Encarte Especial Dia Da Mulher

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ENCARTE ESPECIAL Rio Branco - Acre, domingo, 8, e segunda-feira, 9 de março de 2009

mulher trabalhadora mãe estudante parteira josina ana ana leide ana lice conceição denise lidiane luíza pedreira eletricista médica professora bela fêmea lavadeira jornalista aeromoça val amélia carmelita fortaleza simpatia arrojada simples batalhadora noêmia ariane nete mariana gentil corajosa vencedora anjo da guarda rainha do lar fada advogada juíza promotora elizangela sensível sonhadora avó tia irmã prima amiga gostosa dute maravilhosa formosa magra gorda lane maria clara preta clara escura mulata índia parda linda dulcinéa karyne fernanda karoline kauany giovana assistente social companheira janaina darci evangelina moema regina única especial eterna luz maternidade carmela orieta publicitária maria sabrina nilza auxiliadora denilde esmilda rossilda agricultora malenilce doméstica caçadora patrícia priscila filha cozinheira policial julieta liliane marlene elenira- siméia cámala eline raimunda giulliana vida colo aconchego regiane fátima alcidéa nílvia jamilsa webmaster angélica administradora marcenira nazaré laís marcela andréa vitória vitoriosa thiely rosemeire lisa dentista castanheira maria ceci social religiosa cantora poetisa antônia cheila teresa doutora eliane exemplo eunice fisioterapeuta determinada modelo perseverante fiel leninha deputada vereadora senadora

Jornal Página 20

profissional guerreira paula juliana giselda carolina carpinteira margarida escritora eva rosa humilde cléia ana protetora madrinha delegada romântica inteligente cheirosa feia branca amarela karen beatriz conselheira maria elegante esperança assessora jaqueline maria josé catadora ducilene poliana salete sarah raquel gilcely luz dadivosa fotógrafa websiter empresária executiva delcides renata lyslane raquel elizabete alice cláudia seringueira adejane assistente evangélica ercília flávia competente emília aline deni karmem elisa aleuda lorena governadora isabel

Para Laís, com todo nosso amor

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Encarte Especial

O que as mulheres comemoram no dia de hoje Conquistas representam o incentivo necessário para a luta pelos direitos ainda não reconhecidos Lyslane Mendes [email protected]

A

s conquistas femininas comemoradas no dia 8 de março são o marco da luta de quase 100 anos das mulheres que buscam no dia-a-dia a independência, a liberdade, a identidade própria, pela valorização profissional e econômica. Por mais avanços conquistados ao longo das últimas décadas, a mulher segue enfrentando uma série de constrangimentos e discriminações. O dia dedicado a elas também serve de incentivo para mantê-las firmes na luta pelos direitos que ainda não foram reconhecidos. Elas já alcançaram espaço no mercado de trabalho, na política, assumiram poder em casa, na sociedade, conquistaram direito à educação, lazer e ao prazer e respondem pela exigência que essas conquistas implicam, sempre buscando o equilíbrio sem perder a feminilidade. A assessora Especial da Mulher no Estado e vice-presidente do Conselho Estadual de Mulheres, Leide Aquino, é militante do movimento feminista há 22 anos e diz que os avanços devem ser comemorados, mas não encaramos com conformismo, pois ainda há muito a se conquistar na luta pela divisão igualitária dos direitos. “O movimento feminista há muito não luta por uma causa radical, da substituição do trabalho ou atuação masculina por uma feminina. O que desejamos é uma divisão igual social de direito, já que de fato nunca será possível porque as mulheres possuem suas peculiaridades, não podemos ignorar a natureza dos gêneros. Mas as imposições culturais devem ser quebradas

Fotos regiclay saady

e é por isso que não podemos nos satisfazer com as conquistas alcançadas”, argumenta. Ela relata que, embora as mulheres possuindo maior nível de escolaridade que os homens, ainda não ocupam funções compatíveis com sua formação, além de terem remuneração menor se comparada ao sexo oposto. “As mulheres estão presentes nos mais variadores setores, porém, nos espaços de decisão elas ainda são minoria. Nas decisões tanto no ponto de vista das políticas públicas para mulheres como demais decisões sociais, os homens estão à frente. Elas contribuem expressivamente, mas a decisão é sempre masculina”, destaca. De acordo com os relatos da assessora, a submissão caracterizou a trajetória feminina durante décadas. Sempre vistas como mães, esposas, donas de casa, eram criadas para cuidar de esposos e filhos, deveriam viver unicamente por eles e para eles, mas como a evolução da humanidade é constante, não poderia ser diferente com os anseios femininos. “Não foi fácil chegar aonde chegaram, foram muitas derrotas, mas as vitórias prevaleceram e hoje não assumem somente as mesmas funções de antes, como também em alguns casos,elas tomam para si o papel do ‘homem da casa’, ocupando, inclusive, cargos de chefia. Se antes eram identificadas pela submissão e dependência, agora a autossuficiência é a palavra perfeita para definir a mulher moderna. Queremos com isso provar para a sociedade que podemos contribuir para o desenvolvimento do país em pé de igualdade com os homens, nem mais nem menos, apenas igualmente”, enfatiza.

O movimento feminista há muito não luta por uma causa radical, da substituição do trabalho ou atuação masculina por uma feminina

Leide Aquino tem uma história de luta de mais de 20 anos em defesa dos direitos femininos

História, avanços e conquistas Oito de março foi declarado o dia em homenagem às mulheres depois de uma conferência realizada na Dinamarca, em 1910. A partir disso, demais países incorporaram o dia ao calendário de datas oficiais, formalizando a data como o dia Internacional das Mulheres, como forma de reconhecimento dos seus esforços e da importân-

cia da atuação feminina para o futuro da humanidade. A data foi escolhida para relembrar o primeiro movimento feminista da história realizado pelas operárias de uma fábrica de tecido. Elas se reuniram no interior da fábrica e organizaram um protesto para reivindicar melhores salários e condições de trabalho adequadas. Insatisfeito

com a manifestação o dono, mandou atear fogo no local com as operárias no interior da fábrica. Durante essa jornada de luta e reivindicações, as mulheres antes tratadas como posse de seus maridos, conquistaram o direito a educação, acesso as universidades de direito e medicina, antes só permitidas aos homens. Conquistaram o direito ao voto direto,

ao Certificado de Pessoa Física (CPF), onde poderia decidir suas próprias vidas perante a lei. Além disso, conquistaram a elaboração de um Plano Nacional de Políticas específicas para mulheres, A lei Maria da Penha, As delegacias especializadas em assunto da mulher e união entre os grupos femininos que buscam pela efetivação dos direitos

femininos. “Já avançamos muito e muito ainda tem que ser feito para que tenhamos uma sociedade mais justa. Não lutamos somente por nós, mas por todos os grupos excluídos e para que existam políticas públicas diferenciadas, para que existe realmente um processo efetivo de igualdade e cidadania”, enfatiza Leide Aquino.

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Encarte Especial Os anseios e desejos da mulher moderna no novo milênio

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destaque alcançado pelas mulheres na sociedade moderna vem despertando o interesse de psicólogos, economistas e da sociedade como um todo. Elas viraram alvo de teorias e especulações que caracterizam seus comportamentos e suas pretensões. A psicóloga Viviane Aníbal, que definiu sua atuação profissional para as questões ligadas ao universo feminino, defende que a mulher na sociedade atual já tem tomado consciência de sua tarefa no mundo político em que está inserida. Nos dias atuais, ela participa cada vez mais nos movimentos políticos que dizem respeito a suas questões, em todos os aspectos possíveis, tais como ser vista como um ser humano e não ser tratada como um ser inferior. Ela argumenta que o movimento pela participação da mulher na sociedade é antigo e precisa de mais esforço, para que não exista o diferencial entre homem e mulher, mas que todos devem ser iguais como seres humanos que pensam, que produzem e que querem seu espaço na sociedade moderna, para poder avançar conjuntamente

com todos aqueles que buscam a melhora conjunta para todos. “A mulher moderna tomou para si as decisões de sua vida. Ela busca sua independência financeira, profissional e pessoal, conquistou o direito de não ser vista como posse masculina. A mulher contemporânea quer ser livre e também quer casar, mas, no momento que lhe convier fazer”, enfatiza a psicóloga Viviane Anibal. Para ela, o novo espaço ocupado pelas mulheres na sociedade atual impõe às mulheres uma sobrecarga de atividades e esse nunca foi o objetivo das reivindicações femininas. “As mulheres buscam por igualdade de direitos e deveres. Buscamos dividir não somente o espaço no mercado de trabalho, mas também as atividades domésticas. Não podemos ser iguais aos homens, pois temos limites físicos para isso. O que buscamos é igualdade social com respeito.” Viviane relata ainda suas considerações sobre os anseios da mulher moderna. “A principal busca da mulher desse século é pelo respeito. Respeito pelo seu corpo, do companheiro para poder ter uma vida sem violência, direitos sexuais e reprodutivos, onde a mulher poderá escolher

Fotos regiclay saady

Psicóloga Viviane Aníbal disse que a mulher moderna busca o respeito

quantos parceiros terá ao longo de sua vida, sem ser apontada por isso. Escolher quanto filhos vai ter e em que momento, e poder ainda optar por não ter filhos. Isso é viver com liberdade social e moral, isso é ser valorizada como ser que pensa e que pode tomar suas próprias decisões”, argumenta.

Para ela, a classe feminina conquistou um espaço no qual as mulheres estão mais livres e mais atentas para as diferenças. Não buscam ocupar o lugar de nenhum homem, mas decidir junto com eles; não quer competir capacidades, mas divisão de direitos e deveres. Elas lutam pela liberdade dos padrões estéticos e

pelo controle da própria vida. “O espaço conquistado pelas mulheres na sociedade atual, com um dia dedicado a elas e aos assuntos de interesse delas, também deve promover a reflexão para que avaliem as conquistas e os objetivos para continuar lutando e cada vez mais ter os homens como aliados para essa evolução”, conclui.

Nossa homenagem às mulheres acrianas Tião Vitor

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a maioria das vezes, um bom salário satisfaz um jornalista. Mas o dinheiro não é suficiente para bons profissionais. Eles buscam o bom texto, a manchete da página principal, a repercussão da matéria trabalhada e a certeza de que seu ofício está contribuindo para a formação de leitores ou para mudar uma realidade deformadora da sociedade, corrigir uma injustiça ou mesmo contribuir para a melhoria da qualidade de vida. Às vezes o salário alto é até dispensável. Como editor, tenho me mantido longe da produção de textos. Apenas vez por outra saio para a externa para produzir uma ou outra matéria. Tenho me resumido mais a um ou outro artigo que publico aqui no Página 20 ou em um modesto blog que mantenho na internet. Mas me rejubilo ao ver o meu jornal produzindo bons textos e boas imagens. Quando uma boa capa se destaca, encho-me de orgulho do meu trabalho e quando o resultado de uma boa matéria se define com um prêmio como o Chalub Leite de Jornalismo, declaro-me o profissional mais realizado do mundo, mesmo o texto vencedor não tendo sido meu. Na edição de hoje do Página 20 está sendo veiculado mais um grande orgulho da minha carreira profissional. Este caderno especial dedicado à mulher é o resultado de um esforço conjunto de uma equipe pequena, mas coesa e que não se dobra diante das dificuldades da falta de recursos

ou de infraestrutura. Acima de tudo, ele é o resultado de um esforço meu, pois, como editor, tenho incentivado os colegas a buscar materiais diversificados para fugir do factual das pautas do dia-a-dia. O caderno surgiu a partir do trabalho de uma colaboradora, Lane Valle, que há poucos dias se integrou à equipe do Página 20 produzindo textos específicos sobre a atuação profissional das mulheres acrianas. Os textos de Lane Valle foram publi-

cados em uma curta série, sempre nas edições de domingo, e tiveram grande repercussão, principalmente na versão on line do jornal, já que esta conta com a possibilidade da inserção de comentários. Mulher e mãe, Lane soube com maestria, apesar da pouca experiência, traduzir um pouco do que é a mulher atual e sua atuação profissional. Para o caderno especial juntou-se inicialmente Val Sales, grande profissional do jornalismo com quase duas décadas de atuação. Val traz consigo muito

mais do que a experiência das redações, mas, principalmente, uma história de superação e sucesso que a torna ímpar. Também se integrou Charlene Carvalho, esta com uma atuação em todas as áreas do jornalismo acriano, da política à polícia, do social ao cotidiano.

Poucos são os nomes tão conhecidos em uma área profissional quanto o de Charlene. Falar sobre ela e sobre sua competência é redundância. Seu nome qualifica uma edição especial como esta. A mais jovem do grupo é Lyslane Mendes. Recém-formada pela Universidade Federal do Acre (Ufac), a menina se integrou perfeitamente à equipe do Pá-

gina 20 há menos de um ano e, de lá para cá, vem mostrando-se competente, responsável e uma profissional com um belo futuro pela frente. Esta edição, porém, não foi feita apenas por mulheres. Há três anos um jovem universitário, concludente do curso Comunicação Social com habilitação em Publicidade pela Uninorte, tornou-se colaborador do Página 20. Whilley Araújo cresceu na qualidade dos seus textos e ganhou destaque pelo

material produzido. O menino, novo ainda, com apenas 23 anos se mostrou determinado a também contribuir com essa homenagem às mulheres e, portanto, assina os textos que tratam das atividades esportivas deste caderno. As fotos levam o crédito de Regiclay Saady, um dos profissionais mais premiados do Estado. A diagramação e o trabalho de arte-final são de Wescley Camelo, competente e paciente como ninguém. Ele recebeu o apoio de dois outros grandes bons profissionais: Ronaldo

Spock e Tiago Daniel e o aval nos textos foi dado pelo grande revisor Beneilton Damasceno, a quem todos reverenciamos como “Professor”. O resultado de todo esse trabalho está aqui publicado nesta edição especial. Trata-se de uma homenagem do Página 20 às mães, às profissionais, às meninas e senhoras, às brancas ou negras, ou seja, a todas as mulheres acrianas. Com ele, espero que eu e todos os meus colegas de redação estejamos contribuindo para declarar que homens e mulheres são iguais, dentro das suas diferenças, e que são elas as que tornam o mundo mais humano e mais belo. Caros amigos leitores. Concluir este texto e essa edição especial é como receber um cheque polpudo em pagamento pela labuta mensal. Ver o resultado nas bancas e o retorno positivo se igualam em satisfação ao recebimento de uma grande mesada, em suma, é o gás que oxigena o sangue e que nos renova como jornalistas e profissionais. Por fim, este encarte é uma homenagem à menina Laís (foto), filha a colega Renata Brasileiro. Ela nasceu no dia 15 de fevereiro de parto normal para fazer a felicidade de uma família feliz. É para essa pequena mulher do novo milênio que escrevemos, na esperança de que o mundo dela seja de igualdade e tolerância entre homens e mulheres e com paz para todos. * Editor-chefe

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O cheiro doce da história de Arlete

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mente o professor Gerson Albuquerque, um dos seus melhores amigos - a quem conheceu aluno recém-aprovado no curso de História da Ufac - é muito mais que isso. “A Arlete ‘Cheiro Doce’ está na instituição há mais de 30 anos. É um verdadeiro e intocável patrimônio para todos nós”. Não é formada na faculdade tradicional, não tem diploma de bacharel mas é licenciada, com louvor, na universidade da vida. Neste Dia Internacional da Mulher, nada melhor que conhecer um pouco melhor de Arlete Souza Lima, 63, essa figura emblemática, mulher de fibra, batalhadora e que construiu, sozinha, um legado de honra e dignidade como tantas mulheres espalhadas pelos 22 municípios acrianos e que em datas como estas são sempre preteridas em detrimento de outras - não menos merecedoras que ela de homenagens, é verdade - mais lembradas por serem conhecidas do grande público.

Como você chegou aqui na Ufac? Cheguei em 1979. Meu exmarido já vendia na rua, daí eu decidi colocar uma banca lá na Ufac Centro, onde hoje é o Colégio de Aplicação. Quando transferiram a universidade para cá, eu vim junto. Tô aqui até hoje.

tinha refrigerante, nem iogurte, mas dei a eles uma boa educação. São ótimos filhos. Não me dão trabalho. O mais novo se formou em Geografia e Economia e agora tá terminando o mestrado. Minha neta Débora esta semana me deu um presente: passou no vestibular de Ciências Sociais. É a terceira geração da família na Ufac. Somos uma família forte. Não tenho do que reclamar.

Charlene Carvalho

e você estudou na Universidade Federal do Acre nos últimos 30 anos, com certeza conhece comprou uma caneta, um chocolate, um amendoim ou - por que não? - um creme ou um perfume na banca mais famosa do pedaço: Cheiro Doce, da Arlete. Acriana de Feijó - nasceu no Jurupari -, Arlete tem 63 anos, 31 deles vividos na Ufac. Primeiro no antigo prédio da Faculdade de Direito, no Centro, depois do campus universitário. Tempos difíceis aqueles, quando vendia apenas bombom, chiclete e cigarro numa “banquinha de bribotes” dessas que nem existem mais. Tomou assento ao lado do Diretório Central dos Estudantes (DCE) e está lá até hoje. Nem uma força-tarefa federal conseguiu - se bem que tentou demovê-la de lá. Mas Arlete é maior que isso. Como bem escreveu recente-

Naquela época o campus era muito longe da cidade... É verdade. Era tudo muito longe, mas não me arrependo. Antes de ter a banca na meus filhos Ufac eu costurava Criei e lavava roupa para bem criados com fora. Fiz muitos os recursos amigos aqui. Valeu aqui da banca. a pena. o

Como é criar os filhos, educá-los e passar tanto tempo no trabalho, já que você fica aqui até tarde? Não é fácil, mas a gente dá um jeito. Era um temp - Hoje meus filhos Tantos anos de ícil. Criei to estão criados, já if d Ufac e nunca se tenho netos. Me dos num berço só orgulho do meu formou? Pois é. Eu prestei trabalho, de têvestibular para Histólos criado com o meu ria, uma vez. Tava decidida a fazer trabalho aqui na Ufac. Não posso o curso, mas quando olhei para reclamar. os meus quatro filhos pequenos, decidi que precisava cuidar deles, É verdade que você enaí desisti do curso. controu parentes seus no Maranhão graças aos alunos Foi uma decisão difícil da Ufac? abrir mão da própria educação É verdade, sim. Eu sempre para criar os filhos? viajava com os alunos nos conAcho que não. Criei meus gressos. Não tinha dinheiro, mas filhos bem criados com os re- eles sempre me chamavam e eu cursos aqui da banca. Era um ia, com ou sem dinheiro. Um tempo difícil. Criei todos num dia, o Gerson [Albuquerque, exberço só. Naquele tempo não presidente do DCE, hoje profes-

sor da Ufac] me convidou para ir com os alunos para um Jubs (as olimpíadas universitárias). Ele me disse assim: ‘Arlete, nós vamos para o Maranhão, tu não tem uns parentes lá? Quer conhecer? Então vem com a gente’. Viajei com R$ 50 e fui e conheci meus parentes. Mantenho contato com eles até hoje. Nas últimas férias fui lá visitá-los. Tanto tempo na Ufac garante muitas histórias para contar? Sou do tempo da Marina (senadora Marina Silva) do Marcos Afonso (ex-deputado federal e articulista do Página 20), do Taboada, da Gisela, do Carioca, do Gerson, da Salete Maia. Fiz muitos amigos aqui. O Gerson é um grande amigo. O Marcos Afonso também. Muitos deles continuam vindo aqui até hoje. Outros moram fora e quando posso vou lá vê-los. São muitas histórias. Aqui eu já ouvi de tudo. Que tipo de histórias? De todo tipo: mulher que brigava com o marido, vinha aqui, conversava, pedia opinião e eu dava, gente querendo namorar, todo o tipo. Tenho uma amiga que fez Enfermagem aqui. Tinha dois filhos e estudava o dia todo. Eu ficava com as crianças para ela estudar. Somos amigas até hoje. Ela mora em Brasília, mas nunca perdemos o contato.

Apesar de ter desistido do curso de História, não pensou em fazer outro? Eu passei por todos os cursos daqui. Fiz um pouco de cada um deles. Sou formada na universidade da vida, mas estou na Ufac há muito tempo. Passei por seis reitores. Alguns deles foram estudantes e depois viraram reitores, como é o caso do Carlitinho (Carlito Cavalcanti, professor de Economia e ex-reitor) e do Jonas (Jonas Filho, professor de paleontologia e reitor por dois mandatos). Fiz muitos amigos entre professores, reitores e próreitores. E, sabe qual a diferença? Eles, os alunos, se formaram, foram embora e eu fiquei. A banca é o meu mundo. Meus amigos estão aqui. Aqui eu sei de tudo e as pessoas vêm sempre aqui me ver. É verdade que você foi madrinha de muitos alunos? É verdade. Eles (os alunos) viviam aqui. Jogavam bola e deixavam as coisas aqui, conversavam, conviviam muito. Fui madrinha de muitos deles. Ia lá na formatura e entregava o diploma, o anel de formatura, principalmente daqueles cujas mães moravam fora e não podiam vir para a formatura. Fui madrinha do Pacífico (exdeputado Manoel Pacífico, hoje assessor do deputado federal Nilson Mourão), viajava com os alunos para os congressos,

preparava até chá para curar os porres deles depois do fim de semana. Os alunos de hoje mantêm esse vínculo? Não. Hoje tudo é muito diferente. Os alunos são mais ausentes. Passam aí do lado, as vezes compram alguma coisa, conversam, mas não é mais como era antes. Tudo mudou. Mas continuo conhecendo de tudo aqui. Conheço do vigilante à reitora e me dou bem com todo mundo. E a banca, ela continuará fechada? Eu tô aqui, tô esperando os documentos. Tantos anos aqui e nunca incomodei ninguém, nunca tive necessidade. A turma do DCE me deixou ficar aqui e eu fui ficando. Fiquei. Quando teve esse problema, me chamaram lá na reitoria, pediram desculpas, me abraçaram e foi quando se iniciou o processo da papelada para eu ter o documento, o alvará de funcionamento. Não tenho intenção de sair daqui. Gosto do que faço. Como disse, a banca é o meu mundo. Eu fui a uma audiência lá no Ministério Público. O moço disse que eu tinha direito a uma indenização. Eu não quero. Quero viver do meu trabalho. Aqui tenho meus amigos, uma verdadeira família. Sou feliz assim.

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Vó Adriana comemora cem anos de fé e amor ao próximo

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eitada na rede, no pequeno quarto ventilado pelo ar que entra pela janela do humilde ambiente, Adriana da Silva do Nascimento vê o tempo passar. Ouve muito pouco e fala menos ainda. A mulher conhecida pelo ofício de rezar para quebranto e ventre caído, entre outros males, acaba de completar 100 anos. A centenária é um exemplo de mulher que teve força de vontade e não se prendeu às amarras do preconceito para realizar seu trabalho, mesmo tendo ficado viúva tão jovem. O trabalho de dona Adriana

como rezadeira se iniciou no seringal Antimari, onde ela morava com os pais, oito irmãos e com sua madrinha de fogueira, dona Maria, de quem a vó Adriana e mais dois irmãos herdaram o ofício. Sempre muito religiosa ela começou a benzer as pessoas com 12 anos e mantém o que ela chama de ‘dom’ até hoje. Casou jovem e enviuvou mais cedo ainda. Desde então deve que trabalhar muito para sustentar os quatro filhos, dos quais apenas dois são vivos e lhe fazem companhia. Ela cortou seringa, carregou ouriço de castanha, lavou roupa para fora, cuidou

de crianças, vendeu verdura de porta em porta, doces, refresco e trabalhou de domestica, parteira, além de rezar nos enfermos. Hoje suas experiências já não saem de sua boa, como uma espécie de porta voz sua filha, Maria do Carmo de Almeida, relata com o orgulho estampado nos olhos, a história da rezadeira mais famosa de Rio Branco, que agora reza calada e com olhar fixo ao céu, como se conversasse direto e intimamente com Deus. “Apesar da idade ela mantém a lucidez e recebe sempre com um sorriso, aqueles que ainda buscam por suas palavras de fé. Lembro

Dona Adriana vive há mais de um século se dedicando a ajudar o próximo

Eu acredito no potencial das mulheres do Acre. Parabéns pelo seu dia! 8 de Março - Dia Internacional da Mulher Roberto da Princezinha

que minha mãe sempre em suas rezas, explicava para as pessoas que quem curava não era ela e sim, Deus. Sempre tive admiração pela fé dela, que acredito que foi um dom que ela soube usar muito bem durante os seus longos anos de vida, por isso foi presenteada com vida longa e feliz”, relata. Ela diz que herdou da mãe a força de vontade e a fé para não se limitar as barreiras da vida, que hoje também viúva retribui todo carinho e atenção que a mãe lhe dedicou. “Nunca nos faltou nada, ela sempre trabalhou duro, fosse ao sol ou no serviço pesado ela nunca fez corpo mole ou encarou qualquer oportunidade como algo que ela não pudesse realizar. Sua humanidade sempre foi admirável, por quantas vezes vi minha mãe abrigando pessoas em nossa casa, mesmo estando desempregada, mas ela sempre dava um jeito, e tudo se ajeitava”, conta a filha carinhosa sob o olhar atento da mãe. Vó Adriana, que dedicou maior parte de seu tempo ao longo de sua vida às pessoas que a procuravam em busca de rezas, geralmente mães com bebês, vive hoje cercada pelo carinho dos dois filhos, dos quatro netos, dos seis bisnetos, três tataranetos e dos poucos amigos que ainda visitam a benzedeira em busca de suas palavras de fé, que agora reza por instinto. “Se chega uma mãe aflita com o filho doente nos bra-

ços, a gente avisa que ela não ta mais rezando por conta da idade avançada. Mas as pessoas sempre insistem então apresentamos a criança à minha mãe, Ela entende o que é pra ser feito e estende a mão a mim, para que eu pegue um raminho verde, de preferência vassourinha, concentrada, começa a rezar baixinho e esquece do tempo. Aí tenho que lhe dá um beijinho na testa e retirar a criança de seus braços com carinho, se não fizer isso acredito que ela passaria a tarde inteira conversando com Deus pela saúde daquela criança”, relata. A centenária já benzeu grande parte da população de Rio Branco, com isso conquistou a amizade e o respeito de ilustres personalidades do Estado. “Nossa casa sempre esteve cheia de visitas, quando as pessoas não vinham em busca da reza, vinham agradecer as palavras de fé. Acho que recebíamos cerca de 40 pessoas por dia, com ela não tinha hora certa, quando chegava alguém ela sempre parava o que estivesse fazendo para atender aquela pessoa aflita. E ela não fazia descriminação de classe ou idade, sempre dava a mesma importância e atenção para todos os que a procuravam. Recebemos aqui do senador ao varredor de rua e nunca a vi aceitar nenhum pagamento por isso. Minha mãe sempre dizia que nunca ia cobrar pelas palavras de Deus”, pontua. (Lyslane Mendes)

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Supremacia masculina no mercado de trabalho Lane Valle colaboradora

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Ana corre atrás dos seus sonhos em cima de sua moto

as cavernas, contam que elas tinham dupla missão na vida: alimentar as crias e olhar em volta para protegê-las dos possíveis predadores. Por isso, sua visão de mundo se ampliou e elas passaram a orientar os próprios homens para as adversidades da vida. Assim eram as mulheres nos primeiros tempos. Depois, elas só se aprimoraram a passaram a ocupar todos os lugares antes ocupados apenas pelos homens. Saíram de casa e invadiram as fábricas, o comércio, a agricultura, os serviços e até a política, onde já colocam em prática sua visão globalizada das coisas, obtendo soluções simples, objetivas e completas, tais quais aquelas que a natureza lhes proveu para amar e defender a vida. Mas nem tudo foi de graça na vida das mulheres, que lutam sempre, não medem esforços e até perdem a própria vida no avanço de seus direitos nas favelas, nas vilas, nos seringais e nas pequenas, médias e grandes cidades do mundo. E não foram poucos os fatos que elas viveram para conquistar o seu Dia Internacional, comemorado e festejado hoje em todo o planeta. O Dia Internacional da Mulher foi instituído em 1910 em alusão ao trágico episódio envolvendo mulheres operárias nos Estados Unidos. Era 8 de março de 1857 quando operárias de uma fábrica de tecidos, situada na cidade de Nova York, começaram uma grande greve. Elas ocuparam a fábrica e começaram a reivindicar melhores condições de trabalho. Lutavam pela redução na carga diária de trabalho para dez horas (as fábricas exigiam 16 horas), equiparação de salários com os homens (chegavam a receber até um terço do salário deles) e pelo tratamento digno dentro do ambiente de trabalho. A manifestação das operárias foi reprimida com uma violência inominável. Elas foram

trancadas dentro da fábrica, que foi incendiada, e cerca de 130 delas morreram carbonizadas. A história também registra que apenas em 1910, durante uma conferência na Dinamarca, ficou decidido que o 8 de março seria considerado o “Dia Internacional da Mulher”, em homenagem exatamente àquelas que morreram na fábrica em 1857. Como tudo que resulta em conquistas para as mulheres é lento, somente no ano de 1975, por meio de um decreto, a data foi oficializada pela Organização das Nações Unidas (ONU). Na vida das mulheres brasileiras, muitas já foram as conquistas sacramentadas, entre elas o direito obtido em 1932 de votarem e ser votadas, o que já lhes garantiu espaço considerável na política, embora sejam ainda insatisfatórios os percentuais de sua participação nesse setor imprescindível e essencial para as mudanças do mundo. As conquistas também chegam às mulheres acrianas. Hoje muitas delas têm de prover sozinhas a sobrevivência dos filhos deixados para trás por pais irresponsáveis e sem compromisso com a família. Nas cidades, elas já são políticas, advogadas, jornalistas, médicas, engenheiras, policiais, entre outras profissionais. E não param de ocupar novos lugares no mercado de trabalho. Um exemplo de superação e coragem para encarar profissões não habituais está na vendedora de churros Maria Vilma, 52, que tem uma árdua rotina de trabalho. Sozinha, ela sustenta as três filhas e duas netas com a venda de churros no centro da cidade. “Não é fácil exercer o trabalho que faço, passo o dia inteiro no sol quente, no final do dia tenho que guardar o carrinho que é muito pesado de empurrar. Trabalhar fora de casa não é uma opção para muitas mulheres, é uma questão de necessidade! Estou há doze anos trabalhando na rua com meu carrinho, faça sol ou chuva não deixo de vir, pois é daqui que retiro o sustento da minha família.” Maria do Carmo é mais uma entre tantas guerreiras que no anonimato fazem brilhar lindas historias de superação. Picolezeira há mais de quatro anos, ela trilha na cidade um percurso de sobrevivência nas ruas de Rio Branco. Segundo a psicóloga Mariana Canesin, do departamento de mobilização do trabalho, da Secretaria de Estudo e Desenvolvimento de Ciência e Tecnolo-

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já era! As mulheres conquistaram o direito de igualdade entre as profissões com uma cultura de que a mulher servia apenas para atividades domésticas, maridos e criação dos filhos ainda não foram totalmente extintos na sociedade. As mulheres não estão sendo mais submissas aos homens, estão superando os obstáculos e hoje fazem parte, ainda que , de espaços executivos em grandes empresas. Infelizmente, o mesmo não acontece no interior do Estado, na floresta, onde as índias, as seringueiras, as ribeirinhas, as agricultoras, entre outras, assumem funções ainda secundárias em relação aos homens. A última pesquisa realizada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) comprovou que, em cada 130 mil mulheres empregadas hoje no Acre, apenas 59 mil delas são remuneradas - 17 mil são trabalhadoras domésticas, 14 mil são autônomas e apenas duas mil mulheres ativas, que hoje no mercado de trabalho exercem o cargo de empregadoras. Ou seja, as que geram empregos no Estado. A pesquisa apontou também que as mulheres aumentaram sua participação no mercado de trabalho, acumularam mais anos de estudo e ainda assim a remuneração é menor - cerca de 30% comparada à dos homens. Segundo o IBGE, a desigualdade de salário decorre da inserção da mulher no mercado de trabalho. pois elas em sua maioria assumem serviços menos qualificados e de Serviço pesado não é mais barreira para a mulher no mercado de trabalho

gia (SDCT), as mulheres já estão inseridas no mercado de trabalho e muitas vezes assumem a função do homem, não para se igualarem a eles, mais pela necessidade de trabalhar, exercendo ou não cargos masculinos. “A mulheres do Norte são mais sofridas, mais guerreiras, em especial as acrianas, sejam elas seringueiras, camponesas, indígenas ou ribeirinhas, pois

foram capazes de redesenhar o itinerário da vida humana. Hoje elas estão se equiparando aos homens, não digo que seja pelo simples fato de competir, porque a mulher não está disputando setores para ganhar do homem, ela está competindo de igual para igual pela mesma competência que possui. Não é uma questão de ‘guerrinha dos sexos’, é uma luta pela sobrevivência. Sendo que a

mulher precisa trabalhar, porque tem que criar os filhos, porque são separadas, porque seus pais não tiveram condições de dar um estudo melhor e elas tiveram que correr atrás para garantir o sustento da família”, ressalta Mariana Canesin. Conquistar esse espaço no mercado de trabalho não foi tarefa fácil de conseguir ao longo dos anos, pois os desafios de romper

Maria do Carmo adoça a vida dos clientes com seu sorvetes

baixa remuneração. Conforme a pesquisa, as mulheres que assumem cargos de comando ou chefia são minoria hoje no Acre. A atual realidade não perde o mérito do reconhecimento das mulheres que conquistaram o direito, ainda que desigual, de “igualdade”. A Constituição Federal determina que “todos são iguais perante a lei”, mas a discriminação ainda ultrapassa os limites da Lei, atingindo os diferentes âmbitos sociais. É necessário ter o olhar mais sensível as lutas e conquistas femininas, ter mais respeito e menos preconceito, pois essa conquista no mercado de trabalho não anulou o papel delas na maternidade nem com a responsabilidade do lar. Hoje, várias Marias, Margaridas ou não, muitas já têm o que comemorar, pois ao longo da histórias têm procurado novas formas de estar inseridas na sociedade, embora a maioria delas ainda enfrente o preconceito e a discriminação que as fazem sofrer com salários baixos, violência masculina, jornada excessiva de trabalho e desvantagens em suas carreiras profissionais.

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Determinação e disciplina WHILLEY ARAÚJO Colaborador

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lém da paixão pelo esporte, a professora de Educação Física pósgraduada Lucineide Maria Martins, 36, e a acadêmica

de Educação Física Roselane Alves Jardim, 43, têm em comum uma grande determinação e força de vontade. Elas enfrentaram uma série de dificuldades para seguir a carreira no esporte e com bastante esforço conseguiram driblar as dificuldades da

vida para se tornarem pessoas realizadas. Conheça a seguir os caminhos que cada uma delas trilhou para alcançar seus objetivos, além dos novos sonhos que passam a existir após cada obstáculo superado.

Paixão pelas artes marciais Lucineide Maria Martins, mais conhecida por Neide, desde criança tinha como sonho praticar artes marciais. A primeira oportunidade surgiu há aproximadamente 14 anos, quando ela era acadêmica do curso de Educação Física da Universidade Federal no Acre (Ufac). A convite de uma colega, Neide foi assistir a uma aula de kung fu no Ginásio do Sesi e logo percebeu que era aquilo que ela queria fazer pelo restante da vida. Apesar da certeza, não hesitou de logo em seguida conhecer outras modalidades de luta, como judô, jiu-jitsu, kickboxer e outros. “Foi no kung fu que encontrei meu desejo, foi amor à primeira vista”, assegura. Desde aquela época, Lucineide morava no Bujari e vinha todos os dias à capital para estudar na universidade, já que não existiam núcleos de instituições de ensino superior em sua terra natal. Assim como a falta de estrutura educacional, o município também

sofria com a escassez de atividades esportivas e não contava com professores que ensinassem artes marciais na cidade. Dessa forma, ela se deslocava, mesmo nos dias em que não havia aula na universidade (e também após a conclusão do curso de Educação Física), para Rio Branco a fim de dar continuidade ao aprendizado de kung fu. “Quando não dava para vir de ônibus eu arranjava uma bicicleta. Depois adquiri uma moto, ou seja, eu dava um jeito, mas nunca perdi uma aula de kung fu.”. Depois de um período de dedicação ao esporte, Neide começou a ver seu esforço ser recompensado com títulos. Ela venceu três campeonatos estaduais seguidos na categoria combate (1997, 1998 e 1999) e outros dois estaduais (2000 e 2001) na categoria luta combinada. “Primeiro, por ser mulher, sempre quis mostrar e provar para mim mesma que eu tinha capacidade semelhante à de ou-

tras pessoas, independentemente de sexo. Por conta disso sempre treinei pensando em ser uma das melhores, e para isso me dediquei extremamente”, comenta a professora. Ainda no ano de 2000, após conseguir resultados importantes em sua modalidade, Neide realizou um outro sonho. Já formada, tanto em Educação Física como em kung fu, abriu uma escolinha de kung fu no Bujari, com apoio da prefeitura local. “Levei a proposta à prefeitura e foi aprovada. Então divulgamos e abrimos as inscrições. Cerca de 80 alunos se inscreveram. O número foi alto, por conta da distância com relação a Rio Branco. Assim, uni o útil ao agradável e a idéia deu certo, já que queríamos formar atletas capazes de competir em nível nacional, internacional e mundial. Hoje tenho dois atletas que participaram do Brasileiro e obtiveram bons resultados nas disputas”, ressalta. Há dois anos a atleta parou de

Neide realizou o sonho de praticar artes marciais

competir profissionalmente em função de problemas na coluna. Mesmo assim não desanima. Ela faz fisioterapia e diz que ainda tem um sonho para realizar como atleta. “Quero voltar a competir este ano e me credenciar nas

seletivas regionais para disputar o Campeonato Brasileiro, que será realizado aqui mesmo em Rio Branco, possivelmente em setembro.” Alguém duvida de que Neide será uma das lutadoras acrianas na competição?

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Correndo atrás dos objetivos

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onhecida por grande parte da população acriana tanto pelos feitos obtidos como atleta como pela realização de eventos esportivos, Roselane Alves Jardim enfrentou muitas dificuldades na vida desde criança. Natural de Santa Maria do Suaçui, interior de Minas Gerais, aos nove anos de idade ela já andava aproximadamente 12 quilômetros por dia para se deslocar da colônia de seus familiares até a escola. Ela diz que sempre gostou de praticar esporte e nos primeiros anos de colegial já figurava entre as integrantes do time de voleibol do centro de ensino. Na época, Roselane e os demais alunos foram convidados para participar de um evento de atletismo promovido pelo Sesc, oportunidade em que o talento da corredora começou a despontar. “Nesse primeiro campeonato venci todas as provas que disputei e a partir de então comecei a treinar atletismo. Um mês depois consegui índice para os Jogos Escolares, participei de um revezamento e também competi em um Campeonato Brasileiro Juvenil”, lembra Roselane. Apesar do talento para o atletismo, ela conta que sempre gostou muito da cidade onde nasceu e, após concluir o ensino médio, voltou e montou uma clínica de estética e consequentemente abandonou o esporte por um tempo. Isso evitou que a atleta se destacasse nacionalmente, ainda mais depois de “chutar o balde de vez” e se casar. Posteriormente, ainda morou em Rondônia até chegar ao Acre, há mais de dez anos. Desde que começou a praticar esportes, Roselane sempre teve o sonho de se formar em educação física, mesmo tendo ciência de que a profissão não era tão bem remunerada como outras. No entanto, o curto tempo era tido como um empecilho para ingressar na universidade. Enquanto se dedicava exclusivamente ao atletismo, Roselane conquistou vários campeonatos regionais e se credenciou a participar de quatro corridas de São Silvestre, uma das provas mais importantes da América do Sul. Em sua última participação no evento, obteve o 37º lugar representando o Acre, feito que nenhum outro atleta do Estado conseguiu alcançar até hoje. A atleta também se destaca na promoção de corridas para crianças, jovens, deficientes físicos e visuais e principalmente na realização de eventos esportivos voltados para pessoas de bairros carentes de Rio Branco. Nessas atividades ela costuma fazer de tudo - inclusive colher inscrições -, contando com alguns apoios que consegue. Há quase quatro anos a atleta decidiu iniciar um de seus maiores sonhos e ingressou em um curso de Educação Física em uma universidade local. Mesmo com um filho de pouco de mais de um ano, ela sai de casa todos os dias cedo da manhã em sua bicicleta em direção à faculdade, onde permanece até 11 horas. Em seguida retorna para casa e às 13 horas pega sua “magrela” novamente para ir ao trabalho. Essa rotina é praticamente diária. No trajeto de ida e volta à faculdade e ao trabalho, ela pedala pelo menos 30 quilômetros. “É uma maratona diária, enfrentando sol e chuva e por isso não estou promovendo corridas atualmente pela falta de tempo, o ano está apertado. Mas vou voltar a fazer isso e ainda tenho um sonho como esportista, mas prefiro não revelar agora. Só peço a Deus saúde para fazer minhas atividades, já que sempre trabalhei pensando em superar meus limites e não outros atletas”, ressalta Roselane. A esportista, que concorreu a uma eleição para vereadora em 2004 e acabou sendo derrotada após realizar uma campanha humilde, vai terminar o curso de Educação Física no fim de 2009. “Após esse curso, que é um verdadeiro sonho, espero ter condições de um dia, quem sabe, conseguir sucesso em alguma eleição, se for da vontade de Deus, e assim poder fazer ainda mais pelo esporte”, afirma. (Whilley Araújo)

Roselane é uma mulher moderna que não desanima diante das adversidades e está sempre em busca de superar os próprios limites

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Violência contra a mulher Rigor da Lei Maria da Penha não alivia a violência institucionalizada na cultura da posse Val Sales valsales@página20.com.br

brutalidade continua.” A frase bem que poderia dar nome a um filme de ação e terror. Mas ela traduz a violência contra a mulher na vida real. Uma modalidade de crime silencioso que continua se repetindo no interior dos domicílios e sendo “amparada” pela cultura de posse dos maridos sobre as companheiras. A Lei Maria da Penha, criada no Brasil em setembro de 2006, abriu perspectiva para novos horizontes quando passou a tratar a violência contra a mulher como crime hediondo, ao mesmo tempo em que obrigou o Estado a tomar para si a defesa delas. Em contrapartida, uma vez que a ocorrência se torne pública, isto é, que o fato seja levado à delegacia, a vítima perde o direito de voltar atrás na denúncia, que passa a ser representada pela Justiça. A severidade da legislação ainda divide opiniões na sociedade - uns criticam a falta de opção das mulheres e outros a tratam como rígida demais ao abolir a possibilidade de acordo Justiça se entre as partes: modernizou para a que apanha e a atender as demandas que bate. da mulher Apesar da polêmica, a maioria das titulares da Delegacia Especializada da Mulher afirma que a implantação da lei (sem elas, foi o crescimento dos desprezar sua necessidade e registros feitos pelas vítimas, mérito) não fez diminuir o ín- que, contando com o amparo da dice de violência, também não nova lei, quebraram o silêncio e passaram a denunciar seus a fez aumentar. O que ocorreu, segundo agressores. “A violência não

aumentou. O que ocorreu é que antes muitas vítimas não procuravam a delegacia”, enfatiza a titular da Delegacia da Mulher no Acre, Mardhia El-Shawwa Pereira.

O medo impediu que o socorro chegasse a tempo Márdhia El-Shawwa Pereira é a delegada mais nova da Polícia Civil do Acre, mas em seis anos de profissão ela destaca alguns casos que demonstram o recuo de muitas mulheres que, por motivos diversos, ainda optam por manter a defesa dos maridos agressores, mesmo correndo o risco de morte. As alegações vão desde o amor que sentem por eles, os filhos, à dependência financeira e à pressão familiar. “Em um dos casos que chegou a esta delegacia, a mulher se arrependeu de ter denunciado o agressor e disse que preferia pagar o preço por ele”, lembra Márdhia El-Shawwa. A delegada ressalta algumas ocorrências brutais que ficaram marcadas em sua carreira como profissional de polícia e como mulher. Ambos os registros foram feitos antes

de a Lei Maria da Penha entrar em vigor. O primeiro fato, segundo ela, foi levado à delegacia em um dia de domingo. O agressor era um mototaxista e estava preso por ter espancado a companheira. Mesmo com os hematomas expostos no rosto e em outras partes do corpo, a mulher não quis abrir processo contra o marido, que foi liberado em seguida. Dois dias depois ele deu um tiro no pescoço dela no bairro Sobral. Ferida, a mulher ainda conseguiu ligar para o 190 e pedir socorro, dizendo que havia acabado de receber um tiro, mas não resistiu e morreu. “Fiquei chocada porque em menos de uma semana ela havia estado aqui comigo e não quis levar à frente uma representação contra o agressor. Era a quarta vez que ele batia nela”, acrescenta a

De acordo com a delegada, tendo aumentado a procura por parte das mulheres que optaram por quebrar o silêncio, assim também melhorou a qualidade do atendimento oferecido a

elas pelo distrito. “É claro que necessitamos de bem mais, porém, muita coisa já mudou, até porque a lei nos fornece mais ferramentas de garantia de amparo às vitimas.”

Castigo para todas as formas de violência

delegada. O segundo caso citado Antes da implantação da Lei por Márdhia El-Shawwa envolve Maria da Penha, a mulher podia uma jovem de 18 anos, também optar pelo que queria fazer no vítima de agressão por parte do caso de lesão praticada pelo companheiro e que optou por não companheiro. Se ela não quiabrir processo contra ele. sesse dar prosseguimento, ele “Na época não seria autuaambos assinaram do. “Atualmente, “Em um dos casos apenas o crime apenas um termo de compromisso. de ameaça contique chegou a esta Em menos de uma dependendo delegacia, a mulher nua semana ele deu vád a vo n t a d e d a se arrependeu de ter vítima de fazer rias facadas nela e a estuprou. Fui denunciado o agressor ou não a reprevê-la no prontocontra e disse que preferia sentação socorro. A violêno a g r e s s o r. S e cia foi tanta que pagar o preço por ele” ela não quiser, a ela não conseguia gente não pode a b r i r o s o l h o s. obrigar”, sintetiEssa moça, graças a Deus, não za Márdhia El-Shawwa. morreu, mas revela ainda um A delegada lembra que, ao índice preocupante da violên- contrário do que ocorria em cia causada por quem a deveria anos atrás, quando o distrito proteger”, enfatiza. apenas encaminhava as vítimas

para o juizado, hoje inúmeras medidas de proteção podem ser requisitadas pela autoridade policial. Essas medidas vão desde o afastamento do agressor, à proibição de contato com a vítima e os encaminhamentos para a juíza, a assistente social ou assessoria jurídica. “A lei diz que, a partir do momento em que a violência contra a mulher passa a ser vista como um problema social, de saúde pública e com altos índices, a mulher passa a não ter condições de responder por si e o Estado assume essa responsabilidade. Nesse sentido, ao tomarmos conhecimento do crime, seja de lesão corporal de natureza grave ou leve, damos prosseguimento ao caso, independentemente da vontade da vítima”, garante a delegada.

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Perfil da violência Do ponto de vista da delegada Márdhia El-Shawwa, a origem da violência no Acre pode ser caracterizada pela sociedade machista constituída desde a colonização. Partindo desse princípio, o homem enxerga a mulher como propriedade e acha que pode bater na companheira por motivos fúteis. A problemática do uso do álcool e das drogas é citada como sendo um ativador explosivo na elevação dos índices de agressão. “Acredito que os índices somente serão reduzidos quando diminuir a clientela de usuários dessas substâncias. Mas, para isso, é preciso que haja uma mudança de comportamento provocada pela educação”, acentua. Para ela, a transformação teria que envolver tanto os homens que ainda desenvolvem a cultura da posse quando as próprias mulheres, que em virtude dos maus-tratos acabam perdendo a autoestima. “Alguns homens chegam a ponto de ver uma mulher na rua e dizer para sua parceira, por exemplo, que a outra é que é ‘gostosa’ e ela não. Isso não é normal.”

Agradeço por ser mulher

MÁrdhia El-Shawwa critica o uso do álcool e das drogas

Como buscar ajuda As mulheres vítimas de violência são aconselhadas a buscar ajuda na delegacia especializada, mas caso isso não seja possível no momento, elas devem buscar o distrito policial mais próximo de suas casas. Ao tomar conhecimento dos fatos, o plantonista fará o en-

caminhamento para a chefatura responsável pelo setor. A busca de apoio também pode ser feita pelos números 190 e 180. O alerta é que as vítimas não deixem de denunciar as agressões. Para os especialistas na área de apoio às mulheres vítimas de violência, o tapa ou o empurrão

de hoje pode ser o prenúncio de uma tentativa de homicídio amanhã, tendo em vista que a tendência desse tipo de abuso é aumentar. Esses profissionais lembram que o abuso começa com uma ofensa moral, um empurrão ou um puxão de cabelo. E depois piora.

Lei Maria da Penha A Lei Maria da Penha, criada sob o número 11.340 e sancionada pelo presidente da República em 2006, obriga a Justiça brasileira a tratar a violência contra a mulher como crime hediondo. Junto com o endurecimento das penalidades para os agressores, ela estabeleceu medidas de assistência e proteção à classe feminina que sofre abuso doméstico e familiar. O nome da lei é uma homenagem à biofarmacêutica Maria da Penha Maia, mãe de três filhas. Ela lutou durante

vinte anos para ver o marido agressor condenado e virou símbolo do combate à violência doméstica. O marido, o professor universitário Marco Antonio Arredia, tentou matá-la duas vezes. Na primeira, deu um tiro e ela ficou paraplégica. Na segunda, tentou eletrocutá-la. A investigação sobre o caso de Maria da Penha começou em junho de 1983, mas a denúncia só foi apresentada ao Ministério Público em setembro de 1984. Oito

anos depois, Arredia foi condenado a oito anos de prisão e usou os recursos jurídicos para protelar o cumprimento da pena. Depois da experiência, a própria Maria da Penha garante que a mulher não tem mais vergonha de denunciar o agressor e que não fazia antes por medo e por se agarrar à preservação da vida. Para ela, a partir da primeira agressão, não adianta conviver, pois a cada dia esse abuso vai aumentar e terminar em assassinato.

Agrada-me que digam que sou histérica, porque então posso jogar os pratos na cabeça de quem me causa sofrimento. Gosto que me chamem de bruxa, porque então posso mudar a direção dos ventos a meu favor. Gosto que me chamem de demônio, porque posso queimar o leito onde me abusam. Gosto que me chamem de puta, porque então posso fazer amor com quem me dá vontade. Gosto que digam que sou frágil, porque me lembram que a união faz a força. Gosto que digam que sou fofoqueira, porque nada do que é humano me será alheio. Porém, o que mais agradeço, o que mais me agrada, o que eu mais gosto e o que me faz mais feliz é que me digam que sou louca, porque então nenhuma liberdade me será negada. Agrada-me saber que meu cérebro é menor que o cérebro do homem, porque então meu cérebro cabe em todos os lugares. Agrada-me que me digam que careço de lógica, porque então posso criar uma lógica menos fria e mais vital. Agrada-me que digam que sou vaidosa, porque posso olhar-me no espelho sem me sentir culpada. Agrada-me que me digam que sou emocional, porque posso chorar e rir à vontade. Mil e uma vezes a Inquisição me queimou e aprendi a nascer das cinzas. Prenderam-me em um harém e, enclausurada, não deixei de rir. Colocaram um cinturão de castidade e adquiri a arte de um serralheiro. Carreguei fardos de lenha e me fiz forte. Cobriram-me o rosto com véus e aprendi a olhar sem ser vista. Os filhos me acordaram à meia-noite e aprendi a manter-me em vigília. Não me enviaram à universidade e aprendi a pensar por minha conta. Transportei cântaros de água e soube manter o equilíbrio. Extirparam-me o clitóris e aprendi a gozar com todo o corpo. Passei dias bordando e tecen-

do e minhas mãos aprenderam a ser mais exatas que as de um cirurgião. Ceifei o trigo e colhi o milho, porém me roubaram a comida e com fome aprendi a viver. Sacrificaram-me aos deuses e aos homens, e voltei a viver. Espancaram-me e perdi os dentes, e voltei a viver. Assassinaram-me e me ultrajaram, e voltei a viver. Arrancaram de mim meus filhos e, no pranto, voltei à vida. Agradeço por ser um animal, porque os homens colocaram em perigo à sobrevivência do planeta. Agradeço por ser mulher porque o homem não é o centro do universo, e sim apenas mais um elo perdido na cadeia da vida. Agradeço que me digam que sou irracional, porque a razão tem conduzido aos piores atos de barbárie. Agradeço por não ter inventado a tecnologia, porque ela tem envenenado a água e o ozônio. Agradeço que me tenham colocado mais perto da natureza, porque nunca estarei só. Agradeço que me tenham confinado ao lar e à família, porque posso fazer de toda a Terra meu lar e minha família. Estou feliz que me chamem de dona de casa, porque posso apoderar-me da minha. Estou feliz de não ser competitiva, porque então serei solidária. Estou feliz de ser o repouso do guerreiro, porque posso cortar-lhe o cabelo enquanto dorme. Estou feliz de ter sido excluída do campo de batalha, porque a morte não me é indiferente. Estou feliz de ter sido excluída do poder porque, longe do poder, me distancio da ambição e da cobiça. Estou feliz que me tenham excluído da arte e da ciência, porque as posso inventar de novo. Com tanta fortaleza acumulada, com tantas habilidades e destrezas aprendidas, mulher, se tentar conseguirá o mundo do avesso. (Texto de autoria desconhecida. Supõe-se ser de uma sindicalista da Guatemala)

A luta feminina Ana Angélica Freire de Souza

“Dizem que a mulher é sexo frágil, mas que mentira absurda...”. Inicio esta homenagem às mulheres evocando Erasmo Carlos, cantor e compositor brasileiro, que na letra de uma de suas canções enaltece a figura feminina. Ao longo da história, a mulher sempre lutou por seus direitos. Vejamos a luta empreendida pelo direito de votar, como cidadã. Direito de ser reconhecida como profissional, direito de exercer sua sexualidade. A condição feminina não inferioriza a mulher. Pelo contrário, o ser feminino gesta e dá à luz outra vida, uma

dádiva divina - não que essa dádiva seja o que a torna especial, pois a mulher é uma especial criatura. A mulher está sempre na luta. Anita Garibaldi foi uma guerreira inconteste, a mãe cidadã que protege suas crias com a força de uma leoa é uma corajosa e honrosa guerreira. Mulheres que ao mostrarem sua delicadeza, sua inteligência, sua força e que se mostravam à frente de seu tempo eram quase sempre incompreendidas. Exemplos? Alguns deles. A cantora Maísa Matarazzo, uma mulher de personalidade forte; Maria, mãe de Jesus, que sofreu resignada ao testemunhar a

tortura do Filho; Joana D’Arc, revolucionária francesa morta por se mostrar forte a ponto de ir contra o sistema de sua época; Olga Benário, mulher de fibra que dedicou a vida à causa política e dos menos favorecidos (operários explorados pela força empregadora) e que até a hora de sua morte não se curvou à loucura Nazista. Não quero cometer injustiças com tantas outras mulheres, públicas ou não. Toda mulher merece respeito como ser humano, como mãe, esposa, empresária, dona de casa, professora, pastora, política, jornalista, margarida, lavadeira, prostituta, negra, índia, parda, médica, cantora, atriz,

seringueira, doméstica, em suma, toda e qualquer mulher. Somos frágeis quando das circunstâncias, mas somos fortes o suficiente para suportar as adversidades da vida. Como ressalva, esta homenagem não tem a pretensão de se mostrar preconceituosa em relação ao sexo masculino, pois as mulheres e os homens se completam, deixando bem claro, também, que qualquer maneira de amor vale a pena. Historiadora, pós-graduada em Psicopedagogia, e gerente administrativo do jornal Página 20

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Mulheres fazem diferença na política e na administração pública Charlene Carvalho

O

s pessimistas diriam que são poucas, pouquíssimas. Os otimistas diriam que ampliaram seu espaço. O conformado acredita que, do jeito que vai, está bom. O idealista acredita que é possível avançar mais. Em se tratando de participação de mulheres na política do Acre, não é insensato dizer que no mínimo três das opiniões acima estão corretas. Sim, a participação das mulheres na política ainda é pouca, pouquíssima, frente ao potencial que elas têm. É inegável que elas ocuparam espaços importantes, mas está claro que é possível avançar mais. Com pouco mais de 100 anos e uma história matriarcal - sim, o Acre é um Estado formado essencialmente por núcleos familiares que têm como mantenedores, em sua maioria, mulheres que dobram a jornada de trabalho para o suprimento das necessidades de seus filhos, quem há de negar? -, o Acre se consolida regionalmente como um Estado em franco crescimento não só pelos bons índices de desenvolvimento, mas também pela participação de suas mulheres na vida pública. A mais notória de todas é a ministra Marina Silva, escolhida em 2008 pelo jornalão inglês The Guardian como uma das 50 personalidades capazes de salvar o mundo, ex-ministra do meio ambiente que deixou o cargo, entre outras coisas, porque perde o “pescoço, mas não perco o juízo”, mas há uma sem-número de mulheres importantes na política do Acre e hoje e de outrora. Uma história que não começou com Laélia Alcântara, primeira senadora negra do país, nem com Iolanda Lima, primeira governadora de um Estado, ou com a desembargadora Eva

Evangelista, primeira presidente de uma corte estadual de justiça no país, mas que a elas deve muito da presença expressiva de mulheres nos mais destacados cargos do cenário político e jurídico do Estado. Um Estado que conta hoje com duas prefeitas - Eliane Gadelha, de Assis Brasil, e Leila Galvão, de Brasiléia -, dezenas de vereadoras, quatro deputadas estaduais (todas do Vale do Juruá), além da deputada federal Perpétua Almeida; três desembargadoras uma delas, Izaura Maia, deixou em fevereiro a presidência do TJ e a outra, Eva Evangelista, assumiu na quintafeira a vice-presidência do Tribunal Regional Eleitoral -, dezenas de juízas, promotoras, procuradoras de justiça, procuradoras jurídicas e defensoras públicas, várias secretárias municipais e estaduais de organismos importantes como a segurança pública e tantos outros cargos importantes. Podem não ser o número ideal, mas são representantes dignas de suas classes e extremamente ativas na defesa de suas causas, que não apenas as causas das mulheres, mas de toda a sociedade acriana, sem deixarem de lado os filhos, maridos, mães, irmãs, irmãos e amigos. Eta, raça de mulher forte! Marina Silva é um dos maiores expoentes da política no país

er!!! A Ótica Ipanema e Ótica Popular h l 8 de Março u M s n é homenageamasmulheresnoseudia. Parab Dia Internacional da Mulher

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