APRENDER A APRENDER Introdução Os quatro pilares da educação
A aprendizagem auto dirigida tornou-se uma importante área de investigação dentro do campo da educação de adultos (Garrison, 1992; Candy, 1991). Este tipo de aprendizagem tem sido apontado muitas vezes como a resposta
às
constantes
mudanças
do
mundo
contemporâneo, permitindo ao indivíduo ser capaz de efectuar “ o desenvolvimento das capacidades de evoluir e agir num ambiente complexo, de “aprender a aprender “ ao longo da vida, de reconstruir permanentemente conhecimentos e saberes” (couceiro, 1995) No entanto, a aprendizagem auto dirigida não é o remédio para todos os problemas, e não pode fazer parte de todas as actividades educativas. Reconhecer a importância deste tipo de aprendizagem não significa que ela seja a meta a atingir em toda a educação de adultos (Moura, 1977; Candy, 1991). Contudo, “a capacidade de ser auto dirigido é fundamental par sobreviver e prosperar num mundo de contínuas mudanças pessoais, comunitárias e sociais” (Caffarella, 1993). Este artigo centra-se na análise ao processo de aprendizagem auto dirigida e à autonomia do aprendente. Procurar-se-á descobrir qual a influencia dos diversos elementos que envolvem o processo de aprendizagem, na evolução do mesmo. Um dos aspectos cruciais da aprendizagem auto dirigida é o controlo que o aprendente assume sobre a sua aprendizagem. Assim, tentar-se-á, também compreender a relação entre a evolução do processo de aprendizagem com a autonomia do aprendente. O processo de aprendizagem A investigação inicial sobre a aprendizagem auto dirigida afirma que os aprendentes conduzem os seus projectos de aprendizagem de uma forma linear, seguindo várias etapas. Tough (1967, 1971) aponta a importância dos projectos de aprendizagem conduzidos por adultos, fora do sistema educativo formal. Knowles (1975, 1986) também
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refere a importância da investigação da aprendizagem auto dirigida no campo da educação de adultos. Para este autor, o adulto tem uma necessidade profunda de ser auto dirigido, definindo a aprendizagem auto dirigida da seguinte forma: No sentido amplo, aprendizagem auto dirigida descreve o processo no qual os indivíduos tomam a iniciativa de, com ou sem a ajuda de outros, diagnosticar as suas necessidades de aprendizagem, formular objectos de aprendizagem, identificar os recursos humanos e matérias para aprender, escolher e implementar as estratégias apropriadas, e avaliar os resultados obtidos na aprendizagem. (1975. Aprender a conhecer Esta aprendizagem refere-se à aquisição dos “instrumentos do conhecimento”. Debruça-se sobre o raciocínio lógico, compreensão, memória, ou seja, sobre os processos cognitivos por excelência. Contudo, deve existir a preocupação de despertar no estudante, não só estes processos em si, como o desejo de os desenvolver, a vontade de aprender, de querer saber mais e melhor. O ideal será sempre que a educação seja encarada, não apenas como um meio para fins, mas também como um fim para si. Esta motivação pode apenas ser despertada por educadores competentes, sensíveis às necessidades, dificuldades dos estudantes, capazes de lhes apresentarem metodologias adequadas das matérias em estudos e facilitadoras da retenção e compreensão das mesmas. Deve-se despertar em cada aluno a sede de conhecimento, a capacidade de aprender cada vez melhor, ajudando-os a desenvolver as armas e dispositivos intelectuais e cognitivos que lhes permitam construir as suas próprias opiniões e o seu próprio pensamento crítico. Em vista deste objectivo, sugere-se o incentivo, não apenas do pensamento dedutivo, como também do intuitivo, porque, se é importante ensinar o “espírito” e método científicos ao estudante, não é menos importante ensiná-lo a lidar com a sua intuição, de modo a que possa chegar às suas próprias conclusões e aventurar-se sozinho pelos domínios do saber e do desconhecido. Aprender a fazer Indissociável do aprender a conhecer, que lhe oferece as bases teóricas, o aprender a fazer refere-se essencialmente à formação técnicoprofissional do educando.
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Consiste essencialmente em aplicar, na prática, os seus conhecimentos teóricos. Actualmente existe outro ponto essencial a focar nesta aprendizagem, referente à comunicação. É essencial que cada indivíduo saiba comunicar. Não apenas reter e transmitir informação mas também interpretar e seleccionar as torrentes de informação, muitas vezes contraditórias, com que somos bombardeados diariamente, analisar diferentes perspectivas, e refazer as suas próprias opiniões mediante novos factos e informações. Aprender a fazer envolve uma série de técnicas a serem trabalhadas. Aprender a viver com os outros Este domínio da aprendizagem consiste num dos maiores desafios para os educadores, pois actua no campo das atitudes e valores. Cai neste campo o combate ao conflito, ao preconceito, às rivalidades milenares ou diárias. Aposta-se na educação como veículo de paz, tolerância e compreensão; se analisarmos a História Humana, constataremos que o Homem tende a temer o desconhecido e a aceitar o semelhante. Aprender a ser Este tipo de aprendizagem depende directamente dos outros três. Considera-se que a Educação deve ter como finalidade o desenvolvimento total do indivíduo “espírito e corpo, sensibilidade, sentido estético, responsabilidade pessoal, espiritualidade”. À semelhança do aprender a viver com os outros, fala-se aqui da educação de valores e atitudes, mas já não direccionamos para a vida em sociedade em particular, mas concretamente para o desenvolvimento individual. Pretende-se
formar
indivíduos
autónomos,
intelectualmente
activos
e
independentes, capazes de estabelecer relações interpessoais, de comunicarem e evoluírem permanentemente, de intervirem de forma consciente e proactiva na sociedade. Apesar das relações apontadas instituírem-se a partir da aprendizagem, estas situam-se em lugares diferentes e tratam de níveis distintos do aprender. Falamos da noção de aprendente num contexto formal, vamos agora pronunciar-nos acerca do contexto informal ou seja aquele que a estratégia de Lisboa designa como aprendizagem ao longo da vida pelo que se faz uma breve reflexão histórica. O Conselho Europeu de Lisboa realizado em Março de 2000 assinala um momento decisivo na orientação das políticas e acções a adoptar na União Europeia. As conclusões desta cimeira afirmam que a Europa entrou indiscutivelmente na era do conhecimento, com
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todas as implicações inerentes para a vida cultural, económica e social. Os modelos de aprendizagem, vida e trabalho estão a alterar-se em conformidade. Este processo significa que a mudança afecta não só os indivíduos, mas também os procedimentos convencionalmente estabelecidos. As conclusões do Conselho Europeu de Lisboa confirmam que a aposta na aprendizagem ao longo da vida deve acompanhar uma transição bem sucedida para uma economia e uma sociedade assente no conhecimento. Por conseguinte, os sistemas de educação e formação na Europa estão no cerne das alterações futuras e também eles devam adaptar-se. As conclusões do Conselho Europeu da Feira convidam “os Estados-Membros, o Conselho e a Comissão, nas respectivas áreas de competência, a circunscreverem estratégias coerentes e medidas práticas destinadas a fomentar a aprendizagem ao longo da vida para todos. O presente memorando vem dar resposta ao mandato emanado dos Conselhos Europeus de Lisboa e da Feira no sentido de conferir dimensão prática à aprendizagem ao longo da vida. Tem por objectivo lançar um debate à escala europeia sobre uma estratégia global de aprendizagem ao longo da vida aos níveis individual e institucional, em todas as esferas da vida pública e privada. No âmbito da Estratégia Europeia de Emprego, a Comissão e os Estados-Membros definiram a aprendizagem, com um objectivo, empreendida numa base continua e visando melhorar conhecimentos, aptidões e competências. Esta é a definição operacional adoptada no presente memorando enquanto ponto de partida para subsequentes debates e acções. A aprendizagem ao longo da vida deixou de ser apenas uma componente da educação e da formação, devendo tornar-se o princípio orientador da oferta e da participação num contínuo de aprendizagem, independentemente do contexto. A década que se avizinha deverá assistir à execução prática desta visão. Todos os europeus deverão, sem excepção, beneficiar de oportunidades idênticas para se adaptarem às exigências das mutações sociais e económicas e participarem activamente na construção do futuro da Europa. As implicações desta mudança fundamental nas perspectivas e práticas merecem e justificam um amplo debate. Os Estados-Membros, responsáveis pelos respectivos sistemas de educação e formação, deverão liderar este debate, que tem de ser conduzido não só à escala europeia mas também a nível nacional. A aprendizagem ao longo da vida é uma questão que afecta o futuro de todos, de forma perfeitamente individualizada. O debate deverá, pois, realizar-se a um nível tão próximo quanto possível dos próprios cidadãos, e os seus resultados servirão de base a um relatório da Comissão apresentado no Outono de 2001. O presente Memorando iniciou-se com a justificação da
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aplicação de uma estratégia de aprendizagem ao longo da vida a promoção de uma cidadania activa e o fomento da empregabilidade são objectivos da aprendizagem ao longo da vida igualmente importantes e relacionados entre si. Os Estados-Membros concordam com esta prioridade, mas os progressos na adopção de uma acção concertada têm sido lentos, a dimensão das actuais mudanças económicas e sociais na Europa exigem uma abordagem fundamentalmente nova da educação e da formação. A aprendizagem ao longo da vida constitui o enquadramento comum no qual deverão ser reunidos todos os tipos de ensino e aprendizagem. A tradução prática da aprendizagem ao longo da vida exige a colaboração eficaz de todos - indivíduos e organizações. A mensagem chave sugere ainda que uma estratégia global e coerente de aprendizagem ao longo da vida para a Europa e deverá ter por objectivos: garantir acesso universal e continuo à aprendizagem, com vista à aquisição e renovação das competências necessárias à participação sustentada na sociedade do conhecimento; aumentar visivelmente os níveis de investimento em recursos humanos, a fim de dar prioridade ao mais importante trunfo da Europa – os seus cidadãos; desenvolver métodos de ensino e aprendizagem eficazes para uma oferta contínua de aprendizagem ao longo e em todos os domínios da vida; melhorar significativamente a forma como são entendidos a participação e os resultados da aprendizagem, em especial da aprendizagem não-formal e informal; assegurar o acesso facilitado de todos a informações e consultoria de qualidade sobre oportunidades de aprendizagem em toda a Europa e durante toda a vida; providenciar oportunidades de aprendizagem ao longo da vida tão próximas quanto possível dos aprendentes, nas suas próprias comunidades e apoiadas, se necessário, em estruturas TIC. Construir uma sociedade inclusive ao dispor todos os cidadãos oportunidades iguais de acesso à aprendizagem ao longo da vida, e na qual a oferta de educação e formação responda, às necessidades e exigências dos indivíduos; ajustar as formas como são ministradas as acções educativas e de formação, e como está organizada a vida profissional, de modo a que as pessoas possam participar na aprendizagem ao longo das suas vidas e possam, elas próprias, planear modos de conjugar aprendizagem, trabalho e família; atingir níveis globalmente mais elevados de participação mais activa em todos os sectores, por forma a garantir uma oferta de educação e formação de qualidade, assegurando em simultâneo que os conhecimentos e as competências dos indivíduos correspondam às exigências em mutação da vida profissional, organização do local de trabalho e métodos de trabalho; e incentivar e dotar as pessoas de meios para participar
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mais activamente em todas as esferas da vida pública moderna, em especial na vida social e politica a todos os níveis da comunidade e também no plano europeu. A chave do sucesso residirá na construção de um sentido de responsabilidade partilhada relativamente à aprendizagem ao longo da vida entre todos os intervenientes, Estados-Membros; instituições europeias; parceiros sociais e mundo empresarial; autoridades regionais e locais; profissionais da educação e da formação; organizações e grupos da sociedade civil e por último, mas não menos importantes, os cidadãos. O objectivo comum é construir uma Europa onde todos tenham oportunidade de desenvolver plenamente as respectivas potencialidades, sentindo que podem dar um contributo válido e que pertencem a um projecto de futuro. APRENDIZAGEM AO LONGO DA VIDA-CHEGOU O MOMENTO DE AGIR A Europa está em transição para uma sociedade e uma economia assente no conhecimento. Mais do que nunca, o acesso a informações e conhecimentos actualizados, bem como a motivação e as competências para usar esses recursos de forma inteligente em prol de si mesmo e da comunidade, estão a tornar-se a chave do reforço da competitividade da Europa e da melhoria da empregabilidade e da adaptabilidade da força de trabalho; actualmente, os europeus vivem num mundo político e social complexo. Mais do que nunca, os indivíduos querem planear as suas próprias vidas, esperando-se que contribuam activamente para a sociedade e aprendam a viver positivamente em contextos de diversidade cultural, étnica e linguistica. A educação, no seu sentido mais lato, é fundamental para aprender e compreender como dar resposta a estes desafios. Estas duas características da mudança social e económica contemporânea estão interligadas e encerram dois objectivos igualmente importantes para a aprendizagem ao longo da vida: Promover a cidadania activa e fomentar a empregabilidade. A cidadania activa incide na questão de saber se e como as pessoas participam em todas as esferas da vida social e económica, quais as oportunidades e os riscos que enfrentam nesta tentativa e em que medida essa participação lhes confere um sentimento de pertença à sociedade em que vivem e na qual têm uma palavra a dizer. Durante grande parte da vida das pessoas, o facto de terem um emprego remunerado significa independência, auto-estima e bem-estar, sendo, por isso, fundamental para a qualidade global da vida. A empregabilidade a capacidade de
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assegurar um emprego e de o manter, é não apenas uma dimensão central da cidadania activa, mas também uma condição decisiva do pleno emprego e da melhoria da competitividade
e prosperidade europeias na “ nova economia”. Empregabilidade e
cidadania activa estão dependentes da existência de competências e conhecimentos adequados e actualizados indispensáveis à participação na vida económica e social uma Europa dos cidadãos através da aprendizagem ao longo do desafio da mudança. A Europa está hoje confrontada com mudanças a uma escala comparável com as decorrentes da revolução industrial. A tecnologia está a transformar todos os aspectos da vida dos cidadãos, enquanto que a biotecnologia poderá vir um dia a alterar a própria vida. O comércio, as viagens e a comunicação à escala mundial estão a expandir os horizontes culturais das pessoas e a alterar os padrões de concorrência entre as economias. A vida moderna implica maiores oportunidades e opções para os indivíduos, mas também incertezas e riscos acrescidos. Os cidadãos são livres de adoptar estilos de vida variados, mas também a responsabilidade pela forma que dão às suas vidas. Mais pessoas permanecem por mais tempo nos sistemas de educação e formação, mas as disparidades acentuam-se entre as que possuem qualificações suficientes para se manterem activas no mercado de trabalho e as que, inevitavelmente, são dele marginalizadas. A população europeia está também a envelhecer rapidamente. Este facto alterará a composição da mão-de-obra, bem como os padrões de procura de serviços sociais, de saúde e de educação. Por último, ainda que igualmente importante, as sociedades europeias estão a transformar-se em mosaicos interculturais. Esta diversidade encerra um elevado potencial de criatividade e inovação em todas as esferas da vida. Os próprios indivíduos são os actores principais das sociedades do conhecimento. Acima de tudo, o que conta é a capacidade humana de criar conhecimento e de o usar eficaz e inteligentemente, em contextos de mutação continua. Para desenvolver plenamente esta capacidade, as pessoas têm de querer e ser capazes de assumir o controlo das suas próprias vidas – em suma, tornar-se cidadãos activos. A melhor forma de dar resposta ao desafio da mudança reside na educação e na formação ao longo da vida. Um contínuo de aprendizagem ao longo da vida. Os conhecimentos, as competências e as percepções que apreendemos quando crianças e jovens na família, na escola, na formação e na universidade são limitados no tempo. Enraizar a aprendizagem na vida adulta constitui um passo muito importante na concretização de uma estratégia de aprendizagem ao longo da vida, mas é apenas uma
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parte do todo. A aprendizagem ao longo da vida considera todo o processo de aquisição de conhecimentos como um continuo ininterrupto “do berço à sepultura”. Um ensino básico de elevada qualidade para todos, a partir dos primórdios da vida de uma criança, constitui o alicerce fundamental. O ensino básico, seguido de educação e formação profissional iniciais, deverá dotar todos os jovens das novas competências básicas exigidas numa economia baseada no conhecimento. Deverá ainda assegurar que esses jovens “aprenderam a aprender” e que têm uma atitude positiva relativamente à aprendizagem. As pessoas só planearão actividades coerentes de aprendizagem ao longo da vida das suas vidas se quiserem aprender. E não quererão continuar a fazê-lo se as suas primeiras experiências de aumentar a oferta e a procura de oportunidades de aprendizagem, principalmente para os que menos beneficiaram de acções educativas e de formação. Todas as pessoas deveriam ser capazes de seguir percursos de aprendizagem da sua escolha, em vez de serem obrigadas a trilhar caminhos predeterminados conducentes a destinos específicos. Implica isto, simplesmente, que os sistemas de educação e formação deverão adaptar-se às necessidades e exigências individuais e não o contrário. Existem três categorias básicas de actividade de aprendizagem com um objectivo: Aprendizagem formal: decorre em instituições de ensino e formação e conduz a diplomas e qualificações reconhecidos. A aprendizagem não-formal: decorre em paralelo aos sistemas de ensino e formação e não conduz, necessariamente, a certificados formais. A aprendizagem não-formal pode ocorrer no local de trabalho e através de actividades de organizações ou grupos da sociedade civil (organizações de juventude, sindicatos e partidos políticos). Pode ainda ser ministrada através de organizações ou serviços criados em complemento aos sistemas convencionais (aulas de arte, música e desporto ou ensino privado de preparação para exames). Aprendizagem informa: é um acompanhamento natural da vida quotidiana. Contrariamente à aprendizagem formal e não – formal, este tipo de aprendizagem não é necessariamente e, como tal, pode não ser reconhecida, mesmo pelos próprios indivíduos, como enriquecimento dos seus conhecimentos e aptidões. Até ao momento, a aprendizagem formal tem dominado o pensamento político, modelando as formas como são ministradas a educação e a formação e influenciando as
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percepções dos indivíduos do que é importante em termos de aprendizagem. O contínuo de aprendizagem ao longo da vida atrai para este cenário os tipos de aprendizagem nãoformal e informal. A aprendizagem não-formal, por definição, ocorre fora das escolas, dos liceus, dos centros de formação e das universidades. Não é habitualmente considerada como “verdadeira” aprendizagem, nem os seus resultados têm muito valor de troca no mercado de trabalho. A aprendizagem não-formal é, por conseguinte, tipicamente subvalorizada. No entanto, é provável que a aprendizagem informal seja deixada, de todo, fora do cenário, ainda que seja a mais antiga forma de aquisição de conhecimentos e continue a ser o principal alicerce da aprendizagem na mais tenra infância. A expressão aprendizagem “ao longo da vida” (Liflong) coloca a tónica no tempo: aprender durante a vida, contínua ou periodicamente. A recém-cunhada expressão “aprendizagem em todos os domínios da vida” (Lifewide) vem enriquecer a questão, chamando a atenção para a disseminação da aprendizagem, que decorre em todas as dimensões das nossas vidas em qualquer fase das mesmas. A dimensão “em todos os domínios da vida” coloca uma tónica mais acentuada na complementaridade das aprendizagens formal, não-formal e informal, lembrando que uma aquisição de conhecimentos útil e agradável pode percorrer, e decorre de facto, no seio da família, durante o tempo de lazer, na convivência comunitária e na vida profissional quotidiana. A aprendizagem em todos os domínios da vida faz-nos também perceber que ensinar e aprender são papeis e actividades que podem ser alterados e trocados em diferentes momentos e espaços. Contudo, a aprendizagem ao longo da vida é ainda objecto de diversas definições consoante os diferentes contextos nacionais e para variados fins. As análises políticas mais recentes neste domínio sugerem que as definições continuam a ser, em larga medida, informais e pragmáticas, associadas mais estreitamente à acção do que à clareza ou a normas jurídicas. A força catalisadora que, nos anos 90, voltou a colocar a aprendizagem ao longo da vida nas agendas políticas foi a preocupação de melhorar a empregabilidade dos cidadãos, à luz dos elevados níveis de desemprego estrutural que afectam com maior gravidade os trabalhadores menos qualificados. A perspectiva de uma população europeia em drástico envelhecimento significa que a necessidade de conhecimentos e competências actualizados não poderá ser satisfeita pela entrada de novos trabalhadores no mercado de trabalho, como acontecia no passado – serão demasiado poucos os jovens e o ritmo da mudança tecnológica é demasiado rápido, com especial incidência na célebre transição para a economia digital.
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Actualmente está em curso uma notória transição para políticas integradas que conjuguem objectivos sociais e culturais com as motivações económicas da aprendizagem ao longo da vida. Começam a emergir novas ideias sobre o equilíbrio entre direitos e responsabilidades dos cidadãos e das autoridades públicas. Mais e mais indivíduos adquiriram confiança acrescida, reivindicando identidades e modos de vida distintivos. É cada vez mais lugar-comum exigir que as decisões sejam tomadas tão próximo quanto possível das vidas quotidianas das pessoas, com maior envolvimento das mesmas. Por estes motivos, a atenção volta-se progressivamente para a necessidade de modernizar a governação, a todos os níveis, das sociedades europeias. Ao mesmo tempo, acentuaramse as disparidades entre os socialmente integrados e os que estão em risco de exclusão social a longo prazo. A educação e a formação assumem importância sem precedentes em termos da influência que exercem nas hipóteses de os indivíduos “estar, participar e subir” na vida. No caso dos jovens, os cada vez mais complexos padrões de transição inicial entre aprendizagem e vida profissional poderão ser uma indicação do que o futuro reserva aos indivíduos de todas as idades. A empregabilidade é, sem duvida, um resultado fundamental de uma aprendizagem bem sucedida, mas a inclusão social assenta em outros aspectos que não apenas a garantia de um por exemplo, ver: Lifelong Learning
and Lifewide Learning, Agência Nacional para a Educação, trabalho remunerado. A aprendizagem abre as portas à construção de uma vida produtiva e satisfatória, muito para além das perspectivas e situação de emprego de um indivíduo. Trabalhar em conjunto para dar corpo à estratégia de aprendizagem ao longo da vida pese embora não tenham sido ainda desenvolvidas estratégias coerentes e globais pela maioria dos Estados-Membros, todos reconhecem que a cooperação mediante a criação de várias parcerias é essencial para dar corpo a uma estratégia de aprendizagem ao longo da vida. Estas parcerias incluem a cooperação entre ministérios e autoridades públicas
no
sentido
de
desenvolverem
políticas
coordenadas,
integrando
sistematicamente os parceiros sociais no processo de desenvolvimento e execução, em conjunção com iniciativas publico-privadas. As parcerias avançam sobretudo, com o envolvimento dos órgãos locais e regionais e das organizações da sociedade, que prestam serviços próximos dos cidadãos e estão bem adaptados às necessidades específicas das comunidades locais. Os programas comunitários nos domínios da educação, formação e juventude demonstraram já a sua utilidade, ao apoiarem a cooperação transnacional, a parceria e o intercâmbio para o desenvolvimento de boas práticas. O contínuo de aprendizagem ao longo e em todos os domínios da vida também implica que os diferentes níveis e departamentos dos sistemas de educação e formação, incluindo os domínios não-
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formais, devem trabalhar em estreita concentração. Neste caso, trabalhar em conjunto de forma eficaz significará ir para além dos esforços em curso para construir pontes e percursos entre as diferentes partes dos sistemas existentes. A criação de uma rede de oportunidades de aprendizagem ao longo da vida centrada nas pessoas introduz a visão de uma osmose gradual entre estruturas de oferta que permanecem, hoje, relativamente desligadas umas das outras. Os actuais debates em curso nos Estados-Membros sobre o futuro das universidades constituem um exemplo de como o pensamento político começa a aprender as implicações práticas desta visão, a abertura dos estudos universitários a novos e mais vastos públicos não poderá ser conseguida se as próprias instituições de ensino não mudarem – não apenas a nível interno, mas também nas suas relações com outros “sistemas de aprendizagem”. A visão de uma osmose gradual implica um duplo desafio primeiramente, a consideração da complementaridade das aprendizagens formal, nãoformal e informal; e em segundo lugar, o desenvolvimento de redes abertas de oportunidades e o reconhecimento entre os três contextos de aprendizagem. Este é um fundamento essencial da cidadania activa e da empregabilidade na Europa do Século XXI. As mutações económicas e sociais estão a transformar e a actualizar o perfil de competências básicas que todos devem possuir enquanto requisitos mínimos, permitindo a participação activa na vida profissional, familiar e em todos os níveis da vida das comunidades, da esfera local à europeia. Estratégia é escolher como lutar em função dum objectivo. A Europa pretende ser um espaço competitivo à escala global sem por em causa a coesão social e a sustentabilidade ambiental. O futuro da Europa depende da capacidade que os seus cidadãos tiverem para fazer face aos desafios económicos e sociais. Um “espaço europeu de aprendizagem ao longo da vida” permitirá aos cidadãos europeus passar livremente de um ambiente de aprendizagem para um emprego, de uma região ou de um pais para outro a fim de utilizar da melhor forma as respectivas competências e qualificações. Assim, uma “aprendizagem ao longo da vida” incide na aprendizagem que vai do ensino pré-escolar até à pós-reforma (“do berço ao túmulo”), abrangendo também qualquer tipo de educação (formal, informal ou não formal). Dando sentido ao que a estratégia de Lisboa nos transmite é que desde que nascemos até morrermos se queremos viver com um pouco de interdependência e
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dignidade, temos de estar em constante aprendizagem, mais adiante abordarei este tema no sentido mais preciso que na minha convicção mais se adequa ao ser humano. Relembrando o tema, esta estratégia peca por ser tardia e pouco divulgada, os seus legisladores souberam antever o futuro, tiveram uma visão global um pouco acima do ombro da frente isto é, de alguns horizontes, desconhece-se se noutros pontos já foi posta em prática ou divulgada nos meios juvenis ou até já faz parte de alguma disciplina curricular e se não faz, devia ser ministrada como cultura geral, de forma a que todos os futuros candidatos a uma profissão ou emprego estivessem cientes que este (a) não duraria para sempre. Que na escola havia sempre uma porta aberta e que não a deveríamos fechar com as costas. Não aproveitar esta oportunidade, é virar as costas ao futuro condenando-nos a nós e aos nossos vindouros uma vez que a formação não formal, informal deixa de existir, passamos a fazer parte de uma sociedade mutante em que passamos o resto dos nossos dias a criticar os outros sem que nunca tenhamos imaginado fazer uma auto avaliação a nós próprios. Lastima-se que a esmagadora maioria da população não tenha tido acesso a estes conhecimentos, talvez tivesse tido algum impacto na actual crise, uma vez que as pessoas estariam mais bem preparadas. Calculo que o nosso futuro reside aqui, na ensino e aprendizagem continuada, diversificada e inovadora, a capacidade para nos afirmarmos perante os outros reside aqui, embora a breve trecho possamos vir a tornar-nos em laboratórios embrionários em que temos o poder do conhecimento e inovação e outros países terão o poder da edificação, das grandes massas obreiras podendo estar mais sujeitos a conflitos laborais contribuindo para novas deslocalizações que em abono da verdade se tivermos o conhecimento e o saber pouco nos poderá afectar este efeito da globalização que nós portugueses iniciamos há 500 anos e que hoje tanto nos afecta. Em resumo, se olharmos o futuro como aprendentes poderemos compará-lo a um deserto que é um local que sabemos onde entramos e não sabemos onde saímos. Conclusão: O ser humano é a coisa mais bela que a natureza criou, no entanto quando vem ao mundo é, o mais frágil de entre os seres, o seu cérebro poderia ser comparado a um lago de água cristalina ou a um universo muito distante cheio de nada (vazio). No imenso universo 12
de aprendizagem que tem de enfrentar para sobreviver e progredir, começa por aprender a comer, a reconhecer, a dar os primeiros passos, usar os sentidos e a locomover-se entre os outros da sua espécie. O seu cérebro deixou de estar cristalino e de ser um universo vazio, começaram a adensar-se as ideias e a curiosidade, e parte para a primeira grande aprendizagem da sua vida. Na escola, berço do ensino e fonte de aprendizagem de todos os Mestres, descobre o seu primeiro tesouro, que são os quatro pilares fundamentais da educação. Aprende a conhecer, aprende a fazer, aprende a viver com os outros, aprende a ser. Os conhecimentos que adquire aliados às descobertas que faz, catapultam-no para outras aprendizagens e como já não se sente realizado, começa a ensinar. Com esta experiência descobre que também ele aprendeu. O ser humano é assim, vive sempre insatisfeito é ambicioso e almeja sempre mais, ruma a novas aprendizagens, novas descobertas, tem fome de divulgar os seus conhecimentos, porque ambiciona outros, outros e muitos outros, com tantos conhecimentos e aprendizagens este ser extravasa os seus conhecimentos, ensinamentos e aprendizagens, e parte para novas etapas, já ambiciona maiores e melhores conhecimentos, outras aprendizagens, não cabe dentre de si, já domina tudo, ambiciona o domínio de todos, fica egoísta, esqueceu-se da importância do seu meio social, dos seus valores éticos, de si próprio, inventa máquinas, laboratórios, mecaniza os meios, rentabiliza-se a si próprio, cria leis à sua imagem e olha-se ao espelho como sendo uma máquina de sobrevivência dos seus genes imortais. Este ser: que tanto aprendeu e ensinou, aprendeu e inventou, é a ele que todas as inovações se devem assim como o futuro cada vez mais incerto. Será que este ser aprendeu a ser feliz? Esquecendo-se de si, esqueceu-se de nós, e nós não nos lembramos dele. Mormente ele tenha tido grandes feitos só nos lembramos dele quando fazia anos ou quando morreu. Mas este ser com quem tudo aprendemos, está agora no seu fim e como todos os seus antepassados, vai prender a deixar de ter menos mobilidade, reaprender a comer, a viver, estar e a morrer com dignidade. Rematando nascemos sem nada saber. Aprendemos, ensinamos aprendendo, inventamos, progredimos, molestamos e por fim reaprendemos o que primariamente aprendemos ou seja nascemos, vivemos e morremos a aprender.
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Como ser aprendente que sou e fazendo parte desta espécie humana, também eu não posso fugir ao ciclo natural da vida, e depois de ter aprendido a dar os primeiros passos, fazer o ensino primário comecei a minha aprendizagem informal, aquela que me foi transmitida pelos antepassados, com o meu primeiro emprego, tive várias formações não formais, electricista, canalizador, ajudante de cozinha, manobrador de máquinas, aprendiz de marceneiro aprendi a trabalhar com computadores que depois ensinei a outros, trabalho em rede e em ambiente AS 400 sem ter tido formação especifica. Mudo os tinteiros o “toner” das impressoras e faxes e os foto condutores, configuro as impressoras e as portas de rede quando por qualquer motivo se desconfiguram etc.. Também obtive algumas qualificações formais que passo a designar: Em 1975- Frequentei, no Centro de Instrução Técnica – em Lisboa, um curso de rádio electrónica e TV por correspondência. 1975 – Tirei a carta de condução de automóveis ligeiros Em 1977 – Tirei um curso de dactilografia teclado internacional na Escola Reis Sousa. 1980 – Tirei a carta de condução profissional de automóveis pesados Em 1984 – De 22 de Outubro a 21 de Dezembro, frequentei um curso de ajudante electricista de frio na Escola Militar de Electromecânica Em 1992 – Curso de MS-DOS e código de Procedimento Administrativo Em 1977 – Frequentei, no centro de Formação Profissional de Coimbra, o curso de aplicação Windows com a duração de 120 horas. Em 2006 – de 11 a 30 de Setembro frequentei um curso de informática de 60 horas, na óptica do utilizador. Em Novembro frequentei um curso para navegação na Internet e utilização dos serviços. Em Dezembro, frequentei um curso de Microsoft Excel 2003 avançado, dado ao abrigo do Programa Ocupacional da Administração Pública. Ainda em Dezembro, tirei um curso de gestão de tesouraria para PME´S com a duração de 30 horas. 14
Em 2007 – Frequentei, no Banco de Portugal, uma acção de formação tendo em vista o reconhecimento e falsificação de notas de Euro. Há inovações tecnológicas porque o homem é produto e produtor de cultura, compete-nos a nós ter moralidade, carácter, respeitar os sentimentos e os costumes onde predomine a conduta do ser humano, desenvolvimento da vida individual e social cujas aptidões consistem no chamado sentido moral dos indivíduos. Todas estas inovações estão de alguma forma relacionadas com valores sociais que levam à exclusão de pessoas com menos qualificação, menor grau de instrução entre muitos outros factores.
Coimbra, 19 de Fevereiro de 2009
José António da Costa Silva
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