N1
POEMAS CONTOS CRÔNICAS ENSAIOS
aos leitores EDIÇÃO DIAGRAMAÇÃO TEXTOS Wellington Souza REVISÃO Wellington Souza CONTATO
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Olá a todos que chegaram até aqui! É justo começar pela proposta desta e-zine, afinal, é confortante sabermos onde estamos. Isto que tens em tela nada mais é que uma coletânea de textos do blog Hiper-Link.blogspot reorganizados por temas, e não mais por data – como no blog. Trazem consigo comentários selecionados e um link no nome dos autores. É um back-up de luxo, por assim dizer. Na primeira seção temos poemas , alguns antigos e revitalizados e outros feitos por esses dias – mas não especialmente para o blog. As postagens originais foram feitas por motivos puramente temporais, por isso, não há entre eles correlação lógica intencional. A seção seguinte é constituída por fotos captadas por este que vos escreve. Elas, sim, têm uma temática comum: as nuvens. O nome: A Dinâmica dos Fluidos foi em homenagem não apenas à água, mas também aos sentimentos que fluem em nosso firmamento e que este e-zine procura movimentar. Não ebulir nem tão pouco condensar, apenas movimentar. A “utilidade pública” do doc. está nas indicações de filmes. Achei por bem acrescentar aos meus rápidos comentários, trechos de diálogos. Em prosa, lerão uma crônica cuja temática é não apenas os filhotes humanos, mas é também uma tentativa de narrar um mundo fora do nosso e que observamos por fração de minuto, esquecendo-o mais rápido ainda. Em Espelho exponho-me refletido. E no Conto: Encontro procuro narrar a estória – saga – de uma conquista amorosa vista de dentro – em primeira pessoa. As pessoas e as coisas não têm nomes, nós é que os damos – e neste trabalho não nominei a ninguém.
É proibida a reprodução total ou parcial de textos deste trabalho em e prévia altorização do autor.
Agora que vos situei, acredito que a degustação se dará de maneira mais confortável. Ficaria eternamente grato se criticassem, pois melhorariam a próxima edição de duas maneiras: contribuindo para que falhas não se repitam e dando aos outros leitores o prazer de ler vossas opiniões nela!! Bora Ler! Wellington Souza
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Sumário POEMAS
3
placebo benzinho amor fisiológico virgem anti-deus
A DINÂMICA DOS FLUIDOS 10 FILMES 16 viver a vida (1962) quero ser john malkovich
(1999)
CRÔNICA 19 ESPELHO 20 CONTO 22 encontro
CRÉDITOS 38 Blozine | Hiper-Link | 3
Poemas Blozine | Hiper-Link | 4
PLACEBO A função da alma, por esses tempos difíceis, em que prazeres físicos são raros... é extrapolar o corpo, fugir, e falsificar sensações tão bem imaginadas a ponto do organismo, exato e lógico como ele é, aceitá-las e produzir os necessaríssimos neuro-peptídeos e os hormônios que estouram a reação em cadeia bem conhecida como felicidade.
BENZINHO A falta do bem deixa miserável e triste, – ai tristeza, o consumidor que se consome... que não aprendeu ser impossível adquirir um bem-querer, ainda mais à prestação
“ Bom, neuropeptídio é o mesmo que neurotransmissor. Tipo, quando você me vê, seus olhos enviam uma imagem para o cérebro, este por sua vez reconhece minha imagem e começa a produzir esse neurotransmissores que são jogados na corrente sanguínea e chegam até a células do coração, por exemplo, fazendo-o bater mais rápido; até os músculos da face te fazendo sorrir, e aumentam a temperatura do seu corpo...” Wellington Souza para *Lili*
“O poema, meio pernóstico. Você é mestre quando simplifica. Quando cai na pseudo-intelectualidade, nessas firulas lexicais, perde parte do brilho. Mas não, não está de todo ruim. (E há o mérito de ainda arriscares poemas, mesmo depois de todos esses anos. É como ainda querer ser socialista. Hehe).”
deco_ica
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AMOR FISIOLÓGICO
Há necessidades biológicas que necessitam ser satisfeitas e isso é mútuo, benzinho... Como nossos eixos não se alinharam, deixemos então nossas realidades físicas se experimentarem, permitamo-nos, vez ou outra... Nossas almas não ganharão o reino dos céus pois elas não fizeram o voto de pobreza dos amantes e ostentaram uma soberba inútil e fraca por si só, – então que nossas consciências o ganhem, nem que seja por frações de minutos...
VIRGEM Diz-se da mulher que ainda não teve cópula carnal. Casto, intacto, puro. Que ainda não serviu. Diz-se da mata que ainda não foi explorada. Diz-se da terra que ainda não foi cultivada. Diz da vela nunca derretida. Diz-se da cal anídrica. Isento. Livre. Ingênuo. Inocente. “Assim o dicionário Michaelis nos descreve depois daquele tarde nublada, em que o Sol apareceu ao final, já se indo, como que sacramentando o nosso batismo, o revirgirnamento”.
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ANTI-DEUS Muitas já me reprovaram, algumas mal olharam, já ignoraram como se à frente fosse algo imaterial - nem estátua e nada lhes ofereceria... Tão imaterial que nem cabia prova, impotente, inexpressível. Meu benzinho diz que, graças a Deus, elas eram cegas do coração.
“Só se vê bem com o coração? Acho ele o mais cego de todos.” *Lili*
PARAFRASEANDO ALGUÉM
Depois de ti, hasteei bandeira branca e pedi paz.
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– Mas livre, bem livre, é mesmo estar morto. Também. Liberdade é estar fora do corpo, Fora do efeito gravitacional que a consciência e o desejo de materialização impõe. A liberdade não deixa de ser uma espécie de morte, é se esquecer o que se tem a perder (do que se acha ter a perder, pois sempre não temos nada a perder) e ir e não perguntar não consultar e já está feito. Mas é preciso se desatar das correntes do passado e estiar as nuvens do futuro e ir. Sobretudo, se é livre se e somente se se é corajoso, essa superação do medo é o que distingue o livre do louco. “Tão livre quanto uma música instrumental tão livre quanto um cão que faz da praia sua morada tão crédulo como que ante a primeira paixão tão livre quanto um solista de sax tão livre e solitário quanto um goleiro comemorando gol tão livre quanto um beijo após o cigarro.”
“Realmente, o corpo é a prisão da alma e acho que falta coragem pra eu me libertar de minhas prisões. Todo mundo quer ser livre, mas nem todo mundo está disposto a pagar o real preço da liberdade. E, quem sabe, a liberdade pode não ser tão cômoda quanto a prisão. Belo post. Beijo querido!” *Lili*
““A liberdade não deixa de ser uma espécie de morte” Ando nessas de decidir se morro de vez ou sigo morimbunda por ai. Adorei.”
Cláudia Linck
“E a liberdade pra mim não passar de um bairro com motivos orientais.” deco_ica
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Responda a questionários e ganhe Eletrônicos! MP3, MP4 ,Cams...
Na página de cadastro: no item “como conheceu o QualiBest” terão que selecionar: “amigos” e no campo “e-mail da pessoa que te indicou” deverão escrever o e-mail: souzawell@yahoo. com.br
PARA A TROCA DE BANNERS, ENVIE E-MAIL:
[email protected]
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inâmica dos fluídos Blozine | Hiper-Link | 10
“Boa garoto, estou curioso pra saber do resultado dessa sua teoria dos Fluidos. Abraço”
Wellington Max
“as fotos mais que escolhidas a dedo.” draytonroger
SOBRE A RADIAL LESTE
As fotos com a temática nuvem/céu serão chamadas nos ‘marcadores’ de ‘a dinâmica dos fluídos’. Perguntas pertinentes: Por que nuvens? Por que elas são o final de um ciclo. Se ordenarmos o ciclo das águas pelo estado em que ela permanece por mais tempo, a forma de gasosa é a ultima.
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“E acho boa essa ideia de fotografar o céu. Se eu fosse menos materialista, aplaudiria de pé.” deco_ica
“Engraçado, hoje pela manhã eu estava vendo a forma das nuvens no céu e decidi fotografar algumas. Depois de baixar as fotos no micro eu percebi que só eu enxergava aquelas formas... paciencia.” *Lili*
VARANDA DE CASA
Por que fotos, qual o objetivo? Foto pela praticidade e pela arte: olho para o céu todo dia, sempre que possível, e isso contagia o meu humor: a foto é uma forma de expressão sim. Ficar filmando nuvens seria muito monótono e, se eu fosse assistir, não assistiria. O objetivo é fazer filosofia, mesmo sem saber e parecer.
CRUZ DA IGREJA DE SANT’ANA
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E a dinâmica? Toda ciência tem o estudo da dinâmica em temas que lhe é especifico, isso das naturais às sociais. Para tal estudo são criados modelos, que nada mais são que simplificações da realidade para se formular e experimentar hipóteses, chagando a teorias. Estas técnicas de modelagem partem, à priori, de bases comuns (todos lêem ‘O discurso do Método, de Durkheim), especializando para o uso de cada ciência. O vocabulário também é comum: velocidade do PIB (taxa de crescimento) e velocidade de átomos (temperatura), densidade do objeto e a demográfica, equilíbrio, etc. Todos temos, na gênese, alguma herança positivista.
NUVENS À SETE DA MANHÃ MATA DA CANTAREIRA
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Mas as fotos serão acompanhadas de texto? Este é o objetivo. Textos curtos e bem menos densos que essa entrevista, espero. Exemplo: o princípio que permite que as partículas de água fiquem suspensas no ar foi batizado de “tensão superficial” e é observado em todo líquido, é esse mesmo principio que faz com a água e o óleo não misturem, mesmo que chacoalhados. E esse conceito pode (e será) usado em uma reflexão sobre o que mantém as sociedades coesas, ou os indivíduos padronizados ou outro paralelo qualquer que a criatividade permitir.
AV. 9 DE JULHO VISTA DO 8° ANDAR
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“Nuvens! Amigo, você deve olhar muito para o céu. Ele lhe dá respostas?”
draytonroger
BRASIL
“Não precisava mesmo de trilha sonora...como é que se diz mesmo? Uma imagem vale...sim, você já conhece o ditado.” Groo
“E gostei dos poemas e principalmente da foto.”
deco_ica
‘É necessário se emprestar aos outros e dar-se a si mesmo.’ MONTAIGNE
Filmes
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VIVER A VIDA (1962)
N
ana, uma atriz que tem um trabalho diurno numa loja de discos é convidade pelo destino a se prostituir. Aceita, na busca de uma razão de existir, satisfazer carências e na necessidade de ganhar dinheiro. ‘Vivre sa Vie’ é uma expressão usada para o ato de se prostituir. Na mão de outro diretor – que não Godard – seria apenas mais um drama. Primeira cena:
...O que isso importa?...
– Um café. Nana quer abandonar - paul - o caçaníqueis.
– Paul “O que há com você?”
– Paul “Ele te interessa mesmo?” – Nana “Eu não sei. Eu me pergunto o que você está pensando” – Paul -Ele tem mais dinheiro que eu?
– Nana “Nada; Eu queria dizer essa frase com palavras que fossem precisas” Eu não sabia qual era o melhor jeito de exprimir essa idéia. Ou, ainda, eu sabia, mas agora eu não sei mais. Justamente quando eu queria saber. Nunca aconteceu com você?”
– Nana - O que isso importa? ...o que isso importa...
– Paul “Você não pode dizer outra coisa senão de você mesmo?”
– Nana “Você é maldoso”
estou cansada. morrer.”
– Paul “Eu não sou maldoso, Nana, eu estou triste”
– Paul “Estou falando sério
– Nana “Eu não estou triste, Paul, sou maldosa” – Paul “Não fale por falar, isso não é um palco” – Nana “Você nunca faz o que eu quero; você sempre quer que eu faça o que você quer De qualquer jeito,
Quero
Nana “Também estou falando sério” – Paul ‘Falar por falar’ – Nana ‘É melhor que nos separemos. Eu sempre tenho de suplicar. Eu existo também. Você me acha cruel, mas na verdade é você.” Blozine | Hiper-Link | 17
QUERO SER JONH MALKOVITC (1999) “Filme de estréia do roteriasta Charlie Kaufman,‘sendo Jonh Malkovich’, definitivamente não é um filme para se ver só por ver. Levanta explora a consciência de humanos e de macacos. Abaixo, duas cenas em destaque.” CENA 1 – Craig com títeres representando ele e Maxine no palco. Ele faz as duas vozes. – Maxine Craig, por que você gosta tanto de marionetes? –Craig Maxine,não tenho certeza. Talvez seja a idéia de ser outra pessoa por um instante.Estar em outra pele... pensar e moverse diferentemente...sentir de outra maneira. CENA 2 – Após passar pelo portal, Craig vai até Maxine. – Craig Há uma portinha no meu escritório, Maxine.É um portal que leva você para dentro de John Malkovich. Vê o mundo com os olhos de John Malkovich...e depois de uns 15 minutos,é lançado...à beira da autoestrada de Nova Jérsei. – Maxine Que barato!Quem é John Malkovich? – Craig É um ator. Um dos grandes atores americanos do século XX. – Maxine Em que filme ele atuou?
– Maxine Interessante, Craig.Será que gostaria de estar na minha pele...pensar o que eu penso... sentir o que eu sinto? – Craig Mais do que qualquer coisa. – Maxine Aqui é bom, Craig.Nem nos mais loucos sonhos é assim.
– Craig Muitas coisas. Aquele filme de ladrão de jóias. Ele é muito respeitado. Que seja. O ponto é... que isto é muito estranho.É sobrenatural,por falta de palavra melhor. Digo, levanta todos os tipos sobre a natureza do ego,sobre a existência de uma alma.Tipo: eu sou eu? Malkovich é Malkovich? Estava com um pedaço de madeira na mão.Não está mais comigo.Onde está? Desapareceu? Como pode ser? Ainda está na cabeça de Malkovich? Eu não sei!Entende que fossa metafísica pode ser este portal? Não sei como viver a vida como vivia antes.
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Crônica “Se olhando para o céu, é possível nos
questionarmos se Deus existe assim como nos impuseram, olhando para elas, esta pergunta se dissolve.”
E
ntram no ônibus e sentam na escada que dá para a porta, se cutucam e riem, mas um riso pra dentro, mudo, com os olhos fechados. As garrafas de plástico estão por debaixo da camisa e, após uma baforada longa e simultânea... Cessam os risos. Resta uma observação inerte focando a porta do coletivo, o túnel em que mergulhamos ou algo além. A mulher, ou menina, estica a mão e fica olhando os dedos que se mexem vagarosamente. O homem, ou menino, com os braços apoiados nos joelhos, também fica inanimado, mas é logo desperto do transe e pega a mão que a outra observava, despertando-a também. Vamos descer, vamos descer. Levantam e correm para o fundo do transporte, onde acionam o sinal de desembarque. Voltam a se cutucarem e a rir. Como as camisas estão por dentro das bermudas, as garrafas ficam seguras neste bolsão. Saltam num ponto ainda dentro da passagem subterrânea e correm em trote, se cutucando. Gostaria de escrever sobre suas mentes, sobre o que gostam de fazer, do que gostam de brincar, o que sonham ser quando crescerem. Queria saber sobre seus medos e desejos, sobre suas consciências, enfim. Mas nenhum de nós está preparado para essa metamorfose kafkiana, acho. Sou culpado. Sou conivente, sei. Se olhando para o céu, é possível nos questionarmos se Deus existe assim como nos impuseram, olhando para elas, esta pergunta se dissolve. “Sua segurança é possível apenas por meio de sua burrice*”. Melhor parar por aqui. *Frase de K. (personagem principal) sobre funcionários de alguma repartição que o abordaram .: KAKA, Franz; O processo. Coleção L&PM POCKET, 1° edição 2006, página 21. “Nós já fomos crianças
um dia e se estamos onde estamos, é porque alguém olhou por nós... É uma pena saber que somos egoístas demais para pensar em outras pessoas...”
Túlio Clemente
“Assim cuidamos de nossas crianças. Infelizmente. Mas estarei sendo hipócrita se disser que tenho me preocupado demasiadamente com isso.” deco_ica
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Espelho
Espelho Síndrome de enxadrista**
A
lguns dias são estranhos, soam estranho. Aqueles em que seu cachorro te morde, sua mãe não põe a mesa ou o ônibus não passa. O dia também parece que não vai passar. Mas passa, e se repete, mas passa; E tão amanhece já parece ontem. Sou um cara avesso a mudanças. Planejo evoluções, mas sem guinadas, procuro traçar as rotas mais retas possíveis por motivos óbvios. E gosto de ser sozinho, me dou melhor sendo sozinho (não me doando), isto tira a sinuosidade do caminho. Planifica a Montanharussa. Acho que a vida é um jogo de xadrez, onde as pessoas não se falam, não se olham e o toque acarreta em punição. Acho que a vida deveria ser assim, mas não é. Um jogo é somente planejado, o cavalo não quebra a pata nem a torre se inclina como a de Pisa. Tinha uma estratégia (que eu mesmo bolei) de fazer jogadas erradas para o adversário inflar seu ego e achar que estava lidando com um idiota. Para ele perder para ele mesmo. Mas sempre dava errado. Fiz isso no convívio interpessoal e também deu errado. Faz parte do jogo. Falta um plano, chega de testes. Um plano maior, que gere planos menores. Estes: com fim, meio e começo (necessariamente nesta mesma ordem). Fazer uma lista das 11 coisas que tenho que fazer antes de partir? também não adianta, para a maioria delas não eu
teria condições materiais de cumprir - além de ser um plano de vida bem imbecil, de querer morrer de uma forma digna (tipo voando amarrado a balões...) Gosto de navegar, e não ficar à deriva. Mas o mar é tão imenso, como saber se se está indo em alguma direção? Independente de dar ou levar o xeque-mate, a sensação boa é a de ter feito um bom trabalho. * “o espelho, que serve para mostrar aquilo que somos, aquilo que não somos e aquele que gostaríamos de ser.” SILVA, Fábio Ronaldo da. A questão do ser em “Quero Ser John Malkovich”. Artigo. ** Encarem esse texto como um conto ou uma crônica. Ainda bem que não sou sempre esse cara sóbrio e alabirintado, que procura conhecer mas não desbrava. Um alter-ego apenas, um dos. “gostei do texto, bem colocado e sutil, levinho mas com o “meu eu interior” do texto bem a mostra. parabéns. ;) grande abraço!”
“Viver é planejar. Mas executar o planejamento são outros 500...” deco_ica
PR
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Conto
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1.
Encontro
E
ngraçado o quanto colaboramos com o onde moro. Eu estava com um amigo vendo acaso, o quanto colaboramos para que um jogo de futebol desses à noite, e ela as coisas assim aconteçam (ou assim acompanhada de amigos, quatro na verdade,
pareçam). Ficam mais belas com o acaso, mais e uma amiga. Ficamos ali algumas horas, pitorescas. Passar por baixo de uma árvore, que mas nossa disposição não permitia troca de serve de poleiro para os pombos do centro da olhares; apenas pesquisa comportamental. Os homens de sua mesa
cidade, é pedir para tomar uma bela cagada e botar a culpa no acaso, no azar ou na sorte, sei lá. Bom, o meu caso é que tenho uma paquerinha na biblioteca da faculdade, trabalha informática,
na
sala
de
monitorando.
“A perguntar que não me deixava: ela quer dar ou não? A leitura dos sinais dela tinha que ser precisa para não haver excesso de força (que soaria como um: ou dá ou desce), tampouco fraqueza em demasia, coisa que acaba com qualquer homem. Tinha que ser uma sintonia fina entre os nossos incentivos e respostas, para convergirmos ao equilíbrio, ao entendimento. ”
Sempre sorrimos um para
não se interessaram por futebol, coisa que me deixa sinceramente
preocupado:
não que ponha em xeque a sexualidade deles, mas será que suas vidas têm tanto sentido assim a ponto de
não
acompanharem
futebol? Nem quando iam
o outro, perguntamos se está tudo bom – os ao banheiro espiavam a TV. Preocupante. dois perguntam ao mesmo tempo, também respondemos juntos. Depois, sorrimos e abanamos a cabeça (eu a abaixo, e suponho que ela também abaixe), mas não sabemos nossos nomes, nem qual curso fazemos e tão pouco nossas utilidades para a sociedade. Até ontem estes tinham sido nossos mais longos diálogos.
Mas fato é que nesse dia ela bebia cerveja. Outro ponto que mostra um pouco o que as pessoas têm embaixo de suas máscaras. Uma mulher que sai para beber com amigos em um bar freqüentado por defuntos telespectadores me agrada muito, pois não tem preocupações ambiciosas para ficar maquinando, não
Há algum tempo, a encontrei num bar no bairro procura nada ali senão as pessoas que estão à Blozine | Hiper-Link | 23
sua volta. Tem a humildade, não é envaidecida
música”, ela respondeu, sorridente. Posto que
etc. Isso me agradou bastante, aumentou meu
eu só expressasse um: “Ah...”, ela prosseguiu:
fetiche por ela.
“Porque?” “Não, por que tô procurando um
No dia em questão, no caso: ontem, fui usar a sala de informática, coincidentemente no turno dela. Chegando lá, olhei pela janela de vidro da porta, ela estava lendo numa mesinha e havia dois computadores vagos. Voltei pelo corredor e fui ao banheiro, depois bebi água. Retornei à sala e entrei, seguido de outro rapaz. Dessa vez havia apenas um computador vago e, como eu queria verificar em minha mochila se esquecera algo, deixei-o passar na minha frente. Nos cumprimentamos como de costume, sentei em um banco de espera, desses que cabem três pessoas, e quase entrei dentro da mochila à procura de algo, ou falta dele, à procura do fio da meada. A pergunta inicial seria o curso que ela fazia, na faculdade, tudo se iniciava ai. Ela ficou algum tempo olhando em minha direção, não para mim. Fato foi que percebi que sua leitura não era tão interessante assim, mas não consegui descobrir o assunto que se tratava, com rápidas e despretensiosas olhadinhas.
tal de Alexandre, o Pato, da psico, e não sei porque pensei que você fizesse psico, daí como ele é um dos poucos homens de lá, achei que poderia conhecê-lo, ainda mais por que ele é um dois poucos homens-homens de lá...” esbocei um risinho, que se expandiu ao ver que ela rira, embora a piada fosse, reconhecidamente, sem graça. Ela enfatizou, em meio ao riso, que não conhecia nenhum Pato e, como eu previra que assunto iria morrer quando nossas risadas já esfriassem, continuei – embora ache imensamente difícil falar e pensar ao mesmo tempo, gosto de repetir diálogos prontos o máximo que posso, assim somente tenho o trabalho de adequálos à situação, e incrementá-los. Mas como o acaso me pusera naquela situação. “É que eu entrei em um grupo de estudo orientado por um professor da psico, e esse Pato também está lá, mas estou em dúvida sobre o artigo que será comentado na próxima reunião... só sei que é sobre ‘a identidade no mundo contemporâneo ou pós-moderno’, já li um artigo
de
a respeito e é bem interessante, por incrível
fichamentos de filosofia-da-pedagogia. Já
que pareça!”, conclui. Ela: “Nossa, parece ser
tinha o principio do assunto. O diálogo se
interessante sim... explora conceitos sobre o
passou mais ou menos assim: “É... deixa eu
homem atual, vem daí ‘identidade’?”. “É. Li o
perguntar, você faz psicologia?”. “Não... faço
artigo: ‘a questão do ser em Quero Ser Jonh
Achei-o,
enfim,
dentro
do
caderno
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Malkovich’. Daí o autor expõe alguns conceitos
conforme mudamos de ambientes, sempre
que caracterizam o homem contemporâneo...
nos reinventado. Ser você mesmo virou meio
Você já assistiu esse filme? é de 2.000, acho”.
démodé hoje em dia!”. Disse essa ultima frase
“Não, não vi não”, respondeu melancólica, com
em tom meio irônico, e dei uma risada discreta.
as sobrancelhas franzidas. “Pois é muito bom.
Ela também sorriu discretamente, e concordou.
Depois de ver o filme duas vezes, fuçando na
Eu já estava farto desse assunto, resolvi por fim,
internet encontrei esse artigo. O filme você tem
antes que essa minha máscara caísse. “E daí
que ver, mas o artigo expõe o homem de hoje
vai toda uma viagem. Vê o filme, lê o artigo.
como um colecionador de sensações, tendo
Não sei se faz bem saber de certas coisas, às
uma identidade fragmentada sabe, sendo
vezes é mais seguro escolher uma mentira e
muitas vezes ao dia outras pessoas e sentido,
acreditar nela. Vestir sua máscara de manhã,
literalmente, como elas, daí o colecionador.
achando essa sua personalidade e pronto.
Todos nós criamos várias personas, e atuamos
Se numa dessa de querer ficar formulando
também. Um exemplo disso é o escritor: ele
conceito sobre tudo e deduzir logicamente
vive as situações que a personagem vive, é a
você chegar à conclusão de que isso tudo é
única forma de criar, ele sente o que ela sente.
imenso dum teatro, ou jogo de xadrez no qual
Pesquisas em neurociência demonstram que viver
se é uma peça apenas, programada para ter
algo, ou se imaginar vivendo algo, despertam as
sensações, interagir e se reproduzir... você não
mesmas áreas do cérebro e causam as mesmas
terá outra solução senão uma super-dosagem
sensações físicas, sentimentos, é atuar. Para o
de Prosac!” . Ela apenas respondeu com um
cérebro, não há diferença entre o que os sentidos
‘credo’, mas afirmou ter vontade de conhecer
captam e a imaginação” “Nossa, que viagem...”,
mais sobre o tema. Anotou o nome do filme e
ela respondeu, meio atordoada, e continuou: “é
o nome do artigo. Me perguntou qual filme
mesmo, não posso dizer que sou a mesma pessoa
mais a indicaria. Falei-lhe mais dois filmes,
aqui na faculdade, e na minha cidade, quando
acrescentando que um deles seria difícil de
vou ver meus pais, meus amigos...”. “Então,
conseguir, por ser uma produção japonesa.
quanto em mais círculos sociais você se associa, parece que é maior o número de ‘você’ que se tem de criar. O autor associa isso ao fato de vivermos em constante processo de adaptação
Bom, o importante que cumpri meu intuito que era impressioná-la. Tem lá suas vantagens ter um pouco de cultura. Cada um cultiva suas habilidades. Tem uma teoria econômica, Blozine | Hiper-Link | 25
formulada por Ricardo, conhecida como
quinta-feira. Trocamos números de telefone, e
‘vantagens
clássico
nos despedimos com um beijo-falso no rosto e
raciocínio sobre comercio internacional entre
abracei-a rapidamente, embora permanecesse
países, ele conclui ser a melhor estratégia
sentada na cadeira e inclinar meu corpo sobre
para cada um especializar-se na produção
a mesinha tivesse atrapalhado um pouco.
comparativas’.
Nesse
e exportação em que tem maior eficiência, importando os demais, mesmo que o preço desse bem seja menor que os a serem importados, pois, quando fizerem o comercio e trocarem seus produtos, os dois países terão mais dos dois bens e assim estarão em situação melhor que com suas economias fechadas. A mesma lógica se aplica a nós, você tem que se especializar naquilo que desenvolve bem. Se os fortões por ai pegam mulher mostrando-se fortões, porque não posso tentar as minhas mostrando-me
Sai da sala de informática, o papo se estendera um tanto mais que o previsto e tinha aula agora. Acho que ela não reparou que eu tinha esquecido de usar o computador, a imaginava mais inteligente, espirituosa. Se bem que sua demonstração de interesse no inicio da conversa perguntando-me porque perguntei se ela fazia psicologia foi o que me deu ânimo para prosseguir o dialogo, que foi mais um monólogo, se se analisar bem.
intelectual? Mesmo que minha “produção” seja
Faz música, ainda bem que já tenho aquelas
menor do que a dos fortões, é melhor do que
músicas instrumentais lá no meu computador.
se eu tentasse seduzi-la com atrativos físicos e
Agora tenho que pesquisar um mais sobre a
lábia?
vida e as propostas desse tal Paul Muriati, e
Pensei em chamá-la para sair outro dia, posto que hoje já poderia dormir com sensação de trabalho cumprido; mas resolvi citar que ia numa festa com uns amigos, para ver se ela topava. Ela sorriu. Saber que ela tomava cerveja me encorajou. Prometi não falar em
procurar outros maestros experimentais da mesma linha. Também tenho que procurar uma festa e ver se a galera quer ir, ver se as meninas querem ir, para quebrar o gelo um pouco, pelo menos até a cerveja desempenhar seu papel. Acho que vou desistir da aula.
pós-modernidade na festa, e que meus amigos eram um pouco mais normais. Acrescentei que teríamos carona para ir e para voltar. Ela achou que seria legal uma festinha, sorriu, afinal era Blozine | Hiper-Link | 26
2.
Veste-se mais para o estilo hippie: de uma
Não sou cientista, Deus me livre. Mas coisa sábia desses filósofos foi promover a utilização de métodos, de índices, que aplicamos mesmo sem saber. A dedução só perde para o fogo e para a roda na história da humanidade. Empata com a pólvora, uma justifica e outra operacionaliza os conflitos modernos, que são os alicerces da economia desde muito tempo.
escala de zero a dez, sendo o zero ‘patricinha’ e o dez hippie, daria um 7,5 para ela. Instigamme essas mocinhas meio hippies, mas não é nada ideológico de minha parte não, é que isso é um sintoma de que há algo de contestador, fora do padrão de estilo da classe-média, e é exatamente essa desvirtuação que indica que elas podem acabar com caras como eu (acabar na cama, digo). Seus óculos de armação cor
Gosto de analisar as pessoas através de
ferrugem também me deixaram instigado,
índices, da semiótica. Falarei pouco sobre ela
como que perante uma alquimista que iria
até agora, tentarei esboçar um ensaio sobre
transformar-me a matéria como bem quisesse:
minhas
impressões
todos os sentimentos do
pré-
contato, sobre meus préconceitos. Partirei do geral para o particular, sendo este último apenas um esboço, apenas.
“caraca viu meu, to sentindo a
expectativa como se fosse meu próprio plano elaborado para me dar bem.. me avise quando sair o “quarto ato” heim”
Oddie
mundo estavam em suas mãos e poderia a qualquer momento me utilizar de frasco para misturá-los. Outro
índice
que
acho
fundamental nas mulheres Ela é branca, dessas brancas que não estão são as unhas, elas dizem muito. Talvez devido acostumas com o sol. Nem magra nem gorda, faz a alguns filmes que assisto, unhas médias, de o tipo gostosa mesmo, mas não parece trabalhar extremidade quadrada ( não arredondada) e o fator corpo, poucas vezes a vi com blusinhas bem feitas sempre se associam à sexo oral, unhas em que seu colo e alto-ventre se mostrasse. sujas falta de higiene, quebradas a desleixo ou Faz o tipo italianinha, seus cabelos são de um a falta de nutrição e assim por diante. Conheci louro escuro, miscigenado, e suas sobrancelhas uma mulher-jovem que deixa curta apenas a também, daí conclui-se que não tem o hábito de unha do dedo-médio, a finalidade que atribuía pintar os cabelos, fato, aliás, que me admira. a isso me enchia de pensamentos onanistas. Mas Gosto das pessoas naturalmente.
as dela são curtas, redondinhas, e nunca as vi Blozine | Hiper-Link | 27
com esmalte, somente aquela substância que as Como não tinha nenhuma festa da faculdade, deixam reluzentes. Outro fator que me atraiu. e nem outras mulheres para nos acompanhar, Mas em sua mão, chamou-me a atenção o fato resolvi desistir da empreitada. Liguei para os de usar um anel prateado e espesso no dedo caras falando que apareceu um imprevisto: uma indicador. Escutei em algum lugar, ou li, que gatinha querendo ver um filme em casa. Esse esse era um código de reconhecimento entre era um motivo de força maior, reconheceram. homossexuais femininas. Não sei o quanto disso é verdade, tão pouco se ela sabe. Acho que isso me perturbou um pouco, pois tenho a impressão de tê-la visto algumas vezes observando outras meninas... pode ser que estava com olhar vago, pensativo, ou fantasiando.
Conhecia-me o bastante para saber que efetivamente só sairia com ela essa noite se desse tudo certo, se o acaso assim alinhasse. Se fosse um homem objetivo, um caçador de olhos próximos que funcionassem como uma mira de precisão teria convidado-a para um encontro
Dada uma esmiuçada na moça, cabe agora a dois, em casa mesmo talvez, ou nalgum bar contar o que aconteceu naquele inicio de noite, próximo. Mas joguei a moeda, quis contar ou que poderia ter acontecido. Telefonei para dois amigos, saber de festas. Eles me falaram de ir à boate, retruquei que não estava com pique. Perguntei sobre festas universitárias, no máximo algum show. Citaram o Hard Day´s Night, boa pedida, pois ali se apresentavam bandas de rock ou Reggae, era barato para entrar e vendiam cerveja de garrafa. Eles toparam de ir lá, ficaram de passar em casa às dez. Agora tinha que chamar as meninas, o bom de ter amiga é esse: dá-te margem para convidar outras mulheres para sair sem parecer um canastrão (além do sexo casual, é claro). Mas nenhuma delas quis ir, deram desculpas.
com uma série de fatores, como que pedindo a benção da sorte. Agora é traçar um plano antes de ligar para ela, tenho que vê-la hoje, senão retrocederei alguns passos. É mais ou menos como um guepardo, uma vez lançada a investida não se pode voltar atrás, com a energia que esses animais gastam durante o ataque, um erro na escolha do alvo pode custar não só uma refeição, mas ser fatal. O roteiro: Primeiro falar que a turma desanimou de ir. Depois falar que vou ficar em casa mesmo. Citar que sairei para comer um lanche, talvez tomar uma cerveja no bar do Macaco (aquele mesmo bar que a encontrei tomando cerveja), dependendo de a reação convidar para ir Blozine | Hiper-Link | 28
também. Por último falar que verei um filme em
Agora eu conhecia, enfim, os sentimentos:
casa mesmo, se ela interessar-se, convidar para
dos gregos quando tomaram Tróia; dos
vir ver.
portugueses no então Cabo Das Tormentas;
Esboçado o plano, liguei: “Oi, tudo bem? sou eu...”. “Oi! todo bom”. “Então, o pessoal que ia sair hoje furou, as meninas se esconderam e os caras vão a uma boate. Daí desencanei”. “Que pena... ah... mas não faz mal, deixa para outro dia”. “Pois é, estou pensando em ir no Macaco mesmo, comer um lanche, tomar uma cervejinha...”. “...”. “Ficar mais sossegado... depois voltar para casa e ver um filminho...”. “Hum... e que filme vai assistir?”. “Então, não
de Napoleão em Roma, dos soviéticos em Berlim. Minha consciência ficou algum tempo plenamente satisfeita, enfim. Daqueles instantes que sucederam o telefonema em diante estava transpirando contentamento. Não sabia, então, do monstro que estava alimentando dentro de mim, e nem do estrago que ira causar quando sua fome se tornasse impossível de ser saciada. Iria devorar-nos (a mim e aos outros eu que me coabitam).
sei ainda. Tenho alguns aqui em casa, no
A perguntar que não me deixava: ela quer dar
computador, baixo na faculdade e trago,
ou não? A leitura dos sinais dela tinha que ser
depois gravo em DVD e assisto. Você quer vir
precisa para não haver excesso de força (que
ver, daí a gente escolhe junto?”. “Vontade não
soaria como um: ou dá ou desce), tampouco
me falta. Onde você mora?”. “Moro na rua
fraqueza em demasia, coisa que acaba com
do Macaco, só que na parte alta”. “Então, eu
qualquer homem. Tinha que ser uma sintonia
moro na baixa... nah, deixa para outro dia, um
fina entre os nossos incentivos e respostas, para
sábado ou domingo...”. “Você tem aula amanhã
convergirmos ao equilíbrio, ao entendimento.
cedo? por que aqui na Rep. tenho colchão, posso
Um conceito importante nestas horas é o de
dormir nele e você na minha cama...”. “... não
‘armadinha da amizade’ na arte de seduzir:
tenho aula amanha cedo... hum... até pode ser...
tentando persuadir a mulher com estórias
não ia fazer nada hoje mesmo”. “Fechou então:
e vantagens, corremos o risco exceder no
a gente se encontra lá no Macaco às dez, daí
ponto ótimo de aproximação que maximiza o
subimos aqui para casa”. “Beleza, combinado...
interesse delas (tesão), e nos tornarmos amigos,
hum... posso levar uma amiga?”. “Claro, sem
daí o todo esforço é dissipado, toda a luta é
problemas!”. “Beleza então, beijão”. “Até daqui
vã. Então é partir para o menos pior, tentar
a pouco”.
salvar algo pedindo-as para apresentarem as Blozine | Hiper-Link | 29
amigas.
pares antecessores de momentos impares, que
O fato de ela querer trazer uma amiga pesava contra mim. É mais fácil ela estar querendo se livrar de um encontro a dois do que planejando uma suruba, mas há a chance. Subitamente lembro-me do seu anel no dedo indicador. 3. Estou sentado na varanda do meu quarto, que dá para os quintais das casas vizinhas. O dia está claro, mas o sol ainda não veio, mas seu tapete azul é é manchado de nuvens
comprovamos a existência de vários universos. Vejamos uma análise embasada naquelas mesmas teorias que me detive a explicá-la em nossa primeira conversa... De como não há diferença para o cérebro (ou fisiologicamente), entre o que os sentidos captam, isso que achamos que vivemos, e o ato
“Hum, esse negócio de chamar pra ver filme em casa é um convite ao sexo mesmo... hahahahaha Maravilhoso Ciri. Só estou curiosa pra saber mesmo o que vai dar este encontro, afinal estou platonicamente apaixonada pelo personagem. Será que vou me desapaixonar? rs... Bjo querido, parabéns pelo belo conto.”
vermelhas que apontam onde ele nascerá (direção que não
Lili
que
imaginarmos
situações.
De tudo o que vivemos essa noite, contar-lhes-ei um terço delas, posto que as outras partes somente elas viveram: o caminho até o bar e depois indo-nos para casa e no antes e no após o filme. Em uma obra
é nova, visto que estou na varanda onde tantas
de arte cada qual vê, sente uma coisa, pois
vezes o vi chegar). Os pássaros anunciam a
ela desperta as distintas lembranças do nosso
chegada do Rei.
álbum de figurinhas.
Fumo o quarto cigarro da minha vida, este
Chegaram o lanche e a segunda cerveja. Se
está menos amargo e mais triste, o prazer do
fosse em outros tempos, minha lábia seria
segundo foi o melhor.
o tacape, a levaria para casa e quando
A seguir, de como as coisas se deram essa noite.
acordasse, taiparíamos. Apesar que, se fosse nesses tempos, teria eu nascido na casta dos líderes espirituais ou estaria fazendo
Fui para o bar, e fiquei aguardando. Troquei
igual àqueles macacos fracos e sem lugar no
o tradicional X-Bacon por um X-Salada, para
bando, que apenas se masturbam encima de
manter a alma um pouco mais limpa, a cerveja faz
qualquer árvore. A dominação nesses tempos
parte no projeto alvejante. São nesses momentos
de pax se dá pele persuasão, olhos-nos-olhos e mão entrelaçadas. Não posso tirar os olhos Blozine | Hiper-Link | 30
dos dela e tenho que manter um meio sorriso no
com as demais partes do corpo.” Detive-me a
rosto. Fazê-la perceber que estou imaginando-a
essa ultima lição e não prestei atenção ao nome
nua, mas sem olhar em demasia para os seios
da amiga, mas nada que não venha a saber
ou para a bunda, caso ela se levante. Para um
mais tarde, a noite será longa, espero.
segundo encontro, depois de já ter beijado, daí sim pode-se deixar o animal de eterno cio tomar conta. “Por hora, você tem que demonstrar através de gestos e expressões calculada que deseja cada parte do corpo dela e que, se necessários fosse, ergueria uma ponte para ficarem juntos… nada de se jogar de ponte em função dela, mulher nenhuma quer que o cara se jogue da ponte, até que ficariam felizes, e tristes por estarem feliz, mas isso acabaria com a brincadeira.”
Sentam-se. Mesa quadrada e de plástico, típica de bar. Cadeiras também de plástico. “Acabei de comer. Já deixei avisado com o
“Filmes do Godard instigam a foder, e são para se ver depois de foder, para dar vontade de foder mais. Vê-los sozinho entristece o que, por definição, já é triste. Dão vontade de foder porque dão vontade de viver, e viver é sentir, acho. E sentir é diferente de ter sentimento: o sentimento é uma força, um substantivo que remete sempre a um objeto… se já o sentir é o movimento a que essa força impele, a ação. O sentimento apenas, sem sentir, sem a ação, represado, leva, possivelmente, á loucura.”
menino para que, quando vocês chegassem, ele trazer mais dois copos… até pedi para deixar no congelador os copos, para ficarem perfeitos da
à
degustação
cerveja…”.
“Nossa,
que honra… chegaram… pode deixar que eu sirvo a gente… Tim-tim. Há algum filme que, por algumas
Estou no desafio das ultimas dentadas no lanche
horas, irá nos tirar de nós mesmos!”. “Tim-tim”, repetimos a amiga e eu.
e elas chegam. Não sei se X-Salada é um bom
Achei que estava querendo me impressionar –
índice para ela. Deixei o resto de lanche no
ou querendo impressionar quem achava que
prato. Limpei a boca com guardanapo e me
eu era, àquele cara que conheceu na sala de
levantei para cumprimentá-las.
informática, suponho. Meio sorriso ficou mais
E isso de que o gato “brinca” com o gato
natural.
depois de predá-lo é apenas uma fábula. Após
Durante sua conversa, procurei olhá-la nos
segurar o roedor com uma das patas, não tarda
olhos.
em se utilizar das poderosas mandíbulas para destroçar o céfalo, engoli-lo e fazer o mesmo
Quanto à amiga, essa tinha um ar sereno. Blozine | Hiper-Link | 31
Cabelos negros e lisos, pele um pouco morena,
como que ainda não desperta de uma estase
meio mediterrânea, meio indígena. Até agora
sexual, ou na eminência de um.
não tinha sorrido, ao menos não reparei, não compartilhava a alegria da outra. Mas também não mantinha a boca de tudo fechada, os lábios separados expiravam desalento, que deixavam sua imagem um pouco insossa, mas leve. “Para hoje separei um Godard, acho que vão gostar, pois a estória central é de uma mulher francesa jovem que busca ser atriz, ou mais que atriz, busca sua essência, seu contentamento… pelo menos li dessa forma… e tem diálogos ricos, acrescenta, sabe…Viver A Vida, o nome”. “Que bom, não vimos muito de Godard, mas sempre escutamos falar dele e dos diretores da nouvelle vague… Trufaut… vimos o Bande à Part, dele, do Godard, um clássico, né? Esse filme é o preferido do Tarantino, sabia? E, olhando para a amiga, acrescentou: “ Dá vontade de fazer a louca que vem à cabeça, ou arrumar uma para deixar essa monotonia da vida mais
Até agora a amiga estava muda, somente observando. Olhava-me enquanto eu buscava os olhos da outra, e a olhava se esquivando de minhas empreitadas psicológicas. Ela já sabia o que eu queria, para ambas já tinha ficado claro, acho. Olhar para a amiga e falar de liberdade e loucura me deixou um pouco atônito. E também achei um tanto sutil da parte dela dizer que “não vimos muito de Godard, mas sempre escutamos falar dele…”. O uso do pronome pessoal no plural indica uma cumplicidade, um elo que transcende a amizade… será que carregam consigo uma a imagem na outra encardida em seus sub-conscientes? Pior que não me vem à mente um método seguro (de baixo risco) que me permita testar essa hipótese e ter resultados confiáveis.
azul, ver se tangemos a liberdade…” Enquanto
“Vamos pedir outra, ou já vamos ver o filme?
enchia os três copos, respondi, olhando-a. “Não
estou ansiosa por ver Goudard novamente.”. “Por
sabia… mas é bem a cara dele mesmo, falam
mim podemos ir. Temos uma garrafa de vinho
que nesse filme Godard fez uma homenagem
na geladeira;uma não, umas!”. “Hum, você está
ao cinema estadunidense do gênero. É mais
premeditando demais as coisas essa noite…”,
difícil de achar filmes do Trufaut na net… mas
olhava para mim e afastou um pouco a cabeça
também procurei uma vez só…”. Rimos. Ela
e o corpo para trás, meio sorriso no rosto e pela
mantinha um sorriso franco desde que chegou,
primeira vez procurou os meus olhos, mesmo que Blozine | Hiper-Link | 32
brevemente. “Sou um homem-cirúrgico: gosto de
observando os fatos, as ações e as reações,
pensar na ação, na reação e contra-reação.”
superstições embasadas cientificamente. E ficar à
Rimos os dois. A amiga permaneceu calada,
esquerda não me pareceu boa sorte. Na Última
apenas franziu os lábios, esboçando um sorriso
Ceia de Da Vinci, Judas estava à direita de
que logo se acanhou. Resolvi conjugar verbos
Cristo, sim, mas em todos os retratos da reunião
na primeira pessoa do plural também, pois ele
que vieram depois, ele está à esquerda com
dissolve o egoísmo das ações e dos planos;
seu saquinho de moedas. Não sou conhecedor
além do efeito citado acima.
de outras teorias (se é que essa é uma) sobre
Nisso, a conta chegou. Cada uma pagou o equivalente a uma cerveja e eu o restante. Ao
semiótica, mas a esquerda, definitivamente, não é um bom presságio em nossa cultura. São tantos os devaneios…
me levantar, tomo cuidado de alinhar logo minha camisa, de modo que as meninas não percebam minha ereção. Tenho em mente que sentimento sem
“ Volúpia...
ótima “coletanea” =DD poste mais contos paz e luz”
Joana Camila
sonhamos e às vezes tão intensamente que, ante á possível, ou antes, à inevitável realização deles, sentimos
ação leva à ruína da alma.
medo, medo da eminente
Novamente o bicho do querer
alegria. Suscita a consciência do perigo da felicidade. De não conseguir cunhar
a devorar.
o ouro do pote encontrado atrás do arco-íris. Medo de despertar o Dragão do Querer e não
4.
saciá-lo as vontades. Mas, sobretudo, medo de sermos repetitivos, não reinventarmo-nos e não
Partimos. A casa ficava a algumas quadras
termos outros sonhos, novos sonhos. De chegar ao
dali. A nossa disposição foi naturalmente
cume e ter de descer.
arranjada, acho. Ela ficou no meu, a amiga tomou a direita, restando para eu a esquerda. Predestinação ou aleatoriedade? Não sei. Sou um cara ateu, mais supersticioso, mas não com essas superstições de senso-comum, que envolvem gato-preto e escada. Crio as minhas
Como o caminho não merecia a introspecção à qual nos detínhamos, resolvi puxar assunto com a amiga, afinal, se tudo desse certo essa noite… “Você também faz música?” “faço sim” ela respondeu, sem me olhar. “Deve ser um curso que enriquece muito. Culturalmente…” “mais Blozine | Hiper-Link | 33
ou menos… a faculdade atrapalha os nossos
seu mapa-astral em mente e, como gato,
estudos...”. Uso de jargão, ponto negativo.
brincando com o rato. Mas me provou ter sua
“É mesmo”, concordei e inclinei meu corpo
estrutura, sim; ter personalidade esférica e
tentando olhá-la, para que ela pudesse ver
não plana. Tinha-lhe por ponte, mas era
meu sorriso… Continuei: “Hoje pela manhã
uma gruta, e quando meu entendimento
escutei música clássica e me lembrei de você,
chegou à essa entrada fiquei feliz, sorri
coloquei Paul Muriat…” “Existem lendas em
ante o novo desafio.
pedagogia?”, ela me interrompeu. “Lendas?” “é, lendas, tipo… termos que o senso-comum se utiliza inapropriadamente?… falácias”. Olhei para amiga e essa matinha um meio sorriso no rosto e olhava para baixo como que prevendo o discurso, e como eu mantinha uma cara de interrogação, ela prosseguiu com o raciocínio. “Por que música clássica foi feita no período clássico, com padrões estéticos clássicos… Mozart não é clássico por ter sido muito bom, ou tocar música instrumental (sinfônica, no caso), mas por ter produzido no estilo da época, ter preocupação em expressar suas emoções de uma maneira refinada e educada. Bach era barroco e assim por diante. Beethoven romântico, por exemplo.” Ainda estava bem atordoado e reinou um certo silêncio. “Ah, então segue mais ou menos o mesmo padrão da literatura, por exemplo?” “Isso…” e sorriu. Enfim algo de inteligente a se dizer. Estava atordoado não
Caminhávamos calados novamente. Ela ainda mantinha um meio sorriso no rosto, vitorioso e satisfeito, desses que imprime na face pensamentos não tão inocentes, não. Bem sei. A pretexto de frio, deu os braços à amiga, encolheram e se apertaram. Olhoume, e eu, que tinha trocado ao sorriso pela dúvida, tive meu braço envolvido e apertado pelo dela. Virei o rosto e senti o cheiro do seu cabelo e do pescoço. Não usava perfume. Acho muito piegas descrever o que esse tipo de incentivo instiga, mas as partículas voláteis que seu corpo emanava tomaram de tal forma meu órgão olfativo, que a percepção deles manifestou sensações tão diversas que fui derrotado, suspirei para retomar o ar que não viera na respiração anterior, e desejei acordar todos os dias sentindo-o.
pela quebra do conceito sobre história da
Conversavam. Falavam sobre a maior
música; mas principalmente pelo conceito que
dificuldade
tinha eu formado sobre ela. Já estava com
musical especialidade em piano, que era
de
se
fazer
graduação
Blozine | Hiper-Link | 34
necessariamente possuir um piano. Mas e abro, nos sentamos à mesa. Copos americanos. faziam planos de comprá-lo em sociedade. A conversa se desenvolve despretensiosamente. A Compartilhar um piano, é compartilhar a mistura vinho e cerveja começa a fazer o esperado efeito.
vida, pensei.
“Por que você está sorrindo assim?” “Por nada Chamei para nos acomodarmos no recinto da não… acabamos de chegar em casa”. Abri o luxuria, sorrindo devido ao vinho e à eminência portão. “Vocês não tem cachorro nessa casa do grande feito. Coloquei o DVD enquanto elas grande?”, perguntou a amiga. “Temos, mas se arrumavam no colchão de casal que estava no ela é muito boba e não late para visitas.” chão e esticavam o cobertor. Ela ficou no meio e “Por que Limbo?” “e porque a frase: deixai a amiga na direita novamente. Deitei olhando-a e sorrindo, ela já estava alegre, toda a esperança, ó vós que mas irradiou-se. Começou o entrais.”. Elas perguntaram filme. “Destaque para a parte do sentimento ao lerem os escritos nas paredes
do
alpendre.
“É porque a república se
chama
‘Dantesca’,
sem sentir e para as sensações que esse conto pode provocar as 5h da manhã de uma noite não dormida. E ah, leia “O Caso Morel”, do Rubem Fonseca. Passei por aqui :)”
Cláudia Linck
Filmes do Godard instigam a foder, e são para se ver depois de foder, para dar vontade
em alusão ao Inferno de
de foder mais. Vê-los sozinho
Dante. Daí os fundadores
entristece o que, por definição,
colocaram cada cômodo
já é triste. Dão vontade de
da casa como sendo um dos
foder porque dão vontade de
círculos infernais, aqui é o limbo por que ele
viver, e viver é sentir, acho. E sentir é diferente
não faz propriamente parte do inferno…”
de ter sentimento: o sentimento é uma força, um
Entramos na casa. “A sala é o segundo, onde
substantivo que remete sempre a um objeto… se
os luxuriosos sofriam com ventos vulcânicos”.
já o sentir é o movimento a que essa força impele,
“Nossa, que criativos… e tem uma janela
a ação. O sentimento apenas, sem sentir, sem a
grande aqui… e com o calor que faz nessa
ação, represado, leva, possivelmente, á loucura.
cidade…” “pois é, e aqui é o lugar da luxuria, da descontração… a cozinha, venham cá, é o terceiro, onde os glutões ficavam expostos à chuva ácida” Pego o vinho na geladeira
Pediram mais vinho, que foi prontamente atendido, pois a garrafa estava do meu lado. Quando o casal, depois de um denso diálogo no bar, foi Blozine | Hiper-Link | 35
jogar fliperama, por debaixo do cobertor
três quartos (um álibi para a poligamia). Daí
passei a mão na perna dela, protegida pelo
seria muito bom se as duas engravidassem ao
jeans. Apertei (o máximo que poderia me
mesmo tempo… A vida a três seria perfeita,
acontecer era ela mandar tirar a mão dali,
elas são melhores amigas, e um homem ligado
ou afastar o corpo; calculei), mas com o pé,
a somente uma delas enfraqueceria esse elo.
roçou o meu e ficamos assim. Satisfeito de ter
Também no casamento, o difícil para o homem
apertado sua perda, fui subir para a barriga e
é ser ‘amiga’ da mulher e se portar, às vezes,
possivelmente descer por dentro da calça, mas
como tal. Enquanto eu assistiria futebol, ou faria
encontrei ai a mão da amiga, que apertou a
minhas pesquisas acadêmicas, elas brincariam,
minha e entrelaçamos os dedos. Ela já estava
daí eu chegaria e completaríamos a festa. O
de olhos fechados e um pouco ofegante. Desatei
principio moral de monogamia deve ter sido
meus dedos dos da amiga e procurei os pelos
advogados e implementado pelos fracos que
pubianos, mas o Monte de Vênus estava liso.
viam grupos de fêmeas defendidos por poucos
Beijei o ombro dela, depois o pescoço e elas já
machos destemidos.
estavam se beijando.
Matei o cigarro e estava duro novamente. Entrei
O que se passou depois, contarei sucintamente,
no quarto e fechei a porta da varanda, pois
pois foi apenas o xeque-mate. Como no jogo de
as meninas estavam descobertas. Ela dormia
xadrez, o final é o menos passível de explicações e táticas: um rei, uma
na minha cama e amiga num colchão no chão. Subi na cama a abri
dama e uma torre facilmente derrotam o rei oposto solitário (metaforicamente, o esse rei era o pudor
“Muito bom o desfecho, mas me desapaixonei. Você foi bem sutil ao descrever o momento a trois dos personagens. Agora, acho que ele não ia achar muito bom que as duas engravidassem ao mesmo tempo... rs. Seria como pedir para as duas terem tpm na mesma época. Ainda bem que é um conto! hehehehehe Bjo querido!”
ou algo que o valha). Restam, então, três peças. Agora, aqui na varanda fumando o cigarro da amiga penso única e exclusivamente em me casar com as duas. A casa teria de ter
*LIli*
as pernas dela, que dormia
de
barriga
para cima e apenas de camisa. Umedeci meus dedos de saliva e lubrifiquei o local
da invaginação, onde me introduzi. Olhava-a atentamente, não queria perder o momento exato de vê-la acordar. Seu despertar começou com tremulação das pálpebras e depois dos músculos da região ocular. Eu já fazia um leve Blozine | Hiper-Link | 36
movimento pendular com meu corpo. Logo ela
de uma expressão severa, e sorriso novamente.
suspirou e depois relaxou, um sorriso reluziu e o
Colocou a mão na cabeça de sua benfazeja
lábio inferior foi mordido. O abdômen contraído,
e massageou seus cabelos. Eu cumpria com os
o lençol apertado. Intensifiquei o movimento.
movimentos pendular.
Ainda de olhos fechados, sua mão procurou o meu rosto e beijei-lhe a palma; depois segurou
O dia começou como terminou.
o meu pescoço como se tivesse empunhando
Penso em me casar, ter filhos e um emprego.
uma espada e o polegar roçava o pomo-de-
Uma vida normal, enfim. Nessa vaga procura
adão. Abriu os olhos, sorriu e gemeu.
por quem seremos, defrontamos o espelho,
“E ela?” perguntou, sussurrando. “Está no colchão”. “Vamos acordá-la assim também…” De fato se amam, são eternamente responsáveis uma pela outra. Desmontamo-nos e fomos para o chão. Ela abriu as pernas na amiga e colocou a cabeça entre elas para despertá-la, se pondo de quatro. Lubrifiquei-a novamente e entrei. A amiga acendeu com um sorriso, que se seguiu
olhos nos olhos, e vemos quem está lá dentro e este também nos olha, desvendando, sempre, as faces ocultas pelas máscaras. O espelho mostra-nos quem de fato somos (um medo do futuro), quem não somos (este que veste ternos ou usa colares) e remete a quem gostaríamos de ser. Este é o monstro que libertei e que irá me devorar.
Blozine | Hiper-Link | 37
FOTOS: página1: capa http://www.deviantart.com/ página 4: poema http://www.deviantart.com/ página 10: dinâmica dos fluidos http://www.imageafter.com/index.php página 16: filmes http://www.imageafter.com/index.php página 18: crônica http://www.deviantart.com/ página 19: espelho http://www.imageafter.com/index.php página 15: bunners http://www.deviantart.com/
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