Chica Pelega

  • May 2020
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CHICA PELEGA TRAGÉDIA ROMÂNTICA Aulo Sanford de vasconcellos (Romance – 199 páginas) CONTEXTO HISTÓRICO - GUERRA DO CONTESTADO A Guerra do Contestado foi um conflito armado, entre a população cabocla e os representantes do poder estadual e federal brasileiro travado entre outubro de 1912 a agosto de 1916, numa região rica em erva-mate e madeira pretendida pelos Estados do Paraná e Santa Catarina. A Guerra do Contestado teve origem em conflitos sociais, frutos de desmandos, em especial no tocante à regularização da posse de terras por parte dos caboclos. Representando, ao mesmo tempo, a insatisfação da população com sua situação material, o conflito era permeado pelo fanatismo religioso, expresso pelo messianismo e pela crença, por parte dos caboclos revoltados, de que se tratava de uma guerra santa. O primeiro monge que ganhou fama no Contestado foi João Maria, um homem de origem italiana, que peregrinou pregando e atendendo doentes de 1844 a 1870. Fazia questão de viver uma vida extremamente humilde, e sua ética e forma de viver arrebanhou milhares de crentes, reforçando o messianismo coletivo. Sublinhe-se, porém, que não exerceu influência direta nos acontecimentos da Guerra do Contestado que ocorreria posteriormente. João Maria morreu em 1870, em Sorocaba, Estado de São Paulo. O segundo monge também denominou – se João Maria, mas seu verdadeiro nome era Atanás Marcaf, provavelmente de origem síria. Aparece publicamente com a Revolução Federalista de 1893, mostrando uma postura firme e uma posição messiânica, sobre sua situação política, dizia ele "estou do lado dos que sofrem". Chegou, inclusive, a fazer previsões sobre os fatos políticos da sua época. Atuava na região entre os rios Iguaçu e Uruguai. Após o desaparecimento do monge em 1908 os crentes acreditavam na volta dele através da ressurreição. A espera dos fiéis acaba em 1912, quando apareceu publicamente a figura do terceiro monge. Este era conhecido inicialmente como um curandeiro de ervas, tendo se apresentado com o nome de José Maria de Santo Agostinho, ainda que, de acordo com um laudo da polícia da Vila de Palmas, Estado do Paraná, ele fosse, na verdade, um soldado desertor condenado por estupro, de nome Miguel Lucena de Boaventura. O monge ganha fama e credibilidade através de alguns episódios como: ter ressuscitado uma jovem (provavelmente apenas vítima de catalepsia patológica), ter curado a esposa do coronel Francisco de Almeida, vítima de uma doença incurável e rejeitado terras e uma grande quantidade de ouro que o coronel, agradecido, queria lhe oferecer. A partir daí, José Maria passa a ser considerado santo: um homem que veio a terra apenas para curar e tratar os doentes e necessitados. Metódico e organizado, estava muito longe do perfil dos curandeiros vulgares. Sabia ler e escrever e anotava em seus cadernos as propriedades medicinais das plantas encontradas na região. Com o consentimento do coronel Almeida, montou no rancho de um dos capatazes o que chamou de farmácia do povo, onde fazia o depósito de ervas medicinais que utilizava no atendimento diário, até horas tardias da noite, a quem quer que o visitasse. Os camponeses que tinham perdido o direito às terras que ocupavam e os trabalhadores que foram demitidos pela companhia da estrada de ferro decidiram, então, ouvir a voz do monge José Maria, sob o comando do qual organizaram uma comunidade. Resultando infrutíferas quaisquer tentativas de retomada das terras, que até o início das obras eram oficialmente consideradas "terras devolutas", cada vez mais se passou a contestar a legalidade da desapropriação. Uniram-se ao grupo diversos fazendeiros que, por conta da concessão, estavam perdendo terras para o grupo de Farquhar, bem como para os coronéis manda-chuvas da região. A união destas pessoas em torno de um ideal comum levou à sua organização, com funções distribuídas entre si, e ao fortalecimento do grupo. O messianismo adquiria corpo. A vida era comunitária, com locais de culto e procissões. Tudo pertencia a todos. O comércio convencional foi abolido, sendo apenas permitidas trocas. Segundo as pregações do líder, o mundo não duraria mais 1000 anos e o paraíso estava próximo. Ninguém deveria ter medo de morrer porque ressuscitaria após o combate final. É de destacar a importância atribuída às mulheres nesta sociedade. A virgindade era particularmente valorizada. O "santo monge" José Maria rebelou-se contra a recém formada república brasileira e decidiu dar status de governo independente à comunidade que comandava. Para ele, a República era a "lei do diabo". Nomeou "Imperador do Brasil" um fazendeiro analfabeto, nomeou a comunidade de "Quadro Santo" e criou uma guarda de honra constituída por 24 cavaleiros que intitulou de "Doze Pares de França", numa alusão à cavalaria de Carlos Magno na Idade Média. Os camponeses uniram-se a este, fundando alguns povoados, cada qual com seu santo. Cada povoado seria como uma "Monarquia Celeste", com ordem própria, à semelhança do que Antônio Conselheiro fizera em Canudos. O monge é, então, convidado para participar da festa do Senhor do Bom Jesus, na localidade de Taquaruçu (município de Curitibanos). Segue acompanhado de cerca de 300 fiéis. Terminada a festa, o monge se demorou nesta localidade, atendendo a quem quer que viesse em seu encontro, receitando remédios e fazendo curas. Desconfiado com o que acontecia em Taquaruçu, e com medo de perder o mando da situação local em Curitibanos, o coronel Francisco de Albuquerque, rival do coronel Almeida, enviou um telegrama para a capital do Estado pedindo auxílio contra "rebeldes que proclamaram a monarquia em Taquaruçu"'.

O governo brasileiro comandado pelo Marechal Hermes da Fonseca, responsável pela "Política das Salvações", caracterizada por intervenções político-militares que em diversos Estados do país pretendiam eliminar seus adversários políticos, sentiu indícios de insurreição neste movimento e decidiu reprimi-lo, enviando tropas para "acalmar" os ânimos. Intuindo o que estava por vir, José Maria parte imediatamente para a localidade de Irani com todos os seus seguidores. Irani, nesta época, pertencia a Palmas, cidade que estava na jurisdição do Paraná. Como Paraná e Santa Catarina tinham questões jurídicas não resolvidas por conta das divisas de seu território, o Paraná viu nessa grande movimentação de pessoas uma estratégia de ocupação daquelas terras por parte do Estado vizinho de Santa Catarina. A guerra do Contestado inicia-se neste ponto: em defesa das terras paranaenses, várias tropas do Regimento de Segurança do Paraná são enviadas para o local, a fim de obrigar os invasores a voltar para Santa Catarina. Estamos em outubro de 1912. Tem início um confronto sangrento entre tropas do governo e fiéis do Contestado no lugar chamado "Banhado Grande". Ao término da luta, estão sem vida dezenas de pessoas, de ambos os lados. Morreram no confronto o capitão João Gualberto, que comandava as tropas, e também o monge José Maria, mas os partidários do contestado tinham conseguido a sua primeira vitória. José Maria é enterrado com tábuas pelos seus fiéis, a fim de facilitar a sua ressurreição, já que os caboclos acreditavam que este ressuscitaria acompanhado de um Exército Encantado, vulgarmente chamado de Exército de São Sebastião, que os ajudaria a fortalecer a Monarquia Celeste e a derrubar a República, que cada vez mais se acreditava ser um instrumento do diabo, dominado pelas figuras dos coronéis. Em 8 de fevereiro de 1914, numa ação conjunta de Santa Catarina, Paraná e governo federal, foi enviado a Taquaruçu um efetivo de 700 soldados, apoiados por peças de artilharia e metralhadoras. Estes logram êxito na empreitada, incendeiam completamente o acampamento dos jagunços, mas sem muitas perdas humanas, já que os caboclos e fiéis da causa do Contestado se refugiaram em Caraguatá, local de difícil acesso e onde já viviam cerca de 2000 pessoas. Os fiéis que mudaram para Caraguatá eram chefiados por Maria Rosa, uma jovem com 15 anos de idade, considerada pelos historiadores como uma Joana D'Arc do sertão, já que "combatia montada em um cavalo branco com arreios forrados de veludo, vestida de branco, com flores nos cabelos e no fuzil". Após a morte de José Maria, Maria Rosa afirmava receber, espiritualmente, ordens do mesmo, o que a fez assumir a liderança espiritual e militar de todos os revoltosos, então cerca de 6000 homens. De março a maio outras expedições foram realizadas, porém todas sem sucesso. Em 9 de Março de 1914, embaladas pela vitória de Taquaruçu, que tinham destruído completamente, as tropas cercam e atacam Caraguatá, mas aí o desastre é total. Fogem em pânico perseguidos pelos revoltosos. Esta nova vitória enche os contestadores de ânimo. O fato repercute em todo o interior, trazendo para o reduto ainda mais pessoas com interesses afins, mas também repercute muito mal frente ao governo e aos órgãos legalmente constituídos. Como cada vez mais pessoas engajavam-se abertamente ao movimento, piquetes foram formados pelos fiéis para o arrebanhamento de animais da região a fim de suprir as necessidades alimentícias do núcleo de Caraguatá. São então fundados os redutos de Bom Sossego e São Sebastião. Só neste último se aglomeravam cerca de 2.000 pessoas. Além de colocar em prática técnicas de guerrilha para a defesa dos ataques do governo, os fanáticos passaram ao contra-ataque. Em 1° de setembro, lançaram um documento que se intitulou "Manifesto Monarquista", deflagrandose, a partir de então, o que chamavam de a Guerra santa, caracterizada por saques e invasões de propriedades de coronéis e por um discurso que exigia pobreza e cobrava exploração ao máximo da República. Invadiam as fazendas dos coronéis tomando para si tudo o que precisavam para suprir as necessidades do reduto. Além disso, amparados nas vitórias que tiveram, atacaram várias cidades, como foi o caso de Curitibanos, onde os alvos eram invariavelmente os cartórios, locais onde se encontravam os registros das terras que antes a eles pertenciam. Não bastando incendiar os cartórios, num outro ataque na localidade de Calmon, destruíram completamente a segunda serraria da Lumber, uma das empresas que vieram de fora para explorar a madeira da faixa de terra de 30 quilômetros (15 quilômetros de cada lado) às margens da ferrovia. Com a ordem social cada vez mais caótica na região, o governo central designa o general Carlos Frederico de Mesquita, veterano de Canudos, para comandar uma ação contra os rebeldes. Inicialmente tenta, sem êxito, um acordo para dispensar os revoltosos; a seguir ataca duramente Santo Antônio, obrigando os rebeldes a fugir. O reduto de Caraguatá, que antes vira as tropas do governo fugirem perseguidas por revoltosos, tem agora de ser abandonada às pressas pelos mesmos revoltosos devido a uma grande epidemia de tifo. Considerando, equivocadamente, dispersos os revoltosos, o general Mesquita dá a luta por encerrada. Mas a calmaria terminaria logo. Os revoltosos rapidamente se reagrupam e se organizam na localidade de Santa Maria, interior do município de Timbó Grande, intensificando os ataques: tomam e incendeiam a estação de Calmon; dizimam a vila de São João (Matos Costa), atacam Curitibanos e ameaçam Porto União da Vitória, cuja população abandona a cidade em desespero. Os boatos chegam até Ponta Grossa e dizem que os revoltosos e seu exército pretendem marchar até o Rio de Janeiro para depor o Presidente. Os rebeldes já dominam, nesta altura dos acontecimentos, cerca de 25000 km² da região do Contestado. O governo federal nomeia o general Fernando Setembrino de Carvalho para o comando das operações contra os Contestadores. Em setembro de 1914, chefiando cerca de 7000 homens e com ordens de sufocar a rebelião e

pacificar a região a qualquer custo, chega a Curitiba o general Setembrino de Carvalho. A primeira e mais imediata providência foi restabelecer as ligações ferroviárias e guarnecer as mesmas para evitar que fossem novamente atacadas. Nas proximidades da ferrovia, o exército brasileiro construiu o Campo da Aviação de Rio Caçador, onde hoje é o município de Caçador. Como apoio de operações de guerra, pela primeira vez na história da América Latina foram usados dois aviões para fins de reconhecimento. Em um acidente durante as operações, morreu o Capitão Ricardo Kirk. Setembrino enviou um manifesto aos revoltosos no qual garantia a devolução de terras para quem se entregasse pacificamente. Garantia também, por outro lado, um tratamento hostil e severo para quem resolvesse continuar em luta contra o governo. Com o passar do tempo, general Fernando Setembrino de Carvalho adotou uma nova postura de guerra, evitando o combate direto, que era o que os revoltosos esperavam e para o que estavam se preparando, optando, pelo contrário, por cercar o reduto dos fanáticos com tropas por todos os lados, evitando que entrassem ou saíssem da região onde estavam. Para isto, o general dividiu seu efetivo em quatro alas com nomes dos quatro pontos cardeais, norte, sul, leste e oeste e, gradativamente, foi avançando e destruindo qualquer resistência que encontrasse pelo caminho. Com esta nova estratégia, rapidamente começou a faltar comida nos acampamentos dos revoltosos. Isto teve como conseqüência imediata a rendição de dezenas de caboclos. Contudo, a maioria dos que se entregavam eram velhos, mulheres e crianças - talvez uma contra-estratégia dos fiéis para que sobrasse mais comida aos combatentes que ficaram para trás e que ainda defenderiam a causa. Na guerra do Contestado, começa a se destacar – se a figura de Deodato Manuel Ramos, vulgo "Adeodato", considerado pelos historiadores como o último líder dos Contestadores. Adeodato transfere o núcleo dos revoltosos para o vale de Santa Maria, que contava ainda com cerca de 5000 homens. Só que aí, à medida que ia faltando o alimento, Adeodato passa a revelar-se cada vez mais autoritário, não aceitando a rendição. Aos que se entregavam, aplicava sem dó a pena capital: a morte. Cerco fechado, sem pressa e deixando os revoltosos nervosos lutarem contra si mesmos, em 8 de Fevereiro de 1915 a ala Sul, comandada pelo tenente-coronel Estillac, chega a Santa Maria. De um lado as forças do governo, bem armadas, bem alimentadas, de outro, rebeldes também armados, é verdade, mas famintos e sem ânimo para resistir muito tempo. A luta inicial é intensa e, à noite, o tenente-coronel ordena a retirada, afinal, já contabilizara só no seu lado 30 mortos e 40 feridos. Novos ataques e recuos ocorreram nos dias seguintes. Em 28 de Março de 1915,o capitão Tertuliano Potyguara parte da vila de Reinchardt com 710 homens em direção a Santa Maria, perdendo só em emboscadas durante o trajeto, 24 homens. Depois de vários confrontos, num deles Maria Rosa, a líder espiritual dos rebeldes, morre às margens do rio Caçador. Em 3 de Abril, as tropas de Estillac e Potyguara avançam juntas e ordenadas para o assalto final a Santa Maria, onde restavam apenas alguns combatentes já quase mortos pela fome. Em 5 de Abril, depois do grande assalto a Santa Maria, o general Estillac registra que "tudo foi destruído, subindo o número de habitações destruídas a 5000 (...) as mulheres que se bateram como homens foram mortas em combate (...) o número de jagunços mortos eleva-se a 600. Os redutos de Caçador e de Santa Maria estão extintos. Não posso garantir que todos os bandidos que infestam o Contestado tenham desaparecido, mas a missão confiada ao exército está cumprida". Os rebeldes sobreviventes se dispersaram em muitas cidades. Em dezembro de 1915 o último dos redutos dos revoltosos foi devastado pelas tropas de Setembrino. Adeodato fugiu, vagando com tropas no seu encalço. Conseguiu, no entanto, escapar de seus perseguidores e, como foragido, ficou ainda 8 meses escondendo-se pelas matas da região. Mas a fome e o cansaço, além de uma perseguição sem trégua, fizeram com que Adeodato se rendesse. Encerrava-se então, em agosto de 1916, com a prisão de Adeodato, a Guerra do Contestado. Adeodato foi capturado e condenado a 30 anos de prisão. Entretanto, em 1923, 7 anos após ter sido preso, Adeodato é morto pelo próprio diretor da cadeia numa tentativa de fuga. Na data de 12 de outubro de 1916, os governadores Filipe Schmidt (de Santa Catarina) e Afonso Camargo (do Paraná) assinaram um acordo e o município de "Campos de Irani" passou a chamar-se Concórdia. AUTOR: SANFORD DE VASCONCELLOS VIDA:Autor catarinense , advogado. O escritor Sanford de Vasconcellos já tinha abordado um dos conflitos

mais importantes do Brasil, no livro O Dragão vermelho, vencedor do prêmio na 1ª Bienal do Livro do Cone Sul, no ano passado de 2007, em Florianópolis. "Os que não obedeciam os editais era mortos e tinham suas casas incendiadas", conta Sanford, juiz de direito aposentado e autor de nove livros. Provavelmente nascida em Joaçaba, Chica Pelega ficou conhecida por liderar o grupo que liquidou os agentes do Exército Nacional na localidade de Taquaruçu, em Curitibanos. "Ela não tinha medo de morrer. Ela era o espírito dos injustiçados. Eu peguei a Chica Pelega de propósito, tanto pela sua história trágica como pela sua reação. Não estava na história dela ser guerreira. Ela foi embrutecida pelas circunstâncias. O livro é uma trajetória heróica", conta o autor. Para retratar a história trágica da personagem desconhecida, Aulo Sanford de Vasconcellos conectou a ficção às informações já conhecidas da história, sejam retratadas em livros ou passadas de geração em geração através

da oralidade. "A Chica é muito mais fruto da minha imaginação. A não ser a parte do Exército, que tem seus registros, o Contestado foi feito por histórias orais", explica o autor de 64 anos. Apesar da inesgotável fonte de histórias que a Guerra do Contestado traz para historiadores e ficcionistas, Vasconcellos acredita que a sua contribuição "como catarinense" se esgotou neste segundo livro dedicado ao tema. "O Contestado é uma história com material quase inesgotável. É muito rico", diz. Outro personagem que ele considera injustiçado pelo destino é o capitão do Exército Matos Costa, um dos poucos oficiais, na opinião de Sanford, a perceber a verdadeira situação social da região e as injustiças praticadas contra os jagunços. O capitão, assassinado por jagunços, foi relatada por ele em "O Dragão Vermelho do Contestado". OBRAS: O Homem da lvfadrugada - romance Carrossel - romance Cavalo Voa ou Flutua? - romance Ave Selva - romance Falai Baixo - romance A Vitrina de Luzbel - romance O Monólogo de um Deodato Alvim - romance histórico O Dragão Vermelho do Contestado - romance histórico SÍNTESE DA OBRA: O romance Chica Pelega divide-se em Prólogo e 24 capítulos. No prólogo o autor faz um esboço histórico do contexto acadêmico e político da época. O narrador apresenta-se como um jornalista aposentado chamado Pedro da Silva. Inspirado pela leitura do livro de Oswaldo Rodrigues Cabral pensou em escrever um romance, entretanto foi “O último jagunço” de Euclides J. Felippe que he deu a idéia de traçar a tragetória de Francisca Roberta, a Chica Pelega, na guerra do contestado. O sonho da implantação de um império caboclo na região do contestado era o sonho pela terra. Chica Pelega representa todos os caboclos que perderam a terra nessa luta sangrenta, todos os que sofreram perdas e injustiças. No ano de 1887 o engenheiro João Teixeira Soares enviou técnicos para realizar trabalhos referentes à linha férrea em monte, na direção ao Sul. A obra estendia-se desde a Província de São Paulo até Santa Maria da Boca do Monte, na Província de Rio Grande. Foram dois anos de estudos e com tudo traçado João T. Soares requereu ao Governo Imperial a concessão para construí-la com a exploração futura e preiteando a cessão de terras dela marginais para serem colonizadas. João foi atendido e capturou recursos junto aos investidores ingleses e franceses. Ao cabo de cinco anos a obra estava inacabada e, o governo tinha pressa. Lauro Müller, Ministro da Viação e Obras Públicas, empenhou-se a entregar a obra a Percival Ferguhar (USA) que assumiu a obra. Em 1910 a obra foi concluída. A empresa americana criou a Souchean Brazil Lumber Company como sai subsidiária, sob a direção do Mr. Bishop (Sr. Bicho) que implantou duas gigantes serrarias - Três Barras e Calmon (responsabilidade de Dr. Fino). Empregaram na obra cerca de 8.000 mil homens arrebanhados nas vielas do Rio de janeiro, Salvador e Recife, a promessa era de bons salários e iriam mandá- los de volta para as suas cidades. Também trabalharam na ferrovia alguns homens expulso de suas terras. O engenheiro Finnel organizou um corpo de segurança sob o comando do Capitão Palhares egresso da polícia do Paraná, reconhecidamente com desumano. Muitos operários ganhavam balas no bucho em vez de bons salários. Em 1910 a obra fora concluída e não mais havia necessidade de trabalhadores e os indivíduos recrutados ficaram rolando, a promessa não foi cumprida. Paralelamente temos a história do surgimento dos três monges, somente o último vai mencionar a guerra. I - O capitão Palhares O capitão Palhares chefiava duzentos pistoleiros que compunham a Força de Segurança da empresa americana Lamber Company. Era sanguinário, sem qualquer sentimento. Somente o superintendente Dr. Finnel (o Dr.Fino) faziao curvar-se. Venuto Baiano, que havia esfaqueado mortalmente um dos feitores da ferrovia,escapou da justiça do capitão, logrou-se das bolas de Bocudo e de Dilzo cabeção. Quando Palhares pensava nisso crescia o seu ódio pelos malfeitos, temia a reação do “Dr. Fino” Entretanto o fugitivo não deixara rastros. II - Zinho da Chiquinha Zinho e a Chiquinha sua mulher vieram do Rio Grande e não tinham filhos. Ocuparam uma gleba de terra do vale do Rio do Peixe. Zinho era um homem trabalhador, bem sucedido, roceiro e negociava excessos da produção familiar por sal, por pólvora, facão, enxada, pano riscado, couro... Progredia penozamente. Chegou à estrada e Zinho acreditava que, com ela, tudo iria melhorar. O casal acreditava que um amuleto feito com restos de carvão de uma fogueira do monge os tinha ajudado na colheita, na fertilidade dos animais de criação e até na gravidez de Chiquinha. Assim acreditavam. Chiquinha era alegre, trabalhava mesmo na gravidez. O parto ocorreu na lavoura. A filha Francisca Roberta tinha 3 anos e em 1908 a estrada foi acabada. III – A última festa da Ninica A abertura da linha férrea ofereceria aos posseiros a sonhada oportunidade de melhorar a vida. Todos os moradores prepararam-se para o dia da inauguração da linha férrea. Zinho e a família estavam presentes. Francisca, a

filha, estava com 15 anos. Zico, guapo rebento de Zecão, jovem direito e trabalhador, garboso, bem trajado interessou por Francisca. Zecão Amaro possuía uma boa gleba situada a duas léguas das terras de Zinho e de Chiquinha. Era festa na Estação Limeira, o gaiteirio contagiou a todos. Zinho dançou com Chiquinha e Zico agradeceu a Deus pelo providencial surgimento do gaiteirio porque fascinada dançou com Francisca. Naquela noite, no gapão, Ninica cansou os pés, ela possuía a idéia fraca, acreditava em tudo, até nos castelos que os “noivos” prometiam. Ninica era generosa com os futuros consortes, em momentos diferentes era levada para os fundos do depósito adjacente por um noivo e depois por outro, faziam do pasto um colchão. Bocudo a levou para o pasto onde aguardavam Caloceno e Dilzo Cabeção, eles a trataram muito mal e Ninica protestou, gritou e lutou. Uma golfada de sangue afogou-lhe os gritos e ali ficou com os olhos fixados nas estrelas. IV – Uma habilidade natural Desde o dia em que Zinho juntara os tições em uma gruta, onde ele e a mulher pernoitram, tudo tinha mudado: era a interferência do monge. A gravidez de Chiquinha e o progresso da gleba eram por influência do monge, não havia dúvidas. Francisca Roberta crescia saudável, cercada de carinho dos pais, ajudava na roça e no trato da criação. Era analfabeta como o pai e a mãe. Aos 12 anos ganhou um cavalo, tinha um talento especial para cuidar de animais. Viase nela uma tendência instintiva no trato das enfermidades Uma vez, uns cafuzos xucros que moravam nas posses de Zinho pediram ajuda porque tinham uma vaquinha com cria atravessada, não conseguindo parir. Francisca saltou no lombo de seu cavalo e foi para o local. Viram-na com os braços enfiados no útero da vaca ajeitando a posição da cria. Nasceu o bezerro e todos observaram as vestes de Francisca cheia de placenta misturada com sangue, ela sorria feliz. Um tempo depois, outra proeza. Um pinto do terreiro se debatia, Francisca pediu a faca do tio e fez uma incisão no papo do pinto, era fubá seco. Depois com costurou o corte e despejou mel silvestre.O pinto sobreviveu. Francisca sabia lidar com bicheiras, com ferimentos , com moléstias de todo tipo. Também Zecão Amaro pediu ajuda à Francisca, um cavalo carreiro rolava no pasto com uma espécie de cólica. Chica fez um chá de folhas de vassourinha, adicionou azeite doce e despejou na goela do cavalo. Zecão ficou agradecido com o resultado. A verdade é que Francisca tinha uma habilidade natural pra enfermidades em geral. Houve a inauguração oficial da ferrovia, entretanto Zecão Amaro não foi à inauguração, pois sua mulher amanheceu doente. Já, Zico foi e lá encontrou Francisca. V – Planos de casamento Francisca prometeu à mãe que não iria separar-se dos pais e nem sair das terras onde moravam. Em conversa com Zico, ela referiu-se com entusiasmo a uma extensão de terra colada à gleba da sua família, pelos fundos, para a lavoura, as pastagens. Antes de Zico mudar de assunto, ele falou que ao redor das terras do pai dele, também existiam muitas terras boas a serem trabalhadas. Era onde ele pretendia instalar-se, como já fizera o irmão casado. A partir daquele momento o relacionamento esfriou. Zico viu seu namoro ameaçado e enchia a namorada de agrados. Chica adorou um alfinete em metal amarelo, com uma presilha encimado por uma pequena cruz verde que Zico lhe deu. Zico insistia em morar nas terras do pai, entretanto Francisca guardava em si o seu projeto pessoal. Até que em setembro de 1911, Zico entregou os pontos e aceitou trabalhar na gleba da família da namorada. O casamento ficou marcado para novembro. Havia rumores que a Lumber estava expulsando algumas famílias mais ao norte. Zico não temia porque ele estava ali desde 1875, quando ainda nem se cogitava a linha férrea. VI – Gentlemen, these Lands are Ours Os homens de Palhares chefiados por Bocudo se puseram a caminho para limpar os posseiros daquela área. Bocudo trazia na mente a figura de Chica, a moça da Estação Limeira. Por isso ele ajeitou para que fosse destinado para aquela gleba. Os homens roubaram tudo o que era de valor, incendiaram o paiol, a roça, arrecadaram os animais e queimaram a casa. Zinho jazia junto à soleira. Bocudo inconformado comentava o azar de não ter encontrado a moça. Havia pressa da Lumber em expulsar as famílias daquelas áreas marginais. Capitão Palhares era duro, já que, aqueles intrusos xucros não aceitavam desocupar pacificamente. Para convencer teimosos somente a força e o “Dr. Fino” reconhecia o esforço de Palhares. Bocudo, Dilzo Cabeção e Caloceno seguiram na incursão. Bocudo não tirava a potranca da Cabeça. Francisca e a mãe, naquela tarde, estavam embrenhadas numa mata virgem, terras que seriam do futuro casal. Ao voltarem, Chiquinha foi quem viu uma coluna de fumaça. Mãe e filha olharam aquele quadro, era um horror: Zinho com o crânio afundado, com os miolos a empastar-lhe parcialmente os cabelos grisalhos. No sitio de Zecão Amaro outro bando não deixou escapar ninguém. Zecão tinha duas horas para ele e a família abandonar o local. Zecão afrontou os homens e levou um tiro no peito. Todos morreram: Zico, os dois irmãos, a mãe de Zico e inclusive a mulher do mais velho que estava grávida. Até os cachorros. Era essa a justiça na região do contestado. VII – O senhor Bom Jesus de Taquaruçu

Em 1912 no Faxinal dos Padilha em Campos Novos, surge um notável curandeiro vindo dos lados de Irani, José Maria. Além de curar, benzia, abençoava, identificava-se com o saudoso Monge João Maria. Para os sertanejos era o próprio Monge ressuscitado, que em missão divina iria resgatá-los daquela vida miserável. Francisca Roberta envelhecera, perdera a alegria e o viço da juventude. Mãe e filha ficaram marcadas pela tragédia, elas mesmas enterraram os corpos. Francisca liderava um grupo que rumou para Taquaruçu. VIII – O régulo contrariado Franciso Albuquerque era o chefe absoluto em Curitibanos apoiado pelo governador Vidal Ramos, seu amigo e compadre. Transformara-se também no mais sólido comerciante da região. Depois da morte do ex - Superintendente Henrique de Almeida, Francisco ofereceu para Henriquinho, filho do antigo líder, a presidência do Conselho Municipal. Torna-se Francisco o líder absoluto do lugar. Henrique Rupp Júnior era um moço cheio de livros, bacharel petulante chegou falando de alternância de poder a Henriquinho. O Superintendente percebeu que tinha sido ele que estimulou e convenceu Henriquinho a fazer-lhe uma acirrada oposição. Assim o adversário passou a ajudar os monarquistas isntalados nas terras do bodegueiro Praxedes em Taquaruçu. Francisco decidiu chamar o monge a sua presença, queria ter uma conversa séria com o milagreiro. O Monge disse que a distância era a mesma. Francisco ficou furioso. Desejou as orelhas de todos. Decidiu pedir ajuda ao compadre governador. IX – Chica pelega Chica e seu grupo chegaram em Taquaruçu exaustos e com fome. Recebem comida de graça e depois conseguem abrigo em um alojamento coletivo. Em 6 de agosto de 1912, dia de celebração ao culto do Bom Jesus em Taquaruçu. O bodegueiro Praxedes Gomes Damasceno, O Xandoca, dono das terras, trazia sal, açúcar mascavo, as gasosas,as bebidas fortes e ainda prendas para o rodeio. Elegia-se um Imperador-festeiro, estouravam fogos de artifícios e estampidos de 44 tocavam sobre Monarquia e República. O Monge pregava em nome dos despossuídos. Em meio à pregação Chiquinho de Almeida presenteou o Monge José Maria com uma espada de Coronel da Guarda Nacional. Francisca e a mãe juntaram-se aos fiéis para receber a benção do Monge. Francisca observou uma menina de branco com flores no cabelo, imóvel diante da cruz. Aparentava 14 anos, seus olhos se cruzaram. Era Maria Rosa. Os dias sob a liderança do Monge seguiram-se e Francisca tratava os doentes com dedicação. Um dia, como agradecimento, ganhou um cavalo de um estancieiro. X – A obediente retirada de Tiquaruçu A concentração mística de Taquaruçu aumentava e a preocupação do Superintendente Albuquerque em dissolvê-la também. Henriquinho de Almeida instigava e fortalecia o movimento com o intuito de beneficiar-se politicamente com a desordem. Cirino Chato, emissário eventual do Chefe de Polícia, foi encarregado de avisar aos caboclos que deveriam desmanchar o acampamento e debandarem. Para surpresa de todos o Monge aceitou pacificamente. Levantariam acampamento. Chica Pelega frente aos desvalidos e mais uma vez sem destino acabou retornando para os lados da sua saudosa Estação Limeira. XI – A gleba ocupada Chica Pelega nem completara 18 anos e embrutecera, perdendo a capacidade de sonhar. Tinha pena da mãe e dedicava-se a ela e aos enfermos. À volta a Estação Limeira foi decepcionante, a caboclada continuava sendo enxotada pelos homens de Palhares. Sofriam restrições até para comprar nos armazéns. As terras do vale eram destinadas pela Lumber aos estrangeiros. Chica foi até o sítio que era de sua família e revoltou-se ao ver que tinha sido ocupado por outra família. Ela viu perto do paiol um menino louro e apesar da aparência de Chica, o menino sorriu-lhe. A guerreira enterneceu-se, lembrou da família e de Zico. Malditos eram os donos da estrada de ferro, não aquela gente. Chica pegou na roupinha da criança um alfinete com uma pequena cruz de metal. Surpreendida pelo pai da criança, a moça entrou na floresta indo encontrar- se com seu grupo. Rumaram para o oeste. XII-O vexame oficial no heróico chã de Irani. O monge recebera a ordem de expulsão, datada de 20-10-1912, escrita a lápis num reles papelucho, era do Cel. Gualberto oficial do.Exército Brasileiro comissionado Comandante Geral do.Regimento de Segurança do Paraná. O profeta já estava farto, enxotaram-no de Taquaruçu, agora de Irani. Ele pagava tudo o que comprava, não devia nada para ninguém, não entendia o porquê da perseguirão. Ainda o Coronel escrever-lhe um bilhete a lápis, num reles papelucho?!Nesse bilhete o dito oficial intimava-o a comparecer perante ele, sob pena de atacar de rijo o acampamento. O monge decidiu abandonar Irani, somente precisa de um tempo. Cel. João Gualberto, ali estava para castigar os invasores catarinenses em terras do Paraná. Porque aquilo nada mais era do que preconcebida invasão do Paraná por gente de Santa Catarina, estando na raiz daquele proposital procedimento o litígio judicial tendo por objeto o estabelecimento da fronteira interestadual. Por isso

encontrava – se ele, o Comandante Geral em pessoa no Faxinal do Irani. Para agir exemplarmente, e não para conversar acerca da concessão de prazos. O Dr. Manoel Cavalcanti, Chefe de Polícia do Paraná, declarou- se favorável ao entendimento pacífico, o fogoso e valente militar não cedeu. Nada de tratativas, nada de prazos. Cel. João Gualberto, ali estava para castigar os invasores catarinenses em terras do Paraná. Porque aquilo nada mais era do que preconcebida invasão do Paraná. E atacou de surpresa, na madrugada do dia 22. Foi uma vergonha. Os caçadores, viraram a caça. Uns duzentos sertanejos, parecendo mil alucinados lacedemônios, atiraram-se de todos os lados sobre a formação militar. Empunhavam espetos, porretes, \e manejavam com espantosa fúria os seus facões paraguaios. Alevantados, na fé e no furor. Tudo isso aliado a uma gritaria infernal, "Viva São Sebastião!", "Viva a Monarquia!". Cresciam os sertanejos na refrega, com o tapejara Miguel Fragoso destacando-se em bravura. O profeta conservarase de pé, imperturbável, com as faces e os braços voltados para o céu.Os soldados debandaram e a metralhadora emudeceu. Fala-se que na véspera, por descuido do cabo, a terrível matraca submergira nas águas lodosas de um riacho. O Cel. João Gualberto procurou pelo seu cavalo e um seu subordinado dele se apossara.O Coronel já sem bala, arrancou da espada. Golpeou dois, três inimigos. Ferido, esvaindo – se em sangue por sucessivas estocadas, continuou se batendo, até que tombou de vez. Do seu lado o monge José Maria, vitimado pela derradeira bala do Coronel, já havia tombado antes.Morreu o Cel. João Gualberto uma morte definitiva.Porém o monge morreu uma morte temporária.Prometeu ressuscitar. Cavaram-lhe uma cova rasa para facilitar-lhe a ressurreição. Houve quem jurasse tê-lo visto, em gloriosa cavalgada ascendente. X I I I- Os abomináveis corós de Jerônimo Ricas em proteínas são as larvas. Variam elas de tamanho, conforme a dieta e a espécie. As desenvolvidas em paus podres têm em regra o corpo gordo, mole, alongado, esbranquiçado, e uma cabeça escura, diminuta, dura como ariete, capaz de perfurar as fibras do mais resistente lenho. São os corós. Chica Pelega e o seu grupo alimentaram-se de corós. Tudo por extrema necessidade. Jerônimo atribuía ao mestiço Zé Biriva a culpa pelo azarão. Depois do sangrento entrevero no Irani. Chica pelega vira – se impulsionada a retirar-se com seu grupo para outros lugares. São João Maria, São José Maria, São Sebastião os amparava. Veio o 1913 e com ele um inverno rigoroso. Era O frio e era a fome. Zé Biriva, o mestiço capenga, conservava-se isolado, era indiferente apesar de Jerônimo considerá-lo um azarento. Chica Pelega tinha cheiro de folha e de terra. Nela deviam se espelhar. Forte como a natureza ela era irmã da terra e irmã das águas. Nascera sobre a terra bruta, banhara-se no rio. Chica tratava os enfermos. Todos esperavam o sinal. Ele veio. O santo mandou todos de volta para Taquaruçu.Foi Teodora, a neta do velho Euzébio, que vira materializar- se o monge José Maria.Este repetiu três vezes que era hora de começar a Guerra Santa de São Sebastião, era a hora de instaurar a Monarquia a partir de Taquaruçu. E todos puseram – se a seguir Chica. XIV – Zé Biriva, o homem do laço e do raio. Zé Biriva laçou o animal com presteza. Jerônimo sentia –se um tanto envergonhado. Enquanto carneava a rês Jerônimo enchia Zé de elogios. Agora, Jeônimo apenas lembrava da irmã gêmea, a Ninica, esta era retardada. Ninica fora procurar Jerônimo na inauguração da ferrovia e Bocudo e seus homens fizeram perversidade com ela. Zé Biriva economizava palavras. Mestiço de guarani, era de pouco assunto, reservado, varava as trilhas sem deixar rastro e nunca esquentara lugar.Depois da captura da rês, Jerônimo simpatizou –se com Zé e não mais se desgarrou dele. XV – Não eram óculos O Superintendente não aceitava aquela ousadia do chamado Henrique Rupp Júnior, bacharel, nascido em Campos Novos, o perfumado moço e Ainda encheu a cabeça do Henriquinho de Almeida levando-o para uma oposição ferrenha. O Superintendente Albuquerque não escondia o seu rancor. Chegou a pensar em dar fim a ambos, e só não o fez porque, devido à importância dos dois protagonistas, acabaria causando uma desaconselhável comoção política de imprevisíveis conseqüências. Os caboclos tinham se instalados nas terras do posseiro Francisco Paes de Farias, conhecido por Chico Ventura, outro grande criador de casos. E, desta feita, eram muitos. Um arraial composto de 400 ranchos. Falecera o Monge no Irani. Mas aquela gente por ele fanatizada, nesse retomo a Taquaruçu, agora falava abertamente na implantação da Monarquia. Estava em jogo não somente a sua autoridade de chefe político. Na sua interpretação estava em jogo, inclusive, a sobrevivência da própria República. O reduto dos fanáticos monarquistas ganhava a cada momento novos reforços, e na sua ótica o perigo mostrava-se iminente. Aquele Praxedes Damasceno, o bodegueiro de Taquaruçu, por certo andava fazendo jogo duplo. Da outra vez, ao tempo do primeiro ajuntamento, aliás erguido nas suas terras, ele não escondia as simpatias pessoais pelo Monge. A luta dos da caboclada possuía uma conotação religiosa de mística própria, cuja fé repousa va na santidade dos monges João Maria, os Antigos, e na de José Maria, o Ressuscitado, todos prováveis versões de São Sebastião Por isso fracassara a tentativa do frei Rogério Neuhaus quando procurou os líderes sertanejos, entrando em pessoa no próprio arraial, procurando persuadi-los a dissolverem o reduto. O Superintendente decidiu pedir ajuda ao Governador Vidal Ramos para acabar com os insurretos. O Cel.

Albuquerque, na véspera, havia encarregado o tapejara Neném do Rio, um dos seus fiéis cacundeiros, de recrutar um punhado de bem dispostos caboclos para reforçar a defesa urbana. Quando Neném chegou acompanhado acompanhado por oito elementos. O Superintendente a distância vislumbrou, ao lado dele, um fulano atarracado usando o que lhe pareceram ser óculos cor-de-rosa. Era no Elnestino do lado de Campo Belo, homem de trato bruto, atarracado, um ar desconfiado e selvagem. E não usava óculos. O que possuía eram enormes olhos bovinos, esbugalhados, que por desconhecida doença, ou por excesso de aguardente, raiavam-se de profusos capilares sangüíneos. Agora, deitado, o Superintendente refletia sobre as vantagens e os aborrecimentos inerentes ao poder. O poder, pelo poder em si, nada significava. A questão era saber exercê-lo. Prever, administrar com astúcia, conhecer o momento certo de recuar, de avançar, e até o de transigir. Já se disse, com razão, ser a política a arte do diabo, em permanente fervura, não dando para ficar um único segundo desatento. Contentar o povo, atender correligionários, lidar com a oposição... É jogo pesado, com linguagem própria. Vácuo de poder não existe. E a posição de chefe é sempre muito complicada, por ser o alvo constante de todos. Os adversários desejam o seu lugar. Mas não só os adversários. Pois, pior que isso, também o cobiçam os próprios correligionários, bastando facilitar. Deitado, o Cel. Albuquerque meditava sobre todas essas coisas. Até mesmo os seus pequenos deslizes de infidelidade conjugal. XVI - Dinamiza-se o Arraial de Taquaruçu O próprio monge José Maria, por intermédio do sensitivo Manoel, fora quem orientara sobre as disposições de tudo o que ali em Itaquaruçu - o traçado do Quadro Santo, a implantação da Forma, a disposição dos armamentos, a formação dos Pares de França, a instituição dos piquetes, os princípios referentes às rígidas regras de conduta moral a serem obedecidas, a reserva de uma área lateral para o adestramento nas armas. Virgem Teodora. Uma criança, neta do velho Euzébio. Depois daquele seu primeiro contato com o Ressuscitado, em Perdiz Grande, e de mais alguns ligeiros contatos posteriores, viu ela extinguir-se a sua çapacidade de mediação espiritual. "Perdeu o aço", segundo foi explicado pelos entendidos, sendo substituída, nessa função mediúnica, pelo Menino de Deus Manoel. Filho, por coincidência, do mesmo velho Euzébio. Foi através de Manoel que O Monge determinou o retorno do povo sertanejo para Taquaruçu. Zé Biriva revelou-se um elemento indispensável na captura das reses cavalgando em campo, e alçando o seu laço, jamais errava um par de chifres. Jerônimo, o açougueiro e o laçador tornaram – se amigos. Zé Biriva flagrara Jerônimo visitando um casebre que ficava atrás do galpão e só depois soube que era por causa de um menino que babava e ria. Um menino que, de certa forma, lembrava a irmã de Jerônimo. Chica Pelega mais uma vez ganhou pronto destaque nos trabalhos do arraial. Voltou a cuidar de doentes, cerzia, ajudava a erguer casebres, puxava na Forma salmos e orações, aprestava-se na charqueada, coadjuvada em tudo pela sua mãe. Essa sua atividade febril, já conhecida de Chico Ventura, rendeu-lhe também, declaradamente, as simpatias do velho Euzébio, e ambos costumavam apontá-la como um bom exemplo a ser seguido. Em reconhecimento ao mérito presenteou a, desta vez o próprio Chico Ventura, com um cavalo de boa linhagem campeira, ágil de pernas e sensível ao comando, significando um gesto de inegável distinção. "Era cavalo do meu uso", falou-lhe o doador, tropeiro de profissão, com esse aval garantindo-lhe a linhagem e valorizando a dádiva. Como mulher, era enfermeira. Na guerra de São Sebastião, seria um soldado, como os outros. Sem medo. Secundário era para ela a diferença do sexo, há muito deixara de ocupar-se com semelhante assunto. Até da particular vaidade feminina ela se desprendera. XVII - Uma ameaça de castração Naquela data de 8 de dezembro de 1913 estava Guilherme, um dos filhos de Chico Ventura, tosando o cabelo de alguns devotos alinhados em fila, cada qual aguardando a sua vez, quando entrou no arraial frei Rogério Neuhaus na companhia do bodegueiro Praxedes Damasceno - o Xandoca - e de Cirino Chato, sendo este último o tal que já, antes, servira de emissário do Chefe de Polícia, Dr. Sálvio Gonzaga, quando foram os sertanejos compelidos, no ano anterior, a abandonar Taquaruçu. Frei Rogério, piedoso franciscano de origem alemã, com a sua inusitada visita, propunha-se a persuadir os sertanejos a dissolverem aquela temerária concentração. Assim que chegou no arraial, solicitara imediata audiência com o velho Euzébio, entretanto a decisão não era dele.Frei Rogério, paciente, foi então entender-se com o Manoel, dito Menino de Deus. Não se sabia de nenhum frade que se tivesse insurgido, sequer vagamente, contra os freqüentes esbulhos no sertão, contra a opressão dos caboclos pelos fazendeiros ligados ao governo republicano, contra os assassinatos de famílias inteiras a mando dos estrangeiros. - Cachorro! T’arreda daqui, corvo mardito! Ou eu mando te espancá! Foi como reagiu, furioso, depois de ouvir o frei, o Menino de Deus Manoel, Comandante Geral do arraial, filho do Euzébio. Querubina, a mãe de Manoel, queria a sua castração. Desejava, essa desumana senhora, cortar-lhe o membro viril. Desejava decepar-lhe os escolhões XVIII – Emprenhou, foi trocado e apanhou. O Menino de Deus deixou de ser Manoel, no singular, sendo agora Manoel e as virgens, no plural. Xucras eram as mulheres da comunidade. Xucras, sim. Eram umas ignorantes completas. Cegas, porém, certamente não eram. E enxergaram que as virgens de branco começavam a criar barriga. Sempre haviam considerado o Menino de Deus Joaquim um moço puro, até o chamavam de donzelo. Mas ele as estava emprenhando, estava sim. Então se eriçaram

indignadas porque o donzelo não agia como devia agir um donzelo. E daí cresceram os seus arrenegados clamores, em ondas fartas. Aquilo não estava correto. E, de boca em boca, foi-se avolumando o clima de irrefreável escândalo. Até Dona Querubina, a matriarca, viu-se forçada a reconhecer o péssimo comportamento do filho. O seu rapaz de fato não correspondera à confiança nele depositada. Chamou-o em particular, ao suposto donzelo, e o repreendeu durissimamente. Se ao menos tivesse ele sido mais discreto! Nem foi só uma, o libidinoso emprenhou todas! Excesso de "aço", talvez. Diante do clamor e do repúdio coletivo, não havia como conservá-lo no alto posto. Insustentável tornou-se a sua posição. Sem moral, perdera a autoridade. Recebeu portanto a comunidade, de muito bom grado, a notícia da sua destituição do comando. Sequer o estimava. Contudo, não saiu impune. Não mesmo. Antes do seu expurgo, condenou-o o novo Menino de Deus ao suplício da vara de marmelo. Manoel, o tarado. O atleta do sexo. Despiram-no das camisas e desceram-lhe nas costelas nuas as vergastadas prescritas. Só depois o enxotaram. Substituído foi então por Joaquim, o novo Menino de Deus. Neto, coincidentemente, do mesmo velho Euzébio e de d. Querubina. Preparavam-se os guerreiros xucros para o feroz entrevero. Afiavam-se os facões, apontavam-se os espetos, besuntavam-se com sebo o cano das poucas espingardas e dos trabucos disponíveis. XIX - Um local de florzinhas silvestres Ali, pelo tempo da bela estação, desabrochavam profusas florzinhas silvestres, rasteiras, diferentes na forma e na cor; onde abelhas nativas e outros insetos abasteciam-se de néctar, entrecruzando-se como flechinhas cintilando ao sol. Um lugar calmo e isolado, próprio para meditações. O homem de olhos sanguinolentos, o Ernestino avançava a frente dos soldados vindos de Curitibanos. A coluna era comandada pelo Capitão Adalberto Menezes, dispunha de metralhadora. Queriam pegar os insurretos de surpresa XX – Viram chispas de raio e sangue no chão Surgiram do nada, audazes arremessavam – se os caboclos contra os soldados e baixavam o porrete e os seus facões. Era uma emboscada e alguns ameaçaram fugir. Um toque de clarim evitou a dispersão e voltaram a lutar. Metralhadora e fuzis contra tacapes, espetos e facões. Eusébio tombou. E nesse momento ouviu – se um grito selvagem, estridente. Era Chica Pelega, a brava filha da floreta, lançando o seu feroz grito de guerra. Os soldados estremeceram. Excitada, cabelos presos, salpicada de sangue da cabeça aos pés gritava: viva a Monarquia!Viva São Sebastião! Chica Pelega, mulher centauro, a imagem de todas as fúrias, trágico produto da injustiça, destemida, distribuindo faconaços por entre balas. No pêlo do seu cavalo, brava guerreira de São Sebastião, atropelou a todos. A metralhadora silenciara,os soldados dispersaram. Zé Biriva galopando na cola de Chica, havia atirado o seu laço certeiro sobre a temível metralhadora e saiu a arrastá-la atrás de si. Decidira – se a peleja. Semelhante à Irani, só que mais significativa. As forças do governo viram – se novamente batidas pelos guerreiros de São Sebastião. Prevalecia a força espiritual do monge. XXI - Desapareceram Jerônimo e Zé Biriva da cidade Santa. Desapareceram Jerônimo e Zé Biriva da Cidade Santa. Os caboclos obtiveram vitória em Irani e em Taquaruçu. No arraial todos festejavam e brindavam Chica Pelega, já que ela conduzira a vitória. Chica chegou na retaguarda do inimigo e golpeou todos que vinha pela frente. Todos comemoram, entretanto Chica optara pelo isolamento. Os seus pensamentos vagavam na família, na infância, nas terras que perderam. Chica envelhecera, era só violência. Chica preocupa-se somente com os feridos, preparava salmouras, aferventava ervas. Nessa altura Jerônimo e Zé já eram amigos inseparáveis, apenas separavam-se na hora das tarefas. Uma semana depois do embate sumiram sem dar avisos. XXII – A sumária do coronel O coronel Alburquerque reclamava da demora do exército em enviar tropas para reprimir os fanáticos. O cel. Tinha informações sobre o ingresso de armas de fogo no reduto além de importantes adesões à causa monrquista. Os soldados apreenderam armas e munições que haviam sido despachadas pela casa Hoepke, de Florianópolis, por encomenda de Prazedes Damasceno “Xandoca”, o bodegueiro de Taquaruçu. O bodegueiro não estava na hora da apeensão. Entretando o coronel nem precisou madar soldados no seu encalço, porque Praxedes foi procurá-lo em Curitibanos. O homem vinha armado e furioso, foi reclamar sobre a mercadoria, queria de volta. Enquanto se dirigia ao coronel Praxedes preparava o discurso: todo o comerciante da região, tinha armas para vender como a farinha, como o sal, como a pólvora, como o tecido. Afirmava o bodegueiro que seu comercio não estava condicionado à freguesia do arraial. Já sabendo da chegada do comerciante Alburquerque foi recebê-lo no portão. Diferentes versões foram contadas e em qualquer delas o Xandoca não escapou e mesmo ferido foi jogado na prisão e submetido a um interrogatório.No dia sewguinte Praxedes amanheceu morto. O Cel. No desejo de destruir os insurrectos, ironicamente. Acabou por reforçar – lhes as fileiras, porque o bodegueiro tinha muitos amigos, compadres, afilhados e prestígio. Diante da vitória dos guerreiros de São Sebastião o régulo de Curitibanos sentiu – se acuado. Assim cobrava inistentemente do Governador Vidal Ramos providências contra aqueles fanáticos. O governo replublicano, no início de fevereiro de 12914, decidiu atacar e concentrou – se no Esquilho 750 homens sob o comando do Tenente coronel Aleluia Pires, porém os líderes sertanejos tinham informações sobre o deslocamento dessas tropas.

Os caboclos, segundo orientações do Menino de Deus Joaquim, deveriam abandonar o reduto de Taquaruçu. Devendo seguir todos os guerreiros para Caraguatá, onde uma jovem, líder espiritual, fortemente mística, Maria Rosa, comandava o reduto. Chica lembrou-se daquela menina solitária, enigmática, em silêncio, parada em frente à cruz, no dia das festividades do Senhor Bom Jesus. Os olhos de Rosa eram escuros e penetrantes. No arraial permaneceram apenas os velhos, os enfermos e as mulheres com crianças. E também Antônio Linhares, um negro gigante, já grisalho. Constatada a retirada, os jagunços, os soldados não iriam arriscar-se selva adentro com canhões e metralhadoras. Chica Pelega também permaneceu em Taquaruçu com a mãe e os enfermos. XXIII – A seqüestrada Os jagunços andavam a passos lentos e em um final de tarde avistaram as antigas casas dos trabalhadores da ferrovia. Terminada a obra, os núcleos habitacionais forma esvaziados. Os desabrigados não ousavam ocupara aquelas casas senão pagariam caro o atrevimento. Algumas casas ainda continuavam em pé e em uma delas havia uma vida clandestina, percebia – se uma claridade. De fato uma adolescente fora enclausurada por Bocudo, há duas semanas. A família dela fora destruídas pelos homens de Palhares, Bocudo a ganhou em uma disputa. Tremia de medo, não tinha como fugir, eles a perseguiriam. Bocudo lá fora bebia feliz, não podia queixar – se da vida. Tinha poder e era respeitado, até o Capitão o elogiara. Pensava na potranquinha, ele adorava vê-la assustada. Ritinha acuada ouvia o cavalo aproximar – se e sentia o corpo tremular. Um laço atirado das sombras arrancou Bocudo de seu cavalo e arrastou – pelo chão. Na medida em que o corpo ia sendo arrastado, ouvia- se os urros que foram diminuindo. Um ou outro cavaleiro aproximou – se de Bocudo e , despiu o moribundo, atalhou- se as mãos e os pés e iniciou um percurso pelas partes reprodutoras. A criatura castrada urrava. Ritinha ouvira os grunidos e conseguira perceber que era de Bocudo. Sem raciocinar forçou a janela e saltou livre avançando pela picada do mato, mas foi vista. Os dois cavaleiros e perguntaram se ela era a que estava na casa. Os três rumaram para Caranguatá. XIV - O massacre de Taquaruçu O pacifista o Deputado Correia de Freitas procurou entender-se com os líderes de Taquaruçu. Mas ao ingressar no reduto deu com ele já esvaziado, ali encontrando apenas mulheres, crianças, e enfermos sob a liderança espiritual de AntônioLinhares, um negro colossal, ao qual faltavam contudo as credenciais para negociar em nome da comunidade de São Sebastião. Chica Pelega cuidava dos seus doentes, e atendia a todos os infelizes que lhe solicitavam a ajuda. Ninguém, ali, ignorava a concentração das tropas militares no Espinilho, local próximo a Taquaruçu. Mas certamente, diante das novas circunstâncias, jamais as tropas iriam atacar. Ali não havia mais guerreiros. Só crianças. Só enfermos. Só mulheres. E também velhos inválidos. Chica Pelega nascera para ajudar, para servir, para curar. Jamais para matar. Era forte e decidida, filha da natureza, irmã da floresta, cuidava da vida, por isso ela ajudava e curava. Homens e animais. Árvores, homens,animais. Matar, só por extrema necessidade da vida. Chica emanava energia indômita, era grito de cada manhã, era brado da natureza. Ela é plural. Ali estava a sua mãe, ao pé de si. Com uma cara de mil dores e os cabelos de algodão. Só tinham uma à outra. Capo Vieira da Rosa, um legalista completo, tido por incorruptível, e cuja fama de soldado feito de pedra já o precedia. Para Vieira da Rosa, bandidos e arruaceiros só eram bons quando enterrados. Não houve a menor dificuldade para as tropas avançarem e garantirem as posições ofensivas. Iniciou-se o massacre. A capela rachou-se ao meio, e a grande cruz a ela defronte se partiu por metade. Os casebres, o galpão, eram tudo alvejado sem erro. Fazia-se ensurdecedor o bombardeio, misturando-se ao crescente pipocar dos trovões, suplantando-o inclusive. Não encontravam os moradores onde se abrigar, os seus frágeis casebres nada protegiam, destroçado foi o galpão em pouco tempo. Desorientados corriam todos, perdidos. Monitoradas pelas mulheres, as crianças iam riscando cruzes no ar com as suas bandeirolas. E iam caindo, uma a uma, varadas pelas incessantes rajadas de balas. E nada de José Maria, o Ressuscitado. Mas ele estava lá. E vivo como sempre esteve, nenhum caboclo duvidava disso. E todos eles ali foram tombando, um a um, nutridos dessa esperança. Chica Pelega estendia-se no lodo com o corpo crivado de balas. A chacina aconteceu completa, deixando à mostra um cenário horripilante. Espalhavam-se os corpos por todos os cantos, a maior parte deles completamente mutilados. Viam-se cadáveres sem o rosto, e descobriam-se membros separados do tronco para onde quer que se olhasse - aqui uma perna, ali um braço, esparramando-se esses pedaços humanos, como macabros testemunhos, pelo chão enlameado do arraial. A mãe de Chica Pelega sentada na lama com a ensangüentada cabeça da filha no colo. Alisava-lhe a cabeça e cantava com doçura, indiferente aos estouros dos obuses, a sua velha canção de ninar. Embalava cadenciadamente o corpo e cantava, cantava sim, enfeitando o sono da sua menina. Um novo clarão iluminou-lhe o rosto crivado de rugas e os cabelos desgrenhados, brancos como o algodão. Enlouquecera, em piedosa loucura, agarrada ao cadáver da filha. PERSONAGENS

Cel. João Gualberto – o objetivo era castigar os invasores catarinenses em terras do Paraná. Porque aquilo nada mais era do que preconcebida invasão do Paraná por gente de Santa Catarina, estando na raiz daquele proposital procedimento o litígio judicial tendo por objeto o estabelecimento da fronteira interestadual. Era o Comandante Geral em pessoa no Faxinal do Irani. Não admitia concessão de prazos. Capitão Palhares – homem violento que venerava o Superintendente Sr. Finnel que chefiava a Força de Segurança da empresa americana Lumber Company. Homem sem sentimento. Zinho da Chiquinha – homem trabalhador, bem sucedido, roceiro, bom negociante - pai de Francisca Roberta. Chiquinha - olho torto, sempre alegre, era uma máquina de risonha, trabalhou até na gravidez - mãe de Francisca Roberta. Zico – rapaz direito e trabalhador, tinha calos nas mãos, filho de Zecão Amaro, encantou-se por Francisca. Francisca Roberta – Chica Pelega - cabelos ondulados, olhos castanhos brilhantes, alta, tinha uma habilidade natural para lidar com animais, ficou noiva de Zico, que morreu. Bocudo – parceiro de Dilzo Cabeção interessou-se por Francisca quando a viu dançando com Zico na inauguração da ferrovia. Ninica – gêmea do Jerônimo, alegre, tola, desmiolada. Foi estuprada por vários homens. Bocudo e os amigos violentaram-na, ela lutou e morreu. Zecão Amaro - pai de Zico, morto junto com a família pelo bando do Capitão Palhares. Juca Ruivo – tabelião de profissão servil por natureza. Francisco Albuquerque - Superintendente de curitibanos, orgulhava-se do seu sucesso pessoal na carreira política. Tinha atuado em favor dos maragatos, quando ajudara as falanges guerreiras, federalistas, do Cisplatino Gumercindo Saraiva. Foi sempre um lutador militante, estabeleceu-se em Curitibanos, de início com um pequeno comércio, logo passou a fazer oposição política ao fazendeiro Henrique de Almeida, o então Superintendente de Curitibanos. Na segunda tentativa venceu as eleições para a superintendência apoiado por Vidal Ramos, governador do Estado. Diziam ter o hábito de colecionar as orelhas de seus desafetos. Praxedes Gomes Damasceno – O Xandoca – dono das terrras onde realizavam a festa do Bom Jesus (Taquaruçu), bodegueiro, diziam que ele simpatizava com o monge. Apreenderam um carregamento de armas que vinha para Xandoca. Este foi reclamar junto ao coronel, levou um tiro e no dia seguinte morreu na cadeia. Benevenuto luno – Venuto Baiano - Era um robusto mulato de gengivas roxas e tez clara, daquela alvura opaca própria da mestiçagem, com a cara servida por olhos maus e narinas largas guarnecendo- lhe o casco da cabeça um compacto tapete de cabelos enroscados. Homem de gestos rápidos, emocionalmente instável, mudava inexplicavelmente de humor numa fração de instantes. Era extremamente corajoso, sem dúvida, porém imprevisível. De índole claramente insubmissa, comprazia-se contudo em impor aos outra conduta disciplinada. Destacou-se logo um bom instrutor, sendo bastante entendido do manejo das armas, tanto as brancas quanto as de fogo. Manuel Alves – O Manecão- imperador festeiro na festa do Bom Jesus. Eusébio Ferreira dos Santos- pai dos meninos (Manoel, Joaquim) e da neta (Teodora) responsáveis pelas mensagens do monge Chico ventura - tropeiro Francisco Paes de Farias, conhecido por Chico Ventura, outro grande criador de casos. Henriquinho de Almeida – filho do Ex- Superintendente de Curitibanos,o fazendeiro Henrique de Almeida, a quem Francisco de Albuquerque fazia uma acirrada oposição. Manoel – ex- o Menino de Deus ,entretanto engravidou as virgens e apanhou e foi deposto, foi expulso da cidade Santa. Zé Biriva –mestiço de guarani, criatura de pouco assunto, reservado, revelou-se um elemento indispensável na captura das reses cavalgando, e alçando o seu laço, jamais errava um par de chifres. Jerônimo, o açougueiro e o laçador tornaram – se amigos. Joaquim –também era filho de Eusébio e Querubina, substituiu Manoel, com a idade de 16 anos, o novo sensitivo recebia agora as mensagens espirituais do Monge. Teodora. Uma criança, neta do velho Euzébio. Teve um contato com o Ressuscitado, em Perdiz Grande, e mais alguns ligeiros contatos posteriores, e perdeu a capacidade de mediação espiritual. "Perdeu o aço", segundo foi explicado pelos entendidos, sendo substituída, pelo Menino de Deus Manoel. Filho, por coincidência, Jerônimo – sabia carnear rês com destreza, tinha uma irmã gêmea retardada, a Ninica. Esta foi morta por Bocudo e seus companheiros. Neném do Rio - tapejara um dos seus fiéis cacundeiros, Henrique Rupp Júnior - nascido ,em Campos Novos, o perfumado moço, estudara em Porto Alegre e se formara bacharel.Aproximou – se de Henriquinho e falava da necessidade de alternância de poder. Maria Rosa, - uma jovem com 15 anos de idade, considerada pelos historiadores como uma Joana D'Arc do sertão, já que "combatia montada em um cavalo branco com arreios forrados de veludo, vestida de branco, com flores nos cabelos e no fuzil". QUESTÔES 1) Marque verdadeiro ou falso de acordo com as afirmativas abaixo.

I - A obra enfoca a Guerra do Contestado, que teve por cenário o planalto catarinense, palco do mais violento e prolongando movimento armado da história do país. I I -O autor é um velho jornalista que, irrequieto na sua aposentadoria, destacou dentre os protagonistas dos combates, a figura de Francisca Roberta, a brava Chica Pelega, heroína da Cidade Santa de Taquaraçu. I I I - Chica Pelega segundo o autor A. Sanford de Vasconcellos é uma personagem desconhecida da revolta entre jagunços e as tropas do Exército Nacional que se arrastou pelo Planalto e Meio-Oeste de Santa Catarina de 1912 a 1916. I V- A guerreira entra para a história de Santa Catarina aos 16 anos, quando o pai é morto pelas tropas do Exército, que vieram para o Sul do Brasil proteger a construção de uma estrada de ferro, patrocinada pela empresa norte-americana Brazil Railway, ligando União da Vitória (PR) até o Rio Grande do Sul. a) Apenas a afirmativa I e I V estão corretas b) Apenas a afirmativa I I e I V estão corretas c) Apenas a afirmativa I e I I I estão corretas d) Apenas a afirmativa I I e I I I estão corretas e) Todas estão corretas. 2) Marque a afirmativa correta de acordo com as afirmações abaixo sobre o livro Chica Pelega – a guerreira de Taquaruçu de Aulo Sanford de Vasconcellos. I - Chica Pelega morrre no final da narrativa. Por causa da mãe doente, Chica decide ficar em Caraguatá, próximo a Caçador, e não seguir para uma batalha em que os homens iriam enfrentar os oficiais. No local ficaram mulheres, velhos e crianças, pois na visão dos guerreiros, estes seriam poupados do ataque do Exército. No ataque, os oficiais não pouparam ninguém. I I - A Guerra do Contestado se inicia com a revolta dos sertanejos que moravam na região do Contestadoe foram expulsos pelos agentes de segurança. Os posseiros não admitiam o comando do Dr. Finnel, tinham acertado que ajudariam na Construção da Ferrovia, mas teriam que receber um salário por mês. I I I - Agentes do Exército atacam as casas e as plantações dos caboclos. No dia em que o pai é morto, Chica Pelega e a mãe escapam da morte por acaso. Com a roupa no corpo, Chica parte em busca de um grupo que pudesse defender o pouco que ainda restava das terras. Os que não obedeciam os editais eram mortos e tinham suas casas incendiadas. I V - Provavelmente nascida em Joaçaba, Chica Pelega ficou conhecida por liderar o grupo que liqüidou os agentes do Exército Nacional na localidade de Taquaruçu, em Curitibanos. A) Somente as afirmativas I e IV estão corretas B) Somente as afirmativas I I e IV estão corretas C) Somente as afirmativas I e I I I estão corretas D) Somente as afirmativas I e II I e I V estão corretas E) Somente as afirmativas I I e I I I estão corretas 3) Marque a alternativa incorreta de acordo com o autor de Chica Pelega. a) Sanford de Vasconcellos foi vencedor do prêmio na 1ª Bienal do Livro do Cone Sul, no ano passado, em Florianópolis com o livro O Dragão Vermelho, lançado em 1998. b) Sanford de Vasconcellos participou da Catequese poética junto com o escritor Lindolf Bell autor do livro O código das Águas. c) Para retratar a história trágica da personagem desconhecida, Aulo Sanford de Vasconcellos estruturou a história de Chica Pelega às informações já conhecidas da história, sejam retratadas em livros ou passadas de geração em geração através da oralidade. d) O escritor A. Sanford de Vasconcellos no livro Chica Pelega: a Guerreira de Taquaruçu, aborda sobre um tema já tratado no romance O Dragão Vermelho do Contestado. e) Sanford de Vasconcellos escreveu também os livros Vitrina de Luzbel e o Monólogo de um Deodato Alvim – romance histórico. Possuidora de energia invejável, irmã forte da natureza, Chica Pelega mais uma vez ganhou pronto destaque nos trabalhos do arraial. Voltou a cuidar de doentes, cerzia, ajudava a erguer casebres, puxava na forma salmos e orações, aprestava-se na charqueada, coadjuvada em tudo pela sua mãe. Essa sua atividade febril, já conhecida de Chico Ventura, rendeu-lhe também, declaradamente, as simpatias do velho Euzébio, e ambos costumavam apontá-la como um bom exemplo a ser seguido. Em reconhecimento ao mérito presenteava, desta vez o próprio Chico Ventura, com um cavalo de boa linhagem campeira, ágil de pernas e sensível ao comando, significando um gesto de inegável distinção. "Era cavalo do meu uso", falou-lhe o doador, tropeiro de profissão, com esse aval garantindo-lhe a linhagem e valorizando a dádiva. De vez em quando algum devoto, secundando nisso o Menino de Deus Manoel, anunciava ter visto a cintilante figura de José Maria cruzando os céus do arraial montado no seu cavalo alado. Contudo tais aparições, seletivas, somente aconteciam de modo esporádico, absolutamente aleatório. E delas ninguém duvidava. Embora fosse Chica Pelega muito devota do Monge, ela, por mais que olhasse para cima, nunca foi contemplada com a especial distinção de vislumbrar a santa e iluminada figura do profeta cavalgando no espaço,

pelas fímbrias do horizonte. E não a via porque, nela, "faltava o aço" - assim lhe explicaram. "Si tu num tem aço tu num pode vê", conforme mais de uma vez lhe repetiram. Diante de tal impossibilidade, Chica Pelega resignou-se. Contentava-se em ouvir o testemunho de outros devotos, os venturosos detentores do referido "aço", os quais descreviam - lhe, em detalhes, a gloriosa galopada de São José Maria por entre as nuvens, riscando o céu no seu cavalo alado; e ela os ouvia com o coração cheio de contrição e de fé. 4) De acordo com o romance e apoiado no excerto acima, todas as afirmativas estão corretas, EXCETO a) Voltou a cuidar de doentes, cerzia, ajudava a erguer casebres, puxava na forma salmos e orações, aprestava-se na charqueada, coadjuvada em tudo pela sua mãe. É um período composto por coordenação. b) E não a via porque, nela, "faltava o aço" - assim lhe explicaram. "Si tu num tem aço tu num pode vê", conforme mais de uma vez lhe repetiram.Os pronomes representam respectivamente a figura do monge,Chica, Chica e Chica. c) Embora fosse Chica Pelega muito devota do Monge, ela, por mais que olhasse para cima, nunca foi contemplada com a especial distinção (...) A oração em destaque é uma oração subordinada adverbial concessiva. d) Possuidora de energia invejável, irmã forte da natureza, Chica Pelega mais uma vez ganhou pronto destaque nos trabalhos do arraial. As expressões em destaque são adjuntos adverbiais. e) A figura de José Maria era vista pelos devotos e até pelo devoto Menino de Deus Manoel, entretanto Chica Pelega nunca possuía o referido “aço” para vê-lo. 5) Todas as afirmativas estão corretas EXCETO. a) "Era cavalo do meu uso" – Neste trecho temos um discurso direto. b)... e ambos costumavam apontá-la como um bom exemplo a ser seguido...O vocábulo em destaque refere- se a Chico ventura e Eusébio. c).... , secundando nisso o Menino de Deus Manoel,...- justifica – se o uso das vírgulas por ser um aposto. d) Possuidora de energia invejável, irmã forte da natureza, Chica Pelega mais uma vez ganhou pronto destaque nos trabalhos do arraial. – As frases em destaque estão entre vírgulas porque temos um vocativo. e) ...os quais descreviam - lhe, em detalhes, - podemos substituir “os quais” por “que” sem prejuízo da correção gramatical. 6) De acordo com o excerto e o livro Chica pelega marque a única alternativa INCORRETA. a) A personagem Chica Pelega tinha o dom de cuidar dos doentes e ganhou um cavalo do tropeiro Chico Ventura como reconhecimento pelas atitudes da moça. b) Eusébio tinha admiração por Chica e desejava que seu filho Chico ventura casasse com a moça. c) Chica era devota, tinha o coração cheio de fé, ajudava nos trabalhos do arraial e por isso era admirada. d) Francisca Roberta era uma moça determinada e restou – lhe somente a mãe, já que seu noivo e o pai foram mortos pelos homens da ferrovia, e) O tropeiro afirmou que dera à Francisca Roberta o melhor cavalo e garantindo a importância do presente. 6) De acordo com as afirmações abaixo sobre os personagens marque a afirmativa ERRRADA a) Praxedes Damasceno, o bodegueiro de Taquaruçu, fazia jogo duplo. Da outra vez, ao tempo do primeiro ajuntamento, aliás erguido nas suas terras, ele não escondia as simpatias pessoais pelo Monge. b) Henrique Rupp Júnior nascido ,em Campos Novos, o perfumado moço, estudara em Porto Alegre e se formara bacharel, insuflador. Henriquinho de Almeida facilitara as condições de subsistência dos seguidores do Monge, antes de tais desordeiros serem dali expulsos. c) Manoel, líder espiritual, e comandante geral da comunidade, denominado Menino de Deus. O próprio monge José Maria, por intermédio do sensitivo Manoel, fora quem orientara sobre as disposições de tudo o que ali havia - o traçado do Quadro Santo. d) Tropeiro Francisco Paes de Farias, conhecido por Chico Ventura, grande criador de casos.Líder espiritual de Taquaruçu. d) Zé Biriva era um sujeito de reações imprevisíveis, capaz de arrenegar-se à toa. Jerônimo tinha culpado Zé por terem comido corós. Os sertanejos, mesmo adotando o discurso religioso de defesa da ‘santa religião’, que se converteu numa linguagem usual da rebelião, tinham clareza quanto às forças com as quais estavam lutando. Seus alvos principais foram os chefes políticos locais, os grandes fazendeiros e comerciantes, os especuladores de terras e os interesses estrangeiros na região (a Brazil Railway e a Lumber). O movimento rebelde identificou, desde o início, a marginalização crescente dos caboclos e da gente ‘de cor’, ao passo que cresciam os privilégios e estímulos à europeização do território planaltino. (MACHADO, Paulo Pinheiro. Lideranças do Contestado. São Paulo: Unicamp, 2004, p. 34.) 7) Sobre essa questão – da Guerra do Contestado – é correto afirmar: a) Foi um conflito puramente militar entre os Estados de Santa Catarina e Paraná, sem o envolvimento de civis.

b) Foi um conflito encabeçado por sertanejos bandidos e por fanáticos religiosos que se revoltaram contra os poderes públicos da época e contra o progresso. c) Foi um conflito que se desenvolveu em um palco complexo, envolvendo diferentes dimensões, sujeitos e interesses. Em jogo estavam a exploração dos sertanejos, por parte da política coronelística, a chegada da estrada de ferro na região, a miséria e o abandono político-religioso a que a região estava relegada. d) Foi muito mais um conflito diplomático em função de desentendimento a respeito de limites territoriais entre Santa Catarina e Paraná, resolvido nos tribunais, do que uma Guerra propriamente dita. e) Foi uma questão muito mais religiosa do que política e que acabou sendo popularizada e folclorizada pelos catarinenses, ao longo dos anos. 8) No início do século XX, ocorreu, no Paraná, um sangrento conflito armado que ficou conhecido como A Guerra do Contestado. A respeito da Guerra do Contestado, assinale a alternativa INCORRETA. A) Foi uma guerrilha camponesa inspirada no movimento maoista chinês que visava implantar no Paraná um modelo camponês de revolução. B) As raízes da revolta estavam na situação de descontentamento da população pobre da região, somada à ação da empresa Brazil Railway, que demitiu 8 mil trabalhadores após a conclusão da ferrovia São Paulo-Rio Grande do Sul. C) A Guerra do Contestado ocorreu na divisa do Paraná com Santa Catarina entre os anos de 1912 e 1916 e resultou na morte de 20 mil combatentes camponeses que participaram do levante. D) O Movimento teve como grande líder o místico José Maria, que falava na formação de uma "monarquia celeste" e prometia o retorno do rei dom Sebastião para fazer justiça aos pobres e oprimidos. E) A chamada Guerra do Contestado terminou com a vitória das tropas oficiais, lideradas pelo general Setembrino, sobre os guerrilheiros. 9) Entre as alternativas abaixo, uma está INCORRETA. Assinale-a: a) O magistrado Aulo Sanford Vasconcelos escreveu dois romances relacionados com o Contestado: O dragão vermelho do Contestado e Chica Pelega. b) Paschoal Apóstolo Pítsica foi o líder do Grupo Sul. c) A mais literária das obras do jurista Othon d´Eça – Homens e algas – se destaca por forte humanismo para com as personagens que são pescadores. d) Três Desembargadores, pertencentes à Academia Catarinense de Letras – Carlos Alberto Silveira Lenzi, Napoleão Xavier do Amarante e Norberto Ungaretti – participaram do livro Contos de magistrados.

10) Chica era cada manhã escura. Chica esfarrapada. Chica ninguém. [...] Ela é plural, ela são gotas de injustiças pingando rútilos do firmamento de cada vertente do Cosmos de cada ramo da floresta, de cada braço de rio, impossível fingir ignorá-la. Marque a alternativa correta. a) Na oração A temos uma comparação b) Na oração B temos uma prosopopéia c) Na expressão C temos uma catacrese d) Chica esfarrapada. Chica ninguém – os vocábulos destacados são respectivamente substantivo e adjetivo. e) [...] impossível fingir ignorá-la – o pronome pessoal em destque refere-se ao substantivo floresta. 11) De acordo com o romance Chica Pelega marque a alternativa correta. a) O romance Chica Pelega estrutura- se no filme Guerra dos Pelados e na Guerra liderada por Antônio Conselheiro. b) O chefe dos fanáticos do confronto na região do Paraná fora o Capitão Palhares. c) A heroína Chica Pelega nasceu devido a uma ajuda divina, por isso acreditavam que ela tinha poderes. d) A habilidade natural que Chica tinha era a de saber lidar com os animais doentes e também com as pessoas. e) Aos 16 anos Chica perdeu o pai, o marido e viu a gleba da família sendo destruída. 12) Marque a alternativa correta. a) Os caboclos acreditam que os três monges eram a mesma pessoa e por isso não hesitavam em ouvir as determinações e o comando de cada monge que surgia. b) A luta dos seguidores do monge era pela Monarquia. Rejeitavam a República. c) A Guerra do Contestado aconteceu nos limites entre Paraná e Santa Catarina, e durou de 1912 a 1916. d) O Monge José Maria foi morto pelo Cel. João Gualberto de Sá na batalha de Irani. e) O Dr. Finnel era a grande inspiração do Coronel Palhares. 13) Some as afirmativas corretas. 01-Chamou – se de Guerra do Contestado, a disputa entre o Paraná e santa Catarina pela região entre o do Peixe e Pepiriguaçu, no Planalto catarinense.

02-Na região, onde existiam numerosos problemas (má distribuição das terras, desemprego, falta de assistência governamental), apareceram “monges”. “Em 1912, o monge José Maria fundou um acampamento, o “Quadro Santo”“, onde passaram a viver centenas de caboclos. 04-Na região do Contestado vivia um grande número de trabalhadores sem terra, que trabalhavam como peões nas fazendas. A construção da Estrada de ferro São Paulo- Rio Grande trouxe para a região centenas de operários que, com o término da ferrovia, ficaram sem emprego. 08-O governo do Paraná, temendo uma invasão ao território paranaense, atacou o “Quadro Santo”, dando início à Guerra do Contestado. 14) Marque a alternativa incorreta. a) Superintendente de curitibanos, orgulhava-se do seu sucesso pessoal na carreira política. Tinha atuado em favor dos maragatos, quando ajudara as falanges guerreiras, federalistas, do Cisplatino Gumercindo Saraiva. Francisco Albuquerque b) O Xandoca – dono das terrras onde realizavam a festa do Bom Jesus (Taquaruçu), bodegueiro, diziam que ele simpatizava com o monge. Praxedes Gomes Damasceno c) Benevenuto Luno – Venuto Baiano - Era um robusto mulato de gengivas roxas e tez clara. De índole claramente insubmissa, comprazia-se contudo em impor aos outra conduta disciplinada. d) Chico ventura - tropeiro Francisco Paes de Farias, conhecido por Chico Ventura, um grande criador de casos e) Jerônimo –mestiço de guarani, criatura de pouco assunto, reservado, revelou-se um elemento indispensável

na captura das reses cavalgando, e alçando o seu laço, jamais errava um par de chifres 15) Marque a alternativa Incorreta. a) Aulo Stanford de Vasconcellos conectou a ficção às informações, entretanto a história de Chica Pelega é fruto da imaginação. b) Por causa da mãe doente, Chica decide ficar em Caraguatá, próximo a Caçador, e não seguir para uma batalha em que os homens iriam enfrentar os oficiais. c) Francisca Roberta é uma personagem que apareceu na revolta entre jagunços e as tropas do Exército Nacional que se arrastou pelo Planalto e Meio-Oeste de Santa Catarina de 1912 a 1916. d) Chica Pelega ficou conhecida por liderar o grupo que liquidou os agentes do Exército Nacional na localidade de Taquaruçu, em Curitibanos. e) A guerreira entra para a história de Santa Catarina aos 16 anos, quando o pai revoltou – se contra as tropas do Exército, que vieram para o Sul do Brasil proteger a construção de uma estrada de ferro, patrocinada pela empresa norte-americana Brazil Railway, ligando União da Vitória (PR) até o Rio Grande do Sul. 16) Marque a alternativa correta I - Maria Rosa curandeira e guia espiritual, associada à apregoada segurança proporcionada pela presença forte dos Pares de França e dos demais comandantes militares que vinham de todos os cantos do planalto e do oeste, e à fama de fartura, de “leite jorrando dos barrancos” e maná caindo dos céus, traziam para a Cidade Santa de Caraguatá. I I - O primeiro monge que ganhou fama no Contestado foi João Maria, um homem de origem italiana, que peregrinou pregando e atendendo doentes de 1844 a 1870. Fazia questão de viver uma vida extremamente humilde, e sua ética e forma de viver arrebanhou milhares de crentes, reforçando o messianismo coletivo. Sublinhe-se, porém, que não exerceu influência direta nos acontecimentos da Guerra do Contestado que ocorreria posteriormente. João Maria morreu em 1870, em Sorocaba, Estado de São Paulo. I I I - O segundo monge também denominou – se João Maria, mas seu verdadeiro nome era Atanás Marcaf, provavelmente de origem síria. Aparece publicamente com a Revolução Federalista de 1893, mostrando uma postura firme e uma posição messiânica, sobre sua situação política, dizia ele "estou do lado dos que sofrem". Chegou, inclusive, a fazer previsões sobre os fatos políticos da sua época. Atuava na região entre os rios Iguaçu e Uruguai. Após o desaparecimento do monge em 1908 os crentes acreditavam na volta dele através da ressurreição. I V - O terceiro monge. Este era conhecido inicialmente como um curandeiro de ervas, tendo se apresentado com o nome de José Maria de Santo Agostinho, ainda que, de acordo com um laudo da polícia da Vila de Palmas, Estado do Paraná, ele fosse, na verdade, um soldado desertor condenado por estupro, de nome Miguel Lucena de Boaventura. O monge ganha fama e credibilidade através de alguns episódios como: ter ressuscitado uma jovem (provavelmente apenas vítima de catalepsia patológica), ter curado a esposa do coronel Francisco de Almeida, vítima de uma doença incurável e rejeitado terras e uma grande quantidade de ouro que o coronel, agradecido, queria lhe oferecer. a) Somente as afirmativas I e IV estão corretas b) Somente as afirmativas I I e IV estão corretas c) Somente as afirmativas I e I I I estão corretas d)Somente as afirmativas I e II I e I V estão corretas e) Todas as afirmativas estão corretas

Uns duzentos sertanejos, parecendo mil alucinados lacedemônios, atiraram-se de todos os lados sobre a formação militar. Empunhavam espetos, porretes, e manejavam com espantosa fúria os seus facões paraguaios. Alevantados, na fé e no furor. Tudo isso aliado a uma gritaria infernal, "Viva São Sebastião!", "Viva a Monarquia!". Cresciam os sertanejos na refrega, com o tapejara Miguel Fragoso destacando-se em bravura. O profeta conservarase de pé, imperturbável, com as faces e os braços voltados para o céu. Os soldados debandaram e a metralhadora emudeceu. Fala-se que na véspera, por descuido do cabo, a terrível matraca submergira nas águas lodosas de um riacho. 17) Marque a alternativa incorreta de acordo com o texto. a)O profeta conservara-se de pé, imperturbável, com as faces e os braços voltados para o céu. O pronome em destaque é um pronome reflexivo. b)Empunhavam espetos, porretes, \e manejavam com espantosa fúria os seus facões paraguaios. Nesta oração temos um sujeito culto. c)Uns duzentos sertanejos, parecendo mil alucinados lacedemônios, atiraram-se de todos os lados sobre a formação militar. O sujeito do verbo atirar é lacedemônios. d)O profeta conservara-se de pé, imperturbável, com as faces e os braços voltados para o céu. O trecho destacado exerce a função de adjunto adverbial. 18)Some as afirmativas corretas. 01 - De acordo com o texto e a história do Contestado observa- se que os sertanejos eram obcecados e não aceitavam conselhos de ninguém. 02-"Viva São Sebastião!", "Viva a Monarquia!" – Este era o lema e o grito de guerra dos caboclos. 04- O tapejara Miguel Fragoso foi um líder político de fundamental importância na Guerra do Contestado. 08- A metralhadora falhara e certamente isso contribuiu para a vitória dos rebeldes. 16- O que movia os insurretos era a fé nas previsões do monge. Os seguidores do monge acreditavam na acreditavam que este ressuscitaria acompanhado de um Exército Encantado, vulgarmente chamado de Exército de São Sebastião, que os ajudaria a fortalecer a Monarquia Celeste e a derrubar a República, que cada vez mais se acreditava ser um instrumento do diabo, dominado pelas figuras dos coronéis.

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