Gore Vidal

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  • Pages: 20
Uma história americana, do massacre de Waco à morte de McVeigh 'Estado' começa a publicar nesta edição o polêmico artigo do escritor Gore Vidal, que se correspondeu com Timothy McVeigh, autor confesso do atentado a um prédio do governo americano que matou 168 pessoas, em Oklahoma, em abril de 1995, e foi executado dia 11 de junho. O romancista relaciona as duas tragédias com a política de Washington e foi acusado de defender o autor do maior atentado cometido dentro dos EUA

GORE VIDAL Vanity Fair Quase no fim do século 19, Richard Wagner fez uma visita à cidade de Ravello, no sul da Itália, onde lhe mostraram os jardins da milenar Villa Rufolo. "Maestro", perguntou o jardineiro-chefe, "esses jardins fantásticos sob o céu azul lá longe que se fundem em perfeita harmonia com o mar azul lá longe não se parecem muito com os jardins de Klingsor, onde o senhor situou situou grande parte de sua recente ópera interminável, Parsifal? Não é esta visão de encantamento que lhe deu inspiração para Klingsor?" Wagner murmurou algo em alemão. "Ele diz", explicou um intérprete próximo, "que é que há?" De fato, que é que há, pensei ao me encaminhar para um canto daqueles fabulosos jardins, onde os realizadores dos programas Good Morning America, da TV ABC, e Early Show, da TV CBS, haviam montado suas câmeras para que eu pudesse aparecer "ao vivo" para espectadores no país de Deus. Foi em maio passado. Em uma semana, "o Detonador da Bomba em Oklahoma City", herói da Guerra do Golfo condecorado, um dos Hagle Scots da Nature, Timothy McVeigh, devia ser executado com injeção fatal em Terre Haute, Estado de Indiana, por ter sido, conforme ele próprio insistiu, o único fabricante e detonador de uma bomba que explodiu um prédio federal no qual morreram 168 homens, mulheres e crianças. Este foi o maior massacre de americanos praticado por um americano desde dois anos antes, quando o governo federal decidiu capturar o complexo de um culto adventista do sétimo dia perto de Waco, Texas. O Ramo Davidiano, conforme os membros do culto se chamavam, era um grupo pacífico de homens, mulheres e crianças que viviam e rezavam juntos prevendo o fim do mundo, o que para eles começou em 28 de fevereiro de 1993. O Birô Federal do Álcool, Tabaco e Armas de Fogo (ATF), cumprindo seu mandato para "controlar" armas de fogo, recusou todos os convites do líder do culto, David Koresh, para que inspecionasse suas armas de fogo licenciadas. Ao contrário, o ATF preferiu divertir-se. Mais de 100 agentes do ATF, sem os devidos mandados, atacaram o complexo da igreja enquanto, no alto, pelo menos um helicóptero do ATF disparava no teto do prédio principal. Seis membros do Ramo Davidiano foram mortos naquele dia. Quatro agentes do ATF foram mortos a bala, pelos próprios companheiros, conforme se acreditou. Veio um impasse. Seguiu-se o cerco de 51 dias, no qual música em alto volume foi tocada 24 horas por dia diante do complexo. Então a eletricidade foi desligada. Negaram comida às crianças. Enquanto isso, a Mídia era informada com regularidade sobre os males que David Koresh praticava. Ao que parece, ele estava fabricando e vendendo metanfetamina cristalizada; também - que mais nestes tempos doentios? - não era um Homem de Deus, mas um Pedófilo. A nova secretária de Justiça, Janet Reno, então endureceu. Em 19 de abril, ela mandou que o FBI terminasse o que o ATF começara. Em Desafio ao Posse Comitatus Act (um esteio de nossas frágeis liberdades que proíbe o emprego de militares contra civis), tanques da Guarda Nacional do Texas e a 6.a ForçaTarefa Conjunta atacaram o complexo com um gás mortífero para crianças e não muito saudável para adultos, enquanto abria brechas no prédio. Alguns davidianos escaparam. Outros foram baleados por franco-atiradores do FBI. Na investigação feita seis anos depois, o FBI negou que tivesse disparado algo mais que um tubo pirotécnico de gás lacrimogêneo. Finalmente, durante um

ataque de seis horas, o prédio foi incendiado e depois arrasado por veículos blindados Bradley. Deus sabe que nenhum homem do FBI foi ferido, ao passo que mais de 80 membros do culto foram mortos, 27 dos quais eram crianças. Foi uma grande vitória para Tio Sam, conforme pretendia o FBI, cujo codinome para o ataque era Show Time. Arrependimento - Só em 14 de maio de 1995 Janet Reno, no programa 60 Minutes, confessou-se arrependida. "Vi o que aconteceu e, sabendo o que aconteceu, eu não o faria de novo." Simplesmente, uma experiência edificante para a secretária de Justiça. O espetáculo de 19 de abril de 1993 em Waco foi o maior massacre de americanos por seu próprio governo desde 1890, quando muitos índios foram trucidados em Wounded Knee, Dakota do Sul. Assim a aposta continua aumentando. Embora McVeigh logo indicasse que agira em represália ao que havia acontecido em Waco (ele até havia escolhido o segundo aniversário do massacre, 19 de abril, para seu gesto de retaliação), a polícia secreta de nosso governo, junto com seus aliados na Mídia, pôs um pesado punho no prato da balança. Devia haver só uma versão: um homem de incrível madade inata que quis destruir vidas inocentes por nenhum outro motivo exceto o espantoso prazer de praticar o mal. Desde o início, decidiu-se que McVeigh não devia ter um motivo coerente para o que fizera, excedo a maldade shakespeariana sem motivo. Iago está de volta à cidade, com uma bomba, não um lenço. Ainda mais a propósito, ele e a promotoria concordaram que McVeigh não tivera cúmplices sérios. Sentei-me numa cadeira desconfortável, encarando a câmera. Geradores zumbiam em meio às esporas dos jardins (uma espécie de planta). Good Morning America foi o primeiro programa. Haviam-me informado que Diane Sawyer ia me interrogar falando de Nova York, mas a ABC tem um "especialista" em McVeigh, um tal de Charles Gibson, e ele faria as honras da casa. Nossa entrevista teria algo em torno de quatro minutos. Eu ia ser entrevistado Em Profundidade. Quer dizer que toda pergunta começaria com "Agora conte-nos em poucas palavras..." Respeitosamente eu contei em poucas palavras como McVeigh, com o qual eu nunca encontrara, me havia convidado para ser uma das cinco testemunhas escolhidas para sua execução. Em resumo, tudo começou na edição de novembro de 1998 de Vanity Fair. Eu havia escrito um artigo sobre "o esfrangalhamento de nossa Carta de Direitos". Citara exemplos de confisco de bens feito pelo IRS (Serviço de Rendas Internas) sem os devidos trâmites legais, batidas sem mandados e homicídios praticados contra pessoas inocentes por vários grupos de combate a drogas, o conluio do governo com as bem-sucedidas tentativas da agroindústria de alijar do ramo pequenos agricultores, e assim por diante. (Para os que quiserem ter mais provas sobre um governo em desvario, peço que vão à página 392 de meu Império. Depois, como um fecho, discuti os homicídios ilegais e impunes em Ruby Ridge, Estado de Idaho (uma mãe, filho e cão haviam sido mortos a sangue-frio pelo FBI); no ano seguinte, Waco. A Mídia demonstrou pouca revolta num caso e noutro. Ao que parece, as palavras deflagradoras não haviam sido ditas. Palavras deflagradoras? Lembram-se de Sob o Domínio do Mal? O esplêndido filme de George Axelrod, de 1962, em que o protagonista submetido a lavagem cerebral (por norte-coreanos) só pode ser posto em movimento homicida quando a graciosa dama interpretada por Angela Lansbury diz: "Por que você não mata o tempo jogando um pouco de paciência?" Perversão - Já que nos haviam dito durante semanas que o líder do Ramo Davidiano, David Koresh, não era só um negociante de drogas mas também um agressor sexual das 27 crianças que havia em seu complexo, a maternal secretária Reno decidiu, em essência: melhor que todas elas sejam mortas a serem corrompidas. Daí, o ataque. Depois, 11 membros da Igreja Ramo Davidiano foram levados a julgamento por "conspiração para praticar assassinato" dos agentes federais que os haviam atacado. O júri pronunciou-se pela inocência de todos os 11 nesse quesito. Mas, depois de declarar que os réus eram culpados da tentativa de homicídio - a própria acusação da qual acabavam de ser inocentados -, o juiz sentenciou oito membros inocentes da igreja a até 40 anos

com base em acusações menos pesadas. Um jurado desgostoso comentou: "As pessoas erradas foram a julgamento." Show Time! Pessoalmente, eu estava chocado o bastante para descrever em detalhes o que havia de fato acontecido. Enquanto isso, os jogadores de cartas de 1998 estavam embaralhando-as e distribuindoas. Desde que McVeigh se revelara um mal por si só, ninguém se interessava em saber por que ele fizera o que havia feito. Acontece que "por que" é uma pergunta para cuja omissão a Mídia é preparada. Pode-se ficar sabendo por que algo aconteceu e então pôr-se a pensar. Escrevi nestas páginas: "Para Timothy McVeigh (Waco e Ruby Ridge) tornaram-se o símbolo do oportunismo e homicídio (federais). Uma vez que ele sofria as conseqüências de um exagerado senso de justiça, não de um traço americano comum, foi à guerra por conta própria e acabou massacrando em maior número do que os mortos pelos Federais em Waco. Ele sabia o que estava fazendo quando explodiu o Prédio Federal Alfred P. Murrah em Oklahoma City porque este continha os odiados (Federais)? McVeigh permaneceu em silêncio durante seu julgamento. Afinal, quando ele estava na iminência de ser sentenciado, o tribunal perguntou-lhe se gostaria de falar. Ele o fez. Ergueu-se e disse: 'Eu gostaria de empregar as palavras que o juiz Brandeis, discordando em Olmsted, para que elas falassem por mim. Ele escreveu: "Nosso governo é o professor poderoso, onipresente. Para o bem ou para o mal, ele ensina todo o povo com seu exemplo.' Então McVeigh foi condenado à morte pelo governo. As pessoas presentes ficaram profundamente confusas diante da citação de McVeigh. Como podia o demônio citar um juiz tão impecável? Suspeito que ele o fez de acordo com o mesmo espírito com que Iago respondeu a Otelo quando indagado por que havia feito o que fizera: 'Não me exija nada, o que você sabe você sabe, daqui por diante nunca mais vou proferir uma palavra.' Agora também sabemos; ou, conforme meu avô costumava dizer lá em Oklahoma: 'Toda panqueca tem dois lados." Quando McVeigh, em fase de recurso numa prisão do Colorado, leu o que eu havia escrito, escreveu uma carta e... Mas eu os deixei lá atrás no Jardim Ravello de Klingsor onde, pela televisão ao vivo, pronunciei a expressão impronunciável, "por quê', seguida pelo detonador atômico, "Waco". Charles Gibson, a 5.600 quilômetros de distância, começou a hiperventilar. "Agora, espere um minuto...", ele interrompeu. Mas continuei falando apesar dele. De repente ouvi-o dizer: "Estamos tendo problemas com o áudio." Então ele puxou o plugue que ligava a ABC a mim. O técnico de som a meu lado meneou a cabeça. "O áudio estava funcionando com perfeição. Ele simplesmente o tirou do ar." Portanto, além de o governo esfrangalhar as Emendas 4, 5, 6, 8 e 14, Gibson suprimiu a Primeira emenda, sagrada para jornalistas. Por quê? A exemplo de tantos de seus colegas de TV intercambiáveis, ele está no lugar certo para contar aos telespectadores que o ex-senador John Danforth havia acabado de concluir uma investigação de 14 meses sobre o FBI, que isentava o birô de qualquer desmando em Waco. Danforth admitiu que "foi como arrancar dentes conseguir todos esses papéis do FBI". Em março de 1993, McVeigh foi de carro do Arizona para Waco, no Texas, a fim de observar o cerco federal em primeira mão. Junto com outros contestadores, ele foi devidamente fotografado pelo FBI. Durante o cerco, os membros do culto foram brindados com fitas musicais de estourar os tímpanos, 24 horas por dia (Nancy Sinatra: "Estas botas foram feitas para caminhar / E é o que elas farão / Qualquer dia estas botas vão passar por cima de você"), e também com os guinchos gravados de coelhos agonizantes, que faziam lembrar a guerra não declarada do primeiro George Bush ao Panamá, que, após vários concertos semelhantes diante da embaixada do Vaticano, proporcionou a entrega do supercriminoso das drogas (e ex-agente da CIA), Manuel Noriega, que se havia refugiado ali. A exemplo das redes de TV, quando nosso governo marca um tento este é repetido indefinidamente. Oswald? Conspiração? Risos no estúdio.

Manipulação - Telespectadores notam sem dúvida com que freqüência eles já não conseguem perceber o número de vezes que entrevistadores intercambiáveis na TV manipulam qualquer um que tente explicar por que algo aconteceu. "O senhor está sugerindo que houve conspiração?" Começa uma cintilação no par de lentes de contato claras. Seja qual for a resposta, há um coleio do corpo, seguido por um minúsculo resfolegar e um olhar significativo para a câmera para mostrar que o entrevistado foi levado ao estúdio por um disco voador. Este é um meio usado para que o público nunca entenda o que os conspiradores reais - seja no FBI, no Supremo Tribunal ou na Grande Indústria do Fumo - pretendem. É também um meio seguro de escamotear informação do público. A função, valha-nos Deus, da Mídia Empresarial. Na verdade, a certa altura o ex-senador Danfort ameaçou o recalcitrante diretor do FBI, Louis Freeh, com um mandado de buscas. Pena que não o tivesse conseguido. Ele poderia, nesse processo, ter descoberto um pouco mais sobre a filiação de Freeh à Opus Dei (Obra de Deus), uma ordem internacional católica romana fechada que procura colocar seus membros em altos cargos políticos, empresariais e religiosos (e talvez até no Céu), em vários países para vários fins. Mais recentemente, a Medialight foi incluída na ordem com relutância quando se descobriu que Robert Hanssen, agente do FBI, fora espião da Rússia durante 22 anos, mas também que ele e seu diretor, Louis Freeh, no dizer de seu simpatizante William Rusher (The Washington Times, 15 de março de 2001), "não só (eram) membros da mesma Igreja Católica Romana no subúrbio de Virgínia, como ... também pertenciam à seção local da Opus Dei". Rusher, que pertencera à National Review, publicação que mandava tudo para o diabo, achou isto "picante". A Opus Dei foi fundada em 1928 por Jose-Maria Escrivá. Seu padrinho leigo nos tempos iniciais foi o ditador espanhol Francisco Franco. Um de seus mais recentes paladinos foi o ditador peruano corrupto Alberto Fujimori, ainda in absentia. Embora a Opus Dei se incline para o fascismo, o papa atual beatificou Escrivá, ignorando a advertência do teólogo espanhol Juan Martin Velasco: "Não podemos descrever como modelo de vida cristã alguém que serviu ao poder do Estado (o Franco fascista) e usou esse poder para lançar sua Opus, que ele dirigiu com critérios obscuros - como uma máfia vestida de branco -, não aceitando a autoridade papal quando esta deixava de coincidir com o modo de pensar dele." Certa vez, quando perguntaram ao misterioso Freeh se era ou não membro da Opus Dei, ele se negou a responder, encarregando um agente especial do FBI de dar a resposta em seu lugar. O agente especial John E. Collingwood disse: "Embora eu não possa responder às suas perguntas específicas, percebo que você foi informado incorretamente." É por demais perturbador o fato de que, nos Estados Unidos seculares, país cuja Constituição se baseia na eterna separação entre Igreja e Estado, uma ordem religiosa absolutista colocasse um de seus membros na chefia de nossa polícia secreta (que em grande parte não precisa prestar contas), como também precisamos depender dos bons ofícios de pelo menos dois membros do Supremo Tribunal. Excerto da Newsweek, 9 de março de 2001: "(O juiz Antonin) Scalia é considerado a encarnação dos conservadores católicos. ... Embora ele não seja membro da Opus Dei, sua mulher Maureen freqüenta sessões espirituais da Opus Dei ... (ao passo que seu filho), padre Paul Scalia, ajudou a converter Clarence Thomas ao catolicismo quatro anos atrás. No mês passado, Thomas fez um inflamado discurso no American Enterprise Institute, uma entidade conservadora de pesquisas, para um público repleto de funcionários do governo George W. Bush. No discurso, Thomas elogiou o papa João Paulo II por adotar posições impopulares." E pensar que Thomas Jefferson e John Adams se opuseram à presença da ordem jesuíta, relativamente benigna, no campo de nossas leis, se não no de Deus. O presidente Bush disse que Scalia e Thomas são os modelos para o tipo de juízes que ele gostaria de nomear durante seu mandato. Recentemente, em retribuição à corte que lhe fizeram durante a

eleição dos protestantes fundamentalistas na Universidade Bob Jones, Bush está "estendendo a mão" à extrema direita católica romana. Ele já tem relações firmes com protestantes fundamentalistas. Com efeito, seu secretário de Justiça, J. D. Ashcroft, é cristão pentecostal que começa cada dia às oito horas com uma reunião de orações freqüentada por funcionários do Departamento de Justiça ansiosos por serem banhados pelo sangue do cordeiro. Em 1999, Ashcroft declarou a diplomados pela Universidade Bob Jones que os EUA foram fundados com base em princípios religiosos (novidade para Jefferson e outros) e "não temos outro rei exceto Jesus". Já tenho apontado muitas conspirações que começam a registrar-se enquanto a história de McVeigh, enormemente manipulada, avança rumo àquela palavra repelente, "encerramento", que neste caso vai simplesmente assinalar um novo começo. A conspiração da Opus Dei é - foi? fundamental para o Departamento de Justiça. Depois o FBI conspirou para reter documentos da defesa de McVeigh e do alegado mestre do departamento: nós, o Povo no Congresso, Reunidos como que encarnados no senador Danforth. Finalmente, a conspiração da Mídia, espontânea e em andamento, para pintar McVeigh com as cores do demônio, informando que ele agiu sozinho apesar das provas em contrário". Tramas - Voltemos à conspiração do FBI para encobrir seus crimes em Waco. O senador Danforth é um homem honrado, mas o presidente do Supremo Tribunal Federal, Earl Warren, também era, e as descobertas de sua comissão homônima sobre os acontecimentos em Dallas (assassinato de John F. Kennedy) não conseguiram convencer totalmente nem a ele, conforme se diz. Em 1.º de junho, Danforth declarou a The Washington Post: "Aposto que Timothy McVeigh, em determinado momento, não sei quando, será executado, e depois da execução se encontrará alguma caisa, em algum lugar." O senhor não falou em vão, senador. Também em 1.º de junho, The New York Times publicou matéria na qual advogados do Ramo Davidiano afirmavam que, quando agentes do FBI dispararam em membros do culto, empregaram um ripo de fuzil de assalto curto que depois não foi submetido a exame. Nosso amigo porta-voz do FBI, John Collingwood, disse que uma conferência dos registros do birô mostrou que "o fuzil de cano mais curto estava entre as armas examinadas". A resposta de Danforth foi do tipo: Bem, já que vocês é que dizem... Ele destacou de novo que havia conseguido "algo menos que cooperação total" do FBI. Conforme H. L. Mencken comentou, "o Departamento de Justiça dedica-se a práticas inescrupulosas desde os primeiros tempos e continua sendo hoje fonte fecunda de opressão e corrupção. É difícil lembrar um governo em que ele (o departamento) não esteve no centro de um escândalo grave". O próprio Freeh parece viciado em práticas inescrupulosas. Em 1996, ele foi o implacável Javert que caiu duramente em cima de um guarda de segurança de Atlanta, Richard Jewell, por causa da explosão de bomba durante os Jogos Olímpicos. Jewell estava inocente. Enquanto ele encomendava uma nova camisa de cilício (membros da Opus Dei gostam de mortificar a carne) e dava a ordem para que se fabricasse uma nova guilhotina, constatou-se que o laboratório do FBI aprontava trapalhadas freqüentes nas investigações (leiam Tainting Evidence, de J. F. Kelly e P. K. Wearne). Depois Freeh encabeçou a luta para provar que Wen Ho Lee era espião comunista. As acusações desequilibradas de Freeh contra o inocente cientista de Los Alamos foram repelidas por um enfurecido juiz federal em cujo entender o FBI havia "embaraçado a nação inteira". Bem, a obra de Deus é sempre arriscada. Quanto mais se fica conhecendo o FBI, mais se constata que ele é de fato muito perigoso. Kelly e Warne, ao investigarem o trabalho de laboratório do birô - literalmente uma questão de vida e morte para os que estão sob investigação -, citou dois ingleses especialistas em criminalística que se pronunciaram sobre a explosão em Oklahoma City. O professor Brian Caddy, depois de estudar as descobertas do laboratório: "Se estes relatórios são os que vão ser apresentados aos tribunais como prova, estou assustado com sua estrutura e conteúdo de informações. A estrutura dos relatórios parece destinada a confundir o leitor em vez de ajudá-lo." O doutor John Lloyd comentou: "Os relatórios são por natureza puramente conflusivos. É impossível deduzir a partir deles o encadeamento de atos, ou exatamente qual trabalho foi feito em cada item." Dizendo-o claramente, chegou a hora de substituir essa enorme polícia secreta, inepta e que em grande parte não precisa

prestar contas de seus atos, por um birô mais modesto e mais eficiente, a ser chamado de "Birô de Investigação dos Estados Unidos". Agora é 11 de junho, uma manhã morna e enevoada em Ravello. Acabamos de assistir a Filho do Show Time em Terre Haute, Indiana. A CNN noticiou devidamente que eu não tinha conseguido ser testemunha, conforme McVeigh havia pedido: o secretário de Justiça dera-me um prazo muito curto para ir daqui até lá. Senti-me melhor quando me informaram que, estendido na maca na câmara de execução, McVeigh não conseguiria ver nenhum de nós através das janelas de vidro tingido que o cercavam. Mas então membros da imprensa que estavam presentes disseram que ele havia deliberadamente encarado suas testemunhas e eles. McVeigh não viu suas testemunhas, segundo Cate McCauley, que foi uma delas. "Foi impossível saber se ele morreu depois da primeira injeção", disse ela. Cate havia trabalhado no caso jurídico de McVeigh durante um ano, como um dos que investigavam para a defesa dele. Últimas horas - Perguntei sobre as últimas horas de McVeigh. Ele estivera procurando um filme na televisão e tudo o que encontrara foi Fargo, para o qual não estava predisposto. Certamente ele morreu a caráter; quer dizer, controlando-se. A primeira injeção, de pentotal de sódio, derruba o sujeito. Mas McVeigh manteve os olhos abertos. Mas a segunda injeção, de brometo de pancurônio, fez seus pulmões entrarem em colapso. Sempre sobrevivente, ele pareceu racionar seu fôlego. Quando, após quatro minutos, ele estava oficialmente morto, seus olhos ainda estavam abertos, encarando a câmera do teto que o filmava "ao vivo" para seu público em Oklahoma. McVeigh não fez declaração final, mas havia redigido, ao que parece de memória, Invictus, poema de W. E. Henley (1849-1903). Entre os inúmeros textos de Henley existiu uma antologia popular chamada Lyra Heroica (1892), sobre os que haviam praticado atos heróicos e abnegados. Duvido que McVeigh o tenha encontrado, mas, se tivesse, ia sem dúvida identificar-se com um grupo de jovens escritores, entre eles Rudyard Kipling, conhecidos como "jovens de Henley", sempre de pé em tombadilhos em chamas, cada qual senhor de sua vida, capitão de sua alma. Curioso notar que nenhum apresentador de TV mencionou o nome de Henley, porque nenhum sabia quem ele era. Muitos pensaram que aquele famoso poema fosse obra de McVeigh. Uma mulher irritadiça descreveu Henley como "aleijado do século 19". A serenidade estóica dos últimos dias de McVeigh certamente o habilitou a ser um herói à moda de Henley. Ele não se queixou de seu destino; assumiu responsabilidade pelo que julgaram que ele havia feito; não implorou misericórdia conforme nossa Mídia sempre sádica quer. Enquanto isso, detalhes conflitantes sobre ele se acumulam - um mosaico desconcertante, de fato - e ele parece mais e mais ter topado com a época americana errada. Simplesmente, McVeigh precisava de uma causa absorvente para defini-lo. A abolição da escravidão ou a preservação da União teria sido mais merecedora de sua vida do que a raiva dos excessos de nossa polícia secreta corrupta. Mas ele estava entalado onde se achava e portanto declarou guerra a um governo que ele julgava ter declarado guerra ao seu próprio povo. Um momento poético no que foi em grande parte um hino de ódio orquestrado. Diante do presídio, um grupo de pessoas contrárias à pena de morte rezava à luz da aurora. De repente, um pássaro apareceu e pousou no antebraço esquerdo de uma mulher, que continuou rezando. Quando finalmente ela se ergueu, o pássaro continuou no braço - consolo? Ora pro nobis. A CNN forneceu-nos trechos da última manhã de McVeigh. Indagado por que não dissera ao menos que lamentava o assassinato de inocentes, ele respondeu que poderia dizê-lo, mas sem acreditar no que falava. McVeigh era um soldado numa guerra que ele não fizera. Isto foi digno de Henley. Um

biógrafo descreveu McVeigh como honesto ao extremo. Ele também havia destacado que Harry Truman nunca dissera lamentar o lançamento de duas bombas atômicas num Japão já derrotado, matando cerca de 200 mil pessoas, em sua maioria mulheres e crianças. A Mídia berrou dizendo que aquele era tempo de guerra. Mas McVeigh considerava-se, com razão ou não, também em guerra. A propósito, a inexorável beatificação de Truman é agora um aspecto importante de nosso sistema imperial em evolução. Acredita-se geralmente que as bombas foram lançadas para salvar vidas de americanos. Isto não é verdade. As bombas foram lançadas para amedrontar nosso novo inimigo, Josef Stalin. Sem excessão, nossos principais comandantes na 2.ª Guerra Mundial, incluindo Eisenhower, C. W. Nimitz, e até Curtis LeMay (interpretado tão bem por George C. Scott em Doutor Fantástico), se opunham ao emprego das bombas de Truman contra um inimigo derrotado que procurava render-se. Um amigo meu, da televisão ao vivo, o falecido Robert Alan Arthur, fez um documentário sobre Truman. Perguntei-lhe o que achava do homem. "Ele simplesmente dava respostas enlatadas. A única vez que consegui uma idéia própria dele foi quando sugeri que nos falasse sobre sua decisão de lançar as bombas atônicas em Hiroshima, já em ruínas. Truman encarou-me pela primeira vez. 'Bem', disse, 'eu não queria beijar seus traseiros.'" Simplesmente outro herói de Henley, tendo como crédito um número muito maior de vítimas colaterais do que McVeigh. Foi M. Verdoux, de Charles Chaplin, quem disse que quando se trata de avaliar culpa por homicídio, tudo é afinal uma questão de escala. Depois de minhas aventuras nos Jardins Ravello (Bryant Gumbell, da CBS, esteve como sempre discreto e cortês), parti para Terre Haute via Manhattan. Compareci a vários programas em que cassavam minha fala quando a palavra "Waco" era pronunciada. Só Greta Van Susteren, da CNN, enfrentou a questão. "Dois erros", disse simplesmente, "não fazem um acerto". Concordei plenamente com ela. Mas, como sou contra a pena de morte, comentei que três erros não são propriamente uma melhoria. Mídia - Depois veio a suspensão da execução. Voltei a Ravello. A Mídia estava de olho em mim. Volta e meia, eu ouvia dizer ou lia que eu fora o primeiro a escrever-lhe, felicitando-o, possivelmente pelas mortes que ele causara. Continuei explicando pacientemente como, depois que ele leu meu artigo em Vanity Fair,foi ele quem me escreveu, começando uma correspondência descontínua de três anos. Aconteceu de eu não poder ir e assim não vi com meus próprios olhos o pássaro da madrugada pousando no braço da mulher. Na primeira carta a mim dirigida apreciou o que eu havia escrito. Respondi-lhe. Para mostrar como sou um um ávido mercantilista - não propriamente da escola de Truman Capote -, não conservei cópias de minhas cartas a ele até a última, em maio. A segunda carta, que ele escreveu de sua prisão no Colorado, tem a data de "28 fevereiro 99". "Sr. Vidal, grato por sua carta. Recebi seu livro EUA na semana passada e já terminei a maioria da Parte 2 - suas confabulações políticas." Devo dizer que a ortografia e a gramática são perfeitas de ponta a ponta, ao passo que a caligrafia é estranhamente uniforme e inclinada para a esquerda, como se a gente a estivesse olhando num espelho. "Penso que você ficaria surpreso ao saber com quanto daquele material concordo..." "Quanto à sua carta, reconheço plenamente que 'a rebelião geral contra aquilo em que nosso governo se tornou é a mais interessante (e, no meu entender, importante) história em nossa história neste século'. Eis por que fiquei com histórias anteriores que atribuíram a explosão no OKC (o edifício federal em Oklahoma City) a um simples ato de 'vingança' por causa de Waco - e por que fiquei tão satisfeito ao ler seu artigo de novembro em Vanity Fair. Nos quatro anos que se passaram

desde a explosão, seu trabalho é o primeiro a explorar realmente as motivações básicas de um ataque do gênero contra o governo dos EUA - e lhe agradeço por isto. Creio que tais reflexões em profundidade são fundamentais caso se queira realmente entender os acontecimentos de abril de 1995. Embora eu tenha muitas observações que gostaria de fazer-lhe, preciso manter esta carta dentro de uma extensão prática - portanto só mencionarei uma: se agentes federais são como 'tantos jacobinos em guerra' aos cidadãos deste país, e se agências federais 'travam guerra diária' a esses cidadãos, então a explosão no OKC não devia ser considerada um 'contra-ataque' em vez de uma guerra autodeclarada? Não se pareceria mais com Hiroshima do que com Pearl Harbor? (Estou certo de que os japoneses ficaram igualmente chocados e surpresos com Hiroshima - na verdade, aquele efeito previsto não fazia parte da estratégia global daquele bombardeio?) De volta à sua carta, sabe que eu nunca havia considerado sua idade um obstáculo (aqui ele exagera no tato!) até receber aquela carta - e notar que ela fora datilografada numa máquina manual? Nada de preocupação, recentes estudos médicos falam-nos que a predileção da Itália pelo óleo de canola, azeite de oliva e vinho ajuda a prolongar a vida média e ajuda a prevenir doença cardíaca nos italianos - portanto o senhor escolheu o lugar certo onde ficar retirado. Mais uma vez, obrigado por me mandar umas linhas - e, quanto a qualquer receio do que e de como escrever a alguém 'na minha situação', penso que o senhor descobrirá que muitos entre nós ainda são apenas 'Joes corriqueiros' - apesar da opinião pública -, motivo pelo qual não é preciso fazer cionsiderações especiais sobre o que seja que o senhor quiser escrever. Até a próxima vez então..." Sob essa sentença ele pôs entre aspas: "Todo homem normal precisa ser tentado às vezes a cuspir em suas mãos, erguer a bandeira negra, começar a cortar gargantas." - H. L. Mencken. "Tome muito cuidado." Ele assinou com iniciais garatujadas. Desnecessário dizer que essa carta não se ajustava a qualquer noção que eu tivera dele lendo a fanática imprensa americana encabeçada, como sempre, por The New York Times, cujas canhestras tentativas de fazer análise freudiana (por exemplo, ele era um rebento partido porque sua mãe abandonou seu pai quando ele tinha 16 anos - na verdade, ele pareceu aliviado). Depois, passou-se um ano mais ou menos em que não recebi notícias dele. Dois repórteres de um jornal de Buffalo (McVeigh nasceu e foi criado perto de Buffalo) trabalhavam entrevistando-o para o livro deles, American Terrorist. Penso ter-lhe escrito que Mencken recorria com freqüência a hipérboles swiftianas e não devia ser tomado muito ao pé da letra. Poder-se-ia dizer o mesmo de McVeigh? Sempre existe a interessante possibilidade - preparem-se para a mais grandiosa de todas as conspirações - de que ele não fabricou nem detonou a bomba diante do edifício Murrah: só depois, quando estava diante da pena de morte ou da prisão perpétua, que ele percebeu que poderiam atribuir-lhe todo o mérito de hastear a bandeira negra e cortar gargantas, para fúria crescente das várias "milícias" em todo o país que estão agora revoltadas por ele ficar com todo o mérito de um ato revolucionário organizado - dizem alguns - por muitas outras pessoas. No fim, se este roteiro estiver correto, ele e os detestados Federais têm uma mentalidade idêntica.

MCVEIGH CONTINUA UMA INTERROGAÇÃO Nesta segunda parte de seu artigo, o escritor Gore Vidal analisa a confissão do acusado, a presença de milícias em território americano, a lei antiterrorismo e a falta de informação no país

GORE VIDAL

Vanity Fair Conforme o senador John Danforth previu, o governo queria executar Timothy McVeigh o mais breve possível (dez dias depois da declaração de Danforth a The Washington Post), para não precisar apresentar tão depressa aquela caixa extraviada de documentos que poderia sugerir que outras pessoas estiveram envolvidas na explosão. O fato de o próprio McVeigh ansiar por cometer o que chamava de "suicídio com assistência federal" parecia simplesmente uma reviravolta bizarra numa história que, por mais que se tente endireitar, nunca se encaixa no enredo do matador solitário enlouquecido (Lee Harvey Osvald) morto por um segundo matador enlouquecido (Jack Ruby), que ia morrer, segundo afirmava, com uma história para contar. Ao contrário de Oswald ("Eu sou o pato"), nosso herói à Henley achou irresistível o papel de combatente solitário contra um Estado ruim. Se, na primeira correspondência comigo, ele não admite nada, pelo óbvio motivo de que seus advogados o fizeram recorrer, em sua última carta a mim dirigida, em 20 de abril de 2001 - "T. McVeigh 12076-064 POB 33 Terre Haute, In. 47808 (USA)" -, ele escreve: "Sr. Vidal, se o senhor leu o recém-publicado American Terrorist, provavelmente percebeu que acertou na mosca com seu artigo A Guerra Interna. Junto a esta há material suplementar para reforçar aquela opinião." Entre os documentos que ele enviou estava a transcrição de um bate-papo na ABCNews.com de uma conversa com o psiquiatra de Timothy McVeigh. A entrevista com o dr. John Smith foi feita por um mediador, em 29 de março deste ano. O dr. Smith tivera só uma sessão com McVeigh, seis anos antes. Ao que parece, McVeigh o havia dispensado de seu juramento médico de manter o assunto confidencial, para que ele pudesse falar a Lou Michel e Dan Herbeck, autores de American Terrorist. Mediador - O sr. diz que Timothy McVeigh "não estava desequilibrado" e não tem "nenhuma doença mental grave". Então, por que, na sua opinião, ele cometeu um crime tão terrível? Dr. John Smith - Bem, não acho que ele o cometeu por estar desequilibrado ou interpretando mal a realidade. Ele era supersensível, a ponto de ser um pouco paranóico, às ações do governo. Mas ele cometeu o ato principalmente por vingança, por causa do ataque em Waco, mas também queria fazer um pronunciamento político sobre o papel do governo federal e protestar contra o emprego da força contra os cidadãos. Portanto, a resposta à sua pergunta inicial: foi uma escolha consciente da parte dele, não porque estivesse desequilibrado, mas porque era sério. O dr. Smith, então, comenta a decepção de McVeigh pelo fato de que a mídia se esquivara a qualquer diálogo "sobre o abuso da força pelo governo federal". E ainda: "Houve sua declaração a mim, 'Eu não espero uma revolução'. Embora ele prosseguisse dizendo-me que mantivera discussões com algumas das milícias que viviam nas colinas à volta de Kingman, Arizona, sobre como seria fácil, com certas armas nas colinas dali, cortar em duas a rodovia interestadual 40 e assim interferir no transporte entre o leste e o oeste dos Estados Unidos - uma discussão bem grandiosa." Grandiosa, penso eu, mas de acordo com o caráter daqueles rebeldes que gostam de se chamar patriotas e se consideram iguais aos colonizadores americanos que se separaram da Inglaterra. Conta-se que seu número varia entre 2 milhões e 4 milhões, dos quais 400 mil são ativistas nas milícias. Embora McVeigh nunca aderisse formalmente a qualquer grupo, durante três anos ele percorreu o país, mantendo ligações com amantes de armas e pessoas que odiavam o governo, como ele; também ficou sabendo, segundo o American Terrorist, "que o governo planejava uma ofensiva em massa contra proprietários de armas e membros da comunidade de patriotas na primavera de 1995". Esse era o detonador de que McVeigh precisava para o que viria a fazer - embaralhar o pacote de cartas, por assim dizer. The Turner Diaries é um devaneio racista escrito por um ex-professor de Física sob o pseudônimo de Andrew Macdonald. Embora McVeigh não tenha prevenção contra negros, judeus e todos os

outros inimigos das várias nações brancas "arianas" encontradas nas fileiras dos patriotas, tem a mesma obsessão dos Diaries com armas de fogo e explosivos e uma guerra total e decisiva contra o "sistema". Muito já se falou, em com razão, de uma descrição no livro sobre como fabricar uma bomba como a que ele usou em Oklahoma City. Indagado se McVeigh copiara esse trecho do romance, o dr. Smith disse: "Bem, de certa forma. Tim queria deixar claro que, ao contrário de The Turner Diaries, ele não era racista. Ele deixou isso bem claro. Não odiava homossexuais. Deixou isso bem claro." Quanto à influência exercida pelo livro, "ele (McVeigh) não vai dividir o mérito com ninguém". Solicitado a fazer um resumo, o bom médico declarou simplesmente: "Sempre digo a mim mesmo que, se não tivesse havido uma Waco, não teria havido uma Oklahoma City." McVeigh também me enviou um trabalho por ele escrito em 1998 para Media Bypass. Ele o chama de Ensaio sobre a Hipocrisia. Iraque - O governo informa que o Iraque não tem o direito de armazenar armas químicas porque eles (o governo iraquiano) as empregaram no passado. Bem, se este é o critério com o qual tais assuntos são decididos, os EUA são o país que estabeleceu o precedente. Os EUA armazenam essas mesmas armas (e mais) há mais de 40 anos. Os EUA afirmam que isto foi feito com fins de dissuasão durante sua "Guerra Fria" com a União Soviética. Por que, então, o Iraque não pode alegar o mesmo motivo (dissuasão) - a respeito da guerra (real) do Iraque com, e da ameaça constante de, seu vizinho, o Irã?... Mas, quando a discussão se desloca para o Iraque, qualquer creche num prédio governamental se transforma imediatamente "num escudo". Pense nisso. (Na verdade, há uma diferença aqui. O governo americano admitiu saber da presença de crianças em ou perto de prédios governamentais iraquianos, mas continua com seus planos de bombardeio - dizendo que não pode ser responsabilizado se crianças morrerem. Mas não existe prova do conhecimento da existência de crianças em relação à explosão em Oklahoma City). Portanto, ele nega o conhecimento prévio da presença de crianças no edifício Murrah, ao contrário do FBI, que sabia da existência de crianças no complexo davidiano, e conseguiu matar 27 delas. McVeigh cita de novo o juiz Brandeis: "Nosso governo é o professor poderoso, onipresente. Para o bem ou para o mal, ensina o povo inteiro com seu exemplo." Ele pára aqui. Mas Brandeis prossegue, ao escrever em seu parecer discordante: "O crime é contagioso. Se o governo se torna um infrator da lei, fomenta desprezo pelas leis; incentiva cada homem a se tornar uma lei por si mesmo." Portanto, o soldado-modelo moralmente correto disparou sua arma terrível e rápida e os inocentes morreram. Mas um governo sem lei, escreve Brandeis, "incentiva a anarquia. Declarar que na administração do direito penal o fim justifica os meios - declarar que o governo pode cometer crimes para conseguir a condenação de um criminoso particular - traria terrível represália." Fica-se pensando se a grande presença da Opus Dei na maioria de quatro para cinco juízes no Supremo Tribunal avaliou essas palavras tão diferentes, digamos, de um de seus pensadores essenciais, Maquiavel, que insistia que acima de tudo o Príncipe precisava ser temido. Explicações - Finalmente, McVeigh enviou-me três páginas de notas manuscritas com data de 4 de abril de 2001, poucas semanas antes do dia para o qual marcariam pela primeira vez sua morte. Estão endereçadas a "C. J." (?) e ele riscou as iniciais: "Explico aqui por que explodi o Edifício Federal Murrah em Oklahoma City. Explico-o, não com fins publicitários, não tentando ganhar uma discussão sobre o certo ou o errado. Explico-o para tudo ficar claro quanto ao meu raciocínio e motivações para explodir uma instalação do governo.

Decidi explodir o Edifício Federal porque tal ação atendia a mais propósitos do que outras opções. Acima de tudo, a explosão foi um ataque de represália: um contra-ataque, pelas incursões cumulativas (e posterior violência e danos) de que agentes federais haviam praticado nos anos anteriores (incluindo, mas não se limitando, a Waco). Desde a formação de unidades como a de "Resgate de Reféns" do FBI e outras equipes de assalto nas agências federais durante os anos 80, culminando com o episódio em Waco, as ações do governo federal ficaram cada vez mais militaristas e violentas, a ponto de, em Waco, nosso governo - como o chinês - estar posicionando tanques contra seus próprios cidadãos. Para todos os efeitos, agentes federais haviam-se tornado "soldados" (usando treinamento, táticas, técnicas, equipamento, linguagem, traje, organização e mentalidade militares) e escalavam sua conduta. Portanto, essa explosão também pretendeu ser um ataque preventivo (ou pró-ativo) contra essas forças e seus centros de comando e controle dentro do edifício federal. Quando uma força agressora lança continuamente ataques de uma base de operações específica, é estratégia militar correta levar a luta até o inimigo. Além do mais, aproveitando uma lição da política exterior americana, decidi enviar uma mensagem a um governo que se tornava cada vez mais hostil, explodindo um prédio e os funcionários dentro desse prédio que representavam esse governo. Explodir o Edifício Federal Murrah equivaleu, moral e estrategicamente, ao que os EUA fizeram atacando um prédio governamental na Sérvia, no Iraque ou outras nações. Baseado na observação das políticas de meu governo, considerei esta ação uma opção aceitável. Sob esta perspectiva, o que ocorreu em Oklahoma City não foi diferente do que os americanos despejam nas cabeças de outros o tempo todo e, posteriormente, minha atitude mental foi e é a de desprendimento clínico. (A explosão no Edifício Murrah não foi pessoal nem mais do que acontece quando homens da Força Aérea, do Exército, da Marinha ou dos fuzileiros navais bombardeiam ou disparam mísseis de cruzeiro contra instalações governamentais estrangeiras e seu pessoal). Espero que este esclarecimento solucione amplamente sua pergunta. Sinceramente, T. M. " Houve muitos comentários revoltados e cartas na imprensa quando eu disse que McVeigh sofria de "um exagerado senso de justiça". Eu não precisava do adjetivo, exceto pelo fato de saber que poucos americanos acreditam seriamente que alguém seja capaz de fazer algo a não ser por interesse próprio, ao passo que se alguém arrisca deliberadamente - e dá - sua vida para alertar seus concidadãos sobre um governo opressivo está de fato louco. Mas o bom dr. Smith situou aquilo em perspectiva: McVeigh não é desequilibrado. É sério. É 16 de junho. Parece que se passaram cinco anos e não cinco dias desde a execução. Na véspera da execução, 10 de junho, The New York Times discutiu "O futuro do terrorismo americano". Ao que parece, terrorismo tem um futuro real; portanto precisamos tomar cuidado com skinheads nazistas nos matagais. O Times está às vezes certo por causa das costumeiras razões erradas. Por exemplo, sua sábia decisão atual é desfazer a ilusão de que McVeigh seja "simplesmente um peão na ampla conspiração liderada por um grupo de Fulanos de Tal que até pode ter tido participação governamental. Mas só uma pequena parcela vai apegar-se a essa teoria por muito tempo." Graças a Deus: temia-se que rumores de uma conspiração maior perdurassem e a própria Old Glory (a bandeira dos EUA) se tornasse uma franja diante de nossos olhos. O Times, mais com raiva do que com pesar, acredita que McVeigh renegou o martírio ao protestar inocência a princípio e depois por não usar seu julgamento para "fazer uma declaração política sobre Ruby Ridge e Waco". McVeigh concordou com o Times, e responsabilizou seu primeiro advogado, Stephen Jones, que em conluio com o juiz o vendeu. Durante seu recurso, o novo advogado de McVeigh argumentou que a verdadeira venda ocorreu quando Jones, ávido de publicidade, reuniu-se com Pam Belluck, do

Times. A culpa de McVeigh foi discretamente admitida, assim explicando por que a defesa foi tão fraca. (Jones afirma que não fez nada de indevido). Com efeito, o Times admite que, logo após a explosão, o movimento das milícias disparou - dos 220 grupos antigovernamentais em 1995 para mais de 850 no fim de 1996. Um fator desse crescimento foi a crença que circulava entre grupos de milícias de que "agentes do governo haviam instalado a bomba como meio de justificar legislação antiterrorista. Nada menos que um general reformado da Força Aérea promove a teoria de que, além do caminhão-bomba de McVeigh, havia bombas dentro do prédio". Embora o Times goste de fazer comparações com a Alemanha nazista, curiosamente reluta em traçar paralelos entre, digamos, o incêndio do Reichstag em 1993 (depois Goering assumiu a autoria desse crime criativo), que permitiu a Hitler invocar uma lei de exceção que lhe proporcionou todo tipo de poderes ditatoriais "para a proteção do povo e do Estado", o que desembocou em Auschwitz. Dúvidas - O sagaz editor do Portland Free Press, Ace Hayes, comentou que um cão absolutamente necessário em cada caso de terrorismo ainda não latiu. A base do raciocínio de qualquer ato terrorista é a de que se precisa assumir a autoria, para que o medo se propague na terra. Mas ninguém assumiu autoria até McVeigh fazê-lo, depois do julgamento, no qual ele foi condenado à morte em decorrência de provas circunstanciais apresentadas pela promotoria. Ace Hayes escreveu: "Se a explosão não foi terrorismo, então o que foi? Foi pseudoterrorismo, perpetrado por operadores secretos e estanques para alcançar os propósitos do poder policial do Estado." A propósito da conclusão de Hayes, Adam Parfrey escreveu em Cult Rapture: "(A explosão) não difere das falsas unidades vietcongues enviadas para estuprar e assassinar vietnamitas para desmoralizar a Frente de Libertação Nacional. Não foi diferente das 'descobertas' espúrias de armas de comunistas em El Salvador. Não é diferente do Exército Simbiótico de Libertação criado pela CIA para desmoralizar os verdadeiros revolucionários." Provas de uma conspiração? Edye Smith foi entrevistado por Gary Tuchman, em 23 de maio de 1995, na CNN. Ela destacou devidamente que o birô ATF, cerca de 17 pessoas no nono andar, não sofreu baixas. Na verdade, parece que eles não tinham ido trabalhar naquele dia. Jim Keith fornece detalhes em OKBOMB, ao passo que Smith comentou na TV: "O ATF recebeu sinal de advertência? Quero dizer, eles acharam que podia ser um dia desaconselhável para ir ao escritório? Eles tiveram a opção de não ir ao trabalho naquele dia, e meus filhos não tiveram essa opção." Ela perdeu dois filhos na explosão. O ATF apresenta muitas explicações. A mais recente: cinco funcionários estavam nos escritórios e saíram ilesos. Outra pista não seguida: a irmã de McVeigh leu, para o Júri de Instrução, uma carta que ele lhe escreveu, declarando que se tornara membro de um "Grupo de Forças Especiais envolvido em atividade criminosa". No fim, McVeigh, já condenado à morte, decidiu assumir todo o mérito da explosão. Ele estava sendo um bom soldado profissional, dando cobertura a outros? Ou talvez ele agora se veja num papel histórico com seu Harper's Ferry particular e, embora suas cinzas se desfaçam no túmulo, seu espírito segue em frente? Poderemos ficar sabendo - um dia. Quanto aos "propósitos do poder policial do Estado", depois da explosão o presidente Bill Clinton sancionou leis que permitem à polícia cometer todo tipo de crimes contra a Constituição, no interesse de combater o terrorismo. Em 20 de abril de 1996 (aniversário de nascimento de Hitler, de bela memória, ao menos para os produtores de The Producers), Clinton sancionou a Lei Antiterrorismo ("para a proteção do povo e do Estado - claro que a ênfase é dada ao segundo substantivo), ao passo que um mês antes o

misterioso Louis Freeh havia informado ao Congresso sobre seus planos de expansão de escuta clandestina a cargo da polícia secreta. Clinton descreveu sua Lei Antiterrorismo em linguagem familiar (1.º de março de 1993, USA Today): "Não podemos ter tanta fixação em nosso desejo de preservar os direitos dos americanos comuns." Um ano depois (19 de abril de 1994, na MTV): "Muitas pessoas dizem que há liberdade pessoal em excesso. Quando se abusa das liberdades pessoais, é preciso agir para limitá-las." Com essa nota plangente ele se formou com louvor pela Academia Newt Gingrich. Acima da carta - Em essência, a Lei Antiterrorismo de Clinton pretendia criar uma força policial nacional, sobre os cadáveres dos fundadores da pátria. Detalhes são fornecidos por H. R. 97, uma quimera nascida de Clinton, de Reno e do misterioso sr. Freeh. Uma Força de Ataque de Mobilização Rápida, de 2.500 homens, seria organizada, subordinada diretamente à secretária de Justiça, com poderes ditatoriais. O chefe de polícia de Windsor (Estado de Missouri), Joe Hendricks falou abertamente contra essa força policial supraconstitucional. Hendricks disse que, segundo essa legislação, "um agente do FBI pode entrar em meu gabinete e requisitar este departamento de polícia. Se vocês não acreditam nisso, leiam o projeto de lei sobre criminalidade que Clinton transformou em lei em 1995. Fala-se dos Feds assumindo o departamento de polícia de Washington, D. C. Para mim, isso cria um precedente perigoso." Mas, ao fim de meio século em que se dizia que os russos estavam chegando, e de terroristas procedentes de Estados fora-da-lei que proliferam, bem como dos horrores atuais dos crimes relacionados com drogas, há pouca folga para um povo tão rotineiramente - tão duramente desinformado. Mas existe uma suspeita inata que parece fazer parte da índole individual dos americanos - conforme demonstrado nas pesquisas de opinião. Segundo pesquisa do Scripps Howard News Service, 40% dos americanos acham muito provável que o FBI causou os incêndios em Waco. Cinqüenta e um por cento acreditam que funcionários federais mataram Jack Kennedy. Oitenta por cento acreditam que os militares estão escamoteando provas de que o Iraque usou gás ou algo igualmente mortífero na Guerra do Golfo. Infelizmente, o reverso dessa medalha é perturbador. Depois de Oklahoma City, 58% dos americanos, segundo o L. A. Times, estiveram dispostos a abrir mão de algumas de suas liberdades para conter o terrorismo - até mesmo, como é possível, o sagrado direito de ser desinformado pelo governo. Logo depois da condenação de McVeigh, o diretor Freeh amaciou a Comissão de Judiciário do Senado: "Em sua maioria, as organizações de milícias no país não são, na nossa opinião, ameaçadoras ou perigosas." Mas antes, falando à Comissão de Dotações Orçamentárias do Senado, ele havia "confessado" que seu birô andava "incomodado" com "vários indivíduos, e também com várias organizações, algumas das quais têm uma ideologia que suspeita de conspirações (para a instalação de um governo) de ordem mundial - pessoas que se organizaram contra os Estados Unidos." Em resumo, esse burocrata que executa Obra de Deus considera uma ameaça os "indivíduos que defendem ideologias incompatíveis com princípios do Governo Federal". Estranhamente, como ex-juiz, Freeh parece não perceber como essa última sentença é enregelante. Os descontentes também deixam nervoso o ex-diretor da Cia. William Colby. Num bate-papo com o senador John DeCamp, do Estado de Nebraska (pouco antes da explosão em Oklahoma City), ele comentou: "Vi como o movimento contrário a guerras tornou impossível para este país conduzir ou vencer a Guerra do Vietnã... Esse movimento de milícias e de patriotas é muito

mais importante e muito mais perigoso para os americanos do que o movimento contrário a guerras havia sido, se não for tratado com inteligência... Não é porque essa gente está armada que os EUA precisam preocupar-se." Colby continua: "Eles são perigosos porque são muitos. Uma coisa é ter uns poucos birutas e dissidentes. Pode-se cuidar deles, de modo justo ou de outra forma (o itálico é meu), para que não representem perigo para o sistema. A situação é bem diferente quando se tem um movimento de verdade - milhões de cidadãos acreditando em algo, especialmente quando o movimento é composto por cidadãos medianos, bem-sucedidos." Possivelmente a "outra forma" de lidar com tal movimento é - quando ele elege um presidente com meio milhão de votos - convocar a maioria que pensa da mesma forma no Supremo Tribunal e interromper recontagens de votos, criar prazos finais e inventar atrasos até nosso velho sistema eleitoral, por omissão, precisar entregar a presidência ao candidato do "sistema", em oposição ao que o povo escolheu pelo voto. Outra pergunta - Mais de um "especialista" e mais de um expert acreditam que McVeigh não fabricou nem detonou a bomba que explodiu grande parte do Edifício Federal Murrah, em 19 de abril de 1995. Começando da frente para trás - do modo como o FBI conduziu este caso -, se McVeigh não era culpado, por que ele confessou o feito facinoroso? Com base em sua correspondência e no que se ficou sabendo sobre ele numa série cada vez mais longa de livros, estou convencido de que, tão logo declarado culpado por causa da defesa negligente de seu principal advogado - Stephen Jones (tão diferente da brilhante defesa feita pelo advogado Michael Tigar, a favor do "co-conspirador" Terry Nichols) -, McVeigh acreditou que a única alternativa à morte por injeção era meio século ou mais de vida na prisão. Há outro aspecto de nosso sistema penitenciário (considerado um dos mais bárbaros do Primeiro ro Mundo), ao qual se referiu o escritor britânico John Sutherland em The Guardian. Ele citou o procurador-geral da Califórnia, Bill Lickyer, a propósito do diretor-executivo de uma companhia de eletricidade que está engordando com o deficiente fornecimento de energia na Califórnia. "'Eu adoraria escoltar pessoalmente esse diretor-executivo até uma cela de 8 por 10 (pés), para que ele a pudesse dividir com um janota tatuado que diz: 'Ei, meu nome é Spike (Estaca), Benzinho.' ... O alto funcionário da Justiça no Estado confirmava (o que todos suspeitamos) que estupro é política penal. Ir para a prisão e servir como escravo sexual de um Anjo do Inferno é considerado parte da sentença." Ao fim de duas décadas de virações, Spike ignora as noções de Henley sobre uma boa era. Antes morto do que ser espetado. Daí a confissão, "eu explodi o prédio Murrah". Mas são esmagadores os indícios de que houve uma trama envolvendo membros de milícias e homens do governo infiltrados - quem sabe? - como principais motores para criar pânico a fim de conseguir que Clinton sancionasse aquela infame Lei Antiterrorismo. Mas se, conforme agora parece, houve tantas partes interessadas, uma espécie de teoria sobre campo unificado provavelmente nunca será encontrada, mas se houver uma, Joe Dyer talvez seja seu Einstein (tampouco Einstein, claro, chegou a unificar seu campo). Em 1998, discuti Harvest of Rage, de Dyer, nestas páginas. Dyer era editor do Boulder Weekly. Ele escreve sobre a crise na zona rural dos EUA em decorrência do declínio da fazenda familiar, que também coincidiu com a formação de várias milícias e cultos religiosos, alguns perigosos, outros simplesmente lastimáveis. Em Harvest of Rage, Dyer defendeu o argumento de que McVeigh e Terry Nichols podem não ter agido sozinhos na explosão em Oklahoma City. Tampouco ele, depois de longa investigação, escreveu um epílogo para os julgamentos dos dois co-conspiradores. Eis algumas de suas descobertas assombrosas: Culpado - No fim, em 2 de junho de 1997, Timothy McVeigh foi declarado culpado em 11 quesitos, incluindo conspiração, e oito acusações de homicídio relativas ao que o FBI chamou de "OK bomb".

A promotoria fez um belo trabalho, contornando alguns dos pontos mais fracos do processo, como o fato de alguns especialistas em explosivos perguntarem se uma só bomba feita de fertilizante poderia ser responsável pelo enorme dano causado ao edifício Murrah, e que não menos de dez testemunhas afirmaram ter visto uma caminhonete Ryder estacionada em Geary Lake, no Kansas - o local em que, segundo argumentou o governo, a bomba foi montada - antes da data em que McVeigh alugou de fato a caminhonete usada na explosão. O depoimento mais devastador contra McVeigh partiu de um ex-colega dele no Exército e de sua mulher, Michael e Lori Fortier. Os Fortiers foram testemunhas de acusação, Michael declarando que McVeigh havia planejado destruir o edifício Murrah por acreditar que as ordens para atacar o complexo do Ramo Davidiano haviam partido dali. Michael também declarou ao júri que havia ajudado McVeigh a examinar o edifício Murrah antes da explosão. Apesar das provas em contrário, os Fortiers afirmaram que não tiveram participação nos planos da explosão. Michael foi condenado a 12 anos. Stephen Jones apontou continuamente que os Fortiers eram mentirosos e consumidores de metaanfetaminas e, portanto, indignos de confiança. Mas o júri não mudou de opinião. A apresentação da defesa de McVeigh mal durou uma semana. Com freqüência, Jones deixou o júri mais confuso e enfadado do que convencido da inocência de seu cliente. Até quando ele teve êxito em suas tentativas de mostrar que uma vasta conspiração estava por trás da explosão, pouco fez para mostrar que McVeigh não estava no centro da conspiração. A defesa a cargo de Jones levou alguns repórteres a especular que o próprio McVeigh estava limitando sua defesa a fim de evitar a apresentação de provas que pudessem implicar outros envolvidos na explosão. A Playboy e o The Dallas Morning News publicaram o que descreveram como confissões de McVeigh à sua equipe de defesa. Nos dois artigos, McVeigh admitiu a autoria da explosão. Em muitos círculos, as confissões foram vistas como prova de que só McVeigh e Nichols estiveram diretamente envolvidos na explosão. Afinal de contas, havia-se noticiado que McVeigh afirmara isso. Mas há motivo para dúvidas. Ao confessar, McVeigh estava mais uma vez fazendo o papel do soldado, tentando proteger seus co-conspiradores. Foi o governo que mandou explodir o prédio? Terry Nichols foi julgado no outono de 1997. Desde o início, as denúncias do governo contra Nichols foram mais difíceis de provar do que as contra McVeigh. A maior diferença: Nichols estava em Kansas no momento da explosão. Nichols também tinha um bom advogado, Michael Tigar. O júri declarou Nichols a salvo da acusação de homicídio, mas culpado por planejar a explosão no prédio Murrah e culpado em oito quesitos de homicídio culposo. A seguir, o júri entrou num impasse durante a tomada de decisão sobre a sentença, que descartou a pena de morte. Ao fim de dois dias de deliberações, a primeira-jurada, Niki Deutchman, informou ao juiz Richard P. Matsch que o júri estava dividido. Em 4 de junho de 1998, Matsch entrou em ação e sentenciou Terry Nichols à prisão perpétua, mas a decisão do juiz não ficou a salvo de controvérsia. Deutchman declarou à imprensa: "Provavelmente, decisões haviam sido tomadas muito antes, de que McVeigh e Nichols eram as pessoas que eles estavam procurando, e o mesmo tipo de recursos não foi usado para tentar encontrar quem mais pudesse estar envolvido... O governo deixou mesmo cair a bola." Alguns dos jurados pensaram que talvez houvesse outros envolvidos, ainda em liberdade. Logo depois de sua entrevista coletiva, Deutchman recebeu ameaças de bomba, segundo se informou. E, então, o governo revidou. A secretária de Justiça, Janet Reno, malhou as críticas de Deutchman. Reno garantiu ao país que o FBI seguira todas as pistas em seu esforço para encontrar os responsáveis pela explosão. Ela

desmentiu a existência de uma conspiração mais ampla e disse que McVeigh e Nichols foram os únicos autores do crime. Infelizmente, é provável que Janet Reno esteja enganada. Durante minha investigação, que incluiu um exame de todo o material que levou à descoberta de McVeigh, desencavei indícios de que o FBI não seguiu pistas de peso ou, se o fez, não as entregou à defesa. Descobri informações fornecidas ao FBI por autoridades policiais de Kansas e por todas as testemunhas fidedignas, que foram, ao que parece, ignoradas. Mais importante ainda, encontrei indícios de que o FBI talvez tenha retido certas informações, não as entregando às equipes de defesa durante a descoberta, potencialmente maculando os veredictos contra McVeigh e Nichols. (Tradução de Magno Dadonas)

Timothy McVeigh surge como o 'idiota útil' Personagens misteriosos e um relatório sigiloso feito por especialistas do Pentágono indicam que terrorista não teria agido sozinho, mantendo a questão em aberto

GORE

VIDAL

Vanity Fair

Continuemos com as descobertas feitas pelo jornalista Joel Dyer, em Harvest of Rage, uma longa investigação em que ele defende o argumento de que Timothy McVeigh e Terry Nichols não agiram sozinhos na explosão de Oklahoma City. Indivíduo n.º 1. A primeira vez que mostraram a Charles Farley um retrato do homem que ele repetidamente tentou fazer com que o FBI investigasse, foi em 10 de dezembro de 1997. Farley estava sentado no banco das testemunhas num tribunal federal em Denver, e o homem que lhe mostrava a foto não trabalhava para o governo. Trabalhava para Terry Nichols. "Sr. Farley, o senhor reconhece o indivíduo retratado nesta foto?", pergunta Adam Thurschwell, um dos advogados de defesa de Nichols. "Sim, senhor", respondeu Farley. "Esse foi o indivíduo que estava de pé na porta da caminhonete e me lançou um olhar feio", disse. Farley estava testemunhando para a defesa sobre sua experiência, poucos dias antes da explosão. Funcionário do Centro de Recreação ao Ar Livre Fort Riley, perto de Geary Lake, ele já havia declarado ao FBI que, em 17 ou 18 de abril, tinha ido ao lago para sondar seu potencial de pesca. Depois de examinar o lago, Farley seguiu de carro pela estrada que levava de volta à rodovia, mas sua ida foi retardada por muitos veículos estacionados perto da saída - uma picape, um caminhão grande, um carro marrom e uma caminhonete Ryder - e, de pé, perto dos veículos, havia vários homens. O caminhão grande estava carregado com o que Farley acreditou ser sacos do fertilizante nitrato de amônio. "Ele parecia completamente lotado", declarou Farley ao júri. Ele pensou que o caminhão estivesse encravado por causa do peso do fertilizante e decidiu oferecer ajuda. Logo mudou de idéia, quando um dos homens - o mesmo que, segundo ele acreditava, estava identificando mais de dois anos e meio depois, no tribunal - fuzilou-o com um olhar terrível.

O homem estava de pé praticamente perto do carro de Farley e tinha muitas características que o distinguiam, incluindo uma barba e nenhum bigode. Farley afirma que, poucos dias depois da explosão, viu o homem de novo. Desta vez na TV, sendo entrevistado sobre assuntos relativos a milícias. A essa altura já se sabia que a bomba fora detonada na traseira de uma caminhonete Ryder, supostamente alugada em Junction City, Kansas, perto de Geary Lake. Dizia-se que a bomba fora feita com o fertilizante nitrato de amônio. Pensando que talvez recebesse informação de testemunhas oculares sobre os homens que haviam fabricado a bomba, Farley ligou para um número telefônico por meio do qual o FBI recebia dicas. Duas semanas depois, um agente apareceu em seu local de trabalho para uma entrevista, mas aquela visita foi o máximo que o governo fez para seguir essa pista importante, embora a informação de Farley parecesse confirmar as suspeitas do governo sobre o local em que a bomba fora fabricada. Ao que parece, o FBI não tentou identificar o indivíduo que Farley vira tão de perto. Segundo fontes ligadas à defesa, advogados de Nichols, acreditando conhecer a identidade do homem que Farley vira, pediram ao FBI durante o julgamento todas as suas informações sobre o indivíduo. Receberam um arquivo que não continha nada mais que recortes de jornais. No arquivo não havia nada que indicasse que o FBI tinha tentado entrar em contato com o homem ou o tivesse colocado numa fila de desconhecidos para que Farley o identificasse. O FBI não se havia dado sequer ao trabalho de entrar em contato com a emissora de televisão em Topeka para examinar o trecho da fita gravada que continha o suspeito de Farley. Achei curiosa essa falta de investigação. Em meados de 1997, decidi investigar o homem misterioso, baseado apenas na descrição de Farley. Vinte minutos depois de dar o primeiro telefonema para meus contatos com milícias em Kansas, pude identificar o homem da foto que fora mostrada a Farley no recinto do tribunal. O indivíduo número 1 não era propriamente um tipo discreto no movimento antigovernamental. Além de o homem aparecer na televisão, o artigo de um jornal de Kansas City depois da explosão citou declarações nas quais ele se gabava de usar táticas de freemen (cidadãos, homens livres) para passar hipotecas e cheques falsos em Kansas. Várias fontes policiais em Kansas informaram-me que, na época da publicação dessas declarações, havia uma investigação federal de grande envergadura sobre fraudes bancárias patrocinadas por freemen em Kansas - uma investigação que incluiu o homem de Farley. Confirmei a existência dessa investigação por meio de várias fontes. Já que o 'Indivíduo número 1' estava sob investigação, devia existir em seu arquivo algo mais que recortes de jornais. Ao que parece, informações não foram fornecidas à equipe de defesa. Por que o FBI não seguiu a pista fornecida por Farley? A melhor explicação é a de que ela representava um problema sério para os processos movidos pelo governo contra McVeigh e Nichols. Observe-se que Farley viu cinco pessoas, não duas, com nitrato de amônio e uma caminhonete Ryder. Indivíduo n.º 2. No dia posterior à explosão, dois retratos falados feitos pela polícia foram distribuídos via fax para organizações de mídia e órgãos policiais em todos os EUA. Eles retratavam dois homens que, conforme se acreditava, haviam detonado a bomba, Fulano de Tal n.º 1 e Fulano de Tal n.º 2. McVeigh, recolhido à prisão 90 minutos depois da explosão por dirigir veículo sem placa e portar uma arma de fogo oculta, foi logo identificado como Fulano de Tal n.º 1. O Fulano de Tal n.º 2 nunca foi identificado pelo FBI. O ajudante de xerife do Condado Shawnee Jake Mauck diz que quase caiu da cadeira quando, pouco após a explosão, comparou o retrato falado de Fulano de Tal n.º 2 com a foto de um conhecido ativista antigovernamental em sua área. O Condado Shawnee fica cerca de 80 quilômetros a leste de Junction City, onde a caminhonete Ryder foi alugada e onde McVeigh pernoitou no Dreamland Motel com outro homem, que nunca foi identificado.

Mauck diz ter alertado logo o FBI sobre suas suspeitas relativas ao Indivíduo n.º 2. Por razões que talvez nunca venham a ser conhecidas, parece que o FBI não se mexeu diante da informação de Mauck. Tampouco deu ouvidos a dicas semelhantes fornecidas por Suzanne James, funcionária do gabinete do promotor público do Condado Shawnee. O FBI informou a Suzanne que agentes já haviam investigado o homem parecido com Fulano de Tal. Haviam? Ao que parece, não. Uma pessoa que investigou mesmo o homem de que Mauck e James suspeitavam é Mike Tharp, repórter do U.S. News & World Report. Mauck falou a Tharp depois que sua frustração com os Feds ficou insuportável. Tharp obteve uma foto do Indivíduo n.º 2 e começou a mostrá-la a pessoas que, conforme sabia, haviam visto um homem que não era Terry Nichols na companhia de McVeigh nos dias anteriores à explosão. Quando ele mostrou a foto a Barbara Whittenberg, a proprietária do Santa Fe Trail Diner, em Herington, que afirma ter visto Fulano de Tal n.º 2 com McVeigh, ela disse: "Quase posso jurar que era esse o sujeito." Outros a quem Tharp mostrou a foto acreditaram que era a do homem que eles haviam visto com McVeigh. Quando Tharp consultou o FBI sobre o sujeito, ouviu uma sentença que está ficando por demais familiar: "Seguimos todas as pistas." Não existem provas de que o FBI se tenha sequer dado ao trabalho de seguir a pista relativa ao Indivídulo n.º 2. Indivíduo n.º 3. Dois dias depois da explosão, Russell Roe, assistente de promotoria no Condado Keary, Kansas, sentou-se à mesa com agentes do FBI e contou-lhes sobre um homem de sua área conhecido por envolvimento em atividades antigovernamentais. Roe disse que o indivíduo parecia Fulano de Tal n.º 2 e também se dizia que esse homem havia explodido bombas feitas com fertilizantes em sua fazenda no leste de Kansas antes da explosão no edifício Murrah. Suzanne James, a mulher que trabalhava no gabinete do promotor público do Condado Shawnee, falou aos Feds sobre o mesmo indivíduo. Suzanne diz que o governo não se interessou por sua informação. Depois de dar cerca de cinco telefonemas ao FBI, ela desistiu. O xerife do Condado Pottawatomie, Tony Metcalf, deu ao FBI o nome do Indivíduo n.º 3. Além disso, no outono de 1997, entrevistei Cliff Hall, o jornal The Topeka Metro News. Ele contou-me que o Indivíduo n.º 3 tinha feito comunicados ao público em seu jornal. Os anúncios eram invenções que abordavam a renúncia à cidadania e comunicados sobre hipotecas, no estilo freemen. Hall diz que um agente do serviço secreto foi ao seu jornal e obteve cópias dos comunicados como parte de sua investigação sobre o Indivíduo n.º 3. O Indivíduo n.º 3 foi também citado num documento relativo à investigação sobre fraude bancária no Texas. O caso do Texas resultou na formalização de acusações federais fundamentadas em fraudes, contra vários membros do grupo antigovernamental Republic of Texas (ROT), incluindo o líder do grupo, Richard McLaren. Como parte de suas provas contra o ROT, o governo apresentou videoteipes do grupo preparando ordens de pagamento bancárias, fraudulentas. Os vídeos também revelaram uma surpresa. Mostraram claramente que a pessoa que ensinava ao ROT como criar os documentos falsos não era outro senão o Indivíduo n.º 3. O que a equipe de defesa de McLaren não pôde entender foi por que seu cliente e praticamente todas as outras pessoas registradas no teipe foram detidas e acusadas formalmente, ao passo que o Indivíduo n.º 3 nunca foi acusado nessa investigação. A equipe de defesa começou a suspeitar que aquilo fora uma operação-engodo. Segundo documentos judiciais do caso McLaren, Tom Mills, advogado de McLaren, pediu ao governo todos os seus arquivos relativos ao Indivíduo n.º 3. Os promotores, num gesto explicado só ao juiz, protocolaram uma moção para manter os arquivos sobre o Indivíduo n.º 3 fora do alcance da equipe de defesa de McLaren. O governo só entregaria os arquivos se eles fossem mantidos "in camera". Em outras palavras, o FBI os colocaria à disposição do juiz, mas não da defesa. Sem se abalar com o revés do "in camera", a equipe de defesa de McLaren tentou outra abordagem. Se não podia ver os arquivos, intimaria o homem. Mills contratou um investigador, que logo localizou o Indivíduo n.º 3 em Oregon. Mills pediu, ao tribunal, dinheiro para levar de avião o investigador a Oregon e apresentar-lhe a intimação. O juiz

concordou, mas então o governo fez algo até mais invulgar do que reter arquivos. Deteve o Indivíduo n.º 3 no meio da noite, poucas horas antes do momento em que a intimação devia ser-lhe apresentada. Mills passou várias horas investigando o Indivíduo n.º 3 numa prisão em Dallas. Depois Mills protocolou outra moção, na qual declarava estar mais convencido do que nunca de que o homem havia cooperado com autoridades em algum nível, no passado, e portanto o advogado devia ser autorizado a ver os arquivos "in camera". Seu pedido foi de novo rejeitado. Mais tarde o Indivíduo n.º 3 foi parar no banco dos réus enquanto o júri ficava isolado. A lógica convencional dizia que, se ele era agente ou informante do governo, devia pegar o previsto na Quinta Emenda à Constituição. Mas não pegou. Quando indagado pelo juiz se era o homem citado na intimação, o sujeito fez a defesa-padrão dos freemen. Pediu que o juiz soletrasse seu nome e confirmasse quais letras eram maiúsculas. O juiz o fez e o homem disse que o juiz havia soletrado seu nome incorretamente. A essa altura, os promotores do governo, que se haviam empenhado tanto para impedir que o Indivíduo n.º 3 prestasse testemunho, informaram ao juiz que o homem precisava de avaliação psiquiátrica. O juiz concordou e o Indivíduo n.º 3 não precisou explicar sua aparente imunidade a processos. Em abril de 1998, McLaren foi declarado culpado de 17 quesitos federais. Sua equipe de defesa nunca foi autorizada a ter acesso aos arquivos sobre o Indivíduo n.º 3. Apesar do desmentido constante do FBI, sabemos que o governo inexplicavelmente não investigou pistas concretas relativas aos Indivíduos 1, 2 e 3 e, segundo suspeito, outros de sua organização. Conclusão? - Será interessante ver se o FBI está suficientemente intrigado com tudo isso que Joel Dyer escreveu e que reproduzi acima, para seguir as pistas que ele tão generosamente lhe forneceu. Até agora, The Oklahoma City Bombing and the Politics of Terror, de David Hoffman, é o mais completo de uma ou duas dezenas de relatos sobre o que aconteceu e não aconteceu naquele dia de abril. Hoffman começa sua investigação com uma carta do brigadeiro reformado da Força Aérea Benton K. Partin, de 17 de maio de 1995, entregue a cada membro do Senado e Câmara dos Representantes. "Quando vi as fotos dos danos assimétricos causados pela caminhonete-bomba no Edifício Federal, minha primeira reação foi pensar que aquele tipo de estrago teria sido tecnicamente impossível sem cargas demolidoras suplementares em algumas bases das colunas de concreto que serviam de reforço.,A explosão de uma simples caminhonete-bomba, do porte e da composição relatados, capaz de alcançar 18 metros e derrubar a base de uma coluna reforçada do porte da coluna A-7, está além da credibilidade." À parte, também concordando, estava Samuel Cohen, pai da bomba de nêutrons que havia participado do antigo Projeto Manhattan. Ele escreveu a um parlamentar estadual de Oklahoma: "Seria totalmente impossível e contrário às leis da natureza uma caminhonete cheia de fertilizante e óleo combustível, por maior que fosse a quantidade usada, fazer o prédio vir abaixo." Poder-se ia pensar que o advogado de defesa de McVeigh, incansavelmente em busca de uma conexão com o Oriente Médio, talvez tivesse chamado esses especialistas abalizados para testemunhar, mas um exame do relato de Jones sobre o caso, Others Unknown, não revela nenhum nome. Na edição de 20 de março de 1996, o boletim Strategic Investment informou que analistas do Pentágono (Departamento de Defesa) tenderam a concordar com o general Partin. "Um relatório sigiloso elaborado por dois especialistas independentes, do Pentágono, concluiu que a destruição do edifício federal em Oklahoma City em abril passado foi causada por cinco bombas distintas.... Fontes ligadas ao estudo informam que Timothy McVeigh desempenhou um papel na explosão, mas 'perifericamente', como 'idiota útil'." Finalmente, inevitavelmente - é tempo de guerra, afinal de contas

-, "as explosões múltiplas têm a 'assinatura' do Oriente Médio, apontando para envolvimento iraquiano ou sírio." Conforme ficou provado, os esforços de boa-fé para examinar as ruínas foram vãos. Dezesseis dias depois da explosão, a busca a vítimas parou. Noutra carta ao Congresso, Partin declarou que não se devia destruir o edifício antes que uma equipe independente de especialistas em criminalística fosse levada para investigar os danos. "É também fácil encobrir provas essenciais, conforme foi, ao que parece, feito em Waco... Por que ter pressa em destruir as provas?" Palavras proféticas: Os Feds demoliram as ruínas seis dias depois. Apresentaram a mesma desculpa que haviam usado em Waco: "Perigo para a saúde." Partin: "É um acobertamento clássico." Partin suspeitava de um complô comunista. Bem, ninguém é perfeito. "Portanto que conclusão tirar?", foi a pergunta feita com freqüência por produtores de TV na chamada era de ouro dos programas de televisão ao vivo. Isto significava: o que o público vai, para todos os efeitos, pensar quando o jogo terminar? A história de McVeigh nos proporciona várias conclusões. Se McVeigh é simplesmente um "idiota útil", um instrumento do que podia ter sido uma vasta conspiração, envolvendo várias milícias americanas que atuaram, conforme alguns pensam, com auxiliares do Oriente Médio, então a decisão do FBI de se negar a seguir tantas pistas promissoras não se limita à sua incompetência costumeira e cheira a traição. Se McVeigh foi o único improvável agente e causador da explosão, então sua destruição "desumana" (adjetivo do Unabomber) de tantas vidas não atenderá a nenhum propósito, a menos que a levemos a sério na medida de suas dimensões, ou seja, que foi um grito de alerta a um governo federal profundamente odiado, ao que parece, por milhões. (Lembre-se que o popular Ronald Reagan sempre foi contra o governo federal, embora muitas vezes por razões erradas). Conclusão final e forçada: McVeigh não fabricou, não transportou nem detonou a bomba, mas, tão logo detido sob outra acusação, assumiu toda a "glória" para si mesmo e assim abriu mão da vida. Esta não é uma história fictícia para W. E. Henley, mas para um de seus jovens, Rudyard Kipling, autor de The Man Who Would Be King. Finalmente, o fato de o roteiro McVeigh-Nichols não fazer nenhum sentido sugere que mais uma vez estamos diante de um crime "perfeito" - até agora. (Tradução de Magno Dadonas)

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