Caderno Literario 13 Fevereiro 2009

  • July 2020
  • PDF

This document was uploaded by user and they confirmed that they have the permission to share it. If you are author or own the copyright of this book, please report to us by using this DMCA report form. Report DMCA


Overview

Download & View Caderno Literario 13 Fevereiro 2009 as PDF for free.

More details

  • Words: 16,185
  • Pages: 142
Editora Pragmatha Porto Alegre, Fevereiro/2009 Ano 01. Número 13 Circulação gratuita

Caderno Pragmatha literário Natureza e poesia

Caderno literário

Editorial Fevereiro chegou e com ele mais uma edição do Caderno Literário. Aproveitando o clima de férias e portanto de maior contato com a natureza, seja no litoral ou na serra, a proposta de tema para este mês foi 'natureza'. A resposta dos poetas foi bastante expressiva, o que para nós, que estamos no lado de cá da edição, é motivo de muita alegria. Muitos poetas falaram diretamente sobre o assunto, outros o utilizaram como pano de fundo. Alguns foram tomados pelo sentido romântico que a natureza inspira, outros optaram por se posicionar criticamente, fazendo um apelo para sua preservação. No fundo, no fundo, se me permitem a licença poética, diria que no Caderno de fevereiro tivemos a oportunidade de desenvolver um pouco mais nossa própria natureza poética. Se por um lado a proposta de um tema pode canalizar a inspiração, ou para alguns aprisioná-la, ou limitá-la, por outro também é um convite para que cada poeta vasculhe nas luzes e sombras de sua própria alma os matizes que tocam certo assunto específico. E então, expandir-se. Como editora, agradeço pela participação dos poetas, desejo a todos uma ótima leitura, e agradeço também ao poeta e artista Rodrigo Cancelli, pela cedência da imagem da capa.

Sandra Veroneze Editora

02

Caderno Literário é uma publicação da Pragmatha Laboratório de Ideias e Gestão de Projetos. Porto Alegre/RS. Fone 51 3398 0134. www.pragmatha.com.br, e-mail [email protected]. Ano 01. Número 13. Fevereiro/2009. Todos os direitos reservados. Editora: Sandra Veroneze. Msn: [email protected]. Skype: sandraveroneze. O conteúdo dos poemas é de responsabilidade de seus autores. Todos os direitos reservados.

Caderno literário

Índice 05 - As flores de outubro / Eduardo Amaro 06 - Natureza / Luciano Spagnol 07 - Ocaso / Lúcia Constantino 08 - Amor com ela / Valdeck Almeida de Jesus 09 - Abraço / Marlene Inês Kuhnen 10 - Visão do paraíso / Lu Purple 11 - Acesa / Claudette Grazziotin 12 - Admiradores da Selva / Coelho de Moraes 13 - Lagoa Beach / Márnei Consul 14 - O mar do amor / Regina Bortoncceli 15 - Kawneiou / Antonio Ó Urso 16 - Casa no mato / Vanessa Campos Rocha 17 - Mar / Ligia Tomarchio 18 - O vulto / Carlos Eduardo Marcos Bonfá 19 - O verde dos teus olhos / Lívia Porto Zocco 20 - Institnos / Luciano Machado Tomaz 21 - Chuva / Gerusa Maya 22 - Meu berço / Jania Souza 23 - Pescadora de poesias / Fabiana Fraga da Rosa 24 - Pai, passarinho / Martha Galrão 25 - As baratas fazem casas no abandono / Estevão Daminelli Pereira 26 - Música do cotidiano / Alirio de Oliveira 27 - Veraneio / Antenor Rosalino 28 - Loja de sonhos / Osvaldo Heinze 29 - Mãe natureza ao filho seu / Neuza Pinto Nissen 30 - Zínia, flor do verão / Fabio Daflon 31 - Verde / João Manoel de Oliveira 32 - Lento despertar / Carlos de Hollanda 33 - Sensibilidade / Edson Silva 34 - Recanto adorado / Laura Silva de Souza 35 - Pastor alado / Valquíria Gesqui Magaloli 36 - Encantos da Serra (do Japi, em Jundiaí - SP) / Renata Iacovino 37 - Vindicatum / Paulo Roberto Ferreira 38 - Azulazulazulzul / Vera Casanova 39 - A flor e o amor / Guilherme Rebelo 40 - Comunhão / Kastrowiski 41 - Uma dúzia de rosas vermelhas, querida / Me Morte 42 - Solitário no jardim / Ronaldo Campelo 43 - Alma de mulher / Marcelo Moraes Caetano 44 - Naturezas / Isabel Máximo 45 - A vida e a natureza / Celso de Oliveira 46 - Para-meta-transparagens / Guilherme Carvalho da Silva 47 - Meu encontro / Naiara Campanhola 48 - Sob a pedra do sol / Julio Saraiva 49 - No castanho dos seus olhos / Giovanni Nobile 50 - Sertão / Rosangela Carvalho 51 - Equilíbrio na natureza / Ricardo Santos 52 - Delicadezas / Priscila Miraz 53 - Vida II / Antonio Canuto 54 - A última / Janjão 55 - A viagem / Cislaine Bier 56 - Claras miríades / Dimythryus 57 - Para nascer um rio / Dé Barrense 58 - Nascente em curso desmatada / Luiz Filho de Oliviera 59 - Rosas chilenas / Karla Hack dos Santos 60 - Náufragos / Bruno Philippsen 61 - Escuta / Conceição Pazzola 62 - Terra mãe / Alessandra Cezarini Araújo 63 - Mar escuro / Vitor André de Souza 64 - A verdadeira natureza / Valdir Azambuja 65 - Natureza / Rebeca Nunes 66 - Segredos do mar / Marcos de Andrade 67 - Um fogo na luz / Carla Ribeiro 68 - Do romanceiro das ondinas / Marco Aqueiva 69 - Eclipse / Regina Lyra 70 - Ímpios / Zé Luis 71 - In natura / Leonardo Andrade 72 - Poesia local / Pepper

03

73 - Chuva / Vanderli Medeiros 74 - Intacto / Lu Limeira 75 - Carícia da natureza / Vânia Moreira Diniz 76 - Norah / Aécio Kaufmann 77 - Natureza / Débora Villela Petrin 78 - Poeta jardineiro / Roseli Busmair 79 - Viagem postal / Ricardo Mainieri 80 - A arca dos pecados / Thiago Carvalhaes 81 - In natura / Maria Helena Santini 82 - Às vezes ouço o soluço das formigas / Ricola de Paula 83- Tormenta / Alessandro Reifer 84 - Pés na estrada / Ale Quites 85 - Sol / Micheli Zamarchi 86 - Observador / Bernardo Almeida 87 - Bucólica / Carlos Leser 88 - Tributo à beleza / Gabriella Slovick 89 - Beijo da natureza / Cecilia Pires 90 - Olhando nuvens / Marcelo Domingues D´Ávila 91 - Apenas uma flor / Maria Ester Torino 92 - A quem serve o sol? / Valdoir Wathier 93 - Trote da noite / Victor Menegatti 94 - Paraíso / Maruska Abreu 95 - Mar branco / Ludmila Saharovsky 96 - Natureza / Priscila de Loureiro Coelho 97 - De perfumes e perfídias / Tchello d´Barros 98 - Eu, montanha / Rosana Banharoli 99 - Meu doce mar / Tei@ 100 - Cultivar / Rubens Costa 101 - Natureza negra / Néia Pinto 102 - Fim de tarde II / Adauto Neves 103 - Encontro / Rodrigo Cancelli 104 - Insensatez / Artur Pereira dos Santos 105 - Pôr-de-sal / Gerusa Leal 106 - Som do sol / Rubens Cavalcanti da Silva 107 - Oração à terra / Adriana Pavani 108 - Malhar com desejo / Wagner R.A. Chaves 109 - Casulo / Pam Orbacam 110 - Gênese / Jorge Potier 111 - Natureza / Rosimeri Coelho Pinheiro 112 - Metamorfoseando / Sarah Jorge 113 - O mito da caverna / Fernando Batista dos Santos 114 - O canto que tanto me encanta / Marta Rodriguez 115 - O contra-ataque / Iriê Salomão 116 - Perfeição / Carolina Mancini 117 - Minha libélula / Matheus Paz 118 - Natural / Viviani Ketely 119 - Rio / Nilton Maia 120 - Manhã serena / Inaldo Tenório de Moura Cavalcanti 121 - Não há mata / Deo Sant´Anna 122 - Santo do pau oco / José Nedel 123 - Ar / Sandra Veroneze 125 - Sem título / Laura Guerra 126 - Um poeta arrependido / Marcelo de Moraes Belini 127 - Sobre amor e ilusão / Manoel Guedes de Almeida 128 - Extenue / Orquídia Negra 129 - Cântaro das minhas náuseas / Viegas Fernandes da Costa 130 -Caminhos da amizade / Carlos Roberto Pina de Carvalho 131 - Capítulos finais / Lucas Marques Borges 132 - Consciência / Vanessa Soares 133 - Obedecendo o tal desejo / Bruno Vargas 134 - Paixão / Lin Quintino 135 - Nichos intranquilos / Norbert Heinz 136 - Na dor cruel de um amor findo / D´anton Medrado 137 - Desejos / Michel Cuzmovas Perlin 138 - Atitude / Rodrigo Capella 139 - Imprevisto / Tereza Carrera 140 - Como tu e eu / Elisabete Antunes 141 - Ru(g)as / Abílio Pacheco

a z e r u t aN

Caderno literário

As flores de outubro Eduardo Amaro

A lua está calma, contemplando a angelical beleza fina das flores alvas que se mesclam, em perfeita harmonia às orquídeas púrpuras que, em sintonia, habitam o suntuoso Jardim das Almas. Caminhando aos saltos pelo chão macio, os pássaros-querubins estão semeando vida e dor, enquanto seus irmãos, a voarem leves e livres regozijam as canções do amor. Sinto-me solitário ao aguardar, impaciente, a imagem da Virgem dos raios de sol. Vago docemente, indiferente e contemplo a soberania do luar e do arrebol. O sorriso clemente do amor exacerbado carrega o fado sombrio do não concretizado. Caminho sozinho pelo Jardim do Passado e, comigo, bem ao meu lado, o sabor do beijo que me foi furtado. A dor de um coração rasgado. O prazer de um desvairado desejo. A pureza de um sentimento imaculado. O passado, a vida, a morte, o lampejo da lua, das flores, dos anjos, dos pássaros...

05

Caderno literário

Natureza Luciano Spagnol

De minha janela vejo esta magia Com todo esplendor e alegria A essência universal festejando a vida Flores nascem folhas em sua partida Fechando o ciclo sob medida Exuberante, bela, e descontraída Encantando com encantos de rapariga Envolvente com o seu calor de mãe Desponta com suas cores informais Seus animais, montanhas e vendavais Esculpindo o belo dos planetas atrais Com o companheiro sol, aquece os corações Das árvores, pássaros, e das multidões Compondo o jardim de lirismo e emoções Em seus braços nos faz sonhar Com sua brisa vem nos acalentar Com sua água a sede vem saciar Em sua relva nos faz imaginar Os seus mistérios da terra e mar Com sua incansável eterna beleza Assim é a “Senhora” natureza...

06

Caderno literário

Ocaso Lúcia Constantino

O céu esmeralda vai fechando a tarde. Cravada a terra de luzes, este momento me sabe a eternidade. Passa uma borboleta flertando na janela. Meu abajur no vidro se disfarça de estrela. Corpos de árvores perfilam-se desenhando o céu: uma flor, um anjo, um dragão. - Livres traços de Deus na escuridão. Silêncio perfurado por cães, pássaros, risos. Ó, uma estrela ali na imensidão - Preciso.

07

Caderno literário

Amor com ela Valdeck Almeida de Jesus

Ela me quer Ela me ama Ela me beija E não reclama. Dá-me a vida Faz-me feliz Ajuda-me sempre Sempre me quis. Ela me adora Não me deixa só Por mim ela desata Da vida o nó. Não a ajudo Não a recompenso Faço pouco por ela Só em mim penso. Ela é a natureza. Eu sou o homem.

08

Caderno literário

Abraço Marlene Inês Kuhnen

Vou abraçar sim Vou abraçar a todas as árvores do mundo Vou abraçar o mar e penetrar a todas as criaturas Marinhas, seus mitos de bravura e seu esgotamento Salgado Darei-me a luz da noite e para a areia do mar Afogada em praia seca, repleta de conchinhas sem vida Que agora, enfeitam pescoços de meninas boas Vou abraçar sim, meus encantos entorpecidos pelas mentiras da verdade Minhas mágicas linhas mortas Sagacidade, obviedade e outras vaidades tolas da cegueira Vou abraçar meu encanto torto de pequenos olhos Nem choram mais, meu jeito estremecido e envelhecido Vou abraçar um pequeno canto de pássaro que ousa na janela Magnitude de carnes expostas, Meu velho seio ancorado Vou abraçar a grande criatura em forma de polvo Vou para o mar; infinita beleza de águas, tanto faz se azul ou verde (poderá ser cinza também) Vou abraçar as pequenas ondas bravias de seca tangente Diáspora do mar Vida marinha, encontro sereia... viro estrela

09

Caderno literário

Visão do paraíso Lu Purple

Eu mal podia acreditar Numa visão tão linda Depois de um dia terrível. Te ver, te olhar após tanto sofrer Era como o prazer depois da dor. O seu sorriso a se abrir pra mim, Como um raio de sol depois da tempestade. A sua boca entreaberta Mais bonita que uma flor; Uma boca que eu antes beijava, Que me elogiava. O seu corpo, que me desperta Tanto desejava o meu. Entre nós dois um amor que não morreu. Por um instante segurei sua mão Uma mão que outrora passeava pelo meu corpo afora, Que ainda segura o meu coração. O seu olhar, que fascinado me devorava, Que observava todos os meus detalhes Ainda me mostra um mundo mais bonito Num castanho esverdeado sob um par de óculos. E depois de tantos problemas, Contemplar a paixão da minha vida Foi como após atravessar todo o deserto Enxergar a terra prometida.

10

Caderno literário

Acesa Claudette Grazziotin

dentro da noite senti montanhas incendiarem-se nas tuas mãos senti em mim emaranharam-se os meus cabelos nas tuas mãos enormes na ânsia doida de tua cegueira ardi inteira senti o fogo de tua lava latejar borbulhante na veia cava. dentro da noite no teu corpo desenhei estrelas que desconhecia.

11

Caderno literário

Admiradores da Selva Coelho de Moraes

Pretensões e contradições remontam aos tempos da colônia Hoje dormitam sob ideias modernas tomadas / cegamente / por um gênio selvagem a mata olha a cidade que acorda e olha a cidade que dorme A mata excede / faz uma obra / segue seu tempo A selva se torna historiadora de futuros A selva é memorialista transmutada em cronista dos tempos e de sua gente Mas que sei eu dessa gente se moro longe e vejo a selva como um espelho? Sei que a história é ressurreição Sei que a mata / quando se inscreve na paisagem se torna velha / mudando de lugar Envelhece com os lavradores e com as pintadas Torna a história em geada e tratores Eclode em graneis e sertanistas Explode em brilhos sobre a terra tempestuosa e calma a um tempo Desenha sua paragem nas paredes da colônia A cidade reflete a mata A selva reflete a cidade

12

Sem oblações à raça não se deve passar ao largo das matas nem ao longo de seus moirões e clareiras nem ao lado dos rios-monumentos sem oblações à raça uma raça de verdes trançados / inscrita entre o braço das gentes através da memória / do envelhecimento / e das semeaduras movediças

Caderno literário

Lagoa Beach Márnei Consul

Nada de muitos carros. Barros... Nada de cigarros. Barros... Paz e sossego anônimos. Sinônimos. Tão bom não ser ela o destino de todos. Mas não somos bobos, sabemos dar valor. No fundo, parece amor. É a municipalidade que rima com tranquilidade.

13

Caderno literário

O mar do amor Regina Bertoccelli

Quando mergulhei em seu mar, acreditei poder apenas flutuar em suas águas Não esperava por ondas gigantescas Jamais pude imaginar que poderia me perder em sua profundidade ... Assim que vi seu barco se aproximando, esperanças nasceram em meu coração agoniado e triste Esperanças que se transformaram em sonhos distantes, proibidos, impossíveis... Agora me encontro perdida na imensidão deste seu mar sem fim... A miragem de um porto seguro se perde lentamente O vento chega me falando de solidão Estrelas testemunham minha melancolia... Confesso a você que agora não sei o que fazer com este sentimento que me dominou Tomou conta do meu ser, criou raízes e seu nome é Amor...

14

Caderno literário

Kawneiou Antonio Ó Urso

Nada mais exato que o absurdo Vãs esforços realizados pelos homens O significado é o niilismo do sentido Fracassarão finalmente Por seu ceticismo em torno Aos princípios da existência. Nada chegará ao fim. Afinal o que interessa tal desfecho? Uma vaca sabe que seu propósito superior Servindo de sua vida... Os famintos.

15

Caderno literário

Casa no mato Vanessa Campos Rocha

Casa no mato, portinhas vermelhas, ninho, um carinho no coração, dois cafés bem quentes, vagas lembranças, decisões em pauta, solidão nos pés, rodelas pretas nos olhos, cansaço, sonhos sem companhia, nuvens tão brancas e um pedido de espaço azul. Livros na bagagem, encontro de dois, espírito santo dentro do arco-íris: qualquer decisão vale, truco seis, atraso, estrada branda, diálogo, três cigarros, um bom filme francês e uma noite com estrelas na cama.

16

Caderno literário

Mar Ligia Tomarchio

Sobrevoo o mar apaixonada águas esverdeadas ora azuis bruma escondendo seus segredos recifes mapeando ondas... Revoltado, arrebatador tal sentimentos que carrego mar dos meus dias acalma minha dor... Pouso na praia gaivotas fogem solidão irreparável cubro-me de areia.

17

Caderno literário

O Vulto Carlos Eduardo Marcos Bonfá

Um vulto me perseguiu na solidão. Assombrou as moitas, as árvores e a palidez da lua. Mas seu assombro era de uma cor forte e de uma luz nua, E nele não havia nenhuma má intenção. Avançou até pouco adiante de mim Numa quase inconcebível ninfa transformado. De cardos e flores carmim ornado, Doente de desejo, segui-a por um tortuoso e denso jardim. Afagamo-nos e muito em prazer nos ardemos Numa, plena de leves gemidos, contrição. (É fantástico nos deliciar em quem desconhecemos O espírito fica, ao modo mesmo, afoito e sem ação!) No entanto, a luz diurna me revelou na primavera Quem realmente era a megera que me seduziu: A Felicidade, língua de fora, gemidos pelo ar esparziu, Amontoando no colo um punhado de hera. Tomou-me conta, então, uma ânsia muito ardida. Rugi enlouquecido um ódio de fera. Arranquei-lhe metade da vagina com uma brutal mordida E, com socos, chafurdei-lhe a cabeça na terra!

18

Caderno literário

O verde nos teus olhos Lívia Porto Zocco

O verde das matas nos teus olhos é como o vento que faz curvar as árvores, e que semeia as flores nos campos. Cor das águas profundas, que espelham a lua nas noites serenas de amor

Cítrico olhar, que lentamente se adocica, na agridoce e suave fragrância da lima e da rosa pimenta

O verde aquamarine dos teus olhos esculpe na tua face, a beleza... Por vezes, de singela pedra de jade, por outras, de imperiosa tigresa...

19

Caderno literário

Instintos Luciano Machado Tomaz

Os obscuros desejos de uma flor Não buscam mais que evitar a dor, Ou, ao menos, suportá-la. Pela força de uma pétala Sempre morre um amor.

20

Caderno literário

Chuva Gerusa Maya

Quero a liberdade do tempo Como a chuva e o vento.

21

Caderno literário

Meu berço Jania Souza

Desde a aurora dos meus dias És a terapia do meu estresse urbano Alívio para o sufoco cinza em meus pulmões. Com suas flores, frutos e folhas Pincelas alegria em meu humor diurno Dissipas a melancolia bravia a induzir-me ao fim. Seus líquidos transparentes, translúcidos É sangue balsâmico em minhas veias Risco das corredeiras de palavras quentes A brotar do meu mais profundo peito. És meu punho firme no brado à regeneração Consciência do ontem triste da canibal degeneração. Tua súplica derrama-se feito orvalho nas construções urbanas Na esperança de encontrar atitude após reflexão Sobre a preservação das matas, dos rios, dos oceanos. Anseias com fervor o venturoso dia Em que em tuas mãos rolará a sabedoria dos humanos Preocupados com a preservação dos teus atributos Por seres condição essencial à continuidade. Reciclado será todo o lixo de bens desperdiçados A terra poderá respirar sem entulhos de sacos plásticos Os peixes terão mais oxigênio e haverá pescado suficiente Para saciar a fome dos filhos da Mãe África, latinos e asiáticos. Teu grito de socorro não pode ser ignorado Pelos ricos ou pobres em seus habitat's. A saúde dos povos exaurem-se com os maus tratos Impostos a sua acolhedora roupagem Pasto do meu prazer, da minha alegria, da minha felicidade.

22

Caderno literário

Pescadora de poesias Fabiana Fraga da Rosa

Caminho devagar por entre as águas Canto lendas e pesco poesias Sou a verdadeira história Passado e maresia! Pesco entre coxilhas e mar, O pensamento é a isca viva do amanhã Para poetizar as primaveras E traduzir tudo o que sinto... Corrói nas veias o agito do mar Rios, lagoas, um lugar calmo para sossegar Ventos, cachoeiras é aqui que vivo... Flores, grãos de areia, é aqui que poetizo! Sou pescadora de poesias E não quero deixar dúvidas Tenho amigos que não me abandonam: A natureza, com sua sinfonia mais completa e divina! Sobra no rosto o silêncio escondido Adormece no peito o verso que preciso! Sou pescadora de poesias E assim caminho à luz do luar Para pescar o que sinto e poetizar!

23

Caderno literário

Pai, passarinho Martha Galrão

Em Guaibim é assim vento vem, vento traz canário da terra, sabiá da praia, papa capim, pica pau, pássaro preto, assanhaço, caga sebo, fogo pagô, cardeal, bem te vi, beija flor e pai, passarinho de alma tão delicada pousado na rede à espera dos pássaros na hora marcada.

24

Caderno literário

As baratas fazem casas no abandono Estevão Daminelli Pereira

As baratas fazem casas no abandono na lembrança terna e frágil dos momentos nos guardados e nos velhos documentos e nos íntimos vapores do teu sono Quando é noite e o silêncio nos abraça como é doce nosso lar em hora morta! Aos cupins o que sobrou da porta; mariposas estampadas na vidraça Vem o tempo e de repente somos nada. De repente nunca mais dias felizes. No armário jaz a roupa embolorada; e não te doem mais as cicatrizes, pios pra sempre vais olhar a grama por um ângulo incomum: pelas raízes...

25

Caderno literário

Música do cotidiano Alirio de Oliveira

Lá, na pauta estendida ao longo da estrada as andorinhas brincam, amanhece Últimas nuvens da madrugada passam como sons de um novo dia Sobre a calçada, crianças dormem alheias a mim que passo tenho dó Mais adiante, no segundo poste um cão vadio remove o lixo sem notar no horizonte o brilho dessa música quente de um novo dia em apenas uma nota: Sol.

26

Caderno literário

Veraneio Antenor Rosalino

Os arvoredos balançam... Caem pétalas no chão, Reluzindo os seus encantos Ao pôr-do-sol no verão! Um brando frescor estua Os folículos e penachos. As gárgulas límpidas espumam Com o alegre ancorar dos pássaros. À sombra fresca das árvores, Meu peito se enche de amores, Trazendo langor e saudades Neste horizonte de cores! Vejo espelhar entre as frestas De sombreados folíolos: Belas flores nas verdes sépalas... E o céu azul no infinito. Nas praias, as águas calmas Contrastam com os agitos Das falanges que, festivas, Enfeitam o mar colorindo-o! Como um sonho o verão se finda... Vão-se os pássaros a ruflar Buscando os frouxéis de ninhos Até outro verão chegar!

27

Caderno literário

Loja de sonhos Osvaldo Heinze

Roubei num tempo distante uma faixa de praia e de mar e guardei numa concha grande de onde escuto o cantar encantador: das sereias libertador: das gaivotas namorador: das baleias das ondas: contra ilhotas. E enquanto a maré vai fluindo na praia de minhas lembranças sinto um calor me cobrindo da brisa salgada que dança. Revejo um pesqueiro moroso empurrado pela calma do acaso num mar bem preguiçoso de azuis aonde vou raso... Reparo na praia tão cheia crianças brincando, vendedores cantando assobios e risos na areia e minha fantasia namorando... Eis que voltando para a realidade essa fantasia continua fantasia meia mentira, meia verdade guardada nessa concha vazia...

28

Caderno literário

Mãe natureza ao filho seu Neuza Pinto Nissen

Filho homem A ti fiz perfeito e inteligente Para teu encantamento Gerei a mais linda aurora Pra perpetuar no pensamento Cores dançantes O ouro incandescente Pássaros cantantes A delicadeza do azul céu Que enlaça suas mãos Com o mar no horizonte Fiz da noite um breu Para que brilhasse Como camafeu As joias de prata e diamante Que no firmamento pendurei A teus pés a terra ofertei Para germinar tuas sementes E teres campos verdejantes Com flores de beleza estonteante De minhas lágrimas Nasceram os rios para matares a sede Ofertei-te um bem maior Minha maior prova de amor Para fecundares como a flor Dei-te a dádiva de outra mãe Valorizes as relíquias que em tuas mãos Docemente depositei E quando meu pranto em forma de chuva For mais intenso, causando estragos e desatinos Não me culpes Serão pela tristeza da desvalorização De tudo que aqui plantei!

29

Caderno literário

Zínia, flor do verão Fabio Daflon

A zínia é florífera da estação mais quente é cultivada a pleno sol; tem flor de muitas cores no lençol com que vou jardinar teu coração em roxo, amarelo ou vermelho, em branco, cor laranja ou mesmo creme, em rosa de maçã face ao espelho, na hora de sentir que tua mão treme. Em outras tem listrados bicolores nas pétalas bonitas que apreciam calor, mas bem convive em clima ameno. Não gosto nem de mofo nem bolores, sem febre, muito curto é o verão, à zínia me apresento mais moreno.

30

Caderno literário

Verde João Manoel de Oliveira

Levaram entre choros a última muda de esperança guardada, O vento anuncia os olhos vermelhos E a montanha de níquel canta o dilúvio profetizado. O céu esta empoeirado, o silêncio pairou nos corações. Os discursos são engolidos pelo grande mar seco, A natureza branda surpreende com suas pragas As reuniões são desnecessárias, não há cadeiras Ninguém se elege ninguém vota. A terra tornou-se uma esfera, conseguiram arredondar tudo. O retorno dos ventos alísio é lido em fabulas, Não há equador, comeram o último animal. O herói é simplesmente mais um homem, O leste divulga a pequena grande guerra, A terra esta para sucumbir, acabou-se a dialética, O futuro é vivido decadentemente, Os verbos estão sem ação, às palavras não cabem no papel.

31

Caderno literário

Lento despertar Carlos de Hollanda

Não me vejo na face revertida não me apanho nos passos entre os tempos; sou de um jeito furtivo onde tudo é pele de flores, música, audácias em recheio de incerteza verdes de folhas galhos pousados em pássaros ruídos e avisos de primaveras. Tudo em cerco de alegria e natureza; porém, lento desperto e ajeito ao rosto matutina tristeza.

32

Caderno literário

Sensibilidade Edson Silva

A flor que desabrocha com O a orvalhada da manhã Os cantos dos pássaros O colorido magistral Da borboleta O arco-íres no céu O casamento da raposa O sol e a chuva, unidos no Mesmo instante pela mãe natureza O salto acrobático do grilo O som estridente da cigarra Com seu violino desafinado A parada fantástica, no ar Do beija flor, a se deleitar Com o néctar flor As nuvens brancas como neve No fundo azul do céu O por do sol, a bola de fogo Se escondendo no canto do mundo Até desaparecer A natureza nos reserva Vários espetáculos diários Basta ter Sensibilidade Para observá-los e sentir se Parte dele.

33

Caderno literário

Recanto adorado Laura Silva de Souza

Eu abraço a lagoa, que me faz sonhar Nela flutuam meus pensamentos Jogados ao vento me fazem suspirar. Recanto adorado por muitos visitados Trazendo alegria e lazer Banho-me em tuas águas Esqueço do tempo, até entardecer. Se o sol está forte Tem sombra, bastante, Coloco minha rede naquele pinheiro Que me balança refrescante. O domingo amanhece aquele calor Sentir um ar puro É tudo que preciso Corro para a lagoa, o meu paraíso Existem pessoas querendo te matar Eu quero aqui meu pedido deixar A todos os patrulhenses eu vou me juntar Lagoa querida, eu vim te abraçar.

Homenagem de: Laura Silva de Souza para a nossa Lagoa dos Barros 03/02/09

34

Caderno literário

Pastor alado Valquíria Gesqui Malagoli

Hoje eu vi, neste bosque encantado, pica-paus amarelos, vermelhos... e caí sob o sol de joelhos para ouvir o sabiá alaranjado. De repente, um ruflar de asas e eis: se juntou à oração silenciosa um tucano, e a paineira viçosa acolheu nos seus braços dois reis. Ai, que nada me vi! Bem menor que a formiga, a libélula, a aranha... O sabiá a natureza arrebanha. Qual pastor, ele sabe de cor a canção que as ovelhas encanta, e à tardinha a inicia... à hora santa.

35

Caderno literário

Encantos da Serra (do Japi, em Jundiaí/SP) Renata Iacovino

Pelos cantos da amada, que é esta Serra Os encantos derramam-se por terra, Os prantos de cachoeiras banham solos, Quantos animais correm por teus pólos... Japi, teu nome - orgulho deste chão! Aqui bate bem forte a pulsação. Vi matas de beleza até repleta; Vi, mas para mim esta é a predileta. Em teus campos, não tem lugar a guerra. Eu já deitei em vários de teus colos Verdade: todo mal aqui se encerra. De todas as reservas, a dileta. Nosso dever é dar a proteção À nossa geografia mais seleta.

36

Caderno literário

Vindicatum Paulo Roberto Ferreira

Natura, deve ser qualquer coisa Semelhante a um sonho desejado. Como alguma matéria prístina De uma poesia a ser feita. O amor à natureza: Incipit poema. Poesis et natura, confundem-se No sonho da origem. Cada palavra doando como encantamento A doaçao original de incógnito momento. O poeta, desejo que representa A criação como criação. Quod tempus ipsum creatura est. Toda criação como tempo. L'homme aime l'esprit. L'esprit comme mouvement de la durée. Mater natura, expressão rompida, Dor alucinatória como conseqüência. Homo naturalis, uma utopia. L'utopie est maintenant.

37

Caderno literário

Azulazulazulazul Vera Casanova

Diante desse mar imenso Azulazulazulazul Diante dessa profundez Reclamo os ais. Agônico como és, Desdenho as fugas. Toco a vida . Mergulho no sol de teu pranto e sem retorno diluo solidões. Onde essa paisagem transfigurada? No sol encontro a luz do desejo Entre braços abertos Sou névoa da tarde Esperando a chuva que vem. Não temo o fim. Entre as nuvens Reside a esperança De noites sem lua.

38

Caderno literário

A flor e o amor Guilherme Rebelo

I Um dia ofereceram-me uma flor... Disseram-me para a guardar... ... Guardei-a... No dia seguinte ofereceram-me outra flor... E alguém disse para eu a guardar... ...E eu... Guardei-a... Passados dois dias as flores secaram... ...Eu... deitei-as fora... No dia seguinte perguntaram-me pelas flores... ... E eu... Não as tinha... ...Fiquei envergonhado... II Passado um ano... ...Ofereceram-me novamente uma flor... ... E eu guardei-a... ... A flor murchou... ...A flor secou... ...E eu... ...Continuei com ela guardada... ...Passado outro ano... ... Perguntaram-me pela flor... ...E eu... ...Orgulhoso... ...Mostrei a flor... Seca e murcha. Fiquei contente. III ...No ano seguinte... Ofereceram-me o amor... ...E eu guardei-o. ... O amor...

39

...Murchou... e eu… ...Deitei-o fora... ...Pediram-me o amor... ... E eu não o dei... Pudera! Não o tinha. ... No ano seguinte... Voltaram a dar-me o amor... ... E a flor... E eu guardei-os... O amor esse! Fartou-se. ...Murchou, secou... e… ...Fugiu... A flor ainda a guardo. IV ...Passado outro ano... Chegaram-se ao pé de mim. ...E pediram-me a flor... ...E eu, feliz... mostrei-a. ...Em seguida pediram-me o amor... ...E eu, triste... disse que não o tinha... Não sabia dele... A flor estava nua... e o amor nem lá estava... Fiquei indiferente... impávido...sereno... V ...Passou-se um ano, Dois, Três, Cinco, Dez, Cem. E... ...Nunca mais ninguém me ofereceu nada... ...Murchei, sequei... ...E...Morri... Tal como a flor... ...E o amor...

Caderno literário

Comunhão Kastrowiski

Borboletas e abelhas Voam nesse jardim. Eu espreito... Olhar de criança Mirando o fim da tarde. Noto... pálido ser, A harmonia... o equilíbrio Desses seres na comunhão Das espécies... no ato Comendo no mesmo prato. Eu [expectador] observo estupefato Sem ter com os “meus” o mesmo tato. No voo das borboletas e abelhas Penso nos humanos: Perdidos nessa dança (Adultos antes de serem crianças) Rindo, assolados pela tristeza sem fim Distantes da comunhão desse jardim. Eu, ser de tantas máscaras e percepções Entrego-me ao mais singelo dos gestos: Observo. Em silêncio observo o balé das borboletas e abelhas, Tão belas e sensíveis em suas rotas e linhas retas.

40

Caderno literário

Um dúzia de rosas vermelhas, querida! Me Morte

Numa lápide do cemitério, Deixaram envoltas em fitas, Uma dúzia de rosas vermelhas. A foto era amarela e antiga, Inscrição apagada, descolorada. Provavelmente uma namorada, Um amor que se foi... Eu nunca ganhei rosas vermelhas. Como invejei aquela morta, Que mesmo estando deteriorando, Se fazia desejada, amada, lembrada E eu aqui mofando...Em vida! Uma alma fúnebre que respira E nunca ganhou rosas... Peguei as fitas e joguei, Uma a uma, no túmulo ao lado. Cada botão de rosa que eu tocava ·Morria, murchava, condenado A ser um morto-vivo despeitado, Como meu coração ali se mostrava, Um mero órgão desapaixonado... E a foto da inscrição apagada, Verteu duas lágrimas caladas, Longe da percepção humanamente sentida. Chorou por ter em morte gesto tão pleno de vida: __Uma dúzia de rosas vermelhas querida! E nem percebeu que haviam lhe roubado, Nem as flores, nem as fitas... Disso aprendi, que o que vale Não são as rosas que por ventura receba, Mas o amor que por certo distribua, Que faça, mesmo em morte, ser lembrada, Mesmo depois de deteriorada, Continuar a ser desejada e querida. Isso é só para os que foram plenos em vida!

41

Caderno literário

Solitário no jardim Ronaldo Campelo

Neste silêncio que inunda a alma e tortura o coração não ouço mais sua voz Partistes sem dizer adeus e levaste meu último sorriso Queria poder olhar no fundo de teus olhos castanhos e dizer o quanto tenho de saudades O quanto sinto tua falta Gostaria de poder te ver uma única e última vez mais para poder dizer adeus Roubar-te um último sorriso assim como roubaste o meu No jardim de seus sonhos você sempre colheu as mais belas flores que plantou Os sons eram sempre de paz e regozijo e talvez por isso não ouvisse o mau agouro do pássaro negro que passou avisandolhe da partida Talvez por isso fosses em paz e feliz É nisso que quero crer para poder sonhar Para poder seguir sem mais tristezas no coração já triste e medonho Espinhos tão somente brotam em meu peito Não há mais cor nas flores, somente as negras brotam ali, as quais regam com lágrimas. Lágrimas de saudade, de dor. Tão negro é o céu que cobre nossos pensamentos Tão negro é o véu que cobre os sentimentos E hoje tão somente a lua me conforta, (sobre) vivo com as lembranças de teu último afago... De teu último sorriso

42

Caderno literário

Alma de mulher Marcelo Moraes Caetano

Quem é essa criatura escorregadia E longilínea, cheia de curvas, Que requebra como um trem? Quem é essa bela classuda, olhar Molhado, sempre, criatura profunda Que se contenta com o que tem? Quem é ela, criatura soberba, Caminhante tranquila, sem medo Dos adjetivos maquiados: quem?! Quem é aquela que se foi, De caminhar aquático, ao longe, Com linhas que nunca mais vem? Ela, criatura, não tem mistério: Caminha na correnteza, come alga, Serpenteia a cauda... É o peixe! Mais ninguém.

43

Caderno literário

Naturezas Isabel Máximo Correia

É o mar que te acorda o sono da vida deste desgosto da rima No que te metes no sono no que mentes de ti para ti no som da roda no som das ondas do mar na pergunta constante do simples _ O que é o amor? É a bailarina na crista da onda do sabor a jasmim... na permanente espera do sabão das bolhas da trovoada a chegar numa estória nas histórias no saber que estás nesta ausência de almofada amarrotada numa escrita feita na pressa numa pena de caneta que te aguarda nas madrugadas de um toque de telefone silencioso E cá eu estou. Vou. Neste ficar de feminina natureza nas quatro estações de um dia poder brilhar nesse coração de navio perdido no leste do saber musical nesse mar...

44

Caderno literário

A vida e a natureza Celso de Oliveira

Vida é tudo ao nosso redor O Ar,os pássaros , as plantas o Mar.... É lindo a cada manhã Poder abrir os olhos e respirar Sentir o aroma das flores Ouvir os pássaros a cantar Olhar bem para o infinito Abrir os braços e gritar “Obrigado natureza,Obrigado natureza” É muito bom poder te olhar Os meus sentidos aguçar Saborear, ver, ouvir e sentir Os frutos nascidos no pomar Vida, felicidade descrita na natureza Onde a beleza da flor me faz sonhar Onde a alma do poeta recita E através do verso se pões a viajar Por isto apelo “ Não matem a Mãe Natureza” Não destruam ajudem a preservar.

45

Caderno literário

Para-meta-transparagens Guilherme Carvalho da Silva

a vontade é nula potência nenhuma super-nada o anseio desmancha com a quebra da onda Oyá tenta ainda insuflar querer o Caçador lança a seta e não acerta na cultura poder não há não dá o mar vem com o ar com o tremor debaixo de si com o fulgor de uma dorsal quando as rochas se encontram o ar vem consigo e com rochas esmigalhadas com resquícios de mar quando a pressão é pouca o fogo vem interno pedras líquidas em brasa

46

de si resultam terras, bases quando o ar e a água a tornam o terra vem de dentro e é vem com a dança das bases nadando em labaredas quando tudo se mexe a vida vem daí com tudo ligado como tudo em separado quando se tem um fim equação nula elevada a potência nenhuma superando o nada desmancha o anseio quebra uma onda Iansã já lança raios depois quer torrentes Oxossi com sua flecha acerta na natureza poder sempre há sempre dá

Caderno literário

Meu encontro Naiara Campanhola

Só desejo uma tarde nublada e que meus sonhos possam saltar da minha mente. Uma tarde em que minha alma possa descansar e todas as interrogações desapareçam com a escuridão das nuvens. Uma tarde em que eu possa me despedir dos pesadelos, que eu queira encontrar a mim mesma e encontre Deus.

47

Caderno literário

Sob a pedra do sol Julio Saraiva "Acredito na salvação da humanidade, no futuro do cianureto..." Cioran sob a pedra do sol o poema se decompõe as casas se decompõem os corpos se decompõem as sombras se decompõem as sobras se decompõem sob a pedra do sol as pedras dos meus dias podres apodrecem também as pedras dos vossos dias podres apodrecem também as paixões pichadas nas paredes apodrecem também sob a pedra do sol espalhamos pavor e pânico em anônimas cartas de condolências timbradas com o fel do nosso ódio e enviadas ao inimigo íntimo dez anos depois da sua morte sob a pedra do sol todas as cores fazem escuros fazem escuros fazem escuros todas as cores fazem escuros sob a pedra do sol cada vez mais longe da eternidade toda decadência é bela

48

Caderno literário

No castanho de seus olhos Giovanni Nobile

É por que no castanho de seus olhos vejo o belo! Creio que o azul seja venerado por sua semelhança com um céu limpo e claro Acredito que o verde seja sempre bem lembrado Por causa da saudade dos mares de águas calmas. [Esverdeados] É porque no castanho vi o belo, naquela tarde. Deitei-me em seu peito Ouvia as batidas de seu coração... Foi quando ela me beijou a testa - e eu sorri Olhei fixamente em seus olhos. Depois fixei mais ainda meu olhar no reflexo que eu enxergava, ali. Via, através de seu negro olhar castanho Um feixe de luz azul, com detalhes esverdeados. Através de seu olhar castanho, pude ver de um jeito diferente Um azul do céu brilhante e um verde nunca visto por nenhuma gente [reflexo das árvores] Por seu olhar, vi o mundo lá fora Talvez seja porque no castanho daquele olhar, eu veja o belo Mas, naquele reflexo, o verde e o azul eram detalhes O castanho era mais bonito Através daquele instante de um olhar fixo Vi em seus olhos um mundo mais bonito E deitei-me para ouvir as batidas de seu coração. [Ela sorriu]

49

Caderno literário

Sertão Rosangela Carvalho

Todo Ser Tão Árido Necessita de Amor molhado.

50

Caderno literário

Equilíbrio na natureza Ricardo Santos

É dia de sol, o céu está limpo, belo. O ar é puro, cheira a leite de rosas. Os sabiás cantam, de árvore em árvore, como fazem as alegres e pequeninas cigarras. É dia de festa. No céu azul, as borboletas beijam-se, agradecem. Fazem como um crédulo durante a oração, para agradecer ou pedir. É um ritual de sincronicidade que nos revela o equilíbrio da vida, de cada mudança, minuto a minuto, na natureza. Ao anoitecer, não deixe de olhar o céu, veja as estrelas brilharem para você. Elas vão sorrir, e te presentear com um belo teto cintilante.

51

Caderno literário

Delicadezas Priscila Miraz

chuva voltando a chaleira amassada de tampa perdida chia na chapa de ferro chia, chia, dona cutia: faz o eco das gargalhadas lá do terreno todos correndo atrás dos anus coitados que parecem avião de cauda quebrada brecando o nariz no chão quanto tempo a bolha colorida dura no vento aberto o presente é um galo pra companhia quando acorda as cinco da manhã pode falar comigo chuva caiu café com bagaceira na xícara dos adultos a companhia silenciosa rodeando a mesa o tico-tico, íntimo, palpitando uns suspiros e os cochichos dos brinquedos que descobrem os cantos empoeirados foi mais um Domingo

52

Caderno literário

Vida I Antonio Canuto

vida que te quero viva que te quero ver vertendo tuas cores sobre nossas cabeças teus sabores alimentando nossas bocas teus sons ensinando nossos corações a ver-te sempre viva sempre vida

53

Caderno literário

A última Janjão Bi, fon, ououououou, Fumaça das máquinas rodantes Das chaminés, das fábricas, Cheiros, ruídos, céu cinzento, e ela lá. Não é possível definir Seu nome ou nacionalidade Muito menos, a idade, Só se sabe que há muito, ela está lá. De seu lado dois monstros Da modernidade, de aço e pedra. À frente outros Mas ela não se incomoda. Sempre está lá Já teve companhia de sua Espécie vegetal, bem como A animal. Viviam em Completa harmonia, e ela lá. Sabe que frutificava E todos seres vivos se alimentavam daquelas Ramagens. Mas hoje raro brotar algo. Mas ela continua Lá. Nos tempos idos respirava Um ar limpo e cósmico Regava-se das águas do céu Ou das águas claras do grande Rio. E ela lá. Nos dias de globalizar Onde o verbo é lucrar Viu os irmãos sendo Mortos, um a um. Mas ela ficou lá. Nunca entendeu porque A pouparam. O por quê Daquele pedacinho de Chão ficou sem concreto e ela lá.

54

Mas naquele instante De reflexão não percebeu Que a resistência de seu dono Foi derrubada e ela........

Caderno literário

A viagem Cislaine Bier Andei por lindos lugares, Vi o mar sereno De águas claras Banhando inúmeras pessoas. Crianças brincando, Correndo, pulando, felizes. Vi morros enormes De pedras esculpidas Pela natureza ao longo do tempo. O sol iluminando os dias E dourando os corpos. Tive a felicidade de sentir-me Parte deste cenário. Pessoas curtindo seus amores, Amores de verão? Amores duradouros? O importante são os sentimentos. O tempo passando, Risos, ideias, amores aflorando, Restando a saudade De momentos felizes.

55

Caderno literário

Claras Miríades Dimythryus Pelas praias caminham as poesias esferas poéticas cheias de escumas eufóricas velas a mudar o rumo do mundo a singrar a areia, a calcar o casco a agrupar conchinhas no amanhecer. No céu o Sol ladino sob o crepúsculo matutino passa a fiar seus versos pálidos ressacados de ternura e luz a encher de sorrisos os cardumes entre olas. E sob o lume eflúvio do farol as escunas navegam sob a leve lírica onde os astros rabiscam em conjunto todo o céu enquanto os corais florescem de cores todo o mar Efêmeros versos encharcados de olhos desatentos. As gaivotas despejam o suave som da paz enquanto o pescador sagaz hasteia sua tarrafa a garantir seu pão, seu sustento a poesia torna-se mastro, a força motriz do poeta o pescador de sonhos, o criador da paz entre as palavras.

56

Caderno literário

Para nascer um rio Dé Barrense As gotas da chuva que caem Nas folhas verdes, rolam para o chão Que juntam poças d'água Que formam os riachos e o ribeirão As chuvas nas ribanceiras, Dos montes, correm a fio Desembocam da nascente Fazendo brotar um grande rio A água que vem da terra Parece filetes de prata As águas que formam o rio São mananciais de amor O rio é como um menino Que cresce devagarzinho Se chora o volume aumenta Dos olhos dos ribeirinhos

O rio é como um pai Que sustenta toda a família Não se contenta com pouco Doa de tudo que tem Doa alegria, doa esperança Doa união, água e comida Doa transporte e emoção Dia após dia, doa vida É peixe, é água, és estrada de vapor É luz que reflete o céu azul do senhor É fonte de força e calor De vida de fartura e de cor O rio São Francisco é um rio sereno Que anda calmo no leito a bailar Para formar mais adiante Cidade, povoados, paraísos de paz.

57

Caderno literário

nascente em curso de morte desmatada* Luiz Filho de Oliveira aguazul plic! ploc! batendo es cor regando planta e dança e pedra os peixes sr. caramujo e outras espécies e vem um barco-folha ambiente em meio ao transparente líquido num veio dessa mata virgem e vivem... ... todavia o enlatado cano esgoto surje e engarrafada a morte desmata e vaza às taças das calhas em que o peixe-barco nau trágica navega outro inferno: e a água foi suja de humanos seres urbanos

(Em Teresina, fluindo até São Paulo; antes, passando por Minas.) A Ana Rosa, uma minha mestra com quem estudei em espaço de Dias.

58

Caderno literário

Rosas chinesas Karla Hack dos Santos Quem pode dizer-me se merecemos o etéreo? Quem pode dizer-me se o luar é a resposta divina? As lágrimas dos anjos viram árvores? Você falava do sabor do café da manhã? Há uma aurora nova todo o dia? Alguém me contou que as rosas chinesas São milhares de noites em uma; A última pintura feita na tarde, No índigo, no azul... É verdade? Os sonhos são florestas? São jardins de rosas chinesas? Sei que a chuva vira rio, Suspeito que o paraíso esteja em cada um. Não sei. Não perguntei. Mas será? Será que Deus sabe? Sabe que de rosas chinesas sou eu cultivada?

59

Caderno literário

Náufragos Bruno Philippsen Então, a maré começou a subir e só pude me agarrar a frases e palavras para não ir diretamente ao leito da consciência. Palavras como boias salva-vida ondulando acima de obscuras águas mantêm-me na superfície da realidade. Seguro-as com toda minha força exausto de nadar no nada e assustado com o insondável abismo aos meus pés. Mas sei que todos os braços falharão todos os pulmões vão inspirar água todos os olhos ficarão azuis e só ficarão à tona botes vazios e bóias perdidas.

60

Caderno literário

Escuta Conceição Pazzola O barulho da água Que rasga O leito da terra E jorra serena No meio do mato Que vibra feliz Escuta O eco do grito Dessa voz Que te chama Desse amor Que reclama A sede Sem cura A vida Sem graça, escura Perdida.

61

Caderno literário

Terra mãe Alessandra Cezarini Araújo

Berço de culturas diferentes, crenças, hábitos, etnias. Sou a Terra- Mãe, que grita pela paz. De que vale a imensidão Dos oceanos, mares Se há guerra, o ódio entre os irmãos É mais uma vez grita a Terra-Mãe, liberdade liberdade! Já em rios de lágrimas a todos os seus filhos!

62

Caderno literário

Mar escuro Vitor André de Souza Pela janela que só eu vejo Noite clara, entrando quente Como o sol, queimando dentro Escuridão tensa e ardente

63

Sombras que iluminam e mostram... No mar agitado Onde só eu me molho e afogo Os dias escuros E as noites claras Vejo, somente eu vejo As ondas indicando A realidade viva O vento quebrando o calor Ressaltando a dor Obscurecendo a cor Mostrando o amor o sentir Até eu me cansar de andar e cair e sangrar E ver novamente que só eu vejo A água do mar Vermelha.... e escura

Caderno literário

A verdadeira natureza Valdir Azambuja Quando chegar aos 60 anos Ou me aposentar Serei poeta de verdade Por enquanto vou só exercitando Mesmo com prazer Sem sair do eixo Gasto minhas forças úteis Para sobreviver Vendendo o meu cansaço Amanhã então Terei tempo De aprender Uma profissão Prá valer Vou viver diverso Vou viver de verso Volver

64

Caderno literário

Natureza Rebeca Nunes Natureza... Bela por natureza; Amada, amante serena de si mesma, Tens nas cores a beleza única, ímpar... Uma pureza arrebatadora, Rara, forte, benigna... Eterna; magia que dilacera, me deixas Zonza, no exalar de seu odor, Amor em grossas camadas de furor.

65

Caderno literário

Segredos do mar Marcos de Andrade O mar marulha um verso. O vento sopra para o sul, O norte e os polos. O mar murmura uma dor E o vento sopra, Sempre a informar O vento é como um coração sem amor Que só leva o que lhe dão, Que não marulha E não chora sua dor. O mar ama a lua Mas lambe o sal d'areia. O vento sopra E espalha sua traição. - eu me rendo! - diz o mar O vento roubou minha dor E expalhou pelo mundo Agora todos sabem, em fim, Quem sou: - um mar que marulha um verso ao léu, que ama a lua mas lambe a areia.

66

Caderno literário

Um fogo na luz Carla Ribeiro Quantas vezes dormi Como um braço no abraço da complexidade E abri nas asas a renúncia de um complexo resignado Às contemplações da cor… Plantei No solo dos luminosos o fogo da imensidade E no absoluto altar dos silêncios que se entretecem Contemplei o absurdo em mim E a cruz nos braços abertos da minha designação de corvo. E mil vezes sonhei Com lágrimas transparentes nos olhos do lobo que fui, Perseguindo entre os bosques desertos A sublimação de uma palavra que me elevasse, Um grito que contemplasse a cessação da fantasia E abrisse aos véus do enigma a minha voz. E todas as vezes voltei Como um exilado carregando o lenho do Calvário Em direção ao nada Onde a estaca dos rejeitados se estende como uma pena No patíbulo das quimeras que deixei.

67

Caderno literário

Do romanceiro das ondinas Marco Aqueiva Multidão de volutas ordinárias entregue às ondas que vem dar à praia. Senhor ausente, câmara sem tranca, roupão entreaberto, águas coabitando-as... Bailado enluado que mal se sustém... Em tempo, as águas partem inconstantes desaportando em busca de outro amante. Lençóis espessos de vazio por dentro.

68

Caderno literário

Eclipse Regina Lyra Quando a Lua se esconder totalmente, O Sol a cobrirá. As lembranças chegarão às mentes. Saberemos o que fomos E o que somos. Certamente, a Lua, De cor dourada Pelos raios do Sol Encoberta, naquele instante Terá momentos de total intimidade. Neste encontro perfeito, Os dois gritarão seus feitos, O orgasmo atingirá todos os membros. A Lua e o Sol Chamarão pelos seus nomes E matarão suas fomes, No imaginário dueto.

69

Caderno literário

Ímpios Zé Luis Ímpios foram os lírios brancos Que eu colhi,quando as lágrimas Da minha madrugada escorregaram Sobre o peito das tuas mãos nuas. Ímpia é a dor que trago guardada No fundo da minha alma, como A foto de quem partiu e nunca se Ausentou Ímpio sou eu que nada sei de mim Nunca sei quando estou ou quando Parto Dá-me essa tua mão para que eu Possa colher para ti os lírios que Se abrem a cada manhã, virados para o sol Leva-me contigo para os universos Que trazes escondidos dentro de ti Deixa que eu desenrole esses Cabelos prateados e os afague Com estas minhas mãos trémulas E desejosas Leva-me no teu idílico pensar Arrasta este corpo até junto de ti E ama-o como as noites secretas Amam o sol escondido do outro Lado que não se vê Leva-me para os teus jardins De flores de mel e púrpuras Da-me só a tua mão!… E eu serei feliz!

70

Caderno literário

In natura Leonardo Andrade Descobri o prazer na sua nascente Na luz incidindo no seu corpo de uma lua sempre crescente Bebi sôfrego e sedento no leito da sua foz Fui derrotado pela exaustão de um orgasmo feroz Encontrei na sua natureza A mais profunda beleza Algo jamais descrito ou sequer imaginado Além de todos os limites existentes, absolutamente encantado. A plenitude dos seus vales e cavernas O relevo ao longo da imensidão de suas pernas O contorno desenhado de seus morros e depressões Eterna fonte de inspiração para poemas e canções. A exuberância no seu momento de ápice A luxúria transbordando do delicado cálice Cada côncavo se espelhando no seu respectivo convexo O amor dançando em sintonia perfeita com o sexo. Seu corpo faz crer na existência do divino Flutua ao som de harpas tocando um inebriante hino Um louvor à criação no seu momento mais que perfeito Um brinde aos desejos inconfessáveis no seu leito.

71

Caderno literário

Poesia local Pepper Ainda morro abaixo montanhas recicladas a cinzas seguem a bramirem lavas das entranhas cuspindo ardor em nacos fumegantes de brasa mora, vivaz e ardorosa, lume brilhante do foguista, fogoso e ardente apaixonado assopra na fogueira das paixões assento da língua-de-fogo lavabundas a céu aberto, lavabo dos cantares noturnos lava-pés na caverna arejada, adventos de vapor entremeados e cada lenha e seu laurel ensejam nas brisas encontradas as chamas de fogo amor.

72

Caderno literário

Chuva Vanderli Medeiros Chove lá fora, E pinga, aqui dentro, um aguaceiro. Já nem sei se chove fora ou dentro, ou é meu coração que goteja de saudade. Meu pranto rasga uma tempestade; o peito relampeja seu nome... Águas inundam a cama... Não sei se choro ou se chove em mim.

73

Caderno literário

Intacto Lu Limeira Só o vento permaneceu intacto Todo o resto foi destruído Folhas, flores e frutos Só o vento mudou de direção Só o vento mudou de intensidade Todo o resto não teve escolha Caminhos, caminhantes e caminhadas E quando a chuva caiu Só o vento pôde escolher o destino das nuvens Só o vento pôde escolher levar a chuva embora Todo o resto molhou E, sem escolher, o que era molhado secou. E tudo que havia de nascer, nasceu E tudo que havia de morrer, morreu, Sem escolha. E sem escolha, a água da chuva, parte do rio, não teve fim O rio não escolheu ser infinito, não escolheu se transformar em oceano e lágrimas. Só o vento permaneceu intacto Todo o resto, sem escolha, foi destruído.

74

Caderno literário

Carícia da natureza Vânia Moreira Diniz Escalei montanhas, imergi nos mares, Caminhei nas florestas, voei com pássaros, A me mostrarem a essência do planeta, E encontrei nos lagos a paz e calmaria!, Entendi de constelações e absorvi seu brilho, Nos meus olhos a luzir de esperanças, Conversando com a lua em segredos generosos, Enquanto o céu se cobria de nuvens esparsas. Procurei nos rios o seu trânsito ininterrupto, E segui seu curso ansiando desaguar Meus sonhos e encontrar um afluente seguro, Onde pudesse descansar minha alma. Esquentei-me transida ao sol matutino, Admirando os consistentes reflexos dourados, Em raios de calor a procurarem meu corpo, E sentindo na pele a carícia da natureza. Desnudei-me corpo e alma buscando, A suavidade da brisa a me confortar, Trazendo-me sua fresca e doce aragem, Enquanto gotas de chuva me refrescavam. Reapareci imune, vibrante e silenciosa, A colher pelo caminho as flores perfumadas, Descansando á sombra das frondosas árvores, E procurando no horizonte o caminho que viria

75

Caderno literário

Norah Aécio Kaufmann Foi numa tarde, um fim de tarde era setembro.... E eu não sei se tu recordas do que hoje ainda me lembro. Vinhas tão linda em verde-azul toda envolvida, que a tarde embevecida em teu encanto, quis ficar tal como eu inebriada, e esquecida de que a noite, de mansinho, já queria o seu lugar. E o sol curioso se quedou, lá no horizonte, paciencioso por instantes, só p´ra ver Um sonho andar. Vinhas e eu ia.. Eu chegava e tu saías,

76

pois ainda não me vias e eu buscava te encontrar. Faz tanto tempo, meu amor! mas bem me lembro que havia um "que" medroso de mostrar sem se mostrar Sem crer, mas vendo e ainda que vendo eu não podia acreditar que me sorrias na ternura de flertar, que ainda encontro, quando hoje distraída, ternamente enlanguescida, tu me pões em teu olhar

Caderno literário

Natureza Débora Villela Petrin Verde trigal! Faz-me ser o sol ardente Das tardes majestosas Com cheiro de insensatez Do amor que se perdeu Em espigas rudes De botões murchos Leva-me contigo no seu ninar Abraçando o vento No balanço incansável De tuas folhas maduras Veste-me de suas cores Límpidas no calor De um embrião nascente.

77

Caderno literário

Poeta jardineiro Roseli Busmair Sempre que a minh'alma chora Ou meu coração soluça; eu vou Apanhando a poesia que aflora À emoção, em busca do que sou E, sou poeta que o verso deflora, Toda a paixão em mim se alastrou: - É no meu sonho onde ela mora! Ah! Sensação que nunca me deixou... Às vezes, rasgo meu caderno inteiro Para só assim, aplacar a minha dor: - Molham as lágrimas meu travesseiro Então, eu planto nova rosa no canteiro A fim de ver mais florido o dom d' amor: - Pois eis que sou um poeta jardineiro!

78

Caderno literário

Viagem postal Ricardo Mainieri Velhas fotos delimitam o horizonte da solidão.

Límpidas praias com olhos de verão versão saudosa de rostos paisagens sedução.

A chuva escorre lá fora dentro do coração.

79

Caderno literário

A arca dos pecados Thiago Carvalhaes Os homens tem um segredo obscuro; Escondem uma fera oculta que guardam dentro de si. Cada adulto escolhe o seu caminho; Irresponsáveis! Todos possuem a natureza do pecar. A humanidade não tem por que existir. A arca pela qual busco incansavelmente vai encher de predadores. Cada Pecado é uma figura nítida em construção indelével. Isso significa: Para apreciarmos a megalomania correremos sempre o risco de [desidratarmos. Que isso sirva de lição para o mundo! Observação de pensamentos fatais: Ninguém pode se ferir. Como digo: Não podemos revelar nada a meros mortais.

80

Caderno literário

In natura Maria Helena Santini O planeta in natura, Jaz na árida mistura cinzenta. O organismo vivo, a linda criatura, Hoje parca esperança acalenta. Antes vivo, o verde já esmaecido O oceano se recolhe e em fúria invade O solo fragmentado do terremoto em rugido Queimadas, lixo, furacão e tempestade. E nós, atrás de estreitas janelas, Respiramos calmos a fumaça Como inúteis sentinelas. Somos pedra e não vidraça.

81

Caderno literário

Às vezes ouço o soluço das formigas Ricola de Paula Vi a exatidão hexagonal das abelhas, a arquitetura de papel das vespas. Ainda não sufoquei tantas pragas. No chá da manhã gélida folhas, hóstias, pães torrados. Coletamos puro leite dos livros, muito suor virou neblina. O coração ardendo, a mente confusa. O cloro ainda turva a água bendita. A indiferença, confesso que, assusta. Aprendi cedo a revirar o estrume. A terra guarda calor e umidade, As mãos tocam sua fecundidade.

82

Caderno literário

Tormenta Alessandro Reifer em um céu azul de paz não há raios para que eu o escale é escalando os raios das nuvens da minha tormenta que atinjo o que há de muito além naquele céu que é bem pouco pra mim só a tormenta ao além me leva que o céu tranquilo dos medíocres não me eleva além de tudo que aos medíocres é tranquilo que minha vida não se contenta em ser contente com a vida no meu fracasso há sempre triunfo no meu triunfo nunca há vitória que há sempre muito além que eu vejo sempre mais com cada raio que me cai tudo isso que aí está eu não me estou em nada disso olha bem sobre meu céu em tudo que troveja muito além é ali onde me ergo

83

Caderno literário

Pés na estrada Ale Quites Pus os pés Na vista da estrada A chuva caiu como lágrimas No asfalto quente Lavando o olho irritado E uma brisa sem rumo Levou-me como cisco A um novo destino Onde a natureza é o sorriso Que risca a cara da paisagem De um lado a outro

84

Caderno literário

Sol Micheli Zamarchi Sol que invade a janela, sol que aquece a mão dela, sol brilhante a confortar, astro encandescente a alegrar! És tu, astro rei, o comandante da vida terrena. Determinador uno de tantos bons-humores e de poucos mau-humores. Ainda assim, o mandante soberano desse planeta que almeja o amor integral!

85

Caderno literário

Observador Bernardo Almeida Olhei a flor Mas não a toquei Apenas apreciei a sua beleza Olhei o beija flor Este tocou a flor Mas não a feriu Olhei a abelha Esta penetrou a flor Tomou-lhe apenas um pouco de mel Olhei a paisagem Esta pegou o colorido e o aroma da flor Precisava completar-se Olhei o homem Este arrancou a flor E encerrou, ao seu gosto, o ciclo da vida

86

Caderno literário

Bucólica Carlos Leser Chove. As pombas dormem dentro do pombal. E a natureza Se forma, Se molda E se molha Gota à gota.

87

Caderno literário

Tributo à beleza Gabriella Slovick Nos rendamos ao que há de mais sublime! O Belo! Preserva, reza, planta a mata e preza... O Belo! A beleza não está em qualquer parte, ela é parte...Ela não pode ser vista por inteiro. Viva o Belo que se esconde! O Belo! Este que habita toda Terra e está aqui dentro. Dentro de mim, dentro de nós...E parti. O Belo! Belo amanhecer, entardecer... Belo pôr do sol e a neve nas montanhas... Belo porque é simples. Simples porque é belo. O Belo! O verde, o amarelo, o lilás. A vida traz. O feio jaz. O Belo... descansa nas rosas.

88

Caderno literário

Beijo da natureza Cecilia Pires O mar voluptuoso beijou a montanha Ela, em seu recato, desenhou-se em limite. O céu, mais ousado, avançou o limite O olhar sedutor pintou outro traço, unindo o céu e o mar. A montanha sentiu-se beijada pelo Infinito.

89

Caderno literário

Olhando nuvens Marcelo Domingues D´Ávila A intermitência das nuvens na azul essência do céu: é um cavalo! logo, um peixe um guardachuva um chapéu. Um canguru esquisito das florestas de Guiné um sapato feminino um sapo um jacaré. A invisível mão do vento na oficina dos dias moldando formas no espaço brincando de poesia.

90

Caderno literário

Apenas uma flor Maria Ester Torinho Apenas uma flor: guardada no tempo breve de alguns poucos dias cicatriz do espinho fincado no centro da pétala ideal feito em sonho e poesia, desfaz-se ao contato do frio vento e se funde à poeira e à treva: ternura desfeita em névoa és tu, só tu, puro amor.

91

Caderno literário

A quem serve o sol? Valdoir Wathier Não pode ser só às flores, às praias e às peles brancas - que se emorenam belezas -, às colheitas, à clareza. Não pode ser ao santo, à besta, à sundown, aos olhos amantes mirados, de outra galáxia em estrelas. Só pode é ser operário! A função de ir e vir, esse labor diário, a alguém deve servir. Com visão de privilégio, talvez seja espião, e então, então... A quem serve o sol? De tão repetir exato, só pode é ser proletário Serão, talvez, almas-salário, e a quem interessa o valor? *** Se não sei a que fim ele vem, talvez o fim a que vem seja o meu, Sol, ... me findas a mando de quem?

92

Caderno literário

Trote da noite Victor Menegatti São longas as vestes da noite, picotadas por saarianos d'harpas lamuriosas em farpas, com poucas horas d'asas, fogosas. São longas as vezes da noite quando o certo vicejo das desnudas Helenas de Tróia somos nós, gigantes nas alturas, em palmas víboras - abocanhando e tecendo à Glória A manhã seguinte, megera de mil faces, só um olhar paralítico da medusa, insone, filho medíocre da poética no cadafalso da realização métrica.

93

Caderno literário

Paraíso Maruska Abreu Existe um lugar onde o tempo esqueceu de passar Onde o vento brinca sem pretensão de voar O céu é brando O mar é morno O sol é franco E a lua dorme. Existe um lugar onde o bem exala maresia As estrelas se reúnem lá para conversar e brilhar Os coqueiros se entregam ao vento O vento se entrega ao mar E nada mais se mexe para não aparentar descontento Fico contente neste lugar Entro em mim, sinto a paz do lugar. Me resgato, me junto e me completo lá. Como é bom de estar.

94

Caderno literário

Mar branco Ludmila Saharovsky Olho o lençol Mar Branco na cama descoberta E sinto teu corpo Penetrando, lento, No sono em que me deito. E a maré sobe E navegando Vou descobrindo ilhas, Enseadas, istmos Enquanto tu, Ah...tu desvendas o meu de dentro

95

Caderno literário

Natureza Priscila de Loureiro Coelho

Naturalmente as flores conversam Com os corações sonhadores Sussurrando segredos do tempo Falando de tantos amores Em ciclos e pulsações Tudo se transforma e recomeça Assim, as nossas paixões Juras, pactos, promessas As flores que vivem tão pouco Ensinam-nos a partir Posto que o tempo é um louco Que teima em existir Natureza, criação, vida perfeita Contexto doado pelo criador E a humanidade sempre insatisfeita Não reconhece nela o amor...

96

Caderno literário

De perfumes e perfídias Tchello d'Barros

Olores de sândalo Perfumes na brisa Marulho de ondas Pegadas na praia No calor da tarde Ao sol tropical Dilatam pupilas Acendem desejos Um úmido vento Vem todo aromas Num cheiro de flores De pétalas doces Na tarde que arde A sutil fragrância Hoje denuncia Um rosto ausente

97

Caderno literário

Eu, montanha Rosana Banharoli

A ilusão me reveste em verdades. Uso várias roupagens. As águas profundas, em meu subterrâneo, denunciam a ordem universal. Viemos do mesmo éter. Em meu ventre, trago o magma do fogo sagrado e, em meu peito o segredo de Gaia. O tempo, em mim, não adormece. Possuo todas as idades. Guardo em meus escuros, todo o mistério dos mundos paralelos. Mas não viole o selo e, tampouco, meu santuário profano. Meu sopro de mãe que protege o cálice, será envenenado. Gargarejo com os vômitos dos que me intrujam e cuspo, por minha vagina, o gozo dos aniquiladores da espécie.

98

Caderno literário

Meu doce mar Tei@

Hoje, se eu pudesse colocaria... Meus pés na areia fina, E longa caminhada daria. Conversaria com as ondas... Iria expor meus lamentos, Colocaria tudo na areia... Para ser levados com o vento. Tristezas, alegrias e dores... Não queria mais deles lembrar, Tomaria um banho nas águas... Nas doces águas do mar. E ficando eu mais leve... Sem dos meus problemas lembrar, Dormiria, sentindo os beijos... Das águas a me banhar.

99

Caderno literário

Cultivar Rubens Costa

Semente! Pequenina e indefesa, O que me traz? Ergo a enxada, Sob o sol escaldante. Corto a terra, fértil, Que cede... Fazer viver. Deposito-te, justa, Sob o húmus que por ti espera. Cubro-te, derramando sobre ti, O líquido transparente, vida!

E, neste momento, Descubro, afinal, O que me foi dado Descobrir. Que a sombra, Jamelão, Semente, um dia, havia sido.

Atento, sento, então, ao chão. Encosto, por que não, meu corpo No tronco, Jamelão.

Descobri que cultivar, Antes que Terra, Água, Fogo e Ar,

Olho, dali, para ti, Agora soterrada, Esperando algum sinal, Qualquer sinal da vindoura, vida!

É aprender a ver Que na vida, Tudo é movimento, De um ciclo perene.

Eis que um dia, Quando já achava vão, Tu surges tenra e miúda, Sob o sol que te ilumina.

E que para crescermos, Precisamos aprender A cultivar a paciência.

Sob a sombra, Jamelão, Observo-te, extasiado... Fecho os olhos e agradeço; Terra, Água, Fogo, Ar. Enquanto te observo, O Sol vai se pondo. Aos poucos, sua sombra, Ao chão, avança rumo, Jamelão.

100

Finalmente chega, Cobrindo-te, Protegendo-te, Refrescando-te.

E, ao desenvolvê-la, Perceber que a nossa mente, Mente, sempre, no cultivo Estéril da ilusão do ter. E que apenas a vida, Silenciosa e sábia, Transforma, pacientemente, A semente... Jamelão.

Caderno literário

Natureza negra Néia Pinto

Árvores negras enfileiradas Vem nos mostrar A cor que grita em todo lugar Enquanto grão, brota do chão. Verde esperança virando carvão Rios, céu e mar. Natureza viva Morrendo antes de brilhar Nas mãos do criador tem cor Dos seus filhos só cinzas de dor A uma folhinha qualquer Em reverência a sua força Jogo-me a seus pés (raiz) Porque ainda nascem flores Em meio ao caos Como se fosse Resposta em cores À violência ao mal Seja sempre verde sempre. Amém.

101

Caderno literário

Fim de tarde I Adauto Neves

Ouço pássaros revoltos, inquietos pelo entardecer, só não sinto o bater de seu coração. Ouço vozes cansadas, ouço pássaros revoltos, inquietos, saltitando, voando em desordem. Parecem felizes e satisfeitos com a liberdade. A tarde agoniza serenamente, os últimos raios roçam a Terra. Início de novo descanso fim de árdua tarefa, início de nova noite. Hora de mistério tudo parece se misturar. Ouço o palpitar do meu coração ansioso por te ver.

102

Caderno literário

Encontro Rodrigo Cancelli

¨Um dia encontrei uma Paz, nada era mais forte e suave que ela, nem o vento que outrora soprava por aqui.... Ao encontra-la apresentei-me com louvor de estudante.... Desenhava no Céu uma estrada de tijolos amarelos e um lindo Sol.... Por onde dancei a dança do amor.... Pulei a dança da paixão.... Gritei por seus olhos.... E deliciei-me com seu sorriso.... A beira do abismo sorri....¨

Sou a pedra entre o aço e o arpão, Uma Lua de mel de algodão, Um beijo melado, Um eterno perdido das galáxias da imensidão....

103

Caderno literário

Insensatez Artur Pereira dos Santos

Imbecis! Transformam tua beleza Desesperados pelo lucro incerto Sem deixar a paga pelo mal causado Na ganância cega De quem gera a morte Do próprio algoz. Mesmo assim te entregas. Quando te rebelas Com tua força intensa Ainda revelas Tua beleza imensa Repousas a vida Em nossas vidas. Animais que somos. Nem respeitamos Nossa dependência De ti, NATUREZA

104

Caderno literário

Pôr-de-sal Gerusa Leal

sentado sobre a pedra o homem escuta o mar não o olha mais de frente já não lhe teme a força pois mesmo forte o rugido pelas mãos de Deus contido não ousa seus pés molhar o homem escuta o mar que já fez olhar tão longe até onde o céu baixando esconde o que vem de lá não o olha mais de frente agora tão diferente de quando a alma nos olhos imaginando tesouros gostava de mergulhar já não lhe teme a força pois sabe que em seu peito a inundar-lhe de anseios tão feroz quanto o primeiro transborda um outro mar e mesmo forte o rugido a urgência com que clama aprendeu com as marés a ir e depois voltar não ousa seus pés molhar pois receia que o desejo de entregar-se ao infinito suba ao seu corpo inteiro e leve de volta ao lar Pela mão de Deus contido senta o homem sobre a pedra e apurando os ouvidos escuta as vozes do mar

105

Caderno literário

Som do sol Rubens Cavalcanti da Silva

espere o amanhã chegar com suas chagas fumegantes rasteje num beijo um pouco de sexo para a tua vida tão diminuta escute o som do sol chegando escute os raios da chuva a luzir nos telhados escute a voz do vento varrendo pensamentos ancorados no agora

106

Caderno literário

Oração à terra Adriana Pavani

Bendita seja a Terra! Que apesar de toda a guerra, Ainda o desejo de paz encerra. Bendita seja a Terra! Que apesar de toda a calamidade, Flores e frutos de seu seio descerra. Bendita seja a Terra! Que acolhe tudo e todos E ainda na perfeição se esmera. Bendita seja a Terra! Que por mais que a maltratem, Reverdece a cada estação. Transforma-se na constante transformação, Mostra, calada e humilde, Que mesmo com toda a destruição, Em cada ciclo, em cada renovação, Em cada pulso e numa só pulsação, O Amor impera em toda a criação

107

Caderno literário

Malhar com desejo Wagner R.A. Chaves

Ia comer uma maçã... Não a comi, por quê? A noite já se ia, o pensamento vagava, pra onde, em quê? Onde encontrá-la, mais uma vez escapava à tarde quente, o céu azul brilhou na ponta da navalha que cortaria a maçã e liberar o aroma e comer dos seus sais e beber do seu mel, dormir no seio da macieira. O que seria naquela maçã fugidia, uma mordida combinava, o que sente? Se falasse... o pigmento denunciaria? O toque acolhido, a passos curtos circularia a Terra e dos Alpes retirava o gelo puro e do mar apanhava sua estrela e no centro da vitória-régia, a maçã, em sua pele as gotas do orvalho deslizam, o vermelho do sol reluz, os delírios são doces... na trama do pomar o sapo dança.

108

Caderno literário

Casulo Pam Orbacam

Viver em silêncio. Doce silêncio. Ruído nenhum. Nem luz, nem sombra. Só a brisa do tempo. Olhos fechados, assim como o corpo. Silêncio sem movimento. Sem fome, sem sede. Sem ninguém que abale meu terno silêncio. Doce silêncio, doce sono, só sonhos... Sonhos de um sono só. Sozinha em minha cama, eu: pós lagarta, pré borboleta.

109

Caderno literário

Gênese Jorge Potier

Será o Sol que traz o poema ou apenas o faz refulgir num pólen que invade os sentidos numa primavera quotidiana, extrema? Será a noite que lhe determina as cores escritas nos sons absolutos do silêncio universal por fantasmagóricas mãos com milhões de dedos que desabrocham em flores? Será a imensidão ondulante do oceano que lhe mata a sede de existir e garante permanência apesar do refluxo da consciência? Talvez seja o poeta, poliglota tradutor do que fala a Natureza em línguas incandescentes que lhe lambem a carne, permanentes. É ele que, em chamas, se converte em Criador

110

Caderno literário

Natureza Rosimeri Coelho Pinheiro

Com sua imensa beleza Nos eleva à grandeza De um olhar sem fim Para todos os confins. De uma imensidão Com muita emoção Guardamos no coração A natureza bela De todos os verões e primaveras.

111

Caderno literário

Metamorfoseando Sarah Jorge

Um casulo Escuro Solitário... Nova vida na mesma existência! Mudando. Renovando. Beleza Leveza O Ar... Alguém a prendeu!!!! Agora preciso.. Deixe-me voar.. As Borboletas não devem ser presas, Por que se assim acontecer à morte as cobrirá. Não corte minhas asas. Preciso voar sozinha. Preciso de liberdade... Ela escapa. E Estou voando e indo para onde o vento me levar..

112

METAMORFOSEANDO.

Caderno literário

O mito da caverna Fernando Batista dos Santos

O Certo ou o Errado; A Esposa ou a Ordinária, Optar entre o Profano ou o Sagrado, Apegar-se ao morigerado ou ao pária? O embrutecido de ontem é hoje o sacripanta repaginado... Sai era e entra era tudo vai e volta... Novos termos, novas idéias para uma dialética que (re)volta Pelo abuso de sutilezas, mentiras - claro(!!!), como sempre muito bem articuladas. Que tempos são esses: Mais de 2009 anos já são passados... Quantos mais ainda serão necessários para o despertar coletivo, Se é que é possível despertar aqueles que se comprazem de passados, Porque lá se chafurdam em suas Caixas de Pandora e gozam sob o escape do apelativo e da autolatria...

113

Caderno literário

O canto que tanto me encanta Marta Rodriguez

Que encanto há nos cantos que encantam tanto nossas almas que se acalmam na paz dos sons que vem das entranhas das matas? Da garganta dos pássaros multicoloridos, do assovio dos ventos fortes e às vezes tímidos, sob as árvores verdejantes de folhas dançantes Às margens das corredeiras energizantes, nos libertando da agonia de viver sob a pressão de um dia-a-dia que muitas vezes nos asfixia? Que encanto há nos cantos que vem dos sons das quedas d’águas cristalinas das cachoeiras nos purificando a alma, desencadeando nossos sorrisos contidos enquanto quê: sobre elas bailam majestosas, as borboletas? Ah! Se o meu coração cantasse... Certamente ele cantaria a alegria de estar de corpo e alma sob esta sinfonia regida com mestria, melodias da natureza que em sintonia, nossas lágrimas secariam, nossas almas libertariam sob a beleza do sagrado momento e contemplamento da perfeição dos mínimos detalhes de uma majestosa criação essencial ao nosso viver... Que encanto há nos cantos gentilmente cantados por nossa querida e amada mãe natureza?

114

Caderno literário

O contra-ataque Iriê Salomão

O gelo já derrete nos pólos Veneza se desinventa afogada A cidade maravilhosa é lavada e levada pelo mar Em batalha atroz, Recife é sacudida por Posêidon A mãe d'água encobre ilhas com seu pranto lastimoso O pacífico chega bravio Sonhos molhados entornam nos bares. A revolta borbulha e, Atlântida planeja-se imensa. Arranha-céus são pontos fixos nas vagas. O retumbante grito “terra a vista”, é para todos, resto empoeirado [ de uma história extinta. Céu e mar embaralham-se na monotonia do azul. Homens egoístas moerão afogados em copos d'água E a Terra terá sede de terra.

115

Caderno literário

Perfeição Carolina Mancini

Pés descalços na areia da praia. Verdes águas brincam de “pega” com os calcanhares. No dia cinza as nuvens se espalham. E tudo é calmo, frio envolto nos ares plácidos das tardes praianas do outono. Ao longe, dunas e casas serenas e dorme tranquila a natureza no contorno das ondas, no horizonte, amenas. E na areia da praia ficam pegadas o canto-murmúrio que se enleia com a ventania de curvas levadas e bagunça teus cabelos em uma teia. E torna todo o teu corpo com a sutileza etérea da natura. Até que encontra teu porto na perfeição da maresia e da ternura que é tua cálida ventura.

116

Caderno literário

Minha libélula Matheus Paz

Livre sou dela minha libélula Metamorfoseando-me em teu casulo vivo, sofro e amo ela minha libélula amo este teu tempo de águas e de asas amo este teu espaço de ar e de voar suave e rasante

117

Caderno literário

Natural Viviani Ketely

Pousado em teu seio quente A relva do amanhecer Guarda tuas lembranças De longínquos momentos brandos Teu grito ecoa solitário Perdido, despido Arrependido Tuas águas mornas Dragam-se nas rupturas humanas Quem há de cuidar de ti Eu! Que tão pouco sei de mim. Que não dou mais que um passo Sem ferir-te, sem lançar sobre ti Os malefícios da modernidade Tu que era tão bela, tão jovem Traz agora marcas indeléveis Em tua face azul Teus seres outrora livres Agora se vêem aprisionados Enjaulados, acuados Tristonhamente perdidos Tuas vestes vivas, coloridas Agora se vêem moldadas, refeitas, recicladas

118

Esperáramos tanto de ti Tiramos tanto de ti Em troca derramamos por todo o teu corpo robusto Nossos refugos, nossos dejetos, nossa ignorância Ainda me lembro de ouvir falar que tu Um dia foi tão verde que parecia ser eterna Ouvi falar que tuas águas límpidas, sagradas Eram inesgotáveis Que engodo, que cresci querendo acreditar Sei que ainda guarda, belos prazeres, belos cenários E com esperança espero: que os mesmos não fiquem Futuramente aprisionados, refugiados Apenas em lembranças, pinturas ou fotografias Desejo-lhe vida longa, infinita E que meu último beijo seja em tua boca ''Natural'' Tua boca de "Terra"

Caderno literário

Rio Nilton Maia

119

Por breve tempo, Vejo-te na tela fria da TV. De meus olhos, Escapa a mesma fluidez Daquilo que te compõe.

Quem sabe, Não sorris ao homem Que corta lenha em tua presença. Ou atiras gotas de ti Na menina que brinca a teu lado.

Um dia, Sentado numa pedra, Imaginei-te vivo Enquanto te fitava, E, com carinho, te acenei.

O que sentiste Quando mãos em concha, Com sofreguidão, Retiraram-te porções, Para que a sede fosse extinta.

Serenamente, Aguardei tua resposta. Mas ias de encontro às pedras, Como se lançam os amantes, Veementes em seu desejo.

O que pensaste Do prazer que cedes, sem custo, Aos corpos que lavas, Impregnados, ainda, Das seivas e cheiros do amor.

Ver-me, Em tal tarefa empenhado, Era-te impossível, Assim entendi. E, levantando-me, sorri.

Ao me afastar, Para que tua presença se prolongasse, Passei a caminhar de costas, Olhando-te com doçura: Queria que ficasses em mim.

Imaginei-te Ao correr em outro trecho, Quando é quase plano o teu leito. Quem sabe, Não te empenhas em tarefas.

Hoje, Ao ver tua imagem, Nos teus meandros e quedas, Senti muito forte a tua falta. E, de saudade, transbordei.

Caderno literário

Manhã serena Inaldo Tenório de Moura Cavalcanti

120

Manhã serena de um dia qualquer Havia indecisão, Homem fraco Nuvens encabuladas, indormidas Vagavam indefinidamente, Mendigos errantes Indiferentes à paz plantada Como árvore boa, Sombra e ar fresco Nas intermitências do sol.

Passos largos, ora curtos, vagueiam Estrelas errantes, Filhos pródigos De uma terra santa, Qualquer mãe pura, Areia e água Virgindade lúgubre à propiciação Da flora, flor murcha Etérea desventura Da aridez mórbida da devastação

O caminhar era seguro, Passos firmes, Sol límpido Bravura contida no corpo Do ser estruturado, Água morna À decisão da raiz à folha Ética e educação, Estação própria Tempo certo construído na demora.

Longe é um caminho sempre gasto Nuvens ralas, Sapato furado E os pés calos grossos no espelho Sol no meio dia, Suor e desmaio A enfraquecer a temperança da Manobra ideológica, Luz e som No imaginário poético do estômago.

A vida passeia entre veias, Templos, arbustos Memória e chuva fina Passos velhos e terra firme A construírem a história, Muros e grades Corpo e idéia na fina flor Da idade de pedra, Rocha e esquecimento Na corrente abstrata da rota.

Noite densa quebra o homem, Espelho e memória, Lâmina aguda A cortar as horas no descanso Dos olhos poucos, Frente e verso No esquecimento das cores, Abismo e caos Poço fundo Miséria e escombro a esconder o rosto.

Caderno literário

Não há mata Deo Sant´Anna

Luz, cores, sons, formas, Tudo, em formas de beleza. A natureza se traduz! O sol, imensa fogueira! Que nos aquece e distante Nos raios que irradia Nos manda nos raios de luz! Vida em tantas formas, Que em outras se transformam Perpetuam-se e se recriam! E se fia nos tênues quanta de luz! Quais lábios que se beijam Em frenesi, com desejos, Olhos dilatam-se, coração dispara! Arrepios de pele e pelo. Toques, túmidos seios, Viola violinos, batuques, Arroios, rios, cachoeira, cascatas. Bater de asas, Pios, Gritos e sussurro, Todos os sons murmuram! Amor! Fluxo, reflexo e refluxo, Núcleo e nexo! Da natureza em flor! É assim a natureza Solidária, bela, grata, E de graça, eterna! Quando a humanidade não se cega! E a cegueira do lucro não a mata!

121

Caderno literário

Santo do pau oco José Nedel

É, como sempre foi, da história humana Enganar outros muito, nunca pouco. A própria igreja, vira e mexe, engana Com o esfíngico santo do pau oco.

122

Caderno literário

Ar Sandra Veroneze

Ar ar: sou eu Ar água: estou com você Ar fogo: nos fundimos Ar terra: nos enterramos É florescer ou morrer

123

e r v i l a eT m

Caderno literário

Sem título Laura Guerra

O minúsculo orifício da sua orelha atiça-me tanto quanto seus olhos de amêndoa. Cada poro, cada pelo, toda célula morta. Qualquer parte de você idolatro, tal qual a beleza perfeita do mais puro mármore esculpido. Cada sim, cada não. toda articulação. Qualquer esgar, sorrir, futuros espasmos, lágrimas e suores. Mínimos cederes, repetidas recusas. Para sempre. Nunca. Mesmo que só em parte. TODA.

125

Caderno literário

Um poeta arrependido Marcelo de Moraes Belini

O poeta se arrependeu de um dia ter vivido, Se arrependeu dos caminhos traçados e também daqueles nunca antes percorridos. O poeta se arrependeu de tudo aquilo que escreveu, Dos sonhos que sonhou, da felicidade que negou e das lágrimas que escondeu. Um poeta arrependido não pode mais ser poeta, Não pode ser sábio, não pode ser filósofo, nem pode ser profeta. Ó grande poeta, qual seria o motivo do teu arrependimento? Paixões? Lutos? Ou por esta vida descontentamento? Sei que em tua mente colidem milhares de universos, Mas creio que todo este arrependimento, seja apenas motivo para mais alguns versos.

126

Caderno literário

Sobre amor e ilusão Manoel Guedes de Almeida Depois de um tempo você percebe, sei que percebe, Que o amor não é absolutamente nada do que você achou que o fosse, Que as músicas eram só co-incidências E os olhares somente ilusão. Percebe que amor é pura necessidade fisiológica E que tateara na vida como um cego no escuro, perdido, sem direção. Percebe que o que é sensível ao tato não é amor, Pois o amor não pode ser sentido com o sentido do toque. Então, se lembrares que um dia ouvira "te amo muito e pra sempre!" Esqueça..., Não se pode medir o que mesmo com a imaginação não se pode conter; Mas você percebe, sei que percebe. Que aceno com a mão não é flecha de cupido, Que quando alguém lhe diz, [e várias vezes dirão, "Eu te amo", como se fosse "bom dia", Percebe que "eu te amo" quis dizer exatamente "bom dia", Mais nada. Porque se se é Amor, Não há tempo que o prenda ou restrinja. Não se ama por uma noite ou final de semana, ou mesmo por anos... Só se é amor se se for pra sempre. Mas você já sabia disso.

127

sabia que as pessoas mentem pra lhe DEIXAR feliz, E se não há nada que lhe deixe mais feliz Que alguém que te ame de verdade, Se você não tem nenhum hobby, Não joga bola, não faz caminhada, Não assiste a peladas..., Não se desespere (muito) Existem várias formas praticamente indolores de suicídio Que lhe serão bastante úteis adiante, Quando tu vires que toda a tua vida Não passou da realidade. Perceberás então que Amor não se escreve em cartas E não se lê em livros, não se faz no ato nem exala das cenas de amor dos filmes Quando se livrares do amor-moeda que suborna o mundo e perceberes que flores não pagam sorrisos, que castrar plantas não é nada romântico E que romance é apenas fantasia da hello kitty, que "...não há príncipes ou princesas, nem cavalos brancos..." ..............[no máximo um jegue e uma espada de plástico, Pode ser que nesse momento, se ainda respirares ou fores inda humano, Você sinta, se é que sente, [e não perceba ou entenda Sem fantasias de carnaval ou imãs de geladeira, O que de fato é Amor sem fim..

Caderno literário

Extenue Orquídia Negra

128

Carrego no corpo, hoje, o peso da rigidez cadavérica daqueles que nunca amaram ou nunca foram amados eu não fui, se fui, tão pouco foi que pouco ou nada senti fiquei ali embalando minha ausência de sentimentos sem fúria numa rede puída Total inércia de interagir sei amar ao menos, pensei que sabia, quando adotei um animal de rua ele tanto quanto eu dele queria um tanto de mim diziam que preenchia os espaços que a gente tinha vazios, Mas ele e eu queríamos tanto quanto tantos querem sem dar Assim como o corpo, também o coração Meus olhos secaram de lágrimas e, desconfio que até minha alma partiu para longe das vistas humanas e por falar em vistas das minhas

uma apagou e o alcance da que restou não vislumbra o horizonte desaprendi a olhar para frente acostumei-me a olhar para os pés e o umbigo Mas hoje, olho para cima deitado aqui nesta mesa fria do necrotério pois deitado estou, deitado para sempre ficarei até que tudo apague desapareça consumido pelo ar e pelos vermes e eu volte a ser o que sempre fui matéria orgânica e energia aí pode ser que eu reascenda volte do céu numa grande explosão provocada acima da cabeça dos humanos como o faz a chuva de fogos de artifício e eu me caia, leve, sobre o corpo de cada um daqueles que não amaram talvez eu os cure da insensibilidade ou ainda, como energia renovada eu os contamine com um novo vírus o vírus do amar o outro como a si mesmo

Caderno literário

Cântaro das minhas náuseas Viegas Fernandes da Costa

carrego calçados furados, meias furadas e um monte de pedras nos bolsos aos olhos, tantas estradas e os rastros do passado carrego a desventura do sonho como meu bem mais precioso às mãos, apenas a atrofia e as infinitas possibilidades do vazio carrego meus ossos, meus órgãos, meus medos no cântaro das minhas náuseas - mas já não tenho certezas fecharam-se as portas das minhas igrejas meus santos, descobri-os de gesso e suspiro órfão às margens do Vale!

pudera cantar minhas certezas profanar meu sudário e imprimir-lhe a marca que desejasse parir glórias, pintar vitórias pudera escalar pedras, fossas abissais caminhar descalço nos caminhos que sempre sonhei marcar a fogo as leis da humanidade mas vazaram-se os olhos da terra entortaram-se os pés recolheram-se os dedos das mãos e assim, fetal, recolho-me ao princípio onde ainda se é possível o desejo e a história.

129

Caderno literário

Caminhos da amizade Carlos Roberto Pina de Carvalho

Quando eu seguir nos caminhos da amizade Levarei vocês comigo Sentirei o carinho de sempre E minhas orações serão para o futuro Que virá para todos. E quando eu já for longe... Na minha memória estarão guardados Todos os momentos que juntos passamos. Amigos insubstituíveis, Amigos verdadeiros Que me ensinaram Lições de amor e solidariedade. Escreverei poemas de paz e amizade E quando no céu estrelas brilharem No meu coração tudo será saudade!

130

Caderno literário

Capítulos finais Lucas Marques Borges

Tomo-me em copos de plástico Em cores de elástico de teus cantos, Curvas instigadas por flores em seu colo. Tua boca que me chama para seus mais íntimos mantos. O gosto de teu corpo que despreza todos os meus encantos. Tantos santos loucos em prantos que sobem aos céu. Olhos de fel que querem me furar. Palavras sem propriedade, Privadas de compreensão. Nessa nossa confusão de fundir teu prefácio com meus capítulos finais Tomei-me para desprezar Teu gosto no copo. E já que agora restam minhas palavras “etanolicas”, Suicidei todo meu encanto.

131

Caderno literário

Obedecendo o Tal Desejo Bruno Vargas Sim, é verdade que a busca era uma mentira Ronaldo sabia desde o início, mas não hesitou em ir E ele sabia onde iria acabar se não fosse Rapaz pobre mas não inocente Ele me disse: Sou um cowboy muito louco. Eu disse: É somente louco, isso sim. Você não é cowboy. Ele não sabia o que era nem eu. Saímos para tomar um drink, ventava muito Ele me disse: Magoei minha garota ontem. A chamei de vaca. Sim, era um cowboy muito louco

132

Caderno literário

Consciência Vanessa Soares

Seja transparente como a água, para que os outros possam ver o quanto a sua alma é grandiosa. Seja sempre você, mesmo que isso não agrade a todos. Viva intensamente o seu presente, torne seu passado uma doce lembrança mesmo que ele tenha sido amargo, e nunca se esqueça de pensar em seu futuro, procure plantar boas sementes para que mais tarde você venha colher bons frutos. Se por um acaso você encontrar uma barreira em seu caminho que te faça cair, não se envergonhe e muito menos desista, levante-se e siga em frente e lembrese de que você não foi o primeiro e muito menos será o ultimo a cair, isso faz parte da vida. Lute por seus objetivos e conquiste-os com seus próprios méritos e não à custa de alguém, em hipótese nenhuma deseje para os outros, o que não quer para si mesmo, abra mão da felicidade que foi conquistada através da infelicidade de alguém, com suas atitudes busque sua própria felicidade sem ter que ferir ninguém, todos nós somos capazes de conquistar nossa felicidade. A vida não é fácil ser vivida, mas se tivermos a consciência de que nossas atitudes que constrói nosso futuro, com toda certeza será muito fácil se viver.

133

Caderno literário

Paixão Lin Quintino Sobre a mesa de vidro, um copo de vinho descansa. Lá dentro, em vermelho encarnado uma gota de sangue colhida do coração repousa. Uma lágrima que me escorre dos olhos Traz saudade de longe. Uma fresta na memória guarda um pedaço de lembrança minúscula chama que acende o coração e incendeia o peito. Tudo tão simples A paixão veio à minha casa Apaixonar-me

134

Caderno literário

Nichos intranquilos Norbert Heinz

135

Passos cambaleantes sobre a areia úmida e gelada Desespero mórbido a espera do amanhecer que não existirá Olhar voltado para trás a espera de um choro de saudade Mas nada... Não há nada... Somente passos cambaleantes... Gosto de álcool na boca Passos solitários sobre a areia sem cor, sem brilho... Uma pausa para a última reflexão Uma chance de voltar atrás... Uma vida em replay Um conto de fadas sem princesas ou donzelas à espera de um príncipe Uma vida cinza Tantos sonhos em vão! Tantos sentimentos condenados ao exílio! Novamente o olhar voltado para trás a espera de um choro de saudade Mas nada... Não há nada... Somente o barulho sinfônico de um mar revolto Passos apressados sobre a água fria e agitada Dor e remorso dilacerando os nervos Medo... Solidão... Um corpo ao mar recusando a própria vida Pouco a pouco sem sentidos... Pouco a pouco... Um vento inconformado sopra uma onda de fúria e esperança Um corpo quase sem vida na areia úmida e gelada Pouco a pouco revivendo... Pouco a pouco... Passos cambaleantes... Pensamentos desorientados... Olhar voltado para trás a espera de um choro de saudade Mas nada... Não há nada... Ainda assim, passos cambaleantes mudam de direção... Inconscientemente voltam atrás... E aquela vida cinza e perturbada Aliviada sorri... Sorri... Sorri...

Caderno literário

Na dor cruel de um amor findo D´Anton Medrado Estou no lado avesso do mundo É muito fácil me encontrar Estou inserido no pior lugar Como indigente no submundo E quando o mundo seus restos esgota Eu sorvo neles meu alimento Nunca dispenso qualquer tormento Vivo no vômito que a tudo embota Eu me encontro no lado avesso Do mundo lindo que tu conheces Na dor cruel que tu não padeces Eu brinco como um velho travesso Destoo de tudo o que soa lindo Como um menino sem doce eu sou Pênsil no gume de adaga estou E na dor cruel de um amor findo.

136

Caderno literário

Desejos Michel Cuzmovas Perlin Beije-me, beije-me, beije-me, Puxe os meus lábios para baixo, Deixe o gosto de seu corpo em minha boca, Sempre desejei que fosse assim. Deslize suas mãos em meu rosto, Não pare, não pare, não pare, Mastigue meu corpo, eu preciso de você, Sempre desejei que fosse assim. Leve-me ao paraíso desconhecido, Quero sentir o cheiro da sua carne jovem, Deixe o tempo escorregar pelos nossos dedos, Sempre desejei que fosse assim. Sua língua provoca alucinações, Estamos hipnotizados pelos nossos desejos, Sonhando acordados, bem acordados, Sempre desejei que fosse assim. Ame-me, ame-me, ame-me, Sugue o meu corpo inteiro, Seu olhar é cada vez mais faminto, Sempre desejei que fosse assim. Possua-me, possua-me, possua-me, Sinto-me como um animal uivando por dentro, Ficando cada vez mais selvagem, Sempre desejei que fosse assim. Minha pele pede por mais, Mais, mais, mais, mais, mais, E nunca me deixe partir, Sempre desejei que fosse assim.

137

Caderno literário

Atitude Rodrigo Capella

Rimar faz mal, coitado do poeta, que por qualquer razão, quer ligar, rimar, juntar. Prefiro versos soltos, pequenos e grandes, cheios de gentes, cantantes, falantes, antes. Porra! O que eu faço? versos e rimas, narro fatos. Reflito o momento, comento, assuntos assim, não vejo essência, em fazer versos pra mim.

138

Caderno literário

Imprevisto Tereza Carrera

Por que chegastes de surpresa em minha vida, Devassando intimidades, despertando um ciúme Que há tempos dormitava distraído? Por que acordastes a fêmea que dormia Esquecida dos mais humanos desejos?! Como o sol no equinócio aclarou os meus dias, E povoou as noites com lindas fantasias... Confundiu a minha mente depois, desaparece, Deixando em meu olhar as lágrimas de saudade Que eu já não previa chorar. Trouxestes nuvens de incerteza ao meu coração, E suspeitas difíceis de dissipar. Excitou um cio fora do tempo Que me faz tecer encontros inusitados. Ah! Esse sentimento imprevisto, Esse amor maduro fora de hora Trouxe uma saudade tamanha e dolorida, Nos dias que tu não vens.

139

Caderno literário

Como tu e eu Elisabete Antunes

Como tu e eu Amamos as pedras dos rios Como tu e eu Amamos todas as anémonas do mar Como tu e eu Amamos o vento e o sol a cantar Como tu e eu amamos a terra e os estios Como tu e eu nos amamos por dentro AMOR Só o amor nos pode dizer...

140

Caderno literário

Ru(g)as Abílio Pacheco

Flanarei pela ‘existência’ da cidade por sobre as águas (nunca mais pelas calçadas, hoje submersas nas ruas) sobre a vida que sua da pele dos meus poucos tantos anos. Já nem flano mais (com o coração exilado de mim) por entre os transeuntes. Talvez eu é que não exista (nem resista) nesta cidade, nesta praça (quem sabe noutra praça doutra cidade), como este vão entre as pessoas nos bancos, este vão do canudo num copo de guaraná.

140

O D A V R E S E R O Ç A A P I S S E E O P A U S A R A P Você se inspira, concentra, transpira e escreve! Depois envia para o email [email protected]

Related Documents