A XENOGLOSSIA Chama-se xenoglossia o fenômeno de falar línguas desconhecidas. Uma criança precisa de alguns anos para aprender no consciente a falar a língua pátria. O consciente, inteligentíssimo e com sua memória total (pantomnésia), aprende línguas em pouquíssimo tempo. A Srta. Íris, de 16 anos, de Budapeste, “morria” em agosto de 1933 - ainda vive. Poucos instantes após a “morte”, porém, começava de novo a respirar, recuperava os sentidos e terminava por sarar completamente. Mas dizia ser Lúcia Altares de Salvo, espanhola que acabava de morrer em Madri, rua Obscuro, n.º 1, que tinha 40 anos e era mãe de catorze filhos... Íris (ou Lúcia) falou perfeitamente o espanhol e continuou falando sempre e em toda parte até hoje. E, não obstante, antes da “morte” Íris não sabia absolutamente nada de espanhol. Quando o caso Íris-Lúcia já tinha revolucionado o mundo, o delegado de polícia de Budapeste teve que se ocupar da jovem: o embaixador espanhol desejava saber se Íris-Lúcia não seria uma de três meninas que tinham desaparecido em Madri. Segundo os dados encontrados pela polícia, Íris nunca tinha estado na Espanha, mas ouvira muito falar espanhol quando residia, ainda criança, na Holanda. Também na Hungria Íris, evidentemente, teve que ouvir muito espanhol: na Hungria há muitos espanhóis, especialmente judeus-sefarditas, que em épocas passadas foram expulsos da península... Outros dados apareceram para a reta explicação. O Dr. Zoltán Végh, professor de espanhol no Colégio Madrách, costumava ensinar conjuntamente as palavras “calle” (rua) e “obscuro”, contando uma anedota extraída de um jornal de Madri. Ora, a personalidade espanhola Lúcia assegurava ter morrido em Madri na “Calle Obscuro”. De fato o Dr. Végh não deu aulas a Íris-Lúcia, mas isso demonstra que Íris-Lúcia conheceu por meios normais, ou paranormais, alguma coisa do espanhol ensinado pelo professor. É claro que “um espírito transmigrado” da Espanha não iria utilizar justamente esta anedota do Dr. Végh. Comprovou-se também que a personalidade Lúcia era completamente imaginária. Em Madri não existia nenhuma rua chamada Calle Obscuro. Lúcia dizia que em Madri tinha uma irmã casada com o cabeleireiro Emílio Addro, que morava na rua da Virgem, n.º 23: tudo absolutamente falso. Lúcia também citou o nome das escolas onde estudariam três dos seus catorze filhos. Nem as escolas nem os filhos foram encontrados em Madri, eram estabelecimentos e nomes de espanhóis em Budapeste... Em Madri não morrera nenhuma Lúcia Altares de Salvo. Mas comprovou-se que Íris, à idade de 4 anos, teve uma aia chamada Lúcia Altares de Salvo! Como confirmação basta indicar aqui que a personalidade Íris não desapareceu totalmente, mas unicamente da superfície. Não “desencarnou” Íris, para expressar-me em termos da superstição reencarnacionista. Assim se explica como entendia o húngaro. O Sr. Dido Kassal teve a acertada idéia de hipnotizar Íris-Lúcia. Então aflorou à superfície a personalidade “desaparecida” Íris e até deu a explicação psicológica de por que não queria mais ser Íris, e o inconsciente programara toda a “novela” da Lúcia espanhola: “Ninguém me compreendia. Na escola chamavam-me gênio. E que são os gênios? São a mais difícil natureza (está explicado seu caráter esquisito, doentio). Um gênio morre jovem (e ela fingiu a morte aos 16 anos). Para o gênio ser compreendido, deveria rebaixar-se a lutar sozinho contra a multidão (megalomania compensadora). Essa é a razão do desacordo que existe” (eis o que doía). O inconsciente “solucionou” definitivamente o drama de Íris, que agora se move docemente no mundo irreal de Lúcia, estudada por cientistas, admirada por todos.