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  • May 2020
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  • Words: 1,490
  • Pages: 8
CLC – Cultura, Língua e Comunicação Catarina Fernandes

Auto-Biografia No

ano

de

1989,

mais

especificamente dia 3 de Agosto de 1989, quando ainda governava Mário Soares, nasci eu, Carla Sofia Sousa De Oliveira Reis, no Hospital Conde Castro de Guimarães, em Cascais. Pesava 3,750kg,

media

48cm

e

era

completamente carequinha. O dia do meu nascimento deixou a minha família toda alegre, isto claro, pelo

que

sei.

Eu

fui

o

chamado

acidente de percurso, a minha mãe tinha acabado de fazer 40 anos e o meu pai também. Com o tempo fui crescendo e tornando-me numa criança, que até se pode dizer bem comportada. Tinha o vício de quando não me deixavam fazer as coisas de bater com a cabeça na parede, e agora não se sabe se pode ter sido isso a causa das crises de enxaquecas que tenho. Neste ano, pela minha mãe me conta houve algumas alterações no nosso país e no Mundo. Em Portugal, criou-se freguesias de Zambujeira do Mar e Fradelos, e ainda a freguesia do Eixo recuperou o seu estatuto de Vila. Já no Mundo, George H. W. Bush foi eleito como o 41º presidente dos Estados Unidos da América, a retirada da União Soviética do Afeganistão, a queda do Muro de Berlim, Fernando Collor de Mello é eleito presidente do Brasil e mesmo no final do ano explode a Revolução Romena de 1989. A minha infância foi completamente normal até aos meus nove anos. Aí vi-me numa situação que nunca pensei estar. Quando tinha à volta de sete anos o meu pai foi despedido do emprego e muito Carla Reis

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rapidamente encontrou outro mas teria de ir para Angola trabalhar, e foi o que ele fez. Ele vinha de 6 em 6 meses ver a família, mas já não estava o mesmo, andava frio, distante, estranho… Em 1998, meu pai veio de Angola para vir passar o meu aniversário, e voltou ainda mais estranho. Sempre agarrado ao telemóvel, por vezes saia e não dizia onde ia, não queria ninguém a fazer-lhe festas… Com isso a minha mãe começou a desconfiar do meu pai, de uma possível traição. No meu dia de anos acordei com a minha mãe e

a minha irmã a chorarem, a primeira coisa que me

ocorreu foi que a nossa cadelinha que já estava velhinha tivesse morrido, quando vi que não era isso perguntei à minha mãe o que se estava a passar, mas ela não me quis explicar e fechou a porta do quarto. Eu como era e sou uma menina muito curiosa meti-me atrás da porta e ouvi-as a falar de uma tal carta que estava na mala do meu pai, de uma mulher para ele. Nesse momento o meu pai chegou a casa, viu a minha mãe a mexer-lhe nas coisas e começaram a discutir… Os meus país não ficaram bem, mas mesmo assim fizeramme a festa de anos, mas estava um ambiente tão estranho… Os meus anos passaram-se, um mês também passou e nunca mais se ouviu aquele assunto. No dia 29 de Setembro de 1998, acordei como tantos outros, para ir para a escola. A rotina estava completamente normal, o meu pai deixou a minha mãe no trabalho, combinou com ela e comigo irmos depois de eu sair comprar a máquina de lavar loiça, e deixoume na escola. Era 13:30, esperava pelo meu pai no portão da escola, mas ele não estava, estava a minha irmã e a minha cunhada, perguntei-lhes pelo pai, se íamos comprar a máquina de lavar loiça, e elas disseram que já me explicavam, seguimos no carro até nossa casa. Quando entro em casa, tinha a minha mãe no sofá a chorar, e o meu irmão ao pé dela, perguntei pelo pai, e ele disse-me “vai ao armário Carlinha”, eu fui e as coisas do meu pai tinham desaparecido todas, perguntei “O pai voltou para Angola?” e ele “Não Carlinha o pai saiu de casa, não sabemos nada dele”. Entrei em choque não sabia o

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que fazer, minha mãe a chorar, os meus irmãos provavelmente a sentirem a mesma dor que eu… No dia a seguir, a minha mãe foi para pagar a renda da casa, e descobriu que o meu pai lhe tinha levado o dinheiro quase todo, estávamos apenas com dinheiro para a renda e sem dinheiro para o resto. A ajuda do meu irmão e o sacrifício da minha irmã em deixar os estudos, os sonhos dela, para ajudar a minha mãe foi o que nos sustentou durante algum tempo. A minha mãe também trabalhava e o dinheiro dela com o da minha irmã dava para as despesas da casa, o meu irmão dava-me todo o que necessitava para a escola (material escolar), porém com o dinheiro que tínhamos era impossível continuarmos a viver na casa onde vivíamos, por isso tivemos que nos mudar para uma casa mais barata. Nunca me faltou nada, e isso devo a eles… À minha família que se “esfolava” para nunca me faltar nada. Desde da saída do meu pai de casa, que não tive muito contacto com ele… Nunca mais quis saber de mim, telefonava-me uma vez por ano e falava comigo como nada fosse. Sei que tenho um irmão de parte de pai, mas não o conheço. Esses anos sem o meu pai foram muito complicados para mim, perdi alguém que amava e via a destruição da minha mãe sem puder fazer nada. A minha mãe era apenas uma alma que andava na Terra para não me faltar nada, ela perdeu tudo, a auto-estima, o gosto pela vida, ela amava mais o meu pai do que se amava a ela própria, foram muitos anos ao lado dele. Durante vários anos corri imensas psicólogas, mas nenhuma me tirava a dor que sentia, por isso comecei a refugiar-me nos estudos… Estava sempre a estudar, não saia com ninguém para estudar! Estava isolada… Sozinha no meu Mundo. Entretanto comecei a sentir-me mal, a desmaiar, e fui ao médico, fiz vários exames, e a minha médica de família mandou-me para o neurologista, foi aí que descobriram as minhas enxaquecas crónicas. Tive que ser seguida durante alguns anos pelo neurologista, mas ficou tudo bem, ele consegui controla-las.

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Um dia em minha casa estava a limpar o pó o meu irmão entra pela casa todo contente, e conta que a minha cunhada está grávida, ficamos todos felizes, eu ia ter um sobrinho! Mas essa alegria durou pouco tempo, logo na primeira ecografia o médico diagnosticou uma anomalia no feto, e a minha cunhada teve mesmo que abortar, levaram o feto para examinarem e viram que era um menino, era o Rodrigo. Passados uns anos a minha irmã começou a namorar, e eu não gostava nada do namorado dela, ele roubava-me a atenção que ela me dava antes. Depois de 3 anos de namoro decidiram casar, a minha cunhada já estava grávida outra vez e desta vez estava tudo bem! Era uma menina Catarina. Meses antes do casamento da minha irmã se casar ela descobre que estava grávida, acabando por adiantar a data de casamento. No dia do casamento dela, estava eu mais nervosa que ela, eu sentia as minhas pernas todas a tremer, e minha irmã ainda gozava comigo! Foi um dia lindo, ela estava linda e feliz também. No ano de 2002, em Maio nasce a Catarina e em Outubro nasce a Mariana. Duas meninas lindas. Andávamos todos babados com as bebés, era nova geração… Os anos passaram e agora estamos em 2009, as minhas meninas estão com sete anos e nasceu mais um elemento novo para a família, a Beatriz. As mais velhas estão na escolinha no primeiro ano, e estão-se a sair muito bem. A minha mãe fez 60 anos, e aos poucos está a recuperar as coisas todas que perdeu quando o meu pai saiu de casa, os meus irmãos estão felizes com a vida que têm, e eu… Eu consegui comprar uma casa para mim e para a minha mãe, ingressei para o curso de técnica de contabilidade, mas não quero parar por aqui, um dia ainda quero ser TOC, também ando a tirar a carta, e tenho tudo mas mesmo tudo para ser feliz (saúde, família, amigos, trabalho, escola…)! Sou uma das pessoas mais SORTUDAS DO MUNDO!!!

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Da direita

esquerda

para

a

Beatriz,

Patrícia

(Mana), Mariana, Tiago

Susana

e

Ricardo

(Mano)

Catarina

Mariana

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Beatriz

Mãe

Pedro e Cláudio (Amigos)

Carla Reis

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Hugo e Catarina (Amigos)

Tiago, Filipe, Nuno, João, Mariana e Inha (Amigos)

Tiago, Marta, Pedro, Filipe, Nuno, Lúcia, João, Inha e Zé (Amigos)

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