Capacitação técnica em viticultura http://www.cnpuv.embrapa.br/publica/sprod/viticultura/ Adubação e manejo do solo para a cultura da videira George Wellington de Melo A videira é uma cultura que se adapta bem em vários tipos de solos, sendo que seu desempenho produtivo é melhor naqueles com boa capacidade de suprimento de nutrientes. No Brasil, a videira é cultivada em uma grande diversidade de solos, mas encontram-se cultivos em solos altamente intemperizados, bem como em solos jovens com alta capacidade de suprimento de nutrientes. No entanto, a grande maioria dos cultivos é feita em solos que apresentam alguma limitação nutricional, sendo fósforo e boro, respectivamente, macro e micronutriente mais limitantes, tornando-se necessário correções para que as plantas tenham condições de expressarem seu máximo potencial produtivo. Apesar dos dois nutrientes acima citados serem os mais importantes, a prática de fertilização do solo é comum entre os produtores, porém os indicadores da necessidade de adubação ainda não estão bem definidos, tornando a recomendação de adubação uma atividade empírica. A falta desses indicadores gera uma grande insegurança nos produtores, os quais ficam a mercê das recomendações feitas pelas empresas revendedoras de fertilizantes, cujos critérios utilizados, muitas vezes, são de cunho comercial e não técnico. Como resultado dessa situação, tem-se observado o aumento da concentração de nutrientes nos solos, principalmente fósforo e potássio, e ocorrência de desequilíbrios nutricionais nas plantas. Neste módulo será enfatizado o manejo nutricional de plantas e a importância dos solos e sua fertilização para o bom desempenho da atividade vitícola. Características dos solos As características físicas e químicas dos solos influenciam no comportamento da videira, sendo que profundidade, estrutura e textura são as características físicas mais importantes, por outro lado, a reação do solo (pH) e a disponibilidade de nutrientes são as características químicas que mais influenciam. Físicas Profundidade: O crescimento da videira é melhor em solos mais profundo do que em solos rasos com rochas superficiais e/ou camadas subsuperficiais que possam impedir o desenvolvimento das raízes. Os solos profundos, desde que não apresentem limitações químicas, são os que apresentam maior potencial para o desenvolvimento do sistema radicular, assim, quanto maior e mais profundo for o sistema radicular, menor é a possibilidade das plantas sofrerem com estresse hídrico e maior é a capacidade de absorção de nutrientes. Estrutura: A estrutura se refere ao modo como as partículas primárias dos solos estão arranjadas formando unidades secundárias. A estruturação do solo está relacionada às trocas gasosas e circulação de água no solo, sendo que em um solo bem estruturado, onde ocorre boa troca gasosa, o crescimento das raízes não sofre restrições e, assim, existindo condições para boa capacidade de retenção de umidade.
Cultivos em solos mal estruturados podem apresentar uma série de problemas, onde se destaca a ocorrência de podridões das raízes, que é comum em regiões de alta precipitação pluviométrica, sendo que a principal causa é a falta de oxigênio no solo resultante da má drenagem da água. Estresse hídrico também é comum em solos com má estruturação, pois as raízes das plantas concentram-se mais na superfície do solo fazendo com que um curto período de estiagem possa afetar o crescimento das plantas. Textura: A textura se refere à proporção relativa das partículas que compõem o solo. Solos de textura franca, normalmente, apresentam-se com maior potencial para desenvolvimento do sistema radicular das plantas, bem como maior capacidade de retenção de umidade. É comum a ocorrência de estresse por déficit hídrico em solos arenosos porque esses solos possuem baixa capacidade de retenção de umidade. Químicas pH: O pH do solo é uma medida simples e indica se a reação do solo é ácida, neutra ou alcalina. O pH tem uma escala que varia de 0 a 14, sendo que um valor de pH igual a 7 indica que ele é neutro. Valores acima e menor que 7 indica pH alcalino e ácido, respectivamente. A importância do pH para a videira está relacionada com a disponibilidade de nutrientes, pois sabemos que pH ácido pode indicar presença de alumínio e manganês tóxicos, bem como baixa capacidade de suprimento de nutrientes. Por outro lado, solos com pH alcalino podem apresentar problemas com disponibilidade de micronutrientes, principalmente zinco, boro e molibdênio. Nas condições brasileiras, a grande maioria dos solos apresenta reação ácida, o que indica necessidade de usa calagem para aumentar o pH e, ao mesmo tempo, elevar os teores de cálcio e magnésio. A utilização de fertilizantes químicos também podem alterar o pH do solo, como por exemplo o uso contínuo de sulfato de amônio pode baixar o pH, com isso reduzindo a disponibilidade de nutrientes , principalmente o fósforo. Pensando em maximizar a disponibilidade de nutrientes tem-se procurado trabalhar com pH dos solos em tornar de 6,0, pois nestas condições os solos não têm apresentado níveis tóxicos de alumínio e problemas de indisponibilidade de micronutrientes. Teores de nutrientes: Essa característica é observada na capacidade de troca de cátions do solo (CTC), cujos componentes principais são cálcio e magnésio. No RS os teores de cálcio > 4 cmolc l-1 e de magnésio > 1,0 cmolc l-1 são considerados altos. Os solos da região apresentam boa fertilidade natural, sendo que a maior limitação também é o baixo teor de fósforo (Tabela 1) e profundidade do solo, que se faz necessário cuidados especiais com a conservação do solo. Normalmente solos ácidos têm baixa reserva de nutrientes, sendo necessário uso de fertilizantes para suprir as necessidades das plantas. Tabela 1. Características químicas dos principais solos do RS cultivados com videira.
Classificação dos solos Alissolo com Topo do B textural Escurecido Ta Podzolissolo Acinzentado Distrófico
Características Químicas Ca Mg 2+ K+ Al 3+ P M.O ---------------------------cmolc mg gg kg-1 -3 1 -----------------2+
9,7
2,5
0,36
0,4
1,0
2,9
5,7
1,1
0,23
0,1
4,0
2,4
Podzolissolo Vermelho Distrófico Chernossolo Argilúvico Férrico Cambissolo Húmico Tb Baixa Saturação por Bases Cambissolo Húmico Ta Alta Saturação por Bases Háplico Típico Cambissolo Tb Baixa Saturação por Bases Lítico Neossolo Litólico com Alta Saturação por Bases A Chernozêmico Neossolo Litólico com Baixa Saturação por Bases Típico Nitossolo Bruno-Avermelhado com Baixa Saturação por Bases
8,2 11,2
2,3 3,7
0,49 0,74
0,1 0,0
5,0 2,0
4,9 6,3
1,7
1,9
0,10
4,7
2,0
4,2
9,0
4,0
0,48
0,0
72,0
5,3
5,0
1,5
0,30
0,3
1,0
3,0
9,2
2,1
0,24
0,0
3,0
2,3
6,2
2,8
0,50
0,1
2,0
3,1
0,4
0,7
0,24
3,3
2,0
3,2
Disponibilidade de Nutrientes Nas condições da viticultura brasileira, os nutrientes que mais se deve prestar atenção são fósforo, potássio, nitrogênio, cálcio, magnésio e boro, principalmente por serem os mais exigidos pela planta e/ou encontrarem-se em menor concentração nos solos. Fósforo O nutriente fósforo atua como componente estrutural das membranas celulares, bem como fazendo parte de compostos responsáveis pela fixação do CO2 atmosférico e pelo metabolismo de açúcares. Solos brasileiros são deficientes em fósforo, com teores médios em torno de 1,0 mg kg-1 (Mehlich 1), que torna necessário utilização de adubos químicos para suprir a deficiência. Os sintomas de deficiência de fósforo ocorrem em folhas maduras, onde é observado redução do tamanho, tornam-se amareladas e ainda podem apresentar limbo com manchas avermelhadas. A concentração normal de fósforo nas folhas da videira varia de 0,15 a 0,25 %, sendo que a planta absorve cerca de 1,4 kg de P2O5 para produzir 1000 kg de frutos. Apesar dos solos brasileiros serem naturalmente deficientes em fósforo, não se tem observado sintomas de deficiência em plantas, isto é devido ao uso de fertilizantes químicos que vem fazendo com que o teor de P nos solos cultivados com videira apresentem muito acima do encontrado em solos virgens (Tabela 2). Potássio É um nutriente que atua em funções que dizem respeito às relações osmóticas, dinâmica dos estômatos e ativador enzimático. O potássio é uma elemento que não forma compostos orgânicos no interior das plantas, predominando na forma iônica K. O critério utilizado com indicador da disponibilidade de potássio nos solos é o Ktrocável, isto é, o potássio encontrado adsorvido nas cargas do solo formando compostos de esfera externa. Na grande maioria dos solos brasileiros o concentração de K é considerada baixa, no entanto, os solos da região da Serra Gaúcha apresentam teores de médio a elevado e mesmo assim os teores nos solos cultivados vêm aumentado com o cultivo da videira (Tabela 2).
Tabela 2. Características químicas das amostras de solos do RS analisadas pelo Laboratório de Análise de Solos e Tecidos da Embrapa Uva e Vinho, antes e após ser cultivado com videira.
Características Antes 2+ -3 Cálcio (Ca ) cmolc dm 1,7 a 12,0 2+ -3 Magnésio (Mg ) cmolc dm 1,1 a 4,0 + -3 Potássio (K ) cmolc dm 0,21 a 0,23 -3 Fósforo (P) mg dm 3,0 a 7,0 2+ -3 Cobre (Cu ) mg dm 0,3 a 0,8 2+ -3 Zinco (Zn ) mg dm 1,0 a 2,0 -1 Matéria orgânica g kg 2,0 a 6,0 pH 1,9 a 5,5
Depois 11,0 a 18,0 6,0 a 8,0 0,31 a 0,39 32,0 a 76,0 70,0 a 140,0 14,0 a 30,0 2,0 a 4,0 5,9 a 6,8
Por ser um elemento bastante móvel no interior das plantas, os sintomas de deficiência de potássio ocorrem em folhas mais velhas. Nas variedades brancas os sintomas iniciais se caracterizam por amarelecimento nas proximidades das bordas foliares, com o agravamento da deficiência as bordas ficam necrosadas. Nas variedades tintas, as folhas tornam-se avermelhadas e também mostram o necrosamento das bordas. A concentração normal de potássio nas folhas da videira varia de 1,50 a 2,50 %, sendo que a planta absorve cerca de 6 kg de K2O para produzir 1000 kg de frutos. Apesar dos solos brasileiros serem naturalmente deficientes em potássio, como no fósforo, também não tem sido observado sintomas de deficiência em plantas. O uso indiscriminado de fertilizantes potássicos aumenta a concentração desse elemento no mosto, isso pode acarretar problemas enológicos. Nitrogênio Cerca de 1 a 2 % da matéria seca de videira é constituída de compostos nitrogenados. O N participa como componente primário de aminoácidos, proteínas, clorofila e citocininas, tendo como função estrutural e metabólica. O teor de matéria orgânica é o indicador de disponibilidade de N no solo mais utilizado, mas este não tem sido muito eficaz na predição do comportamento das plantas, o que tem causado sérios problemas na viticultura, pois tanto o excesso quanto a deficiência de nitrogênio afeta a produtividade e a qualidade dos frutos. Na Tabela 2 observa-se que o cultivo da videira tem diminuído o teor de matéria orgânica do solo, sendo que uma das prováveis causas dessa diminuição é o uso inadequado de nitrogênio. Os sintomas de deficiência de nitrogênio se caracterizam pela redução no vigor das plantas e pela clorose (amarelecimento) no limbo das folhas maduras e velhas. Em algumas variedades tintas as folhas e, principalmente, os pecíolos podem apresentar coloração avermelhada. A concentração normal de N nas folhas da videira varia de 1,60 a 2,40%, sendo que a planta absorve cerca de 2 kg de N para produzir 1000 kg de frutos. Apesar dos solos brasileiros serem naturalmente deficientes em nitrogênio, freqüentemente observa-se tanto a falta quanto o excesso de N nos parreirais. Isto indica que os produtores ainda não têm consenso no uso de nitrogênio, principalmente porque há uma relação inversa entre
excesso de vigor das plantas e produtividade e/ou qualidade dos frutos, o que leva os produtores a temer uma aplicação excessiva de fertilizantes nitrogenados. Cálcio O cálcio é responsável pela estabilidade estrutural e fisiológica dos tecidos das plantas, juntamente com outras substâncias, ele regula os processos de permeabilidade das células e tecidos; também tem função de ativador enzimático. O cálcio forma fitatos e pectatos, que o torna importante na manutenção da integridade da parece celular. O indicador da disponibilidade de cálcio nos solos é o Ca-trocável, extraído com KCl 1 M. Apesar dos teores de Ca2+ da grande maioria dos solos brasileiros serem considerados baixos, ele não tem sido problema para a videira, pois a calagem utilizada para aumentar o pH do solo aumenta o teor de Ca-trocável. Para os solos do RS, teores maiores que 4 cmolc/l são considerados altos, sendo que na Serra Gaúcha a maioria dos solos possuem naturalmente altos teores e, mesmo assim, a exploração da videira tem aumentado a concentração de cálcio no solo (Tabela 2). O cálcio é um elemento pouco móvel na planta, por isso os sintomas de deficiência aparecem nas folhas jovens. Essas folhas normalmente são menores do que as normais, com a superfície entre as nervuras cloróticas, com pintas necróticas e tendência a se encurvarem para baixo. Os teores de cálcio considerados normais para a videira varia de 1,6 a 2,4 % , sendo que as plantas retiram cerca de 6 kg de CaO para produzir 1000 kg de frutos. Magnésio O Mg participa na ativação de várias enzimas e na estabilidade de ribossomas; ele também é um componente do pigmento de clorofila. Mais de 300 enzimas são influenciadas pelo magnésio. O indicador da disponibilidade de magnésio nos solos é o Mg-trocável, extraído com KCl 1 M. Apesar dos teores de Mg2+ da grande maioria dos solos brasileiros serem baixos, ele não tem sido problema sério para a videira, pois, como para o cálcio, a utilização de calcário dolomítico para aumentar o pH do solo também aumenta o teor de Mg. Para os solos do RS, teores maiores que 1,0 cmolc/l são considerados altos, sendo que na Serra Gaúcha a maioria dos solos possuem naturalmente altos teores e, mesmo assim, a exploração da videira tem aumentado a concentração de cálcio no solo (Tabela 2). O magnésio é um elemento móvel na planta, por isso os sintomas de deficiência aparecem nas folhas maduras. Essas folhas apresentam a superfície entre as nervuras cloróticas, que com o agravamento da deficiência vão ficando amareladas, no entanto as nervuras permanecem verdes. Tem-se observado um distúrbio fisiológico chamado dessecamento da ráquis, sendo sua ocorrência mais freqüente em anos em que o período de maturação dos frutos é bastante chuvoso e o solo apresenta-se com alto teor de potássio e baixo de magnésio. Os teores de magnésio considerados normais para a videira varia de 0,25 a 0,50 % , sendo que as plantas retiram cerca de 1 kg de MgO para produzir 1000 kg de frutos. Boro O boro atua no transporte de carboidratos no interior das plantas. Além disso existem evidências de que ele faz parte dos mecanismos hormonais que são responsáveis pelo crescimento das plantas. O indicador da disponibilidade de boro nos solos é o B extraído com água quente. A grande maioria dos solos do Brasil, cultivados com videira, possuem baixo teor de boro. No RS, freqüentemente tem-se observado sintomas de deficiência de B, sendo que os
problemas normalmente aparecem em solos cujo teor é menor do que 0,6 mg dm-3. Para os solos do RS considera-se 1,0 mg dm-3 como o nível satisfatório de boro. A mobilidade do boro nas plantas ainda é muito discutida, principalmente porque os sintomas de deficiência aparecem nas folhas e ramos novos. A característica principal é a redução no tamanho das folhas e encurtamento dos estrenós. Os teores de boro considerados normais para a videira varia de 15 a 22 mg dm-3, sendo que as plantas retiram cerca de 10 g de B para produzir 1000 kg de frutos. Preparo da área e manejo do solo Preparo da área O preparo da área tem por finalidade assegurar que as mudas de videira sejam plantadas em condições que possam expressar todo o seu potencial produtivo. Ele consta das operações de roçagem, destocamento, lavração, gradagem, abertura das covas e amostragem de solo. Roçagem: Consiste na eliminação da vegetação existente. Esta prática pode ser executada manualmente ou com tratores. Em ambos os casos, não se aconselha a queima da vegetação, apenas retiram-se os arbustos e galhos maiores, sendo o restante incorporado ao solo através de uma ou mais lavrações. Destocamento: Caso a área seja coberta por mata ou outra vegetação maior, com sistema radicular mais desenvolvido, aconselha-se executar o destocamento após a roçagem da vegetação. Esta prática tem por objetivo a retirada dos tocos maiores para facilitar os demais trabalhos. Ela é feita com implementos mais pesados tracionados por tratores e eventualmente por animais. Lavração: Esta prática visa a mobilização total do solo. A profundidade em que esta mobilização é feita depende do tipo de solo e dos trabalhos nele executados anteriormente. É mais comum fazer a lavração à profundidade de 20 a 25 cm. Gradagem: Esta prática visa nivelar o terreno que foi revolvido. Este nivelamento permite a distribuição mais uniforme dos adubos e facilita a demarcação das covas para o plantio. Preparo das covas: As covas são preparadas após o nivelamento do solo, tendo as dimensões de 50 x 50 x 50 cm. Amostragem para análise de solo: Esta operação tem por finalidade identificar o grau de suficiência ou deficiência dos nutrientes do solo, permitindo a correção das possíveis deficiências nutricionais, bem como dos elementos que podem prejudicar a cultura. A amostragem é a etapa mais importante para a análise de solo, pois ela tem que refletir a realidade da área, caso contrário pode-se fazer interpretações errôneas dos laudos de análises. Ela é feita logo após a escolha da área, sendo que a área total deve ser dividida em áreas menores homogêneas, isto é com características semelhantes, tais como topografia, cor do solo e vegetação. A profundidade de amostragem pode ser de 0 a 20 e 20 a 40 cm, sendo que a primeira é utilizada para recomendação de calagem e fertilizantes, a segunda visa conhecer possíveis limitações da subsuperfície que podem interferir no desenvolvimento
das plantas. Deve-se coletar, no mínimo, vinte amostras simples por área homogênea, obtendo assim uma amostra composta que vai ser enviada ao laboratório. Manejo do Solo Após o preparo da área tem-se que pensar em, no mínimo, manter as condições ideais para o cultivo da parreira, sendo para isso necessário manejar corretamente o solo. O manejo do solo consiste em várias práticas de cultivo cujos objetivos é evitar que haja degradação das características químicas, físicas e biológicas do solo e, assim permitir que a exploração seja duradoura e sustentável. A principal causa do depauperamento de um solo é a erosão, sendo que, no Brasil, a chuva é o principal agente erosivo. As chuvas de alta intensidade são as com maior potencial para provocar erosão, pois a energia que as gotas atingem o solo é alta o suficiente para irromper as partículas de solo, facilitando o transporte das partículas pela enxurrada. Uma outra causa da degradação dos solos é o uso intensivo de máquinas e veículos que provocam a compactação do solo, assim impedindo o desenvolvimento radicular, diminuindo a taxa de infiltração de água no solo e, em conseqüência disso, diminui a produtividade e longevidade dos vinhedos. Partindo da premissa de que a gota da chuva que atinge o solo é o principal responsável pelo início do processo de erosão, deve-se evitar que o solo fique sem uma vegetação de cobertura, pois é ela quem vai diminuir o efeito do impacto das gotas sobre o solo. Assim tem-se uma série de plantas que são utilizadas com cobertura do solo. Plantas de cobertura: Nas regiões subtropicais as principais plantas utilizadas como cobertura do solo são as leguminosas e as gramíneas (Tabela 3). Normalmente são semeadas após a colheita e queda das folhas da videira. Essas plantas têm um papel fundamental na manutenção das características do solo, pois, além de servirem de cobertura do solo, também fazem a ciclagem de nutrientes, evitando perdas dos nutrientes oriundos da decomposição das folhas da videira. Tem-se que tomas cuidado com a competição entre as plantas de cobertura e a videira, para isso a cobertura verde deve permanecer na área até mais ou menos 15 dias antes da brotação, quando então são dessecadas ou roçadas. Tabela 3. Sugestões de gramíneas e leguminosas para cobertura do solo. Gramíneas
Época de Cultivo
Aveia Amarela (Avena Inverno spp) Aveia Preta (Avena spp) Inverno Azevém (Lolium Inverno multiflorum Lam) Época De Leguminosas Cultivo Ervilhaca (Vicia spp)
Inverno
Tremoço (Lupinus spp) Inverno
Solo Prefere solos francos e bem drenados Prefere solos argilosos com pH de 5 a 7 Adapta-se em qualquer tipo de solo, mas prefere argilosos e ricos em matéria orgânica Solo Adapta-se bem em todo tipo de solo, desde que bem drenados O tremoço amarelo adapta-se bem em solos ácidos
Calagem e Adubação Existem três tipos fundamentais de adubação: a de correção, efetuada antes do plantio, a de plantio, realizada na ocasião do plantio do porta-enxerto ou da muda, e a de manutenção, realizada durante a vida produtiva da planta. A primeira é feita para corrigir a fertilidade do solo para padrões de fertilidade preestabelecido, a segunda é feita para permitir o crescimento inicial das plantas, a terceira é para repor os elementos absorvidos pela planta durante o ano. Calagem Tem como finalidade eliminar prováveis efeitos tóxicos dos elementos que podem ser prejudicial às plantas, tais como alumínio e manganês, e corrigir os teores de cálcio e magnésio do solo. Para a videira o pH do solo deve estar próximo de 6,0. No RS e SC utiliza-se o índice SMP como indicador da necessidade de calagem (Tabela 4), no entanto existem outros indicadores, tais como alumínio trocável e saturação de bases. Deve-se dar preferências para o uso do calcário dolomítico (com magnésio), sendo que o mesmo deve ser aplicado ao solo, pelo menos, 3 meses antes do plantio, distribuindo-se em toda área. Tabela 4. Recomendação de calagem para solos do RS e SC Índice SMP Calcário a adicionar (Mg ha-1) Índice SMP Calcário a adicionar (Mg ha-1) ≤ 4,4 21,0 5,8 4,2 4,5 17,3 5,9 3,7 4,6 15,1 6,0 3,2 4,7 13,3 6,1 2,7 4,8 11,9 6,2 2,2 4,9 10,7 6,3 1,8 5,0 9,9 6,4 1,4 5,1 9,1 6,5 1,1 5,2 8,3 6,6 0,8 5,3 7,5 6,7 0,5 5,4 6,8 6,8 0,3 5,5 6,1 6,9 0,2 5,6 5,4 7,0 0,0 5,7 4,8 -
Fonte: SBCS-NRS / Comissão de Fertilidade do Solo RS/SC Normalmente após três a quatro anos após a implantação do vinhedo há necessidade de fazer uma nova calagem. O modo de aplicação do calcário é bastante controverso, pois em regiões de ocorrência de fusariose, o corte do sistema radicular pode aumentar a mortalidade de plantas infectadas por fusarium, e, em vinhedos sob Litossolos, há afloramento de rochas. Nas duas situações é proibitivo a prática da incorporação do calcário, sendo então necessário a aplicação do calcário na superfície sem a necessidade de incorporação, pois o uso de fertilizantes nitrogenados, prática comum, faz com que o cálcio se aprofunde no solo na forma de nitrato de cálcio ou mesmo de sulfato de cálcio. No RS a dose recomendada tem sido a metade da necessidade estimada pelo índice SMP.
Adubação de Correção Como o nome já diz, é feita para corrigir possíveis carências nutricionais. Nela procura-se corrigir os teores de fósforo e potássio. Os indicadores da disponibilidade de K e P para os solos do RS é o Mehlich 1. A quantidade de nutriente a ser aplicada baseia-se em análise de solo e segue-se a Tabela 5. Os fertilizantes devem ser aplicados 10 dias antes do plantio e devem ser distribuídos em toda área. Tabela 5. Adubação de correção P Mehlich (mg kg-1) K trocável < 9,0 9,0 a 14,0 > 14,0 < 1,5 1,5 a 2,1 > 2,1 -1 -1 ----------------- P 2O5 (kg ha ) ----------------- ------------------ K 2O (kg ha ) ---------------200 100 0 90 60 0 As fontes utilizadas para fósforo são os superfosfatos, enquanto que para o potássio recomenda-se o uso do cloreto de potássio ou sulfato de potássio. Em condições de pH menor que 6,0 há possibilidade de utilização de fosfatos naturais, mas deve-se comparar custo dessa aplicação com a aplicação de um fosfato mais solúvel. Adubação de Plantio Esta adubação tem finalidade complementar a adubação de correção. Utiliza-se esterco e fertilizantes químicos à base de nitrogênio, fósforo, potássio e , quando necessário, micronutrientes. A época de realização dessa operação, como o próprio nome diz, é na ocasião do plantio. A quantidade de nitrogênio a ser aplicada está relacionada com o teor de matéria orgânica do solo e segue-se a tabela 6. A fonte de N a ser utilizada deve ser aquela mais fácil de ser encontrada na região. Quando for utilizado uréia deve-se tomar o cuidado para evitar perdas por volatilização, assim o solo deve estar úmido e/ou incorporar o fertilizante ao solo. Tabela 6. Adubação nitrogenada de plantio
Matéria Orgânica Dose de Nitrogênio g kg-1 kg ha-1 < 25 50 25 - 50 30 > 50 0 O teor de fósforo e potássio a ser adicionado constam na tabela 7. As fontes a serem utilizadas são superfosfato triplo e cloreto de potássio por serem as mais fáceis de serem encontradas e também as de menor custo. Tabela 7. Adubação fosfatada e potássica de plantio
Nutriente Dose (kg ha-1) Fósforo (P2O5) 60
Potássio (K2O)
40
Em solos com menos de 2,5 g kg-1 de matéria orgânica recomenda-se a aplicação de esterco de gado, na dose 80 t ha-1, que deve ser colocado no fundo das covas das plantas e bem misturado com o solo. Adubação de manutenção Tem a finalidade de repor os nutrientes que são exportados na forma de frutos. A recomendação é feita na expectativa da produtividade a ser alcançada, utiliza-se três classes de produtividade que são: < 10, 10 a 25 e > 25 t ha-1. As doses e épocas de aplicações estão nas tabelas 8, 9, 10, 11, 12 e 13 . Tabela 8. Doses de fertilizante fosfatado a ser utilizado na adubação de manutenção conforme análise de tecido Teores de P nas Folhas Completas / Pecíolos - Classes de Interpretação Deficiente / Abaixo do normal Normal Acima do normal/Excesso
Dose de P2O5 (Kg/Ha) 40-80 0-40 0
Tabela 9. Doses de fertilizante nitrogenado a ser utilizado na adubação de manutenção conforme análise de tecido Produção Dose de Teores de N nas Folhas Completas / Pecíolos - Classes Esperada N de Interpretação (t ha-1) (kg ha-1) < 15 10 - 20 Deficiente/Abaixo do normal 15-25 20 - 40 > 25 40 - 50 < 15 0 - 15 Normal 15-25 15 - 25 > 25 25 - 50 < 15 0 Acima do normal/Excesso 15-25 0 > 25 0 Tabela 10. Doses de fertilizante potássico a ser utilizado na adubação de manutenção conforme análise de tecido Teores de K nas Folhas Completas / Pecíolos - Classes de Interpretação Deficiente/Abaixo do normal
Produção Esperada (t ha-1) < 15 15 - 25 < 25
Dose de K2O (kg ha-1) 60 - 80 80 - 120 120 - 140
< 15 15 - 25 > 25 < 15 15 - 25 > 25
Normal
Acimado normal/Excesso
0 - 20 20 - 40 40 - 60 0 0 0
Tabela 11. Época de aplicação de fertilizantes na videira (% da dose recomendada) destinada a produção de vinho. Fósforo Nitrogênio Potássio (K2O) (P2O5) Época ------------------------------------- % -----------------------------------------10 dias antes da poda 75 60 10 dias após a poda 50 25 40 30 dias após a poda 25 45 dias após a poda 25 Tabela 12. Época de aplicação de fertilizantes na videira (% da dose recomendada) destinada a produção de suco. Fósforo Nitrogênio Potássio (K2O) (P2O5) Época ------------------------------------- % -----------------------------------------10 dias antes da poda 75 40 10 dias após a poda 50 25 30 30 dias após a poda 25 45 dias após a poda 25 80 dias após a poda 30 Tabela 13. Adubação de manutenção baseada na concentração de boro em pecíolos e folhas completas de videira. Material
Pecíolos
Folhas inteiras
Faixa de Interpretação Insuficiente Abaixo do normal Normal Acima do normal Excessivo Abaixo do normal Normal Acima do normal
Quantidade de B a aplicar (Kg ha-1) 9,7 7,8 0 0 0 9,7 0 0