1/1 BR2000005 E50;E15/B/M/V ANON. A CASA DO POVO: (SOCIOLOGIA RURAL; SINDICATO ; COOPERATIVA; BRASIL) RIO DE JANEIRO, GB (BRAZIL) 1920 20 P.(PT) /G514 SOCIOLOGIA RURAL; MICROECONOMIA; ASSOCIACAO RUR AL; SINDICATO; COOPERATIVA DE CONSUMO; COOPERAT IVA DE CREDITO
A CASA DO POVO Esta cyclica instituição reme todas as actividades moraes, economicas e politicas, que representam a vida social, organizada, do proletariado, satisfazendo ao conjunto das necessidades com a especialisação associativa e a disciplina isenta de reguas categoricas que, perturbam a evolução natural do homem no assimilar progressivo de uma cultura collectiva. As sédes das uniões, ou syndicatos operarios existentes numa cidade, devem reunir-se em blóco, formado uma séde commum no edificio da «Casa do Povo», porém conservando cada classe a sua secção autonoma, perfeitamente apparelhada para servir ás particularidades dos misteres e celeccionar os meios de defesa profissional, como os de aperfeiçoamento dos officios. As subdivisões, proporcionadas ás necessidades proprias, terão um caracter que imprima no ambiente os fins conjugados para uma acção conjunta perfeitamente delineada na direstiva moral como na material. O edificio não pode deixar de occupar um grande terreno, pois na sua area centraz, arborisada, devem estabelecer-se créche, onde as mães que trabalham deixam ficar os filhos aos cuidados da ssistencia á infancia proletaria, e o jardim das crianças, fiscalisado com todo carinho e apurado espirito educador. As quatro alas terão andares sufficientes, reservando-se os superiores aos commodos, dormitorios communs para cada sexo, em que reine o mais caprichoso asseio, e a ordem. Na parte inferior acha-se-hão as cooperativas de panificação, consumo a credito, que darão origem a outras, a sala de conferencias, espectaculo e dansa, a de gymnastica e duma lavanderia hygienica, o consultorio medico e dentista a pharmacia, a typographia do orgão de informação geral e propaganda, com a livararia annexa, a taberna certo onde os alimentos serão devidamente analisados, sendo prohibidos o jogo e o alcool.
—6— A Bibliotheca e a Universidade Popular com o seu laboratorio e amphitheatro proprio para as projecções instructivas e scientificas, devem occupar o lado mais silencioso do quarteirão e no primeiro andar. Um pequeno museo artistico-scientifico, organisado com estampas, deve ser franqueado ao publico, entremeando-se as suas salas com as de exposição de objectos feitos pelos operarios. No que respeita á collecção scientifica, será observada uma ordem synthetica da evolução social, produzida pelas grandes descobertas que transformaram os costumes. Quanto ás artes serão representadas pelos mais bellos monumentos, conforme as epochas e as civilizações. Já nos principaes centros socialistas existe esse ambiente de cultura intensa, moral e pratica, sob os auspicios da philosophia que se libertara dos dogmas categoricos, deixando ao individuo espaço bastante para sentir, pensar; exprimir por si proprio, livrando-se o espirito humano da forma despotica que atropbia os sentidos, destrue a espontaneidade, avassala o pensamento, enfraquece os instinctos proprios de defesa cordial e galharda. Porém, não resta duvida que, dentro da acção do Socialismo doutrinario, ainda se sente a lacuna, que só os congressos internacionaes, levados a effeito para fixar as bases geraes e particulares da cultura, sob o bafejo poderoso do collectivismo, poderiam encher. Tambem a propaganda do verdadeiro cooperativismo basico, resente-se da falta de congressos especiaes, periodicos. A instrucção ministrada na «Casa do Povo» tem que servir a todos e de maneira a facilitar o maximo de conhecimentos. Os homens livres que applicaram a sua intelligencia nos estudos superiores, que tanto aprenderam nos livros efficientes, sinceros, como na vida ou no decorrer duma existencia de trabalho mental profundo, tem no Socialismo um campo vastissimo para derramar a sua cultura sadia, isenta da presumpção ou da morbidez das ambições egolatras.
—7— Quanto aos «outros», os que são impellidos pelo mo-bil da vaidade, não seriam elles perigosos revolucionarios, caso soffressem os seus faceis pergaminhos os mesmos vexames que o proletariado?... Para aquelles, o Socialismo não é uma utopia, nem tão pouco lhe negam a elevação theorica, tirada da mais vital experiencia, tanto ou quanto como em qualquer sciencia, ou como qualquer dellas applicavel ao desenvolvimento social, porém já no sentido de concretisar uma estructura organica, geral, do mesmo modo que a philosophia encerra todos os conhecimentos, polindo as arestas dos degraus da civilisação, plasmando a forma que harmonisa o ideal com a vida. Para estes, o Socialismo representa um perigo para os seus vãos desejos a quem os dogmas servem restringindo o espaço da consciencia, cuja subtileza se confunde com a liberdade de quem é sincero e culto. E’ inutil accrescentar que a maior cordialidade deve reinar nesse ambiente aberto a todos os adventicios, sem que sejam desviadas as vistas do que interessa aos mais necessitados, e representa a principal acção do Socialismo systematico, expansionista e pacifico. Eis a pedra angular da evolução, a ser collocada pelas mãos dos operarios em cada cidade do Brasil. Na «Casa do Povo» é que se apuram, além do mais, os direitos e deveres dos proletarios, combinam-se as medidas geraes de defesa mutua, collectiva e individual, trata-se com os «patrões» os meios e modos de estabelecer o regimen equitativo, como uma «bolsa de trabalho», inspiram-se as leis que o devem regulamentar desassomibradamente, dando autonomia aos institutos economicos e politicos, proletarios, emfim, estabelece-se o pleito debaixo dum controle e programma explicito e não conforme as vicissitudes reinantes... Se os operarios em tudo já tiveram capacidade para fundar as suas multiplas sociedades actuaes, lhes não ha de ser difficil reunir todas ellas numa unica, qual a «Casa do Povo».
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A ACÇÃO ORGANISADORA As sociedades operarias existentes gosam da maior admiração publica pela ordem com que sempre honraram este municipio. O mesmo deve acontecer, portanto, á confederação das mesmas, a qual não implicará a perda da autonomia de nenhuma dellas, dando em resultado —a Casa do Povo, — com todas as dependencias derivadas das necessidades de clesse, apurando-se o conjunto, dessas necessidades, como as particularidades de cada ramo profissional, mantendo-se as secções por ordem natural, segundo os fins communs, de modo a tornar mais extensiva e homogenea a distribuição de favores. O mappa proletario da confederação já representa um bom numero de socios. Porém não basta. E’ preciso que a confederação constitua logo a Casa do povo, com a sua directoria, conselho fiscal e assembléa geral, estabelecidas todas as attribuições e responsabilidades, procedidas as eleições debaixo do regimen o mais, criterioso. Completo este trabalho, effectua-se um mappa geral do proletariado do municipio, colhendo os apontamentos em todas as fabricas, usinas, fazendas, emfim em todos os nucleos operarios, guiando-se pelos cadernos de ponto; outrosim, serão encarregadas pessoas conceituadas, residentes nas diversas localidades, para alistar os operarios avulsos, serviço esse que muito adiantará ao recenseamento. Esse mappa geral tem que trazer o nome, profissão, edade, estado, nacionalidade, endereço ou logar onde trabalha o operario. Em seguida será lançada a circular sobre o projecto da Casa do Povo, logar onde será contruida, a planta geral, todos seus fins pacificos e altamente sociaes, circular que será assignada pela directoria, conselho fiscal e assembléa de socios fundadores do centro para a edificação da instituição maxima. Uma das partes que se deve destacar, na circular, é a que diz respeito ao albergue e restaurante cooperativo, annexo á cooperativa central de consumo, dependencias em que reinará toda ordem,
—9— respeito e cordialidade, e onde todas as bolsas terão accesso, servindo assim de centro aos socios do inteior do municipio, que ahi encontrarão o maois fraternal abrigo hygienico e social, quando visitarem a cidade. A circular será reproduzida por todos os jornaes do municipio, partindo membros em todas as direcções para propagarem a idéa e assegurarem a efficiencia dos meios, devendo evita-se qualquer gesto inutil que provoque os destemperos causadores do atrazo da acção cordial, que é a unica que serve á organisação definitiva, fiscalisada de perto por todos os socios. Os propagandistas terão uma senha com a respectiva photographia. Assim preparados os espiritos, terá lugar outra circular convidando todos os operarios do municipio para socios, á razão do de tostões mensaes, quantia que será arrecadada das folhas de pagamento, de accordo com os operarios que proporão isto aos gerentes de fabricas, administradores do fazendas e mais patrões por meio de agentes directos da directória da Casa do Povo. Quanto aos socios avulsos, nos logares afasstados, poderão entregar as suas quotas mensaes a uma pessoa de bem que prestará contas com o agente geral. Cada socio terá direito a um recibo destacado do talão numerado e com todos os dizeres da matricula. Todas essas quantias serão aimunciadas e collocadas em e estabelecimento seguro, rendendo juros. Ora, supponhamos que se consigam aggremiar trinta mil socios, temos logo trezentos sessenta contos de réis, fóra os juros, no fim dum anno, dando o socio mil réis por mez. De modo que nesse prazo iniciam-se as obras da Casa do Povo, installando-se convenientemente, antes do resto, as secções respectivas de cada sociedade confederada, diminuindo-se assim as despezas de cada uma dellas vindo ellas a gozar dum predio imponente, miniatura duma cidade idéal, proletaria que occupará, como já detalhamos extensa área. Em seguida, abrem-se as escolas elementares de officios e artes, a bibliotheca, a cooperativa de consumo com a taverna—concerto, annexa, o albergue com commodos e dormitorios communs para
— 10 — cada sexo, a créche, a torrefação de café, a padaria, cooperativa, simultaneamente ou progressivamente, conforme os proventos e os haveres acumulados com as enormes rendas que serão applicadas em beneficio do proletariado, que nas colonias agricolas, que nos nucleos onde residam os socios, cuidando-se do bem geral das classes unidas e da cultura do homem que luta honestamente. Um orgão completo instruirá devidamente os socios sobre os assumptos que mais lhes interessam, evitando as frivolidades que acanham o espirito. Entre esse orgão e a imprensa socialista, reinará a maoir cordialidade. O que é realidade em outra parte, não pode passar por sonho entre nós... Não há tempo a perder. Campos, 1920 Asssim, temos o verdadeiro ponto de partida para a formação do verdadeiro centro de cultura socialista, aberto a toda gente, como o são os templos, assumpto esse vemtilado no «Socialismo patrio». e nas «caixas ruraes são as cellulas do nosso progresso», opusculo que se acha atrazando no prelo, ha cerca de sete mezes, apezar do interesse que se devia ligar á causa duma propaganda baseada na observação do meio e nas lições dos consagrados mestres da cooperação livre, sem a impostura da forma bisonha do syndicalismo-cooperativista, adaptação grosseira do methodo tentado em Bordeaux, pelo agronomo E Jacquet, e aqui tomado, em geral, pela influencia da «egreja» politica do general Von Muller... Cooperativas de consumo existem os milhares por esse mundo a fóra, e com installações mais proprias que as duas ou tres que aqui lavaram annos para se constituir sob a tutela do tal syndicalismo, páu para toda obra.... O meu fito não seria o de combater um processo mais ou menos pratico, ou mesmo theorico, porém a que se torna absurdo e me obriga a repellir, é a maneira suspeita de attubuir-se a chefia do tal «syundicalismo-cooperativista» a quem que que sejá, ou de tolher-se a acção
— 11 — directa da propaganda geral da cooperação, como se expandio sinceramente por toda a parte, uzurpando-se desse jeito o logar dos centros socialistas, desviando a formação natural das aggremiações livres, aferrando os seus multiplos destinos conjugados pela acção das cooperativas que não determinam a classe dos socios proletarios, mas a circumscripção, acceitando socios de todos os mestere, o que as isenta da annexação de syndicatos da fórma por quer se os quer impingir ao operariado que já possue as suas sociedades ou ligas, a serem reunidas na «Casa do Povo», a unica instituição offenda aos interesses nacionaes, á cohesão patria que os adeptos de Lauro Muller não podem sentir, que por meio duma mystificação ridicula que cae por si, no conceito dos que são sinceros e possuem nitida intuição, quando ás questões sociaes. O «sysdicalismo-cooperativista» é um estafermo forjado á sombra da ignorancia adminstrativa e das intrigas bureaucraticas.... Não é ocioso lembrar a fabula do sapo a roncar inchado tamanho peso.... A escola methodica se faz, abrigando por lei aos industriaes e fazendeiros, a criar as primeiras cooperativas de consumo, que sirvam a nucleos isolados ou visinho e que se confederem sendo os ditos institutos entregues aos operarios, logo que este aprendam a dirigilos por si mesmos, sob a vigilancia das municipalidades e centros socialistas, afim de que se conjugem os interesses geraes, de accordo com a caminhar victorioso da evolução social. Por que o Ministerio da Agricultura, que tem valido tanto ás manhas dos taes politicos da S. N. de Agricultura, quando se falou ultimamente numa cooperativa de consumo para os seus empregados, não cogitou de installar antes o tal syndicato com a mesma bitola para todos os effeitos, até que elle servisse de molêtas ao instituto verdadeiramente criado pelo operarios, que aqui não sabem servi-se delle, sendo apenas a idéa da cooperação aproveitada pelas classes burguezas mystificadoras?... Dou, a seguir, tres artigos que esclarecem esse pon-
— 12 — to de vista da propaganda livre, tanto para as cooperativas de consumo como para as de credito, a qual fosse tambem auxiliada por meios legaes que a isentassem do monopolio politico a quem ella foi ridiculamente entregue, com o apparato da claque dos interessados incautos.... e as luminarias pagas do jornaes que só cuidam de receber dinheiro, desprezando as influencias as mais dignas para orientar devidamente o publico. Eis os alludidos artigos, publicados pelo «Amigo do Povo», orgão do Partido Socialista, de Campos:
SYNDICALISMO COOPERATIVISTA «Sem methodo assentado, fiado na basofia de bureaucratas, o ministerio da agriculturo, em 1931, emprehendeu a propaganda do syndicalismo cooperativista, baseada na lei que fôra inspirada na instituição franceza. De modo que, segundo as primeiras indicações nesse sentido, mesmo as associações que reunissem diversas ordens de associados de misteres differentes, deveriam se decompôr em tantos syndicatos-cooperativistas quantos fossem os ditos misteres . O syndicatos profissional é que depois de formado, deveria formar as cooperativas convenientes, isto mesmo dando preferencia as de consumo, depois a uma de credito e em seguida a uma de producção. Ora, havia por ahi muitos syndicatos já formados e de natureza dos que existiam em França, aos quaes era cabivel o conselho de Waldeck Rousseau, no sentido de «serem criadas cooperativas no seio delles, como se fazia no estrangeiros, onde as federações das Cooperativas da mesma natureza se organizaram admiravelmente sem a tuela syndicatoria fornecedora de palradores que dominans e paralysam a acção fecunda». Já tratei convenientemente deste assumpto na «A Cooperação é um Estado» e no « Socialismo Patrio». Agora compete-me elucidar o publico e sobretudo ao operariado que só deve ouvir a si proprio, sobre a verdadeiramente origem desse methodo, por alguem qualificado, no rio, de cyclico...
Há um pequeno folheto titulado, «Les Sociétés Cooperatives de Vente do Produits Agricoles», de E. Jacquet, cujo fim principal se destaca das suas considerações geraes, e nos seguintes termos: «As Sociedades Cooperativas acham-se sempre filiadas aos Syndicatos Agricolas decerto não se concebe uma Associação nascida espontaneamente do meio de individuos isolados e não tendo ainda nenhuma educação mutualista. A criação de uma Sociedade Cooperativa não pode ser inspirada, aliás, senão por uma categoria especial de necessidades e riscos communs a diversos agricultores visinhos. Seria insensato, com effeito, criar cooperativas de venda entre individuos afastados uns dos outros, residindo em regiões differentes e não tendo os mesmos interesses, do mesmo modo que não seria menos insensato criar caixas de credito agricola, mutuo, entre productores que se não podem conhecer e, por conseguinte, estimular-se. Ora, não e no seio dos syndicatos agricolas que as necessidades communs entre os diversos productores chegam a precisar-se e que a necessidade de trazer remedio nelles se faz sentir melhor? Antes, portanto, de criar uma cooperativa de venda, é necessario criar um Syndicato agricola, se este ainda não existir. E’ á administração desta Syndicato que competirá, em seguida, a incumbencia de procurar as vias e meios a empregar para a criação da «Cooperativa projectada»; é tambem no seu seio que o Syndicato poderá encontrar as pessoas intelligentes e devotadas, dispostas a participar da ciração da Sociedade por meio da subscripção de uma ou diversas parte». Porém esse autor é um agronomo competente e jamais serviu a outra causa que a dos lavradores, sem ser influenciado por politicos da categoria do «raposa de capa e espada», que emprega a sua gente em todos os ramos capazes de lhe captar votos, e cuja séde é a Sociedade Nacional de Agricultura, outro Vaticano de phariseus que se entumeceu aqui com o puz da nossa politica de servilismo—baluarte de pigmeus de casaca... O caso é que, se quem se attribuio a idéa do Syndicalismo Cooperativista de E. Jacquet, fosse tão probo como o verdadeiro autor desse methodo, que achamos indirecto
— 14 — e por isso moroso, não havia de omittir o que elle disse tambem no mesmo folheto de que tiramos o trecho acima citado. Assim, confessava singelamente o alludido autor: «um certo numero de Syndicatos agricolas julgaram inutil de se constituir em cooperativas e decidiram de effectuar elles proprios a venda dos productos dos seus adherentes». Portanto, o Syndicato nunca passou duma cooperativa. Para que, pois, esse jogo de palavras para designar uma só coisa, qual a união para fins directos e de egual natureza? A educação mutualista não precisa de syndicato, mas de propagandistas abundantes que não sejam fiteiros e muito menos sirvam de factotums aos inimigos da nossa patria aqui installados para corromper os nossos ideaes e nos atirar no abysmo que se vem abrindo no Sul, nas fronteiras das Missões ... e mais adiante. Operarios, não ouçaes gente dessa natureza. Organisai, como se faz no estrangeiro, o vosso Centro Socialistra, já existente no coração dos que mais penaram sem nenhum consolo, e que elle represente uma colossal Cooperativa que se desdobre pelo paiz inteiro, a dar o exemplo melhor de união intelligente e nobre, aos que mystificam os favores da civilização e levam a sugar a humanidade, já a usar manhasinhas interessantes, porque sabem que cada dia a força armada vae se tornando um verdadeiro exercito patrio, jamais connivente com os exploradores de qualquer sorte, que urdem o assassinato em massa. O Centro Socialista é uno, não pode subdividir-se em syndicatécos eguaes ao que funcciona em Blumenau, a diffundir o pan-germanismo, hoje retalhado, porém, não menos perigoso, por causa das intrigas sul-americanas e da cobiça voraz da visinhança megalomaniaca... Isto é coisa mui diversa do verdadeiro syndicalismo universal, que fundou o Estado Socialista Syndicatorio dentro do Estado burguez. Basta de difficultar e desmoralisar o que é simples e honesto».
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AS COOPERATIVAS DE CONSUMO NAS FAZENDAS E’ notavel a boa vontade que alguns (bem poucos!) fazendeiros têm para melhorar a sorte dos seus operarios, nas fabricas e lavouras. Porém não há modo mais intelligente e prompto que o da fundação de pequenas cooperativas de consumo nas grandes fazendas e usinas, servindo tanto aos que trabalham na fabrica como na lavoura, cooperativas essas que sejam criadas pelos proprios operarios, que as devem dirigir, depois de iniciados pelos fazendeiros ou pessoa competente por elles indicada para esse fim tão nobre, patriotico, humanitario e economico, o qual representa um augmento de salario indiricto, sem pesar na bolsa dos proprios fazendeiros que tambem podem sorti-se nesses estabelecimentos sociaes, onde não sómente se cuida da alimentação de primeira ordem para o operario, como da educação deste nos misteres da nossa primeira industria e lavoura annexa. O fazendeiro de certo não deve temer esses institutos onde só se propaga o bem e amor ao trabalho, como o respeito mutuo e que é a melhor escola para a familia de trabalhadores que moureja nos serviços proprios da nossa maior fonte de riqueza. Nos estatutos duma cooperativa precisa-se toda moralidade social e civica. Dest'arte é natural que esse beneficio enorme, obtido pelo rendimento do trabalho collectivo e a grande harmonia conferida pelas cooperativas de consumo, na vida trabalhosa dos campos, seja compensado não sómente pela boa vontade em formal-as debaixo das puras regras cooperativistas, expostas na «A cooperação é um Estado», como tambem nas percentagens que as fabricas e fazendas devem dar ás cooperativas de consumo de seus operarias, que representa tambem o unico meio de fixar o operario no lugar onde trabalha, sendo até um digno attractivo para os que luctam nas cidades com a falta de emprego. As cooperativas de consumo, deixando tambem porcentagens para obras futuras, distribuidas as bonificações
— 16 — annuaes aos seus socios, e concorrem assim para um conforto tão real da vida operaria, que ninguem poderá mais queixar-se de privações, desde que faça parte dellas. E assim, pouco a pouco, o operario terá o seu credito cooperativo, organisado pelas cooperativas, como assistencia (medico, dentista e pharmacia), do mesmo modo que se irá tratando de obter casa rustica, hygienica, dum aspecto agradavel, rodeada de hortas, pomares e flores, para as familias dos trabalhadores, cuidando-se de ensinar ás umlheres e ás crianças os officios que convenham ás suas forças de modo a estimular no maximo a vida activa e alegria dos campos, onde os divertimentos tambem devem ser orientados de maneira a cultivar o gosto das massas mourejantes, abolindo-se o alcool, o jogo e todos os preconceitos que difficultam os laços sinceros e que atrophiam a juventude sadia e impedem á prole de intensificar-se galhardamente, cheia de saude e confiança num futuro grandioso que será a gloria bem solida do nosso esplendido e amado Municipio. O Partido Socialista ha de abençoar esta iniciativa dos fazendeiros e industriaes, pois a elevação de principios se encontram em todas as boas intenções. São os maiores amigos do Socialismo Patrio, os que praticam abertamente o bem para a humanidade, que Deus ajuda em tudo que é sincero e que provem do bom senso e do amor. A imprensa socialista, ao alcance da theoria progressiva como da pratica, é que estuda os factos, raciocina dentro da experiencia, tira do empirico para o ideal, por isso é quem exerce a propaganda effectiva e deve ser acceita por todos que presam quem se bate pela ordem, paz e justiça, qual bom soldado de ferramenta ás costas e livro pratico debaixo do braço, a marchar para a Chanaan duma vida melhor, florida em instituições alviçareiras, na maior concordia, estimulado não pelas fanfarras mas pela consciencia dum patriotismo substancioso, qual o que ha de tornar, a Patria boa e bella para todos».
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POR LINHAS TORTAS... No artigo sobre «Caixas Ruraes», inserto no numero quinze desta revista, (1) tivemos accasião de nos referir á ultima lei sobre cooperativas no Brasil, sanccionada pelo Dr. Raul Veiga, como presidente do Estado do Rio. Nessa lei se estabelecem as caracteristicas das sociedades cooperativas de indivisibilidade de capita, numero illimitado de socios e limitado de partes para cada socio, sem direito de venda das ditas a pessoas estranhas, permissão na transmissão de partes, senão dada pela Directoria das cooperativas. Sómente não temos muita certeza quando á inclusão na alludida lei de todas essas caracteristicas necessarias á segurança da instituição, pois muitos casos de ambiguidade social já têm dado logar ao prejudicial phenomeno da transformação de uma sociedade cooperativa em anonyma, disfarçada, para proveito de meia duzia, lesando-se o fisco, por pagar menos impostos uma sociedade cooperativa que uma anonyma. Porém agora, com a lei nova de 5 % sobre o lucro das sociedades, tambem as cooperativas soffreram esse descontos que bem poderia servir para obras futuras da communidade collectiva no que respeita á propaganda e auxilio ás cooperativas, sobretudo ás prolerarias, mais necessitadas no seu inicio, jamais tendo recebido essas ultimas coisas nenhuma dos governos, muito affeitos á protecção das cooperativas agricolas, e nisso louvavel qundo ás suas intenções, porém mal succedidas porque a falta de catechese cooperativista tem dado logar a muito logro. Com esssas facilidades ha por ahi diversos estabelecimentos de credito que figuram commo «bancos cooperativos», porém cuja engrenagem é mui diversa da que determinou Luzzatti, que reuniu no seu instituto de credito popular, todas as classes num congraçamento de interesses o qual prepara melhor o terreno para o ideal de justiça e concordia social, pela evolução da cultura economica e philosophica no seio de todas as
(1) Revista do Commercío
— 18 — classes, de modo a tonar uma unidade possante o que se fragmenta com os preconceitos. Ora, é tão grande o poder de penetração desse regimen que se annuncia sem tambores e trombetas, que os grandes estabelecimentos bancarios já resvalam pelo credito populat, abrindo cadernetas com pequenas quantias e dando 4 % em conta correte. Porém, a acção dos «caixas de credito cooperativo», seja para o elemento que labuta na lavoura, como nas fabricas, no pequeno commercio, no funccionalismo publico, nos misteres pouco rendoso, é bem diversa e se differencia pela caracteristica bem estipulada de cooperativa, sob os principios os mais fundamentaes em que se basea a communiade collectiva, bem mais ampla que a domestica, do mesmo modo que não ha relação nenhuma entre a monopolisação do Estado e a socialisação que se opera pela autonomia das emprezas no que lhe toca e é empregado em proveito proprio, no evolver-se a sua acção, isto, comtudo, sem affectar a dependencia official que de um certo modo não pode ser evitada, razões estas bem estabelecidas pelos mais preclaros sociologos europeus, sendo exigua a dimensão dum artigo para tratar convenientemente desse assumpto. Os campos de acção social se determinam pelas suas indoles, e as affinidades, que obrigam á harmonia geral, jamis parcellam e differenciam os intuitos que devem servir á remodelação dos meios. Mas, para chegarmos lá, é necessario estabelecer os modelos que a versadeira cooperação offerece, nas sua fórmas diversas, adequadas a todas as actividades, e por concomitancia deve-se observar uma propaganda directa, sem as linhas tortas de tudo que não favorece o cooperativismo livre, com base fundamental firmada nos prioncipios dos melhores institutos que têm florecido sem nenhuma tutela adventicia, sobretudo as que desompõem, como já se tentou fazer e se tenta, ainda, grandes centros activos em syndicatoides eivados de presumpção politica e outras mais ridiculas. Esso socialismo grandioso que vem de Christo até os eminentes sociologos chamados para governar os des-
— 19 — timos das nações européas, não pode ser esquartejado pelos pigmeuns que não sentem a grande luz que illumina o seculo — da communidade collectiva, operada progressivamente pela ordem natural dos phenomenos que regem a producção e a distribuição, numa fórma homogenea que evolue com a cultura economica e que a todos que trabalham satisfaz, na razão dos seus interesses até hoje mal interpretados, postos emfim em equação pelo movimento philosophico que tudo domina, na circumvolução do saber e do sentir, da experiencia e do raciocinio. Temos, pois, que saber sentir o nosso meio e saber como agir directamente, estabelecendo uma phase para a catechese do povo, no que concerne o ensino pratico e directo, official, das instituições alviçareiras, como o bom sacerdote préga a religião, todo mestre sua materia, todo operario sua profissão aos menores, no aprendizado livre das ruas. Esses meios devem existir onde o povo não sabe lutar unido. E o espirito de associação tem que ser propagado de um modo prompto e não conforme diz Mr. E. Jacquet, em «Les Societés Cooperatives de Vente de Produits Agricoles». A federação entre cooperativas da mesma natureza e affins é que garante a obra de propaganda, aliás levada a effeito por orgão especiaes, folhetos, monographias e professores ambulantes, que os Estados devem escolher com criterio firmado, jamies por obra e graça da politicalha ou de qualquer monstro syndicatorio ou sociedades pachidermicas, com «torres eburneas» e muito desdém sobre as coisas do mundo que luta.... Melhor será o esforço empregado sem os clichés e outros reclamos pagos pela politicalha que se serve de factotums com segunda intenções e pouca valia intrinseca... Pesemos bem o que presta e o que não presta, antes de agir. O programma de um povo não sahe das mãos dos pigmeus... E’ obra de genios de quem o herdamos.
— 20 — Independentemente desse pseudo-regimen do «syndicalismo-cooperativistas, com fins generalisados até ao absurdo, o Tenente Villar, um dos mais dedicados brasileiros desta republica, formou as cooperativas dos pescadores nacionaes, dentro duma formidavel confederação autonomo, sem tutelas ridiculas, syndicatorias, Tambem existem pelas colonias do Sul, innumeras cooperativas nascidas espontaneamente, confederadas, ou num campos livre de acção economica e social, sem cogitarem de filiar-se aos syndicatos ou de crial-os para formal-as... depois de constituidas. O mesmo phenomeno economo-social dá-se em Minas, onde um propagandista já desmentio as falsas informações prestadas aos jornaes do Rio, quando aos effeitos da pretensa obra dessa propaganda que teve agora o seu funesto surto...na mentira paga por linha. Não há de ser com essa suggestões extemporaneas que o proletariado poderá valer-se de meios rapidos, e de accordo com a natureza das suas destinos verdadeiros. Assim tambem a cooperação, que sempres foi livre em toda a parte, sendo bizarro que só no Brasil se tente um programma official que a embarga, tolhendo a sua acção espontanea, querendo-se obrigal-a a seguir as tortuosas lindas syndicatorias.... E ‘ o cumulo! Rio, Setembro de 1920