As Origens Das Ordens Secretas

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AS ORIGENS

DAS

ORDENS SECRETAS

Para que possamos compreender as origens das sociedades secretas, convém examinarmos as suas raízes antigas, que podem ser localizadas no antigo Egito e nas civilizações clássicas de Roma e Grécia, devido a possibilidade deixada por alguns iniciados em documentos. Durante a Idade Média, surgiram diversas sociedades secretas baseadas nas doutrinas ocultista que afirmavam possuir antecedentes remontando quase ao início da história. As idéias místicas que elas possuíam, tinham a sua origem nas crenças religiosas mais antigas conhecidas pela humanidade. Essas crenças pagãs sobrevivem à formação das grandes religiões mundiais como o judaísmo, o cristianismo e o islamismo, adotando a sua forma externa ou operando no seu interior como uma tradição herética, secreta e esotérica. Com a perseguição às crenças espirituais alternativas na Europa cristã medieval, os guardiões dessa sabedoria antiga tiveram de se esconder, formando sociedades secretas para preservarem os seus ideais pagãos. As duas grandes sociedades secretas formadas nesse período, ainda, que só se revelassem publicamente nos séculos XVI e XVII, foram a Maçonaria e a Ordem Rosa-Cruz. Enquanto a Ordem Rosa-Cruz continua a ser uma sociedade secreta, objeto de pouquíssima publicidade nos tempos modernos, uma considerável atenção pública tem se voltado para a franco-maçonaria recentemente. Essas sociedade tem sido apontada como uma influência potencialmente corrompedora, porque os seus membros abrangem homens de negócios, juízes tanto estaduais como federais e delegados, cujos juramentos e atividades maçônicas são encarados como a camuflagem ideal para o nepotismo. Aos olhos do mundo externo, a Maçonaria aparece como um clube de profissionais superiores, que querem progredir em suas carreiras pela adesão a um grupo social de elite. Supõe-se que os maçons favoreçam-se mutuamente nos negócios e na concessão de empregos, enquanto a proeminência das autoridades judiciárias nas lojas maçônicas levanta suspeitas de que o curso da justiça pode ser pervertido por homens ricos reunidos em suas sombrias salas. Os maçons têm respondido a essas acusações negando que os membros de suas lojas gozem de qualquer vantagem especial nos mundos profissionais e dos negócios. Eles vêm tentando apresentar, para o mundo externo, uma imagem respeitável, argumentando que a sua confraria não é uma sociedade secreta, mas uma sociedade com segredos. Contudo, não obstante esse exercício de relações públicas, a imagem popular da franco-maçonaria é de um grupo de homens de negócios de meia-idade que se reúnem uma vez ao mês, vestem trajes extravagantes e realizam rituais escolares misteriosos. Em muitos casos, as atividades da loja maçônica moderna talvez sejam exatamente essa pantomina excêntrica; porém, se a maçonaria é tão ridícula, por que, no correr dos séculos, tem ela atraído algumas das mentes mais brilhantes: destacados cientistas, proeminentes políticos, escritores, intelectuais, artistas, financistas e até a realeza? A resposta deve estar nos ensinamentos secretos da franco-maçonaria, raramente discutidos em público. Em um recente sínodo da Igreja Anglicana, um relato sobre a franco-maçonaria foi apresentado para debate aos clérigos e leigos reunidos. Diversos oradores denunciaram a maçonaria como contrária aos ensinamentos do cristianismo, condenando os cristãos, especialmente os clérigos, que porventura fossem membros. Um orador chegou ao ponto de atacar a maçonaria como “blasfema”, porque , segundo ele, o se o principal ritual de iniciação, que envolve uma representação simbólica da morte e do renascimento, seria uma paródia da crença cristã na crucificação e ressurreição de Jesus de Nazaré. Desde os seus primórdios, a franco-maçonaria tem sido alvo da ira cristã, ainda que, seja revelado que a Igreja Católica está infiltrada por agentes das sociedades secretas. Por que deveriam os cristãos ser tão críticos da Maçonaria, tirando a razão óbvia de que a Igreja se opõe a qualquer sistema de crença alternativo capaz de ameaçar o seu monopólio espiritual? Novamente a resposta a essa pergunta está nos “segredos” da Maçonaria. Se esses segredos estivessem prontamente disponíveis ao público em geral, é

pouco provável que o seu significado fosse compreendido por aqueles não-versados nas doutrinas do ocultismo e da antiga religião. Na verdade, é pouco provável que muitos dos membros comuns das lojas compreendam o que os seus segredos representam. No círculo interno da Maçonaria, entre quem alcançou graus de iniciação superiores, existem maçons que compreendem ser os herdeiros de uma tradição antiga e pré-cristã transmitida desde os tempos pagãos. Os maçons medievais herdaram essa tradição secreta na forma de ensinamentos simbólicos que expressam verdades espirituais. Esses ensinamentos tiveram origem nos Mistérios Pagãos, amplamente seguidos no mundo antigo. Para compreendermos esses ensinamentos secretos e, ao fazê-lo, situarmos em um contexto espiritual o envolvimento das sociedades secretas medievais na política internacional, temos de examinar as presumíveis origens da Maçonaria no período pré-cristão. As informações sobre essas origens estão preservadas nos escritos de historiadores maçons, nas teorias formuladas por ocultistas que têm investigado o simbolismo da Maçonaria e nos relatos acadêmicos das religiões pagãs influenciadoras da tradição ocultista medieval. Historicamente, sabe-se que a Maçonaria especulativa originou-se das antigas guildas medievais de pedreiros construtores das catedrais góticas européias. Eles se organizavam em guildas, que funcionavam como grupos de ajuda recíproca semelhantes aos sindicatos modernos. Essas guildas usavam símbolos secretos, as chamadas marcas dos pedreiros, encontradas nas velhas igrejas, bem como senhas e um aperto de mão especial, para que seus membros pudessem se reconhecer mutuamente. Acredita-se, nos círculos ocultistas, que esses pedreiros medievais herdaram o conhecimento esotérico de seus antecedentes pagãos, conhecimento esse incorporado à arquitetura sagrada das catedrais. Ao serem fundadas as lojas da Maçonaria especulativa, que se opõe à operante, nos séculos XVII e XVIII, esse conhecimento foi transformado no simbolismo que constitui, atualmente, a ase do ritual maçônico. As associações medievais de pedreiros podiam envolver até 700 membros, que firmavam contratos com a Igreja para construir catedrais e mosteiros. Acredita-se que uma associação maçônica de pedreiros específica tenha se originado em Colônia, no século XII, a qual valia-se de cerimônias de iniciação ao admitir novos membros, denominados “pedreiros livres”. Eventualmente, essas lojas maçônicas operantes aceitavam forasteiros, contanto que provassem ser homens de erudição, ou pessoas que ocupassem uma elevada posição social. No final do século XVI, as lojas de maçons operários haviam em grande parte, desaparecido, sendo substituídas pela Maçonaria especulativa, com a sua ênfase no simbolismo esotérico do Ofício como metáfora do progresso espiritual e da iluminação. Ainda que os maçons medievais pudessem ser vistos como artesãos práticos, também possuíam um arcabouço mítico para explicar as origens de sua atividade. Os maçons operantes também dividiam todos os conhecimentos existentes em sete artes liberais e ciências. Elas eram classificadas em gramática, ou a arte de falar e escrever corretamente; retórica, a aplicação da gramática; dialética, a distinção entre falso e verdadeiro; aritmética, ou cálculo exato; geometria, o estudo das dimensões da Terra, música e astronomia. De todas essas artes e ciências, os maçons consideravam a geometria a mais importante. De acordo com suas crenças, a geometria fora ensinada por um patriarca antediluviano chamado Lamec que tinha três filhos. Um inventou a geometria, o outro foi o primeiro pedreiro, e o terceiro, um ferreiro, e o primeiro ser humano a trabalhar com metais preciosos. Assim como Noé, Lamec foi advertido por Jeová do dilúvio, causado pela perversidade da humanidade e pela interferência dos Anjos Caídos nos assuntos mundanos. Lamec e seus filhos decidiram guardar o seu conhecimento em dois pilares de pedra, de modo que as gerações futuras pudessem descobrí-lo. Um desses pilares foi descoberto por Hermes Trimegisto, ou Três Vezes Maior, conhecido pelos gregos como o deus Hermes e pelos antigos egípcios como o escriba dos deuses, de cabeça, de íbis, Toth. Diz-se que a assim chamada Tábua de Esmeralda de Hermes contém a

essência da sabedoria perdida de antes dos dias do Dilúvio bíblico. De acordo com fontes ocultistas, essa tábua foi descoberta em uma caverna pelo mítico Mestre Apolônio de Tiana, considerado pela Igreja primitiva um rival de Jesus, perseguido junto com seu discípulo Damis, sua vida e existência são confirmadas pela obra de Flavius Philostratus, “A vida de Apolônio de Tiana”. A primeira versão publicada da Tábua de Esmeralda data de uma fonte árabe do século VIII a.C., só tendo sido traduzida para o latim, na Europa, no século XIII. Contudo, o mito da sabedoria hermética exerceu um profundo efeito sobre os gnósticos, que eram cristãos hereges em conflito direto com a Igreja Cristã primitiva, por tentarem fundir o paganismo com a nova fé. Eles também afirmavam possuir os ensinamentos secretos de Jesus, que este divulgou apenas para o seu círculo interno de discípulo. Esses ensinamentos haviam sido excluído da versão oficial do Novo Testamento, aprovada pelos concílios da Igreja reunidos para decidir a estrutura e o dogma do cristianismo primitivo. A filosofia gnóstica emergiu sob uma forma diferente na Europa medieval, com o surgimento do movimento cristão herético dos cátaros e da Ordem dos Cavaleiros Templários. A tradição hermética serviu de inspiração espiritual para muitas sociedades secretas na Idade Média, e a sua influência faz-se notar tanto na Maçonaria especulativa como na sociedade Rosa-Cruz. Segundo a tradição maçônica, os pedreiros [ maçons ] se organizaram pela primeira vez numa corporação durante a construção da Torre de Babel. De acordo com Gênesis 11:4-6, essa torre fora concebida para se atingir o céu e contactar Deus. O desmoronamento da Torre de Babel destruiu a língua comum falada pela humanidade e encerrou a idade de Ouro que se seguiu ao Dilúvio. O arquiteto da torre foi o rei Nimrod, da Babilônia, que era pedreiro. Ele pôs à disposição de seu primo, o rei de Nínive, sessenta pedreiros para ajudar na construção de suas cidades. Ao partirem, os pedreiros foram instruídos a se manter sempre leais entre si, a evitar dissensões a qualquer custo, a viver em harmonia e a servir o seu senhor como o seu mestre na Terra.. Segundo a crença popular, os hebreus receberam os seus conhecimentos de alvenaria dos babilônios, introduzindo-os no Egito ao serem escravizados. No Egito, esse conhecimento foi influenciado pelos Mistérios e pelas tradições ocultistas dos construtores de pirâmides, versados nas técnicas da geometria sagrada. A chave para as origens pagãs da franco-maçonaria está na história simbólica narrada aos candidatos à iniciação nos três graus da maçonaria: Aprendiz Principiante, Companheiros Artesão e Mestre Pedreiro. Segundo o saber maçônico, a base dessa lenda é a história semimítica da construção do templo do rei Salomão, em Jerusalém. A edificação foi vista como repositório da sabedoria e do simbolismo ocultista antigo, tanto pelos mações como pelos Cavaleiros Templários. O rei Davi iniciou a construção do templo em Jerusalém e, depois de sua morte, seu filho Salomão completou a obra. Para construir o edifício, Salomão recrutou pedreiros, artistas e artesãos de países vizinhos. Especialmente, enviou uma mensagem ao rei de Tiro, perguntando se podia contratar os serviços de seu mestre construtor, Hiram Abiff, que era versado em geometria. Hiram era filho de uma viúva, tendo aprendido o ofício de artesão trabalhando com bronze. Devido ao seu talento artístico, Salomão nomeou Hiram arquitetochefe e mestre-pedreiro do templo a ser construído em Jerusalém. Hiram concluiu o templo num período de sete anos (esse número tem uma significação especial na tradição ocultista e na maçonaria), mas essa realização foi empanada por sua morte misteriosa e violenta. Certa vez, ao meio-dia, durante o descanso dos pedreiros, Hiram fez uma visita ao templo para verificar o andamento do trabalho, que se aproximava do fim. Ao entrar no pórtico do templo, atravessando a entrada flanqueada pelos dois pilares do portão, um de seus colegas pedreiros aproximou-se de Hiram, solicitando o segredo da senha do Mestre Pedreiro. Hiram negou-se a fornecer essa informação secreta, dizendo ao trabalhador que ele receberia no momento propício, depois de avançar mais em sua carreira. O pedreiro, insatisfeito com a resposta, golpeou Hiram, que seguiu aos tropeções, aturdido e sangrando, até o segundo portão do tempo. Ali, foi abordado por um segundo pedreiro, que

fez a mesma pergunta e, ao ser-lhe negada a resposta, golpeou Hiram, que cambaleou até a terceira entrada (ocidental) do templo, onde outro pedreiro o aguardava. O processo se repetiu e, dessa vez, o arquiteto-chefe morreu do terceiro golpe.

Os três traidores pedreiros carregaram o corpo de Hiram do templo até o topo de um monte vizinho, onde cavaram uma cova rasa e o enterraram. Marcaram o local do túmulo com um ramo de acácia e, à tarde, como de hábito, retornaram ao trabalho. Quando a falta de Hiram foi notada, uma equipe de busca foi organizada, mas esta levou quinze dias para descobrir o seu corpo. Salomão foi informado e ordenou que o corpo de Hiram fosse exumado e enterrado novamente, com uma cerimônia religiosa completa e as horas devidas a um artesão de sua importância. Os três assassinos acabaram sendo descobertos, julgados e condenados à morte pelo seu crime. Examinando-se essa lenda à luz da situação religiosa no reinado de Salomão, alguns fatos interessantes vêm à tona, descortinando-nos o simbolismo pagão oculto da Maçonaria . Primeiro, na época em que Salomão ocupava o trono de Israel, Tiro era conhecida como um centro da adoração da Deusa. Ainda que seja considerado um importante devoto de Javé (ou Jeová), Salomão mantinha extensa correspondência com o rei pagão de Tiro, tendo-lhe solicitado que enviasse o seu mestre construtor, que devia estar ocupado na construção de templos dedicados à veneração da Grande Deusa, e para ajudá-lo a projetar e construir o seu templo a Javé. Uma leitura cuidadosa do Antigo Testamento revela que, quando os hebreus se reinstalaram em Canaã, depois de escaparem da escravidão no Egito, a adoração de seu deus tribal, Javé, sofreu forte resistência pelos habitantes nativos que reverenciavam a deusa da fertilidade Asserá ou Astarte e o seu consorte masculino. A situação, quando o culto de Jeová foi introduzido em Canaã, pode ser comparada ao início do período medieval na Europa, quando os missionários romanos tentaram converter as tribos pagãs, e a África do século XIX, quando os colonizadores brancos forçaram os nativos a adotar o cristianismo. Além disso, as discrepância no mito hebreu da criação, registrado no Gênesis, mostram claramente que o judaísmo primitivo foi fortemente influenciado pelas crenças pagãs das tribos nômades ancestrais dos israelitas. Ao estabelecerem a religião de Javé, os patriarcas do Antigo Testamento se valeram da rica estrutura da mitologia existente nos países vizinhos, incluindo Suméria e Babilônia. Em particular, os mitos do Jardim do Éden e do Dilúvio são identificáveis como contribuições externas enxertadas no sistema de crenças judaico. O javeísmo somente se tornou a religião dominante do Israel antigo através das campanhas militantes de uma pequena elite de sacerdotes patriarcais, na maior parte do tempo, mas nem sempre, apoiada pela monarquia e pela classe dirigente. O povo comum resistiu-lhe bravamente, apoiado pelos membros heréticos das classes dominantes. O conflito acarretado ainda pode ser detectado no judaísmo ortodoxo, onde o Supremo Criador é representado como nem masculino nem feminino. Um filósofo judeu medieval afirmou que “Deus não é um corpo e tampouco pode receber atributos corpóreos..., e Ele não tem semelhança com nada“, A despeito dessa tentativa de apresentar a Divindade como uma entidade abstrata, a maioria dos rabinos judeus encaravam Javé como de natureza masculina. O seu título alternativo de Adonai, que se traduz como “Senhor”, confirma essa crença. O antigo conceito de uma deidade andrógina somente sobreviveu nos ensinamentos secretos do sistema místico conhecido como Cabala, a doutrina esotérica da religião judaica, na imagem feminina da Shekiná ou Noiva de Deus. Nas sinagogas judaicas, a Shekiná é acolhida no pôr-do-sol de sexta-feira , nas preces celebrantes do início do Sabá. Nessas preces, a Shekiná é acolhida como a Noiva de Deus e, segundo os ensinamentos cabalistas, a criação só pode se manifestar através dela. Essa idéia é reforçada pela crença popular de que

a Shekiná se materializa, de forma invisível, sobre o leito da noite de núpcias, sugerindo resquícios dos antigos ritos da fertilidade realizados em honra da Deusa. Antigas memórias da adoração da deusa também sobrevivem no mito judaico da demônia Lilith, inspiradora de desejos sexuais masculinos através de sonhos eróticos. Segundo os ensinamentos cabalísticos, Lilith foi a primeira esposa de Adão, antes de Eva, ensinandolhe as artes do encantamento mágico. De acordo com a sabedoria ocultista, de sua união ilícita foi gerado o reino elemental dos elfos, das fadas e dos gnomos. Lilith não era, originalmente, uma figura demoníaca, podendo ser identificada com a deusa sumeriana intitulada Senhora das Bestas, representada sob a forma de uma coruja. Lilith simboliza o aspecto escuro da Grande Deusa da antiga religião pagã, em seu aspecto de mulher fatal ou sedutora. Esse aspecto da feminilidade sempre rejeitado pelas culturas patriarcais, cujo puritanismo sexual o transformou em um símbolo demoníaco, pela incapacidade de lidar com as poderosas energias eróticas a ele associadas. Inicialmente, a adoração das deidades da fertilidade de Canaã era parte integrante da religião judaica. A deusa Asserá, o seu consorte El e o seu filho Baal, significando o Senhor, eram bastante venerados. Efígies da Deusa foram erigidas por todo o Israel, conforme descrito nos livros do Antigo Testamento, Reis, Crônicas, Juizes, Deuteronômio, Êxodo e Miquéias. Conta que Gideão destruiu um altar de Baal por ordem de um anjo (Juízes, 6: 2531) e existem referências à adoração do deus e da deusa da fertilidade em altares erguidos no templo de Jerusalém. Como Salomão figura nessa tradição de adoração da Deusa? Durante a Idade Média, o rei hebreu adquiriu uma reputação de Mestre em Magia, capaz de evocar os espíritos elementais, e diversos manuais de magia exibiram o seu nome no título, por exemplo: As Clavículas de Salomão. De um modo geral, ele era visto como um poderoso mago, curandeiro e exorcista e, atualmente, alguns cristãos de fé renovada o denunciam como um adorador do diabo que afastou os israelitas do verdadeiro Deus. No apócrifo Livro da Sabedoria, escrito no século I. D.C., cita-se Salomão dizendo: “Deus me deu o verdadeiro conhecimento das coisas como elas são; uma compreensão da estrutura do mundo e do funcionamento dos elementos do início e final das eras e o que vem entre elas.... os ciclos do ano e as constelações... os pensamentos dos homens... o poder dos espíritos... as virtudes das raízes... tudo, secreto ou manifesto , eu aprendi.” [ Sabedoria, 7:17-21.]. Além de seus atributos mágicos e poderes ocultos, Salomão é visto por alguns estudiosos como um adorador secreto da Deusa. A conversão de Salomão ao paganismo e o seu culto a deuses estranhos são atribuídos a seus casamentos com princesas estrangeiras, que introduziram os seus costumes religiosos na corte (I Reis 11:1-8). Especula-se, ainda, que a legendária Rainha de Sabá apresentou ao rei herege as doutrinas ocultistas de sua terra (situada na África ou na Arábia). Ao visitar Salomão, não só trouxe camelos carregados de especiarias, ouro e pedras preciosas, mas incluiu em seu séquito sacerdotes que iniciaram o monarca judeu nos Mistérios da antiga religião pagã. O Antigo Testamento narra que Salomão “sacrificava e queimava incenso nos lugares altos” (I Reis 3:3), que eram os locais dos santuários dedicados à adoração da Grande Deusa. Os indícios existentes mostram que, durante 200 dos 370 anos de história do templo de Jerusalém original, ele serviu, total ou parcialmente, para a veneração da Deusa. Quando um dos profetas de Javé denunciou a obstinação de Salomão em favor de um jovem chamado Jeroboão, que se tornou o novo rei (I Reis 11:29-40), a adoração dos deuses pagãos reduziu-se por um breve tempo. Em II Reis 23:4-7, consta que o sumo sacerdote Helcias destruiu os santuários da deusa Asserá, que Salomão erigira em todo o Israel. Desafortunadamente para os seguidores de Javé, a escolha de Jeroboão como novo líder religioso de Israel foi um erro de cálculo. O jovem logo retornou ao culto do Deus-Touro pagão (I Reis 12:33), desgraçando-se. O culto da Deusa reforçou-se ainda mais com a chegada,

em Israel, da princesa Jezebel, a “grande meretriz” original, filha do rei de Sidon e sacerdotisa da fé pagã. A sua imagem de promíscua desavergonhada advém, evidentemente, da sexualidade explícita dos ritos realizados por Jezebel para a Deusa, que horrorizaram os sacerdotes puritanos de Javé. Sob a influência de Jezebel, o seu marido, o rei de Israel Acab, construiu um altar para Baal e um bosque sagrado para a Deusa (I Reis 16:30-33). Consta que 850 sacerdotes de Baal e Asserá participaram de um pródigo banquete organizado pela nova rainha. Ela adorava Astarte e, nas ruas de Jerusalém, fogos sagrados eram acesos, bolos de mel condimentados eram assados, libações de vinho eram deitadas ao solo e incenso era queimado, como uma oferenda sacrificial à deusa da fertilidade. Jezebel acabou destronada e morta pelos adoradores de Javé, devido aos seus excessos eróticos. No entanto, o culto da Deusa sobreviveu por muitos anos e, quando iniciou a sua cruzada para restaurar o javeísmo, Josias teve, primeiro, de destruir os altares e santuários aos deuses pagãos, erigidos pelo povo comum (II Reis 23:4-15). O adorador da deusa, Salomão, havia convidado de Tiro, um centro da adoração pagã, o mestre construtor Hiram Abiff, para ser o principal arquiteto do templo de Jerusalém. Hiram foi assassinado ao término do trabalho, em circunstâncias já descritas, que se afiguram uma morte ritual ou um sacrifício humano. Como Hiram fora o projetista de templos pagãos, parece provável que tenha incorporado elementos do paganismo na arquitetura do templo de Salomão. De fato, o templo foi construído em um estilo pagão, com um vestíbulo, uma nave e um santuário interno, cuja entrada era guardada por duas colunas. A entrada principal do templo era de grande importância simbólica, por ser flanqueada por dois pilares, historicamente conhecidos como Jaquin e Boaz. Eles formavam a estrutura do pátio externo ou pórtico do templo, onde, conforme a lenda, os pedreiros construtores do edifício se reuniam. Tem sido afirmado que esses dois pilares foram posicionados de modo a imitar os obeliscos construídos nas entradas do templos egípcios. Os mais famosos dentre eles foram erguidos por ordens do faraó. os mais famosos dentre eles foram erguidos por ordens do faraó Tutmés III, em Heliópolis ou Cidade do Sol, no século XV a.C. Esses pilares, por alguma razão desconhecida chamados de Agulhas de Cleópatra, podem ser atualmente encontrados às margens do Tâmisa, em Londres, e no Central Park, em Nova York. os símbolos na base do obelisco americano foram identificados como sinais maçônicos. Tutmés é considerado por alguns ocultistas modernos o lendário fundador da Ordem Rosa-Cruz. Os dois pilares frontais do templo de Salomão também guardam semelhanças com os símbolos da fertilidade cananeus tradicionais. Os templos dedicados à Deusa em Tiro teriam, ao que se diz, pilares de pedra de formato fálico em suas entradas. Esses pilares eram o foco dos ritos de fertilidade realizados em honra de Astarte em suas festas especiais. Esses pilares também têm sido associados aos monólitos usados por Lamec e seus filhos para preservar-nos símbolos hieroglíficos gravados nas superfícies o seu antigo conhecimento. Os cabalistas os têm identificado como símbolos dos princípios masculino e feminino, pelos quais o Universo passou a se manifestar, conforme exprime o símbolo da Árvore da Vida. Além disso, ocultistas e maçons concordam em que esses dois pilares representam as energias masculina e feminina, que são a base da criação. A sua posição, em ambos os lados da entrada do templo dedicado à deusa, indica que essa passagem pode representar os lábios femininos. na crença religiosa antiga, os tempos da Deusa, quer de Astarte, Ishtar ou Ísis, eram projetados como símbolos de seu corpo, o que se refletia em sua arquitetura sagrada. A parte mais sagrada do templo de Salomão era o Santuário Interno ou Sagrado dos Sagrados, que simbolizava o útero da Deusa e era o repositório da Arca da Aliança, que continha a legislação sagrada dos hebreus concedida por Javé a Moisés no monte Sinai. Somente os sumos sacerdotes de Javé podiam penetrar no santuário interno, onde ficava guardada a Arca da Aliança, de ouro e acácia. A tampa da arca era uma placa de ouro, sobre a qual ficavam ajoelhadas efígies dos guardiões místicos da Aliança, os Querubins. Eles se

fitavam mutuamente e tinham grandes asas cobrindo a Arca. Tratava-se do trono de Deus, onde Javé supostamente descia para se comunicar com o Seu sumo sacerdote. De acordo com o professor Raphael Ktav, em seu livro Os Deuses Hebreus, os Querubins que guardavam a Arca da Aliança no templo tinham a forma de figuras femininas desnudas e aladas. A palavra querubim significa “mensageiro” e, na mitologia hebraica, refere-se a um intermediário, de origem divina, entre a humanidade e Deus. Os dois querubins do Sagrado dos Sagrados foram descritos, pelo místico judeu Filo, escrevendo no século I. D.C., como símbolos da natureza dualista de Deus e dos princípios masculino e feminino da criação. Filo considerava a deidade adorada pelos antigos hebreus como andrógina, possuindo tanto características masculinas como feminina. Segundo um relato, um dos querubins era masculino e outro, feminino. Se Hiram Abiff era adorador pagão da Deusa, tendo sido responsável pelo projeto de seus templos em Tiro, qual o significado do seu assassinato ritual, em Jerusalém, pelas mãos dos colegas pedreiros? Nos antigos ritos da Deusa, a morte ritual ou sacrifício de seu consorte, ou de um sacerdote representando-o, figurava com proeminência. Esse elemento sacrificial, na adoração da Deusa, era comum no Oriente Médio, devendo ter sido bem conhecido pelos israelitas. Tal aspecto sacrificial também vinha acompanhado do mito da ressurreição do deus morto, encontrado na lenda de Hiram Abiff, em seu enterro e exumação pagão, é a história de Ísis e Osíris, no antigo Egito. O mito exerceu profundo efeito no desenvolvimento dos Mistérios pagãos do mundo clássico, tendo também influenciado o cristianismo primitivo. Na mitologia egípcia, Ísis e Osíris representam os mais antigos soberanos do delta do Nilo, nos termos imemoriais. Durante o seu reinado, o Egito floresceu, porque as duas divindades civilizaram a terra e a sua gente, anteriormente bárbaros selvagens entregues ao canibalismo e a prática sexuais pervertidas. Ísis e Osíris introduziram um código legal, a agricultura, as artes e os ofícios, os templos e a veneração correta dos deuses. Devido a esses feitos, o povo egípcio adorava os seus soberanos, venerando-os como seres divinos. Porém Osíris possuía um rival e inimigo, o seu irmão gêmeo Set (ou Typhon, significando, em grego, “insolência” ou “orgulho”). Set queria governar o país e estava, constantemente, conspirando contra a família real. Durante um afastamento de Osíris, em que Ísis estava governando sozinha, Set tramou, com 72 conspiradores, a morte do rei. Ele havia, secretamente, medido o corpo de Osíris, e construiu uma arca especial capaz de conter perfeitamente o rei. No retorno de Osíris, ele convidou o rei e os conspiradores para uma festa de boas-vindas. Ísis alertou o marido para não ir, mas Osíris riu e disse nada, pois não deveria temer seu frágil irmão. Na festa, todos os presentes admiraram a arca adornada com jóias feita por Set, e ele prometeu dá-la de presente à pessoa cujo corpo nela se encaixasse. Um após o outro, os convivas o tentaram, mas tinham o tamanho errado. Finalmente, Osíris entrou na arca e Set e os conspiradores fecharam a tampa, pregaram-na e a selaram com chumbo derretido. Eles então, atiraram o esquife no Nilo. Quando Ísis soube do assassinato de seu marido, foi tomada de dor. Na crença egípcia, o corpo tinha de ser enterrado com os ritos fúnebres corretos, para que a alma não ficasse vagando eternamente pela Terra. Ísis pôs-se à procura do corpo de Osíris, subindo e descendo o Nilo, e perguntando a quem encontrasse se havia avistado a arca. Finalmente, algumas crianças contaram que tinham visto o esquife na boca do rio, flutuando em direção ao mar. A rainha descobriu que ele tinha ido parar no litoral de Biblos, na Síria, onde ficou presa nos ramos de uma tamargueira, que é um pequeno arbusto. O rei de Biblos derrubou a árvore, sem perceber o ataúde de Osíris preso no tronco, transformando-a em um pilar para o teto de seu palácio. Quando Ísis descobriu o ocorrido, navegou até Biblos, onde, valendo-se de ardis, tornou-se uma aia na casa real, servindo a rainha daquela terra, também chamada Astarte. Esse, é claro, também era o nome da deusa da fertilidade adorada em Tiro, Sidon e pelos

israelitas em Canaã. Através de sua amizade com a jovem rainha, Ísis persuadiu o rei a cortar a árvore liberando o corpo de Osíris. Ela levou o corpo de seu marido de volta ao Egito, e o pilar de tamargueira tornou-se um objeto de culto em Biblos. Depois de retornar ao Egito, Ísis deixou a arca em um local seguro, enquanto procurava o filho Hórus. Entretanto, Set soube de seu retorno e, durante uma caçada, descobriu o esconderijo da arca. Em sua ira, ele desmembrou o corpo de Osíris, espalhando os 14 pedaços por todo o Egito. Quando Ísis foi informada desse novo ultraje, percorreu todo os países e, sempre que encontrava uma parte do corpo, erguia um santuário para marcar o lugar. Cada um desses sítios sagrados ficava em um monte, e o local do sepultamento foi marcado com uma árvore, significando que Osíris se erguera de entre os mortos. A décima Quarta parte do corpo de Osíris, o seu pênis, jamais foi achada, por ter sido engolida por um peixe. Ísis fez uma réplica de ouro do pênis de seu marido, enterrando-a em Mendes, sede de um templo dedicado ao culto do Deus-Bode. Nos tempos medievais, o Diabo era, às vezes, chamado de Bode de Mendes, porque nesse templo, no antigo Egito, rituais grotescos eram realizados, envolvendo sacerdotisas nuas que mantinham relações sexuais com bodes. Nos julgamentos medievais de bruxas, as mulheres eram acusadas de haverem mantido relações sexuais com o Diabo, que aparecia em forma de carneiro ou bode. Osíris tornou-se o foco do culto da ressurreição no Egito dinástico, e os seus adoradores acreditavam que, pela prática de seus ritos, conquistariam a vida eterna após a morte. Como Osíris havia introduzido a cevada e o trigo no Egito, e sua principal festa religiosa coincidia com a colheita, ele tem sido reconhecido como um deus da vegetação que morreu no outono e renasceu na primavera. o seu mito, portanto, assemelha-se a outros deuses da fertilidade do Oriente Médio, tais como Adônis, Átis e Dionísio. Dar-se a Osíris a introdução da vinha e das uvas no Egito e, nos Mistérios gregos, Dionísio, ou Baco, era adorado como o deus patrono dos vinhedos. Muitas vezes, ele era simplesmente representado como uma face babada esculpida em uma árvore, ou a sua imagem era um pilar decorado com uma máscara barbada cercada de folhas. Essas representações assemelham-se às máscaras folhadas que se dizia representações que se dizia representarem o personagem do folclore inglês, Jack-in-the-Green, ou o Homem Verde, que se pode ver nas igrejas de época anteriores à Reforma. Comparem-se, também essas imagens com a história do corpo de Osíris preso nos ramos de uma árvore, que mais tarde viria a ser venerada como um objeto sagrado. Dionísio e Osíris têm, ambos, vínculos com o culto de Adônis, cuja adoração era comum no Oriente Médio dos tempos antigos. Adônis era reverenciado pelos povos semitas da Babilônia e Síria, sendo originalmente conhecido como Tamuz. o nome foi alterado para Adônis, que significa “Senhor”, e as suas conexões lingüísticas com o Adonai judaico costumavam descrever um dos aspectos de Javé. Adônis ou Tamuz nasceu na meia-noite de 24 de dezembro e irrompeu para a vida do tronco de uma árvore. Ambos os eventos sugerem paralelos com Osíris e Jesus. Tamuz é o deus-menino consorte da deusa babilônica do amor e da guerra, Ishtar, venerada pelos sumérios como Inana e pelos cananeus como Astarte. Ishtar era identificada com a Lua e a estrela da manhã Vênus (O símbolo associado, na Bíblia judaico-cristã, ao anjo rebelde Lúcifer, mais tarde erradamente identificado com Satã ou o Diabo) e figura no mito babilônico do Dilúvio, tomado de empréstimo pelos hebreus. No mito de Tamuz e Ishtar, o jovem deus, que é o seu amante, é morto por um javali e transportado para o Mundo dos Mortos. A deusa, enlutada pela perda, viaja para a Região das Sombras, em uma tentativa de recuperar o consorte perdido. Enquanto está afastada da Terra, as colheitas fracassam, o gado se torna estéril e homens e mulheres perdem a capacidade de praticarem o sexo. Em cada um dos sete portões do Mundo dos Mortos, a deusa é forçada a remover um item de seu vestuário, até, finalmente, conseguir penetrar o reino dos mortos despida e indefesa, Como resultado de sua súplica aos soberanos do Mundo dos Mortos, Tamuz é ressuscitado, Ishtar retorna à terra e a fertilidade é restaurada.

O culto pagão ao deus da fertilidade Tamuz nas vizinhanças do templo de Jerusalém é mencionado pelo profeta do Antigo Testamento, Ezequiel. Descrevendo uma visão propiciada por Javé, o profeta diz, em Ezequiel 8:14:” Levou-me à entrada da porta da casa do Senhor (o templo de Salomão), que está da banda do norte, e eis que estavam ali mulheres assentadas chorando a Tamuz”, em algumas citações bíblicas, usando a clássica tradução portuguesa de João Ferreira de Almeida. Ele, então, prossegue descrevendo um grupo de homens de pé nos recintos do templo, voltados para leste e adorando o Sol a maneira dos pagãos. Nos mitos de Osíris, Dionísio e Adônis/Tamuz, estão contidos os elementos-chave da morte, do renascimento e da fertilidade. Esses elementos, juntamente com os papéis que esses deuses representavam como consortes da Deusa Mãe, são fundamentais para a compreensão da lenda de Hiram Abiff, das origens pagãs da Maçonaria e da visão utópica constituindo o ideal político das fraternidades ocultistas derivadas da maçonaria. De acordo com os mitos antigos, o soberano de Tiro também se chamava Hiram e diz-se que teria sido um rei-sacerdote do culto de Adônis. De acordo com as crenças religiosas dessa época, esse rei-sacerdote foi sacrificado para a Deusa, ao se tornar velho demais para representar Tamuz na festa anual dedicada ao deus. Ao morrer, a sua alma supostamente passou para o corpo de seu filho ou do substituto escolhido, que reinou como rei-sacerdote em seu lugar. É possível que Hiram Abiff tenha sido o filho do rei-sacerdote de Tamuz? Ele é, certamente, chamado de filho da viuva (a deusa do luto) e esse título foi adotado pelos maçons medievais em suas autodescrições. Segundo as tradições cabalísticas da construção do templo de Salomão, os artesãos provenientes de Tiro eram pagos com trigo, vinho e azeite. Essas eram as oferendas sacrificais associadas aos cultos da fertilidade dos deuses mortos, como Osíris e Adônis. As mesmas tradições relatam como Salomão enviou o rei Hiram, de Tiro, até o Inferno, pela evocação de um demônio. Quando o rei retornou, ele narrou a Salomão tudo que tinha visto e aprendido no reino infernal. Os rabinos sugerem ter sido essa a verdadeira fonte da sabedoria de Salomão. É possível que o rei hebreu tenha se tornado um discípulo de Hiram, tendo sido por ele instruído nos Mistérios da deusa Ishtar ou Astarte e da sua descida ao Mundo dos Mortos. Existem referências, na abundante correspondência entre os dois reis, consistindo em enigmas que Salomão tinha de resolver, sugerindo que alguma informação secreta estivesse sendo transferida para o monarca hebreu em forma de código. Os primeiros historiadores maçônicos encaravam Hiram Abiff como um representante simbólico de Osíris, o deus egípcio da morte e do renascimento. Ele é assassinado no portão ocidental do templo, onde o Sol se põe. na mitologia egípcia, o Mundo dos Mortos ou Átrio de Amenti, regido por Osíris como o Senhor dos Mortos, está situação sob o oceano ocidental. Osíris tradicionalmente ergue-se de entre os mortos ao norte, que, na mitologia egípcia, é astrologicamente regido pelo signo do zodíaco Leo, o Leão . Tanto nos Mistérios maçônicos como nos egípcios, o “deus” ressuscitado é enterrado sobre uma montanha, em uma tumba marcada por uma árvore. Osíris era também chamado de Senhor da Acácia, mesma árvore plantada no túmulo de Hiram Abiff pelos seus três assassinos. Em Canaã, o culto à deusa Astarte envolvia árvore e pilares erguidos em bosquetes sagrados e montes, como símbolos de sua divindade. na Arquimaçonaria Real, o candidato à iniciação é informado de que o nome sagrado de Deus é, de fato, Jebalon. Esse nome foi decifrado como uma referência codificada aos dois grandes deuses do culto da fertilidade do Oriente Médio, Osíris e Baal, em combinação com o deus tribal hebreu Jeová. Na Maçonaria, Deus também é chamado de Grande Arquiteto do Universo, refletindo a importância da geometria sagrada no projeto de construções sagradas baseadas no axioma hermético “Assim acima... como abaixo”. Esse axioma ensina a antiga filosofia de que o plano material da existência é um reflexo do reino espiritual. As aspirações políticas da Maçonaria, reveladas em sua influência sobre os movimentos revolucionários e proto-socialistas da Europa dos séculos XVIII e XIX, podem ser remontadas ao

mito da Idade de Ouro, no Egito pré-dinástico, sob o reinado de Osíris e Ísis e, antes do Dilúvio, aos mitos babilônios e hebreu da criação. na lenda de Osíris, o rei-deus é uma influência civilizadora em uma terra habilitada por selvagens primitivos sem noções de moralidade ou lei. O sacerdócio de Osíris era herdeiro de uma utopia política expressa através de símbolos espirituais. Essa foi a visão compartilhada pelas sociedades secretas da Europa medieval, associadas ao surgimento da Maçonaria e da doutrina política que lhe serviu de núcleo. De acordo com a tradição ocultista. Hiram Abiff foi, secretamente, um membro de uma antiga sociedade conhecida como os Artífices de Dionísio, surgida por volta de 1000 a.C., quando o templo de Jerusalém estava sendo construído. Eles tomaram o nome do deus grego e possuíam sinais e senhas secretas pelos quais se reconheciam mutuamente, estavam divididos em Capítulos ou Lojas governadas por um Mestre e se dedicavam a ajudar os pobres. Eles estabeleceram lojas em todas as nações mediterrâneas, e a sua influência se expandiu, a leste, até a Índia. Com a ascensão do Império Romano, lojas foram fundadas na Europa central e ocidental, inclusive nas Ilhas Britânicas. Os Artífices estavam ligados a outra sociedade secreta conhecida como os Jônios. Os membros dessa sociedade haviam se estabelecido na Ásia menor, dedicando-se a disseminarem a civilização, especialmente em sua forma grega, no que eles encaravam como o mundo bárbaro. Supõe-se que os Jônios tenham sido responsáveis pelo famoso templo da deusa Diana, em Éfeso. Os arquitetos dessa sociedade, junto com membros dos Artífices de Dionísio, vieram de Tiro trabalhar no templo de Salomão. Mas tarde, os Artífices passaram a se chamar Filhos de Salomão, usando o seu selo mágico, dois triângulos entrelaçados, representando a união das energias masculina e feminina. Os Artífices que se estabeleceram em Israel fundaram os Cassidens, guilda de artesãos especialistas no reparo de edifícios religiosos. A nova seita contribuiu para a fundação do grupo místico judaico conhecido como os Essênios, que se tornaram famosos com a descoberta dos pergaminhos do mar Morto. Na tradição ocultista, Jesus de Nazaré foi um essênio, e existem conexões entre esse grupo e os Cavaleiros Templários medievais. Os Artífices de Dionísio acreditavam que os templos que construíam tinham de obedecer aos princípios da geometria sagrada, refletindo o plano divino, Com o uso da simetria, do sistema de medidas e do cálculo de proporção, os Artífices construíram edifícios religiosos representando o corpo humano como um símbolo do universo. A sua teoria arquitetônica baseava-se na filosofia hermética e na crença pagã panteísta na unidade entre o universo e Deus. Eles também promoviam o ideal político da Utopia terrestre, expressa sob forma simbólica. A humanidade era o bloco de pedra bruta que o mestre pedreiro ou Grande Arquiteto (Deus) estava, constantemente, moldando e polindo, a fim de transformá-lo em um objeto da perfeição. o martelo e o cinzel do pedreiro tornaram-se as forças cósmicas que davam forma ao destino espiritual da humanidade. Na Maçonaria especulativa do século XVIII, o martelo simbolizava o poder divino. Ele era usado para medir os recintos abençoados da loja, indo até onde o grão-mestre conseguia atirar o martelo, em qualquer direção. O arquiteto e mestre construtor romano, Vitrivius, nascido no século I. D.C., foi influenciado pelo Artífices de Dionísio. As suas teorias formaram a base da arquitetura do Império Romano e, com a redescoberta do conhecimento clássico, no século XVI, também exerceram impacto sobre os maiores arquitetos da Renascença. O conceito de Vitrivius do teatro mágico representando o microcosmo do mundo como símbolo do macrocosmo do universo espelha-se na famosa frase de William Shakespeare, “O mundo todo é um palco, e todos os homens e mulheres meros atores...”, e no nome de seu teatro, The Globe [ O GLOBO]. Pretende-se que Shakespeare tenha sido um iniciado Rosa-Cruz e, como tal, tenha estado familiarizado com as idéias de Vitrivius e dos Artífices de Dionísio. Segundo a tradição maçônica, César Augusto foi nomeado patrono dos pedreiros, na Roma antiga, e diz-se Ter sido grão-mestre do Colégio Romano de Arquitetos. Essa sociedade

estava organizada em guildas, com símbolos baseados nas ferramentas de seu ofício, como o fio de prumo, o esquadro, os compassos e o nível. O Colégio tinha rituais iniciáticos envolvendo o mito pagão da morte e do renascimento, familiares através dos Mistérios egípcios. Um templo construído e usado pelo Colégio foi desenterrado em Pompéia, cidade destruída pela erupção vulcânica do monte Vesúvio, em 71 d.C. Entre os símbolos descobertos no templo, estava o duplo triângulo de Salomão, a prancha de decalque preta e branca (usada inicialmente pelos Artífices de Dionísio), a caveira, o fio de prumo, o bastão do peregrino e o manto esfarrapado. Esses símbolos emergiriam, mais tarde, na maçonaria medieval e na Maçonaria especulativa. As tradições do Colégio Romano parecem ter sido transmitidas para a Ordem dos Mestres de Comacini, que floresceu durante o reinado dos imperadores Constantino e Teodósio, no século IV d.C., quando o cristianismo estava emergindo como a religião dominante do Império Romano. Conforme a lenda, a Ordem foi fundada por ex-membros do Colégio Romano, que se viram forçados a fugir dos bárbaros. Eles estabeleceram a sua sede na ilha de Comacini, no lago de Como, e em 643 d.C., conquistaram o patrocínio de um rei da Lombardo, que lhes deu o controle sobre todos os pedreiros e arquitetos da Itália. A Ordem de Comacini dividia-se em lojas governadas por Grão-Mestres, seus membros usando aventais e luvas brancas e se reconhecendo mutuamente por sinais e senhas secretas. A Ordem foi responsável pelos estilos lombardo e romântico de arquitetura, podendo ser vista como o elo entre os arquitetos e pedreiros construtores dos templos pagãos e os mestres construtores das catedrais góticas da Europa ocidental, na Idade Média cristã. Existem indícios de que os pedreiros de Comacini viajaram por toda a Europa e, segundo o historiador Bede, chegaram a atingir a Inglaterra anglo-saxã, onde foram responsáveis pela construção de uma igreja em Northumbria. Ainda que os pedreiros que construíram as igrejas e catedrais medievais fossem nominalmente cristãos, a profusão de símbolos e imagens pagãs, nesses antigos edifícios, indica que muito ainda eram, no fundo, pagãos. Já fizemos referências às imagens do Homem Verde achadas em velhas igrejas, mas outros símbolos pagãos também podem ser encontrados, inclusive Sheela-na-gig. trata-se de representações grosseiras do corpo feminino desnudo, na forma de mulheres de pernas abertas e exibindo a vulva. Elas foram identificadas como imagens da deusa pagã da fertilidade cultuada na época dos celtas. outros entalhes encontrados em igrejas medievais retratam monges e sacerdotes em posições sexuais com meninas dissolutas, realizando atos homossexuais ou usando cabeças de animais. Exemplos ainda mais estranhos de escultura em pedra [ masonry ] pagã podem ser encontrados. Ao pesquisar em um livro sobre bruxaria, a sobrevivência medieval da antiga religião pagã, o autor Michael Harrison topou com a obra do falecido professor Gregory Webb, da Universidade de Cambridge, que, em 1946, era secretário da Comissão Real de Monumentos Históricos. Webb era uma autoridade em arquitetura medieval e, no final da Segunda Grande Guerra, foi designado pelo governo inglês para pesquisar antigas igrejas ao sul do país que se achavam danificadas pelos bombardeios alemãs. Em uma das igrejas examinadas, uma bomba nazista havia deslocado o topo do altar, revelando o interior pela primeira vez, desde o século XIV. No interior do altar danificado, Webb e a sua equipe descobriram um falo de pedra, que fora cuidadosamente escondido no interior oco. De início, Webb pensou que essa descoberta seria única, mas ele começou a examinar outras igrejas a procura de sinais de paganismo. Em 90% de todas as igrejas da pré-Reforma construídas antes da irrupção da peste bubônica, no final do século XIV, quando sua construção foi interrompida por um longo período, Webb descobriu que altares escondiam símbolos da fertilidade que dedicavam as igrejas cristãs à velha religião pagã.

A par com suas crenças religiosas pagãs, as guildas maçônicas medievais também tinham pontos de vista políticos avançados para a época, que expressavam livre e convictamente. À semelhança de seus antecedentes pagãos, os maçons eram os promotores de uma visão utópica do futuro da humanidade. Num período em que o feudalismo não passava de um sinônimo de escravidão, as guildas de artesãos haviam se organizado em grupos de ajuda mútua, pregando as virtudes da democracia e dos direitos individuais centenas de anos antes que essas metas políticas atingissem o povo comum. Essa imagem pública de associações protetoras que usam os seus poderes para promover o comércio justo e a ética dos negócios escondia o fato de que os franco-mações medievais constituíam uma sociedade secreta de origens pagãs que promoviam, clandestinamente, opiniões políticas radicais. De acordo com a doutrina esotérica oculta pela construção do templo de Salomão, os maçons acreditavam ser o seu dever espiritual aperfeiçoar o templo do corpo humano como um símbolo do Divino. Os iniciados ocultistas, o verdadeiro poder por detrás das sociedades secretas, sabiam que, para atingir o seu objetivo, teriam de usar o sistema político e, no século XII, passaram a colocar o seu plano em funcionamento. OS CAVALEIROS TEMPLÁRIOS A fim de compreendermos o surgimento das sociedades secretas medievais, temos, primeiro, de examinar o ambiente de pano de fundo à fundação do cristianismo, que constituiu a maior influência religiosa sobre a política européia da Idade Média. As histórias ortodoxas do cristianismo inicial dão a falsa impressão de que a nova fé substituiu as degeneradas religiões pagãs no espaço de algumas centenas de anos, encontrando uma resistência apenas moderada por parte dos seguidores dos antigos deuses. A conversão, no leito da morte, do imperador Constantino à nova religião e a sua aceitação dela como a fé do Império Romano, já em declínio durante a sua vida, certamente dotaram os primeiros cristãos de uma base no poder estabelecido.

Entretanto, eles ainda enfrentavam uma forte e, muitas vezes, violenta oposição por parte dos simpatizantes do sistema de crenças pagãs, que se mostravam relutantes em aceitar os novos ensinamentos, ao menos na forma em que eram apresentados pela Igreja primitiva, a qual havia efetivamente suprimido o evangelho de Jesus de Nazaré. Quando Jesus pregava a sua mensagem radical aos seus seguidores judeus na Judéia, então sob ocupação romana, a religião pagã, no mundo clássico, havia se degenerado. os sacerdotes das religiões pagãs estabelecidas haviam se tornado corruptos, ávidos de poder e entregues a vícios anormais como a pederastia. Eles estavam sendo desafiados pelos cultos dos mistérios, que propiciavam a iniciação em sociedades secretas preservando a Sabedoria Antiga e ensinando a senda oculta à iluminação espiritual. Esses cultos dos Mistérios eram baseados nos antigos temas da morte, do renascimento e da fertilidade, expressos através do simbolismo interno das religiões pagãs do Egito, da Caldéia, da Babilônia e da Grécia. Os cultos dos Mistérios se valiam de elaboradas cerimônias de iniciação, de um simbolismo arcano e de rituais teatrais para proporcionar ao iniciado a revelação da realidade espiritual oculta por detrás da ilusão do mundo material. Durante a iniciação, o neófito era posto em um transe e experimentava o contato com os deuses através de uma viagem simbólica ao Outro Mundo. Os iniciados morriam simbolicamente, renascendo como almas perfeitas. O propósito subjacente a tais rituais era provar ao candidato que o corpo em que havia encarnado no plano físico era um objeto ilusório, que o espírito era a única realidade verdadeira e que a reeencarnação na Terra era um processo de aprendizado para o desenvolvimento espiritual. Essas crenças pagãs iriam formar o drama central do mistério dos rituais de iniciação praticados nas lojas da Maçonaria especulativa.

O cristianismo inicial estava permeado pela influência dos cultos dos Mistérios. Ainda que a Igreja proibisse as doutrinas pagãs, como a reeencarnação, condenada pelo Concílio de Nicéia em 325 d.C. reofertasse templos pagãos ao culto cristão e transformasse deuses pagãos em santos, ela logo descobriu ser impossível erradicar totalmente o paganismo. O culto às deusas predominava no mundo antigo e a devoção da Igreja Católica à Virgem Maria constitui um exemplo da influência do princípio feminino sobre a crença cristã primordial. A virgem recebeu o título de rainha do Céu, sendo representada com um manto azul decorado com estrelas e erguendo-se sobre uma lua crescente. Essa imagem é quase idêntica às representações pagãs da deusa do amor Ishtar, adorada pelos babilônios. As estátuas da Madona com o menino Jesus entre os braços, erigidas nas igrejas católicas, são cópias quase exatas das efígies de Ísis amamentando o seu filho Hórus, encontradas nos templos egípcios. Durante o período que se seguiu à emergência dos cultos dos mistérios e a adoção do cristianismo como religião oficial do Império Romano, surgiu no Oriente Médio um novo movimento místico procurando sintetizar os melhores elementos do paganismo decadente com as novas crenças cristãs.

O movimento era conhecido por gnosticismo, do grego gnosis, significando “conhecimento”, e os gnósticos compartilhavam, com os discípulos originais de Jesus a crença que Deus poderia ser diretamente contatado, sem a intercessão do clero estabelecido, Alegavam eles terem preservado os verdadeiros ensinamentos de Jesus, que haviam sido suprimidos pelos concílios eclesiásticos organizados pela Igreja, a fim de produzir um dogma unificado para a nova religião. Os gnósticos derivaram a sua inspiração espiritual de uma variedade de fontes, incluindo os Mistérios gregos e romanos, a mitologia egípcia antiga, a tradição hermética, as doutrinas dualistas do zoroastrismo, os cultos da fertilidade do Oriente Médio, a religião estelar dos caldeus e os cristianismo esotérico. O gnosticismo derivava as suas crenças centrais das obras do líder espiritual persa Zoroastro, que vivera em aproximadamente 1800 a.C. Ele era um sacerdote da religião Indo-Ariana, que envolvia o culto das forças elementares da água e do fogo. Aos 30 anos, Zoroastro teve uma visão, durante a qual um dos deuses iranianos, Ahura-Mazda ou Ormuzde, apareceu-lhe e disse que era o Ser Supremo. A partir desse momento, Zoroastro rompeu com a religião estabelecida e ensinou a sua própria filosofia, baseada no universo como um campo de batalha cósmico entre as forças opostas da luz e das trevas, em eterno conflito. De acordo com o zoroastrismo, a pessoa iluminada tinha de escolher entre um ou outro desses princípios. A iniciação na religião de Zoroastro se dava aos 15 anos, quando ambos os sexos eram admitidos em seus ritos. o candidato à iniciação recebia uma corda especial que usava como um cinturão. Ela era passada três vezes em torno da cintura e amarrada na frente e atrás. Diariamente, o iniciado desamarrava a corda e, depois a recolocava, ao mesmo tempo em que recitava preces, usando-a à ,maneira de um rosário católico. Existem semelhanças entre essa corda e a usada pelos sacerdotes brâmanes na Índia, sobretudo porque era usada sobre uma camisa ou túnica de algodão branca que era um símbolo da perfeição espiritual. Em seus estágios posteriores, o zoroastrismo passou a ser associado ao culto do Mistério do deus-touro Mithra, originário na Pérsia como uma ramificação da religião de Zoroastro, mas, que, rapidamente, se alastrou para o oeste, onde fez muitos conversos entre os soldados de Roma imperial, atraídos por sua imagem masculina. Mithra era um deus discípulo da luz que, em comum com Jesus, nascera em uma caverna cercado de animais e pastores, no solstício de inverno, em dezembro. Uma famosa estátua de Mithra, que pode ser vista no Museu britânico, representa-o montado sobre um touro e mergulhado um punhal em seu pescoço. O sangue jorra da ferida e penetra na terra para fertilizá-la Mithra usa uma túnica curta e um manto e, sobre a sua cabeça, está o barrete frígio também associado a

Adônis e Átis. Essa cobertura para a cabeça característica foi adotada, tanto pelos maçons medievais como pela guarda revolucionária durante a Revolução Francesa. No zoroastrismo e gnosticismo, Mithra tornou-se o mediador entre os opostos cósmicos de Ormuzde e Ahriman, os deuses que representavam os poderes da luz e das trevas. Os gnósticos ensinavam que, pela compreensão do papel de Mithra, os seus devotos humanos poderiam aprender a reconciliar os aspectos bons e maus de suas próprias naturezas, percebendo que o mal não passava da imagem em forma de sombra do bem e que ambos tinham de existir em um mundo imperfeito. Mithra também estava associado a outra deidade gnóstica conhecida como Aion, que representava o tempo incessante. Os zoroastristas viam o universo como funcionando dentro de uma escala de tempo cíclica, com Aion sendo um deus tanto da destruição como da criação. Ele era simbolizado em forma humana com uma cabeça de leão e uma serpente enrolada em torno do corpo. Muitas vezes, ele apresenta o falo ereto e se ergue sobre um globo terrestre circundado pelo Zodíaco. uma estátua de Aion, desenterrada de uma vila romana do século I. D.C. e, agora, preservada no Vaticano, representa-o alado e desnudo, somente coberto por um avental de tipo maçônico. O candidato à iniciação nos Mistérios mitraicos participava de um rito de morte e renascimento, comparável ao cerimonial maçônico. Pedia-se-lhe que deitasse sobre o solo e se fizesse de morto. o sumo sacerdote do culto agarrava o iniciado “morto” pela mão direita, levantando-o em um ato simbólico de renascimento. Após o ritual, os membros do culto compartilhavam uma refeição ritual de pão e vinho. Durante essa comunhão simbólica, eles acreditavam estar comendo a carne do jovem deus Sol e bebendo o seu sangue. Conforme já dissemos, os gnósticos derivaram algumas de suas doutrinas da religião estelar praticada pelos astrólogos caldeus. Eles adotaram os sete espíritos ou deuses planetários de seu panteão pagão, que também eram representados pelos deuses clássicos da mitologia greco-romana: Mercúrio (Hermes), Vênus (Afrodite), Marte (Ares), Júpiter (Zeus), Saturno (Cronos), Sol e Lua. Na crença gnóstica, esses deuses foram transformados em arcanjos, que se tornaram o foco central da magia medieval e da tradição hermética. Os gnósticos tentaram unir o paganismo ao cristianismo, produzindo uma versão híbrida da nova fé baseada nos textos heréticos que circularam após a morte de Jesus. Sabese muito bem que os evangelhos foram escritos muitos anos, após a crucificação e que seus autores não foram testemunhas diretas dos eventos por eles descritos, ainda, que usassem os nomes dos discípulos de Jesus. Os primeiros concílios da Igreja decidiram que evangelhos seriam incluídos no Novo Testamento oficial, rejeitando os que não correspondiam a sua versão da fé cristã. Na versão ortodoxa do Novo Testamento, faz-se alusão a Jesus como um descendente da casa real de Davi, significando que também descendia do mago Salomão, que construiu um templo em Jerusalém para o culto da Deusa. Os gnósticos observam referências, nos evangelhos heréticos, ao fato de Jesus ter tido irmãos e, também, de ter sido chamado de filho da viúva, pois José faleceu antes de Jesus começar a sua jornada de pregação. O filho da viúva era um título simbólico concedido a Hiram Abiff, ao deus egípcio Hórus e a Mithra. Segundo a crença gnóstica, Jesus um homem comum que fora dominado pelo espírito de Deus e se tornara o Cristo, do grego kristos, significando “o ungido”. A morte física de Jesus na cruz, alegavam os gnósticos, só se explica, realmente, se a força de Cristo o abandonou antes da crucificação. Segundo uma explicação alternativa, Jesus sobreviveu à morte na cruz, sendo substituído por um bode expiatório que morreu em seu lugar, ou foi tirado da cruz vivo, reanimado e enviado às escondidas para fora do país, Se Jesus não morreu na cruz, qual foi o seu destino? Segundo várias teorias especulativas, ele teria levado uma vida monástica em uma comunidade essência às margens do Mar Morto, teria morrido de velhice em Kashmir, teria

sido morto pelos romanos em Massada durante a revolta judaica ou viajado para a Europa a fim de gerar a futura dinastia real francesa. Qualquer que tenha sido a sua crença sobre a morte de Jesus, a maioria dos gnósticos rejeitava o símbolo da cruz. Eles condenavam a adoração de um instrumento de morte e tortura. Outros gnósticos adotaram a visão mais extrema de que o Deus do Antigo Testamento, Jeová, seria Satã e de que o Supremo criador do universo teria enviado o Cristo, encarnado no corpo de Jesus, a fim de salvar a humanidade. Os romanos e os sacerdotes judeus, agindo como agentes de Satã-Jeová, conspiraram para assassinar Jesus, de modo, que venerar a cruz era adorar um símbolo do mal satânico. Essa última crença também foi compartilhada pelos maniqueístas, nome originário de seu fundador, Mani, nascido na Pérsia no século III d.C. Mani se convertera ao gnosticismo através dos ensinamentos de Zoroastro e pregava a dualidade do universo que, na crença judaico-cristã, estava simbolicamente dividido entre Deus e Satã, eternamente batalhando pelas almas da humanidade, em um jogo de xadrez cósmico. os maniqueístas tinham crenças religiosas rigorosas que incluíam o celibato para os seus sacerdotes, homens e mulheres, uma dieta vegetariana e a proibição do álcool e das drogas. os ensinamentos de Mani se espalharam, rapidamente, pelo Oriente Médio e Império Romano e, em certa época, competia seriamente como o emergente culto cristão pelos conversos. Eles também se disseminaram a leste da Pérsia, ganhando muitos conversos na China e Índia, durante os primeiros séculos da era cristã. A heresia de Mani parece ter sido um fator que contribuiu para o surgimento dos cátaros ou albigenses, nos séculos XI e XII d.C. As origens dos cátaros são obscuras, mas sabese que hereges dualistas haviam estabelecidos grupos no Oriente Médio e leste europeu, no século X. Na Bulgária, uma seita conhecida como os bogomilos foi implacavelmente perseguida pela Igreja, que os acusou de práticas sexuais anormais. Da Bulgária e Iugoslávia, a doutrina herética dos cátaros (do grego cathari, significando “os puros”) estabeleceu comunidades no norte da Itália, nas regiões alpinas e no sul da França. À semelhança da maioria das filosofias gnósticas, os cátaros ensinavam a crença dualista nos poderes opostos da luz e das trevas. Entretanto, eles também ensinavam a crença pagã na reeencarnação e identificavam o mundo material como o plano da ilusão. Os cátaros acreditavam que a humanidade poderia ser salva levando uma vida moral e, assim como os gnósticos, rejeitavam a cruz como um símbolo do mal. Eles se recusavam a aceitar a Igreja Católica como a verdadeira guardiã dos ensinamentos de Jesus, ensinavam que todos os homens e mulheres eram iguais e construíram hospitais e escolas para os pobres. os cátaros tinham um círculo interno dentro do clero com sete graus de iniciação, representando os estágios da perfeição espiritual. As cerimônias eram realizadas ao ar livre, em cavernas e florestas, e os iniciados cátaros vestiam túnicas brancas amarradas com uma corda. Em face à ameaça dos cátaros, a Igreja reagiu de sua forma tradicional. Ela acusou os hereges de culto ao diabo, sacrifícios humanos, canibalismo, incesto, homossexualismo e celebração da Missa Negra. A última acusação se baseava na prática cátara do ágape ou festa do amor, herdada dos Mistérios pagãos. Em 1209, a Igreja lançou uma cruzada contra os cátaros e milhares deles foram mortos. o cavaleiro que liderou a cruzada, interpelado pelos seus homens sobre quem deveriam abater a fio de espada e quem deveriam poupar, nas cidades atacadas, replicou com as palavras imortais: “Mataremos a todos. Deus reconhecerá os Seus.” Os cátaros não aceitaram a perseguição pela Igreja docilmente, ao contrário defenderam-se com todos os recursos disponíveis. No entanto, a derrota final adveio em Montsegur, aos pés dos Pirineus, quando, em março de 1244, mais de 200 sacerdotes cátaros foram massacrados pelas forças cristãs. Alega-se que, pouco depois de fortaleza ter sido subjugada pelos cruzados, um tesouro secreto foi removido do castelo e escondido em algum ponto dos territórios das redondezas. A especulação sobre a natureza desse tesouro tem sido fértil no correr dos séculos. Alguns ocultistas chegaram a argumentar que os cátaros seriam os

guardiões do Santo Graal, o cálice usado por Jesus na última ceia, o qual eles não queriam ver capturado pela Igreja Romana, segundo eles uma títere de Satã. Outras teorias defendem que o tesouro misterioso seriam escritos esotéricos revelando os ensinamentos ocultistas dos cátaros a partir de suas origens pagãs. Essa crença é mais provável do que a teoria do Graal. Os historiadores estudiosos dos cátaros tem apontado muitas conexões pagãs na área em torno de Montsegur. A alguns quilômetros do castelo, está o local de um altar druida datando dos tempos célticos e uma cruz cristã esculpida com símbolos pagãos. Em cavernas próximas, existem indícios do culto a Mithra, e o próprio sítio de Montsegur tinha a reputação de ter sido um centro da adoração solar pagã milhares de anos antes da chegada dos cátaros. Os cátaros tinham vínculos com o dualismo do Oriente Médio, os cultos dos Mistérios e os gnósticos, sendo através dessas conexões que eles podem ser vinculados com sociedades secretas tais como os Sufis e os Assassinos, que, por sua vez, influenciaram os Cavaleiros Templários. Os sufis são, tradicionalmente, os seguidores da tradição secreta encoberta pela ordoxia do islamismo. Atualmente, a religião fundada pelo profeta Maomé é, essencialmente, patriarcal, mas a religião original da Arábia encontrava-se na adoração do princípio feminino. A Caaba, ou mesquita de Meca, centro sagrado da crença islâmica, era, originalmente, o local de um templo pagão.

Acredita-se que a misteriosa pedra negra adorada dentro da Caaba que, segundo a crença islâmica, foi dada ao profeta Abraão pelo arcanjo Gabriel, fosse, de fato, o objeto de culto de um centro pré-islâmico de adoração à Deusa. Na crença islâmica, a sexta-feira é um dia sagrado, e no mundo clássico esse dia era dedicado à deusa do amor, Vênus. A cor tradicional de Maomé é verde, que é associada à Grande Deusa Mãe em seu aspecto egípcio como Ísis, a Senhora da Natureza. Os símbolos islâmicos da cimitarra e do crescente têm sido identificados, variadamente, como a Lua ou a estrela da manhã, Vênus. É possível que Maomé tivesse contatos com o sistema de crenças gnóstico. Ele foi, certamente, ensinado por monges cristãos, reconhecendo a sua contribuição na fundação de sua nova religião. Ainda que islamismo e cristianismo fossem, na Idade Média, politicamente rivais, havia diversos vínculos entre as duas religiões. Ambas eram monoteístas, patriarcais e derivavam a sua inspiração espiritual de uma fonte semita comum. Os seguidores do islamismo reconheciam em Jesus um grande mestre espiritual, apesar de não aceitarem a sua divindade, e reverenciavam muitos dos patriarcas do antigo Testamento. Se bem que a tradição sufis supostamente se originou do islamismo, há quem afirme que as suas crenças foram bem mais antigas. O pesquisador J.G. Bennett descreve como foi levado pelo místico russo, Gregori Gurdjieff, para ver as pinturas de caverna pré-históricas em Lascaux. Gurdjieff mostrou a Bennett os desenhos, nas paredes da caverna, de rebanhos de renas cruzando um rio, e explicou tratar-se de uma representação simbólica de um antigo ritual iniciático. De acordo com Gurdjieff, o número de chifres das renas representava o nível de espiritualidade alcançado pelos iniciados, dos quais elas eram o emblema totêmico. Gurdjieff revelou em confiança a Bennett que essas antigas escolas de Mistérios datavam de 30 a 40 mil anos e que aprendera sobre elas ao estudar desenhos de cavernas nas montanhas caucasianas e no Turquestão. O místico russo havia recebido a iniciação de mestres sufis, de modo que revela que existe uma tradição no sufismo remontando à Ásia Central em 40 mil anos atrás, não temos dúvidas quanto à fonte dessa surpreendente informação. A semelhança do cristianismo, a introdução do islamismo sofreu resistência por parte dos árabes que continuaram seguindo o culto aos deuses pagãos. Após a morte de Maomé, surgiram várias seitas heréticas, promovendo formas alternativas ao islamismo, e foram fundadas sociedades secretas baseadas nessas filosofias.

Elas incluíam os ismaelitas, batimis, karmatitas, fatímidas e drusos. Várias dessas seitas heréticas se inspiraram em idéias gnósticas e maniqueístas, e algumas alegavam estar preservando a tradição ocultista árabe. A mais poderosa e bem-documentada sociedade secreta islâmica operando no Oriente Médio foi a seita popularmente conhecida como os Assassinos. As suas origens estão encobertas pelo mistério, mas eles parecem ter estado vagamente vinculados ao gnosticismo. No século XI d.C., surgiu na Pérsia um místico chamado Abdula, com a missão de estabelecer uma religião panteísta em substituição ao islamismo. Ele fundou uma sociedade secreta para propagar as suas crenças, derivadas de uma mistura do hinduísmo com os ensinamentos herege persa Mani. Aos iniciados nessa sociedade, ofereciam-se nove graus de iluminação, similares aos Mistérios de Elêusis praticados na Grécia antiga. Aos iniciados era ensinado o significado místico do número sete, que, na tradição ocultista, representava o número de planos da existência, do material ao espiritual. Também lhes era ensinados que Deus havia enviado, ao mundo, sete grandes mestres para conduzirem a humanidade à perfeição espiritual. Esses mestres foram Adão, o primeiro homem; Noé, o sobrevivente do dilúvio; Abraão, o fundador caldeu da religião de Javé; Moisés, o iniciado egípcio e fundador da Cabala; Jesus; Maomé e Ismael. Os membros da sociedade também aprendiam as filosofias gregas de Platão e Aristóteles e eram doutrinados com os ensinamentos esotéricos dos sufis. A sociedade secreta de Abdula se espalhou pelo Oriente Médio, reunindo-se em pequenos grupos a fim de conspirar contra o islamismo, até a sua supressão em 1123. Um de seus iniciados foi Hassan-ibn-Sabá, que, em 1093, organizou uma ramificação denominada de Ordem dos Devotos. A nova Ordem renunciou ao panteísmo místico da sociedade original, em favor das virtudes positivas do Corão. Foi essa Ordem dos Devotos que se desenvolveu na seita conhecida como os Assassinos. Argumenta-se que os Assassinos derivam o seu título do árabe hashishmar, ou “comedor de haxixe”, o cânhamo usado em seus rituais. Outras autoridades alegam derivar-se do árabe hass, significando “destruir”, ou de asana, que quer dizer “armar ciladas”. Hassan recebeu o tradicional título de Sheikh al Jebal ou Senhor da Montanha, daí o seu título popular de Velho das Montanhas. Ele e os seus seguidores construíram um castelo em Alamut ou Ninho das Águias, na Pérsia. Encarapitado 183 metros acima de um desfiladeiro e cercado de montanhas hostis, era praticamente inexpugnável. Dessa elevada fortaleza, os Assassinos moveram uma guerra internacional de terrorismo contra quem se lhes opusesse. Hassan morreu em 1124, mas os Assassinos sobreviveram como mercenários dispostos a matar a qualquer preço. Vários conhecidos cruzados europeus lançaram mão dos Assassinos, inclusive o rei inglês Ricardo Coração de Leão e Frederico II, da Sicília, excomungado pelo Papa por contratá-los para assassinarem o duque da Baviera. A fortaleza dos Assassinos foi, finalmente, invadida pelos mongóis, em 1256, e a Ordem foi dispersada. Entretanto, já em 1754, um cônsul inglês afirmou que a Ordem dos Assassinos ainda sobrevivia na Pérsia, Síria e Índia. Afirmou-se que eles ensinaram as suas habilidades assassinas ao culto hindu dos turgues, que adoravam a deusa da destruição Kali e praticavam sacrifícios humanos durante os dias do domínio britânico. Em 1866, os Assassinos foram mencionados em um caso judicial em Bombaim, envolvendo um príncipe persa que alegava ser um descendente direto do grão-mestre original da Ordem. Alguns estudiosos tentaram estabelecer vínculos concretos entre os Assassinos e os sufis, identificados como adoradores da Deusa por usarem o símbolo do duplo machado (associado à antiga adoração da Deusa) e pela natureza xamanista de seus rituais, envolvendo a dança e o canto. Cerâmicas pintadas com o pentagrama ou estrela de cinco pontas e o vesica piscis , um símbolo abstrato da vulva feminina, foram desenterrados das ruínas da fortaleza da

montanha dos Assassinos. Eles também usavam túnicas e uma faixa vermelha, simbolizando a inocência e o sangue, semelhantes ao traje adotado pelos zoroastristas, sufis, cátaros e templários. No período da atuação dos Assassinos, a Igreja Católica organizava as suas primeiras cruzadas, para estender o seu poder político ao Oriente Médio e recuperar a Terra Santa do islamismo. o início das Cruzadas pode ser fixado a partir da década de 1060, quando o papa Alexandre II concedeu indulgencias aos cavaleiros que haviam enfrentado os invasores mouros na Espanha. Em 1096, um monge excêntrico, Pedro o Eremita, liderou, através da Europa, uma Cruzada dos Camponeses composta de vários milhares de homens, mulheres e crianças para libertarem Jerusalém dos árabes. A maioria desses desafortunados foi massacrada, no caminho, por bandos de criminosos e pelos exércitos do Império Bizantino, que abrangia os modernos países da Bulgária, Iugoslávia, Grécia e Turquia. A essa primeira e desastrosa cruzada, seguiram-se outras bem-organizadas e lideradas por cavaleiros treinados que lograram consideráveis sucessos militares e, finalmente. estabeleceram um reino cristão em Jerusalém, no início do século XII. Não obstante o estabelecimento de um exército de ocupação cristão na Terra Santa, os peregrinos europeus que viajavam para os locais sagrados continuavam enfrentando vários perigos. na Páscoa de 1119, um grupo de 300 peregrinos, viajando de Jerusalém para o Jordão, foi atacado e morto pelos sarracenos, O rei Balduíno II, de Jerusalém, ficou tão chocado com essa atrocidade, que tomou providências para impedir que fatos semelhantes jamais voltassem a se repetir. Balduíno tinha, a seu serviço, um cavaleiro frâncico chamado Sir. Hugh de Payens, que passara três anos pelejando na Terra Santa. O rei sugeriu a de Payens que organizasse uma Ordem Cavalheiresca para defender as rotas dos peregrinos, oferecendo parte de seu palácio para a sede da nova organização. O palácio dentro dos muros de uma mesquita erguida no local do templo original de Salomão e, por essa razão, Sir Hugh denominou a sua nova Ordem de Templi Militia, ou Soldados do Templo, que mais tarde assumiu a denominação mais pomposa de Cavaleiros do Templo de Salomão em Jerusalém. Balduíno inicialmente financiou os Cavaleiros Templários, mas de Payens decidiu viajar à Europa em busca de patrocínio, por saber que, para que a Ordem tivesse sucesso, precisaria do apoio da Igreja. Ele já havia decidido que os templários seriam monges guerreiros e aceitou o apoio de St. Bernard de Clairvaux, fundador da Ordem de Cister, que formulou as regras monásticas para a Ordem e intercedeu a seu favor junto ao Papa, que concedeu a sua aprovação. Sob a proteção religiosa de St. Bernard, os templários proferiam votos de pobreza, castidade e obediência aos princípios cristãos e declaravam a sua intenção de proteger as rotas até a Terra Santa para os peregrinos. Eles se dedicavam à Mère de Dieu, ou Mãe de Deus (Virgem Maria), jurando “consagrarem as suas espadas e as suas vidas à defesa dos mistérios da fé cristã”. Considerando-se a história e o posterior declínio da Ordem, esse voto é muito significativo. Ainda que o relato acima constitua a versão geralmente aceita da fundação dos templários, a controvérsia ainda cerca as suas origens. Alguns pesquisadores argumentam que os templários foram uma ramificação de uma sociedade secreta ainda mais antiga denominada Priorado de Sião. Essa organização se dedicava à restauração, na França, da antiga dinastia merovíngia, supostamente descendente de Jesus e Maria Madalena, sendo a eminência parda por detrás da Ordem Rosa-Cruz. A fundação do Priorado pode ser, presumivelmente, remontada ao adepto gnóstico Ormus, que viveu no século I d.C. Ele foi convertido para a versão herética da mensagem cristã por Marcos, um discípulo de Jesus de Nazaré, e formou uma sociedade secreta que uniu o cristianismo esotérico aos ensinamentos da escola de Mistérios pagãs. Ormus adotou, como seu símbolo, uma cruz encimada por uma rosa, significando a síntese da antiga e da nova

religião. A cruz vermelha foi, mais tarde, adotada pelos templários, enquanto a cruz rósea era o sinal mágico usado pelos rosa-cruzes medievais. Quaisquer que sejam as origens da Ordem, com o apoio de St. Bernard, os templários parecem Ter se fortalecido mais e mais. O papa Honório concedeu-lhes a bênção papal, e a Ordem adotou como o seu uniforme um manto branco com uma cruz vermelha de ramos iguais. De inícios, os templários aderiram a seus votos de castidade e pobreza, mas um pouco depois de sua fundação, a Ordem começou a adquirir aspirações políticas. A tradição dos templários baseava-se, firmemente, na renovação do ideal cavalheirescos, severamente enfraquecido pelas Cruzadas. Os cavaleiros, que haviam deixado a Europa com um código moral de guerra rigoroso, tinham se embrutecido com as suas batalhas contra os sarracenos, entregando-se a uma orgia de massacres sangrentos estupros e saques. Os templários desejavam restaurar os princípios do cavalheirismo, estabelecendo a sua nova idade de ouro. O seu objetivo derradeiro, em nível político, consistia em uma Europa unificada, regida por princípios cristãos, ainda, que a sua versão do cristianismo diferisse radicalmente da do Vaticano. Inspirados pelos grão-mestres da Ordem que sucederam Sir Hugh de Payens, os templários adquiriram tanto poder político como material. Mesmo antes da morte de Payens, a Ordem havia se ramificado internacionalmente. Em 1129, de Payens visitara a Inglaterra e Escócia, tendo contatado ricos patronos que doaram terras e dinheiro à sua causa. A Ordem também se estabeleceram na França e Espanha, e na Terra Santa construíram uma rede de castelos para defender as rotas dos peregrinos e os locais santos da Cristandade. No início do século XII, os templários haviam se tornado os banqueiros internacionais da Europa, sendo nomeados tesoureiros da família real francesa e do Vaticano. Os grão-mestres das ordens militares de monges guerreiros, que incluíam os Cavaleiros Templários, os Cavaleiros de São João e os Cavaleiros Teutônicos, haviam adquirido considerável poder político. No século XII, as suas Ordens controlavam 40% das fronteiras da Europa. Navios de propriedade dos templários e de outras ordens militares não só carregavam soldados para o Oriente Médio, como também transportavam peregrinos ricos que pagavam suas passagens. Em suas viagens de volta, os navios traziam cargas que incluíam especiarias, perfumes e seda, vendidas para mercadores a altos preços. Em janeiro de 1162, o papa Alexandre III emitiu uma bula papal especial concedendo poderes extraordinários aos templários. Eles foram liberados de toda obediência espiritual, exceto ao próprio papa, permitidos. de possuírem os seus próprios capelães e cemitérios e liberados do pagamento de dízimos, podendo, em vez disso, recebê-los. Uma vez um cavaleiro tornando-se um templário, era-lhe proibido deixar a Ordem, a não ser que fosse transferido para outra Ordem militar. Essa bula papal fortaleceu o poder político da Ordem ainda mais, e consta que o grão-mestre teria dito a Henrique II, da Inglaterra, “Você permanecerá rei na medida em que for justo”., sugerindo Ter o poder de derrubá-lo do trono. Os artifícios empregados pelos templários para ganhar dinheiro eram legendários. Dizse que um grupo de cavaleiros foi enviado a um convento perto de Damasco, onde um milagre havia ocorrido, Uma estátua da Virgem Maria havia se coberto de carne e de seus seios escorria um abundante líquido como o poder de curar os doentes e apagar os pecados. Os templários retornaram do convento com um grande suprimento do líquido dos seios da Virgem, que eles engarrafaram e venderam a peregrinos crédulos. No entanto, rumores de má conduta por parte dos membros da Ordem começavam a circular. Já em 1208, o papa havia censurado o grão-mestre, alegando que, ainda que os cavaleiros usassem a cruz cristã, poucos seguiam os ensinamentos de Jesus. Segundo ele, muitos dos homens admitidos na Ordem eram culpados de adultério e outros delitos sexuais não-especificados. As atividades dos templários nas Cruzadas também estavam sendo criticadas por aqueles que os consideravam traidores da causa cristã. Em 1219, os templários professaram a sua obediência a um legado papal, quando esse encabeçou uma força expedicionária contra Damasco. Contudo, os cavaleiros desobedeceram às suas ordens e agiram por conta própria. Quando o rei Frederico II, da Sicília, empreendeu a

sua primeira cruzada ao Egito, os templários conspiraram com o sultão para que a campanha fracassasse. o rei retaliou confiscando as propriedades dos templários na Itália e Sicília, ao que os templários deram a devida resposta, desapropriando os Cavaleiros Teutônicos, Ordem fundada por Frederico, de suas propriedades na Síria. Tornou-se crença generalizada que os templários estavam empenhados em assinar pactos secretos com os sarracenos. Esses rumores pareceram se confirmar quando a Ordem se aliou ao Emir de Damasco contra os Hospitalários da Ordem de São João. Em 1259, as relações entre as duas Ordens haviam degenerado a tal ponto, que o conflito aberto irrompeu, e uma batalha se travou entre os templários e os hospitalários. Eram freqüentes os exemplos de alianças dos templários com os sarracenos, chegando eles a contatar a Ordem dos Assassinos e, uma conspiração para conceder-lhes o poder em Tiro, o antigo centro de adoração da Deusa e local do nascimento de Hiram Abiff. Devido à força dos templários, poucos ousavam desafiá-los abertamente, mas vinham ocorrendo eventos que levariam ao enfraquecimento de seu poder político, com conseqüências fatais para o futuro da Ordem. Esses eventos coincidiram com a perda de sua sede no local do Templo de Salomão, em Jerusalém, e a sua expulsão da Terra Santa, em 1291, ao ser recapturado pelos sarracenos. Em 1307, o rei Filipe, da França, estava à beira da falência, devendo aos templários considerável montante de dinheiro, Filipe soube que acusações vinham sendo feitas contra a Ordem por dois membros renegados, Roffo Dei e o Prior de Montfaucan, que tinham sido aprisionados pelos templários por crimes desconhecidos. Ambos os homens haviam escapado e procurado a proteção do rei francês, imediatamente oferecida em troca de provas incriminadoras das atividades secretas dos cavaleiros Templários. Felipe IV passou a informação ao papa Clemente V, e orei e o pontífice conspiraram para atrair o grão-mestre da Ordem, Jacques de Molay, a uma armadilha em solo francês. O papa solicitou ao grão-mestre que viesse, de sua sede em Chipre, visitar Paris, a fim de discutirem uma nova cruzada na Terra Santa para recuperarem Jerusalém dos árabes. De Molay deixou Chipre trazendo a sua guarda pessoal de cavaleiros, 150 mil florins de ouro e seis cavalos carregados de prata. Esse tesouro foi depositado na casa capitular templária em Paris. De modo a transmitir a De Molay uma falsa sensação de segurança, Filipe fez do GrãoMestre padrinho de seu filho e o convidou ao funeral de sua cunhada, ajudando a carregar o caixão. Na realidade, o ardiloso rei. estava tramando a queda dos templários e a morte de Molay. Os cavaleiros estavam hospedados na cidade templária de Paris e, a 13 de outubro de 1307, o rei levou a cabo o seu plano. Tropas cercaram a edificação e todos no seu interior foram presos. Num período de 48 horas, mandados haviam sido emitidos ordenando a detenção de todos os templários na França, ainda que essa medida fosse tecnicamente ilegal, já que a Ordem se subordinava apenas ao papa, e não às leis civis. Entretanto, em 22 de novembro, o papa emitiu uma bula a todos os soberanos cristãos da Europa ocidental, ordenando-lhes que prendessem os membros da Ordem residentes em seus países. A sorte dos templários estava selada. A lista de acusações contra a Ordem era conhecida, pois tinham sido lançadas contra os cátaros do sul da França, porém havia alguns interessantes novos elementos. Especificamente, os templários foram acusados de negarem os princípios da fé cristã, cuspirem ou urinarem no crucifixo durante ritos secretos de iniciação, cultuarem uma caveira ou cabeça chamada Baphomet em uma caverna escura, ungirem-na com sangue ou a gordura de bebês não batizados, cultuarem o Diabo na forma de um gato preto e cometerem atos de sodomia e bestialidade. Segundo outras acusações menores, os templários juravam obedecer somente à Ordem, assinavam pactos secretos com os sarracenos e se entregavam a práticas islâmicas, assassinavam quem se opusesse a suas pretensões, enterrando-os secretamente em solo não

consagrado, rompiam os seus votos de castidade e providenciavam abortos para as suas amantes, e, finalmente, o grão-mestre da Ordem ouvia as confissões dos cavaleiros, absolvendo-os de todos os pecados cometidos em nome dos templários. Qual a base real dessas acusações, se é que a tinham? É fácil identificar as alegações sensacionalistas, respaldadas por respaldadas por confissões extraídas sob tortura, como um pretexto urdido por um rei falido para poder se apossar, legalmente, da riqueza da Ordem. O papa apoiou o plano porque passara a temer o poder político dos templários, que estavam criando uma igreja dentro da Igreja, ameaçando a sua própria posição como líder ungido da Cristandade. No entanto, os templários despenderam muitos anos no Oriente Médio e a Ordem tinha sido fundada no local do templo do rei Salomão. Duas importantes cidadelas templárias localizavam-se nos portos de Tiro e Sidon, antigos centros de adoração à Deusa, associados às origens pagãs da franco-maçonaria. O uniforme templário vermelho e branco também era usado pelos Assassinos, com os quais os cavaleiros haviam, supostamente, pactuado. Uma das acusações lançadas contra s templários foi a de que usavam uma faixa ou corda mágica recebida nas cerimônias iniciáticas, sugerindo conexões com os zoroastristas, cátaros e sufis. Em suas confissões, os cavaleiros revelaram que as cerimônias de iniciação dos templários se davam à noite em capelas iluminadas por velas. Os iniciadores eram forçados a renunciarem a fé cristã, em sinal de fidelidade à Ordem, e a cuspirem, urinarem ou pisotearem em um crucifixo. Por mais blasfemo que isso pareça, é possível que o iniciado fosse assim instruído por que, à semelhança dos cátaros, os templários rejeitassem o crucifixo como um símbolo mau do sofrimento e da morte. Alguns iniciados confessaram ter ouvido, dos superiores da Ordem, que Jesus fora um falso profeta e que não deveriam respeitar o crucifixo por ser “jovem demais”. Isso sugere elementos do dualismo gnóstico e do paganismo. Os candidatos a ingressar na Ordem também tinham de beijar os seus iniciadores na boca, no umbigo, no pênis e “na base da espinha”. Esses beijos, para os críticos da Ordem, provavam as suas atividades sexuais pervertidas; porém, na tradição ocultista, o umbigo, os órgãos sexuais e o períneo são a localização física dos centro psíquicos do corpo humano, conhecidos no Oriente como chacras. O períneo marca o Kundalini chacra, a fonte psíquica da energia sexual no corpo. Diferentes técnicas oculistas permitem a liberação dessa energia, de modo que ela possa subir a medula espinhal para iluminar o cérebro. É possível que, em sua permanência no Oriente Médio, a Ordem dos templários tenha contatado adeptos das escolas de Mistérios árabes, que lhes ensinaram os segredos da magia sexual. A especulação foi sempre fértil quanto à natureza exata do objeto de culto venerado pelos templários. Tratava-se de uma imagem em forma de caveira ou cabeça, denominada pelos cavaleiros de Baphomet, palavra de derivação ignorada. Baphomet tem sido, alternadamente, descrito como uma divindade andrógina com duas faces e uma longa barba branca, ou uma caveira humana, dizendo profecias oraculares que guiavam o destino da Ordem. Alguns estudiosos dos templários chegam a especular que essa imagem seria o sudário de Turim, presumivelmente a peça usada para enrolar o corpo de Jesus após a sua morte. O ocultista do século XIX, Alphonse Constant , ex-sacerdote católico romano que adotou o pseudônimo judaico de Eliphas Levi, ao abraçar a via mágica, escreveu extensamente sobre a deidade dos templários . Levi via Baphomet como uma figura mágica e panteísta representando, simbolicamente, o Absoluto. Ele reproduziu uma ilustração de Baphomet, aparentemente baseada em uma efígie da deidade encontrada na Commnaderie de Saint Bris le Vineux, construção pertencente à Ordem. A gárgula tem a forma de uma figura chifruda e barbada, com seios femininos pendentes, asas e patas fendidas. Ela está sentada de pernas cruzadas, numa posição semelhante às estátuas do deus-cervo, Cernnunos ou o Chifrudo, adorado na Gália (França) antes da ocupação romana.

Na ilustração de Levi, Baphomet é uma figura com cabeça de bode e características andróginas, sentado sobre um cubo. Uma tocha queima entre os cornos do bode, representando a inteligência cósmica e a iluminação espiritual. Na tradição oculta, Lúcifer encarado pela Igreja como o Diabo é chamado de o que traz a luz, por conceder aos seus discípulos a iluminação espiritual através da encarnação no plano físico. De acordo com Levi, a cabeça de Baphomet combina as características de um cão, um touro e um bode, que representam as três fontes da tradição pagã dos Mistérios. Elas são o Egito o deus-chacal Anúbis, guia dos mortos no Outro Mundo e identificado com o grego Hermes; a Índia o touro sagrado, que pode ser a origem de Mithra; e a Judéia o bode expiatório, sacrificado no deserto para limpar os pecados da tribo. Na testa da figura de Baphomet, marcado o local físico da glândula pineal ou terceiro olho, está o sinal mágico do pentagrama ou estrela de cinco pontas, que representa a humanidade em seu estado imperfeito. Trata-se também de um símbolo da estrela da manhã. Vênus, que era associada a Ishtar e Astarte. A estrela da manhã também era um título dado a Lúcifer, descrevendo a sua queda do céu na Bíblia. A figura andrógina de Baphomet possui seios femininos e a parte inferior do corpo velada, retratando os mistérios da procriação. Entretanto, a natureza fálica do deus-bode é simbolizada pelo caduceu, isto é, a vara com duas serpentes enroscadas portadas por Hermes. O símbolo esconde o pênis ereto da figura de Baphomet. O seu ventre está coberto por escamas, representando a origem reptiliana da raça humana no processo evolucionário. A natureza andrógina de Baphomet é enfatizada pelo fato de que um braço é masculino, enquanto o outro é arredondado e feminino. Uma das mãos aponta para cima e a outra para baixo, representando o axioma hermético “Assim em cima... como embaixo”. As mãos apontam para uma lua crescente preta e outra branca, significando as fases crescente e minguante preta e outra branca, significando as fases crescente e minguante da lua. Estas simbolizam a dualidade da natureza humana e os princípios masculinos e femininos, cuja união produziu a manifestação do universo e os poderes da luz e das trevas. O que representa a palavra Baphomet? O falecimento Montague Summers, autor de diversos livros sobre bruxaria e demonologia, de um ponto de vista católico radical, derivou a palavra do grego Baph metis, significando “ o batismo da sabedoria”, que se referia a um ritual secreto conhecido apenas pelo Grão-Mestre dos templários. A falecida Madeline Montalban, conhecida ocultista e fundadora da Ordem da Estrela da Manhã, conta-nos que converteu Baphomet em Bfmaat, palavra derivada da língua enoquiana. Segundo Montalban, o enoquiano era a língua falada no continente perdido de Atlântida e, ainda que conhecida por iniciados, ocultistas desde os primeiros tempos, ela só foi revelada para o mundo externo pelas pesquisas do astrólogo e mago Dr. John Dee. Em enoquiano, a palavra Baphomet ou Bfmaat pode ser interpretada, segundo Montalban, como “o Abrigo da Porta”. Madeline Montalban interpretou, ainda, a figura de Baphomet como um glifo do signo zodiacal Capricórnio. Esse signo astrológico simbolizava as ambições materiais e as aspirações políticas dos templários. Em nível esotérico, o emblema caprino de Capricórnio é encarado como um símbolo do iniciado ocultista que escala a montanha celeste para alcançar a unidade com o Divino. Segundo Idries Shah, autor de temas sufis, Baphomet vem da palavra árabe Abufihamat, que pode ser traduzida como “o Pai da Compreensão”, ou “a fonte da sabedoria e do conhecimento”, sendo um título usado para descrever um mestre sufi. É bem possível que os templários tivessem se exposto às crenças do sufismo, em seu período na Terra Santa, e à filosofia dualista gnóstica. Muitos dos templários eram nascido no Oriente Médio, inclusive o Grão-Mestre Filipe de Nablus, eleito em 1167, natural da Síria. Escreveu Levi que, invertendo-se as letras de Baphomet, obteríamos TEM OHP ABI. Estendendo e traduzindo-se para o latim esse anagrama, obtemos Templi omnium hominum pacis abbas, ou “O Pai do Templo da Paz de todos os homens”. Levi o considerou como uma

referência ao templo construído por Salomão, cujo propósito esotérico era trazer a paz ao mundo. Há muitas afirmações no sentido de que os templários eram adoradores secretos da Deusa. Um dos objeto encontrados em uma casa capitular templária em Paris foi a imagem de prata de uma figura feminina. dentro dessa estatueta estavam alguns ossos humanos enrolados em linho vermelho e branco. Segundo o Dr. Hugh Schonfield, um especialista nos pergaminhos do Mar. Morto, existira um vínculo entre os templários e os essênios. Ele afirma que o nome Baphomet pode ser traduzido, de acordo com um código secreto essênio, na palavra Sofia. Trata-se da palavra grega para a sabedoria e o nome de uma deusa venerada na religião gnóstica. Além disso, o misterioso gato preto cultuado pelos templários tem sido identificado, por alguns ocultistas, como uma imagem da deusa-gata egípcia, Bast, ou da deusa-leoa, Secmet. Os relatos do culto a Baphomet derivam-se, em grande parte, de confissões extraídas sob tortura, durante as quais vários membros da Ordem morreram. Entretanto, muitos deles confessaram sem recurso à tortura, confirmando histórias que os agentes do rei Filipe, infiltrados na Ordem, haviam obtido. Em 22 de outubro, Jacques de Molay confessou, perante uma assembléia de acadêmicos da Universidade de Paris, que as acusações contra a Ordem eram verdadeiras. Ele endereçou uma carta aberta aos seus colegas instruindo-os, prontamente, a confessarem as más práticas às quais se entregaram como membros da Ordem. Como resultado dessa carta, um dos principais membros da Ordem a confessar foi o Grande Tesoureiro, Hugo de Pairuad, revelou ter sido responsável pela iniciação de muitos cavaleiros na Ordem e de Ter visto o deus dos templários, que lhes concedia a riqueza terrena, tornava-lhes as terras férteis e causava a morte de seus inimigos. A investigação dos crimes dos templários foi minuciosa e durou vários anos. A Ordem só foi oficialmente dissolvida pelo papa em 1312. Os templários que se revelaram inocentes das acusações ou que, caso culpados, se submeteram à Igreja, foram libertados e receberam pensões. Aqueles que se recusaram a se retratar foram condenados à fogueira. Ao rei Filipe coube parte substancial das propriedades e rendas dos templários, o restante sendo compartilhado pelos Cavaleiros de São João. Em março de 1314, após vários adiamentos causados pela incapacidade do papa de aceitar plenamente a culpa dos templários, de Molay recebeu a oportunidade de se submeter à Igreja e, ao recusá-la, foi queimado vivo. A pira foi acesa em uma pequena ilha do Sena, entre os jardins do palácio real e a igreja dos Irmãos Eremitas. Logo antes de morrer, de Molay anunciou a sua inocência e amaldiçoou o rei de França e o papa. Ele disse que Filipe seria convocado pelo seu criador dentro de 12 meses e o papa antes de 40 dias. Clemente morreu a 20 de abril e Filipe morreu a 29 de novembro. Ainda que Ordem Templária fosse dizimada na frança, ela não sofreu tão brutalmente em outras nações européias, na Inglaterra, o rei Eduardo II reagiu lentamente à bula papal condenando os templários. Ele prendeu os seus membros, mas permitiu que o Mestre do Templo inglês recebesse uma pensão. No entanto, decorrido um mês das prisões, Eduardo confiscou todas as propriedades dos templários no país, aproveitando-se dos seus recursos financeiros para abarrotar os próprios cofres. Ainda que um sacerdote templário confessasse ter negado Jesus em sua iniciação, nenhuma ação foi tomada contra ele. Os membros da oOrdem prontamente se submeteram à Igreja, para evitarem qualquer punição adicional, tendo sido perdoados. Na Alemanha, em Portugal, na Suíça e em Aragão, os templários foram declarados inocentes, e em Chipre, que abrigava a sede da Ordem, todos os cavaleiros foram absolvidos das acusações lançadas pelo rei Filipe.

Antes de sua execução, de Molay nomeou como sucessor um cavaleiro de confiança, chamado Larmenuis, pedindo-lhe que reorganizasse, secretamente, a Ordem e reunisse os cavaleiros dispersos. É a partir desse ponto da história que os templários, efetivamente, desaparecem da visão pública. Eles emergiriam, nos séculos posteriores, como uma organização clandestina que se dedicava, subterraneamente, à promoção da tradição ocultista e da política de libertação ideológica com membros no mundo inteiro. BIBLIOGRAFIA A SERPENTE DE FOGO – Darrel Irving Editora Pensamento VIAGENS NO TEMPO – Alan Lightman COMPANHIA DAS LETRAS

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