Alice Cullen

  • May 2020
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  • Words: 5,244
  • Pages: 10
Escuridão Por Alice Cullen Acordei. Abri os olhos, mas não havia luz. Tentei me mexer. Meus pés queimavam, no entanto, não havia fogo. Se houvesse fogo, haveria luz. Luz? O que estava acontecendo? Senti o pânico me tomar, o coração disparando, eu podia ouvi-lo gritar, implorando-me para fugir daquela escuridão. Fugir para onde? Eu nem sabia onde estava,... Percebi que estava vazia. Vazia por dentro, não tinha lembranças, sonhos, muito menos explicações. Não sabia quem eu era, ou o quê eu era, nem sequer um nome. Tudo branco, vazio. Dolorosamente vazio. Tentei me mover novamente. Os pés ainda queimavam e as articulações estalavam a cada movimento, achei que estava me despedaçando. Todavia, depois de um longo tempo, consegui me erguer. Minha cabeça girou. Sentei-me. Meus olhos, já habituados a escuridão, agora revelavam meu refúgio: uma pequena mesa com um jarro e uma bacia, uma cadeira e a cama onde estava. Havia uma porta a mais ou menos um metro. Por debaixo dela escapava alguma luz. Pus-me de pé e fui trocando passos até a porta. Testei a maçaneta e a porta se abriu. Um clarão invadiu meus olhos, cegando-me momentaneamente. Apoiei-me na parede até que a visão retornou. Eu estava num corredor longo, as paredes amareladas eram entrecortadas por várias portas idênticas, dos dois lados. À frente havia uma escada que dava para uma porta de folhas. Cambaleante, fui até ela. Encostei o ouvido na porta, tudo silencioso. Abri a porta. Um ar de solidão reinava no lugar, entretanto não parecia um lugar calmo. Duas fileiras de bancos atravessavam o recinto até o altar onde Cristo na cruz permanecia de braços abertos, do lado oposto havia outra porta, adiantei-me até ela. Uma longa tábua a mantinha fechada, removi-a sem esforço e ganhei a rua. Os primeiros raios solares banhavam o ambiente, não havia ninguém. Eu estava só e completamente perdida. Caminhei ao longo da rua observando as casas, muito modestas, feitas de madeira, sem nada de especial. Avistei, em uma varanda um calhamaço de jornal, peguei-o esperando encontrar algo que me fosse útil; olhei a data “22 de setembro de 1910”, não significava nada. De repente, ouvi passos atrás de mim, estaquei. Um aroma inexplicavelmente doce me invadiu, alcançando em meu interior um instinto desconhecido. Eu salivava, meu estômago se contorcia. O aroma ficava cada vez mais forte. “Mary? Mary Alice?!”, uma voz masculina se aproximava. Por um único instante, encontrei sentido no que se passava comigo, mas foi só um instante. Depois, perdi totalmente o controle de meus movimentos. Dos próximos minutos, tenho apenas flashes de memória. Os gritos, o terror nos olhos do homem, meu salto feroz,... e o líquido quente e reconfortante descendo pela minha garganta. Quando dei por mim estava num lugar totalmente estranho. Era uma casa, parecia abandonada. Sem janelas, sem portas. Havia alguns móveis cobertos por lençóis, teias de aranha no teto, e uma grossa camada de poeira cobrindo o chão. A madeira rangia conforme eu andava. Em um dos cantos da sala uma moldura chamou minha atenção. Puxei o lençol que cobria o resto da peça, era um espelho. Tive um sobressalto ao verme refletida. Eu era tão branca quanto o lençol, e pequena, e magra. O cabelo castanho e liso mal cortado caia sobre meus ombros. Um filete de sangue escorria pelo canto de minha boca, destacando-se na pele clara. Eu vestia uma camisola azul, muito larga que ia até os joelhos, mas deixava os braços à mostra. Passei as mãos em minha silhueta, delineando-a. Senti meu corpo muito rígido, rígido como o mármore. Foi então que percebi meus olhos, eram escuros, negros, amedrontadores, sanguinários. Fechei-os esticando os braços, apenas para afastar o espelho. Porém, quando o toquei, ele voou contra a parede se dividindo em mil pedaços.

Joguei-me no chão sem me importar com os cacos. Embora eu quisesse muito chorar e deixar o desespero tomar conta de mim, eu não conseguia. Eu não sabia como fazer as lágrimas saírem. Eu estava sozinha, perdida, sem lembrança e sem respostas. Tive o impulso de gritar com todas as minhas forças, mas fui contida pelas brumas que cobriram meus olhos. Eu estava em outro lugar, com pessoas iguais a mim. Eles riam e se divertiam. Um homem alto, loiro, de olhos castanhos veio até mim e me saudou “Bem-vinda ao lar, Alice Cullen” enquanto um garoto de cabelos avermelhados sorria para mim. Ele dirigiu-se ao homem e disse: “Deixe que eu mostre a casa à ela, Carlisle!”. Novamente as brumas apareceram e eu estava no chão empoeirado. Fiquei tensa, muito mais confusa. O que se passara comigo? As perguntas jorravam em minha mente agitada, deixando-me tonta. Agora, porém, eu sabia que não estava sozinha e alguém poderia respondê-las para mim: Carlisle. A Dama da Noite Por Alice Cullen Dias se passaram até que eu criasse coragem para deixar aquele sombrio lugar que me servia de abrigo. Certamente Carlisle não estaria naquela cidade, na minha visão era um lugar claro, de paredes muito brancas, ares muito claros, algo que parecia ser impossível no local onde eu estava. Esperei a noite cair e arrisquei-me pelas ruas da cidade cujo nome eu ainda desconhecia. Eu tinha uma missão: encontrar o tal Carlisle, e apenas isso. Estava tão desesperada que nem me dei ao trabalho de duvidar da visão. Eu poderia estar sonhando, delirando ou coisa semelhante, entretanto era TUDO que eu tinha. Vaguei durante a noite inteira e ao que me pareceu, alcancei os limites da cidade. Uma placa velha e gigantesca anunciava: “Bem-vindo a Beaumont”. Segui por uma estradinha de chão batido e durante as horas seguintes fiquei divagando sobre o nome da cidade. Esperei ficar cansada, mas isso não acontecia, então eu não parava. O sol apareceu, ascendeu a seu ponto máximo e eu ainda não vira uma alma sequer. Quando as primeiras estrelas despontaram, avistei casinhas espalhadas no mesmo estilo daquelas da outra cidade. Quanto mais eu andava, mais as casas ficavam aglomeradas. Havia uma casa com uma porta de folhas duplas, sobre ela letras garrafais anunciavam: A Dama da Noite. Vozes confusas escapavam lá de dentro. Tive um impulso de entrar correndo e perguntar por Carlisle, mas detive-me ao recordar do primeiro dia, aquele homem... Eu poderia perder o controle novamente. No entanto, tinha de encontrar as respostas, tinha que descobrir o que eu era. Prendi a respiração - que já não me servia - e entrei. A porta fez um ruído estrondoso, as vozes cessaram e todos os olhares se voltaram para mim. Primeiramente, notei que ali só havia homens, nas mesas e no balcão, a maioria tinha copos e canecos nas mãos. Passei os olhos sobre mim, tentando encontrar algo errado. Felizmente eu havia trocado a camisola por um vestido florido que encontrara na casa onde fiquei. De repente, um dos homens bateu a caneca na mesa, deu uma risada e todos os outros voltaram para suas conversas barulhentas. Cuidadosamente fui até o balcão e sentei-me num banco alto. Um homem veio me atender, era da minha altura e um tanto arredondado. Sua cabeça era tão lisa que refletia a pouca luz do ambiente. - Posso ajudá-la senhorita? – perguntou-me. Evitei seus olhos, temendo o que poderia encontrar neles. - Estou procurando um homem! – respondi avidamente. - Acho que veio ao lugar certo. - retrucou, mostrando em volta. Acompanhei o gesto com o olhar e creio que minha expressão ficou séria pelo comentário.

- Sabe pelo menos o nome dele? - Carlisle! – respondi-lhe rápido. - Não é um nome comum, - ele pensou – espere um momento. – pôs a cabeça numa janelinha que dava para outro cômodo e gritou – Meredith! Venha cá. Uma mulher loira, de cabelos muito cacheados, presos num coque apareceu na janela. Usava um vestido vermelho, muito apertado, o que fazia chamar muita atenção para seus seios. Os homens no bar soltavam sons de admiração e chamavam seu nome. Ela era "A Dama da Noite". - Que foi Larry? – disse isso apoiando-se na janelinha. - Essa menina está procurando um tal de Carlisle, conheces? A mulher deu a volta atravessou uma porta. Veio em minha direção e se apoiou no balcão. Os homens continuavam a gritar seu nome, e ela os ignorava. - Carlisle, Carlisle... – ela repetia. Descrevi-lhe milimetricamente o homem de minha visão. Meredith parecia escutar com muita atenção. Por vezes brincava com um cacho de cabelo. Quando terminei, ela questionou: - Nossa! Este homem detém teu coração? Não entendi a pergunta, mas ele não podia deter nada meu, pois eu mesma não tinha nada. - Não. -Talvez eu não possa lhe ajudar, querida. Um homem tão peculiar,... Eu lembraria. Lancei-lhe olhares suplicantes. - Mas conheço alguém que pode! – ela continuou. – Posso te levar até ele amanhã, tudo bem? Assenti, enchendo-me de esperança. Carinhosamente ela tomou minhas mãos. - Tens lugar para repousar essa noite? - Eu,... – comecei. Ia dizer que não dormia, mas pelo que notei, todos dormiam. Eu era A exceção. – Não tenho, não. – respondi, por fim. - Então podes ficar no meu quartinho. – ela sorriu – Estás com fome? - Não. – respondi, convicta. - Bom, preciso trabalhar. – ela se dirigiu até os homens. Alguém ligou uma vitrola que estava largada num canto. As notas preencheram o salão, mas logo foram abafadas pelos gritos dos homens. De certa forma, eles pareciam animais, aquilo me deu náuseas. Retirei-me para o fundo do bar, longe do tumulto. Fiquei parada ali, retomando a visão reconfortante, ponto a ponto. Perdi-me em pensamentos e fui surpreendida pelo silêncio do bar vazio quando Meredith me chamou. Várias horas se passaram sem que eu percebesse. Meredith mais uma vez ofereceu-me comida, e neguei gentilmente. Então ela levou-me até seu quartinho nos fundos do bar. Havia duas camas. A mulher foi até o armário, tirou um cobertor e me entregou, apontando a cama da esquerda. Ela deveria estar muito cansada, pois assim que se recostou, dormiu. Deitei-me também. Apesar de não estar cansada, era bom poder relaxar. Entretanto, no momento e que encostei a cabeça no travesseiro, tomei consciência de minha condição, estávamos sozinhas e eu poderia perder o controle num piscar de olhos. Fiquei tensa novamente.

Logo amanheceu. Meredith demorou a acordar. Quando ela finalmente levantou, pulei da cama. Ela agora tinha ar angelical, trajava um vestido azul, solto no corpo e os cachos lhe caiam nos ombros, seu perfume era doce. Era perigoso. Agora eu estava com fome. Quis sair rápido, para evitar uma tragédia. Passamos pela porta da frente. O céu estava completamente nublado, a chuva era iminente. Fiz todo o caminho em silêncio, de cabeça baixa, deixando-me guiar apenas pelo aroma que emanava da pele de Meredith. Acho que ela esperava que eu lhe fizesse muitas perguntas sobre a noite, eu realmente tinha muitas perguntas. Mas tive que usar toda minha concentração para não perder o controle. Depois de algum tempo – Meredith andava muito devagar - chegamos numa construção onde havia uma plaqueta de metal com os dizeres “Cartório Municipal”. A porta estava aberta. Mas não pude avistar ninguém. O lugar cheirava a mofo. Havia uma escrivaninha e uma cadeira, e do outro lado, um sofá. As paredes eram cercadas por prateleiras repletas de papéis. Ao fundo havia uma portinha, Meredith foi até ela e girou a maçaneta. Um homem apareceu na porta fazendo Meredith pular de susto. Ele, porém, sorriu e ela retribuiu. - Irmão, quero que conheça,... – ela percebeu que ainda não sabia meu nome. - Mary Alice – cumprimentei-o. – Preciso encontrar alguém! Ele sorriu novamente. Seus dentes eram muito brancos. Ele era alto e moreno. Tirando a beleza, os dois não tinham mais nada em comum que lhes denunciasse o parentesco. - Bom, Mary Alice, – fez um gesto indicando o sofá – quem você quer encontrar? Ignorando o gesto, ia começar a descrição, mas Meredith me interrompeu: - Desculpem. Tenho que ir, o bar está sozinho. – ela deu um beijo no rosto do irmão e virou-se para mim – Boa sorte em sua busca, Alice. Espero poder te encontrar qualquer dia desses. E saiu, fechando a porta. Estremeci. Eu podia ouvir até mesmo as batidas do coração daquele homem, parado, vulnerável, ali. Comecei a salivar. Tentava manter a mente em Carlisle, se eu perdesse o controle naquele instante, eu também perderia a chance de encontrá-lo. - Você está bem? – ele perguntou-me. Mas não consegui responder. Desisti. Novamente as brumas se aproximaram e me carregaram. Deixei-me levar totalmente pela visão. Era Carlisle novamente, ele estava vestido de branco. O dia estava ensolarado e sua pele brilhava mais do que a roupa. Ele parecia apreensivo, olhava para os lados e andava muito rápido. Até que ele entrou num lugar que parecia um hospital... As brumas me trouxeram de volta. Porém, só tive um momento de consciência, no qual pude mirar os olhos preocupados daquele homem desconhecido que iria me ajudar. Em questão de segundos seu sangue quente estava descendo por minha garganta gélida. Anjo Por Alice Cullen “- Não! Eu não quero ser um monstro! – eu gritava. Dois homens seguravam meus braços, erguendo do chão. Mas eles não eram homens, não como os outros que eu vira. Eles eram iguais a mim, brancos, frios, rígidos como pedra. Eu me debatia inutilmente, pois eu sabia que se fossem como eu, jamais se cansariam”. Aos poucos as imagens ficaram turvas, até que brumas as levaram embora. Eu pude novamente ver e ouvir.

Dessa vez, a visão não me incomodou tanto. Eu estava me acostumando com elas. Apesar do terror que senti enquanto vi o medo que sentiria, não perdi o controle dos meus movimentos. Ainda era eu mesma quando retomei a consciência, e nada havia mudado. Eu não havia matado ninguém. Mas a sede continuava a queimar na minha garganta. Eu não queria mais ser um monstro. Dolorosamente, eu tinha consciência do que eu havia feito, do rastro de destruição que eu deixara pelo caminho. Estava certa de que queria parar com isso, porém, eu precisava de algo que amenizasse minha sede. Eu estava numa feira em New Hempshire. Com bandeirinhas coloridas tremeluzindo, corações excitados, respirações ritmadas, risos, gritos de alegria, crianças correndo de um lado para o outro com balões nas mãos... Aquilo me preencheu de esperança por um momento. Havia barraquinhas espalhadas pelo parque, a maioria vendia comida. Nada tinha um cheiro muito agradável para mim, todavia, eu quis tentar. Deveria tê-lo feito antes, quem sabe era isso que meu corpo precisava. Peguei um bolinho redondo, muitas crianças estavam comendo aquilo. Eu tranquei a respiração para não sentir aquele cheiro, parecia terra ou areia, não fiz muita questão de definir. Fechei os olhos e dei uma grande mordida, mastiguei algumas vezes e o bolinho se transformou numa massa grudenta na minha boca, de jeito nenhum eu conseguiria engolir aquilo. Corri para trás de uma barraca maior nos fundos do parque e cuspi no chão, atirando longe o que restara do bolinho. Definitivamente não era isso que eu precisava. A comida só fez minha sede aumentar, e agora minha garganta quase latejava. De repente, escutei um coração bater acelerado. - Você está bem? Virei-me. Era uma mulher de meia-idade, mais alta do que eu, um pouco fora do peso, cabelos castanhos revoltados e pele muito vermelha. Eu podia sentir o sangue pulsando pelo seu corpo. Era oportunidade perfeita, ninguém nos veria, apenas um salto e a sede iria embora. Então o vento passou por ela, seu delicado aroma me invadiu. Eu respirei fundo, preparando o ataque. - Oh! Meu Deus! Você está brilhando! Por um momento pensei que a mulher estivesse com medo, mas quando a encarei seu rosto era um misto de preocupação e êxtase. Então eu vi, refletido em seus olhos, a razão de sua perturbação. Onde o sol tocava minha pele, ela brilhava como se fragmentos de cristais estivessem espalhados pelo meu corpo. Eu sorri, divertindo-me com aquele fenômeno novo. Você é um anjo? – a mulher perguntou, se aproximando de mim com cautela. - O que é um anjo? – questionei sem desviar o olhar da minha pele. - Anjos são seres de luz, que vêm nos transmitir a mensagem de Deus. Olhei para ela novamente, eu esquecera da sede. Eu sabia o que era um deus. Lembreime da Igreja onde eu acordara, a imagem de Cristo. “Por que eu lembrava dessas coisas e não lembrava o que eu era?” Eu não poderia ser um anjo, a mensagem do deus dela não poderia ser de terror e morte, pois era isso que eu trazia. Senti sua mão quente tocar meu braço frio. Afastei-me bruscamente. - Você está com frio? – sua expressão agora era de real preocupação, ela tirou seu casaco comprido e pôs em meus ombros – Você está tão pálida, parece um pouco adoecida. Como se chama, querida? Talvez eu estivesse realmente doente. Por isso eu não gostava da comida, por isso eu era pálida e fria e brilhante. Senti uma ponta de alegria dentro de mim, talvez eu ainda tivesse esperança...

- M... Alice, senhora. – Mary me incomodava, e eu estava impressionada demais para conseguir falar direito. - Bom, me chamo Valentina. – ela abriu um largo sorriso acolhedor. – Seus pais estão por aqui? – ela apontou para umas pessoas que riam com as crianças no parque. - Não, eu não tenho pais. – a mulher pareceu ficar triste. – Na verdade, eu não lembro de nada de antes de eu acordar. - dizer essas palavras despertou a dor em mim, o vazio, a escuridão. Meus olhos arderam com lágrimas invisíveis, tive o impulso de me jogar nos braços daquela estranha, a imagem que fiz parecia tão reconfortante. Contudo, me contive. Eu não arriscaria perder o controle com ela. - Oh, pobrezinha. Você gostaria de ir até minha casa? Vamos chamar um médico para você, e depois vamos encontrar seus pais, tudo bem? – a mulher passou a mão pelo meu ombro e gentilmente foi me guiando para fora do parque. A mulher estava bastante empolgada, ela falava muito. Eu gostava de escutar sua voz. Eu não a interrompia, respondia-lhe sempre com poucas palavras. Já lhe disseram que tem uma voz linda, Alice? Deveria cantar... Você gostaria de cantar, querida? O sol já não brilhava mais. No céu, tudo voltara a ficar nublado como antes. Entretanto, em mim, uma nova luz se acendia. Visões Por Alice Cullen A casa de Valentina era muito confortável. Cheirava a flores. Eu gostaria de poder ficar com ela, se o médico me curasse. Ela era sozinha, sem marido, sem filhos, sem família. E estava realmente preocupada comigo. Oferecia-me comida. Eu recusava sempre, fazendo uma careta. Então, ela me fez ficar deitada, alegando que eu não deveria me esforçar. Mandou chamar um garotinho, filho de uma vizinha, e lhe entregou um bilhete dizendo “Leve ao doutor Carlisle, peça para ele vir aqui amanhã cedo”. Eu prendi a respiração quando ouvi aquele nome. “Sim!” exclamei em pensamento. Dessa vez eu estava no lugar certo. Rapidamente, construí uma imagem na mente: o homem das minhas visões entrando pela porta, sorrindo, eu o abraçava... Mas nunca cheguei a ter essa visão. Era tudo apenas imaginação. Quando a noite chegou, tive outras visões, eu não sabia como detê-las. Estava assustando Valentina, eu ficava estática, ofegava, murmurava coisas sem sentido. Então, ela me abraçava, me embalava e afirmava que ia passar, que eu deveria estar tendo alucinações porque estava fraca. E eu me assustava, pois não me sentia fraca, e sabia que a qualquer momento eu poderia perder o controle e cravar meus dentes em seu pescoço. A cada visão a sede voltava mais forte, eu trancava a respiração para evitar seu aroma instigante. As visões eram como aquela que tive no parque, porém mais assustadoras. Havia também uma mulher, seu olhar era furioso e as pessoas ao seu redor se prostravam de dor. Em outro momento, vi uma guerra, na qual não se usavam armas, todos eram extremamente fortes e habilidosos. Eles estavam descontrolados, desferiam golpes para todos os lados, o sangue se espalhava pela terra, de vez em quando um braço ou uma perna voava para longe. E de repente, tudo sumia. Eu que procurava as visões agora, eu corria atrás das brumas, eu precisava saber a razão disso tudo. Eu me sentia cega quando não funcionava, e me apavorava quando as via. Mas eu segurava os gritos e fingia estar dormindo para que ela não ficasse mais preocupada. Quando o sol já despontava, eu vi a guerra novamente, no entanto ela era apenas um cenário. O foco da minha visão era um homem, loiro, não muito alto, tinha o

corpo coberto de cicatrizes. Ele gritava ordens que ressoavam por todo o campo de batalha, os outros se moviam numa dança urgente, e mais sangue era derramado. Então, duas mulheres de olhos vermelhos surgiram do nada e alguém exclamou “Cuidado!”. Contudo, já era tarde. O homem das cicatrizes fora despedaçado pela fúria dos dois monstros, depois tudo se transformou em chamas e gritos agonizantes. Aos poucos o fogo se esvaía e eu pude ver e ouvir novamente, apesar de estar um pouco desnorteada. Valentina apareceu na sala perguntando algo sobre a noite, apenas balancei a cabeça afirmativamente e ela disse: “Logo Dr. Carlisle estará aqui!”. Eu abri um sorriso e ela retribuiu, senti toda a esperança retornar. “Logo eu estaria curada, logo eu seria normal”, pensei. Alguém bateu à porta. Levantei-me, animada, mas não era o homem das minhas visões. Eram dois estranhos. Fisicamente aparentavam meia-idade. Mas algo neles, talvez a vestimenta antiquada, fazia-os parecerem velhos. Os tinham traços comuns, cabelos escuros e olhos negros. Um vestia um manto bordô, e o outro, um manto dourado, ambos com um brasão de família. Havia também uma garota, mais jovem do que eu. Demorei alguns segundos para reconhecê-la. Deixei escapar um grito agudo quando percebi que ela era a mesma da minha visão, aquela que levava dor aos outros. Os dois homens pousaram os olhos em mim, em seguida se entreolharam. Imediatamente, o homem que vestia um manto bordô puxou Valentina para perto e murmurou num tom sarcástico “você viu demais”. Ela lançou um olhar suplicante a mim, porém não gritou. Dei um salto em direção ao homem, mas algo me atingiu, algo que eu não podia ver. Tombei no chão, contorcendo-me com a dor invisível. Notei os olhos da garotinha fixos em mim. Escutei um estalo fraco, pude ver o homem cravando os dentes afiados no frágil pescoço de Valentina, a dor em mim aumentou, e não era apenas a dor física, eu sentia pena daquela mulher e ódio daqueles monstros, eu queria atacá-los, fazê-los parar, e por mais que tentasse, eu não podia nem me mover. O outro homem, o qual ficara apenas observando, se aproximou de mim e me ergueu. Eu me debatia e gritava, mas ele estava impassível. - Jane, pode parar agora. – Ele falou com um sorriso de satisfação nos lábios. - A garota ergue as sobrancelhas. - Tenho certeza que Alice se comportará. Ela já percebeu que está entre semelhantes. – ele continuou sorrindo e apertou mais meu braço. – Logo ela estará pronta para ser um de nós. - NÃO! EU NÃO QUERO SER UM MONSTRO! - eu gritava e me debatia, inutilmente. O homem de manto bordô largou o corpo de Valentina no chão e segurou meu outro braço. Continuei a me debater e gritar, no entanto eu sabia que não havia mais chances de escapar. No fundo eu sabia que jamais estivera doente, sabia que era como eles, eu sabia que havia um monstro dentro de mim e mais cedo ou mais tarde ele se revelaria novamente. Resolvi me entregar. Parei de tentar fugir. - Mande Alec limpar essa bagunça! – ordenou o homem de manto dourado enquanto atravessávamos a porta. Recomeço Por Alice Cullen Havia um carro estacionado do outro lado da rua. Logo, outro carro desceu a estrada e parou atrás do primeiro, alguém saiu e bateu a porta. Não me importei em olhar. - Aro! Caius! Que surpresa vê-los nessa pequena cidade! – era uma voz conhecida. - Carlisle! Soube que tem feito um ótimo trabalho aqui.

Sim! Era ele. Mas não mais minha esperança. Carlisle era um deles também, UM DE NÓS. Tinha a mesma aparência assustadora, totalmente diferente daquele que eu perseguia em minhas visões. Os dois me soltaram e foram abraçar o médico. Eles já sabiam que eu não tentaria escapar. Eu também sabia, já podia me ver junto deles, aterrorizando indefesos, tirando a vida de inocentes. - O que lhes trouxe aqui? Carlisle passou os olhos em mim. Sua expressão era de pesar. - Mais um recém-nascido descontrolado... – Caius, o de manto dourado, demonstrou desinteresse em seu tom. - Ela parece bem controlada para mim. – o médico-monstro fez menção de tocar meu braço, desviei-me automaticamente. - Sim, agora nos será muito útil. Foram as últimas palavras que ouvi antes de ser acometida pelas brumas. Dessa vez elas me tragaram por completo. Deixei de sentir meu corpo, transportei-me completamente para aquela possibilidade futura. Era uma menina, imaculada, usando um vestido branco. Eu estava lá, podia sentir seu perfume exageradamente doce corroer minha garganta seca. Podia ver o sangue pulsando sob sua pele alva, sentir as vibrações que as batidas do seu coração provocavam no ar. Conforme eu me aproximava, seu rosto tomava feições do mais puro horror, e eu apenas ria de seu medo. Então, pude me ver refletida em seus olhos. Quase não me reconheci, tinha olhos vermelhos quase saltados, pele mais branca do que nunca, dentes afiados a mostra como um animal feroz. No entanto, o que mais me assustou foi a expressão de prazer de Caius e Aros enquanto eu sugava qualquer sopro de vida daquela inocente. Quando as brumas me deixaram, não pensei muito. Eu sabia que aquele seria meu destino, mas havia uma chance. Não me permitiria arrancar mais uma vida sequer! Quase que instantaneamente me pus a correr. Deixei-os surpresos, pois levou algum tempo para eu ver Jane correndo atrás de mim. Corri o mais rápido que pude, nem via direito aonde ou por onde eu estava indo. Jane não estava mais tão longe de mim agora. Ela era muito mais rápida do que eu. Certamente, pela distância que nos separava, ela já poderia usar seu truque em mim. Preparei-me para a dor agonizante, mas não apareceu. E não vi mais Jane. Entretanto, continuei correndo não sei mais por quanto tempo. Posso ter passado dias e noites correndo que não notaria, meu corpo não se cansava. Parei quando me dei conta de que estava num lugar totalmente diferente. Era uma paisagem impressionante. À minha frente, tudo que via era o oceano, azul, ritmado, sedoso, imponente; As ondas agrediam as pedras e deixavam escapar gotas geladas de água salgada que salpicavam meu rosto. Mesmo assim, o mar estava tão longe. O abismo que separava terra e água era muito maior do que qualquer coisa que eu conhecia. A vastidão daquele lugar era imensurável para qualquer ser. Sim eu sabia o que deveria ser feito para terminar com a ameaça. Para controlar de vez o monstro dentro de mim. Arrisquei-me até o final do caminho, onde a ponta dos meus pés já alcançava o vazio. O vento soprava forte, quase como se tivesse a intenção de empurrar. Olhei para trás como se pudesse ver todo o caminho que me levara até ali, sentindo cada aroma, ouvindo cada ruído, experimentando cada impressão. Hesitei um momento, pesando mais uma vez as consequencias de permanecer. Não havia outra saída. Se eu não fosse agora, eles me encontrariam e fariam de mim uma assassina inescrupulosa. E mais uma vez, admirei o oceano límpido. Então, fechei os olhos, abri os braços e deu um passo breve a fim de encontrar para sempre a escuridão.

*** - Não acredito que você pensou que seria tão fácil! – era uma voz incrível. Estaria eu naquele paraíso sobre o qual ouvira os outros falarem? Toquei em algo macio e quente; Não tão quente quanto Valentina, mas normal, normal para mim. Fiquei aturdida por um instante até descobrir o que estava acontecendo. Eu nem sequer havia caído na água, eu estava nos braços de um homem que cintilava contra o sol. Entendi finalmente o que era um anjo. - Acho que conheço você! – falei, revirando a minha memória em busca de alguma visão especifica. - Edward Cullen. – ele gentilmente me pôs de pé sobre uma pedra mais plana. - Prazer senhorita Alice! - Como você sabe quem sou? – encarei-o, inquiridora. - Carlisle me mandou atrás de você para te levar a sua nova casa. - Ele tinha uma feição séria, mas no canto do rosto abria-se um sorriso de divertimento. "Sim, eu lembrava! Ele estava em minha primeira visão. Alto, cabelo um pouco avermelhado, de olhos castanhos, saudando-me. Momentaneamente eu fixei meus olhos em seu rosto, e o toquei. Sua pele era tão suave, tão branca... Eu era tão parecida com ele e ao mesmo tempo, eu era tão diferente, eu tinha minhas mãos manchadas com sangue de inocentes, e ele parecia tão puro." - Você não é um monstro Alice, NÓS não somos monstros. – ele tomou minhas mãos e levou-a a seus lábios e as beijou. “Como ele poderia estar tão calmo? Caius e Aros provavelmente já estariam por perto e iriam levá-lo também. A não ser que eles fossem cúmplices em seus assassinatos. Sim, era o que acontecia! E eu não queria fazer parte disso. Preferia a morte. A morte, sim!”. Não soube dizer com o que Edward estava distraído, mas aproveitei-me disso para tentar fugir. Fechei os olhos e novamente corri em direção ao mar. Fui interceptada antes de deixar a pedra. Edward me tomou em seus braços e correndo rápido demais, até para mim, levou-me para cima do penhasco. Pôs-me de pé sobre a grama orvalhada, mas continuou a segurar meus braços, mirando meus olhos enquanto falava: - Alice, você realmente acha que pode se matar dessa forma? - Não quero ser como VOCÊS! - Alice, querida, não somos como Caiu e Aros, nós somos DIFERENTES.- sua voz permanecia calma. - Eles não estão mais atrás de você, Alice. Carlisle conhece Caius e Aros, porém não compartilha de seus ideais. Então, ele os convenceu de que o melhor lugar para você é conosco. E eu vi Edward novamente, em meio às brumas, num futuro próximo. Ele me dava Boas-Vindas, exatamente como da primeira vez. Um soluço brotou em meu peito e a visão foi embora. Eu não poderia ficar, eu não conseguiria aguentar, eu jamais seria como eles. Minha garganta voltava a queimar... - E quanto à sede... Nós vamos te ajudar a controlar isso. Não percebi que sua sentença veio em resposta a um pensamento o qual eu não havia verbalizado. Deixei escapar um gemido, e os soluços agoniados vieram em seguida. Ele me puxou para seu abraço terno, uma de suas mãos afagava meus cabelos e a outra acariciava minhas costas. Eu sentia isso. Pela primeira vez eu sabia que não era um sonho.

- Shh... Vai ficar tudo bem... Tudo aquilo pelo qual eu havia passado agora fazia parte de lembranças agora. Lembranças dolorosas que jamais me abandonariam, mas que seguiriam comigo para lembrar-me de que eu não devo perder a esperança, pois quando caímos em nossa tortuosa caminhada, sempre haverá um anjo esperando para nos reerguer. FIM

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