Faculdade

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Professor e educador vivem em mundos diferentes? Eustaquio Lagoeiro Castelo Branco

Vivem, mas, não deviam. Ser professor é apenas uma função técnica, ser educador vai além. A escola que trabalha voltada para o conteúdo, onde cada professor pensa que sua obrigação maior é "dar o programa", precisa reestudar a sua função. Temos de nos convencer de que a base do compromisso educacional é o "objetivo' e não a "matéria". ....pois não basta a escola ser um simples difusor de conhecimentos. Ensinar a ler, a contar, a conhecer a geografia, a história, as ciências é sem dúvida tarefa meritória. Mas a vida moderna exige da escola muito mais: ela tem de levar o aluno a pensar, a contextualizar, a analisar comparativamente, a quebrar preconceitos, a buscar soluções gradativas para problemas que afetam a sua comunidade. Enfim a escola tem também a nobre função de formar cidadãos......(Renato Mesquita) e para isto é necessário transformar o pessoal docente de instrutores em educadores. Mas essa é uma proposta repetida inúmeras vezes, em cursos e palestras que eventualmente assistimos. O importante é como conseguir isso. A escola e o professor em particular têm uma responsabilidade extraordinária na formação do adolescente, no aperfeiçoamento da pessoa como ser integral. Esse aperfeiçoamento deve embasarse numa filosofia de vida indispensável á formação do ser humano. É o homem em condições de zelar pela sua dignidade individual perante a coletividade; é o ser ajustado á família, á comunidade de vivência, ao trabalho, ás instituições, ao respeito aos demais indivíduos; é a pessoa cultivada para servir ao próximo, sem preconceitos de quaisquer naturezas, visando o aprimoramento individual, coletivo, universal; etc Os parágrafos acima mostram, em resumo, quais seriam os objetivos da educação ou as finalidades legais da educação contidas nos documentos oficiais. Mas a realidade do texto legal não corresponde a realidade das nossas escolas. Uma análise, por mais superficial que seja, não pode fugir a uma constatação de imediato. O professor e as escolas de um modo geral, ainda não colocaram o aluno no centro de seus interesses, procurando de forma compatível com aquelas finalidades, atender as verdadeiras necessidades da adolescência e do ser humano. Nossas escolas oscilam entre dois campos gravitacionais (e os professores devem, ou é aconselhável, seguir essa orientação): o conteúdo e o documento. Umas vivem em função do conteúdo; é necessário "dar a matéria", "cumprir o programa", mesmo que os alunos não os acompanhem.....nestas os índices de reprovação são elevados, o que se constitui num título de glória e qualificação do estabelecimento.......Outras, talvez a maioria, vivem em função do documento. È preciso ter documentos para arquivar ou apresentar á inspeção. A realidade e o valor do que consta no documento é de segunda importância. Cumprido os dias letivos, o número de disciplinas de cada série, provas realizadas, certidões anotadas, pagamentos em dia...tudo foi perfeito. Para o aluno essa escola dá uma lição imediata -

a questão é estar documentado e, para ele, documento é "nota de aprovação". Tudo então se resume na campanha para obtenção da nota de aprovação, isso com aplausos docente, familiar e social....Algumas escolas "inovam inteligentemente" (sic) chamando a nota de "conceito". Há até as que inventaram um processo de tirar média de conceitos! E o pior que para se chegar a essas "brilhantes" conclusões, vem aí "reuniões pedagógicas" eivadas de "nobres", "brilhantes" e "maravilhosas" opiniões e conclusões....pérolas da intelectualidade pedagógica. O que é necessário é uma mobilização ou conscientização do docente para o seu papel de educador e não de instrutor de conteúdo. É necessário que reflitam sua vivência para que possam atender as reais necessidades da sua clientela, ou seja, do adolescente. Quais seriam essas necessidades? Seriam elas hoje idênticas às de gerações passadas? Podemos apontar algumas: A aceitação social. Os adolescentes precisam encontrar maior aceitação social; tem permanente preocupação de evitar as acusações dos maiores. Até que ponto são eles os responsáveis pelos fatos em que se envolvem; O pertencer a um grupo: fazer parte de um grupo é uma necessidade imperiosa. Mas como ser aceito pelo grupo? As atividades escolares precisam cuidar atentamente disso; preparar o aluno para que ele saiba escolher e participar ativa e construtivamente nos seus grupos de trabalho e lazer; A afeição: os adolescentes na instabilidade biopsicológica que os caracteriza, necessitam freqüentemente de afeição. O tratamento distante e padronizado provoca acúmulo de descontentamento e juízos deformados. Tal fato ocorre na família também, provocando as demonstrações aparentemente ridículas de adolescentes que procuram aparentar o oposto, isto é, de que são auto-suficientes e não precisam da simpatia e amizade de parentes e professores. A escola dentro daquelas finalidades não pode alhear-se ao problema; A responsabilidade. Os adolescentes gostam de assumir responsabilidades e serem considerados responsáveis. A escola que dá "matéria" e "notas" para cada classe não toma conhecimento de cada aluno. Mesmo quando exige uma responsabilidade dos alunos, ela não se apresenta na forma compatível com a necessidade dos adolescentes; é responsabilidade imposta, não aceita. Outras necessidades poderão ser facilmente levantadas por uma escola que tenha o espírito de pesquisa. Associando as finalidades da educação com o atendimento das necessidades da adolescência através do emprego de disciplinas e práticas educativas no seu exato sentido, as escolas tem elementos para realizar excelente ação educativa. Mas vamos procurar os educadores. Onde poderiam estar? Encontramos professores,muitos..... mas professor é profissão, não é algo que se define por dentro, por amor. Educador, ao contrário, não é profissão; é vocação. E toda vocação nasce de um grande amor, de uma grande esperança... ...que terá acontecido com ele, o educador... resta-lhe algum espaço? Será que alguém lhe concede a palavra e

lhe dá ouvidos? Merecerá sobreviver? Tem alguma função social ou econômica a desempenhar? ...pode ser que educadores sejam confundidos com professores, da mesma forma como se pode dizer: jequitibá e eucaliptos, não é tudo árvore , madeira? No final, não dá tudo no mesmo? Não, não dá tudo no mesmo, porque cada árvore é a revelação de um "habitat", cada uma delas tem cidadania num mundo específico...há árvores que tem personalidade...diferente de todas, que sentiu coisas que ninguém mais sentiu...... Os educadores são como as velhas árvores. Possuem uma face, um nome, uma "estória" a ser contada. Habitam um mundo em o que vale é a relação que os ligam aos alunos, sendo que cada aluno é uma "entidade" "sui generis", portador de um nome, também de uma "estória", sofrendo tristezas e alimentando esperanças. E a educação é algo para acontecer neste espaço invisível e denso, que se estabelece a dois...(Rubem Alves) Mas os professores são habitantes de um mundo diferente, onde o "educador" pouco importa, pois o que interessa é um "crédito" cultural que o aluno adquire numa disciplina identificada por uma sigla, sendo que, para fins institucionais, nenhuma diferença faz aquele que a ministra. Por isso mesmo, professores são "entidades" descartáveis, da mesma forma como há canetas descartáveis, etc, etc... O educador constrói, habita um mundo em que a interioridade faz uma diferença, em que as pessoas se definem por suas visões, paixões, esperanças e horizontes utópicos. O professor ao contrário, é funcionário de um mundo dominado pelo Estado e pelas empresas. É uma entidade gerenciada, administrada segundo a sua excelência funcional, excelência essa que é sempre julgada á partir dos interesses do sistema. Freqüentemente o educador é mau funcionário, porque o ritmo do mundo do educador não segue o ritmo do mundo da instituição. A educação ocorre colada ao imprevisível de uma experiência de vida não gerenciada. Para ser gerenciada a vida precisa ser racionalizada. É no espaço institucional entre a razão e a paixão que surge esta entidade contraditória - o professor - que recebe um salário, CIC, RG e outros números, adquire direitos, soma qüinqüênios, escreve relatórios, assina listas de presença e quantifica os estudantes. De educadores para professores realizamos o salto de pessoa para funções.(Rubem Alves)

Administração e participação: 

reflexões para a educação Fernando C. Prestes Motta Universidade de São Paulo

Resumo

Este artigo trata dos conceitos de participação conflitual, par­ ticipação funcional, participação administrativa, co­gestão e autogestão, discutindo a noção e o papel da educação participativa na construção de uma nova sociedade. Palavras­chave

Administração  Participação  Co­gestão  Auto­gestão  Educação. Do ponto de vista meramente descriti­ vo, administrar é planejar, organizar, coordenar, comandar e controlar. Essa definição, que data dos primórdios da teoria organizacional, continua absoluta­ mente correta, mesmo considerando­se todos os avanços que esse campo do conhecimento experimentou durante o século XX. Entretanto, nem sempre se atenta para o fato de que se administrar é planejar, organi­ zar, coordenar, comandar e controlar; ser admi­ nistrado significa ser planejado, organizado, comandado e controlado. Também não se aten­ ta para o fato de que quem administra é uma minoria, enquanto que a maioria absoluta da população é administrada. O que observei serve apenas para indicar que a administração possui também um significa­ do político freqüentemente negligenciado. Do ponto de vista político, administrar significa exer­ cer um poder delegado. Com isso quero chamar a atenção para o fato de que se administra em nome daque­ les que dispõem dos meios de administração, isto é, que dispõem de poder econômico ou político, ou em nome próprio. Isso só ocorre quando os próprios administradores detêm o poder econômico e po­ lítico, o que parece ser seu projeto, mas que ain­ da não corresponde totalmente aos contextos sociais dos países ditos capitalistas. Evidente­ mente, só se exerce poder sobre alguém, sobre algum grupo, ou sobre uma coletividade. Isso quer dizer que se exerce um poder delegado pela elite econômica e política sobre aqueles que não detêm poder algum ou, na melhor das hipóteses, dispõem de pouco poder real.

Por poder entendo a posse de recursos que permite direcionar o comportamento do outro ou dos outros em determinada direção almejada por quem a detém. Há muitas formas de se exercer poder. Pode­se impor, pode­se coagir pode­se corromper, pode­se persuadir, pode­se seduzir, pode­se manipular. Em muitas situações todas essas possibilidades podem entrar no jogo do poder e nem sempre é fácil discernir uma modalidade da outra. As várias modalidades de exercício do poder permeiam as relações sociais. Não vejo a possibilidade de qualquer relação social na qual pelo menos uma modalidade de exercício do poder não acabe ocorrendo.

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Há, entretanto, o caso do poder exer­ cido por um conjunto de administradores pro­ fissionais que se estruturam hierarquicamente e que, em nome da racionalidade e do conheci­ mento, planejam, organizam, coordenam, co­ mandam e controlam, por uma relação de mando e subordinação, uma determinada cole­ tividade. A isto, inspirado em Max Weber, cha­ mo dominação. 1

A primeira indagação que me ocorre refere­se à questão da racionalidade. Quer me parecer que a racionalidade a que geralmente se refere quando se fala de administração é apenas um tipo de racionalidade, a saber, a racionalidade instrumental, aquela vinculada à adequação mais eficiente entre meios e fins. Isso significa que geralmente se deixa de lado a racionalidade com relação a valores, isto é, os modos de pensar que orientam ações liga­ das ao que se percebe como desejável, adequado e inadequado, justo e injusto, e assim por diante. Ocorre também que a própria ação afetiva entre seres humanos não se baseia numa irracionalidade, mas num determinado modo de pensar. Entretanto, não é dessas últi­ mas formas que vive a administração. Outro ponto refere­se ao conhecimen­ to como base para o exercício do poder. É

importante ressaltar que há questões adminis­ trativas que exigem conhecimento especializa­ do, enquanto outras exigem apenas conheci­ mento comum. O problema, entretanto, está em saber se o conhecimento especializado pode ser le­ gitimamente suficiente para a dominação. A questão só se toma relevante na medi­ da em que se vive num mundo cada vez mais administrado, isto é, num mundo onde predomi­ nam as grandes organizações como o Estado, as grandes empresas, etc. A dominação mediante organização é inseparável da opressão, na medi­ da em que se retira do dominado a faculdade de pensar e decidir sobre o que faz, pelo menos em determinadas esferas da vida, como o trabalho. Também é inseparável da opressão na medida em que implica uma administração do tempo, contrária a qualquer noção conhecida de liberdade, bem como em uma organização geral­ mente rígida do espaço, além da utilização regular de sanções disciplinares e da regulação das rela­ ções sociais em benefício da produtividade. Opressão não é necessariamente sinôni­ mo de exploração. A primeira categoria é polí­ tica, enquanto a segunda é econômica. Mesmo que os administrados não estejam sendo explo­ rados, ainda assim podem estar sendo oprimidos. Se a administração nos moldes em que a conhecemos parece, em sentido absoluto, não poder perder o aspecto coercivo que lhe é próprio, certamente pode ter esse aspecto minimizado. Uma das formas de minimizar o aspecto coercivo da administração é a partici­ pação. Falo evidentemente de participação autêntica e não de modalidades de manipula­ ção camufladas sob este rótulo. Evidentemente, participar não significa assumir um poder, mas participar de um poder, o que desde logo exclui qualquer alteração radical na estrutura de poder. Ainda, freqüen­ temente é difícil avaliar até que ponto as pes­ soas efetivamente participam na tomada e na implementação das decisões que dizem respeito à coletividade e até que ponto são manipula­ das. Uma observação mesmo superficial de

algumas experiências participativas revela que os dois aspectos não são excludentes, isto é, que é perfeitamente possível que a co­ letividade influa sobre o poder, ao mesmo tempo em que este procura cooptá­la para seus objetivos. Todavia, a preocupação com a participa­ ção é algo que decorre de valores democráticos, isto é, da idéia de que a sociedade ou as cole­ tividades menores como a empresa ou a escola são pluralistas, constituindo­se num sistema de pessoas e grupos heterogêneos, e que, por isto mesmo, precisam ter seus interesses, suas von­ tades e seus valores levados em conta.

1. WEBER, Max. Economia y Sociedad. México, Fundo de Cultura Econô­ mica, Tomo II. 1975.

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Participar não implica necessariamente que todas as pessoas ou grupos opinem sobre todas as matérias, mas implica necessariamen­ te algum mecanismo de influência sobre o poder. Para participar é necessário algum co­ nhecimento e certas habilidades políticas. Isso varia conforme a amplitude da participação e a natureza das matérias em que se participa. Boa parte desses conhecimentos e ha­ bilidades são entretanto fruto da própria expe­ riência, o que significa que não se pode espe­ rar que só se inicie a participação quando es­ ses requisitos estiverem preenchidos. Evidentemente, uma educação parti­ cipativa favorece a aquisição de habilidades de valor na participação na administração na idade adulta. Participar também implica um desejo. Pes­ soas educadas em contextos muito autoritários podem simplesmente preferir não participar. Esse aspecto parece essencial, visto que a participação implica um alto grau de envolvimento e, com fre­ qüência, o envolvimento implica desgaste emoci­ onal ou mesmo físico. 2

A participação imposta, isto é, os for­ matos participativos criados pela própria admi­ nistração e voltados para a maior eficiência da organização, para a melhoria dos canais de comunicação e de nível de satisfação não são

necessariamente indesejáveis. O problema que se coloca para a par­ ticipação imposta é que ela abre uma oportu­ nidade, mas não um leque de possibilidades, a ser explorada pela própria coletividade. Ela, até mesmo, com freqüência, ignora se a participa­ ção é um desejo efetivo de comunidade. Entre­ tanto, o que a preocupação com a participação e os movimentos participacionistas revelam é que esse desejo vem se ampliando na maioria dos países, desde aqueles de tradição democrá­ tica mais forte até aqueles de tradição mais autoritária. Há formatos participativos em países capitalistas avançados como os Estados Unidos, a França, a Alemanha, a Grã­Bretanha, em paí­ ses que se dizem socialistas como os do Leste europeu e em países subdesenvolvidos como o Brasil. É certo que varia muito a natureza des­ ses formatos e seus resultados, de contexto para contexto, mas também é certo que dia a dia ampliam­se as experiências participativas seja em nível de Estado, seja em outros níveis, como os da escola e da empresa. Historicamente, os movimentos parti­ cipacionistas surgem com a situação de explora­ ção e de opressão na empresa que a aplicação do taylorismo, primeira teoria administrativa, tornou transparente. O taylorismo implicou a destruição dos restos de oficio que o trabalho conservava. Separou concepção de execução, introduziu tem­ pos e movimentos rígidos e, seguido do fordismo, organizou rigidamente o espaço. Chama­se participação conflitual aquela que se desenvolveu como oposição ao taylorismo. Baseia­se no processo de negociação coletiva entre patronato e sindicato de trabalhadores. Essa forma de participação vigora na maior parte dos países ocidentais, mas seus resultados nem sem­ pre têm se mostrado suficientes. Entre outros problemas, a negociação coletiva exclui a maioria dos trabalhadores e é regressiva, visto que supõe que as cúpulas sin­ dicais falem pelos trabalhadores. Isso tem leva­ do os trabalhadores a procurar outras formas um pouco mais autônomas de participação. Chama­se participação funcional a prá­

tica de reuniões periódicas entre patrões e tra­ balhadores, entre administradores, funcionários e trabalhadores, entre unidades organizacionais e entre níveis hierárquicos em geral. Essas reu­ niões servem de ocasião para o debate, para a consulta e a informaçãao. Participação administrativa é um tipo especial de participação, que se organiza por representação. Há, neste caso, a formação de comissões de trabalhadores, ou de trabalhado­ res e funcionários ou ainda de comissões que reúnem administradores e trabalhadores, ou administradores, funcionários e trabalhadores.

2. SILVA, Jorge F. da, Planejamento e Administração Participativos em Educação. Conferência. 4. Rio de Janeiro, Instituto de Estudos Avançados em Educação, Fundação Getúlio Vargas. Mimeografado.

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Fernando C. P. MOTTA. Administração e participação...

Essas comissões são muito semelhantes a algumas experiências no plano da administra­ ção da educação, especialmente em termos de universidade, no que se refere a órgãos de re­ presentação discente, ou a órgãos colegiados que reúnem representantes tanto do corpo docente quanto do corpo discente. Co­gestão é uma forma avançada de par­ ticipação administrativa que implica co­decisão em determinadas matérias e direito de consulta em outras. Ela pode ser paritária ou não. Na Alema­ nha Ocidental, onde existe este sistema por força de lei, ela é paritária em dois setores in­ dustriais e não paritária nos demais. Entretanto, a maioria absoluta de expe­ rimentos participativos é caracterizada pela na­ tureza consultiva dos órgãos de representação e não por uma natureza deliberativa e normativa. 3

Autogestão não é participação. Por autogestão se entende um sistema no qual a co­ letividade se auto­administra. Portanto, não se trata de participar de um poder, mas sim de ter um poder. Há experiências autogestionárias his­ tóricas como a da Comuna de Paris, o movi­ mento machnovista na Ucrânia em 1917 e boa parte da Espanha entre 1936 e 1939. Há tam­ bém o caso da Iugoslávia, que se proclama autogestionária, mas cujo caráter autogestionário

é pelo menos discutível. Há ainda movimentos pela autogestão importantes como o Solidarie­ dade na Polônia e experiências setoriais de autogestão em empresas e escolas. No caso particular das escolas é preci­ so distinguir autogestão pedagógica de auto­ gestão institucional. Enquanto a primeira se refere à dinâmica do trabalho pedagógico, a segunda se refere à administração do estabele­ cimento de ensino. Nem sempre a participação visa a auto­gestão. Da mesma forma, é discutível se a favorece ou a dificulta. Segundo querem al­ guns estudiosos de algumas filiações ideoló­ gicas, ela é um caminho; segundo outros, é mais um descaminho. Um último ponto a ser considerado é que a participação não precisa necessariamen­ te se restringir ao nível das instituições. Tam­ bém se fala de participação para se referir a movimentos sociais autônomos de trabalhado­ res e de outros grupos que procuram afirmar seus direitos na sociedade. Também caberia aqui perguntar sobre o papel desse movimen­ to na construção de uma sociedade ao mesmo tempo igualitária e pluralista. A eventual construção de uma sociedade autogestionária passa inquestionavelmente pela questão da educação politécnica e polivalente, pela aprendizagem não­autoritária. Por aprendizagem não­autoritária enten­ do aquele que impede a internalização dos me­ canismos de submissão e conformidade. A aprendizagem para uma nova sociedade precisa centrar­se na erradicação da angústia, do medo, da culpa e da dependência. A aprendizagem não­autoritária fomenta o apoio mútuo; não trata, como salienta o “Sindicato de Enseñanza” da CNT espanhola, a criança como um adulto imperfeito na qual o adulto completo precisa colocar aquilo que julga faltar. Nessa concepção, aprender torna­se uma prática contínua de ação direta, na qual a experiência torna­se a meta ao mesmo tem­ po em que não é reminiscência, mas prática continuada. Num processo desse tipo, o que se pode

esperar é que a criança aprenda a ser livre, sa­ bendo respeitar e se fazendo respeitar, que aprenda a pensar com autonomia, a ser sincera, a ser capaz de amar e ser amada, que possa lutar pela promoção da pessoa humana, que possa criar uma consciência crítica e autocrítica, que saiba se expressar e ser justa, que venha a possuir uma cultura verdadeira. Esses objetivos singelos parecem­me verdadeiros e traduzem em sua pureza o dile­ ma da educação: reprodução e criação. A nova sociedade depende dessa pureza, que não pode e nem deve ser confundida com ingenuidade. Naturalmente os obstáculos são vários, mas não

3. MOTTA, Fernando C. P. Participação e co­gestão: novas formas de administração. 29 ed. (s.n.). São Paulo, 1984.

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se constrói nada a não ser enfrentando e supe­ rando obstáculos. A nova sociedade pressupõe ainda o aprendizado da ação política, da utilização da vontade da criação de uma disponibilidade para ajudar e ser ajudada, bem como da capacidade de fruir coletiva e igualitariamente a vida. Isto tudo, entretanto, só se pode alcançar no contexto de uma sociedade anti­autoritária. Entendo aqui a expressão contexto anti­autoritário no sentido de uma sociedade que despreze e lute contra as forças opressivas e homogeneizadoras, que per­ ceba a força da singularidade no igualitário. Certamente, o respeito à singularidade não pode excluir a solidariedade e ajuda mútua, que precisam nortear as relações entre indiví­ duos e grupo, e precisam excluir a emulação competitiva, o domínio e a dependência, o preço de cada um no mercado e a subserviên­ cia a objetivos gerais abstratos. 4

Em termos mais radicais, uma atitude desse tipo implica o fim da criação e transmissão da cultura separada da vida, traço fundamental da educação mera­ mente voltada para a reprodução da exploração e da opressão. Evidentemente, a grandeza da tarefa, pode desestimular os muito ávidos, que não percebem a natureza processual e lenta da

verdadeira transformação. O passo inicial parece estar em uma mudança de atitude, e isso se refere a todos os participantes diretos e indiretos das unidades e sistemas escolares. Com isso quero frisar que as mudanças na educação são um assunto de todos. Constituem um tema que se refere a educadores e educandos e, de uma forma mais geral, educadores e educandos são, simulta­ neamente, todos os membros de uma socieda­ de. Por essa razão a comunidade não pode deixar de participar, a menos que, suicidamente, ela opte pela não educação, pela estagnação, pela repetição, pelo retrocesso. No âmbito da escola, a participação constitui tema de estudantes, professores, ad­ ministradores, supervisores, orientadores e fun­ cionários. Aos administradores educacionais, cabe especialmente o desafio não pequeno de descobrir e delinear formatos organizacionais que, adequados a contextos específicos, asse­ gurem a educação participativa voltada para a construção de uma sociedade verdadeiramente igualitária, não apenas em termos econômicos, mas em termos de distribuição do poder.

4. CORTEZ, Francisco F. Orellana: la assambIea em la escuela. Bilbao, Zerozyx, 1978.

Tecnologia da Informação a serviço da educação superior no Brasil Novos horizontes se abrem para o atendimento da demanda existente em cursos de graduação no país através do uso da tecnologia: Educação a Distância (EAD), que é a modalidade educacional na qual a mediação didáticopedagógica nos processos de ensino e aprendizagem ocorre com a utilização de meios e tecnologias, com estudantes e professores desenvolvendo atividades em lugares ou tempos diversos. Há vários cursos de pós-graduação (lato sensu) oferecidos na modalidade de EAD e uma centena de instituições credenciadas para ministrar cursos de graduação a distância. De acordo com o censo do Inep de 2005, há 189 cursos de graduação utilizando EAD com 114.642 matrículas, representando 2,5% do total de matrículas nos cursos de graduação no país. Pela legislação, as avaliações, o uso de laboratórios, estágios e defesas de trabalhos de conclusão de cursos devem ser presenciais. Há também, muitos cursos de graduação semi-presenciais, através dos quais os alunos têm 20% da carga horária desenvolvida através de EAD. As vantagens da EAD são inúmeras, tanto que muitas empresas utilizam esta modalidade (e-learning) para realizar treinamento de seus funcionários, permitindo agilidade no processo de capacitação profissional e redução de custos, pois não há necessidade de locomoção de instrutores e treinandos. Os funcionários podem realizar seus cursos, de acordo com sua velocidade de aprendizagem ou em função de sua disponibilidade. Ainda há obstáculos a serem superados na EAD, a começar pelas políticas públicas que devem impedir a expansão quantitativa e descontrolada de cursos, eliminando qualquer possibilidade de transformação desta modalidade de ensino em business, impedindo que organizações com pouco ou nenhum compromisso com a qualidade da educação no país atuem neste segmento. A EAD traz para o aluno inúmeras vantagens em seu dia-a-dia. Os custos e as dificuldades de transportes e o tempo despendido na locomoção até a instituição de ensino são praticamente eliminados. Para os estudantes do período

noturno, em geral estudantes-trabalhadores, há também a redução nos riscos associados à segurança pessoal. Há outra dimensão para ser analisada: a sala de aula, pois é o espaço para a interação entre professor-aluno, aluno-aluno, discussões de novas situações propostas e troca de experiências. A vivência em outras áreas físicas da instituição, como: bibliotecas, espaços de convivência, laboratórios e outros, não pode ser negligenciada. Os conteúdos e o sistema de avaliação são outros elementos fundamentais. Os materiais de aula, exercícios, testes e de estímulo à realização de pesquisas devem ser criteriosamente desenvolvidos por professores especializados e com sólida experiência na prática pedagógica, com o apoio de profissionais da área de tecnologia da informação. Estes materiais podem ser contextualizados de acordo com aspectos locais, além de facilitar a integração entre as diversas disciplinas do curso. O sistema de avaliação deve ser contínuo e intensamente discutido com professores e elaboradores de políticas públicas. Infelizmente, quando se fala em avaliação, pensa-se quase que exclusivamente na realização de provas e exames com o intuito de se realizar a medição do aprendizado do estudante, a fim de promovê-lo ou não para o nível seguinte. A avaliação deve também servir para os professores como feedback de aprendizado, permitindo identificar as principais dificuldades dos alunos, subsidiando melhorias nos aspectos didáticos do professor e na estratégia de desenvolvimento de conteúdos. As ferramentas tecnológicas que surgem a cada dia têm muito a contribuir com a educação superior no país, com a qualidade de materiais e ferramentas para cursos de EAD (chats, jogos, simuladores, comunicadores instantâneos, e-mail, bibliotecas virtuais), porém, sempre deverá existir uma porção presencial nos cursos, pois é só através da interação e do convívio social é que se tem a efetiva troca de informações, experiências, vivências e sentimentos, e, de estímulo à pesquisa e à evolução do conhecimento humano. De acordo a Unesco (Relatório Delors), os quatro pilares da educação são: fazer com que o aluno aprenda a conhecer, aprenda a fazer, aprenda a conviver e aprenda a ser. Uma questão que se lança para a reflexão é se a EAD consegue endereçar estes quatro itens de forma ampla e realista.

emoção de ser professor Brasílio Neto Você está concorrendo com muita gente – Não parece, professor, mas você não é o dono de sua sala de aula. Primeiro que seus alunos têm muitas opções para aquelas aulas: video game, namorar, brincar. E, se são obrigados a comparecer à sala de aula, nada garante que a mente deles esteja lá, também. E, para trazê-los integralmente, para ajudá-los a se apaixonar pelo estudo, o caminho mais fácil é através da emoção. Algumas dicas para você: Misture – Assim como um circo apenas com palhaços não iria funcionar, é necessário ter de tudo um pouco em sua aula. Lembro de uma aula de História, onde um professor levou fotos do Sudário de Turim para a turma e narrou de forma impressionante a história e as polêmicas acerca do objeto. É uma das poucas aulas que me lembro. Da mesma forma, tenha espaço para fazê-los rir, e também para refletir. Prepare uma vasta gama de histórias e “causos” que agradem todas as emoções. Atenção ao fluxo – Nenhum circo irá colocar todos os números em que há risco de morte juntos. Primeiro, que a audiência não agüenta tanto suspense, ou abandona o recinto, ou “desliga”. Isso mesmo, desliga os sentimentos, em uma reação natural do corpo para preservar o cérebro e o coração e sobreviver. Isso faz com que os últimos números perigosos percam totalmente seu impacto. Em vez disso, vem um número perigoso, depois vêm os palhaços ou um balé, para relaxar o pessoal. Da mesma forma, nenhum circo termina sua função com o número de maior perigo – a intenção é terminar com algo que deixe as pessoas leves, felizes e com vontade de voltar. Da mesma forma, dose suas piadas e histórias. Não tenha medo das risadas – Poucas coisas são tão fortes, tão humanas como uma boa risada. E ter uma função que faça os outros rirem é uma das grandes missões que as pessoas têm nesse mundo. Por isso, não tenha medo de fazer seus alunos rirem de

vez em quando. Você não irá perder o respeito deles, muito pelo contrário. Professor “sério” e “competente” não são sinônimos. Use a emoção, use a risada e estimule-os a aprender.

É buscar dentro de cada um de nós forças para prosseguir, mesmo com toda pressão, toda tensão, toda falta de tempo... Esse é nosso exercício diário! Ser professor (a) é se alimentar do conhecimento e fazer de si mesmo (a) janela aberta para o outro. Ser professor (a) é formar gerações, propiciar o questionamento e abrir as portas do saber. Ser professor (a) é lutar pela transformação... É formar e transformar, através das letras, das artes, dos números... Ser professor (a) é conhecer os limites do outro. E, ainda assim, acreditar que ele seja capaz... Ser professor (a) é também reconhecer que todos os dias são feitos para aprender... Sempre um pouco mais... Ser professor (a) É saber que o sonho é possível... É sonhar com a sociedade melhor... Inclusiva... Onde todos possam ter acesso ao saber... Ser professor (a) é também reconhecer que somos,

acima de tudo, seres humanos, e que temos licença para   rir, chorar, esbravejar. Porque assim também ajudamos a pensar e construir o   mundo. Todos os dias do ano são seus, professor(a)! Parabéns!

Ser Professor (a) Fonte: Jornal AconteeCendo, nº. 22, Setembro de 2001

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• Presidente: Célia Regina Ferrari • Diretor Responsável: Oswaldo de Oliveira Santos Jr. • Jornalista: Luciana Mastrorosa • Diagramação e ilustração: Israel Barbosa • Tiragem: 4000 exemplares • Gráfica: Diário Artes Gráficas A publicação não se responsabiliza por matérias assinadas e declarações de terceiros.

EXPEDIENTE O Professor ­ Boletim Informativo do SINPRO­ABC ­ Sindicato dos Professores do Grande ABC

“Sou professor a favor da decência contra o despudor, a favor da liberdade contra o autoritarismo, da autoridade contra a licenciosidade, da democracia contra a ditadura de direita ou de esquerda. Sou professor a favor da luta constante contra qualquer forma de discriminação, contra a dominação econômica dos indivíduos ou das classes sociais. Sou professor contra a ordem capitalista vigente que inventou esta aberração: a miséria na fartura. Sou professor a favor da esperança que me anima apesar de tudo. Sou professor contra o desengano que me consome e imobiliza. Sou professor a favor da boniteza de minha própria prática, boniteza que dela some se não cuido do saber que devo ensinar, se não brigo por este saber, se não luto pelas condições materiais necessárias sem as quais meu corpo descuidado, corre o risco de se amofinar e já não ser testemunho que deve ser de lutador pertinaz, que cansa mas não desiste”. Paulo Freire, mestre de todos nós.

Homenagem ao professor(a) Certa lenda conta que duas crianças estavam patinando em cima de um lago congelado. Era uma tarde nublada, fria e as crianças brincavam sem preocupação. De repente, o gelo se quebrou e uma das crianças caiu na água. A outra criança, vendo que seu amiguinho se afogava debaixo do gelo, pegou uma pedra e começou a golpear o gelo. Quando os bombeiros chegaram e viram o que havia acontecido, perguntaram ao menino: ­ Como você fez isso? É impossível que você tenha quebrado o gelo com essa pedra em suas mãos tão pequenas! Nesse instante, apareceu um ancião e disse: ­ Eu sei como ele conseguiu. Todos perguntaram: ­ Como?! O ancião respondeu: ­ Não havia ninguém ao seu redor para lhe dizer que não poderia fazer! 1

É isto que ocorre na escola ou fora dela, muitas vezes. Pessoas nos dizendo que isto ou aquilo não é possível! Um colega dizendo que este ou aquele aluno não consegue aprender! Nós, como professores, estamos o tempo todo pensando em como encorajar nossos alunos em suas descobertas, em seu autoconhecimento. Nos preocupamos em tornar nossas aulas atraentes, estimulantes e agradáveis. Procuramos auxiliar jovens e crianças a avançarem em seus desafios, a descobrirem quem são e do que são capazes. Nos aventuramos com nossos alunos. Precisamos sempre dar prioridade ao que o aluno aprende e não ao que queremos ensinar. Acariciar e preservar o espírito de cada um, pois, mesmo não sendo o mais inteligente da classe, com certeza resplandecerá com elogios e estímulos ao invés de murchar com descrédito e humilhação. É fundamental que tenhamos consciência de que somos modelo de valores e padrões que o aluno imitará ou rejeitará; levará na lembrança para a vida toda ou esquecerá. Esta é a parte profissional que nos toca. No entanto, temos nossa vida pessoal e todas as obrigações. Contudo, assim como na lenda acima citada, não podemos deixar que nos digam o que podemos ou não fazer. Quando desejamos atingir um objetivo, nada

e nem ninguém pode nos impedir. Muitas vezes, nos deixamos abater pelas cobranças do dia­a­dia, por uma discussão com um colega de trabalho, por um mal­entendido com um pai de aluno, por uma atividade sem sucesso, por um problema familiar, pelas relações pessoais, de um modo geral, nem sempre muito fáceis. No entanto, “a força de ser pessoa significa a capacidade de acolher a vida assim como ela é (...). A força de ser pessoa traduz a capacidade de conviver, de crescer e de humanizar­se com estas dimensões de vida(...)” 2

Assim, podemos enfrentar as situações do cotidiano com uma atitude saudável, agindo de forma a contribuir para a transformação de nossa sociedade, para que os alunos com quem trabalhamos sejam cidadãos preocupados com a transformação deste mundo, conscientes das desigualdades sociais e dispostos a trabalhar para a eliminação disto tudo, e não simplesmente pensar que ‘não temos nada com isso’, tomando uma atitude passiva perante as mazelas que acontecem todos os dias bem diante de nossos olhos. Mais uma vez, não podemos permitir que nos digam: ­Isto não é possível! Lutemos! Acreditando em nossas capacidades, na certeza de que “um outro mundo é possível”. Profª. Denise Fernandes Pereira 1

Manoela Vitorino 2

Boff, L. Saber Cuidar: ética do humano – compaixão pela terra. Editora Vozes, 1999.

Ser Professor e Professora é acreditar que um outro mundo é possível “(...) Valeu a pena? Tudo vale a pena Se a alma não é pequena. Quem quer passar além do Bojador Tem que passar além da dor. Deus ao mar o perigo e o abismo deu, Mas nele é que espelhou o céu”. (Fernando Pessoa) Duas garotinhas de dez anos de idade

conversam sobre o que querem ser na vida. A primeira, orgulhosa, nem pensa duas vezes: “quero ser médica!”. A segunda diz “e eu quero ser professora”. “Professora? Só isso?”, retrucou a menina, com uma certa arrogância. A amiga nem se abalou: “E você acha que vai se tornar médica como? Tendo aulas com um monte de professores, oras!” Esse diálogo simples, que se repete entre milhares de crianças todos os dias, revela aquilo que estamos acostumados a sentir na própria pele: o descaso com o ofício de professor, que hoje possui uma imagem desgastada em virtude de todas as transformações que a educação sofreu em nosso país. Mas, como afirmou a menina, não há jornalista, advogado, médico ou outro doutor que não tenha, algum dia, freqüentado salas de aula, dividindo diariamente suas experiências com os mestres que nos ensinam não só matemática, física, química, como nos ensinam sobre a própria vida. Os salários são baixos, as condições de ensino são, hoje, muitas vezes precárias, mas a maior virtude do mestre está em ensinar. Em conduzir crianças, adolescentes, adultos, a algum rumo na vida. É possível que não nos recordemos de todos os professores com quem tivemos contato nesta vida, mas sem dúvida nos lembramos de algum mestre em especial. A primeira professora costuma ser sempre inesquecível, assim como aquele mestre na faculdade que nos ajudou a tomar um rumo mais acertado na profissão. Apesar de todos os percalços, de todas as dificuldades, é nos mestres em quem confiamos. Mestres que não abandonam seus caminhos, por mais difíceis que sejam, mantendo vivo o compromisso de educar. Como dizia Fernando Pessoa, “tudo vale a pena, se a alma não é pequena”. Aos professores de almas enormes, aqui vai o nosso muito obrigado por nos ensinar a viver. Feliz Dia dos Professores! Diretoria do SINPRO­ABC

Tudo vale a pena, quando a vocação é grande Page 3 Pág. 03

Todos sabemos que as condições de ensino, hoje em dia, estão cada vez mais complexas e, muitas vezes, piores. No entanto, muitos professores persistem no caminho da educação, acreditando e lutando por melhores condições de ensino. Um exemplo dessa luta é o da professora Maria Lúcia Micali Cantu, atualmente professora aposentada, que sempre militou pelas causas sociais. Maria Lúcia, 55 anos de vida e 35 de profissão, é uma apaixonada pela educação. Como ela mesma se define, é uma “dinossaura” do ensino, pois acompanhou as diversas mudanças que acompanharam a educação nos últimos trinta anos. Depois de trabalhar a vida toda em São Paulo, atualmente Maria Lúcia dedica­se também a ensinar História, uma de suas grandes paixões, voluntariamente no cursinho da Soab ­ Sociedade Amigos de Boiçucanga ­ , no litoral paulista, tentando auxiliar alunos de escolas públicas que desejam se preparar para o vestibular, mas não podem pagar. Com sua experiência de 35 anos de profissão, Maria Lúcia discute o que considera alguns pontos cruciais da educação hoje em dia.

Questão salarial

“Acredito que os salários ruins são a principal questão a ser levantada para que uma escola pública ou privada mantenha bons profissionais. O valor hora­aula, infelizmente, não corresponde mais às necessidades básicas do profissional”, afirma a professora. “Conciliar sobrevivência de qualidade, moradia, comida saudável, lazer e saúde, com a necessidade de estar estudando constantemente é o grande dilema. Para que isso aconteça, o professor virou um ‘bóia­ fria’. Todo ano corre atrás das aulas fechando seu bloco em várias escolas para conseguir sua

Receita de professor:   criatividade,

persistência e amor pela   profissão sobrevivência básica, nem sempre com a qualidade desejada. Em virtude disso, seu aperfeiçoamento profissional fundamental não acontece, a não ser que a própria instituição se encarregue disso. Como o professor tem de dar conta de muitas escolas com um número elevado de alunos, normalmente segue apostilas ou livros didáticos, tornando­se um executor de tarefas e não aquele que conduz e motiva o aluno para reorganizar conhecimentos adquiridos e transformados cientificamente”, completa Maria Lúcia.

Profissão Feminina

É inegável que, até hoje, o magistério seja uma profissão onde a presença feminina é maioria. Isso ocorre, sobretudo, porque dar aulas um dia já foi um diferencial social, sobretudo para a mulher. Na década de 1950, quando a inserção feminina no mercado de trabalho ainda era considerada um mito, lecionar era a saída para as mulheres que desejavam se dedicar a outras atividades, sem precisar abandonar o lar e os filhos. Era possível trabalhar somente meio período, recebendo um salário razoável, e ainda ter tempo para cuidar da vida. “Eu sou da década de 1960”, afirma Maria Lúcia. “Nessa época, o costume era educar as meninas para serem boas mães e donas de casa, e os meninos para se tornarem homens de negócios. Portanto eu acabei seguindo o mesmo destino de tantas outras meninas. Como professora, poderia me realizar num trabalho simples e ao mesmo tempo cuidar da família. Por incrível que pareça, na época, casar com uma professora era sinal de status, porque socialmente a profissão era respeitada e bem remunerada”, conta a professora. Esse quadro só começou a mudar, segundo Maria Lúcia, com a democratização do ensino na década de 1980. Foi justamente nessa época que, com as mudanças, o professor começou a perder seu status e seu poder aquisitivo, passando a trabalhar mais do que um período, com um salário menor. “Isso

tornou a profissão socialmente desprestigiada, afastando ainda mais os homens dessa profissão. Isso não significa que a democratização do ensino seja ruim. Acontece que há ausência de políticas educacionais, de políticas competentes para conciliar o profissional com um ensino de qualidade”, afirma. “Não podemos esquecer que toda classe trabalhadora perde gradativamente seu poder aquisitivo, não só o magistério que, sem dúvida, foi uma das categorias mais atingidas”, completou.

Ser professor hoje

“Com a nova LDB e a globalização, tudo está mudando. Ser professor hoje é escolher uma profissão pra lá de promissora, mas é preciso uma mudança radical do professor na sua maneira de encarar o ensino. Essa mudança deve começar com uma reflexão sobre sua prática no dia­a­dia para que o magistério seja encarado como profissão, e não como um simples ofício”, diz Maria Lúcia. A professora defende a idéia de que “ensinar é mais do que uma extensão do trabalho doméstico ou mera execução de tarefas”. A professora acredita que uma sociedade que quer ser igualitária e democrática “necessita de um professor que aprenda a discutir, argumentar e construir coletivamente o saber cientifico e o espaço escolar, superando os conflitos e convivendo com as diferenças”. “Hoje o professor não dá mais informação, os alunos chegam com elas! Cabe ao professor ajudar a selecioná­las e transformá­las em conhecimento cientifico, usando suas teorias na prática. Ele deve ‘aprender a aprender’ com os alunos e com toda a comunidade, que precisam participar da escola”, defende a professora. Apesar de todos os pesares, Maria Lúcia continua acreditando na profissão de educador, e afirma que, mesmo não tendo escolhido ser professora por vontade própria, “tornei­me professora por imposição do meu pai”, assim que entrou numa sala de aula, apaixonou­se. E não saiu mais. “Aprendi muito com a prática da educação”, afirma Maria Lúcia. “Adquiri experiência para lidar com os seres humanos; aprendi a ter tranqüilidade nas escolhas e decisões e, acima de tudo, ganhei sabedoria

para criar meus quatro filhos. Não tenho do que me queixar”. “Por isso, antes de escolher esta promissora profissão eu diria que os jovens precisam amar e gostar do ser humano, encarar o fato de dar aulas como uma profissão, ser competente, criativo e perseverante”, afirmou. Agora, a escolha é sua! (Por Luciana Mastrorosa)

“Hoje o professor não dá mais informação, os alunos chegam com elas! Cabe ao professor ajudar a selecioná­las e transformá­las em conhecimento cientifico, usando suas teorias na prática. Ele deve ‘aprender a aprender’ com os alunos e com toda a comunidade, que precisam participar da escola” Divulgação

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Tribunal Internacional dos Crimes do Latifúndio do Pará: um ato contra a impunidade A palavra texto significa tecido. Com efeito, o texto é um tecido composto de palavras que se reúnem em frases, períodos e parágrafos. Mas antes de assumir essa forma, o texto começa na mente de quem vai escrevê­lo. Aí é que reside o grande problema do ensino de “redação”: ensinam­se técnicas, macetes, dicas, truques, fórmulas pré­fabricadas de textos, esquemas, roteiros, etc., mas não se ensina a pensar. Tem sido comum, nas aulas de redação, a prática de sugerir aos alunos que escrevam sobre um assunto em relação ao qual, na maioria das vezes, não têm sequer afinidade ou aproximação com suas experiências de vida. A essa prática não se agrega um componente fundamental, que é o de levar os alunos a se debruçarem sobre a questão proposta, a discutirem a matéria, a questioná­la, a enxergá­la de diversas facetas. Em outras palavras, os alunos não são levados a pensar sobre o assunto; não se propõe uma discussão na qual possam externar o que pensam relativamente à questão. As aulas de redação têm sido momentos enfadonhos dos quais os alunos participam mais para se verem livres da tarefa do que para poderem ter a

oportunidade de exteriorizar suas opiniões; participam mais por questões de recebimento de nota do que por questões de assumir um compromisso intelectual. Pois o escrever é comprometer­se intelec­ tualmente; é assumir antes um compromisso com você mesmo, diante do que pensa sobre o assunto, sobre aquilo em que acredita, sobre aquilo que forma seu conjunto de valores e concepções de mundo. Escrever é conhecer­se; escrever, como dizia Clarice Lispector, é lembrar­se do que nunca existiu. Escrever, segundo Roland Barthes, é espantar­se. Espantamo­nos à medida que conhecemos sobre nós mesmos, sobre o que nos impulsiona, sobre o que nos mantém ligados à existência, etc.

Escrever é comprometer­se Sérgio Simka *

Mas nada disso parece merecer a atenção de nossos alunos e dos professores, mergulhados que se encontram num ensino de redação cujo foco consiste em distanciar cada vez mais os alunos de constituírem os sujeitos de seu próprio dizer, de seu próprio texto, que se assenta em experiências de vida, pessoal e intransferível. Daí o medo da folha em branco, dos bloqueios que costumam vir associados ao ato de escrever. Porque o escrever, na maior parte das vezes, esteve ligado a um ato que gerou mais frustração do que prazer, que causou mais traumas do que benefícios, que serviu mais para aferir a correção gramatical do que para aferir a capacidade de organização textual­discursiva, que sempre esteve associado mais a um dom que poucos têm do que a uma habilidade que todos podem adquirir. O escrever sempre gerou medo. Temos medo de escrever porque não sabemos pensar. Porque à proporção que o ensino nos levava a não pensar, o ensino nos levava a ter medo de escrever. E escrever, dentro dessa concepção, pressupunha conhecer as regras gramaticais, que o ensino também não nos ensinava. Somos um misto de sem­língua, sem­texto, sem­escrita, sem­pensamento com outra porção bem grande de com­medo, com­frustração, com­bloqueios. O resultado, como se vê, não é nada animador. Devemos mudar o foco de nossas aulas de redação, alterando as estratégias, que façam com que o medo de escrever se transforme no prazer de escrever. Quando há prazer, tudo fica mais fácil; é mais gostoso, você não vê a hora, você fica superbem, você fica de bem com a vida. Por que então não ficar de bem com o ato de escrever, conferindo­lhe prazer e não medo? * Sérgio Simka é professor universitário e autor de Ensino de Língua Portuguesa e Dominação:

por que não se aprende português? (Musa), entre outros. Seu site: www.sergiosimka.com .

O movimento social camponês realiza de 27 a 30 de outubro de 2003, em Belém, o Tribunal Internacional dos Crimes do Latifúndio do Pará, quinze anos depois da realização do Tribunal da Terra. A iniciativa ocorre para discutir a situação de violência e os conflitos agrários no Pará, que atingem proporções gigantescas, envergonhando o estado, que paira como o primeiro em violência no ranking nacional. Registros organizados pela Comissão Pastoral da Terra mostram que, nos últimos 30 anos, foram assassinados 726 camponeses no estado do Pará. De 1971 a 1985, observaram­se 340 assassinatos em decorrência de conflitos fundiários. De 1986 a 2002, foram vitimados 386 camponeses, demonstrando assim a persistência no tempo do padrão de violência existente no estado. De todos esses crimes, houve apenas 7 condenações, sendo três mandantes, Jerônimo Alves de Amorim, Edílson Laranjeiras e Vantuir de Paula; um intermediário, Francisco de Assis Ferreira; e três pistoleiros, Péricles Ribeiro Moreira, José Serafim e Ubiratan Ubirajara. O massacre de Eldorado do Carajás configura­ se como o caso mais emblemático de impunidade, onde 19 camponeses foram assassinados e depois de 7 anos nenhum dos policiais envolvidos foi para a cadeia, apesar de dois comandantes terem sido condenados. A impunidade, infelizmente, não tem recebido nenhuma atenção especial por parte do Poder Judiciário do Pará. Por isso, o Tribunal Internacional dos Crimes do Latifúndio quer julgar todos esses crimes contra camponeses e lideranças populares no estado, a partir da elucidação dos casos mais graves e emblemáticos, especialmente os ocorridos nos governos de FHC e Almir Gabriel. Participam deste evento entidades, personalidades nacionais e internacionais, ativistas e defensores dos direitos humanos. No último dia 29 de setembro realizou­se na sede do Semesp – Sindicato das Entidades Mantenedoras de Estabelecimentos de Ensino Superior no Estado de São Paulo – o segundo foro conciliatório entre o Sinpro ABC e o Instituto Metodista de Ensino Superior, visando à solução de conflitos trabalhistas. Após três horas de negociações, a Metodista

confirmou a devolução aos professores das cartas de renúncia aos reajustes salariais de setembro de 2003 e janeiro de 2004, de acordo com o que foi definido no foro anterior. A Metodista propôs, ainda,

Realizado segundo foro conciliatório com   a Metodista 85% de estabilidade para os professores, mas a proposta não foi aceita pelo Sinpro ABC, que defende 100% de estabilidade para o corpo docente. Ficou decidido também que o 13º salário dos professores será pago 50% em novembro, 25% em 20 de dezembro e 25% junto com o pagamento do salário de dezembro. O próximo foro está marcado para o dia 19 de janeiro de 2004, para discutir as reposições e perdas do período. A mobilização permanente dos professores é necessária para alcançar nossos objetivos. O Sinpro ABC permanece em negociação com a UNIABC na tentativa de solucionar os conflitos coletivos entre a mantenedora e os professores. Solicitamos aos professores que denunciem ao Sindicato todos os casos de

Foro conciliatório da UNIABC abuso e desrespeito à convenção coletiva. O professor que tiver dúvidas sobre o cálculo de suas férias deve procurar o Departamento Jurídico do Sinpro ABC para rever o cálculo.

Page 5 Pág. 05 Como conseqüência dos protestos ocorridos em todo o país, o MEC transferiu para o segundo semestre de 2004 a realização do Exame Nacional de Certificação para Professores. A mudança foi anunciada no dia 12 de setembro, em Brasília, durante o 1º Encontro Nacional do Sistema de Formação Continuada e Certificação dos Professores. No encontro, realizado pela Secretaria de Ensino Fundamental para definir as matrizes do exame, houve diversas manifestações contrárias à certificação, tal qual ocorrera na maior parte dos estados, em

agosto último. Das 27 reuniões estaduais realizadas para discutir as matrizes do exame, 14 resultaram em documentos contrários à iniciativa do MEC, em particular contra a forma de encaminhamento adotada. Destes, seis estados, inclusive São Paulo, se recusaram a discutir as matrizes. O encontro paulista ocorreu no dia 25 de agosto e contou com a participação da FEPESP, do SINPRO­SP e do SINPRO­ABC. No Encontro Nacional, os professores da rede privada estiveram representados pela CONTEE, pela FEPESP e pelo SINPRO­SP. Estiveram presentes cerca de 800 delegados, divididos em vinte e dois grupos de trabalhos, cujos relatórios deveriam ser apresentados, debatidos e votados em plenário, por todos os delegados. Para evitar que se repetisse em Brasília o que ocorrera nos encontros estaduais, os organizadores do seminário impediram que fossem levados a plenário os relatórios contrários ao exame de certificação, muitos dos quais exigiam a revogação da Portaria 1204, que instituiu a certificação. Houve ainda acusações de que os grupos de trabalho foram previamente organizados de maneira a isolar, num único local, todos os delegados contrários à iniciativa do MEC.

Gafes marcam a abertura do encontro

A cerimônia de abertura do Encontro Nacional foi palco de várias impropriedades. Dizendo­se “ministro dos professores”, Cristovam Buarque tentou justificar o exame de certificação comparando a categoria a “atletas que devem correr atrás de medalhas”. Cometeu também a deselegância de afirmar que os sindicatos, por serem entidades corporativas, não assumem a luta pela qualidade de ensino. Talvez para mostrar que a certificação era coisa de Primeiro Mundo, foi convidado a falar o adido cultural da Espanha, que se encarregou de explicar como o exame funcionava em seu país. Descobriu­ se, então, que, em comum, havia apenas a semelhança nos nomes. A “certificación” espanhola não é nem de longe

a versão tupiniquim inventada pelo MEC. Do outro lado do Atlântico, é apenas concurso para ingresso no serviço público. Uma vez aprovado, o professor não tem que se submeter a exames de cinco em cinco anos, como aqui. Lá, ele terá garantidas as condições para desenvolver a formação continuada, inclusive com licença para estudos. Depois de seis anos, poderá ainda candidatar­ se a um acréscimo salarial ­ uma espécie de aceleração no quadro de carreira ­ mediante os cursos que tenha realizado no período. Vale lembrar que o professor espanhol não deve trabalhar em duas, três ou mais escolas, nem precisa lecionar para mais de 600 alunos, como é freqüente no Brasil. O discurso do adido cultural espanhol, portanto, só faz reforçar as críticas à proposta do MEC. Fonte: FEPESP

MEC adia exame de  certificação para professores O Executivo enviou mensagem ao Congresso Nacional, pedindo a retirada do PL 43/02, que legaliza a contratação terceirizada. Na mensagem, o governo alerta para as graves conseqüências que o projeto trará aos trabalhadores, caso ele seja aprovado. A decisão final, contudo, cabe aos parlamentares, que deverão votar se aceitam ou não a retirada. Por isso, o Sinpro recomenda que os trabalhadores pressionem os parlamentares e partidos políticos e enviem mensagem, exigindo a aprovação da mensagem presidencial e a conseqüente retirada do projeto de lei. “Pretensamente com o mesmo propósito de mobilizar recursos políticos para colher vantagens econômicas, os Estados Unidos tomaram a iniciativa de integrar, sob seu comando, as economias do hemisfério Ocidental. No caso singular do Canadá, a integração dá continuidade a um processo histórico. Mas, na América Latina, e em particular no Brasil, esse plano de integração continental reveste­se de maior

gravidade. Com efeito entre iguais, o Brasil está firmando um compromisso entre desiguais, pois quem o lidera é a maior potência econômica, política e militar do mundo. É evidente a assimetria entre os futuros co­ signatários do projeto conhecido como Alca, que estabelece regras comuns para aspecto abrangente de atividades. Em outras palavras, o plano acarreta clara perda de soberania para o Brasil, que terá de renunciar a um projeto próprio de desenvolvimento, abdicar de uma política tecnológica independente e esfacelar o seu já fragilizado sistema industrial. Se o modelo de integração européia objetiva homogeneizar os padrões de desenvolvimentos de seus membros, permitindo a mobilidade da mão­ de­obra, a Alca, ao contrário, exclui toda a possibilidade de fluxos migratórios. E, mesmo que não excluísse, seria tão prejudicial para o nosso país que, parodiando às avessas o famoso escritor que fugiu do nazismo e veio se suicidar entre nós, poderíamos proclamar: o Brasil é um país sem futuro. Faço essas reflexões para enfatizar nossa responsabilidade coletiva na construção de um Brasil melhor. Resta­nos velar para que a chama criativa se mantenha acesa e ilumine as áreas mais nobres do espírito humano.” Rio de Janeiro, 13 de junho de 2003. Celso Furtado Fonte: Sindicato dos Economistas do Rio de Janeiro / Conselho Regional de Economia­RJ.

Governo retira projeto de lei sobre terceirização Fórum Social Brasileiro O I Fórum Social Brasileiro, que se realizará de 06 a 09 de novembro de 2003 em Belo Horizonte, Minas Gerais, foi convocado pelas organizações da sociedade civil, constituintes do Conselho Brasileiro, seguindo a Carta de Princípios do Fórum Social Mundial. Os eixos a serem abordados no Fórum Social Brasileiro serão discutidos através de conferências

propostas pelo Conselho Brasileiro e também em atividades auto­gestionadas que serão realizadas pelas redes e movimentos sociais: painéis, mesas de diálogo, testemunhos, oficinas, seminários, debates, convergências, assembléias e laboratórios organizados pelas entidades participantes.

Para onde vai o Brasil?

“`É evidente a assimetria entre os co­signatários do projeto conhecido como Alca” Page 6 Nascemos criativos, mas, à medida que crescemos, nossa criatividade vai sendo sufocada por adultos interessados em “manter tudo como está”, porque o novo, o diferente, ameaça aquilo que está estabelecido, perturbando a harmonia da acomodação. Acontece no lar, na escola e na sociedade. Mas aqueles que ousam perceber a riqueza e o potencial criativo das crianças, incentivando­as e promovendo­ lhes os meios de desenvolvê­lo, descobrem, fascinados a contribuição que elas têm a dar, para tornar tudo mais interessante, atraente e belo. O resultado tem sido surpreendente e inspirador. É isso que está sendo repartido com você, educador/a de educação religiosa, através deste Criativando. E por ser dinâmico e criativo, está em suas mãos criar também ao usar esta material, descobrindo novas formas de fazer.

Autores:

Prof. Luiz Carlos Ramos Profa.Neusa Cezar da Silva Prof. Oswaldo de Oliveira Santos Junior Profa.Telma Cezar da Silva Martins Contatos: (11) 4427­4908 ou (11) 4368­8087 (com Telma)

Criativando

Auxílio para Crianças O Sinpro­ABC promove nos dias 17,18 e 19 de outubro seu 5º Congresso. O tema deste ano é “Professor: Educador ou prestador de serviço? Educação não é mercadoria!”. O evento será realizado no Pampas Palace Hotel, em São Bernardo do Campo, e terá a seguinte programação:

Participe do 5º Congresso do   Sinpro­ABC 17 de outubro – Abertura – 19h00 Presença confirmada: Madalena Guasco Peixoto (PUC­SP) Julio Turra (CUT) Gilmar Mauro (MST) Dep. Ivan Valente (PT­SP) 18 de outubro – das 9h00 às 18h00 Presença confirmada: Roberto Romano (Unicamp) Carlos Rodrigues Brandão (Unicamp) Sérgio Haddad (PUC­SP) 19 de outubro – 9h00 às 12h00 Reforma estatutária

Educação não é mercadoria! As inscrições para o 5º Congresso do Sinpro­ABC podem ser feitas no telefone (11) 4994­0700 ou na sede da entidade . Já está pronta a Agenda do Professor 2004, com o tema “Terra”. Os professores(as) sócios receberão a agenda já nos próximos dias. Nossos representantes visitarão as escolas para fazer a entrega, mas se o professor desejar poderá retirar a agenda na sede do SINPRO­ABC. Sindicalize­se! Informações: (11) 4994­0700

Tome nota Agenda 2004 O Sindicato dos Professores do ABC

Paulista – Sinpro ABC – oferece aos professores e professoras o seu Caderno de Formação número 4 – Paulo Freire: um educador do Povo. Este caderno é entregue à categoria no momento do 5º Congresso do Sinpro ABC, quando se debate o papel dos educadores – Professor: educador ou prestador de serviço? Paulo Freire nos deixou a certeza e a confiança de que a educação é um instrumento de humanização e libertação da mulher e do homem que sofrem as agruras da opressão política, econômica e cultural. Ensinou que a educação é uma conduta, uma postura de vida, uma atitude de respeito pela cultura popular. Paulo Freire sintetiza o verdadeiro lutador do povo brasileiro, que jamais sucumbiu, que jamais se deixou levar pelos interesses dos poderosos, e esteve sempre ao lado dos pobres e oprimidos. Desejamos que os princípios do mestre Paulo Freire nos permitam seguir lutando e confiando na educação como um dos instrumentos de libertação do ser humano. Estamos certos de que um novo mundo é possível a partir da solidariedade entre as pessoas. Informações: (11) 4994­0700

Caderno de Formação nº. 4

Paulo Freire: um educador do Povo

Conceitos As tecnologias mais recentes criaram novos espaços para o conhecimento. Além da escola, também a empresa e o espaço domiciliar tornaram-se educativos: a cada dia mais pessoas estudam em casa, ou mesmo na empresa, podendo buscar serviços que respondam às suas demandas de conhecimento nas informações disponíveis na rede de computadores interligados. Jacques Delors (1998) aponta como principal conseqüência da Sociedade do Conhecimento, a necessidade de uma aprendizagem ao longo de toda vida, fundamentada em quatro pilares que são, ao mesmo tempo, pilares do conhecimento e da formação continuada:

Aprender a Conhecer É necessário tornar prazeroso o ato de compreender, descobrir, construir e reconstruir o conhecimento. Urge valorizar a curiosidade, a autonomia e a atenção. É preciso aprender a pensar, pensar também o novo, reinventar o pensar.

Aprender a Fazer Não basta preparar-se profissionalmente para o trabalho. Como as profissões evoluem muito rapidamente, vale mais a competência pessoal, que torna a pessoa apta a enfrentar novas situações de emprego e a trabalhar em equipe, do que a pura qualificação profissional. É essencial saber trabalhar coletivamente, ter iniciativa, gostar de uma certa dose de risco, ter intuição, saber comunicar-se, saber resolver conflitos, e ser flexível.

Aprender a Viver Juntos No mundo atual a tendência é a valorização de quem aprende a viver com os outros, a compreender os outros, a desenvolver a percepção da interdependência, a administrar conflitos, a participar de projetos comuns, a ter prazer no esforço comum.

Aprender a Ser É importante desenvolver sensibilidade, sentido ético e estético, responsabilidade pessoal, pensamento autônomo e crítico, imaginação, criatividade, iniciativa e desenvolvimento integral da pessoa em relação à inteligência. A aprendizagem precisa ser integral não negligenciando nenhuma das potencialidades de cada indivíduo. A partir dessa visão dos quatro pilares do conhecimento, pode-se prever grandes conseqüências na educação. O ensino-aprendizagem voltado apenas para a absorção de conhecimento, que tem sido objeto de preocupação constante de quem ensina, deverá dar lugar ao ensinar a pensar, saber comunicar-se, saber pesquisar, ter raciocínio lógico, fazer sínteses e elaborações teóricas, ser independente e autônomo, enfim, ser socialmente competente. Para desenvolver tais competências, envolvendo capacidades e habilidades, quer no ensino presencial quer na educação a distância, é necessário dispor de uma metodologia que trabalhe a informação indicando, ao mesmo tempo, como ler reconstrutivamente, como construir o próprio texto e como pesquisar. Esta metodologia também deve ajudar o participante do processo de aprendizagem a perceber maneiras como as pessoas aprendem. Na formação continuada, através da educação a distância, é a Mediação Pedagógica que contribui para uma educação fundada nos quatro pilares acima citados, utilizando estratégias como: Relacionamento do tema com a experiência do estudante e de outros personagens do contexto social; Desenvolvimento da pedagogia da pergunta; Utilização da relação dialógica com o estudante; Construção do texto paralelo pelo estudante; Envolvimento do estudante num processo que conduz a resultados, conclusões ou compromissos para a prática; Processo de auto-aprendizagem; e Utilização do jogo pedagógico com o princípio de construir o texto.

A mediação pedagógica ocupa um lugar privilegiado em qualquer sistema de ensinoaprendizagem. No ensino presencial, é o docente quem atua como mediador pedagógico entre a informação a oferecer e a aprendizagem dos estudantes. Já nos sistemas de educação a distância, a mediação pedagógica acontece por meio de textos e outros materiais postos à disposição do estudante. Isto supõe que os mesmos sejam pedagogicamente diferentes dos materiais utilizados na educação presencial. A diferença passa, em um primeiro momento, pelo tratamento dos conteúdos que estão a serviço do ato educativo. Em outras palavras: o conteúdo será válido na medida em que contribua para desencadear um processo educativo. Uma informação em si mesma não potencializa o aprendizado da mesma forma que uma informação mediada pedagogicamente. A mediação pedagógica parte de uma concepção radicalmente oposta à dos sistemas de instrução baseados na primazia do ensino como mera transferência de informação. Para Gutierrez (1990), mediação pedagógica é "o tratamento de conteúdos e de formas de expressão dos diferentes temas, a fim de tornar possível o ato educativo dentro do horizonte de uma educação concebida como participação, criatividade, expressividade e racionalidade". A mediação pedagógica ocupa um lugar privilegiado em qualquer sistema de ensinoaprendizagem. Os cursos do Academos são fruto de cuidadoso projeto de mediação pedagógica que, durante a produção do curso, se dá sob três enfoques: Base no tema: situa a temática, define o tratamento do conteúdo, as estratégias de linguagem e deixa claro os conceitos básicos; Base na aprendizagem: desenvolve os procedimentos para que a autoaprendizagem converta-se verdadeiramente num ato educativo. Os exercícios utilizados referem-se às experiências e ao contexto do aprendiz; Base na forma: possibilita o aprendiz identificar-se com o produto pedagógico. O Academos acredita que a forma é a expressão do conteúdo, e quanto mais bela e expressiva for aquela, mais se aproximarão os destinatários do conteúdo. Em cada curso busca-se a interatividade para um aprendizado ativo e, para tanto, os conteúdos e as estratégias pedagógicas são projetados de modo a prover um alto grau de interação entre o aprendiz e sua máquina, seu professor e seus colegas. Em cada módulo do curso o aprendiz deverá encontrar diversas atividades, como exercícios, simulações, jogos instrucionais, quebra-cabeças, estudo de casos etc., que o façam aprendiz ativo. O design pedagógico define a opção de ensino/aprendizagem em que os conteúdos serão acessados pelos aprendizes, entre as seguintes possibilidades: Auto-aprendizagem, sem tutoria, individual ou em grupo de aprendizes; Ensino/aprendizagem, com tutoria, individual ou em grupo. Diferentes cursos requerem diferentes mídias, que são escolhidas considerando-se o valor da aplicação, o número de usuários e a velocidade com que a informação necessita ser distribuída. Se houver necessidade de se entregar informação rapidamente, os cursos utilizarão mídias simples, como documentos e apresentações. Por outro lado, mídias sofisticadas são muito eficazes com grandes públicos, com

treinamento com exigências críticas de segurança ou que exijam alto grau de compreensão e retenção da informação. No atual estágio tecnológico, as principais mídias utilizadas em cursos Web, apresentadas em ordem crescente de custo e de tempo necessários para desenvolver o conteúdo, são as seguintes: Textos e ilustrações; Apresentações em slides; Documentos; Conteúdo de Web; Streaming Media: áudio e vídeo; Animações; Simulações. Quanto mais mediado para a Web for o curso, melhores os resultados obtidos no processo ensino-aprendizagem, porém mais caro e demorado será o seu desenvolvimento. Por isso o Academos realiza o desenho do curso com uma equipe de mediação pedagógica capaz de buscar a melhor relação custo x benefício para cada aplicação. Os cursos são projetados por equipes multidisciplinares de design de mediação pedagógica para Web, compostas por especialistas no conteúdo, em ensino a distância pela Web, e em Web Design. Na fase de desenvolvimento são utilizados os serviços de profissionais de análise de sistemas e programação Web que transformam o projeto do curso em um site Web capaz de ser acessado pelos aprendizes através de Intranets ou da Internet. Os quatro pilares de uma educação para o século XXI e suas implicações na prática pedagógica Zuleide Blanco Rodrigues*

O livro Educação: um Tesouro a Descobrir, sob a coordenação de Jacques Delors, aborda de forma bastante didática e com muita propriedade os quatro pilares de uma educação para o século XXI, associando-os e identificando-os com algumas máximas da Pedagogia prospectiva, e subsidia o trabalho de pessoas comprometidas a buscar uma educação de qualidade. Diz o texto na página 89: “À educação cabe fornecer, de algum modo, os mapas de um mundo complexo e constantemente agitado e, ao mesmo tempo, a bússola que permite navegar através dele”. Segundo Delors, a prática pedagógica deve preocupar-se em desenvolver quatro aprendizagens fundamentais, que serão para cada indivíduo os pilares do conhecimento: aprender a conhecer indica o interesse, a abertura para o conhecimento, que verdadeiramente liberta da ignorância; aprender a fazer mostra a coragem de executar, de correr riscos, de errar mesmo na busca de acertar; aprender a conviver traz o desafio da convivência que apresenta o respeito a todos e o exercício de fraternidade como caminho do entendimento; e, finalmente, aprender a ser, que, talvez, seja o mais importante por explicitar o papel do cidadão e o objetivo de viver. Os pilares são quatro, e os saberes e competências a se adquirir são apresentados, aparentemente, divididos. Essas quatro vias não podem, no entanto, dissociar-se por estarem imbricadas, constituindo interação com o fim único de uma formação holística do indivíduo. Jacques Delors (1998) aponta como principal conseqüência da sociedade do conhecimento a necessidade de uma aprendizagem ao longo de toda vida, fundamentada em quatro pilares, que são, concomitantemente, do conhecimento e da formação continuada.

A seguir, é apresentada uma síntese dos quatro pilares para a educação no século XXI. Aprender a conhecer – É necessário tornar prazeroso o ato de compreender, descobrir, construir e reconstruir o conhecimento para que não seja efêmero, para que se mantenha ao longo do tempo e para que valorize a curiosidade, a autonomia e a atenção permanentemente. É preciso também pensar o novo, reconstruir o velho e reinventar o pensar. Aprender a fazer – Não basta preparar-se com cuidados para inserir-se no setor do trabalho. A rápida evolução por que passam as profissões pede que o indivíduo esteja apto a enfrentar novas situações de emprego e a trabalhar em equipe, desenvolvendo espírito cooperativo e de humildade na reelaboração conceitual e nas trocas, valores necessários ao trabalho coletivo. Ter iniciativa e intuição, gostar de uma certa dose de risco, saber comunicar-se e resolver conflitos e ser flexível. Aprender a fazer envolve uma série de técnicas a serem trabalhadas. Aprender a conviver – No mundo atual, este é um importantíssimo aprendizado por ser valorizado quem aprende a viver com os outros, a compreendê-los, a desenvolver a percepção de interdependência, a administrar conflitos, a participar de projetos comuns, a ter prazer no esforço comum. Aprender a ser

– É importante

desenvolver

sensibilidade, sentido ético e

estético,

responsabilidade pessoal, pensamento autônomo e crítico, imaginação, criatividade, iniciativa e crescimento integral da pessoa em relação à inteligência. A aprendizagem precisa ser integral, não negligenciando nenhuma das potencialidades de cada indivíduo. Com base nessa visão dos quatro pilares do conhecimento, pode-se prever grandes conseqüências na educação. O ensino-aprendizagem voltado apenas para a absorção de conhecimento e que tem sido objeto de preocupação constante de quem ensina deverá dar lugar ao ensinar a pensar, saber comunicar-se e pesquisar, ter raciocínio lógico, fazer sínteses e elaborações teóricas, ser independente e autônomo; enfim, ser socialmente competente. Uma educação fundamentada nos quatro pilares acima elencados sugere alguns procedimentos didáticos que lhe seja condizente, como:



Relacionar o tema com a experiência do estudante e de outros personagens do contexto



social; Desenvolver a pedagogia da pergunta (Paulo Freire e Antonio Faundez, Por uma

• •

Pedagogia da Pergunta, Editora Paz e Terra, 1985); Proporcionar uma relação dialógica com o estudante; Envolver

o

estudante

num

processo

que

conduz

a

resultados,

conclusões

ou



compromissos com a prática; Oferecer um processo de auto-aprendizagem e co-responsabilidade no processo de



aprendizagem; Utilizar o jogo pedagógico com o princípio de construir o texto.

Conclusão Presenciamos um momento muito importante em nosso país, o da demanda por educação, que,

ao crescer, faz com que sociedade e instituições, em uníssono, movimentem-se no atendimento a essa urgência nacional. Essa é uma tarefa importante e é isso que se espera que o Brasil faça. Temos materiais e idéias. É preciso pôr em prática todos os estudos e projetos para a modernização

da

educação.

Para mudar nossa história e lograr conquistas, precisamos ousar em cortar as cordas que impedem o próprio crescimento, exercitar a cidadania plena, aprender a usar o poder da visão crítica, entender o contexto desse mundo, ser o ator da própria história, cultivar o sentimento de solidariedade, lutar por uma sociedade mais justa e solidária e, acima de tudo, acreditar sempre no poder transformador da educação. Sugestão

de

leituras

DELORS, Jacques (Coord.). Os quatro pilares da educação. In: Educação: um tesouro a descobrir. São Paulo: Cortezo. p. 89-102. FREIRE, Paulo; FAUNDEZ, Antonio. Por uma pedagogia da pergunta. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1985.

OS QUATRO PILARES DA EDUCAÇÃO Jaques

Delors

et

al

*

Para poder dar resposta ao conjunto das suas missões, a educação deve organizar-se em torno de quatro aprendizagens fundamentais que, ao longo de toda a vida, serão de algum modo, para cada indivíduo, os pilares do conhecimento: aprender a conhecer, isto é, adquirir os instrumentos da compreensão; aprender a fazer, para poder agir sobre o meio envolvente; aprender a viver juntos, a fim de participar e cooperar com os outros em todas as atividades humanas; finalmente, aprender a ser, via essencial que integra as três precedentes. É claro que essas quatro vias do saber constituem apenas uma, dado que existem entre elas múltiplos pontos de contato, de relacionamento e de permuta. Mas, em regra geral ensino formal orienta-se, essencialmente, se não exclusivamente, para o aprender a conhecer, e, em menor escala, para o aprender fazer. As outras duas aprendizagens dependem, a maior parte das vezes, de circunstâncias aleatórias quando não são tidas, de algum modo, como prolongamento natural das duas primeiras. Ora, a Comissão pensa que cada um "dos quatro pilares do conhecimento" deve ser objeto de atenção igual por parte do ensino estruturado, a fim de que a educação apareça como uma experiência global a levar a cabo ao longo de toda a vida, no plano cognitivo como no prático, para o indivíduo enquanto pessoa e membro da sociedade. Desde o início dos seus trabalhos que os membros da Comissão compreenderam que seria indispensável, para enfrentar os desafios do próximo século, assinalar novos objetivos à educação, e, portanto, mudar a idéia que se tem da sua utilidade. Uma nova concepção ampliada de educação devia fazer com que todos pudessem descobrir, reanimar e fortalecer o seu potencial criativo - revelar o tesouro escondido em cada um de nós. Isto supõe que se ultrapasse a visão puramente instrumental da educação, considerada como a via obrigatória para obter certos resultados, (saber-fazer, aquisição de capacidades diversas, fins de ordem econômica), e se passa a considerá-la em toda a sua plenitude: realização da pessoa que, na sua totalidade, aprende a ser. A

educação

ao

longo

de

toda

a

vida

baseia-se

[portanto]

em

quatro

pilares:

Aprender a conhecer, combinando uma cultura geral, suficientemente vasta, com a possibilidade de trabalhar em profundidade um pequeno número de matérias. O que também significa: aprender a aprender, para beneficiar-se das oportunidades oferecidas pela educação ao longo de toda a vida. Aprender a fazer, a fim de adquirir, não somente uma qualificação profissional, mas, de uma maneira mais ampla, competências que tornem a pessoa apta a enfrentar numerosas situações e a trabalhar em equipe. Mas também aprender a fazer, no âmbito das diversas experiências sociais ou de trabalho que se oferecem aos jovens e adolescentes, quer espontaneamente, fruto do contexto local ou nacional, quer formalmente,

graças

ap

desenvolvimento

do

ensino

alternado

com

o

trabalho.

Aprender a conviver-viver juntos desenvolvendo a compreensão do outro e a percepção das interdependências - realizar projetos comuns e preparar-se para gerir conflitos - no respeito pelos valores do pluralismo, da compreensão mútua e da paz. Aprender a ser, para melhor desenvolver a sua personalidade e estar à altura de agir com cada vez maior capacidade de autonomia, de discernimento e de responsabilidade pessoal. Para isso, não negligencia na educação nenhuma das potencialidades de cada indivíduo: memória, raciocínio, sentido estético, capacidades físicas, aptidão para comunicar-se. Numa altura em que os sistemas educativos formais tendem a privilegiar o acesso ao conhecimento, em detrimento de outras formas de aprendizagem, importa conceber a educação como um todo. Esta perspectiva deve, no futuro, inspirar e orientar as reformas educativas, em nível tanto de elaboração de programas como da definição de novas políticas pedagógicas. (*) Texto transcrito do Relatório para a UNESCO da Comissão Internacional sobre Educação para o Século XXI, coordenada por Jacques Delors.

"Os quatro pilares da educação". (Resenha da obra de Jacques D’Elors (Org.). Educação: um tesouro a descobrir. Relatório para a UNESCO da Comissão Internacional sobre Educação para o Século XXI. São Paulo, Cortez, 1998, Cap. 4). Sandra R. Vanessa Faculdades Associadas Ipiranga, Curso Pedagogia. Novembro, 1998 Este capítulo nos leva a fazermos uma reflexão séria, sobre o futuro da educação para o próximo século. Fala da educação e de suas obrigações, que cabe a educação dar informações e fórmulas para que o indivíduo possa viver socialmente, e ter material suficiente para a sua sobrevivência, conforme diz o texto (pg.89); "À educação cabe fornecer, de algum modo, os mapas de um mundo complexo e constantemente agitado e, ao mesmo tempo, a bússola que permite navegar através dele". Para que isso ocorra segundo o autor a educação deve ater-se em torno de quatro aprendizagens fundamentais, que serão para cada indivíduo, os pilares do conhecimento; aprender a conhecer, aprender a fazer, aprender a viver juntos, aprender a ser. Temos que perceber que estas quatro vias do saber, torna-se apenas uma devido ser uma dependente da outra, necessitando sempre de trocas de informações entre elas. Aprender a conhecer Para mostrar como devemos aprender a conhecer, o texto diz que este tipo de aprendizagem tem a finalidade e o seu fundamento é o prazer de compreender, de conhecer e de descobrir. Para isso a educação deverá criar formas para que a escolaridade tenha seu tempo prolongado. Ou seja que o adulto, após concluir seus estudos possa prosseguir com vontade de fazer novos cursos, pesquisa etc., fazendo-o perceber que o aumento do saber o faz compreender melhor o ambiente, sob os seus diversos aspectos, com isso ser mais critico e atualizado. Na criança, desperta-la e aguçá-las para que tenha mais prazer de estudar, mas é essencial que ela possa ter acesso às metodologias científicas, com isso possa ser "amiga da ciência". Enfim aprender a conhecer antes de tudo o indivíduo deve aprender a aprender, para isso deverá até o final de sua vida estar sempre atualizado, fazer cursos de especialização da sua profissão exercitar a leitura e as pesquisas pois assim ele terá mais facilidade para encarar todas as situações e com isso ser competitivo dentro da sociedade onde vive. Também o indivíduo deverá exercitar a memória, pois a criança aprende o exercício do pensamento com os pais, depois com os professores. Aprender a fazer

Segundo o texto "Aprender a conhecer e aprender a fazer são em larga medida indissociáveis". Porém aprender a fazer tem maior referência com a formação profissional. O indivíduo aprende e põe em prática os seus conhecimentos. Temos que perceber que aprender a fazer não pode ser apenas ensinar o jovem para uma função onde fará uma tarefa material. Para isso deverá o jovem ser sempre atualizado, de acordo com o desenvolvimento industrial. Da noção de qualificação à noção de competência: Aqui o autor cita o qual é importante a competência pessoal, principalmente na indústria, especialmente para os operadores e os técnicos. Para a indústria atual as tarefas físicas estão sendo substituídas pôr tarefas mais intelectuais e mais mentais. Para isso é necessário que o trabalhador a cada dia se especialize e se atualize para atender as exigências do mercado de trabalho moderno, é preciso Ter uma perfeita combinação entre qualificação, comportamento social, sentido de equipe e capacidade de iniciativa. Segundo o autor para os dirigentes empresarias, as qualidades do "Saber Ser" se juntam ao "Saber" e ao "Saber Fazer". Isto fez com que a comissão, alerta-se para a importância de ligação que a educação deve manter entre os diversos aspectos da aprendizagem. Qualidades como a capacidade de comunicar, de trabalhar com os outros, de gerir e de resolver conflitos tornam-se cada vez mais importantes. A "desmaterialização" do trabalho e a importância dos serviços entre as atividades assalariados. Para falar sobre este assunto o autor mostra o crescente aumento e as consequências negativas sobre a aprendizagem da "desmaterialização". A formação de inúmeros profissionais técnicistas os quais futuramente possam criar graves disfunções, exigindo qualificações de novo tipo com base mais comportamental do que intelectual ou seja não é o nível superior que ensina a intuição, o jeito, a capacidade de julgar, e a capacidade de manter unida uma equipe. Isto dá oportunidades para as não formados ou seja profissionais com essas qualidades natos porém sem nenhum curso superior. O trabalho na economia informal. Nesta o autor como exemplo as economias em desenvolvimento, em países da África Sub-Saariana e alguns países da América Latina e da Ásia, onde a maioria da população não tem emprego assalariado e vivem da economia informal de região somente para sua subsistência. A questão levantada nestes países é de como comportar-se eficazmente, numa situação de incerteza como participar na criação do futuro? (pág. 96). Aprender a viver juntos, aprender a viver com os outros. Para que todos possam aprender a viver juntos, e aprender a viver com os outros, tem a educação um papel importantíssimo, e um grande desafio, já que a opinião pública toma conhecimento através dos meios de comunicação e nada pode fazer. Conforme diz o autor a história humana sempre foi escrita pelos conflitos raciais e até mesmo de religiosos etc. Para ele cabe a educação trabalhar para a mudança deste quadro desde a simples idéia de ensinar a não violência, o não preconceito etc. Porém deve utilizar duas vias complementares, primeiro a descoberta progressiva do outro, segundo ao longo de toda a vida a participação em projetos comuns que parece um método eficaz para evitar ou melhorar conflitos latentes. A descoberta do outro A missão da educação, transmitir conhecimentos sobre a diversidade humana, bem como mostrar e levar as pessoas a conscientizar sobre as interdependências entre todos os seres humanos do planeta. Segundo o texto as disciplinas mais adaptadas para este fim são; Geografia humana a partir do ensino básico e as Línguas e Literaturas estrangeiras nos cursos posteriores.

Baseado nisto educando a criança desde pequena a descobrir a si mesma, poderá estas se por no lugar dos outros assim compreendendo-as e respeitando-as. O professor não deve Ter regras que mantém a curiosidade dos adolescentes, se assim o fizer prejudicaram-os a vida inteiras, pois não aceitarão pessoas de outro grupos ou nações. Para o Século XXI é indispensável o diálogo e a troca de argumentos. Tender para objetivos comuns A exemplo dos desportos como os jogos olímpicos, copa do mundo e jogos entre nações, a educação formal deve iniciar os jovens em programas onde haja o cooperativismo. Importante é que haja um bom relacionamento entre professor e aluno, que ambos desenvolvam projetos comum, com o intuito de resolver os conflitos. Aprender a ser Reafirmado pela comissão, a educação deve contribuir para o desenvolvimento total da pessoa, espírito e corpo, inteligência, sensibilidade, sentido estético, responsabilidade pessoal, espiritualidade. Todos os seres humanos devem ser preparados pela educação que recebe, para agir nas diferentes circunstâncias da vida. Para isso cada um deverá Ter pensamentos autônomos e críticos, ou seja personalidade própria. Deverá o ser humano estar preparados para as mudanças principalmente evitar a desumanização do mundo relacionado com a evolução técnica. Portanto a educação deve preparar as crianças e aos jovens para possíveis descobertas e de experimentação. "O desenvolvimento tem pôr objeto a realização completa do homem, em toda a sua riqueza e na complexidade das suas expressões e dos seus compromissos: Indivíduo, membro de uma família e de coletividade, cidadão e produtos, inventos de técnicas e criador de sonhos" (pag. 101). Pistas e recomendações - Os quatros pilares da educação devem ser a base ao longo de toda a vida. - Aprender a conhecer, é o mesmo que aprender a aprender, para se beneficiar das oportunidades oferecidas. - Aprender a fazer, tornar as pessoas aptas a enfrentar numerosas situações e a trabalhar em equipe, não somente uma qualificação profissional. - Aprender a viver juntos, desenvolver a compreensão do outro e a percepção dos interdependências realizar projetos comuns, nos valores do pluralismo e da compreensão mutua de paz. - Aprender a ser, desenvolver sua personalidade, maior capacidade, responsabilidade pessoal. Conclusão O texto deste capítulo é fácil de ler e compreender, pôr ser um assunto atual e importantíssimo. Porém nos perguntamos o porque tudo o que se fala e o que se conclui não é posto em prática? Já está mais que na hora de alterarmos este quadro atual da educação que parece que está sem futuro. Temos material e temos idéias que pode reverter este pobre e triste quadro. Devemos lutar e pôr em prática todos os estudos e projetos para a modernização da educação. Devemos parar de escrever e criticar sobre o assunto e mudar radicalmente o ensino, caso não façamos isso não conseguiremos um desenvolvimento, e seremos para sempre um país subdesenvolvido.

EDUCAÇÃO PARA CONVIVÊNCIA E A COOPERAÇÃO MS. JEFEFRSON CAMPOS LOPES (ver currículo)

1. INTRODUÇÃO Partindo da premissa que para uma educação voltada para a convivência e cooperação seja realmente concretizada, precisamos observar alguns pontos que caracterizem este processo. Para tal, a convivência é uma condição importante da vida cotidiana, relação esta que, na medida em que buscamos a melhoria da qualidade interpessoal e intrapessoal, podemos desenvolver e aperfeiçoar competências na perspectiva de viver juntos. Com relação à cooperação, num primeiro momento temos que identificar o quanto os nossos comportamentos e atitudes estão condicionados e postos em prática, em situações que favoreçam uma posição que nos coloquem numa constante competição, gerando confronto, e em que sejamos vistos como vitoriosos e considerados os melhores por tal resultado. Neste processo ou jogo da vida, precisamos resgatar e valorizar atitudes e comportamentos mais humanos por meio de uma visão um pouco diferente da que estamos acostumados a ver quando realizamos esse jogo da vida, de maneira que possamos experimentar novas alternativas que mostrem que é possível existir outros caminhos que possam ser incorporados de maneira espontânea e autêntica com a devida importância de sermos, essencialmente, o que somos e valorizarmos o que fazemos. 2. PILARES DA EDUCAÇÃO O conceito da Educação, ao longo de toda a vida, aparece como uma das chaves de acesso ao século XXI. A literatura existente aborda diversos conceitos sobre educação, mas neste caso, gostaríamos de citar uma educação que se baseia na função de preparar na autoformação do cidadão. Segundo Morin (2001), o objetivo da educação não é o de somente transmitir conhecimentos, mas criar um espírito para toda vida, onde ensinar é viver em transformações consigo próprio e com os outros. Baseando-se nesta citação, é possível afirmar que um dos fatores que garantem essa educação é fundamentado em palavras, como cooperação e autonomia. Partindo dessas palavras, encontramos no dicionário de língua portuguesa suas definições para podermos entender melhor o seu significado: COOPERAÇÃO: trabalhar e ajudar para alcançar um objetivo comum. AUTONOMIA: faculdade de governar por si só. Segundo Orlick (1989, p.105), a cooperação é "uma força unificadora, que agrupa uma variedade de indivíduos com interesses separados numa unidade coletiva" e, segundo Freire (1996), autonomia é a prática da liberdade. Lendo estas definições objetivas (dicionário) e citações (autores), acrescentamos que a educação proposta por meio dos Pilares da Educação tem em sua forma de autonomia um comando da consciência em que, por meio da cooperação, podemos criar uma rede de funções com desempenhos relacionados uns com os outros. Dessa forma, atuar em educação é, antes de tudo, uma jornada ao longo de um conjunto de respostas organizadas em torno dos quatro Pilares da Educação, apontados pelo relatório da UNESCO (Delours, 1999, p.101-2), no sentido que estes pilares possam transformar-se em um instrumento que facilite a sua implementação: Aprender a conhecer: significa combinar a cultura geral com as possibilidades do aumento dos saberes num continuo exercício do aprender a aprender para beneficiar-se das oportunidades oferecidas pela educação ao longo de toda a vida. Aprender a fazer: a fim de poder agir, não somente sobre uma qualificação profissional, mais sim ampliando suas competências no âmbito das diversas experiências sociais ou de trabalho. Aprender a viver juntos: participando e cooperando na compreensão do outro e na percepção das interdependências, realizando projetos e preparando-se para gerir conflitos e no respeito pelos valores humanos, da compreensão mútua e da paz. Aprender a ser: contribuir para o desenvolvimento mental, corporal e espiritual a fim de atingir uma realização completa com cada vez maior capacidade de autonomia de cada interser. Sendo assim, o saber, o saber fazer, o saber conviver juntos e o saber ser constituem quatro aspectos, intimamente ligados, de uma realidade de experiência vivida e assimilada por momentos de compreensão e criação pessoal. Para tal, a educação deve desenvolver e formar cidadãos com estas novas competências, que serão necessidades fundamentais para a convivência entre os outros, partindo da condição de estar cooperando para uma melhoria da qualidade de vida. O JOGO A discussão a seguir será sobre o jogo, numa condição de vital importância e relevância que exerce como forma e processo de aprendizagem. Nesse contexto, hoje, a maioria dos filósofos, sociólogos, etnólogos, antropólogos e professores de educação física concordam em compreender o jogo como uma atividade que contém em si mesmo o objetivo de decifrar os enigmas da vida e de construir momentos de prazer. Sendo assim, Huizinga (1996, p.33) expressa a noção do jogo como: Uma atividade ou ocupação voluntária, exercida dentro de certos e determinados limites, dotados de um fim em si mesmos, acompanhados de um sentimento de tensão e de alegria e de uma consciência de ser diferente da vida cotidiana. Assim, a alegria é a finalidade do jogo, em que, quando esta finalidade é atingida, a estrutura de como se pode jogar assume uma qualidade muito específica; torna-se uma ferramenta de aprendizagem que mantém uma constância de forma a dar prazer e de continuar sendo eterno. Portanto, podemos verificar que o jogo é muito importante, não só porque ficamos alegre ou nós dá prazer, mas quando estamos vivendo-o, direta e reflexivamente, estamos indo além da sua representação simbólica de vida. De acordo com Brotto (1999, p.16), a idéia da aproximação do jogo com a vida numa representação do reflexo de um sobre outro é: "eu jogo do jeito que vivo e vivo do jeito que jogo". Nesse sentido, o jogo passa a ter a capacidade de desenvolver, por meio dele, formas e contribuições para gerar talentos, aperfeiçoar potencialidades e criar novas habilidades de conviver. Um outro autor a ser destacado é Friedmann (1996), que, baseando-se nos estudos de Piaget, afirma que o jogo pode ser utilizado como forma de incentivar o desenvolvimento humano por meio de diferentes dimensões, que são:

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