impec�vel. afast�-lo com uma prova t�o d�bil, seria como prender george washington por provocar desordens, ou atirar barbara frietchie para a cadeia por subvers�o. demiti-lo seria um mau servi�o prestado ao pa�s e, para mim, seria tamb�m o suic�dio pol�tico. o p�blico confia em tynan. o povo acredita nele... - e o senhor? - quis collins saber. - o senhor tamb�m acredita nele? - porque n�o? - retorquiu o presidente. - nunca deixou de me ajudar. tem sido um dos melhores servidores p�blicos. por vezes mostra-se demasiado zeloso, quer cortar a direito na sua �nsia de ver as coisas feitas, mas bem feitas as contas... - pretende ent�o mant�-lo e � 35.a emenda - disse collins.- nada que eu possa dizer o poder� dissuadir. est� resolvido a ficar com ele? - sim - disse o presidente terminantemente. - n�o tenho alternativa, chris. - ent�o, eu tamb�m n�o tenho alternativa, senhor presidente disse collins, pondo-se de p�. - se persiste em conservar tynan, eu n�o posso continuar. n�o tenho outra escolha sen�o demitir-me de procurador-geral. vou voltar para o meu gabinete imediatamente e escrever um pedido oficial de demiss�o - e passar todos os momentos das pr�ximas vinte e quatro horas a combater a emenda na assembl�ia da calif�rnia e, se falhar a�, dedicarei todo o tempo que restar a combat�-la no senado da calif�rnia, se l� chegar. fez um leve aceno ao presidente e sa�a pela porta mais pr�xima quando ouviu o presidente gritar o seu nome. parou � porta e olhou para tr�s. o presidente wadsworth estava completamente descontra�do. - chris - disse ele -, antes de fazer qualquer coisa que mais tarde venha a lamentar, pense duas vezes. - levantou-se com dificuldade da sua cadeira de trabalho. - atravessamos um per�odo cr�tico para n�s, para o pa�s. n�o � altura de deitar o barco a perder.
- eu vou sair do barco, senhor presidente. vou afundar-me ou nadar por minha conta. bom dia. dito isto, abandonou o gabinete oval. o presidente wadsworth ficou a olhar durante bastante tempo para a porta por onde collins desaparecera. por fim, pegou no telefone e chamou a secret�ria particular. - miss ledger, ligue para o diretor tynan. diga-lhe que o quero ver a s�s, o mais depressa poss�vel. a primeira coisa que chris collins fez ao chegar ao gabinete foi telefonar � mulher. at� essa manh�, n�o tinha mantido karen perfeitamente a par de todos os acontecimentos que tinham ocorrido na sua vida durante as �ltimas semanas. desde a noite em que tomara conhecimento do documento r, tinha-se limitado a contar-lhe de vez em quando um ou outro fato. mas, nessa manh�, depois de ter visto na televis�o o relato do assass�nio de maynard e depois de radenbaugh ter regressado ao hotel, collins tinha ido para a cozinha e tinha-se sentado ao p� de karen para lhe contar tudo. karen tinha ficado espantada. - o que � que vais fazer, chris? - vou falar imediatamente com o presidente. vou p�-lo ao corrente de tudo. vou pedir-lhe que demita tynan. karen tinha ficado apreensiva. - n�o achas que isso � perigoso? - n�o, se o presidente concordar comigo. ele confiara, mesmo depois de se despedir de karen, que o presidente wadsworth concordaria consigo. agora, quatro horas depois, sabia que nunca se tinha enganado tanto. karen atendeu o telefone. a sua voz era fria. - que aconteceu, chris? - o presidente n�o concordou comigo. ouviu karen murmurar descrente: - mas como p�de ele fazer uma coisa dessas? - disse que eu n�o tinha provas de nada. fez-me parecer um idiota paran�ico. p�s-se totalmente ao lado de tynan. - � terr�vel. que vais fazer? - vou demitir-me, e j� o avisei. achei melhor contar-te. - gra�as a deus. ele nunca tinha ouvido a voz dela soar t�o aliviada. - vou terminar depressa o meu trabalho aqui, escrever o pedido de demiss�o e envi�-lo; depois vou arrumar a minha secret�ria. chegarei mais tarde para jantar. - n�o pareces satisfeito, chris. - e n�o estou. tynan vai ficar com o caminho livre. a emenda tornar-se-� lei. al�m disso, fica em aberto o assunto do documento r. e eu fico impotente e desempregado. - passar�s por cima disso, chris - garantiu-lhe ela. - h� tantas outras coisas para fazer. vendemos a casa e voltamos para a calif�rnia... talvez no m�s que vem. - esta noite, karen. vamos diretinho para a calif�rnia. apanhamos o primeiro avi�o. quero estar em sacramento de manh�. quero fazer propaganda. a emenda entra no plen�rio da assembl�ia � tarde. se falhar, ao menos caio a combater. - como quiseres, querido. - at� logo. tenho muito que fazer. depois de desligar, collins considerou o trabalho acumulado na secret�ria. antes de se atirar a ele, uma coisa tinha de ser feita. chamou a secret�ria. - marion, cancele tudo o que houver na minha agenda. refiro-me a hoje, ao resto da semana e �s semanas seguintes. viu-a erguer as sobrancelhas. - explico-lhe mais tarde. explico-lhe antes de irmos para casa esta noite. diga �s pessoas que eu vou estar fora da cidade. voltaremos ao assunto. outra
coisa, marion: marque-me... para mim e para a senhora collins... bilhetes no �ltimo v�o da noite para a calif�rnia, para sacramento. eu trato do hotel. - mas, senhor collins, hoje � noite vai para chicago. - chicago? - repetiu espantado. - j� se esqueceu? vai falar amanh� na conven��o dos antigos agentes especiais do fbi. � o principal orador do almo�o. a seguir ao discurso, tem um encontro marcado com tony pierce. tinha-se esquecido completamente. durante a sua primeira semana no cargo tinha concordado em discursar no conclave da sociedade dos antigos agentes especiais do fbi. mais tarde, depois da resolu��o pessoal de se opor � emenda, tinha tamb�m resolvido encontrar-se com pierce, seu antigo opositor na televis�o e principal impulsionador do movimento dos defensores da declara��o de direitos. atrav�s do filho, josh, collins tinha localizado pierce, que tinha concordado em encontrar-se com ele na conven��o dos ex-agentes do fbi. - parece-me que teremos de cancelar essa ida a chicago, marion. tenho de ir a sacramento. - n�o v�o ficar nada contentes. n�o lhes d� tempo de encontrar um orador que o substitua. - h� sempre algu�m - disse ele bruscamente. - vou-lhe dizer o que... n�o, � melhor eu falar-lhes pessoalmente. vou telefonar-lhes quando tiver avan�ado com o trabalho por fazer. quanto a tony pierce, pode tratar disso. ligue para a sede do movimento em sacramento, localize-o e diga-lhe que cancelei a ida a chicago e que lhe pe�o para estar em sacramento. diga-lhe que me encontrarei com ele amanh� de manh� em sacramento. telefonar-lhe-ei de manh� para combinar o encontro. entendido? ela disse que sim com a cabe�a. - vou ocupar-me do senhor pierce. - mas hesitava. - quer realmente que anule todas as entrevistas? - tudo. n�o fa�a mais perguntas. tenho toneladas de trabalho. quando marion saiu, collins sentou-se, disposto a fazer o trabalho urgente: ler relat�rios e cartas e assinar documentos. gostou de ler um dos documentos, dirigido aos servi�os de imigra��o e naturaliza��o: a sua autoriza��o para emmy, noiva de ishmael young, entrar nos estados unidos. assinou-o e levou-o a marion, ordenando a expedi��o imediata, com uma c�pia para young. voltando ao gabinete, parou diante do fog�o de sala para rever o que faltava fazer na sua �ltima tarde como procurador-geral dos estados unidos. primeiro, escrever a carta de demiss�o. depois, tirar os objetos pessoais das gavetas da secret�ria e reunir tudo o que lhe pertencia na pequena sala de estar junto do cub�culo de marion. por fim, ligar para chicago e anular o discurso marcado para o dia seguinte. em primeiro lugar, o pedido de demiss�o. dirigiu-se � garrafa de prata junto da prateleira do telefone, no extremo da secret�ria, encheu um copo de �gua e bebeu. olhou para a estante envidra�ada dos livros de leis na parede em frente. vagueou pelo amplo gabinete, a pensar na reda��o da carta. simples ou cerimoniosa? nem uma nem outra. agressiva ou defensiva? tamb�m n�o. por fim, decidiu-se. ia apresentar a demiss�o do cargo de procurador-geral por raz�es de consci�ncia. depois de ter consultado a consci�ncia, tinha decidido que n�o podia permanecer no governo a apoiar a 35.a emenda. achava que podia servir melhor a consci�ncia e o pa�s demitindo-se, para dedicar os seus esfor�os, livres, � oposi��o � emenda. era o tom adequado. correu para a secret�ria, pegou numa folha de papel oficial e passou para o papel o que tinha composto mentalmente. decidiu ent�o que em vez de mandar a carta manuscrita para a casa branca, iria faz�-la passar � m�quina para a assinar. as fotoc�pias de uma carta datilografada seriam melhores para os meios de informa��o que as de um manuscrito. sim, mandaria marion pass�-la � m�quina, assinaria e tiraria fotoc�pias. releu a carta de demiss�o e levantou-se, tentando pensar em maneiras de a melhorar. vagueou novamente pelo gabinete, acabando por entrar na ampla sala de
confer�ncias cont�gua. atravessando a habitual alcatifa vermelha, parou em frente de um quadro de alphonso taft, procurador-geral no tempo do presidente ulysses s. grant. pensou por que diabo estaria aquilo ali, decidiu mandar retir�-lo no dia seguinte, mas lembrou-se que seria ele a retirar-se. seguiu ao longo da sala, passando pela comprida mesa de confer�ncias rodeada por dezesseis cadeiras de couro vermelho. antes de chegar a meio da parede oposta, parou, observando o busto de m�rmore branco de oliver wendell homes. foi junto do busto de m�rmore que a secret�ria, marion, o veio interromper. - senhor collins - disse ela, ofegante-, o diretor tynan est� c� e quer ser recebido. - tynan, aqui? - est� na sala de recep��o. collins estava confuso. era totalmente inesperado. durante a sua curta estadia no cargo, tynan nunca o tinha procurado pessoalmente no departamento de justi�a. - bem, mande-o entrar. interrogava-se sobre o que seria. mas uma coisa era certa: tynan era a �ltima pessoa que desejava ver naquele dia. aborrecido, aguardou a chegada do diretor. viu a figura enorme de vernon t. tynan � porta da sala de confer�ncias. tynan, musculoso por baixo do apertado terno de marujo de peito duplo, dirigia-se para ele em grandes passadas. os tra�os desagrad�veis do seu rosto davam-lhe o habitual ar carrancudo, nada revelando da sua miss�o. quando chegou junto de collins, disse: - desculpe entrar assim de rompante, mas � importante. - segurava uma mala debaixo do bra�o. - tenho uma coisa para discutir consigo. - est� bem - disse collins. - vamos para o meu gabinete. tynan n�o se mexeu. - n�o me parece bem - disse calmamente. percorreu a sala de confer�ncias com o olhar. - talvez seja melhor aqui. - depois acrescentou: - n�o gostaria que algu�m ouvisse o que temos para discutir. e parece-me que voc� tamb�m n�o gostaria. collins percebeu. - vernon, n�o tenho escutas no meu gabinete. n�o gosto de gravar o que os meus visitantes dizem. tynan limitou-se a murmurar: - n�o sabe o que perdeu. atirou com a pasta para a mesa de confer�ncias, para a frente da cadeira seguinte � cabeceira. - sentemo-nos. o que tenho para dizer n�o demora. aborrecido, collins puxou a cadeira de couro-vermelho da cabeceira e sentouse perto do diretor do fbi. enquanto esperava, collins encontrou o seu ma�o de cigarros, ofereceu um a tynan que recusou, tirou um para si e acendeu-o com o isqueiro. puxou um cinzeiro e perguntou: - ent�o, a que devo a honra da sua visita? tynan pousou as palmas das m�os na mesa. - vamos direto ao assunto - disse ele. - soube h� pouco pelo presidente que o tinha ido ver. soube que pretendeu que ele me demitisse do meu cargo... e soube as raz�es apresentadas. - se j� conhece as raz�es, acho que n�o precisamos voltar a falar nelas. tynan recostou-se na cadeira, apreciou collins de alto a baixo e abanou a cabe�a. - foi uma estupidez da sua parte - disse ele com um sorriso perverso. tentar demitir vernon t. tynan foi uma grande estupidez. pensei que fosse mais esperto. collins tentou controlar-se. - fiz o que tinha a fazer. - n�o me diga?! pois bem, tamb�m eu. - com louca delibera��o, tynan come�ou
a abrir a pasta. - sim, tamb�m eu - repetiu trocista. - e j� que tem andado a meter o nariz nos meus assuntos... e tem... - � claro que tenho. - ... pensei que tamb�m era justo eu meter-me nos seus. - sei perfeitamente das suas atividades recentes - disse collins. - sei que me tem andado a investigar novamente. tynan olhou-o de soslaio. - a s�rio? soube e n�o tentou fazer nada? - n�o havia raz�o para isso. nada tenho a esconder. - tem certeza? - tynan tinha estado a procurar dentro da pasta e retirava agora um dossier. - bem, seja como for, eu pensei que ficaria lisonjeado por saber que temos estado a tratar de si com aten��o... com carinhosa aten��o. - agrade�o o seu interesse. - agora surpreenda-me. que foi que encontraram? a testa de tynan franziu-se. - vou dizer-lhe o que encontrei. descobri uma coisa que escondeu deliberadamente do p�blico... ou, possivelmente, que lhe esconderam a si. - abriu o dossier, estudou rapidamente o conte�do e procurou os olhos de collins. - voc� est� decidido a obstruir a �nica pe�a de legisla��o que pode salvar este pa�s da ru�na. andou a intrometer-se na vida de muita gente, incluindo a minha. mas n�o se incomodou em ver se a sua pr�pria casa estava em ordem. antes de se apresentar em p�blico como senhor puro, � melhor verificar se a sua vida e a vida dos que o rodeiam � pura. - o que pretende dizer? - pretendo dizer que aconteceu casar com uma mulher com um passado recente muito suspeito. parece-me que ser� bom discutirmos o passado da sua mulher. collins sentiu intensa c�lera contra aquele homem que se dedicou a espiar a vida particular dos outros. a c�lera sobrep�s-se � curiosidade instintiva em saber o que tynan trazia na manga. - vernon - disse-lhe collins -, n�o sei que raio est� a insinuar, mas desde j� lhe digo que n�o consinto em discutir a minha mulher ou qualquer outro membro da minha fam�lia consigo. o senado possui informa��es a meu respeito. a minha vida � objeto do conhecimento p�blico. o senado confirmou-me. n�o h� mais nada a discutir. tynan n�o desarmava. - receio que haja algo mais a discutir. penso que querer� falar sobre isso. um assuntozinho que foi menosprezado na nossa primeira investiga��o, um assunto que desejar� ardentemente conhecer. - n�o consinto que a minha mulher seja metida nos nossos diferendos. tynan encolheu os ombros. - � consigo, chris. ou me ouve e me diz o que hei de fazer, ou a sua mulher ter� de o dizer a um juiz e a um j�ri novamente. - fez uma pausa. - ent�o, posso continuar? collins sentia o cora��o a bater fortemente. desta vez ficou em sil�ncio. tynan olhou para os pap�is mais uma vez e continuou a falar. - a sua mulher era vi�va quando a conheceu. foi h� pouco mais de um ano. o seu nome era karen grant. o marido chamava-se thomas grant. certo? - certo, bem sabe que est� certo. e ent�o? - est� errado e bem sei que est� errado. o nome de solteira era karen grant e o nome do marido era thomas rowley. o nome de casada era karen rowley. collins n�o sabia disso, mas apressou-se a defend�-la. - e depois? n�o � nada de anormal uma vi�va usar o nome de solteira. - talvez n�o -disse tynan. - ou talvez sim. vejamos...voc� conheceu-a em los angeles, onde trabalhava como modelo. antes disso, vivia com o marido em... em... - madison, no wisconsin. - foi isso que ela lhe disse? informou-o mal. vivia com o marido em fort worth. collins empurrou a cadeira para tr�s como se quisesse levantar-se e acabar com as perguntas.
- vernon, n�o me interessa nada disso. - � melhor interessar-se - disse tynan friamente. - sabe como � que a sua mulher ficou vi�va? - pelo amor de deus, o marido morreu num acidente. - um acidente? tem certeza? que tipo de acidente? - nunca falei a esse respeito. o assunto n�o � nada agrad�vel de recordar. e acrescentou: - creio que foi atropelado por um autom�vel. est� satisfeito, vernon? - n�o, n�o estou satisfeito. de acordo com os registros do fbi de fort worth, n�o foi atropelado por um autom�vel. foi atingido por uma bala... isso mesmo. foi assassinado. embora collins estivesse preparado para uma informa��o desagrad�vel, foi um golpe inesperado. a sua tranq�ilidade desapareceu. tynan continuou, incans�vel. - todos os ind�cios apontavam a sua mulher como assassina. foi presa e julgada. depois de quatro dias de delibera��o, conseguiu um j�ri irresoluto. talvez devido � influ�ncia do pai, que era um cacique local (j� morto), as autoridades decidiram n�o iniciar um segundo julgamento. ela foi libertada. - n�o acredito - protestou collins. tynan e a sala de confer�ncias bailavam � sua frente. collins tentava retomar a compostura. - se tiver d�vidas - disse tynan friamente -, isto vai tirar-lhes. - tirou alguns pap�is do dossier e colocou-os ostensivamente � frente de collins.- um resumo do caso, condensado dos nossos registros, identificado com o respectivo n�mero. e fotoc�pias de recortes de tr�s jornais. poder� reconhecer neles karen rowley. agora vamos ao ponto crucial do assunto... collins ignorou os pap�is que estavam � sua frente, e prestou aten��o ao advers�rio e ao ponto crucial. - o j�ri n�o considerou a sua mulher culpada. no entanto, tamb�m n�o a considerou inocente. n�o chegou a acordo. discutiu durante quatro dias mas n�o conseguiu aplanar as diverg�ncias entre os seus membros para chegar a um veredicto. ficou num impasse. como sabe melhor do que eu, isso deixa o caso em aberto e lan�a uma sombra de d�vida quanto ao procedimento da sua mulher. � esta a parte que me interessa. sugeri aos nossos agentes que continuassem as investiga��es. fizeram-no. reconstitu�ram o assass�nio, interrogaram novamente as testemunhas e, no decurso desses inqu�ritos, surgiu um novo elemento. n�o h� d�vida que � bastante valioso. n�o sei como as autoridades o deixaram escapar. �s vezes s�o desmazeladas. como sabe, o fbi nunca � desmazelado. collins n�o respondeu. aguardava. - temos uma nova testemunha, que n�o tinha sido notada. uma mulher que afirma ter visto karen rowley, ou karen grant, ou karen collins, como preferir... uma testemunha visual, dizia eu, que afirma ter ouvido uma alterca��o e ter ouvido karen dizer a rowley que gostaria de o matar. a testemunha decidiu abandonar a casa dos rowley, e, quando o fazia, ainda viu karen com uma arma na m�o junto ao corpo jacente do marido. - tynan parou. - mas h� mais. a sua voz baixou de intensidade. - odeio entrar neste assunto. mas, se for necess�rio, vir� a p�blico, se a testemunha for chamada a depor. � uma coisa muito suja... collins sentiu o peito constranger-se, mas continuou calado. tynan reatou a narrativa, procurando as palavras vagarosamente. - em muitos fins de semana, a sua mulher ia visitar o pai. ou dizia que ia. rowley, o marido, acabou por suspeitar. seguiu-a e soube... bem... como hei de dizer... soube que karen era uma participante ativa de um grupo sexual de houston. juntavam-se, faziam nudismo, realizavam orgias sexuais... e ela participou... umas vezes com v�rios homens, outras vezes com mulheres. sexo, pervers�es... n�o quero entrar em pormenores, mas... - isso � uma mentira imunda e voc� sabe-o - gritou collins, meio fora da cadeira. tynan continuou imperturb�vel. - bem gostaria que fosse, mas n�o �. a testemunha ouviu perfeitamente rowley
acusar karen de tudo isso. - meteu a m�o no dossier. - quer ver o testemunho confidencial que ela nos fez? - n�o, obrigado. - de qualquer forma, depois da cena, a testemunha ouviu o disparo e viu karen junto do corpo de rowley. tynan olhou rapidamente para collins e voltou a falar. - ora, essa testemunha nada far� s� por si. n�o quer ser envolvida num assunto t�o complicado. mas se for for�ada a testemunhar sob juramento, contar� tudo. isso implicar� um segundo julgamento. desta vez, � improv�vel que consiga um j�ri ben�volo. contudo, deve gostar de saber que n�o permiti que o meu pessoal entregasse as novas provas ao procurador do distrito em fort worth. pensei que n�o o deveria fazer sem o consultar primeiro. al�m disso, apesar das fraquezas, deus sabe o que a levou a comportar-se assim. tenho uma certa simpatia pela senhora collins. por outro lado, o marido dela tinha um car�ter desagrad�vel. andava atr�s do dinheiro dela (ou melhor, do pai dela) e gastava-o. provavelmente, amea�ava-a de revelar o seu comportamento sexual para lhe extorquir mais dinheiro. pode-se dizer que ela tinha raz�es consider�veis para agir como agiu. � claro que tive em aten��o tudo isso quando mandei suspender o processo. finalmente (e talvez seja a raz�o mais importante), preferia n�o causar embara�os a um membro do governo, da equipe do presidente, numa ocasi�o cr�tica como esta. penso que compreender� isto. parece-me que as pessoas metidas neste caso j� sofreram bastante e que n�o h� necessidade de trazer o assunto a p�blico novamente. nestas circunst�ncias, tudo isto pode ser facilmente esquecido. collins estava enjoado, n�o s� devido �s informa��es sobre karen e � amea�a que pendia sobre ela, mas tamb�m pela chantagem declarada de tynan. a repulsa que sentia por aquele homem ardia dentro dele. at� ent�o nunca se sentira capaz de matar outro ser humano. nesse momento, o seu �nico desejo era deitar as m�os ao pesco�o de tynan. mas voltou a dominar-se. manteve-se im�vel, tremendo s� por dentro. por fim, sentiu-se capaz de falar. - est� ent�o disposto a esquecer o caso em certas condi��es? - sim. - quais s�o essas condi��es. o que quer de mim? - apenas a sua coopera��o, chris - disse tynan suavemente. coopera��o que at� pode ser muito pequena. digamos que desejava que me garantisse que continuaria na equipe do presidente, e na minha, e que apoiaria a 35.a emenda at� ao final. o que n�o queria da sua parte era qualquer atitude de ruptura, como uma demiss�o ou uma declara��o p�blica denunciando a emenda. � este o pre�o. penso que � muito razo�vel. - estou a ver. - collins observou tynan a fechar o dossier e a met�-lo cuidadosamente na pasta. - n�o me vai mostrar o resto das provas? - acho melhor guard�-las para n�o se perderem. j� sabe o suficiente para tirar conclus�es. tem tamb�m a sua mulher. ela pode suprir aquilo que faltou dizer. - n�o � isso, refiro-me ao nome da nova testemunha que encontraram. pelo menos gostava de saber quem �. tynan sorriu. - n�o lhe direi, chris. se quiser ver a testemunha, ter� de ser no tribunal. - fechou a pasta. - suponho que j� disse tudo o que tinha a dizer. j� sabe o suficiente para poder tirar uma conclus�o. o que acontecer depois � consigo. - vernon, voc� � o filho da puta mais nojento que jamais existiu. tynan continuou a sorrir. - penso que os meus pais n�o acreditariam nisso. - fez-se s�rio. - tenho um defeito: � que amo demasiado o meu pa�s. o seu defeito � amar menos o pa�s. � por causa do meu pa�s que quero a sua decis�o, j�. collins fixou-o com repugn�ncia. por fim, cedeu, entregou-se e afundou-se na cadeira. - est� bem - disse enfastiado -, ganhou. diga-me outra vez, com exatid�o, o
que quer que eu fa�a. era a primeira vez desde o casamento que n�o gostara de voltar para junto da mulher. n�o tivera est�mago para trabalhar depois de tynan sair, mas tinha ficado deliberadamente at� tarde no departamento de justi�a, desejando estar s�, desejando pensar. tinha ficado atormentado por emo��es contradit�rias. sentia-se chocado pelo que tinha ficado a saber do passado de karen. sentia-se desapontado com ela por lhe ter escondido os acontecimentos do seu passado recente. sentia-se confuso quanto � sua culpa ou inoc�ncia na morte do marido (um j�ri tinha deliberado durante quatro longos dias e mesmo assim n�o a tinha podido ilibar). sentia medo de a ver sofrer, agora que tynan estava pronto para reabrir o caso. sobrepondo-se a tudo estava o quadro que tynan pintara da vida sexual secreta de karen. as orgias. a promiscuidade. as pervers�es. collins n�o acreditava. nem um pouco. mas as imagens permaneciam, n�o se desvaneciam. n�o tinha id�ia de que sentimento devia ter por ela, que posi��o tomar, como trat�-la. estas atitudes tinham ficado por decidir no gabinete e continuavam por decidir agora que metia a chave na fechadura, abria a porta e entrava em casa. queria fugir ao confronto, evit�-la, mas sabia que era imposs�vel. ela tinha-o ouvido entrar. - chris? - chamou ela da sala de jantar. - sim - respondeu ele, dirigindo-se para o quarto pelo corredor. tirou a gravata e despia o casaco quando ela apareceu. - estive ansiosa todo o dia - disse karen -, desde que telefonaste, � espera de saber o que aconteceu. vamos para a calif�rnia, n�o �? - n�o - disse ele num tom inexpressivo. ela aproximava-se para o beijar, mas parou no caminho. - n�o? - franziu a testa e procurou-lhe o rosto. - demitiste-te, n�o foi? - n�o, n�o me demiti. - n�o compreendo, chris. - escrevi a carta de demiss�o. depois rasguei-a. depois de vernon t. tynan me ter falado, rasguei-a. teve de ser. - teve de ser? - repetiu ela. - rasgaste-a por minha causa concluiu abatida -, por minha causa? - como � que sabes? - sabia que isto tinha de acontecer. sabia que ele havia de fazer qualquer coisa para te deter. outro dia, ao jantar, quando aquele escritor, o ishmael young, disse que tynan investigava todas as pessoas que o rodeavam e sabia tudo a respeito de todas as pessoas que tinham import�ncia na vida de cada um, fiquei a saber. sabia que ele te havia de perseguir e de me encontrar. estava muito sobressaltada, chris. nessa noite, quando nos deitamos resolvi pela cent�sima vez contar-te tudo. queria dizer-te, e comecei a contar, mas tu j� tinhas adormecido. depois, de manh�, veio tanta coisa interp�r-se... devia ter-te contado. oh, meu deus, que tola que fui. um segredo insignificante que devias ter sabido da minha boca. - deveria ter sabido, pelo menos para te proteger. - sim, tens raz�o. mas n�o para me protegeres. para te protegeres a ti. agora esse tynan j� te disse... n�o sei o que ele te disse, mas � melhor eu contar-te a hist�ria. - n�o quero ouvi-la agora. tenho de sair da cidade para fazer um discurso. quando voltar de chicago. - n�o, escuta. - chegou-se para ele. - o que foi que tynan te disse? que o meu marido foi assassinado por um disparo mortal no nosso quarto em fort worth? que me tinham ouvido dizer por mais de uma vez que desejava que ele morresse? a verdade � que tivemos uma discuss�o terr�vel. como tivemos um milh�o de outras. eu fugi para casa de meu pai. depois resolvi regressar. tentar uma �ltima vez. tom estava no ch�o. morto. n�o tinha a m�nima id�ia de quem o tinha assassinado. e ainda n�o sei. mas v�rias pessoas ouviram-nos questionar e ouviram-me dizer que gostava que ele morresse. � verdade. disse-o muitas vezes. naturalmente, fui acusada. as provas n�o tinham consist�ncia, eram circunstanciais, mas t�nhamos um
procurador distrital novo que queria ganhar nome. fui indiciada e julgada. passei os maiores tormentos. foi o que tynan te disse? disse-te isto tudo? - muito mais, disse que tinhas apanhado um j�ri irresoluto. - j�ri irresoluto - repetiu ela, desdenhosa. - onze jurados estavam a favor da minha absolvi��o desde o primeiro minuto. o d�cimo segundo homem defendeu a condena��o durante quatro dias, at� ao momento de o j�ri se pronunciar. e mesmo esse achava que o culpado era o meu pai e n�o eu. tinha em tempos sido despedido pelo meu pai, soube-o mais tarde. o procurador n�o quis que eu fosse julgada outra vez porque as provas e o j�ri tinham sido a meu favor. sabia que n�o valia a pena. libertaram-me e desistiram. para fugir � publicidade, deixei de usar o nome de casada e abandonei a cidade. fui trabalhar para los angeles, onde te conheci um ano depois. � tudo, chris. nunca te contei porque j� tinha passado, tinha ficado para tr�s, pois eu sabia que estava inocente... depois apaixonei-me por ti e n�o quis que nada estragasse as nossas rela��es ou te fizesse ter d�vidas. n�o quis que esse assunto s�rdido manchasse o que ainda era t�o recente e ador�vel entre n�s. queria come�ar de novo. devia ter-te dito. devia, mas n�o o fiz e isso foi um erro. - respirou fundo. - estou aliviada por ter acabado. agora j� conheces a hist�ria. - segundo tynan n�o � a hist�ria toda. tynan arranjou uma nova testemunha, uma mulher que diz que te viu ao p� de rowley com a arma. a testemunha viu e ouviu-te. - � mentira, n�o fiz nada. � uma mentira absoluta. cheguei e encontrei o tom morto. tom j� tinha sido assassinado. enquanto a ouvia junto de si, inquieta, procurava a verdade e compreendeu que era aquela, embora outras imagens persistissem: karen nua, karen desvairada numa sala cheia de estranhos nus, homens e mulheres; karen nos bra�os da pervers�o, com homens e mulheres. - ainda h� mais, karen - deu-se conta de estar a dizer. n�o tencionava falar das orgias como se acreditasse nisso, mas foi obrigado a desabafar.-n�o acredito em nada disto, mas tenho de te dizer: a testemunha disse a tynan... e contou-lhe tudo. � medida que ele falava, o horror dela aumentava. quando acabou, ela estava � beira do colapso. - oh, n�o - solu�ava. - n�o, n�o, que terr�veis mentiras... nem uma s� palavra � verdade. � uma inven��o completa. eu? portar-me dessa maneira? tu conheces-me, chris, sabes como sou na cama. sou recatada, sou... oh, chris, n�o podes acreditar nisso... - j� te disse que n�o acredito. - juro pela vida do filho que vamos ter... - eu sei que n�o � verdade, querida. mas h� uma testemunha que declarar� que � verdade, que o assass�nio... ela parecia recobrar for�as. - quem � essa testemunha? - n�o sei. tynan n�o me quis dizer. mas � isso que nos ata as m�os. amea�ou abrir o caso, a menos que eu aceitasse as suas condi��es. por isso, resolvi continuar no grupo. - oh, chris, n�o. - atirou-se para os seus bra�os, agarrando-se ferozmente. -o que eu te fiz? ele tentou acalm�-la. - isso n�o tem import�ncia, querida karen. o que importa �s tu. acredito em ti e nunca mais se fala nisso. vamos esquecer tynan... - n�o, chris, tens de o combater, n�o podes deix�-lo proceder assim. n�o temos de ter medo de nada. eu estou inocente. deixa-o reabrir o caso. a longo prazo, n�o nos pode atingir. o principal � que n�o o deixes fazer chantagem, n�o o deixes calar-te. tens de voltar a combater, por amor de mim. ele desprendeu-se. - n�o volto a combater, por amor de ti. nunca te sujeitaria a uma nova
prova��o. vamos esquecer tudo isto e continuar a nossa vida como antes. come�ou a andar, mas ela perseguiu-o pelo quarto. - nunca mais ser� como dantes. chris, se receias combat�-lo, � porque acreditas na vers�o dele e n�o na minha. - n�o � verdade! o que n�o quero � que sofras aquele inferno outra vez. - vais desistir, manter-te calado, enquanto a assembl�ia da calif�rnia aprova a 35.a emenda e o senado da calif�rnia a ratifica daqui a tr�s dias? oh, chris, por favor, n�o deixes que isso aconte�a. collins olhou para o rel�gio de pulso. - karen, repara, tenho vinte minutos para mudar de roupa, comer, acabar de fazer a mala e telefonar a tony pierce em sacramento, antes de o motorista me levar ao aeroporto. tenho de falar na conven��o dos antigos agentes do fbi, em chicago, amanh�. tenho de estar presente. � preciso apressar-me. - abra�ou-a e beijou-a.- amo-te. se houver mais alguma coisa a dizer, falaremos amanh� � noite. - sim - disse ela quase de si para si -, se houver um amanh�.
cap�tulo nono de p� na tribuna, perante os seiscentos convidados aglomerados no sal�o de baile ouro-p�lido do hotel embaixador de chicago, chris collins voltava outra p�gina do discurso que estava a ler na reuni�o anual da sociedade dos antigos agentes especiais do fbi. viu que s� faltava uma p�gina e sentiu-se aliviado. tinha pronunciado o discurso sem calor e o audit�rio tamb�m se mostrara frio. collins n�o estava surpreso. muitos fatores afetavam o conte�do e a exposi��o do discurso. fora a falta de concentra��o. fora o des�nimo. fora a cautela. tinha sido incapaz de se concentrar porque o seu esp�rito vogava por outras paragens. pela sala de confer�ncias do departamento de justi�a, onde vernon t. tynan levara a melhor sobre ele, fizera chantagem para que calasse o que sentia. pelo quarto da sua casa, onde ele e karen tinham suportado a revela��o do assass�nio e do julgamento que havia no passado dela. pela sua terra natal, a calif�rnia, onde principiava a tarde em sacramento e onde, da� a menos de uma hora, a assembl�ia estadual se reuniria para ser a primeira das duas c�maras a votar a 35.a emenda. tinha-se sentido profundamente desanimado durante o v�o para chicago na noite anterior, durante a manh� e durante a recep��o dos seus anfitri�es. a sensa��o de des�nimo e depress�o tinha preponderado em todo o discurso. as sucessivas esperan�as em derrotar a emenda na calif�rnia, quer na assembl�ia quer no senado, tinham fenecido. a morte do presidente do supremo maynard tinha sido o golpe mais cruel. s� Maynard poderia ter invertido a mar�, mas tinha sido impiedosamente eliminado � d�cima primeira hora. depois, a recusa do presidente em demitir tynan, que poderia ter posto a nu as atividades de tynan e atingido a emenda, tinha sido outra esperan�a queimada. a sua pr�pria decis�o de combater a emenda sozinho, nesses �ltimos dias, tinha sido motivo para algum otimismo, mas tynan tinha-o abafado eficientemente.
restava apenas o documento r, que at� agora lhe escapara, escondido ao olhar e fora do alcance. acima de tudo, em detrimento do discurso, tinha sido algemado pelo receio. talvez medo fosse a palavra adequada: algemado pelo medo. os membros da sociedade dos antigos agentes especiais do fbi a quem viera discursar eram preponderantemente homens de tynan. no tempo de j. edgar hoover, a sociedade dos alunos do fbi contava com 10.000 antigos agentes. muitos deles, depois de deixarem o fbi, tinham seguido com �xito carreiras jur�dicas, na ind�stria, nos bancos, gra�as ao amparo e apoio de hoover. agora, sob o dom�nio de vernon t. tynan, a sociedade dos alunos do fbi tinha uma massa associativa de 14.000 homens e mulheres (embora estas fossem poucas) e a maioria esmagadora ainda estava sob a influ�ncia da disciplina que o fbi incutia nos seus homens, ainda estava agradecida ao apoio de tynan, que ajudava a catapultar os ex-agentes nas suas novas carreiras. era um audit�rio hostil para collins. n�o porque soubessem que havia diverg�ncias da sua parte. mas ele sabia-o e isso era o suficiente para o perturbar. o discurso que ele e radenbaugh tinham preparado fora cuidadosamente limado para se adequar ao audit�rio. j� que n�o podia atacar a 35.a emenda, collins tinha decidido evitar pronunciar-se sobre essa quest�o. tinha partido do princ�pio que a emenda se converteria em lei, limitando-se a afirmar que era necess�rio criar meios para deter a criminalidade e o desrespeito pela lei na am�rica. tinha exposto, em linhas gerais, outras reformas necess�rias ao pa�s. tinha tratado do crime e das suas causas. tinha falado sobre as ra�zes sociais da criminalidade. sabia, desde o in�cio, que isso n�o aqueceria o audit�rio pr�-Tynan. estes ex-agentes do fbi pretendiam uma afirma��o inequ�voca da emenda do seu diretor. queriam foguetes e fogo de artif�cio a proclamar a morte da declara��o de direitos obstrucionista e o nascimento de um comit� de seguran�a nacional dirigido por tynan. em vez disso tinham apanhado com a estopada das reformas sociais. tinham ficado desiludidos e aborrecidos. collins tamb�m tinha consci�ncia de que o audit�rio estava infiltrado de espi�es e informantes de tynan, prontos a relatar ao patr�o qualquer desvio em rela��o ao texto preconizado pelo diretor. prevendo esse fato, depois do confronto e do acordo com tynan na v�spera, collins tinha refeito o discurso v�rias vezes, durante o v�o para chicago e j� de manh� no hotel, diluindo-o persistentemente at� se tornar incaracter�stico. qualquer deslize no sentido da dissid�ncia- sabia-o bem -, era uma condena��o lan�ada sobre karen. sabia, � claro, que havia tamb�m um pequeno grupo de ouvintes que eram anti-tynan e contra a emenda. n�o sabia quem eram, mas sabia que anthony pierce era o seu chefe. collins tinha at� sentido receio em contatar com pierce na noite anterior e j� de manh�. karen correria perigo se tynan soubesse que contactara com pierce e se encontraria com ele depois do discurso. de manh� Collins dirigira-se a uma obscura cabina telef�nica no exterior do hotel para telefonar a pierce. combinara encontrar-se com ele, n�o nos seus aposentos, mas num quarto desocupado (reservado sob nome suposto) do hotel embaixador, depois de acabar o discurso e de sair do sal�o de baile. tinham combinado ver a reportagem direta da televis�o sobre a vota��o da assembl�ia da calif�rnia nesse quarto, e, se necess�rio, collins arriscar-se-ia a revelar a pierce a defec��o quanto �s posi��es governamentais sobre a 35.a emenda e a ajudar o propagandista numa estrat�gia poss�vel para a derrotar no senado estadual da� a tr�s dias. tudo isto estivera presente no esp�rito de collins enquanto tentava ler expressivamente o discurso. tinha chegado � �ltima parte. tentava interessar-se por ela, infundir-lhe express�o. - e assim, amigos, chegamos � encruzilhada - continuava collins. estamos � beira de mudar a constitui��o do pa�s, na nossa busca de lei e ordem. mas, para preservar uma sociedade pac�fica de seres humanos, � preciso mais, muito mais. delineei aqui algumas dessas necessidades. permitam-me que as resuma nas palavras de um procurador-geral dos estados unidos. collins fez uma pausa, examinou as filas e filas de rostos � sua frente e iniciou a cita��o das palavras do antigo procurador.
- ele avisou-nos firmemente que nos lembr�ssemos do seguinte: "se quisermos tratar efetivamente o problema do crime, o que devemos ver � o efeito desumanizante exercido sobre os indiv�duos pelos bairros de lata, o racismo, a ignor�ncia, a viol�ncia, a corrup��o e a impot�ncia para fazer cumprir os direitos, a pobreza, o desemprego, a pregui�a, as gera��es de subnutridos, as doen�as mentais cong�nitas, a neglig�ncia pr�-natal, a doen�a, a polui��o, a habita��o decr�pita, suja, indigna, insegura, superlotada, o alcoolismo e o consumo de drogas, a avareza, a ansiedade, o medo, o �dio, o desespero e a injusti�a. s�o estas as fontes do crime. e podem ser controladas." temos de agir desde j�. obrigado pela vossa aten��o. n�o lhes tinha dito o nome do procurador-geral que citara. n�o lhes tinha dito que eram palavras de ramsey clark. os aplausos foram ligeiros, e a sua agonia acabou. voltou para o seu lugar, aliviado, apertou algumas m�os frouxas e preparouse para esperar pelos �ltimos oradores e pelo encerramento da conven��o. meia hora depois, estava livre. deixou o sal�o de baile e juntou-se a hogan, o guarda-costas, que o acompanhou do elevador at� aos seus aposentos, a suite 1700-1 num recanto do d�cimo s�timo andar. � porta, disse que ficaria na suite durante o resto da tarde. sugeriu que era boa altura descer ao the greennerie, o caf� do hotel, e aproveitar o tempo livre para comer. o guarda-costas n�o o ouviu duas vezes. j� na suite, collins esperou algum tempo, depois abriu a porta e espreitou para o corredor. estava deserto. saiu rapidamente dos seus aposentos, procurou as escadas, desceu para o d�cimo quinto andar e localizou o quarto com o n�mero 1531 inscrito na porta. assegurando-se que n�o tinha sido seguido, entrou, deixando a porta entreaberta. fez o invent�rio do quarto. uma cama dupla. uma cadeira de bra�os. duas cadeiras. um guarda-roupa. uma televis�o. pouco atraente para um membro do gabinete presidencial, mas serviria para o efeito. estava tentado a telefonar a karen, quanto mais n�o fosse para lhe reafirmar a sua confian�a. refletiu se seria prudente usar o telefone, mas antes de poder decidir, ouviu baterem levemente � porta. deu meia volta, preparado para dar as boas-vindas apenas a tony pierce, mas viu com surpresa que n�o era s� Pierce que entrava no quarto, pois acompanhavam-no dois homens. collins n�o via pierce desde que tinham sido advers�rios no programa � procura da verdade. sentiu-se mal ao lembrar-se do seu papel e da sua atua��o no programa, e perguntou a si pr�prio o que pierce estaria a pensar dele neste momento. � primeira vista, pierce n�o parecia mostrar ressentimentos nem relut�ncia neste segundo encontro. o rosto franco e sardento daquela cabe�a de cabelo ruivo estava t�o bem humorado e entusi�stico como sempre. - c� estamos outra vez - disse ele, apertando a m�o a collins. - ainda bem que p�de vir - disse collins. - n�o tinha certeza se viria. - n�o pensei duas vezes - disse pierce. - quero apresentar-lhe dois dos meus companheiros. este � o senhor van allen. e este � o senhor ingstrup. estivemos todos no fbi e demitimo-nos no espa�o de um ano. collins apertou as m�os a cada um deles. van allen era um louro de maxilar proeminente e olhos irrequietos. ingstrup tinha uma trunfa acastanhada e um rosto curtido que ostentava um bigode castanho mal cuidado. - sentem-se - disse collins. os outros tomaram lugar na cama e em duas cadeiras, mas collins ficou de p�. - deve estar admirado por lhe ter pedido para se encontrar aqui comigo. deve querer saber o que � que temos em comum para conversarmos. aos seus olhos, sou um superior do diretor tynan do fbi e um membro do gabinete do presidente wadsworth, perten�o � seita que defende a aprova��o da 35.a emenda. aos meus olhos, voc� � o fulcro da oposi��o � emenda. n�o acha surpreendente que eu o queira ver? - absolutamente nada - disse pierce, � pesca do cachimbo, que acabou por descobrir. - n�o o perdemos de vista at� ontem ao princ�pio da tarde, quando
planejava ir � Calif�rnia para testemunhar contra a emenda. sabemos qual � a sua posi��o hoje. collins estava verdadeiramente espantado. - como p�de saber isso? - uma vez que agora podemos confiar em si, posso contar-lhe disse pierce alegremente, divertindo-se com a situa��o. assim que encheu o cachimbo, continuou: - depois de n�s tr�s termos deixado o fbi, cada um foi � sua vida. eu organizei uma firma de advogados. aqui o van allen t�m uma ag�ncia particular de detetives. ingstrup � escritor, com duas exposi��es comprometedoras sobre o fbi na lista. todos compartilhamos a mesma id�ia: que vernon t. tynan, para quem trabalhamos tanto tempo, � um homem perigoso, perigoso para o pa�s. vimo-lo tornar-se mais amea�ador de ano para ano. encontramos por todos os estados unidos outros exagentes que pensam exatamente como n�s. todos n�s possu�mos ainda a disciplina, a experi�ncia, a per�cia que ganhamos e aplicamos no fbi. perguntamos a n�s pr�prios: porque n�o p�r em pr�tica essa aprendizagem? porque n�o trabalharmos para nos protegermos uns aos outros e para livrarmos o fbi daquele megaloman�aco, protegendo assim a pr�pria democracia? assim, por sugest�o minha, pusemos de p� uma organiza��o livre e n�o-p�blica de ex-agentes do fbi que quisessem investigar... em oposi��o ao grande irm�o, que vigiava todos os nossos movimentos. n�o temos nome oficial, mas gostamos de nos chamar ifbi, investigadores do fbi. temos informantes simpatizantes por toda a parte. temos seis no seu departamento de justi�a, incluindo dois no edif�cio j. edgar hoover, de tynan. fomos sabendo da sua passagem para o nosso lado. ontem, soubemos que estava a planejar ir a sacramento. pelos elementos que t�nhamos a seu respeito, deduzimos que ia fazer a viagem para romper com o presidente e com tynan, para denunciar publicamente a 35.a emenda. - isso mesmo - confirmou collins. - no entanto, n�o est� em sacramento neste momento - disse pierce. - est� aqui em chicago. de fato, fiquei surpreso quando recebi o seu recado ontem � noite. receei que a sua mudan�a de planos de viagem significasse que os seus planos pol�ticos tamb�m tinham mudado. mas conclu� que isso n�o podia ser, pois n�o quereria falar-me. - exato, mais uma vez - disse collins. - a minha posi��o continua a ser a mesma. estou de todo o cora��o contra a emenda. queria ir a sacramento combat�-la. mas no �ltimo instante, surgiu uma coisa... - surgiu tynan - disse pierce simplesmente. collins franziu a testa. - como soube? - n�o soube, mas tinha certeza. van allen falou pela primeira vez. - tynan est� em toda a parte. nunca se deve menosprezar. conhece tudo e � vingativo. continuou a partir do ponto em que j. edgar hoover tinha ficado. lembra-se dos arquivos oficiais e confidenciais de hoover? hoover tinha bufos a recolherem informa��es sobre a vida sexual do dr. martin luther king. tinha informa��es pessoais de jane fonda, de muhammad ali, do doutor benjamin spock e de pelo menos dezessete altos funcion�rios do governo, congressistas, jornalistas. bem, isso era puro amadorismo comparado com o que vernon t. tynan fez. triplicou os arquivos oficiais e confidenciais de hoover, e tem-nos usado para fazer chantagem. a bem do pa�s, diz ele... - o patriotismo - interrompeu ingstrup - � o �ltimo ref�gio de um patife, para citar o doutor samuel johnson. - sem d�vida - continuou van allen. quando tynan me designou para investigar a vida pessoal dos dirigentes da maioria do senado e da c�mara dos representantes (foi algum tempo antes da emenda ser apresentada ao congresso, e julgo que ele queria certificar-se que seria aprovada), disse-lhe que preferia outro servi�o. "terei muito prazer em lhe arranjar", disse-me ele. pouco depois, soube que me tinham dado outra miss�o... longe de washington. fui notificado da minha transfer�ncia para butte, no montana. � a sib�ria de tynan. entendi. demiti-me.
- � verdade - disse pierce. - quando me referi ao fato de nos termos demitido do fbi, n�o queria dizer que o tiv�ssemos feito amigavelmente. van allen saiu por ter sido mandado para o ex�lio, como acaba de lhe contar. ingstrup era o principal orador na festa do final do curso do liceu da sua filha. falou do papel do fbi na nossa democracia e fez sugest�es moderadas para algumas reformas no servi�o. isso chegou ao conhecimento de tynan nessa noite. ingstrup foi imediatamente despromovido, o seu trabalho foi classificado num escal�o mais baixo e ele demitiu-se. mas tynan ainda n�o estava satisfeito. quando ingstrup tentou arranjar outro emprego no tribunal de execu��es, o longo bra�o de tynan acompanhou-o. tynan informou toda a gente que ingstrup tinha um registro desonroso no fbi. quando ele se tornou um escritor independente, o seu primeiro livro foi um coment�rio cr�tico das opera��es do fbi. tynan ordenou a proibi��o da publica��o do manuscrito. conseguiu-o t�o bem que ingstrup teve de procurar uma editora de segunda para fazer a publica��o. felizmente, o livro foi um best-seller. - e no seu caso? - perguntou collins. - eu? - disse pierce. - eu protestei contra a despromo��o de ingstrup. defendi-o. a �nica resposta de tynan foi um documento avisando-me da transfer�ncia para cincinnati, a segunda sib�ria de tynan. sabia que o fbi n�o tinha futuro para mim depois disso. assim, demiti-me. n�o, chris (se me permite que o chame chris), ningu�m se mete com tynan e ganha. - voc�s est�o a meter-se com tynan no caso da emenda. - e n�o conto venc�-lo - disse pierce. - mas tentarei fazer-lhe a vida negra. de qualquer forma, quando me disse que tinha planejado opor-se a tynan mas que tinha surgido uma coisa que mudara os seus planos, pensei logo que essa coisa se chamava tynan. presumo que n�o vai colocar-se abertamente do nosso lado. - n�o posso -disse collins. estudou os tr�s homens que estavam no quarto, esses veteranos de tynan, esses homens que tinham sido postos na rua por se oporem ao diretor do fbi e � sua organiza��o paquid�rmica, e sentiu subitamente que estava ao seu lado. tinham ganho completamente a sua confian�a. decidiu dizer-lhes como tynan o tinha tornado impotente no �ltimo minuto. - est� bem. parece-me que n�o h� nada a esconder. vou dizer-lhes porque n�o posso acompanh�-los em p�blico. pierce dispensou-lhe um meio sorriso. - pode confiar em n�s. collins refletiu no que lhes havia de dizer e por onde come�ar. - encontrei-me ontem com o presidente wadsworth. disse-lhe que sabia que tynan era o respons�vel pelo assass�nio do presidente do supremo maynard... - eh! - exclamou pierce. - n�o sab�amos disso. tem certeza? - sim, creio que sim. soube-o por uma pessoa que estava envolvida. mas n�o posso provar. n�o pude provar isso e muitas outras coisas ao presidente. no entanto, apresentei-lhe uma boa acusa��o contra tynan. pedi-lhe que o demitisse. recusou. disse-lhe que ent�o n�o tinha por onde escolher, que tinha de me demitir, de ir para a calif�rnia e manifestar-me publicamente contra a emenda. estava disposto a faz�-lo, como souberam. - mas ent�o teve de defrontar-se com tynan - disse pierce. - exatamente. logo a seguir, soube que ele estava pessoalmente no meu gabinete. - para comprar o seu sil�ncio - disse ingstrup. - sim, para fazer chantagem comigo - concordou collins. pierce encheu novamente o cachimbo e acendeu-o. - conte-nos o que se passou. embora reticente, collins concordou. relatou todos os pormenores das provas que tynan tinha reunido contra a sua mulher e falou da nova testemunha visual que tinha aparecido no momento oportuno. - n�o usou da menor sutileza - concluiu collins. - ofereceu-me os termos da rendi��o: n�o podia demitir-me; n�o podia ir para a calif�rnia; n�o podia proclamar a minha oposi��o � emenda. se aceitasse esses termos, karen ficaria a
salvo. se o desafiasse, prosseguindo, ent�o ela seria novamente julgada. n�o tinha por onde escolher. aceitei as condi��es. - mas ela contou-lhe que estava inocente - disse van allen. - claro que sim. est� inocente. acredito nela. no entanto, n�o posso permitir que seja novamente agarrada na teia. tive de desistir. - levantou as m�os. - e aqui estou como sans�o com um corte � escovinha. viu pierce olhar de relance para van allen que fez um aceno quase impercept�vel, depois viu-o olhar para ingstrup, que tamb�m acenou com a cabe�a. - talvez o possamos ajudar, chris - disse pierce. - como? - metendo-nos no caso com a nossa pequena for�a anti-fbi, o nosso ifbi. temos um dos melhores homens no texas... um rancheiro, jim shack. foi agente do fbi durante dez anos, mas fartou-se quando tynan se tornou diretor. temos l� mais dois, ainda membros do fbi, que odeiam tynan. talvez possam fazer muito por si, mesmo dar a sans�o a nova cabeleira. - n�o vejo o que possam fazer. - podem examinar o antigo processo da sua mulher e descobrir qual � a sua verdadeira situa��o. depois, podem fazer perguntas e descobrir se tynan tem uma nova testemunha, como diz, ou se o est� a enganar, armando uma chantagem sobre provas que n�o existem. - n�o tinha pensado nisso. - mas deve pensar. � muito poss�vel. collins ficou carrancudo. - n�o sei. n�o gosto de me arriscar. se tynan descobriu... - jim shack e os outros homens s�o muito discretos. s�o melhores que os melhores que tynan hoje tem. collins ainda estava preocupado. - deixem-me pensar. - n�o temos muito tempo - recordou-lhe pierce. - a assembl�ia da calif�rnia vota hoje... - eh! - exclamou van allen, saltando da cadeira. - d� na televis�o. quase nos esquec�amos. correu para o aparelho de televis�o colocado no toilette. - sim - disse pierce -, vamos ver se o nosso trabalho junto dos deputados da assembl�ia deu algum resultado. se votarem contra est� tudo acabado para tynan e o nosso trabalho conclu�do. mas se aprovarem... - quais s�o as previs�es? - perguntou collins, sentando-se na cadeira de bra�os. - pelas �ltimas informa��es, a assembl�ia inclinava-se para a aprova��o. no senado � que � mais dif�cil. no entanto, nunca se sabe. vamos ver. a televis�o estava ligada. todos se concentraram nela. a c�mara focava a divisa dourada sobre o retrato encaixilhado de abraham lincoln no alto da tribuna. a legenda dizia: legisla torum est justa leges condere. - o que � que significa? - perguntou van allen. - � dever dos legisladores fazerem leis justas - explicou collins. - olhem - exclamou pierce. a c�mara descia lentamente para mostrar as bancadas por baixo da tribuna, onde as leis e as resolu��es eram forjadas. em seguida a c�mara focou os oitenta deputados � Assembl�ia, sentados nas suas carteiras individuais e com os microfones nas cinco coxias. estava a realizar-se a terceira e �ltima leitura da proposta de emenda. "sec��o i. n�mero 1. nenhum direito ou liberdade garantidos pela constitui��o podem ser considerados como autoriza��o para p�r em perigo a seguran�a nacional. n�mero 2. na eventualidade de perigo claro e imediato, deve reunir-se um comit� de seguran�a nacional, nomeado pelo presidente, em sess�o conjunta com o conselho nacional de seguran�a. n�mero 3. se se reconhecer que a seguran�a nacional est� em perigo, o comit� de seguran�a nacional proclamar� o
estado de emerg�ncia e assumir� plenos poderes, sobrepondo-se �s autoridades constitucionais, at� que o perigo em causa tenha sido dominado e/ou eliminado. n�mero 4. o presidente do comit� ser� o diretor do fbi." - tynan, a cl�usula de tynan - disse pierce sem se dirigir a ningu�m em particular. a leitura continuava na televis�o. "n�mero 5. a proclama��o durar� s� enquanto persistir a emerg�ncia e terminar� automaticamente assim que se declarar formalmente que a emerg�ncia j� n�o existe. sec��o ii. n�mero 1. durante o per�odo suspensivo, os restantes direitos e garantias assegurados pela constitui��o continuar�o a ser inviol�veis. n�mero 2. todas as resolu��es do comit� devem ser tomadas por unanimidade." a voz calma do locutor da rede de televis�o fez-se ouvir. "a vota��o cr�tica est� prestes a come�ar. cada deputado vota carregando num bot�o instalado na sua carteira. se votar sim, acende-se uma luz verde ao lado do seu nome no grande quadro da sala. se deslocar a cavilha do bot�o para a posi��o n�o, acende-se uma luz vermelha a seguir ao seu nome. prestem aten��o ao quadro eletr�nico dos resultados, onde os votos s�o somados automaticamente. ser� suficiente a maioria simples para aprovar a emenda. quer dizer, se o total de votos a favor atingir 41, a 35.a emenda ter� sido aprovada por esta assembl�ia. uma vota��o contr�ria de quarenta e um deputados significar� que foi derrotada. se for aprovada, a decis�o final da sua retifica��o ou rejei��o caber� ao senado, composto por quarenta membros, e ser� tomada daqui a tr�s dias. - parou. - a vota��o vai come�ar." collins parecia colado � cadeira enquanto observava. as l�mpadas iam-se acendendo � medida que os minutos passavam. collins observava o quadro eletr�nico dos resultados e as somas. as l�mpadas verdes predominavam. o contador subia para trinta e seis, depois para trinta e sete, trinta e oito, trinta e nove, quarenta, quarenta e um. um grito de satisfa��o partiu da galeria da assist�ncia, cortado por alguns lamentos, mas a voz do locutor sobrep�s-se. ''tudo est� resolvido na assembl�ia da calif�rnia. a 35.a emenda obteve a maioria dos votos: quarenta e um em oitenta. foi aprovada na primeira das duas c�maras. agora o seu destino est� integralmente nas m�os do senado do estado da calif�rnia, daqui a setenta e duas horas." pierce levantou-se da cama e desligou o aparelho. - j� receava isto. - olhou para os outros. - parece que a nossa tarefa n�o resultou. - aproximou-se de collins, que estava im�vel na cadeira de bra�os. chris, preciso de toda a ajuda que nos puder dar. deixe-nos tentar ajud�-lo a libertar-se para nos poder auxiliar. - refere-se a karen? - � sua mulher. � chantagem de tynan. deixe me contatar com jim shack e os outros dois em fort worth. o desencorajador acontecimento apresentado na televis�o j� tinha levado collins a uma decis�o. - muito bem -disse -, v�o para a frente. aceito a vossa oferta. - tinha decidido que a sua �ltima esperan�a era ficar ao lado destes tr�s homens. - mas h� mais uma coisa em que me podem ajudar. � uma coisa que, se for revelada, pode levar � derrota da emenda. - tudo o que possa ser feito nesse sentido tem o meu apoio disse pierce, voltando para o seu lugar � beira da cama. collins p�s-se de p�. - algum de voc�s j� ouviu falar de um documento, ou talvez de um memorando, chamado o documento r? - o documento r? - repetiu pierce. fez que n�o com a cabe�a. - n�o me diz nada. n�o, nunca ouvi falar. van allen e ingstrup tamb�m deram a entender que nunca tinham ouvido falar disso. - ent�o vou contar-lhes - disse collins. - tudo come�ou com a morte do
coronel baxter. s� soube do documento uns dias depois... sem omitir nenhum pormenor, collins fez reviver o grupo de personagens familiares e recapitulou os acontecimentos das �ltimas semanas, enquanto que os tr�s homens o ouviam entusiasmados. collins falou durante uma hora, a respeito do coronel baxter, da vi�va, do documento r (perigo... perigoso... deve ser revelado imediatamente, a todo o custo... eu vi... grave... grave a��o... v� ver...), do lago tule, de josh, com o campo de deten��o (pierce tinha feito que sim com a cabe�a), dos deputados keefe, yurkovich e tobias e das estat�sticas criminais falsificadas, do diretor jenkins da penitenci�ria de lewisburg, de susie radenbaugh e do pr�prio radenbaugh, da ilha dos pescadores, do presidente do supremo maynard e de argo city, de radenbaugh e de ramon escobar. foi tudo exposto diante deles, exceto a prova principal, o documento r, que continuava a faltar. quando acabou, tinha a voz rouca e esperava ver a incredulidade nos rostos. em vez disso, estavam impass�veis, como se refletissem no que tinham ouvido. - n�o est�o espantados? - perguntou collins. - n�o - respondeu pierce. - j� vimos muita coisa, j� ouvimos muito, sabemos demasiado a respeito de tynan. - acreditam em mim, n�o acreditam? - em tudo o que disse - respondeu pierce pondo-se de p�. sabemos do que tynan � capaz e da sua capacidade em agir, desde que satisfa�a os seus fins. � totalmente implac�vel e vai vencer, a menos que tiremos vantagem das nossas possibilidades. se nos der toda a sua coopera��o, chris, dentro de horas poremos toda a nossa for�a de ex-agentes do fbi e de informantes em contra-ataque. quero pedir-lhe que fique c� esta noite, chris. poder� regressar a washington de manh�. vou mandar van buscar comida e bebidas. vamos ficar aqui at� � meia-noite e delinear o nosso plano. depois n�s os tr�s sairemos, iremos a cabinas telef�nicas, e telefonaremos para os membros da nossa for�a de contra-ataque. de manh� j� devem estar todos cientes das suas atribui��es. que lhe parece? - estou pronto. - �timo. os contatos mais importantes reservamo-los para n�s mesmos. temos de passar por todo o terreno que voc� j� bateu. sei que realizou uma tarefa perfeita, mas as investiga��es s�o o nosso of�cio. podemos conseguir informa��es a que voc� n�o tem acesso. al�m disso as pessoas com quem falou podem lembrar-se demais pormenores numa segunda conversa. interrogarei radenbaugh pessoalmente. van allen ir� investigar novamente argo city. ingstrup ir� ter com o padre dubinski. e voc�, acho que deve ir ver novamente hannah baxter, chris. penso que pode falar com ela melhor que qualquer de n�s. est� bem? - irei v�-la outra vez - prometeu collins. - e quanto a ishmael young? pierce refletiu e depois abanou a cabe�a. - n�o, n�o tenho certeza que ele esteja do nosso lado, porque � muito �ntimo de tynan. pode deixar escapar qualquer coisa por acidente. se isso acontecesse, as nossas cabe�as rolariam. - fez uma pausa.- ent�o, h� mais alguma coisa? collins lembrara-se de mais um pormenor. - ishmael young, da �ltima vez que o vi, referiu que tynan tinha m�e. vive perto de washington. tynan vai v�-la uma vez por semana. - n�o est� a brincar? tynan tem m�e? custa-me a acreditar. - � verdade. - bem, � evidente que n�o nos atrever�amos a entrevist�-la. mas quem sabe? deixe-me dormir sobre o assunto. tem outras id�ias, chris? - n�o. - bem, temos mais do que o suficiente para nos manter ocupados durante as setenta horas que nos restam. agora vamos tirar os casacos e as gravatas, pedir a van que nos traga bebidas e assentar em planos definitivos. - o que � que falta combinar? - perguntou collins. - a nossa for�a de campanha, recorda-se? vou contatar com jim shack para ir a fort worth amanh� e para trabalhar vigorosamente no caso da sua mulher. mas temos mais de cinq�enta homens e mulheres quase t�o bons como shack. vai espreitar
debaixo -
de cada pedra em que tynan viveu. nenhuma pedrinha ser� deixada de lado. acha que temos alguma possibilidade? se tivermos sorte, chris. e se tynan descobrir? seria pouca sorte - disse pierce. *** eram nove horas e dezoito minutos da manh� quando chris collins regressou a washington. � porta do aeroporto, esperava-o a sua limusine. mandou pagano lev�-lo diretamente para casa. ao abrir a porta, n�o ouviu nenhum ru�do e pensou que karen ainda estivesse a dormir. atravessou a casa e entrou no quarto para mudar de roupa e voltar para o servi�o o mais depressa poss�vel. viu que a cama estava feita. perguntando-se onde estaria karen, percorreu novamente a casa, chamando-a, esperando encontr�-la na cozinha. mas n�o estava na cozinha. voltou ao quarto. ao contr�rio do que era habitual, a casa estava sossegada. entrou na casa de banho e viu um papel colado ao espelho com fita gomada. puxou-o, reconhecendo a letra de karen, e, pela data, viu que tinha sido escrito na noite anterior. apreensivo, come�ou a l�-lo. meu querido, espero que n�o fiques abalado. nunca te devia ter escondido absolutamente nada. devia ter percebido que uma figura p�blica como tu era vulner�vel, e devia ter compreendido que uma pessoa como tynan havia de esquadrinhar informa��es a meu respeito e us�-las indevidamente. juro-te que estou inocente. contudo, receio que n�o estejas convencido. o fato de n�o permitires que o assunto seja conhecido, receando um segundo julgamento (para meu bem, eu sei), diz-me que n�o tens certeza de como o julgamento terminaria. por mim n�o tenho d�vidas, mas sei que as tens. de qualquer maneira, uma vez que n�o desafiaste tynan (por minha causa), decidi desafi�-lo eu. resolvi ir para o texas, descobrir essa testemunha nova e arrancarlhe a verdade. n�o quero esperar at� que voltes a casa. n�o quero que voltes a falar-me no caso. quero provar a minha inoc�ncia total, a tynan e a toda a gente, leve o tempo que levar, e sei que s� eu o posso fazer. n�o tentes encontrar-me. estarei em fort worth em casa de amigos. n�o quero estar em contato contigo at� ver resolvido o problema. n�o te preocupes. deixa-me agir � minha maneira. a coisa mais importante � que te amo. quero que me ames e confies em mim. karen collins deitou o papel para o lixo e rodou nos calcanhares, confuso. o procedimento dela era a �ltima coisa no mundo que podia esperar. ela esperara que n�o ficasse abalado, dizia-o. n�o estava abalado. estava chocado. a id�ia da sua mulher, gr�vida, sozinha algures no texas, algures em fort worth, fora do alcance e profundamente perturbada, era quase mais do que podia suportar. esteve tentado a tomar o primeiro avi�o para fort worth e a tentar encontr�-la. mas seria procurar uma agulha num palheiro. no entanto, tinha de fazer alguma coisa. antes que pudesse pensar, ouviu o telefone a tocar no quarto. rezando intimamente que fosse karen, correu para o telefone e levantou o auscultador. n�o era karen. era uma voz masculina que logo reconheceu. era tony pierce. - bom dia, chris. meti-me num avi�o pouco depois de voc�. j� estou em washington. - bons dias, t... - por pouco n�o lhe escapava o primeiro nome de pierce, mas acautelou-se a tempo, lembrando-se das regras do jogo estabelecidas em chicago na noite anterior: n�o mencionar pierce nem os seus amigos ao telefone. - tenho uma novidade a dar - disse pierce. - acabo de ser informado que vernon t. tynan segue amanh� � noite para nova iorque em servi�o. depois vai para sacramento. est� combinado apresentar-se pessoalmente perante o comit� Judicial do senado da calif�rnia, na sexta-feira. vai dar um valente empurr�o na 35.a emenda. ser� a �ltima testemunha antes de passar ao plen�rio do senado.
collins estava demasiado agitado por causa da mulher para reagir �s not�cias sobre tynan ou atingir as suas implica��es. - lamento - disse -, mas receio n�o ser capaz de pensar nisso agora. cheguei a casa e encontrei um bilhete da minha mulher. ela... - espere - interrompeu pierce. - imagino o que seja, mas n�o discuta isso pelo telefone. h� cabinas telef�nicas nas proximidades? - v�rias. a mais perto... - n�o diga. v� l� e telefone. fico � espera. dei-lhe o n�mero ontem � noite. tem-no? - sim. j� lhe telefono. collins pegou precipitadamente no bilhete de karen e apressou-se a sair de casa. o autom�vel oficial ainda estava � espera; collins fez sinal ao condutor para aguardar e disse a pagano que n�o demorava. minutos depois, tinha percorrido dois pequenos quarteir�es e virado para a esta��o de servi�o. dirigiu-se � cabina telef�nica, fechou-se l� dentro, meteu as moedas e marcou o n�mero de tony pierce. pierce respondeu imediatamente. - agora j� pode falar. � seguro. a sua mulher foi-se embora? - para o texas. quer vingar-se. - n�o me surpreende. - bem, eu fiquei surpreso. n�o posso compreender essa atitude. o que me parece � que ela se quer ilibar por minha causa, mas isso significa desafiar tynan. � um disparate. ela devia ter pensado melhor. devia saber que ningu�m pode bater tynan no seu campo. tentar agarrar uma testemunha de tynan e arrancar-lhe a verdade! karen n�o percebe como isso pode ser perigoso. - referiu-se a um bilhete que ela lhe deixou - disse pierce calmamente. importa-se de me ler? collins tirou do bolso a nota de karen e leu-a. quando acabou, disse: - estou a pensar seriamente em ir a fort worth para a tentar encontrar. - n�o - disse pierce firmemente -, fique quieto. n�s vamos encontr�-la. avisarei os meus homens (jim shack, lembra-se), e ponho-os na pista dela. poupavanos tempo se tiv�ssemos alguma indica��o. o bilhete diz que ela vai para casa de amigos em fort worth. tem a agenda dela em casa? - temos uma agenda comum, mas acho que ela tem uma antiga l� por casa. - �timo. assim que voltar a casa, procure essa agenda antiga, se � que ela a deixou ficar. ent�o....n�o, � melhor n�o ler as moradas pelo seu telefone... use outra cabina no caminho para o servi�o. leia-me os nomes e endere�os de todos os amigos de karen em fort worth e na �rea de d�lias. eu transmito-os a jim shack. - est� bem. - jim shack tamb�m j� est� � procura da testemunha-vedeta de tynan. a sua mulher deve estar demasiado emocionada para lidar com ela. mas shack pode tratar facilmente do caso. - obrigado, tony. mas como vai encontrar a testemunha de tynan? ele n�o me deixou saber quem era. - n�o h� problema. j� lhe disse que temos dois informantes no edif�cio do fbi. um deles trabalha de noite. h� de arranjar maneira de espreitar para o dossier de karen depois de tynan e adcock terem sa�do. d�-me o nome da testemunha e eu transmito-o a shack. confie em n�s para tratar disso. a sua mulher e o caso dela est�o em boas m�os. - n�o tenho palavras para lhe agradecer, tony. - n�o tem import�ncia - disse pierce -, estamos todos unidos. gostaria de o fazer aparecer na calif�rnia a tempo de anular o testemunho de tynan. se ele for a �nica testemunha do governo, lan�ar� o p�nico entre os senadores para os fazer aprovar a emenda. a minha outra esperan�a � que possamos deitar a m�o ao documento r at� amanh�. vamos encontrar-nos com o padre dubinski e com donald radenbaugh para continuar as entrevistas j� nas pr�ximas horas. e voc�? vai voltar a falar com hannah baxter? - n�o pode ser hoje. telefonei-lhe do aeroporto de chicago hoje de manh�.
acordei-a, mas n�o ficou aborrecida. concordou em receber-me amanh� de manh�. encontramo-nos em casa dela �s dez. - muito bem. se houver alguma novidade, telefono-lhe para o servi�o. o telefone est� livre para receber chamadas? - estar� quando ligar. vou passar a mandar verificar se n�o est� sob escuta todas as manh�s. - �timo. entrarei em contato consigo. *** pela primeira vez em muitos anos, vernon t. tynan ia a caminho da casa da m�e sem ser s�bado. al�m de ser quarta-feira, havia outros aspectos invulgares na visita de vernon t. tynan a alexandria. por um lado, n�o se tinha dado ao inc�modo de trazer a habitual pasta dos dossiers oficiais e confidenciais sobre celebridades. por outro lado, n�o ia almo�ar com a m�e. al�m disso, n�o era uma menos um quarto, mas sim tr�s e um quarto da tarde. o que tinha ocasionado esta viagem antecipada, fora uma conversa telef�nica que tivera com a m�e h� menos de dez minutos. ela raramente lhe telefonava, mas fazia-o esporadicamente, e hoje fora um desses dias. - perturbo o teu trabalho? - perguntara a vern. - n�o, nada. como est�? corre tudo bem? - nunca correu melhor. s� queria agradecer-te. - agradecer-me? - por seres um filho t�o atencioso. o aparelho de televis�o ficou a trabalhar perfeitamente. ele n�o tinha a menor id�ia de que raio ela estava a falar. - o que � que est� a dizer? - perguntou ele. - que te quero agradecer pelo arranjo da televis�o. o t�cnico veio ao fim da manh�. disse que o tinhas mandado. foi muito gentil da tua parte, vern, pensares na tua m�e e nos seus problemas, quando andas t�o ocupado. ele tinha ficado calado, tentando assentar id�ias. - vern, est�, vern? - estou, mam�. hum... vou v�-la daqui a pouco. tenho uns assuntos a tratar em alexandria. passo por a� durante um minuto. - isso � uma alegria inesperada. mais uma vez obrigado por teres mandado o t�cnico. depois de ter desligado, tynan tinha-se recostado, tentando ainda clarificar id�ias. podia ter sido um engano, um endere�o errado. mas podia ter sido muito mais. de qualquer maneira, uma coisa era certa: n�o tinha mandado nenhum t�cnico de televis�es reparar o aparelho da m�e. tinha-se levantado imediatamente da cadeira para chamar o motorista e ir o mais depressa poss�vel para alexandria. neste momento, tendo chegado ao apartamento da m�e no bairro dos cidad�os dos anos dourados, sa�a do carro e entrava no edif�cio. verificou o bot�o de alarme, praguejou por n�o estar ligado e entrou em casa. rose tynan estava na sua cadeira de balan�o em frente da televis�o. assistia a um programa de variedades. tynan deu-lhe um beijo leve e descuidado no rosto. - vieste depressa - disse ela. - estou content�ssima por teres vindo. queres que te d� de comer? - n�o se incomode, mam�. parei s� por uns minutos. - apontou para a televis�o. - ent�o, agora est� melhor? n�o me lembro do que n�o funcionava bem. - o qu�? - perguntou ela por entre o ru�do da televis�o. respirando com dificuldade, inclinou-se para a frente e baixou o volume. - estava a ver se me lembrava do que n�o funcionava bem no aparelho. �s vezes a imagem andava �s voltas. - ent�o o t�cnico veio hoje de manh�? a que horas? - deviam ser onze. - trazia uniforme? - claro. - lembra-se do aspecto dele, mam�? - que pergunta - respondeu rose tynan. - tinha o aspecto de um t�cnico.
porqu�? - queria ter certeza que mandaram o mais competente. quanto tempo se demorou? - talvez meia hora. ele queria continuar, mas tentava n�o a aborrecer. - a prop�sito, mam� - disse como por acaso -, esteve a v�-lo fazer o conserto? esteve sempre na sala ao p� dele? - falamos um bocado, mas ele estava muito ocupado. depois fui lavar os pratos. tynan passou pelo sof� e olhou para o telefone na mesinha ao lado. - mam�, onde est� a chave de parafusos? ela lutou para sair da cadeira de balan�o. - vou busc�-la. para que queres a chave? - quero examinar o seu telefone enquanto c� estou. n�o se ouve muito bem quando fala. talvez eu o consiga arranjar. assim que a m�e voltou com a chave, tynan desatarraxou a base do telefone. a seguir tirou a caixa. o mecanismo interior ficou � vista. come�ou a examin�-lo minuciosamente. passado algum tempo, suspirou, murmurando: -ah! tinha localizado o transmissor - um transmissor menor que um dedal, preso com adesivo e resina - um aparelho que captava ambos os extremos da conversa num receptor de freq��ncia modulada escondido em qualquer parte da cidade, onde a conversa podia ser gravada. o dispositivo era exatamente o mesmo que o fbi usava. tynan extraiu o transmissor do telefone, meteu-o no bolso e recolocou a caixa na base do telefone. - ent�o, estava alguma coisa avariada? - perguntou rose tynan. - estava, mam�. agora est� tudo bem. o que importava era que eles, quem quer que fossem, tinham vigiado o telefone da m�e desde manh�. tentou lembrar-se se lhe tinha dito alguma coisa importante nos �ltimos s�bados que ela pudesse ter hoje repetido a alguma amiga pelo telefone. - a mam� fez hoje chamadas? n�o de manh� cedo, s� depois das onze horas. - vamos ver se me lembro. - pense bem. algu�m lhe telefonou? ou telefonou a algu�m? - s� recebi uma chamada da senhora grossman. - de que falaram? - foi pouco tempo. falamos de uma receita que lhe passaram. tamb�m te telefonei a ti. - � tudo. - sim, � tudo. n�o, espera. ter� sido hoje? sim, foi hoje. tive uma grande conversa com hannah baxter. - lembra-se do que falaram? rose tynan come�ou a contar os assuntos que tinha discutido com hannah baxter. coisas triviais, sem a menor import�ncia. - precisa se manter ocupada - concluiu rose tynan. - sente muito a falta do marido. apesar de ter o neto rick em casa, e de n�o estar sozinha, n�o � a mesma coisa que ter uma pessoa �ntima, especialmente sendo ele o procurador-geral. � claro que amanh� vai ter l� o procurador-geral... tynan n�o tinha estado a prestar aten��o, mas agora arrebitava as orelhas. - o que � que est� a dizer? que vai ter l� o procurador-geral amanh�? deve estar enganada. o procurador-geral era noah, mas j� est� morto. - ela referia-se ao novo procurador-geral. como � que ele se chama? - christopher collins. - � esse. vai v�-la amanh� de manh�. - porqu�? ela disse porqu�? - n�o sei, ela n�o disse.
- collins vai visitar hannah baxter - disse mais para si que para a m�e.bem, diga-me, quanto tempo esteve a falar com hannah baxter ao telefone? - ao telefone? n�o disse que falei com hannah baxter ao telefone. falei com ela pessoalmente. ela apareceu de manh� para tomar caf� comigo. - veio c�! ? - disse tynan com al�vio. - �timo. bem, tenho de me ir j� embora, mam�. tenho muito que fazer antes de ir para a calif�rnia amanh�. s� mais uma coisa. n�o deixe entrar mais nenhum t�cnico sem falar comigo primeiro. telefone-me antes... - se � assim que o diretor quer... - � o que eu quero. - beijou a m�e na testa. - e obrigado pelas not�cias. - que not�cias? - perguntou ela. - qualquer dia conto-lhe. dito isto, partiu apressado. *** na manh� seguinte chovia e o c�u de washington estava escuro e pesado, quando chris collins seguia do departamento de justi�a para a resid�ncia de baxter, em georgetown. durante o caminho, a disposi��o de collins tinha acompanhado o tempo. raras vezes tinha estado t�o melanc�lico. desde a v�spera que n�o recebera chamadas, nem de tony pierce nem de ingstrup ou van allen. parecia que os interrogat�rios e investiga��es, dos tr�s homens na capital e dos seus companheiros por todo o pa�s, n�o tinham encontrado pistas que pudessem levar � descoberta do documento r. e o pior � que n�o tinham chegado not�cias de jim shack em fort worth. no dia seguinte � tarde, no extremo do pa�s, no capit�lio do estado da calif�rnia, a 35.a emenda seria posta � vota��o final pelos quarenta membros do senado. era preciso a maioria dos votos para a ratificar, ou seja vinte e um membros. de acordo com um artigo do washington post dessa manh�, uma fonte pr�xima do presidente wadsworth tinha revelado que o conselheiro presidencial ronald steedman informara o presidente de que a �ltima sondagem confidencial entre os senadores da calif�rnia indicara que trinta senadores iriam votar pela ratifica��o da nova emenda. no dia seguinte � noite, a 35.a emenda faria parte da constitui��o dos estados unidos. o futuro nunca parecera t�o desolador a collins. percebeu que a sua limusina do governo tinha parado diante da velha casa de tijolo branco em georgetown. eram exatamente dez horas da manh�. tinha chegado a horas para o encontro com hannah baxter. quando o agente especial hogan lhe abriu a porta de tr�s, collins informou o motorista pagano: - pode esperar aqui. - ao descer do carro acrescentou para hogan: - n�o me devo demorar. fique por aqui. enquanto subia a escadaria ladeada pela grade de ferro, collins estava demasiado desanimado para ter quaisquer esperan�as na visita. j� tinha falado com hannah baxter uma vez, no in�cio da sua busca do documento r, e ela pouco lhe tinha podido dar. era verdade que o tinha levado at� Donald radenbaugh, o que j� tinha sido alguma coisa, mas n�o o suficiente. tinha d�vidas que lhe pudesse oferecer mais alguma coisa desta segunda vez. era um trabalho in�til, estava certo, mas tinha prometido a tony pierce que tentaria novamente, e assim faria. tocou � campainha. em vez da criada, foi a pr�pria hannah baxter quem veio abrir a porta. a sua figura roli�a era t�o hospitaleira como sempre. - christopher, como � bom v�-lo de novo. - depois de terem entrado, beijou-a e ela retribuiu. - bem, deixe-me olhar para si. parece excelente; bem, talvez um pouco cansado. n�o deve trabalhar demasiado. � o que eu dizia sempre a noah. e tinha raz�o, como sabe. - tem melhor parecer que da �ltima vez, hannah. como tem passado? - ocupada, christopher, sempre a mexer-me. gra�as a deus tenho comigo o rick. quando ele vai para a escola � tarde, sinto-me completamente desamparada. os pais regressam de �frica na pr�xima semana. creio que o v�o deixar comigo at� acabar o semestre. talvez o ver�o todo. como est� Karen? collins gostava de lhe contar, mas como seria muito complicado e envolveria tynan, decidiu n�o o fazer.
- oh, est� �tima. manda-lhe lembran�as. obrigado. foram para a sala de estar. hannah apontou para as portas de vidro que se viam atrav�s dos pesados reposteiros castanhos parcialmente corridos. - � pena n�o poder arranjar um dia de sol para si. pod�amos sentar-nos no p�tio. n�o faz mal, estaremos bem aqui. collins esperou que hannah se instalasse no sof� e sentou-se na cadeira de espaldar alto em frente dos reposteiros. - posso servir-lhe alguma coisa, christopher? - perguntou.- caf� ou ch�? - nada, hannah. estou perfeitamente. queria falar de uma coisa sem grande import�ncia. n�o vai demorar muito. - vamos a isso. - trata-se do mesmo assunto que me trouxe c� da �ltima vez, pouco depois da morte de noah. lembra-se? as suas sobrancelhas contra�ram-se. - n�o me lembro muito bem. tem acontecido tanta coisa... acho que era sobre uns pap�is de noah que procuravas, n�o era? - sim, vou refrescar-lhe a mem�ria. foi por causa de um papel que faltava e que eu tentava encontrar; estava relacionado com a 35.a emenda, um papel complementar. noah queria que eu o procurasse e conhecesse. disse que se chamava documento r. mas n�o fui capaz de o encontrar. embora devesse ach�-lo. na �ltima visita perguntei-lhe se tinha ouvido noah falar dele. disse-me que n�o. tinha esperan�a de que se tentasse novamente, se pudesse lembrar de qualquer ocasi�o em que ele... - n�o, christopher. se tivesse ouvido falar nele, havia de me lembrar. mas nunca ouvi falar de nada chamado o documento r. noah raramente falava comigo sobre assuntos de servi�o. collins resolveu tentar de outra maneira. - ouviu noah referir-se alguma vez a um lugar chamado argo city? � uma cidade do arizona em que o departamento de justi�a est� interessado. - repetiu o nome lentamente. - argo city. - n�o, nunca. desapontado, resolveu voltar ao assunto inicial. - da �ltima vez que aqui estive, perguntei-lhe se noah tinha alguns amigos �ntimos ou s�cios de neg�cios a quem pudesse ter falado no assunto, algu�m que me pudesse ajudar a encontrar o documento r. alvitrou que eu devia falar com donald radenbaugh na penitenci�ria de lewisburg, o que lhe agrade�o. - viu donald radenbaugh? - quis saber hannah. - n�o. tentei v�-lo, mas tinha morrido antes de o poder visitar. - pobre homem. uma trag�dia. e vernon t. tynan. j� lhe perguntou se sabia o que era o documento r? - assim que sa� daqui. mas ele n�o me p�de ajudar. hannah baxter encolheu os ombros. - ent�o parece que est� sem sorte, christopher. se vernon tynan n�o o pode ajudar, tenho certeza que n�o h� mais ningu�m que possa. como sabe, vernon e noah eram muito chegados, quer dizer, trabalhavam juntos na emenda. de fato, na �ltima noite que passou em casa, vernon e harry adcock estavam aqui, nesta sala, a conferenciar com ele, a trabalhar com ele, quando lhe deu o ataque. foi no meio da reuni�o. de repente teve uma tontura, desmaiou e caiu no ch�o. foi terr�vel. collins ainda nunca tinha ouvido falar nisso. - mas ent�o, noah estava com tynan e adcock na noite do ataque? nunca soube disso. tem certeza? - n�o consigo esquecer-me - disse hannah pesarosa. - foi uma reuni�o extraordin�ria. noah (julgo que por amor de mim) raramente trabalhava � noite. bem, �s vezes ficava a trabalhar sozinho. refiro-me a reuni�es com outras pessoas. lembro-me que vernon insistiu em v�-lo nessa noite, e veio logo depois do jantar. - e harry adcock tamb�m estava c�? ela hesitou.
- tenho quase certeza. quanto a vernon tenho certeza, claro. mas foi uma noite de muita confus�o... posso n�o me lembrar de tudo perfeitamente. quer saber se harry adcock tamb�m estava? - bem, talvez n�o tenha import�ncia. - n�o, n�o me importo de verificar - disse ela levantando-se. a agenda de noah deve informar-nos. h� de estar em qualquer parte no escrit�rio. hei de encontr�-la. saiu da sala e collins recostou-se na cadeira de bra�os, pensando que n�o tinha sabido nada de �til de hannah baxter. ali sentado, mergulhou no des�nimo mais profundamente do que nunca, completamente perdido. pareceu-lhe ter ouvido um ru�do junto da cadeira, por tr�s e debaixo- como um ro�ar e arrastar de p�s. lan�ou a cabe�a para a esquerda a tempo de ver o reposteiro castanho abanar misteriosamente. olhou para baixo e a ponta do cortinado erguia-se e sa�a de tr�s dele um rapaz. era rick baxter, o neto de hannah, que avan�ava de joelhos, com o eterno gravador na m�o esquerda. - ol�, rick - chamou collins. - que estavas a fazer atr�s do reposteiro, a ouvir a conversa? - � o melhor esconderijo desta sala - disse rick, com um sorriso que deixava ver a arma��o nos dentes. - como � que est� a trabalhar o teu gravador? - perguntou collins. o rapaz levantou-se, afastando dos olhos o cabelo castanho desgrenhado. pousou a caixa de couro que continha o gravador. - est� a trabalhar perfeitamente desde que o arranjou. quer ouvir? sem esperar por resposta, rick carregou no bot�o de rebobinar, observando hipnotizado a fita que voltava para tr�s, parou o aparelho e premiu o bot�o de reprodu��o. rick chegou a m�quina para mais perto dos ouvidos de collins. - ou�a, acabei de grav�-lo a falar com a av�. abanando a cabe�a, collins chegou-se para perto do gravador e prestou aten��o. era a voz inimit�vel de hannah, e a fidelidade da grava��o, mesmo feita por detr�s do reposteiro, era not�vel. "e vernon t. tynan? j� lhe perguntou se sabia o que era o documento r?" depois a voz dele: ''assim que sa� daqui. mas ele n�o me p�de ajudar.'' de novo a voz de hannah: "ent�o parece que est� sem sorte, christopher. se vernon tynan n�o o pode ajudar, tenho certeza que n�o h� mais ningu�m que possa. como sabe, vernon e noah eram muito chegados, quer dizer, trabalhavam juntos na emenda. de fato, na �ltima noite que passou em casa, vernon e harry adcock estavam aqui, nesta sala, a conferenciar com ele, a trabalhar com ele, quando lhe deu o ataque. foi no meio da reuni�o... - � formid�vel, rick - interrompeu collins. - j� ouvi o suficiente. da pr�xima vez que c� vier, vou ser cuidadoso. o rapaz carregara rapidamente no bot�o de paragem. - fique � vontade, n�o sou empregado de um servi�o do governo. � s� um passatempo. collins tentava mostrar-se impressionado. - bem, foi muito bem feito. podes arranjar trabalho como agente do fbi. - n�o, ainda n�o tenho idade. mas � divertido brincar ao fbi. j� fiz um bom cento de grava��es atr�s deste cortinado. ningu�m sabia que aqui estava. at� uma vez, o av� apanhou-me. - o av� apanhou-te? - disse collins. - viu a biqueira do sapato a sair por baixo do reposteiro. - e importou-se? - ah, ficou muito aborrecido. disse-me que era muito grave fazer grava��es daquelas.
subitamente, collins empertigou-se na cadeira. baixou os olhos para o rapaz. - desculpa, rick, n�o compreendi bem o que contaste. o que � que o teu avozinho disse quando te apanhou atr�s do reposteiro? - que era muito grave fazer grava��es daquelas e que se me visse a brincar outra vez assim me castigava. - compreendo. nesse instante collins ainda n�o compreendia, sentia apenas. mas n�o tardou que aquilo come�asse a fazer algum sentido. collins ficou absorto. as �ltimas palavras de noah baxter inundavam-lhe o esp�rito: "o documento r... eu vi... grave... grave a��o... v� ver..." agora as palavras de rick baxter: "que era muito grave fazer grava��es daquelas." noah baxter: "eu vi... grave... grave a��o..." rick baxter: "grave, fazer grava��es daquelas." teria o coronel, nestas �ltimas palavras ofegantes, falado de uma grave a��o, ou referir-se-ia � grava��o de rick? � escuta de rick atr�s dos reposteiros? "eu vi... grave... a��o... grava��o..." teria o coronel, na sua �ltima conversa com tynan, minutos ou segundos antes do ataque, visto o abanar do reposteiro, a biqueira do sapato do rapaz saindo por baixo do reposteiro? teria percebido que o rapaz tinha gravado o segredo? e terse-ia lembrado mais tarde disso, ao recobrar momentaneamente o conhecimento quando saiu do estado de coma? teria tentado dizer-lhe: eu vi a grava��o e agora procurea, v� v�-la? ver o qu�? ver se rick tinha gravado a �ltima conversa confidencial, porque ela conduzia ao segredo do documento r? seria isso? seria poss�vel? collins olhou para rick, o rapaz ainda estava sentado de pernas cruzadas, ao lado da sua cadeira. collins pigarreou e tentou falar normalmente. - olha, rick, queria fazer-te uma pergunta... o rapaz levantou a cabe�a. collins hesitava. - aqui s� para n�s, � claro, depois do aviso do teu av� nunca mais fizeste a brincadeira de te esconderes atr�s dos reposteiros para gravar qualquer coisa, nunca mais? ou voltaste a fazer grava��es? - claro, continuei a fazer. fiz uma data delas. - e n�o tinhas medo que o av� te apanhasse? - n�o -disse rick, seguro de si.- tinha cuidado, e, al�m disso, era mais divertido correr o risco. - bem, �s muito valente - disse collins. - fizeste algumas grava��es do teu av�? - com certeza. muitas. era sempre ele que falava. h� de ouvir algumas das fitas que gravei. collins olhava fixamente para rick. avan�a com cuidado, dizia-lhe uma voz interior, com muito cuidado, n�o o assustes. - ent�o guardaste fitas do teu av�? Mesmo da �ltima noite, quando estava com o diretor tynan e sofreu o ataque? collins conteve a respira��o. - sim - disse o rapaz - e foi terr�vel estar ali escondido quando toda a gente come�ou a mexer-se por todo o lado. - queres dizer, depois do teu av� ter o ataque? - sim. - pegou no gravador. - mas antes disso gravei a conversa toda. - n�o est�s a brincar, rick? n�o posso acreditar. ent�o, conseguiste gravar a �ltima conversa de noah, do teu av� com o diretor tynan? gravaste tudo isso? - foi f�cil. tal como o gravei a si h� pouco. o diretor tynan estava sentado no lugar onde a avozinha esteve. o senhor adcock estava naquela cadeira, ali. falaram do documento r, disso que estava a falar com a avozinha. lentamente, collins endireitou-se na cadeira, sentindo um arrepio no interior do corpo e os bra�os a ficarem em pele de galinha. as �ltimas palavras de noah baxter e as suas suspeitas eram confirmadas. esfor�ou-se por manter a voz
calma. - dizes que o diretor tynan e o teu av� falaram do documento r? ouviste-os falar disso? n�o estar�s enganado? - o avozinho n�o falou. foi s� o diretor tynan. - e quando � que isso aconteceu? - antes de levarem o avozinho para o hospital. foi a �ltima vez que o diretor tynan c� esteve. ele estava a falar com o av�, quando ele teve o ataque de repente. - e ouviste tudo o que o diretor tynan disse? - claro - disse rick. - estava atr�s do reposteiro como h� bocado. tinha o gravador ligado. gravei-o exatamente como a si. - e a grava��o ficou boa? quer dizer, as vozes ficaram bem? - j� ouviu este gravador, � uma perfei��o - disse rick orgulhoso. - voltei a passar a fita na manh� seguinte, quando a avozinha estava no hospital. n�o faltava nada. estava l� tudo. collins deu um estalo com a l�ngua. - que rica m�quina que tu tens. hei de arranjar uma assim. fez uma pausa. ah, e a fita? apagaste-a? ou ainda a tens por a�? o cora��o quase lhe parou enquanto esperava pela resposta do rapaz. - n�o, nunca apago as grava��es - disse rick. - ent�o tens c� a grava��o? - j� n�o tenho. n�o guardei nenhuma com a voz do avozinho. quando o avozinho adoeceu, peguei na �ltima fita, escrevi nela pga, quer dizer, procurador-geral avozinho, e a seguir, janeiro. peguei nela e nas outras e coloquei-as na gaveta de cima (que estava aberta) do arquivo especial do avozinho, juntamente com as outras grava��es que ele fazia, porque ali estava segura. - mas o arquivo especial foi levado, n�o foi? - sim, por uns tempos. - rick, lembras-te do que estava nessa �ltima fita que gravaste do diretor tynan e do avozinho? lembras-te do que disseram sobre o documento r? collins esperava. sabia que a velha frase era verdadeira. as pessoas esperavam mesmo sufocadas. o rapaz contraiu o rosto. - n�o prestei muita aten��o. s� queria fazer a grava��o. na manh� seguinte quando voltei a pass�-la, s� quis ver se tinha apanhado tudo. - mas deves lembrar-te de alguma coisa do que ouviste. disseste que ouviste o diretor tynan falar do documento r. - disse - confirmou rick. - falou disso, mas n�o me lembro demais nada. o diretor tynan estava sempre a falar e ent�o o avozinho caiu doente. houve muitas correrias e apareceu a avozinha a chorar. fiquei com muito medo e desliguei o gravador. fiquei escondido at� chegar a ambul�ncia. quando toda a gente foi para a porta, sa� do reposteiro e corri para o meu quarto. - n�o te lembras demais nada? - lamento, mas... collins deu uma palmadinha no bra�o do rapaz. - j� � muito - disse agradecido. hannah baxter voltava � sala. - esse rapaz est� outra vez a ser uma peste e a aborrec�-lo com o gravador, christopher? - de maneira nenhuma. tivemos uma conversa muito interessante. rick deu-me uma boa ajuda. - quanto a harry adcock - disse hannah -, estive � procura na agenda de noah. sim, a entrevista dessa noite foi marcada para os dois. - bem me parecia - disse collins, piscando o olho a rick e levantando-se. � melhor ir andando. muito obrigado pela aten��o que me deu, hannah. e para ti, rick, muito obrigado tamb�m. se alguma vez procurares emprego no departamento de justi�a, pergunta por mim. ao chegar � porta de entrada, collins tinha certeza de que j� n�o podia
estar a chover nem tempo encoberto. no entanto, ainda chovia e o tempo ainda estava encoberto. o sol a brilhar estava na cabe�a de collins. s� havia uma nuvem. o arquivo pessoal de baxter estava no gabinete privativo do diretor do fbi, no edif�cio j. edgar hoover. - pagano - disse collins assim que entrou no carro -, deixe-me na primeira cabina telef�nica que vir. tenho que fazer uma chamada importante.
cap�tulo d�cimo a tarde j� ia alta quando a limusine deixou chris collins diante do edif�cio ornamentado a vermelho que abrigava a reparti��o de imprensa do governo. - estacione entre as ruas g e h - ordenou collins a pagano. pode vir buscarme dentro de meia hora. passou por um grupo de rapazes negros que conversavam perto da entrada, penetrou no edif�cio, mas n�o chegou a entrar na sala das publica��es. depois de consultar o rel�gio de pulso, voltou para tr�s pelo mesmo caminho at� ao passeio fronteiro. olhou em volta cautelosamente, para se certificar que n�o era seguido. considerava bastante prov�vel que tynan j� n�o se preocupasse em mand�-lo seguir desde a conversa que o levara � rendi��o. no entanto, tinha dado uma chave de casa a van allen para que ele fizesse uma busca eletr�nica que lhes garantissem poderem fazer chamadas telef�nicas e falar � vontade nessa noite. satisfeito, collins come�ou a andar em dire��o aos correios centrais da cidade. na esquina da rua e, voltou � esquerda e encaminhou-se para a esta��o da uni�o. a chuva tinha parado e o ar estava limpo. inspirando profundamente, collins caminhou em longas passadas, sentindo-se entusiasmado, cheio de excita��o e de expectativa. ia ser dif�cil, sabia-o, mas agora havia uma possibilidade. aproximando-se da fachada cl�ssica da esta��o da uni�o, evitou v�rios t�xis repletos de passageiros, ignorou a bicha dos rec�m-chegados cheios de malas que esperavam transporte e entrou na esta��o. o imenso �trio da esta��o da uni�o (inspirado na c�mara central dos banhos de diocleciano, segundo lera) estava quase vazio. vagueou at� ao quiosque de livros e revistas, espreitou para dentro, comprou um exemplar do washington post e concluiu que tinha sido o primeiro a chegar. tinham escolhido o �trio da esta��o como ponto de encontro seguro, porque os agentes do fbi j� nunca sa�am de washington de comboio, nem mesmo para viagens curtas at� Filad�lfia. sob a dire��o de tynan, todos eles se deslocavam de avi�o ou de helic�ptero. o aparecimento de um homem do fbi na esta��o seria imediatamente notado e poderiam ser tomadas medidas para o evitar. collins sentou-se numa cadeira desocupada em frente da entrada da esta��o, abriu o jornal de par em par, mas n�o se deu ao trabalho de o ler. por cima do cabe�alho, mantinha os olhos postos na porta. n�o teve de esperar muito tempo. passados minutos, um homem de meia idade com cabelos cor de areia, atravessava a porta. olhou na dire��o de collins, acenou ligeiramente e dirigiu-se ao quiosque das revistas. procurou nas prateleiras, pegou num jornal, pagou-o e aproximou-se de collins. tony pierce instalou-se numa cadeira ao lado de collins. - n�o me posso esquecer - disse pierce a meia-voz. - � fant�stico. o mi�do apanhou mesmo a conversa com o seu gravador mickey mouse? - � o que ele diz. e talvez seja um bom aparelho. ele n�o tinha d�vidas de que a fidelidade da grava��o era perfeita. - e ouviu tynan falar do documento r? - � verdade. - e como � que podemos reconhecer a fita?
- � uma cassette memorex, marcada pga e datada de janeiro pela m�o de rick. deve ser f�cil encontr�-la entre as de noah. noah usava fitas norelco de tamanho pequeno, cassettes de quinze minutos e 2 1/4 por 21/2 polegadas, para os ditados feitos em casa. - voc� fez um bom trabalho de casa - disse pierce bem disposto. - a quest�o n�o � como identificar a fita - disse collins-, a quest�o � apanh�-la. como lhe disse, est� na gaveta superior do arquivo de noah, no gabinete de tynan. - tamb�m fiz o meu trabalho de casa - disse pierce. - tynan deve estar no gabinete at� �s oito e quarenta e cinco da noite. a essa hora, sai do gabinete para seguir no v�o para nova iorque; depois, no aeroporto kennedy, apanhar� o v�o das onze para s. francisco; da�, partir� de autom�vel para sacramento. - quanto mais longe, melhor. - o gabinete dele deve ficar vazio. estaremos por ali perto. quando nos avisarem que a costa est� livre, voc� e eu entramos no edif�cio hoover pela porta da 10.a rua. disse-lhe que t�nhamos dois informantes no fbi; um deles est� no turno da noite e deixa-nos entrar. providenciar� para que a porta do gabinete de tynan n�o esteja trancada. - mas o arquivo de noah pode estar fechado. - sim, deve estar - concordou pierce. - � um modelo antigo, marca victor firemaster, com uma fechadura de segredo. eu abro-a. j� lhe disse que tamb�m fizemos o nosso trabalho de casa. - �timo - disse collins com admira��o. - a respeito da sua mulher... - sim? - pode ficar descansado. jim shack j� sabe onde ela est� em fort worth. est� bem. - onde � que ela est�? - shack n�o disse. n�o faz mal. o que importa � que j� demos uma olhadela pelo dossier da senhora collins. j� temos o nome e a morada da testemunha que tynan est� a esconder. � uma tal adele zurek que vive em d�lias. este nome diz-lhe alguma coisa? - karen nunca o mencionou. - naturalmente. era uma empregada substituta. nos dias em que a empregada habitual da sua mulher estava de folga, zurek substitu�a-a. jim shack foi procur�la esta tarde. se tiver alguma coisa para contar, telefona-lhe � noite. - mas n�s estamos fora. - ele sabe. telefona-lhe depois das dez e continuar� a tentar at� o encontrar. - obrigado, tony. - ent�o, hoje � noite encontramo-nos na esquina da rua e e da 12.a rua. � a dois quarteir�es do fbi. h� uma casa de hamburgers com um letreiro de n�on por cima, que diz: ''fill-up caf�''. esteja l� �s oito e meia em ponto. - estarei - garantiu-lhe collins. - espero bem que a possamos tirar acrescentou com ansiedade. - n�o se preocupe com isso - disse pierce. - esperemos � que essa fita valha todos os nossos esfor�os. - foi noah que relacionou o documento r com a 35.a emenda e que nos avisou que era perigoso, que tinha de ser divulgado. temos de confiar nele. - esperemos que assim seja - disse pierce. - porque � a nossa �ltima oportunidade at� amanh�. apostamos tudo nisso. enquanto metia o jornal no bolso, olhou em volta. - muito bem. saio primeiro. at� logo � noite. - at� logo. eram oito e meia quando chris collins, enervado pela trepida��o, desceu do t�xi na esquina da rua e com a 12.a rua. a curta dist�ncia da esquina, um letreiro de n�on vermelho e branco dizia ''fill-up caf�". o balc�o estava cheio, mas eram poucas as mesas brancas de f�rmica que
estavam ocupadas e, na mais distante, ao canto, estava tony pierce. collins abriu caminho atrav�s do restaurante e sentou-se junto de pierce, que comia serenamente o �ltimo sandu�che. - foi pontual - disse pierce entre duas dentadas. - estou terrivelmente nervoso - confessou collins. - porqu�? - perguntou pierce, limpando a boca a um guardanapo. - vai apenas visitar o gabinete do diretor do fbi. j� l� esteve antes. - mas n�o quando ele n�o estava. pierce riu em surdina. - ora a� est�! agora vamos adiantar o programa. o que � que vai fazer depois de ter nas m�os a coisinha? - bem, a grava��o de rick s� pode dizer-nos onde est� o documento r. - seja como for, o que � que faz quando tiver a fita? - se for contundente como noah deu a entender, telefonarei imediatamente para sacramento. tentarei encontrar o lugar-tenente do governador, que � o presidente do senado da calif�rnia. dir-lhe-ei que tenho provas vitais que devem ser objeto de aprecia��o para a vota��o final da 35.a emenda e pedir-lhe-ei que me marque uma audi�ncia de manh� perante o comit� Judicial, assim que tynan acabar a sua declara��o. tenho esperan�a de poder anul�-la. - perfeito - disse pierce. - amanh� � noite, a esta hora estaremos a festejar num restaurante de classe. - ainda falta muito para amanh� � noite - disse collins. - talvez. ande l�, tome uma ch�vena de caf� comigo. ainda temos tempo. foi-lhes servido o caf�. quando come�avam a beber, pierce apontou para a porta atr�s de collins. - a� vem ele. collins olhou. van allen aproximava-se por entre as mesas e o balc�o. chegou junto deles e curvou-se. - o caminho est� livre - murmurou. - tynan saiu para o aeroporto h� dez minutos. pierce pousou a ch�vena, deixou uma gorjeta na mesa e empurrou a cadeira. - vamos embora. depois de pierce ter pago a conta, entraram na rua e. percorreram rapidamente os dois quarteir�es que os separavam do objetivo. nenhum deles falou at� chegarem � Rua e e � esquina da 10.a. a estrutura maci�a de cimento do fbi surgiu diante deles, do outro lado da rua. - � aqui que me separo de voc�s - disse van allen. - vou ficar do outro lado da rampa de estacionamento, para o caso de alguma coisa correr mal ou de tynan regressar. se isso acontecer, irei ter com voc�s antes dele. felicidades para ambos. viram-no afastar-se. pierce pegou no bra�o de collins. - apressemo-nos. atravessaram a rua e seguiram lestos pela 10.a rua junto ao edif�cio j. edgar hoover. pierce subiu a dois e dois o �ngreme lance de degraus, esfor�ando-se collins por seguir na sua pegada. n�o se via ningu�m l� em cima junto das portas de vidro fechadas. de repente, um vulto destacou-se da escurid�o interior. abriu a porta e deixou-a ficar entreaberta. pierce empurrou collins para dentro e seguiu atr�s dele. collins s� tinha visto de relance o agente que os tinha deixado entrar. era um homem novo, de cara estreita, vestido de escuro, que murmurava qualquer coisa a pierce; este respondeu-lhe que sim com a cabe�a, esbo�ou um cumprimento e juntou-se a collins. - espero que esteja em boa forma - disse pierce baixinho. vamos evitar o elevador e as escadas est�o fechadas. temos de subir at� ao s�timo andar. dirigiram-se � escada e come�aram a trep�-la, tentando collins acompanhar pierce com alguma dificuldade. no terceiro patamar, pierce descansou um instante, permitindo que o companheiro recuperasse o f�lego para continuarem a escalada.
chegaram ao s�timo andar sem terem encontrado ningu�m. o barulho dos seus passos no �trio interior quebrava o sil�ncio sepulcral. tinham encontrado uma porta com o letreiro diretor do fbi. pierce indicou-lhe uma outra segunda porta sem inscri��o. p�s a m�o no puxador e experimentou-o. a porta cedeu e abriu-se. pierce entrou com collins colado a ele. tinham penetrado diretamente no gabinete particular de tynan, fracamente iluminado pela pequena l�mpada ao lado do sof�. collins ficou irresoluto, perscrutando o gabinete. a escrivaninha de tynan estava � esquerda, em frente das janelas que davam para a 9.a rua, para a sede do departamento de justi�a de collins. � direita, havia um conjunto de m�veis: sof�, mesa de caf� e duas cadeiras de bra�os. n�o se viam arquivos. - est�o na sala de vestir - murmurou pierce, apontando por cima da mesa de caf� para uma porta aberta. passaram entre a mesa e as cadeiras e entraram na estreita sala de vestir. pierce procurou o interruptor da luz e ligou o candeeiro do teto. tinham � frente o arquivo verde da marca viciar firemaster, o arquivo de noah baxter. a fechadura de segredo era por baixo da terceira gaveta. pierce experimentou cada uma das gavetas. estavam todas bem fechadas. ent�o, esfregou os dedos da m�o direita na coxa. - muito bem - murmurou. - vamos a isto. deve ser f�cil. dextro como um arrombador de cofres, pierce girou os bot�es da fechadura de segredo. collins olhava para ele, pensando nos minutos que passavam. decorridos tr�s minutos, que mais pareceram tr�s horas, a incerteza de collins estava a tornar-se insuport�vel. ouviu pierce soltar um suspiro de satisfa��o, viu-o puxar a terceira gaveta e abri-la parcialmente. pierce levantou-se, puxou para tr�s a gaveta superior e recuou. - est� � sua disposi��o, collins. com o cora��o aos pulos, collins avan�ou. olhou para dentro da metade aberta da gaveta, repleta de cassettes pequenas norelco, metidas em pequenas caixas de pl�stico; al�m destas, havia meia d�zia de cassettes maiores, do tipo das que rick tinha usado. meteu a m�o dentro da gaveta, quando subitamente outro foco de luz emergiu na sala e o som de uma voz �spera, por detr�s deles, os paralisou. - boa noite, senhor collins - cumprimentou a voz. - n�o se incomode. a porta da casa de banho estava agora aberta e a figura compacta de harry adcock ocupava-a. a sua atitude era vincada por um sorriso horr�vel. estendeu a palma de uma das m�os, enorme como um presunto, exibindo uma cassette memorex. a caixa de pl�stico j� tinha sido aberta. - � disto que os senhores est�o � procura? - perguntou. - do documento r? pois est� aqui. podem v�-lo bem. - com os dedos separou os dois lados da cassette e p�s de lado a caixa de pl�stico. ent�o, com o olhar sempre fixo neles, meteu um dedo sob a fita e desprendeu-a, desenrolando-a vagarosamente. lan�ando o pl�stico para o tapete, agitou a estreita fita castanha � frente deles. pelo canto do olho, collins viu a m�o de pierce mergulhar no bolso do casaco, mas a m�o livre de harry adcock deslocou-se ainda mais depressa para o coldre junto ao ombro e j� empunhava uma magnum 357 de cano fino que apontava para eles. - n�o experimente, pierce -disse adcock. - aqui, o senhor collins vai segurar nesta fita por um momento. - p�s a fita na m�o l�vida de collins, andou de lado, pulou para perto de pierce, apanhou e meteu ao bolso a pistola especial da pol�cia, calibre 38, que pierce trazia. sorriu para ambos. - um tiroteio entre o adjunto do diretor do fbi e um assistente oficioso do procurador-geral ficava lindamente nos jornais, n�o ficava? afastou-se e retomou de collins a ponta emaranhada da fita. - foi o mais perto do documento r que conseguiu chegar, senhor collins.
segurando a fita numa das m�os e a arma na outra, sempre apontada para eles, recuou para o banheiro e come�ou a puxar lentamente a fita para dentro. - vejam-na bem pela �ltima vez - disse adcock. - nunca houve um documento, fiquem a saber. nunca houve um papel. tamb�m n�o deveria estar gravado. as coisas mais importantes do mundo est�o geralmente dentro da cabe�a e em mais nenhum lado. o p� de adcock tinha levantado a tampa da privada. suspendeu a fita sobre a abertura. - espere um minuto - pediu-lhe collins. - ou�a-me antes de... - primeiro ou�a isto. - adcock lan�ou a fita, recuou, carregou no manipulo do autoclismo e a �gua correu. parecia divertido com o barulho da �gua a descarregar. depois sorriu. - foi para o esgoto, como as suas esperan�as, senhor collins. - saiu da casa de banho. agora diga-me o que queria dizer, senhor collins. collins cerrou os l�bios e n�o disse nada. - bem, meus senhores, toca a sair. - fez um gesto com o rev�lver na dire��o do gabinete de tynan. adcock ficou im�vel at� eles chegarem ao meio do gabinete. depois avan�ou de lado, como um caranguejo, at� junto da mesa de tynan, estendendo a m�o para o grande gravador prateado do diretor. adcock voltou-se para collins. - n�o sei que esp�cie de procurador-geral � o senhor, mas tenho certeza que n�o daria sequer para ser um agente do fbi pouco esperto. um bom agente n�o menospreza nada. o senhor e os seus rapazes esquivaram-se � maior parte da cidade para esconderem a visita secreta que aqui vinham fazer esta noite, mas houve uma coisa de que se esqueceram. carregou no bot�o de reprodu��o do gravador de tynan. as vozes que sa�am do amplificador eram bem aud�veis, n�tidas e identific�veis. a voz de rick: ''quando o avozinho adoeceu, peguei na �ltima fita, escrevi nela pga, quer dizer, procurador-geral avozinho, e a seguir, janeiro. peguei nela e nas outras e coloquei-as na gaveta de cima (que estava aberta) do arquivo especial do avozinho, juntamente com as outras grava��es que ele fazia, porque ali estava segura." a voz de collins: "mas o arquivo especial foi levado, n�o foi?" a voz de rick: "sim, por uns tempos." adcock tinha estado a goz�-lo. agora o seu dedo carregava noutro, bot�o, desligando o aparelho. - a �nica coisa que n�o evitaram foi a m�e de vernon tynan. ouviu dizer que iam a casa de hannah baxter e comunicou-lhe. poder� subestimar o fbi, senhor collins, mas nunca subestime o amor de uma m�e, o prazer que uma m�e tem em conversar com o seu filho e as suas amigas. agitou novamente o rev�lver na dire��o deles. - podem sair do gabinete pelo mesmo caminho por onde vieram. estar�o no �trio dois agentes para os acompanhar at� � sa�da. boa noite, meus senhores. desta vez podem sair do edif�cio pela porta principal. foi a viagem mais longa que collins j� tinha feito at� � sua casa em maclean, na virg�nia. esmagado, enterrava-se no assento da frente do carro alugado de pierce, enquanto este, uma imagem de des�nimo, ia conduzindo. atr�s sentava-se van allen que se sentia igualmente destro�ado. quase n�o falaram at� pararem em frente da resid�ncia de collins. quando o carro estacou, pierce disse: - bem, n�o se pode ganhar sempre, mas esta partida foi muito mal perdida. - parece-me que � o fim da estrada - disse collins. - amanh� o pa�s � deles. - receio que sim. - e que diabo, estivemos t�o perto - disse collins. - o documento r. tive essa maldita coisa na m�o. pierce abanou a cabe�a.
- o pulha s�dico. bem, foram mais espertos que n�s. juro-lhe que n�o sei como. porque estava ele babado pela m�e de tynan? - ela deve ter descoberto, suponho que atrav�s de hannah baxter, que eu a ia visitar. a m�e de tynan deve-lhe ter dito e ele mandou vigiar a casa de baxter. eles n�o descuram nada. enfim... abriu a porta. - meus senhores, para usar o termo de adcock, sinto-me suficientemente suicida esta noite para me embebedar. vou faz�-lo. querem acompanhar-me? - porque n�o? - disse pierce, desligando a igni��o. dirigiram-se para a porta da entrada. collins procurou a chave, abriu a porta e deu-lhes passagem. tinham acabado de chegar � sala de estar, quando o telefone come�ou a tocar. - eu atendo - disse collins olhando pierce. - � seguro? posso usar o meu telefone? - toda a casa foi verificada - garantiu-lhe pierce. - �timo. as bebidas est�o na mesa e o gelo est� na cozinha. aproximou-se do telefone que tocava persistentemente. - e para mim, arranjem-me cicuta com gelo. levantou o auscultador, quase o deixando cair, e acabou por o conseguir levar ao ouvido. - est�! - senhor collins? - sim? - tenho estado a tentar apanh�-lo. daqui fala jim shack de fort worth. tenho boas not�cias para si. n�o vou agora entrar em pormenores, mas passei toda a tarde em d�lias com adele zurek, a testemunha que tynan afirmava ter visto a sua mulher cometer o assass�nio. era mentira, pura mentira. e o mesmo no que se refere � conduta sexual reprov�vel de karen. pura inven��o. collins ouvia aliviado. - interroguei zurek durante horas, e quando lhe prometi que o senhor a protegeria, ela abriu-se completamente. confessou que tynan tinha feito chantagem com ela (tem um epis�dio no passado que a torna vulner�vel). tynan descobriu-o e usou-o para fazer press�o sobre ela. prometeu n�o a denunciar se ela fizesse o seu jogo. ela ficou demasiado assustada para n�o concordar. mas quando eu lhe prometi que n�o seria perseguida, despejou o saco. a verdade � que tinha ouvido a zanga entre os rowley. n�o era a primeira vez. continuou em casa, acabou o trabalho e foi-se embora j� depois da senhora collins ter sa�do; ao atravessar a rua, viu um carro parar. saiu dele um homem, que n�o p�de distinguir bem e que se dirigiu � porta da rua e entrou. ela ficou a olhar, ali perto, espantada com a entrada e sem saber o que fazer, quando ouviu um tiro dentro de casa. ficou cheia de medo e fugiu. no dia seguinte, quando soube que thomas rowley estava morto, teve receio de se dirigir �s autoridades devido ao seu passado. n�o queria ser envolvida no assunto, mas tynan implicou-a recentemente. a respeito do homem que deve ter assassinado rowley, parece haver ind�cios que este andava metido com a mulher dele e que o homem descobriu. podemos prosseguir com o assunto se quiser. - agora j� n�o interessa - disse collins. - o que foi importante foi ter encontrado a ponta da meada. n�o imagina como lhe estou grato. uma vez que karen est� bem... - est� �tima. est� aqui na sala comigo, � espera de lhe poder falar. - chame-a. esperou, depois ouviu-a falar e sentiu que a amava mais do que nunca. ela chorava, mas sentia-se feliz. com a voz pouco firme, come�ou a contar novamente tudo o que lhe tinha sucedido. ele interrompeu-a e disse-lhe que n�o era preciso. j� lhe tinham contado tudo. - oh, chris - disse ela, tentando dominar-se - , foi um pesadelo. - j� passou, querida. vamos esquecer isso. - mas o que � importante, a coisa mais importante - disse ela -, � que n�o
tenhas problemas comigo devido a tynan. podes ir � Calif�rnia... demitires-te e ir � Calif�rnia prestar declara��es enquanto � tempo. vais, n�o vais? o regozijo dele desvanecera-se e a pergunta fizera-o voltar ao estado em que se encontrava antes do telefonema. - � demasiado tarde, querida - disse-lhe desalentado. - j� n�o importa o que eu possa dizer. tynan ganhou. p�s-me fora de combate mesmo no fim. - que queres dizer com isso? - � muito comprido para te contar agora. s� quero dizer-te que voltes para casa. - quero saber tudo imediatamente. que se passou? embora fatigado, contou-lhe o que tinha acontecido. narrou-lhe os fatos desse dia com os seus �xitos e o final infeliz. contou-lhe o que se passara de manh�, quando soubera acidentalmente que rick baxter gravara o texto do documento r. contou-lhe o plano para recuperar a fita que o rapaz colocara no arquivo do coronel baxter. contou-lhe a ida ao gabinete de tynan e como este soubera antecipadamente da visita; como adcock os esperava com a fat�dica fita e a destruir� � sua frente. - e foi assim, karen - concluiu. - est� tudo acabado, foi-se a �nica prova que nos podia ter salvo a todos. ficou � espera que karen o lamentasse, mas em vez disso s� teve sil�ncio por resposta. - karen? karen, est�? de repente, a voz dela irrompeu, viva, excitada. - chris, a fita de rick n�o era a �nica prova. est�s a ouvir? escuta. deve haver uma c�pia dessa fita. - uma c�pia? que est�s a dizer? - sim, ouve. lembras-te da noite em que jantamos com... ah, como � o nome dele? o escritor fantasma de tynan, aquele que te fez um favor... - ishmael young? - sim. na noite em que jantamos com ishmael young no jockey club, lembraste? ele estava ressentido porque tynan o tinha ludibriado duas vezes. tynan tinha prometido consentir que a noiva dele viesse da europa, se young lhe preparasse a autobiografia. mas depois, ao ler uns documentos recentes que tinha de copiar do arquivo do coronel baxter, tinha descoberto que tynan o estava a mistificar e que n�o ia conseguir a entrada da noiva apesar da promessa. chris, compreeendes o que estou a dizer? - n�o sei bem. - tentava tirar conclus�es. - desculpa, mas estou confuso. - naquela noite, ishmael young disse-nos... at� posso reproduzir as palavras exatas... disse-nos: "veio-me parar �s m�os todo um novo arquivo com material complementar para o livro: pap�is, grava��es, papeleiras. tynan deu-me para copiar. muita coisa era do anterior procurador-geral. tenho de tirar os meus apontamentos e devolver os originais a tynan." compreendes agora, chris? ele disse-nos que tinha tirado c�pias de muitas coisas do arquivo particular do coronel baxter. tynan queria que ele visse tudo para a autobiografia. e isso foi antes de tynan saber que uma das fitas era a que tinha sido feita por rick. se ishmael young tirou uma c�pia, como tirou de tudo o mais, ent�o a grava��o de que precisas, o documento r, ainda existe e � Ishmael young quem a tem. n�o sei o que ele copiou, mas se o fez... - deve ter feito! - explodiu collins. - tu �s genial, karen! amo-te. vou tratar disso imediatamente. encontramo-nos aqui. ishmael young n�o estava em casa. depois de ter relatado aos seus companheiros a possibilidade de �xito que tinha surgido, chris collins procurara inutilmente o n�mero de telefone de young na sua agenda. concluira que n�o o tinha. rezando para que ishmael young n�o tivesse um n�mero que n�o constasse na lista, collins tentara as informa��es telef�nicas. lembrando-se vagamente que young vivia em fredericksburg, na virg�nia, collins pedira a informa��o. pouco depois ficara a saber n�o s� o n�mero, mas tamb�m o endere�o.
telefonara a ishmael young e aguardara nervosamente que a sua voz se fizesse ouvir. por fim, ouvira-a. mas era a grava��o de um recado. a voz respondera: ''ol�. sou ishmael young. vou sair � noite. n�o devo voltar antes da uma da manh�. fa�a o favor de deixar o seu n�mero e nome. n�o comece a falar sem ouvir o sinal." collins n�o se dera ao trabalho de deixar o nome ou recado. desligando, calculara que chegariam a fredericksburg quando young estivesse de volta. tinham-se sentado na sala de estar, a trocar impress�es sobre a possibilidade de young ter feito uma c�pia da fita de rick juntamente com as do restante material do arquivo de baxter. n�o beberam muito. tinham ficado muito animados com a esperan�a que ressurgira. viram o rel�gio, retomaram a mesma discuss�o, levantando-se e sentando-se constantemente. por volta das onze horas, collins perdera a paci�ncia. - est�o demasiadas coisas em jogo para ficarmos aqui sentados sem fazer nada. vamos j� para fredericksburg e esperamos l�. pode ser que ele chegue mais cedo. pierce e van allen concordaram. regressaram a washington no carro de pierce, dirigindo-se depois para fredericksburg. uma hora e cinco minutos mais tarde, paravam diante do pequeno chal� que ishmael young tinha alugado e arrumaram o carro. collins saiu do lugar da frente, atravessou o passeio e tocou v�rias vezes � campainha. depois, espreitou para dentro de casa por uma janela cuja porta n�o estava completamente fechada. voltou para junto dos outros. - parece que ainda n�o est� ningu�m. s� tem uma luz acesa, o resto da casa est� �s escuras. temos de esperar outros quinze minutos. � uma menos cinco, surgiram far�is no extremo da rua. estava a chegar um carro vermelho de desporto. aproximou-se, ultrapassou-os e estacionou. a porta do autom�vel abriu-se. uma figura baixa e roli�a saiu com esfor�o, deu volta ao carro, parou no relvado, olhando-os fixamente e correu para a porta de entrada. collins, que estava meio fora do carro, p�s-se de p�. - ishmael! - gritou. - sou eu, chris collins. young, que j� se esquivava para dentro de casa, parou e voltou-se, enquanto collins se aproximava dele seguido pelos companheiros. - chris - suspirou ishmael young, quase desmaiando de al�vio -, pensei que me queriam assaltar a casa ou qualquer coisa assim. voc�s pareciam suspeitos ali parados. -apertou as m�os a pierce e van allen. - mas o que � que se passa? por aqui a esta hora? - vou explicar - disse collins, apresentando rapidamente os dois amigos. estamos aqui porque talvez nos possa ajudar. � um assunto da maior import�ncia. - vamos para dentro - disse young. - obrigado - respondeu collins. - n�o podemos desperdi�ar um minuto. uma vez reunidos na sala de estar, young despiu o casaco de bombazina, olhando para eles interrogativamente. - parece que � um caso urgente, mas n�o sei em que poderei ajud�-los. - pode ajudar e muito - disse collins. - quer ver a 35.a emenda derrotada? - se quero? faria tudo no mundo para a derrotar. mas n�o h� hip�teses, senhor collins. a vota��o na calif�rnia � hoje � tarde... - h� uma possibilidade. depende de si. onde � que tem o material para o livro de tynan? - aqui, na sala ao lado, na sala de jantar. converti-a em escrit�rio. querem ver? confuso, levou-os para uma sala pequena, que parecia um escrit�rio improvisado. perto da janela da fachada, estava uma velha mesa de tampa corredi�a. ao lado, num forte suporte, estava uma m�quina de escrever el�trica ibm. encostada � parede oposta, estava a mesa de jantar, tamb�m juncada de pap�is, pastas e utens�lios. na ponta estava um gravador wollensak. havia mais dois gravadores numa cadeira diante da mesa, um norelco de sete polegadas e um sony port�til. dois
arquivos de cartas estavam encostados a uma terceira parede. - � um chiqueiro - desculpou-se ishmael young -, mas � assim que trabalho. ou�a, senhor collins, espero que tenha recebido o meu bilhete de agradecimento. foi extraordin�rio da sua parte, arranjar esse caso de imigra��o. n�o lhe posso exprimir quanto emmy e eu lhe devemos. - n�o me deve nada. mas pode auxiliar-me, a mim e a todos n�s, agora mesmo. diz que � aqui que faz as suas pesquisas? muito bem, h� um documento que eu quero ver, se o tiver. young empurrava o cabelo para cima da calva, preocupado. - � claro que desejo ajud�-lo de todas as formas poss�veis, mas, como sabe, muito deste material � confidencial. jurei por minha honra a vernon t. tynan que ningu�m o veria. porque se ele descobre que lhe mostrei alguma coisa... interrompeu-se. - que v� para o diabo. o senhor arriscou o pesco�o por minha causa. tenho de lhe retribuir. o que quer? - lembra-se quando jantamos no hockey club? voc� referiu de passagem que tynan lhe tinha emprestado parte ou todo o arquivo confidencial do coronel baxter, para tirar c�pias, para copiar as cartas e grava��es, para as suas pesquisas de prepara��o do livro. fez c�pias de tudo o que estava no arquivo de baxter? ishmael young fez que sim com a cabe�a. - praticamente tudo. � claro, tudo o que pertencia a tynan. � exce��o das grava��es... o cora��o de collins caiu-lhe aos p�s. - ... j� est� tudo pronto - continuou young. - quanto �s grava��es, o que tirei foram reprodu��es (� por isso que v�em ali dois gravadores; tive at� de alugar um), mas ainda n�o acabei de passar todas as fitas. � uma tarefa aborrecida. tenho de a fazer sozinho, porque tynan n�o quer que seja ajudado por estranhos. s� h� tr�s dias � que comecei a copiar � m�quina o que est� nas fitas. o cora��o de collins reanimou-se. - mas reproduziu ou copiou todas as fitas do arquivo de baxter? - tudo o que tynan me deu, e julgo que me deu tudo. - como foi que as reproduziu? - perguntou collins. - bem, h� dois tamanhos, por isso tive de usar dois gravadores para as passar para o meu wollensak grande. - �timo - disse collins -, dois tamanhos: cassettes miniatura norelco e cassettes normais memorex. ouviu-as enquanto estava a gravar? - seria uma perda de tempo. h� uma ficha e grava-se de um para o outro silenciosamente. - onde est�o as cassettes maiores memorex? - devolvi-as a tynan h� alguns dias. refiro-me �s originais. copiei, reproduzi talvez seis dias de cassettes em bobinas maiores. - sabe o que est� nessas fitas? - at� passar as reprodu��es � m�quina n�o sei, mas identifiquei cada cassette e anotei a ordem por que foi reproduzida no gravador grande. cada cassette tem uma identifica��o ou data. fiz uma esp�cie de �ndice. - foi � mesa e trouxe v�rias folhas de papel presas umas �s outras. - pode ver. - procuro uma cassette memorex especial. est� marcada pga e datada de janeiro. pode ajudar-nos? - deixe-me procurar. ishmael young come�ou a esquadrinhar e a voltar as p�ginas do seu �ndice. collins observava-o febrilmente. - certo, est� aqui - anunciou young, satisfeito consigo mesmo. - essa fita � a primeira grava��o da minha segunda bobina. - tem certeza? tem-na? - estou cert�ssimo. - vit�ria! - exclamou collins, euf�rico, dando um grande abra�o ao escritor. ishmael young estava perplexo. - o que � que eu fiz? - ressuscitou o documento r.
- o qu�? - n�o importa - disse collins, excitado. - reproduza a fita. procure o raio da bobina em que a reproduziu; ponha-a no gravador e reproduza-a. acotovelaram-se os tr�s � volta do grande gravador wollensak que jazia na mesa, enquanto ishmael young procurava a bobina. trouxe-a cuidadosamente, colocoua no gravador e preparou a fita. young ergueu a cabe�a e olhou para collins, pierce e van allen. disse: - n�o sei do que se trata, mas estou pronto se tamb�m estiverem. - estamos prontos - disse collins, inclinando-se para premir a tecla marcada reprodu��o. os carretos come�aram a girar. instantes depois, a voz de vernon t. tynan enchia a sala.
cap�tulo d�cimo primeiro sentado no banco de tr�s do cadillac que os levara de s�o franscisco aos sub�rbios de sacramento, chris collins, excitad�ssimo, inclinou-se mais uma vez para a frente, dizendo ao motorista : - n�o pode ir um pouco mais depressa? - estou a fazer o melhor que posso com este tr�nsito, senhor replicou o condutor. collins fez um esfor�o determinado para conter o nervosismo enquanto se recostava novamente. acendendo outro cigarro na beata anterior, olhou pela janela e viu a cidade distante a aproximar-se e a crescer. estavam na zona ocidental de sacramento, notou, e tinham entrado numa �rea de cruzamentos. o motorista chegouse para a faixa da direita, entrando na auto-estrada 275, que em breve os deixaria na alameda do capit�lio. em breve, pensava, mas talvez sem a brevidade necess�ria. era uma ironia, pensou, que o �xito da sua longa busca pudesse ser frustrado no seu cl�max devido a uma conspira��o da natureza. o nevoeiro come�ava a levantar, bem via, mas o aeroporto metropolitano de sacramento ainda devia estar mergulhado nele. em princ�pio, devia ter chegado a sacramento de avi�o ao meio dia e vinte cinco, hora da calif�rnia. o encontro com o deputado olin keefe estava marcado para a uma da tarde no derby club de posey's cottage, o restaurante onde os legisladores e pol�ticos se reuniam diariamente para almo�ar. se tudo tivesse corrido bem, keefe teria consigo o adjunto do governador edward duffield, presidente do senado estadual, e o senador abe glass, presidente pr� tempore do senado. collins teria ainda tempo suficiente para revelar o documento r aos dirigentes do senado antes de este �rg�o se reunir para votar, �s duas horas em ponto. a vota��o final realizar-se-ia poucos minutos depois das duas horas, segundo o tinham informado. a resolu��o seria lida na c�mara pela terceira e �ltima vez. o debate seria suspenso, de acordo com o regulamento legislativo. a vota��o nominal
come�aria. uma vez iniciada, n�o podia ser interrompida. uma vez registrada n�o podia ser invertida ou sujeita a nova vota��o. noutros tempos, mesmo depois de ter votado contra, a legislatura de um estado podia considerar novamente a mesma lei, vot�-la outra vez, e alterar a sua posi��o. isso tinha acontecido em 1972, quando a emenda da igualdade de direitos, a 27.a, fora apresentada aos estados. dois desses estados, vermont e connecticut, tinham votado contra, tendo mais tarde alterado os seus votos. mas isto j� n�o era permitido na maioria dos estados, e um desses era a calif�rnia. a vota��o das duas horas seria decisiva. a 35.a emenda tornar-se-ia lei do pa�s. tynan teria acabado por ganhar - e o povo teria perdido. o seu rel�gio de pulso dizia-lhe que faltavam dezenove minutos para as duas. aspirava profundamente o cigarro, revivendo os acontecimentos da noite, das primeiras horas do dia, da madrugada. reviveu-os como se fossem parte do presente. ao deixarem ishmael young na posse da grava��o crucial, estavam menos num estado de entusiasmo man�aco que num estado febril. estavam esgotados. a sua miss�o tinha-se tornado uma cruzada. enquanto se deslocavam de fredericksburg para o departamento de justi�a �s duas da manh�, tinham tentado definir tarefas. havia muito a fazer, e pouco tempo para tanto. no gabinete de collins, estabeleceram as miss�es respectivas. collins chamou a si os telefonemas. todos concordaram que, usando da autoridade de procuradorgeral, conseguiria que lhe prestassem a aten��o necess�ria. pierce aceitou a tarefa de autenticar a grava��o atrav�s de registros de voz. todos eles sabiam que a grava��o era verdadeira, mas as outras pessoas podiam exigir uma prova absoluta. van allen preparou-se para marcar as reservas de collins na calif�rnia. tinha havido uma breve discuss�o sobre se deveriam requisitar um avi�o militar. collins tinha-se oposto, por recear que a miss�o pudesse tornar-se conhecida. um v�o comercial, embora mais demorado, era tamb�m mais seguro. van allen prop�s a aquisi��o de uma cassette. uma vez feito o registro de voz, allen transferiria da inc�moda bobina de young a parte que continha o documento r para uma cassette que collins levaria. todas as miss�es foram realizadas sem entraves, � exce��o de uma que collins tinha chamado a si. o primeiro telefonema de collins n�o suscitou problemas. acordou o diretor de uma grande rede de televis�o de nova iorque, invocou a sua autoridade, falou de emerg�ncia, e persuadiu o funcion�rio a conseguir que o administrador da central de washington cooperasse. feito isto, pierce fez levantar o dr. lenart da universidade de georgetown. dado que pierce era um velho conhecido, o criminologista concordou de boa vontade em examinar as vozes no seu laborat�rio. pierce correu aos est�dios da televis�o para obter um filme e a banda sonora de uma entrevista que vernon t. tynan tinha concedido recentemente, bem como um aparelho de videotape para o passar. depois, juntando tudo isso � fita de ishmael young, pierce dirigiu-se ao laborat�rio do dr. lenart na universidade de georgetown. a�, o renomado perito em identifica��o de vozes p�s em a��o o seu espectr�grafo de som para selecionar palavras que tynan tinha pronunciado na entrevista � televis�o e as mesmas palavras proferidas na fita de ishmael young. o aparelho de verifica��o fazia 400 passagens pelas fitas em cada oitenta segundos, reproduzindo visualmente uma s�rie de linhas onduladas que correspondiam � fala e ao volume de voz de tynan. quando o dr. lenart acabou, estava provado que a voz da grava��o do documento r era indubitavelmente a de tynan. o dr. lenart escreveu um certificado de autenticidade e despediu pierce com a sua prova. entretanto, van allen, tendo alugado em gravador port�til para collins levar para a calif�rnia, conseguiu as reservas de avi�o. o primeiro v�o para sacramento sa�a do aeroporto nacional de washington �s oito e dez da manh�. collins estaria em chicago �s nove e oito. depois haveria uma espera de uma hora entre os avi�es; collins partiria do aeroporto o' hare de chicago �s dez e dez, chegando a sacramento �s doze e vinte cinco, hora da calif�rnia. o programa estava perfeito e collins ficou satisfeito. no entanto, era collins quem tinha problemas com a sua pr�pria tarefa.
tinha decidido que devia avisar os senadores do estado da calif�rnia da sua pr�xima chegada e marcar um encontro com eles antes de a resolu��o ser votada. queria dizer-lhes que tinha uma prova tenebrosa que afetaria a vota��o do senado sobre a 35.a emenda. queria dizer-lhes isso, e mais nada. sabia que estava fora de quest�o explicar pelo telefone a natureza da prova de que estava de posse. tinha de ser ouvida para acreditar e a transmiss�o pelo telefone era perigosa. podia ser levada ao conhecimento de tynan, que j� estava em sacramento, e ele poderia chegar aos piores extremos para recuperar o material de collins e destru�-lo. n�o, s� diria aos senadores o suficiente para conseguir uma audi�ncia imediata ap�s a sua chegada. come�ou por telefonar para casa do governador-adjunto edward duffield. ligou e deixou o telefone tocar e tocar, sem resposta. ligou mais algumas vezes, sempre sem resposta. por fim, convenceu-se que duffield tinha desligado o telefone para n�o ser incomodado de noite. desistiu de duffield. a seguir, tentou o senador abe glass, presidente pr� tempore do senado. as duas primeiras chamadas tamb�m n�o foram atendidas. a terceira, despertou uma voz ensonada de mulher que respondeu ser a senhora glass e que disse que o marido tinha sa�do da cidade e s� voltaria ao fim da manh�, para ir ao escrit�rio preparar-se para a vota��o. frustrado, collins procurou pensar para onde se havia de voltar. por instantes, pensou em ligar para a casa branca, falar com o presidente wadsworth e entregar-lhe todo o assunto em m�os. decerto que o presidente dos estados unidos n�o teria a menor dificuldade em mandar uma mensagem para sacramento. mas uma coisa preocupava collins. o presidente poderia n�o querer mandar a mensagem para sacramento, pretender que a 35.a emenda fosse aprovada apesar do documento r, pensando tratar do assunto mais tarde, � sua maneira. n�o, o presidente wadsworth era um risco. o mesmo acontecia com o governador da calif�rnia, amigo pessoal do presidente. era melhor outra pessoa em sacramento, resolveu collins. decidiu quem seria e pediu uma liga��o para o deputado � Assembl�ia olin keefe. foi imediatamente atendido. - tenciono estar em sacramento por volta da uma hora da tarde - disse-lhe collins. - tenho uma prova estrondosa contra a 35.a emenda que deve ser conhecida antes da vota��o. pode procurar o governador-adjunto duffield e o senador glass em meu nome? tenho estado a tentar ligar para eles durante toda a noite, mas n�o tive sorte e � imperioso que lhes fale. - devem ir almo�ar ao derby club a essa hora. � nas traseiras de posey's cottage. de certeza que estar�o l� at� �s duas menos um quarto. digo-lhes para esperarem por si. eu estarei na companhia deles. - diga-lhes que � realmente urgente. - farei o meu papel. venha a horas. depois de entrarem na sala da c�mara e de come�ar a vota��o j� n�o conseguir� falar-lhes. - estarei l� - prometeu collins. tinha ficado combinado e estava mais descansado. estendeu-se no sof� do gabinete e dormiu sobressaltado durante duas horas, at� que pierce e van allen o acordaram para o informar que chegara o momento de partir para o aeroporto nacional. tudo corria como combinado, em ordem. saiu de washington a horas e chegou a chicago a horas. contava aterrar tamb�m a horas em sacramento. mas, a uma hora de sacramento, o capit�o do jato 727 anunciou que forte nevoeiro inesperado tinha coberto o aeroporto de sacramento e que o v�o ia ser desviado para s. francisco. pedia desculpa pelo inc�modo, mas teria de aterrar em s. francisco �s onze e trinta. haveria um autocarro especial para levar os passageiros a sacramento, um percurso de oitenta milhas. pela primeira vez nesse dia, collins sentiu-se preocupado. j� tinha viajado muitas vezes de s. franscisco para sacramento e sabia que isso significaria mais hora e meia de atraso na sua viagem. mesmo alugando um carro particular e fazendo o condutor ir a toda a velocidade, n�o chegaria a posey's cottage muito antes de
duffield e glass sa�rem. no aeroporto de s. francisco, enquanto uma hospedeira sa�a a correr para lhe alugar um carro, collins foi ao telefone para tentar contatar com olin keefe. mas keefe j� n�o estava no seu escrit�rio e n�o estava ainda a almo�ar. n�o querendo perder mais tempo a tentar localiz�-lo, collins deixou a cabina telef�nica e correu para a hospedeira que o chamava. estava a reviver tudo isso, enquanto o autom�vel entrava no centro de sacramento, vendo-se j� a elegante c�pula dourada do capit�lio. - agora para onde vamos? - perguntou o motorista. - para um restaurante que fica um quarteir�o a sul da alameda do capit�lio. chama-se posey's cottage ou posei's restaurant. � na esquina das ruas 11 e o. - estaremos l� dentro de um minuto. l� fora, � sua esquerda, collins via o enorme parque do capit�lio: quarenta acres, contendo pelo menos mil variedades de �rvores, arbustos, flores. sobre um terra�o graciosamente inclinado erguia-se o edif�cio do capit�lio, com a c�pula brilhante e quatro andares, cercado de colunas cor�ntias e de pilares. seguiram mais devagar ao longo da via �nica cheia de tr�nsito que era a rua n, voltaram � esquerda chegaram finalmente ao cruzamento das ruas 11 e o. - c� estamos - disse o condutor, apontando para posey's cottage. - procure um lugar para estacionar - disse collins. - n�o me demoro. encontramo-nos em frente do restaurante. j� tinha a porta do carro aberta, pegou na maleta que continha o gravador port�til e saltou para a rua. parou apenas para ver as horas. faltavam nove minutos para as duas. estava atrasado cinq�enta e um minutos. perguntou a si pr�prio se keefe teria conseguido contatar com duffield e glass, como lhe pedira. correu para o restaurante, perguntou onde era o derby club e foi enviado para uma sala das traseiras. quando chegou ao derby club ficou consternado. a sala estava vazia, � exce��o de uma figura melanc�lica no bar. no bar, olin keefe viu-o e saltou do banco. o seu aspecto p�cnico, normalmente af�vel, cedera lugar � preocupa��o. - j� n�o contava consigo - disse. - o que aconteceu? - nevoeiro. tivemos de aterrar em s. francisco. vim de carro durante hora e meia. - olhou � sua volta. - duffield e glass...? - tive-os aqui. n�o os pude reter mais tempo. foram para o senado para se prepararem para a vota��o. ainda temos sete minutos antes da leitura final e da vota��o. n�o sei, mas talvez possamos tir�-los para fora da c�mara. - temos de conseguir - insistiu collins, desesperado. sa�ram rapidamente do restaurante e, meio a andar meio a correr, evitando os pe�es, seguiram para sul pela rua 11 em dire��o ao edif�cio do capit�lio. keefe disse: - a c�mara do senado � no extremo sul do segundo andar. dificilmente l� chegaremos antes de fecharem as portas. chegados ao capit�lio, subiram a correr um pequeno lance de escadas e passaram pelo grande selo da calif�rnia, um mosaico colorido colocado � entrada. - a escada � ali - indicou keefe. enquanto subiam, keefe acrescentou: -sabe que o diretor tynan esteve aqui esta manh�? - sei. como se portou? - demasiado bem, infelizmente. convenceu-os no comit� Judicial. o comit� votou esmagadoramente pela ratifica��o da emenda. o mesmo acontecer� no senado, a menos que consiga fazer melhor do que tynan. - posso fazer melhor se tiver oportunidade. - levantou a maleta. - tenho aqui o �nico testemunho que pode destruir tynan. - quem? - o pr�prio tynan - disse collins com ar misterioso. tinham chegado � entrada do senado. embora a maior parte dos quarenta senadores j� estivessem nas suas maci�as cadeiras girat�rias azuis, alguns ainda estavam de p� nas coxias. o governadoradjunto duffield, vestindo um elegante terno azul �s riscas, estava de p� ao lado
da tribuna, no topo da c�mara, olhando os senadores atrav�s das suas lunetas. - raios! - disse keefe. - o funcion�rio j� est� a fechar as portas. - n�o pode chamar duffield? - vou tentar - respondeu keefe. apressou-se a entrar na c�mara, dando qualquer explica��o ao guarda que lhe barrava o caminho, continuou em frente, rodeou os degraus atapetados e, do fundo da tribuna, chamou a aten��o do presidente do senado. collins observava ansiosamente aquela cena muda. duffield tinha-se inclinado para ouvir o que keefe dizia. depois levantou as m�os e fez um gesto que abarcava a c�mara cheia. keefe voltou a falar. por fim, duffield, abanando a cabe�a, desceu at� junto dele. keefe continuou a falar, apontando para onde estava collins. o tempo parou por um instante, duffield parecia indeciso. com evidente relut�ncia, acabou por seguir keefe at� onde collins os esperava. encontraram-se no limiar da c�mara e keefe apresentou o presidente do senado a collins. o rosto duro de duffield mostrava-se descontente. - por defer�ncia para com o senhor procurador-geral, acedi em deixar a tribuna. o deputado keefe diz que o senhor tem novas provas relacionadas com a nossa vota��o sobre a 35.a emenda... - uma prova que � vital o senhor e os membros de senado ouvirem. - � completamente imposs�vel consegui-lo, senhor procurador-geral. � demasiado tarde. j� foram ouvidos todos os testemunhos, j� foram apresentadas todas as provas ao comit� Judicial, durante os �ltimos quatro dias. as audi�ncias terminaram esta manh� com o diretor tynan. n�o h� lugar para debates, e, portanto, as provas n�o podem ser apresentadas para debate. n�o vejo maneira de alterar os tr�mites. - h� uma maneira - disse collins. - ouvir a minha prova fora da c�mara. atrase a sess�o at� ouvir a minha prova. - isso n�o tem precedentes. � altamente invulgar. - o que tenho para lhe apresentar, a si e aos membros do senado, � tamb�m sem precedentes e mais do que invulgar. garanto-lhe que se tivesse conseguido esta prova mais cedo, teria estado aqui com ela na sua presen�a. mas s� consegui obt�la esta noite. voei imediatamente para a calif�rnia para a apresentar. a prova � da m�xima import�ncia para si, para o senado, para o povo da calif�rnia, para todos os estados unidos. n�o podem votar sem ouvir o que tenho nesta pasta. a veem�ncia das palavras de collins fez duffield vacilar ligeiramente. - mesmo que o que tem seja de tal import�ncia... bem, n�o sei como impedir a vota��o imediata. - n�o podem votar se n�o houver quorum, pois n�o? - quer pedir � maioria dos membros que saiam da sala? isso n�o resultaria. haveria uma mo��o para uma chamada geral. o funcion�rio receberia ordens para trazer para dentro os ausentes. - mas eu j� teria acabado de apresentar a minha prova antes de o funcion�rio o poder fazer. duffield continuava hesitante. - n�o sei... e de quanto tempo precisa? - dez minutos. n�o preciso de mais. � o tempo que leva a ouvir o que tenho a apresentar. - e como � que os membros do senado poder�o ouvir a prova? - o senhor chama-os informalmente, vinte de cada vez, dois grupos de vinte e diz-lhes para ouvirem o que j� ter� ouvido. nessa altura, ser� o senhor que querer� que eles ou�am. depois de terem ouvido, podem votar. duffield ainda hesitava. - senhor procurador-geral, � uma coisa muito extraordin�ria o que est� a pedir. - � uma prova extraordin�ria que tenho comigo - insistiu collins. collins estava seguro da sua posi��o de membro do gabinete, e poderia at� ter sido mais insistente. mas tamb�m sabia como certos funcion�rios do estado
defendem os seus direitos. assim, ainda coibido, mas marcando um sentido de urg�ncia na voz, continuou: - tem de encontrar uma maneira de ouvir isto. por certo que h� v�rios meios. n�o h� nada no mundo que o possa fazer atrasar a vota��o? - bem, pode haver v�rios fatores... certamente, fatores como... bem, se tem provas evidentes que a resolu��o prestes a ser votada era fraudulenta ou continha elementos de conspira��o... se o puder provar... - posso! tenho provas de uma conspira��o a n�vel nacional. a vida ou a morte da nossa rep�blica depende de ter ouvido esta prova e de ter presente o que ouviu quando votar. se deixar de ouvir a prova, levar� as culpas do seu erro para a sepultura. acredite-me. impressionado, o governador-adjunto deitou um longo olhar grave a collins. - muito bem - disse subitamente. - deixe-me combinar com o senador glass a maneira de n�o termos quorum por dez minutos. v� para o quarto andar, para a primeira sala de comit�s, � sa�da do elevador. est� vazia. o senador glass e eu iremos l� ter consigo rapidamente. - fez uma pausa. - senhor procurador-geral, � bom que seja importante. - pode ter certeza - disse collins, severamente. *** estavam os quatro na moderna sala de comit�s, � volta da mesa de madeira clara que ocupava o centro da sala. chris collins tinha acabado de explicar a duffield e glass as circunst�ncias em que tinha sabido da exist�ncia do documento r, suplemento da 35.a emenda, que o coronel baxter dissera no seu leito de morte dever ser revelado. - n�o os vou ma�ar com pormenores da minha longa busca do documento r disse collins. - basta dizer que s� o localizei de madrugada. afinal n�o � um documento mas um plano verbal, que foi gravado acidentalmente pelo neto de doze anos do coronel baxter. estavam tr�s pessoas presentes quando a fita foi gravada em janeiro �ltimo. uma era o diretor do fbi, vernon t. tynan. outra era o adjunto do diretor, harry adcock. a terceira era o procurador-geral noah baxter. nesta fita s� se ouvem as vozes de tynan e baxter, gravadas por brincadeira pelo rapaz, ignorando a sua import�ncia. para terem certeza que � a voz do diretor tynan em pessoa que foi gravada nesta fita, mandamos fazer um registro de voz da conversa de tynan e de uma entrevista recente que deu � televis�o. ver�o que se trata da mesma voz. collins inclinou-se, tirou da pasta o registro e o certificado de autenticidade do dr. lenart e entregou-os a duffield. o governador-adjunto examinou-os gravemente e passou-os a glass. - est�o ambos convencidos de que v�o ouvir a voz do diretor tynan? perguntou collins. ambos os dirigentes do senado fizeram que sim com a cabe�a. collins inclinou-se de novo e retirou da pasta o gravador port�til. colocou o bot�o do volume de som na posi��o alto. p�s deliberadamente o gravador no meio da mesa. - vamos ent�o come�ar - disse collins. - v�o ouvir primeiro a voz de tynan e depois a de baxter. ou�am bem. isto � o segredo conhecido como documento r. ou�am. collins aproximou-se, carregou no bot�o de reprodu��o e, com os cotovelos na mesa e as m�os no queixo, fixou o olhar no presidente e no presidente pr� tempore do senado estadual da calif�rnia. a cassette girava no gravador. a conversa voltava a realizar-se. voz de tynan: ''estamos s�s, n�o � verdade noah?" voz de baxter: ''queria falar-me em particular, vernon. bem, eu creio que a minha sala de estar � um dos lugares mais seguros da cidade." voz de tynan: "deve ser. gastamos milhares de d�lares para lhe retirar escutas. estou certo que � suficientemente segura para o que temos a discutir." voz de baxter: "o que � que temos de discutir? qual � a sua id�ia, vernon?" voz de tynan: "muito bem, � o seguinte: penso que tenho o �ltimo aspecto do
documento r desenvolvido. harry e eu pensamos que � perfeito. mas uma coisa, noah, n�o se v� melindrar comigo � �ltima hora. lembre-se que concordamos que dev�amos sacrificar tudo (e devo acrescentar, todos) se estamos realmente dispostos a salvar a na��o. at� agora tem estado sempre conosco, noah. concordou com a emenda, visto que � a melhor solu��o, a �nica esperan�a real, n�o importando os obst�culos a ultrapassar para ir adiante. bem, h� mais um passo a dar. lembre-se que tem estado sempre do nosso lado at� agora. j� foi muito longe para voltar atr�s. mesmo que quisesse fazer marcha atr�s, n�o podia." voz de baxter: "voltar para tr�s em qu�? de que est� a falar, vernon?" voz de tynan: "trata-se simplesmente de fazer algo pelo povo que ele n�o pode fazer por si mesmo. dar seguran�a �s suas vidas. assim que a 35.a emenda se tornar parte da constitui��o, poremos o documento r em vigor, a reconstru��o do pa�s; poremos em execu��o todas as nossas prerrogativas legais ao abrigo da emenda..." voz de baxter: "mas n�o pode, vernon, n�o pode invocar a emenda. n�o h� uma emerg�ncia nacional efetiva. segundo a constitui��o, j� com a 35.a emenda integrada, ter� de existir uma crise real... uma emerg�ncia... uma conspira��o... antes de podermos atuar. se n�o houver, n�o pode..." voz de tynan: "mas podemos, noah, porque teremos a nossa emerg�ncia, a nossa crise. isso arranja-se, noah. tratarei do assunto pessoalmente. muitas vezes uma pessoa tem de ser sacrificada para a sobreviv�ncia das restantes. um de n�s, provavelmente voc�, invocar� a emerg�ncia num discurso televisionado. dirigir-se-� � na��o. � essa a ess�ncia do documento r. j� preparei os pontos principais do discurso. voc� dirige-se � na��o, come�ando talvez assim: 'amigos americanos. vim falar-vos a esta hora da manh� porque estamos todos igualmente desolados, sofrendo todos juntos o mais profundo pesar pelo chocante assass�nio do nosso amado presidente wadsworth, ocorrido ontem. a sua terr�vel morte �s m�os de um assassino, m�os dirigidas por uma conspira��o para subverter a na��o, custou-nos a pessoa do nosso maior dirigente. mas talvez a sua morte aproveite �s nossas vidas e aproveite � vida da na��o. unindo-nos todos, teremos de fazer que tal viol�ncia n�o volte a repetir-se dentro das nossas fronteiras. para isso, por ordem do novo presidente, vou dar os passos necess�rios para destruir o reinado da anarquia e do terror que hoje existe. estou a proclamar a suspens�o da declara��o de direitos, conforme disposto na 35.a emenda, e a anunciar que daqui em diante o comit� de seguran�a nacional...' " voz de baxter: "meu deus, vernon! ser� que ouvi bem? o presidente wadsworth assassinado por sua ordem?" voz de tynan: "n�o fa�a de pateta sentimental, noah. n�o h� tempo para isso. sacrificaremos um pol�tico insignificante para salvar uma na��o inteira. compreende, noah? salvaremos..." voz de baxter: ''oh, meu deus, meu deus, meu deus! ahh...'' voz de tynan: ''noah, n�s... noah, noah! o que foi? que tem? o que � isto, harry, teve uma esp�cie de ataque ou qu�? tente levant�-lo. vou chamar hannah..." fim da grava��o. collins estudou os rostos de duffield, glass e keefe. estavam gelados pelo choque. - bem, meus senhores - disse collins - ter� chegado o dia da justi�a? duffield p�s-se pesadamente em p�. - chegou o dia da justi�a - disse calmamente. - vou chamar os senadores. *** era noite em washington quando o suave boeing a jato come�ou a descer, voando cada vez mais baixo em dire��o � pista de aterragem do aeroporto nacional. chris collins observava a dan�a das luzes na janela, via-as crescerem progressivamente, e apertou o cinto de seguran�a para o impacto da chegada. minutos depois, j� fora do avi�o, estava na bicha dos passageiros que se dirigiam ao terminal. foi hogan quem viu primeiro e o seu guarda-costas mostrava um largo sorriso incaracter�stico.
- parab�ns, senhor procurador-geral - disse hogan, pegando-lhe na maleta. fiquei preocupado quando foi embora sem mim, mas parece-me que o risco valia a pena. - valia tudo - disse collins. - n�o trouxe bagagem. tudo o que levei foi esta maleta. - chris... viu que tony pierce tamb�m estava presente para o felicitar. um pierce risonho apertou-lhe a m�o enquanto se dirigiam para o tapete rolante, tirando depois um jornal do bolso e abrindo-o na sua frente. o grande cabe�alho negro dizia: conspira��o contra o presidente, a na��o em perigo, tynan implicado. a 35.a emenda derrotada. - chris, voc� arrasou-os - exultava pierce. - viu? a vota��o do senado da calif�rnia foi dada na televis�o. quarenta a zero, a emenda caiu. un�nimes. - vi - disse collins. - estava na galeria. - depois a confer�ncia de imprensa. todas as principais redes de televis�o interromperam os seus programas para a apresentar. duffield e glass deram uma confer�ncia de imprensa conjunta. contaram como se deu a viragem. falaram do seu papel. contaram o que era o documento r. - n�o vi isso - disse collins. - o nevoeiro levantou e apanhei o primeiro avi�o. - bem, chris, sempre conseguiu. collins abanou a cabe�a. - n�o, tony. conseguimos todos, incluindo o coronel baxter, o padre dubinski, o meu filho josh, olin keefe, donald radenbaugh, john maynard, rick baxter, ishmael young e voc�. fomos todos. chegaram ao carro, que n�o era o habitual, mas o pr�prio carro � prova de bala do presidente. o motorista do presidente, com a porta de tr�s aberta, cumprimentou-o orgulhosamente. collins olhou para pierce, interrogativo. - o presidente quer v�-lo. pediu para lhe falar assim que chegasse. - muito bem. collins entrava no autom�vel quando a m�o de pierce no ombro o deteve. - chris... -sim? - sabe que vernon t. tynan est� morto? - n�o sabia. - h� duas horas. suicidou-se. deu um tiro na boca. collins refletiu. - como hitler - disse. - adcock desapareceu. collins fez que sim com a cabe�a. - como bormann - disse. entraram no carro. quando o motorista se instalou ao volante, pierce ordenou-lhe: - para a casa branca. quando chegaram ao p�rtico sul da casa branca, mcknight, ajudante-em-chefe do presidente, estava � espera para lhe dar calorosas boas-vindas. collins e pierce foram conduzidos ao elevador atrav�s da sala de recep��es diplom�ticas, no r�s-do-ch�o. tomaram o elevador para o segundo andar e seguiram mcknight at� � sala oval amarela. collins n�o esperava uma festa, mas estava a decorrer uma. pode distinguir o vice-presidente loomis, o senador hilliard com a mulher, a secret�ria do presidente miss ledger, e o secret�rio de reuni�es nichols. mais longe, nas cadeiras lu�s xiv que ladeavam a lareira, viu karen a conversar com o presidente wadsworth. no momento em que karen percebeu sua presen�a, n�o quis saber do presidente e correu pela sala, caindo-lhe nos bra�os e beijando-o por entre l�grimas.
- amo-te, amo-te - gritava ela. - oh, chris... por cima do ombro dela, viu que o presidente caminhava na sua dire��o. deixou karen para se aproximar dele. o rosto de wadsworth apresentava uma express�o singular. collins pensou que l�zaro devia parecer assim. - chris - disse o presidente solenemente, apertando-lhe a m�o com calor e sinceridade -, n�o tenho palavras para lhe agradecer ter-me salvo a vida e o pa�s. - o presidente abanava a cabe�a. - fui um asno completo, posso diz�-lo agora. perdoe-me. tinha perdido o sentido das coisas. suponho que � porque quando receamos a batalha final que nos agarramos a qualquer expediente. n�o quis reconhecer que j� estava metido nessa batalha. - sorriu. - mas apesar de tudo n�o foi uma derrota, porque a cavalaria chegou a tempo. - procurou ver a cara de collins. - j� sabe o que aconteceu a vernon t. tynan? - j�. lamento que tenha chegado a tal ponto. - ele devia estar transtornado nestes �ltimos meses para ter maquinado uma coisa assim. gra�as a deus que voc� n�o desistiu. a minha d�vida para consigo nunca poder� ser paga. se puder fazer alguma coisa... - h� duas coisas que me podia fazer - disse collins sem rebu�os. - diga-me. - h� um homem que, como o senhor, deve ser ressuscitado da morte. desempenhou um papel fundamental para o salvar. quero que tamb�m o ajude. quero que lhe conceda um perd�o presidencial completo e restaure o seu nome. - � s� voc� preparar o perd�o e eu assino. e a outra coisa? - o pior est� passado - disse collins - , mas ainda temos de encarar o problema que originou esta louca conspira��o. o problema do crime. a repress�o n�o o resolve. como disse algures um homem s�bio: "os destro�os a arder n�o iluminam a escurid�o''. tem de ser uma solu��o melhor... - assim ser� - interrompeu o presidente. - vamos tratar disso imediatamente. em vez de alterar a declara��o de direitos para resolvermos os nossos problemas, vamos utilizar a declara��o de direitos e us�-la devidamente. amanh� de manh� vou nomear uma comiss�o especial plenipotenci�ria (voc� e pierce far�o parte dela) para investigar o fbi, varrer a influ�ncia de tynan, fazer recomenda��es para remodelar completamente o servi�o e estabelecer novas diretivas nesse sentido. depois disso, primeira ordem de trabalhos, chris: quero sentar-me a uma mesa consigo e discutir um novo programa de legisla��o econ�mica e social que acabe com o desrespeito pela lei e com a criminalidade das nossas cidades. havemos de fazer alguma coisa nesse sentido. passamos por um momento perigoso, mas agora vamos dar for�a � nossa democracia. collins fez que sim com a cabe�a. - muito obrigado, senhor presidente. - hesitou. - sabe que durante todo o caminho de regresso estive a pensar que em argo city um amigo meu disse que se o fascismo surgir nos estados unidos ser� porque o povo votou nele. bem, desta vez o povo quase o fez. agora acho que j� recebeu a li��o, pode ser que nunca mais se aproxime tanto. e talvez possamos ajud�-lo a lembrar-se desta li��o. - poderemos, prometo. vamos resolver o que for humanamente poss�vel. - pegou no bra�o de collins. - mas esta noite n�o. chamou karen para junto deles. - esta noite vamos fazer um brinde pelo futuro. talvez dois brindes ou tr�s. e vamos ver o �ltimo filme da televis�o. descansaremos umas horas; afinal, agora j� podemos faz�-lo, antes de recome�ar. �ndice cap�tulo primeiro 7 cap�tulo segundo 43 cap�tulo terceiro 85 cap�tulo quarto 101 cap�tulo quinto 149 cap�tulo sexto 169 cap�tulo s�timo 199 cap�tulo oitavo 231
cap�tulo nono 251 cap�tulo d�cimo 281 cap�tulo d�cimo primeiro 299 fim
http://groups-beta.google.com/group/viciados_em_livros http://groups-beta.google.com/group/digitalsource 1 este livro foi digitalizado e distribu�do gratuitamente pela equipe digital source com a inten��o de facilitar o acesso ao conhecimento a quem n�o pode pagar e tamb�m proporcionar aos deficientes visuais a oportunidade de conhecerem novas obras. se quiser outros t�tulos nos procure http://groups.google.com/group/viciados_em_livros, ser� um prazer receb�-lo em nosso grupo. 2 este livro foi digitalizado e distribu�do gratuitamente pela equipe digital source com a inten��o de facilitar o acesso ao conhecimento a quem n�o pode pagar e tamb�m proporcionar aos deficientes visuais a oportunidade de conhecerem novas obras. se quiser outros t�tulos nos procure http://groups.google.com/group/viciados_em_livros, ser� um prazer receb�-lo em nosso grupo. ?? ?? ?? ?