Adeus ao Real A escolha entre o realismo e o relativismo não é óbvia, nem fácil, mas cada um de nós já fez sua escolha, ainda que não tenha tomado conciência disso. Essa escolha determina a possibilidade de todos os nossos atos, mas é, na maioria das vezes, inconciente. Para alguns filósofos, há indicações de que vivemos em uma fase de transição. Esse momento foi expresso pelo filósofo alemão Martin Heidegger (1890-1976) através da frase "Chegamos tarde demais para os deuses e cedo demais para o Ser" (Da Experiência do Pensar - 1947). Com essa frase enigmática, ele queria dizer que é a hora de dizer "adeus ao real" único, mas hesitamos. Parece que as pessoas perderam a fé nas verdades absolutas (os deuses), mas ainda não estão preparadas para lidarem com o Ser, ou seja, a multiplicidade infinita de interpretação do real. Por não sabermos lidar com a pluralidade de sentidos do real, acabamos considerando que nada é verdadeiro, ou que a única verdade absoluta é o nada. O bombardeio de informações desconectadas a que somos submetidos atualmente pelas mídias de massa nos leva a desconfiar de que a realidade na qual costumávamos acreditar não tem tanta consistência, mas em vez de nos libertarmos da exigência de um terreno fixo, permanente e sólido, logo buscamos alguma outra verdade que sirva de substituto, a "verdadeira realidade" por trás daquela que se mostrou falsa. Viver em um momento de "não mais verdades absolutas" e ainda "não verdades múltiplas" pode ser tanto uma grande aventura como gerar uma forte angústia. Alguns filmes norte-americanos recentes retratam essa ambigüidade, tais como O Show de Truman (1998), Clube da Luta (1999), 13º Andar (1999) ou Matrix (1999). Admitir a possibilidade de existirem outras realidades não é fácil, e talvez não muito cômodo, mas significa aceitar o fato de que ninguém é "dono da verdade", e que portanto, todas as perspectivas da realidade, todos os ideais, merecem serem considerados, e possuem o seu direito de existir.