A Sete Vozes

  • April 2020
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  • Words: 1,650
  • Pages: 22
25 A SETE VOZES

ALICE

Paulo Jorge – 7ºJ

“Para mim, 25 de Abril, 5 de Outubro, 1º de Novembro, 1º de Dezembro e 1º de Maio é tudo a mesma coisa, ou seja, é feriado e isso é que interessa… … Claro que sei que o 25 de Abril foi quando uns militares se meteram nuns tanques e andaram de madrugada pelo Terreiro do Paço. Mas se queres que te explique o que eles lá andavam a

Madalena – 7ºB

 “No dia 25 de Abril de 1974 houve uma revolução em Portugal.  A revolução foi comandada pelos capitães, mas há muitos anos que muitas pessoas vinham a lutar para que esta revolução acontecesse, porque há muitos anos que as pessoas estavam descontentes, pois não havia liberdade no país, e a polícia prendia quem pensava de maneira diferente das pessoas que mandavam.  As pessoas iam para a prisão, eram torturadas e muitas delas ficavam presas durante muitos anos. Às vezes nem podiam ter visitas da família. Às vezes ficavam dentro de uma cela muito pequena, sem luz, durante muitos dias.  Antes do 25 de Abril, Portugal tinha colónias em África e não lhes queria dar a independência.

 Estavam constantemente a partir barcos cheios de soldados, e às vezes a televisão mostrava. Morreram muitos soldados portugueses, e morreram muitos soldados africanos que lutavam pela sua liberdade.  Se não tivesse havido o 25 de Abril de 1974, se calhar a guerra de África ia continuar por muitos mais anos, e muitos mais soldados tinham morrido.  Se calhar o meu pai podia ter ido para a guerra e podia lá ter morrido. Se calhar o pai da Íris, que é minha colega de carteira e nasceu em Cabo Verde, também. Quem sabe até um deles não podia ter morto o outro.

Professora de Inglês

 “…naquele tempo não se podia fazer greve, era ilegal, a polícia podia prender – e prendia mesmo! …  …na alameda da Universidade, lembro-me sempre dos carros da polícia a subir por ali acima, e nós todos a enchermos aquele espaço, a falarmos de tudo o que estava mal, a falarmos das manifestações para celebrar o Dia do Estudante que não nos deixavam fazer, da falta de liberdade, da importância que deviam ter os estudantes no ensino deste país, e depois lá saltavam os polícias de dentro dos carros, «cremes níveas» era assim que lhes chamávamos porque eram uns carochas pintados de azul

 e eles atrás de nós a bater em quem apanhavam, mas no dia seguinte lá estávamos nós outra vez em plenário, e um dia a polícia fechou as portas da cantina, e prendeu todos os que estavam lá dentro. E depois a gente procurava nos jornais – e não aparecia nada! Era como se nada tivesse acontecido, como se a vida na universidade corresse na maior das calmas. Estudantes presos todos os dias, muitos a fazerem greve de fome, ninguém a ir às aulas, plenários dia e noite, a polícia toda mobilizada, pancadaria dia sim dia sim – e nos jornais a polícia não deixava sair nem uma palavra sobre o assunto…  …E muitos foram expulsos de todas as universidade do país!... Um estudante a não poder estudar em lado nenhum do seu país?  Os que puderam fugiram para o estrangeiro, e

Pai do Paulo Jorge

 “…esse dia para mim foi praticamente igual aos outros, entrei na mercearia às oito, comecei a pôr os caixotes lá fora, e depois veio a minha tia dizer que tinha ouvido na rádio que havia uma revolução em Lisboa,…  …Só lá para a noite, quando o meu pai chegou é que eu comecei a acreditar. O meu pai chegou muito tarde, …disse que tinha sido um sarilho para apanhar o barco para casa, no Terreiro do Paço havia tropa por toda a parte, ele estava mesmo a ver que não conseguia chegar à estação…  …no dia a seguir ao 25 de Abril, quando a televisão, no café, mostrava tudo o que

D. Quitéria (professora do pai do Paulo Jorge)

 “…Aquilo era uma terra onde não havia nada, nem vinha no mapa, a escola não tinha condições nenhumas, mas nenhumas! …  …Olhe que nem sequer o retrato do Américo Tomás e do Marcelo Caetano ela tinha! A menina é muito nova, e se calhar não sabe estas coisas, mas antes do 25 de Abril todas as escolas primárias... Agora elas já não se chamam assim, acho que se chamam escolas do ensino básico…  …Mas dizia eu que todas as escolas tinham na parede o retrato do presidente da República e do presidente do Conselho…  …Olhe que não havia um pau de giz! Nem sequer o mapa de Portugal! Eu queria dar aritmética e geometria, e nem uma caixa com

 …Então eu, pacientemente, escrevia todos os meses uma carta ao Ministério e explicava que a escola não tinha material, e sem material como é que eu podia ensinar as crianças, e lá dizia também, para ver se os comovia, que a escola nem os retratos do senhor presidente da República e do senhor presidente do Conselho tinha nas paredes, e que era uma vergonha para o país uma escola naquele estado, santo Deus…  …E do Ministério, nada. O silêncio mais completo…  … Mas nunca desisti. Todos os meses lá ia a carta para o Ministério. Isto durante anos! Só em selos devo ter gasto uma pequena fortuna! …

 … Estava tão feliz, mas tão feliz, que nem estranhei a pressa que o chofer tinha em despachar aquilo, e nem liguei, quando ele disse que em Lisboa tinha havido qualquer coisa esquisita, tinha encontrado muita tropa na rua quando de lá saíra, e aquilo não lhe parecera normal…  …a senhora Aurora, que era quem limpava a escola, a chegar ao pé de mim e a dizer que na rádio se falava de uma revolução, de um Movimento das Forças Armadas que tinha ido prender o governo todo, e eu a abrir os pacotes cheia de alegria, e a dar de caras com os retratos do Américo Tomás e do Marcelo Caetano! Nem um pau de giz, nem um mapa, nem formas geométricas, nada de nada, a não ser os retratos daqueles dois para pendurar na parede…  … Ainda hoje, que já se passaram 25 anos, de cada vez que vejo, na televisão, documentários sobre o 25

Mãe da Madalena

 “…mas lembro-me, para aí uns dois ou três dias a seguir, de os meus pais se terem metido comigo e com o meu irmão no carro,…  …para um lugar que se chamava Caxias… buscar uns amigos, e então chegamos ao pé de uma casa enorme… era uma prisão, … quando saímos do carro estava lá muita gente…toda a gente se abraçava e estava muito feliz…  …lembro-me de ouvir alguém dizer que afinal os nossos amigos não iam sair, e logo toda a gente gritou muito, e correu mais perto das janelas com grades, e começaram a gritar, «o povo unido jamais será vencido»…  … E de noite o meu pai voltou a ir a Caxias, mas acho que foi só na outra madrugada que os amigos, finalmente, saíram… 

 …E também me lembro de ver a minha mãe abrir o sofá - cama … e dizer «é para um amigo que chega daqui a bocadinho»…. Havia outros amigos… e era estranho porque nunca saiam do quarto, nem iam á rua, nem abriam a porta, nem atendiam o telefone.  Viviam dias e dias fechados na nossa sala transformada em quarto de dormir, com o sofá sempre aberto.  Depois o amigo desaparecia, e o meu pai ficava com uma cara muito séria e dizia que o amigo tinha ido viajar para muito longe e que eu não deveria falar dele a ninguém…  …muitos anos depois, num 25 de Abril em que a televisão se lembrou de transmitir a reportagem sobre a libertação dos presos políticos, reconheci-o quando saía da prisão no meio dos outros…  …Lembro-me da minha mãe a fazer café e a encher

Avô da Madalena

 “…A menina imagine que, antes do 25 de Abril, nem podíamos estar os dois como estamos agora, aqui no café, a menina a perguntar, eu a responder, o gravador a gravar… ao seu lado podia estar um informador da PIDE a ouvir tudo e o mais certo era a menina depois ser chamada à António Maria Cardoso … era a rua da sede da PIDE, e para lá marchavam as pessoas para serem interrogadas, e muitas eram interrogadas dias a dias seguidos sem poderem dormir. Algumas eram obrigadas a estarem de pé dias inteiros até desmaiarem… Mas sabe como é: havia a censura e por isso os jornais não diziam nada, a rádio não dizia nada, a televisão não dizia nada… Às vezes, quando oiço por ai certa gente a berrar contra o 25 de

 … a minha irmã namorava um rapaz… vinham por aí abaixo a conversar, … lá se entusiasmaram um bocadito, e vá de darem um beijo. Pois logo nessa altura passou um policia que os levou para a esquadra…  … A gente até tinha medo de falar ao telefone, porque muitos deles estavam sobre escuta. Às vezes conseguíamos apanhar uns programas da rádio que vinham de estrangeiro, e onde se davam noticias de Portugal, mas tínhamos de ter muito cuidado, agente sabia lá se o nosso vizinho de baixo não seria informador e não ia logo contar…  … A menina sabe que havia cantigas proibidas, não sabe? O Zeca Afonso… Mas antes do 25 de Abril ele nunca pôde ir à televisão?... Sabe que os discos que saíam eram logo levados pela polícia? Agora toda agente as canta…

Obrigada!!!!! TRABALHO REALIZADO POR: Maria João Mogadouro Lopes – 5ºA

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