Evangelhos Apocrifos

  • June 2020
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  • Words: 687
  • Pages: 3
Afinal, como entender os evangelhos apócrifos? A palavra apócrifo tem sua origem no idioma grego e significa “oculto,

escondido”,

algo

“sem

autoridade”,

“de

autor

falso”,

e

relacionada às obras de artes – livros, poemas, pinturas, esculturas – adquire uma conotação negativa: trabalho “sem autoria comprovada”. Este conceito de apócrifo, aplicado aos textos sagrados, refere-se aos livros não reconhecidos pelas Igrejas – Católica, Protestantes, Ortodoxas - como verdadeiros. Obras sem autores comprovados e revestidas de inúmeras fantasias, repletas de hipóteses sobre a vida e hábitos de importantes personagens bíblicos. Sabemos da existência de textos apócrifos ligadas ao Antigo e ao Novo Testamento. Para os sábios judeus existem, pelos menos, vinte e três livros, tidos como não inspirados. Estes textos foram escritos entre o III a.C ao século I da nossa era, e ficou sobre a responsabilidade da pequena comunidade de sábios judeus, após a segunda grande guerra contra os romanos, conhecida como a revolta de Bar Kosba (135 d.C.), incluí-los ou não no cânon (na ordem, na seleção) dos Livros Sagrados. Do Antigo Testamento destacam-se, entre os livros apócrifos: os quatro livros dos Macabeus, Judite, Tobias, o quarto livro de Esdras e os testamentos dos Doze Patriarcas. Em relação ao cristianismo e aos textos do Novo Testamento, o debate entre “livros canônicos” e “livros apócrifos” marcou os primeiros séculos do cristianismo. O ponto final aos debates só aconteceu em 1546, durante o Concílio de Trento, época em que estabeleceram a quantidade

dos livros que, hoje, conhecemos como sendo de inspiração divina, mantidos em nossas bíblias (73 livros). Os primeiros autores cristãos enfrentaram inúmeros problemas diante de uma enorme quantidade de textos apócrifos que circulavam na época. Textos sempre estudados nas Igrejas Declarar que uma obra de literatura é apócrifa não significa que sua leitura foi proibida. Muito menos pensar que a Igreja procurou escondê-las, guardando-as debaixo de sete chaves, com medo de provocar mudanças nos dogmas ensinados pela tradição crista. Com a morte de Pedro (64 d.C) e Paulo (67 d.C), em Roma, termina, praticamente, a primeira geração dos apóstolos. Caberá aos primeiros estudiosos cristãos a tarefa de ler, interpretar e ensinar as verdades sobre Jesus e os evangelhos, em meio a vários livros e textos apócrifos. Santo Ireneu (130-208 d.C) já alertava aos incrédulos que abandonavam as Sagradas Escrituras, escrevendo “se alguém não aceita seus ensinamentos, despreza o próprio Cristo Senhor, despreza o Pai e condena a si mesmo”. Escritores como: Tertuliano (150-222?), Orígenes (185-254), Santo Agostinho (354-430), São Jerônimo (347-420) chegam a fazer sérias denuncias contra pessoas ou grupos ávidos em confundir a fé em Jesus Cristo e os ensinamentos transmitidos pelos apóstolos. A lista mais extensa de escritos considerados falsificados foi divulgada pelo papa Gelásio, falecido em 496, contendo o número de sessenta obras não inspiradas e não escritas pelos apóstolos ou pelos evangelistas. Na lista, destacam os evangelhos de Tomé, de Felipe, de

Matias, de

Bernabé, de Estevão, além do livro sobre o nascimento do

Jesus envolvendo Maria e a parteira. Valor histórico Uma leitura sobre o universo cultural refletida nos livros apócrifos tem

colaborado,

em

muito,

na

compreensão

da

história

do

desenvolvimento do cristianismo nos seis primeiros séculos. Favorece compreender a importância e ensinamentos dos primeiros padres da Igreja, além de oferecer elementos valiosos no entendimento dos dogmas validos, até nossos dias, pela Igreja Católica. A partir dos anos sessenta, inúmeros centros de estudos bíblicos, sobretudo, alemães e italianos, redescobriram o valor histórico e a riqueza contida na literatura apócrifa. No Brasil, destaca os estudos realizados pelo professor Jacir de Freitas Faria, autor do livro Origens Apócrifas do Cristianismo, pela editora Paulinas, 2007.

Pe. An toni o Carl os Fri zzo , 50, profes s or no Depart am ent o de Teol ogi a Bí bl i ca na facul dade Dehoni ana, Taubat é, S ão P aul o.

P/ Re vista I R ao PO V O Te rê zia Dia s – re da t o ra (11 ) 5 58 9 -0 97 1 – re da ca o@ ira op o vo. co m. b r – www. ira o po vo . co m. b r

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