quando era adolescente, pensava muitas vezes no seguinte: não tenho problemas em namorar com uma rapariga de outra religião, país ou etnia, uma rapariga magra ou gorda, de cabelo de qualquer cor ou sem cabelo, com muitas tatuagens, manchas na pele, peluda, que fale demais ou que seja muda; sou capaz de namorar com uma rapariga que acredite em sexo só depois do casamento ou uma rapariga que seja adepta de orgias; posso perfeitamente namorar com uma rapariga que seja ultra-ciumenta ou paranóica; não vejo problema em namorar com uma rapariga que seja de direita, tenha um defeito de dicção ou colecione selos - o que eu não consigo, não sou capaz, é de namorar com uma rapariga que goste de música foleira. penso que comecei a pensar nisto quando comecei a ouvir rock. e ao vestir-me como um grunger, renunciava publicamente, como um soldado que jurasse bandeira, ao mundo da música foleira, às tentações de tudo o que é easy listening, aos horrores mornos do que é ligeiro, chunga, betinholike. com o tempo, aprendi que pode ser-se um fã fervoroso de música pimba e mesmo assim [colocar aqui a bonita lição de vida que eu supostamente aprendi]. a razão porque escrevo este texto é ter-me dado conta que não mudei assim tanto, neste assunto. acordar em sobressalto e susto de morte, depois de noite escaldante de sexo, porque a minha parceira pôs a tocar Celine Dion (ou Tony Carreira ou Avril Lavigne ou Emanuel ou Além Mar), continua a ser cenário de pesadelo. bem como ter uma moça apaixonada que, em momento hiper-romântico e para demonstrar a sua paixão, me canta ao ouvido "oh Mi-i-hi-la, mil e uma noitis di amor com você" ou "ninguém é de ninguém mesmo quando se ama alguém". não dá. peço desculpa pela foleirofobia. felizmente ainda não é considerada crime.