Fragil-poesia-2009-2

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  • Words: 1,133
  • Pages: 12
FRAGILPOESIA 12 de Março de 2009

Ângelo de Lima

«Eu não estou doudo»

Actor: Ricardo Carriço Músico: Francisco Ribeiro DJ: JP Diniz

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3ª edição

[Eu ontem vi-te…]

Eu ontem vi-te… Andava a luz Do teu olhar, Que me seduz A divagar Em torno de mim. E então pedi-te, Não que me olhasses, Mas que afastasses, Um poucochinho, Do meu caminho, Um tal fulgor De medo, amor, Que me cegasse, Me deslumbrasse, Fulgor assim.

3

Miserere

Como Anjos descendidos sobre a terra — Almas d’ingenuidade, sorridentes Passam às Vezes, Vagas, entre as Gentes! — — A Vida não é o Céu… — a Vida é a Guerra!… — E a Guerra não faz Trégua… nem Piedade!… — Um Anjo, Passa, como um Sonho, é, que Erra!… — Cada Esp’rança do Céu… — Cada saudade!… — Que Vêm Fazer, os Anjos, sobre a Terra?!…

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Epitáfio

Aqui Dorme e Descansa um Coração! Palpito outrora… — Qual Dorme Agora… — Vivo na História… — Vibrou d’Amor e Comovente Glória Mas — Algum Dia… — Veio afinal!… — Fatal!… — Aquela Fata Místera e Sombria… — Que os Homens chamam Morte e Despiedade… — E é Invencível… Místera e Sagrada!… — Talvez Piedosa… — ou Al Descoroada…! — E o Palpitar do Coração Parou! — E assim — Pois… ora — Palpito outrora… — Qual Dorme agora! — Transe Emmorte de Efémera Ilusão… — Aqui Dorme e Descansa um Coração!

5

[Pára-me de repente o Pensamento…]

Pára-me de repente o Pensamento… — Como se de repente sofreado Na Douda Correria… em que, levado… — Anda em Busca… da Paz… do Esquecimento — Pára Surpreso… Escrutador… Atento Como pára… um Cavalo Alucinado Ante um Abismo… ante seus pés rasgado… — Pára… e Fica… e Demora-se um Momento… Vem trazido na Douda Correria Pára à beira do Abismo e se demora E Mergulha na Noute, Escura e Fria Um olhar d’Aço, que na Noute explora… — Mas a Espora da dor seu flanco estria… — E Ele Galga… e Prossegue… sob a Espora!

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Olhos de Lobas! Teus olhos lembram-me círios Acesos n’um cemitério!… Dr. Rodrigo de Barros

Têm um fulgor estranho singular Os teus olhos febris… Incendiados!… Como os Clarões Finais… — Exaustinados Dos restos dos archotes, desdeixados… — Nas criptas d’um Jazigo Tumular!… — Como a Luz que na Noute Misteriosa — Fantástica — Fulgisse nas Ogivas Das Janelas de Estranho Mausoléu!… — Mausoléu, das Saudades do Ideal!… — Oh Saudades!… Oh Luz Transcendental! — Oh memórias saudosas do Ido ao Céu!… — Oh Perpétuas Febris!… — Oh Sempre Vivas!… — Oh Luz do Olhar das Lobas Amorosas!…

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Eu Não Estou Doudo

Eu não estou doudo. Tenho sido manejado como um puro manequim. Os seus meios de manejo têm sido — a mim aqui ao seu dispor abandonado por toda uma sociedade, a começar por aqueles que mais estrito dever tinham de tal não fazer — os seus meios de acção são, já a tortura, já a sugestão, já o veneno. A tortura consiste em maus tratos aqui, sequestros, insultos, intrigas por aí, etc. A sugestão consiste em alusões nas conversas, recadinhos como que involuntariamente enviados, etc. O veneno, esse é o subministrado nas comidas que encontro por ração colocadas no meu lugar, — e consiste em venenos letais, vírus infecciosos, e micróbios, extraídos e culturados nos órgãos dos cadáveres, defuntos naturalmente, ou defuncionados por esta gente, aqui, no meio da imensa mole de carne humilde, anónima, e descurada, desta mole que faz o numerário dos hospitais. Mas também venenos d’outra origem, trazidos através d’um d’estes organismos ao seu dispor (d’um dos doentes humildes que depois defuncionam). Por meio d’estes venenos são-me senhores do cérebro (que legam, manejam, sobreexcitam, centro por centro, fazendo-me assim, rir, chorar, estar triste, falar, estar calado) — são[-]me senhores do cérebro, atacando-me já o modo de função de cada órgão, já ainda cada zona dos órgãos vários, de modo a influir n’aquela zona ou totalidade de tal ou tal pulmão, a que correspondem, e que por seu turno corresponde a tal ou tal órgão. Longo é explicar o meu caso, minúcia por minúcia — mesmo só o poderia fazer com descanso e n’um sítio em que por um dia estivesse seguro da sua não acção, — mas aqui aonde tenho de almoçar e jantar o que me derem, eles são-me pelo processo acima senhores 8

do organismo e perturbam-me a funcionação do cérebro, o que muito lhes convém pois sou assim confuso — e há gente superficial como aquela a quem eles com um sorriso da sua mais que abalada autoridade, fazem descrer de que se possa actuando nos centros correspondentes (sobre terem tirado todo o outro meio de desabafo e comunicação e tê-lo oprimido de modo a enfurecê-lo) fazem crer que não é possível ser motivado por manejo o bradar furioso. De quantas moléstias me têm acusado? Sobretudo, sempre no fundo a infecção alcoólica. Eu respondo[:] A infecção alcoólica, mesmo quando incurável (e há-de aí talvez lembrar o que era dito n’uma relação oficial, feita 1 ano que não 3 meses depois (máximo tempo concedido, este de 3 meses, para definição e classificação da moléstia, definição sem a qual ninguém aqui pode ser retido — isto segundo o regulamento elaborado por um especialista eminente) — há-de aí talvez lembrar que eu era n’ela dado como curável) mesmo quando incurável isto é quando adiantada, diminui de intensidade com o tempo de abstenção de bebidas. […] Como aumenta pois a minha infecção? […] Hão[-]de me dizer também

9

Rhada

— Oh Vida!… — Bohodhi!… Por Ti!… Nasce… e anima e desenvolve a Vida! E— Radiosa!… Deliciosa!… Abre a Flor da Paixão como uma Rosa!… — Rosa da Vida — Rosa Eperdida!… — Oh Viver!… — Fantasia!… — Luz… Canção… e Perfume!… Amor… Poesia! Paixão e Glória! — Embriaguez!… Folia!… Rosa da Vida!… Rosa da Alegria Que é Como a Rosa que Emurchece um Dia… Dia do Esmaecer de Toda a Glória Prazer ou Dor! — Ódio ou Amor!… — Do Palpitar da Vida Transitória —.

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FRAGILPOESIA

MARÇO 2009 (3ª edição) em parceria com Assírio & Alvim (todas as quintas-feiras de Março) __________________________________________________________________ 05 QUINTA Luíza Neto Jorge “Não me quero com o tempo nem com a moda” Actriz: Lucília Raimundo Músico: Adriano Filipe DJ: Vítor Silveira Exposição de pintura: Filomena Carmo Pinto __________________________________________________________________ 12 QUINTA Ângelo de Lima “Eu não estou doudo” Actor: Ricardo Carriço Músico: Francisco Ribeiro DJ: JP Diniz __________________________________________________________________ 19 QUINTA António Gancho “Os intelectuais soen muy ben zurrar” Actor: Marco D’Almeida Músico: Bpm&noyze DJ: JP Diniz __________________________________________________________________ 26 QUINTA José Agostinho Baptista “Eu jeremias criador dos céus e infernos” Actor: Rogério Samora Músicos: Rodrigo Leão Quarteto DJ: JP Diniz FRAGIL www.fragil.com.pt Lisboa Bairro Alto Rua da Atalaia 126

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