Meu amor, Nos tempos antigos, quando os homens dispunham de quatro pernas e duas cabeças, os deuses lançavam raios... Durante uma disputa infame, uma chuva flamejante de horror acabou por infligir a terra, culminando em dores jamais vistas. A malevolência dos golpes a que fomos atingidos dividiu cada homem em dois, desencadeando uma busca incansável por sua metade perdida. Conhecendo a possibilidade de encontrar o fragmento de sua alma, do qual foi privado, cada ser humano mantém procura na esperança de ter consigo sua metade desaparecida. Como muitos, procurei nos recônditos da terra e na escuridão dos sete mares, sofrendo amargas desilusões por onde eu passasse. Porém, com espírito indevassável e um desejo indelével... Avistei no horizonte reluzente luz. Ao passo que me aproximava dos perigos da jornada cada vez mais mortíferos, também aumentava a certeza de estar caminhando em correta direção. Após milênios de intensa busca e amargas decepções, sei que minha procura, enfim, terminou, sinto ter sido valha minha determinação... Encontrei o fruto de tão sôfrego procurar. Tu és parte indispensável à minha simetria, o algarismo que somado a mim me torna inteiro, minha metade-alma, o complemento, a motivação para uma vivência perfeita. Do eterno seu... Everton de Sousa Silva
Itapuranga, 20 de Abril de 2009.