A MULHER E A MENOPAUSA
A vida, como um todo, é marcada por períodos definidos e singulares. Do nascimento à senectude, o corpo manifesta uma série de transformações peculiares a cada faixa etária e não há como mudar o curso destes acontecimentos fisiológicos. A menopausa, caracterizada pela cessação da menstruação e seus mecanismos, é um acontecimento fisiológico da vida da mulher. Para muitas mulheres este fenômeno acontece sem muitas dificuldades, para outras pode representar um período de muita ansiedade carregado de angústia. Do ponto de vista cultural, o climatério e a menopausa são fases impregnadas de conotações negativas, quase sempre ligadas a sentimentos de perda da capacidade produtiva, da juventude, da beleza, da sensualidade, da sexualidade, da oportunidade de relações amorosas etc. Tudo isso acompanhado de segredos, vergonha, desinformação, enfim, perspectivas sombrias. A sociedade ocidental, tão voltada para a juventude, para a competividade exagerada, devotada ao triunfo individualista, só faz aumentar a angústia humana, deteriorando a qualidade de vida e empobrecendo o encontro amoroso. O climatério e a menopausa marcam a entrada em um período na vida da mulher que é desvalorizado, desprezado e temido: a velhice, fazendo uma conexão com a morte. Selma Ciornai (1999, pp. 47-48) citando a psicanalista Helene Deutsch, lembra que esta última destacava que: As crises que acompanham o climatério são inevitáveis, pois este gera um estado psicológico que ela nomeou mortificação narcísica. A autora vê nas reações somáticas e psicológicas do climatério uma repetição da menarca (primeira menstruação), com a diferença que tudo que uma menina ganha na menarca, ela perde na menopausa. [...] ...ela também aponta que a consciência do que não foi vivido e a percepção de se ter perdido as possibilidades da juventude podem ser uma fonte angustiante de sofrimento. [...] ... aponta também a relação entre menopausa e envelhecimento, que por sua vez, implica em aproximação da morte.
Neste período também se pode identificar conotações positivas, pois com a menopausa a mulher pode redescobrir sua criatividade em uma nova direção, libertando-se dos temores ligados à menstruação, por exemplo.Nesta fase, vivenciam-se experiências em que interagem fatores ambientais, biológicos, psicológicos e culturais. Assim, a sua compreensão não pode advir de uma única perspectiva, mas está relacionada a vários fatores, somando-se às experiências subjetivas, particulares à vida e à historia de cada mulher. O presente é moldado pelo passado, as primeiras experiências são decisivas, mas podemos reexaminar antigas disposições e algumas decisões podem ser modificadas. É também um período em que muitas mulheres fazem uma avaliação de seus caminhos na vida, do que conseguiram ou não realizar, do que foi desejado, pretendido e que não foi alcançado. Período de passagem onde as questões existenciais da vida de uma mulher precisam ser revistas e alcançar uma boa resolução interna a fim de abrir espaço para o novo.. Neste momento do climatério e da menopausa, é fundamental para a mulher saber o quê se passa com ela. As informações confiáveis sobre os prós e contras desta etapa da vida garantirão a ela uma compreensão maior para lidar com as transformações deste período. A menopausa não é uma doença, mas sim um evento natural que ocorre na vida de todas as mulheres, um processo normal e esperado.Desta forma, deve ser encarada como uma nova fase da vida. De maneira geral a menopausa é o período de transição da fase reprodutiva para a não produtiva. Neste período de transição, a produção de hormônios pelos ovários vai progressivamente diminuindo e os ciclos menstruais vão se tornando irregulares até cessarem.
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Climatério e menopausa são palavras que muitas vezes se confundem, sendo inclusive incorretamente apresentadas como sinônimos. Na verdade, a menopausa corresponde à última menstruação e não aos anos vividos depois dela. Assim, a menopausa é apenas um marco dentro do climatério feminino, tal como a menarca (primeira menstruação) durante a puberdade. Sob o ponto de vista hormonal, a menopausa é o resultado de uma diminuição brusca da produção de estrogênios e progesterona (hormônios femininos) pelos ovários que além de produzirem as células reprodutoras da mulher ou óvulos, também produzem os hormônios femininos. O chamado climatério responde pelos anos que precedem e seguem imediatamente á menopausa, marcados pelos sinais de deficiência do ovário em produzir hormônios. Corresponde aos anos vividos durante esta gradativa falência ovariana, começando até uns quinze anos antes e estendendo-se até uns vinte anos depois da menopausa. Com o inicio do climatério, por volta dos quarenta e cinco anos, existe uma redução progressiva da função ovariana (diminuição na produção de estrógeno e progesterona pelos ovários) com o desaparecimento da ovulação, fertilidade e finalmente, a cessação da menstruação, isto é, a menopausa. O climatério caracteriza-se pelo aparecimento de alterações no ritmo das menstruações (a menopausa) e por distúrbios denominados vasomotores (sensação de calor, etc.). Fonseca observa: “Toda sintomatologia está estreitamente relacionada com a acentuada diminuição na produção dos hormônios ovarianos, especialmente o estrogênio” (1999, p. 85). São várias as queixas neste período, pois o estrogênio está envolvido em pelo menos 300 processos no corpo. As queixas mais freqüentes são: calores repentinos alternados com períodos de frio, suores, tonturas, fadiga, diminuição da libido, perda da umidade e elasticidade vaginal, depressão, ansiedade e instabilidade e flutuações de humor. A diminuição destes hormônios femininos favorece também o aumento do colesterol e acelera o processo de osteoporose ou perda de massa óssea. A diminuição na lubrificação da vagina pode prejudicar o ato sexual e facilitar as infecções locais (vaginites). O útero e os ovários diminuem de tamanho. No climatério há uma aceleração no processo de aterosclerose, havendo uma tendência ao aumento da ocorrência de moléstias cardiovasculares. Os sintomas acima descritos não ocorrem na sua totalidade em uma mesma mulher e na realidade alguns deles podem atingir cerca de 65% das mulheres, sendo que uma parte considerável não apresenta qualquer sintoma durante o climatério. Com o aumento da expectativa de vida as mulheres tendem a passar um terço de suas vidas no climatério. O climatério é uma situação totalmente controlada com a utilização de hormônios, mudanças de hábitos alimentares e exercícios físicos. A utilização de hormônios, principalmente a associação de estrógeno e progesterona nesta fase pode ser indicado, mas deve ser feita sob rigoroso critério médico.O correto uso de hormônios pode reverter completamente os sintomas de acordo com alguns especialistas. Entretanto, o uso da reposição hormonal é assunto muito controvertido. Do ponto de vista psicológico a menopausa geralmente vem acompanhada da maturidade, e deve ser entendida como conquista e não perda da juventude. O climatério e a menopausa fazem parte de um “tempo de madureza”, onde se faz uma severa contabilidade dos gastos e lucros, sendo os saldos nem sempre tranqüilizadores, mas amadurecer não significa desistir nem estagnar. É tempo de tomar nas mãos as rédeas do destino. Tempo de transpor as barreiras de silêncio, vergonha e preconceito social que afetam algumas mulheres nesta fase da vida. Pode-se destacar vários aspectos positivos neste período de vida e fazer deste momento uma celebração tranqüila: o A maturidade tem seus encantos, apresenta segredos, beleza e virtudes que antes não se manifestavam tão plenamente, faz amar com menos aflição e quem sabe menos frivolidade – não menos alegria.
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Do alívio da mulher por não ter que lidar com o desconforto dos períodos menstruais. Talvez, por já terem criado os filhos, sobre tempo para olhar para si mesmas, sem pressa nem culpa. Nova ótica da vida onde aconteça uma reinvenção, uma recriação, uma busca na autoria de si mesmo a cada momento. A menopausa faz a mulher aproximar-se de suas inquietações e dúvidas, repensando sua trajetória, explorando seus caminhos, ousando. É uma fase onde pode haver um contato profundo consigo mesmo, revisitando seu passado e consultando seu acervo de experiências, a mulher pode buscar o melhor que a vida tem a oferecer neste momento. Momento de sonhos e desejos, porém com menos ilusões.
Contudo, a menopausa, apesar dos ganhos para muitas mulheres, é um momento que pode resultar em dificuldade para lidar com as perdas (perda da fertilidade, da atratividade feminina da juventude corporal...), podendo ocorrer na mulher sentimentos negativos e de desvalorização, conduzindo-a aos distúrbios psicológicos. Por vezes as mulheres vivenciam na menopausa situações difíceis, e é neste momento que se faz necessário um acompanhamento psicológico, onde os temores desta fase poderão ser trabalhados e ressignificados. Daí a importância da elaboração neste período para que a vida possa ser cultivada com o mesmo vigor de antes. Afinal a menopausa faz parte do ciclo vital feminino. Neste sentido o que se quer ressaltar é que a análise e ou a psicoterapia podem ser neste momento um suporte importante, onde a mulher possa se confrontar consigo mesma, com os outros e com o mundo. É cuidando do mapeamento dos nossos próprios passos que poderemos apreciar a qualidade e extensão dos mesmos, contribuindo no seu aprimoramento. O saber sobre si mesma pode ampliar o campo das escolhas e possibilidades. BIBLIOGRAFIA: CIORNAI, Selma. Da contracultura à menopausa. São Paulo: Oficina de Textos, 1999. NOVAES, Maria Helena. Psicologia da terceira idade – Conquistas possíveis e rupturas necessárias. Rio de janeiro: Nau Editora, 2000. PEREIRA, Maria Lucia C; PIMENTEL, Regina Maria Carneiro Leão B; FONTES. Mariana Coutinho O. Mulher 40 graus à sombra. Rio de Janeiro. Editora Objetiva, 1994. VIORST, Judith. Perdas Necessárias. São Paulo: Melhoramentos, 1988.
------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------Eliana Luiza S. Barros - Psicóloga – Pós-graduada em Psicologia Clínica, cursando formação em Psicanálise. Email:
[email protected] CEL. 21- 92281993 MARÇO /2007
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