Socicana - CTC
Desmistificando a colheita mecanizada da cana crua
Mauro Sampaio Benedini (Gerente Regional Fornecedores - CTC) Jorge Luiz Donzelli (Coordenador de Pesquisa Tecnológica - CTC)
Histórico É preciso desmistificar a colheita mecanizada da “cana crua”. Resultados de pesquisas recentes realizadas pelo CTC e a aplicação prática dessa tecnologia nas empresas associadas ratificam os benefícios deste sistema de colheita. A década de setenta caracterizou-se pelo corte manual de cana queimada, com uma média de três a quatro cortes, influenciados principalmente pela menor qualidade das variedades existentes na época. No início da década de oitenta, com o surgimento de variedades melhoradas (SP70-1143, SP716163, SP71-1406, etc.); o número de cortes do canavial aumentou. Entretanto, em meados desta mesma década, a colheita mecanizada da cana-de-açúcar intensificou-se
pela necessidade de complementar a colheita manual em um período de grande expansão do plantio de cana-de-açúcar. Naquela época, dizia-se que o corte mecanizado da cana era um “mal necessário”, pois não podia ser preterido, devido à falta de mão-de-obra existente. As conseqüências apareceram sob a forma de redução da longevidade do canavial, perdas excessivas na colheita, necessidade de maior tecnificação, entre outras. Na década de noventa, com o aumento da conscientização ambiental, surgiu a colheita da cana sem queimar, a “cana crua”, que foi marcada pelo termo “necessidade de se pagar pedágio” pela acentuada mudança tecnológica envolvida no novo processo. Este aprendizado ou “pedágio” teve como conseqüência inicial, que-
Cana-de-açúcar - Histórico Década 70: Corte Manual 4 cortes
(100/85/65/50/X/X) =
75
Década 80: Manual. Até 6 cortes.
(120/90/85/80/70/65) =
85
(120/90/80/75/?/X) =
90
(130/90/85/75/70/X) =
90
Colhedeira: Mal ncessário! Década 80: Mecânico queimada Cana crua: Pagar pedágio! Década 90: Mecânico crua Futuro (hoje): Mecânico crua
(130/100/95/95/90/90/90/90/90/90) = 95 26 - Revista Coplana - Novembro 2007
bras de produtividades e queda de receita ao produtor; pela falta de conhecimentos técnicos na adoção do novo sistema. Mas, a pesquisa e os adeptos ao sistema, já naquela época, começaram a demonstrar que a cana crua tinha, além das vantagens ambientais, um avanço sócio-econômico para o produtor.
Estudos necessários A partir de 1992, o Centro de Tecnologia Canavieira (CTC), na época da Copersucar, iniciou estudos para definir práticas agronômicas (adubação, herbicida, cultivo, etc.), estudar os efeitos da compactação no solo, do tráfego intenso, aprimorar equipamentos para reduzir esses impactos no solo e desenvolver variedades melhoradas, mais adaptadas ao novo sistema a ser adotado. Inúmeros ensaios foram instalados em usinas cooperadas na época.
Resultados Os ensaios conduzidos pelo CTC mostraram que a eliminação da queima traz inúmeros benefícios ao solo e ao canavial. Entre eles, maior controle de ervas daninhas, menor erosão, maior atividade microbiana depois de 2 a 3 anos do sistema implantado, maior
Socicana - CTC
retenção de umidade no solo, menor amplitude térmica, aumento na disponibilidade de nutrientes no perfil do solo, menor ataque da lagarta elasmo, etc. Com o passar dos anos, foi-se percebendo que a colheita mecânica e, principalmente, a de cana crua, necessitavam de maior tecnologia, priorizando o canavial, protegendo-o do tráfego intenso e melhorando as condições de colheitabilidade. Estes fatos resultaram em novos conceitos, tais como sistematização da base física da lavoura, maiores cuidados com a compactação do solo e pisoteio da linha da soqueira e, mais recentemente, o desenvolvimento do tráfego controlado ou canteirização/ envazamento da linha da soqueira.
Sistematização Entende-se por sistematização, a adequação do terreno para um maior rendimento da máquina e para menores impactos da mecanização no terreno. Estudos reali-
zados pelo CTC mostram reduções de custos de R$60,00 a R$70,00 por hectare, em média; com a adoção de práticas como eliminação de terraços em baixas declividades (<6%), plantio em linha reta em declividades de até 3%, entre outras. É necessária a permanência de cobertura vegetal constante no solo, para a implantação do sistema. Portanto, recomen-
dam-se cuidados na introdução do conceito no campo. Informe-se no CTC ou nas usinas que já adotam o sistema, sobre as vantagens e desvantagens da técnica.
Compactação do solo Os estudos do CTC mostraram que o controle da compactação do solo pode e deve ser preventiva e não somente corretiva como sempre foi realizada. São práticas recomendadas: evitar colheita com solos úmidos, usar pneus de alta flutuação e esteiras para causar menor impacto e compactação, entre outras. Esses estudos mostram
No alto à esquerda: área com sistematização convencional; no alto à direita: sistematização com sulcação reta. Em baixo: vista aérea de área sistematizada.
Revista Coplana - 27
Socicana - CTC
hoje, na prática, que o número de cortes do canavial dependerá do manejo adotado na sua condução.
tras tecnologias, a adequação das bitolas de tratores e transbordos para evitar o pisoteio das soqueiras (controle de tráfego), resultando em um espaço maior do solo, ao lado das soqueiras, sem compactação; propiciando melhor desenvolvimento do canavial e maior longevidade.
a) aumenta a longevidade do canavial, estabilizando a produtividade em níveis elevados de produtividade; b) propicia ganhos ambientais significativos; c) melhora a qualidade da lavoura pela racionalização do uso de herbicidas, menor erosão, maior atividade microbiana depois de 2 a 3
Colheita de cana crua x compactação Acima: perda de produtividade pelo efeito do tráfego após 24 horas de chuvas de diferentes intensidades; abaixo: perda de produtividade devido ao tráfego na linha e entrelinha
Ajuste de bitolas dos tratores
Brotação de soqueira em linha com tráfego (esquerda)
Envazamento ou canteirização
Envazamento ou canteirização
Conclusão
Os cuidados com o controle de tráfego dentro dos talhões resultaram na adoção da tecnologia conhecida por “canteirização” ou “envazamento”, que é, dentre ou-
Os resultados práticos dos inúmeros trabalhos de pesquisa desenvolvidos pelo CTC mostram que o sistema de colheita mecanizada da cana sem queima, a “cana crua”:
28 - Revista Coplana - Novembro 2007
anos do sistema implantado, maior retenção de umidade no solo, menor amplitude térmica e aumento na disponibilidade de nutrientes no perfil do solo.