claude achille debussy claude achille debussy a fran�a, que nos deu joana d�arc, allan kardec e victor hugo, serviu tamb�m de ber�o para um apaixonado da m�sica, apaixonado esse que nunca teve inf�ncia e estudos regulares. e esse desprotegido da sorte foi achille claude debussy. mais tarde, achou ele que seu nome era demasiadamente rid�culo, pelo que inverteu a ordem, passando assim a ser claude achille. seus amigos, por�m, o conheciam pelo nome de claude. sua genitora n�o ligava a menor import�ncia nos filhos, e seu pai, dono de uma loja de lou�as de barro, preocupava-se mais com os neg�cios do que com os problemas dom�sticos. o desprezo que os pais lhe votavam tinha, necessariamente, de influir de maneira decisiva no esp�rito de debussy. n�o era de admirar, pois, que aos sete anos de idade se mostrasse muito reservado, quieto, meditativo. e ningu�m desconhece que o carinho materno, qual b�n��o divina, � um b�lsamo, um encorajador, um guia, um refrig�rio para a alma que habita um fr�gil corpo de crian�a! mas a provid�ncia divina compensou-lhe a indiferen�a materna, porque uma de suas tias paternas encheu-se de amores pelo garotinho, ensinando-lhe as primeiras letras e as primeiras notas musicais. aos onze anos de idade passou a cursar o conservat�rio. o pai, em breve, percebeu o talento do filho e pensou logo em explor�-lo. quando o menino claude principiou a ganhar algum dinheiro, pelas li��es que ministrava, esse dinheiro era canalizado, intacto, para a bolsa dos pais. atrav�s desse breve relato, facilmente se pode avaliar como foi desafortunada a meninice de debussy. sabemos mesmo que era seu desejo ter a convic��o de que a vida continua al�m da morte, pelo que come�ou a freq�entar sess�es esp�ritas, conforme nos relata edward lockspeise. debussy foi o �revolucion�rio da m�sica, criando novas formas de expressar o sentimento mel�dico com sua maneira personal�ssima de compor, onde a t�cnica de sucess�es harm�nicas surpreende o ouvinte�. foi, digamos assim, o pioneiro da m�sica moderna! essas novas formas de express�o mel�dica foram batizadas, pelos entendidos, com o nome de impressionalismo. entre os artif�cios por ele empregados nesse prop�sito, conta-se a escala plenotom, escala em que a oitava se divide em seis intervalos iguais, em vez de sete desiguais. ele trouxe naturalmente a miss�o de implantar essa inova��o, tanto que desde crian�a jamais se afastou de sua maneira toda especial de sentir, motivo por que, como era natural, n�o se tornou muito simp�tico aos seus professores. �nunca encerrarei minhas id�ias musicais nos edif�cios dos velhos modelos�, costumava asseverar. �dar-lhes-ei espa�o, liberdade, vida!�. porque, como disse a. ten�rio d�albuquerque, �s� os med�ocres se escravizam �s regras, n�o disp�em de coragem para se rebelarem contra as tradi��es e forjar as concep��es novas, que s�o manifesta��es do progresso�. insens�vel � opini�o p�blica, preferia manter-se firme na sua t�cnica, nessa maneira revolucion�ria de fazer m�sica. e isso porque, sem d�vida alguma, sentia ressoar no �mago de seu ser as harmonias a que se afei�oara no espa�o, antes de seu retorno � Terra. costumava dizer �umas poucas pessoas apreciar�o as minhas obras. e quanto ao resto, �a m�est �gal, n�o me importa o que possam pensar.� a vaidade de ser bajulado e aplaudido jamais conseguiu prend�-lo em seus la�os tentadores. extraordinariamente modesto, raramente falava da sua pr�pria m�sica. certa feita foi cognominado, numa revista francesa, de �o
grande inovador musical�. essa refer�ncia, que muito agradaria a tantos outros, em nada o envaideceu. quando lhe deram conhecimento dessa publica��o, sorrindo, declarou que n�o era digno dessa honra, acrescentando: - n�o tenho feito outra coisa sen�o realizar experimentos, a fim de satisfazer meu gosto pelo inexpressivo. seu esp�rito possu�a uma grande virtude, al�m da sua natural humildade, era justo, at� mesmo para com aqueles que ele n�o apreciava. a prova disso est� no fato de que, embora n�o tolerando a arrog�ncia de wagner, haver sintetizado a sua estima pelas obras desse compositor, atrav�s da bela senten�a: �se wagner tivesse sido mais humano, teria sido realmente divino.� basta, para caracterizar seu g�nero, mencionar apenas as seguintes pe�as: �o mar�, �a tarde de um fauno�, os �tr�s noturnos� e o seu poema em prosa intitulado �natal das crian�as sem lar�. esse poema foi por ele escrito num dia de inverno, por ocasi�o da primeira guerra mundial. no dia imediato, comp�s a m�sica. debussy soube bem distinguir aquilo que era seu e o que se lhe afigurava transmitido por for�as estranhas. da� a repugn�ncia que experimentava em mercantilizar as suas produ��es, e, muito embora, ainda em vida, fosse reconhecido como o �pai� da nova m�sica, permaneceu, n�o obstante, um pai pobre at� o fim de sua romagem terrena! a arte, declarava ele, devia divorciar-se do comercialismo. efetivamente, a arte e a mediunidade s�o duas for�as, duas express�es cujas ra�zes se confundem. o verdadeiro artista � um m�dium, e todo m�dium honesto n�o mercantiliza aquilo que de gra�a lhe � transmitido. debussy sentia um impulso que se lhe afigurava misterioso, qual o de escrever as maravilhosas melodias que bailavam dentro de si, em torno de si. dormindo, sonhava, e nesse sonhar delicioso escutava, num desdobrar encachoeirado, aquelas mesmas melodias que o inebriavam, quando em vig�lia. e ele instintivamente se sentia na obriga��o moral de escrever uma �pera para aproveitar essa robusta e permanente inspira��o. uma dificuldade, por�m, se lhe apresentava. onde encontrar o libreto indispens�vel. vivia assim angustiado, quando saiu � luz da publicidade e obra �pel�as e melisande�, escrita pelo ent�o jovem belga maurice maeterlinck. ser� que maeterlinck, na b�lgica, escreveu essa obra justamente para que debussy, na fran�a, a musicasse, embora ambos n�o se conhecessem? quem no-lo poder� afirmar? quem poder� negar que esses dois esp�ritos, quando ainda no espa�o, n�o tivessem combinado essa coaliz�o? e tanto isso se nos afigura razo�vel, que o not�vel comentarista ernest newmann considera um milagre o encontro instant�neo dessas duas pessoas. sabemos que n�o existem milagres. o que houve foi a simples concretiza��o do que combinaram esses dois esp�ritos, no espa�o, antes de retornarem � terra: - um que reencarnou com o nome de debussy, e o outro com o de maeterlinck. e acrescenta esse comentarista, corroborando com a nossa maneira de apreciar os fatos: �a coincid�ncia das �rbitas destes dois homens, naquele tempo e lugar exatos, foi uma dessas coisas que s� podem ocorrer uma vez em cada s�culo.� � que maeterlinck nunca mais encontrou um m�sico que o compreendesse como debussy, e este, conquanto desejasse muito escrever outra �pera, n�o tornou a encontrar assunto dram�tico que o satisfizesse como o de �pel�as e melisande�. essa opera representa um afastamento absoluto das tradi��es predominantes no passado. sua composi��o, como dizem os entendidos, � �uma encantadora corrente de m�sica que transporta os cora��es de alguns poucos iniciados para aquelas�.
�m�gicas janelas encantadoras que se abrem na espuma de mares perigosos, em perdidos recantos de fadas.� isto significa que debussy, em �pel�as e melisande�, foi o medianeiro dessas suaves e encantadoras melodias dos planos superiores, as quais soavam, sem cessar, em seus ouvidos. debussy, cujos �ltimos anos de vida foram de grandes sofrimentos, em virtude de ter sido atacado pelo c�ncer, desencarnou em 25 de mar�o de 1918. um seu amigo, confortando-o, dizia-lhe que ele seria sempre lembrado como fundador da m�sica moderna. -eu queria antes � respondia ele � ser lembrado como um m�sico de fran�a. (grandes vultos da humanidade e o espiritismo � sylvio brito soares � feb)