Entrevista Civone Medeiros[brouhaha11]

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Civone Medeiros em Entrevista à Priscila Adélia/Revista Brouhaha

1. Foi curadora pela primeira vez? Não foi a primeira vez que fiz curadoria, mas, essa é minha estréia com Salões. Entre outros artistas, trabalhei como Produtora e Curadora do Guaraci Gabriel desde sua 1ª individual em 1991 até a obra “Guerra & Paz” de 1999, contemplada com o recorde de maior escultura em sucata de metal do mundo pelo Guinness Book. Em 2000, nos 500 anos do Brasil idealizei o projeto de intercâmbio “Arte Da Esquina Do Brasil” e fiz a curadoria geral do evento que aconteceu em Viena, capital da Áustria onde levamos à Europa, mais de 30 artistas potiguares, de diversas expressões. 2. Quais sensações desperta? Como é para você ser curadora de uma exposição? Minhas andanças pelo mundo e por meu quintal me ensinaram o Amor Mundi - a olhar com olhos apaixonados para meus semelhantes e dessemelhados, para o diferente, o comum, o distante, o aproximado, o outro. A partir disso, o desafio-sedução de trabalhar com a arte de outrens, é um enorme prazer; enriquecedor, mesmo. Curadoria vem do termo ‘curar’, daí, curatela, curandeiria, e esse ofício é interessante quando trabalhamos com liberdade, respeito e uma estrutura técnica razoável e possibilista. Carece ainda de maior valorização para esse ofício, que finalmente chega a nosso estado como uma função mais que necessária no processo de realização de eventos culturais o que já é fato, no mundo – e faz tempo! 3. Como é o processo de organização? Neste caso, vou extrair alguns trechos do meu texto de apresentação do XI Salão que está no Catálogo para esta e outras questões. Bem, montar o Salão é uma manufatura. Eis aqui um fragmento do diário desta montagem: pintar frisos do espaço expositivo, receber obras, ligar para os artistas, documentar os passos, resolver abacaxis, laranjas, suportes, futuros, pepinos, dimensões, detalhes, furos; montar expositores, prosear com os artistas, recebê-los, tirar dúvidas, administrar egos – felizmente pouco inflados –, ser bicho-de-pé da assessoria de imprensa e da diagramação do catálogo – para que saia exatamente como foi concebido, descobrir soluções no partilhar de problemas inerentes a uma mostra desse porte, contar com uma equipe ultramega-power mínima, mas comprometida, dedicada, interessante e interessada. 4. A relação com os artistas? Os artistas participantes dessa edição me receberam com festa, de braços, e mentes abertas. Desde o período final de inscrições até o vernissage, foi gratificante trabalhar com cada um deles, a cada dia. Muitos sequer eram próximos a mim, e criamos a partir do Salão, uma nova rede de afinidades artísticas e afetivas. 5.

Passou quanto tempo arrumando o espaço?

Bem, arrumar não é o único termo que envolve o trabalho de curadoria, embora, conceituar e conceber qual leitura venho a propor aos visitantes do Salão também abarca a “arrumação” e a “curandeiria” em si, e brincando com isso, fiz o blog – http://acurandeira.blogspot.com – sobre a montagem deste Salão. O objetivo maior da montagem que realizei foi o de transformar o fluxo de informações em moeda de troca entre artistas e público, concebida como uma grande obra, numa noção de rizoma, onde há somente linhas e trajetos, estados e coisas, entre diversas semiologias, longe de desdobramentos limitantes, que remeta necessariamente à outra coisa. Daí, o convite à olhar com olhos livres as obras e a montagem deste Salão. 6. Como é a escolha de cada lugar? A partir das obras selecionadas, concebi uma poética partindo do jogo de palavras “d/ENTRE, ISTO/s, in/CORPORE, inst/ANTES” como contra-ponto e convergências de espaço, objeto, corpo, tempo. Criei uma disciplina aberta que orienta e instiga o olhar do visitante sem com isso restringi-lo a criar seus próprios percursos/chamamentos e ao mesmo tempo, fomenta a percepção da multiplicidade de estéticas da mostra. O salão convida à imersão no universo desses artistas, suas poéticas pessoais e construções imagéticas, estranhezas, encantamentos... Essa parte do trabalho inicio como de fato é, com um quebra-cabeça, que é mais equação que ‘adequação’. Esbocei toda a planta-baixa do salão da Capitania com as obras impressas em miniatura e fui definindo as leituras possíveis a propor à olhos livres e creio que chegamos a um bom resultado, dentro das condições técnicas e estruturais em mãos.

Esboço #1

Esboço #2

7. Qual a função do catálogo? Fale sobre ele. Primeiro gostaria de fazer uma correção, no mínimo justa: a concepção do catálogo é de minha autoria e por um erro do designer, não consta da impressão. O catálogo deste ano do Salão, a partir da concepção geral entre a mostra e o impresso deu um salto de qualidade e consonância com as obras e

a montagem. A função principal é ser um registro de excelência para os artistas, público e para a história das Artes Visuais em nosso estado. 8. Quais as indagações do público a respeito da exposição? O salão teve uma abertura virtuosa e emocionante e obteve boa repercussão em relação aos anos anteriores; tivemos um recorde de aproximadamente quatro mil visitantes desde sua abertura até o encerramento em 29 de fevereiro. Não há um modo de aferição das opiniões dos visitantes da mostra, mas, é certo alcançamos e despertamos a curiosidade de muita gente, entre eles, sua maioria, de estudantes da Grande-Natal, além de visitantes de outras regiões. Um saldo mais que positivo para a arte visual potiguar, ainda tão desprestigiada pelas políticas públicas em relação a outras expressões artísticas mais “espetaculares” e de apelo mais popular. 9. Também é artista? Que tipo de arte produz? Sim. Trabalho com diversas mídias, suportes e linguagens, temáticas convergentes e díspares. Sou poeta, performer, produtora de arte e cultura. Ser potiguar, é ser herói e ser artista, aqui, é mais ainda. Escrevo, pinto, fotografo, bordo, filmo, danço, atuo, monto, costuro... Enfim, quietude não é algo constante nas minhas criações. Recentemente, além do Salão, finalizei dois curtas, o experimental “Privatesfera, ou a vida pública da mulher” e o documentário “14 de Março, todo dia – dia da poesia”, também realizei a mostra “Arte à Trois” juntamente com os expoentes Allan Talma, potiguar e o francês, Goulven Jagot no Bardallos Comida & Arte e em Nalva Melo Café Salão. Em andamento temos o projeto “Arte da Esquina” entre França e Brasil e o projeto “Ecos do Bairro” do ICAP – Instituto Cultural e Audiovisual Potiguar, do qual faço parte – de fomento e difusão da cultura em nossa cidade. 10. Vive de arte? Ainda o artista potiguar, de veia alternativa e não-submissa está longe de viver num mercado inexistente para quem não faz concessões como eu. Em geral, a minha produção artística não se enquadra como produto, não está à venda. Quem compra poesia? Quem compra uma Performance? Quem compra uma Instalação? Quem compra Documentários e Vídeo-Arte? Estes são os meios/mídias principais de minha ação como artista e quando houver estas respostas – se houver –, ainda estarei produzindo e vazando pelos poros a minha arte, a minha humana expressão. Quem quer comprar? Não é porque essa resposta não vem que eu vou deixar de ser o que sou: uma múltipla artista. Felizmente Natal não é de todo uma ilha – que muito amo, inclusive – e existem diversos mercados onde minha arte tem espaço e resposta, demanda e respeito e é assim, que viver nessa cidade, é exclusivamente para mim, por laços afetivos e inspiração. 11. Qual a importância da exposição para a cidade do Natal e para a cultura? Este Salão é um marco na busca por excelência, daí a sua importância. Também, a busca de avanços e evoluções para as artes visuais, mesmo que tenhamos inda, um longo caminho à trilhar. Falta adquirir as obras por um valor maior ou maior número de aquisições e claro, formar rapidamente um acervo adequado para as obras que são adquiridas para posteriores exposições. De toda forma, foi para mim, uma honra botar mente, coração e a minha mão nessa massa. Entre as obras expostas, há dois segmentos predominantes e significantes, que são a fotografia e as assemblagens. A presença e legitimação da fotografia como arte em meio a outras técnicas e suportes, num mundo que ora, imagens transbordam por flogs, picasas, flickrs, blogs, e as em movimento por googlevideos e youtubes e em que ambientes virtuais é cada vez mais dominante, prevalece aqui, o olhar, a visão de cada criador. Se não me engano, esta também é a primeira vez que uma performance, “Veias” do Enio Cavalcanti –, foi selecionada para o Salão e isso, mesmo com demora, é uma vitória. Vale ressaltar o vídeo “Aracê”, um dos premiados desse salão, que nasce da fotografia, do desenho, da vigia dos dias, da ação por animação como um dos pontos altos desta 11ª edição, de autoria coletiva do Itaitinga Badaró, que é composto por Diogo Andrade, Rita Machado e Vinícius Dantas; este, tem participação dupla este ano com a obra solo, em desenho e colagem, “O Grito”. As mais variadas linguagens, vozes e suportes estão representados nessa mostra e temos a "Espera do Tempo", como fotografia premiada do cearense Ricardo Régis, e uma pintura – pois é, também a pintura não morreu -, e os objetos, assemblagens, visualidades. Que venham outros salões, então!

Civone Medeiros em Entrevista para Priscila Adélia Pontes da Revista Brouhaha/FUNCARTE – Ano IV, Nº 11 (Mar/Abr 2008) * Lamentavelmente, (como sempre!) a entrevista não foi publicada na íntegra, exceto um pequeno trecho (que está ressaltato com o marcador em amarelo). De todo modo, agradeço o interesse e a atenção da Jornalista Priscila Adélia. E lamento, mais ainda que a Publicação Oficial da FUNCARTE tenha dado tão pouca importância para uma produção de sua própria responsabilidade.

> Conheça como foi a montagem do Salão:

http://picasaweb.google.com/civonemedeiros/SALODeARTESVISUAISDeNATAL2007 > Blog do Salão - Veja as Obras dos Artistas Participantes:

http://acurandeira.blogspot.com

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