Filosofia, Ideologia E Ciencia Social (mauricio)

  • November 2019
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Recortes de imprensa

"A sociedade ficará mais pobre com esta perda de terreno da filosofia nas escolas" Diário de Notícias, 15 de Dezembro de 2006 Filomena Naves O sistema de ensino no seu todo vai ressentir-se com o apagamento da filosofia ditado pelo fim do seu exame nacional, diz Maria Filomena Molder. A filósofa é uma das organizadoras do debate que hoje se realiza em Lisboa sobre o tema. A filosofia está a perder terreno no ensino secundário, em Portugal? Está. E está a perder terreno no ensino superior também. O decreto-lei de Fevereiro deste ano, que elimina o exame nacional de filosofia para os 10.º e 11.º anos, é uma medida puramente administrativa, cujas consequências não são administrativas. São pedagógicocientíficas, desde logo no secundário, e na articulação com o ensino superior. Que consequências são essas? Sem a avaliação nacional externa haverá um empobrecimento da exigência e aprofundamento nas aulas. O facto de deixar de haver exame implica um estado de espírito diferente por parte dos alunos e levará também a uma diminuição dos candidatos à escolha opcional da filosofia no 12.º ano, afectando, com todas as consequências previsíveis, a escolha da filosofia no ensino superior. Disse que é uma decisão administrativa. O que quer isso dizer? Quer dizer que não tem pressupostos, não invoca qualquer princípio e ignora as consequências. Ninguém foi ouvido para esta decisão. A filosofia está há muitos anos ancorada no ensino, com todas as irradiações que o ensino tem para a investigação, a comunicação, a publicação e transmissão de conhecimento. Esta decisão tem previsivelmente um pensamento por trás, e parece-me que só pode ser um. O de diminuir o peso institucional da filosofia no sistema de ensino. O que significa que um dia destes ela pode ser suprimida ou tornada opcional também no 10.º e 11.º anos. Acha que o ensino vai ser todo afectado por esta medida? A médio e longo prazo vai. A filosofia é uma condição de independência do espírito, de sentido crítico, de aprendizagem da argumentação, para pôr à prova conceitos e pontos de vista. A actividade filosófica permite a capacidade de distanciação em relação a acções, convicções que não estão suficientemente elaboradas, ou a regras da pura sobrevivência e

utilitarismo. Isso exige tempo de reflexão, de raciocínio, de confronto e tem que ter resposta no ensino. Pensa que haverá implicações a um nível social mais vasto? O estudo da filosofia tem consequências para a compreensão do que é ser livre, ou para construir conceitos, por exemplo, acerca da responsabilidade, ou da compreensão da morte. Sem filosofia, a sociedade fica mais utilitarista e inconsciente de si própria. Fica menos apta a reconhecer-se a si própria, a criticar-se, a descobrir os seus próprios limites e a descobrir uma maneira de transcender os seus limites. Fica claramente mais pobre. É esse alerta que pretendem com o encontro [que se realiza hoje]? Queremos mostrar ao Ministério da Educação que o ensino da filosofia, e os mecanismos que permitem que ele se aprofunde e possa ser avaliado, tem repercussões na própria saúde do sistema educativo. Queremos chamar a atenção para as consequências preocupantes desta medida. O tom do debate, que contará com testemunhos de várias áreas, é reflexivo. Mas seguir-se-ão exigências e reivindicações. http://cef-spf.org/imp_50.html

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