GRUPO JUVENIL DE ESTUDOS ESPÍRITAS CENTRO DE CULTURA ESPÍRITA . CALDAS DA RAINHA Nº 1 . NOVEMBRO 2007
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O que é discriminar? Discriminar significa pôr alguém à margem, tratá-lo mal devido à diferença. Marginalizamos o doente, quando lhe negamos condições de trabalho, ou inventamos riscos de contágio. Marginalizamos os emigrantes, quando os culpamos de “roubar empregos”, e não entendemos que somos também um país de emigrantes, e que o trabalho dos emigrantes gera riqueza para o país de destino. Marginalizamos quem professa religiões ou filosofias diferentes, quando somos arrogantes a ponto de pensar que somos donos da razão. Marginalizamos pessoas de terras ou países diferentes, acreditamos em preconceitos que dizem que “são todos” violentos, ou pouco dignos de confiança. Marginalizamos até os adeptos de clubes desportivos diferentes dos nossos, quando em vez da competição saudável optamos pelo fanatismo. Uma lista de todos os motivos que encontramos para discriminar, seria bem longa. Infelizmente… Porque discriminamos? A atitude de discriminar tem muitas causas. O desconhecimento é das mais flagrantes. Quando confiamos em relatos duvidosos, ou em meios de comunicação sensacionalistas, em vez de procurarmos apurar os factos com exactidão, estamos a alimentar o preconceito. Discriminar é ser intolerante. É negar aos outros os direitos básicos que todos gostamos de ter. Quem discrimina é mal informado e inseguro. A insegurança gera medo do desconhecido. Os animais obedecem a instintos básicos, quando usam agressividade para defender os seus territórios e as suas comunidades. Entre seres humanos tal comportamento não faz sentido. Os seres humanos Possuem raciocínio e livre arbítrio. Vivem em sociedades regidas por leis. Os intolerantes são presa fácil de ideologias doentias que mandam odiar quem tem um passaporte diferente, uma ideologia diferente, uma religião diferente. Combater a discriminação Para combater a discriminação é necessário esclarecimento. O esclarecimento desfaz ideias erradas. Toda a pessoa de bem faz questão de tratar os outros com gostaria de ser tratada. Auto análise Sócrates, o filósofo, aconselhava: “Conhece-te a ti mesmo”. Como fazê-lo? Convivendo com todos, sem distinções; conhecendo as dores, as alegrias e as motivações dos nossos companheiros de jornada; analisando o nosso comportamento. O filósofo Santo Agostinho recomendava uma análise diária dos nossos pensamentos, palavras e actos.
“São Todos Iguais”!... Generalizar é meio caminho andado para discriminar. “Eles são todos iguais”. “Eles” podem ser as pessoas de um determinado país, por exemplo. Recentemente, o mediático caso Maddie McCann, a menina desaparecida no Algarve, tem gerado animosidade entre portugueses e ingleses, sobretudo por causa dos artigos irresponsáveis da Imprensa sensacionalista britânica. Um cidadão mais exaltado escrevia algures:
“(…) acho que cada um de nós, no seu dia-a-dia, sempre que se cruzar com um súbdito britânico que goza o sol e a cerveja deste País tão acolhedor, deverá fazer-lhe ver, com contundência suficiente para ser convincente, que o território inglês termina no Canal da Mancha. Utilizando, se necessário, alguns argumentos específicos da cultura portuguesa, como a cachaporrada ou uma boa moca de Rio Maior.” Dias depois, a 22 de Outubro, quatro cidadãos estrangeiros atiravam-se às águas revoltas da Praia do Tonel, no Algarve, para salvar três crianças portuguesas. Morreram os quatro. Eram um casal inglês, uma outra mulher inglesa e um homem alemão. O casal inglês deixa orfãos uma menina de 11 anos e um menino de 9. Duas outras crianças ficaram órfãs de mãe. Serão então todos “iguais”, todos “malandros”? Estes ingleses não mereciam as tais cachaporradas, e muito provavelmente milhões de compatriotas deles também não.
Genética derruba conceito de raça O Doutor Sérgio Danilo Pena ( na imagem) é um médico brasileiro especialista em Pediatria e Genética. Não haveria espaço para transcrever o seu currículo, ainda que de forma resumida, tantos são os seus títulos académicos, cargos ocupados, especializações e pós-graduações, premis, condecorações, cargos em sociedades científicas, artigos publicados em revistas científicas.
Sergio Danilo Pena diz que uma das certezas que se tem é que, do ponto de vista biológico, não existem raças na espécie humana. — Variações em genes da cor da pele não são nada em meio à imensidão dos cerca de 40 mil genes do genoma humano — observa o geneticista. A propósito do trabalho deste cientista, escreve o jornal brasileiro O Globo: “A origem das diferenças de cor de pele na espécie humana tem sido alvo de muitos estudos, mas até hoje há muitas incertezas. Acredita-se, porém, que quando o homem moderno ( Homo sapiens ) surgiu na África, há cerca de 150 mil anos, todas as pessoas tinham a pele negra. As diferentes tonalidades surgiram após milhares de anos, quando os primeiros grupos começaram a migrar para a Ásia e a Europa. Se a pele negra confere maior resistência à radiação ultravioleta do Sol e, por isso, é bem adaptada ao quente clima africano, a branca é mais apropriada ao norte da Europa. Os cientistas acreditam que os verões europeus mais frios e curtos acabaram por seleccionar aquelas pessoas de pele mais clara, que absorviam melhor a radiação solar necessária para a produção da vitamina D na pele. Na Europa, a pele branca teria sido seleccionada naturalmente pois daria chances maiores de sobrevivência aos indivíduos, ao evitar males como o raquitismo.”
Ciclo vicioso Quem é pouco esclarecido, inseguro ou medroso, tende a ser intolerante. Se procura segurança em grupos que cultivam a intolerância, torna-se mais um elemento de propaganda de ideologias que dividem a Humanidade, em vez de promoverem a paz e a harmonia. Diversidade das raças humanas O Livro dos Espíritos foi publicado há exactamente 150 anos. Não nasceu da imaginação de um homem. É uma compilação de comunicações vindas do mundo espiritual e recebidas por médiuns espalhados por todo o mundo, e comentadas pelo autor, Allan Kardec. Sob o título “Diversidade das Raças Humanas, Kardec publicou as seguintes perguntas feitas aos Espíritos, e as respectivas respostas:
52 De onde vêm as diferenças físicas e morais que distinguem as variedades de raças humanas na Terra? – Do clima, da vida e dos costumes. Aconteceria o mesmo com dois filhos de uma mesma mãe que, se educados longe um do outro e de maneira diferente, não se pareceriam em nada quanto ao moral. 53 O homem apareceu em muitos pontos do globo? – Sim, e em diversas épocas. Esta é uma das causas da diversidade das raças. Depois, os homens, ao se dispersarem sob diferentes climas e ao se misturarem os de raças diferentes, formaram novos tipos. 53 a Essas diferenças constituem espécies distintas? – Certamente que não, todas são da mesma família. Por acaso, diferentes variedades de um mesmo fruto deixam de pertencer à mesma espécie? 54 Se a espécie humana não procede de um só indivíduo, os homens devem deixar por isso de se considerarem irmãos? – Todos os homens são irmãos perante Deus, porque são animados pelo Espírito e tendem para o mesmo objetcivo. Por que razão deveis sempre tomar as palavras ao pé da letra? Daqui concluímos que há 150 anos os Espíritos, contrariamente às ideias da época, vinham afirmavam o que hoje afirmam cientistas como o Doutor Sérgio Danilo Pena.
O Homem de Bem O Evangelho Segundo o Espiritismo é uma das obras básicas de Allan Kardec. Pode ler-se no frontispício da obra que esta contém “a explicação das máximas morais do Cristo em concordância com o Espiritismo e suas aplicações às diversas circunstâncias da vida”. Um dos textos mais marcantes desta obra fala do conceito de Homem de Bem. Um excerto: “O homem de bem é bom, humano e benevolente para com todos, sem distinção de raças, nem de crenças, porque em todos os homens vê irmãos seus. Respeita nos outros todas as convicções sinceras e não lança anátema aos que como ele não pensam.”
O conceito de Homem de Bem não é apenas para os espíritas. Todos as pessoas com maturidade moral e discernimento não deixarão de concordar que estas características honram quem quer que as possua.
Amigo é quem concorda? Nos primórdios da Humanidade os seres humanos viviam em bandos, liderados pelos indivíduos mais fortes. Estar de boas relações com os líderes era garantia de segurança e alimento. As vozes discordantes não eram – como ainda não são! – muito bem-vindas… A nossa incapacidade para aceitar opiniões diferentes da nossa é ainda um traço de primitivismo. Pensar de modo diferente não é ser inimigo. Nós próprios mudamos de ideias. Saber ouvir opiniões diferentes, ou mesmo contrárias, com serenidade e sem querer mal, é uma grande qualidade. Cada um de nós pode e deve trabalhá-la.
Reencarnação “171 Em que se baseia o dogma da reencarnação? – Na justiça de Deus e na revelação, e repetimos incessantemente: um bom pai deixa sempre para seus filhos uma porta aberta ao arrependimento. A razão não vos diz que seria injusto privar, para sempre, da felicidade eterna todos aqueles cujo aprimoramento não dependeu deles mesmos? Não são todos os homens filhos de Deus? Só homens egoístas podem pregar a injustiça, o ódio implacável e os castigos sem perdão.” A pergunta 171 de O Livro dos Espíritos, e a respectiva resposta, realça a justiça da reencarnação, em oposição à concepção de castigos eternos para quem errou durante a vida terrena. Por todo o mundo, cientistas de seriedade inquestionável têm estudado a reencarnação. O Doutor Ian Stevenson, prestigiado psiquiatra e cientista canadiano, trabalhou 40 anos na pesquisa de casos sugestivos de reencarnação. Publicou dez livros sobre o assunto estudou mais de 3500 casos, inspirando outros cientistas a prosseguirem as suas pesquisas. 2/3 da Humanidade crêem na reencarnação. Os primeiros cristãos acreditavam na reencarnação. A reencarnação é uma ideia que ganha terreno, à medida que a consciência humana se aperfeiçoa e que as evidências científicas se acumulam. Saber que podemos reencarnar em ambos os sexos, em qualquer pais ou continente, numa sociedade que pratique qualquer religião, com qualquer ideologia política, com qualquer característica física, ricos, pobres, emigrantes, desalojados, é um factor que nos deve impelir para a tolerância.