Bikinis Do Brasil

  • November 2019
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BIKINISD BRASIL TÊXTIL, UM GIGANTE DESCONHECIDO

Um Sector totalmente orientado para o mercado interno, seguro, num País de dimensões continentais, quase exclusivamente concentrado no algodão (tanto nos têxteis como nas confecções), com aglomerados industriais de grandes dimensões (Hering, Santista etc.), empresas com volumes de negócios que superam largamente a barreira dos 100 milhões de Euros, habituadas a “cavalgar” numa economia incerta, de altos índices de inflação. Um sector feito também de médias empresas e muitos milhares de pequenas empresas familiares, cerca de 30 mil no total. Nos anos 90, abanadas por sucessivas crises, apoiadas por uma associação dinâmica (a ABIT, a principal agremiação do sector têxtil brasileiro) e animados pelo sucesso do Plano Real – um plano que recolocou uma certa racionalidade na economia afastando o fantasma da hiper-inflação – liderado por Fernando Henrique Cardoso (assim catapultado para a Presidência da República), as empresas brasileiras puderam investir na modernização da sua estrutura produtiva (números oficiais estimam o investimento na ordem de 9 biliões de Dólares). Em paralelo, houve um maior vigor no desenvolvimento das marcas, criaram-se outras novas, e nasceram as ‘Fashion Weeks’ em São Paulo e também no Rio de Janeiro, e o Brasil passou a entoar a voz de “presente” na restrita lista da chamada moda internacional. Durante a maior parte da década de 90, todo esse esforço continuou a ser exclusivamente dirigido ao mercado interno (com 187 milhões de habitantes), e que nesses anos, graças aos benefícios do Plano Real, conseguiram integrar milhões de “novos” consumidores no mercado, pessoas até esse momento, praticamente à margem do mercado de consumo, porque com os efeitos da hiper-inflação, que corroíam os já baixos salários, a nada mais podiam aspirar do que à subsistência. Essa é uma das principais razões pela qual o Brasil permanece como um gigante relativamente desconhecido no têxtil internacional (as estatísticas colocam-no como 6º produtor têxtil mundial, 3º no ranking em sectores como o da malha de algodão, e com mais de 1,5 milhões de trabalhadores nos sectores têxtil e da confecção - tanto quanto em toda a Europa), com excepção para os seus vizinhos do Mercosul, destino fundamental (embora os EUA também o seja, e a Europa para alguns sub-sectores) dum volume de exportações ainda pequeno quando comparado com a dimensão da

indústria e a grande estrutura de algumas das suas empresas.

A ITV (Indústria Têxtil e do Vestuário) brasileira produz 21 biliões de Euros, um número idêntico à soma das indústrias de Espanha e Portugal; 45% mais do que realiza a ITV francesa; ou ainda 50% do volume de negócios que realiza a ITV mais importante da Europa, ou seja, a italiana. O MITO: A SENSUALIDADE BRASILEIRA Brasil é um mundo, não somente pela extensão do seu território e pelos mais de 187 milhões de pessoas que o habitam, mas sobretudo pelo ‘melting-pot’ de raças, que se misturam há 500 anos inventando um País que é, em numerosos aspectos, absolutamente incomparável. Gilberto Freyre, talvez o mais célebre dos seus antropólogos (é recente o centenário do seu nascimento), foi o primeiro a atribuir a natural sensualidade brasileira à mestiçagem de índios, africanos e portugueses (e depois outros europeus), procurando mostrar através da sua obra que a miscigenação, historicamente vista como sinal de subdesenvolvimento, é, pelo contrário, um tesouro. O fim da ditadura militar, em 1985 (regime que durou 21 anos), supôs um impulso à revalorização das raízes africanas, que são a parte dessa miscigenação que traz o ritmo, a exuberância e a cor, que todos consideramos as principais senhas de identidade brasileiras. A sensualidade que os brasileiros consideram, com orgulho, parte da sua identidade, tem, no Brasil moderno, uma das suas expressões no culto ao corpo que, sendo verdade que é um fenómeno omnipresente em todo o Ocidente, adquire no Brasil um carácter extraordinário. A influência mediática do ‘lifestyle’ carioca (do Rio de Janeiro), onde a “cultura do corpo” assume um lugar central nas relações sociais, propagou-se por todo o país.

INSIDE OUT OS BIKINIS SÃO PARA O BRASIL O QUE OS JEANS SÃO PARA A AMÉRICA. MUITO MAIS DO QUE UM PRODUTO SÃO TAMBÉM UM ÍCONE, A PEÇA DE VESTUÁRIO QUE MELHOR SINTETIZA O CARÁCTER DO PAÍS. MAS, ALÉM DISSO, SÃO A PONTA DE LANÇA PARA O RECONHECIMENTO INTERNACIONAL DA INDÚSTRIA BRASILEIRA DA MODA. CHICK INTIMATE CULT PREPAROU ESTA REPORTAGEM, NA QUAL SE COMBINA A EXPLICAÇÃO DO MERCADO E OS SEUS PRINCIPAIS ACTORES, OS HÁBITOS DE CONSUMO E DA MODA, COM OS MITOS E FENÓMENOS SÓCIO-CULTURAIS QUE TRANSFORMAM ESTE GRANDE PAÍS, TALVEZ, NO ÚNICO ‘TREND SETTER’ ENTRE OS PAÍSES FORA DA ÓRBITA EUROPA-EUA.

OBRASIL Ter um ‘bum bum’ perfeito é uma antiga obsessão nacional – os pedidos de implantes de silicone nos glúteos são comuns –, hoje vê-se complementada com a ambição de ter seios proeminentes que nunca caracterizaram as mulheres brasileiras: em dez anos a aplicação de próteses de silicone que era, em média, de 120 a 180 mililitros passou para 160 a 220 mililitros. A morfologia típica da brasileira, de busto pequeno e ancas largas, vai passando gradualmente para a história. Corpos não só cultivados como também autenticamente esculpidos conquistam o protagonismo nos média de todo o mundo que mostram o Carnaval carioca ou a



imagem das praias, onde em vez dos coqueiros e palmeiras, mostradas por caribenhos e antilhanos na sua promoção turística, encontramos eternas garotas de Ipanema. A “beleza nacional”, natural ou conquistada, converte-se em “identidade nacional”, na imagem forte do Brasil no mundo. BRASIL MARCA O Brasil entra no selecto grupo de nações que pode merecer a definição de “País-Marca”. Muitos querem, tentam, mas não conseguem. Hoje, para ser-se marca são seguramente indispensáveis três elementos: estilo e personalidade, dimensão e, porque não, uma ponta de extravagância, que o Brasil inquestionavelmente tem.

Um exemplo: Há menos de um ano, foi inaugurado, em São Paulo, um grande espaço’ de 20.000 m2 inteiramente dedicado às marcas de luxo chamado Daslu4. Uma das fundadoras, Eliana Tranchesi, afirma que se inspirou, em termos arquitectónicos, na embaixada italiana em Berlim. Na Daslu só se entra de automóvel ou de helicóptero (dispõe dum heliporto), e as compras, desde um fato Chanel ou Gucci, a um jeans Dolce & Gabbana, uma caixinha de Moet Chandon, ou um aparelho da Bang & Olufsen, chegam à garagem num tapete rolante como nos aeroportos. Para movimentar-se duma ponta à outra dentro do espaço comercial não são precisos esforços: carrinhos, como aqueles usados nos ‘greens’ de golfe, estão à disposição dos clientes. E, num dia de sorte, pode-se cruzar com a Paris Hilton, que inseriu a Daslu na “tournée” de apresentação do seu novo perfume. A abertura deste espaço não passou inadvertida à imprensa internacional. O que talvez sim tenha passado é o facto da Daslu ter sido construída ao lado duma pequena favela chamada pomposamente de Coliseu, pelo que não faltou quem defrontasse a sociedade ‘chic’ perante cálculos ‘choc’: com a soma da renda mensal dos cerca de 150 habitantes da favela Coliseu (uns 4.100 Euros5) estes poderiam comprar na Daslu nada mais do que dois pares de jeans Dolce & Gabbana, que são vendidos por cerca de 1.800 Euros. Se, por um momento, deixarmos de lado os

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Pode parecer incrível, mas as mulheres brasileiras são, depois das japonesas, as mais insatisfeitas com o próprio corpo2. O que fazer? O bisturi aparece como solução. O Brasil surge em segundo lugar do ranking mundial de cirurgias plásticas (liderado pelas americanas), calculando-se que 7% das brasileiras já se submeteu pelo menos uma vez a uma, enquanto 50% consideram a possibilidade ou sonham poder fazê-lo3. Neste último ano diz-se terem sido realizadas 800.000 intervenções, e apesar do Brasil ser uma espécie de Meca da especialidade (Pitanguy e os seus “discípulos” recebem pacientes de todo o mundo), são de facto as brasileiras que engordam a lista. Em Janeiro e Fevereiro, antes do Carnaval, é frequente ouvir-se na comunicação social que esgotaram os stocks de silicone.



A SENSUALIDADE DA MULHER BRASILEIRA É HOJE, SEM SOMBRA DE DÚVIDA, UMA TRADUÇÃO DA FEMINILIDADE DESTE NOVO MILÉNIO, E FAZER ROUPA PARA ESTA MULHER ACABA POR ENCANTAR O MUNDO” AMIR SLAMA, ROSA CHÁ.

CHICK

«Esses trajes de banho têm o paradoxo de ter trazido uma maior liberdade ao corpo, ao mesmo tempo que trazem um maior controle social sobre os corpos desnudados»1. O corpo nu deve ser livre de gordura, flacidez para ser “decente”, pois “indecente” é o corpo fora de forma. A resposta são a cultura da “malhação” e da cirurgia estética.

INSIDE OUT

exercícios de falso moralismo, pode-se dizer que naquele contexto a Daslu não deixa de ser uma enorme extravagância, a irónica e inquietante realidade da nossa modernidade. Além de extravagante e por vezes exagerado, como se de uma ‘pop-star’ se tratasse, o Brasil tem o terceiro ingrediente, o mais apetecido para fazer-se marca hoje. É o ‘sex-appeal’, a soma da sensualidade, tolerância e facilidade com que se relaciona esse povo. O ‘lifestyle’ associado ao Brasil vende, tendo como embaixadores desde o amarelo da “canarinha” (o futebol) até Carlinhos Brown que arrasta multidões com a sua folia em Paris ou Barcelona. O Brasil já era ‘trend-setter’ antes mesmo dos profissionais brasileiros do mundo da moda começarem a pensar em como explorar esse facto para vender os seus produtos ao mundo. DEPOIS DO ‘BOOM’ DE ESTILO, SERÁ O ‘BOOM’ DAS MARCAS? Durante toda a década de 1990 até hoje, para europeus e americanos, o Brasil foi um grande baú onde foram buscar as modelos, pois só o Brasil pode ter uma “alemã” ou “italiana” (Gisele Bundchen, Mariana Weickert, Isabelli Fontana, Carol Trentini, etc.) com ‘ginga’ brasileira e ambição para enfrentar os sacrifícios da profissão. Os criadores de moda internacionais também encontraram alguns dos elementos que são hoje estilisticamente fundamentais no ‘jeanswear’ e no ‘beachwear’: as cintas descidas das calças; a modelagem dos bikinis, cujo reflexo no ‘underwear’ é mais do que evidente, vejam-se os cortes de slip mais cavados, as tangas e shorts de cinta descida. Logicamente, também encontraram contínuos motivos de inspiração na exuberância das cores, na natureza, nos sons, na miscigenação das raças e contrastes. Foram as marcas da Alta Moda que apresentaram “o Brasil” às passerelles, de Gucci a Dolce & Gabbana ou Dior, adaptando elementos da iconografia e estilos a seu bel-prazer; depois as marcas europeias de gama alta seguiram o trilho, e por fim as cadeias de grande consumo. Quando as empresas brasileiras começaram a abordar seriamente o mercado internacional depararam-se com duas realidades: a primeira, e boa notícia, é que o Brasil, ou, mais precisamente, a parte do seu ‘lifestyle’ que chega à Europa (não isento de tópicos) está de moda. Com intermitências no fulgor, nuns anos mais e noutros menos, volta ciclicamente à ribalta. A generalidade dos profissionais brasileiros do sector da moda identificam o ‘beachwear’ e o ‘jeanswear’ como os dois sectores onde as marcas brasileiras poderão ter maiores oportunidades no futuro, porque neles o seu ‘mood’ é uma referência natural. Dizem que um mostruário de ‘beachwear’ brasileiro sempre encontra um comprador disposto a que lhe seja mostrado. A segunda notícia não é tão boa porque entretanto o mundo apropriou-se dum estilo que os brasileiros consideravam como seu. Nos corredores da última edição de Lyon Mode City exibiram-se produtos de 480 marcas de Moda Balnear, sendo uma trintena delas brasileiras. Mas em Lyon havia muito mais Brasil do que aquele representado pelas marcas brasileiras. Muitas dezenas de marcas europeias incorporam como padrão a exuberância da cor, os cortes cavados e reduzidos, as tangas, os tops “cortininha” (soutien em forma triangular onde a parte inferior da copa é regulável - recordando o efeito duma cortina) ou triangulares de dimensões mínimas, isto para não contar com as marcas europeias que introduzem o nome Brasil, ou têm um nome “abrasileirado”6, tal como noutros sectores da moda é frequente a inspiração francesa e italiana para dar o nome às marcas. Em síntese, dentro do seu estilo os brasileiros têm que concorrer não apenas entre si, como também com marcas internacionais que o interpretam e adaptam ao gosto de cada mercado. Vale a pena também analisar alguns números7 para compreender o que está a acontecer neste momento: 1. O crescimento das exportações brasileiras de moda balnear, duplicou em número de peças exportadas em 2003, em relação a 2002 (passou de 3 a 6,4 milhões de unidades). Em 2004 o crescimento abrandou sensivelmente (+8%).

2. Os números revelam o seu melhor lado no que se refere aos preços de exportação, crescendo mais de 50% em 2004 em relação ao ano anterior. Os “modestos” 8% de crescimento em número de peças representam na realidade um aumento de 65% no valor das exportações. 3. A produção (em unidades) cresce, porém, a um ritmo bem mais modesto: 2,5% em 2004 em relação ao ano anterior. Assim como o consumo interno no mesmo período, 1,7%, ainda que em valor calcula-se que supere os 15%. 4. Quando comparado com os maiores produtores europeus, o Brasil exporta menos 20% do que a Espanha em número de peças, e menos de metade em valor. Em relação à Itália, o Brasil exporta cerca da metade das peças, produzindo um quinto do valor que os italianos. 5. O mercado interno calcula-se em 1400 milhões de Euros. Quase o dobro do italiano, que vale cerca de 750 milhões de Euros. Quase o triplo do espanhol, que vale cerca de 550 milhões de Euros. E três vezes e meia o francês, que vale uns 400 milhões de euros. O mercado brasileiro continuará, previsivelmente, cativo das marcas locais, sem grandes pressões nos segmentos médio, médio-alto e inclusive o alto, onde a penetração de marcas europeias só poderia dar-se no segmento de alta moda, e, talvez, nalgumas faixas de produtos estruturados, em ambos os casos, com volumes moderados. Actualmente, as exportações de ‘beachwear’ europeu para o Brasil são insignificantes: as estatísticas cifram 9.000 unidades, vendidas, em média, por menos de e5 a unidade. Ou seja, um mercado que ainda não existe, hoje, para os europeus, nem sequer nas gamas altas. Nos segmentos mais baixos os brasileiros temem a penetração dos têxteis chineses no seu mercado; da mesma forma que a China não dá muitas esperanças ao Brasil para tornar-se um “actor” de primeiro plano como exportador de grandes volumes. As marcas brasileiras que se estão a impor internacionalmente, e aquelas que se irão impor no futuro, precisam dos mesmos ingredientes que as marcas doutras partes do mundo: ou um nível criativo e de diferenciação do produto realmente excepcional que lhes permita captar a atenção dos distribuidores e potenciais investidores; ou recursos financeiros suficientes para sustentar um processo de expansão internacional, preferencialmente dominando a componente da distribuição. Melhor ainda, e cada vez mais importante, é a soma das duas componentes. Já o factor ou “marca Brasil” é fundamental na medida em que os contactos são ainda superficiais, como uma espécie de “aval”, que dura apenas o tempo necessário para mostrar quais são as “armas” de que se dispõe. É um impulso, não um motor. O facto é que dificilmente veremos um ‘boom’ de marcas brasileiras no mercado europeu, mas isto não invalida que o ‘beachwear’ brasileiro venha a conquistar aqui na Europa posições acordes com as potencialidades das suas principais marcas e fabricantes.

Hoje chegam do Brasil para toda a Europa cerca de 1,7 milhões de bikinis e fatos de banho. Portugal e Itália são os principais destinos, mas com matizes diferentes. Portugal é o principal importador, pois 9% das exportações brasileiras dirigem-se a um país com um mercado limitado em termos de dimensões, mas que para as marcas do país sul-americano tem outros trunfos: o primeiro é a afinidade cultural sendo mais fácil para os brasileiros encontrar um parceiro comercial, convertendo-se nalguns casos em entreposto na Europa de algumas das principais marcas, como por exemplo Rosa Chá. Mas há também aspectos relacionados com a moda: as jovens portuguesas são claras adeptas das propostas brasileiras de ‘beachwear’, e não pedem adaptações na modelagem como lhes é exigido nos EUA e noutros mercados europeus. Fazendo a equação entre as importações e a dimensão de mercado, pode-se dizer que em Portugal o ‘beachwear’ brasileiro representa cerca de 10% do consumo local. A Itália é o segundo mercado na Europa (8%); apesar de importar uma quantidade similar à de Portugal, esta dilui-se nas mais de 38 milhões de peças de ‘beachwear’ que são consumidas e que a convertem, a par da Espanha, no maior mercado europeu. Também os italianos costumam importar o ‘beachwear’ brasileiro com a modelagem original, já que para eles assume a forma dum produto de nicho (para marcar diferença) e muitas italianas, como outras mulheres mediterrânicas (gregas e francesas por exemplo), apreciam o típico corte reduzido dos modelos. A excepção, até ao momento, é a Espanha que tem, para além de marcas e uma produção local forte, gostos próprios, nalguns casos antagónicos ao estilo brasileiro como, por exemplo, a preferência (mesmo entre a maioria das jovens) por modelagens que garantam uma maior cobertura (full bottom). Mas, como mostram os depoimentos que resumimos mais adiante, as marcas brasileiras apesar de concentrarem as suas exportações europeias nos países do sul e mediterrânicos, colocam os seus produtos um pouco por todo lado. Têm marcas que exportam até para destinos aparentemente inverosímeis como a Rússia ou a Finlândia; adaptam as modelagens a mercados como o americano (que absorve um terço das exportações), e mostram uma enorme vontade de expandir-se suprindo com coragem a escassa experiência internacional (na maioria dos casos). Marcas internacionalmente conhecidas, como Rosa Chá de Amir Slama, que encontramos por preços entre e80 e e450 na sua loja de Lisboa, e em boutiques e ‘department stores’ espalhadas em vários países de Europa; ou Lenny, de Lenny Niemayer, presente na Harvey Nichol’s, ou na exclusiva Quinta do Lago, no Algarve (entre muitos outros pontos de venda na Europa), com preços de venda ao público que variam entre e80 e e200. Em gamas um pouco mais acessíveis, Salinas, Poko Pano, Água de Coco ou Cia. Marítima (do Grupo Rosset, considerado o maior fabricante de tecidos com Lycra da América Latina) estão presentes em vários mercados europeus incrementando ano após ano a sua presença e vendas.

Novas pequenas e médias empresas tentam também dar o salto, em alguns casos unidas a um consórcio em volta duma marca e imagem comum, geralmente associada fortemente à cultura duma região brasileira, como a marca Pantanal. A ABIT, conjuntamente com a APEX (agência para a promoção das exportações brasileiras) reuniu um grupo de empresas que marcou presença na última edição de Lyon Mode City, num ano em que Brasil foi, por muitas razões, notícia em França, na qual encontramos pequenos exportadores, empresas já “tarimbadas” que começam a dar os seus primeiros passos no mercado externo, os já referidos consórcios, e empresas com uma forte componente artesanal (tecidos pintados à mão, etc.). Todos, grandes e pequenos ou estilistas badalados, descobriram nestes anos que o seu principal trunfo está na reafirmação da própria cultura, ou seja a “brasilinidade” destacada noutras partes deste dossier. Se o custo da mão de obra é, naturalmente, muito competitivo quando comparado com o europeu ou americano, não o é em relação ao asiático. Permite-lhes um certo grau de competitividade nas gamas médias com artigos que chegam ao público normalmente entre e30 e e40, mas para mostrarem-se realmente concorrenciais e conseguirem diferenciarem-se as marcas brasileiras de todos os segmentos (até no private label) recorrem cada vez mais à personalização, introduzindo o elemento artesanal que agrega um valor, além de estético, cultural ao produto industrial que é o bikini ou fato de banho. As aplicações, o croché, os elementos da natureza como as sementes, a pedraria, somaram-se aos já conhecidos motivos estampados. A penetração das marcas na Europa será feita através da diferenciação e valorização dos produtos. A elevação do preço médio de exportação do ‘beachwear’ brasileiro que chega à Europa, num momento em que, em termos gerais, o nosso continente está a importar por preços mais baixos, reflecte a definição dum novo paradigma, fundado cada vez mais no valor acrescentado, fortemente centrado na componente cultural e não, unicamente, no volume e capacidade industrial.

SALINAS

CHICK 101

MAIS BRASIL NA EUROPA

INSIDE OUT

No Sul, além do estilo europeizado que caracterizamos como tipicamente paulista, existem regiões como Santa Catarina onde a cultura do ‘surf’ é muito forte, influenciando estilos, tons e tipo de estampados, que de alguma forma remetem à tribo global indo desde a Califórnia, Hawaii, ou por Florianopolis. Passando para temas práticos, onde as brasileiras compram os seus bikinis e fatos de banho, e quanto estão dispostas a pagar? Calcula-se que são vendidas no Brasil mais de 200 milhões de peças (femininas e masculinas), e que o rácio de peças adquiridas por habitante seja 60% superior ao dos países mediterrânicos que mais consomem (Itália e Espanha). Como disse David Azulay, na nossa entrevista: «no Brasil a “moda praia” é coisa séria».

O CONSUMO: ONDE E COMO COMPRAM A MODA BALNEAR OS BRASILEIROS No Brasil, com seus oito mil quilómetros de costa e oito meses de sol, o Verão é muito mais do que apenas a estação das praias e das férias. É impossível generalizar, dadas as dimensões e diversidade do Brasil (étnica, cultural e económica), mas podem ser explicadas em poucas linhas algumas das suas principais características e costumes do mercado local. Primeiro existem duas grandes formas de interpretar o ‘beachwear’ brasileiro que demarcam a sua fronteira (litoral) a partir do Rio de Janeiro. Desde as praias cariocas até o extremo litoral norte, vive-se intensamente a praia, mostra-se mais o corpo e, em termos gerais, tem-se um menor poder de compra. Preferem-se os modelos mais reduzidos, na parte de cima o chamado “cortininha” ou os triangulares sem estrutura, que em alguns casos cobrem pouco mais do que o mamilo; a parte de baixo de dimensões reduzidas e cinta descida, e o string, que os cariocas chamam de “fio dental”. Os modelos são coloridos e a aposta recai sobre os estampados que são o que personaliza realmente os modelos e onde as marcas “marcam” o próprio terreno criativo. As praias do Rio de Janeiro e do Nordeste reflectem a imagem que os europeus têm do modo como as mulheres brasileiras vivem a praia. Mesmo assim há matizes entre as praias cariocas e as nordestinas: o Rio de Janeiro é mais moderno e sensual, assume-se como trend-setter. No Nordeste vive-se a praia pela praia, ou seja duma forma mais livre, menos condicionada pelo “stress” do culto ao corpo carioca. No Sudeste e Sul do Brasil, mais concretamente a partir de São Paulo, temos uma consumidora diferente. Utilizando a linguagem irreverente e bem humorada dos brasileiros, diríamos que o seu padrão de bikini está entre aquele duma brasileira “bem comportada” e o duma europeia “atrevida”. ‘Gags’ à parte, o que acontece é que nestas regiões encontramos uma maior influência da emigração europeia que veio somar-se durante todo o século XX à dos colonizadores portugueses: são italianos, espanhóis, alemães, eslavos e também asiáticos, sobretudo japoneses e coreanos. Nas colecções pensadas para estas zonas, encontramos uma maior preocupação com a estruturação da parte de cima do bikini, com copas estruturadas, o ‘bandeau’, e na parte de baixo há o cuidado em proporcionar opções para quem quer uma maior cobertura. Nas linhas são mais frequentes os adornos, em parte porque não se destinam unicamente à praia, pois as paulistas são mais frequentadoras de clubes e piscinas. Os tons são mais sóbrios e os estampados menos exuberantes, assim como são mais frequentes os modelos lisos. O poder de compra é maior, visto encontrarmo-nos na zona mais economicamente desenvolvida do País. Como no caso do Rio de Janeiro e Nordeste, também no Sudeste e Sul existem matizes entre as várias zonas: São Paulo, como grande metrópole (mais de 20 milhões de habitantes) reúne pessoas de todas as regiões e costumes, pelo que é frequente dizer-se que em São Paulo “cabe tudo”.

Existem muitas lojas dedicadas exclusivamente à “moda praia” (‘beachwear’, complementos e algum vestuário ligeiro), e praticamente todas as marcas relevantes, têm pelo menos uma pequena cadeia de boutiques, onde comercializam as suas linhas. Existem também lojas multimarcas, dedicadas a artigos desportivos, “surf-shops” e logicamente, porque ali também não faltam, grandes superfícies como Carrefour. É consensual que o “preço psicológico”, ou seja o valor que a mulher brasileira está disposta a pagar por um bikini de marca, situase entre 25 e 30 Euros. O comércio começa pelos ambulantes, que vendem para além de produtos locais também produtos importados da China e complementos da Índia. A segmentação vai gradualmente subindo, e nos hipermercados um bikini custa cerca de 7 Euros; nas cadeias de lojas de retalho popular, como C&A e Lojas Pernambucanas sobe-se para 10 a 15 Euros. E nas boutiques situadas nos ‘shoppings centers’, que por questões de segurança transformaram-se no lugar privilegiado para as compras, encontra-se a maioria das lojas monomarcas dos principais fabricantes, que praticam preços entre os 25 até 90 Euros (nas gamas mais luxuosas). Existem lojas como a já mencionada Daslu, e algumas boutiques monomarca situadas nas zonas mais exclusivas das grandes metrópoles (como a rua Oscar Freire, em São Paulo) que vendem gamas mais caras decididamente para uma restrita minoria. Na reportagem os entrevistados afirmam que as mulheres brasileiras mostram-se dispostas a pagar proporcionalmente mais por um bom bikini do que por uma boa peça de vestuário, e nos shoppings centers é frequente encontrarmos mais do que uma loja dedicada à “moda praia” (termo brasileiro). O responsável da marca Lagoon contou-nos em entrevista uma situação limite: num shopping center no Nordeste do País contabilizou 16 pontos de venda dedicados ao sector. O Brasil tem mercado, mas também tem fabricantes e marcas empenhadas em atendê-lo: calcula-se cerca de 750 fabricantes de moda balnear espalhados por todo o território. Deixamos para o final algumas curiosidades como as diferenças de pontos de vista entre um e outro lado do Atlântico: as mulheres brasileiras, ao contrário das europeias, raramente fazem topless, pudor que para europeus parece anacrónico tendo em

Por fim, a mais relevante e talvez mais polémica entre os fabricantes: as brasileiras estão habituadas a bikinis e fato de banhos com uma malha mais grossa, e a peças forradas, o que entre nós está em desuso, salvo para as linhas modeladoras e de contenção. Argumenta-se que as brasileiras privilegiam a durabilidade (por isso preferem peças com tecidos mais grossos), e não querem que o tecido origine transparências; na realização desta reportagem alguns fabricantes brasileiros afirmaram que as europeias, preferem malhas mais finas e sem forros porque não se importam que se notem as transparências, o que talvez seja um erro de apreciação. Na realidade, também na Europa se usavam malhas em Lycra mais grossas e forros (embora em algumas linhas e marcas ainda se usem). No entanto, as recentes malhas utilizadas pelos principais fabricantes conseguem ser mais finas e ao mesmo tempo mais compactas (tecnicamente é possível com as novas gerações de fios utilizados). Deste modo, produzem-se malhas mais leves que secam mais rápido, mais resistentes à salitre e ao cloro, dispensando de forros pois não transparecem. Na Europa foram necessárias algumas estações, e a aposta das marcas de topo nestas malhas, para que as consumidoras aderissem e perdessem os receios iniciais.

BLUE MAN

ROSA CHA

AS MARCAS O SELO DA PERSONALIDADE DO CRIADOR. DAVID AZULAY E A “TRIBO GLOBAL” «Blue Man é uma marca focada numa tribo presente em todo o mundo, que agrada a mulher e ao surfista “bacana” (cool) de outros lugares do mundo». Para David Azulay «... “bacana” hoje é manter-se jovem, e não ambicionar conquistar o mundo». A diferença da Blueman está na ‘brasilinidade pop’, como ele próprio definiu. Procurando imprimir sempre essa atitude, que o catapultou para o mundo da moda, deixou a sua terra natal, no Pará (bem perto da linha do equador, no extremo norte do Brasil), para se aventurar nos finais dos anos 60 em Ipanema, trazendo como novidade o bikini jeans (hoje ícone da marca). Com um target de preços ao público entre e90 e e120 o bikini, a marca tem 21 lojas, próprias e em ‘franchising’ no Brasil, e exporta as suas linhas principalmente para Portugal, Espanha, Caribe, México, Inglaterra, EUA e Japão AMIR SLAMA E A DÉCADA DE OURO Amir Slama, criador da Rosa Chá, demonstra além da inegável criatividade que imprime na marca, uma grande capacidade para marcar a própria diferença e movimentar-se no exclusivo círculo da moda internacional. Criada em São Paulo em 1988, Rosa Chá destacou-se desde o principio pela originalidade com que combina materiais, conceitos, comunicação, gerando grande curiosidade e interesse em cada nova colecção. Visão global, fazendo emergir o melhor das suas raízes brasileiras, parece ser essa a filosofia que guia Slama. Com um ‘exploit’ invejável, Rosa Chá é talvez a marca brasileira mais conhecida a nível internacional no que se refere ao beachwear, apesar de actualmente a colecção integrar também produtos de jeanswear e lingerie. A carreira internacional começou em 1997, pela América, Los Angeles e Nova Iorque, consolidando-se a partir de 2000 com a participação nos desfiles da Mercedes Benz Fahion Week (Nova Iorque). Em 2002 dá-se a chegada à Europa, sendo Lisboa a porta de entrada, com a abertura duma primeira ‘flagship store’ que antecipou a segunda abertura internacional, desta vez em Miami. Rosa Chá, com modelos que geralmente superam os e150 nas lojas, está presente desde a Bergdorf Goodmann, em Nova Iorque, ao Harvey Nichols, em Londres, ou a

LENNY

CHICK 103

consideração as reduzidas dimensões dos bikinis que vestem. Por outro lado, as brasileiras acham absolutamente inestéticas as versões “full bottom” dos slips, preferidos nalgumas zonas da Europa e nos EUA. Outro ponto de vista divergente: para muitas brasileiras, a marca do bikini deixada pelo bronzeado é sexy. Pelo contrário, as europeias procuram equilibrar o tom das partes cobertas durante a exposição solar, recorrendo precisamente ao topless e ao ‘solarium’.

INSIDE OUT

Printemps, em Paris, para além de mais de 200 pontos de venda multimarcas em todo o mundo, que se somam às cerca de 25 lojas monomarca e cerca de meio milhar de lojas multimarcas no Brasil. Mas Amir Slama promete não ficar por aí, abrindo novas frentes na diversificação da gama e criação de novas marcas como a Sais, e novos projectos como o contrato com a Speedo para o lançamento duma linha desportiva “fashion”, ou, continuando num registo similar, em termos de marketing, a criação duma colecção Naomi Campbell by Rosa Chá. LENNY, CHIC PAULISTA COM ALMA CARIOCA A criadora Lenny Ortiz Niemeyer, paulista de origem (São Paulo), define-se com “alma” carioca (do Rio de Janeiro). É desta dicotomia, a da maior sofisticação que caracteriza São Paulo, e a sensualidade carioca “formadora de opinião” (diz), que surgem as colecções duma das marcas mais “couture” do beachwear brasileiro, que se apresenta com o nome da própria estilista. Lenny destaca-se pela elegância com que vestem os seus modelos considerando-se a marca brasileira com um estilo mais próximo do europeu, recorrendo frequentemente aos brilhos, plissados, macramés e sempre procurando ter respostas na colecção, em termos de modelagem, para os mais variados tipos de morfologia. A primeira loja Lenny surge em 1993, em Ipanema. Hoje, após dez anos no mercado e com a consagração da sua linha Beach Couture, os produtos da marca (que conta com uma vintena de lojas próprias no Brasil) podem ser encontrados em lojas multimarcas espalhadas em todo o Mundo, como Le Bon Marché (França); Sack’s (EUA); Barney’s e Harvey Nichol’s (UK); e em outros países, como Republica Dominicana, África do Sul, Argentina, Venezuela, Canadá, Portugal , Grécia, Espanha, Hong Kong e Austrália. MARCAS EM DESTAQUE: JOVENS, DIVERTIDAS, SENSUAIS. SALINAS, fundada pela estilista Jacqueline De Biasi, apresenta como principais credenciais o colorido pop, os modelos bem humorados onde a simplicidade e alegria traduzem o “astral” dum Rio de Janeiro ideal. No Brasil, Salinas é vendida actualmente em oito boutiques próprias e em onze lojas monomarca franchisadas, além de cerca de 300 pontos de venda multimarcas em todo o Brasil. Na frente externa, tanto a rede de distribuição que a Salinas possui nos EUA (onde a marca pode ser encontrada na Saks e em Victoria’s Secret), como na Europa, foram ampliadas em 2002, obtendose uma triplicação das vendas em apenas dois anos. EUA, Portugal, Espanha, Grécia e Rússia são alguns dos principais mercados.

SALINAS

POKO PANO

AGUA DE COCO

O estilo divertido da POKO PANO, de Paula Robba, começa na escolha do nome da marca, uma verdadeira declaração de intenções de quem quer encher as praias de modelos sensuais, irreverentes e divertidos. A aposta na fácil coordenação de peças de diferentes modelos, na cor e em temáticas descontraídas, fazem com que o público alvo sejam as jovens (também para as jovens de espírito...). Poko Pano está no mercado há 18 anos, e no Brasil a marca possui seis boutiques próprias, três delas em São Paulo. Além dos pontos de venda próprios, Poko Pano encontra-se em lojas multimarcas de todo o país. Em termos de mercado exterior, a marca exporta para Portugal (onde tem três lojas próprias e numerosos clientes multimarcas), Espanha, Itália, EUA, México, Chile, Bolívia, África do Sul, Austrália, Rússia e Japão. A marca ÁGUA DE COCO nasceu em 1985 na cidade de Fortaleza (no Nordeste do Brasil) criada por Liana Thomaz. Os modelos mais característicos da marca (e preferidos pelas brasileiras) são simples, com estampas coloridas, num espírito ‘pop’; outras linhas mais elaboradas em tons de terra, dourados com bordados, pedrarias e ferragens (respondendo à demanda do mercado exterior e segmentos de consumidores mais clássicos e/ou sofisticados). Actualmente, Água de Coco está presente em todo o Brasil, em mais de 250 lojas multimarcas e 13 boutiques monomarca. EUA, Canadá, Espanha, França, Alemanha, Itália, Portugal, Japão, Austrália, Porto Rico, Ilhas Virgens, Caribe, República Dominicana, México, Costa Rica e África do Sul, são alguns dos 20 países para onde a marca exporta. CIA. MARÍTIMA fundada em 1990, pertence ao Grupo Rosset que é o maior produtor de tecidos com Lycra na América do Sul. A aposta recai assim sobre o desenvolvimento de novos tecidos, técnicas de modelagem e acabamentos, acessórios que dão aos

CIA. MARITIMA

modelos um toque de exclusividade. Em 1999 o Grupo Rosset decidiu lançar a segunda marca, a Água Doce, tendo como alvo um público ainda mais jovem do que a Cia. Maritima, que apresenta um maior conteúdo em termos de moda nas suas colecções. Água Doce aposta nas combinações de cores marcantes, divertidas, no ambiente descontraído da praia. A Cia. Marítima é uma das marcas mais importantes do Brasil pela sua difusão, considerando-se a maior exportadora de bikinis do país tendo, essencialmente, os seus mercados na Europa e EUA. SOBRE ALGUNS VALORES EMERGENTES E GRUPOS CONSOLIDADOS Criada pela ex-editora de moda Amalia Spinardi, JO DE MER ambiciona dar uma nova cara ao beachwear brasileiro. Começando pela modelagem, que procura cobrir um pouco mais do corpo, ainda que procurando não abandonar o lado sensual. Os detalhes procuram imprimir um aspecto chic, por vezes luxuoso, às peças, como fivelas de strass, argolas de metal, correntezinhas boogie e pérolas. Spinardi diz «o meu bikini é limpo, sem estampas, para a cliente colocar seu estilo em acessórios». É uma marca nova, que quer primar pela exclusividade, vendida em poucos pontos de venda, mas bastante seleccionados, sobretudo em São Paulo e Rio de Janeiro, e também em Nova Iorque e Portugal.



NUM SHOPPING CENTER NO NORDESTE DO PAÍS CONTABILIZOU 16 PONTOS DE VENDA DEDICADOS AO SECTOR. O BRASIL TEM MERCADO, MAS TAMBÉM TEM FABRICANTES E MARCAS EMPENHADAS EM ATENDÊ-LO: CALCULA-SE CERCA DE 750 FABRICANTES DE MODA BALNEAR ESPALHADOS POR TODO O TERRITÓRIO



ACCALARENTIA do Rio de Janeiro, com bikinis que primam pela sua exclusividade, com detalhes artesanais que remetem à personalidade e sensualidade brasileira. A marca situa-se num segmento médio-alto (os seus bikinis são vendidos nas lojas por cerca de 40/50 Euros). Exportam para Portugal, Espanha, Itália, França e EUA. O GRUPO ÁGUIA fundado em 1937, é um dos principais fabricantes de beachwear brasileiros. Segmenta as suas colecções em cinco marcas, próprias e licenciadas, que são distribuídas em todo o Brasil. Nos segmento clássico o grupo apresenta a Águia, onde se pretende o equilíbrio entre a qualidade e os preços competitivos. E Catalina, marca da Warnaco licenciada pelo grupo, com tecidos e estampados exclusivos dirigida a mulher clássica, que se revê numa marca cuja fama remonta às décadas 50 e 60; Manvar, modelos que actualizam o clássico; Club del Sol, distribuída com exclusividade no Brasil pelo grupo, dirigida à classe alta; e Praia Brasil, que é a marca mais exportada pela empresa, na qual os seus criadores procuram fazer a síntese do melhor da criatividade brasileira, apresentando um padrão de design jovem e arrojado, que no Brasil só está disponível nas lojas franchisadas pela marca.

Para os criadores da marca “paulista” SALGAR, a liberdade de pensamento e o grande fluxo de informações que caracterizam a sociedade actual são as bases para o desenvolvimento das colecções que resultam em formas femininas, arrojadas, modernas e confortáveis. As exportações concentram-se nos EUA e em Portugal, como plataforma para expandir-se para outros países da Europa.

ACCA LARENTIA

MANVAR

CHICK 105

SALGAR

INSIDE OUT MEIO TOM

LYON MODE CITY: O BRASIL MOSTRA O SEU LADO ECLÉCTICO

A ABIT e a APEX reuniram um grupo de marcas que quiseram sentir o pulso do mercado europeu através da “quermesse” francesa da moda íntima e balnear. Convém sempre destacar que, apesar de se apresentarem no colectivo, cada empresa mostrava um perfil próprio e, inclusive, objectivos estratégicos diferentes. Pequenas empresas com produtos altamente personalizados; outras dedicadas à grande distribuição; fabricantes à procura de clientes ‘private label’; marcas de moda emergentes; consórcios regionais formados por pequenas e médias empresas. Nas próximas linhas procuramos uma sintética caracterização de cada um deles. MEIO TOM, criada em 1986, na cidade de Fortaleza (Nordeste do Brasil), onde possui quatro lojas. Em Lyon procurou mostrar o seu ponto forte, o nível criativo da sua colecção (com destaque para os trikini) e para os complementos. A marca já é exportada para a Europa (Portugal e Itália), e para alguns países da América do Sul como o Uruguai e o Peru. BIQUINI BRASIL de Sílvio e Denise Altman comercializam as suas gamas nas grandes superfícies como Carrefour, e as do Grupo Sonae no Brasil; exportam para Portugal, Espanha, França, Itália, Inglaterra, EUA, Chipre,

BIQUINI BRASIL

GAAZ BIKINIS

Grécia e América Central. Na formação das colecções procuram transmitir a riqueza do património natural do Brasil, como os estampados de frutas exóticas do Amazonas e florais inspirados na ‘vitória regia’. GAAZ BIKINIS foi criada há três anos na Bahia (Nordeste do Brasil), para se segmentar numa faixa alta de mercado (chega ao público entre 70 a 200 Euros). Apostam na tecnologia digital aplicada para a criação de estampados exclusivos; assim como na personalização extrema dos modelos. Com uma capacidade de produção de 60 mil peças/ano, somente 20% dirige-se ao mercado brasileiro (onde a Gaaz Bikinis tem quatro lojas). Os restantes 80% da produção são exportados para países como Portugal, Espanha, Alemanha, Suíça, Itália, Israel, África do Sul. PANTANAL FASHION EXPORT, criado em 1999, detentor da marca Pantanal, é um consórcio formado através da associação de seis empresas que vendem os seus produtos há mais de 10 anos no Brasil, e tem uma capacidade de produção de 600 mil peças/ano (dedicada não exclusivamente à moda balnear). Tem na cidade de Campo Grande (capital Estado de Mato Grosso do Sul, conhecido precisamente pela reserva natural dum incalculável valor ecológico) o centro de todas as operações. A marca Pantanal está fortemente ligada à cultura regional e indígena e à preservação do ambiente (parte das vendas remetem a projectos de preservação), procurando no seu estilo interpretar aquele Brasil ecologicamente exuberante e ao mesmo tempo sensual, mas afastado do cliché do Brasil do Carnaval. São usadas tintas naturais nas peças, e para valorizá-las detalhes artesanais feitos em osso de chifre de boi, ou sementes autóctonas. O consórcio vende os seus produtos fundamentalmente no Brasil, mas já exporta para países como a Alemanha França e Itália.

PANTANAL

PÊRA BRASIL

BLEND BRASIL

BRASIL SUL

ACQUAMARE

de modelagem internacional, e mostra uma clara inclinação para o mercado externo. Este ano as colecções da marca seduziram grandes retalhistas europeus como as Galerias Lafayette, La Samaritaine (em França) e o El Corte Inglês. A marca exporta para os EUA, Espanha, Itália, Portugal, Holanda, Grécia, Israel, México, França, Suíça, Alemanha, Finlândia, Dinamarca, Eslovénia, Republica Dominicana, Guatemala, Porto Rico e Uruguai. BLEND BRASIL apresentou-se em Lyon MC como um consórcio de marcas coordenadas pela entidade Sebrae do Ceará, provenientes desse Estado Brasileiro (situado no nordeste do país, e tendo como capital Fortaleza),

BLUE BRASIL

CHICK 107

MAMELUCA é uma novíssima marca criada em São Paulo, estruturada numa oficina têxtil. A aposta recai nos tecidos pintados à mão e desenhos exclusivos, e no global das colecções a maior parte das vendas continua a vir dos acessórios de praia. O sucesso inicial parece evidente, pois no último ano já exportaram para 17 países, entre os quais Portugal, Espanha, Grécia, Itália, França. A BRASIL SUL é pioneira no ‘active wear’ brasileiro, produzindo modelos para fitness, assim como o swimwear desportivo, tudo com um toque de moda brasileiro. 60% da produção (que no total é de aproximadamente 700.000 peças) destina-se para o mercado local onde, além do comércio multimarcas, possui nove pontos de venda próprios. Uns consideráveis 40% são exportados, principalmente para os EUA. Brasil Sul vai abrindo pontos de vendas próprios também fora do seu país, e na América Latina já tem sete no Mexico, dois no Paraguai, e um no Chile. Na Europa foi aberta uma loja na zona metropolitana de Lisboa. A presença em mais de 800 pontos de venda multimarcas em todo o mundo complementam a rede de distribuição internacional. Há 12 anos no mercado, ACQUAMARE, marca de origem paulista, produz bikinis com padrões e bordados exclusivos, posicionando-se num segmento médio, destina-se a um target de idades entre os 18 e 35 anos. No Brasil, além de vender os seus produtos em lojas multimarcas, Acquamare possui 16 lojas monomarca. Na PÊRA BRASIL, criada há apenas 4 anos, a aposta passa pela máxima personalização dos modelos com tecidos exclusivos, pintados à mão e utilizando técnicas de acabamento sofisticadas, o croché com Lycra usada também no macramé, além do enobrecimento das peças com complementos ou seja com pedras semi-preciosas, madeiras, conchas e penas. Pêra Brasil afirma que optou por um tipo

INSIDE OUT SUNERGY

FULÔ

CHICK 108

que é hoje o terceiro pólo mais importante em termos de produção de ‘beachwear’, no Brasil. Filha do Sol, Emanuelle, Corpo de Água e Caíupe, são marcas que têm como elo comum o trabalho manual feito sobre pinturas e bordados que caracterizam as colecções, uma aposta clara na personalização de cada modelo. As exportações têm como alvo a Europa Ocidental, EUA, Israel, alguns países do Caribe e alguns africanos (Angola, Senegal, Cabo Verde, Costa do Marfim). Firmo Gusmão, fundador da BLUE BRAZIL, quis fazer uma marca sustentada na sua longa experiência internacional, procurando unir o estilismo e capacidade de surpreender do talento brasileiro, à maleabilidade das colecções, necessária para mover-se em mercados tão diferentes como o europeu, americano e asiático (Japão), para onde a marca exporta a maioria da sua produção SUNERGY (no Brasil Sol & Energia) define-se como uma marca transversal em termos de segmentação, procurando além de manter um alto padrão de qualidade, um estilo marcante pelos detalhes artesanais, que não impede manter-se numa faixa de preços competitivos. A marca criada em 1989 está presente há nove anos no mercado internacional, em países como Itália, Alemanha, Inglaterra, Japão, Portugal, França, Espanha, Suíça, Holanda, Porto Rico, e EUA, entre outros (no total 40 países). LAGOON está no mercado desde 1995, e é procedente de Curitiba (Paraná, estado do extremo sul do país) operando no segmento de moda balnear e ‘fitness’ (com a marca KAS). Em termos de estilo tem o selo inconfundível das marcas vindas do Sul do Brasil, mais “bem-comportadas” do que as cariocas, mais elegantes, e igualmente criativas. A Lagoon está presente no centro e sul do país com lojas próprias (KAS), em algumas das principais cidades ou localidades com alto poder de compra, além dos vizinhos Paraguai e Uruguai (Punta del Este). FULÔ foi criada há apenas quatro anos, no Rio de Janeiro, com dois objectivos: ser uma marca com vocação exportadora e, em paralelo, ter uma função social. As colecções reúnem todos aqueles aspectos que se esperam do ‘beachwear’ brasileiro, estando, entre as principais apostas os bikinis elaborados em croché e com aplicações de acessórios. Fulô começou este ano a exportar para países como Suíça, Espanha (El Corte Inglés e algumas lojas nas ilhas Baleares), Inglaterra, França e Portugal. CLEO BRASIL apresentou-se em Lyon Mode City fora do espaço da ABIT/APEX, dedicado às marcas brasileiras. A marca de Vanda Guerra, durante anos designer em Nova Iorque, foi criada a pensar no mercado

CLEO BRASIL

internacional, apostando desde o inicio no e-business como canal estratégico para as vendas da marca. Em termos de estilo, destaca a afirmativa defesa do estilo genuinamente brasileiro, recorrendo nos seus estampados à inspiração da obra de artistas locais, propondo uma visão forte e sofisticada do ‘beachwear’ brasileiro. ENDEREÇOS

E CONTACTOS SOBRE AS MARCAS REFERIDAS NESTA

REPORTAGEM PODEM SER PEDIDOS A [email protected]

© CHICK INTIMATE CULT 2005

CITAÇÕES E ORIGEM DE ALGUNS DOS DADOS PUBLICADOS: 1 Citações dum texto de Cláudia da Silva Pereira, sobre o livro Brasil Nu & Vestido: dez antropólogos revelam a cultura do corpo carioca. 2 Retirado dum recente estudo divulgado pela Unilever. 3 As estatísticas sobre cirurgias estéticas provêm de textos das principais agremiações do sector 4 Na realidade trata-se da reabertura da loja numa nova localização, maior e mais luxuosa. Daslu é considerado o mais importante espaço para a venda de artigos de luxo da América do Sul. 5 Os jornais brasileiros que publicaram esses dados, chegaram a essa conclusão em função dos dados do IBGE sobre a renda do colectivo residente no “Coliseu”, comparando-a com os preços marcados na Daslu pelos jeans da marca italiana. 6 Be Brasil, Okay Brasil, Colors do Brasil, Cores do Sol, Too Hot Brazil, e um longo etcetera. 7 Os dados directos ou derivados, provém da ABIT (Brasil); SMI (Itália); Cityc (Espanha); ATP (de todos os países citados).

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