Homem-natureza-artigo

  • June 2020
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ARTIGO: RELAÇÃO HOMEM-NATUREZA, DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL E EDUCAÇÃO AMBIENTAL Isabela Minatel Bassi1

1. RELAÇÃO HOMEM-NATUREZA – COMO SE CHEGOU AO PANORAMA ATUAL

À luz da filosofia, as questões envolvendo a relação homem-natureza são pautas de discussões e análises desde muito tempo. Já na Antigüidade o conceito de natureza se apresentou com grande variedade de significações em sua idéia primitiva, contudo, foram as obras poéticas de Hesíodo que deram uma nova roupagem aos conceitos pré-existentes. Foi neste contexto que ocorreu uma maior valorização da "medida humana". O filósofo Protágoras foi quem se responsabilizou por reafirmar essa idéia de que "o homem é a medida de todas as coisas". (MACHADO OLIVEIRA, 2006) Existe ainda um dualismo conceitual envolvendo a natureza cujas raízes históricas remontam a Kant, que admitia a natureza interior dos seres humanos – aquela que compreendia paixões cruas – e a natureza exterior – ou seja, o ambiente social e físico no qual os seres humanos viviam. Ainda no século XVII, Francis Bacon (in SOAREZ DE OLIVEIRA, 2002) concebe a natureza como algo exterior a sociedade humana pressupondo, portanto, uma separação entre natureza e sociedade. O que comprova sua teoria é a concepção mecânica que se dá a relação de natureza e sociedade na qual o homem exercia seu domínio sobre a natureza através das artes mecânicas. Dessa concepção baconiana percebe-se a sociedade atual ainda cheia de vestígios, iniciando o despertar para a conscientização dos prejuízos vitais que ela traz e iniciando uma forte campanha para reversão do que foi incutido no modo de vida social. Há ainda a visão de Gonçalves (in SOAREZ DE OLIVEIRA, 2002), que ousa com o paradoxo de que o conceito de natureza não é natural, haja vista ser fruto de uma construção social, ou seja, foi criado pelo homem. Para este autor toda sociedade e toda cultura cria ou

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Isabela Minatel Bassi é turismóloga pela Faculdade Internacional de Curitiba e cursa a especialização em Educação Ambiental pelo Instituto Brasileiro de Pós-Graduação e Extensão – IBPEX. Contato com a autora: [email protected]

institui uma idéia específica de natureza. A natureza é definida por algo que vai em oposição à cultura. A cultura é tida como uma virtude superior capaz de controlar e dominar a natureza. Justifica-se assim tornar-se a revolução neolítica, da agricultura, um marco histórico. Foi a passagem que o homem fez entre coletar aquilo que se produz espontaneamente na natureza, para a coleta do fruto que voluntariamente se planta e se cultiva. A questão da dominação da natureza a partir de épocas tão remotas pode ser exemplificada pelo controle da técnica da irrigação cujo resultado foi a domesticação da natureza pelas práticas da agricultura e a fixação dos povos em territórios propícios, originando o berço das antigas civilizações. É a partir daí que surge a concepção de domínio sobre a natureza tendo em vista que a dominação da natureza significaria controlar algo de características inconstantes, imprevisíveis e instintivas. Considerando a proposta relação de dominação, a natureza passa a assumir o papel de objeto a ser dominado pelo sujeito que, por sua vez, é representado pelo homem. Nesse ponto é válido considerar o que observou Gonçalves (in SOAREZ DE OLIVEIRA, 2002), sobre essa visão de natureza-objeto versus homem-sujeito: o termo sujeito – atribuído orgulhosamente ao homem – apresenta, além do significado de ser ativo, dono de seu destino, a significação de um ser submetido a determinadas circunstâncias. Essa segunda conotação do termo é esquecida por influência da visão antropocêntrica de mundo, na qual o homem é o senhor de todas as coisas, fazendo assim com que se esqueça que o termo sujeito, pode significar tanto o ser que age como aquele que se submete. É lamentável a constatação que essa visão de natureza separada do homem é característica do pensamento dominante no mundo ocidental atual. Um dos responsáveis por essa segmentação na visão entre homem e natureza, foi o avanço do cristianismo, já que Deus passou a ser o ser supremo e o homem, à sua imagem e semelhança, também – excluindo-se, assim, todos os outros elementos naturais relegados à posição de inferioridade em relação ao homem. Platão defendia que exclusivamente a idéia continha a perfeição, e não a realidade encontrada no mundo. Tal afirmação remete o indivíduo à crença de que o que se encontra concretamente no mundo natural – o meio ambiente como um todo – é imperfeito e aquém das nobres características do mundo ideal. Por ter o cristianismo assimilado a visão aristotélico-platônica, apregoou, durante a Idade Média – e o faz até os dias atuais – a separação entre espírito e matéria, difundindo com grande ênfase a perfeição de Deus em oposição à imperfeição do mundo material. É decorrente dessa filosofia que se deu a divisão entre corpo e alma, objeto e sujeito, a saber, a alma, o sujeito é que dá vida ao corpo. Quando o corpo morre passa a ser apenas objeto. A

matéria é objeto sem vida se não possui alma, sendo assim minerais, vegetais e outros elementos naturais não passam de objetos inanimados e inferiorizados em relação ao homem. Foi com René Descartes e sua visão cartesiana de mundo que essa oposição homemnatureza, espírito-matéria, sujeito-objeto se completou e ganhou grande força assumindo importantes pilares do pensamento moderno e contemporâneo. Foi devido à filosofia cartesiana que se deu a atribuição ao conhecimento de um caráter pragmático e tal conhecimento vê a natureza como um recurso. (SOAREZ DE OLIVEIRA, 2002) A dimensão de mundo sob a visão antropocêntrica e cartesiana coloca o homem no centro do universo, opondo-se à natureza, ou seja, o sujeito em oposição ao objeto. O desenvolvimento da ciência e da técnica impulsionado assombrosamente durante o século XIX foi um estopim para o triunfo do cartesianismo. Mais e mais a natureza passou a ser concebida como um objeto – um recurso – a ser possuído e dominado. Na visão da ciência, a natureza foi fracionada em disciplinas – física, química, biologia – e também o estudo do homem – transformado em economia, antropologia, história. Cada um dentro de seu espaço limitado, analisado separadamente como entes distintos que são. Sob esse contexto, qualquer tentativa de pensar o homem e a natureza orgânica integradamente tornou-se falha, visto que a separação não se deu somente no nível do pensamento, mas atingiu também a realidade objetiva construída pelo homem. A ciência moderna também foi acometida pela concepção de influência cartesiana sobre o entendimento de homem e natureza, tendo sempre o indivíduo por referencial. Nas ciências ditas naturais como a física, o átomo era o indivisível – sabe-se atualmente que este é um conceito ultrapassado pois já foram constatadas partículas ainda menores na composição dos elementos; na biologia, o organismo, tendo por unidade a célula e nas ciências sociais, por sua vez, o indivíduo – o homem – é indivisível, o elemento reinante. À medida que foram se desenvolvendo os estudos a respeito dos hábitos dos animais, ficou mais complexa a compreensão sobre a evolução da vida das espécies animais tendo como referência somente o comportamento de um indivíduo isolado, estudado em laboratório. Foi a partir daí que se deu o reconhecimento de que a convivência social já se fazia presente no que era denominado natureza. Gonçalves (in SOAREZ DE OLIVEIRA, 2002) chama atenção para essa questão quando faz referência àqueles que afirmam que "o homem é um ser social" alegando ser esta uma característica que o diferencia e o eleva em relação aos demais animais. Segundo ele, os outros animais também vivem socialmente e esta não é uma característica apenas do homem, portanto não se pode estabelecer separação entre o homem e a natureza através dessa afirmação.

Segundo SOAREZ DE OLIVEIRA (2002), nos primórdios da humanidade, existia o que se pode denominar de unicidade orgânica entre o homem e a natureza, sistema no qual o ritmo de trabalho e de vida dos homens acompanhava e se prostrava ao ritmo da natureza. Passando ao contexto do modo de produção capitalista, este sistema tem o vínculo rompido, já que a natureza, tida antes como um meio de subsistência do homem, agora passa a integrar o conjunto dos meios de produção do qual o capital se beneficia. Foi Karl Marx (in SOAREZ DE OLIVEIRA, 2002) quem defendeu a prerrogativa de que através do trabalho o homem passa pelo processo de apropriação e de transformação dos recursos naturais e, concomitantemente a isso ocorre o processo de socialização da natureza. Torna-se o trabalho, então, o mediador universal na relação do homem com a natureza. É partindo desse pressuposto que se pode constatar que a separação do homem de suas condições naturais de existência não é "natural", mas sim histórica, considerando que a prática humana encontra-se totalmente vinculada a sua história. Atualmente vivemos sob o regime do capitalismo que intrinsecamente se caracteriza pela reprodução ampliada do capital e que tem suas bases na produção de mercadorias como veículo produtor da mais-valia para viabilizar sua expansão. A relação homem-meio apresenta-se como contradição capital-trabalho, afinal, pensando sob o ângulo abstrato, os homens se relacionam com a natureza para transformá-la em produtos e pensando pelo ponto de vista real, o trabalho nada mais é do que um processo de produção/reprodução de mercadorias. Debaixo das leis e normas do capitalismo, o contato com os recursos pertencentes à natureza passa, necessariamente, pelas relações mercantis, uma vez que sua apropriação pelo capital implica a eliminação de sua "gratuidade natural". (SOAREZ DE OLIVEIRA, 2002) Sendo assim fica nítida a observação de que a incorporação da natureza e do próprio homem ao circuito produtivo pode ser caracterizada pela base responsável para que o capital alcance a almejada expansão. O próprio trabalhador – aquele que propriamente coloca sua força para que o trabalho seja realizado – neste processo de acumulação do capital, encontra-se obrigado a fazer de sua força de trabalho mais uma mercadoria, sempre a serviço do próprio capital, em troca de um salário. Assim, o trabalho "que deveria ser a forma humana de realização do indivíduo reduz-se à única possibilidade de subsistência do despossuído". (ANTUNES in SOAREZ DE OLIVEIRA, 2002, p. 12)

O capital é responsável pela separação dos homens e da natureza, através de seu processo de produção/reprodução e, dessa forma, impõe que o ritmo das atividades humanas não seja mais o ritmo da natureza, mas o ritmo do capital. A partir do panorama exposto, é fácil constatar que a perda da identidade orgânica do homem com a natureza encontra sua causa a partir do capital que, gerando a perda da identificação entre homem e natureza escancara as portas, consequentemente, para a cultura atual de degradação ambiental desmedida se a essa degradação estiver vinculada a produção e o acúmulo de capital. O estimulado processo social de produção que domina a sociedade capitalista, que tem suas bases referenciais na produção de valores de uso, condiciona a força de trabalho e os meios de produção aos seus objetivos e desígnios, dando incentivo e impulso à utilização irracional dos recursos naturais, ao desperdício de matérias-primas, de energia e de trabalho, ocasionando, desta maneira, a degradação da natureza e a conseqüente "crise ecológica" que tanto perturba os ambientalistas atualmente. (SOAREZ DE OLIVEIRA, 2002) No modelo de atividade produtiva própria do capitalismo a cultura que prevalece é a de fragmentação e atomização do trabalhador, reificando ou coisificando o homem bem como suas relações. Sendo assim, a interação do homem com a natureza não é realizada adequadamente e fica prejudicada. Uma outra conseqüência nítida do desenvolvimento das sociedades capitalistas é o considerável e rápido avanço da tecnologia que não é indiferente aos propósitos de sua criação, ou seja, outra potência que está a serviço do capital – voltada para a produção de mais-valia. Dessa maneira, à medida que aumenta a capacidade de extração de sobretrabalho, aumenta também a quantidade de matéria-prima transformada e, obviamente, de recursos naturais explorados, mas tudo isso é justificado pois somado a todo este desgaste, vem o que realmente interessa aos grandes capitalistas: o aumento do lucro. É este contexto de capitalismo e desenvolvimento acelerado de tecnologia para aumento desenfreado de produção e consumo visando lucro que trouxe a sociedade contemporânea ao panorama catastrófico no qual se encontra. Uma mobilização de ambientalistas e profissionais preocupados com o futuro da humanidade, levando em conta a característica finita dos recursos naturais não-renováveis, busca novas formas de desenvolvimento baseadas na sustentabilidade das ações antrópicas em relação à natureza. O ambiente natureza, para ser admirado, respeitado e preservado é o ambiente original e puro do qual os seres humanos estão dissociados e com o qual devem reaprender a se relacionar para resgatar e enriquecer a qualidade de viver e fugir da atual crise ecológica que traz graves problemas para o futuro da vida na Terra.

Tal crise ecológica requer um repensar sobre a forma como está estruturada e como funciona a sociedade moderna: o tratamento dispensado à gestão dos recursos da natureza, o modo de produção e de consumo, os meios de produção, o modo de vida, as técnicas aplicadas, a tecnologia utilizada e a ciência a seu serviço, tudo deve ser reformulado no sentido de reaproximar o homem da natureza (BIHR, 1999). Sendo assim, essa consciência do estágio avançado de crise ecológica e ambiental evidenciada através dos dois elementos característicos da sociedade atual, a saber, a tecnologia e o crescimento, coloca em xeque o estilo de desenvolvimento internacionalizado apregoado até então – um modelo que se revela ambientalmente predatório e socialmente injusto – manifestado, essencialmente nos processos de modernização da agricultura, de urbanização e de exploração desmedida dos recursos naturais.

1. POSSIBILIDADE DE REVERSÃO DO PANORAMA ATUAL – O DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL

As interações da humanidade com a natureza, que no início interferiam minimamente nos ecossistemas, têm hoje culminado numa gigantesca pressão exercida ininterruptamente sobre os recursos naturais. Atualmente, a contaminação dos cursos de água, a poluição atmosférica, a devastação das florestas, a caça indiscriminada e a redução ou mesmo destruição dos habitats faunísticos são comuns, constantes e alarmantes. E não são os únicos problemas. Deve-se considerar ainda o rápido crescimento demográfico que potencializa o esbanjamento dos recursos naturais e a degradação do meio ambiente, a pobreza persistente e permanente de grande parte da humanidade, a opressão, a injustiça e a violência de que padecem ainda milhões de pessoas criam um quadro que exige ações corretivas de grande envergadura. Os impactos da espécie humana sobre o meio ambiente, na concepção de alguns cientistas, podem ser associados e comparados às grandes catástrofes do passado geológico da Terra. A humanidade precisa reconhecer que as agressões ao meio ambiente colocam em risco a sobrevivência de sua própria espécie. O agravante maior é que esse quadro não é parte de um contexto nacional ou regional, e sim um problema que afeta diretamente a existência da humanidade como um todo. É a vida que se encontra em perigo. Não se pode conceber um ecossistema sem o homem e também é impossível pensar na humanidade sem algum ecossistema. (KRAEMER, 2004)

Todos os desastres que têm acontecido com o meio ambiente são frutos do que o ser humano tem sido capaz de fazer, ou seja, modificar seu meio ambiente para adaptá-lo às suas necessidades. O acelerado crescimento populacional criou uma demanda sem precedentes, a qual o desenvolvimento tecnológico pretende satisfazer submetendo, para tanto, o meio ambiente a diversos tipos de agressões que são responsáveis por provocar o declínio da qualidade e da capacidade do meio ambiente para a sustentação da vida. Segundo KRAEMER (2004), o efeito do aquecimento global, tão em pauta nos discursos ambientalistas modernos, tem como uma de suas raízes o impacto causado pelo uso de combustíveis fósseis. Tal queima tem produzido sobre o meio ambiente terrestre o aumento da concentração de dióxido de carbono (CO2) na atmosfera que, por sua vez, ocasiona um aumento da temperatura global da Terra. Além disso, o uso de pesticidas – arraigado às ações humanas em suas práticas de agricultura – contamina a atmosfera, os solos e as vegetações de regiões agrícolas e interferem no metabolismo do cálcio das aves; a erosão do solo é responsável por degradar de 20 a 35% das terras de cultivo de todo o mundo. Devese considerar ainda a perda das terras virgens, o emergente problema de proporção mundial relacionado ao abastecimento de água – conseqüência do esgotamento e da contaminação dos aqüíferos subterrâneos, ou seja, a queda na qualidade e disponibilidade da água e a destruição da camada de ozônio. Fica nítido, portanto, que uma enorme parte dos problemas vividos atualmente no mundo é definitivamente potencializada e em inúmeros casos, ocasionada em decorrência da intervenção humana no planeta e nos ecossistemas. É a partir da análise deste contexto e das conseqüências, muitas vezes irreversíveis, que os modos de produção, consumo e vida capitalistas têm provocado na natureza, que se torna evidente e clara a necessidade de mudar o comportamento do homem em relação aos recursos naturais, buscando dar sentido de promoção a um modelo de desenvolvimento sustentável. Apesar de ser o grande protagonista dos cenários de discussão, estudos, pesquisas e análises deste século, a preocupação com a ação do homem sobre o meio ambiente não pode ter seu ponto de partida atribuído ao século XXI. Já na década de 50 era objeto de estudo e preocupação internacional a deterioração ambiental e sua relação com o estilo de crescimento econômico. Destaca-se o teólogo luterano Albert Shweitzer que, em 1952, recebeu o Prêmio Nobel da Paz por popularizar a ética ambiental e pelos seus esforços em defesa da Irmandade das Nações. Durante conferência proferida em 20 de outubro de 1952 sobre o tema O problema da ética na evolução do pensamento, declarou: “quando o homem aprender a

respeitar até o menor ser da criação, seja animal ou vegetal, ninguém precisará ensiná-lo a amar seu semelhante”. (KRAEMER, 2004) Outro grande marco no início da preocupação com as relações homem-natureza foi no começo dos anos 60, nos Estados Unidos. Soou como uma denúncia que foi suscitada pela obra Silent Spring (Primavera Silenciosa), de Rachel Carson, bióloga marinha norteamericana que provocou os políticos à ação. A obra foi responsável por uma profunda mudança na atitude do povo americano com relação à percepção da necessidade de normas ambientais federais. Publicado em 1962, presidiu o rito de passagem para um momento novo e único na história humana: o período no qual a preocupação com os rumos do desenvolvimento da sociedade industrial era o principal ponto de observação, análise e estudo. Com caráter ousado e desafiador, Primavera Silenciosa traz relatos sobre os efeitos da má utilização dos pesticidas e inseticidas químico-sintéticos alertando, assim, sobre inúmeras conseqüências danosas de incontáveis ações humanas sobre o ambiente. São levantados e postos em discussão e debate o custo ambiental dessa contaminação para o homem e os prejuízos e danos causados pelo uso de produtos químicos no controle de pragas e doenças – ela advertia que se estava interferindo nas defesas naturais do próprio ambiente. Como era de se esperar, a obra-denúncia teve os direitos comprados por uma multinacional de agroquímica acontecimento que impede sua republicação. (KRAEMER, 2004) Na atualidade, a preocupação em defender a natureza passou a ser mundial, devido a fatos como se pode destacar: o planeta está imensamente poluído, sua temperatura se eleva a cada dia, as erosões progridem incessantemente, as áreas agrícolas irrigáveis diminuem, a população aumenta e os ecossistemas sofrem efeitos devastadores. Sendo assim, mudar a economia mundial, de acordo com o novo modelo de desenvolvimento ambientalmente mais adequado, ou seja, o desenvolvimento sustentável é a única alternativa para a sobrevivência a longo prazo da humanidade. Apresentados os pontos críticos que ameaçam a vida no planeta em decorrência das inadvertidas ações humanas sobre os recursos naturais, fica fácil chegar à percepção da importância que se deve dar a questão ambiental em discussões e debates da sociedade, buscando sempre promover a ênfase à consciência de preservação do meio e a evolução das ações do homem em relação à natureza visando a promoção das ações da sustentabilidade. O desenvolvimento sustentável é o processo de gestão ambiental que assegura uma gestão responsável e inteligente – e evidentemente produtiva – dos recursos naturais do planeta de forma a preservar a possibilidade de vida também às gerações futuras além, é claro,

de garantir o atendimento das necessidades das gerações atuais, proporcionando a compatibilização entre as práticas econômicas e as conservacionistas, trazendo reflexos positivos evidentes destinados à qualidade de vida de todos. No site da instituição WWF encontra-se a seguinte definição2:

(...) desenvolvimento sustentável é o ‘desenvolvimento capaz de suprir as necessidades da geração atual, sem comprometer a capacidade de atender as necessidades das futuras gerações. É o desenvolvimento que não esgota os recursos para o futuro’. Essa definição surgiu na Comissão Mundial sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento, criada pelas Nações Unidas para discutir e propor meios de harmonizar dois objetivos: o desenvolvimento econômico e a conservação ambiental.

As bases norteadoras do desenvolvimento sustentável encontram-se na busca de conciliação entre o desenvolvimento econômico e a preservação ambiental e, ainda, ao fim da pobreza no mundo – seu caráter possui o viés econômico, ambiental e também social. Na filosofia do desenvolvimento sustentável fortalece-se o imperativo de desenvolver economicamente, sim, mas sempre buscando estar em harmonia com as limitações ecológicas do planeta, sem destruir o ambiente, possibilitando para as gerações futuras a chance de existir e viver bem, de acordo com a satisfação de suas necessidades – melhoria da qualidade de vida e das condições de sobrevivência no planeta. O ideal almejado por uma satisfatória aplicação das práticas de desenvolvimento sustentável é a satisfação das necessidades básicas da população, a saber, educação, alimentação, saúde, lazer, etc.; a solidariedade em se tratando das gerações futuras através da preservação do ambiente de modo que tenham possibilidade de viver bem; a participação da população envolvida pela conscientização da necessidade de conservar o ambiente e cada indivíduo fazer a parte que lhe cabe para que tal objetivo seja alcançado; a conservação dos recursos naturais como a água, o oxigênio, o solo, etc.; a elaboração de um sistema social garantindo emprego, segurança social e respeito a outras culturas buscando a erradicação da miséria e do preconceito; a efetivação dos programas educativos responsáveis por disseminar e incutir essa cultura sustentável a todos os cidadãos desde a infância até a idade adulta. (KRAEMER, 2004) É importante destacar ainda que além de todos esses benefícios, a filosofia do desenvolvimento sustentável é capaz de introduzir na sociedade uma dimensão ética e política que considera o desenvolvimento como um processo de mudança social, que tem como conseqüências a democratização do acesso aos recursos da natureza e a distribuição igualitária 2

Disponível em http://www.wwf.org.br/informacoes/questoes_ambientais/desenvolvimento_sustentavel/index.cfm acessado em 16/07/2007.

de custos e benefícios do desenvolvimento. A filosofia de desenvolver sustentavelmente vem para encarar o grande desafio do século XXI: alterar nas mentes dos indivíduos o sistema de valores que está nos pilares de sustentação da atual economia global, visando torná-lo condizente com o atender às exigências da dignidade humana e o promover da sustentabilidade ecológica. Faz-se necessário trazer aos cidadãos um nível de compreensão elevado de forma que cada indivíduo chegue à convicção de que o progresso econômico e a proteção ambiental estão indissoluvelmente ligados sendo que um não tem futuro sem considerar o outro. Esse processo de levar consciência aos cidadãos para o início da aplicação do processo de desenvolvimento sustentável tem na educação ambiental uma base vital e indispensável pois é através dela que se tem a maneira mais direta e funcional de alcançar ao menos uma de suas metas fundamentais – a participação da população.

2.

O

PAPEL

DA

EDUCAÇÃO

AMBIENTAL

NO

PROCESSO

DE

DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL3

Para que seja possível a compreensão do papel da educação ambiental no processo de desenvolvimento sustentável é necessário explorar, inicialmente, o significado do que representa a educação ambiental em si. A educação ambiental se constitui numa forma abrangente de educação, cujo principal propósito é o de atingir a todos os cidadãos utilizando-se de um processo pedagógico participativo permanente que tem intenção de incutir no educando uma consciência crítica sobre a problemática ambiental – vale o destaque que se deve compreender como crítica a capacidade de concatenar as idéias entre a gênese e a evolução de problemas ambientais. Segundo Brito e Castro (2003, p. 5), a conferência de Tbilisi – referência nos estudos sobre educação ambiental e desenvolvimento sustentável – concebeu a educação ambiental como:

3

Os conceitos deste capítulo do artigo que não possuem referência direta foram adaptados daqueles apresentados pelo site Ambiente Brasil disponível em http://www.ambientebrasil.com.br/composer.php3?base=./educacao/index.php3&conteudo=./educacao/educacao .html - acessado em 12/07/2007.

Um processo contínuo no qual os indivíduos e a comunidade tomam consciência do seu meio ambiente e adquirem o conhecimento, os valores, as habilidades, as experiências e a determinação que os tornam aptos a agir, individual ou coletivamente, e a resolver os problemas ambientais presentes e futuros.

Ainda levando em consideração a referida conferência de Tbilisi (in SAUVÉ, 2007), os princípios da educação ambiental já incluem os elementos fundamentais para o desenvolvimento sustentável, a saber, a necessidade de considerar os aspectos sociais do ambiente e as suas relações entre a economia, o ambiente e o desenvolvimento; a adoção das perspectivas locais e globais; a promoção da solidariedade internacional, etc. E as características da educação ambiental para o desenvolvimento sustentável são aquelas também



identificadas

pela

UNESCO

(UNESCO-PNUMA,

1986):

holismo,

interdisciplinaridade, clarificação de valores e integração, pensamento crítico, debate, aprendizado ativo, etc. É importante identificar que o conceito de desenvolvimento sustentável tem sido associado com a educação ambiental na busca de promover modelos embasados na sabedoria da utilização dos recursos naturais, considerando a equidade e a durabilidade. É por se tratar de um sistema dinâmico no qual os elementos agentes são as pessoas, ou seja, os seres humanos habitantes do planeta Terra, é que a chave para o desenvolvimento das práticas sustentáveis é a participação, a organização, a educação e o fortalecimento dos indivíduos. O desenvolvimento sustentado não tem seu centro na produção, e sim nas pessoas e, por esta razão, deve ser apropriado e adequado não só aos recursos e ao meio ambiente, mas também à cultura, história e sistemas sociais do local onde ele ocorre, sendo assim pertinente ao contexto vivido pelas pessoas de cada localidade. Ao longo das últimas décadas, tornaram-se nítidas e gritantes as pressões sobre o ambiente global, fazendo erguer uma voz comum pelo desenvolvimento sustentável. Essa estratégia – para lidar com os agentes-pessoas do processo – requer um novo enquadramento mental e novos conjuntos de valores. (KRAEMER, 2004) A educação ambiental deve ser considerada como o instrumento de vital importância para a implantação do desenvolvimento sustentável, que combina crescimento econômico e tecnológico, com a exploração racional dos recursos naturais e com a sua conservação para gerações futuras. Na visão da educação ambiental tais elementos estão inseridos na vida do indivíduo que se torna um pólo de interação do seu crescimento cognitivo, efetivo, social e moral. (BRITO e CASTRO, 2003)

Para apresentar um caráter efetivo, os programas de educação ambiental devem promover concomitantemente, o desenvolvimento de conhecimento, de ações e de habilidades essenciais à preservação e resgate da qualidade ambiental. A proposta é a utilização do metabolismo urbano e de seus recursos naturais e físicos, começando pela escola e expandindo-se pela circunvizinhança e, sucessivamente, até a cidade, a região, o país, o continente e o planeta. A educação é a chave do desenvolvimento sustentável, auto-suficiente – uma educação fornecida a todos os membros da sociedade, seguindo modalidades novas e com a implementação de novas tecnologias, de modo que cada um se beneficie de possibilidades reais de se instruir ao longo da vida. (MAYOR in KRAEMER, 2004) Um novo modelo de ensino deve ser difundido em todos os países visando promover atitudes, posturas e comportamentos que sejam pertinentes a uma cultura de sustentabilidade. Faz-se necessário que as instituições de ensino assumam essa responsabilidade que é essencial na preparação das novas gerações para um futuro viável. Atualmente a educação vem sendo repensada como uma preparação para a vida – trata-se de considerar a necessidade de garantir a certeza do emprego e a aptidão para o trabalho, de possibilitar a cada indivíduo satisfazer às demandas provenientes de uma sociedade em dinâmica evolutiva, assim como os avanços tecnológicos que condicionam explícita ou implicitamente cada aspecto da existência e, por fim, de alcançar as respostas à incessante busca da felicidade, do bem-estar e da qualidade de vida. (KRAEMER, 2004) Tal proposta se materializa com a promoção de programas de ensino novos ou reformulados, de caráter mais envolvente e continuado, no desenvolvimento de peritos que auxiliam os governos através de aconselhamento e ainda realizam um efetivo e crítico acompanhamento da atuação dos governantes e de outros agentes da sociedade. E não se pode cair no engano de incentivar somente programas voltados à educação infantil, pois sabe-se que os trabalhos desenvolvidos nas instituições de ensino superior são dotadas de um efeito multiplicador no qual cada estudante, imbuído dos conceitos e ideais da sustentabilidade, influencia seu meio, seu conjunto social nas mais diversificadas áreas de atuação. Além disso, é necessário preparar o educador que irá trabalhar com as crianças e adolescentes para que ele possa estar apto a transmitir os conceitos de sustentabilidade aos educandos. O desafio do desenvolvimento sustentável tem a universidade como um de seus principais agentes, especialmente preparado e equipado para assumir a liderança na condução

do caminho a ser percorrido uma vez que sua missão é ensinar e formar os decisores do futuro, ou seja, os cidadãos mais capacitados a tomarem decisões. A educação para a vida sustentável envolve a aplicação de uma pedagogia que tem a compreensão da vida como seu ponto central. A proposta é que o educando experiencie um aprendizado no mundo real que supere a alienação da natureza tão presente na vida dos indivíduos encharcados pela dominante cultura capitalista atual. Para a efetiva realização do que propõe essa nova pedagogia, é necessária a confecção de um planejamento de currículo integrado, no qual a ênfase é voltada ao conhecimento contextual, ou seja, os vários assuntos aprendidos são recursos a serviço de um foco central. A exemplo do que acontece na técnica chamada de aprendizagem por projetos, que busca a facilitação das experiências de aprendizagem proporcionando o envolvimento dos alunos em projetos complexos e contemporâneos, possibilitando-os desenvolverem e aplicarem as habilidades e conhecimentos apreendidos. (KRAEMER, 2004) A ação direta do educador em sala de aula é uma das formas de levar a educação ambiental à comunidade e pode ser enriquecida ainda por atividades extracurriculares. Leituras, trabalhos escolares, pesquisas e debates são atividades que proporcionam aos alunos a compreensão e o entendimento das inadequações e dos problemas que assolam sua comunidade, e os levam ao processo de reflexão e análise crítica das ações que desrespeitam e destroem um patrimônio que é de todos. Vale destacar neste ponto a necessidade de incutir no educando a consciência que o que é público é de posse de todos pois não raro percebe-se que o público é tido como se não pertencesse a ninguém e por isso é depredado, estragado e desrespeitado. O professor é peça fundamental no processo de conscientização da sociedade sobre os problemas ambientais e deve buscar desenvolver nos educandos hábitos e atitudes sadios de conservação ambiental e respeito à natureza, fazendo deles cidadãos conscientes e comprometidos com o futuro do país. (KRAEMER, 2004) Para Kornhauser (in KRAEMER, 2004), a educação é o cimento da construção do desenvolvimento humano sustentável. É necessário elaborar estratégias e programas de educação voltados às preocupações com o ambiente, destinados tanto ao ensino escolar como à educação informal, com a perspectiva da educação permanente a ser empregada pelos poderes públicos, pelo setor produtivo, pelo comércio e pelas comunidades locais. A educação é ferramenta essencial à promoção de novos valores e para fomentar o aumento da capacidade das pessoas em enfrentar as questões ambientais e de desenvolvimento sustentável. É chegada a hora em que a educação em todos os níveis, e

principalmente a educação universitária – voltada à formação de gestores e professores – deve ser orientada para a disseminação do desenvolvimento sustentável e para apregoar atitudes e comportamentos ambientalmente conscientes, e também um sentido de responsabilidade ética. Segundo Kraemer (2004) os estabelecimentos de ensino superior estão já conscientes do papel que devem cumprir na preparação das novas gerações para um futuro sustentável. As universidades partilham a convicção de que o progresso econômico e a proteção ambiental estão indissoluvelmente ligados. Sendo assim, as universidades são chamadas ao exercício de liderar a proposta de uma forma de educação interdisciplinar que seja embasada em uma dimensão ética e que tenha por objetivo principal a concepção de soluções para os problemas ligados ao desenvolvimento sustentável. Fouto (in KRAEMER, 2004) diz que o ensino é o cerne da atividade da universidade e a educação a sua missão primeira. A este ponto faz-se necessário compreender que existem diversificadas concepções tipológicas sobre o ambiente. Segundo Sauvé (2007), o estudo fenomenológico do discurso e da prática em educação ambiental identifica seis diferentes concepções paradigmáticas sobre o ambiente. 

Ambiente como a natureza, para ser apreciado, respeitado e preservado. Esse

é o ambiente original e puro do qual os seres humanos estão dissociados e no qual devem aprender a se relacionar para enriquecer a qualidade de ser. Para muitos indivíduos a natureza é como uma catedral, que deve ser admirada e respeitada. Para outros, a natureza é como o útero, onde todos devem redimir-se para renascer. Com esse propósito, surgem as estratégias pedagógicas de imersão na natureza. 

Ambiente como um recurso, para ser gerenciado. Essa é a coletiva herança

biofísica, que sustenta a qualidade de vida de todos no planeta. Esse limitado e finito recurso vem sendo deteriorado e degradado. Ele deve ser gerenciado de acordo com os princípios de desenvolvimento sustentável e de divisão eqüitativa. Deve-se tomar as decisões corretas para assegurar os recursos para a geração atual e para as futuras gerações. Entre as estratégias de ensino aprendizado adotadas nessa visão, estão aquelas interpretações relacionadas com os patrimônios históricos, parques e museus e as campanhas para a utilização dos recursos como a reciclagem, por exemplo. A auditoria ambiental também é proposta como uma interessante estratégia, podendo ser aplicada para o controle do consumo de energia ou para o gerenciamento do lixo. 

Ambiente como um problema, para ser resolvido. Esse é o ambiente

biofísico, o sistema de suporte da vida que está sendo ameaçado pela poluição e pela

degradação. Importa aprender a preservar e a manter a sua qualidade. As estratégias educativas que auxiliam a resolução de problemas incluem identificar, analisar e diagnosticar os problemas, através de pesquisas e avaliações das diferentes soluções; conceituar e executar um plano de ação; avaliar os processos e assegurar a constante retroalimentação, etc. 

Ambiente como um lugar para se viver, para conhecer e aprender sobre, para

planejar, para cuidar. Esse é o ambiente do cotidiano de todos os indivíduos presente na escola, nas casas, na vizinhança, no trabalho e no lazer. Esse ambiente é caracterizado pelos seres humanos, nos seus aspectos sócio-culturais, tecnológicos e componentes históricos. Destaca-se nessa proposta o ideal de desenvolver em cada indivíduo o senso de pertencer ao ambiente. ‘Devemos cuidar do nosso espaço de vivência’. Nessa perspectiva, a educação ambiental é associada ao desenvolvimento de uma teoria cotidiana. O processo pedagógico auxilia a transformar cada indivíduo e, assim, cada um pode transformar sua realidade. A proposta é uma educação para a reabilitação, que favoreça o desenvolvimento da arte de conviver harmonicamente com o próprio lugar. 

Ambiente como a biosfera, onde todos devem viver juntos no futuro. Esse é o

objeto da consciência planetária. Esse é o mundo de interdependência entre os seres vivos e inanimados, que clama pela solidariedade humana. A concepção do ambiente como a biosfera objetiva a compreensão das múltiplas dimensões do mundo, estimulando a efetiva participação para lidar com as questões importantes. Entre as estratégias de ensinoaprendizagem, nós encontramos estudos de caso aplicados em problemas globais, ou uma auditoria para regular o consumo em diferentes partes do mundo. A íntima ligação do ser humano com a Terra é revelada pelas diferentes cosmologias. 

Ambiente como projeto comunitário, no qual os indivíduos são envolvidos.

Esse é o ambiente da coletividade humana, o lugar dividido, o lugar político, o centro da análise crítica. Ele clama pela solidariedade, pela democracia e pelo envolvimento individual e coletivo para a participação e a evolução da comunidade. Aqui são encontradas muitas preocupações da educação ambiental socialmente crítica. O modelo pedagógico tem enfoque sobre como propor o processo da pesquisa para a resolução dos problemas comunitários. Também muito pertinentes, destacam-se as estratégias do Fórum das Questões Ambientais (NAAEE, 1993), que convidam os cidadãos, os membros da comunidade a estudarem e discutirem um problema especial para identificar elementos de consenso que possam conduzir à elaboração e à implementação de soluções adequadas. De acordo com Sauvé (2007, p. 5) “Essas concepções sobre o ambiente podem ser consideradas numa perspectiva sincrônica: elas coexistem e podem ser identificadas nos

diferentes discursos e práticas atuais.” E são resultados da evolução da história. Sabe-se que alguns paradigmas da educação ambiental podem ser explicados no movimento da educaçãonatureza da década de 20 – refere-se à concepção do ambiente como natureza –, e também nos movimentos de educação-conservação que surgiram neste século – refere-se à concepção do ambiente como recurso. No início da década de 70, o ambiente foi percebido como um problema. Nessa época, a noção do ‘ambiente como lugar para se viver’ tornou-se muito popular. Nos últimos anos surgiu uma preocupação exagerada com a dimensão biosférica. A concepção do ambiente como a biosfera foi provocada pela globalização do mercado e da informação e também pela percepção sobre as interrelações dos fenômenos ambientais locais e globais. O Primeiro Mundo transferiu a responsabilidade aos países em desenvolvimento e um grande medo de que a miséria humana sofresse o efeito bumerangue deu impulso à solidariedade mundial. Enquanto isso, a concepção do ambiente como projeto comunitário acabou prevalecendo, respondendo à preocupação pela educação mesológica – educando para, sobre e no ambiente global para resolver os problemas da comunidade. É inevitável o questionamento sobre qual é a concepção correta ou mais adequada a ser trabalhada com os educandos, após tomar consciência da coexistência de tantas concepções diferentes de meio ambiente. O interessante é que sejam ‘costuradas’ duas ou mais concepções durante o trabalho de educação ambiental para o desenvolvimento sustentável, haja vista a complementaridade relacionada a estas visões sobre o meio ambiente. Vale o destaque ainda para a valorização do caráter global da educação ambiental, ou seja, o de relacionar todos os elementos envolvidos no processo de educação ambiental e desenvolvimento sustentável, a saber, pessoas, sociedade, natureza e desenvolvimento.

O ideal seria que a compreensão dos processos educativos considerasse uma dessas visões complementares do ambiente, de uma forma cumulativa, através de uma cuidadosa orquestra de intervenção, ou preferencialmente, utilizando um enfoque pedagógico integrado. Infelizmente, as propostas da educação ambiental são restritas em uma dessas concepções, limitando o principal objetivo da educação: o ambiente não é percebido de uma forma global e consequentemente, a rede de interrelação pessoa-sociedade-natureza (que é o centro da educação ambiental) é percebida somente parcialmente. Por exemplo, certas teorias e práticas relativas à educação para o desenvolvimento sustentável adotam uma visão limitada do ambiente, essencialmente como um recurso, assim como a visão de que o ambiente é um grande armazém genético que precisa ser gerenciado ou que precisa ser assegurado para os benefícios a longo prazo. Nesse contexto, as intervenções focalizando a atenção para a campanha dos 3 Rs, prescrevendo o comportamento cívico individual para a reciclagem, podem ser pertinentes num determinado contexto, mas são limitadas se forem consideradas na perspectiva de um processo holístico. Por outro lado, o fórum democrático sobre o gerenciamento dos resíduos sólidos numa comunidade cria uma interrelação entre o conceito do "ambiente como recurso" e o "ambiente como projeto comunitário", enriquecendo o propósito da educação em sua prática de intervenção. (SAUVÉ, 2007, p. 5)

Diante do grave cenário no qual está envolvido hoje o planeta Terra em consideração às questões ambientais, os objetivos de desenvolvimento sustentável têm de ser dissipados em caráter de urgência e a educação para o desenvolvimento sustentável – com suas diversificadas concepções a serem analisadas e entrelaçadas – será, portanto, o principal papel da universidade no século XXI.

REFERÊNCIAS: BIHR, A . Da grande noite à alternativa: O Movimento Operário Europeu em crise. São Paulo: Boitempo, 1999. BRITO, Hélida Oliveira de. E CASTRO, Carla. Educação ambiental e desenvolvimento sustentável. Natal: Davinci UFRN, 2003. KRAEMER, Maria Elizabeth Pereira. A Universidade do Século XXI Rumo ao Desenvolvimento Sustentável. Itajaí: Ambiente Brasil, 2004. SOAREZ DE OLIVEIRA, A.M. Relação homem/natureza no modo de produção capitalista Scripta Nova. Revista Electrónica de Geografía y Ciencias Sociales, Universidad de Barcelona, Vol. VI, nº 119 (18), 2002. SITES: MACHADO OLIVEIRA, Cristina G. A relação homem-natureza. Disponível em http://www.filosofiavirtual.pro.br/naturezamarx.htm acessado em 11/07/2007. SAUVÉ, Lucie. Educação ambiental e desenvolvimento sustentável: uma análise complexa. Revista UFMT. Disponível em www.cecae.usp.br/recicla/Lucie_Sauve.pdf acessado em 15/07/2007.