E A Bicharada Ocupou A Escola

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E A BICHARADA OCUPOU A ESCOLA... Adailton Altoé1 Surpresa geral para os moradores de um bairro de periferia e para a direção da escola local: certo final de semana o silêncio na escola foi quebrado, não pelos depredadores e assaltantes, como de costume, mas sim pela bicharada que circulava livremente pelo bairro. Vejam que acontecimento interessante... _ Uai! seu burro, o que você está fazendo aqui na escola? _ Vim pastar! Você não está vendo que aqui tem capim fresco?! _ Quem te autorizou a entrar? _ E por que haveria eu de pedir autorização para entrar!? Afinal, aqui é um espaço público e a passagem no muro estava aberta. _ Você até que tem razão, mas nem sempre se encontra passagem nos muros de escola. _ E você, cachorro, por que está dizendo isso de mim se você também se encontra aqui? _ Eu estava dando um passeio pela rua e resolvi dar uma mijadinha nesse poste. E, de tabela, dar uma corujada nas cadelas. _ Não me meta nesse rolo. Coruja chega sempre cedo. Presta sempre muita atenção e não faz bagunças para atrapalhar as aulas. Por isso, não tenho necessidade de invadir nenhuma escola. A entrada é sempre franqueada para mim. _ Está me chamando de barulhenta, éh!? _ Que isso, dona maritaca?! Nem cheguei a pensar em você e já está se ofendendo! Na verdade até que você fala muito, mas diz pouco, porque quase não se cala para escutar. É pior do que o papagaio. _ E o que eu tenho a ver com essa história?! Eu faço questão é de participar sempre. Não sou nem um boi sonso! _ Sai pra lá, seu gravador e me deixa quieto. Se ao menos você ruminasse um pouco as coisas antes de ficar repetindo a toa! _ Eu não fico repetindo a toa! Eu aprendo tudo o que me ensinam e faço questão de mostrar o que aprendi para ver meus professores satisfeitos. _ Satisfeitos nada! Desde quando essa papagaiada deixa alguém feliz!? Se ao menos planejassem as coisas melhor. _ Que isso, dona cobra?! Você não vê o quanto trabalham?! _ Trabalham, como burro, mas não são astutos como eu, que sei muito bem dar o bote na hora certa, para conquistar meus objetivos. 1

Mestrando em Educação pela PUCMinas, com especialização em Ciências da Religião e Psicodrama e Licenciatura em Filosofia e Teologia. Autor dos livros: Fábulas e Parábolas: aprendendo com a vida 1 e 2 e Arte de Caminhar: metodologia pastoral, publicados pela Paulus e O Islã e os Muçulmanos e Organização Paroquial, publicados pela Vozes.

_ Não venha pro meu lado que te dou uma patada na cabeça e você vai pro beleléu. Mas, pensando bem, sabe que, às vezes, isso vira uma porcaria?! _ Porcaria é a mãe, aliás, todos nós juntos. Bem que eu gostaria de entrar na escola, mas não consigo cavar um buraco por baixo do muro como o tatu. _ Pois é seu porco! Já pensou se a escola estivesse a serviço de toda a selva e ajudando cada um de nós a desenvolvermos nossas potencialidades?! _ Muito bem tatu. Fico feliz só em imaginar. Cansei de ser acusado de estar sapiando. _ Você tem razão Sr. Sapo. Com um sistema flexível, que visasse a inclusão de todos, tenho certeza de que meus filhos seriam muito mais que serviçais sem prestígio. _ Bicho esperto esse burro, heim! Imagine então quando cada um de nós passar a ser avaliado a partir de nosso processo educativo desenvolvido como um todo e não mais através da cola!? _ Puxa vida, gata! Custou aparecer no muro, mas miou bonito! Fico até emocionado! _ Explique-se melhor, porque eu não entendi essa da cola. _ Pois não, seu papagaio. Já não tem mais sentido provar nosso conhecimento colando no papel as idéias decoradas dos livros ou dos próprios professores. Nem mesmo há razão para buscarmos outros tipos de cola para mantermos uma fachada de boa educação. _ Diga lá seu burro, já que se encontra com as orelhas de pé! _ Gostei de sua observação, porque enquanto um burro fala os demais levantam a orelha, para escutar melhor. Pois saibam que mais importante do que recortar e colar informações é a construção do saber, refletindo e sistematizando as experiências. _ Ufa! Falou agora com a sabedoria de uma coruja. _ Bom, se tivermos, de fato, uma formação integral, na qual seremos sujeitos protagonistas do processo educativo, garanto que viremos bem cheirosinhos para a escola. _ Se isto acontecer, meu amigo porco, garanto que sairei pelas ruas anunciando que a escola estará aberta a todos e a serviço da integração e bem estar de toda a comunidade. _ Garanto que vou trazer meus filhotinhos para brincar nos finais de semana, inclusive estaremos dispostas a brincar com os cachorrinhos. Vamos levar a diante a nova experiência relacional entre cães e gatos que já não é a mesma de antigamente. Não acha dona coruja? _ Vocês têm razão. Até agora estava a observar. Mas depois dessa conversa já estou decidia a me envolver mais ativamente para construir uma nova história. Garanto que até o macaco vai parar de pular de galho-em-galho para entrar em nossa escola. _ Pular de galho-em-galho não. Você é que ainda não compreendeu o novo Projeto de Política Educacional. Sou como os temas transversais da ética, da cidadania e da sexualidade. Perpassamos por todos os galhos, mas não metemos a mão em cumbuca. _ Como assim macaco? Esse negócio parece mais é brincadeira!

_ Parece, mas não é. Aprende-se fazendo, refletindo e convivendo. Veja como meus macaquinhos são felizes! _ Mas como organizar a escola para atender a toda a bicharada? Acho que este negócio de interdisciplinaridade é muito pouco. _ Nós queremos destaque para salto em distância! _ Nós já apreciamos mais a corrida e não temos nada a ver com vôo! _ Somos especialistas em natação, mas nada de correr e subir em árvores! _ Gostamos mesmo, é de profundidade! _ De nossa parte, apreciamos voar alto, para apreciar os horizontes! _ Nós julgamos fundamental organizar os diversos papéis e funções para garantir a sobrevivência da rainha e convivermos com fartura e segurança! _ Para nós merece destaque a beleza e a doçura! _ Pois então, vamos ocupar a escola para fazer dela um lugar de produção e promoção de cultura. _ Isto mesmo, será um lugar de encontro fecundo de toda a bicharada. Cada um poderá compartilhar o que tem e sabe. _ Que tal a gente formar uma Rede? _ Epa! Epa! _ Tô fora! _ Eu também! _ Fui! _ Que isso bicharada!? Trata-se de uma rede virtual, de comunicação, informação e também de interação! _ Quer dizer, então, que essa rede não pega a gente?! _ Essa rede não pega, a gente é que entra nela para se interagir! Quanto mais fera e/ou melhor nadador, maior será o interesse para se envolver com e através dela! _ Essa conversa está meio estranha! Mas vamos arriscar porque confiamos na palavra de vocês. _ Podem vir! Há espaço para todos. _ Vamos fazer uma bela produção coletiva. Cada um contribuirá de acordo com sua especialidade! _ Que tal?! Venha você também participar conosco!

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