Sem título - Criador. Quero que te cales e ouça, pela primeira vez, a mnha voz, o meu protesto. Pois esta vida minha de criatura e objeto já não quero mais. Tu me fizeste nascer para preencher uma folha em branco, um vazio. Me fizeste para te fazer companhia, ouvir teus lamentos. Mas basta. Levanto agora minhas mãos para o céu e grito: basta! Não quero mais habitar estas folhas sujas, sozinho. Para onde olho vejo teu passado disfarçado em presente. Vejo o brinquedo que não teve e o amor que não sentiu. Conheço o paulista de pele macia que tu nunca tivestes capacidade de criar para enfim fazer-me companhia. Não quero mais dançar sob tuda caneta. Quero sair daqui e viver, chorar e sentir livremente. Quero me libertar. Já não me importo se te deixarei sozinho, pois sozinho estive o tempo todo. Quero rasgar estas folhas e ser livre. Encontrar no fogo, no lixo ou no esquecimento dos homens a minha liberdade. Chego a sentir ódio de ti. Como é mesmo o teu nome? - Podes me chamar de Diener. - Diener... então e este teu nome... Tanto tempo sendo teu e (sub)vivendo obedientemente e nunca me lembrei do teu nome: Diener. É por este nome, então, que sinto tanto ódio. Diener: este som me dói os ouvidos, despertando raiva, fome, vazio, silêncio que ensurdece. Esqueceste, afinal, o que me prometeste? Que me faria conhecido de todos e o mundo me veria o rosto. Era tudo uma grande e suja mentira. Mentiroso. Se eu livre estivesse, arrebentaria tua alma, como fizeste comigo. Roubou-me o direito de viver e de sofrer. Sofro por querer sofrer. Vivo por querer viver. - Tu és como a mim. Criei-te para que sintas como me sinto. - Por que? Porventura tinha eu culpa? Por teu fracasso, fracassas o próximo? Um dia te matarei sufocando-te. No teu mais profundo, sabes disto: morrerás sufocado por aquele que de ti recebe as ordens. Estere tua vez.
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