Novembro 1789 / Novembro 2009 = 220 Anos
A PRIMEIRA BASÍLICA NO MUNDO DEDICADA AO
Basílica da Estrela Erguida entre os séculos XVIII e XIX para albergar um convento das carmelitas descalças, a Basílica da Estrela engloba o Convento do Santíssimo Coração e localiza-se na freguesia lisboeta da Lapa. Em 1760, D. Maria, então princesa herdeira, fez um voto no dia do seu casamento, prometendo fundar um convento de religiosas no caso de vir a ter um filho varão, o que veio a acontecer com o nascimento de D. José, a 21 de Agosto de 1761. Este, porém, faleceu em 1788, antes da conclusão da basílica, em 1799.
O monumento é de estilo barroco e neoclássico. O convento das carmelitas descalças, de planta rectangular, tem igreja adossada em cruz latina, composta por nave cónica com coro-alto, precedida de galilé, transepto e capela-mor pouco pronunciada, ladeada por duas sacristias, que comunicam através das antecâmaras. A fachada principal é harmónica, com corpo central ligeiramente avançado, rematado em frontão triangular e torres laterais com remate em coruchéu bolboso. Possui alçados laterais circunscritos por cunhais encimados por fogaréus e remate em comida. Tem galilé profunda, com pequenos vestíbulos laterais, onde se rasgam nichos com estatuária.
O
interior é revestido a calcário de várias tonalidades, formando apainelados e elementos geométricos que dinamizam a frieza do muro, com coberturas em abóbada de lunetas. A nave possui capelas retabulares laterais, esquema difundido pelas igrejas do período pombalino, divididas por um jogo de pilastras e colunas, e capela-mor pouco profunda, iluminada directamente, cujo esquema retabular e inspirado no da Basílica de Mafra e no da Sé de Évora.
Sobre o cruzeiro, destaque-se a existência de cúpula, de estrutura semelhante a da Igreja da Mem6ria. As fachadas do convento são simétricas, a partir de um eixo central, marcado por ressalto, e por frontão decorado e proeminente. Os claustros são quadrangulares, de dois andares, tendo, em cada ala, cinco arcadas no piso inferior, com acesso pela zona central, e outros tantos vãos no superior, protegidos por guardas de cantaria. No centro, uma fonte profusamente decorada. Em torno destes, organizam-se as varias salas destinadas a vida comunitária, nomeadamente o refeitório e a Sala do Conselho.
internamente, os corredores acedem as celas das religiosas, relativamente amplas e com iluminação directa. As várias salas são decoradas por silhares de azulejo rococó e neoclássico, de composição figurativa e ornamental, tendo algumas salas decoradas com estuque e pintura mural, onde dominam as representações de cenas da vida de Cristo, de Santa Teresa e alegorias, nomeadamente Virtudes. A basílica tornou-se o panteão da sua fundadora, que ali foi sepultada. Aliás, ainda em vida, tinha no convento uma ala nobre, destinada aos seus aposentos, a qual obrigou a desobediência de determinados aspectos da regra carmelita, em função do efeito final e da magnificência do conjunto, surgindo uma mansão grandiosa, não proporcionada ao poder económico das ocupantes, cujas celas tinham janelas para o exterior, ao contrário do recomendado pela referida regra. In Portugal Eterno
A sagração da Basílica teve lugar em Novembro de 1789, numa cerimónia de pompa e circunstância, uma década após o lançamento da primeira pedra, resultado da firme vontade de D. Maria I, enquanto que o projecto de Pombal para a sua cidade iluminada se arrastaria até final do século XVIII. Como diz Nuno Saldanha no Livro de Lisboa, é uma obra sintomática de um final, do Antigo Regime e do Barroco mas reflecte o início de uma espiritualidade moderna. A Basílica foi a primeira igreja do Mundo a receber o título de lugar de culto ao Sagrado Coração sancionado por bula pontifícia, culto esse que se propagaria ao longo dos séculos seguintes.